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Resenhas

CURRÍCULO, GÊNERO E diferenças não é a continuidade de uma ve-


SEXUALIDADE lha discussão em que as marcas – branco,
Guacira Lopes Louro classe média, heterossexual – tornaram-se o
Porto: Porto Editora, 2000, 111p. centro marginalizador dos sujeitos não inte-
grantes dessa classificação?
Convidada pelo Coordenador da co- No segundo capítulo: “Gênero e Magis-
leção Currículo, Políticas e Práticas, da Por- tério: representações plurais” circula o alerta
to Editora, de Portugal, Guacira Lopes Lou- para a necessidade de complexificar, ampliar
ro, professora de História da Educação da e transformar as condições que têm permiti-
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, do à atividade docente, especialmente quan-
selecionou textos que foram elaborados, em do dirigida a crianças, tornar-se feminina. Para
maioria, para constituir conferências ou pa- isso, de maneira clara e abrangente, privile-
lestras dirigidas a docentes ou especialistas giou-se o conceito de gênero não ligado ao
em educação. Quinto volume de um total de desempenho de papéis masculinos ou femi-
cinco obras da coleção, a autora inicia com ninos, mas sim ligado à produção de identi-
“Um olhar feminista sobre a educação”, pri- dades – múltiplas e plurais – de mulheres e
meiro capítulo da obra, e continua, nos de- homens no interior de relações de poder.
mais capítulos, a inserir o contexto da se- Os três últimos capítulos têm o obje-
xualidade no bojo de sua discussão sobre a tivo de corporificar a questão da sexualida-
diferença no currículo. de no currículo e alertam para a evidente
Ao partir da própria história como pro- simplificação que é imposta ao tema nas es-
fessora e pesquisadora, a autora abre o livro colas. A dessexualização do ambiente esco-
refletindo sobre os estudos de gênero da lar é situada em um contexto em que se
perspectiva da formação acadêmica que teve pode falar do sexo e o que se deve escon-
e que acabou por incitar a linha de pesquisa der é problematizado, sendo que as verda-
que desenvolve em suas palavras: “o meu des impostas devem passar a ser questiona-
encontro (com o feminismo) fez-se no âm- das de maneira a repensar as questões que
bito acadêmico, motivado pela notável au- foram consagradas ou marginalizadas: “de-
sência das mulheres como sujeito ou como sarranjar e reinventar a história para que ela
objeto da historia”. Ao conceituar o gênero, possa tornar-se plural”.
Guacira rompe com a rígida polaridade bi- Em síntese, a leitura do livro, além do
nária entre masculino e feminino, passando bem dosado apelo teórico, encanta pela sen-
a trabalhar com a pluralidade no interior de sibilidade e pela arte percebida nas palavras,
cada um desses pólos. tão elegantemente dispostas pela autora.
Volta-se, ainda, para as formas como as Isso torna a leitura da obra um exercício li-
diferenças – e aí inclui diferenças sexuais, ra- terário fascinante que vai além da discussão
ciais, étnicas, culturais – são construídas e fixa- sobre sexualidade e gênero e alcança a di-
das, questionando as maneiras como passam mensão de uma identidade plural: a identi-
a ser valorizadas ou negadas pela sociedade. dade dos sujeitos.
O entrelaçamento desses temas é marca fa-
cilmente perceptível e situa o leitor diante de Rodrigo Gonzalez
uma problemática que vai além da questão de Instituto de Ciências Biomédicas da Universi-
gênero e sexualidade: ser diferente de quê? dade de São Paulo
E sob quais circunstâncias a perpetuação das rgonzale4@hotmail.com

238 Cadernos de Pesquisa, v. 35, n. 125, maio/ago. 2005

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