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Associação de Kendō e Iaido de Porto Alegre

剣道
KENDŌ

PORTO ALEGRE

2013
Introdução
Kendō, ou Caminho da Espada, é uma arte de esgrima tradicional japonesa. É uma arte marcial
japonesa moderna (budō), assim como o Judō ou o Karate.
Diferentemente de muitas artes marciais, a prática do Kendō não
visa ao aprimoramento da técnica de combate para a defesa
pessoal. Mais do que um esporte, o Kendō tem como objetivo
maior o aprimoramento do caráter e desenvolvimento de
virtudes do indivíduo através dá prática correta e diligente do
manejo da espada japonesa.
O Kendō praticado hoje evoluiu das antigas escolas de
esgrima dos samurais do Japão feudal.
Os treinos voltados para a luta no campo de batalha, dessa
forma, deram origem a uma disciplina voltada para o
aprimoramento pessoal e formação do caráter.
O Conceito do Kendō, segundo a Federação Japonesa, é:
“Disciplinar o espírito humano através da aplicação dos princípios da Katana.” Isso é atingido pelos
propósitos da prática do Kendō:
“Moldar mente e corpo, desenvolvendo um espírito vigoroso através de treinamento correto e rígido,
empenhando-se ardorosamente no aperfeiçoamento da arte do Kendō.
Estimar a honra e a cortesia humana, associando-se aos demais com sinceridade, e dedicando-se
incansavelmente ao aperfeiçoamento de si mesmo.
Dessa forma estará o indivíduo apto a amar sua pátria e sua sociedade, contribuir para a preservação da
cultura e promover a paz e prosperidade entre todos os povos.”
Os principais equipamentos para a prática do Kendō são:
• shinai (a espada de bambu);
• bōgu (a armadura), composto por men (o capacete), kote (o
protetor de mão e antebraço), dô (protetor de corpo) e tare
(protetor de quadril);
• keiko-gi e hakama, o kimono e a calça;
• bokutō, a espada de madeira maciça para prática do Kendō-
Kata.

No Kendō, os golpes são resumidos em men (面, ataque


cortante à cabeça), kote (小手, ataque cortante ao antebraço), dô (胴,
ataque cortante ao abdômen) e tsuki (突き, ataque perfurante à garganta). No entanto, as diversas
maneiras de se executar esses golpes, combinadas com técnicas de quebra de guarda, timing,
contraataques, entre outras, resultam em uma ampla quantidade de técnicas possíveis.
O Kendō possui também uma faceta esportiva. O Campeonato Mundial é realizado de 3 em 3
anos e o campeonato brasileiro ocorre anualmente no mês de julho, sempre no estado de São Paulo.
Adicionalmente, várias academias de todo o país sediam campeonatos, dos quais participam praticantes
de outras academias e até de outros países. Os campeonatos são divididos por categorias de idade,
graduação e sexo. Há também as categorias individuais e por equipes. Não há divisão de categorias por
peso.
A Federação Internacional de Kendō (International KendōFederation - FIK), sediada no Japão, é o
órgão máximo de regulação do esporte mundialmente, estando esta entidade registrada na General
Association of International Sporting Federations (GAISF). No Brasil, a CBK - Confederação Brasileira de
Kendō, entidade registrada no Ministério dos Esportes, representa a FIK.

1 HISTÓRIA
O primeiro ponto relevante na história do Kendō é o advento do sabre japonês, na metade do
século XI (Era Heian). As contínuas experiências reais de batalha resultaram no estabelecimento de
técnicas de esgrima cada vez mais refinadas. Na segunda metade da era Muromachi (1392-1573) muitas
escolas de kenjutsu (剣術, esgrima) se estabeleceram.
No começo da Era Edo (1603-1867), durante o shogunato Tokugawa, o Japão passou por um extenso
período de paz. Os samurai guerreiros, que antes praticavam a esgrima com o objetivo principal de se
adestrar para a guerra, começaram a encontrar outros motivos para seguir com a prática das artes
marciais. Foi nessa época que o Kendō se consolidou enquanto ideia. As técnicas de Ken foram
convertidas de técnicas de matar pessoas para técnicas de desenvolvimento da pessoa através dos
princípios da espada.
Ainda em tempos de paz, o kenjutsu desenvolvia novas técnicas de Ken criadas a partir das habilidades
desenvolvidas em batalhas reais. Nessa época, desenvolveu-se o Kendō-gu (equipamento de proteção) e
se estabeleceu-se o método de treinamento usando a Shinai (espada de bambu). Essa é a origem direta
da disciplina de Kendō dos dias atuais. Posteriormente, o shinai e o Kendō-gu, ou bogu, foram
gradualmente modificados e aprimorados por mestres de diversas escolas diferentes.
Depois da Restauração Meiji em 1868, a Classe Samurai foi dissolvida e o porte de espadas foi proibido.
Muitos samurais perderam seus trabalhos e o kenjutsu declinou drasticamente. Com o conflito de
Seiman, um movimento de resistência mal sucedido dos Samurais contra o Governo Central ocorrido no
décimo ano da era Meiji (1877), iniciou-se uma recuperação do kenjutsu, principalmente entre Policiais
Metropolitanos de Tóquio. No 28º ano da Era Meiji (1895), o Dai-Nippon Butoku-Kai foi criado como
uma organização nacional para promover o Bujutsu incluindo o kenjutsu. No Primeiro Ano do Taisho
(1912), o Dai-Nippon Teikoku Kendō Kata (renomeado posteriormente para Nippon Kendō Kata), foi
estabelecido usando a palavra Kendō. A criação do Kendō Kata gerou a unificação de muitas escolas
para permiti-las passar às novas gerações as técnicas e o espírito da espada japonesa. No oitavo ano de
Taisho (1919), Nishikubo Hiromichi consolidou os objetivos originais do Bu (ou Samurai) em estruturas
filosóficas com os nomes de Budō e de Kendō– nomenclatura, então, adequada.
Depois da Segunda Guerra, o Kendō foi proibido pela Ocupação das Forças Aliadas.
Contudo, em 1952, com a criação da Federação Japonesa de Kendō (All Japan Kendō Federation), o
Kendō reviveu. Hoje o Kendō é popular no Japão, onde é a artemarcial com maior número de
praticantes e o terceiro esporte mais praticado, tendo um importante papel na educação escolar
japonesa. Sua prática é obrigatória nas forças policias nipônicas, origem dos atletas mais bem sucedidos
da atualidade. A Federação Internacional de Kendō (International Kendō Federation - FIK) foi
estabelecida em 1970, e o primeiro campeonato mundial de Kendō foi realizado no mesmo ano,
ocorrendo de forma trienal desde então.

2 KENDŌ NO BRASIL
A história do Kendō no Brasil está intimamente ligada à imigração japonesa, que teve início em
1908. Os imigrantes japoneses chegaram a lutar Kendō ainda no trajeto ao Brasil, no histórico navio
Kasato Maru. O Kendō começou, então, a ser praticado por imigrantes e seus descendentes no interior
de São Paulo, principalmente em escolas de língua japonesa.
Entre os fatos mais marcantes da organização do Kendō no país, destacam-se:
• 1933: fundação da Associação Brasileira de Judô e Kendō, a Hakkoku Ju-Kendō Renmei.
• 1942: dissolução da Hakkoku Ju-Kendō Renmei pelo DEOPS (Departamento Especializado em
Ordem Política e Social).
• 1951: A Associação Brasileira de Moços, Zenhaku Seinem Renmei, reiniciou as competições de
Judō e Kendō após a Segunda Guerra Mundial.
• 1959: fundação da Associação Brasileira de Kendō – ABRAKEN (Zen Haku Kendō Renmei).

• 1981: fundação da Federação Paulista de Kendō (FPK).  1982: Brasil sedia o 5° Campeonato
Mundial de Kendō.
• 1998: é criada a Confederação Brasileira de Kendō (CBK).
• 2002: por iniciativa do Brasil, juntamente com as Federações argentina e chilena, é fundada a
Confederação Sul- Americana de Kendō (CSK).
• 2009: o Brasil sedia o 14° Campeonato Mundial de Kendō, realizado em São Bernardo do Campo
(SP), obtendo o 3° lugar nas categorias equipes masculino, equipes feminino e individual
feminino.

Atualmente, há mais de mil praticantes espalhados pelo Brasil, a grande maioria no estado de
São Paulo. Com a maior colônia japonesa do planeta, e graças aos esforços dos descendentes em
manter a tradição da prática do Kendō, o Brasil é hoje umas das potências do Kendō mundial,
juntamente com Japão, Coréia do Sul e Estados Unidos.
3 KENDŌ NO RIO GRANDE DO SUL
Embora existam registros da passagem de professores de Kendō em Porto Alegre antes de 2001,
foi neste ano que a prática se consolidou, com o então cônsul japonês, Sr. Kanji Tsushima, sensei 5° Dan
de Kendō. Graças a ele foi fundado o Nanbukan dojō na PUCRS, e, posteriormente, a AKIPA – Associação
de Kendō e Iaidō de Porto Alegre, entidade que se filiou à CBK – Confederação Brasileira de Kendō. O
cônsul ministrou treinos no Nanbukan dojō até o término de seus serviços no consulado, no ano de
2004. Os primeiros alunos de Tsushima sensei deram continuidade à prática. Hoje, a AKIPA já conta com
instrutores graduados pela CBK.
Em meados de 2005, o Isshinkan dojō foi fundado, por um dos primeiros alunos de Tsushima
sensei em Porto Alegre. Hoje, Nanbukan e Isshinkan são os únicos dojōs do Rio Grande do Sul filiados à
CBK. Existe ainda um grupo treinando na ULBRA – Canoas, vinculado à AKIPA.
Em 2011 a AKIPA se desvinculou do Instituto de Cultura Japonesa da PUCRS. Após um período
onde diversos lugares foram testados para os treinos, deu-se início a parceria com o Teresópolis Tênis
Clube em maio de 2013, onde os treinos são ministrados até hoje.

4 TREINAMENTO
Os treinos são ministrados nos moldes definidos pela Confederação Brasileira de Kendō e pela All
Japan Kendō Federation, incluindo, mas não se limitando a:

- Taiso (aquecimento/alongamento);
- - Suburi (prática de golpes no ar com objetivo de aquecimento,
condicionamento físico e aprimoramento técnico);
- Ashi-sabaki (trabalho de pernas para o desenvolvimento das técnicas de
movimentação)
- Kihon(prática de golpes básicos);
- Waza (prática de técnicas específicas de ataque e contra-ataque) - Keiko (treino de
combate).
O iniciante treina sem o bogu (armadura) até que domine os movimentos básicos, não realizando
exercícios que requeiram a utilização das proteções. O tempo para atingir esse nível depende do
desenvolvimento individual de cada um. Em média esse período é de seis meses.

5 GRADUAÇÕES
O Kendō utiliza o sistema de graduação kyu dan, assim como outras disciplinas do budō, como
Judo, Karate, Aikido, etc. A diferença principal é que não se vestem faixas de cores diferentes ou
qualquer outro adorno que exponha a graduação do praticante.
A Confederação Brasileira de Kendō, de acordo com normas internacionais, realiza exames de
graduação a partir do 1º kyu. As graduações inferiores a 1º kyu são deixadas a cargo de cada dojō. No
Nanbukan dojō o praticante começa no 6º kyu e vai evoluindo até o 2º kyu. A partir daí, a obtenção de
graduação ocorre através de exame promovido pela CBK.

Conferidas no dojō: Conferidas pela CBK através de exame:

- 6º kyu; - 1º dan;
- 5º kyu; - 2º dan;
- 4º kyu; - 3º dan;
- 3º kyu; - 4º dan;
- 2º kyu; - 5º dan;
- 1º kyu; - 6º dan;
- - 7º dan.

A graduação de 8º dan é conferida apenas por exame realizado no Japão.


Além das graduações de kyu e dan, existe um outro tipo de graduação chamada shogo, conferida
a kenshis com graduação de 6º dan ou mais. Os títulos são os seguintes:
- Renshi (praticante avançado), conferido a praticantes com 6º dan ou mais;
- Kyoshi (praticante professor), conferida a praticantes com 7º dan ou mais, com
reconhecida capacidade de instruir;
- Hanshi (praticante modelo), conferido apenas a praticantes com 8º dan com reconhecido
caráter nobre e profundo conhecimento dos princípios do Kendō.

No Nanbukan, até 2º kyu a graduação é conferida pelos instrutores do dojō, que avaliam o
progresso de cada kenshi durante os treinos. Na medida em que o estudante progredir nas graduações,
novos polígrafos serão fornecidos com conteúdo adequado a cada grau.

6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
YAMAMOTO, Dr. Yashiro. Kendō - O caminho da espada: Histórias, filosofia e técnicas. São Paulo, Editora
On Line, 2009.

FURUTA, Hisashi, 木刀による剣道基本技稽古法 – Bokutō ni yoru Kendō kihon waza keiko hō – Método
de treino do golpe básico de Kendō com Bokutō. Tradução H. Ishibashi sensei, 7º dan. Kendō Nippon
03/2005.

CRAIG, D. M. A arte do kendô & kenjitsu: a alma do samurai. São Paulo: Madras, 2005. 283 p.

CRAIG, D. M. O coração do kendô. São Paulo: Madras, 2009. 240 p.

SALMON, G. Kendō: a comprehensive guide to japanese swordmanship. North Clarendon: Tuttle


Publishing, 2013. 192 p.

www.cbKendō.esp.br www.fpKendō.org.br

www.kenshi247.net http://Kendōinfo.wordpress.com/

http://www.bestKendō.com/

http://www.Kendōtechniques.com/

6º KYU (六級)
Esta é a graduação inicial no Nanbukan dojō. O estudante passa a ser considerado 6º kyu assim
que se inscreve no curso, e passará pelo menos um mês nessa graduação. No treinamento, o estudante
deste nível deve atentar principalmente ao rei, chudan-no-kamae, ashisabaki, suburi e kihon. No início,
o treino de Kendō é muito repetitivo, exigindo muita disciplina e força de vontade do praticante.

A seguir, são apresentados alguns dos conceitos importantes que o estudante de 6º Kyu deve
compreender para uma prática correta. Lembre-se que este polígrafo é apenas um guia de estudo e
consulta para complementar o aprendizado do estudante. Em hipótese alguma deve substituir a
vivência dos treinos e a orientação de um verdadeiro sensei ou de colegas veteranos.

1 REI (礼)
Rei quer dizer reverência, respeito, gratidão, etiqueta. É um dos aspectos mais fundamentais do
Kendō. Ao praticar Kendō, é importante sempre manifestar nosso respeito e gratidão ao local de treino,
aos colegas, aos professores e ao equipamento utilizado, através de gestos e atitudes e, também,
através da realização de pequenas cerimônias durante o treino, as quais são descritas a seguir.

Diz-se que Kendō começa com rei e termina com rei. De fato, qualquer atividade relacionada ao
Kendō começa e termina com uma reverência. Ao chegar ao local de treino, por exemplo, o praticante
deve fazer uma reverência ao dojō, voltado para o shomen, o local mais importante do dojō, que estará
marcado por uma bandeira, emblema ou altar. O mesmo deve ser feito ao se retirar do dojō ao final do
treino.

É considerado polido chegar pelo menos quinze minutos antes do horário de treino para se
trocar e ajudar a colocar o dojō em ordem quando for necessário. Cumprimente seus colegas um a um.
Se houver alguém que você não conheça, cumprimente também e se apresente.
Sempre trate a todos os colegas com respeito independentemente de graduações. Sempre
responda prontamente os comandos dos professores e veteranos durante o treino. Escute primeiro,
faça perguntas depois. Não discuta ou retruque uma orientação de um veterano. Pergunte se não
entender, mas deixe dúvidas mais complexas para o final do treino.

Quando passar pelos colegas perfilados, passe por trás da fila, nunca pela frente. Se for passar
por um colega que está sentado colocando sua armadura, evite passar pela sua frente. Também evite
passar por cima de algum equipamento que possa estar no chão; ao invés disso, desvie dele.

O ritsurei (cumprimento de pé) deve ser feito mantendo-se o alinhamento do pescoço com a
coluna. Curve-se cerca de 15° ao reverenciar um adversário ou colega, mantendo o contato visual, e
cerca de 30° quando reverenciar um sensei ou o shomen.
1.1 Saguetô (下げ刀)

Saguetô é a posição mais básica, adequada para se movimentar no dojō, tratando-se da posição
inicial de diversos movimentos aqui descritos. O kenshi simplesmente fica de pé em postura ereta, com
ambos os braços relaxados, segurando sua shinai na mão esquerda
com o tsuru (corda que liga as partes de couro da shinai) para baixo,
segurando-a logo abaixo do tsuba (guarda) como se fosse uma
espada embainhada. Quando parado, os pés devem estar alinhados,
um ao lado do outro, e voltados para frente.

1.2 Taitô (帯刀) Saguetô Rei Taitô

Taitô é a posição utilizada antes de se sacar o shinai, normalmente usada em transição entre o
saguetô e o saque da espada. É semelhante ao saguetô, porém a shinai é segurada junto à cintura.

1.3 Cerimônia de Início/final

Logo no início do treino, ou logo depois do aquecimento, é feita uma cerimônia. Ela será descrita
em detalhes aqui, mas não se assuste com a quantidade de informação. Esse tipo de procedimento é
mais bem ensinado ao vivo, na prática. Não há problema em não saber fazer ou esquecer de alguns
procedimentos no início. Observe os demais e tente repetir. Na dúvida, sempre haverá um veterano
atencioso para lhe auxiliar. Utilize esse polígrafo como um guia em caso de dúvidas.
Um professor ou veterano comandará SEIRETSU (alinhamento, fila). Alinhe juntamente com os
colegas. O alinhamento é feito por ordem de graduação, ficando o mais graduado mais próximo do
shomen. Os professores alinham em uma fila à frente dos demais. Kenshis de mesma graduação alinham
do mais velho para o mais novo. Em alinhamento você deve manter a posição de saguetô.

Ao ouvir o comando SEIZA, sentese da


forma tradicional japonesa. Para isso,
primeiro traga sua mão esquerda, que
porta a shinai, até sua cintura para que
ela não bata no chão. Leve a perna
esquerda para trás, ajoelhando-se sobre
o joelho esquerdo enquanto mantém os
dedos dos pés apoiados no chão; faça o
mesmo movimento com a perna direita. Então coloque os peitos dos pés no chão e sente sobre seus
calcanhares, colocando seu dedão do pé direito em cima do dedão do pé esquerdo ou um encostado no
outro, repousando a shinai no chão ao seu lado esquerdo, com o tsuba (guarda) na linha do seu joelho e
uma distância de aproximadamente de um punho da sua perna esquerda. Repouse suas mãos
espalmadas sobre as coxas.
O senpai (veterano) comandará então shisei-wo-tadashite (arrume a postura), mokusô. Ao ouvir
isso, feche os olhos quase completamente, deixando uma pequena abertura. Posicione suas mãos como
mostra a figura, com os dedos da mão esquerda sobre os da direita
e os polegares fechando um círculo. Seguem-se, então, alguns
segundos de reflexão em silêncio, com o objetivo de limpar a
mente para o treino que está por vir. Procure não pensar em nada,
ou então concentrar-se apenas na sua respiração, que deve ser
calma e profunda.
Ao ouvir o comando yame (cessar) ou um bater de palmas,
retorne a posição de seiza abrindo os olhos. O senpai comandará
shomen-ni, todos se viram para o shomen e aguardam o comando
REI para executar o za-rei (reverência
executada da posição sentada) onde o kenshi deve colocar as duas mãos no
chão a sua frente, com os polegares abertos e o restante dos dedos alinhados,
encostando as pontas dos polegares e dos indicadores, formando um triângulo,
e curvar-se que suas costas fiquem quase paralelas ao chão, sem levantar o
quadril. Depois de uns três segundos, erga-se, mas mantenha as mãos apoiadas
no chão, e certifique-se que os sensei à sua frente ergueram-se antes de você.
Volte-se novamente para frente e espere o comando Otagai-ni-REI (cumprimento mútuo) e execute o
za-rei novamente. Dessa vez, todos falam ONEGAISHIMASU (por favor, com sua licença), uma saudação
usada quando você vai iniciar uma atividade com outra pessoa. Comanda-se então, TATÊ (levantem-se),
e todos devem se levantar com um movimento inverso ao utilizado para sentar. Pegue a shinai com o
tsuru para baixo e ponha-se de joelhos, apoiando os dedos dos pés no chão. Leve sua perna direita à
frente apoiando o pé no chão e levante-se tentando se curvar o mínimo possível e evitando apoiar-se
com as mãos. Procure não levantar antes dos sensei, a não ser que seja comandado para isso.
É possível que no final da cerimônia de início os demais colegas vistam seus men (“capacete”,
nesse contexto). Nesse caso espere em seiza até que eles comecem a se levantar, ou até que seja
comandado para isso.
No final do treino é feita uma cerimônia muito parecida com a de início. A diferença é que antes
da reverência final os sensei podem aproveitar para falar sobre o treino ou dar algum aviso. E na
reverência final todos dizem (DOMO) ARIGATÔGOZAIMASHITA.
Alguns dojōs têm costumes diferentes. Alguns, por exemplo, substituem o Otagai-ni-REI por
Sensei-ni-REI, ou adicionam um terceiro cumprimento à cerimônia de início e final. Ao visitar outro dojō,
sempre observe a maneira como os colegas daquele dojō se comportam e tente repetir os
procedimentos.
1.4 Treinando dois a dois

Boa parte do treino de Kendō é realizada em duplas. Ao ouvir o comando niretsu(duas filas),os
kenshis se alinham em duas filas, cada um de frente para um outro colega, separados por uma distância
de aproximadamente nove passos. O professor comandará SHOMEN-NI (todos se voltam ao shomen)
REI (todos fazer reverência ao shomen) e, logo após, OTAGAI-NI-REI. Faça uma reverência ao seu
companheiro de treino e diga ONEGAISHINASU. Traga a sua shinai à cintura, assumindo a posição de
taitô,e dê três grandes passos para frente em ayumiashi (ver2.3.1). Saque a shinai durante o terceiro
passo, e termine o movimento em chudan-no-kamae (ver 2.2). As pontas das shinai deverão estar
encostadas ou quase encostadas, mas não mais perto que isso. Execute então o sonkyo, agachando-se
enquanto mantém a postura ereta, e logo depois se levante. Aguarde o comando do professor para
iniciar o exercício.
No final de uma série de exercícios, é feito um procedimento inverso ao do início. Ao ouvir o
comando YAMÊ, assuma o chudan-no-kamae na frente do seu colega. Ao ouvir o comando SONKYO ou
OSAMÊ... agache, e ao ouvir OSAMÊ-TÔ ou TÔ embainhe a shinai. Levante-se e,mantendo-se em taitô,
afaste-se do colega com cinco passos pequenos em ayumi-ashi, iniciando-se com o pé esquerdo.
Reverencie o colega proferindo ARIGATÔ-GOZAIMASHITA.
Entre um exercício e outro, normalmente é feita uma rotação para trocar as duplas. Ao terminar
seu exercício, aguarde as demais duplas terminarem. Evite conversar nesse momento. Orientações ou
perguntas breves sobre o treino são admitidas, assim como gritos de incentivo aos colegas que ainda
estão terminando seus exercícios. Quando todos terminarem ou quando o senpai ou sensei comandar
YAMÊ, assuma a posição de chudan-no-kamae e aguarde o comando de IPPON MIGI (uma posição para
a direita). Execute então o mesmo movimento descrito no segundo parágrafo dessa seção, como no
final do treino, excluindo-se apenas o sonkyo. Reverencie o seu colega e vá para a posição à sua direita.
Cumprimente o novo parceiro e se aproxime sacando o shinai também da mesma forma como descrito
no início da série, excluindo-se o sonkyo.
Existe outra maneira menos formal de fazer a rotação sem embainhar a shinai. Faça da mesma
forma que o senpai ou sensei que está puxando o treino está fazendo.

2 CHUDAN-NO-KAMAE (中段の構え)

Chudan-no-kamae é a “postura do meio”. Trata-se da


postura de combate fundamental do Kendō, a partir da qual o
kenshi pode controlar o avanço do adversário com a ponta de
sua espada, realizando movimentos defensivos e ofensivos
com facilidade.
O pé direito fica à frente, com o dedão do pé esquerdo
na linha do calcanhar direito, como mostra a figura. Ambos os pés devem ficar paralelos, bem voltados
para frente. A distância entre eles deve ser natural, como ao caminhar. O calcanhar esquerdo deve estar
levemente levantado e o joelho esquerdo ligeiramente flexionado. O peso do corpo deve estar dividido
igualmente em cada perna, e concentrado nas pontas dos pés, nunca nos calcanhares. O corpo deve
ficar todo bem voltado para frente, começando pelo pé esquerdo e pelo quadril.
Segure a shinai à sua frente, bem no meio do corpo, com a ponta bem no centro ou voltada para
o olho esquerdo do oponente. O tsuru (corda) corresponde ao lado cego da lâmina da espada, e,
portanto, deve ficar para cima. A mão esquerda segura na extremidade do cabo, enquanto a direita fica
próxima ao tsuba, sem encostar-se a
ele. Segure a shinai levemente, sem
apertá-la. Os dedos mínimos e anelar
de ambas as mãos fazem um pouco
mais de pressão no cabo, enquanto o
indicador e o polegar apenas
encostam nele. Os pulsos devem
estar voltados para dentro, de
maneira que, se você abrir os dedos,
eles fiquem apontando verticalmente para baixo. Cotovelos ficam ligeiramente flexionados. A mão
esquerda deve ficar na mesma altura do tanden (3 cm abaixo do umbigo), a um punho fechado de
distância da barriga. A shinai deve apontar para a garganta do adversário a sua frente, de maneira que a
altura da ponta da shinai varia em função da altura e distância do oponente.

2.1 Sacando/guardando o shinai

Existe uma forma correta de sacar o shinai. A partir da posição de sagetô, mude
para taitô. Em seguida, dê um passo à frente com o pé direito puxando o esquerdo logo
depois para assumir a posição de chudan no kamae. Ao mesmo tempo em que inicia o
movimento de pés, segure o cabo do shinai próximo ao tsuba com a mão direita, como
mostra a figura ao lado. Puxe-a para frente, como se estivesse sacando-a da bainha até
cerca de 1/3 da lâmina. Solte a mão esquerda e gire a espada pelo lado de seu ombro
esquerdo até posicionar a ponta à sua frente,
terminando a posição em chudan-no-kamae. Os
movimentos de braço e perna devem começar e
terminar juntos.
3 ASHI-SABAKI (足捌き)
Ashi-sabaki é o trabalho de pernas do Kendō. A movimentação
de pernas é ainda mais importante do que a movimentação de braços, e por isso a ela é dada uma
grande ênfase, principalmente no início do treinamento do kenshi. No Kendō, a maior parte da
movimentação é feita em suriashi, ou seja, deslizando os pés no chão. Ao mover-se, você deve sempre
manter a ponta do pé em contato com o solo, evitando levantar demais os calcanhares.
Em todos os movimentos do Kendō, é importante manter a postura ereta e o abdômen
contraído. Em vez de jogar a perna para frente e puxar o corpo pra frente com essa perna, como é
natural, empurre o quadril para frente com a perna que está atrás. Se for se mover para o lado direito,
empurre com a perna esquerda, e vice-versa. Se for se mover para trás, empurre com a perna que está
na frente.
A seguir, listamos os 4 tipos fundamentais de ashi-sabaki. Ainda existe o movimento de
fumikomi-ashi, que também faz parte do ashi-sabaki, mas que será abordado somente no 4º kyu.

3.1 Ayumi-ashi (あゆみ足)

É parecido com o movimento normal de caminhar, ou seja, alternando a perna que fica na
frente. Porém é executado em suriashi. É adequado para deslocamento quando se está longe do
oponente, em distância mais segura. Pode ser usado
para deslocamento para todas as direções, embora o
mais comum seja utilizá-lo para ir para frente e para
trás.

3.2 Okuri-ashi (送り足)

É o movimento mais utilizado. Serve para se


movimentar enquanto mantêm-se as posições
relativas entre os pés em situação de combate. Ou
seja, não importa para onde se mova, o kenshi sempre
vai terminar o movimento com o pé direito na frente
do esquerdo, caso mova-se em chudan-no-kamae. É
adequado para pequenos passos em distância de
combate ou para desferir golpes. Deve ser rápido de forma a ficar o mínimo de tempo possível com os
pés fora da posição do kamae.
Para se mover para frente, a partir do chudan no kamae, empurre o quadril para frente com o pé
esquerdo deslizando a ponta do pé direito no chão enquanto abre as pernas. O movimento pode ser tão
grande quanto possível, ou tão curto quanto o necessário, mas a postura não deve se desmanchar e a
altura da cabeça não deve variar muito. Após mover o pé direito, puxe rapidamente o pé esquerdo para
voltar ao kamae. Essa puxada do pé esquerdo é de extrema importância.
Para se mover para outras direções o movimento é análogo. Para trás, empurre o quadril para
trás com a perna direita enquanto estende a perna esquerda para trás e então puxe a perna direita
rapidamente voltando ao kamae. Para o lado direito, empurre o quadril para a direita com a perna
esquerda e puxe-a rapidamente.

3.3 Hiraki-ashi (開き足)

É um movimento utilizado em algumas técnicas para sair da


frente de um adversário enquanto continua voltado para ele. Útil
em técnicas de contra-ataques. Veja a figura ao lado.

4 KIHON (基本)
Kihon quer dizer “base”, e se refere a todos os aspectos e
exercícios básicos do Kendō, como suburi, ashi-sabaki, kirikaeshi,
kamae, maai, zanshin, entre outros (boa parte dos termos citados
serão tratados nas graduações seguintes), mas, especialmente, à forma correta e básica de se golpear. O
correto kihon é tão importante que alguns sensei mais tradicionais ensinam e praticam o Kendō
exclusivamente através desses movimentos, e acreditam que o desenvolvimento de técnicas mais
complexas evolui naturalmente a partir da interiorização do kihon através da sua prática constante e
diligente.
A verdade é que se levam muitos anos para se desenvolver um kihon aceitável, e uma vida
inteira para dominá-lo. Técnicas mais sofisticadas ficam vazias sem um kihon adequado. Por esses
motivos, todo estudante de Kendō, mesmo os professores mais experientes, praticam kihon.
A seguir, são descritos os dois golpes mais básicos do Kendō. São aqueles em que o estudante de
6º kyu deve se concentrar.

4.1 Men-uchi (面打ち)

Golpe ao men (rosto). O golpe mais básico do


Kendō, desferido contra a cabeça do adversário. As
figuras abaixo descrevem o movimento. Levante os
braços até quase o limite da extensão dos ombros,
flexionando um pouco os cotovelos e levando a
shinai em direção às suas costas. Puxe a shinai para
baixo com a mão esquerda, à media que estende
suavemente os cotovelos, executando
um movimento amplo de arco com a shinai. Nos
últimos dez ou vinte cm de arco do movimento,
aperte o cabo da shinai com os dedos mínimos e
anelar de ambas as mãos, e gire os pulsos para baixo e
para dentro, como se estivesse torcendo o cabo da
shinai.
É apenas nesse último movimento que se deve colocar força, e apenas a
força das mãos e dos pulsos (tenouchi), em vez da força dos braços.
Assim que o golpe atinge o alvo, relaxe as mãos, cessando a força. No
momento do golpe, o braço direito deve estar esticado e paralelo ao
chão. O braço esquerdo deve estar tão esticado quanto possível, e a mão
esquerda mais ou menos na altura do plexo solar. No momento do golpe,
grite MEN. Lembre-se de fazer mais força com a puxada da mão esquerda
do que com a direita, do contrário o golpe fica pesado demais e
desequilibrado.
Esse movimento dos braços deve ser acompanhado por um
movimento de pernas adequado.
Nos níveis de 6º e 5º kyu, execute o men-uchi utilizando
o okuri-ashi, sincronizando braços e pernas. Enquanto as pernas abrem e o pé direito avança, os braços
sobem. Enquanto a perna esquerda é puxada, os braços descem.

4.2 Kote-uchi (小手打ち)

A execução é muito semelhante à do menuchi, com a diferença que o


golpe atinge o antebraço direito de um adversário, portanto os braços descem
mais um pouco. Cuide para não desviar o golpe do centro. Nos primeiros
meses de treinamento, os motodachi com bogu abrirão um pouco a guarda
tirando a ponta da shinai do centro para que você acerte o kote direito,
mantendo o golpe sempre na linha central. No momento do golpe, grite
KOTE.

5 SUBURI (素振り)
Suburi é um exercício que consiste em praticar os golpes no ar. É normalmente utilizado nos
treinos como parte do aquecimento. Por ser um dos poucos exercícios do Kendō que pode ser realizado
sozinho, é também utilizado para treino em casa.
É recomendado que o Kendō seja treinado todos os dias. Então, recomenda-se fazer suburi em
casa nos dias que não se treina no dojō. Há sensei mais experientes que recomendam fazer 1000 suburi
por dia. Mas tenha cuidado. Tentar fazer uma quantidade dessas de suburi sem preparo e conhecimento
levará a lesões. Um iniciante pode começar com 100 suburi diários, em séries de 30 ou 40, e ir
aumentando aos poucos a quantidade à medida que vai sentindo que está ficando fácil. A seguir,
listamos alguns dos exercícios mais comuns de suburi.

5.1 Joge-buri (上下振り)

Exercício normalmente utilizado no início da sequência de suburi para soltar os braços. Consiste
em subir e descer a shinai sincronizando com movimento de okuriashi, normalmente um passo pra
frente um passo pra trás. Eleve os braços e traga a shinai até as costas enquanto abre as pernas e desça-
a enquanto fecha as pernas, até a ponta ficar na altura do joelho, mais ou menos. Ao descer a ponta da
shinai, procure não levantar demasiadamente a mão esquerda ou dobrar o cotovelo esquerdo.
5.2 Naname-buri (傾振り)

Semelhante ao joge-buri, mas realizando movimentos em diagonal alternados, como um corte


do ombro até a parte central da cintura do adversário. Pode ser feito em okuriashi pra frente e pra trás
ou em hirakiashi.
5.3 Zenshin-kotai-sho-men (前進交替正面)

Série de golpes de men, como descrito no kihonmen-uchi, mas com um golpe para frente, outro
para trás.

5.4 Zenshin-kotai-Hikaisakai

Sequência de golpes de men em movimentos de okuriashi, com um passo pra frente, um pra
trás, um para direita outro pra esquerda. Os passos laterais podem ser acompanhados de sayumen (ver
abaixo).

5.5 Sayumen (左右面)

Também chamado de kirikaeshi. Golpes de men, mas não no centro (shomen), e sim em
diagonal, do lado esquerdo e direito da cabeça do adversário imaginário.
5.6 Hiraki-men (開き面)
Golpes de sho-men ou sayumen juntamente com passos de hirakiashi.

5.7 Choyaku-suburi (跳躍素振り)

Também conhecido como haya-suburi. É um suburi rápido, onde o kenshi salta para trás
erguendo a shinai e logo depois pra frente golpeando men. O movimento de salto é muito semelhante
ao okuriashi, mas os pés chegam a sair do chão.

6 ORIENTAÇÕES PARA PROMOÇÃO AO 5º KYU


Para atingir o 5º Kyu, é recomendado que o praticante tenha passado um mês no 6º Kyu,
podendo este período variar conforme a frequência de treino e dedicação de cada estudante. O
praticante deve demonstrar interesse em aprender e vontade ao praticar. Deve conhecer os comandos
básicos e saber como se portar no dojō. Deve conseguir executar os movimentos do suburi e do
ashisabaki mantendo a postura equilibrada e sem balançar o shinai no final do golpe. O golpe de men
deve ocorrer com sincronia de braços e pernas, firmeza, retidão, braços esticados, punhos na altura
certa e com o grito do nome do golpe.

7 GLOSSÁRIO 6º KYU

- Kenshi: praticante de Kendō.

- Dojō: local de treino; academia de artes marciais.

- Nanbukan: Casa dos Gerreiros do Sul. O nome do nosso dojō.


- Budô: “Caminho marcial”. Também referidos como “artes marciais modernas”.
São as disciplinas japonesas criadas a partir das técnicas de combate antigas, transformando o
seu propósito e objetivo de uma disciplina para autoproteção para uma disciplina para auto-
aperfeiçoamento. Kendô, Judo e Aikidô são alguns exemplos de budô.

- Kenjutsu: Literalmente “esgrima”. Refere-se às técnicas de espada. O termo é


comumente associado aos koryu kenjutsu, por ser um termo mais utilizado na época.
- Koryu: “escolas antigas”. Os koryu são as disciplinas antigas de artes marciais
japonesas, que deram origem aos budô atuais.

- Bujutsu: Literalmente “artes marciais”. Incluí disciplinas como kenjutsu, jujutsu,


kyujutsu, etc.

- Ki: Energia

- Kiai: Maneira de manifestar a energia. Grito.

- Shinai: espada de bambu

- Tsuba: guarda mão da espada, separando o cabo da “lâmina”

- Tsuka: cabo da shinai

- Tsuru: A corda que liga as partes de couro da shinai. Corresponde ao lado cego da
lâmina.

- Bôgu: equipamento de proteção do Kendō.

- Sensei: professor.

- Senpai: Veterano. Aquele que iniciou no Caminho antes de você.

- Yuudansha: Graduado. Aquele que possui graduação de dan.

- Kohai: Junior. Aquele que iniciou no Caminho depois de você.

- Shoshinsha: Iniciante, novato.

- Te-no-uchi: Literalmente “dentro da mão”. Refere-se à maneira correta de utilizar


força nos golpes no Kendō, apenas com as mãos e os pulsos, apenas um instante antes do
impacto do golpe.

7.1 Números
1 – Ichi 6 – Roku 20 – Ni-ju
2 – Ni 7 – Shichi 30 – San-
ju
3 – San 8 – Hachi 40 – Yon-
ju
4 – Shi 9 – Kyu 70 – Nana-
ju
5 – Go 10 – Juu 100 –
Hyaku
7.2 Comandos

- - Kiai iretê ikuzô: “Vamos colocar kiai e ir com tudo!” Responda com um kiai (grito).

- Rei: cumprimentar.

- Kamae / Kamaetê / Kamae-tô: Assumir kamae, assumir postura de luta.


- Hajimê: Começar

- Yamê: Parar

- Ippon migi: girar posições para direita.

- Kotai: Alternar, trocar, responder

- Ippon / Ikkai: uma vez

- Nihon / Nikai: duas vezes

- Sanbon / sankai: Três vezes

- Yonhon / yonkai: quatro vezes

- Sanjuppon: 30 vezes - Mo-ichi-do: mais uma vez.

- Hayaku: rápido.

- Sumimasen: Desculpe-me.

- Gomen’nasai: Desculpe-me.

- Hai: Sim

- Migi: direita

- Hidari: esquerda

- Mae: para frente

- Ato / Uchiro: para trás

- Faitô: do inglês fight. É um grito de incentivo. Algo como “Vai!”, “Lute!”.


5º KYU (五級)
O treino do 5º kyu será marcado pelo vestir, guardar e tomar os cuidados necessários para a
manutenção do uniforme (keiko-gi e hakama). O kenshi intensificará a prática dos golpes de kihon,
passando pelo adversário em suriashi e realizando golpes consecutivos (renzoku-waza), além de treinar
sua noção de maai e seus kiai e zanshin. Aprenderá a fazer o kirikaeshi e os dois primeiros kata do
Nihon Kendō Kata. Todos esses conceitos são explicados neste polígrafo.

1 KEIKOGI E HAKAMA
Nesta graduação, o kenshi utilizará o uniforme de treino, composto
pelo keiko-gi (parte de cima, espécie de camisa) e pelo hakama (calça). É
importante que o estudante de Kendō saiba vestir, guardar e lavar o
uniforme adequadamente, já que o zelo na manutenção do equipamento
de treino acompanha intimamente uma prática diligente e marcada pelo
respeito.
1.1 Como vestir

Em primeiro lugar, vista o keiko-gi. Coloque-o com o lado


esquerdo por cima do direito, amarrando os cordões em topes (como
cadarços de sapato), começando pelos inferiores. Certifique-se de que o
nó seja feito de forma a manter os cordões na posição horizontal,
conforme a figura ao lado. No Japão, tradicionalmente, essa amarra é
deixada na vertical apenas quando o indivíduo falece.

Após vestir o keiko-gi, passe ao hakama. Segure-o por sua parte


superior e o vista começando pela perna esquerda. Pegue, então, as duas faixas (himo) frontais e dê
uma volta com elas por suas costas, cruzando-as novamente à sua frente. Leve-as novamente às suas
costas e dê um nó do tipo tope, igual ao que foi feito anteriormente no keikogi. Passe à parte traseira do
hakama. Encaixe o koshi-ita (parte traseira superior mais rígida, em forma de trapézio) sobre o nó
formado pelos himos frontais. Muitos hakama têm uma pequena peça plástica adjacente ao koshi-ita,
que serve para fixá-lo.Nesse caso, prenda-a por trás do nó dos himo frontais. Passe os himo traseiros à
sua frente, cruzando o esquerdo por cima do direito. Passe esse himo esquerdo verticalmente pela
frente (de cima para baixo) e então por trás de todos os outros himo (de baixo para cima), envolvendo-
os. Faça, então, um nó simples com as pontas dos dois himos e passe o que sobrar às suas costas,
afixando as pontas por baixo dos outros himo, de forma a não escaparem ou ficarem soltas durante o
treino.
1.2 Como dobrar e lavar

Após todo treino, o kenshi deve dobrar seus gi e


hakama para guardá-los e transportá-los. É importante
manter o hakama dobrado sempre que possível, de forma
a manter claramente visíveis as pregas com que ele vem
originalmente. Atribuem-se às cinco pregas frontais do
hakama significados como o das Gojo (cinco virtudes),
quais sejam: Jin (humanidade), Gi (verdade e justiça), Rei
(cortesia), Chi (sabedoria) e Shin (fé). À prega traseira,
atribui-se Makoto
(sinceridade).

O gi pode ser dobrado de forma muito similar a


uma camisa. Leve-o ao chão (ou, de preferência, a uma
superfície lisa, limpa e elevada) com a parte frontal para
cima e una as suas abas laterais bem no centro, sem
sobrepô-las. Dobre os lados para dentro até o centro,
dobrando, também, as mangas, de forma a não deixar
marcas. Dobre o 1/3 inferior para cima, e, então, outra vez. Observe a figura ao lado.

O hakama, por sua vez, deve ser estendido com a parte frontal para baixo, já que, primeiramente, deve-
se ajeitar a prega traseira. Ela deve ficar reta e centralizada. Vire o hakama, então, para deixar a parte
frontal voltada para cima. Para não desajeitar a prega traseira recém-alinhada, faça essa “virada”
segurando a prega na parte de baixo do hakama. Ajeite, então, as pregas frontais, deixando-as retas e
mantendo o hakama alinhado, sem dobras. Quando terminar, dobre os lados do hakama em direção ao
centro. Dobre o 1/3 inferior para cima e, então, outra vez.

Dobre os himo frontais (maiores) ao meio e, então, outra vez. Cruze-os sobre o
hakama. Pegue os himo traseiros (menores) e passe-os por baixo e para cima da parte inferior do “x”
formado. Passe-os por cima e por baixo da parte lateral superior do mesmo “x”. Passe as pontas por
dentro da 1ª volta formada pelo himo traseiro oposto. Observe a figura acima.

Quanto à lavagem, recomendam-se diversos métodos. De forma geral, diz-se que o hakama não
deve ser levado à máquina de lavar, para que não se desfaçam as dobras originais (pregas). O meio mais
tradicional envolve submergi-lo (mantendo-o dobrado) em uma bacia/tanque cheia de água em
temperatura ambiente, com sabão. Evite composições com detergentes/alvejantes. É recomendado,
então, retirar o hakama, estendê-lo sem desfazer as pregas e remover o excesso de água passando a
mão longitudinalmente sobre o tecido. Use prendedores e, se necessário, um cabide para pendurar o
hakama de cabeça para baixo, sem desfazer as pregas.
Muitos kenshi, no entanto, utilizam a máquina de lavar, tomando alguns cuidados. Deve-se
garantir que os himo não fiquem soltos, e tentar proteger o koshiita de impactos, já que o tecido ao
redor dele tende a rasgar. A alternativa mais simples é amarrar os himo e colocar o hakama junto com o
keikogi na máquina, mas o koshi-ita fica exposto dessa forma. Uma alternativa interessante é a de
utilizar elásticos para segurar os himo. Com o hakama já dobrado (como explicado acima), dobrá-lo
novamente por sobre o koshi-ita, protegendo-o, e utilizar os elásticos para manter o hakama assim,
levando-o à máquina em forma de “tijolo”, conforme a figura (diferentemente da 3ª figura, não deixe as
pontas do koshi-ita expostas). As pregas também serão mantidas. Utilize ciclos suaves de lavagem.

O keikogi pode ser lavado da mesma forma que o hakama, à mão ou na máquina de lavar. Na
máquina de lavar, é mais fácil que o keikogi perca sua cor e comece a desgastar e rasgar. Tanto o
hakama quanto o keikogi soltam tinta durante a lavagem, então não os lave com outras roupas.

2 KIHON
O kihon se refere ao conjunto de golpes e movimentos básicos e fundamentais, que serão
praticados sempre, independentemente da experiência do kenshi. Para a promoção ao 4º kyu, o kenshi
deve realizar golpes de men, kote e dô satisfatoriamente. Deve treinar, portanto, o golpe com a parte
certa da shinai (1/3 final da lâmina ou datotsu-bu), começando na distância apropriada (noção de maai);
a manifestação do seu espírito de luta (kiai); e a passagem pelo adversário após o golpe em suriashi,
sem perder o vigor, a prontidão e a atenção ao adversário (zanshin). Também deverá conseguir
desempenhar golpes consecutivos (por exemplo, kote seguido de men). Finalmente, é fundamental que
consiga fazer o kirikaeshi com movimento amplo, sincronizado e atingindo os locais corretos.

2.1 Maai

Significa “intervalo”. Espacialmente, é a distância física entre os kenshi durante a prática.


Temporalmente, é o período necessário para que o golpe seja executado. Psicologicamente, é o espaço
real de combate entre os adversários, que se mantém mesmo quando se afastam ou se aproximam. O
cálculo do maai leva em conta todas essas dimensões, já que, por exemplo, um kenshi que executa o
seu golpe mais rapidamente e exercendo maior pressão psicológica será capaz de atingir o seu
adversário a partir de uma distância maior. O praticante de Kendō deve, primeiramente, obter uma
noção clara do seu maai em relação aos demais companheiros de treino e, então, treinar para
“aumentar” o seu maai, necessitando menor tempo de execução de golpe e uma menor aproximação
do adversário. Em termos de distância, divide-se o maai em três.

O issoku Itto-no-maai é a tradicional distância de “um passo e um golpe”. Trata-se da distância


em que o alvo é atingido (com o datotsu-bu) utilizando-se apenas um passo e a extensão da shinai.
Geralmente, ocorre com as pontas das shinais se cruzando, como na figura ao lado.

O chikai maai (ou chika-ma) se trata de uma distância perigosa, em que os kenshi encontram-se
mais próximos. Nessa distância, há uma pressão muito forte para que algum golpe seja realizado, ou
para que os kenshi se afastem para issoku itto-nomaai.

O toi maai (ou toh-ma), ao contrário, é uma distância mais afastada e segura, na qual há tempo
para que se perceba e reaja à movimentação do adversário. Quando os kenshi estão em chudan-no-
kamae, as suas shinais não se cruzam nessa distância.

Quando realizar um golpe de kihon, é melhor que você comece em toi maai, aproxime-se do
motodati através de um primeiro passo (okuri-ashi) e, então, golpeie através de um segundo passo. De
início, use o primeiro passo mencionado para entrar o quanto for necessário, de forma que, no segundo
passo, você consiga golpear o alvo com o datotsu-bu e com a postura ereta. Você pode, inclusive, iniciar
o golpe de chikai maai. À medida que ganhar confiança, avance menos com o primeiro passo,
começando o golpe cada vez mais de longe. Em pouco tempo, você estará iniciando o golpe do issoku
ito-no-maai. É importante ressaltar que o maai varia entre os golpes de dô (que precisa que você
“entre” mais no maai do motodati), men, tsuki e kote (que está mais à frente e, portanto, mais perto de
você).

2.2 Kiai

É fundamental que o kenshi manifeste seu ki durante o treino e, principalmente, durante a


execução dos golpes. Senseis experientes dizem que cada golpe deve ser executado como se fosse o
último. Esse espírito é manifestado através do vigor do golpe, do grito (kakegoe), e da passagem pelo
adversário com velocidade. O jeito de identificar mais claramente a manifestação do ki costuma ser
através do kakegoe, portanto sempre tente gritar o nome do golpe bem alto. Você verá que o melhor
jeito de convocar seu ki, principalmente quando sua energia estiver se esgotando, é com o kakegoe. Ele
não é feito apenas com a garganta, mas deve partir do abdômen, do centro de gravidade e energia do
corpo (tanden). Você pegará o jeito com o tempo.

2.3 Zanshin

Trata-se do estado mental de alerta que deve se manter antes, durante e após a realização do
golpe. Manter o zanshin (“mente remanescente”) é parte importante de um golpe considerado válido. O
kenshi deve manter a atenção no adversário e seu corpo deve estar em prontidão para reagir a qualquer
situação que ocorra após o ataque. O zanshin se manifesta, após um golpe de kihon, através do kiai
contínuo e da velocidade na passagem pelo adversário, até o momento em que o kenshi volta-se
novamente para o companheiro de treino (motodati), com rapidez e prontidão.

É importante ressaltar que, embora normalmente se fale em zanshin após a realização do golpe,
ele deve estar presente durante toda a luta e todo o treino. Manter a mente e o corpo em prontidão é,
inclusive, uma demonstração de respeito aos colegas e ao Dojō.
2.4 Do-uchi

O golpe de dô tem por alvo o lado direito do abdômen do


adversário (migi-do) ou, mais raramente, o esquerdo
(gyaku-do). O golpe de dô em kihon inicia da mesma forma que
men e kote – erguendo-se a shinai acima da cabeça pela linha de
centro. A trajetória descendente da shinai é feita em diagonal,
aproximadamente 45o em relação ao eixo central. Após o golpe de
dô, deve-se passar em suriashi pelo lado oposto de onde a shinai
atingiu o corpo do oponente, deslizando a espada no dô em
movimento análogo ao de um corte.

2.5 Renzoku-waza

São técnicas de golpes consecutivos. Neste estágio de treino, resumir-se-ão a certos


sequenciamentos de golpes de kihon (por exemplo, kote-men e men-men). Inicialmente, devem-se
realizar os dois golpes consecutivos de forma independente e em suriashi – ou seja, um de cada vez.
Após o primeiro golpe de kihon, o motodati recuará um passo para manter o
maai apropriado para o próximo golpe.

2.6 Kirikaeshi

Muitos senseis defendem que a prática do kIrikaeshi contém grande


parte do que se deve aprender no Kendō, tratando-se do exercício mais
completo, disseminado nos diversos Dojō de Kendō existentes atualmente.
Dentre as habilidades básicas aprimoradas através do kirikaeshi estão a de te
no uchi (utilização correta e coordenada dos movimentos de mãos, punhos e
braços), a de ashi sabaki (movimentação e coordenação de pernas e quadril) e
maai.

O kirikaeshi inicia com um golpe de men-uchi. O motodati recebe o


men-uchi e espera a carga do kakarite (aquele que realiza o movimento
principal do exercício). Os dois colidem em taiatari (impacto de corpo), após o
qual o motodati recua até a distância necessária para receber os próximos
golpes. O taiatari ocorre com o encontro das mãos dos kenshi, protegidas pelos
kote, posicionadas à frente do corpo e impulsionadas a partir dos quadris.
Como o praticante de 5º kyu ainda não utiliza o kote, deve evitar essa colisão. Neste estágio, então, o
motodati deve recuar mesmo sem ser empurrado através do impacto do taiatari. É importante ressaltar
que, após colocar o bogu completo, o motodati deve obrigatoriamente esperar o taiatari para que possa
recuar.

O próximo passo é a realização de golpes alternados de sayu-men (nas diagonais do men)


iniciando pela esquerda do adversário – 4 para frente e 5 para trás, com o movimento dos pés em okuri-
ashi. O motodati deve defender os golpes, com a shinai na vertical e as mãos próximas ao corpo e
abaixo dos ombros, movimentando os pés em ayumi-ashi. Isto é, se o motodati defende um golpe à sua
esquerda, deve recuar o pé esquerdo; golpeado à sua direita, defende enquanto recua o pé direito.

Após o 9º golpe de sayu-men, o kakarite afasta-se apenas o suficiente para retornar ao issoku
Ito-no-maai e, então, golpear men-uchi novamente. É importante não interromper o kiai, o zanshin ou a
respiração nesse intervalo entre 9º sayu-men e men-uchi. O único período dedicado à inspiração, no
kirikaeshi correto, é após cada golpe inicial de men-uchi (antes do 1º sayu-men). No treino, o comando
“kirikaeshi” implica na realização do exercício por duas vezes seguidas (nikai), a menos que se diga algo
diferente (por exemplo: ikai – uma vez; sankai – três vezes; sanju-pon – uma vez com trinta golpes de
sayu-men).

Há erros que aparecem regularmente na realização do kirikaeshi, como a retirada da mão


esquerda do centro durante os golpes de sayu-men. O correto é jamais retirar a mão esquerda do eixo
central nesse exercício; a mão direita que deve dar direção ao golpe. Também, é comum que o kenshi
perca a sincronia entre pés e mãos. O correto é sempre atingir o alvo com a shinai ao mesmo tempo em
que se fecham as pernas – quando se avança, é o momento em que o pé esquerdo volta para junto do
pé direito; quando se recua, o contrário. O kirikaeshi, principalmente quando realizado como kihon,
deve ter todos os golpes de sayu-men desferidos a partir de cima da cabeça e em trajetória descendente
de 45o, em vez de lateralmente.

3 ORIENTAÇÕES PARA PROMOÇÃO AO 4º KYU


Para passar ao 4º kyu, o praticante deverá demonstrar zelo no vestir e manter o uniforme, além
de realizar golpes com kiai e zanshin, utilizando a parte certa da shinai (1/3 final da lâmina ou datotsu-
bu) e começando na distância apropriada (noção de maai). Será fundamental que consiga fazer o
kirikaeshi com movimento amplo, sincronizado e atingindo os locais corretos, além de desempenhar os
dois primeiros kata do Nihon Kendō Kata satisfatoriamente.

4 NIHON KENDŌ KATA


O Nihon Kendō Kata é o resultado da unificação dos diversos kata criados pelos vários estilos de
kenjutsu que ainda existiam no Japão no início do século XX. Essa unificação (realizada em 1912) foi uma
tentativa de manter vivos os movimentos, formas e espírito do kenjutsu tradicional, transmitindo-os às
próximas gerações.

Os 10 kata (literalmente, “forma”) resultantes dessa unificação contêm, então, parte importante
do significado e do método do uso da espada japonesa tradicional. Juntamente com os movimentos e
posturas, são uniformemente ensinados os objetivos e os significados de cada kata. Hoje, o Nihon
Kendō Kata é praticado internacionalmente de forma padronizada, sendo, inclusive, utilizado como
parte da avaliação realizada em exames de graduação.

Os kata são praticados em duplas, sendo que os kenshi têm papéis diferentes durante a prática:
o de Uchidachi e de Shidachi. Ao Uchidachi é atribuída a função de iniciar os movimentos e de ter maior
controle sobre o tempo e a distância de execução dos passos e golpes. Por esse motivo, a posição de
Uchidachi é associada à função de professor, desempenhada por praticantes mais graduados. Ao
Shidachi, cabe atentar para a movimentação do Uchidachi, seguindo-o e aplicando técnicas em resposta
aos seus ataques. Em todos os 10 kata, o Shidachi aplica técnicas de contra-ataque que o permitem
anular os golpes do Uchidachi de acordo com o maai que se apresenta, vencendo-o espiritual e
tecnicamente. Após todos os seus golpes de contra-ataque, o Shidachi utiliza-se do zanshin, o estado de
alerta mental que se mantém após a execução dos golpes, para impor-se espiritualmente ao Uchidachi,
impedindo que fuja ou reaja.

Nos 7 primeiros kata do Nihon Kendō Kata, Uchidachi e Shidachi utilizam-se da tachi (espada
longa, de tamanho equivalente à katana). Nos 3 kata finais, o Shidachi troca sua tachi por uma kodachi
(espada curta). A seguir, são descritos os dois primeiros kata do Nihon Kendō Kata, assim como a
cerimônia abreviada de início e fim da prática. A cerimônia completa, incluindo o manuseio da kodachi e
o modo de se entrar no Dojō, será ensinada posteriormente. O desempenho satisfatório dos dois kata a
seguir será necessário para a promoção do kenshi até o 1º kyu.
4.1 Cerimônia abreviada

Os kenshi devem encontrar-se a aproximadamente nove passos de distância um do outro para


que iniciem a prática. Ambos devem estar de posse da bokutō (espada de madeira maciça de tamanho
equivalente à katana) na mão direita, em postura relaxada (saguetô), com os braços ao longo do corpo
e os calcanhares tocando o chão.

Ambos os kenshi fazem rei voltados para o kamiza (o ponto alto, local
mais importante do Dojō, geralmente identificado por uma bandeira,
estátua ou caligrafia emoldurada), ou para uma banca
examinadora, em caso de exame de graduação. Depois, um volta-se para o outro e ambos
fazem rei novamente. É importante observar a diferença entre o rei para o kamiza e para o
companheiro de treino. Neste último, não há quebra do contato visual, como demonstrado
na figura ao lado. Sempre se deve manter a atenção no companheiro de treino e aos seus
movimentos, inclusive no rei, como forma de respeito mútuo. Isso é, por vezes,
desnecessário com figuras para as quais se dedica plena confiança, como o kamiza ou um
sensei experiente.

Após o ritsu-rei, os kenshi trocam a bokutō de mão em frente ao corpo, assumindo, então, a
postura de taitô, com a bokutō quase paralela ao chão e o dedão da mão esquerda sobre o tsuba
(guarda da espada). A partir dessa posição, os kenshi avançam três grandes passos para frente em
ayumi-ashi, iniciando com o pé direito. Durante o terceiro passo, deve-se sacar a bokutō (“embainhada”
pela mão esquerda) e assumir chudan-no-kamae, cruzando as pontas das bokutō. Os kenshi, então,
fazem sonkyo (agachamento com postura ereta), mantêm essa posição por um intervalo curto de tempo
(por volta de 2 segundos) e reerguem-se. Para afastarem-se um do outro, os kenshi abaixam as pontas
de suas espadas à altura do joelho e viram as lâminas diagonalmente para o lado direito, para não
demonstrarem agressividade. Recuam, então, cinco passos curtos “e meio” em ayumi-ashi, iniciando
com o pé esquerdo (que está atrás). O “meio passo” se refere ao recuo do pé direito após o último
passo para trás, para que se retome a posição dos pés em chudan-no-kamae. Os passos para traz devem
ser pequenos, de maneira que o kenshi retorne exatamente a posição inicial. Depois desse recuo, os
kenshi reergueem a bokutō para assumir a postura de chudan e, então, iniciar o 1º kata. Toda essa
movimentação inicial, a partir da troca da bokuto de mãos, está representada nas figuras abaixo,
iniciando pela esquerda (figura nº 20).

Ao final de cada kata, os kenshi voltam a abaixar as pontas das bokuto e virar as suas lâminas
diagonalmente para o lado, recuando 5 passos “e meio” e, então, retomando chudan-no-kamae –
exceto após o último kata realizado. Neste, os kenshi fazem sonkyo quando ainda estão em issoku Ito-
no-maai, “embainham” a espada na mão esquerda, erguem-se, afastam-se 5 passos e meio em taitô,
trocam a espada de mãos em frente ao corpo e fazem rei em saguetô, primeiro ao companheiro de
treino, depois ao kamiza (da forma inversa que no início). Essa cerimônia é a mesma para o Bokuto
Kihon Kata, que começará a ser treinado no 4º kyu.
4.2 1º Kata (Ipponme)

O uchidachi toma a postura de hidari-jodan – leva o pé esquerdo à frente, vira levemente o


calcanhar direito para a esquerda e ergue sua bokutō acima de sua cabeça, enviesando levemente a
espada para a direita. Trata-se de uma postura agressiva. Em resposta, o shidachi troca a postura de
chudan para migi-jodan – ergue a espada sobre a própria cabeça, mantendo-a na linha de centro (sem
enviesá-la) e sem alterar a posição dos pés.
Hidari Jodan Migi Jodan

O uchidachi começa a movimentação para frente, com três grandes passos em ayumi-ashi,
iniciando pelo pé esquerdo (que está na frente). Assim que o uchidachi inicia, o shidachi segue, fazendo
os mesmos três passos para frente, começando pelo pé direito. Os kenshi estarão, após esses passos,
em uma distância perigosa, que possibilita ataques com apenas um passo e um movimento da espada.
O uchidachi toma a iniciativa de ataque, trazendo a espada de volta para o centro, acima da cabeça, e
realizando um golpe descendente, com objetivo de cortar o shidachi ao meio, a partir da cabeça. Esse
golpe é realizado com o avanço do pé direito, que ultrapassa o esquerdo. O uchidachi manifesta seu ki
através do grito “iá”.

O shidachi evita o ataque do uchidachi ao recuar um passo,


erguendo ainda mais as mãos (que receberiam o primeiro impacto do
golpe). Após desviar, o shidachi avança um passo e aproveita a brecha
aberta pelo uchidachi para golpeá-lo verticalmente na cabeça, gritando
“tô”. O uchidachi, após ter errado seu golpe, curva-se levemente para
frente, devido ao ímpeto com que atacara, e mantém a bokutō em
posição baixa. Após ter a espada do shidachi sobre sua cabeça por um
período curto de tempo, recua um pequeno passo. O shidachi
responde a esse recuo apontando sua bokutō para o ponto entre os
olhos do uchidachi, mantendo o zanshin. O uchidachi dá um novo
passo para trás, afastando-se mais uma vez do shidachi. Este avança o
pé esquerdo e toma a postura de hidari-jodan, impondo-se sobre o
adversário e impedindo que tente qualquer outro movimento de luta
ou fuga. Reconhecendo sua derrota, o uchidachi ergue sua espada e
retorna para chudan-no-kamae, enquanto o shidachi recua seu pé esquerdo e toma a mesma postura,
terminando o kata em issoku Ito-no-maai.

O 1º kata demonstra a importância da noção de maai, através da qual o shidachi afasta-se o


necessário para evitar o golpe e contra-ataca acertando a distância para atingir o uchidachi com a parte
certa de sua espada (o 1/3 da lâmina mais próximo da ponta). Diz-se que o Nihon Kendō Kata permite o
treino mais aproximado do verdadeiro espírito de duelar com espadas reais, sem armaduras, colocando-
se a própria vida em jogo ao golpear o adversário. Essa atitude mental é fundamental na prática do
Kendō. No 1º kata, o uchidachi treina seu espírito para executar seu golpe arriscando a própria vida, da
mesma forma que o shidachi.
4.3 2º Kata (nihonme)

No 2º kata, os kenshi iniciam seu avanço (três grandes passos em


ayumi-ashi) sem alterar a posição inicial de chudan, até cruzarem as
pontas das bokutō. O uchidachi tenta atingir o kote (antebraço) direito
do shidachi através de um corte descendente (levanta a espada acima
da cabeça e desce pela linha de centro), com um passo grande e
gritando “iá”. O shidachi evita o golpe com um passo na diagonal (para
a esquerda e para trás, como na figura), abaixando a ponta da bokutō
verticalmente na linha de centro e mantendo-se voltado para o uchidachi. Em um movimento contínuo
(desde quando abaixa a ponta da espada), o shidachi ergue a bokutō acima de sua cabeça e golpeia o
kote direito do seu oponente, enquanto dá um passo à frente e grita “tô”.

Diferentemente do 1º kata, o uchidachi não deve deixar a ponta da bokutō cair após seu golpe.
Ela deve ficar na posição logo abaixo de onde o kote do shidachi estaria, caso este não desviasse. O
shidachi mantém a espada sobre o kote do adversário como parte do zanshin. Quando o uchidachi
sentir-se liberado pelo shidachi, dá um passo para trás. O shidachi dá um passo à direita, retornando à
linha de centro inicial do kata, enquanto passa a sua bokutō por cima da bokutō do uchidachi,
mantendo o zanshin. Os dois terminam na posição exata de início do kata.

No 2º kata, o principal conceito trabalhado é o de tyu shin (nesse caso, a linha ou eixo central do
corpo). O shidachi deve treinar para perceber o ataque vertical do uchidachi e utilizar o tyu shin a seu
favor, mantendo a sua bokutō na própria linha central enquanto desvia lateralmente do golpe do
uchidachi. Diferentemente do 1º kata, neste, o adversário não é morto, mas incapacitado. Diz-se que,
quanto mais técnica, corpo e espírito refinem-se e atuem juntos, menos movimentos são utilizados e
torna-se desnecessário que o kenshi elimine o adversário, podendo, inclusive, vencêlo apenas com o
semê (utilização do ki para pressionar o adversário, demonstrando intenção de avançar/atacar). Essa
vitória através do semê será demonstrada futuramente, no 3º kata.
4º KYU (四級)
No 4º kyu, o kenshi passará a realizar os golpes de kihon com fumikomiashi (projeção do corpo à
frente com a batida do pé direito), priorizando ki-ken-tai no ichi (espírito, espada e corpo em
um/unidos). Será introduzido em exercícios que exigem mais vigor, técnica e velocidade, como
uchikomi-geiko, treino em que o kenshi deve atacar ininterruptamente utilizando golpes de kihon, sem
deixar sua energia “cair”. Também realizará hiki-uchi, golpes desferidos a partir de uma distância muito
próxima do adversário enquanto projeta o corpo para trás. Utilizará waza (técnicas) mais complexas, de
ataque/iniciativa (shikake-waza) e, finalmente, aprenderá os quatro primeiros kata do Bokuto Kihon
Kata.

1 DÔ E TARÊ
Além do keiko-gi e do hakama, o praticante de 4º kyu
utilizará o dô e o tarê. O dô é uma proteção para o tronco feita de
bambu e com detalhes em couro. O tare é feito de um material
especial semelhante a um pano grosso, e serve para proteção
desde a cintura até a coxa.

Primeiramente, deve ser colocado o tarê. Em seiza,


posicione o tare-obi na linha de sua cintura e passe os himo às
suas costas, cruzandoos abaixo do koshi-ita (parte mais rígida do
hakama, em forma de trapézio). Traga-os novamente à frente, sempre
mantendo os himos esticados e o tarê preso firmemente ao corpo. Faça um
nó do tipo tope por baixo do odare (aba maior do tarê) central. É no odare
central que será afixado o zekken, uma identificação do kenshi na qual
constam o seu sobrenome e o nome do seu Dojō/associação/país, às vezes
acompanhado de um símbolo ou bandeira.

O dô deve ser colocado de forma que, quando o kenshi esteja de pé, apenas a parte inferior do
tare-obi continue visível. Ainda em seiza, encaixe o dô no seu tronco,
apoiando-o sobre o tarê, em frente ao tare-obi. Pegue um dos himo
superiores (que são os maiores) e cruze-o por suas costas e por sobre o seu
ombro, amarrando-o no mune-chichikawa (tira de couro na parte superior)
do lado oposto. Faça o mesmo com o himo do outro lado. O nó a ser
realizado é demonstrado na figura à esquerda, sendo que as “orelhas” dos
nós devem estar direcionadas a lados opostos. Amarre os himo inferiores em
um tope atrás de suas costas – não é necessário deixar os himo inferiores
esticados.
2 FUMIKOMI-ASHI
No 4º kyu, começa a prática de golpes com fumikomiashi, ou seja, projetando o corpo à frente
rapidamente com a batida do pé direito no chão. Para que seja realizado com eficácia e segurança,
deve-se atentar para alguns pontos. Primeiro, o mais importante desse passo é que ele é realizado com
a impulsão do pé esquerdo, mantendo-se a postura ereta e o quadril firme. Toda a movimentação
corporal realizada no Kendō exige equilíbrio e postura, o que depende da utilização correta do centro de
gravidade do corpo.

Com a impulsão promovida pela ponta do pé esquerdo, lança-se o corpo à frente, rapidamente
atingindo a distância necessária para o golpe. O kenshi deve projetar o joelho direito à frente (e não
para cima), mantendo o pé direito paralelo e próximo ao chão
(em vez de levantar a ponta do pé). Ao mesmo tempo em que a
shinai atinge o alvo, o kenshi abaixa o pé direito e atinge o chão
com a planta do pé. A tendência, no início, é que o kenshi bata
o calcanhar no chão, mas isso deve ser evitado, pois pode
provocar lesões. No fumikomiashi correto, realizado com o
corpo equilibrado, o pé bate no chão integralmente.

Após a batida do pé direito, o pé esquerdo deve ser


puxado para frente rapidamente, aproveitando-se a impulsão
do corpo para que o kenshi passe rapidamente pelo adversário,
em suriashi. Neste estágio de treino, deve-se levar a shinai
acima da cabeça antes de projetar o corpo para frente, garantindo que a batida da shinai no alvo ocorra
junto com a batida do pé direito. Com a introdução do fumikomiashi no renzoku-waza (técnica de
golpes consecutivos), evidencia-se a importância de puxar rapidamente o pé esquerdo – já que somente
se estará pronto para o segundo golpe quando o pé esquerdo chegar à frente, próximo ao pé direito.

3 KI-KEN-TAI NO ICHI
No 4º kyu, o kenshi deve concentrar-se no significado do conceito de ki-ken-tai no ichi e praticá-
lo. Para que um golpe de Kendō seja considerado belo ou válido (yuuko-datotsu), deve ser executado
com ki (espírito) ken (espada) tai (corpo) no ichi (em um, unidos). Isso quer dizer que o kenshi deve,
através de sua plena concentração, golpear com a técnica e com o movimento de corpo apurados e
corretos enquanto manifesta seu ki com vigor. No golpe de men-uchi, por exemplo, isso significa golpear
o men com a postura correta e com o datotsu-bu, ao mesmo tempo em que se projeta o corpo com
vigor e firmeza para frente através do fumikomiashi e mostra-se o ki através do kiai. Deve-se passar pelo
motodati com zanshin e elevando sempre o kiai até o momento da virada, quando o kenshi reassume o
kamae e o kakegoe interrompe-se subitamente.
4 WAZA
Os waza são as técnicas de ataque e contra-ataque utilizadas no Kendō. Dividem-se em shikake-
waza, podendo ser definidas como ofensivas ou de iniciativa; e oji-waza, de resposta ou contra-ataque.
A seguir, são explicados alguns dos principais shikake-waza utilizados no Kendō, aos quais o kenshi de 4º
kyu será introduzido.

4.1 Shikake-waza

Renzoku-waza: são as técnicas de golpes consecutivos, seja com dois (ni-dan uchi) ou três (san-
dan uchi) golpes (por exemplo, kote-men, men-dô, kote-men-dô). Essas técnicas exigem uma noção
mais aprofundada de maai, já que a distância a se avançar no segundo golpe depende de o quanto já se
avançou no primeiro e da distância e velocidade do recuo do motodati. É importante manter a postura
correta e evitar movimentos desnecessários com a shinai, erguendo-a sempre pela linha de centro.

Debana-waza: trata-se de um conjunto de técnicas em que o


kakarite adianta-se à movimentação do motodati, golpeando-o no
exato momento em que este tenta iniciar seu golpe. As técnicas mais
frequentemente utilizadas nesse conjunto são o debana-kote, em que
se atinge o kote do adversário no momento em que ele levanta os
braços visando ao men-uchi; e o debana-men, no qual o kenshi
adianta-se ao golpe do adversário através de sua própria velocidade,
atingindo o men antecipadamente. Os debana-waza são realizados
com golpes curtos (chisaku) e rápidos (hayaku), já que é necessário adiantar-se ao adversário através da
velocidade para atingi-lo no momento certo. É importante, então, que o kenshi pratique e domine os
golpes hayaku-chisaku para poder realizar esse tipo de waza. Por isso, eles serão mais bem explorados
futuramente.

Pode parecer que esse é um waza puramente de resposta a um movimento do adversário, mas
não. Na verdade, o kenshi que faz o debana-waza deve treinar para pressionar o motodati através do
seme, induzindo-o a iniciar um golpe (o que também ocorre nos waza de contra-ataque [oji-waza]). No
debana-kote (ou degote), por exemplo, o kakarite pressiona o motodati enquanto expõe discretamente
o próprio men, oferecendo-o ao motodati. Isso não significa abrir completamente a própria postura,
mas indicar uma brecha intencional de forma sutil, de forma que o motodati acredite estar enxergando
uma brecha real. Quando este inicia o seu movimento em busca do men, o kakarite estende os braços e
atinge o kote.

Harai-waza: nos harai-waza, o kenshi utiliza um movimento da sua shinai para deslocar a do
motodati para fora da linha de centro ou abrir uma brecha em sua defesa, enquanto dá um passo curto
para frente. Para tirar a shinai do motodati do centro, é importante atingir um ponto da shinai próximo
ao tsuba do adversário. Caso contrário (um golpe na ponta da shinai), a técnica será fraca e ineficaz.
Após esse primeiro passo (curto), deve-se avançar um segundo passo para fazer o golpe. Este segundo
passo deverá ser do tamanho necessário para colocar o kenshi na distância adequada para atingir o alvo
com o datotsu-bu – o que exige uma noção desenvolvida de maai. Caso faça dois passos grandes, o
kenshi irá atingir o motodati com a parte errada da shinai, pois este não irá se mover.
Os harai-waza podem ser realizados através de golpes no omote ou no ura. O omote é o lado
“interno” da shinai do adversário, o que, no chudan-no-kamae, corresponde ao lado esquerdo (do
motodati). O exemplo mais clássico é o harai-men omote. O ura é o outro lado, “de fora”. Para fazer o
harai-waza no ura, o kenshi deve passar a sua shinai por baixo da do adversário e, então, golpeá-la
lateral ou diagonalmente para a direita. Os locais de impacto são demonstrados nas figuras.

motodati harai (omote) kakarite motodati harai (ura) kakarite

Neste estágio, você fará principalmente o golpe de harai-men com a shinai em trajetória
descendente, pelo omote. No primeiro passo, erga a sua shinai acima de sua cabeça e golpeie a parte de
cima da shinai do motodati, atingindo um ponto próximo do tsuba. A shinai do motodati será projetada
para baixo e para a direita (dele), abrindo o seu caminho para o men. Em um segundo passo, erga a
shinai novamente e faça men. Lembre-se de regular os seus passos para acertar o golpe com o datotsu-
bu.

Hiki-waza: são as técnicas realizadas com impulsão do corpo para trás a partir de um maai muito
próximo, em tsubazeriai (“disputa de tsuba”). No tsubazeriai, os kenshi tocam um tsuba no outro, com
os braços à frente do corpo. Movimentos realizados no tsubazeriai para abrir brechas são parte
integrante dos hiki-waza, mas o é necessário que o kenshi utilize o kote para treiná-los. Portanto, o
praticante de 4º kyu apenas iniciará o golpe da distância de tsubazeriai, indo para trás em suriashi,
enquanto o motodati expõe o alvo do exercício. A situação de tsubazeriai é mais bem explicada no
polígrafo de 3º kyu.

Para fazer hiki-waza em suriashi, recue o pé esquerdo a partir do tsubazeriai enquanto levanta a
shinai. A batida de men, kote ou dô ocorre com a puxada do pé direito para trás. Cuide para atingir o
alvo com o datotsu-bu. O hiki-waza deve ser realizado com mais explosão que os demais para que seja
considerado válido, então puxe o pé direito rapidamente para recuar em okuri-ashi com velocidade.
Quando você dominar esse golpe para trás, aprenderá a realizá-lo com fumikomiashi (3º kyu).

5 UCHI-KOMI GEIKO
Trata-se de uma forma de treino diferente das realizadas até então. O foco não é aprender
algum golpe novo ou entender melhor seus aspectos técnicos. No uchikomi geiko, o motodati exporá os
alvos dos golpes de acordo com uma sequência previamente definida ou de improviso. Ao kakarite,
cabe golpear os alvos indicados com o máximo de energia possível, passando em velocidade pelo
motodati e virandose rapidamente para realizar o próximo golpe – sem pausas! Esse exercício deve ser
realizado sem “deixar a energia cair”, promovendo o fôlego, o kiai e a realização de waza de forma mais
desinibida.

Geralmente, o uchi-komi geiko é realizado no final do treino. Aproveite para utilizar o máximo de
sua energia e não parar, a não ser que sinta que pode se machucar ou passar mal. Nesse caso, peça
licença ao motodati para parar. Quando você fizer esse exercício com um sensei ou veterano, ele pode
estender o exercício até que você passe um pouco do seu limite de cansaço. Fazer sempre um golpe
além do seu presumido limite é benéfico, mas lembre-se: a sua saúde vem em primeiro lugar. Os
motodati mais experientes costumam saber reconhecer quando você já deu tudo de si, e lhe indicarão
que realize o seu último golpe ao abrir os braços e expor o próprio men, ou ao comandar um último
kirikaeshi.

6 ORIENTAÇÕES PARA PROMOÇÃO AO 3º KYU


A promoção ao 3º kyu ocorrerá quando o praticante desempenhar o kihon com fumikomiashi
simultâneo à batida da shinai; com kiai, golpe e postura firmes; em kiken-tai no ichi; e mantendo o
zanshin. Ainda deverá mostrar maiores naturalidade e velocidade na realização do kirikaeshi e dos dois
primeiros kata do Nihon Kendō Kata, além de entendimento satisfatório dos quatro primeiros Bokuto
Kihon Kata.
7 BOKUTO KIHON KATA
O Bokuto ni yoru Kendō kihon-waza keiko-ho (uso da bokuto para prática de técnicas
fundamentais do Kendō), ou simplesmente Bokuto Kihon Kata, é um conjunto de katas estabelecido
muito recentemente (no início dos anos 2000). Ele foi desenvolvido para servir como uma conexão ou
ponte entre a prática atual do Kendō e os valores e conceitos tradicionais da espada japonesa contidos
no Nihon Kendō Kata. Serve ao propósito de fortalecer o kihon por meio do uso da bokuto, preparando
o kenshi para a prática dos waza de Kendō e do Nihon Kendō Kata, reforçando a ideia de que a shinai
deve ser utilizada, no Kendō, como uma representação da katana. O Bokuto Kihon Kata é composto por
nove kata, sendo que a cerimônia de início e fim é realizada da mesma forma que a cerimônia do Nihon
Kendō Kata, descrita no polígrafo de 5º kyu. O praticante 4º kyu treinará os quatro primeiros kata,
explicados a seguir.

7.1 1º kata (ipponme) – men, kote, dô, tsuki

No 1º kata, assim como em todos os demais Bokuto Kihon Kata, os kenshi aproximam os três
passos iniciais de ayumi-ashi em chudan-no-kamae. Ou seja, todos os kata iniciam da postura de
chudan, diferentemente do Nihon Kendō Kata. O 1º kata é constituído pelos quatro golpes básicos do
Kendō.

Primeiramente, do issoku ito-no-maai, o motodati expõe o men ao deslocar a ponta de sua


bokuto para a direita. O kakarite entra um passo grande em suriashi enquanto levanta a bokuto, e faz o
golpe de men ao puxar o pé esquerdo. O
1/3 final da bokuto deve ficar sobre a
cabeça do motodati (figura nº4). O
kakarite, então, recua dois passos em
okuri-ashi até o issoku Ito-no-maai,
mantendo o zanshin. Observe as figuras
ao lado. No momento da batida, em
todos os kata, o kenshi deve falar em voz
alta e com energia o nome do golpe de
men, kote, dô ou tsuki (kakegoe).
Do issoku ito-no-maai, o
motodati desloca, então, a ponta da
bokuto para a esquerda e para cima,
expondo seu kote. O kakarite golpeia o
kote e recua dois passos, de forma
análoga ao men.

O dô é realizado
semelhantemente. O motodati ergue os braços mantendo a bokuto na linha de centro para expor o
alvo. Como o dô está mais distante, o kakarite precisará realizar um passo maior para alcançá-lo.
abertura para
abertura para kote
men

Também é possível recuar passos menores após o kote, reduzindo a


distância necessária para o golpe. Após novo recuo do kakarite em dois
passos, o motodati desloca a ponta da bokuto para a direita e para baixo,
expondo-se ao golpe de estocada na garganta (tsuki). O kakarite avança um
passo e estica os braços, buscando o tsuki. Concomitantemente, o
motodati recua um passo em okuri-ashi, evitando o golpe. O kakarite recua
dois passos, sendo que, no segundo passo, o motodati o acompanha com
um passo à frente, de forma que os dois retornem à posição original juntos
(em chudan-no-kamae). Abaixo, figuras demonstrando os golpes de dô e
tsuki.

Tsuki
7.2 2º
kata (nihonme) – kote-men

Entre cada kata, deve-se abaixar a bokuto, recuar 5 passos “e meio” em


ayumiashi e retomar chudan-no-kamae, de forma idêntica ao Nihon Kendō Kata. No 2º
kata, o kakarite realizará o renzoku-waza de kote-men, com um passo em suriashi para
cada golpe. O motodati deve expor os alvos da mesma forma que no 1º kata. Isso
significa que, enquanto o kakarite avança o seu segundo passo e levanta a bokuto para
golpear men, o motodati deve transferir a ponta da bokuto da esquerda (onde estava
para expor o kote direito) para a direita (expondo o men). O kakarite recuará três
Dô retornar à posição original. No segundo passo para trás do kakarite, o
passos para
motodati reposiciona sua bokuto para retomar o issoku Ito-no-maai. No terceiro passo
do kakarite, o motodati avança um passo para retornar à posição original.
7.3 3º
kyu (sanbonme) – harai-men

Neste kata, o kakarite deve realizar a movimentação de braços que ocorre


desde o início do harai-waza até o momento da batida de men em um único passo de
okuri-ashi. Ao levar o pé direito à frente, atinge a bokuto do motodati no omote e, em
um movimento contínuo, levanta a sua própria bokuto acima da cabeça. Ao trazer o pé
esquerdo, termina o golpe de men. Recua dois passos e retoma chudan-no-kamae.

Harai-men
7.4 4º
kata (yonhonme) – men tsubazeriai hiki-do

Este kata inicia com um golpe de men em okuri-ashi por parte do kakarite. O
motodati ergue a sua bokuto e intercepta o golpe com sua lâmina, de forma que as
bokuto ficam cruzadas acima e à frente dos kenshi. Ambos, então, avançam meio
passo abaixando as bokuto para entrarem na situação de tsubazeriai. O kakarite
pressiona as mãos do motodati para baixo e depois as levanta, em um movimento
contínuo, para fazer o golpe de dô enquanto recua um passo em okuri-ashi. O
motodati, nesse momento, apenas levanta a bokuto para expor o dô, sem mexer os
pés. Ambos os kenshi, enfim, recuam um passo e voltam a chudan-no-kamae em
issoku Ito-no-maai.

pressão no tsuba-zeriai
3º KYU (三級)
Ao atingir o 3º kyu, o kenshi já desenvolveu suficientemente seu kihon para vestir o bogu. O
treinamento do praticante deste nível se concentra na ambientação com esse novo equipamento. Em
primeiro lugar, não se assuste. Quando colocamos o bogu pela primeira vez é um tanto assustador,
porque ele abafa os nossos sentidos e atrapalha os movimentos. Mas não desanime. Em alguns meses
se acostumará com o equipamento

No treinamento, o estudante deste nível treinará junto com os demais veteranos, porém deverá
se concentrar mais no kihon e nas técnicas mais simples já conhecidas, evitando as técnicas mais
complexas, facilitando assim a ambientação ao bogu. O kenshi aprenderá a se portar como motodachi
e a como realizar, com bogu, técnicas já treinadas anteriormente, além de outras, como o taiatari, o
hiki-waza com fumikomi, e o treinamento de combate, com suas variantes. Deve aprender, também, a
desmontar e montar sua shinai.

1 TSUBAZERIAI (剣道鍔迫り合い)
Tsubazeriai é a situação de clinch no combate com
espadas. Ocorre quando os kenshis se aproximam além do
chika-maai, encostando seus tsuba, como mostra a figura ao
lado. É uma situação de tensão, onde ambos os kenshi
procuram uma brecha para encaixar um ataque. Essa
situação já foi vivida no Bokuto Kihon Kata e no treino de
hiki-waza em suriashi, mas é com o uso dos kote que o
kenshi a treinará mais intensamente.

Evite encolher os braços os esticálos demais. Os


braços encolhidos dificultam a aplicação de um golpe, e os
braços esticados impõem uma distância perigosa de onde o
adversário pode atacá-lo com mais facilidade.

Lembre-se que o tsubazeriai é uma disputa de


habilidade, não de força. Evite o uso da força excessiva.
Empurrar os braços do adversário para os lados, para cima
ou para baixo é permitido, assim como empurrar o
adversário para trás, mas apenas como recurso para aplicar um golpe válido.

A separação do tsubazeriai é um momento de extrema tensão, pois é uma grande oportunidade


para um ataque. Nunca se afaste do tsubazeriai de maneira displicente. De preferência, afaste-se
golpeando (hiki-waza) com um zanshin consistente para evitar um contra-ataque. Se não se afastar
golpeando, faça-o com muito cuidado e zanshin, usando sua shinai e seu movimento de pernas para
não dar oportunidades de ataque ao adversário.

2 TAIATARI (体当り)
Taiatari é o encontrão, a técnica de atacar com o corpo. É a técnica utilizada na execução do
kirikaeshi, após o sho-men-uchi. Agora que você está usando bogu completo, deverá executar o taiatari
quando fizer o kirikaeshi ou outro treino que envolva o movimento, além de receber o taiatari como
motodachi.

Para executar o taiatari, após o golpe de aproximação, dê mais um passo para frente e abaixe
um pouco os braços, assumindo uma posição semelhante ao do tsubazeriai, e se choque com o aite.
Não pare o seu corpo, pelo contrário, ao se chocar empurre seu quadril para frente e para cima com o
pé esquerdo, tentando arremessar o aite para trás. O taiatari deve ser executado com o corpo, com o
quadril, não com os braços.

O taiatari é um recurso utilizado em alguns renzoku-waza. Pode-se golpear men ou kote, por
exemplo, executar um taiatari empurrando o aite para trás e, então, golpeá-lo novamente. Ou ainda,
pode-se golpear, executar um taiatari, aproveitar o encontrão para projetar seu próprio corpo para trás
e então executar um hiki-waza. Exemplos de técnicas com taiatari: men-taiatari-hiki-do, kote-taiatari-
hiki-men, kotemen-taiatari-zenshin-men (zenshin significa “avançando”).

Quando estiver na posição de motodachi, lembre-se de ajudar o treino do seu colega permitindo
que ele execute um bom taiatari. Para isso, é importante não ceder facilmente. Não recue. Deixe que
ele o empurre para trás. Cuide, também, para não amortecer o impacto com seus braços. Deixe-o
atingir o seu corpo, pois você estará protegido pelos kote e pelo dô.

Em exercícios de taiatari-hiki-waza, o motodachi deve dar meio passo a frente após o golpe de
aproximação do kakarite, e executar também um taiatari com o quadril no colega, permitindo que ele
aproveite o impacto para recuar. Essa técnica é especialmente importante ao ficar de motodachi para
um colega muito mais pesado que você.

3 HIKI-WAZA (引き技)
Os hiki-waza já foram descritos anteriormente. São as técnicas de golpear recuando. Podem ser
executadas a partir do tsubazeriai, ou então depois de um taiatari, e também em algumas outras
situações. Porém, o praticante de 3º kyu precisa aprender a executar os hiki-waza utilizando o
fumikomi-ashi. Para isso, o kenshi deve jogar o peso do corpo para a perna de trás (esquerda). Empurre
o corpo para trás com o pé esquerdo ao mesmo tempo em que eleva o pé direito e, então, bata o pé
direito no chão ao mesmo tempo joga seu pé esquerdo para trás. Aproveite o impacto para iniciar um
rápido deslocamento para trás.
Essa técnica é muito mais fácil de ser explicada demonstrando do que textualmente. Assim, será
abordada com mais detalhes nos treinos.

4 KEIKO (稽古)
Keiko significa prática, treino, estudo. No Kendō, essa palavra é normalmente utilizada para
referir-se mais especificamente aos treinos de combate. Existem vários tipos diferentes de Keiko.
Adiante, descrevemos as variantes mais comuns.

4.1 Uchi-komi Geiko (打ち込み稽古)

É o treino de golpear, no qual o motodachi vai abrindo e mostrando ao kakarite onde deve
golpear. Também pode ser feito com uma sequencia fixa. Deve ser realizado com energia, sem pausa
para respirar entre os ataques. Para isso o motodachi deve estar atento para manter o maai correto e
receber os golpes corretamente.

4.2 Kakari Geiko (かかり稽古)

Esse é um dos exercícios mais exaustivos do Kendō. Parecido com o acima, mas mais intenso. O
kakarite deve golpear sem parar com toda a energia. O motodachi pode mostrar ou não alvos para os
golpes, mas o kakarite não deve esperar o motodachi abrir, criando as brechas para seus ataques, caso
necessário.
Um motodachi experiente pode ainda “rejeitar” golpes que considere ruins, desviando-os da sua
trajetória e fazendo com que sejam repetidos, deixando o exercício ainda mais cansativo. Alguns sensei
costumam fazer isso mesmo para golpes bons, incentivando que o aluno de esforce ainda mais na
execução do movimento.

4.3 Gokaku Geiko (互角稽古)

É a luta de fato, na qual ambos os praticantes competem buscando encaixar seus golpes. É um
treino em que não são contados pontos nem definidos vencedores ou perdedores. Dessa forma, o
kenshi deve encarar esse exercício como uma oportunidade de testar suas técnicas, procurando evitar
movimentos defensivos.

4.4 Mawari Geiko (回り稽古)

É um keiko no qual vão se trocando os adversários através da rotação, tal como no treino dois a
dois. Normalmente realiza-se o gokaku-geiko nesse treinamento, mas outros tipos de keiko também
podem ser utilizados.

4.5 Jyuu Geiko (自由稽古)

Treino livre. Sem marcação de tempo ou rotação. As duplas são formadas livremente, realizando-
se normalmente o gokaku geiko ou qualquer exercício definido pelo praticante mais experiente da
dupla ou em comum acordo. Aproveite essa oportunidade para lutar contra os oponentes mais fortes
disponíveis.

4.6 Shiai Geiko (試合稽古)

É a disputa por pontos, que ocorre nos campeonatos ou em treinos específicos no Dojō. Será
detalhada no polígrafo de 2º kyu.

4.7 Lutando com um sensei

Fazer keiko com um sensei experiente é uma grande oportunidade de aprendizado que deve ser
aproveitada sempre que possível. Quando tiver essa oportunidade, principalmente quando o sensei for
de alta graduação e/ou de idade mais avançada, tome cuidado para não ofendê-lo. Nunca treine com
um sensei tentando “ganhar a luta”. O sensei está lhe dando a oportunidade de aprender com ele, não
está medindo forças com você. Isso não quer dizer que você deva pegar leve. Ataque com toda a
energia, mas evite truques, fintas, defesas, e tome sempre a iniciativa de atacar. Quando ele lhe atacar,
ataque junto. Golpeie com sinceridade, e mantenha-se nas técnicas que você já domina.

Um sensei que não o conhece normalmente começará o keiko recebendo um kirikaeshi, depois
fará um gokaku-geiko e finalizará com um kakari-geiko. Mas isso não é uma regra, então esteja atento
às suas orientações. É possível que o sensei o leve aos seus limites físicos. Tente suportar sempre dando
o máximo de si.

Findado o treino, agradeça ao sensei fazendo um za-rei na sua frente. Normalmente os sensei lhe
concederão algumas orientações quando fizer isso.

5 DESMONTANDO, MANTENDO E REMONTANDO A SHINAI


Desmontar, fazer a manutenção e montar a shinai é algo que será feito ao longo de toda a sua
vida no Kendō. São procedimentos essencialmente manuais, de forma que você os entenderá apenas
quando conseguir realizá-los na prática. Tire qualquer dúvida com um veterano.
Para desmontar a shinai, comece desfazendo o nó do nakayui. Então, passe ao nó que prende o
tsuru (fio que atravessa a shinai longitudinalmente) ao tsukagawa (couro que envolve o tsuka). Retire o
sakigawa, cuidando para não perder a parte plástica que fica dentro dele (saki-gomu), que serve para
separar as pontas das quatro varetas (take) da shinai. Finalmente, remova o tsukagawa. As varetas
ainda estarão unidas por uma pequena peça quadrada de metal (chigiri), que normalmente só se
encaixa se as varetas estão na mesma ordem. Essa peça é importante, mas não é essencial, de forma
que você pode retirá-la se for necessário colocar varetas diferentes no local das originais, por
quebra/rachadura da vareta usada.

A manutenção da shinai, de forma geral, envolve passar uma lixa fina para eliminar farpas e
arredondar levemente os pontos em que as varetas se encaixam. Além disso, passar óleo na sua shinai
(alguns kenshi recomendam óleo de canola) pode aumentar sua vida útil. Não faça isso de forma
exagerada (muito óleo de uma vez ou muitas vezes), ou sua shinai ficará pesada. De fato, muitos
recomendam que o óleo seja passado apenas uma ou duas vezes. Não é necessário retirar o tsukagawa
para fazer a manutenção da shinai, a não ser que seja necessário trocar alguma vareta
rachada/quebrada. Não passe óleo no tsuka, pois a parte interna do tsukagawa ficará escorregadia.
Recomenda-se que você troque a vareta que fica do lado oposto do tsuru periodicamente, pois ela
recebe a maior parte dos impactos. Isso pode ser feito apenas montando a shinai com a parte do
tsukagawa que serve para amarrar sobre outra vareta.

Para montar a shinai, recoloque o tsukagawa, o saki-gomu e o sakigawa. Passe o tsuru por
dentro da alça de couro do tsukagawa que serve para amarrar. Passe a ponta do tsuru pela pequena
peça de couro ou nó que o tsuru deve apresentar perto do tsuka. Então, passe o tsuru por baixo da tira
de couro do tsukagawa que fica abaixo da alça pela qual você já passou o tsuru. Neste momento, puxe
o tsuru para esticá-lo bem. Comece a fazer o nó demonstrado na figura a seguir, sempre mantendo o
tsuru bem esticado. Depois que terminar com o tsuru, procurando não deixar a ponta muito saliente,
amarre o nakayui de forma que ele marque o início do datotsu-bu –

Amarrando o tsuru no tsukagawa


geralmente, um palmo desde a ponta da shinai. Dê três voltas na shinai, e faça o nó conforme a figura.
Se a tira de couro sobrar e ficar muito saliente após a realização do nó (ela tende a se esticar com o
tempo), você pode cortá-la, mas tome cuidado para não exagerar e impossibilitar futuros nós.

Amarrando o nakayui

6 ORIENTAÇÕES PARA PROMIÇÃO PARA 2º KYU


Para atingir o 2º Kyu, é recomendado que o praticante tenha passado quatro meses no 3º Kyu,
podendo este período variar conforme a frequência de treino e dedicação de cada estudante. O
praticante precisa ter se adaptado ao bogu, conseguindo executar os movimentos com confiança,
naturalidade postura, empenho e vitalidade. Deve conhecer primeiros seis kihon kata e os dois primeiros
Kendō kata.
7 BOKUTO KIHON KATA
7.1 5º Kata (Gohonme) – Men-nuki-Do

Motodachi golpeia men frontal avançando o pé direito um passo a frente. Assim que motodachi
começa a erguer os braços, kakarite ergue seus braços e avança com o pé direito para a diagonal
frontal direita, golpeando do direito do motodachi, tomando-se o devido cuidado com o hassuji.
Após um instante, ambos recuam um passo na direção
do aite, kakaritedemonstra
zanshin
. Logo após, ambos
voltam um passo para a esquerda , retornando à
posição inicial.

É preciso golpear quase


indo de encontro aomotodachi,
sem abrir demasiadamente para o
lado direito.
7.2 6º Kata (Ropponme) – Kote-suriage-men

Ambos avançam 3 passos para frente a partir do pé direito em ayumi-ashi, até o issoku itto-no-
maai.

Motodachi avança um passo para frente golpeando migi kote. Kakarite recua um passo para trás
começando o movimento com o pé esquerdo, realizando o movimento de suriage, utilizando o ura-
shinogi (lado direito da espada). Na sequência, golpeia men frontal avançando um passo a partir do
movimento do pé direito.
O bokuto do motodachi, após sofrer o suriage, deve estar um pouco voltado para o seu lado
esquerdo. Após o golpe, kakarite demonstra zanshin e ambos retornam à posição inicial.Suriage é
realizado alongando- se os braços, e não encolhendo. Além disso é preciso evitar tirar o kensen da linha
central ao realizar o suriage. O movimento do pulso também é muito importante na execução desta
técnica.
2º KYU (二級)

1 TREINAMENTO E ORIENTAÇÕES PARA APTIDÃO AO 1º KYU


Esta é a ultima graduação obtida internamente, no Nanbukan dojō. O estudante desse nível já se
acostumou ao bogu e treinará normalmente com os demais veteranos executando todos os exercícios.
No treinamento, o estudante deste nível começará a aprender técnicas de golpes pequenos, oji-waza e
como marcar um ippon. Apesar de estar entrando em contato com esses novos conceitos, um pouco
mais avançados, o estudante desse nível deve lembrar-se de manter o seu kihon em desenvolvimento.

Do 1º kyu em diante os graus não são mais conferidos pelo Dojō, mas sim obtidos através de
exame de graduação e conferidos pela Confederação Brasileira de Kendō. Para estar apto a realizar o
exame de 1º Kyu, é recomendado que o praticante tenha passado cinco meses no 2º Kyu, podendo este
período variar conforme a freqüência de treino e dedicação de cada estudante. O praticante precisa ser
capaz de marcar um ippon. Deve ter desenvolvido um kirikaeshi firme e fluido, e conseguir executá-lo
em uma só respiração. Deve ainda conhecer os nove kihon kata e os dois primeiros Kendō kata.

2 KIRIKAESHI
A partir desse nível, o kenshi deve desenvolver um kirikaeshi firme, fluido e executado em uma
só respiração. O golpe deve ser firme e o movimento dos pés sincronizado e fluido.

Golpeie o shomen e execute o taiatari com um kiai forte. Inspire logo após o taiatari, enquanto
levanta os braços para o primeiro yoko-men. A partir daí, controle o ar que expira, pois deverá executar
todo o restante do exercício sem inspirar de novo. Execute os 9 sayu-men e o último sho-men com um
só kiai, sem cessar o kakegoe entre um golpe e outro. O último yoko-men deve ser executado com
maior firmeza, tanto no golpe quanto no kiai, e não se deve cortar a energia entre este último yokomen
e o sho-men, cuidando também para não se afastar muito do motodachi.

Se não conseguir executar o kirikaeshi em uma respiração, inspire o mais rápido possível entre
dois yoko-men.Não deixe seu kiai cair. Mantenha-o constante e aumente-o nos últimos dois golpes
(hidari-men e sho-men).

3 GOLPES PEQUENOS
Nem todos os golpes precisam ser grandes no Kendō. Muitas técnicas precisam ser executadas
num intervalo de tempo muito curto para surtirem efeito, e aí entram os golpes pequenos. É
importante aprender os golpes grandes antes dos pequenos porque, além dos golpes grandes fazerem
parte do kihon, é necessário bastante explosão muscular e te-no-uchi para executar os golpes pequenos
corretamente, o que demora algum tempo de treino para ser adquirido.
Treinar golpes pequenos
também não significa que você vai
abandonar o treino de golpes grandes. O golpe
grande é a técnica mais fundamental do Kendō, e
deverá ser parte do treinamento ao longo de
todo o Caminho, devendo ser
prioridade do estudante em nível de kyu.
3.1 Men pequeno

As figuras ao lado demonstram como o men pequeno deve ser executado. Procure não dobrar o
cotovelo direito em nenhum momento do movimento. O braço direito serve como apoio da alavanca.
No primeiro momento empurre o tsuka para frente com a mão esquerda, fazendo subir o kensen. Ao
mesmo tempo, levante um pouco o temoto e estique os braços. Puxe, então, o tsuka para trás com a
mão esquerda ao mesmo tempo em que executa o te-no-uchi.

Quando bater men


pequeno, comece
o movimento sempre
pelas pernas, pelo quadril. A
perna direita avança
antes da ponta da shinai
subir.

Pode ser difícil fazer um movimento tão pequeno no início, sem perder a força do impacto do
golpe. Você pode começar com um movimento um pouco maior e ir diminuindo à medida que pega
confiança na força dos seus pulsos.

3.2 Kote pequeno

A técnica não difere muito da do


men pequeno. As diferenças são que,
como, normalmente, se está mais longe
do oponente quando se acerta o kote, o
risco de se levar um contra-ataque
aumenta, então a puxada rápida do pé
esquerdo depois do fumikomi e o
encurtamento da distância na execução do zanshin após o golpe se tornam ainda mais importantes.
Além disso, o zanshin após o golpe é normalmente feito com um taiatari, em vez de passando pelo
adversário. Nesse taiatari, procure não empurrar o adversário para não criar uma oportunidade de
ataque para ele, mas sim, apenas mantenha a curta distância do tsubazeriai, mais segura. Quando em
posição de motodachi, procure segurar o taiatari do colega, sem ceder.

3.3 Dô pequeno

A técnica é semelhante às de men


e kote, porém, o movimento é um pouco mais
amplo, como mostra a figura abaixo, além de
permitir uma ligeira flexão do cotovelo
direito. No entanto, em algumas vezes, como
em movimentos de contra-ataque, não há espaço
para você golpear tão para frente (como no momento
2 da figura acima), pois o adversário já terá se
aproximado demais. Assim, é importante conseguir,
também, golpear com um movimento fazendo um
arco menor com a shinai, como mostra a imagem ao
lado.
É facultado ao kenshi recolher a mão esquerda para perto da direita no tsuka ao golpear do. É
uma técnica especialmente útil ao golpear do de uma distância muito curta.

3.4 Renzoku waza pequeno

Nas sequências de golpes pequenos, normalmente, procura-se diminuir ao máximo o intervalo


de tempo entre os golpes. Como acertar o último golpe com um fumikomi correto é fundamental,
costuma-se puxar o pé esquerdo antes de completar o movimento de fumikomi dos golpes anteriores,
de forma que o pé esquerdo chegue próximo ao direito quase no mesmo instante em que o direito
bate no chão. Isso permite que, nesse mesmo momento, se inicie o segundo golpe.

Também é possível pegar um impulso para o golpe subsequente. Ao golpear kote-men, por
exemplo, se o te-no-uchi é utilizado corretamente ao golpear kote, não será necessário usar muita força
para a shinai subir para o golpe de men. Ela subirá sozinha, como se quicasse no kote do adversário.

4 OJI WAZA (応じ技)

No Kendō, existem ataques e contra-ataques. As técnicas de contra-ataque são os oji waza.

Não existe defesa no Kendō, de forma que todo o movimento defensivo, idealmente, deve ser
sucedido por um golpe de contra-ataque. É instintivo que tentemos nos proteger dos golpes do
adversário, mas lembre-se que o objetivo do Kendō é o aprimoramento, não a simples simulação de um
combate de espadas. Então, em vez de apenas se defender, tente contra-atacar, ou, melhor ainda, tente
atacar junto (aiuchi) ou antes (debana). Mesmo que não consiga, a tentativa o colocará em busca do
aprimoramento.

O praticante de 2º kyu começará a participar integralmente dos treinos com bogu, e,


consequentemente, dos treinos que envolvem oji waza. No entanto, é importante que se saiba que
esse tipo de waza é um tanto avançado. Até adquirir um dan, dê total preferência as técnicas de
shikake waza nos keikos. Responder aos ataques dos adversários com aiuchi e debana é muito mais
proveitoso para o treinamento do kenshi deste nível.

Dito isso, vamos a introdução das técnicas de oji waza. Para começar, a nomeclatura dessas
técnicas segue o seguinte padrão:

[ataque do adversário] - [movimento de “defesa”] - [golpe de contra-ataque]

Então, kote-suriage-men, por exemplo, é uma técnica de resposta a um golpe de kote,


defendido por um movimento de suriage, seguido por um contra-ataque ao men do oponente. Abaixo,
categorizamos as técnicas pelo seu movimento defensivo e damos alguns exemplos de combinação
mais comuns. A possibilidade de combinações é grande demais para ser exposta em sua totalidade.

4.1 Nuki Waza (抜き技)

Técnicas de esquiva e contra-ataque. Os Ipponme e Nihonme do Nihon Kendō Kata, assim como
o 5º bokuto kihon kata, são exemplos dessas técnicas. As mais comuns no keiko com shinai são:

- Kote-nuki-men: esquiva-se do kote do adversário com um ligeiro salto para trás e


levantando-se os braços, já preparando para o contra-ataque ao men, ou ainda esquiva-se
recolhendo os braços para perto do corpo, contra-atacando com
um golpe curto ao men.
- Men-nuki-do: Como no 5º bokuto kihon kata. Também ilustrado ao lado.

- Men-nuki-men: como no 1º Nihon Kendō Kata. Comum também esquivar saltando para o
lado esquerdo do oponte, evitando o seu men, ao mesmo tempo que golpeia o men do
oponente.
- Men-nuki-do

4.2 Suriage Waza (摺り上げ技)

Técnicas de deflexão, com as quais se desvia o ataque do oponente com a sua shinai ao mesmo
tempo em que a ergue para executar o seu próprio ataque. O 6º Bokuto Kihon Kata é um exemplo do
uso dessa técnica. O movimento de defesa pode ser executado com o lado esquerdo da sua shinai
(omotê) ou com o lado direito (ura). Evite afastar muito o seu kensen da linha central ao executar o
suriage. Os suriage waza mais comuns são:

- Men-suriage-men: executado tanto pelo omote quanto pelo ura, contraatacando-se


normalmente com um golpe curto. Devido à proximidade do adversário depois da defesa, pode
ser necessário golpear com um hiki-waza.

- Kote-suriage-men: executado normalmente pelo ura. É a técnica do 6º Bokuto Kihon


Kata.

4.3 Oji Kaeshi Waza (応じ返し技)

Ou, simplesmente, Kaeshi waza. Normalmente se referem a técnicas onde se defende de um


lado para logo depois girar a shinai e golpear de outro. Os Kaeshi waza mais comuns são:

- Men-kaeshi-do: Como no 8º Bokuto Kihon Kata, descrito no fim deste polígrafo.

- Kote-kaeshi-men: Executado pelo omote. Veja a figura abaixo.

4.4 Kiriotoshi Waza (ou Uchiotochi) 切り落とし技 (打ち落とし)

Desvia-se o golpe do adversário golpeando na shinai dele de cima para baixo. Os Kiriotoshi mais
usados são:

- Kote-kiriotoshi-men: Golpeia por cima da shinai do oponente no momento em que ele


acertaria o kote, empurrando-a para baixo para, logo depois, golpear men.

- Do-kiriotoshi-men: Como no 9º Bokuto Kihon Kata, descrito no fim deste polígrafo. Em


combate com bogu e shinai, é mais comum ser utilizado contra um hikido (a partir do tsubazeriai, hiki
do-kiriotoshi-men).
- Men-kiriotoshi-men: Golpeia-se por cima do golpe de men do adversário, desviando sua
shinai e golpeando o seu men com o mesmo movimento.
5 SEMÊ (攻め)
Semê vem do verbo semeru (攻める), que quer dizer “atacar”. No Kendō se refere à pressão
mental exercida no adversário através da manifestação da intenção de atacá-lo. O semê é uma
ferramenta essencial no Kendō, e antecede qualquer waza bem aplicado.
O objetivo do semê é forçar uma ação do oponente. Quando o aitê é forçado a tomar uma
atitude sob pressão, tende a cometer erros. Ele pode, por exemplo, se defender, e quando fizer isso
abrirá brechas para o seu ataque. Se o advesário defende o men, por exemplo, o kote e o dô ficam
espostos.
Você pode, também, forçar o adversário a atacá-lo, pressionando-o e deixando como única
alternativa que ele o ataque onde você quer, para então aplicar um ojiwaza. Note que isso torna até
mesmo o oji-waza uma ação ofensiva, já que um bom contra-ataque começa com um semê, reforçando
a idéia de que, no Kendō, não existe defesa, sendo todos os movimentos ofensivos.
Existem várias formas de se executar o semê. A forma mais simples é encurtar a distância para o
seu issokuitto no maai mantendo uma postura firme e até mesmo emitindo um kiai, algo que o kenshi
já faz desde o início do treinamento. O kenshi aprenderá com o tempo diversas formas de fazer semê.
Tente se manter sensível ao semê dos senpai que, aos poucos, compreenderá o conceito e consiguirá
utilizá-lo ao seu favor.
Apenas para exemplificar, algumas formas comuns de semê são:
- Pressionar a shinai do oponente lateralmente para fora do centro enquanto encurta a
distância (chuushin-o-semete);
- Ameaçar a região do men do oponente (men-o-semete); - Ameaçar a região do kote do
oponente (kote-o-semete);
- Dar um rápido passo para frente ao mesmo tempo que eleva sua shinai acima ou próximo
do seu ombro esquerdo (katsugi-waza).

6 TAMÊ (溜め)

Tamê vem do verbo tameru (溜める), que significa “acumular”, “reservar”. Nas artes marciais
significa acumular energia antes de golpear. No Kyudo, por exemplo, o tame ocorre logo depois de o
arqueiro retesar bem a corda do arco, quando ele espera um instante antes de lançar a flecha. No
Kendō, é algo que ocorre entre o semê e a aplicação do waza. Quando você aplica o semê, você não
sabe como o oponente vai reagir. Então, você precisa aguardar a reação do adversário e agir de acordo
com essa reação. Por exemplo, se você faz um semê contra o men do oponente planejando atacar seu
kote quando ele elevar os braços para defender o men, o ataque ao kote não fará sentido se ele reagir
de outra forma. O ideal é que a escolha do golpe aconteça depois do semê, no breve instante em que
você avalia a reação do adversário.
SEMÊ >> TAMÊ >> WAZA >> ZANSHIN
O tamê integra, portanto, dois elementos principais: a percepção da reação do adversário e a
tomada de decisão a respeito de que waza utilizar, de acordo com a reação do oponente. O domínio do
tamê é algo muito difícil pois, na fração de segundo em que ele ocorre, não há tempo para pensar, e só
se consegue optar por aquelas técnicas que foram interiorizadas pelo treinamento constante a ponto
de executá-las instintivamente.
7 IPPON (一本)
Ippon é o golpe válido em uma competição de Kendō. Independente de se estar participando de
uma competição ou não, é importante saber marcar um ippon e ter o conceito em mente durante cada
treino. Isso porque o objetivo do Kendō é buscar o golpe perfeito. Para um golpe ser considerado um
ippon, deve ser um golpe que buscou a perfeição.
O mais importante para um golpe perfeito é o ki-ken-tai-ichi, conceito já abordado
anteriormente. Além do ki-ken-tai, para o golpe ser considerado ippon, deve possuir também kimê.
Outra coisa relevante para se marcar um ippon é indentificar o chansu (do inglês chance,
“oportunidade”), isto é, os momentos oportunos para se golpear. Esses dois novos conceitos são
detalhados a seguir.

7.1 Kimê (決め ou 極め)


O significado da palavra é “decisão”, “conclusão”. Se refere a determinação do kenshi em
pontuar um golpe e, também, à empunhadura do shinai no momento do corte. O termo engloba
conceitos como sae, zanshin, kiai, sutemi e confiança.
Zanshin e kiai já foram abordados anteriormente. Sae é literalmente “destreza”, “perícia”.
Quando um golpe é executado com definição, com firmeza, com força no te-no-uchi, é um golpe com
sae, ou com kimê.
Sutemi(捨身) é normalmente traduzido como “sacrifício”. Para o Kendō, esse termo é utilizado
para descrever o sentimento no momento do ataque, que deve ser de total entrega ao golpe, sem
exitação, sem medo da reação do adversário.
Principalmente, o kenshi deve mostrar confiança ao golpear. Deve demonstrar que executou
exatamente a técnica que pretendia, sem acidentes. Golpes acidentais não valem nada no Kendō. Essa
confiança é demonstrada justamente através do sutemi, kiai e zanshin. O kenshi deve procurar dar um
contraste entre seus golpes falhos e seus golpes certeiros através do kiai e do zanshin. Quando acertar
um golpe, mostre que aquele foi diferente dos outros, emitindo um kiai mais forte e mais longo, e
executando o zanshin com perfeição e postura.

7.2 Momentos oportunos para golpear


Golpear em um momento adequado é importante para não se desperdiçar movimentos e ajuda a
demonstrar perícia e confiança ao executar uma técnica. Um waza bem encaixado, no momento
oportuno e com um timing perfeito, praticamente garantem um ippon. Os momentos mais adequados
para se aplicar um golpe são:
- no início da movimentação do adversário (debana-waza).
- no término da movimentação do adversário, golpeando logo após o seu
movimento terminar e seu kiai baixar, sem dar lhe fôlego para descansar após a ação executada.
- no momento em que o adversário se defende de um golpe. Ou seja, quando o
adversário estiver preocupado em se defender, golpear imediatamente outro local que ficar
desprotegido.
- ao defender-se de um golpe do adversário (oji-waza).
- quando o adversário fica imóvel.
- quando o adversário expõe uma brecha por distração, ou baixando sua guarda.
- na separação do tsubaseriai.
- quando o adversário está espiritualmente concentrado somente no ataque.

8 SHIAI GEIKO (試合稽古)


Shiai geiko é a luta por pontos, com arbitragem e regras específicas. É a luta que ocorre nos
campeonatos ou em treinos específicos no Dojō. O foco do momento muda. Enquanto, no jyu-geiko ou
no mawari-geiko, o foco deve ser o aprimoramento e o teste de técnicas, no shiai, o objetivo é vencer.
Isso acaba por mudar naturalmente a postura do kenshi. O praticante deve ter cuidado, porém, para
que o medo de perder não desenvolva um modo de lutar excessivamente competitivo, defensivo e de
postura incorreta, deformando o seu Kendō.
De um ponto de vista mais macro, o objetivo do shiai, também, é o aprimoramento do kenshi. O
shiai é o mais perto que um kenshi pode chegar, hoje em dia, de um shinken-shobu (luta real com
espadas reais). O medo de perder, a oportunidade de enfrentar praticantes desconhecidos, a
oportunidade de ter suas habilidades testadas, permite que o kenshi entre em contato com alguns
sentimentos que o treino normal não proporciona. Permite ao kenshi enfrentar seus medos.
8.1 Taikai (大会)
O taikai é o campeonato. Um campeonato de Kendō é uma das melhores experiências que um
praticante de pode ter. É a oportunidade de rever amigos, fazer novas amizades, colocar-se à prova, ter
sua habilidade testada por árbitros experientes, lutar contra kenshis desconhecidos, torcer pelos seus
colegas e aprender muito. Também é a oportunidade de treinar com grandes senseis de outros Dojō,
em uma atividade conhecida como godo-geiko (ou good will keiko) um treino livre onde os sensei se
colocam a disposição de quem deseje praticar com eles.
Participar de um taikai com seus colegas de Dojō é uma experiência única que intensifica o
sentimento de grupo. Em especial, na categoria equipes, quando todos lutam juntos pelo seu Dojō, e
não apenas pela sua vitória individual.
Ao participar de um campeonato, lembre-se dos princípios do Kendō de respeito, cortesia e
humildade. Os adversários não são inimigos. Depois de uma luta, é costume no Brasil os praticantes se
cumprimentarem fora da quadra, agradecerem a luta e as vezes até conversar sobre a disputa e trocar
elogios e críticas sinceras. É também uma oportunidade de fazer amigos. Sempre respeite a decisão dos
árbitros, mesmo quando acreditar que estão equivocadas. Em hipótese alguma comemore pontos ou
vitórias dentro de quadra e procure não fazê-lo fora de quadra também.
Quando for derrotado, independentemente dos pontos marcados, você sempre terá
responsabilidade pela derrota. Isso não é exatamente ruim, porque é uma oportunidade de analisar seu
próprio Kendō e descobrir o que é preciso consertar. Se um árbitro, sensei ou senpai procurá-lo para
dar orientações, escute atentamente e procure extrair todo o conhecimento possível dessa
oportunidade.
No mais, divirta-se. Um taikai é, na realidade, uma grande festa. Você descobrirá que o Kendō
brasileiro é uma grande família, e um taikai é como um encontro de parentes distantes, onde sempre
somos muito bem recebidos.
8.2 Regras
As regras dos campeonatos quase sempre seguem as definidas pela All Japan Kendō Federation
e pela Federação Internacional de Kendō (FIK). Não entraremos em muitos detalhes aqui. Apenas
citaremos o que é imprescindível que o kenshi saiba para participar de um campeonato.
Os embates normalmente são em modo sanbon-shobu (melhor de três). Aquele que fizer dois
ippon, vence. Se o tempo de luta terminar, e um dos kenshi tiver marcado um ponto, ele vence. O
tempo de luta varia entre campeonatos e categorias, normalmente ficando entre 2 e 5 minutos.
Cada atleta leva um lenço amarrado as suas costas, um com a cor branca, outro com a cor
vermelha. Os três árbitros (shinpan) levam bandeiras das mesmas cores nas suas mãos, e sinalizam os
ippon levantando essas bandeiras diagonalmente para cima. Pelo menos dois dos três árbitros precisam
conferir o ponto para ele ser considerado válido.
Se a luta terminar empatada, o que acontece varia dependendo do campeonato e da categoria.
Em geral as possibilidades são as seguintes:
1 – A luta é decidida por hantei (decisão dos árbitros), com cada árbitro levantando
a bandeira correspondente ao kenshi que ele julga ter lutado melhor.
2 – É estipulado um tempo de encho (prorrogação). Dentro desse tempo, se algum
dos atletas pontuar, vence. Findada a prorrogação, a luta é decidida por hantei.
3 – A luta é prorrogada sem limite de tempo, até que um dos atletas pontue.
4 – É declarado hikiwakê (empate).

As faltas são denominadas hansoku. Os árbitros às indicam levantando a bandeira do atleta


faltoso diagonalmente para baixo. Duas faltas conferem um ponto ao adversário. Os motivos mais
comuns para receber um hansoku são:
- Deixar sua shinai cair no chão;
- Sair da área de luta (pelo menos um pé inteiro);
- Tsubazeriai incorreto/desleal/com uso excessivo de força;
- Tocar a área correspondente à lâmina da sua shinai sem pedir permissão;
- Pedir para parar a luta sem justificativa;
- Propositalmente empurrar o adversário para fora da área de luta, sem intenção de
golpear.
- Atitudes antidesportivas, como golpear em áreas desprotegidas de propósito, rasteiras,
etc.

Fique atento aos comandos do árbitro central. Abaixo listamos os mais comuns:
- HAJIMÊ: Usado para iniciar e re-iniciar o combate.
- YAMÊ: Usado para parar a luta. O árbitro levanta ambas as bandeiras verticalmente para
cima. Pare imediatamente e retorne a posição de início e aguarde o próximo comando em chuudan no
kamae.
- HANSOKU IKKAI/NIKAI: quando ocorre uma falta o árbitro para a luta comandando
yamê. Depois, com os atletas na posição inicial, ele declara o hansoku e sinaliza para o atleta faltoso. Se
for você, faça uma breve reverência com a cabeça sinalizando que entendeu.
- MEN/KOTE/DO/TSUKI ARI: Usado quando um ponto é validado. Pare a luta e retorne a
posição inicial.
- NIHONME: Usado para anunciar o “segundo round”, depois de alguém marcar um ponto.
A luta recomeça.
- SHOBU: Usado para anunciar o “terceiro round”, quando a luta fica 1x1. A luta recomeça.
- WAKARE: Usado para separar atletas que estão há muito tempo em tsubazeriai passivo.
O árbitro aponta as duas bandeiras para frente. Separe-se do adversário até o to-maai e aguarde o
HAJIMÊ.
- GÔGI: Usado para pedir uma reunião entre os árbitros, quando a luta está parada. O
árbitro levanta ambas as bandeiras na mesma mão. Guarde a shinai e afaste-se, aguardando agachado
os árbitros se reposicionarem. Ao retornar ao centro em chudan, fique atento para o que o árbitro
anunciará.
- SHOBU ARI: Ao final da luta, usado para indicar o vencedor. O árbitro principal levanta a
bandeira correspondente ao atleta vencedor.
- HIKIWAKÊ: Ao final da luta, usado para declaram empate. O árbitro principal cruza as
bandeiras acima da cabeça.
Se acontecer algum problema e precisar parar a luta,
levante um dos braços. Tome cuidado e não perca o zanshin até
que o árbitro pare a luta para não entregar um ponto de graça.
9 BOKUTO KIHON KATA
9.1 7º Kata (Nanahonme) – Debana-kote
Ambos avançam 3 passos para frente a partir do pé direito
em ayumi-ashi, até o issokuitto no maai.
Motodachi, no intuito de golpear, tenta avançar um passo
a frente começando a erguer o braço. Kakarite,
aproveitando este movimento, avança um passo a frente e
golpeia kote com movimento pequeno e rápido.
Kakarite demonstra zanshin recuando um passo para trás
e depois recuando mais um passo para voltar a posição inicial.
Motodachi recua junto com o segundo passo do kakarite.
Este kata é para aprender a se antecipar ao golpe do
oponente (Sen). Como é um debana-waza, é preciso estar
preparado para o ataque antes de o motodachi iniciar o
movimento. O momento oportuno de golpear não deve ser antes
e nem depois do movimento inicial do motodachi. Costuma-se
dizer que se deve atacar instantaneamente entre o “Vo” e o “u”
quando o motodachi pensa “Vou!”. O golpe não pode ser
exagerado, devendo ser pequeno, rápido e firme. Para isso, não
use força demais no punho direito, mas sim no koshi.

9.2 8º Kata (Happonme) – Men-kaeshi-do


Ambos avançam 3 passos para frente a partir do pé direito
em ayumi-ashi, até o issokuitto no maai.
Motodachi avança um passo para frente golpeando men frontal. Kakarite apara o golpe com o
omote-shinogi do seu bokuto, avançando o seu pé direito para frente e ligeiramente para o seu lado
direito. Então, puxando-se o pé esquerdo, viram-se os punhos e golpeia-se o do direito do motodachi,
colocando o braço para frente e virando um pouco o corpo para o lado direito. O metsuke deve estar
direcionado para o oponente, assim como o hasuji.
Após um instante de zanshin, ambos recuam um passo na direção do aite, kakarite demonstra
zanshin, e logo após ambos voltam um passo para esquerda retornando a posição inicial.
9.3 9º Kata (Kyuhonme) – Do-kiriotsoshi-men
Ambos avançam 3 passos para frente a partir do pé direito em ayumi-ashi, até o issokuitto no
maai. Quando o motodachi golpear dô, o kakarite bate por cima do bokuto com seu monouchi,
recuando um passo para diagonal esquerda, esquivandose, virando um pouco o corpo para sua direita.
Na sequência, golpeia-se o men frontal avançando com o pé direito, tomando cuidado com o maai.
Após o contra-ataque, ambos recuam um passo na direção do aite. Kakarite demonstra zanshin
e ambos retornam a posição inicial dando um passo para o lado direito.
APTO A 1º KYU

Do 1º kyu para cima, os graus não são mais conferidos pelo Dojō, mas sim obtidos através de
exame de graduação e conferidos pela Confederação Brasileira de Kendō. Se você recebeu esse
polígrafo, seus senpais acreditam que você já está pronto para prestar esse exame.
O exame de graduação é realizado pelo menos duas vezes por ano, juntamente com os
Campeonatos Brasileiro Infanto-juvenil e para Aspirantes (normalmente em fevereiro) e Campeonato
Brasileiro para Adultos Graduados (normalmente em julho). Até agora, esses campeonatos vem sendo
realizados sempre na região metropolitana de São Paulo, embora existam esforços para que esses
eventos se descentralizem. Em alguns eventos grandes, como o Campeonato Norte e Nordeste,
também são realizados exames.
Para fazer o exame é preciso se filiar a CBK e pagar uma taxa semestral que hoje está em torno
de R$ 80,00. É preciso ter, no mínimo, 12 anos de idade na data de realização do exame e ser
praticante regular.
O kenshi será avaliado por uma banca composta por 5 examinadores com graduação igual ou
superior a 4º dan. Precisa da aprovação de pelo menos 3 dos examinadores para obter a nova
graduação.
Os examinadores estarão observando os candidatos desde o momento em que eles entram na
quadra. Lembre-se de agir com educação. Ao se preparar verifique se sua vestimenta está em ordem,
se o bogu está bem amarrado e se a shinai está em boas condições.
O exame de 1º kyu é realizado em duas etapas: o exame prático e o exame de kata. No exame
prático é realizado um kirikaeshi e logo depois feito um keiko de cerca de 20 segundos. Depois, você
receberá kirikaeshi para um outro aite e fará keiko de novo. Você será avaliado durante o primeiro
keiko, mas procure se esforçar igualmente nos dois.
A principal qualidade que os examinadores buscam nos candidatos a Ikkyu é a vontade.
Demonstre essa qualidade através de um kiai forte. Execute o kirikaeshi em uma respiração, conforme
descrito no polígrafo de 2º kyu e treinado no Dojō. Lute com vontade e energia, golpeie para frente e
jamais se defenda. Não é necessário mostrar variedade de técnicas. Atenha-se às técnicas mais simples
e dê prioridade para o men-uchi grande.
Passando no exame prático, o candidato prestará o exame de kata. No exame de kata para
ikkyu são cobrados os dois primeiros Nihon Kendō Kata. Se houver tempo, procure o kenshi com quem
você fará o exame de kata para praticar um pouco e conhecê-lo. Praticantes de outros Dojō podem
executar os katas de maneira um pouco diferente, principalmente os tempos entre os movimentos,
então, esteja preparado para isso. Após o rei (às bandeiras e ao colega), um mediador indicará quem
executará o uchidachi ou o shidachi, então preste muita atenção. Você executará apenas um dos lados
do kata.
A CBK vem avisando, há alguns anos, que cobrará os 9 Bokuto ni Yoru Kihon Kata no exame de
1º kyu, mas isso ainda não se concretizou. Não se preocupe quanto a isso, pois, se for preciso, você será
avisado. Além disso, você conhece os Katas.
Por fim, não se preocupe. O exame de 1º kyu não é caracterizado por uma grande exigência
técnica, e você já está em plenas condições de passar. Demonstre vontade e energia e se mantenha nos
golpes mais básicos que tudo dará certo.

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