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Universidade Estadual de Feira de Santana

Departamento de Ciências Humanas e Filosofia


Curso de Licenciatura em História
História da Cultura Greco-Romana
Prof. Me. Ygor Klain Belchior
https://usp-br.academia.edu/YgorBelchior
ygorklain@gmail.com

HANDOUT II

1. O deleite histórico:

Na Cítia cresce o cânhamo, que se assemelha muito ao linho, sendo, porém mais
espesso e maior, sendo nisto superior a este último. [...] Os Trácios fazem com ela
vestimentas que se confundem com as de linho, sendo necessário conhecer bem
uma e outra para distingui-las. Os Citas tomam das sementes do cânhamo e
lançam-nas sobre as pedras aquecidas ao fogo. Quando começam a queimar,
desprendem grande quantidade de vapor, não havendo na Grécia estufa que o faça
de tal forma. Os citas expõem-se a esses vapores e, sentindo-se atordoados, soltam
gritos e fazem imensa algazarra. Esse vapor lhes serve de banho, pois nunca se
banham. Quanto às mulheres, trituram sobre uma pedra galhos de cipreste, de
cedro ou da árvore do incenso, e esfregam-nos no rosto e no corpo. A espécie de
pasta que assim obtêm lhes dá um cheiro agradável, e no dia seguinte, ao removê-
la, sentem-se limpas e frescas.

Heródoto, Histórias, 4, 74-75.

2. A função pedagógica da poesia:

Concederemos certamente aos seus defensores, que não forem poetas, mas forem
amadores de poesia, que falem em prosa, em sua defesa, mostrando como é não só
agradável, como útil, para os Estados e a vida humana. E escutá-los-emos
favoravelmente, porquanto só teremos vantagem, se se vir ela é não só agradável,
como também útil.

Platão, A República, 607d.

3. A história como remédio:

Se os historiadores anteriores a mim tivessem sido omissos no elogio da História,


talvez me fosse necessário recomendar a todos os leitores a preferência para seu
estudo [...], pois nenhum outro corretivo é mais eficaz para os homens que o
conhecimento do passado. [...] Todos os historiadores, [...] procuram convencer-nos
de que a educação e o exercício mais sadios para uma vida política ativa estão no
estudo da História, e que o mais seguro e na realidade o único método de aprender
a suportar altivamente as vicissitudes da sorte é recordar as calamidades alheias.

Políbio, História, 1, 1-4.


4. O dever memorial da História:

Quanto aos feitos realizados na guerra, decidi escrever não recolhendo informações
junto de qualquer um, nem como me pareciam ser, mas os que eu próprio
presenciei, tendo ainda checado cada um deles, com a maior exatidão possível,
junto de outros. Com muito trabalho eles se descobriram, porque os presentes a
cada um dos feitos não diziam as mesmas coisas sobre os mesmos, mas de acordo
com a simpatia e a lembrança que tinham. Para o auditório, também a ausência do
fabuloso nos fatos relatados parecerá desagradável; mas, se todos os que quiserem
examinar com clareza o que aconteceu (e o que porventura, conforme o humano,
será de novo igual ou semelhante ao acontecido) os julgarem úteis, será suficiente.
Trata-se de aquisição para sempre, mais que de uma peça para um concurso, a ser
ouvida de momento.

Tucídides, História da guerra do Peloponeso, 1, 22, 2-4

5. Os gregos contra a escrita:

Tu, neste momento e como inventor da escrita, esperas dela, e com entusiasmo,
todo o contrário do que ela pode vir a fazer! Ela tornará os homens mais esquecidos,
pois que, sabendo escrever, deixarão de exercitar a memória, confiando apenas nas
escrituras, e só se lembrarão de um assunto por força de motivos exteriores, por
meio de sinais, e não dos assuntos em si mesmos. Por isso não inventaste um
remédio para a rememoração. Quanto à transmissão do ensino, transmites aos teus
alunos, não a sabedoria em si mesma, mas apenas uma aparência de sabedoria,
pois passarão a receber uma grande soma de informações sem a respectiva
educação! Hão de parecer homens de saber, embora não passem de ignorantes em
muitas matérias e tornar-se-ão, por consequência, sábios imaginários, em vez de
sábios verdadeiros.
De onde se conclui o seguinte: se alguém expõe as suas regras da arte por escrito e
um outro vem depois, que aceita esse testemunho escrito como sendo expressão
sólida de uma doutrina valiosa, e esse alguém seria tolo, não entendo o aviso de
Ámon, e atribuiria maior valor às teorias escritas do que a um simples tópico para
rememoração do assunto tratado no escrito, não é assim?

Platão, Fedro, 275a-d.

6. A função do deleite:

- E quanto ao amor, à ira e a todas as paixões penosas ou aprazíveis da alma, que


afirmávamos acompanharem todas as nossas ações, não produz em nós mesmos
os mesmos efeitos a imitação poética?

Platão, A República, 606d.


7. A imitação:

A imitação [μίμησίς] é uma atividade que, segundo determinados princípios teóricos,


refunde um modelo. A emulação [ζῆλος], por sua vez, é uma atividade do espírito
que o move no sentido da admiração daquilo que lhe parece ser belo. [...] Por isso,
importa que compulsemos não apenas para a matéria do argumento mas também
para o desejo de superar as particularidades dessas obras. Na verdade, pela
observação continuada, a mente do leitor vai assimilando as características do
género, tal como a lenda diz ter acontecido com a mulher de um camponês. Conta-
se que um camponês, feio de aspecto, tinha receio de se tornar pai de filhos
semelhantes a ele. O mesmo medo, porém, ensinou-lhe a arte de ter filhos bonitos.
Juntou imagens belas e habituou a mulher a contemplá-las. Depois, quando a ela se
uniu, conseguiu gerar a beleza das imagens. Da mesma forma, com as imitações
dos discursos se gera a similitude, sempre que alguém procura rivalizar com o que
parece haver de melhor em cada um dos antigos e, como que reunindo de várias
nascentes um só caudal, o canaliza para a sua mente. Ocorre-me confirmar com um
exemplo o que acabo de dizer. Zêuxis era um pintor muito admirado pelos
habitantes de Crotona e estes, quando ele estava a pintar um nu de Helena,
mandaram-no ver, nuas, as raparigas da cidade, não porque fossem todas belas,
mas porque não era natural que fossem feias sob todos os aspectos. O que em cada
uma havia digno de ser pintado reuniu-o ele na figuração de um só corpo. Assim, a
partir da seleção de várias partes, a arte realizou uma forma única, perfeita e bela.
[...] Da poesia de Homero não imites apenas uma determinada porção do seu corpo,
mas sim o todo, e procura rivalizar com os caracteres que nela se encontram, com
as paixões, com a sublimidade, com a estruturação e com todas as outras
qualidades, transformadas em autêntica imitação na tua obra. No entanto, importa
ainda imitar outros naquilo em que sejam melhores. Com efeito, Hesíodo preocupa-
se com o prazer que se obtém pela suavidade das palavras e pela composição
harmoniosa. Antímaco, por sua vez, preocupa-se com o vigor, com a aspereza do
diálogo agonístico e com a alteração do que é habitual.

Dionísio de Halicarnasso, Tratado da Imitação, frag. 28.

8. Sites para a pesquisa:

A República por Roberto Bolzani: https://www.youtube.com/watch?v=dGnBeVbj7fU

A Teogonia por J. Torrano: https://www.youtube.com/watch?v=tHlJrpJxh5s

Édipo Rei por Adriane Duarte: https://www.youtube.com/watch?v=sR7FGshwBWY

Medéia por Adriane Duarte: https://www.youtube.com/watch?v=pjnYq8bQbhw

O Banquete por Adriano Machado: https://www.youtube.com/watch?v=FjpD6NbFtCc

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