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NÍVEL II: Manual de TRVP e Hipnoanálise: numa perspetiva clínica e transpessoal

HCI®: NÍVEL II

HIPNOSE CLÍNICA & TRVP

MANUAL DE PESQUISA TRANSDERIVACIONAL

FORMADOR: ALBERTO LOPES

MANUAL DE TRVP E HIPNOANÁLISE: UMA ABORDAGEM HOLÍSTICA E TRANSPESSOAL.


ALBERTO LOPES, COPYRIGHT® 20120

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Manual de TRVP e Hipnoanálise®. Alberto Lopes, Copyright 2019
NÍVEL II: Manual de TRVP e Hipnoanálise: numa perspetiva clínica e transpessoal

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Índice
MENSAGEM DE BOAS-VINDAS AOS ALUNOS: NÍVEL II TRVP .................................................. 9
O que podemos aprender numa formação holística, humanizada e psicoespiritual? ........... 11
RECORDANDO OS CONCEITOS DA HIPNOSE CLÍNICA ........................................................... 13
TRVP E HIPNOANÁLISE: CONCEITOS DA TERAPIA DE REGRESSÃO ........................................ 17
TERAPIA REGRESSIVA: UMA PSICOTERAPIA DE TERCEIRA GERAÇÃO ................................... 21
O MIND SETTING DE REGRESSÃO ....................................................................................... 23
TERAPIA DE REGRESSÃO & TEORIA DO CAMPO QUÂNTICO ................................................. 27
INTRODUÇÃO À TERAPIA REGRESSIVA DE VIDAS PASSADAS ............................................... 35
PSICOTERAPIA DE REGRESSÃO: COMO TRABALHAR COM TVP ............................................ 37
as principais características de um mind setting de regressão ............................................. 39
introdução e aplicação da hipnoanálise em regressão......................................................... 41
FENÓMENOS EMERGENTES NA TERAPIA REGRESSIVA......................................................... 51
METODOLOGIAS AVANÇADAS A USAR DURANTE O TRANSE REGRESSIVO ........................... 55
PROTOCOLO TERAPÊUTICO NA TERAPIA DE REGRESSÃO E TRVP ......................................... 58
Os oito passos a seguir numa sessão de TVP .......................................................................... 58
Técnicas importantes a aplicar no Pós-Regressão .................................................................. 60
ANATOMIA DO PROTOCOLO DE TRVP E REGRESSÃO .......................................................... 61
PROTOCOLO DE ANAMNESE: 1ª SESSÃO EM TRVP ............................................................. 63
GUIÃO DE COMO FAZER UMA ANMNESE EM TRVP ............................................................. 67
Que perguntas deve fazer na sessão da anamnese de regressão? ........................................ 67
A ANAMNESE E A DESTRINÇA ENTRE SENTIMENTO e emoções ........................................... 69
COMO PODEMOS DESTRINÇAR OS «SENTIMENTOS» DAS «EMOÇÕES»? .............................. 69
FICHA I: Questionário de Anamnese e História Clínica ........................................................... 81
O USO DA PONTE EMOCIONAL NA SESSÃO DE ANAMNESE ................................................. 83
A ANAMNESE: TRABALHAR COM A TRÍADA EMOCIOANAL: S+E+S ....................................... 84
O QUE DEVE PERGUNTAR NA TRÍADA EMOCIOANAL: S+E+S................................................ 85
SEMEADURA E ESTRATÉGIAS PARA A SESSÃO DE REGRESSÃO............................................. 87
A importância de usar inicialmente o protocolo: Regressão Estruturada .............................. 87
INTERVENÇÕES PSICOTERAPÊUTICAS EM REGRESSÃO ........................................................ 91
DINÂMICAS DE LINGUAGEM E ESTRATÉGIAS A USAR EM TRVP ........................................... 93
ANATOMIA DO MIND SETTING EM TERAPIA REGRESSIVA ................................................... 95
GUIÕES E AS PARTES CONSTITUINTES DA REGRESSÃO EM TVP ......................................... 109
GUIÃO: SEMEADURA PARA A REGRESSÃO............................................................................ 109

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GUIÃO: PARA PRODUZIR E APROFUNDAR O TRANSE HIPNÓTICO ........................................ 110


GUIÃO: SUGESTÕES PARA VIAJAR NO TEMPO E NO ESPAÇO ............................................... 111
GUIÃO: SUGESTÕES PARA EVOCAÇÃO DE FRAGMENTOS DE VIDAS PASSADAS .................. 112
GUIÃO: SUGESTÕES PARA REGREDIR AO ÚTERO MATERNO ................................................ 114
GUIÃO: TÚNEL DO TEMPO – DO ÚTERO À VIDA PASSADA ................................................... 115
GUIÃO: SUGESTÕES PARA O PACIENTE QUE TENHA ALGUMA DIFICULDADE EM VISUALIZAR
OS FRAGMENTOS DE VIDA PASSADA .................................................................................... 116
GUIÃO: SUGESTÕES PARA RECUAR OU AVANÇAR NA VIDA PREGRESSA ............................. 118
GUIÃO: COMO LIDAR COM A EXPERIÊNCIA EXTRA-CORPÓREA ........................................... 118
GUIÃO: DIÁLOGO NO ESPAÇO ENTRE-VIDAS ........................................................................ 120
GUIÃO: DIÁLOGO SOBRE DESCOBRIR O MUNDO ESPIRITUAL .............................................. 121
GUIÃO: DIÁLOGO SOBRE ALGUMA DIFICULDADE EM ENTRAR NA LUZ ............................... 122
GUIÃO: DIÁLOGO PARA REFORÇAR A TRAVESSIA «TÚNEL DE LUZ» ..................................... 123
GUIÃO: SUGESTÕES DE REORIENTAÇÃO AO PRESENTE (DESPERTAR) ................................. 125
MODELOS E TÉCNICAS DE PESQUISA TRANSDERIVACIONAL (TRVP) ................................... 127
A Técnica da Regressão Estruturada ................................................................................. 129
Grelha de Preparação da Regressão com Sinal Ideiomotor .................................................. 131
Observações na aplicação da Técnica de Regressão Estruturada ......................................... 132
Técnica de Regressão Estruturada com Resposta Ideiomotora ............................................ 133
GUIÃO: Indução Inicial em Regressão Estruturada (Semeadura) ......................................... 133
Sugestões para despertar o paciente do transe regressivo .................................................. 136
Guião de Regressão: Técnica da Ponte Emocional ............................................................. 137
a tríade S+E+S de forma simplificada .................................................................................... 137
O que perguntar para preparar a ponte emocional.............................................................. 139
Técnicas de Regressão Simples ......................................................................................... 141
TEORIAS DA PSICOLOGIA NA PRAXIS EM HIPNOSE CLÍNICA ............................................... 143
TEORIAS DA PSICOLOGIA NA DINÂMICAS DAS EMOÇÕES.................................................. 145
A PSICOLOGIA NA TEORIA DAS EMOÇÕES ........................................................................ 149
A TEORIA DE CANNON-BARD ................................................................................................ 149
A TEORIA DE SCHACHTER-SINGER «Teoria dos 2 fatores» ................................................... 150
A TEORIA DE LAZARUS........................................................................................................... 150
TEORIA DO FEEDBACK FACIAL ............................................................................................... 151
O ESTUDO DAS EXPRESSÕES FACIAIS SEGUNDO CARNEY LANDIS ........................................ 151
STRESS: AMIGO OU INIMIGO?.......................................................................................... 153

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A SINTOMATOLOGIA DEPRESSIVA E AS ESCALAS DE AVALIAÇÃO....................................... 155


A Sintomatologia Depressiva ................................................................................................ 155
O uso da Hipnose no tratamento da depressão ................................................................... 156
O diagnóstico de depressão vs. a quantificação dos sintomas ............................................. 157
Escalas de Avaliação da Depressão ....................................................................................... 157
Tabela das principais categorias de sintomas depressivos ................................................... 158
TEORIAS DA PSICOLOGIA: AS TEORIAS PSICANALÍTICAS .................................................... 159
A PSICANÁLISE ou LIVRE ASSOCIAÇÃO IDEIAS DE SIGMUND FREUD (1856-1939) ............... 159
ESTÁDIOS DO DESENVOLVIMENTO PSICOSSEXUAL .............................................................. 160
AS INSTÂNCIAS DA PERSONALIDADE .................................................................................... 160
A TEORIA DE ANNA FREUD E A PSICANÁLISE INFANTIL NAS CRIANÇAS ............................... 161
(1895-1982) ........................................................................................................................... 161
OS MECANISMOS DE DEFESA PRECONIZADOS POR ANNA FREUD ....................................... 162
A TEORIA DO APEGO DE HARRY HARLOW (1905-1981) ....................................................... 164
AS EXPERIÊNCIAS DE HARRY HARLOW COM OS MACACOS RHESUS .................................... 165
O IMPACTO DO TRABALHO DA EXPERIÊNCIA DE HARRY HARLOW ...................................... 166
A PSICOLOGIA INDIVIDUAL DE ALFRED ADLER (1870-1937) ................................................. 166
A PSICOLOGIA INDIVIDUAL DE ADLER ................................................................................... 167
A luta pelo sucesso e pela superioridade de Adler - definições de conceitos ...................... 168
A PSICOLOGIA ANALÍTICA, DE CARL GUSTAV JUNG (1875-1961) ......................................... 168
ALGUNS DOS CONCEITOS PRECONIZADOS POR CARL JUNG ................................................ 170
OS ARQUÉTIPOS DE JUNG ..................................................................................................... 170
TEORIAS DA PSICOLOGIA: TEORIAS HUMANISTAS ............................................................ 172
A PSICOTERAPIA CENTRADA NO CLIENTE, SEGUNDO A VISÃO DA PSICOLOGIA HUMANISTA
DE CARL ROGERS (1902 1987)............................................................................................... 172
OS CONCEITOS DA PSICOTERAPIA CENTRADA NO CLIENTE .................................................. 172
CONCEITO DE CONGRUÉNCIA VS. INCONGRUÊNCIA ............................................................ 173
A TEORIA DE HIERARQUIA DAS NECESSIDADES, DE ABRAHAM MASLOW ........................... 174
(1908 - 1970) ......................................................................................................................... 174
A HIERARQUIA DAS NECESSIDADES, DE MASLOW................................................................ 175
TEORIAS DA PSICOLOGIA: A TEORIA SOCIAL ..................................................................... 177
A PSICOLOGIA SOCIAL, DE KURT LEWIN (1890-1947) ........................................................... 177
A TEORIA DO CAMPO, DE KURT LEWIN ................................................................................ 177
OS ESTILOS DE LIDERANÇA, DE KURT LEWIN ........................................................................ 178

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TEORIAS DA PSICOLOGIA: TEORIA DA PERSONALIDADE .................................................... 180


TEORIA DA CONSTRUÇÃO DA PERSONALIDADE DA ESCOLA DE ROMA................................ 180
Padrões de Organização Cognitiva (Quatro Padrões Identificados) ..................................... 182
A Teoria do Mandato Geracional: Ciclos Biológicos Celulares Memorizados de Marc Frechet
(1945-2017) ..................................................................................................................... 185
Legado Geracional: da conceção ao nascimento e a importância dos imprints familiares .. 185
Como descobrir o Mandato Geracional (Memória Celular Geracional)? ............................. 187
MIND SETTING DE INTERVENÇÃO EM TRVP ...................................................................... 189
TÉCNICAS DE REESTRUTURAÇÃO COGNITIVA.................................................................... 189
Aplicação da Técnica de Resgate da Criança Interior ......................................................... 191
GUIÃO: Para efetuar o Resgate da Criança Interior .............................................................. 192
APLICAÇÃO DA TÉCNICA DE: ESTADOS DO EGO ................................................................ 195
Guião: Para a Técnica de Estados do Ego (indução e relaxamento hipnótico) ..................... 197
APLICAÇÃO DA TÉCNICA DA CIRURGIA PSÍQUICA.............................................................. 205
Guião da Técnica: Para fazer uma Cirurgia Psíquica ............................................................. 207
APLICAÇÃO DA TÉCNICA DA LIMPEZA DA AURA................................................................ 215
Guião: Técnica da Limpeza da Aura - Relaxamento e indução hipnótica ............................. 218
UM PSICOTERAPEUTA COMO «CURADOR DE ALMAS» ...................................................... 225
ANEXOS .......................................................................................................................... 227
CÓDIGO DEONTOLÓGICO DA APHCH ................................................................................ 229
UM MODELO DE CONTRATO HIPNOTERAPÊUTICO ............................................................ 232
O ESTÁGIO CLÍNICO EM TVP e HIPNOANÁLISE ...................................................................... 1
AVALIAÇÃO E ACREDITAÇÃO DA FORMAÇÃO EM HCI® ......................................................... 2
Referências Bibliográficas .................................................................................................... 3

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MENSAGEM DE BOAS-VINDAS AOS ALUNOS: NÍVEL II TRVP

CONHEÇA TODAS AS TEORIAS, DOMINE TODAS AS TÉCNICAS, MAS, AO TOCAR


UMA ALMA HUMANA, SEJA APENAS OUTRA ALMA HUMANA.
CARL GUSTAV JUNG

Antes de se deixar deslumbrar pela magnificência da técnica de regressão, convido o


futuro hipnoterapeuta de regressão a ler novamente a frase de Jung com que este
capítulo se inicia. Depois, sugiro que reflita uma pouco sobre o maravilhoso fenómeno
da vida e a inefável possibilidade de transcendência humana, expressada de forma
absolutamente notável pelo pai da Psicologia Analítica, Carl Gustav Jung. Efetivamente,
sou da opinião que a TVP permite fazer as mais sagazes reflexões e dar respostas às
principais perguntas da vida. De tal forma que, após uma regressão ao passado, a pessoa
desperta com um respeito e uma perspetiva mais profunda, que lhe permite encarar a
vida como uma nova oportunidade para crescer e evoluir. Intuindo que, apesar de tudo
e acima de tudo, a sua vida tem um propósito maior, uma missão que lhe pertence de
pleno direito, e que pode encarar as dificuldades que lhe surgem no caminho como
oportunidades para crescer, evoluir e enveredar por melhores e mais saudáveis
caminhos de cura.
Gosto de dizer que um terapeuta de regressão não é um mero psicoterapeuta, mas um
verdadeiro Curador de Almas. Talvez o principal desafio, ao despertar como terapeuta
de regressão, será o de conhecer todas as técnicas, estudar todos os modelos
psicológicos e dominar todos os processos hipnóticos para se «dar ao luxo» de os
esquecer, porque se tornaram conteúdo da própria Alma. E, no fim de cada etapa
aprendida comumente, esta forma de fazer psicoterapia leva-o a enveredar por um
notável caminho de descoberta espiritual, já que, ao revelar a ancestralidade do seu
paciente, também lhe permite saborear um pouco da sua própria eternidade. Tenho a
confessar que, na minha prática clínica, nunca paro de me surpreender com as
revelações extraordinárias que os meus pacientes me transmitem quando estão transe
profundo. Mas, sobretudo, com o efeito que essas observações espirituais exercem
sobre as minhas crenças e os meus valores, as minhas opções e os meus padrões de
comportamento na vida presente. A hipnose de regressão dá inegavelmente respostas
às principais perguntas da vida: de onde eu venho; onde estou; e para onde eu vou.
Importa saber que, na terapia de regressão, combinam-se as técnicas de Terapias de
Vidas Passadas com as técnicas de modelos psicológicos (Gestaltismo, Psicanálise,
Psicologia Cognitiva Comportamental, entre outras). Assim, o futuro hipnoterapeuta de
regressão deve procurar informar-se sobre áreas, como as da Psicologia, da Filosofia, da
Antropologia e, também, da Metafísica, para ser capaz de analisar as relações cármicas
e perceber de que forma as constelações familiares influenciam a existência dos
pacientes, não apenas num quadro de referência psicológica, mas também numa
perspetiva filosófica e histórica.

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Espera-se que o formando tenha plena consciência de que está a lidar com o «tesouro»
mais precioso e extraordinário que alguém nos pode revelar, quer dizer, as verdades
insofismáveis da alma. Mesmo que considere a alma de outrem como algo de abstrato
e inatingível. Penso, todavia, que demonstramos merecer a confiança das pessoas que
não só nos revelam os seus preciosos tesouros espirituais, mas também, não raras vezes,
servem de canal mediúnico para nos transmitir os conselhos e informações
notavelmente reveladores que os guias espirituais presentes nos legam em cada sessão.
Mas, para o merecermos, devemos mostrar humildade, pois quem faz uma regressão
ao passado intui que raramente está sozinho nesta descoberta de ancestralidade do ser.
A prática responsável da metodologia catártica de recordar as experiências de vidas
passadas é, pois, sem dúvida, sinal de maturidade espiritual e uma grande vantagem
terapêutica. Sabemos que essa maturação psicoespiritual só se consegue com o
trabalho exigente de um terapeuta de regressão e será premiada com resultados
absolutamente maravilhosos.
Eu acredito que, toda a vida, por mais insignificante que seja, tem um sentido. Acredito
que cada um de nós nasce por determinada razão. E também acredito que grande parte
dos seus futuros pacientes adoece porque deixa de encontrar um sentido para a vida. E
sabemos que, segundos os manuais de Psicologia, o sofrimento sem sentido é
patológico, mas a maior dor do ser humano é a dor sem sentido. Isto porque, apesar de
tudo, sofrer com sentido custa menos, não é verdade? A terapia regressiva é uma fonte
de conhecimentos preciosos sobre o sentido da vida, e os métodos e processos de
pensamento de um pioneiro da descoberta espiritual serão a «pedra de toque» que fará
o paciente crescer, evoluir e ir ao encontro da sua felicidade. E quem sabe se, nesse
processo, o hipnoterapeuta não descobre também o seu sentido da sua própria vida.
Estudo, dedicação, responsabilidade e respeito pelas crenças e os valores de cada
paciente são os predicados necessários para um digno profissional de regressão. Procure
lembrar-se disto: receber estes conhecimentos ancestrais é uma honra e, sobretudo,
uma responsabilidade. O que fazer para ser um Curador de Almas?
Já deu o primeiro passo, ao querer tornar-se um Curador de Almas e utilizar o
maravilhoso processo de cura pelas palavras; com este conhecimento adquirido, sei que
pode fazer toda a diferença na vida de quem busca a cura nos poderosos processos de
autocura e sofre das tão famigeradas doenças modernas. O hipnoterapeuta de
regressão é mais do que um mero facilitador de hipnose — é uma espécie de
crononauta, que, de mãos dadas com o seu paciente, encetou uma demanda em busca
das relações cármicas pendentes e mal resolvidas do seu passado longínquo. O meu
desejo é que saibamos merecer a ajuda dos guias espirituais ao aceitar esta maravilhosa
missão. Saibamos todos tatuar merecidamente no coração o epíteto de «Curador de
Almas».

Do seu facilitador em Terapia Regressiva,


Alberto Lopes

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O QUE PODEMOS APRENDER NUMA FORMAÇÃO HOLÍSTICA, HUMANIZADA E PSICOESPIRITUAL?

Sou da opinião de que não é obrigatório ser-se licenciado em Psicologia, Psicoterapia ou


Aconselhamento Social para se ser um especialista em orientação de estados de transe
e regressão. Convenhamos que é possível alcançar estados expansivos de consciência
— quer dizer, estados de transe — em muitas áreas, como as da Meditação, do Reiki e
da visualização guiada, etc. Mas a nossa abordagem é muito mais profunda e, quando
se trabalha com pacientes que sofrem de perturbações psiquiátricas, é inestimável ter
alguma experiência de orientação na área das Humanidades. Com disse Teresa Robles,
«A hipnose é uma espécie de injeção — todas as pessoas a sabem a dar. Mas jamais se
esqueçam da importância e da responsabilidade do conteúdo que é colocado na seringa,
porque isso deve ser da responsabilidade de uma especialista. Já que o material que for
injetado pode matar.» (Robles, T. in: Concierto Quatro Cérebros)

Apraz-me sugerir que, eticamente, se espera que os hipnoterapeutas reconheçam o seu


nível de competência e as suas qualificações profissionais, para não empregarem
procedimentos de tratamento que ultrapassem o âmbito da sua formação. Quero com
isto dizer que, em qualquer abordagem hipnoterapêutica, é de suma importância
recorrer, sempre que o tratamento assim o exija, ao médico assistente ou a um clínico
especialista para ajudar a despistar qualquer dúvida de saúde com o auxílio dos devidos
exames e/ou fazer o desmame da medicação psicofarmacológica. Gostaria de salientar
a todos os formandos de hipnose de regressão, que ajudam os seus pacientes na busca
da verdade sobre si próprios, que não se devem ficar só pela formação académica, mas
que devem fazer constantes formações na área da hipnoterapia e TVP e adquirir a
necessária prática e experiência profissional, pois isso é condição sine qua non para que
o Universo vos abençoe com maravilhosos e transformadores resultados, nesta terapia
absolutamente revolucionária.

A Terapia de Vidas Passadas é considerada uma terapia breve, que respeita a ecologia
do paciente, ajudando-o a crescer e autocurar-se. Tenho plena consciência de que cada
profissional de saúde tem as suas próprias ideias, os seus próprios talentos e a sua
própria experiência, no que se refere à prática da psicoterapia. Mas sou da opinião de
que a aplicação de diferentes abordagens no trabalho mental só pode expandir os
nossos conhecimentos e dotar-nos de uma perspetiva de vida não só plenamente
experimentada e integrada, mas também dotada de uma dimensão espiritual. Não
existem verdades absolutas, e é muito mais importante que o terapeuta não se atenha
rigidamente a um só caminho epistemológico do seu modelo clínico, pois sabemos que
uma técnica desadequada não está seguramente ao serviço do paciente. Assim, este
manual estimula-nos a refletir a respeito não só das maravilhas do ser fascinante que é
o Homem, mas, sobretudo, do nosso próprio papel no domínio da criação constante e
multidimensional em que todos nos inserimos. A nossa espécie já ultrapassou o

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impressionante número de quase sete mil milhões. Espantosamente, todos nós, os seres
humanos, somos diferentes, mas iguais. É óbvio que somos diferentes, multifacetados
e complexos, mas é essa complexidade que faz de cada homem, mulher e criança um
verdadeiro gigante de luz em evolução permanente e a caminho da perfeição. Somos
imperfeitos para podermos experienciar a perfeição; acredito que, como almas
abstratas e humanos encarnados, só podemos ser seres fazedores de eternidade.
Qualquer caminho se faz caminhando; logo, apesar de este manual ser concebido para
apresentar os principais fundamentos do estudo e da prática da minha experiência
profissional na área da hipnose de regressão, não é minha intenção que os futuros
hipnoterapeutas se restrinjam a uma sequência rígida de técnicas ou procedimentos
hipnóticos. O meu desiderato é que possam desenvolver e aprimorar a metodologia aqui
apresentada e que assenta na minha própria experiência pessoal. Na verdade, muito
deste material também pode ser útil para todos os profissionais das áreas da Psicologia
e da Psiquiatria que desejem empregar métodos alternativos para chegar ao âmago das
questões que os seus pacientes trazem à sessão e conseguir uma mudança terapêutica
notavelmente mais rápida. Penso que estará consciente da responsabilidade que se
exige de si, arauto da mudança. Passemos agora aos meandros absolutamente
fascinantes da TVP e da hipnose de regressão.

SUBA O PRIMEIRO DEGRAU COM FÉ, NÃO É NECESSÁRIO QUE VEJA TODA A ESCADARIA,
APENAS DÊ O PRIMEIRO PASSO.
- MARTIN LUTHER KING JR.

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RECORDANDO OS CONCEITOS DA HIPNOSE CLÍNICA

Como podemos definir o conceito de Hipnose?

Como sabemos, o termo hipnose é usado de muitas formas diferentes, portanto não é
um conceito unânime e a sua definição pode variar de acordo com a abordagem teórica.
Um estado de transe hipnótico é uma reação psicofisiológica complexa, de perceção
alterada, que abrange tanto os fenómenos psicológicos quanto os somáticos. É um
estado de «diminuição da consciência», de atenção e reação metabólicas. O transe
hipnótico parece ser um estado psicofisiológico que acontece espontaneamente ou que
pode ser provocado. Contudo, não é o estado de vigília nem de sono ou de sonho e,
embora pareça estar a dormir, a meditar ou catalético, o sujeito em hipnose conserva-
se consciente, mas num estado de consciência modificado.
Uma pessoa que entra num estado de transe hipnótico deixa de prestar atenção à
consciência periférica e focaliza a atenção dentro de si mesmo. O paciente é induzido a
ser recetivo a experiências interiores, sobretudo aos poderosos processos
psicodinâmicos e inconscientes do comportamento e do seu estado psicofisiológico,
fomentando a mudança. Para o leitor que possivelmente nunca experimentou a
sensação de um transe induzido, gosto de afirmar que estar em transe hipnótico é uma
combinação perfeita de relaxamento físico e perspicácia mental que vale sempre a pena
experimentar.

O advento da Hipnose Moderna

Considerado o pai da hipnose moderna, Milton Erickson acreditava que a hipnose era
um estado livre de sugestibilidade ampliada (Erickson M. et Rossi E., 1978). E esse estado
especial possibilita a emergência de recursos inatos e soluções internas que podem ser
utilizados para ajudar a ultrapassar as nossas limitações e a resolver os nossos
problemas. Erickson (citado in Neuber, 2004), ao considerar a hipnose um estado livre e
expansivo de consciência e como uma forma de transmitir ideias, entendia que a relação
entre o terapeuta e o cliente poderia constituir-se como um poderoso instrumento de
mudança, capaz de auxiliar na reconfiguração da experiência dolorosa do problema

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deste último. Para ele, a reconstrução de sentidos proposta pela terapia não estaria
limitada a um insight intelectual, mas a uma mudança efetiva na vivência da patologia e
nas próprias perceções corporais da pessoa (Gonzalez Rey, 2007; Neubern, 2004).

Ou seja, para este autor, o transe hipnótico é um estado de sugestibilidade intensificado


artificialmente, no qual aparenta ocorrer uma dissociação natural dos elementos
conscientes e inconscientes do psiquismo da pessoa hipnotizada cujo estado promove a
mudança para o equilíbrio. Enfatiza o autor que o aspeto fundamental da hipnose é «a
mudança experimental subjetiva», embora também se observem mudanças
psicofisiológicas facilmente detetáveis. Por exemplo, a pessoa em transe experimenta
um agradável relaxamento e percebe que o normal é estar tranquilo, sereno e
equilibrado. Há muito tempo que se sabe que a sugestão pode influenciar as
capacidades sensoriais e motoras, e em hipnose isso é muito evidente. No entanto,
Erickson desenvolveu uma linguagem própria em que os fenómenos surgem
espontaneamente com o transe natural. O conceito de «Transe Conversacional», em
que o psicoterapeuta pode usar a expressão coloquial das palavras com fins
terapêuticos, foi desenvolvido e incorporado por este notável psicoterapeuta. Esta é
uma forma especial de comunicar ideias com padrões especiais de linguagem, onde são
contadas histórias, metáforas, fazendo analogias com intencionalidade terapêutica.
Usa-se também as palavras como suavizadores de humor, modulamos a semântica,
ritmo e o timbre das frases e trabalhamos as pausas com elegância e intencionalidade.
Dessa forma, a linguagem corporal harmoniza com o nosso interlocutor com o intuito
de criar uma empatia natural, a fazê-lo entender que o compreendemos; chamamos a
isso de rapport. Nesta comunicação hipnótica, alguns padrões de linguagem são usados
pelo facilitador com tamanha elegância, empatia e eloquência e de tal forma, que a
atenção do ouvinte se afunila para o seu interior e naturalmente entra em transe por si
mesmo o que promove o aparecimento de recursos internos e o encontro de respostas
que este procurava. Em suma, Erickson deixou como legado um manancial de técnicas
novas e metodologias mais naturais, passíveis de utilização em contexto de saúde
pública e que levou a que a hipnose clínica ganhasse mais credibilidade e aceitação.

O reconhecimento da hipnose com técnica aplicável na área da saúde

A Organização Mundial de Saúde (OMS) refere que «a hipnose é uma mais-valia e um


dos maiores avanços na Psiquiatria, [que] já atua no campo terapêutico e como auxiliar
de controlo de doenças» (OMS, outubro de 1974).
Por seu lado, a British Medical Association (BMA), que recomenda o seu uso desde
1954, define hipnose como um «estado temporário e alterado de atenção do sujeito»,
que pode ser induzido por um operador e que pode facilitar vários fenómenos, tanto
espontâneos como em resposta a estímulos verbais ou de outra natureza (BMA, 1953).
A American Psychological Association (APA) define a hipnose como «um procedimento
no qual um técnico de saúde mental ou um investigador sugere a um cliente, paciente

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ou sujeito de uma investigação mudanças nas sensações e perceções, nos pensamentos


e comportamentos» (in: Divisão 30, Society of Psychological Hypnosis, 2004).

Em que áreas da Medicina é que a hipnose pode ser utilizada?

Além da sua eficácia no controlo da dor, a hipnose ajuda o paciente a não ter tanto
receio dos tratamentos oncológicos e a enfrentar eficazmente as perturbações
psicológicas que deles decorrem. A hipnose ajuda ainda não só a controlar medos e
fobias, mas também a tratar a tão famigerada depressão. Por outro lado, é utilizada com
eficácia para diminuir o sofrimento de pacientes com neoplasias, doenças
neurodegenerativas e psicossomáticas. A hipnose tem contribuído com ótimos
resultados nas seguintes áreas, que passamos a citar. Na Psicologia e na Psiquiatria, trata
perturbações psicológicas, adições — como o alcoolismo e a toxicodependência — e
distúrbios alimentares — como a anorexia e a bulimia, entre outros. Na Anestesiologia,
controla a ansiedade pré e pós-operatória e anestesia o paciente durante operações
cirúrgicas. Na Dermatologia, trata o eczema, a psoríase, a urticária, as verrugas, o
prurido e todas as afeções psicossomáticas. Na Sexologia, controla as disfunções
sexuais, as parafilias e outras afeções. Na Angiologia, trata a hipertensão, a
vasodilatação e a vasoconstrição. Na Pneumologia, controla a asma e as alergias. Nos
Queimados, sugere a sensação inicial do frio, controla as reações e os reflexos
associados e funciona como analgésico e estimulante. Na Gastrenterologia, auxilia no
tratamento do refluxo esofágico, da irritação do cólon, dos distúrbios somáticos, da
disfunção gastrointestinal, da colite ulcerosa e da doença de Crohn. Na Obstetrícia,
facilita a dilatação, alivia as dores de parto e controla o ritmo das contrações uterinas.
Na Estomatologia/Oncologia, controla a dor, a hemorragia, a salivação e os reflexos de
deglutição. Na Reumatologia/Traumatologia, alivia a dor, promove a mobilidade e
acelera a recuperação óssea. Na Neurologia, controla as enxaquecas, as insónias, o
stress, a ansiedade, os medos, as fobias, a agressividade e a dor crónica. (Fonte:
American Journal of Clinical Hypnosis, 2003.)

Quais são as limitações no uso da hipnose?

Naturalmente, como todas as abordagens terapêuticas, a hipnoterapia também tem as


suas limitações. Por exemplo, deve-se evitar o uso da hipnose em pacientes com
depressão do transtorno bipolar, na fase da «mania», pacientes com síndromes
delirantes, traços psicóticos e/ou esquizofrénicos. Efetivamente, pacientes com este
tipo de sintomatologia tem dificuldade de interpretar a linguagem para além do real,
logo devem evitar recorrer ao uso da hipnose, pois poderiam exacerbar os seus sintomas
delirantes. Excecionalmente, trabalhando em complementaridade com um médico
psiquiatra e após estabilizados com medicação adequada, este tipo de doentes podem
usufruir de estados leves de hipnose com parcimónia. Todos os outros casos são
passíveis de recorrerem à ajuda hipnótica.

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TRVP E HIPNOANÁLISE: CONCEITOS DA TERAPIA DE REGRESSÃO

O termo técnico da Pesquisa Transderivacional, também chamado de Terapia


Regressiva, é, na realidade, um misto de técnicas e estágios de hipnose e os conceitos e
algumas metodologias da Psicanálise, daí o termo cunhado de «Hipnoanálise». Esta
nomenclatura foi usada pela primeira vez por Hadfield, em 1920, para denominar um
conjunto de fenómenos mentais em que a mente se expande e entra em hipermnésia.
Quer dizer, com a mente devidamente hipnotizada, é possível recordar memórias
esquecidas ou encapsuladas, não só da infância, mas também a níveis pré-primários da
própria organização mental. Há muito tempo que se sabe que a hipnose, que utiliza o
transe para ajudar a vencer as resistências e inibições mentais do consulente,
combinando a catarse hipnótica, sugestões reeducativas e a «livre associação de ideias
através do transe», permite ao consciente mais facilmente aceitar a assimilar
recalcamentos passados e experiências emocionais dolorosas. Com a mente
devidamente hipnotizada, as memórias traumáticas e emocionalmente dolorosas,
podem ser relembradas na segurança de um mind setting hipnótico fazendo emergir
respostas funcionais, ressignificar rapidamente os dramas internos e alcançar a paz
interior.
Mais tarde, vendo-se a braços com milhares de pacientes — essencialmente soldados
traumatizados pelas suas experiências na Primeira Grande Guerra — que sofriam de
distúrbios psicossomáticos, neuroses e, sobretudo, stress pós-traumático, o psicanalista
alemão Ernest Simmel considerou necessário encontrar uma forma de encurtar o tempo
de tratamento. Foi então que desenvolveu a hipnoanálise — termo da sua própria
autoria — uma técnica que combinava a hipnose com as abordagens psicodinâmicas da
psicanálise e a livre associação de ideias. A fusão da hipnose com a psicanálise foi um
dos mais importantes avanços médicos decorrentes da Primeira e Segunda Guerras
Mundiais.
Com o desenvolvimento e funcionalidade da técnica e, mais tarde, a junção de outras
técnicas psicológicas como a Análise Transacional, Gestaltismo, Cognitivismo e

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Psicologia Transpessoal e outras, o termo hipnoanálise ganhou credibilidade e aceitação


académica. Modernamente, e com o desenvolvimento da Psicologia Transderivacional,
a pesquisa dos fenómenos hipnóticos centrou-se muito no fenómeno da regressão da
memória e na exploração de experiências pregressas como uma metáfora
psicoterapêutica. Existem várias escolas, modelos e designações nesta temática, como
TR, TVP, TRVP e Pesquisa Transderivacional.
Não obstante os nomes que atribuímos aos modelos, todas as abordagens assentam
num princípio comum: o ser humano no presente é o resultado de várias experiências
vividas no passado, que afetam de forma benéfica e/ou patológica a sua vida atual. Esta
pesquisa ao tempo pregresso ficou vulgarmente conhecida como «Terapia Regressiva»
ou Hipnoanálise.
Como se desenrola o setting de hipnoanálise (TRVP)?

A hipnoanálise é uma forma muito interessante de fazer terapia, já que a hipnose facilita
os processos de mudança em psicoterapia, pois permite aceder às reais emoções e
dimensões psíquicas na sua origem e que estão na base dos problemas que a pessoa
traz à consulta.
Este método procura tratar os pacientes com o transe e envolve o uso de um estado
hipnótico catártico, que promove a redução das inibições e repressões e a libertação do
bloqueio emocional associado a um trauma antigo. Esta terapia é hipnoanalítica e
procura libertar a as emoções emparelhadas a memórias esquecidas ou recalcamentos
traumáticos do passado. Sendo um método de libertação catártica, permite que o
paciente viva as emoções em transe, na segurança do consultório, de forma intensa mas
inquestionavelmente libertadora por forma a ressignificar as memórias
emocionalmente traumáticas e vividas no presente em forma de drama.

Porque é que se utiliza o método catártico em hipnoanálise?

A hipnose facilita a «livre-associação», ajudando enormemente o trabalho analítico, no


processamento das fantasias inconscientes, que, na maioria das vezes, estão a serem
vividas no presente em estado de drama, através de síndromes disfuncionais, sem as
anular, julgar ou coisificar. O transe hipnótico proporciona uma flexibilidade completa
na recuperação das recordações mais difíceis e memórias recalcadas que constituem a
nossa história pessoal. A catarse permite libertar e «drenar» a energia somática
associada a um trauma antigo, já que nos permite questionar as nossas crenças internas
e verdades absolutas sem as julgar ou tentar anular — ou seja, permite-nos recordar
momentos traumatizantes e encará-los sob uma nova perspetiva. Através da hipnose,
podemos reviver momentos excelentes e reproduzi-los no futuro (os atletas usam este
método para alcançar a excelência).
Com a hipnose, os pacientes podem abrir espaço internamente para conseguirem
sentir fisicamente, de forma mais clara e entendível, a forma como os seus organismos
reagem a determinados momentos, problemas ou situações. Consequentemente,

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podem intuir, de forma mais coerente e ampla, o que necessitavam de fazer para que
as coisas sigam o seu curso correto, quer dizer, para atingirem o equilíbrio emocional e
pessoal. Tenho para mim que não faz sentido supor que a psicoterapia no estado de
vigília, que se dirige essencialmente à racionalização consciente, seja mais eficaz do que
a hipnoanálise, que se dirige diretamente ao subconsciente e inconsciente, onde reside
a causa do mal.
Concluindo, esta abordagem hipnótica e hipnoanalítica é a base de quase todos os
tratamentos hipnoterapêuticos e o cerne da nossa formação em hipnose clínica e
hipnoanálise.

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TERAPIA REGRESSIVA: UMA PSICOTERAPIA DE TERCEIRA GERAÇÃO

QUALQUER PESSOA QUE OLHA PARA A DOENÇA COMO UMA EXPRESSÃO VITAL DO
ORGANISMO PARA ATINGIR O EQUILÍBRIO DEIXA -A DE A VER COMO UM INIMIGO
OLIVER SACHS

A psicoterapia explorada através da hipnose regressiva tem contribuído para debelar a


famigerada depressão, perturbações de ansiedade e doenças psicossomáticas e atenuar
naturalmente os efeitos de doenças graves, síndromes neurodegenerativas e/ou
doenças autoimunes, proporcionando uma melhor compreensão das mesmas. O
método da regressão promove estados expansivos de consciência (hiperconsciência), a
exploração da memória, o afloramento de engramas do passado, a visualização guiada
e a espiritualidade, desse modo, despertando os poderosos processos de cura
adormecidos em cada um de nós.
Com a hipnose clínica integrativa e a regressão ao passado procurou-se otimizar um
conjunto de técnicas hipnocomportamentais, hipnocognitivas e hipnoanalíticas num
protocolo, e que permitissem encetar uma intervenção à causa-fonte e posterior
intervenção hipnoterapêutica de restruturação cognitiva. Naturalmente num contexto
psicoterapêutico mais humanizado e consentânea com aos valores e crenças dos
consulentes.

Como já referi anteriormente, não obstante a física quântica apresentar um teoria


que fundamenta o afloramento de memórias passadas e a influência que o futuro pode
ter no passado, o nosso método de intervenção através da TVP pode ser considerado
um processo terapêutico de cariz psicoespiritual, já que combina a hipnose clínica, a
visualização criativa, técnicas de respiração, a técnica de regressão de memória e TRVP,
a constelação sintomática da doença, a técnica de cura pelo toque terapêutico e a
autoexpressão para promover o equilíbrio psicofisiológico e a autocura nos vários níveis
do Ser.

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Assim, apresentamos um interessante método de intervenção que pode ajudar os


profissionais de saúde — sobretudo, aqueles que enfoquem a autocura, para promover
harmonia, saúde e crescimento pessoal — a compreender e a utilizar melhor a
psicodinâmica interna do cérebro humano, nos diversos estados de transe, aprendendo
a aflorar dimensões da psique que promovem o autoconhecimento da principal raiz do
problema.

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O MIND SETTING DE REGRESSÃO

Abordagem psicoterapêutica holística e mais humanizada

Duas variáveis a ter em conta num processo de terapia, através da regressão: parte-se
da premissa de que, no corpo físico, residem todas as memórias e informações de
traumas, conflitos existenciais ou bloqueios inconscientes, derivantes de
acontecimentos passados na nossa vida atual e, até, existentes a níveis pré-primários da
própria organização mental. No corpo etéreo/psíquico, residem registos quânticos de
experiências passadas, escórias energéticas e cruzamentos cármicos à espera de ser
compreendidos e libertados. Quando não queremos prestar atenção aos sinais do corpo,
ele chama-nos a atenção, às vezes, agressivamente, em crescendo, fazendo-nos adoecer
(com doenças de pele, doenças imunitárias, doenças terminais e outras).
Efetivamente, reconhece-se a relevância clínica da hipnose regressiva e hipnoanálise,
que tanto têm contribuído para áreas tão importantes, como as síndromes autoimunes,
entre elas, doenças reumáticas e dermatológicas, cancro, fibromialgia e outras
perturbações de índole psicossomática. A hipnose é uma abordagem natural, inócua e
não-invasiva que, segundo os estudos mais recentes, tem um impacto positivo a de
longo prazo na melhoria da qualidade de vida e na redução dos custos de saúde. Esta
metodologia terapêutica tem suscitado um interesse crescente, não só em profissionais
da saúde mental, mas também em profissionais de diferentes áreas da saúde humana,
como enfermeiros e médicos de diversas especialidades, como obstetras,
anestesiologistas, dentistas, nutricionistas, entre outros.
Compreende-se a necessidade urgente de uma abordagem mais humanizada do
doente, o que impõe a todos os profissionais envolvidos na prestação de cuidados de
saúde a necessária atualização de novas metodologias e abordagens psicoterapêuticas.

A psique humana é multidimensional

Quer dizer, um terapeuta regressivo não só deve aceitar que a psique humana é
multidimensional, mas também postular que os sofrimentos da psique, da consciência
ou da Alma existem numa variedade de formas subtis que não se restringem ao corpo
físico nem às fronteiras do tempo e do espaço. Em suma, a tomada de consciência dessas
realidades ocultas leva o consulente a aprofundar e elevar a sua compreensão a níveis
surpreendentes na sua psique, o que se pode traduzir numa profunda compreensão
psicoespiritual e, por conseguinte, na cura — tal como preconizam as grandes disciplinas
psicoespirituais do Oriente.
Esta proposta de trabalho nada mais faz do que procurar sempre a origem do trauma
que o nosso consulente pode estar a viver no presente, em estado de drama. Esta
ressonância energética pode ser escutada, compreendida e libertada com compreensão
psicoterapêutica. Trata-se de uma abordagem muito poderosa, pois permite a liberação

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de traumas, por meio da técnica de restruturação cognitiva posterior à regressão. Em


suma, é como descascar as peles da cebola cujas camadas podem, cada uma,
representar uma vida específica dentro das múltiplas vidas experienciadas e vividas no
passado daquele ser.

O poder da aceitação da dinâmica e qual a mensagem da doença

«Acordar para quem você é requer desapego de quem você imagina ser», refere Alan
Watts. Para concluir esta breve síntese da abordagem da hipnose de regressão no
tratamento de doenças autoimunes, gostaria de lhe pedir que pense comigo, por
exemplo, numa síndrome ou doença autoimune, com o estigma de morte anunciada,
como por exemplo, o cancro. A primeira pergunta que inegavelmente fazemos é:
«Porquê a mim?» Mas a pergunta está errada, pois devemos substituir o «porquê» por
«o que é que». «O que é que fez surgir a doença?» «O que é que a doença nos quer
mostrar ou dizer?» Já alguma vez pensou nisto?
Em se tratando de uma doença desta magnitude, o mais lógico seria pensar: «Se não
vencemos a doença porque é que lhe resistimos?» Quando nos deslocamos da
resistência para a aceitação, mudamos do controlo para a influência, na dinâmica da
doença. Ora veja se está de acordo comigo nesta máxima: «Não podemos controlar os
outros, mas podemos influenciá-los.» Não concorda? E a aceitação é apenas o primeiro
passo no processo de influenciar o outro, mesmo que se trate de uma doença
aparentemente incurável.
Mas, como influenciar os outros de forma eficaz? A psicologia diz-nos que somos
seres de relação e que este é o grande desafio da criatividade, no contexto dos nossos
relacionamentos. No que diz respeito ao contexto de uma doença, tenho para mim que
não podemos criar uma «resposta influente» (neste caso, uma resposta de cura) se o
nosso pensamento estiver em negação ou se a nossa a energia estiver retida num estado
de resistência ao fenómeno que se está a passar no nosso corpo.
Pare, ouça e sinta, é isso que nos pede a doença. Quando deslocamos a energia da
resistência para a aceitação, damos início ao processo de resolução de conflitos
internos. Esta mudança permite-nos, acima de tudo, escutar as dinâmicas do nosso
corpo e abrirmo-nos ao outro ou à situação que está latente, para podermos
naturalmente relaxar. Condição sine qua non para que o organismo inicie o processo
natural de cura.
A proposta de trabalho com a Terapia Regressiva parte do pressuposto que dentro
de nós não existem inimigos, mas partes ou facetas nossas que não estão a ser
reconhecidas ou acolhidas na sua essência. E é nesse encontro entre facetas
aparentemente díspares que a hipnose de regressão vai mediar e facilitar a mudança
por meio do suporte natural do nosso corpo, que tende habitualmente para o equilíbrio.
Com a comunicação inconsciente estabelecida, começa-se a abrir uma porta ao Curador
Interno (tipo Propriedades Emergentes), que nos permite não só reaprender a confiar

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na nossa sabedoria interior e dar-lhe espaço, mas também acolher as coisas que surgem
no nosso corpo, sem querer prevê-las, controlá-las ou coisificá-las.
A facilitação natural da compreensão positiva da síndrome/do problema e do
respetivo processo de mudança ajuda a pessoa a confiar no processo terapêutico, já que
revela uma dinâmica interna que se quer fazer ouvir e a vida psíquica que lhe é inerente.

NADA TE DEIXA CEGO, EXCETO OS TEUS PENSAMENTOS. NADA TE LIMITA, EXCETO OS TEUS
MEDOS; E NADA TE CONTROLA, EXCETO AS TUAS CRENÇAS.
MARIANNE WILLIAMSON

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TERAPIA DE REGRESSÃO & TEORIA DO CAMPO QUÂNTICO

De que matéria é feita a consciência? De que substância é feita a vida? Por outras
palavras, o que é, na verdade, a vida? Já alguma vez pensou nisso? Teoricamente, somos
feitos da mesma substância básica que compõe a flor mais bela, o cérebro mais
inteligente ou um simples calhau — quer dizer, os átomos são os tijolos básicos da
matéria e tudo é feito de átomos. Mas, reflita comigo, onde é que está a vida, no calhau?
E a flor, será que ela tem consciência de existir? Estas e outras questões sempre me
intrigaram e desde cedo que procuro respostas. A minha busca levou-me à religião, à
metafísica, à filosofia, às neurociências e ao regresso a mim mesmo. Ao encontrar-me
com a hipnose, fiz a descoberta mais importante da minha vida. Foi nos misteriosos e
simples sentimentos que se desenrolam na nossa mente que encontrei a essência da
vida. Tenho para mim que a consciência de existirmos assenta em sentimentos e
emoções que dão significado à nossa vida. Considero o nosso cérebro o mecanismo mais
complexo da humanidade, mas sabemos que o cérebro por si só não fala, não ouve, não
tem a capacidade de discernir o que é uma flor, uma casa ou uma montanha.

O cérebro é como uma «caixa negra», e a Natureza procurou assegurar-se de que


estaria bem resguardado, já que ele está bem acomodado, sob múltiplas camadas de
osso, protegido por três tipos meninges e imerso num meio aquoso chamado líquido
cefalorraquidiano, que lhe assegura uma estabilidade e proteção ímpares. O que torna
este extraordinário computador biológico uma máquina fantástica de criar é a
experiência subjetiva traduzida nas emoções e nos sentimentos. Mas a experiência
subjetiva vai bem mais além. Para termos consciência de que existimos, não precisamos
apenas de um cérebro — precisamos também de uma mente em plenas condições para
descrever tudo o que nos rodeia e que vamos aprendendo ao longo das nossas vidas.
Sabemos que a experiência subjetiva é encarnada, ou seja, emerge de forma
aparentemente espontânea, mas depende do funcionamento de um organismo pulsátil
e vivo — o corpo humano —, naturalmente dotado de um recurso muito especial — a

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significação por meio da linguagem humana. Em acréscimo, a experiência subjetiva


também pode ser descrita como cultural e histórica, no sentido em que ela é fabricada
de acordo com as experiências passadas e os contextos sociais e culturais expressos por
meio de descrições subjetivas. Contudo, a questão que sempre me intrigou foi: Será a
principal fonte subjetiva da nossa aprendizagem realmente o meio ambiente em que
vivemos? Ou não poderá essa fonte ser o conjunto de memórias ancestrais que
trazemos connosco e que se perdem nas brumas dos tempos? Não poderemos nós
trazer no nosso interior uma espécie de memória intemporal — a que a Psicologia
chama psi e a que os filósofos de espírito e a espiritualidade chamam Alma?
Esta questão tem intrigado todos os pensadores, ao longo da história humana, e as
discussões acerca da biologia dos sentimentos, das emoções, da identidade pessoal, da
subjetividade humana e, acima de tudo, da existência da Alma, parecem não ter fim.
Sobretudo, do ponto de vista neurológico ou neurocientífico, procura-se uma prova
material mensurável da possibilidade da sua existência no corpo humano. Desde os seus
primórdios, que a ciência e a medicina buscam revelar os segredos da suposta
interioridade do corpo humano, não parando de desenvolver e refinar mecanismos e
meios tecnológicos para desvendar esse pretenso e insofismável segredo interior. Mas
tenho para mim que não há cérebro, molécula, neurotransmissor ou sinapse, por mais
ínfima que seja, que nos possa revelar ou, sequer, dar pistas sobre aquilo que se tem
configurado como «a Alma humana».

Por isso, precisamos de analisar as contribuições das ciências médicas, fisiológicas e


metafísicas as contribuições da Neurologia e das neurociências no campo das ciências
psis e, porque não, da Física Quântica, na sua tentativa de compreender a mente
humana. Precisamos de entender em que medida é que a Psicologia, a Psicanálise, a
espiritualidade e a mecânica quântica e outras definições poderão contribuir para
descrever e caracterizar essa nossa interioridade a que chamamos Alma.
Nesse sentido, na tentativa de nos aproximarmos das ciências exatas, em busca de
uma explicação para o objetivo do trabalho de regressão, a nossa tarefa será, desde
logo, analisar as novas narrativas que a mecânica quântica propõe para a formação da
realidade, através da consciência da mente humana. Em seguida, incumbe-nos apontar
estratégias e possíveis descrições para o tratamento de memórias e experiências
ancestrais e vidas subjetivas, que formam a identidade de cada um de nós e denunciam
a existência e a função da «Alma».
Ora, o materialismo, a convicção que os cientistas têm de que tudo se resume a
energia e matéria, não explica uma coisa imaterial como a consciência. Como pode um
cérebro feito de matéria orgânica gerar algo tão complexo e rico como a consciência?
Será, na realidade, a consciência uma «propriedade emergente» do funcionamento
neuroquímico deste incrível mecanismo quântico, que é o cérebro humano? Essa é a
questão essencial e para a qual ninguém parece ter encontrado uma explicação
razoável. É um facto que, atualmente, sabemos coisas incríveis, como a origem da

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matéria, a forma como o Universo começou, as leis da física e daí por diante, mas
continuamos a ignorar o que se passa verdadeiramente no nosso cérebro. O cérebro
humano é o objeto mais complexo que alguma vez encontrámos no Universo e o último
grande enigma da Ciência. Ou seja, unido por uma estrutura de superfície chamada
córtex, numa amálgama gelatinosa que pesa apenas um quilo e meio, o cérebro divide-
se em dois hemisférios e quatro sectores, contendo milhares de milhões de neurónios e
que processa triliões de sinapses por minuto. Vale a pena perguntar, como poderão
estas células cerebrais, os neurónios, cada uma delas isoladamente incapaz de gerar um
pensamento, produzir coisas tão fantásticas, como a imaginação, os sonhos, os
sentimentos de amor e amizade, os ideais de beleza, justiça e liberdade e a noção do eu
interior? Como poderá ser isso possível? Tenho para mim que tem de existir um espírito
ou consciência que os liga a algo mais complexo e maior do que qualquer outra coisa
com que alguém possa alguma vez ter sonhado.

A Física clássica na descrição da consciência

Como aprendemos na escola, o determinismo da Física clássica lida com o mundo real e
o macrocosmo; simplificando, tenta explicar o funcionamento do mundo maior ou real.
A mecânica de Newton e as teorias da relatividade de Einstein, por exemplo, tentam
determinar o funcionamento mecânico do que nos rodeia. Isto é, conhecendo as leis da
Física clássica e sabendo qual é a posição e a velocidade de um asteroide, podemos
determinar onde ele estará daqui a cem anos ou onde esteve há duzentos anos. Um
asteroide não vira à esquerda ou à direita porque lhe apetece, mas por necessidade. As
leis da Física clássica a isso obrigam. Ou seja, o comportamento de todos os objetos no
macrocosmo é determinista. Mas o que é que acontece no mundo micro, ou seja, no
microcosmo? Será que nos podemos reger pelas mesmas leis? Parece que não.
Descobriu-se que o mundo microscópico da mecânica quântica, onde se encontram os
átomos e outras partículas subatómicas, se comporta de maneira totalmente diferente.
Por exemplo, os eletrões podem saltar de um estado para o outro e de uma orbital mais
elevada para outra mais baixa, sem que nada os obrigue a isso e sem terem de passar
por um estado ou uma orbital intermédia. Mais do que isso, estão em todos os sítios ao
mesmo tempo e, quando se deslocam do ponto A para o ponto B, percorrem todas as
rotas simultaneamente. Mais incrível ainda, há físicos que admitem, com base em
cálculos e em experiências já efetuadas, que um observador, hoje, pode influenciar o
comportamento de um eletrão ou de um fotão, ontem, o que significa que não só
existem vários futuros possíveis como, até, vários passados possíveis. Ainda mais
estranho é o facto de a matéria não existir como a conhecemos se não for observada,
tendo uma existência meramente potencial, em forma de onda, descrita pela chamada
função de onda que o psi simboliza na equação de Schrodinger. O cúmulo é que a
realidade não só depende da observação, mas também, em última instância, da própria
consciência.

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O paradigma da experiência da Dupla Fenda

A experiência da dupla fenda foi concebida no século XIX, por Thomas Young, e
aperfeiçoada ao longo dos anos. Esta simples experiência pretendia responder a uma
questão que intrigava os pensadores e cientista do passado. Ou seja, durante muitos
anos desconheceu-se a verdadeira natureza da luz. E a pergunta era: em que consistia
exatamente essa radiação eletromagnética? «Seriam partículas?», indagava Isaac
Newton — mais tarde, os fotões. Mas Christiaan Huygens (1629-1695) físico notável,
matemático, astrónomo e horologista holandês, defendia que se tratava de ondas, de
certo modo semelhantes às ondas do mar.
O debate prolongou-se por alguns anos, até que, em 1801, o britânico Thomas Young
concebeu a experiência da dupla fenda e obteve a resposta que outros procuravam. Ou,
pelo menos, uma resposta aceitável para a época. Como decorreu a experiência da
dupla fenda e o que é que ele descobriu? Primeiro, ligou uma fonte de luz diante de um
ecrã branco de deteção por inteiro. Seguidamente, colocou uma cartolina com as duas
fendas (dupla fenda) diante do feixe, de modo que a luz apenas passasse pelas duas
ranhuras, e o padrão no ecrã alterou-se. E, voilá, em vez de o feixe de luz o preencher o
ecrã por inteiro, apareceu em faixas sucessivas, umas de luz, outras de sombra. O padrão
demonstrava que a luz se propagava como ondas, pois, se fosse constituída por
partículas, como defendia Newton, só apareceriam duas faixas no ecrã (duas fendas),
uma que passava por uma fenda e outra que passava pela outra fenda. Mas não era isso
que se verificava na experiência. Young comprovou que não se produziam duas faixas
de luz, uma por cada ranhura, mas cinco. Por que razão é que isso acontecia?
A conclusão parecia óbvia: porque a luz não é constituída por partículas, mas por
ondas. A luz é como a água; se atirarmos uma pedra para dentro de um lago, o impacto
formará uma série de ondas encadeadas, a formar um círculo, certo? Mas, se atirarmos
duas pedras, as ondas desencadeadas interferirão umas nas outras, de tal modo, que
chegarão à margem em faixas sucessivas. O mesmo se passou naquela experiência. Ao
passar pelas duas fendas, a luz forma dois feixes independentes que interferem um no
outro e formam um padrão de faixas sucessivas no ecrã, como as ondas de um lago. Por
outras palavras, se assinalássemos uma fenda como FI e a outra como F2, a luz do
projetor parte do ponto A e atinge a cartolina, mas só passa através das duas fendas,
assinaladas como FI e F2. A partir daí, as ondas da luz que passa por FI interferem com
as ondas da luz que passa por F2, de tal modo que a luz atinge o ecrã com maior
intensidade, não em dois pontos, como aconteceria se estivéssemos a lidar com
partículas, mas em cinco. Ou seja, a luz comporta-se como uma onda.
Na época, a experiência de Young constituiu a demonstração de que Huygens tinha
razão e convenceu a comunidade científica de que estávamos perante ondas, na
constituição da luz. O debate pareceu ficar encerrado.
Acontece que, para explicar as estranhas propriedades da radiação dos corpos
negros, que contrariavam o comportamento previsto na física clássica, em 1900, o físico
alemão Max Planck sugeriu que a energia eletromagnética não era emitida ou absorvida

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de um modo contínuo, mas em pacotes, que se designou de quanta, inaugurando, assim,


inadvertidamente, a teoria quântica, que estuda o mundo microscópico das partículas e
dos átomos. A solução de Planck resolvia o problema da radiação dos corpos negros,
para a qual a Física clássica não tinha solução credível, embora fosse tão estranha e
surreal que só uma pessoa lhe prestou verdadeira atenção: Einstein.
Relutante, o mais famoso cientista do século XX olhou intrigado para a experiência da
dupla fenda e, apesar, das evidências da demonstração feita na experiência, continuou
a crer que a luz era formada por partículas. Dessa forma, Albert Einstein recorreu à ideia
de Planck e, em 1905, aplicou o conceito de quanta à explicação de um outro enigma da
Física: o efeito fotoelétrico. Einstein demonstrou que esse enigma só se resolvia, se se
partisse do princípio de que a luz era constituída por partículas emitidas ou absorvidas
em pacotes, os tais quanta. Mas, ainda assim, a hipótese não era consistente com as
observações de então. Com o aparecimento desta bizarra dualidade onda-partícula e
com o desenvolvimento tecnológico, a experiência da dupla fenda foi sendo
aperfeiçoada para testar o comportamento da luz. Percebendo que a luz também é uma
partícula, o tal fotão, os físicos arranjaram maneira de pôr os projetores a emitir, não
pacotes de vários fotões, mas um fotão de cada vez.
A experiência da dupla fenda evoluiu, passando o feixe de luz a diminuir, até se
apagar por completo. Nessa altura, os cientistas puderam emitir um fotão de cada vez,
observando o que acontecia ao emiti-lo, mais ou menos a cada dois segundos. Um fotão
é tão pequeno, que se torna praticamente invisível ao olho humano, portanto, utilizou-
se um ecrã equipado com um fotomultiplicador que detetava os fotões, um a uma, e
registava a sua chegada, a intervalos de aproximadamente dois segundos. Então, ao
olhar para o ecrã, observaram os pontos a acumularem-se e a formarem um padrão de
cinco faixas — ou seja, o padrão de interferência, típico de onda. «Estranho», pensaram,
«mas, se só emitimos um fotão, porque é que a luz continua a comportar-se como uma
onda?» Se a unidade elementar de luz partiu do projetor como um único fotão, como se
explica que o padrão de interferência fosse típico de onda? Não havia outro fotão para
interferir. Então, e se o fotão se encontrasse em dois lugares ao mesmo tempo? A
comunidade científica ficou boquiaberta; os projetores foram analisados, calibrados e
regulados para só emitir um único fotão de cada vez, mas o padrão no ecrã continuava
a mostrar essa unidade elementar de luz a interferir com outra unidade elementar que
passava pela outra fenda. Mas que outra unidade elementar seria essa? Não havia outro
fotão, porque estavam a emitir só um de cada vez. Seria possível que o fotão de luz
passasse simultaneamente pela fenda FI e pela fenda F2?
A explicação encontrada pelo inglês Paul Dirac, que ganhou o prémio Nobel da Física
juntamente com Schrodinger, é que a unidade elementar de luz interfere consigo
própria, porque passa pelas duas fendas ao mesmo tempo! Não, não é isso que está a
pensar, que o fotão se dividiu em dois. Ele partiu do projetor como um único fotão e é
indivisível. Uma unidade elementar de luz não se parte em duas. Mas, quando passa por
uma fenda, essa unidade elementar interfere consigo própria a passar pela outra fenda.

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Ou seja, não toma o caminho A ou o caminho B. Assumindo o comportamento de onda,


a unidade elementar de luz que partiu do projetor como um único fotão indivisível toma
o caminho A e o caminho B ao mesmo tempo. Esta bizarria quântica contraria toda a
lógica, mas era isso que estava a acontecer na experiência das duas fendas. O famoso
físico Richard Feynman, preconizou até que o fotão não passa apenas por dois caminhos,
mas «simultaneamente por todos os caminhos possíveis». E atenção, que não estamos
a falar de ficção científica; isto foi postulado pelo famoso laureado pelo Nobel da Física,
o próprio Richard Feynman. Esta suposição chama-se «integral de caminho» e permite
chegar a uma derivação da equação de Schrodinger.
Mais tarde, em 1927, Heisenberg sistematizou a bizarria quântica da dupla fenda, na
altura em que concebeu o princípio da incerteza. Esse princípio estabelece que não é
possível determinar com exatidão e simultaneamente a posição e a velocidade de uma
partícula. Tal impossibilidade não se deve a qualquer dificuldade técnica na medição,
mas a uma característica intrínseca da realidade. Quando determinamos a posição de
uma partícula, a sua velocidade torna-se intrinsecamente indefinida e, quando
determinamos a sua velocidade, a sua posição torna-se ontologicamente indefinida.
Heisenberg insistiu que esta incerteza sobre a posição e a velocidade exata das
partículas não resulta das nossas limitações de observação, mas descreve a realidade
como ela é de facto.
No fundo, a experiência das duas fendas mostra a dualidade descrita pelo princípio
da incerteza. Quando medimos as fendas, determinamos com grande rigor a posição de
um eletrão, mas, nesse caso, o seu movimento, ou seja, a onda, desaparece. Quando
deixamos de medir as fendas, determinamos com rigor o movimento, isto é, a onda,
mas, nesse caso, a posição do eletrão torna-se indeterminada: ele está efetivamente em
muitos sítios ao mesmo tempo. Mais ou menos na mesma altura em que Heisenberg
concebeu a mecânica quântica, E. Schrodinger criou uma equação que aborda a mesma
realidade, mas com uma formulação matemática diferente. Enquanto Heisenberg usou
a mecânica das matrizes, Schrodinger recorreu a uma mecânica ondulatória, embora
depressa se tenha apercebido de que ambas descreviam a mesma realidade. A equação
que Schrodinger concebeu permite calcular a probabilidade de uma onda se tornar
partícula num ponto específico, probabilidade também designada de função de onda.
Como terapeutas psi, importa saber que a equação de Schrodinger é representada pela
letra grega psi e é utilizada para representar a mais estranha característica da realidade:
a «função de onda».
Assim, o psi foi adotado pela Física como símbolo da função de onda — e creio ter
sido talvez a descoberta mais bizarra alguma vez feita pela Ciência. A função de onda
descreve uma característica da matéria ao nível mais elementar, o subatómico, e
permite que um fotão, um eletrão, um átomo ou, até, uma molécula esteja em múltiplos
sítios ao mesmo tempo. Em última instância, a função de onda veio revelar-nos que a
realidade só existe, porque nós a criamos. Tal como a imagem do mar, a lua ou o som
da árvore que cai na floresta e que ninguém ouve, a realidade é psique, está na mente.

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O psi situa-se no centro do problema, no sentido em que simboliza a função de onda, a


misteriosa solução da famosa equação do famoso físico austríaco. A equação de
Schrodinger é a formulação científica mais enigmática que existe, porque, no limite, se
não houvesse ninguém para olhar para as estrelas, elas pura e simplesmente não
existiriam. Em suma, e para concluirmos este capítulo da Física Quântica, as coisas só
existem, porque alguém as observa. E, acredite em mim: isto não é uma metáfora nem
uma ironia. Acredite ou não, por mais estranho que lhe possa parecer, é essa a natureza
mais profunda da realidade que somos capazes de criar.

A consciência cria a nossa realidade?

Por mais estranho que possa parecer, inúmeros estudos feitos ao longo do tempo
comprovam que a decisão consciente de observar o mundo micro altera a realidade
desse microcosmo. Se decidirmos observar indiretamente um eletrão ou um fotão, por
exemplo, através de um vídeo, a realidade existe como uma onda que se espalha pelo
espaço. Porém, se decidirmos observá-lo de outra maneira direta, quer dizer, in loco, a
função de onda quebra-se e, nesse mesmo instante, o eletrão ou fotão torna-se
partícula num único ponto do espaço. E não pensem que a partícula subatómica é onda
e partícula ao mesmo tempo, porque não é isso. A bizarria quântica demonstra
inequivocamente que, quando é onda, ela é apenas onda e, quando é observada
diretamente, ela torna-se partícula e é apenas partícula. A forma que o eletrão vai
realmente assumir depende do tipo de observação que decidimos conscientemente
fazer. Recapitulando, no mundo subatómico tudo o que existe propaga-se como uma
onda, e o colapso dessa onda acontece quando é observado por alguém. Isto quer dizer
que a realidade não existe, até ser observada, e que que a decisão consciente de
observar de uma ou outra maneira altera a natureza intrínseca da realidade.
Neste momento deve estar a pensar que tudo isto parece ficção científica, não é
verdade? Todavia, tudo isto que acabei de referir já foi demonstrado milhares de vezes
em experiências sucessivas, designadamente, a experiência da dupla fenda e respetivas
variantes. Por outras palavras, e por mais bizarro que pareça, é esta a natureza mais
profunda da realidade. O Universo não existe na forma que conhecemos, até ser
observado, e a observação, que remete para a consciência, cria, em parte, a realidade.
Sobre os resultados das experiências não há hoje em dia grandes dúvidas na
comunidade científica. Os cientistas apenas se dividem na avaliação do significado
destes dados, uma vez que muitos se recusam a aceitar que a observação cria
parcialmente a realidade — apenas por razões filosóficas, uma vez que tudo já foi
matematicamente comprovado inúmeras vezes.
Determinista por natureza, Alberto Einstein começou por pensar que a Física
Quântica tinha aspetos absurdos que mostravam a sua incoerência. Mais tarde,
confrontado com os resultados das experiências que apontavam no sentido de a
realidade somente existir após ser observada, acabou por ceder. Apesar disso, porém,

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continuou a acreditar que ainda faltava descobrir mais qualquer coisa que explicasse
deterministicamente este comportamento bizarro do microcosmo, pois não aceitava
que a observação fosse capaz de criar parcialmente a realidade e que o real fosse
intrinsecamente probabilístico. O argumento dele era, de facto, poderoso: «O Universo
não pode ser regido por leis diferentes a nível macroscópico e microscópico. A realidade
ou é determinista ou é probabilística; ou existe independentemente da observação ou
é parcialmente criada pela observação. Não pode é ser uma coisa no macrocosmo e
outra diferente no microcosmo.»
Já agora, seguindo o raciocínio de Einstein, e como refere a física quântica, se um átomo
pode estar em todos os sítios ao mesmo tempo e se cada um de nós é constituído por
átomos que têm esse comportamento, como se explica que não estejamos em todos os
sítios ao mesmo tempo? Como se explica que obedeçamos a leis da Física diferentes das
que regulam os próprios átomos de que somos feitos? Isso não faz sentido! Era essa
precisamente a perplexidade de Einstein e de muitos cientistas da época. Para resolver
o paradoxo, era preciso criar uma teoria de tudo que conciliasse as bizarrias quânticas,
que comprovadamente existem no universo microscópico, com o mundo normal que
vemos ao nosso redor à escala macroscópica.

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INTRODUÇÃO À TERAPIA REGRESSIVA DE VIDAS PASSADAS

TRVP & HIPNOANÁLISE

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PSICOTERAPIA DE REGRESSÃO: COMO TRABALHAR COM TVP

A Terapia de Vidas Passadas é essencialmente uma técnica psicoterapêutica de


abrangência holística, porque olha o ser humano como um todo. É necessário ver o ser
humano como um ser tiónico: físico, emocional e espiritual. O ser humano tem uma
parte física, que é o corpo e todos os órgãos que o compõem, inclusive o cérebro, os
seus comportamentos regem-se por emoções, mas também tem a parte espiritual,
designadamente a alma, para além das energias magnéticas ou também conhecidas
como subtis, que rodeiam todos os seres vivos. Hoje em dia e, com as mais recentes
descobertas científicas, esse campo energético pode ser detetado e, até, fotografado,
nomeadamente pela fotokirlian.
Partindo deste pressuposto Holístico, podemos encarar que corpo físico do ser
humano acaba quando este morre, mas a parte espiritual desse ser, a alma, que é
energia pura, não desaparece, mas eleva-se para uma espécie de «Mundo de Luz»,
também conhecido por algumas filosofias orientais como «Bardo» ou «Limbo», em que
é recebida e reconfortada a nível espiritual. Durante essa sua estadia no «Limbo», tenta
analisar os erros cometidos, para, depois, reencarnar novamente, quantas vezes forem
necessárias para cumprir o seu propósito de vida, atingir a verdadeira perfeição,
alcançar a verdadeira iluminação e juntar-se à Energia Universal, unindo-se à sua Casa
Cósmica. Nessas sucessivas reencarnações, todas as suas experiências traumáticas vão
ficando registadas em diversos níveis desse ser «espiritual». Por conseguinte, nas
sucessivas vidas passadas, os traumas, padrões repetitivos, bloqueios, dores não
ultrapassadas e escórias energéticas, alojam-se nesse ser, impedindo-o de evoluir e
superar a sua experiência.
Na Terapia de Vidas Passadas vamos trabalhar com esses registos energéticos da
consciência, em vários níveis do Ser. Através destas técnicas, o terapeuta deteta,
ressignifica e remove e liberta a energia que esse ser humano está a consumir, tentando
esquecer ou ignorar esses bloqueios ou «feridas psicológicas». Ao tomar consciência

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disso e, através de técnicas de reconstrução psicológica e energética, o paciente liberta-


se do «Padrão Repetitivo» que carrega dentro de si, compreendendo-o sem o julgar e,
mais importante ainda, perdoando as mais diversas situações ou dores, que carregava
de outras experiências passadas. Dessa forma, renasce novamente para a vida,
escolhendo um caminho com coração podendo caminhar para a esquerda ou para a
direita sem perder o equilíbrio ou o rumo.

Paradigma da Terapia de Vidas Passadas

Quando se fala de Hipnose de Regressão, partimos do pressuposto de que «todo o ser


humano no presente é o somatório de várias experiências vividas no passado. Esse
registo que cada ser humano traz impresso em si repercute-se ou manifesta-se de forma
benéfica e/ou patológica na sua vida presente.» (Alberto Lopes).
A hipnose regressiva é feita numa sessão de terapia em que o hipnoterapeuta é o
guia, que conduz a viagem pelos reinos da consciência. É com a Terapia de Vidas
Passados, no entanto, que ela demonstra todo o seu potencial curativo e não só; na
«Regressão» hipnótica reforçada pela sugestão, podemos fazer com que uma pessoa
volte atrás, ao passado, não unicamente à adolescência ou à infância. Devidamente
hipnotizado, o sujeito poderá regredir à vida intrauterina ou mais atrás ainda, a outras
vidas a níveis pré-históricos da própria organização mental.
Num transe hipnótico, há flexibilidade completa na recuperação das recordações que
constituem a nossa história pessoal. Podemos recordar momentos traumatizantes, para
passar a encará-los sob uma nova perspetiva. Podemos reviver momentos excelentes e
reproduzi-los no futuro (os atletas usam este método para alcançar um lugar cimeiro).
Quando se entra em transe, experimenta-se uma mudança de consciência. Nalguns
casos de transe mais profundo, e se sugerido pelo terapeuta, ao regressar ao estado
consciente, muitos pacientes não duvidam de nada do que se passou. Isto deve-se ao
facto de existirem preconceitos que não relacionam a hipnose com um estado elevado
de consciência.

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AS PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DE UM MIND SETTING DE REGRESSÃO

Quando em transe, a consciência humana altera e experimenta mudanças


psicofisiológicas automáticas. Embora, muito raramente, possamos passar por todas as
fases e experiências hipnóticas ao mesmo tempo, aqui fica a referência às características
internas mais comuns a um estado expansivo de consciência através dos diferentes
estágios hipnóticos (transe) e usando as várias técnicas de TRVP para facilitar mudanças.
Nomeadamente, através do uso da visualização criativa, expressão de relatos oníricos e
o uso de hologramas simbólicos, na tentativa de interpretar a problemática ou
disfuncionalidade do paciente como uma metáfora da mente.

I. FIXAÇÃO — Fascínio por um objeto ou pensamento, uma ideia, uma imagem ou uma
sensação, por exemplo, a própria respiração;

II. MUDANÇAS SENSORIAIS — A consciência sensorial altera-se. Se sugerido, os sons são


percebidos diferentes e podem ser mais nítidos ou simples ignorados. As cores
podem parecer mais luminosas ou esbatidas. Os sentimentos e emoções podem ser
mais intensos ou mais fracos;

III. DISTORÇÃO DO TEMPO — Perde-se o contacto com o tempo. Uma hora de transe
pode corresponder a cinco minutos na mente consciente ou vice-versa;

IV. LEVEZA — Sensação de leveza no corpo ou de peso. Podem surgir ideias e imagens,
que aparecem e desaparecem sem se fazer qualquer tipo de esforço;

V. LÓGICA DO TRANSE – Situações que poderiam parecer incomuns ou ilógicas no


estado consciente «fantasia, animais que falam ou figuras históricas» são aceites e
exploradas pela imaginação (visualização criativa);

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VI. VIAGEM NO TEMPO E NO ESPAÇO — Através de imagens oníricas o sujeito em transe


pode ter a perceção de ter viajando no tempo, não só à infância, como também à
vida intrauterina ou mais atrás ainda, a níveis pré-históricos da própria organização
mental. Simbolicamente, a pessoa pode projetar-se para o futuro e envelhecer,
morrer e regressar novamente à vida. Pode coexistir em dois lugares ou em
diferentes épocas, tal como acontece nos sonhos;

VII. AMNÉSIA PARCIAL — É muito provável que a pessoa não se lembre de tudo o que
aconteceu durante o transe (amnésia parcial). Logo após o despertar muitas coisas
podem surgir obscuras, desordenadas e sem muitos detalhes. Contudo o transe
deixa um «efeito residual», a mente continua a processar informação a vários níveis,
e a reevocação e interpretação dos conteúdos oníricos será feita gradualmente,
com o passar do tempo e, até, em sonhos.

VIII. HIPERAMNÉSIA – É muito comum a pessoa passar em transe por uma experiência
de hiperamnésica, isto é, a recordação de memórias da infância, da vida intrauterina
e até a lembrança de sensações de níveis pré-primários da própria organização
mental.

Ou seja, pensemos da seguinte maneira…

Sendo a mente consciente o «filtro» de todas as memórias e experiências, as técnicas


pós-regressivas desenvolvidas e aplicadas nesta abordagem com bastante sucesso
podem ser consideradas como forma de libertação. Por isso, estão cada vez mais a ser
estudadas e utilizadas como instrumentos em psicoterapia, capaz de curar a maioria dos
males do corpo e da Alma. Isto acontece porque, num estado elevado de consciência, a
pessoa pode libertar-se de todos os bloqueios, acedendo a uma dimensão mais elevada,
onde tudo tem lógica e onde nada é impossível, já que pode utilizar os poderosos
mecanismos com que a mente compõe os sonhos para ressignificar experiências e
dramas passados.
Com as modernas técnicas de hipnoterapia em complemento com modelos de
psicoterapia e posteriores abordagens de reestruturação cognitiva abrem-se,
realmente, oportunidades inestimáveis para a compreensão e o controlo da natureza
humana assim como o seu êxito terapêutico. Atualmente, a Psicoterapia com a técnica
Regressiva é vista como um dos poucos métodos eficazes de que dispõe o ser humano
na sua luta incessante contra os males que afligem cada vez mais as sociedades
modernas.

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INTRODUÇÃO E APLICAÇÃO DA HIPNOANÁLISE EM REGRESSÃO

Antes de avançar para os protocolos e guiões terapêuticos, usados na metodologia de


terapia regressiva, vamos conhecer alguns princípios presentes nesta abordagem
psicoterapêutica para dissertar e saber como aplicar cada um deles em diversos
contextos e síndromes psicopatológicos.

I. Estilo próprio do terapeuta

É certo que cada novo terapeuta de regressão encontra o seu estilo próprio da hipnose,
e isso deve ser encorajado. Como alguém disse: «Não precisamos de inventar a roda,
mas de a reinventar continuamente.» O formando poderá aprender, no respetivo
estágio incorporado nesta formação, o que melhor funciona no seu caso, para efetuar
uma transição suave da mente consciente, para a mente profunda/inconsciente e,
depois, para o lar espiritual do supraconsciente. O objetivo será chegar às lembranças
imortais de cada ser intemporal: a alma. O modo como pode incorporar os seus novos
conhecimentos de TRVP na sua prática clínica é algo que toda a gente deve ensaiar por
si próprio, recorrendo, sempre que possível, a novas formações ou grupos de estudo.

II. O ambiente ideal em consultório

É importante criar um cenário aconchegante e envolvente no gabinete, para estimular


uma atmosfera transcendente na mente do seu paciente. Uma terapia de vidas passadas
é considerada uma terapia breve, mas cada sessão pode durar mais de duas horas. Daí,
é importante, nas induções, criar um ambiente sereno, com música calma e celestial a
tocar, iluminado por uma luz suave e quente. Tendo em conta que a temperatura do
corpo baixa em estados de transe, recomendo o uso de uma mantinha fofa e
aconchegante para cobrir o paciente. Se lhe aprouver, existem terapeutas que preferem
a luz de uma vela. A luz quente e dançante da chama da vela permite inicialmente fixar
os olhos nela e talvez propiciar uma conexão espiritual à luz e ao som ambiente. Por

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vezes, há pacientes que relatam que a chama dourada, numa sala escura, representa
para eles um guia para o mundo do espírito. Encorajo essa perceção, enquanto damos
as instruções hipnóticas e traçamos o protocolo de TVP e dos efeitos dos exercícios de
descontração gradual do corpo. É nesta fase que o paciente se acostumará ao tom e à
cadência da nossa voz (rapport de voz), de que falaremos mais à frente.

III. A importância da Anamnese e a Escuta Ativa

Não há duas sessões exatamente iguais, porque cada paciente possui um padrão
energético específico de recuperação das lembranças passadas armazenadas e da sua
história de existência no presente. Além disso, cada consulente possui uma
personalidade própria e idiossincrática, com características singulares e únicas — daí a
importância de uma boa anamnese logo na primeira sessão. Também compete ao
terapeuta assumir uma postura de escuta ativa.
Entendo que chave para se ser um bom terapeuta é saber ouvir. E ouvir é encorajar
o paciente a expressar-se sem constrangimentos e sem sentir, em momento algum,
julgado pelo seu comportamento. Lembre-se de que, muitas vezes, o paciente pode
sentir-se agredido por uma interpretação terapêutica. E, nesse caso, não elabora a
explicação dada, quer dizer, passa a ter um comportamento evitativo, como possível
saída para o seu problema. Logo, podemos utilizar estratégias de comunicação indireta:
fazendo citações, contando metáforas e provérbios, entre outros. Antes de deixarmos o
paciente enredar-se nas suas próprias interpretações, devemos, com base no que
experimentamos em cada sessão, usar as metáforas e sugestões apropriadas. Gosto de
dizer que devemos utilizar metáforas com «a cara do paciente», se possível,
incorporando características subtis da história dele. Muito mais do que técnica, a
anamnese é uma arte, e a escuta ativa é muito útil para criar uma relação empática. Há
um equilíbrio delicado entre ouvir e questionar. Não é fácil ensinar aos alunos a
perceberem quando devem falar e quando devem ouvir, mas isso é de suma importância
na terapia.
No final de uma sessão de regressão, importa fazer o enraizamento de soluções de
mudança. Para isso, devemos aprender a saber ajudar suavemente o paciente a
compreender uma visualização em transe, depois de ele ter passado algum tempo a
analisar aquilo por que passou ou que experienciou. É certo que isso vem com o treino
e com a prática e, no percurso da sua carreira como hipnoterapeuta, este exercício e a
sua criatividade podem fazer com que se torne mais intuitivo.

IV. Relatos oníricos, fabulações, desejos inconscientes ou inventar durante sessão

Não adianta fugir a esta questão. Haverá sempre pacientes que, durante ou após a
sessão de regressão, perguntam: «Eu não estive a inventar coisas durante a sessão de
hipnose?» Começamos por lhe dizer que é uma possibilidade e devolvemos a pergunta,
dizendo: «O que é que você acha? Acredita que esteve mesmo a inventar tudo para
mim?» Com isso o paciente fica confuso e meditativo, e nós explicamos que construir

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uma fantasia sobre o mundo espiritual, em hipnose profunda seria possível, uma vez
que os indivíduos submetidos a um estado de transe profundo são muito criativos, mas
o mais importante é que procuramos a verdade emocional e não a factual, e o mais
importante é que os relatos sejam expressos sem constrangimentos, de forma livre
sobre o que veem e sentem. Seguidamente, convém apelar ao lado mais pragmático do
paciente: «Que objetivo poderia você ter, a inventar histórias a seu respeito? E,
sobretudo, por que havia de me consultar e pagar uma consulta se só pretendia
inventar? Pode, até, enganar-me, mas, se o fizer, na realidade, só estará a enganar-se
a si mesmo.» Ao responder normalmente, desta forma, deixa-o sem argumentos.
Finalmente, reforçamos a ideia de que a verdade emanada de recordações armazenadas
na mente inconsciente é sempre apoiada pela capacidade de discernir e pensar de uma
mente consciente que continua ativa, como observadora. As constantes questões postas
durante o transe e a condução de um hipnoterapeuta estimula o poder de raciocinar do
paciente, porque as duas mentes, consciente e inconsciente, se encontram envolvidas.
Há pacientes que podem sentir-se sobrepujados pelas informações respeitantes à sua
vida espiritual, que lhes chegam a partir do estado supraconsciente, e que estranham
tanto os conteúdos que estão a viver que se recusam a aceitar o que evocam em transe.
Em plena sessão, haverá pacientes que dizem: «Não pode ser. Não acha que estou a
inventar isto tudo?» Existem muitas maneiras de responder a esta pergunta. Eu
pergunto primeiro: «O que é que você acha que está a acontecer?» Depois prossigo,
geralmente, com esta interrogação: «Confia na sua sabedoria interna, permite-se deixar
fluir e ser totalmente aberto comigo, quanto às cenas que vai presenciar e viver,
sabendo que isso será para seu benefício e para o seu mais alto bem?»

V. Ideias feitas ou pré-concebidas sobre evolução espiritual

Alguns dos pacientes que recorrem a uma terapia de regressão, por vezes, dir-lhe-ão
que já foram a psíquicos, astrólogos, curadores, médiuns e outros praticantes
metafísicos que lhes falaram sobre o seu estado evolutivo. Não é incomum alguns
profissionais menos éticos que trabalham nessas áreas ou talvez para agradar os seus
consulentes, incutirem conceitos grandiosos, desfasados de lógica e de elaboração
terapêutica. Por vezes, fazem-no sem qualquer preocupação pelo tratamento
psicológico do paciente e mais com o propósito da insuflação narcísica do seu próprio
ego do que outra coisa. Então, sugerem aos seus consulentes que são guias espirituais,
anjos evoluídos e almas gémeas — entre as muitas coisas de cariz espiritual que
afirmam, dizem aos seus clientes que eles estão a viver a sua última reencarnação e que,
por isso, são seres súper evoluídos.
Penso que é importante nunca denegrir fontes de conhecimento exteriores à nossa
área de proficiência. Mais uma vez relembro que não há verdades absolutas, não é
verdade? No entanto, deparo-me muitas vezes com pacientes que foram influenciados
por informações pouco fidedignas que lhes deram sobre eles próprios e que se vêm a
revelar imprecisas ou contrárias às suas expetativas. Em resultado, às vezes, a terapia

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fica obstruída pela resistência do paciente, que teima em encontrar na terapia o seu
famoso alter-ego. Tal como acontece em todas as áreas, incluindo a hipnose, alguns
praticantes espiritualistas são muito bons, ao passo que outros nem tanto. Há casos em
que as recordações em regressão deixam o paciente triste, porque o fazem perceber
que, afinal, não é a alma evoluída a viver a sua última reencarnação, como lhe tinham
anteriormente sugerido algum profissional mais prolífico, quiçá para insuflação narcísica
do ego.
Em contrapartida, porém, ficará a saber a diferença quando vir o mundo espiritual
com a sua própria mente e descobrirá que pode crescer numa vida singela e humilde.
Sou da opinião de que temos de tratar estas situações com o devido respeito e ajudar o
paciente a lidar com a tristeza e a frustração que advêm da descoberta de outra
realidade evolutiva. Francamente, acho que estas declarações são apenas a expressão
de um desejo inconsciente de pacientes a quem falta uma boa dose de humildade.
Obviamente, não devemos alimentar estas fantasias, contudo, repito, evite chamar
assertivamente o paciente à razão. Devemos ser condescendentes no desiderato de
cada paciente e ajudá-lo a compreender que talvez a experiência de uma vida humilde
e altruísta, vivida no passado, seja o culminar de uma ascensão mais rápida a caminho
da luz. E isso é normalmente conseguido sem perder a relação empática com ele.

VI. Crenças e conflitos religiosos

O pensamento agostiniano diz o seguinte, sobre as religiões: «A religiosidade é o


Homem a ir ao encontro de Deus e a espiritualidade é Deus a ir ao encontro do Homem.»
A mensagem fundamental das principais religiões é o amor e, na verdade, a maioria
possui credos maravilhosos de compaixão, altruísmo, caridade e amor. E, no entanto,
muitas também estão há séculos ancoradas em dogmas institucionais, que não
promovem o pensamento moderno. De certa maneira, estas religiões poderosas
perderam grande parte da essência do contacto espiritual individual com o divino, que
estava na sua origem. O maior problema é que muitas são compostas por linhas
dogmáticas e cumprem rituais castradores, encarando o Homem como agente maléfico,
que está sempre em pecado. É fácil perceber que quem segue este tipo de crenças não
consegue ser feliz; esta ortodoxia religiosa atemoriza as pessoas pelo medo, em vez de
o libertar pelo amor. As pessoas encontram-se perturbadas por essa involução, já que
elas não evoluem. As pessoas evoluídas espiritualmente, mas também com sistemas de
crenças diversos, recorrerão a esta terapia porque procuram um significado maior para
as suas vidas. Estou em crer que as grandes religiões do mundo são demasiado
impessoais para muitas pessoas, que se cansaram de religiões com dogmas castradores,
movidas por interesses e ambições pessoais e/ou políticos. As pessoas já procuram
sobretudo um tipo de espiritualidade diferente, que seja consistente com uma prática
de vida mais tolerante e ecológica e que lhes faça sentido.
Sabemos que a maioria das pessoas que recorre à terapia de regressão, de uma forma
ou de outra, está conectada com a prática da descoberta espiritual. No entanto, uma

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pequena minoria, que nos procura para que as ajudemos a ter acesso às lembranças da
sua alma e à sua vida entre vidas, pode viver um conflito com as suas crenças e
ensinamentos religiosos, pois os mecanismos da hipnose podem chocar com os dogmas
que professam. Outros, talvez possam evidenciar algum ceticismo no que toca a
confiarem-se ao terapeuta para orientar a sua entrada mental no mundo do espírito.
Como podemos desanuviar estas dúvidas?
Nas minhas sessões começo por explicar ao potencial paciente que será benéfico
para ele entrar na sua regressão hipnótica com a mente aberta. Posso até dizer-lhe que,
a despeito daquilo em que acreditam, as suas memórias inconscientes irão,
provavelmente, revelar um lar no mundo espiritual que será consistente com as suas
crenças. Já que o ensinamento básico de qualquer religião é o amor, os relatos de todas
as pessoas que se têm submetido à regressão espiritual são consentâneos com um
deslumbrante mundo de amor puro e absoluto. Logicamente, se, em essência, somos
amor puro, encontrar a fonte ou o lar desse amor puro, só pode ser apanágio de uma
profunda religiosidade. Em última análise, se for mais conveniente para os valores e
crenças do paciente, pode sempre sugerir que os relatos que ele evocou em regressão
poderão ser considerados uma espécie de metáfora terapêutica que apenas tem a
função de apresentar novas soluções e dar as respostas de que ele precisa para poder
aceder a melhores processos de cura.

VII. As generalizações e a idealização do paciente

As generalizações são espontâneas e naturais, mas, em contrapartida, podem ser


contraproducentes, já que temos tendência a fazer juízos de valor e a julgar ou
interpretar o comportamento do outro que não se enquadra num determinado mapa
mental. Se o comportamento do outro não se enquadrar nas nossa regras ou valores
tendemos a generalizar e julgar os outros como diferentes. Tendemos a fazer juízos de
valor a partir das generalizações, o que, por sua vez, revela intolerância para com as
pessoas que não pensam como nós. Frases, como «os homens são todos iguais» ou «os
ciganos são todos delinquentes», são comuns neste tipo de generalizações.
É natural que a pessoa interessada na regressão espiritual verifique que tem ideias
preconcebidas quanto às suas verdades próprias, mas isso não deve toldar a
interpretação que o terapeuta faz das ideias expressas pelos pacientes. Ou seja,
devemos ter naturalmente em conta as suas crenças e valores quanto à sua religiosidade
e/ou espiritualidade. Mas, enquanto terapeutas de vidas passadas, devemos ajudar
harmoniosamente o paciente a ultrapassar a sua rigidez mental, a alcançar tanto a
compreensão como a equanimidade quanto à sua existência, sem impor ou forçar os
nossos valores à medida que os conceitos de intemporalidade vão sendo revelados em
terapia de vidas passadas.
Na realidade, o paciente tem dentro da sua própria mente tudo o que precisa de
saber para crescer espiritualmente. Sempre que possível, devemos deixar que sejam
eles a reconhecer e interpretar as suas próprias lembranças. Quando trabalhamos para

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expor a visão interior que o paciente tem da vida da sua alma, é vital que ele a
compreenda e aceda à sua própria a energia positiva de cura. Não raras vezes, a raça, o
povo ou a religião que escarnecemos no presente têm raízes cármicas connosco em
vidas passadas. Encaminhar o paciente para a descoberta das diferentes vidas, sem o
julgar, para que ele perceba porque é que não gosta de determinadas culturas, torna-se
uma alavanca de mudança. Desta forma também facilitamos o alinhamento da energia
vibratória da alma do paciente com os ritmos de crenças e valores que o guiaram até
aqui, no presente.
Tento explicar aos meus pacientes não só que, em vidas pregressas, talvez tenham
representado muitas culturas e diferentes sistemas filosóficos de crenças, mas também
que vivemos num mundo imperfeito para podermos apreciar a perfeição. Compete-nos
esforçar-nos por melhorar, através da escolha e do livre-arbítrio, e fazer a mudança para
um mundo mais tolerante.

VIII. As partes do Ser: alter-egos consciência e a Alma

Existem duas partes da mente que trabalhamos em hipnose: a mente consciente, que é
mais lógica e racional e que vive no agora; a mente inconsciente, que é muito mais
criadora e intuitiva e que é intemporal; e, ainda, a mente supraconsciente, que abarca
toda a nossa existência e os nossos conhecimentos passados como seres fazedores de
espiritualidade. É o nosso «eu real».
O transe hipnótico Theta, o mais usual para a TVP, é um processo que pretende
acalmar a mente mais racional, não eliminá-la, pois a mente consciente mantém-se
sempre na posição de observadora para aprender. E esse processo pode ser feito através
de estados de consciência livres e expansivos. Pela minha experiência, os pacientes em
estado de alma supraconsciente estão mentalmente a observar e, ao mesmo tempo, a
participar— daí ser preciso ter um certo cuidado para não o deixar interferir
racionalmente no processo.
Essencialmente, temos de entender a interação simultânea da alma imortal de um
paciente com os desejos inconscientes e os processos mentais do seu cérebro humano
condicionado pela sua cultura atual. Estes dois egos podem entrar em conflito pela
integração interrompida. Um terapeuta de TVP pode lidar com esta dualidade da mente
do paciente, usando técnicas específicas, enquanto depura e ajusta fases longas de
imagens mentais para apoiar uma passagem confortável. Para o fazer, o terapeuta deve
seguir permanentemente a pista da viagem mental pela geografia do mundo pregresso
em cada nova sessão.

IX. Dificuldade em aceitar o «eu ancestral»

As motivações, os medos, a imagem de si próprio e as expetativas do seu paciente serão


determinados tanto pelo seu carácter físico, emocional e mental como pelo seu estado
cognitivo e desenvolvimento espiritual. Quer dizer, a subjetividade das suas
experiências é normalmente composta por crenças e valores que lhe moldam a sua

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interpretação e lhe influenciam a atitude perante os conteúdos da sessão. Estes


elementos do temperamento são influenciados por aquilo a que chamamos «os sinais
da alma» quer dizer, a imaginação, o conhecimento, a intuição e a espiritualidade. Em
transe, o paciente estará a comunicar essa informação através do seu corpo mortal atual
e, por vezes, não quer aceitar que, no passado, também cometeu erros. Todos nós já
fomos vítimas e agressores, bons e maus; já cometemos erros e atitudes altruístas. Na
realidade, somos um contínuo — talvez um gigante de luz com muitas experiências.
O paciente que, por uma questão de desejos inconscientes ou para nutrir o seu ego,
esteja à espera de recordar uma vida faustosa ou em que seria uma personalidade
importante e descubra que, afinal, foi um mero camponês, que morreu de forma
miserável, pode ficar confuso e frustrado. Nestes casos, é frequente descobrir que esse
desejo mental de ter realizado feitos importantes, mesmo que em vidas anteriores,
resulta da infelicidade e insatisfação que esses indivíduos sentem em relação à visão
consciente que têm do mundo e das suas vidas. Normalmente, estas pessoas não se
sentem valorizadas ou realizadas no matrimónio. Se procuram a terapia é porque
acabaram por chegar a um ponto em que desejam obter respostas por intermédio de
uma abordagem nova, mas querem levar ao seu grupo familiar e/ou social uma imagem
que possam valorizar.
Nessas circunstâncias, um terapeuta eclético pode ser um bom conselheiro,
reduzindo as expetativas, explicando o conceito filosófico da terapia e, sobretudo,
recomendando leitura adequado sobre o tema (biblioterapia) — existem bons autores,
com vastas obras, que discorrem sobre a filosofia da TVP. À medida que o drama do pós-
vida é explicado e maturado filosoficamente, em várias perspetivas e recorrendo a
outras fontes, o paciente vai desenvolvendo a capacidade de enfrentar a verdade sobre
o seu «eu real» e, desse modo, adquirindo mais maturidade e uma visão transpessoal
do outro lado melhorado.

X. Evocar vários fragmentos das vidas passadas

O senso comum diz que a prática faz a excelência. A prática da Terapia de Vidas Passadas
aumentará muito a sua perícia em regressão às vidas passadas. Efetivamente, após a
primeira experiência em que o paciente entra no «Espaço Entre Vidas», torna-se mais
fácil viajar a outras vidas. Quanto mais o paciente viaja de uma vida para outra, servindo-
se do mundo espiritual como ponte, mais nós o podemos fazer recuar a tempos
imemoriais — até, aos primórdios da Humanidade.
Pode ter de recorrer a técnicas pós-regressivas de descoberta e a técnicas mais
transformadoras, enquanto se movimenta para trás e para diante, entre as vidas
passadas, para dissecar e contextualizar as experiências da alma na vida atual do
paciente e, assim, criar o insight terapêutico. Dessa forma, o paciente resolve o carma e
compreendendo o seu Dharma. Por vezes, tudo depende da recetividade e da evolução
da alma do paciente, que pode variar entre o cenário da vida anterior e cenários do
mundo espiritual.

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A sua tarefa, como facilitador da regressão espiritual, consiste em ajudar o paciente


a gerir as suas visualizações, de forma a que estas enfoquem todas as informações. Se
conseguirem identificar as suas afinidades e compreender realmente a sua alma e o seu
propósito na vida atual, os pacientes sairão da sessão mais confiantes. Como terapeuta
de TVP, esse esforço pode ser árduo e requer entrega, tempo, perícia e uma
sensibilidade muito especial.

XI. Promover o estado hipnótico Theta

Aprendemos várias técnicas hipnóticas para induzir o transe e, embora recomende a


indução ericksoniana no início, penso que devemos, sempre que possível, utilizar
técnicas de aprofundamento inspiradas noutras escolas hipnóticas para evocar transes
mais profundos. Assim, a charneira entre o transe médio e o transe profundo parece ser
o estado ideal. Ao ancorados no estado theta, adquirimos uma perspetiva das nossas
origens, de todas as nossas vidas passadas, da vida entre vidas e dos seres espirituais
que nos ajudaram a progredir na escola da vida.
A experiência de uma regressão no estado theta é sublime. Não obstante, no estado
theta, é normal haver oscilações de transe. O hipnoterapeuta de TVP, ao conduzir
cuidadosamente os pacientes através dos estados mais profundos de hipnose, vai
descobrir que algumas pessoas necessitam de mais profundidade em determinados
níveis do que outras. O importante é não ultrapassar o paciente nem ficar muito atrás
dele.
Não existem fórmulas pré-estabelecidas para a recetividade hipnótica dos pacientes.
Certas pessoas precisarão de mergulhar mais fundo do que outras, para adquirirem
informações sobre as suas vidas passadas e o mundo espiritual. Os efeitos subtis das
diferentes fases da hipnose variam entre os pacientes, mas a magia da sua
transformação é sublime.

XII. O rapport hipnótico em Regressão

Numa terapia de regressão espiritual é especialmente importante, nas primeiras duas


sessões, que o terapeuta estabeleça um grau elevado de confiança com o seu paciente,
enquanto o informa sobre a maneira como conceptualiza a hipnose, os estados
expansivos de transe e a viagem regressiva a vidas passadas.
Mais uma vez, vou pedir emprestada esta fabulosa frase de Jung: «Conheça todas as
teorias, domine todas as técnicas, mas ao tocar numa alma humana, seja apenas outra
alma humana.» Enquanto o paciente em transe está a observar o seu percurso na
estrada da vida, o conhecimento e a complacência do seu eu superior, os guias
espirituais dele estarão certamente a analisar os seus conhecimentos, a sua confiança,
a sua sensibilidade e o seu grau de proteção. E, se merecer, irão seguramente ajudar-
nos com conselhos e intuições notavelmente espirituais.

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XIII. Escolha da melhor técnica a usar

Normalmente, a escolha de uma indução hipnótica rápida ou lenta e a utilização de uma


abordagem ericksoniana ou uma mais clássica depende da avaliação dos testes de
hipnosensibilidade e da recetividade do paciente. Tipicamente, as induções rápidas e
mais assertivas funcionam bem em pacientes mais condescendentes e sugestionáveis.
Contudo, os pacientes muito hiperativos, racionais, ansiosos e que têm dificuldade em
relaxar precisam de uma indução mais ericksoniana e, até, de confusão mental.
A indução ericksoniana funciona bem tanto com pessoas que tenham uma postura
demasiado racional, inflexível e analítica, que resistam sempre a ser controladas, como
com pacientes que reajam bem a uma abordagem mais suave. Devemos perguntar se
as pessoas já alguma vez estiveram sob hipnose, antes de nos consultarem. Caso tenham
estado, devemos apurar que método foi usado e se acharam a experiência foi agradável,
para, desse modo, aplicarmos a mesma metodologia hipnótica.

XIV. A profundidade de transe ideal

Por esta altura, já deve saber que a incapacidade de responder apropriadamente às


perguntas na fase da evocação da infância pode ser um primeiro sinal claro de que o
paciente não tem capacidade para alcançar a profundidade de transe apropriada, a
despeito dos testes de hipnose prévios e do desempenho até ao momento. Por exemplo,
se perguntar a um paciente qual era o seu brinquedo preferido quando ele tinha 12 anos
e ele me responder, «deixe-me pensar… Não me consigo recordar se tinha alguma coisa
com que gostasse de brincar na infância», fico a saber que ele está a racionalizar. Na
realidade, está a servir-se da sua memória consciente para tentar evocar informações
do passado, em vez da memória inconsciente. Pois a memória inconsciente dá uma
resposta pronta, sem precisar de pensar para relatar a cena e com pormenores
impressionantes de que a própria pessoa já se tinha esquecido.

XV. Despertar o melhor de cada um

Nem tudo o que enfrenta pode ser modificado, mas nada pode ser
modificado até que seja enfrentado. - Anónimo

Olhemos para além destas simples palavras e saibamos merecê-las. Acredito que
toda a vida — qualquer e por mais insignificante que seja — tem sempre um sentido
maior. Acredito que nascemos por alguma razão especial, que todos somos especiais e
que não ninguém é mais especial do que os outros, porque o Universo não comete erros.
Não somos negros, brancos, amarelos ou vermelhos. Se calhar, somos seres de luz
condensados em formas humanas para poder experienciar a eternidade.
Como futuro psicoterapeuta de regressão a vidas passadas, que utiliza o poder de
uma técnica chamada hipnose de regressão, é agora abençoado com um novo e
poderoso meio de intervenção terapêutica. Se for capaz de ajudar as pessoas a verem a

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centelha de divindade que têm dentro delas e de promover a autodescoberta de cada


paciente, o futuro hipnoterapeuta terá dado um contributo real para o esclarecimento
final da nossa Humanidade. Quando olha para a luz, ela também olha para si e, se gostar
do que vê, virá em nosso auxílio, inspirando e abençoando-nos com os seus poderosos
efeitos de cura. Saibamos merecê-la com humildade e inspiração espiritual. Penso que
todos caminhamos na mesma direção, talvez a velocidades diferentes, mas, no futuro,
todos estaremos presentes num regresso à Casa Cósmica.

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FENÓMENOS EMERGENTES NA TERAPIA REGRESSIVA

I. O FENÓMENO DE AB-REAÇÃO NA HIPNOSE DE REGRESSÃO

A «ab-reação» é um termo adotado da Psicanálise que, grosso modo, significa que o


paciente está a «reviver» no presente, em toda a sua plenitude, um fragmento intenso
do seu passado. Neste caso, em transe hipnótico. Importa perceber que é comum
verificar-se uma ab-reação durante o processo regressivo. O reviver de um evento
emocionalmente traumático, e que estava encapsulado na mente do paciente, pode
implicar a libertação intensa das emoções que ficaram retidas e reprimidas desde o
imprint da experiência traumática na memória no cérebro. Por vezes, quando o
hipnoterapeuta perceciona na anamnese a possibilidade do aparecimento de memórias
intensas e passíveis de fomentar uma ab-reação mais avassaladora é fundamental fazer
antes algumas sessões de reforço e de libertação de ego com técnicas apropriadas, por
três razões fundamentais:
a. Por vezes, a catarse de uma ab-reação pode ser muito intensa, pelo que o
hipnoterapeuta deve estar preparado, dominar as técnicas adequadas de
dissociação (visão de pássaro, proteção de bolha de luz) e/ou estar munido de
vocabulário ou um texto adequado de ajuda na libertação emocional e que
permita ao consulente compreender e ultrapassar os bloqueios emocionais que
caracterizam aquela experiência traumática;
b. Segundo, o necessário reforço do ego do paciente, que poderá estar fragilizado
(vinculação insegura), logo não possui recursos para lidar com memórias
traumáticas e motivação ou coragem para fazer a desvinculação dos outros
significativos;
c. A terceira razão é devido ao processo de Identificação, no qual uma parte do ego
pode estar vinculado à memória traumática (como um mandato familiar), assim
o libertação emocional e reforço do ego evita retraumatizar o paciente;

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II. A «TRANSFERÊNCIA AFETIVA» NA TERAPIA DE VIDAS PASSADAS

Mais do que noutras abordagens terapêuticas, a hipnose de regressão estabelece


pontes emocionais intensas. O tipo de relação que se estabelece é de entrega ao outro,
ou seja, de entrega ao hipnoterapeuta. Pense nisto: está aqui presente não só a tradução
dos afetos, a exposição emocional enquanto pessoa, mas também uma entrega de alma
ao hipnoterapeuta. A pessoa que abre a alma experimenta mais ou menos isto, que é:
sentir-se único e especial. Aquela relação preferencial e única abre a porta para um
processo de transferência muito intenso que, não raras vezes, e alimentado pelo
hipnoterapeuta, se traduz numa espécie de paixão momentânea. Muitas vezes, por um
mecanismo de idealização que o paciente busca para a sua vida, o hipnoterapeuta
parece-lhe a pessoa perfeita. Se entender aquela relação como preferencial e única, e
os constantes feedbacks e estímulos do hipnoterapeuta o corroborem, o paciente pode
alimentar uma espécie de reciprocidade afetiva que, obviamente, numa relação de
hipnoterapia, sai frustrada. É preciso ter em conta o próprio processo de maturidade do
hipnoterapeuta, que não pode, sob circunstância alguma, alimentar a idealização; não
pode, consciente ou inconscientemente, fomentar nem manipular este tipo de relação
afetiva, que se estabelece por transferência, convencido de que não o está a fazer. De
outra forma, revela insuficiências internas e, nesse caso, o recomendável é que ele
próprio faça a terapia com um colega. Num modelo terapêutico com estas
características, em que se estabelecem relações emocionais tão intensas e em que o
paciente tem medo de ser rejeitado e abandonado, o que é mais comum fazer em caso
de haver transferência do paciente?

Três aspetos importantes a abordar

1) Falar como paciente sobre a relação afetiva que está a surgir. Quer dizer, é
fundamental que este aspeto (o efeito de transferência) seja trazido à terapia,
para ser trabalhado entre paciente e hipnoterapeuta, como um processo
cognitivo. Tendo em conta princípios éticos, maturidade, honestidade e
intelectualidade terapêutica;

2) O processo de transferência é uma problemática que deve ser equacionada na


própria terapia de regressão e comunicada ao próprio para ser trabalhado numa
sessão. Ou seja, deve-se procurar o padrão repetitivo do respetivo sentimento de
dependência do paciente, no passado, para não haver risco de deixar nele um
«quisto somático», já que faz parte do trabalho terapêutico trabalhar essa
necessidade de afetividade. Perceber que os medos primários, como ser
abandonado ou rejeitado, estão muitas vezes presentes num qualquer processo
regressivo e que, em momento algum, devemos fingir que não existe um processo
de idealização por parte do paciente;

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3) Para finalizar, o hipnoterapeuta não pode, em circunstância alguma, servir-se de


um processo de transferência para nutrir o seu narcisismo, alimentar ou inflar o
seu ego. Se assim acontecer, é o próprio terapeuta que está a precisar de ajuda.

III. PORQUE NÃO DEVEM ESTAR FAMILIARES PRESENTES NA TERAPIA DE REGRESSÃO

Esta questão é muito pertinente. Como terapeutas de regressão, é comum


perguntarem-nos: «O meu marido/a minha mulher/o meu irmão/o meu amigo quer
assistir à minha sessão de TRVP. Pode ser?» Alguns trazem, até, um guionista,
gravadores e operadores de câmara para filmar todo o processo. Deve-se desaconselhar
a presença de familiares, por uma série de razões, a saber:

1) A presença do familiar inibe o comportamento do paciente na sessão, que procura


ter um comportamento «socialmente mais correto» e aceitável perante os outros
significativos, como cedo aprendi com a minha prática clínica;
2) Durante a regressão psicoespiritual, ciente da presença de uma terceira pessoa na
sala, a mente consciente não está isenta por isso não se abstrai o suficiente, e torna-
se mais difícil receber ajuda das presenças espirituais;
3) A privacidade consiste no direito que o paciente tem de revelar ou de ocultar os
conteúdos traumáticos. Muitas vezes, o familiar presente contribui para esses
traumas, mesmo que não se dê conta, e o paciente da hipnose deve estar livre do
fardo do julgamento de outras partes durante a intimidade da regressão espiritual;
4) E, finalmente, surgem mais conflitos quando o paciente sabe que há pessoas a
observar e a escutar os seus pensamentos mais íntimos. Isto é particularmente
verdade na presença dos cônjuges.

Embora possam existir mais razões plausíveis, uma é de todo essencial: a


confidencialidade é um ponto fundamental na terapia e deve ser salvaguardada a todo
o custo. Depois de uma sessão, muitos pacientes acabarão por dizer, até mesmo aqueles
que insistiram ter alguém presente na sessão: «Ainda bem que estava sozinho. Vou
partilhar algumas informações, mas não deixaria ninguém ouvir o que aqui foi dito.»

IV. PERTURBAÇÕES OU DELÍRIOS MÍSTICOS?

Independentemente da definição que se possa dar sobre o que é a espiritualidade em


concreto, nesta terapia mais do que nas outras, há o cuidado especial de não alimentar
aspetos delirantes no paciente, para nutrir o seu ego, a fingir-se espiritual. Sabemos que,
na Psicologia, os delírios místicos são as perturbações mais difíceis de erradicar, e
importa ter uma noção clara do que é normal e do que é patológico é fundamental. O
pensamento agostiniano diz mais ou menos isto: «A religiosidade é o Homem a ir ao
encontro de Deus e a espiritualidade é Deus a ir ao encontro do Homem.» Na minha
opinião, o ser humano pode-se esquivar de ser religioso, mas não pode evitar ser
espiritual. As investigações dizem-nos que está no nosso código genético ser espiritual;

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filogeneticamente acreditamos em Deus, seja qual for a forma como cada qual O
conceba. Mas, também acredito que a necessidade de acreditar em algo espiritual e
místico é uma procura pessoal e transcendente de ligação ao sagrado.
Quem tem o dever de crescer espiritualmente e ajudar a crescer não deve apelar ao
caráter mágico ou supersticioso do processo presente na regressão. Numa área tão
profunda e de matriz espiritual, como a da terapia de regressão, como podemos
destrinçar o desabrochar espiritual genuíno da perturbação delirante? O que é o mais
razoável, tendo em conta que muitas coisas são culturais?

Algumas pistas que nos podem orientar na análise dos delírios do consulente:

a) A pessoa que tem um desabrochar espiritual, normalmente, tem um insight,


quer dizer, uma determinada perceção do caráter extraordinário da sua
experiência mística, e desperta dessa epifania com um desenvolvimento e uma
maturidade superiores. Ou seja, um místico espiritual sente que despertou algo
de extraordinário, que lhe permite ser uma pessoa maior e completa, na vida.
Não para se exibir com a sua descoberta, mas para encarar a sua vida e a vida
dos outros de forma madura, como um bem superior. O sinal mais relevante é
que este passa a dar mais valor à vida, a ajudar o próximo e a perceber que o
Universo não nos traz nada que não estejamos preparados para ultrapassar —
que todas as nossas experiências contribuem para o nosso crescimento;
b) Um delirante não tem perceção do insight da sua experiência mística e,
normalmente, apresenta uma atitude regressiva psicótica. Ou seja, começa a
delirar e a sentir-se superior a tudo e a todos. A atitude regressiva psicótica que
daí advém invade e condiciona a sua personalidade, por vezes, considera que
tudo no mundo está errado, menos ele próprio o que condiciona a sua mudança
porque considera que não precisa de mudar. Assim, os delírios passam
influenciar os vários aspetos da sua personalidade incompatibilizando nas
relações sociais e/ou profissionais e invadem até outras áreas pessoais e
funcionais da sua vida.

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METODOLOGIAS AVANÇADAS A USAR DURANTE O TRANSE


REGRESSIVO

I. A IMPORTÂNCIA DA RESPIRAÇÃO

Como hipnoterapeuta, aprendemos que o rapport mais forte que se estabelece com o
paciente é o da respiração. Como terapeuta em regressão espiritual, aprendemos a
abrandar ou acelerar o nosso ritmo respiratório, em linha com o ritmo do próprio
paciente. Por vezes, manipulo a minha respiração durante a sessão, numa tentativa de
expandir a mente a um estado de consciência mais expansivo e intuitivo. É normal, e
prática comum, entre muitos terapeutas, entrar num ligeiro estado de transe induzido,
para estar mais aberto e intuitivo não só às pequenas nuances que possam surgir no
transe do paciente, mas também às forças espirituais que possam estar à nossa volta.

II. A SEMÂNTICA E INFLEXÕES DE VOZ

É de suma importância fazer coincidir a ressonância vibratória da nossa voz com o tom
de voz do paciente, que reflete o seu estado emocional, para nos ligarmos a ele e o
podemos ajudar a entrar no estado de transe apropriado. Como sabemos, um eficiente
facilitador de hipnose modela o tom, o ritmo e a cadência da voz, tendo em conta o
rapport do seu consulente. Habitualmente, o facilitador de hipnose usa mais do que um
tom de voz — um para o estado vígil e outro para o estado hipnótico —, mas, na
regressão, o ideal é usar nuances de voz diferenciadas. Devemos, pois, utilizar a voz
como poderoso instrumento de som, começando a modelar o ritmo e a cadência na
indução e variando uma e outra coisa, ao longo de toda a sessão de regressão. A voz
pode ser modulada durante a sessão de regressão, para ser mais adulta, infantil,
maternal ou paternal, dar diretrizes, aliciar estágios psicológicos e, ao mesmo tempo,
proporcionar ao paciente o ritmo e a intensidade adequados à sua viagem mental no
tempo, pelas brumas das suas memórias.

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A cuidadosa modulação da cadência e da inflexão da voz durante a sessão, na


aplicação de técnicas perspicazes, suaves, encorajadoras e tranquilizantes, assume
maior importância durante uma viagem mental demorada. Mesmo que não saiba
exatamente o que o paciente está a recordar, num dado episódio da sua vida em
regressão, o hipnoterapeuta deve assegurar-lhe de que está empenhado naquele
processo e interessado no que se está a passar. Por exemplo, se o paciente estiver a
recordar um momento intenso na infância, peço-lhe que mo descreva, numa cadência
de voz mais infantil, mostrando-me surpreendido e interessado na experiência, como se
eu próprio fosse uma criança da mesma idade. Por outro lado, se na experiência que
estiver a viver, o consulente precisar de estímulo e aconchego, procuro usar um tom
mais maternal ou, pelo contrário, um tom mais paternal, se ele estiver a necessitar de
um conselho ou estímulo mais assertivo. Importa, sobretudo, que o futuro profissional
perceba que a voz (o tom, o ritmo, a inflexão, a semântica), é a mais preciosa ferramenta
que podemos usar, já que as palavras criam mundos internos. Pessoalmente, faço
sempre uso deste padrão de voz, aplicando adequadamente as pausas, as inflexões, o
tom e o ritmo, para me adequar a cada momento do paciente, tendo, até, em conta a
idade psicológica que ele está a recordar.

III. A MÃO NA TESTA: ÂNCORA DE SEGURANÇA E VISUALIZAÇÃO

Muitas pessoas se questionam sobre a necessidade que eu tenho de colocar a «mão na


testa» do meu paciente. Bom, faço-o por várias razões. Sabemos que é no centro da
testa que está localizado o chamado «terceiro olho», ou a visão interior, assim sendo,
porque não estimulá-lo? Intuitivamente, sinto que o contacto da minha mão se destina
a fazer uma transferência de energia tranquilizadora, para incutir aceitação e confiança
no paciente. Dessa forma, apelo ao aspeto calmo, observador e mais desapegado da sua
mente e, com essa transferência tranquilizadora, recordo-lhe que está tudo bem.

IV.SUGESTÕES, UTILIZANDO O VERBO NO PRESENTE DO INDICATIVO

Importa perceber que o verbo no presente do indicativo funciona como uma poderosa
âncora. Assim sendo, quando o seu paciente estiver a reviver um momento passado,
fale sempre no presente do indicativo, pois isso ajuda a confirmar a realidade da
regressão.

V. A IMPORTÂNCIA DAS PERGUNTAS ABERTAS E DO DISCURSO NO PRESENTE DO INDICATIVO

É essencial que o paciente não seja influenciado em plena regressão. Assim sendo, todas
as perguntas feitas durante uma regressão devem ser do tipo abertas, para evitar que o
hipnoterapeuta contamine a informação. Assegure-se de que as suas perguntas não vão
levar o paciente a construir ou a confabular memórias falsas, de outra forma, pode estar
a influenciá-lo. Veja os exemplos:

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NÍVEL II: Manual de TRVP e Hipnoanálise: numa perspetiva clínica e transpessoal

1) Discurso no presente do indicativo

Muito bem… agora, você tem cinco anos [por exemplo]… e quero que esse(a) menino(a)
de cinco anos olhe à sua volta… e que veja onde é que está agora e me diga o que é que
vê… o que é que percebe agora?

2) Perguntas abertas

• O que é que está a fazer?


• O que é que tem vestido?
• Tem alguém consigo?
• Olhe à sua volta; o que é que está a acontecer?

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PROTOCOLO TERAPÊUTICO NA TERAPIA DE REGRESSÃO E TRVP

COMO SER IMORTAL E DE INTELIGÊNCIA DE LUZ PURA , PERMITA QUE A SUA


CONSCIÊNCIA HUMANA FLUA PARA DENTRO DESSA LUZ QUE É O SEU EU REAL .
MICHAEL NEWTON

Como aprendeu, a terapia de regressão hipnótica é uma técnica que podemos


considerar de orientação psicanalítica e que permite que o paciente explore, de uma
forma segura, as memórias, as experiências e os fragmentos do seu passado, que sejam
relevantes para os dramas que possa a estar a viver no seu presente. Os módulos
seguintes pretendem apresentar ao futuro hipnoterapeuta um «menu» do que fazer na
primeira e nas subsequentes sessões.
O cronograma seguinte é meramente indicativo; como se depreende, numa área tão
profunda e complexa como é a da mente humana, cada caso é um caso. O futuro
hipnoterapeuta de cariz psicoespiritual deve utilizar este cronograma como orientação,
sem se deixar prender pelo modelo apresentado; deve ser sempre eclético e deixar-se
inspirar pelas idiossincrasias do seu paciente. Fique certo de que ele agradecerá.

OS OITO PASSOS A SEGUIR NUMA SESSÃO DE TVP

1.º Passo: Anamnese

Ao abordar o paciente, pergunte: Nome, morada, profissão, estado civil, locais de


preferência (Lugar Seguro: montanha, campo, mar ou outro local do agrado do
paciente), tipo de alergias, patologias, fobias, se já foi hipnotizado/a e com que método,
entre outras…

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Na anamnese, detete o «sentimento base» e o estado somático (o que sente, como


sente, quando sente e de que forma é que isso o/a afeta), importa descobrir uma
emoção emparelhada com a respetiva somatização, para aplicar o método Catártico.

2.º Passo: Preparação para a Hipnose

Testes de hipnosensibilidade: Testes de queda para trás e para a frente, Interrupção de


Padrão, Bloqueio Ocular, Passos Pesados, Catalepsia dos Membros Inferiores e/ou
Superiores, Levitação do Braço, Fixação e outras.

3.º Passo: Aprofundamento da Hipnose

Paciente sentado na poltrona/deitado na marquesa: Levitação do Braço,


aprofundamento da hipnose com imaginação de prado/praia/montanha, etc. Técnica
de Visualização associada a Técnica de Contagem.

4.º Passo: Ancoragem no «Lugar Seguro»

Ancore o paciente na praia/no prado: Estimule os Sistemas Representacionais,


procurando fazer com que o paciente sinta cheiros, sons, sabores, toques, cores, etc.
(ancoragem), e crie o Lugar Seguro.

5.º Passo: Início da Regressão

Facilite a regressão ao passado: Utilize o Túnel do Tempo ou a Ponte Somática e sugira


ao paciente que vá à origem do problema. «Procure ir à origem do seu problema, onde
a dor é mais forte… onde tudo aconteceu com mais intensidade» ou «vá ao momento
em que sentiu isso pela primeira vez…»

6.º Passo: Catarse (purificação — do grego kátharsis)

Dissecar o problema: Faça o seu paciente reviver o problema nos momentos mais
fortes, com maior intensidade, de forma a drenar a energia «cristalizada» naquela
memória antiga. A catarse é a melhor forma de resolver a somatização na segurança do
consultório, drenando a energia associada ao trauma antigo. Assim se consegue fazer
uma eficiente depuração, ajudando o paciente a reviver a morte, a tomar consciência
da sua vida passada e, por fim, a libertar-se do trauma, nomeadamente, dos
sentimentos que levou com ele, ao partir.

7.º Passo: Compreensão (Insights)

Tomada de consciência (Insight Terapêutico e Insight Cármico): O insight é a relação


que o paciente estabelece entre aquilo que aconteceu e as razões comportamentais
que advieram daquela experiência traumática. Assim, numa posição de «Observador
Objetivo», e usando técnicas de dissociação, deve-se levar o paciente a perceber onde
surgiu o problema, para o comparar com os problemas atuais. Depois, levá-lo a observar

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essa memória já passada, de cima, estimulando a sua elevação no Túnel de Luz, para
outro nível mental e/ou nível espiritual, de modo a poder aí fazer uma retrospetiva
dessa(s) vida(s) anterior(es) ou dessa infância. Deve-se fazer o insight de todo o
processo e procurar detetar relações Cármicas.

8.º Passo: Renascimento

O renascimento consiste em levar o paciente a passar novamente pelo nascimento,


dando-lhe sugestões positivas associadas ao problema. Este processo visa trazer o
paciente de volta ao presente, num momento particularmente feliz ou agradável.

TÉCNICAS IMPORTANTES A APLICAR NO PÓS-REGRESSÃO


Nas consultas subsequentes de restruturação cognitiva importa aplicar, segundo as
características do paciente e o desenrolar das sessões, as seguintes ferramentas:

• Técnicas de libertação e reforço do ego: Os Fardos e a Cascata


• Técnicas a Cerca e Vasos Comunicantes
• Técnica Resgate da Criança Interior
• Técnica dos Estados de Ego
• Técnica da Cirurgia Psíquica
• Técnica da Limpeza da Aura

Observação Muito Importante: lembre-se sempre que o transe hipnótico deixa um


efeito residual na mente do consulente, logo o trabalho não acabou no consultório já
que as mudanças e novos insights irão acontecer nas próximas horas e dias. Assim, é
fundamental que antes de finalizar a sessão procurar sempre um momento prazeroso
e de quietude interior (o Lugar Seguro), contado metáforas e evocação de recursos
dando sugestões pós-hipnóticas de mudanças positivas e sugerindo que o clique pode
surgir em consultório, mas a verdadeira mudança acontece em casa e/ou no trabalho e
que perceba as mudanças que porventura poderão acontecer até à próxima sessão.

Observação: Não é necessário seguir a ordem em que as técnicas aqui são


apresentadas, naturalmente cada caso é um caso e a abordagem hipnoterapêutica será
diferente, conforme a patologia, os recursos e personalidade do paciente e o desenrolar
da terapia.

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ANATOMIA DO PROTOCOLO DE TRVP E REGRESSÃO

INFORMAÇÕES RELEVANTES
PRESENTES NUM MIND SETTING DE TRVP

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PROTOCOLO DE ANAMNESE: 1ª SESSÃO EM TRVP

I. A ANAMNESE E HISTÓRIA CLÍNICA DEVEM FAZER-SE LOGO NA PRIMEIRA SESSÃO

a. Normalmente, começa com a entrevista de admissão do paciente e preparação


da história clínica. Deve ser feita uma anamnese rigorosa, tendo em conta a sua
história clínica, o problema e comorbilidade a resolver. Aproveita-se esta sessão
para esclarecer os mitos e receios sobre a hipnose, para explicar o que é e,
sobretudo, o que não é hipnose.
b. É importante que tome notas detalhadas sobre o historial do paciente, incluindo
todos os problemas de saúde do passado e do presente. Se o paciente se recordar
de algo do seu passado que seja pertinente para a sessão, obtenha uma narrativa
consciente da memória a que o paciente possa aceder no estado vígil e tome nota
dos aspetos emocionais presentes no relato.
c. Informar também de que a regressão será uma das muitas técnicas utilizadas
num processo terapêutico de hipnose clínica, mas que pode considerar não ser a
mais apropriada para o paciente, naquele momento, dado o seu historial clínico.
Por vezes, é necessário usar algumas técnicas de libertação emocional e reforço
do ego para que a psique esteja suficientemente segura em avançar em vidas
pregressas. Contudo, explicar que ele poderá vir a fazer regressão mais adiante,
no desenrolar das sessões, após a primeira sessão, isso será avaliado e anunciado
pelo hipnoterapeuta.
d. Anote as constelações familiares/cármicas. É comum os elementos da
envolvência mais próxima do paciente fazerem parte do grupo de almas daquela
pessoa e, muitas vezes, representarem relações cármicas pendentes entre
familiares. É conveniente, no processo da história clínica, elaborar uma lista
datilografada com os nomes próprios e os graus de relacionamento das pessoas
que têm impacto na vida do paciente. É importante incluir nessa lista pais, avós,
tias, tios, irmãos, irmãs, cônjuges, filhos, amantes e amigos mais chegados. A lista
deve ser o mais condensada possível, com apenas as pessoas mais significativas.
Junte uma breve descrição da personalidade de cada uma delas. Por exemplo: «O

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Paulo é o melhor amigo, com sentido de humor, espiritualizado, não faz


julgamentos, aventureiro.»
e. Realidade ou fabulação: nem o hipnoterapeuta nem o paciente devem assumir
perentoriamente que os fragmentos do passado evocados são reais. Sabemos que
as recordações não repetem fielmente o passado; que, por vezes, são um misto
da vida presente, por vezes, desejos inconscientes e memórias ancestrais.
Normalmente, as cenas evocadas emergem do passado com uma
recontextualização do drama presente, o que é altamente terapêutico. Mas o
paciente dá sempre o seu próprio significado emocional às suas recordações,
algumas das quais sofrem influências das suas convicções culturais e/ou religiosas
e representações internas.
f. Regressão por curiosidade: existirão pacientes que lhe dirão especificamente que
só querem fazer regressão por motivos banais e fúteis (por curiosidade ou outros).
Nesse caso, deve informá-los de que a regressão é algo muito profundo e
transformador e que, com todo o respeito, não o faz por mera curiosidade. Neste
caso é de bom tom que trabalhe com o seu paciente para encontrar algum aspeto
na sua vida que necessite de ser trabalhado ou melhorado. Defendo que deveria
haver sempre um motivo implícito para poder usar esta poderosa técnica
(estamos a trabalhar com a alma de um ser intemporal).

II. O CONTRATO TERAPÊUTICO PODE E DEVE SER ESTABELECIDO NA PRIMEIRA SESSÃO

a. Alertar que, numa terapia regressiva, nem sempre se vai a vidas passadas,
sobretudo nas primeiras sessões. É compreensível, a ânsia do paciente em
perceber as razões cármicas das suas maleitas, mas compete ao hipnoterapeuta
reduzir essas expetativas e preparar um discurso coerente de forma a explicar
que a «alma tem uma agenda própria». Explicar, por exemplo, de que a hipnose
de regressão é um processo contínuo e que, por vezes, nas primeiras sessões, é
necessário reforçar o ego fragilizado, ultrapassar resistências e mecanismos de
defesas mentais, para finalmente evocar os fragmentos do passado em
segurança, talvez um pouco mais tarde.
b. Desmistificação das ideias pré-concebidas no que toca ao fenómeno de transe
regressivo, logo na primeira sessão, e ao longo de toda a terapia, o
hipnoterapeuta deve proceder à desmistificação das ideias pré-concebidas do seu
consulente. Sendo assim, começamos por esclarecer devidamente, numa
linguagem entendível, o carácter extraordinário do fenómeno hipnótico. Por
exemplo, dizer que ele não irá ficar inconsciente e que, apesar de estar em transe
hipnótico, se poderá lembrar de tudo o que se passar na sessão.

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III. O COMPROMETIMENTO PARA A MUDANÇA É UMA ESCOLHA DO PACIENTE

a. Compreender e baixar as expetativas manifesta do paciente, compete ao


hipnoterapeuta estar consciente das expetativas do paciente sobre o que
acontece durante a regressão, para clarificar eventuais mal-entendidos. Esta
atitude proativa por parte do terapeuta, antecipando expetativas irrealistas, é de
suma importância para evitar que todo o processo seja boicotado.
b. Importa falar sobre o carácter extraordinário da experiência regressiva, mas
com uma certa dose de realismo em relação ao processo terapêutico, para que o
próprio paciente possa colaborar na terapia. É de suma importância reduzir as
expetativas — geralmente altas — que o paciente possa trazer sobre a vida
passada. Indique-lhe que recordar uma vida passada é só o início de um longo
processo, e que as posteriores técnicas de restruturação cognitivas são basilares
num processo de cura completa.
c. A responsabilidade do paciente em se comprometer no processo de autocura é
parte integrante do sucesso da terapia regressiva. Se é verdade que, nas primeiras
sessões, o paciente não tem recursos cognitivos mínimos para ajudar o terapeuta,
também não é menos verdade que, à medida que avança, a terapia lhe vai
fornecendo novos recursos e soluções. E é claro que o paciente deve ter a sua
cota parte de responsabilidade no processo de mudança. Por exemplo, de início,
e porque o consulente está frágil, diga-lhe que ele irá contribuir com apenas 10%
para o sucesso da terapia, mas, no desenrolar do processo, vá-lhe pedindo mais,
até acima de 50%, consoante ele for ganhando força suficiente para isso.
d. Responsabilizar o paciente para mudança, deve-se apelar ao paciente que ele é
o responsável pela necessária mudança e que tudo depende da sua predisposição
e comprometimento para isso. Assim, e evitando perder o rapport no fim de cada
sessão, é importante transmitir que a terapia é um caminho que se faz, mas que
quem o tem de percorrer é o próprio paciente e que há decisões que ninguém
pode tomar por ele. O terapeuta é uma espécie de «consultor psicológico» e um
agende de mudança, mas a responsabilidade de iniciar a mudança é inteiramente
do paciente.
e. A compreensão do contexto do problema é feita em consultório, mas a mudança
é percebida em casa, explicar que é responsabilidade do paciente fazer pequenas
mudanças e empenhar-se na terapia, fazendo os trabalhos de casa que o
terapeuta lhe for dando. «Há coisas que ninguém pode fazer por si», diga-lhe.
Explique isso mesmo numa linguagem não-verbal, frisando a necessidade de ele ir
fazendo e sedimentando pequenas mudanças e uma reflexão em vários aspetos
da sua vida.
g. Resumindo a primeira sessão: a primeira sessão serve para fazer uma rigorosa
anamnese, a história clínica e algumas ressignificações; ao mesmo tempo, serve
para determinar as dimensões psíquica a serem trabalhadas, explicar em que
consiste uma sessão de terapia regressiva, e preparar o seu paciente para o que

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irá acontecer nas sessões subsequentes. Se porventura ainda dispor de tempo na


sessão de anamnese, poderá proceder a uma sessão de hipnose ligeira, de cerca
de 15 minutos, para determinar o grau de sugestibilidade ao transe e criar o seu
Lugar Seguro.

Observação: se porventura o consulente se mostrar resistente e impaciente, por não


atingir um nível de transe adequado, ou dificuldade em colaborar, é aconselhado
elaborar um plano de sessões práticas de visualização guiada, preparar algum
treino de auto-hipnose, fornecer alguma tarefa de preparação mental, por
exemplo, elaborar uma «Time Life», ouvir um CD de auto-hipnose e agendar uma
sessão com a técnica de heterohipnose.

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GUIÃO DE COMO FAZER UMA ANMNESE EM TRVP

QUE PERGUNTAS DEVE FAZER NA SESSÃO DA ANAMNESE DE REGRESSÃO?


A anamnese é o momento em que se recolhe as informações do estado do consulente,
por isso, deve-se prestar especial atenção logo na primeira sessão. As seguintes
questões devem estar presentes na história biopsicossocial e servem de introdução e
inspiração ao tratamento da depressão.
Observação: identifique o funcionamento de pré-morbilidade do consulente (antes da
síndrome):

a. Qual é a história biopsicossocial do consulente?

✓ Dados do nascimento e da infância;


✓ A família e principais Figuras de Vinculação;
✓ Os grupos de socialização;
✓ Eventos importantes da vida e outros.

b. Quais foram os tratamentos anteriores da síndrome/do problema?

✓ Opinião do médico assistente;


✓ Despiste clínico de algum problema físico;
✓ Intervenções cirúrgicas;
✓ Medicação que toma e os seus efeitos.

c. Que impacto tem a síndrome a nível inter-relacional?

✓ Impacto no matrimónio e na relação com a sexualidade;


✓ Impacto na vida social;
✓ Impacto que a tristeza/frustração trouxe à sua vida.

d. De que forma é que síndrome perturba a vida profissional?

✓ O que é que o problema a/o impede de fazer?

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✓ O que é que o problema a/o obriga a fazer?


✓ Que passatempos e atividades de tempos livres abandonou?
✓ O que tornaria o seu problema pior?
✓ O que tornaria o seu problema melhor?

e. Quais são os ganhos secundários?

Os ganhos secundários que a doença/o problema pode trazer não são logo evidentes,
pelo que deve prestar especial atenção. Por exemplo, para apurar os potenciais
benefícios de o paciente estar pseudodoente, o psicoterapeuta deve perguntar:
«Imagine que conseguia ultrapassar esse problema hoje. Como é que a sua vida
mudaria? O que é que conseguiria fazer que não consegue fazer agora?»

Pergunte sempre

✓ O que é que o problema a/o impede de fazer?


✓ O que é que o problema a/o obriga a fazer?
✓ O que é que tornaria o seu problema pior?
✓ O que é que tornaria o seu problema melhor?

f. Sentimentos versus emoções: a ressignificação.

✓ Descrição dos «sentimentos» relacionados com o problema;


✓ Descrição das «emoções» relacionadas com o problema;
✓ Descrição das «somatizações» relacionadas com o problema;
✓ Descrição do problema traduzido numa «metáfora».

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A ANAMNESE E A DESTRINÇA ENTRE SENTIMENTO E EMOÇÕES

Muitos hipnoterapeutas confundem «sentimentos» com «emoções», o que dificulta a


compreensão e ulterior tratamento psíquico destes. Nunca é demais salientar de que o
conhecimento destas dinâmicas psíquicas permite-nos desenvolver processos de
interpretação de forma a trabalhar o «mundo» interno do inconsciente. A importância
do seu reconhecimento e destrinça, naturalmente permitirá ao psicoterapeuta
selecionar os que deve libertar (disfuncionais) e as que devem manter (funcionais),
como forma de evitar adoecimentos futuros.

Por isso, a catarse emocional no mind-setting hipnoterapêutico é tão importante, já que


exerce uma função libertadora e de drenagem emocional levando à interpretação dos
desejos que porventura foram reprimidos anteriormente.

COMO PODEMOS DESTRINÇAR OS «SENTIMENTOS» DAS «EMOÇÕES»?

Sentir uma emoção é uma coisa complexa e dinâmica e de forma simples consiste em
perceber na mente a avalanche de sensações provenientes do corpo atribuindo-lhes
uma expressão simbólica. Porém saber que temos um sentimento só ocorre depois de
termos construído umas representações de segunda ordem necessárias à consciência
(consciências das sensações que sentiu), mas importa perceber que ambos têm
dinâmicas diferentes para o psiquismo e comportamento humano.

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VAMOS COMPREENDER AS DINÃMICAS ENTRE SENTIMENTOS E EMOÇÕES:

(A visão de: António Damásio - Sentimento de si, (2003); Joseph Le Deux - O Cérebro Emocional (1998);

"Todas as emoções usam o nosso corpo como teatro." (António Damásio)


Todos os profissionais de saúde sabem que a mente, e aqui refiro-me à consciência, tem
poderosos efeitos no nosso corpo. Isto é, tudo aquilo que pensamos ou sonhamos com
muita emoção fica impresso nas nossas células como uma impressão digital e que irá
causar alegria ou sofrimento, naturalmente isso dependendo e muito da perceção
(representação cognitiva) que a pessoa traz da emoção do seu passado, uma vez que
também somos resilientes.

Recordemos estas frase de Freud “As emoções não expressas nunca morrem, elas
temporariamente vão embora, mas voltam mais tarde em forma de doença. – Sigmund
Freud. Isto é, as experiências passadas, PODERÃO RESULTAR NUMA RESPOSTA
EMOCIONAL, OU UMA REPRESENTAÇÃO PSICÓLOGICA DO SUCEDIDO, E A ISSO
CHAMAMOS DE «SENTIMENTO».

• A NEUROANATOMIA DAS EMOÇÕES (EMOÇÕES VERSUS SENTIMENTOS)

Retenha esta frase de Damásio: «as emoções estão ligadas ao corpo enquanto os
sentimentos fazem parte da mente», ou seja, é uma representação psicológica do
sucedido. Mas é realmente importante fazer a destrinça entre o que são EMOÇÕES e
SENTIMENTOS.
1. FALANDO DAS EMOÇÔES: António Damásio, refere que, as emoções são
expressões inconscientes do organismo e são quantificáveis (em as respostas
químicas e neurais) e observáveis", por uma terceira pessoa, por exemplo, na

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pessoa "emocionada: ocorre uma mudança da expressão facial, ritmo e


movimento do corpo, sudorese etc.;
2. FALANDO DOS SENTIMENTOS: são uma resposta cognitiva às emoções, ou seja,
é a representação psicológica que a pessoa dará às emoções que porventura está
a sentir, já que são resultados da perceção dessas reações pela própria pessoa:
isto é, ela "sente" a emoção e irá desenvolver mecanismos de defesa para lidar
com elas;
3. O AVESSO DAS EMOÇÕES E SENTIMENTOS: é o sentimentalismo vulgar, que
«eclode» de forma histriónica e mimetizada nos famintos de emoções tipo fast-
food emocional. Por exemplo, nas telenovelas e nos filmes, nas relações e
discussões histéricas entre casais, nos discursos políticos inflamados e nos
grupos religiosos, que nutrem uma insuflação narcísica do ego. Esta forma de se
expressar confunde «emoções» e «sentimentos» despretensiosos com a
pieguice e a espetacularidade, que na realidade busca anular o nosso
microcosmo psíquico, inibindo as ações criadoras e mobilizadoras envolvidas no
processo de resiliência, negando que a autenticidade emocional seja realmente
nossa.

Ora, neuronatomicamente falando, Damásio e Joseph Le Doux referem de que a


formação das emoções e sentimentos são estabelecidos por sistemas funcionais e
estruturas cerebrais distintas e que funcionam independentes umas das outras. Então
as experiências são estabelecidas na nossa memória, por:

1. Primeiro, há a perceção de um evento ou experiência traumática pelo


organismo, de imediato aciona automaticamente determinados circuitos
subcorticais que provocam alterações no corpo e no próprio cérebro em
resposta à perceção (moléculas químicas e sinais eletroquímicos são acionados),
predispondo o organismo para determinados comportamentos: isso é a
emoção;
2. Segundo, ato continuo, as alterações sofridas pelo corpo terão inevitavelmente
uma representação cognitiva (como bom ou mau, triste ou alegre) e acionam
outros circuitos cerebrais, tornando-se conscientes para a pessoa: isso é o
sentimento.

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Para António Damásio E Joseph LeDoux (1995, 1994/1996, 1999/2000), é realmente


importante perceber a diferença entre emoções e sentimentos. Dizem os dois autores a
respeito: "Sentir uma emoção é uma coisa simples. Consiste em ter imagens mentais
provenientes do corpo… Porém saber que temos um sentimento... só ocorre depois de
termos construído representações de segunda ordem necessárias à consciência" (Pag.
320. Damásio, A. O Sentimento de Si, (2003), Ed. Europa-América)

Quando Damásio, o neurocientista que mais tem estudados os sentimentos e emoções,


se refere às emoções, dizendo: "Todas as emoções usam o corpo como teatro." (p. 72
O Sentimento de Si). O mais óbvio do ser humano seria o de deixar o corpo expressar as
nossas emoções, mas não é assim que sucede. Parece um paradoxo, mas somos seres
pensantes e, por vezes, conseguimos bloquear as nossas emoções, obviamente não por
muito tempo. Um sentimento castrador pode bloquear o acesso às emoções primárias
gerando a síndrome de encapsulamento emocional o que vai gerar graves perturbações.
Recorde novamente este termo: «ENCAPSULAMENTO EMOCIONAL» nada mais é do que
evitação cognitiva afetiva. Vamos então perceber o que são sentimentos e as emoções.

• A HIPNOSE PERMITE A EXPRESSÃO ÓNIRICA DOS CONFLITOS INTERNOS

“A imaginação é como um braço extra, com o qual pode


agarrar coisas que de outra forma não estariam ao teu
alcance.” - Jean-Paul Sartre
A melhor forma de reprogramar o cérebro é através de imagens mentais. Porque a
hipnose permite a expressão onírica dos conflitos internos. Sendo que a nossa
linguagem é simbólica, logo a melhor maneira de reprogramar o cérebro será através de
imagens mentais.

Na hipnose, a área cerebral mais ativada com as PALAVRAS é o Giro do Cíngulo, ele está
ligado especificamente aos processos imagéticos que acontecem com mais acuidade em
hipnose; Sabemos agora que o cérebro possui entre 15 e 18 áreas ligadas a imaginação,
e a representação imagética; existe também um incremento da neuroplasticidade
cerebral, pois em hipnose a capacidade de recuperação do cérebro, e a capacidade de

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conexões entre áreas cerebrais, leva a um incremente da neuroplasticidade neuronal;


(Joseph LeDoux. O Cérebro Emocional. 1998).

Ou seja, as expressões oníricas são a “matéria prima” na aplicação de hipnose. Ora,


devido ao afunilamento da atenção, e uma vez recebida a sugestão hipnótica, o cérebro
não faz nenhum tipo de avaliação sobre se o que está ouvindo é real ou não, e executa
a ação dentro de um contexto adequado;

• PORQUE É QUE PARA O CÉREBRO, IMAGINAR É FAZER?

Sabia que cerca de 50% dos recursos do cérebro é a processar imagens? É verdade e
como diz Richard Bandler: “A maioria dos nossos problemas são imaginários, logo só
temos de criar soluções imaginárias.” – Richard Bandler, co-autor PNL

Pense comigo, não evoluímos para palavras, evoluímos sobretudo para imagens. Por
isso a nossa linguagem é predominantemente simbólica; Embora, sejamos
principalmente animais pensantes, no passado era realmente importante observar os
arredores do terreno para sobreviver, embora os outros sentidos também sejam
importantes, principalmente quando combinados com a visão;

Os nossos cérebros processam imagens muito mais rápido do que texto escrito -
levamos apenas 150ms (milisegundos) para processar uma imagem e, em seguida, mais
100ms para que possamos atribuir um significado; Por outro lado as recordações são
visuais, se neste momento tentar lembrar alguma coisa, com muita probabilidade surge
uma imagem na sua mente, é a forma como funciona a mente – através de expressões
simbólicas; Em condições normais, se ouvir uma informação, alguns dias depois
recordará apenas 10% (média); mas se adicionar alguma imagem a essa informação, a
taxa de lembrança sextuplica e pode chegar até 65%;

• QUAL A DIFERENÇA ENTRE USO DA HIPNOSE E OUTRAS ABORDAGENS


TERAPÊUTICAS?
“A lógica leva-nos de um ponto A ao ponto B. Mas a
imaginação leva-nos a qualquer lugar do universo.” -
Albert Einstein;

A hipnose é uma técnica muito interessantes, hipnose é possível representar


simbolicamente os nossos conflitos internos, ao trabalhar com a expressões oníricas

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podemos trabalhar com os sistemas de memória do corpo e reprogramá-los mais


eficientemente. Porquê, porque o transe hipnótico de regressão permite reabrir uma
janela da plasticidade cerebral, que permite a formação e a adaptação de conexões
cerebrais novas. E quando a neuroplasticidade cerebral é reaberta com a hipnose, os
problemas causados por “falsas conexões” no cérebro, muitas vezes gravadas em
eventos traumáticos da infância, como o medo fóbico, por exemplo, as fobias,
ansiedade, depressão podem ser tratadas rápida e eficazmente; Lembre-se do que diz
Damásio: "Todas as emoções usam o corpo como teatro." A hipnose permite usar o
mind setting hipnótico como teatro, já que transe aumenta a perspicácia mental,
libertando a mente de um conjunto de crenças limitantes e em poucas sessões é capaz
de baixar os níveis de stresse e ansiedade significativamente.
✓ Vamos a um Exemplo de um medo Fóbico:

Por exemplo, uma pessoa que sofre de claustrofobia e com medo de elevadores,
porque lhe disseram que ficou fechado num armário quando era criança, mais tarde e
já adulto responde ao perigo percebido mesmo se a mente lógica souber que está no
quarto ou numa sala que é seguro. O paradoxo é que a pessoa sendo adulta sabe que
racionalmente não devia ter medo, pois ela já não está no armário. Contudo as
sensações de medo, pânico seguidos por taquicardia, terror sudorese são evocados de
imediato.

• PARA ONDE VÃO AS NOSSAS EMOÇÕES QUANDO NÃO CONSEGUIMOS


EXPRESSAR AS NOSSAS DORES?

Como referi anteriormente, transformam-se em ansiedade, noites sem dormir, tristeza,


angústia e até depressão. O que configura uma marca dos transtornos de personalidade.
Por vezes, existem pacientes que não querem aceder às suas emoções primárias e
desenvolvem evitação cognitiva e afetiva. Por isso, fazem de tudo para bloquear
emoções, pensamentos e imagens perturbadoras, ou seja, evitam as suas próprias
memórias, sentimentos negativos evitando olhar fundo dentro de si mesmos.

Também evitam muitos dos comportamentos e situações essenciais ao seu avanço e


transformação. Esse padrão de evitação cognitiva, provavelmente se desenvolve como
resposta instrumental, isto é, mecanismo de defesa aprendida, porque é reforçada pela

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NÍVEL II: Manual de TRVP e Hipnoanálise: numa perspetiva clínica e transpessoal

tentativa de inoculação de sentimentos negativos. Ou seja, como não querem pensar no


que passou, porque é doloroso, faz sofrer e sentir desconfortáveis tentam meter as
emoções para debaixo do tapete. O que é o seu maior erro! Reitero, quando não nos é
permitido expressar a nossa dor as emoções não expressas transformam-se em
ansiedade, noites sem dormir, tristeza, angústia e até depressão.

• A BIOLOGIA DAS MEMÓRIAS TRAUMÁTICAS: SISTEMA AMIGDALINO VS


SISTEMA HIPOCAMPAL (LeDoux, J. 1996, p. 239)
Passar por as experiências sem as compreender, mas sobretudo sem as expressar faz
adoecer. Eventos traumáticos de infância, como abandono ou abuso podem ficar
alojadas como uma memória traumática em diferentes partes do cérebro.

Por outras palavras, sabe-se agora que há mais que uma maneira de armazenar a
memória. Não estamos a falar de uma memória de diferentes acontecimentos, mas de
múltiplas memórias do mesmo evento, isto é, memórias que operam em paralelo e
independentes — como se dois jornalistas com diferentes personalidades estivessem a
tirar notas acerca de uma única história em curso.

Por exemplo, durante uma situação de aprendizagem traumática na infância, as


memórias serão estabelecidas em dois circuitos diferentes da memória:

✓ As memórias inconscientes (emoções) são estabelecidas por


mecanismos de condicionamento do medo que operam por meio de um
sistema baseado nas amígdalas (sistema de luta ou fuga).

✓ As memórias conscientes (sentimentos) são estabelecidas por um


sistema que envolve o hipocampo e áreas corticais relacionadas ao
neocórtex, ao passo que;
Ora, agora sabemos que cada sistema de armazenamento de memória é potencialmente
capaz de recuperar as suas memórias de forma independente e distinta uma da outra.

Esses dois sistemas operam em paralelo e armazenam diferentes tipos de informação


relacionada à perceção da experiência do trauma. Mais tarde, e quando os estímulos
presentes durante o trauma inicial são evocados (processo de associação), cada sistema

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NÍVEL II: Manual de TRVP e Hipnoanálise: numa perspetiva clínica e transpessoal

de armazenamento de memória é potencialmente capaz de recuperar as suas memórias


de forma independente e distinta.

✓ No caso do sistema de armazenamento amigdaliano, a recuperação


resulta na expressão de respostas corporais que preparam para o perigo,
isto é, entra em ação o sistema de luta ou fuga;
✓ No sistema de armazenamento hipocampal, (hipocampo e o neocórtex)
ocorrem lembranças cognitivas conscientes, quer dizer a representação
cognitiva do evento.

Sintetizando estes dois sistemas de armazenamento de memória, a amígdala armazena


a memória emocional, enquanto o hipocampo e o neocórtex armazenam a memória
cognitiva.

Percebe-se que, dessa forma, as respostas emocionais e comportamentais podem


ocorrer sem a participação de sistemas de processamento superior do cérebro, o
cognitivo e racional envolvidos sobretudo no pensamento, no raciocínio e na
consciência.

(Baseado no trabalho de “A Biologia das Memórias Traumáticas, LeDoux, J. (1996, p.


239)

• EXISTEM PACIENTES QUE BLOQUEIAM O CONTATO COM AS SUAS EMOÇÕES

Todas sabemos que as emoções de síndromes negativas, como ansiedade e depressão,


são ativadas por estímulos associados a memórias de infância, através de um processo
de associação, induzindo à evitação dos estímulos a fim de se esquivar das emoções. Ou
seja, a evitação torna-se uma estratégia para enfrentar as emoções negativas habituais
(levando ao encapsulamento emocional, e é extremamente difícil de mudar.

Como geralmente estes pacientes carecem de flexibilidade psicológica, têm muito


menos capacidade de resposta a técnicas cognitivo-comportamentais e com frequência
não passam por mudanças significativas a curto prazo. Em lugar disso, são
psicologicamente rígidos, o que configura uma marca dos transtornos de personalidade
(American Psychiatric Asociation, 1994, p. 633)

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A pergunta que devemos fazer é esta: porque é que esses pacientes tendem a
expressar desesperança em relação a mudança?

O maior problema de pacientes que tem comportamentos de evitamento afetivo, é uma


grande resistência à mudança, ou seja, são predominantemente egossintônicos. Quer
dizer, os padrões autodestrutivos e de sofrimento parecem estar tão integrados na sua
personalidade e em quem são, que não podem imaginar alterá-los é como se uma parte
da sua personalidade fosse anulada. Eles estão muito focados nos seus sentimentos
relacionados com os seus problemas, mas não são capazes de os expressar, para eles os
seus traumas são centrais a seu sentido de identidade (ou seja, servem para chamar a
atenção ou outro ganho secundário), e abrir mão deles pode parecer uma forma de
morte da sua personalidade, a morte de uma parte de si mesmos e do seu sistema de
crenças.

As emoções negativas, como ansiedade e depressão, são ativadas por estímulos


associados a memórias de infância, induzindo à evitação dos estímulos a fim de se
esquivar das emoções. A evitação se torna uma estratégia para enfrentar as emoções
negativas habituais e é extremamente difícil de mudar.

O grande problema do psicoterapeuta é o de que muitos desses pacientes desenvolvem


evitação cognitiva e afetiva. Por isso, fazem de tudo para bloquear pensamentos e
imagens perturbadoras, evitam suas próprias memórias e os seus sentimentos negativos
evitando olhar fundo dentro de si mesmos. Também evitam muitos dos
comportamentos e situações essenciais a seu avanço. Esse padrão de evitação
provavelmente se desenvolve como resposta instrumental, aprendida porque é
reforçada pela redução de sentimentos negativos.

• COMO DEVEMOS GERIR AS EMOÇÕES TRAUMÁTICAS QUE O PACIENTE TRAZ


DA INFÂNCIA?

Os pacientes, por vezes, são fontes não confiáveis. O isolamento social que faz parte do
comportamento da maioria (nomeadamente nos estados depressivos) trata-se do
exemplo de um esquema que costuma se desenvolver posteriormente na infância ou na
adolescência e que pode não refletir as dinâmicas da família nuclear. O hipnoterapeuta

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deve-se aliar aos pacientes com uma relação empática e afetiva, para lutar contra os
esquemas disfuncionais, usando estratégias cognitivas, afetivas, interpessoais e usando
técnicas de reforço e libertação do ego. Quando os pacientes repetem padrões
disfuncionais baseados em seus esquemas disfuncionais, o terapeuta deve-os
confrontar, empaticamente, com as razões para a mudança.

Segundo o pai da Terapia dos Esquemas Young, Klosko, observamos quatro tipos de
experiências no início da vida que estimulam a aquisição de esquemas disfuncionais.
Vejamos quais são estas experiências:

1. Frustração da Necessidades: a primeira delas é uma frustração nociva de


necessidades, ocorrida quando a criança passa por muito poucas experiências
boas e adquire esquemas como privação emocional ou abandono por meio de
deficits no ambiente, no início de sua vida. O ambiente da criança carece de
sensações importantes, como estabilidade, compreensão e amor;

Dimensões a trabalhar: estabelecer vínculos seguros com outros indivíduos, inclui


segurança, estabilidade, cuidado e aceitação.

2. Traumatização ou vitimização: o segundo tipo de experiência de vida remoto


que engendra esquemas é a traumatização ou vitimização. Neste caso, causa-se
um dano à criança ou ela se transforma em vítima e desenvolve esquemas como
desconfiança/abuso, defectividade/vergonha ou vulnerabilidade ao dano;

Dimensões a trabalhar: Liberdade de expressão, Necessidades e emoções válidas.

3. Falta de Autonomia ou Limites Realistas: no terceiro tipo, a criança passa por


uma grande quantidade de experiências boas: os pais lhe proporcionam em
demasia algo que, moderadamente, seria saudável. Com esquemas como
dependência/incompetência ou arrogo/grandiosidade, por exemplo, a criança
raramente é maltratada. Em lugar disso, é tratada com demasiada indulgência.
Não se atende às necessidades emocionais de autonomia ou limites realistas. Os
pais podem estar exageradamente envolvidos na vida da criança, superprotegê-
la ou dar-lhe liberdade e autonomia sem limites;

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Dimensões a trabalhar: trabalhar a espontaneidade e lazer incorporar limites realistas


e autocontrole, aprender a lidar com as frustrações.

4. Internalização ou Identificação Seletiva: finalmente, o quarto tipo de


experiência de vida que origina esquemas é a internalização ou identificação
seletiva com pessoas importantes. A criança identifica-se seletivamente e
internaliza pensamentos, sentimentos, experiências e comportamentos dos
pais.

Dimensões a trabalhar: estabelecer vínculos seguros com outros indivíduos, inclui


segurança, estabilidade, cuidado e aceitação dos grupos secundários. Incorporar
autonomia e independência, competência e sentido de identidade.

(asseado no Manual: Terapia do Esquemas: Zegreffrey Young, Klosko & Weishaar)

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FICHA I: QUESTIONÁRIO DE ANAMNESE E HISTÓRIA CLÍNICA

1. Fale-me do seu problema. De que forma a hipnose o pode ajudar?


R:__________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________
2. Quando é que isso começou? O que estava a acontecer na sua vida, por essa altura?
R:__________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________
3. Quando é que isso (a síndrome) se tornou um problema para si? (Causa fonte vs. causa
desencadeante…)
R:__________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________

4. Como é que as coisas poderiam melhorar para si, neste momento? (Medicação e
situações sociais.)
R:__________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________
5. Como é que as coisas poderiam piorar para si, neste momento?
R:__________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________
6. Se você ficasse curado, o que é que passaria a ser capaz de fazer? [Como é que você
gosta que os seus amigos o chamem? Posso chamá-lo assim?]
R:__________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________
7. [Caro……………….... (nome)], em toda a sua vida [pausa]… Qual foi a pior coisa que
já lhe aconteceu? (Desamparo, abandono, humilhação, outro?)
R:__________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
8. [Caro……………....... (nome)], em toda a sua vida [pausa]… Qual foi a pior coisa que
você já fez? (Culpa, revolta…)
R:__________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
9. [Caro…………………. (nome)], em toda a sua vida [pausa]… Qual foi o maior medo que
você já teve?
R:__________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________
10. [Caro…………………. (nome)], em toda a sua vida [pausa]… Que situação é que o fez
sentir mais raiva? (Transdução de medo ou de terror?)
R:__________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________

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11. [Caro…………………. (nome)], em toda a sua vida [pausa]… Em que situação é que se
sentiu mais envergonhado? (Vergonha ou embaraço, em vez de culpa.)
R:__________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________
12. [Caro…………………. (nome)], já conheceu alguém com o mesmo problema ou com
um problema semelhante ao seu? (Possível modelagem de figuras vinculação.)
R:__________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________
13. [Caro…………………. (nome)], qual foi a coisa melhor que já lhe aconteceu na vida?
(Recursos.)
R:__________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
14. Pense nisto, se eu tivesse uma varinha mágica e pudesse fazer com que um desejo
seu se tornasse realidade, o que é que você mais desejava neste momento? (máximo
3 desejos). Quantos desejos é que eu teria de lhe satisfazer para você ficar bem?
R:__________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________
15. Muito bem, quero fazer-lhe uma pergunta muito importante. Há mais alguma coisa que
você ache que devia saber?
R:__________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________
Questionário baseado no Clinical Guide, Roy Hunter e Bruce Eimer (2012)

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O USO DA PONTE EMOCIONAL NA SESSÃO DE ANAMNESE

Após separar a «emoção» do «sentimento» a regressão através de um sentimento e


uma emoção emparelhados com a somatização (S+E+S) é realmente muito poderosa,
geralmente rápida e intensa. Não obstante a rapidez e eficácia deste método, é
importante que o hipnoterapeuta já esteja familiarizado com a metodologia de
regressão, na medida em que a seu paciente pode, em poucos segundos, começar a
viver um momento traumático com toda a sua intensidade original (ab-reação),
expressando corporalmente e de forma intensa um momento traumático na infância ou
mesmo numa experiência passada.
Autores, como Hans Tendam, que iniciam a regressão pela catarse, advogam o uso
desta abordagem, afirmando que poderá ser uma perda de tempo provocar uma
hipnose através do relaxamento ou levar o paciente ao seu Lugar Seguro. Afirmam que,
com as condições representadas pela sigla S+E+S — Sentimento, Emoção e Somatização
—, estão reunidas as ferramentas para o paciente regredir à causa-fonte sem mais
delongas, dessa forma podendo isentar o paciente ao relaxamento hipnótico.
Esta metodologia pode ser utilizada para encontrar e aliviar a origem de inúmeras
emoções ou diversos sintomas físicos, nomeadamente, psicossomáticos. Não se
esqueça de que erradamente chamamos às «emoções» «sentimentos», sem fazer a
destrinça, porque as sentimos no nosso corpo e não raras vezes as somatizamos,
sobretudo manifestadas não só em problemas dermatológicos (psoríase, urticária
nervosa, lúpus e outras), mas também em frequentes dores de cabeça, costas e de
estômago.

✓ Como proceder para criar uma ponte emocional

Levar o seu consulente a regredir às origens de uma situação pode ser tão simples
como realizar uma indução hipnótica. Para isso, basta pedir-lhe que se concentre
num sentimento e regresse ao momento em que o sentiu pela primeira vez. Mas,
primeiro, devemos perscrutar na história clínica, como ele vive determinado
problema no presente e envolvente psicossocial.

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A ANAMNESE: TRABALHAR COM A TRÍADA EMOCIOANAL: S+E+S

✓ COMO SE… “A METÁFORA MENTE”


✓ DATA DO ÚLTIMO ACONTECIMENTO…

S E

S = SENTIMENTO

E= EMOÇÃO

S= SOMATIZAÇÃO

COMO SE… = Problema traduzido numa metáfora/analogia

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O QUE DEVE PERGUNTAR NA TRÍADA EMOCIOANAL: S+E+S

I. S= Sentimento: A racionalização das emoções, o que o paciente pensa e sente,


relativamente ao seu problema?
Por exemplo, o paciente responde: «Penso que sempre senti uma solidão
permanente na minha vida.»

II. E= Emoção: perguntar, como isso a faz sentir-se? Quais as sensações que sente no
seu corpo?
«Tenho medo de ser abandonado e começo a tremer, por vezes, com vontade de
chorar.»

III. S= Somatização da Emoção: Lembre-se que a usa o corpo como teatro, assim,
perguntar: Como sente fisicamente essa sensação de abandono e vontade de
chorar? Como é que o seu corpo reage a essas emoções?
«Sinto um sufoco, um aperto no peito e uma e falta de ar.»

IV. Como se…= aqui é os itens anteriores expresso numa metáfora. Perguntar: diga-me
essa falta de ar, aperto no peito e sensação de sufoco isso tudo é como se…»
Por exemplo, o paciente responde: «Não sei bem, mas é como se me tivessem
abandonado e preso dentro de um poço. É isso, parece que me imagino num sítio
apertado como um colete de forças. Aliás, quando penso nisso, até sinto um
aperto no peito e falta-me o ar.»

Cá está metáfora da mente: «preso dentro de um poço» ou « apertado como um


colete de forças». Nesta última frase podíamos extrapolar ainda mais. Por exemplo,
podíamos perguntar de que forma é que o paciente sente essa sensação de estar
preso, se sente os braços, as pernas ou o corpo todo preso? Mas o essencial, que é
a ponte emocional, está referenciado, pelo que podemos avançar.

V. Existem enormes vantagens de expressar simbolicamente o problema do paciente


e traduzi-lo numa metáfora: É realmente importante trabalhar o «como se…», pois
este geralmente traduz uma imagem simbólica ou um fragmento do passado e que
tem algo relacionado com a problemática do paciente. Quando questionamos: «O
seu problema, que acabou de traduzir, é “COMO SE…”», rapidamente a mente
simbólica do paciente evoca pistas e dá uma direção metafórica ao problema.
Normalmente, é uma expressão simbólica da mente inconsciente e, por vezes, pode
traduzir um fragmento do passado que vem à superfície trazido pela mente
supraconsciente.

VI. A última vez em que sentiu essas emoções e sentimentos: Finalmente, pedimos ao
paciente para se concentrar bem nos seus sentimentos e emoções do momento
presente, prestando especial atenção às sensações que espoleta no seu corpo.

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Depois, sugerimos para recordar e recuar mentalmente a um passado recente onde


tenha experienciado os referidos sentimentos de uma forma intensa. Quando ele
estiver a reviver emocionalmente a cena, pedimos-lhe que descreva o que está a
acontecer e o que está a sentir. Por esta altura, com autorização prévia, podemos
usar o toque terapêutico. Ou seja, imagine que o paciente lhe tinha referido que
sentia «uma sensação de aperto na garganta, como se alguém o quisesse sufocar»;
podemos colocar a nossa mão ou a mão do paciente no pescoço dele, fazendo uma
ligeira pressão, para ancorar e provocar a respetiva catarse. Emparelhado com o
rapport da respiração acelerada do próprio terapeuta, este método provoca uma
ancoragem muito intensa. Com o uso da ponte emocional deve o profissional de
hipnose estar preparado para uma reação intensa do seu paciente — sobretudo,
para uma ab-reação.

Ponte Emocional: tipo de sugestão usada para regredir em terapia regressiva


Muito bem… está a recordar essas emoções muito bem… agora irei pedir-lhe para
voltar atrás, no tempo… às origens da sua solidão… quando essa sensação de
aperto no pescoço começou… quando ela é mais intensa… mais forte… vou contar
de 1 a 3 e a sua mente saberá quando é que tudo isso aconteceu… e irá voltar à
primeira vez em que se sentiu assim.

Nesta altura, iniciamos uma contagem de um a três. Atenção: esteja preparado com
algumas técnicas de recurso, porque o paciente pode voltar atrás, no tempo, tanto a um
momento da infância ou à vida intrauterina como a um momento significativo numa
vida passada.

Aprender e desfrutar o momento regressivo

Durante cada sessão de terapia, podemos elaborar transições e palavras permissivas,


tais como: «Eu sei que pode ir aprendendo… e pode ir mais e mais profundamente
para dentro de si mesma/o… pode escutar a sua mente inconsciente mais profunda e
sábia… pode descobrir novos caminhos de grande significado para si e novas saídas
para isto tudo o que está a viver… pode ainda assim ir desfrutando e aprendendo mais
e mais ao ouvir esta história ou ao fazer este exercício… já se deu conta de que está a
curar o que precisa de ser curado? Está a aprender e a desfrutar.»

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SEMEADURA E ESTRATÉGIAS PARA A SESSÃO DE REGRESSÃO

QUE INFORMAÇÃO DEVE PRESTAR ANTES DA SESSÃO DE REGRESSÃO PROPRIAMENTE DITA?

a. Aplique a semeadura da técnica que irá usar na sessão: O termo «semeadura»


é uma técnica da abordagem ericksoniana e tende a anteceder qualquer
intervenção terapêutica, dando pista, indicando direções a seguir e instando o
paciente elaborar o seu holograma mental. Normalmente, é aplicada em
linguagem conversacional (usando padrões ericksonianos, citações, parábolas e
metáforas) e tem como principal objetivo estimular a mente inconsciente a
elaborar soluções e novos recursos de mudança.
b. Refira o toque terapêutico: Quando iniciar a sessão de regressão é muito
importante obter o consentimento informado do paciente, antes de usar o
toque terapêutico nas sessões. Convém informar onde o hipnoterapeuta
pretende instalar âncoras cinestésicas durante o transe para, obviamente, evitar
que ferir suscetibilidades. Assim, evita resistência desnecessárias, melhora o
rapport e ajuda o processo terapêutico.
c. A recordação do passado é seletiva, quer dizer, o objetivo principal da memória
é fornecer informação para orientar as nossas ações no presente — já que pode
ser uma simples representação do que aconteceu e incluir uma certa dose de
confabulação. Deve ser referido que esta é a forma que a mente encontrou para
representar o material cognitivo a trabalhar com eficácia terapêutica.
d. Nunca insista com o seu paciente na veracidade das memórias passadas, pois,
em termos terapêuticos, isso não é o mais importante. Convenhamos, a história
contada pode ser fruto de desejos inconscientes, fabulações ou até uma
metáfora da mente profunda (creio que cada narrativa possui um pouco de tudo
isso), permita apenas que o processo terapêutico avance; o mais usual é o seu
paciente lhe referir que aquelas recordações produziram mudanças
significativas na sua vida.

A IMPORTÂNCIA DE USAR INICIALMENTE O PROTOCOLO: REGRESSÃO ESTRUTURADA

a. Como fazer a regressão a momentos traumáticos na infância? Tipicamente, a


segunda sessão deverá ser aplicada um protocolo de investigação e sinalização
das idades a serem trabalhadas em terapia de regressão. Um bom terapeuta de
regressão deve aprender e estar consciente do uso de todas as técnicas usadas
na terapia regressiva, assim como dominar todos os modelos e abordagens
psicoterapêuticas de reestruturação cognitiva abordados neste manual nível II.
Aconselho os seguintes protocolos de Pesquisa Transderivacional, que serão

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NÍVEL II: Manual de TRVP e Hipnoanálise: numa perspetiva clínica e transpessoal

estudados mais minuciosamente um pouco mais à frente, e que, após uma


adequada avaliação da problemática trazida pelo paciente, poderão ser usados:
i. Protocolo Regressão Estruturada;
ii. Protocolo as Psicodinâmicas do Sintoma;
iii. Protocolo a Ponte Emocional.

b. Inicialmente aconselhamos o uso do protocolo Regressão Estruturada: como


futuro profissional de Terapia Regressiva, na fase inicial da sua carreira
aconselhamos a fazer uso da técnica da Regressão Estruturada. Porquê? Por que
a metodologia de investigação regressiva presente nesta técnica de pesquisa é
mais linear, por outro lado apresenta uma sustentação metodológica mais
natural ao processo regressivo, já que permite sistematizar a técnica o «Resgate
Criança Interior» facilitando grandemente o processo de inoculação de emoções
presente em momentos traumáticos da infância do nosso paciente. Nem
sempre se usa inicialmente a técnica Regressão Estruturada, cada caso é um
caso, mas na minha opinião ela é a mais aconselhada enquanto não for um
master em terapia regressiva. No fundo, uma abordagem ponderada, eclética e
flexível é o garante de uma profunda e transformadora sessão de regressão.
c. Respeitar a «agenda» da alma: apesar do uso da técnica Regressão Estruturada
que assinalou uma idade específica, quando damos sugestão ao paciente de
recordar aquele determinado momento da infância assinalado, por vezes, o
paciente regride antes a uma vida passada que tem algo que ver com o seu
drama no presente. Digo muitas vezes: «não se morre de tédio neste tipo de
abordagem psicoterapêutica». Infelizmente, o processo de regressão não é tão
linear como gostaríamos que fosse, e a alma tem a sua agenda própria, que não
se compadece com protocolos ou guiões para nos orientar. Se isso acontecer,
devemos respeitar a «agenda da alma» e usar as técnicas devidas nesta
situação. Contudo recordo de que, nas sessões seguintes, deve o paciente de
passar pelo momento vivido no útero materno e perscrutar os eventos
significativos da sua infância. É imprescindível dissecar o «nascer nesta vida» e
o «morrer na vida pregressa» e, obviamente, é de bom tom contextualizar
através de insights reflexivos no decorrer do tratamento regressivo.
d. O que fazer na presença de um fenómeno de Ab-reação? Como já foi referido
somos terapeutas catárticos, isto é, se verificar uma ab-reação durante o transe,
procure não mostrar nervosismo. Lembre-se de que o seu rapport com o
paciente em transe é muito intenso, e ele observará a sua insegurança, caso
mostre que ficou assustado. Mantenha-se o mais calmo possível e permita que
a dessomatização através de catarse siga o seu rumo normal, já que essas
experiências fazem parte do processo de cura. Recordo-lhe que a mente
inconsciente é protetora e a catarse é a forma que o inconsciente encontrou
para libertar a energia somática, geralmente aprisionada e que provêm de

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traumas antigos. Naturalmente que pode dar sugestões de conforto e segurança


ou utilizar frases e/ou técnicas de dissociação, como por exemplo:
• «Perceba isso à distância.»
• «É normal sentir o que está a sentir.»
• «Veja essa cena do alto, como um pássaro.»

e. Respeitar as opções do paciente: se o seu paciente der sinais de desconforto,


pergunte-lhe se quer continuar, e se ele disser que não, conduza-o de novo ao
seu Lugar Seguro e reforce as suas partes cognitivas. Utilize algumas técnicas de
reforço Do ego fragilizado e procure preparar um «ego auxiliar» (um pai, mãe
ou avó amorosa e significativa na vida da pessoa), para que ele se sinta seguro
e preparado nas sessões subsequentes, para novas investidas ao passado.
f. Preparar Âncoras de Recursos: existem momentos de extrema felicidade no
processo, por isso, nunca parta do pressuposto de que as lágrimas representam
infelicidade ou tristeza, pois podem ser lágrimas de alegria. Procure reforçar
esses sentimentos de alegria como Âncora de Reforço e como alternativa, ao
continuar a terapia regressiva, poderá envolver o seu paciente numa bolha de
luz protetora junto com esses recursos evocados, dissociando-o da ab-reação, e
sugerir que pode «passar por baixo» da experiência e/ou usando a «visão de
pássaro», olhando à distância e dizendo: «E você está seguro nessa bolha
protetora e com todos os seus recursos como pessoa adulta… e pode sentir-se
mais profundamente seguro, calmo e confortável… enquanto a sua mente vai
deslizando, flutuando com toda a segurança para outra cena do seu passado.»
Compete agora ao facilitador fazer uso de âncoras de Segurança e de Recursos,
mantendo-as pressionadas ao passar por cima ou por baixo da ab-reação.

Observação: Mais uma vez, é conveniente nunca regredir um paciente na


primeira sessão, devido à intensidade e imensa quantidade dos conteúdos
emocionais que abordamos numa terapia regressiva.

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INTERVENÇÕES PSICOTERAPÊUTICAS EM REGRESSÃO

TRVP: CRONONAUTAS NO TEMPO

PASSADO PRESENTE FUTURO

A Chave da Alma

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NÍVEL II: Manual de TRVP e Hipnoanálise: numa perspetiva clínica e transpessoal

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NÍVEL II: Manual de TRVP e Hipnoanálise: numa perspetiva clínica e transpessoal

DINÂMICAS DE LINGUAGEM E ESTRATÉGIAS A USAR EM TRVP

I. ANATOMIA DE UMA SESSÃO DE HIPNOSE CLÍNICA DE REGRESSÃO

A mente inconsciente é uma espécie de terreno fértil, onde tudo o que semeamos vai
com certeza germinar. Assim, é absolutamente fascinante poder colaborar com ela no
reencontro com recursos, soluções e possibilidades ilimitadas. Sabemos que o
inconsciente funciona pelo princípio do prazer (Princípio do Condicionamento
Operante), o que significa que procura evitar a dor e experiências desagradáveis,
nomeadamente, reprimindo e disfarçando as lembranças dolorosas e inaceitáveis.
Desse modo, as experiências desagradáveis tendem a surgir na consciência de maneira
protegida, ou seja, simbolizada, como sintomas somatoformes, polaridades e conflitos.
Utilizando, mais uma vez, como referência, a terminologia operante, pelo princípio de
economia, as totalidades conflituantes podem ser representadas por uma parte
simbólica — o que explica o signo-sinal. Percebendo o signo-sinal, simbolicamente
representado pela mente inconsciente, ao falar na sua linguagem simbólica, a pessoa
entrará num estado hipnótico de resposta automática — decerto o seu único recurso
para não sofrer aquela perturbação indesejada.
O uso de linguagem simbólica (analogias, metáforas, etc.) é muito importante, na
medida em que possibilita a utilização do princípio de economia do inconsciente, para
chegar à causa do problema e espoletar os poderosos processos de cura. Na realidade,
tudo vai ocorrer no âmbito do transe hipnótico o que, obviamente, facilita o
processamento de novos recursos e acelera as mudanças.

II. ESTABELECER FRASES E EXPETATIVAS POSITIVAS

Sem uma direção certa, nunca se sabe onde a mente profunda nos poderá levar.
Lembre-se de que a mente inconsciente é muito literal, por isso, tenha cuidado com a
sua linguagem, à medida que orienta e dirige o seu paciente de volta, no tempo. Não
precisa de saber quando ocorreu o evento, mas deve ser o mais específico possível

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quando o definir (procure a E+S, emoção mais somatização). Antes da regressão,


estabeleça um objetivo com o seu consulente e, em seguida, expresse as suas instruções
em conformidade com o pretendido. Durante a anamnese, a indução e o
aprofundamento, deve inserir sugestões que possam facilitar o processo de regressão
ao passado e recordação. Utilizando o transe conversacional, procure memorizar
algumas sugestões passíveis de ajudar nesse desiderato.

Frases e sugestões que facilitam a «viagem mental» em regressão

✓ Eu sei que você conseguirá regressar ao passado, naturalmente, facilmente e


sem qualquer esforço.
✓ Deixe as coisas simplesmente acontecerem.
✓ Confie nas imagens, nas impressões, nos sentimentos, nas memórias e nas
cenas, à medida que se forem desenrolando.
✓ Confie na sua intuição.
✓ Irá confiar no que vem a seguir.
✓ Não tem necessidade de fazer qualquer esforço.
✓ Veja com os seus olhos interiores.
✓ Ouça com os seus ouvidos interiores.
✓ Escute com o seu conhecimento interior.
✓ Não é uma questão de tentar lembrar-se.
✓ Não se esforce, nem sequer para não se esforçar.
✓ Deixe as coisas acontecerem.
✓ Permita que as coisas aconteçam.
✓ Você permanecerá profundamente relaxado e será capaz de me responder
verbalmente.
✓ À medida que formos progredindo, cada passo será cada vez mais profundo.
✓ Quanto mais aprofundar, mais facilmente lhe surgirão as memórias.
✓ Você será conduzido pelo seu sábio interior e outros guias.
✓ Você só pode permitir que venham ao de cima as memórias da zona mais
profunda da sua mente e da sua alma.
✓ Você tem tudo sob controlo e recordar-se-á de tudo aquilo que experienciou.
✓ Depois da sessão, nós teremos tempo para rever e analisar os acontecimentos
mais significativos.
✓ Quanto mais aprofundar, mais fácil será para si visualizar.
✓ Cada vez que eu tocar na sua testa desta maneira [toque suavemente na testa]
você aprofundará o seu transe ainda mais e permitirá que as memórias se
tomem mais vivas.
✓ Confie nas imagens, impressões e memórias, à medida que elas forem
aparecendo.
✓ Permita que as memórias flutuem à superfície.
✓ Permita que as memórias venham ao de cima.

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ANATOMIA DO MIND SETTING EM TERAPIA REGRESSIVA

I. TIPO DE INDUÇÃO HIPNÓTICA A USAR

Use uma indução que sirva o seu cliente e esteja de acordo com ele. Não se esqueça de
envolver o maior número de sentidos e sensações possível (ancoragem de sistemas
representacionais), na elaboração hipnótica. Quando trabalhar com um paciente que
seja predominantemente analítico, faça algo de modo a extrair essas coisas da sua
cabeça. Incentive-o a focalizar a sua atenção nas sensações físicas do corpo e nas
emoções; utilize as técnicas da Confusão Mental, da Respiração e outras. O melhor para
a maior parte da terapia de regressão é um estado médio/profundo de hipnose; o
constante aprofundamento da hipnose, através da sessão, é altamente benéfico.

✓ A importância da Respiração
Como hipnoterapeuta, aprendeu que o rapport mais forte que se estabelece com
o paciente é o da respiração. Como terapeuta em hipnose de regressão, deve
abrandar ou acelerar o seu ritmo respiratório, de acordo com o ritmo da
respiração do paciente. Por vezes, manipulo a minha respiração durante a
sessão, numa tentativa de expandir a mente do paciente a um estado de
consciência mais intuitivo. Tal como referem muitos terapeutas, é normal entrar
num ligeiro estado de transe induzido, para estar mais aberto e intuitivo não só
às pequenas nuances que possam acontecer no transe do paciente, mas também
às forças espirituais que poderão estar à nossa volta.

✓ A semântica, o uso das pausas e a inflexão da voz


É de suma importância fazer coincidir a ressonância vibratória da sua voz com o
tom de voz do paciente, que reflete o seu estado emocional. Dessa forma,
estabelece uma ligação com ele e ajuda-o a entrar no estado de transe
apropriado. O tom e a cadência da nossa voz começam com a indução hipnótica
e continuam como instrumentos sonoros poderosos, ao longo de toda a sessão

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de regressão, proporcionando ao paciente o ritmo e a intensidade adequados.


Cadenciar cuidadosamente o discurso e modular a voz é uma técnica perspicaz,
suave, encorajadora, tranquilizante e extremamente importante nas viagens
mentais demoradas. Mesmo sem saber exatamente o que é que o paciente está
a recordar, num dado episódio da sua vida, em regressão, o terapeuta deve
demonstrar-lhe que está sempre empenhado e interessado no que se está a
passar. Por exemplo, se o meu paciente estiver a recordar um momento intenso
na infância e lhe pedir para me explicar o que se passa, pessoalmente, procuro
mostrar surpresa e interesse na experiência, como se eu próprio fosse uma
criança daquela idade. E faço sempre este exercício modulando a semântica e
inflexão de voz, alterando o tom e o ritmo da mesma, para a adequar á semântica
de idade que o paciente estiver a reviver em transe.

✓ A mão na testa — âncora de segurança e visualização


Muitas pessoas questionam-se sobre a necessidade que eu tenho de colocar a
«mão na testa» do meu paciente. Bom, faço-o por várias razões. Sabemos que é
no centro da testa que se localiza o chamado «terceiro olho», ou a visão interior.
Assim sendo, porque não estimular a visão interna? Intuitivamente, sinto que o
contacto da minha mão se destina a fazer uma transferência de energia
tranquilizadora, para incutir aceitação e confiança no paciente. Dessa forma,
insto ao aspeto calmo, observador e mais desapegado da sua mente e, com essa
transferência tranquilizadora, recordo-lhe que está tudo bem.

✓ A importância das Perguntas Abertas


É essencial que o paciente não seja conduzido em plena regressão. Assim sendo,
todas as perguntas feitas durante uma regressão devem ser do tipo abertas, para
evitar que o hipnoterapeuta contamine a informação. Assegure-se de que as suas
perguntas não possam levar o paciente a construir ou a confabular memórias
falsas — de outra forma, pode estar a induzir.

• O que é que está a fazer?


• O que é que tem vestido?
• Tem alguém ao pé de si?
• Olhe à sua volta que é que está a acontecer?

✓ Sugestões, utilizar o verbo no presente do indicativo


Importa perceber que o verbo no presente do indicativo funciona como uma
poderosa âncora. Assim sendo, quando o seu paciente estiver a reviver um
momento passado, fale sempre no presente do indicativo. Se ele falar no
pretérito, sugira-lhe que fale antes no presente, para ajudar a confirmar a
realidade da regressão.

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Muito bem… agora você tem ____anos… e quero que esse(a) menino(a) de ____
anos … olhe à sua volta … veja onde é que está … e diga-me o que é que vê?.

✓ Âncora de segurança vs. âncora aprofundamento


Já falamos da importância de usar Âncoras de Recursos», assim sendo, durante
a sessão de regressão, naturalmente irão existir momentos mágicos, em que o
cliente será «inundado» de boas sensações e sentimentos — de alegria, euforia,
exultação, confiança, amor e, até, iluminação. Dedique tempo a essas memórias
e sentimentos, emparelhando-os num toque no braço do paciente, crie uma
poderosa âncora de segurança com eles, para que o seu cliente os possa voltar a
sentir e experienciar repetidamente. Quando um paciente recorda uma memória
especialmente boa e tranquilizadora, eu encorajo-o a inspirar e sentir essa
memória em todas as células do seu corpo, dizendo: «Ouça o que ouviu… veja o
que viu… sinta o que sentiu… e perceba como estes sentimentos bons se fazem
presentes!». Pode também aconselhá-lo a trazer esse sentimento consigo,
quando despertar da experiência hipnótica; lembre-se do efeito residual da
hipnose que se perpetua no tempo e, dessa forma, ele poderá voltar a
experienciá-lo sempre que quiser.

II. O APROFUNDAMENTO HIPNÓTICO PARA O TRANSE THETA

É importante aprofundar a indução do cliente no início e durante toda a regressão,


o transe theta é o aconselhável para a terapia regressiva. Acontece que, durante o
diálogo terapêutico, o paciente passar para um estado de transe mais superficial
(emergir para um alfa), pelo simples facto de sentir-se impelido a responder
verbalmente às suas perguntas durante a sessão. Ultrapassamos isso, usando
estratégias de linguagem adequadas, e o cliente com muita facilidade poderá voltar
ao nível de profundidade desejável para um bom trabalho de regressão.
Consequentemente, aconselhamos o aprofundamento contínuo durante toda a
sessão. Fazemos isso, usando sugestões de aprofundamento adequadas com
transições e espelhamentos externos e internos por forma a «isolar o ambiente
terapêutico» dos sons ou elementos parasitas.

Podemos utilizar as seguintes sugestões de espelhamento e aprofundamento

• Pode aprofundar em cada respiração.


• E, à medida que me vai ouvindo, pode ir ainda mais fundo.
• Permita-se ir ainda mais profundamente levando a minha voz consigo.
• Pode ir aprofundando o seu transe cada vez mais, e quaisquer sons presentes na sala só
servirão para aprofundar mais e mais o seu transe.
• A aprofundar ainda mais agora… 3… 2… 1…
• Respire profundamente e a cada respiração aprofunde ainda mais o transe.
• Quanto mais aprofundar o seu estado, naturalmente melhor se sentirá durante o
processo.

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• Quanto melhor se sentir, mais a fundo irá onde tem de ir.


• Cada vez que eu tocar na sua mão ou no seu ombro da seguinte forma (facilitador deve
pressionar a Âncora Recursos), poderá aprofundar ainda mais.

III. O HOLOGRAMA MENTAL O «LUGAR SEGURO» E SUGESTÕES DE VIAJAR NO TEMPO

Quando fizer terapia de regressão, deverá sempre estabelecer algumas imagens de um


lugar mental calmo e tranquilo (campo, praia, montanha e outros), que seja do total
agrado do paciente. Na realidade, trata-se de substituir a ideia de estar no consultório
pela ideia de estar no lugar que mais lhe agrada. Essa construção mental iremos chamar
de «Lugar Seguro» e que será usado antes de qualquer tratamento ou intervenção
hipnóticos. Em futuras intervenções, a simples evocação do Lugar Seguro ajuda de
imediato o cliente a obter naturalmente um relaxamento e um transe adequado.

• Futuras intervenções psicoterapêuticas serão efetuadas no «Lugar Seguro»


Ao fazer uma intervenção de Resgate da Criança Interior é de bom tom trazer a «criança
interior» do passado para esse Lugar Seguro, a fim de a curar, confortar e aquietar. Este
holograma mental fornecerá ao paciente um lugar segura, confortável e aconchegante
de onde pode partir para novas investidas psicoterapêuticas. Sabe bem ter um lugar
protegido onde podemos tratar dos nossos medos primários e das coisas que se
tornaram esmagadoras, difíceis e complicadas, durante o processo. O lugar seguro pode
constituir o lugar onde o cliente pode permanecer como observador objetivo e ter a
visão dos acontecimentos traumáticos a grande distância, sentindo-se seguro e
confiante.

✓ Mantendo-se a perspetiva de «Observador Objetivo»

Na maioria das regressões, deve sugerir ao seu paciente que se coloque na posição de
observador objetivo. Através da Visão de Pássaro, ele pode pairar sobre a cena, ver os
acontecimentos como observador objetivo ou, mesmo, como que flutuar numa nuvem
sobre a cena evocada. Ver a cena traumática sentindo-se distanciado ou de um ponto
de vista mais objetivo tem grande valor curativo e também ajuda a prevenir ab-reações
desnecessárias. Há momentos em que é importante lembrar os sentimentos provocados
por um acontecimento passado numa perspetiva mais positiva. Nesses casos, e após
reforço do ego da paciente, pode mesmo deixar o paciente entrar na cena para a reviver
plenamente a experiência de forma positiva.

✓ A Semeadura para a regressão

Mais uma vez, seja na aplicação de uma técnica ou para direcionar o objetivo de
determinada sessão, não se esqueça de definir a intenção da sessão de regressão,
usando a técnica de Semeadura, veja um guião tipo de semeadura:

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Vamos partir numa viagem mental ao passado. [Definir a intenção e objetivo da


regressão]. Vamos regressar a uma ou duas experiências agradáveis da sua
infância e, em seguida, talvez possamos ir ainda mais longe. Regressaremos ao
tempo que se seguiu à sua conceção, antes do seu nascimento. Até ao útero
materno, onde poderemos explorar como se sentia por ir nascer e perante aquilo
que vem fazer, aprender ou trabalhar. A regressão é uma espécie de viagem
mental a memórias esquecidas, que lhe vai permitir explorar acontecimentos e
experiências não só da sua infância, mas também de memórias ancestrais
passadas. Assim, peço-lhe que escolha uma posição confortável e deixe os seus
olhos fecharem-se suavemente. Agora, concentre-se e faça seis ou oito
respirações suaves, longas, lentas e profundas. Deixe-se ir e solte-se
completamente. Inspire tudo o que é calma, paz e harmonia e expire todos os
cuidados, preocupações e tensões do dia. Pode continuar a relaxar cada vez mais
profundamente, a cada uma das suas respirações.
[Nota: É importante não perder o rapport, pelo que deve pedir ao paciente para
falar consigo, durante o transe.]
E, enquanto a sua mente profunda abre as portas do passado… a viajar no
tempo… será capaz de falar comigo com total confiança e sem limitações sobre
todas as coisas, sem acordar. Na verdade, as longas conversas que vamos ter os
dois só servirão para manter e aumentar a profundidade do seu transe. Durante
o tempo que vamos estar juntos, você vai ouvir claramente a minha voz e vai ser
capaz de falar comigo com clareza. Os nossos debates privados vão ajudá-lo a
desligar-se do mundo exterior…. E, embora possa ouvir um ou outro ruído aqui
ou lá fora, isso só serve para aprofundar mais e mais o seu transe… porque lhe
indica que a vida continua lá fora e que está tudo bem.

✓ Udo da Bolha ou Escudo Protetor


Como já referimos, durante uma regressão a vidas passadas, por vezes, é bom envolver
o paciente numa bola de luz protetora e curativa que, além de servir como veículo para
o transportar de volta no tempo, também lhe oferece proteção, ao longo do caminho.
Assim, caso observe alguma insegurança no paciente, o hipnoterapeuta poderá criar um
Escudo Protetor para o tranquilizar, antes de iniciar a regressão. Veja o guião de como
criar a Bolha de Proteção de Luz:

Agora, antes de continuarmos, irei pedir-lhe que visualize uma luz branca ou
dourada… e talvez possa imaginar à sua volta essa bolha de luz protetora… desde
o alto da sua cabeça até aos dedos dos pés, que o protege de forças externas e
lhe confere calor moderado, fulgor, luz e energia. E pode perceber essa
luminosidade um poderoso escudo diáfano de luz dourada à sua volta, da cabeça
aos dedos dos pés, para o proteger de forças externas… O escudo confere-lhe
calor moderado, fulgor, luz e energia. Se lhe chegar alguma lembrança negativa
do passado, ela cederá desvanecendo-se, sem consequências, face ao seu escudo
de luz protetora.

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IV. PISTAS E SINAIS PSICOFISIOLÓGICOS PRESENTES DURANTE A REGRESSÃO MENTAL

Durante o trabalho de regressão, por norma, o seu paciente só irá relatar uma pequena
parte de tudo que ele está a experienciar. Isto acontece, apenas, porque a comunicação
verbal requer um enorme esforço da parte da pessoa em transe, quando ela se encontra
num estado de profundo relaxamento. Consciencialize-se de que só irá ouvir dez ou
vinte porcento de tudo o que se estará a passar. Apenas alcançará a ponta do problema,
mas a mente profunda sabe o que fazer.
É fundamental que aprenda a observar cuidadosamente os vários sinais provenientes
do paciente. Algumas das coisas mais importantes a ter em conta são mesmo as
mudanças mais ténues na fisionomia do seu paciente. Entre os sinais mais evidentes
temos:

• Respiração
• Movimento dos olhos
• Expressão facial
• Tom da pele;
• Tónus muscular
• Movimentos do corpo: dedos, mãos, braços e pernas
• Tensão corporal
• Tom de voz

V. MOVIMENTAR-SE MENTALMENTE ATRAVÉS DO TEMPO (PASSADO VS. FUTURO)

É importante dar tempo suficiente para explorar cada acontecimento significativo, mas
há alturas em que deverá agilizar ou acionar a regressão, para que o processo de cura
possa continuar. Pode levar o cliente a avançar ou recuar no tempo, alterar a distância
(focal), parar ou fazer uma pausa, consoante as necessidades, usando as seguintes
sugestões:

• Então, diga-me: o que é que está a acontecer?


• Desloque-se agora para o próximo acontecimento mais significativo da sua vida… 3…
2… 1… e, agora, encontre-se lá.
• Pode começar agora a recuar até à primeira vez que isto aconteceu…
• Comece agora a recuar até à primeira vez que se sentiu deste modo…
• Agora, comece a recuar pausadamente no tempo.
• Agora, comece a avançar pausadamente no tempo.
• Agora, vá à origem de tudo o que aconteceu.
• Muito bem, diga-me: o que é que está a acontecer?
• Vá para o momento anterior à sua morte.

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VI. ABORDAR UMA AB-REAÇÃO OU UM MOMENTO DA MORTE EM VIDAS PASSADAS

Como já foi referido anteriormente, ocasionalmente, uma pessoa em regressão poderá


começar a reviver uma experiência traumática da infância ou até um momento de morte
em vida pregressa extremamente doloroso. Ao reviver essa experiência traumática,
poderá apresentar muitas das mesmas emoções e sintomas que experienciou na vida
passada. Como já abordada sobre a experiências traumáticas da infância, esta situação
é designada como ab-reação ou descarga emocional. Pode ser assustador e bastante
perturbador observar esta descarga emocional, tanto para o paciente como para o
terapeuta que conduz a regressão.
Se o seu paciente tiver essa reação ou descarga emocional numa vida passada, deve
manter o bom senso e demonstrar tanta calma e confiança quanto puder. Não desperte
ou acorde o seu consulente de repente! Isso pode provocar um choque nele, fazendo-o
continuar a vivenciar a descarga emocional no estado de vigília, o que será muito
desagradável para ele e até passar algumas horas dissociado.

Se for um terapeuta especializado na regressão catártica, pode orientar o seu


paciente durante a ab-reação de morte na vida passada. Deixe-o libertar as emoções e
as memórias, para esgotar a energia associada ao trauma, e siga em frente sugerindo
que agora «aquele corpo nada mais tem para ele e que pode flutuar para um local
maravilhoso e feito da mais pura luz e tranquilidade absoluta». Se não for um terapeuta
especializado, o melhor será trazer o cliente de volta ao Lugar Seguro, de onde começou
a sessão, e, em seguida, utilizar algumas técnicas de dissociação (técnicas da Visão de
Pássaro, da Respiração, dos Símbolos, etc.). Garanta-lhe que ele está seguro e lembre-
lhe de que ele é um observador objetivo. Diga-lhe que é hora de voltar ao Lugar Seguro,
que estabeleceu no início da sessão. Peça-lhe para fazer algumas respirações profundas
e relaxantes, até se sentir novamente calmo e, depois, traga-o gradualmente de volta
ao seu estado normal de vigília.

Atenção: Por vezes, a catarse de uma ab-reação pode ser muito intensa, pelo que o
hipnoterapeuta deve estar preparado e dominar as técnicas adequadas de dissociação
(Visão de Pássaro, Proteção da Bolha de Luz), e/ou estar munido de vocabulário ou um
texto que permita ao consulente compreender e ultrapassar os bloqueios emocionais que
sempre caracterizam uma ab-reação.

VII. A CATARSE É A FORMA DE O CORPO DESSOMATIZAR A DOR NA REGRESSÃO

Para um leigo que esteja a ver uma sessão de regressão a vidas passadas pela primeira
vez, o momento de catarse no momento da morte na vida pregressa pode parecer algo
violento e bruto. Mas não é — bem pelo contrário, é extremamente libertador para o
paciente, pois permite-lhe libertar a pressão dos traumas de vidas passadas. A catarse é
a forma que o corpo tem de drenar a energia, emoção e da dor associadas a momentos

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dramáticos de vidas anteriores. Podemos ilustrar essa energia como uma panela de
pressão, que, ao longo do tempo e com o acumular de recalcamentos, vai aumentando
a pressão interior, até ficar prestes a explodir. Em regressão, perante a ferida psicológica
emocionalmente traumática, libertamos essa enorme pressão e, em resultado,
dessomatizamos um engrama traumático. Finalmente, o paciente sente um alívio no
final da sessão e avançar para novas descobertas, insights e reflexões

Algumas cautelas a ter, neste intenso processo de libertação:

a. Já o referi anteriormente, tenho para mim de que a mente profunda é protetora,


mas, como diz o adágio popular «cautelas e caldos de galinha nunca fizeram mal
a ninguém» deve-se utilizar sempre técnicas de dissociação (por exemplo, a da
Visão de Pássaro ou a Bolha Protetora) em pacientes mais frágeis, que usem
pacemaker ou que tenham sofrido ou sofram de quaisquer problemas
cardiorrespiratórios.
b. Os processos de dessomatização catárticos também são desaconselhados em
paciente delirantes, tais como, com perturbações epiléticas, psicóticas e/ou
esquizofrénicas. Na verdade, esses tipos de doentes também não devem ser
submetidos à hipnose.

VII. A IMPORTÂNCIA DOS INSIGHTS DURANTE O PROCESSO DE REGRESSÃO

Independente da definição que se possa dar ao termo, o insight será a perceção que as
pessoas adquirem, ao estabelecerem uma relação entre os seus comportamentos e a
compreensão da questão emocional que os fundamenta. Ou seja, é esta relação que a
pessoa vai estabelecer em terapia entre a sua forma de pensar, sentir e agir — no seu
comportamento quotidiano — e as suas representações internas emocionais e
psicológicas.

Na terapia, usamos três tipos de insight:

a. Insight terapêutico indireto, que se estabelece à medida que se vai elaborando


as interpretações terapêuticas, nomeadamente, através do uso das respetivas
técnicas presentes na terapia (por exemplo, as do Resgate da Criança Interior,
da Inoculação do Stress e outras), da reflexão e ressignificação pelo uso de
metáforas e histórias terapêuticas;
b. Insight cármico, muito poderoso, nesta terapia, já que permite perceber o que
ficou pendente no passado: tarefas inacabadas e propósito de vida. A tomada
de consciência destas informações leva à descoberta do ao «padrão repetitivo»
que ele repete no presente, fazendo-o também tomar consciência do seu
Carma (causa e efeito das suas ações) e do seu Dharma (qual o propósito de
vida);

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c. Insight da constelação cármica, qual ou quais os personagens de vidas


passadas e que poderão estar presentes na constelação sistémica atual? A
capacidade que a alma tem de transmitir ao consciente do consulente o
reconhecimento de familiares ou conhecidos e que estavam presentes em
vidas anteriores, permite conhecer a constelação familiar no presente, e
perceber as ligações e relações que ficaram pendentes das vidas pregressas.

VIII. O «TÚNEL DO TEMPO» COMO MECANISMO DE LIBERTAÇÃO DE TRAUMAS

Poder imaginar as situações traumáticas e objetos simbólicos que nos atormentavam no


presente e a desaparecer numa espécie de Túnel do Tempo é muito libertador. Depois
de se descobrir e analisar um evento de sensibilização inicial, podemos libertá-lo para o
passado. O processo de fazer o paciente lembrar-se de que já sobreviveu àquela
experiência, conseguindo ultrapassar o pior, fá-lo encarar os eventos perturbadores do
passado sob outra perspetiva. Seguindo este tipo de reformulação, é possível ajudar o
consulente a deixar estas imagens, símbolos e sentimentos desvanecerem-se para o
passado no Túnel do Tempo. No processo de libertação emocional procure usar imagens
de dissolução, evaporação, desvanecimento, afastamento, redução e encolhimento,
pois estas podem ajudar a diminuir a importância dos eventos passados. Outra
abordagem é alterar as imagens visuais de cor para preto e branco ou tons de cinzento.

IX. TRABALHAR COM A ENERGIA DO PERDÃO

Sabemos que grande parte do objetivo da terapia regressiva é libertar a mágoa que o
paciente traz do passado. Ou seja, agradecer mais e reclamar menos, já que experiências
boas trouxeram felicidade e situações difíceis trouxeram nova experiência. Assim, peça
ao seu paciente para encarar diretamente a pessoa com a qual tem um problema de
mágoa, usando a Técnica dos Estados de Ego procurar dar um novo significado à
experiência onde reside a mágoa. Fazendo uso de metáforas, e técnicas de
desvinculação dos outros significativos, peça-lhe para perdoar e ser perdoado por
qualquer dano causado, consciente e inconscientemente. Às vezes, é mais fácil perdoar
a pessoa do que o ato que ela cometeu. Se o perdão é uma parte importante da
resolução dos eventos do passado, mas mais importante ainda é o autoperdão. Muitas
vezes, perdoar-se a si mesmo é a parte mais difícil da resolução dos eventos do passado.

X. A ABORDAGEM GESTALT

Neste caso, a intervenção de Gestalt é uma espécie de reformulação, que permite ao


paciente dizer ou fazer o que não conseguia dizer ou fazer no próprio momento da
sensibilização inicial. Para isso, utilizamos técnicas como as dos Estados de Ego, a
Cadeira Projetiva, a Integração de Polaridades e outras.

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XI. RESGATE DA CRIANÇA INTERIOR

O monodrama chamado «Resgate da Criança Interior» é uma poderosa técnica de


ressignificação de memórias traumáticas do passado e a mais usada durante o processo
regressiva até à infância. Seguindo este raciocínio, durante o processo de regressão até
à infância, iremos encontrar momentos e idades de dor e feridas emocionais por tratar,
assim peça ao ego do paciente adulto e com os recursos de uma pessoa adulta para se
imaginar a regressar ao passado e resgatar aquele parte do passado sofrida, utilizando
toda a sua sabedoria para auxiliar a criança que ele era quando o trauma ocorreu. Na
realidade trata-se de aconselhar a que o adulto de agora faça o que deveria ter sido feito
quando o evento ocorreu. Os resgates da Criança Interior costumam ser feitos
juntamente com a regressão de idade até ao nascimento e mesmo durante as
experiências de vida intrauterina.

XII. PONTE PARA O FUTURO ERICKSONIANA (FUTURE PACING)

O sucesso sucedido é possível para a mente inconsciente. Porquê? Por que para a mente
inconsciente, a realidade é atemporal e o futuro já faz parte da sua própria vivência
interna, que está sempre no presente. Com esta técnica, sugerimos que as mudanças
ocorram num futuro próximo, de modo a serem realizadas internamente, uma vez que
se vão ativar a mesmas áreas neuronais que seriam ativadas se o paciente já estivesse a
implementá-las. Acompanhe-me nesta linha de pensamento, após os momentos de
stress inoculados e para que a terapia funcione, é importante que se estabeleça a
antecipação e a expetativa da mudança desejada no futuro. Na técnica da Ponte para o
Futuro, pedimos ao paciente para imaginar o mais vividamente possível os cenários,
coisas ou os acontecimentos, como ele desejaria que fossem num futuro próximo e a
mente inconsciente irá evocar os recursos necessários para lá chegar.
Finalmente, sugerimos que, entre as múltiplas alternativas e caminhos para chegar
ao futuro, se experimentem diferentes vias, para escolher a que melhor se adeque ao
paciente.

XIII. O DESPERTAR DO CONSULENTE NO FIM DA SESSÃO (FINAL DE UMA SESSÃO DE REGRESSÃO)

Geralmente, durante uma sessão de regressão, o paciente experimenta vários níveis de


transe. Consequentemente, o terapeuta que conduz a regressão deve levar todo o
tempo necessário para o trazer de volta ao tempo presente e despertá-lo com sugestões
positivas. O melhor é efetuar uma contagem crescente, de um para dez, incluindo
algumas sugestões de bem-estar e sugerindo sensações de despertar entre cada
contagem. Observe um exemplo, após uma sessão de regressão:

Muito bem, agora poderá recordar tudo que viu, ou poderá esquecer-se de se lembrar
o que sentiu e experienciou, se a sua mente profunda entender ser o melhor… Assim,
agora, prepare-se para regressar mentalmente ao aqui e ao agora. Prepare-se para

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começar a regressar ao tempo do presente… neste lugar… neste dia… e nesta data…
Automaticamente irá sentir-se melhor do que antes e com sensações maravilhosas que
não estavam antes em si… Muito bem. Traga consigo esta nova consciência e
compreensão. Traga consigo os dons, talentos e habilidades que melhor lhe sirvam.
Regresse livre do que quer que já não precise. A meu pedido concentre-se na minha voz
e regresse completamente, totalmente a este consultório. Regresse e tome consciência
do seu corpo. Regresse e tome consciência desta sala e da nova energia que a preenche.
Isso mesmo, regresse completamente, enraizando-se e ligando-se bem ao momento
presente.
Sabendo que, hoje, um pouco mais tarde, ou, até, nos seus sonhos e meditações dos
próximos dias, poderá receber ainda mais mensagens sobre o que acabou de ver, sentir
e experienciar. Relembre tudo o que viu, sentiu e experienciou… Agora, regresse
completamente… 1, a regressar completamente… 2… 3… 4, a sentir completamente o
corpo… 5… 6, a mover o corpo e respiração a voltar ao normal… Isso… 7… 8… a mover o
corpo e a respirar mais profundamente… 9… e 10… a despertar completamente…
poderá AGORA abrir os olhos para se sentir preparado… e poderá regressar
completamente e maravilhosamente ao presente… Muito bem, abra os olhos AGORA
para sentir uma paz maravilhosa… uma energia incrível… sentindo-se um ser humano
adorável e maravilhoso.

XIV. TERMINAR A SESSÃO COM PERGUNTAS FINAIS DE POSSIBILIDADE OU O «ZEIGARNIK EFFECT»

Após uma sessão de transe conversacional, constroem-se possibilidades e soluções


diferentes das anteriores e que, agora, determinam novos sentimentos e, obviamente,
novas formas de relacionamento com os problemas. Antes fundidas na patologia do
paciente, as soluções «emergem» agora separadas do trauma original, gerando novas
soluções e caminhos alternativos. Uma excelente forma de manter esse estado
ideiodinâmico e aberto a novas possibilidades, é terminar a nossa sessão com uma
pergunta de possibilidade, semelhante ao método socrático de fazer perguntas que
levam a respostas mais tarde. São célebres as frases que Milton Erickson utilizava para
terminar as suas sessões, frequentemente perguntas, não apenas para pressupor
mudanças, mas sobretudo para construir realidades mais consentâneas com o paciente.
Preste atenção a esta pergunta final: «Não é interessante como podemos recordar
certas coisas de que nos esquecemos de nos lembrar há tanto tempo? Assim, na
próxima sessão traga-me aquilo que não sabe que sabe.»
Num dos seus trabalhos, a famosa hipnoterapeuta ericksoniana Teresa Robles defende
que quando fazemos uma pergunta de possibilidade, o paciente tem tendência a fazer
uma revisão dos seus recursos e sensações internas, confirmando-os. Uma das suas
frases favoritas, que também utiliza durante o processo de transe em que podem
ocorrer mudanças, é: «Você já se deu conta do que está a mudar aí?»

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PORQUE É TÃO IMPORTANTE TERMINAR A SESSÃO COM UMA PERGUNTA FINAL DE POSSIBILIDADE ?

• Bluma Zeigarnik (1900-1980) e o efeito cognitivo Zeigarnik effect

Postula-se que existe um efeito cognitivo de tensão na mente, chamado de


«Zeigarnik effect», descoberto pela psicóloga lituana Bluma Zeigarnik no qual esta
classificou como o efeito das tarefas inacabadas. Esta autora teoriza que todos nós
ficamos sob certa tensão sempre que «algo» que precisa ser feito ainda não o foi (tarefa
inacabada). Esta «tensão cognitiva» é a responsável por nos lembrar que devemos voltar
àquela tarefa para terminá-la, ora, a experiência comprova que essa tensão só
desaparece depois da tarefa concluída. (Bluma Zeigarnik, 1900-1980)

Kurt Lewi, pai da Psicologia Social, corroborava que, na teoria das Tarefas Inacabadas, a
mente profunda não «desliga», já que continua a procurar soluções e novos recursos
para completar a tarefa numa gestalt percetiva, quando são dadas sugestões de
possibilidades no final de um processo que não esteja de todo concluído. Atente-se, por
exemplo, como o «Zeigarnik effect», e a respetiva tensão provocada por esse fenómeno
cognitivo é explorada pelas séries americanas. Como é que isso acontece?
Normalmente, em cada episódio, o enredo da história acaba no momento mais intenso
ou dramático, como motivo propositado para espoletar a «tensão» no telespectador;
outro exemplo da aplicação desta teoria é o efeito do Candy Crush Saga. Este conhecido
jogo produz uma sensação de tarefa incompleta, que gera um tensão cognitiva e que
induz a uma rotina até o vício se instalar. Cada vez que tentamos completar a tarefa,
recebemos uma dose de dopamina, o que torna esse efeito muito viciante.

Ou seja, em teoria, todos possuímos um mecanismo cognitivo (uma tensão cognitiva)


que nos ajuda a recordar mais facilmente as tarefas inacabadas do que das acabadas.
Efetivamente, a nossa mente inconsciente tem uma capacidade muitíssimo poderosa de
continuar o processo de busca de soluções com perguntas finais de possibilidade. Mas,
sobretudo, porque, cada vez que ouvimos uma pergunta, o nosso cérebro fica sob
tensão e faz um trabalho de revisão de toda a informação que foi acumulando, ao longo
da vida, para encontrar possíveis respostas. E essa revisão continua exaustivamente em
sonhos, por vezes, até à sessão seguinte, ainda que a pergunta já tenha sido respondida
ou se tenha passado para outro tema. Isto é fantástico em terrenos terapêuticos, já que
usando o «Zeigarnik effect», podemos potenciar o efeito de mudança no fim de cada
sessão, uma vez que a mente profunda irá continuar a potenciar momentos de reflexão
e insights no futuro.

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Quer fazer uso do «Zeigarnik effect»? Atente-se nestas perguntas:

• Não é tão bom viver a vida cheia de surpresas?


• Não é interessante perceber que também tem o direito de ser imperfeitamente
perfeita?
• Você sabe como é, não é? Pois toda a fechadura tem a sua chave.
• Não sabe bem deixar um pouco os problemas de lado, para que possa continuar a
aprender no futuro?
• Não é engraçado como você sabe como fazer, sem mesmo saber como fazer isso?
• Você vai continuar a curar o que precisa de curar hoje?

XV. FINALIZAR A SESSÃO DE TERAPIA REGRESSIVA E PREPARAMOS O NOSSO PACIENTE PARA O


INESPERADO

Vamos concluir este protocolo de terapia regressiva com uma questão pertinente. Como
profissional responsável na área psi, se entender que aquela regressão não tiver sido
bem-sucedida, não deve deixar o paciente sair do seu consultório com a sensação
estranha de que é diferente de toda a gente e que, por isso, a terapia regressiva falhou
com ele. Lembre-se de que cada caso é um caso e que, muitas vezes, uma sessão que
parece inicialmente pouco promissora, acaba por se revelar um mundo maravilhoso de
descobertas. Com rapport, assegure-se de que reduz um pouco as expetativas do seu
paciente e o informa de que o processo da terapia é como uma escadaria que temos de
subir um degrau de cada vez. Identifique com o paciente aquilo que é necessário para o
conduzir a uma experiência de regressão bem-sucedida. Se o fizer, ele ficará
seguramente comprometido com a terapia, e os resultados aparecerão mais tarde.
Gosto de referir que a mente inconsciente tem a sua própria agenda. Atente-se que,
sejam quais forem as nossas intenções e sejam quais forem os desejos do paciente, as
sessões têm «vida» própria. Durante a regressão, vários assuntos, situações e emoções
mal resolvidos, podem surgir e mudar significativamente a agenda prevista. Sem
esquecer a idealização que o próprio paciente tem do que é a regressão e que, por vezes,
funciona como resistência. Há dois aspetos importantes a considerar: se considera
necessário mudar a técnica e/ou a orientação da sessão, deve falar abertamente com o
seu paciente e pedir autorização para, nas sessões iniciais, utilizar técnicas terapêuticas
de reprogramação mental e que irão preparar a mente para viajar melhor no tempo e
no espaço. Use técnicas de PNL, Reprogramação Mental e aplique a heterohipnose,
ensine visualização guiada, estimule a auto-hipnose e provoque pequenas mudanças
positivas, preparando o terreno de modo a torná-lo fértil e propício à regressão a vidas
pregressas.
Outro aspeto a ter em conta, é que deve informar o seu paciente, na conversa prévia
antes da regressão, de que podem surgir outros assuntos que também necessitam de
ser abordados. Assim, quando estiver a orientar uma regressão ao passado, explique
que há diferentes formas de regressão, que podem ser experienciadas em transe. Fale-
lhe da regressão da vida singular e das regressões da vida múltipla, assim como da

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regressão da vida intermédia (regressão no espaço entre vidas), para que ele as possa
reconhecer e estar preparado quando qualquer uma delas ocorrer.

Observação: Reitero que, mesmo que a primeira regressão não seja bem-sucedida,
nunca deve deixar o seu paciente partir sem entender que a terapia é um processo, um
caminho passo-a-passo e para o qual o irá preparar, não um fim em si mesmo. Nenhum
paciente deverá ficar com a sensação de que a terapia falhou com ele.

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GUIÕES E AS PARTES CONSTITUINTES DA REGRESSÃO EM TVP

Apresentamos seguidamente um protocolo básico de regressão ao passado,


o guião está explanado e exemplificado pelas suas partes constituintes

GUIÃO: SEMEADURA PARA A REGRESSÃO

Muito bem… preste atenção ao que lhe vou dizer pois isso é da máxima
importância de que entenda… eu gostaria que você percebesse… Desde o dia em
que nasceu, que passou naturalmente por muitas experiências… umas boas e
outras menos boas… eu tenho para mim de que experiências boas trazem
felicidade e situações más trazem conhecimento, não é verdade? Por isso há
quem diga que não existe boas ou más experiências, mas oportunidades de
crescimento… ora, em cada uma das suas experiências aprendeu coisas… em
cada momento da sua vida… Todas essas experiências ficaram guardadas dentro
de si… lá bem no fundo da sua mente profunda sábia e amiga… Sensações e
emoções, tudo informação sensorial na forma de imagens mentais… Os
chamados engramas… Cada minuto dia da sua vida, está algures gravado nas
células do seu cérebro… Como a informação num computador… só que com uma
capacidade muito superior…

Gostava que soubesse, que existe uma parte de si… uma parte realmente única
de si… a sua mente interior sábia e amiga… o seu inconsciente profundo… que
tem acesso a todas essas recordações e imagens mentais… E dentro de
momentos… vou sugerir-lhe que, mentalmente, se permita regredir ao passado,
seguindo a minha voz… pois a minha voz irá consigo para toda a parte, porque
eu sou alguém que conhece e confia… Assim, vou contando os números

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regressivamente, desde os anos que tem no presente… e, a cada número, na


minha contagem decrescente… Vai ficando automaticamente mais calmo e
descontraído… Sabendo que a sua mente profunda sabe sempre fazer as
melhores escolhas… À medida que eu for contando e você for passando
mentalmente pelos anos… Poderá experimentar sensações físicas… agradáveis…
leves… como se estivesse a flutuar… a flutuar para o seu mundo interior… para
aquela parte de si em criança… e que se lembra de tudo o que experimentou ao
longo da sua vida… E, à medida que for ficando mais atento à sua realidade
interior… vai ficando cada vez mais relaxado… E memórias agradáveis do
passado… há muito esquecidas… poderão surgir… naturalmente com
sentimentos de conforto… de segurança… E é possível que aos poucos perceba
que a sua mente… começa a descansar e a flutuar o tempo e no espaço… E não
tem importância para onde ela flutua… A minha voz viajará consigo… irá
consigo… porque eu sou alguém que você conhece e em quem confia… E a minha
voz poderá, até, assumir a identidade de alguém que você conheça… para que
continue a responder-me… a um nível inconsciente… onde quer que vá… E,
dentro de um momento… vai ouvir-me a iniciar a contagem regressiva…
podemos começar? [esperar pela confirmação]

GUIÃO: PARA PRODUZIR E APROFUNDAR O TRANSE HIPNÓTICO

Muito bem… permita-se fechar os seus olhos de fora e abrir os seus olhos de
dentro… da sua imaginação… porque entrar em transe hipnótico é tão fácil que
a maioria das pessoas preferem fazê-lo de olhos fechados AGORA… está certo…
Agora que se permitiu fechar os olhos deixe que todos os músculos do seu corpo
se descontraiam a cada número que eu disser… e durante a minha contagem
perceba instalar-se em si uma agradável sensação de conforto e paz… sentindo
ao mesmo tempo uma temperatura morna… que se espalhe pelo peito… nos
ombros… e todo o seu corpo se descontrai amolecendo cada vez mais… E, à
medida que eu for contando de 10 até 0 o que eu gostaria que fizesse é que
deixasse essa sensação maravilhosa de conforto… espalhar-se por todo o corpo…
até às pontas dos dedos das mãos… até às pontas dos dedos dos pés… porque o
seu corpo também tem o direito de descansar, está certo? Vamos então iniciar
a contagem… 10… imagine no topo de um belo lace de escadas… 9… e na medida
que começa a descer o seu relaxamento fica cada vez mais profundo… 8… 7… e
quanto mais desce, mais calma e descontraído fica… 6… 5… e a certa altura pode
até nem sentir os degraus simplesmente flutua sobre essa escadaria e isso ainda
o torna mais profundamente descansado… 4… 3… e, enquanto flutua descendo
mentalmente uma escada imaginária… você pode gradualmente sentir a

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aprofundar esse profundo… calmo… e agradável descanso… 2… 1… 0…


[momento de criar o Lugar Seguro]

Muito bom… agora poderá sentir uma profunda e maravilhosa sensação de paz
e descanso hipnótico… E eu quero que saiba algo que realmente vai ser muito
bom para si… uma das coisas boas da hipnose… é que, neste estado de transe…
você pode fazer o que quiser… como num sonho bom… Pode ir onde quiser… a
flutuar… viajar para qualquer sítio… estar em qualquer situação que queira…
Pode, até, RECUAR NO TEMPO… até a uma memória agradável… Algo que há
muito não recordava… para que, mais uma vez… possa REVIVER ESSA
EXPERIÊNCIA EM SEGURANÇA… com todos os sentimentos de então… sabendo
que está seguro e em boas mãos.

GUIÃO: SUGESTÕES PARA VIAJAR NO TEMPO E NO ESPAÇO

Muito bem… a meu pedido, vamos agora recuar no tempo… ano a ano… até à
sua infância… para só ver lembranças felizes [ou, se sugerido, libertar momentos
traumáticos e que fazem sofrer]. E eu quero lembrar que a sua mente retém as
lembranças positivas de tudo o que viveu… na idade em que a lembrança foi
registada… e, apesar da distância, traz agora consigo todas essas lembranças…
na sua mente de adulto… mais experiente e compreensiva… E, à medida que
formos viajando no tempo e no espaço… vamos recuar ao tempo… recuar à sua
infância… e você irá mergulhando cada vez mais fundo dentro de si mesmo…
aproximando-se das memórias antigas e esquecidas… e isso será como se
estivesse a virar as páginas de um velho álbum de fotografias… e poderá recordar
com muita facilidade momentos em que se vê a ficar mais jovem… cada vez mais
jovem… e, depois, mais pequeno… cada vez mais pequeno… e ao recuar no
tempo a meu pedido… naturalmente vai mergulhando cada vez mais
profundamente dentro de si mesmo… pois a sua mente está cada vez mais
profunda… mais e mais penetrante… e sempre que eu pedir para parar numa
idade qualquer… você estará na idade que tinha então… a ver e a ouvir cada cena
com um notável nível de pormenor… e o mesmo tempo pode falar comigo
facilmente… mantendo esse estado de profunda paz e segurança…

• A importância do aquecimento da memória

É muito importante estimular recordações de locais e objetos significativos para o


paciente. É ótimo por duas razões: para fazer a ancoragem nos sistemas
representacionais e, também, para aquecer a memória. Em transe regressivo, pedimos
aos pacientes que descrevam o tamanho e a cor da sua casa e perguntamos se veem
árvores altas à esquerda, à direita ou atrás deles. Entrando na casa, podemos sugerir

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que visualizem um aposento que lhes seja familiar, como, por exemplo, o quarto deles.
Depois, fazemos perguntas para saber onde se situam os móveis, como a cama e o
guarda-fatos, em relação à porta de entrada. Abrimos o guarda-roupa e perguntamos
quais são as suas roupas preferidas para ir à escola ou para brincar. Transportando-os
de volta à escada, para chegarem aos sete anos, flutuamos para diante, de volta à casa
onde eles viviam com essa idade (muitas vezes, é outra casa) e onde podemos fazer
perguntas sobre os animais domésticos e os brinquedos prediletos.

Observação. Se sentir que o paciente não está a ir tão fundo no transe como deveria,
nesta indução hipnótica, iremos aprender a usar o dedo ideiomotor da mente
(movimento ideiosensor) para determinar os pontos e idades de intervenção. Veremos
um pouco mais à frente como instalar a Resposta Ideiomotora, para o uso da técnica
Regressão Estruturada!

GUIÃO: SUGESTÕES PARA EVOCAÇÃO DE FRAGMENTOS DE VIDAS PASSADAS

Muito bem… e quero sugerir que confie na sua capacidade para vislumbrar as
imagens que lhe vão surgir de si próprio… em diferentes épocas e lugares…
identifique as emoções associadas a essas cenas e relate-me o que vai vendo,
percebendo, sentindo… e experienciando… E é possível ver tudo o que surgir…
com todos os detalhes… a ouvir… a observar… e a sentir a fundo… pode relatar
o que quiser… sem censura… porque eu sou uma pessoa que você conhece… e
em quem confia… está certo… E, enquanto eu o guiar nas nossas viagens em
conjunto, é possível que outras pessoas que conheceu e amou venham juntar-se
a nós… noutros corpos… de outras classes sociais… Nessas viagens ao passado,
por vezes pode surgir um ser espiritual ou o seu guia pessoal, e poderá ajudar-
me a ajudá-lo… e dar-lhe alento… conforto… e força… para compreender o que
precisa ser compreendido… para entender as pequenas coisas que precisam ser
entendidas… e a curar o que precisa de ser curado… para o seu equilíbrio, bem-
estar e mais alto bem. Muito bem… pode-me dizer o que está a ver ou sentir
agora?... Onde está, neste momento?... Está sozinho ou acompanhado?...
Rodeado de amigos ou inimigos?... Vejo do Alto como um pássaro se for mais
confortável para si… [momento de explorar as respostas]

Perfeito… comece por só olhar para as cenas, dizendo-me o que puder… com
total confiança. À medida que formos avançando na descoberta dessas
memórias ancestrais, a sua memória ficará cada vez confortável e vai recordar
isso com alguma facilidade… lembre-se que a cada lembrança ela estará cada vez
mais profunda e penetrante e automaticamente verá automaticamente mais…
ouvira com mais facilidade… aceitará saudavelmente mais… e compreenderá

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automaticamente melhor o que vê e experimenta… pelo que depressa será


capaz de me ajudar a avaliar o que vê e sente… muito bem… [momento de fazer
insights: descobrir o padrão repetitivo; tarefas inacabadas; o propósito de vida e
outros]
Muito bem… e agora tem uma amplitude mental muito superior e compreensão
infinita… e à medida que for revivendo as sensações e emoções associadas aos
tempos passados… noutros corpos… e a tudo o que foi antes… vai começar a
sentir uma libertação positiva de todos os fardos mentais do passado. Todas as
suas recordações serão adequadamente perspetivadas e integradas na sua vida
atual… para o pôr em harmonia perfeita consigo próprio…. Muito bem.

• Usar a resposta do dedo ideiomotor, por forma a escolher como


regredir ao passado

Há sempre pacientes que criam uma certa resistência ao processo de visualização, e uma
boa forma de ultrapassar essas resistências naturais é utilizando a técnica da resposta
ideiomotora da mente inconsciente. Mais à frente, irei explicar como se faz uma indução
estruturada (técnica de Regressão Estruturada) com a técnica da resposta ideiomotora,
mas, por agora, observe como podemos ultrapassar uma resistência com esta poderosa
técnica de resposta da mente inconsciente. Após sugerir ao paciente que imagine um
belo lanço de escadas a seu gosto, mas que tenha o número de escadas que corresponde
exatamente à sua idade atual e surgira que esse lanço de escadas tem a idade do
consulente para ele se imaginar a descer a escada da sua vida. A cada degrau que desce
mentalmente corresponde a uma determinada idade e que ele naturalmente irá sentir-
se cada vez mais jovem em cada degrau, e as respetivas memórias do passado podem
ser afloradas mais facilmente. Em seguida, sugira-lhe que deixe a mente sábia e
profunda fazer aquele movimento por ele, para, assim, obter uma resposta positiva do
sinal ideiomotor. Veja o exemplo:

Muito bem… veja… imagine… ou sinta que está no alto de uma bela escadaria
que tem exatamente o numero de degraus que correspondem à sua idade
atual… levante os dedos da mão direita quando se sentir no topo dessa enorme
escadaria… muito bem… se for confortável para sai, coloque a sua mão no
corrimão… e pronto… mentalmente poderá descer cada degrau em segurança e
iniciar a sua descida comigo, a minha voz estará sempre consigo enquanto desce
cada degrau e se permite recuar no tempo e no espaço….

Nota: Se notar alguma hesitação na expressão do seu paciente, pode transformar


rapidamente a escada num elevador de grande velocidade, em que o ele se veja a ser
transportado para baixo, sem ter de se esforçar para descer os degraus da escada.
Depois da confirmação da opção do paciente continuamos:

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Enquanto eu conto regressivamente cada degrau a sua mente está cada vez
mais penetrante e profunda… e no cima desta escada longa você pode perceber
que na medida que vai descendo, mais jovem se vai sentir… e enquanto você
se vai desligando-se cada vez mais do seu corpo… automaticamente as
memórias ficam mais vivas e nítidas… Pronto? Começamos a descer agora…
30… (por, exemplo) deixe-se ir em cada degrau… 29… sente-se seguro e começa
a perceber o seu corpo mais jovem e as memórias da idade correspondente…
28… começa agora a flutuar… descendo a flutuar… em direção ao degrau mais
abaixo… 27… sinta a luminosidade… enquanto desliza e flutua… está a flutuar
livremente… agora… muito perto de determinada idade onde sabe deve
aprender alguma coisa… Muito bem… Isso mesmo. [continue a dar sugestões
de recuo na idade, na exata medida que vai descendo o lanço de escadas]

Enquanto desce a escada e recua mentalmente no tempo, também pode sugerir para
ele saltar alguns números e dar rapidamente sugestões para o fazer regressar aos 20, 10
ou 5 anos de idade. Contudo, na infância sugira que abrande consideravelmente a
descida, pois as primeiras experiências de vida são preponderantes na formação das
emoções e sentimentos que sabemos, moldam a personalidade do adulto. Nesta fase
aconselhamos que recorde a meninice ao pormenor, por exemplo, quando tinha 3 anos
onde estava ou quando foi para a pré-escola como se sentiu. Finalmente, podemos
sugerir que continue a flutuar, na escada, para a altura do nascimento e até à vida
intrauterina.

GUIÃO: SUGESTÕES PARA REGREDIR AO ÚTERO MATERNO

Se tudo estiver a correr bem, fazemos o paciente regredir à sua primeira recordação de
criança e, finalmente, ao útero da mãe, imediatamente antes de nascer. Tranquilizamo-
lo, dizendo-lhe que a transição é fácil, porque ele agora é muito novo (dois ou três anos
de idade). Quando fazemos essa descida mental às sensações e recordações do útero
materno, utilizamos o seguinte tipo de sugestões:

Muito bem… Isso… Agora, pode voltar mais atrás… peço que volte a um
momento específico entre a conceção e o nascimento… Os seus braços e pernas
estão pequeninos… muito pequeninos… E, agora, você pode voltar à sua
primeira casa… onde foi convidado a nascer… uma casa muito especial… Essa
casa é o ventre da sua mãe… E isso é muito fácil… é um momento muito especial
para si… Deixe que a sua mente profunda o leve ao momento entre a conceção
e o nascimento… Não sei como, mas a sua mente profunda saberá levá-lo lá…
àquele momento especial… em que se sentia quentinho… no útero materno…
volte a um momento entre a conceção e o seu nascimento…

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Há pacientes que só têm vagas reminiscências de serem bebés dentro do útero materno;
outros, pelo contrário, fazem relatos muito emocionantes sobre a vida intrauterina e
recordam até conversas entre os progenitores e que lhe dizem respeito. Recordar e
viver, na segurança do consultório esse período de tempo, é uma realidade que todos
os pacientes consideram muito significativa muito importante para compreensão da
escolha daqueles pais. Voltar ao ventre materno, mas sobretudo perceber se era
desejado e amado nessa altura traz respostas muito significativas para qualquer um de
nós. Se o paciente demonstra estar a reviver memórias no útero materno, nesse
momento devemos perguntar se os seus braços, pernas e cabeça estão razoavelmente
confortáveis e o que ouve e sente. Por exemplo:

Consegue ouvir o coração da sua mãe a bater? Concentre-se, pois você será os
olhos e ouvidos da sua mãe. Em que é que ela está a pensar? Qual o pensamento
que ele envia para si? E o seu pai consegue percebê-lo? Considera que é desejado
por eles?

O feedback a partir do útero pode ser considerado o contacto inicial com a alma de um
paciente e a primeira insinuação que temos acerca do grau de desenvolvimento
específico dessa alma recentemente reencarnada. Na realidade, sabemos que existe
sempre uma grande diferença na evolução de uma alma, entre uma pessoa que explica
que está a tentar tranquilizar uma mãe ansiosa, ou que diz o que pensa sobre os desafios
que a esperam na vida, e outra que só diz encontrar-se numa espécie de limbo escuro,
sem dar grandes pormenores sobre o que sente e o que faz, antes de nascer. Se o
paciente for incapaz de responder exaustivamente no estado fetal, não o forçamos a
nada e avançamos para o passo seguinte.

GUIÃO: TÚNEL DO TEMPO – DO ÚTERO À VIDA PASSADA

Quando o paciente relata o que está a sentir no útero materno, podemos pedir-lhe que
avance para o momento do nascimento, para perceber se foi bem recebido ao nascer,
ou dar-lhe sugestões para o fazer recuar a uma vida passada. Começamos por sugerir
que visualize uma espécie de túnel comprido que o vai transportar para uma vida
significativa e que tem que ver com o seu problema atual. Também podemos sugerir
que se projete no tempo e no espaço, para uma vida com maior significado, onde poderá
encontrar a resposta de que precisa no presente. O importante é transmitir a ideia de
que ele vai ser transportado, da escuridão do útero materno, para a escuridão de um
túnel do tempo. Atente-se nas instruções:

Muito bem… gostaria que imaginasse que estamos agora a entrar num túnel
comprido, que o levará à sua vida imediatamente anterior… é uma espécie de
túnel do tempo… Esse túnel do tempo parece-se com um túnel ferroviário, mas
é muito mais delicado, limpo e feito de energia pura… e talvez possa visualizar

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um cilindro perfeitamente redondo com uma entrada e uma saída… enquanto


nos dirigimos para a entrada redonda e larga, repare que, à sua volta, tudo é
negro… mas aquela luz no fundo do túnel fornece orientação e um pouco de
conforto… Assim que eu começar a contar, de dez a um, veja as paredes curvas
a ficarem cada vez mais claras… veja-as a ficarem cinzentas… Ao cinco, veja-as já
muito brancas… A seguir, veja uma abertura enorme, redonda e brilhante, na
outra extremidade… Quando eu chegar ao um, atravesse-a lentamente… aí,
talvez possa reparar numa cena significativa de uma vida passada… noutro
corpo… noutra época… quem vestido com uma roupa que denota determinada
classe social… Mas, apesar de estar a viver outra vivência anterior a alma é a
mesma… e traz todo esse conhecimento para o presente… Ainda não sabe que
cena é essa… mas, assim que eu chegar com a contagem ao um, de imediato
encontra-se noutra época… noutro lugar… e noutro corpo… mas, sem saber
como, entenderá que é você, nesse fragmento de vida passada. Lembre-se como
seres físicos somos transitórios, mas como seres espirituais somos eternos… e a
nossa eternidade perde-se nas brumas dos tempos…

GUIÃO: SUGESTÕES PARA O PACIENTE QUE TENHA ALGUMA DIFICULDADE EM


VISUALIZAR OS FRAGMENTOS DE VIDA PASSADA

Se estiver a lidar com um paciente muito racional, que não produza bem imagens visuais,
peça-lhe que se concentre nas sensações físicas, como o tato, nos sentimentos e nas
emoções associados à passagem por um túnel escuro. Se, mesmo assim, o seu paciente
disser algo, como «não vejo e não consigo imaginar!», faça-lhe uma série de perguntas
dicotómicas e diga-lhe:

Não veja; sinta. Está certo? Assim, diga-me: está num sítio claro ou escuro?
Amplo ou apertado? Frio ou quente? Cheira a ar livre, a mofo ou a bolor?
Consegue perceber algum som ou ruído? Sinta o frio e o calor; em que parte do
corpo é que sente esse calor ou frio? Existem sons? Esses sons o que lhe fazem
lembrar?

Se, nesta altura, o paciente ainda apresentar dificuldades e hesitar em responder às


questões, uma vez mais (como com as imagens da escada, da infância e do útero
materno), pode solicitar sinais de resposta ideiomotora com os dedos. Sugira, então:

Muito bem… Por favor, levante um dedo da mão direita, se estiver pronto para
me acompanhar na travessia do túnel do tempo… levante um dedo da mão
esquerda se quiser esperar eu começar a contar, para darmos início a esta
experiência fascinante. [Como vou iniciar imediatamente a contagem, estas duas
opções estreitas dão-lhe pouco tempo para oferecer resistência. Observe as
últimas instruções que devemos dar quanto ao túnel:] Muito bem… Dez… Sai

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agora do útero materno e entra no túnel do tempo inicialmente parece-lhe


muito escuro… E, agora, estamos a ganhar velocidade… Isso mesmo… nove…
cada vez mais depressa… Oito… repare que as paredes estão a ficar
acinzentadas… Sete… Seis… Cinco… Agora, as paredes estão brancas… E você
pode ver uma abertura enorme com muita luz, à sua frente ela parece-lhe
redonda e branca… e essa abertura aos poucos fá-lo regressar a uma cena
importante da vida passada… Quatro… Três… Dois… Um! Estamos agora fora do
túnel.

Para os fins desta formação, é importante perceber que a metodologia do espaço entre
vidas e das vidas passadas exige não só uma grande flexibilidade, mas também um
profundo conhecimento de várias técnicas e modelos por parte do terapeuta. Devemos
conhecer todos os métodos e técnicas, para nos podermos dar ao luxo de as esquecer
conscientemente, mas em terapia elas passem a fluir automaticamente na nossa mente
profunda naquela parte sábia e amiga. Como disse um dia Carl Jung: «Conheça todas as
teorias, domine todas as técnicas, mas ao tocar numa alma humana, seja apenas outra
alma humana.» Faremos agora uma breve alusão a uma série de perguntas
importantes, que podemos sugerir para situar mentalmente o paciente na sua vida
passada.

Questões a colocar para aceder a fragmentos de uma vida passada

• Primeiro, diga-me o que sente à sua volta: é dia ou noite?


• Está calor ou frio?
• Está fora, ao ar livre, ou dentro de casa?
• Olhe para os seus pés; está descalço ou calçado?
• Os seus pés são grandes ou pequenos?
• Ao olhar para os seus pés, percebe que é adulto ou criança?
• É uma pessoa de estatura pequena, média ou grande?
• É homem ou mulher?
• Como está vestido?
• Pela sua roupa, consegue perceber a que classe social pertence?
• Repare nas suas mãos; de que cor é a sua pele?
• Há alguma coisa em si, que lhe chame a atenção?
• Olhe à sua volta; está numa cidade, numa aldeia ou no campo?
• Está sozinho ou acompanhado?
• O que é que está a fazer neste momento?

Seguindo as instruções dadas em transe, a maioria dos pacientes levá-lo-á a uma cena
significativa de uma vida passada. O terapeuta deve estar preparado para as reações
emotivas dos pacientes, em determinados momentos específicos do passado. Por
exemplo, a vivência da morte pregressa pode ser muito intensa e avassaladora, por isso

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convém ao psicoterapeuta ter já estabelecido alguma Âncora de Segurança, para auxiliar


e aclamar a psique nesta viagem do tempo e espaço.

GUIÃO: SUGESTÕES PARA RECUAR OU AVANÇAR NA VIDA PREGRESSA

Na primeira cena da vida passada (a menos que se trate de uma cena de morte),
podemos fazer o paciente avançar a intervalos de cinco ou dez anos. Esse hiato de
tempo é necessário para atualizar e tomar conhecimento dos acontecimentos mais
importantes dessa vida pregressa. Quando chegar o momento apropriado, para
perceber como o paciente morreu nessa vida, diremos:

Muito bem, agora, quero que se projete para o último dia da sua vida, para o
momento anterior à sua morte. Quero saber se está sozinho ou acompanhado,
se se encontra rodeado de amigos ou inimigos e se morreu de acidente, doença
ou por ação de alguém. Muito bem, quando eu contar até três: um, dois, três!
Descreva agora o que está a acontecer.

Se o seu paciente estiver a morrer de velho, importa perguntar sobre o que o rodeia, se
tem alguém a prestar-lhes assistência e como se sente. Em caso de cenas de morte mais
traumáticas, sugiro que o faça passar muito rapidamente por elas, fazer flutuar por cima
do corpo pregresso e fazer uma perspetiva de como morreu e o que acontece de
seguida. O facto de o paciente ver a morte de uma posição elevada, e visualizar a cena
da sua morte do alto, com Visão de Pássaro, dissocia-o emocionalmente do momento
traumático do passado e dá-lhe uma perspetiva e um ponto de vista diferente do que
realmente aconteceu podendo tirar importantes ilações e reflexões terapêuticas.
Voltaremos um pouco mais à frente a este tema.

GUIÃO: COMO LIDAR COM A EXPERIÊNCIA EXTRA-CORPÓREA

Sou da opinião de que não devemos acelerar demasiado a passagem da morte na vida
passada. Na verdade, não é minha intenção aligeirar excessivamente o drama real de
ora estar num corpo ora estar fora dele, porque quero que os pacientes experimentem
sensações vívidas na primeira cena, em que se veem a flutuar num estado de alma livre.
Assim, após a morte e a libertação da consciência, digo:

Você acaba de morrer e pode agora flutuar como se fosse um pássaro… Esse
corpo já não tem mais nada para lhe oferecer… E você já passou por essa
experiência muitas vezes… quero que se afaste do seu corpo… sentindo-se livre…
sem qualquer dor ou desconforto… E, neste momento, é possível sentir-se a
flutuar… sem peso e sem limites… Quando quiser, olhe para cima… para o alto…
pois sabemos que algo de maravilhoso o espera… está pronto para subir?

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• Atenção a ter em caso de ab-reação

Se já na regressão até à infância encontramos momentos de intensa atividade


emocional, na regressão a vidas passadas é muito comum o paciente regredir a cenas
de uma intensidade avassaladora. Como já referido, visualizar cenas de morte numa vida
passada. A técnica mais recomendada é a técnica da Visão de Pássaro, pois permite
obter uma visão panorâmica da situação, evitando que o paciente se sinta envolvido na
ação. Com o paciente somaticamente dissociado da cena da morte e a ver tudo do alto,
de uma posição elevada, importa fazer uma retrospetiva dos acontecimentos que
conduziram a essa cena de morte. Importa também saber a idade que ele tinha quando
morreu, como se chamava, quais eram as suas circunstâncias familiares, qual era o
principal sentimento que levava ao partir e, se lhe aprouver, a data e a localização
geográfica desse evento.

• Retrospetiva da Vida Passada

Depois, fazemos uma retrospetiva mais abrangente da vida que acaba de findar;
pedimos-lhe que nos descreva as pessoas relevantes nessa sua vida. Se o paciente
estiver a responder bem, com muitas descrições e um alto grau de envolvimento,
também podemos perguntar que personagens da sua vida passada se encontram na sua
vida atual. Neste caso, o sucesso das respostas não depende da evolução da alma, mas
antes do nível hipnótico de ligação.
Assim, com alguns pacientes, só devemos fazer esta pergunta quando eles se
encontrarem no espaço entre vidas ou no mundo espiritual. Procure não passar mais de
trinta minutos nessa vida passada, porque pode sempre levá-lo para a experiência de
morte e recolher as informações em falta retrospetivamente.
Segue-se uma série de perguntas abertas que constituem bons exemplos do que
devemos perguntar ao paciente, quando ele se encontra a flutuar acima da cena da sua
própria morte:

Dissociação ou Visão de Pássaro

• Onde é que se encontra agora, em relação ao seu corpo?


• Tem alguém consigo, no quarto (ou junto do seu corpo, se estiver no exterior)?
• [Em caso de resposta positiva à pergunta anterior] Fale-me dessa/s pessoa/s que
está/estão consigo. Quem é/são?
• O que é que vê à sua volta? [Ou, Do que se apercebe?]
• O que é que está a sentir?
• O que é que está a acontecer agora? E, depois, o que é que acontece? O que é que está
a acontecer que ainda me não tenha dito?
• O que é que sente, quanto à sua morte? Que sentimento é que leva ao partir?

• Resistência a afastar-se do corpo que pereceu na vida passada

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Como já referi, se o paciente não esperava morrer naquele momento em particular,


pode resistir a afastar-se do seu corpo, por sentir tristeza ou ter deixado algum assunto
por concluir. Talvez tenha morrido muito jovem, num acidente repentino que o
surpreendeu ou assassinado.
Seja como for que tenha morrido, muitas vezes, é necessário dessensibilizar a dor
associada ao momento da morte. Recordamos-lhe que é muito provável que ele já
soubesse de antemão que essa vida seria curta e que, ao chegar a casa, seja capaz de
falar com o seu guia sobre as circunstâncias em que morreu. Podemos também sugerir
que, após chegar à luz, nós temos a possibilidade de pedir ajuda aos guias para virem
tratar do seu corpo mais tarde.
Em geral, será preferível manter o paciente suspenso, perto do próprio corpo, dando-
lhe tempo para coligir os seus pensamentos e dúvidas. É nesse momento que o devemos
apaziguar, se ele parecer confuso ou desorientado.
Quando a alma é orientada para viver a totalidade da cena de morte, sintetizamos
rapidamente o que ficámos a saber sobre a sua vida passada imediata. O paciente pode
querer corrigir alguma coisa que tenha dito sobre essa vida e as pessoas que nela se
encontravam. Temos agora oportunidade de falar do propósito derradeiro dessa vida e
fazer os insights com a vida atual. Podemos sempre fazê-lo reviver a vida recentemente
vivida mais tarde, para, então, a compararmos com a vida atual. Mas sou da opinião de
que esta é uma altura particularmente boa para perguntar ao paciente se ele sente que
essa vida foi ou não bem-sucedida, em termos das metas previamente estabelecidas.

• IMPORTANTE: Momento de fazer o Insight Cármico e Insight de


Constelação Cármica

Imediatamente após a morte numa vida anterior, sugerimos ao paciente que se eleve e
vá para um espaço entre vidas, para fazer uma retrospetiva da vida que terminou. Nessa
altura, devemos recolher os elementos necessários para fazer a ponte entre a vida
passada e a vida atual. O paciente deve, então, comparar algumas características da sua
personalidade da vida atual com as características da sua personalidade nessa vida
pregressa.
Ambas as vidas implicam corpos físicos, que, embora diferentes, apresentam
determinadas características que se repetem, formando padrões, e podem ser
identificadas. A tomada de consciência súbita dessas diferenças e semelhanças pode
catapultar o paciente para ultrapassar quaisquer barreiras de identidade que originem
confusão, entre os seus corpos na vida passada e na vida atual e a sua alma.

GUIÃO: DIÁLOGO NO ESPAÇO ENTRE-VIDAS

Por vezes, no decurso de uma cena de morte ou quando o paciente explica que acabou
de morrer numa vida passada, para o tranquilizar um pouco, colocamos um campo de

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energia de luz dourada protetora à sua volta. Ao mesmo tempo, anunciamos que o
espírito do seu guia pessoal sabe perfeitamente que ele morreu e se encontra por perto,
para o ajudar na transição. Podemos dizer:

Agora, percebe que a finitude não é o fim da vida… Acaba de morrer fisicamente,
mas vive espiritualmente… E, enquanto sai do corpo, será capaz de continuar a
falar comigo e responder às minhas perguntas… porque, agora, está em contacto
com o seu «eu» real… o seu eu mais profundo… ou, como alguns lhe chamam, a
sua alma… Sinta a mente expandir-se até aos níveis mais elevados do seu ser…
Olhando para o seu corpo, lá em baixo, poderá sentir-se momentaneamente
invadido de tristeza… mas o seu espírito já passou por esta experiência… E,
agora, você já pode voltar para casa… a sua casa cósmica… basta-lhe afastar-se
a flutuar… Quando estiver preparado, pode entrar na luz mais intensa que já
alguma viu… deixando para trás qualquer dor e desconforto físico.

Neste momento, devemos abrandar o ritmo do discurso, suavizar o tom de voz e reduzir
as perguntas; devemos dar tempo para que o paciente se possa deslumbrar no meio da
luz. Na verdade, o paciente acaba de se encontrar face a face com a sua alma imortal e
precisa de algum tempo para se adaptar à circunstância de estar num estado incorpóreo.

GUIÃO: DIÁLOGO SOBRE DESCOBRIR O MUNDO ESPIRITUAL


Depois da morte física e de uma revisão rápida da vida passada, permitimos que o
paciente se banhe numa luz curadora (lugar de purificação). Nessa altura, por vezes, os
guias presentes na sessão vêm dialogar telepaticamente com o paciente. Pode também
acontecer surgirem mensagens espirituais para o próprio terapeuta, que são sempre
inspiradoras e de uma grandiosidade avassaladora. Depois de deixar o paciente deleitar-
se com o mundo espiritual, gosto de fazer algumas perguntas, que envolvem escolhas,
e que me orientam nas decisões que tenho de tomar quanto ao rumo a dar à terapia:

Enquanto se prepara para se afastar do seu corpo, na sua viagem de regresso a


casa espiritual, gostaria de perguntar se deseja ir agora ou ficar um pouco mais
tempo, para se despedir de alguém ou tratar de algum assunto inacabado na
Terra?

Esta primeira pergunta é significativa, porque o paciente pode não estar pronto para
deixar a Terra. Talvez ainda tenha lições a aprender ou preocupações em relação aos
familiares que ficaram para trás. Na verdade, a escolha entre ir ou ficar compromete
imediatamente o paciente, impedindo-o se se concentrar numa ação que deve
empreender. Por mais que a alma possa querer despedir-se mentalmente de um ente
querido que deixou para trás, a verdade é que a maioria dos pacientes opta por partir
imediatamente, dizendo: «Só quero ir-me embora.» Uma alma mais antiga e experiente
poderá observar: «Oh, é tão bom estar novamente livre! É tão bom estar novamente
a caminho de casa.»

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Mesmo nesta fase inicial de desprendimento, algumas almas sabem que possuem a
capacidade de contactar mentalmente com os entes queridos, em qualquer altura. Mas
também podemos sugerir isso, se for necessário. Se o paciente optar por ficar para se
despedir de alguém, o hipnoterapeuta deve incentivá-lo a fazê-lo e tentar descobrir o
impacto mental que essa despedida tem nele. Essencialmente, a razão para esse
contacto é tentar tranquilizar o ente querido, fazendo-o saber que o espírito que partiu
continua vivo. Em quinze anos de terapia de vidas passadas, compreendi que maioria
das almas não sente a mesma tristeza esmagadora pela morte física, que aqueles que
são deixados para trás, mas muitas sentem ser seu dever confortá-los.

GUIÃO: DIÁLOGO SOBRE ALGUMA DIFICULDADE EM ENTRAR NA LUZ

Quando o paciente diz que está pronto para partir para a luz, o terapeuta deve fazer
as seguintes perguntas de acompanhamento:

I. Enquanto se afasta do seu corpo [através do telhado, se o paciente estiver


dentro de um edifício, ou diretamente para o céu, se ele estiver ao ar livre], por
favor, descreva tudo o que acontece, para que eu possa acompanhá-lo.
[Pausa.] Está pronto para partir para a luz? Pode agora começar a flutuar de
regresso a casa?
II. E, como ser imortal de inteligência de luz pura, deixe que a sua consciência
humana flua para dentro dessa luz, que é o seu eu real. E, enquanto eu faço
silêncio, olhe apenas à sua volta e diga-me qual é a primeira coisa que vê.
Poderá ver outros seres de luz à sua volta ou a virem ao seu encontro, para o
auxiliar e aconselhar na entrada desse mundo especial e feito da mais pura
luz.

• A emoção do reencontro com Guias, Mentores ou familiares falecidos


Nem todos os pacientes avançam com relatos pormenorizados do mundo espiritual.
Mas asseguro-lhe que, o fazem, esse é o momento mais mágico e intenso da sessão de
regressão. Quando o nosso paciente vir os seus guias, pela primeira vez, no seu
consultório, esteja preparado para uma reação emotiva.
O futuro terapeuta de vidas passadas irá ver alguns dos seus pacientes debulhar-se
em lágrimas ou ir-se abaixo e chorar convulsivamente, por estarem na presença de um
mentor amoroso e espiritual que lhes foi atribuído. Outros pacientes riem-se de alegria
pelo que estão a ver e a sentir, depois de reconhecerem familiares que já partiram ou o
seu guia. Inquestionavelmente, este é um dos momentos mais profundos da sessão,
pelo que recomendo que deixe os pacientes saborearem-no sem muita conversa.
Procure ter à mão uma caixa de lenços de papel e tenha sensibilidade e o hábito de
fazer sugestões pós-hipnóticas para que as lembranças dessas imagens mentais do guia

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pessoal permaneçam pelo resto das suas vidas. Será uma lufada de luz nas suas almas
agrilhoadas pela dor cármica.

• Deixar fluir espiritualmente com ajuda dos Mentores e Guias

Para alguns hipnoterapeutas que pretendem fazer investigação sobre o mundo


espiritual, deixo algumas pistas de como se podem orientar nesse mundo feito de
sabedoria e amor.
São muitos os terapeutas de vidas passadas que falam dos extraordinários relatos da
chegada ao mundo espiritual e dos ensinamentos que recebem sobre a existência de
uma vida alternativa. Eu próprio falo desse maravilhoso fenómeno, que tem o dom de
nos engrandecer, nos meus livros.
No decurso de uma sessão de terapia de vidas passadas, tanto o terapeuta como o
paciente podem receber ajuda dos respetivos Guias espirituais, e esses momentos
devem ser reconhecidos, especialmente na tomada de decisões e na resolução dos
problemas de natureza espiritual.
Ao entrarem nesse mundo feito de laivos de luz, a que alguns chamam Casa Cósmica,
muitas pacientes relatam que alguém — normalmente, um ser feito de luz intensa — se
aproxima deles. Nesse momento, incentivamo-los a irem ao encontro desse ser de luz.
Frequentemente, é uma espécie de Guia, e importa saber se a luz que emana é brilhante
ou pálida, que cores reflete, como comunica e que mensagens ou palavras lhes
transmite.
Quando um Guia se aproxima, muitos pacientes hipnotizados vêm uma grande esfera
de luz branca, uma forma alongada ou uma figura humana. Depois, de uma pausa breve,
o paciente pode, então, dizer-nos que a luz branca se alterou para uma cor amarela ou
azulada. No entanto, este tipo de referência a alterações do branco brilhante para outra
cor só pode ser feita numa fase posterior da sessão, quando levamos o paciente para
orientação ou, talvez, para junto do seu grupo espiritual.
Nota: No primeiro contacto com o mundo de luz, e após o paciente referir que está a
passar pelo Túnel de Luz, devemos dar as sugestões seguintes.

GUIÃO: DIÁLOGO PARA REFORÇAR A TRAVESSIA «TÚNEL DE LUZ»

Isso MESMO… continue a afastar-se do seu corpo mais denso, pois ele já não tem
mais nada para lhe dar… Agora está a regressar a casa… à sua Casa Cósmica…
muito bem… dirigimo-nos agora para um lugar de consciência expandida…
enquanto você se desloca para cima… para o reino amoroso de um poder
espiritual omnisciente… Apesar de se encontrar apenas no portal de acesso a
esse reino maravilhoso, a sua alma é capaz de sentir a alegria de estar a ser
libertada… Tudo se irá tornando muito familiar para si, à medida que formos
progredindo… porque esse reino tranquilo personifica uma aceitação

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omnisciente… Agora, vai afastar-se do seu corpo… perfeitamente confortável…


Em breve, vai receber ajuda divina para se libertar de toda a energia negativa da
sua vida física… vai entrar no seu lar eterno, onde podemos falar da sua vida
imortal e de todas as vidas que viveu antes… com objetividade… e
compreensão… porque esse é um reino espiritual de planeamento… e
harmonia… um mundo feito de luz e sabedoria.

Se o paciente referir uma luz ou seres feitos de luz branca ou dourada amorosa e
brilhante, isso indica que se trata de uma energia vibratória pura e denota clareza de
pensamento e intenções.

• Sugestões e questões para contactar os Mentores e/ou Guias de Luz

O reconhecimento e a dinâmica pessoal com os espíritos que se deslocaram até junto


do portal de luz para virem ao encontro da alma são muito significativos.
Respeitosamente, devemos iniciar esta fase formulando uma pergunta aberta:

Sinta essa luz que o recebe e sinta-a dentro de si. Tem alguma ideia, acerca desta
entidade que veio ter consigo, que não tenhamos discutido?

É perfeitamente normal os pacientes necessitarem de alguns momentos para identificar


e responder às perguntas sobre os seus Guias e companheiros de alma. Aquiete-os um
pouco e, depois, pergunte:

Tem a sensação de que o ser à sua frente tem uma polaridade masculina ou
feminina?

Os pacientes que só veem uma massa de luz pulsante, sem polaridade definida, não
precisam do conforto de ver uma figura humana. Se a luz for uma alma companheira,
normalmente, proporciona um reconhecimento instantâneo, revelando um corpo físico
de uma vida anterior ou, até, alguém da vida atual do paciente. Sempre que o paciente
vir uma forma humana, quer seja um Guia ou uma alma gémea, faça perguntas do tipo
das que se seguem:

I. No meio dessa luz intensa que está ao seu lado, consegue ver traços de um
rosto?
II. Distingue a cor, a luminosidade e o comprimento do cabelo? A cor dos olhos?
III. Os contornos do corpo inteiro desse ser fazem-no parecer alguém como você?
IV. Compreendo que, nesse lugar, a comunicação se faça numa linguagem
inaudível, mas você está a receber alguma comunicação telepática sobre a qual
me possa falar, através de palavras ou imagens introduzidas na sua mente?

Muito mais se poderia extrapolar, sobre este mundo absolutamente fantástico, mas
sinto que estamos no limiar de um conhecimento fantástico. Permita-me dizer que,
independentemente das suas crenças ou dos seus valores espirituais, deve procurar

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lidar com estas experiências com respeito e sabedoria espiritual. Vai ver que sairá
sempre a ganhar, ao ser inspirado para pensar em boas soluções e fazer notáveis curas
terapêuticas — que inegavelmente vêm em nosso auxílio quando estabelecemos uma
contato espiritual.

• Sugestões para despertar o paciente do transe regressivo

Após a incursão do seu paciente a momentos significativos do seu passado, é importante


dar-lhe sugestões no sentido positivo ou, se possível, trazê-lo ao momento presente, a
partir do mundo espiritual. Mas deve sempre fazê-lo regressar, ancorando momentos
felizes do seu passado. Por exemplo, para despertar poderá sugerir que visualize uma
espécie de escada a subir cujos degraus correspondem, cada um, a um número da sua
contagem de um a dez, para o trazer de volta ao presente. Quando a contagem chegar
à idade presente, sugira o seguinte, para se certificar de que o paciente fica totalmente
reorientado para o aqui e agora:

GUIÃO: SUGESTÕES DE REORIENTAÇÃO AO PRESENTE (DESPERTAR)

Ótimo… muito bem… E é bom saber que nenhuma parte de si fica no passado…
e naturalmente pode compreender e libertar todas as dores do passado…
simultaneamente permite-lhe compreender melhor o seu presente e as
experiências que tem atraído para si… e assim, com esse conhecimento ancestral
adquirido… naturalmente, pode voltar para aqui, para junto de mim, no
presente… Eu irei fazer uma contagem (por exemplo de 1 a 10) e cada número o
seu sono está cada vez mais leve… e a sua respiração volta ao normal… O seu
ritmo cardíaco volta ao normal… E a sua consciência também volta ao normal…
Sabe que todas as partes de si estão saudavelmente integradas… Que está de
volta… está aqui comigo… no aqui e agora… Volta calmamente a este consultório
onde iniciou este trabalho de descoberta e crescimento… sentindo-se mais
forte… calmo… saudavelmente descontraído… totalmente desperto… e alerta…?
[iniciar a contagem e, finalmente, dizer]

Muito bem… ACORDE… e para sua agradável surpresa sente-se um ser humano
adorável e maravilhoso… E melhor ainda se irá sentir nos próximos dias.

Observação: Após o paciente ter despertado, pergunte-lhe como se sente. Por norma,
é conveniente não fazer muitas perguntas no fim da sessão de terapia regressiva, e
muito menos sobre o que se passou em regressão. Faça apenas algumas perguntas finais
de possibilidade e deixe que o efeito residual da hipnose continue a operar os seus
poderosos efeitos. E, a menos que o seu paciente lhe pareça confuso, perturbado ou
assustado deve o profissional conversar um pouco com ele para libertar a angústia
associada dando espaço para que fale sobre o que se passou naquela sessão.

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MODELOS E TÉCNICAS DE PESQUISA TRANSDERIVACIONAL (TRVP)

Técnicas para Viajar no Tempo


e no Espaço em TVP

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A TÉCNICA DA REGRESSÃO ESTRUTURADA

MÉTODO DE DIAGNÓSTICO ESTRUTURADO ATRAVÉS DE UMA RESPOSTA IDEIOMOTORA

• Sinalizar momentos relevantes com Resposta Ideiomotora

A resposta Ideiomotora da mente inconsciente é uma técnica de diagnóstico, que usa


pequenos movimentos involuntários do sistema nervoso simpático como mensageiro
inconsciente para revelar construtos inconscientes. De facto, tal como na Técnica de
Levitação do Braço, podemos induzir o paciente com padrões de linguagem naturalista
para obter respostas sobre datas, eventos ou outros. Já agora, advogo o uso deste
método sempre que precise não só de obter respostas afirmativas/negativas - «SIM» ou
«NÃO», como também de detetar as datas em que determinados traumas ou
recalcamentos aconteceram. Esta abordagem inconsciente é uma técnica estruturada
que permite:

I. Localizar a origem de determinado sintoma, sem que o paciente tenha de se


lembrar do acontecimento que o provocou.
II. Assinalar datas e outros acontecimentos significativos da vida do paciente que
possam ter contribuído para o desenvolvimento do sintoma.
III. Perceber a motivação e os recursos que o paciente possui no momento para se
libertar de determinado comportamento (nomeadamente, problema aditivos).

• Instalar a Resposta Ideiomotora

Começamos por fazer uma «Semeadura» dizendo ao paciente que não sabemos onde e
quando aconteceu o evento traumático relacionado com o sintoma, mas que pode ter a
certeza de que a sua própria mente inconsciente, sábia e profunda, o saberá.
Seguidamente, pedimos para pousar as mãos nas coxas, no braço da cadeira ou no
tampo da secretária. Após um pequeno transe conversacional e depois de criar o Lugar
Seguro, conforme seja mais confortável para o consulente, esperamos a resposta

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reflexomotora da levitação do dedo. Este transe conversacional é necessário para


acedermos à mente subconsciente, sem a interferência do sensor crítico (consciente) no
processo. Veja de seguida um texto-padrão para detetar datas e eventos relacionados
com o sintoma.
Após a indução inicial dizemos:

Muito bem… Dentro de momentos… vou contar para trás… desde a sua idade atual de
[referir a idade do paciente]… E, a cada número que eu contar… a começar no [citar
idade do paciente]… o seu inconsciente pode facilmente assinalar coisas de que se
esqueceu de se lembrar há muito tempo… E porque é verdade, sei que há coisas que
você sabe… E sei que também há coisas que você não sabe… Mas, sobretudo, sei que há
coisas que você não sabe que sabe… E, em cada número que vou regressivamente
contar… preste atenção… pois se, nalguma idade do passado lhe aconteceu algo…
relacionado com o problema que o trouxe à consulta no [referir o problema do
paciente]… a sua mente inconsciente que tudo sabe… vai sinalizá-lo… fazendo-o
levantar o seu dedo indicador direito/esquerdo… de forma honesta e inconsciente…
desta forma… [assinalar isso, levantando o respetivo dedo do paciente] E, por mais
estranho que isso lhe possa parecer… irá perceber que não há realmente nenhuma
necessidade… que a sua mente consciente… a sua mente do agora… se lembre dessa
situação… pois a sua mente sábia e amiga pode fazer isso por si… está bem?… Muito
bem… se estiver pronto, iremos começar… AGORA!.. Está bem?

Nota: Este é o momento de selar o contrato de respostas ideiomotoras com a mente


inconsciente, dizendo:
Muito bem… E, agora… a primeira pergunta que gostaria de colocar à sua mente…
profunda e sábia… é a seguinte… É confortável para sua mente profunda que eu o possa
ajudar a resolver o seu problema desta forma? Por favor, responda com o respetivo
dedo… e, por favor, permita que as suas sensações respondam à minha pergunta
através de um movimento apropriado. [espere o movimento do dedo do «SIM»
acontecer, antes de avançar] …

Após a confirmação com o dedo do «SIM», iniciamos a contagem regressiva, o que


fazemos lentamente e em ordem decrescente, desde a idade cronológica do paciente,
até ao zero e daí até à vida intrauterina — e finalmente sugerimos que haja respostas
passíveis de terem surgido ainda mais atrás, até a experiências pregressas.

Observação: Para alguns autores, a Técnica da Regressão Estruturada pode ser feita com
o consulente desperto, utilizando apenas um transe conversacional, ou após a indução
e criação do Lugar Seguro. Preferencialmente, e tendo em conta a minha experiência
pessoal, obtém-se melhores resultados com o paciente devidamente hipnotizado e já
comodamente instalado no seu Lugar Seguro, pois este holograma mental é o ponto de
partida para qualquer intervenção em hipnose.

Passamos a apresentar uma Ficha de Regressão Estruturada comummente utilizada


neste processo de pesquisa cronológica.

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GRELHA DE PREPARAÇÃO DA REGRESSÃO COM SINAL IDEIOMOTOR


NOME: DATA:

CONTACTO: PROFISSÃO: IDADE:

I. Comece por sublinhar a idade atual do seu paciente.


II. Durante o diagnóstico das respostas ideiomotoras, assinale com um «X» o
quadrado da idade em que verifique uma resposta afirmativa.
III. Faça um círculo à volta da idade em que verificou um movimento diferente e/ou
perceba uma ab-reação, mesmo que ligeira.
IV. Anote qualquer reação da resposta ideiomotora que lhe pareça relevante para o
processo regressivo (por exemplo, o dedo a levantar rapidamente, o corpo a
estremecer ou a respiração a começar a acelerar).
V. Depois de chegar ao zero, informe o consulente de que vai questionar a mente
supraconsciente se o problema existe na vida intrauterina e finalmente, se tem
origem em vidas passadas.

GRELHA DE GUIA DA RESPOSTA IDEIOMOTORA


Assinalar a idade com um «X» na respetiva resposta Observações
90 89 88 87 86 85 84 83 82 81
80 79 78 77 76 75 74 73 72 71
70 69 68 67 66 65 64 63 62 61
60 59 58 57 56 55 54 53 52 51
50 49 48 47 46 45 44 43 42 41
40 39 38 37 36 35 34 33 32 31
30 29 28 27 26 25 24 23 22 21
20 19 18 17 16 15 14 13 12 11
10 9 8 7 6 5 4 3 2 1 0

ORIGEM NO ÚTERO MATERNO: sim não | ORIGEM EM VIDAS PASSADAS: sim não
OBSERVAÇÕES:

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OBSERVAÇÕES NA APLICAÇÃO DA TÉCNICA DE REGRESSÃO ESTRUTURADA

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TÉCNICA DE REGRESSÃO ESTRUTURADA COM RESPOSTA IDEIOMOTORA


Veja de seguida a aplicação de um Modelo de Regressão Estruturada, na sequência da
resposta do controlo Ideiomotor usado anteriormente, mas fazendo simultaneamente
uma regressão ao paciente. Primeiramente o hipnoterapeuta terá:

✓ Identificado a idade específica a que quer que o seu paciente regrida;


✓ Definido a idade pela escala de diagnóstico (Resposta Ideiomotora) ou pelo historial
do paciente;
✓ Anotado a idade cronológica do paciente, o que é muito importante, pois, no final da
sessão regressiva, deverá voltar a reorientar o paciente até à sua idade atual;
✓ Aprofundado o estado do consulente até induzir um estado de transe, sem esquecer
de criar o Lugar Seguro e ancorar em todos os Sistemas Representacionais;
✓ Finalmente, aplicado o Modelo de Indução Inicial, que se apresenta de seguida.

GUIÃO: INDUÇÃO INICIAL EM REGRESSÃO ESTRUTURADA (SEMEADURA)


O texto que se apresenta de seguida pode ou não ser usado na íntegra, mas é importante
transmitir ao paciente o que pode encontrar e, sobretudo, que estará sempre seguro e
em boas mãos. Isto é importante, já que inicialmente procuramos dar abundantes
sugestões de segurança e conforto, bem como preparar o paciente para o processo
intenso que pressupõe a regressão.

Isso … muito bem… gostaria que você percebesse… que, desde o dia em que nasceu…
passou naturalmente por muitas experiências… aprendeu muitas coisas… em cada
momento da sua vida… E todas essas experiências… ficaram guardadas dentro de si… lá
bem no fundo da sua mente… profunda, sábia e amiga… como informação sensorial na
forma de imagens mentais… os chamados engramas… cada minuto… cada dia da sua
vida… está algures gravado nas células do seu cérebro… como a informação num
computador… só que com uma capacidade muito superior… e eu gostava que
soubesse… que existe uma parte de si… uma parte realmente única de si… a sua mente
interior… o seu inconsciente profundo… que tem acesso a todas essas imagens
mentais… De facto, dentro de momentos… vou sugerir-lhe que conte mentalmente… de
X a Y… o que corresponde aos anos que tem no presente… E, a cada número da minha
contagem decrescente… entre X e Y… pode perceber-se cada vez mais calmo e
naturalmente descontraído… e não precisa fazer força nenhuma, nem sequer força para
não fazer força, sabendo à partida que a sua mente profunda pode fazer isso por si… e
ela sabe fazer sempre as melhores escolhas… E, se enquanto eu estiver a contar… a sua
mente entender que essa idade específica tem alguma coisa ou situação relacionada
com o seu problema… então ela irá assinalar isso para si, e o seu dedo vai
automaticamente levantar-se… em movimentos honestos e inconscientes… e você pode
naturalmente experimentar uma sensação física… agradável… leve… como se estivesse
a flutuar… a flutuar para o seu mundo interior… para aquela parte de si… que se lembra
de tudo o que experimentou ao longo da sua vida… E, à medida que fica mais e mais
atento… e a tentar adivinhar qual dos dedos se irá mexer em resposta à sua realidade
interior… vai ficar saudavelmente mais e mais e mais relaxado… sabendo que a sua

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mente inconsciente sabe fazer as coisas funcionarem… e memórias agradáveis do seu


passado… há muito esquecidas… poderão surgir… naturalmente… com sentimentos de
conforto… e segurança… e para sua agradável surpresa é possível que perceba… que a
sua mente começa a flutuar… como se pudesse viajar num túnel do tempo… E não tem
importância para onde ela flutua… para onde ela viaja… a minha voz viajará consigo… e
estará consigo… em toda a parte… porque eu sou alguém que você conhece… e em
quem confia… A minha voz poderá, até, assumir a identidade de alguém que você
conheça… para que continue a responder-me… a um nível inconsciente… onde quer que
vá… Está certo!

E, dentro de momentos… vai ouvir-me a iniciar a contagem regressiva… desde a sua


idade atual… até ao seu nascimento… Podemos começar? [Esperar a confirmação, com
o dedo do «SIM»] Muito bem… permita que todos os músculos do seu corpo se
descontraiam… a cada número… e que uma maravilhosa e agradável sensação de
conforto… uma temperatura morna… se espalhe pelo peito… os ombros … e todo o
corpo… enquanto isso, quero que saiba… que uma das coisas boas da hipnose… é que,
neste estado de transe profundo… a sua mente está muito penetrante… vai cada vez
mais fundo… E pode ir onde quiser… viajar mentalmente para qualquer sítio… para
qualquer situação que queira… pode, até, RECUAR NO TEMPO… assinalando qualquer
idade associada a uma memória que seja relevante para a sua compreensão… algo que
há muito não recordava… sabendo que está seguro e em boas mãos.

Nesta altura, já com as datas assinaladas na Escala de Diagnóstica, damos instruções no


sentido de o paciente regredir a uma idade específica. Veja o texto seguinte:

Isso… muito bem… dentro de momentos… vou pedir à sua mente profunda para recuar
no tempo… e no espaço… e recordar o que aconteceu naquela idade assinalada
anteriormente com o seu dedo… através da sabedoria interior… está bem? E na medida
que vou contando regressivamente essa forma de comunicar especial penetra cada vez
mais fundo… na sua memória… e aquelas recordações há muito esquecidas começam a
vir à superfície… a flutuar na sua mente… pois a sua mente profunda sabe o que fazer
para as alcançar… E, quando chegar aos «X» anos… poderá recordar naturalmente… e
observar ao pormenor esse momento do passado… Assim, poderá sentir o que sentia
na idade com «X» anos… Vai pensar como pensava aos «X» anos… E poderá ver… ouvir…
e sentir… cada cena… pormenorizadamente… como se estivesse a vivê-la neste
momento… Isso… E, entretanto… poderá falar comigo… mas mantendo esse estado de
profundo transe… com a mente ampliada… podendo aprender coisas novas… de grande
significado para si… sabendo que está seguro… e em boas mãos… Muito bem… Vamos
começar?

Observação: Se entender necessário prepare uma âncora de segurança, poderá fazer o


seu paciente reviver um momento agradável, ou dando a mão ao seu consulente para o
fazer sentir seguro:

Isso… Muito bem… onde quer que esteja… a minha voz vai acompanhá-lo… por toda a
parte… podendo, até, alterar-se… tornar-se a voz dos seus pais… dos seus amigos… dos

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seus colegas… ou dos seus professores… Vai ouvir sempre a minha voz… Vai ouvir-me…
sabendo que a minha voz estará sempre consigo… Isso… Agora, gostaria que deixasse a
sua sabedoria interior… simplesmente fluir… pois a sua mente está a mergulhar cada
vez mais fundo… E você pode experimentar realmente tudo… ver e ouvir cada cena…
quando chegar a essa idade especifica… E, quando tiver «X» anos… para sua agradável
surpresa… poderá falar facilmente comigo… poderá transmitir-me tudo o que está a
acontecer nessa idade que recorda… porque você está realmente lá… Enquanto uma
parte da sua mente está relaxada… e o seu corpo descansa aqui… outra parte da sua
mente viaja no tempo… e no espaço… a recordações de que você se esqueceu de se
lembrar… há muito tempo… Muito bem… A sua mente sabe o que fazer… Os seus
músculos sabem o que fazer… A sua respiração sabe o que fazer… para viajar no tempo…
e no espaço… enquanto você se mantém num estado apropriado de transe… muito
bem… Agora, vamos começar a sua viagem ao passado… Pronto? Concentre-se na
minha voz… Vou começar a contar regressivamente… para o fazer viajar até àquela
memória assinalada… Um… Dois… Três…

Neste momento, sugira que, através da memória, a mente inconsciente pode viajar no
tempo e no espaço, da idade atual até à idade específica do paciente, assinalada pelo
dedo ideiomotor.

Muito bem… À medida que se permite recuar ao passado… até aos «X» anos… poderá
perceber que está a ficar cada vez mais novo… a ficar cada vez mais pequeno… que os
seus braços… que as suas pernas… estão cada vez mais pequenos… A sua memória vai
aumentando… a cada número… Fica cada vez mais penetrante… cada vez mais
profunda…

Tipo de sugestões a dar no estado regressivo

✓ Mais uma vez, importa perceber que o verbo no presente do indicativo funciona
como uma poderosa âncora. Assim sendo, quando o seu paciente estiver a reviver
um momento passado, fale sempre no presente do indicativo, pois isso ajuda a
confirmar a realidade da regressão.
✓ Recordo que é essencial não conduzir o paciente; faça perguntas abertas,
assegurando-se de não leva o paciente a construir ou a confabular memórias falsas.
Veja os exemplos:

I. DISCURSO NO PRESENTE DO INDICATIVO

Muito bem… A sua mente recuou até à idade assinalada anteriormente… Aos poucos…
começa a perceber tudo o que se passa nessa idade… Perfeito… Agora, diga-me… Que
idade aparenta ter? [Esperar pela resposta] Muito bem… Agora, vou fazer um pedido…
Peço que esse(a) menino(a) de «X» anos olhe à sua volta… veja onde está… e me diga…
O que vê? O que é que tem vestido? Olhe para os seus pés… O que é que tem calçado?

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II. PERGUNTAS ABERTAS

• O que é que está a fazer?


• O que é que tem vestido?
• Tem alguém consigo?
• Olhe à sua volta; o que é que está a acontecer agora?

SUGESTÕES PARA DESPERTAR O PACIENTE DO TRANSE REGRESSIVO


Após a incursão dos eu consulente a momentos significativos do passado, é importante
dar-lhe sugestões positivas ou, se possível, trazê-lo de volta para o momento presente,
ancorado com sentimentos de algum momento feliz do seu passado. Assim, sugira o
seguinte, para se certificar de que o paciente fica totalmente reorientado para o aqui e
agora:
Ótimo… Muito bem… É bom saber que nenhuma parte de si fica no passado… e agora
a meu pedido poderá voltar para aqui… para junto de mim nesta sala… e vai voltar ao
presente sentindo-se realmente bem e alerta… E durante todo o processo todas as
partes do seu ser estão integradas… voltaram para aqui… para junto de mim… no aqui
e agora… e pode voltar bem desperto a este gabinete… sentindo-se totalmente calmo…
descontraído… e mais forte… sentindo-se um ser humano adorável… maravilhoso… e
que melhor ainda se sentirá nos próximos dias.

Mais uma vez evite dialogar muito sobre o sucedido, se o paciente quiser falar um pouco
sobre os conteúdos, ouça-o e tome notas sobre as suas opiniões referindo que irão
refletir sobre isso nas próximas sessões. Termine a sessão com uma pergunta final de
possibilidade e, depois, diga algo do género:

Muito bem… Foi muito bom fazer pequenas mudanças… ter a oportunidade de
expressar os seus sentimentos mais profundos… na segurança do consultório… Isso é
muito libertador… não é verdade? Até que ponto se surpreenderia… se a sua mente
sábia e amiga… fizesse aquelas pequenas mudanças… que podem fazer uma grande
diferença… na solução do problema que o trouxe aqui?

Se o paciente disser que ficaria surpreendido ou acenar que sim com a cabeça, diga
enfaticamente: «Então surpreenda-se com as mudanças que irão acontecer nos
próximos dias!» (Despeça-se do seu paciente, sem mais delongas, aplicando uma
pergunta final de possibilidade.)

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GUIÃO DE REGRESSÃO: TÉCNICA DA PONTE EMOCIONAL

Como já verificamos anteriormente, ao aprender a anamnese usando os princípios da


técnica Ponte Emocional, a regressão, através de um sentimento e uma emoção
emparelhada com a somatização (S+E+S) torna-se muito poderosa, intensa e rápida. Não
obstante a rapidez e eficácia deste método, é importante que o hipnoterapeuta já esteja
familiarizado com a metodologia de regressão, na medida em que o paciente pode, em
poucos segundos, reviver um momento traumático com toda a sua intensidade original
(ab-reação), na infância ou, até, numa vida passada.
Autores como Hans Tendan, que desenvolveram este método, advogam o seu uso,
afirmando que poderá ser uma perda de tempo provocar um relaxamento ou levar o
paciente ao seu Lugar Seguro. Afirmam que se estiverem reunidas as seguintes
condições representadas pela sigla (S+E+S) —Sentimento, Emoção e Somatização —
estão reunidas as ferramentas para o paciente regredir à causa-fonte sem mais
delongas.

A TRÍADE S+E+S DE FORMA SIMPLIFICADA


I. Os Sentimentos (o que o paciente pensa/racionaliza relativamente ao seu
problema);
II. As Emoções (como o paciente sente no corpo aquilo que pensa);
III. As Somatizações das Emoções (como o paciente somatiza ou sente fisicamente a
emoção, ou Seja, como reage fisicamente à emoção);
IV. O «Como Se» (o problema do paciente traduzido numa frase ou metáfora);
V. O Último Momento (Anote a última vez que o paciente sentiu com intensidade a
tríade S+E+S. A regressão ao passado deve iniciar-se nesse momento.)

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Esta metodologia é muito poderosa e pode ser utilizada para encontrar e aliviar a origem
de inúmeras emoções ou sintomas físicos, nomeadamente psicossomáticos. Não se
esqueça de que se chamamos «sentimentos» às emoções é porque as sentimos no
corpo e não raras vezes as somatizamos, sobretudo em problemas dermatológicos
(fibromialgia, psoríase, urticária nervosa, lúpus e outras) e em frequentes dores de
cabeça e de estômago.

Como criar uma ponte emocional

Levar o consulente a regredir às origens de uma situação pode ser tão simples como
realizar uma indução hipnótica, pedindo ao consulente para se concentrar num
sentimento e regressar à primeira vez que o sentiu. É a isso que chamamos a Ponte
Emocional. Mas, primeiro, devemos averiguar, na história clínica do paciente, como é
que ele vive determinado problema no presente. De seguida, aplique a Técnica da
Tríade, como aprendeu anteriormente.

A TRÍADE EMOCIONAL S+E+S+ COMO SE…


(ou seja, o problema traduzido numa metáfora);

S E
- COMO SE…
- ÚLTIMO ACONTECIMENTO…

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O QUE PERGUNTAR PARA PREPARAR A PONTE EMOCIONAL


I. O Sentimento

Pergunta: O que é que pensa relativamente ao seu problema?


Resposta: Penso/sinto que sofro de uma solidão permanente.

II. A Emoção

Pergunta: Como é que isso o faz sentir, como sente o seu corpo a reagir?
Resposta: Abandonado, começo a tremer numa sensação de impotência, as mãos
ficam paralisadas e com vontade de chorar.

III. A Somatização

Pergunta: Como é que percebe fisicamente essa impotência e vontade de chorar?


Como é que o seu corpo reage a essas emoções?
Resposta: Não sei bem, mas é como se estivesse preso nas mãos e tivesse sido
abandonado num sítio apertado, tipo um poço. Quando penso nisso, sinto um aperto
no peito e falta de ar, como se fosse um colete de forças…

IV. O Como se…

Pergunta: Muito bem, isso que sente é como se? Ao sentir essa impotência, solidão
e vontade de chorar é como se estivesse amarrado num local apertado tipo colete de
forças?

V. Quando é que foi a última vez que se sentiu assim?

Tome nota do momento em que o paciente se recorda facilmente de ter sentido os


sintomas referidos anteriormente. Nesta última frase, podíamos extrapolar ainda
mais. Por exemplo, podemos perguntar de que forma é que o paciente tem essa
sensação de estar preso, se é nos braços, nas pernas ou no todo corpo? Mas o
essencial, que é a ponte emocional, está referenciado, e já podemos avançar.

Por vezes, quando o paciente relata a última cena que recorda com muita emoção,
podemos aproveitar para sugerir que feche os olhos, pois, ao evocar aqueles
sentimentos, ele pode entrar naturalmente em catarse. Assim, pedimos ao paciente
para se concentrar bem nos seus sentimentos e emoções do momento presente e
prestar muita atenção às sensações que espoleta no seu corpo. Fazemos uma
ancoragem através dos sistemas representacionais e, em seguida, sugerimos que se
recorde pormenorizadamente do que aconteceu; podemos fazê-lo recuar mentalmente
a um passado recente onde tenha experienciado os referidos sentimentos de uma forma
intensa. Quando ele estiver a reviver emocionalmente a cena, peça-lhe que descreva o
que está a acontecer e o que ele está a sentir. Neste momento, com autorização prévia
do paciente, podemos usar o toque terapêutico. Quer dizer, imagine que o paciente lhe

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tinha referido que sentia uma sensação de aperto na garganta, como se alguém o
quisesse sufocar. Nesse caso, podemos colocar a nossa mão ou a própria mão dele no
seu pescoço e pressionar ligeiramente para ancorar e provocar a respetiva catarse.
Emparelhado com o rapport da respiração acelerada do próprio terapeuta, este método
provoca uma ancoragem muito intensa.
Na primeira recordação, se for uma situação recente, o paciente pode estar apenas
a recordar, sem sentir ou somatizar o que referiu. Intervenha e ancore, se considerar
apropriado, fazendo-o regredir a uma outra época em que ele tenha tido os mesmos
sentimentos ou ao primeiro momento em que os experienciou. Prepare-se para uma
reação intensa do seu paciente — prepare-se, sobretudo, para uma ab-reação.

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TÉCNICAS DE REGRESSÃO SIMPLES

I. GUIÃO DA TÉCNICA DE REGRESSÃO ABERTA

De certa forma, o modelo de regressão da Ponte Emocional pode ser considerado uma
regressão aberta; a diferença é a variante e o emparelhamento dos sentimentos,
emoções e somatizações. É isso que o faz ser, por norma, considerado mais rápido e
intenso do que os outros modelos. Na realidade, quando não sabemos como e onde se
originou um determinado problema, poderemos sempre fazer uma regressão aberta.
A técnica consiste em levar simplesmente o paciente de volta ao lugar onde
experienciou o sentimento pela primeira vez, sugerindo-lhe que relate
pormenorizadamente a situação que o suscitou.
Tipo de sugestão utilizada:

Muito bem… Está a recordar essas emoções muito bem… Agora, irei pedir-lhe para voltar atrás
no tempo… às origens da sua solidão… ao momento em que essa sensação de aperto no
pescoço começou… em que ela é mais intensa… mais forte… Vou contar de 1 a 3 e a sua mente
saberá quando tudo isso aconteceu… e irá voltar à primeira vez em que se sentiu assim. [Nesta
altura, iniciamos uma contagem de um a três.]

Atenção: esteja preparado com algumas técnicas de recurso, porque o paciente pode
voltar atrás no tempo, tanto a um momento da infância ou na vida intrauterina como a
um momento significativo de uma vida passada.
Devido à natureza literal da mente subconsciente, ao indicarmos ao paciente a que
momento específico deve regressar, normalmente, a mente profunda irá regressar a um
momento que esteja relacionado com o problema que o paciente trouxe à sessão. E fá-
lo-á, dando saltos entre longos hiatos de tempo. Se a causa do problema estiver na
infância, no útero materno, numa vida passada, em múltiplas vidas ou nalguma
combinação de todos esses momentos, poderá encontrá-la e curá-la com uma
Regressão Aberta.

II. GUIÃO DA TÉCNICA DE REGRESSÃO POR IMAGENS

Por vezes, alguns consulentes têm dificuldade em evocar e voltar atrás, às memórias da
infância. Normalmente, isso acontece, porque muitas pessoas tentam lembrar-se do
que aconteceu e, depois, querem ver isso como se fosse um sonho, mas o transe
hipnótico não é sono. Ao fazerem isto, criam stress, racionalizam as imagens que fluem
na mente, invocam a mente consciente e ficam inibidas de atingir a profundidade
necessária para a realização de uma regressão adequada.
É importante encorajar o seu paciente a deixar simplesmente as coisas acontecerem,
sem fazer qualquer esforço, como se estivesse só a ver um filme ou a assistir a uma peça
de teatro — mesmo que tudo isso lhe pareça ser apenas fruto da sua imaginação.
Durante a regressão utilize sugestões, como:

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• Permita-se deixar as coisas e imagens fluírem


simplesmente/facilmente/naturalmente
• Deixe as coisas acontecerem simplesmente/naturalmente.

Depois de sugerir que o poder da imaginação pode ajudar a evocar conteúdos


esquecidos, sugira que se lembre de um retrato qualquer da sua infância e que focalize
essa imagem na sua mente, como se fosse uma foto antiga amarelada pelo tempo. Peça-
lhe para descrever o que vê. Pergunte-lhe o que é que ele nota na criança da fotografia;
que lhe diga se ela está séria, triste ou a sorrir. Pergunte-lhe como é que ela acha que a
criança se está a sentir nessa idade. Depois de o paciente responder a essas perguntas,
diga-lhe que ele pode dialogar com a criança e saber como é que ela se sente, passados
tantos anos.
Sugira ao seu paciente que pergunte o seguinte, à criança: «O que é que me queres
mostrar ou dizer?» Aguarde algum tempo e, em seguida, pergunte ao paciente que
resposta é que ele obteve. Esta é uma forma fácil de conseguir passar da fase em que a
pessoa diz «não consigo ver ou fazer isto» a um processo de visualização e regressão
completa.
Importa perceber que existe uma grande diferença entre permitir que uma memória
venha espontaneamente à mente e esforçar-se para se lembrar de alguma coisa. Esta é
uma das razões pelas quais é preferível fazer uma regressão progressiva (à infância, ao
útero materno e a uma vida passada).
Para a maioria das pessoas que escolhem a metodologia da regressão, torna-se
necessário fazer uma espécie de aquecimento da memória, com recordações
significativas do seu passado real. O exemplo da fotografia evoca uma época específica
que ficou gravada, com a constelação emocional e familiar, num retrato. Dizem que uma
imagem vale mais do que mil palavras; assim sendo, torna-se mais fácil iniciar a
regressão com uma agradável memória de infância representada por uma imagem real
que ficou gravada no tempo. Quando se depara com a imagem no retrato, em geral, o
paciente consegue deixar a memória simplesmente «acontecer», em vez de tentar
forçar a recordação de alguma coisa. Assim, cria-se confiança e segurança no processo
de regressão e a regressão flui naturalmente.

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TEORIAS DA PSICOLOGIA NA PRAXIS EM HIPNOSE CLÍNICA

«Conheça todas as teorias, domine todas as técnicas, mas, ao


tocar numa alma humana, seja apenas outra alma humana.»
Carl Gustav Jung

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TEORIAS DA PSICOLOGIA NA DINÂMICAS DAS EMOÇÕES

INTRODUÇÃO ÀS DINÂMICAS DAS EMOÇÕES

AS EMOÇÕES NÃO-EXPRESSAS NUNCA MORREM, AFASTAM-SE


TEMPORARIAMENTE, MAS TENDEM A VOLTAR MAIS TARDE, EM FORMA DE
DOENÇA. - SIGMUND FREUD

As emoções: porque é que sentimos o que sentimos? O que são exatamente as


emoções? Em Psicologia, as emoções são definidas como estados sensíveis geradores
de alterações psicológicas e fisiológicas que influenciam a maneira como uma pessoa
pensa ou se comporta. As teorias referentes às emoções podem ser classificadas em três
categorias principais.

a) Neurológicas: baseadas no conceito de que a atividade cerebral conduz a uma


resposta emocional.
b) Fisiológicas: baseadas no conceito de que são as respostas do corpo que provocam
as emoções.
c) Cognitivas: baseadas no conceito de que o pensamento e a atividade mental são
responsáveis pelas emoções.

«NEUROEDUCAÇÃO» o cérebro precisa de se «emocionar para aprender»

O que fazer, para viver mais e com melhor qualidade de vida? Por que não fazer essa
pergunta ao próprio corpo; já alguma vez pensou nisso? Todos possuímos uma
sabedoria interna que tende para a cura, «o curador interno», mas, aparentemente, se
nos recusarmos a ouvir o nosso corpo, as memórias do passado continuarão
cristalizadas, a produzir os seus poderosos efeitos no futuro. Agora, se levarmos essa
mensagem ao momento de sensibilização inicial (trauma inicial), a emoção que estava
cristalizada no passado «amolecerá» e responderá que é necessário parar um pouco e
escutar as suas necessidades pessoais (emocionais e fisiológicas); neste caso, ajuda
muito saber usar devidamente a técnica de hipnose de regressão.
E não estamos sozinhos, quando afirmamos que as emoções não-expressas se
transformam em doenças, no futuro. Com o advento das neurociências e o uso da
imagiologia para observar as emoções, começa-se a perceber porque é que as
terapêuticas que criam emoções são tão eficazes.
As últimas investigações numa nova área das neurociências — a «Neuroeducação»,
que estuda a forma como o cérebro pode aprender— está a questionar as metodologias
tradicionais de ensino. Porquê? Porque os investigadores afirmam que «o cérebro
humano precisa de se emocionar para aprender […]» (Francisco Mora, 2013). De facto,
não «existe ideia mais inovadora e válida que não contenha esse princípio», afirma uma
das maiores referências do mundo em Neuroeducação, o doutor em Medicina, Francisco
Mora. Este investigador doutorado em Neurociência pela Universidade de Oxford e

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autor do interessante livro Neuroeducación: Solo Se Puede Aprender Aquello Que Se Ama
(2013), chegou à conclusão de que a melhor forma de o cérebro aprender e criar
sinapses é através de estados emocionais. Ora, a psicoterapia com a hipnose de
regressão cria as condições exatas — de emoções, libertação e ressignificação —, para
que o cérebro possa sentir emoções, aprender e, finalmente, libertar-se dos dramas
passados. Descobrir como o corpo se sente antes da tomada de decisões é um dos
segredos mais poderosos para libertar dramas passados. Simultaneamente, permite
perceber a mensagem da doença, facilitando a adoção de hábitos saudáveis e o alcance
de um estado de perfeita saúde. É aí que a hipnose pode realmente ajudar na tomada
de decisões mais funcionais.

O cérebro também se alimenta de emoções

Teoricamente, somos compostos por cerca de 50 triliões de células, numa simbiose


perfeita. Somos pequenas células integradas num único organismo dinâmico pulsátil,
que se move por impulsos ambientais, mas também emocionais. Um corpo que se
apropria da energia que o rodeia, através dos alimentos e oxigénio, mas também que se
«alimenta de emoções», pois cada estado de humor fica impresso nas nossas células,
como uma impressão digital que vai interferir obrigatoriamente no estado de ânimo, na
motivação e no nosso comportamento. Então, podemos perceber a importância de
compreender, ressignificar e libertar as emoções. No passado, ensinaram-nos que não
devíamos demonstrar as nossas emoções, para não dar parte de fracos. Nada mais
errado, pergunto, para onde vão as nossas emoções quando não expressamos a nossa
dor? Eu respondo, o que mente não consegue resolver o corpo encarrega-se de
transformar em doença. Recordemos Freud «as emoções não-expressas nunca morrem,
afastam-se temporariamente, mas tendem a voltar mais tarde em forma de doença».
Portanto, acredite em mim quando digo que devemos dizer aquilo que sentimos, ou
esses silêncios farão muito ruído na nossa cabeça, ao longo de toda a nossa vida, pois
sabemos que «a mente é a causa de todas as doenças e o coração é fonte de toda a
cura». (Osho)

Todos sabemos que há uma forte ligação entre mente e corpo

Hoje em dia, a própria Medicina sabe o peso que as emoções têm no binómio saúde-
doença. Mas, de alguma maneira, a maioria de nós não consegue ter uma vida sem
stress. É caso para perguntar onde é que estamos a falhar? Efetivamente, sabemos que
a saúde é o espelho da nossa consciência, do que pensamos e sentimos. Atualmente,
estudos comprovam que os pensamentos geram respostas fisiológicas
correspondentes, que podem ser positivas ou negativas. Cada estado de humor fica
impresso nas células como uma impressão digital, que pode gerar stress, com os efeitos
nefastos dos seus mediadores químicos, como o cortisol e a adrenalina, ou bem-estar,
com os respetivos mediadores químicos, como as beta-endorfinas.

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Desse modo, defendo que a maior prisão não é feita de grades, mas de pensamentos
e emoções negativos, que aprisionam a pessoas aos dramas do passado e que precisam
de ser compreendidos e libertados. É fácil perceber que as emoções mal resolvidas
podem transformar-se em doenças terríficas. Veja-se a depressão e a perturbação de
pânico que se proliferam cada vez mais nas sociedades. Entendo, pois, que a hipnose de
regressão é realmente a terapia ideal para contextualizar e libertar esses dramas
passados, já que permite compreender essas memórias mal resolvidas e, finalmente,
libertá-las. Com a mente devidamente hipnotizada, tendo por base a hipnose clínica de
regressão, é possível deixar a consciência adquirir a dimensão adequada e viajar
mentalmente até ao local onde se manifestam os sintomas da doença, em geral, através
de emoções.

As emoções têm vida própria?

Não existe um botão para desligar as emoções. As nossas emoções não pertencem ao
domínio da razão e, se a hipnose é tão eficaz, é por nos dar acesso à sabedoria do nosso
corpo, para que ela nos oriente nos processos de tratamento e busca de cura. Em
hipnose de regressão, é possível viajar no tempo, até à origem, onde se implantou o
sintoma, e para descobrir o que ele nos quer mostrar ou dizer e as melhores técnicas a
usar para encetar um processo de cura. O estado de transe facilita o encontro com a
sabedoria do corpo e ajuda a fomentar os poderosos processos de autocura e do pleno
funcionamento biológico do corpo. Com o transe hipnótico, é relativamente simples e
eficaz fazer um mergulho introspetivo nas trajetórias do mundo interior. A hipnose de
regressão é a única coisa em que se investe que nos pode tornar realmente livres.

Gerir eficazmente as emoções

Algo está errado na forma como temos gerido, até agora, as nossas emoções. Vale a
pena perguntar, porque é que nas sociedades ditas de abundância, a depressão e a
ansiedade grassam e são as principais causas de infelicidade nas populações? Porque é
que a maioria das intervenções psicopatológicas, nomeadamente, a psicofarmacologia,
não conseguem superar o flagelo da depressão e ansiedade, já que se estima que os
consumos dos psicofármacos não param de aumentar? Tenho para mim que estas
abordagens psicoterapêuticas não abordam o essencial. Procuram antes camuflar ou
esquecer teimosamente as emoções reprimidas ou não-expressas do passado. Vale a
pena perguntar para onde é que vão as emoções, quando não conseguimos expressar
as nossas dores? Eu digo-lhe que aquilo que a mente não consegue resolver, o corpo
encarrega-se de transformar em doença. E creio que não estou sozinho, quando digo
que esta é base de todos os problemas e sintomas que afligem o ser humano. Então, de
que forma pode a hipnose de regressão fazer a diferença?

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Emocionar-se para aprender

A forma como fazemos terapia parte deste princípio, ou seja, as emoções são expressas
na segurança do consultório, de forma que o cérebro possa «emocionar-se para
aprender». E, na segurança do consultório, permite evocar recursos, encontrar soluções
novas e sarar a ferida aberta com sabedoria psicoespiritual. É certo que não podemos
voltar atrás, no tempo, e apagar o que foi feito, mas podemos sempre adotar novas
perspetivas e aprender coisas novas de grande significado para começar a fazer as coisas
de outro modo, no presente.
Efetivamente, a hipnose de regressão cria as condições ideais para evocar as
experiências mal resolvidas e permite olhar para o passado sob uma perspetiva mais
construtiva. Desse modo, o cérebro emociona-se e aprende comportamentos mais
funcionais. Mas estas viagens mentais não são mera fantasia, são caminhos de cura,
através do poder do amor e do reencontro com a sabedoria ancestral da nossa dinâmica
interna. Para além de outras vantagens, a hipnose de regressão deixa um efeito residual
de cura que permanece ao longo do tempo, levando a insights e reflexões profundas
que transformam por completo a nossa vida.

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A PSICOLOGIA NA TEORIA DAS EMOÇÕES

Seguidamente, apresentamos algumas das primeiras teorias que ao longo do tempo a


Psicologia desenvolveu em relação às emoções e iremos explicar de que forma podemos
interpretar o efeito que elas têm no comportamento humano.

A TEORIA DE JAMES-LANGE

A teoria de James-Lange que, na verdade, foi proposta independentemente pelo


fisiologista Carl Lange e pelo psicólogo William James na década de 1920, é uma das
mais conhecidas teorias sobre as emoções. Esta teoria sugere que todas as emoções
resultam de uma reação fisiológica aos acontecimentos externos.
Esta teoria pode ser dividida em quatro fases:

1. Evento
2. Reação
3. Interpretação
4. Emoção

Ao experimentarmos um estímulo externo, temo uma reação fisiológicas. Essa reação


fisiológica, por sua vez, dá origem a um sentimento de emoção, ou reação emocional,
que se baseia no modo como a reação física foi interpretada. Por exemplo, se estivermos
a passear e, de repente, nos depararmos com um leão selvagem, o mais provável será
sentirmos o coração disparar e o corpo começar a tremer. De acordo com a teoria deste
autor, iremos interpretar essa reação física e chegar à conclusão de que estamos
assustados.
Já se apresentaram muitos argumentos sólidos para contrariar a teoria de James-
Lange, que foi, em grande medida, abandonada pela ciência moderna. No entanto, há
psicólogos que ainda reconhecem a influência desta teoria e até há exemplos a que esta
teoria se aplica, como é o caso do que acontece às pessoas que desenvolvem fobias ou
perturbação de pânico.
Se um indivíduo experimenta uma reação física, tal como sentir-se mal em público, isso
pode provocar uma reação emocional, tal como ansiedade — e daí ser possível fazer a
associação entre os dois estados. Em resultado, a pessoa pode passar a tentar evitar
qualquer tipo de situação que desencadeie essa emoção.

A TEORIA DE CANNON-BARD

Desenvolvida na década de 1930, por Walter Cannon e Philip Bard, como argumentação
contra a teoria de James-Lange, a teoria de Cannon-Bard afirma que as emoções e as
reações fisiológicas são experimentadas em simultâneo. De acordo com esta teoria, as
emoções podem ocorrer quanto o tálamo — a parte do cérebro responsável pelo

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controlo motor, em estado de vigília ou a dormir, e pelos sinais sensoriais — envia ao


cérebro uma mensagem em resposta a um estímulo concreto e desencadeia uma reação
fisiológica.
Vejamos o seguinte diagrama:

1. Reação + Evento
2. Emoção
Eventos que espoletam a reação e a emoção

O estímulo emocional original é captado pelos órgãos sensoriais e transmitido ao córtex


que determina a resposta e estimula o tálamo. Por outras palavras, o estímulo é
percecionado e interpretado. Depois, ocorrem duas reações em simultâneo: a reação
emocional e a reação física. Voltando ao exemplo anterior, se estivermos a passear e
nos depararmos com um leão selvagem, teremos sensações físicas, como tremores e o
ritmo cardíaco acelerado, e, ao mesmo tempo, sensações emocionais, como medo.

A TEORIA DE SCHACHTER-SINGER «TEORIA DOS 2 FATORES»

A teoria de Schachter-Singer, criada em 1962, por Stanley Schachter e Jerome E. Singer,


é uma teoria cognitiva. De acordo com a teoria de Schachter-Singer, também conhecida
como teoria dos dois fatores, a reação física a um acontecimento é a primeira etapa.
Após a reação fisiológica, o indivíduo tem de encontrar a respetiva causa e, só depois, é
que pode caracterizar a experiência e considerá-la um sentimento.
Por exemplo, se uma mulher estiver a percorrer uma rua deserta à noite e, de repente,
ouvir passos atrás dela, a sua primeira reação poderá ser tremer e ter o ritmo cardíaco
mais acelerado. É só quando ela repara na sua reação física, ganha consciência de que
está sozinha na rua e começa a acreditar que está em perigo que surge o sentimento de
medo.
Consideremos a seguinte perspetiva alternativa da resposta emocional:

1. Evento
2. Reação
3. Raciocínio
4. Sentimento

A TEORIA DE LAZARUS

Desenvolvida na década de 1990, por Richard Lazarus, esta teoria acerca das emoções
afirma que qualquer emoção ou reação fisiológica tem de ser precedida de um
pensamento. Isto significa, essencialmente, que só começamos a sentir uma emoção,
depois de considerarmos a situação em que nos encontramos.

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Tomemos o exemplo da mulher a percorrer uma rua deserta, à noite. Quando ouve
passos atrás dela, primeiro, pensa que está em perigo: por exemplo, pensa que pode ter
um assaltante atrás de si. É esse pensamento que gera a aceleração do ritmo cardíaco,
os tremores e o sentimento de medo.
Tal como a teoria de Cannon-Bard, a teoria de Lazarus envolve uma reação emocional
e uma reação física que acontecem ao mesmo tempo:

1. Evento + Pensamento
2. Sentimento + Reações

TEORIA DO FEEDBACK FACIAL

A teoria do feedback facial assenta no trabalho de William James, que foi


posteriormente aprofundado por Silvan Tomkins, em 1962. Esta teoria afirma que as
emoções vêm sempre acompanhadas de alterações nos músculos faciais; caso contrário,
estaremos só a ter reações intelectuais. Isto significa que, se sentirmos felicidade,
teremos um semblante sorridente, se sentirmos tristeza, teremos um semblante
carregado, e daí por adiante. São essas mudanças nos músculos faciais que levam o
cérebro a especificar a base da emoção, e não o oposto.
Uma vez mais, vejamos o cenário da mulher a caminhar sozinha, numa rua, à noite.
Quando ouve passos atrás dela, arregala os olhos e cerra os dentes. O cérebro interpreta
essas mudanças nos músculos faciais como expressão da emoção de medo e,
consequentemente, transmite a sensação de medo.
Vejamos o diagrama dos eventos faciais que ativam os sentimentos:

1. Evento
2. Alterações faciais
3. Sentimento

O ESTUDO DAS EXPRESSÕES FACIAIS SEGUNDO CARNEY LANDIS

Em 1924, um estudante de Psicologia da Universidade de Minesota chamado Carney


Landis criou uma experiência para compreender a relação entre as expressões faciais e
as emoções. Landis queria ver se as pessoas apresentavam as mesmas expressões faciais
universais perante determinadas emoções. Queria saber se, por exemplo, todos
apresentamos a expressão facial quando sentimos repulsa?
Para esta experiência, Landis usou sobretudo colegas seus também licenciados. Dentro
do laboratório, Landis pintou linhas pretas nos rostos dos participantes, de maneira a
conseguir seguir todos os seus movimentos musculares. Os participantes eram expostos
a vários estímulos cuidadosamente escolhidos para desencadear reações fortes e o
autor tirava-lhes fotografias, para captar a reação facial de cada um.

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Os estímulos que Landis utilizou incluíam fazer os participantes cheirar amoníaco, ver
pornografia e colocar as mãos num balde cheio de sapos. A parte final do teste foi a mais
perturbadora, pois Landis apresentava uma ratazana viva aos participantes e pedia-lhes
que a decapitassem. Apesar de todos os participantes se mostrarem enojados com a
ideia, dois terços acabaram por executar a tarefa e os restantes observaram Landis a
decapitar a ratazana por eles.
Apesar de ter tido pouco impacto na demonstração do caráter universal das
expressões faciais e da sua relação com as emoções, experiência das expressões faciais
de Landis antecipou os resultados que Stanley Milgram viria a obter nos seus estudos
sobre a obediência, 40 anos mais tarde. Landis estava demasiado centrado no seu
trabalho sobre as expressões faciais para se dar conta de que o seu estudo evidenciava
um aspeto muito interessante: a submissão dos participantes.

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STRESS: AMIGO OU INIMIGO?

O STRESS: A CIÊNCIA POR DETRÁS DA PRESSÃO

Resposta fisiológica a estímulos exteriores de ordem psicológica ou fisiológica, o stress


pode ser de longo ou curto prazo. Apesar da forma como o encaramos, a verdade é que
o stress não é um mero sentimento, pois pode realmente afetar o estado biológico e
psicológico do indivíduo.

A ASSOCIAÇÃO ENTRE O STRESS E A PREOCUPAÇÃO

Quando pensamos em stress, temos tendência para o considerar o equivalente a uma


preocupação, quando ele pode ser muito mais do que isso e nem sempre tem de ser
negativo.
Existem dois tipos de stress, que acontecem em situações negativas e positivas:

1. O stress negativo, ou o «DISTRESS»: é o stress que surge em resposta a


acontecimentos negativos. Por exemplo, o stress que acontece na ocorrência da
morte de um ente querido, quando nos magoamos ou perdemos o emprego.

2. O stress positivo, ou EUSTRESS: é o stress que ocorre em resposta a acontecimentos


positivos. Por exemplo, o stress que acontece quando vemos um filme de terror,
andamos numa montanha-russa ou somos promovidos no nosso emprego.

O STRESS E A RESPOSTA DE LUTA OU FUGA

Em 1929, baseando-se no estudo do comportamento animal, o fisiólogo americano


Walter Cannon desenvolveu uma teoria para explicar a forma como os animais lidam
com o stress, a que chamou teoria da resposta de luta ou fuga ou teoria do stress agudo.
Segundo Cannon, o stress, seja ele real ou apenas imaginário, provoca nos animais uma
reação psicológica e fisiológica. O corpo sofre imediatamente uma descarga química —
de substâncias como adrenalina, norepinefrina e cortisol — que gera uma aceleração do
ritmo cardíaco e respiratório, tensão muscular e constrição dos vasos sanguíneos e
produz a energia necessária para a reação de luta ou fuga.
Esta resposta involuntária é regulada por três sistemas corporais: o sistema imunitário,
o sistema endócrino e o sistema nervoso central.

O STRESS E AS EXPERIÊNCIAS DE HANS SELYE COM RATOS

Foi o cientista húngaro, Hans Selye, quem primeiro descreveu, em 1936, os efeitos que
o stress pode ter sobre o corpo. Selye defendia que o stress crónico cria alterações
químicas de longo prazo no corpo e pode, por isso, ser uma importante fonte de
doenças. Na verdade, o cientista chegou a esta conclusão por acaso, quando era
assistente do departamento de bioquímica da Universidade McGill e trabalhava com

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ratos. Na experiência em que estava a trabalhar, tinha de injetar extratos de ovários em


ratos, para observar eventuais reações que pudessem levar a um novo tipo de hormonas
sexuais. Os ratos tiveram uma reação: baço, timo, nódulos linfáticos e córtex adrenal
aumentaram e tiveram profundas úlceras hemorrágicas no duodeno e no revestimento
do estômago. As reações variavam, aumentando e diminuindo consoante a quantidade
de extrato que se administrava. Hans Selye começava a pensar que tinha descoberto
uma nova hormona, mas, depois fez a mesma experiência, utilizando extrato placentário
e extrato pituitário e, para sua surpresa, os ratos tiveram exatamente as mesmas
respostas.

O stress diário gera doenças

A síndrome do alerta constante, ou do stress agudo, afeta a resistência, reduzindo-a e


gerando exaustão que, por sua vez, desencadeia vários tipos de doenças. O
enfraquecimento do sistema imunitário deve-se sobretudo a uma descoordenação na
excreção da hormona cortisol, responsável pelo combate às inflamações. O cortisol é
um glucocorticoide — uma hormona relacionada com a resposta do Sistema Imunitário
o (S.I.) do organismo — que, em situações normais, funciona como a «arma» do corpo
no combate a infeções e inflamações. A incidência prolongada de stress leva a que as
glândulas libertem grandes quantidades dessa hormona e, «sem uma regulação
adequada desse glucocorticoide, a duração e/ou a intensidade das respostas imunitárias
aumentam […]» (Sheldon Cohen, 2016). O permanente estado de stress implica um
aumento do risco de resposta de defesa do S.I. e exacerbações agudas, como a asma e
as doenças autoimunes.
A síndrome do pensamento acelerado (multitasking e pressa estonteante), o facto de
estarmos constantemente a fazer várias coisas ao mesmo tempo, provoca altos níveis
de stress, que, por sua vez, provoca alterações visíveis no corpo humano: oscilações de
humor, depressão, doenças cardíacas, respiratórias e outras.
Porque é que isso acontece? Se, na diabetes, o excesso de produção de insulina gera a
insensibilidade do corpo a essa substância, no stress, a produção excessiva de cortisol
gera a tolerância do organismo a essa substância.
Através da hipnose, podemos identificar a origem das preocupações, para perceber se
elas estão a ultrapassar os limites aceitáveis e tomar medidas para evitar que a condição
de stress agudo «se espalhe» pelo corpo e desencadeie outro tipo de doenças.

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A SINTOMATOLOGIA DEPRESSIVA E AS ESCALAS DE AVALIAÇÃO

A SINTOMATOLOGIA DEPRESSIVA

Com vestígios da sua ocorrência desde a Antiguidade, a depressão representa uma das
doenças mais comuns das sociedades modernas. Efetivamente, a Organização Mundial
de Saúde estima que a depressão atinja atualmente cerca de 121 milhões de pessoas
em todo mundo. Nas sociedades ocidentais, é uma das principais causas de
incapacitação. As previsões da OMS apontam para que em 2020 a depressão passe a ser
a segunda maior causa de incapacidade laboral e perda de qualidade de vida (OMS,
2009).
Segundo o Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders (DSM IV-TR), a
depressão é uma síndrome caracterizada por uma redução da disposição para realizar
as atividades quotidianas, perda de interesse ou prazer, sentimentos de ruína, culpa
e/ou de baixa autoestima, perturbações do sono e do apetite e falta de concentração. A
pessoa deprimida fica angustiada, desanimada, sem energia e invadida de uma tristeza
profunda. Os sentimentos predominantes são de infelicidade, inutilidade, culpabilidade,
vazio e um estado de humor deprimido. Por norma, a pessoa deprimida passa a encarar
até as tarefas mais simples como tarefas que exigem um grande esforço.
A perturbação depressiva pode ocorrer tanto em homens como em mulheres, de todas
as idades e estratos sociais. Contudo, os estudos demonstram que a sua incidência é
substancialmente maior nas mulheres do que nos homens, numa proporção aproximada
de duas mulheres por cada homem.

Até ao momento, não existe uma explicação científica suficientemente coerente, para
justificar esta propensão superior do género feminino para a depressão. De entre as
várias teorias, destaca-se a que correlaciona os sintomas depressivos com as hormonas
femininas. Ou seja, o constante desequilíbrio hormonal parece estar associado a uma
maior incidência de sintomas de depressão, mas importa referir que ainda persistem
dúvidas, relativamente à sua origem. Atualmente, a depressão é vista como uma doença
multifatorial, para que contribuem fatores genéticos, biológicos, psicodinâmicos e
psicossociais.

O termo «depressão» pode ser usado tanto no senso comum — indicação de um


estado de humor alterado — como para designar um sintoma ou uma síndrome. Como
sintoma, a depressão pode surgir nos mais variados quadros clínicos psiquiátricos (como
por exemplo, nas demências, nas esquizofrenias e no alcoolismo) e não-psiquiátricos
(tais como o hipotiroidismo, os tumores cerebrais e as infeções). Pode manifestar-se
ainda como resposta a acontecimentos de vida traumáticos ou a circunstâncias sociais

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e económicas adversas. Como síndrome, a depressão inclui não apenas alterações do


humor (tristeza, irritabilidade, apatia ou anedonia), mas também uma variedade de
outros sinais e sintomas, como alterações cognitivas, psicomotoras e vegetativas.
Embora o que melhor caracterize os estados depressivos sejam principalmente os
sentimentos de tristeza ou de vazio, nem todos os doentes descrevem essas mesmas
sensações subjetivas. Muitos descrevem uma perda da capacidade de experimentar
prazer nas atividades em geral, uma redução do interesse pelo ambiente ou, até,
quadros álgicos. No diagnóstico de depressão, deve ter-se em consideração tanto os
sintomas psíquicos e físicos como as manifestações comportamentais. Nenhum sintoma
é patognomónico de depressão, e os doentes podem apresentar diferentes formas
clínicas, com diversos sintomas.

O USO DA HIPNOSE NO TRATAMENTO DA DEPRESSÃO

No que diz respeito às perturbações psicológicas, incluindo a depressão, o uso da


hipnose é o mais adequado para acelerar o processo de terapia e encurtar notavelmente
o tempo de tratamento. Efetivamente, o tempo de recuperação é sem dúvida mais curto
com este método. O tempo, num processo hipnótico para ajudar numa depressão, varia
de acordo com a pessoa e o problema, entre meia dúzia de sessões e poucos meses de
trabalho.
A hipnoterapia é de extrema importância, pois ajuda a pessoa não só a reconhecer a
doença e a necessidade de ajuda, mas também a identificar pontos importantes que
possam ter contribuído para o desenvolvimento do seu estado, possibilitando, ao
mesmo tempo, a elaboração de estratégias para lidar com esses fatores.
Para começar, a hipnoterapia é considerada uma terapia breve, inócua e natural. Na
realidade, trata-se tão só de ter oportunidade de usar os poderosos recursos internos,
que, em estado de transe, ficam disponíveis, para remover atitudes negativas, medos,
padrões de comportamento que não se adaptem ao quotidiano e/ou autoimagens
negativas subjacentes aos sintomas vividos no presente. Para que a pessoa possa viver
a vida no presente, de forma tranquila e equilibrada, é fundamental descobrir a origem
e as causas dos problemas atuais e transformar os sintomas.
A hipnose parte do pressuposto de que todos temos o dom da autocura e detemos no
nosso interior a solução para os nossos problemas. Em transe hipnótico, temos a
agradável surpresa de constatar que o normal é encararmos as nossas dificuldades de
forma mais construtiva, com uma atitude tranquila, equilibrada e serena. Depois de
acedermos ao nosso vasto reservatório de experiências e saberes, despertamos com
maior capacidade de lidar com as perdas, as emoções e as contrariedades com que nos
debatemos no presente. E o equilíbrio acontece naturalmente, pois passamos a ser mais
capazes de lidar com as nossas próprias emoções nos momentos mais stressantes e
dramáticos. Além disso, passamos a saber aproveitar todas as nossas experiências para

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crescer — aliás, entendo que não há coisas boas ou más na vida, mas oportunidades de
crescimento.

O DIAGNÓSTICO DE DEPRESSÃO VS. A QUANTIFICAÇÃO DOS SINTOMAS

A ausência de marcadores biológicos consistentes faz com que a maioria dos


diagnósticos psiquiátricos se baseie na presença de sintomas e síndromes clínicos. Ao
longo das últimas décadas, o processo de diagnóstico em psiquiatria tem evoluído com
o advento do diagnóstico multiaxial, que permite considerar uma série de aspetos na
formulação diagnóstica, com o intuito de estabelecer estratégias de tratamento e
estimar o prognóstico das doenças mentais a curto, médio e longo prazo.
O diagnóstico multiaxial engloba cinco dimensões: o diagnóstico da perturbação
mental atual, da perturbação da personalidade, da condição médica geral, dos
acontecimentos stressantes psicossociais e do funcionamento social. O diagnóstico
formal de depressão, por exemplo, pelo DSM-IV, requer uma avaliação psiquiátrica do
estado mental do doente e a exclusão de fatores ou condições que expliquem os
sintomas, tais como o efeito fisiológico de drogas ou medicamentos, ou condições
médicas, como o hipotiroidismo ou a esquizofrenia.
Assim, o processo diagnóstico em psiquiatria tem em consideração a presença ou a
ausência de uma série de caraterísticas clínicas da síndrome depressiva (presença e
padrão de sinais e sintomas, duração e curso). Para o diagnóstico padronizado, utilizam-
se entrevistas clínicas, que podem ser livres, semiestruturadas ou estruturadas, como a
«Sttuctuteo Clinica Interview for DSM-IV/I» (SCIO) ou a «Schedules for Clinical.
Assessment in Neuropsvchistry» (SCAN). Por outro lado, quando o propósito é avaliar a
gravidade dos sintomas de um doente previamente diagnosticado com depressão,
utilizam-se as escalas de avaliação.

ESCALAS DE AVALIAÇÃO DA DEPRESSÃO

As escalas de avaliação de depressão são utilizadas para quantificar a presença e a


gravidade dos sintomas, segundo critérios objetivos pré-estabelecidos. Isto, porque há
sempre alguma subjetividade na atribuição das pontuações, tanto por parte do doente
como do entrevistador, e muitos dos sintomas das perturbações psiquiátricas são
inerentemente subjetivos. Essas «medidas» devem ser consideradas como estimativas
aproximadas.
Na sua maioria, as escalas de avaliação são usadas há mais de 20 anos e foram objeto
de estudos de validação e fiabilidade, sendo utilizadas em ensaios clínicos de fármacos
em diversos países. A avaliação das categorias de sintomas que compõem a síndrome
depressiva varia de uma escala para a outra. Essas diferenças podem ser constatadas
pela contribuição de cada uma dessas categorias para a pontuação total da escala. Umas

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valorizam mais os sintomas cognitivos e, outras, o humor, dependendo da sua referência


teórica de base.

TABELA DAS PRINCIPAIS CATEGORIAS DE SINTOMAS DEPRESSIVOS

Há muitas formas de se classificarem escalas. A mais comummente adotada é a que


distingue as escalas de autoavaliação das escalas de avaliação clínica pelo observador.
A informação que ambas fornecem ao investigador ou clínico é complementar, pelo que
as escalas são consideradas úteis.

TABELA 1:

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TEORIAS DA PSICOLOGIA: AS TEORIAS PSICANALÍTICAS

A PSICANÁLISE OU LIVRE ASSOCIAÇÃO IDEIAS DE SIGMUND FREUD (1856-1939)

O criador da Psicanálise, Sigmund Freud, nasceu a 6 de maio de 1856, em Freiberg, na


Morávia, a atual República Checa. A mãe de Freud era a segunda esposa do pai e 20 anos
mais nova do que ele. Freud tinha dois meios-irmãos cerca de 20 anos mais velhos e foi
o primeiro de sete irmãos por parte da mãe. Aos quatro anos, Freud mudou-se da
Morávia para Viena, na Áustria, onde passou a maior parte da sua vida, apesar de ter
afirmado que não gostava da cidade.
Freud foi bom aluno na escola e, visto ser judeu — ainda que mais tarde se tenha
declarado ateu —, frequentou a Faculdade de Medicina da Universidade de Viena, em
1873 (naquela altura, Medicina e Direito eram as únicas opções viáveis para os judeus
de Viena). Embora Freud quisesse fazer investigação em Neuropsicologia, era difícil
obter lugar de investigador. Consequentemente, optou por exercer medicina dando
consultas de Neurologia num consultório privado.
Enquanto estudava, Freud tornou-se amigo do médico e psicólogo Josef Breuer. Essa
relação revelou-se extremamente importante para o desenvolvimento do trabalho de
Freud, quando Breuer começou a tratar de pacientes com histeria, usando a hipnose e
encorajando-os a falar do passado. O processo de hipnose, mencionado pela paciente
de Breuer, Anna O., como «a cura pela fala», permitia aos pacientes falar das memórias
de que eles não se lembravam num estado consciente, aliviando, assim, os sintomas da
histeria.
Freud foi coautor da obra Estudos Sobre a Histeria, com Breuer, tendo viajado depois
para Paris para aprender mais acerca da hipnose, com o prestigiado neurologista francês
Jean-Martin Charcot. Em 1886, regressou a Viena e começou a exercer medicina no seu
próprio consultório.
Freud começou por usar a hipnose nos seus pacientes com neurose e histeria, mas,
tendo grande dificuldade em hipnotizá-los, apercebeu-se de que conseguiria obter mais
deles se os sentasse numa posição descontraída (como num divã) e os encorajasse a
falar do que passava pelas suas mentes (técnica conhecida como livre associação de
ideias). Ao fazer isso, Freud acreditava ser capaz de analisar o que era dito e determinar
o evento traumático do passado que desencadeara sofrimento do paciente no presente.
Os trabalhos mais famosos de Freud surgiram rapidamente uns a seguir aos outros, no
espaço de cinco anos, com a publicação de três livros que tiveram impacto na Psicologia
nas décadas seguintes: em 1900, A Interpretação dos Sonhos, no qual apresentou ao
mundo a ideia do inconsciente; em 1901, Psicopatologia da Vida Quotidiana, onde
teorizou que os lapsos linguísticos, mais tarde conhecidos como «lapsos freudianos»,
eram, na verdade, comentários significativos revelados pela «dinâmica do
inconsciente»; e, em 1905, Três Ensaios Sobre a Teoria da Sexualidade, onde, entre
outras coisas, falou do hoje famoso complexo de Édipo.

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Com um pensamento científico avançado para o seu tempo, Freud deu por si a ter uma
atenção não desejada quando, em 1933, o regime nazi subiu ao poder na Alemanha e
começou a queimar os seus livros. Em 1938, os Nazis ocuparam a Áustria e confiscaram
o passaporte de Freud. Foi apenas devido à sua fama internacional e à influência de
personalidades estrangeiras que Freud obteve a autorização para ir para Inglaterra,
onde residiu até à sua morte, em 1939.

ESTÁDIOS DO DESENVOLVIMENTO PSICOSSEXUAL

A teoria de Freud acerca do desenvolvimento psicossexual é uma das mais conhecidas


e controversas em Psicologia. Segundo Freud, a personalidade é formada, em grande
parte, até a pessoa atingir os seis anos. Quando uma sequência predeterminada de
etapas é completada com sucesso, a personalidade torna-se saudável; quando há
alguma falha nesse processo, a personalidade torna-se doentia.
Obviamente que a teoria de Freud tem os seus críticos. Freud centrou-se quase
exclusivamente no desenvolvimento masculino. A sua investigação não se baseia no
comportamento de crianças, mas sim no que os seus pacientes adultos lhe contavam.
Devido a um longo espaço de tempo entre a possível «causa» em criança e o eventual
«efeito» em adulto nestas teorias, é extremamente difícil medir ou testar se as ideias de
Freud sobre o desenvolvimento psicossexual são válidas.

AS INSTÂNCIAS DA PERSONALIDADE

A juntar à sua conceção do desenvolvimento psicossexual, Freud enumera outras


pulsões em causa, que são importantes para compreender o desenvolvimento da
personalidade de uma pessoa. O seu modelo estrutural de personalidade tenta
descrever como a mente funciona através da distinção entre três partes da
personalidade e da mente humana: o ID, o EGO e o SUPEREGO.

• O ID: Todas as pessoas nascem com um id, que é o responsável por o recém-nascido
conseguir satisfazer as suas necessidades básicas. Freud alega que o id se baseia no
que conhecemos por «princípio do prazer», o que essencialmente significa que
procura o que dá prazer no momento presente e não toma outras opções em
consideração — nem as outras variantes da situação nem as pessoas envolvidas. Por
exemplo, quando um bebé se magoa, quer comer, precisa de ser mudado ou
simplesmente quer a atenção dos outros, o id leva-o a chorar, até que lhe satisfaçam
as suas necessidades.

• O EGO: Este outro aspeto da personalidade começa a desenvolver-se naturalmente


durante os primeiros três anos, em resultado da interação da criança com o mundo
à sua volta. Como consequência, Freud alega que o ego se baseia no que ele refere

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como o «princípio da realidade». O ego apercebe-se de que há outras pessoas à


volta, que também têm desejos e necessidades e que o comportamento impulsivo e
egoísta pode ser prejudicial. O ego toma em consideração todos os pormenores da
realidade, sem deixar de satisfazer também as necessidades do id. Por exemplo,
quando uma criança pensa duas vezes antes de fazer uma coisa inapropriada e
percebe que poderá ter um resultado negativo, isso é o ego a funcionar.

• O SUPEREGO: O superego desenvolve-se quando a criança tem cinco anos e se


aproxima do fim do estádio fálico. Esta é terceira parte da nossa personalidade
constituída por princípios morais e ideais adquiridos e inculcados pela sociedade e
pelos nossos pais. Muitas pessoas consideram o superego o equivalente à
consciência, pois ambos os termos se referem à parte da nossa personalidade que
ajuíza o que é correto e o que é errado. Segundo Freud, numa pessoa saudável, o ego
é mais forte do que o id e o superego, uma vez que consegue avaliar a realidade da
situação, satisfazendo ainda assim as necessidades do id e certificando-se de que o
superego não seja posto em causa. No caso de o superego ser mais forte, a pessoa é
orientada por princípios morais muito rígidos; no caso de um id mais forte, uma
pessoa procura o prazer acima da moralidade, podendo acabar por causar elevados
danos (por exemplo, a violação é quando alguém coloca a satisfação do prazer acima
da moralidade e é sinal de um id forte).

Os críticos da teoria de Freud

Para alguns críticos, Sigmund Freud centrava-se quase exclusivamente no


desenvolvimento masculino. A sua investigação não se baseava no comportamento de
crianças, mas sim no que os seus pacientes adultos lhe contavam. Devido a um longo
espaço de tempo entre a possível «causa» em criança e o eventual «efeito» em adulto
nestas teorias, é extremamente difícil medir ou testar se as ideias de Freud sobre o
desenvolvimento psicossexual são válidas.

A TEORIA DE ANNA FREUD E A PSICANÁLISE INFANTIL NAS CRIANÇAS


(1895-1982)

Anna Freud nasceu a 3 de dezembro de 1895, em Viena, na Áustria, e era a mais nova
dos seis filhos de Freud. Apesar de se sentir distante dos irmãos e da mãe, Anna era
muito próxima do pai. Afirmou que enquanto estudava numa escola privada, aprendeu
muito pouco nas aulas e que muita da sua educação adveio da proximidade com os
amigos e os colegas do pai. Após o liceu, Anna começou a traduzir os livros do pai para
alemão e a trabalhar como professora numa escola primária, onde surgiu o seu interesse
pela terapia infantil. Em 1918, contraiu tuberculose e teve de deixar o cargo de
professora. Durante este difícil período, começou a relatar os seus sonhos ao pai. E, à

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medida que ele a analisava, Anna ia-se interessando pela profissão do pai, acabando por
decidir estudar psicanálise por conta própria.
Embora Anna Freud tenha defendido muitas das ideias básicas do pai, estava menos
interessada na estrutura do subconsciente e mais interessada no ego e nas dinâmicas,
ou motivações, da psique humana. Este interesse levou à publicação, em 1936, da obra
inovadora Das Ich und die Abwehrmechanismen1.
Anna Freud talvez seja mais conhecida por ter aberto o caminho à Psicanálise Infantil,
o que contribuiu para aumentar o conhecimento da Psicologia Infantil, mas também é
conhecida por ter desenvolvido diferentes métodos de tratar crianças. Em 1923, sem
sequer ter um grau académico, começou a sua prática de Psicanálise Infantil, em Viena,
e foi nomeada presidente da Sociedade Psicanalítica de Viena. Em 1938, Anna Freud e a
sua família fugiram do país para Inglaterra, por causa da invasão nazi. Em 1941, com
Dorothy Burlingham e Helen Ross, fundou em Londres a instituição Hampstead War
Nursery, que servia de casa de acolhimento e centro de psicanálise para crianças sem-
abrigo. Do seu trabalho com crianças, surgiram três livros: Young Children in War-time2,
em 1942, e Infants Without Families3 e War and Children4, em 1943.
Em 1945, o infantário fechou e Anna Freud criou o Curso e a Clínica de Terapia de
Crianças de Hampstead, onde exerceu o cargo de diretora até à sua morte. Quando
faleceu, em 1982, deixou um legado profundo e duradouro no campo da Psicanálise,
que foi apenas possivelmente ofuscado pelo impacto monumental do seu pai e de
alguns outros psicólogos.

OS MECANISMOS DE DEFESA PRECONIZADOS POR ANNA FREUD


Para compreender o contributo de Anna Freud para a noção de mecanismos de defesa,
temos de começar por ver o trabalho do pai. Sigmund Freud descreve determinados
mecanismos de defesa que o ego usa quando entra em conflito com o id e o superego.
Na sua opinião, a tensão deriva sobretudo de ansiedade e a sua redução é uma
necessidade prioritária para a maioria das pessoas.
Anna Freud estudara com o pai que corpo tem um mecanismo de defesa que se aciona
para lidar com a ansiedade e proteger o ego da realidade, do id e do superego. Para
além de distorcer a realidade, esse mecanismo de defesa acaba por funcionar como uma
forma de evitar problemas e, em consequência, a ser acionado em excesso. Assim, pode
ser benéfico perceber e desvendá-lo, para que a pessoa aprenda a lidar com a sua
ansiedade de forma mais saudável.

Os três tipos de ansiedade, segundo Sigmund Freud

1
Tradução em português do Brasil: O Ego e os Mecanismos de Defesa.
2
Tradução em português do Brasil: Crianças em Tempos de Guerra.
3
Tradução em português do Brasil: Crianças Sem Famílias.
4
Tradução em português do Brasil: Guerra e Crianças.

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1. Ansiedade real: medo das ocorrências do mundo real. Por exemplo, uma pessoa
depara-se com um cão enraivecido e tem medo que ele lhe morda. A forma mais fácil
de reduzir a tensão da ansiedade real é evitar a situação.

2. Ansiedade neurótica: o inconsciente teme ser punido por se deixar dominar pelas
pulsões do id e perder o controlo.

3. Ansiedade moral: medo de infringir os nossos valores e princípios morais, que nos
faz sentir vergonha ou culpa. Este tipo de ansiedade advém do superego.

Partindo destas três classificações, Anna aprimorou o trabalho do pai, identificando os


mecanismos de defesa específicos que o ego usa para reduzir a tensão.

Mecanismos de Anna Freud para os tipos de ansiedade de Sigmund Freud

• Negação: quando nos recusamos a admitir ou reconhecer um acontecimento


presente ou passado.
• Deslocamento: quando deslocamos os nossos sentimentos e frustrações para algo
ou alguém menos ameaçador.
• Intelectualização: quando pensamos nas coisas sob uma perspetiva fria e objetiva,
para evitarmos o enfoque na parte emocional e stressante da situação.
• Projeção: quando projetamos os nossos sentimentos desconfortáveis noutra pessoa,
para parecer que é ela que os sente.
• Racionalização: quando não queremos encarar a causa verdadeira de um sentimento
ou comportamento e criamos hipóteses credíveis, mas falsas para o justificar.
• Formação reativa: quando tentamos esconder os nossos sentimentos, assumindo um
comportamento que os contrarie.
• Regressão: quando regredimos para um comportamento infantil. A autora defendia
que o comportamento das pessoas varia de acordo com a fase psicossexual de
desenvolvimento na qual se fixou. Por exemplo, uma pessoa fixada na fase oral pode
comer ou fumar excessivamente ou tornar-se verbalmente mais agressiva.
• Recalcamento: quando transferimos pensamentos que nos criam desconforto para
o subconsciente.
• Sublimação: quando convertemos comportamentos inaceitáveis noutros mais
aceitáveis. Por exemplo, uma pessoa com raiva pratica boxe para a descarregar.
Freud considera que a sublimação é um sinal de maturidade.

O SURGIMENTO DA PSICANÁLISE INFANTIL

A fim de criar uma terapia de sucesso para crianças, Anna Freud planeou inicialmente
partir do trabalho do pai para elaborar um cronograma e um mapa do ritmo normal de
crescimento e desenvolvimento das crianças. Uma falha em certas fases de

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desenvolvimento como, por exemplo, na questão da higiene, pode ajudar o terapeuta a


identificar a causa de um trauma específico e, assim, recorrer à terapia mais adequada.
No entanto, Anna rapidamente se apercebeu de que havia grandes diferenças entre os
seus pacientes crianças e os pacientes adultos do pai, pelo que as técnicas que ela usava
foram sofrendo alterações. Enquanto os pacientes de Sigmund Freud eram adultos
independentes, os pacientes de Anna Freud eram crianças, muitas das quais ainda
dependiam dos pais.
Apercebendo-se da importância dos pais no desenvolvimento precoce das crianças,
Anna Freud fazia questão de os envolver ativamente na terapia dos filhos. Por exemplo,
os pais eram geralmente informados do que se passava exatamente durante a terapia,
de forma a serem capazes de aplicar as técnicas terapêuticas na vida quotidiana.
Anna Freud também compreendeu a utilidade que as brincadeiras podiam ter na
terapia. As crianças podiam brincar, como forma de adaptar a sua realidade ou de
confrontar os seus problemas, e podiam falar livremente durante a terapia. Embora
pudesse ajudar o terapeuta a identificar e a tratar o trauma da criança, a brincadeira
não revelava muito da mente inconsciente, pois, ao contrário dos adultos, as crianças
ainda não sabem esconder ou recalcar acontecimentos e emoções. Segundo a autora,
quando uma criança diz alguma coisa, é mesmo isso que ela quer dizer!
Ainda que possa ter começado a sua carreira à sombra do pai, Anna Freud provou que
também era uma extraordinária mais-valia para o mundo da Psicologia. A sua
contribuição para o trabalho do seu pai na área dos mecanismos de defesa e, sobretudo,
para o desenvolvimento da Psicanálise Infantil, continua a ser de extrema importância
e influência, proporcionando-nos uma boa parte dos conhecimentos que temos acerca
da Psicologia Infantil.

A TEORIA DO APEGO DE HARRY HARLOW (1905-1981)

Harry Harlow nasceu a 31 de outubro de 1905, em Fairfield, no Iowa, Estados Unidos.


Inicialmente, frequentou o Reed College no Oregon, mas mudou para a Universidade de
Stanford com a intenção de se licenciar em Inglês. Em 1930, já com o apelido Harlow,
Harry licenciou-se e doutorou-se em Psicologia, na Universidade de Stanford. Após a
formação, começou a ensinar na Universidade de Wisconsin-Madison e, no período de
um ano, criou o Laboratório de Psicologia dos Primatas, que se fundiu com o Laboratório
Regional de Primatas, do Wisconsin. Como diretor do centro de investigação, conduziu
muitas das suas mais significativas e controversas experiências, centrando o seu
trabalho no amor e pondo em causa a então popular teoria do apego, segundo a qual o
amor provinha da nutrição dada pela mãe, estendendo-se posteriormente a outros
membros da família.
Em 1957, Harlow começou o seu agora famoso trabalho com macacos Rhesus para
demonstrar os efeitos do amor. A investigação não só teve um impacto tremendo no
mundo da Psicologia, como também desempenhou um papel determinante na alteração

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das abordagens dos educadores em orfanatos, instituições de serviço social, agências de


adoção e especialistas de cuidados infantis.
Apesar de ter estudado o amor, a dedicação pessoal de Harlow ao amor, através do
afeto, foi bastante complicada. Em 1932, casou-se com uma aluna e teve com ela dois
filhos. Em 1946, divorciou-se dela e casou-se com uma jovem psicóloga infantil, com
quem teve outros dois filhos. A segunda esposa, porém, viria a falecer em 1970, depois
de uma longa luta contra o cancro. Em 1971, casou novamente com a primeira mulher,
mas ainda abalado com a morte da segunda mulher, cedeu à depressão e ao alcoolismo
e acabou por se distanciar dos filhos.
Harlow foi Presidente da Associação Americana de Psicologia entre 1958 e 1959 e
faleceu a 6 de dezembro de 1981.

AS EXPERIÊNCIAS DE HARRY HARLOW COM OS MACACOS RHESUS

Harlow discordava do conceito de que as relações iniciais entre a mãe e o filho


consistiam simplesmente em satisfazer a sede, saciar a fome e evitar a dor. Recorrendo
a macacos Rhesus bebés (conhecidos por ter uma interação social um tudo ou nada
parecida com os humanos), criou experiências para tentar descrever e classificar o amor.
Os macacos Rhesus bebés, na verdade, são mais maduros do que os bebés humanos e,
tal como os seus equivalentes humanos, para além de exprimirem um vasto leque de
emoções, também necessitam de cuidados.
Numa das suas experiências mais famosas, Harlow criou duas «mães» para os macacos
Rhesus bebés escolherem uma. Tirou macacos recém-nascidos das respetivas mães,
poucas horas depois de terem nascido, e colocou-os imediatamente junto de duas mães
«artificiais». Uma «mãe» era feita de pano felpudo, mas não tinha comida, e a outra era
composta por uma armação de arame que continha um recipiente com comida. Harlow
observou que os macacos bebés passavam apenas o tempo necessário com a mãe de
arame, com vista a obter comida suficiente, mas não ficavam mais do que isso. Em
contrapartida, preferiam passar mais tempo no aconchego da mãe de tecido felpudo.
Os resultados provaram que os macacos não satisfaziam apenas as suas necessidades
fisiológicas e que o vínculo entre mãe e filho não podia ser reduzido a uma simples
prestação de cuidados básicos, como a alimentação.

Numa segunda fase, Harlow separou os macacos em dois grupos: um grupo passava
apenas tempo com a mãe de tecido felpudo e o outro passava apenas tempo com a mãe
de arame. Em ambos os grupos, os macacos tiveram a mesma alimentação e cresceram
ao mesmo ritmo; no entanto, verificaram-se duas diferenças significativas quanto ao
comportamento dos dois grupos, que Harlow defendia resultarem do vínculo emocional
desenvolvido com a mãe de tecido felpudo — vínculo esse que os macacos não
desenvolveram com a mãe de arame. Quando se assustavam com qualquer coisa, os
macacos que estavam com a mãe de tecido felpudo corriam para ela, à procura de

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segurança e ficavam em contacto com ela até acalmarem. Já os macacos que estavam
com a mãe de arame, quando se assustavam, atiravam-se para o chão, corriam para a
frente e para trás, agarravam-se uns aos outros e gritavam. Harlow notou que estes
comportamentos eram semelhantes aos das crianças com autismo e espelhavam ações
de adultos que tinham sido confinados a instituições de saúde mental.
Harlow continuou a fazer este tipo de experiências com uma prática ainda mais
desumana. Para testar a teoria do «mais vale tarde do que nunca», Harlow pôs macacos
bebés Rhesus em completo isolamento, durante os seus primeiros oito meses de vida.
Isso implicava a ausência de contacto com outros macacos ou com qualquer tipo de
mãe, real ou artificial. Estes testes provocaram traumas emocionais significativos nos
macacos. Depois de testar macacos que tinham passado vários períodos de tempo sem
mãe, Harlow concluiu que a privação materna podia ser revertida, mas só se tivesse
durado menos de 90 dias para os macacos ou seis meses para os humanos.

O IMPACTO DO TRABALHO DA EXPERIÊNCIA DE HARRY HARLOW

Embora controverso e desumano, segundo os princípios éticos atuais, o trabalho de


Harlow foi extremamente importante e teve um impacto significativo na educação e nos
cuidados infantis, sobretudo em agências de adoção, orfanatos e serviços sociais.
Harlow conseguiu demonstrar com provas irrefutáveis que o amor é vital no
desenvolvimento normal da criança e que a privação do amor pode causar sérios danos
emocionais. O seu trabalho foi essencial no desenvolvimento de tratamentos a crianças
abusadas e negligenciadas e mostrou também, no que se refere ao bem-estar emocional
e mental infantil, que a adoção é uma opção muito mais benéfica do que as instituições
de acolhimento infantis.

A PSICOLOGIA INDIVIDUAL DE ALFRED ADLER (1870-1937)

Alfred Adler nasceu a 7 de fevereiro de 1870, em Viena, na Áustria, no seio de uma


família judaica, filho de um comerciante de cereais. Adler sofreu de raquitismo em
criança e só começou a andar aos quatro anos. Aos cinco, quase morria com uma
pneumonia. As suas experiências precoces com doenças aguçaram o seu interesse pela
Medicina e inspiraram-no a seguir a carreira de médico.
Depois dos estudos, Adler trabalhou como oftalmologista e, mais tarde, como médico
de clínica geral. O seu consultório era numa zona da classe baixa de Viena, diante de um
parque de diversões e um circo, pelo que muitos dos seus pacientes eram artistas de
circo. Ao estudar as forças e as fragilidades invulgares desses artistas, Adler começou a
criar a sua teoria orgânica da inferioridade, segundo a qual uma pessoa com
determinado defeito de natureza física desenvolve sentimentos de fraqueza e

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inferioridade, que tentará compensar de outra forma. Essa constatação iria ter um
enorme impacto nalgumas das suas investigações mais importantes em Psicologia.
Com o passar do tempo, Adler começou a afastar-se da Oftalmologia e a centrar-se na
Psicologia. Em 1907, foi convidado para se juntar a grupos de discussão liderados por
Sigmund Freud cujas reuniões viriam a dar origem à Sociedade Psicanalítica de Viena.
Mais tarde, Sigmund Freud nomearia Adler presidente e coeditor das publicações da
organização.
Adler, no entanto, discordava abertamente de muitas das teorias de Freud, tendo
mesmo surgido um debate entre os apoiantes de Freud e os seus apoiantes. Desse
modo, juntamente com outros nove membros, Adler acabaria por se demitir da
Sociedade Psicanalítica de Viena, para formar a Sociedade de Psicanálise Livre, em 1911,
a qual, uns anos mais tarde, daria origem à Sociedade de Psicologia Individual.
Apesar de ter desempenhado um papel de suma importância no desenvolvimento da
psicanálise com Freud, Adler foi um dos primeiros a abandonar essa escola de
pensamento e a criar a sua própria, a que chamou Psicologia Individual.
Uma das ideias de maior influência que surgiu desta escola de pensamento foi a noção
de complexo de inferioridade, segundo a qual a personalidade e o comportamento
resultam do esforço que as pessoas fazem para ultrapassar sentimentos inerentes de
inferioridade.
Quando a Primeira Guerra Mundial eclodiu, Adler trabalhou como médico na frente
russa e, mais tarde, num hospital pediátrico. Durante a Segunda Guerra Mundial, e
apesar de Adler se ter convertido ao cristianismo, os nazis fecharam a sua clínica, devido
à sua ascendência judaica. Adler foi para os Estados Unidos, onde foi aceite como
professor na Faculdade de Medicina de Long Island. A 28 de maio de 1937, durante uma
visita de estudo, Alfred Adler sofreu um ataque cardíaco e morreu. O seu contributo
para o campo da Psicologia perdurou muito para além da sua morte repentina e moldou
grande parte do debate acerca do pensamento psicológico do meio século seguinte.

A PSICOLOGIA INDIVIDUAL DE ADLER

Enquanto Freud defendia a existência de fatores biológicos universais que faziam as


pessoas comportarem-se de determinadas maneiras, Adler defendia que os
comportamentos se baseavam nas experiências individuais e em fatores de ordem
ambiental e social. A personalidade era determinada pela interação de forças de ordem
afetiva, vocacional e social. Em suma, segundo Adler, cada pessoa é única, e nenhuma
das teorias anteriores podia ser aplicada a todos os indivíduos. Por esta razão, Adler
apelidou a sua teoria de «Psicologia Individual».
A teoria de Adler é extremamente complexa, porque abrange um largo espectro de
tópicos psicológicos, mas o princípio central da psicologia individual, por sua vez, é
muito simples, porque se baseia numa única ideia: «a luta pelo sucesso ou pela
superioridade».

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A LUTA PELO SUCESSO E PELA SUPERIORIDADE DE ADLER - DEFINIÇÕES DE CONCEITOS

Complexo de Inferioridade: sentimento total ou parcialmente inconsciente de


inferioridade ou de desvalorização. A compensação excessiva destes sentimentos pode
levar a sintomas neuróticos.
Complexo de Superioridade: supressão de determinados sentimentos para superar um
complexo de inferioridade.
O autor defendia que as forças motrizes subjacentes aos comportamentos humanos são
o desejo pessoal de vencer — a que chamou superioridade — e o desejo de bem social,
a que chamou sucesso. Por nascerem com corpos pequenos, delicados e inferiores, as
pessoas desenvolvem um sentimento de inferioridade que tentam ultrapassar. Pessoas
que lutam pela superioridade preocupam-se pouco com os outros e focam-se
exclusivamente nos benefícios pessoais, pelo que são psicologicamente pouco
saudáveis. As pessoas que lutam pelo sucesso fazem-no por toda a Humanidade, sem
perderem a sua identidade, pelo que são psicologicamente saudáveis.

Fatores externos que dão origem aos traços de personalidade,


segundo a teoria individual de personalidade de Adler:

1. Compensação: quando uma pessoa deseja eliminar as desvantagens que a fazem


sentir-se inferior às outras. As que conseguem fazê-lo, tornam-se pessoas de sucesso,
de um ponto de vista social e individual.
2. Resignação: quando uma pessoa se entrega às suas desvantagens e se acomoda
— é o que acontece à maioria das pessoas.
3. Sobrecompensação: quando uma pessoa está tão obcecada em compensar as
suas fraquezas ou desvantagens, que exagera na luta pelo sucesso; o autor considerava
estas pessoas neuróticas.

Adler apresentou ao mundo ideias drasticamente diferentes das de Sigmund Freud, pois
centrava na singularidade do indivíduo, em vez de simplesmente se concentrar num
conjunto de fatores biológicos universais como fazia Freud. Ao diferenciar-se de Freud
e dos seus contemporâneos, ofereceu uma visão alternativa do desenvolvimento
psicológico, especialmente das crianças, e estabeleceu princípios que ainda hoje são
considerados basilares para as interpretações modernas da Psicologia.

A PSICOLOGIA ANALÍTICA, DE CARL GUSTAV JUNG (1875-1961)

Carl Gustav Jung nasceu a 26 de julho de 1875 em Kesswil, na Suíça. Filho de um pastor
religioso, foi o único sobrevivente de quatro filhos. A mãe lutava contra a depressão e

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estava frequentemente ausente de casa, até a família se mudar para Basel, quando Jung
tinha quatro anos. Em criança, preferia estar isolado e sentia-se mais feliz sozinho.
Em 1887, aos doze anos, Jung foi atirado ao chão por um colega e ficou inconsciente.
Como consequência deste incidente, começou a sofrer de convulsões e desmaios
neuróticos. Embora se tenha rapidamente apercebido de que o facto de desmaiar lhe
permitia faltar às aulas, estes episódios de desmaios não eram falsos, mas sim resultado
de uma neurose. Durante seis meses, Jung ficou em casa e os médicos recearam que ele
sofresse de epilepsia. Um dia, ouviu o seu pai a falar com alguém acerca do medo que
tinha de Carl nunca se vir a sustentar a si próprio. A partir daquele dia, decidiu dedicar
a sua atenção aos estudos. Antes de regressar aos estudos, continuou a sofrer de
desmaios, mas conseguiu superar o problema e voltar à escola. Nunca mais teve
desmaios. Mais tarde na vida, recordou que esta fora a primeira vez com que se
deparara com a neurose.
Em 1895, Carl Jung formou-se em Medicina na Universidade de Basel. Mais tarde,
descobriu um livro acerca de fenómenos espíritas que o fascinou. Esse interesse
contribuiu para que, nos últimos meses dos seus estudos, desviasse a sua atenção, da
Medicina para a Psiquiatria. Para ele, a Psiquiatria era a combinação perfeita da
Medicina com a espiritualidade. Em 1902, acabou a sua tese de doutoramento sobre a
Psicologia e a Patologia dos Chamados Fenómenos Ocultos e formou-se em Medicina.
Em 1903, já casado com Emma Rauschenbach, começou a trabalhar no Hospital
Psiquiátrico de Burgholzli. Apesar de ele e a sua mulher se manterem casados até à
morte dela, em 1955, Jung teve casos com outras mulheres, incluindo com a sua
primeira paciente do Hospital Psiquiátrico de Burgholzli, durante vários anos.
Em 1906, Jung começou a corresponder-se com Sigmund Freud, a quem enviou uma
compilação do seu trabalho, intitulada «Estudos sobre a Associação de Palavras», e os
dois rapidamente se tornaram bons amigos. A amizade de Jung com Freud teve um
impacto profundo no seu trabalho, especialmente no seu interesse pelo inconsciente.
No entanto, no início de 1909, Carl Jung começou a discordar de algumas das ideias de
Freud. Enquanto Freud colocava a ênfase no sexo como sendo a motivação subjacente
ao comportamento, Jung interessava-se mais pelos símbolos, os sonhos e a autoanálise.
Em 1912, terminou a amizade entre Jung e Freud. Dado que Jung rejeitou a teoria
sexual de Freud, a comunidade psicanalítica virou-se contra ele, pelo que foi rejeitado
por vários colegas e amigos. Foi durante este período que dedicou o seu tempo a
explorar o subconsciente e a criar a Psicologia Analítica. Jung defendia que o propósito
de cada pessoa na vida consistia em integrar totalmente o seu consciente e o seu
inconsciente, de forma a criar o «verdadeiro self», num processo a que chamava
«individuação». Carl Jung também se interessou pelo que referiu como a «psicologia
primitiva», estudando diferentes culturas na Índia, na África Oriental e os povos
indígenas do Novo México.

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ALGUNS DOS CONCEITOS PRECONIZADOS POR CARL JUNG

INDIVIDUAÇÃO: ao escutar as mensagens encontradas na nossa imaginação e sonhos,


uma pessoa pode entender, expressar e harmonizar as várias partes da sua psique, de
forma a alcançar o seu «verdadeiro self». Segundo Jung, no inconsciente de cada pessoa
existem imagens primordiais, chamadas arquétipos, que refletem temas e padrões
universais. Estas imagens primordiais não são aprendidas e atuam de forma semelhante
aos instintos, ajudando a organizar as nossas experiências. Segundo Jung, a psique
humana podia ser dividida no ego em dois tipos de inconsciente o Inconsciente Coletivo
e o Inconsciente Pessoal.
O autor afirmava que o ego representava a parte consciente da mente, em que o
inconsciente coletivo continha experiências e informações que partilhávamos como
espécie humana e que ele acreditava constituírem uma espécie de herança psicológica
e em que o inconsciente pessoal continha memórias, que tanto podiam estar disponíveis
como ser reprimidas.

OS ARQUÉTIPOS DE JUNG

Tal como Freud, Carl Jung defendia que a psique humana se encontrava dividida em três
partes, ainda que a sua conceção fosse ligeiramente diferente da de Freud. Jung
afirmava que os arquétipos, ou as imagens primordiais que refletiam padrões universais,
existiam no inconsciente coletivo e ajudavam a organizar a forma como uma pessoa vivia
experiências singulares. Os arquétipos não são aprendidos, mas sim herdados,
universais e inatos. Os arquétipos podem combinar-se e sobrepor-se e, ainda que não
haja limite a quantos arquétipos poderão existir, Jung reconheceu quatro de
importância primordial:

l. O self: representa a união do consciente com o inconsciente. Símbolo da procura


da unidade e da totalidade, acontece através do processo de individuação, quando
cada parte da personalidade individual é expressa equitativamente e o indivíduo
adquire uma psique mais equilibrada. O self é muitas vezes representado em sonhos
através de um círculo, uma mandala ou um quadrado.

II. A sombra: constituído por fraquezas, desejos, carências e ideias recalcadas,


compreende instintos relativos à vida e ao sexo. O arquétipo da sombra é a parte
da mente inconsciente e pode representar o desconhecido, o caos e a crueldade. A
sombra pode aparecer nos sonhos com a imagem de uma serpente, um dragão, um
demónio, ou qualquer outra figura ameaçadora, exótica e selvagem.

III. A anima ou o animus: na psique masculina, a anima é a imagem feminina; na psique


feminina, o animus é a imagem masculina. Quando a anima e o animus se

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encontram associados, dá-se o nome de «sizígia». A sizígia cria uma totalidade, e


um exemplo óbvio de sizígia é quando duas pessoas decidem que são almas
gémeas, integrando assim a anima e o animus. A sizígia também é conhecida como
o casal divino e representa a totalidade, a unificação e a sensação de plenitude. Por
esta razão, a anima e o animus representam o «verdadeiro self» da pessoa e são a
principal fonte de comunicação com o inconsciente coletivo.

IV. A persona: é como a pessoa se apresenta ao mundo. A persona protege o ego de


imagens negativas e pode aparecer em sonhos de muitas formas diferentes. A
persona é uma representação de muitas das máscaras que uma pessoa usa em
situações sociais e no seio de diferentes grupos de pessoas.

Outros arquétipos reconhecidos por Jung incluem a figura do «pai» (representante da


autoridade e do poder), a figura da «mãe» (representante do conforto e da nutrição),
afigura da «criança» (representante do desejo de inocência e salvação) e a figura do
«velho sábio» (representante da sabedoria, orientação e conhecimento).
Carl Jung é considerado o fundador da Psicologia Analítica, a qual se aproximava da
Psicanálise no entendimento do inconsciente e no desejo individual de alcançar a
totalidade. As ideias de Jung acerca da extroversão e introversão, dos sonhos e símbolos
tiveram uma grande influência na psicoterapia e na compreensão da psicologia da
personalidade. Carl Gustav Jung morreu a 6 de junho de 1961, em Zurique, na Suíça.

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TEORIAS DA PSICOLOGIA: TEORIAS HUMANISTAS

A PSICOTERAPIA CENTRADA NO CLIENTE, SEGUNDO A VISÃO DA PSICOLOGIA


HUMANISTA DE CARL ROGERS (1902 1987)

Carl Rogers nasceu a 8 de janeiro de 1902, em Oak Park, no Illinois, no seio de uma
austera família protestante. Na adolescência, ele e a sua família mudaram-se para Glen
Ellen, no Illinois, onde Rogers se interessou por agricultura.
Em 1919, Rogers começou a frequentar a Universidade de Wisconsin, onde decidiu
licenciar-se em Agricultura. Mais tarde, mudou de área principal de estudos, para
História, e depois, outra vez, para Religião. Durante o seu primeiro ano na Universidade
de Wisconsin, juntou-se a outros colegas e participou num seminário internacional de
juventude cristã na China, durante seis meses. Nessa Viagem, começou a questionar a
sua escolha profissional. Após terminar a licenciatura em 1924, frequentou o Seminário
de Teologia da União, mas pediu transferência para o Teachers College, na Universidade
de Columbia, em 1926.
Foi durante a frequência do Teachers College, na Universidade de Columbia, que
Rogers fez os seus primeiros cursos de Psicologia. Após obter o doutoramento em
Psicologia, trabalhou na Universidade do Estado de Ohio, na Universidade de Chicago e
na Universidade de Wisconsin. Enquanto trabalhava na Universidade de Wisconsin,
desenvolveu uma das contribuições mais significativas para o mundo da Psicologia: a
terapia centrada no cliente. Ao defender que o cliente, ou paciente, é responsável pela
sua felicidade, Rogers altera o papel do terapeuta, fazendo-o passar de mero técnico a
alguém capaz de orientar o cliente rumo à felicidade. O terapeuta deve personificar
empatia, congruência e consideração positiva. Além disso, Rogers criou a sua própria
teoria do self, a qual descreve como um cliente se vê a si próprio e como a terapia pode
ajudar a mudar essa visão.

OS CONCEITOS DA PSICOTERAPIA CENTRADA NO CLIENTE

• Autorrealização: quando uma pessoa realiza o seu potencial e funciona num estado
de plenitude, alcançando o nível mais elevado de bem-estar humano. Na sua forma
mais básica, a também chamada autoatualização pode ser compreendida através da
metáfora de uma flor, que está limitada ao seu meio ambiente e só pode crescer e
alcançar o seu máximo potencial se tiver as devidas condições. Claro que os seres
humanos são muito mais complexos do que as flores e desenvolvem-se de acordo
com as suas próprias personalidades.

• Self Ideal: é o que a pessoa gostaria de ser. Com objetivos e ambições, o Self
encontra-se em permanente mudança.

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• Ajudar os outros a ajudarem-se a si próprios: Carl Rogers acreditava que as pessoas


são intrinsecamente boas e criativas e só se tornam destrutivas quando os
constrangimentos exteriores ou autoconceitos negativos suplantam o processo de
valorização. Rogers defendia que uma pessoa com uma autoestima elevada, que
estivesse próxima de atingir o seu self ideal, seria capaz de enfrentar os desafios da
vida, aceitar a infelicidade e o fracasso, sentir-se confiante e positiva acerca de si
própria e estar aberta aos outros. Com vista a atingir uma autoestima elevada e um
grau de autorrealização, Rogers dizia que era necessário a pessoa encontrar-se em
estado de congruência.

CONCEITO DE CONGRUÉNCIA VS. INCONGRUÊNCIA

Se for semelhante à nossa experiência real ou coerente com ela, o nosso self ideal
experimenta um estado de «congruência». O estado derivante da discrepância entre o
self ideal da pessoa e a sua experiência real é conhecido por «incongruência». É muito
raro uma pessoa experimentar um estado de plena congruência. No entanto, Rogers
defende que, quando tem um nível elevado de autoestima e se encontra num estado de
maior congruência em relação à sua autoimagem (o modo como se vê a si própria), a
pessoa aproxima-se do self ideal, que se esforça por alcançar. Dado que queremos que
a nossa imagem seja compatível com a nossa autoimagem, podemos começar a usar
mecanismos de defesa, tais como o recalcamento ou a negação, para nos sentirmos
menos ameaçados por sentimentos que podemos considerar indesejáveis.
Rogers enfatiza também a importância das outras pessoas nas nossas vidas,
defendendo que todos temos necessidade de nos sentirmos alvo de consideração
positiva por parte dos outros, pois todos temos o desejo intrínseco de sermos
respeitados, valorizados, amados e tratados com afeto. Rogers subdividiu o conceito de
consideração positiva em dois tipos:

I. Consideração positiva incondicional: quando somos amados e respeitados pelo que


somos, especialmente pelos pais, por pessoas que nos são significativas e pelo
terapeuta. Isto deixa-nos confiantes para experimentar coisas novas e cometer erros,
mesmo quando as consequências desses erros não são boas. Normalmente, quando
conseguimos autoatualizar-nos, recebemos uma consideração positiva incondicional.

II. Consideração positiva condicional: quando recebemos uma consideração positiva,


não por sermos amados ou respeitados pelo que somos, mas por assumirmos
comportamentos que os outros consideram corretos. Por exemplo, quando as
crianças recebem a aprovação dos pais, por se comportarem como eles querem. As
pessoas que estão sempre à procura da aprovação dos outros, muito provavelmente,
experimentaram uma condição positiva condicional durante o período de
crescimento.

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Carl Rogers rejeitou as teorias do Behaviorismo (que defendia que o comportamento


resulta do condicionamento) e da Psicanálise (que se dedicava ao inconsciente e a
fatores biológicos), teorizando que uma pessoa se comporta de determinada maneira,
consoante a sua forma única e pessoal de percecionar cada situação com que se
confronta. Ele defendia que temos uma motivação básica e que é a tendência para a
autorrealização.
O trabalho de Carl Rogers é considerado parte integrante da «Psicologia Humanista».
As suas ideias acerca de como a Psicologia devia proceder ocupavam-se menos do
diagnóstico e mais da forma como as pessoas se podiam ajudar a si próprias, com o
objetivo final de alcançar o que ele definia como «a pessoa a funcionar na sua
plenitude».

A TEORIA DE HIERARQUIA DAS NECESSIDADES, DE ABRAHAM MASLOW


(1908 - 1970)

O mais velho de sete filhos de imigrantes judeus russos, Abraham Maslow nasceu a 1 de
abril de 1908, em Brooklyn, Nova Iorque. Mais tarde, descrever-se-ia como uma criança
tímida, solitária e infeliz, que passara grande parte da sua juventude na biblioteca,
imerso nos estudos.
Maslow começou por estudar direito no City College de Nova Iorque, mas depressa se
mudou para a Universidade do Wisconsin, onde concluiu os seus três graus académicos
em Psicologia: o bacharelato, em 1930; o mestrado, em 1931; e o doutoramento, em
1934. Foi nessa altura que tomou Harry Harlow, famoso pelas suas experiências com os
macacos Rhesus, como mentor e orientador de doutoramento.
Maslow continuou depois os estudos de Psicologia na Universidade da Columbia, onde
teve como mestre Alfred Adler, autor do complexo de inferioridade. Em 1937, assumiu
o cargo de professor no Brooklyn College (onde lecionou até 1951), onde conheceu
outros dois mentores: Max Wertheimer, psicólogo Gestalt, e Ruth Benedict,
antropóloga. Maslow admirava tanto estas duas pessoas, a nível pessoal e profissional,
que começou a estudar o comportamento delas.
O permanente interesse de Maslow pelo potencial humano e pela saúde mental
fundamentaria os seus contributos mais importantes para a Psicologia. Na década de
1950, fundou e liderou a Psicologia Humanista que, em vez de se centrar na doença ou
na anormalidade, se centrava nos aspetos positivos da saúde mental.
A Psicologia Humanista levou à criação de tipos diferentes de terapia, baseados no
conceito de que as pessoas têm o potencial de se curar a si próprias, através da terapia.
O terapeuta age como guia, ajudando o paciente a remover os obstáculos que o
impedem de alcançar o seu potencial.
Abraham Maslow talvez seja mais conhecido pela sua hierarquia das necessidades,
uma das ideias basilares do pensamento e do ensino da Psicologia moderna, segundo a

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qual as pessoas são motivadas para satisfazer uma série de necessidades que
constituem o ponto de partida fundamental para agir e progredir.
De 1951 a 1969, Maslow lecionou na Universidade de Brandeis e, em 1969, mudou-se
para a Califórnia, para trabalhar no Laughlin Institute. A 8 de junho de 1970, aos 62 anos,
Abraham Maslow sofreu um ataque cardíaco e morreu.

A HIERARQUIA DAS NECESSIDADES, DE MASLOW

Em 1943, Abraham Maslow apresentou ao mundo a sua hierarquia das necessidades,


que é mais conhecida como a pirâmide das necessidades. Segundo Maslow, as
necessidades desempenham um papel importante, porque motivam as pessoas a
comportar-se de determinada maneira. Quanto mais básica for uma necessidade, mais
abaixo ela se encontra na pirâmide; quanto mais complexa for uma necessidade, mais
acima ela se encontra na pirâmide.
As necessidades na base da pirâmide são de ordem mais física e as necessidades no
topo são de ordem mais psicológica e social. Para subirmos na pirâmide, os níveis têm
de estar completos, de baixo para cima. As necessidades teorizadas por Maslow são as
seguintes:

• Necessidades Fisiológicas: as necessidades fisiológicas são as necessidades mais


básicas e vitais para a sobrevivência. Todas as outras necessidades são secundárias,
até que as necessidades nesta categoria se encontrem satisfeitas. Incluem a
necessidade de comer, beber, respirar e dormir, da homeostase e da reprodução
sexual.

• Necessidades de Segurança: as necessidades de segurança também são importantes


para a sobrevivência, mas não são tão cruciais como as necessidades fisiológicas. Este
nível do modelo inclui necessidades como segurança pessoal — por exemplo: uma
casa e uma vizinhança seguras; segurança financeira; saúde; e segurança na proteção
contra acidentes, como um seguro de vida.

• Necessidades de Amor e Pertença: também conhecidas como necessidades sociais,


as necessidades de amor e pertença incluem o desejo de pertencer, de ser amado,
de se sentir aceite e de não-isolamento. Estas necessidades são menos básicas do
que as dos primeiros dois níveis e podem ser satisfeitas através de amizades, relações
amorosas e da família, bem como do envolvimento em grupos comunitários e
organizações de caráter social e religioso.

• Necessidades de Estima: todos temos necessidade de ser respeitados e valorizados


pelos outros e de ter a sensação de que damos um contributo ao mundo. Ter uma
autoestima elevada e o respeito dos outros pode criar confiança, enquanto uma
autoestima baixa e a falta de respeito dos outros pode criar sentimentos de

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inferioridade. Uma maneira de nos sentirmos valorizados e de fomentar a nossa


autoestima é participar em atividades profissionais, equipas desportivas e
passatempos, bem como em realizações académicas.

• Necessidades de Autorrealização: na parte superior do modelo de Maslow está a


necessidade de autorrealização, ou autoatualização — quer dizer a necessidade de
cada pessoa realizar o seu potencial. Por outras palavras, uma pessoa deve tornar-se
tudo o que for capaz de ser. Teoriza o autor que todos os níveis anteriores do modelo
de Maslow têm de ser satisfeitos, antes de se alcançar o último nível. Apesar de ser
ampla, a necessidade de autorrealização tem um modo de concretização muito
específico. Por exemplo, uma pessoa pode desejar ser o melhor pintor possível ou
um pai ideal.

Tipos diferentes de necessidades

Maslow identificou diferentes tipos de necessidades, a diferentes níveis:

• As necessidades de deficiência, ou D-Needs, são necessidades que derivam da


privação (tais como necessidades de segurança, sociais, de estima e fisiológicas).
Estas necessidades são de nível básico e têm de ser satisfeitas para evitar
sentimentos ou consequências desagradáveis.

• As necessidades de crescimento, ou B-NEEDS, são necessidades que surgem do


desejo de crescer como ser humano. As necessidades de crescimento não derivam
da privação.

A importância e o significado que Abraham Maslow teve na Psicologia moderna é


inquestionável. O autor mudou o enfoque da atenção fazendo a Psicologia concentrar-
se menos no comportamento patológico e mais nos aspetos positivos da natureza
humana, da saúde mental e do potencial humano. Carl Rogers morreu a 4 de fevereiro
de 1987.

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TEORIAS DA PSICOLOGIA: A TEORIA SOCIAL

A PSICOLOGIA SOCIAL, DE KURT LEWIN (1890-1947)

Considerado o pai da Psicologia Social moderna, Kurt Lewin nasceu a 9 de setembro de


1890, em Mogilno, na Prússia (atual Polónia), no seio de uma família judaica de classe
média.
Em 1909, entrou na Universidade de Freiberg, para estudar Medicina. Mais tarde,
pediria transferência para a Universidade de Munique, onde decidiria seguir Biologia.
Em 1910, passaria a frequentar a Universidade de Berlim, para obter o Doutoramento
em Filosofia e Psicologia
Depois de terminar o Doutoramento em Psicologia, em 1914, Lewin juntou-se à divisão
de infantaria, para servir na Primeira Guerra Mundial, combatendo durante quatro anos,
até ser ferido.
Em 1917, Lewin casou-se com uma professora de liceu chamada Maria Landsberg, com
quem teve dois filhos e de quem se divorciou dez anos depois. Em 1929, casou-se com
Gertrud Weiss, com quem teve mais dois filhos.
Em 1921, Kurt Lewin começou a dar aulas de Psicologia e Filosofia no Instituto de
Psicologia da Universidade de Berlim. Para além de ser extremamente popular entre os
alunos, já era um escritor prolífico. Em 1930, foi para a Universidade de Stanford, nos
Estados Unidos, como professor convidado, acabando por se naturalizar cidadão
americano em 1940.
Quando os Estados Unidos entraram na Segunda Guerra Mundial, a fim de contribuir
para o esforço de guerra, Lewin utilizou a sua investigação e tornou-se consultor do
governo dos Estados Unidos. Em 1944, criou a Comissão de Inter-relações Comunitárias
(CCI), que se destinava a lutar contra a discriminação religiosa e racial, e criou o Centro
de Pesquisa de Dinâmica de Grupo no MIT, que se dedicava ao estudo de grupos e ao
modo como estes afetavam o comportamento do indivíduo.
De facto, pelo seu contributo no estudo do comportamento grupal, Kurt Lewin é
considerado o pai da Psicologia Social moderna, já que foi um dos primeiros psicólogos
a usar o método científico e de experimentação para examinar os comportamentos
sociais. Ao longo da sua vida, Lewin publicou oito livros e mais de 80 artigos.

A TEORIA DO CAMPO, DE KURT LEWIN

Lewin inspirou-se na Psicologia Gestalt, bem na teoria do campo de Albert Einstein, que
afirmava que os objetos estão em contínua interação com a gravidade e o
eletromagnetismo. Aliás, tentou aplicar o conceito de Einstein à Psicologia, postulando
que o comportamento resultava da constante interação do indivíduo com o meio
ambiente.

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Lewin defendia que o comportamento era determinado pela totalidade das


circunstâncias pessoais e referiu-se à soma dos fatores coexistentes como um «campo».
De acordo com a teoria de Lewin, o comportamento de uma pessoa varia, consoante
ela vive as tensões entre o seu self e o meio-ambiente. Com vista a perceber
inteiramente o comportamento, todo o campo psicológico, seja a escola, o trabalho, a
igreja ou a família, a que Lewin se referia como «espaço de vida» tinha de ser tomado
em consideração.
A teoria do campo de Lewin teve uma influência enorme na Psicologia Social e ajudou
a popularizar a ideia de que o comportamento deriva da interação entre o indivíduo,
com os seus traços característicos, e o meio-ambiente.

OS ESTILOS DE LIDERANÇA, DE KURT LEWIN

Em 1939, Kurt Lewin liderou um grupo de investigadores que se dedicavam a identificar


e analisar diferentes estilos de liderança. Embora o número de estilos de liderança tenha
aumentado desde então, Lewin e o seu grupo identificaram três tipos:

I. Liderança Autoritária ou Autocrática


II. Democrática ou Participativa
III. Delegativa ou Liberal (laissez-faire)

Para o estudo sobre a liderança, as crianças de uma escola foram divididas em três
grupos, cada um com um líder correspondente a um dos três estilos de liderança. Lewin
e o seu grupo de investigadores estudaram as respostas das crianças, enquanto o líder
as dirigia num projeto de artes e ofícios.

I. Liderança Autoritária ou Autocrática: os líderes autoritários dão explicações claras


do que tem de ser feito e de quando e como deve ser feito. Este tipo de líder toma
decisões com pouca ou nenhuma participação dos elementos do grupo. Por esse
motivo, existe uma divisão óbvia entre o líder e aqueles que o seguem. Sob um líder
autoritário, Lewin descobriu que havia menos criatividade no processo de tomada de
decisões. O líder que abusa do seu poder numa liderança autoritária é muitas vezes
visto como dominador, ditatorial e controlador. Um líder autoritário é melhor para
situações nas quais o líder é o indivíduo com mais conhecimento no grupo ou quando
existe muito pouco tempo para tomar decisões em grupo. Lewin também observou
que é mais difícil mudar de uma liderança autoritária para uma liderança
democrática, do que de uma liderança democrática para uma liderança autoritária.

II. Liderança Democrática ou Participativa: os resultados de Lewin demonstraram que


a liderança democrática era o estilo mais eficaz. Os líderes democráticos integram o
grupo, permitem a participação dos outros e propõem orientação. Lewin descobriu
que as crianças deste grupo eram menos produtivas do que as crianças do grupo

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autoritário, mas que as suas contribuições tinham uma qualidade mais elevada.
Embora os líderes democráticos não deixem de ter a última palavra nos processos de
tomada de decisão, os outros membros do grupo são encorajados a participar, o que
os faz sentir-se mais envolvidos e motivados no processo e ser mais criativos.

III. Liderança Delegativa ou Liberal (laissez-faire): numa liderança delegativa ou liberal


o líder assume uma abordagem não interventiva e deixa todas as decisões a cargo do
grupo. Lewin descobriu que este tipo de liderança era o menos produtivo e notou
que as crianças colocadas neste grupo exigiam mais do líder, não conseguiam
trabalhar com autonomia e mostravam muito pouca cooperação. Se os membros de
um grupo tiverem altas qualificações em áreas específicas, um tipo de liderança
delegativa pode ser eficaz; no entanto, na maioria dos casos, leva a uma falta de
motivação por parte dos membros do grupo e a papéis pouco definidos.

Ao centrar-se no comportamento do indivíduo em relação ao seu ambiente e não em


relação a experiências passadas, Kurt Lewin fez um trabalho revolucionário.
Considerado por muitos um dos pais fundadores da Psicologia Social, tinha uma máxima
que retratava muito bem a sua forma de atuar: «Não há nada mais prático do que uma
teoria.» A inclusão dos princípios da Gestalt, a compreensão das influências situacionais
e o trabalho em dinâmicas de grupo e de liderança tiveram um grande impacto na
abordagem dos psicólogos e na compreensão do comportamento social.
A 12 de fevereiro de 1947, com apenas 57 anos, Kurt Lewin sofreu um ataque cardíaco
e faleceu.

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TEORIAS DA PSICOLOGIA: TEORIA DA PERSONALIDADE

TEORIA DA CONSTRUÇÃO DA PERSONALIDADE DA ESCOLA DE ROMA


(BOWLBY J. 1978 & GUIDANO ET LIOTTI, 1979)

John Bowlby foi um importante investigador que se debruçou sobre os processos de


vinculação afetiva entre filhos e progenitores, com vista a transformar a abordagem
psicanalítica ortodoxa e comprovar cientificamente as relações que se estabelecem nos
primeiros anos de vida. A sua obra principal é a trilogia: Attachment and Loss:
Attachment, Separation e Loss5 (Bowlby J. 1978).

A teoria do apego, ou vinculação, de Bowlby

Bowlby iniciou a sua carreira ligada à Psicanálise, que visava transformar numa ciência
natural com rigor métrico. Assim, desenvolveu uma teoria designada de Teoria dos
Instintos, já que estudava e operacionalizava os instintos do nascimento. Para o autor,
o bebé já nasce «equipado» com um dado número de sistemas comportamentais, que
fornecem as bases para o desenvolvimento ulterior do comportamento de apego ou
vinculação (Bowlby, 1978, p. 107).
Teoriza o autor que os sistemas comportamentais no início da vida são sistemas
mediadores primitivos ou respostas instintivas componentes. Na sua opinião, estes são
constituídas por cinco respostas instintivas componentes ou parciais:

I./II. Sucção (chupar)/Preensão (agarrar) ⇒ o bebé é um elemento ativo;


III. Orientação (seguir, gatinhar, andar) ⇒ nas 3 primeiras respostas;
IV./V. Chorar/Sorrir ⇒ ativam o comportamento maternal (são aliciadores da
relação).

Bowlby defendeu que o bebé é, desde logo, um ser ativo e participante na relação de
vinculação, sendo afetado por ela. No primeiro ano de vida, estabelece-se o
comportamento de vinculação, tendo nas suas bases as respostas instintivas
componentes e um processo de interação crescente de sentido e significado, que se
reforça no processo de socialização.
O comportamento de vinculação desenvolve-se na relação que se estabelece com o
outro — a figura de vinculação —, sendo uma relação de proximidade que perdura no
tempo. Isto quer dizer que existe uma predisposição forte para procurar a proximidade
e o contacto com a figura significativa de vinculação, principalmente, nas situações
ameaçadoras (por exemplo, em situações de medo, cansaço e fragilidade).
Este comportamento de efetivação ativa sistemas de comportamentos e estratégias
para manter o contacto com essa figura de vinculação. É no contexto das relações com

5
Tradução em português do Brasil: Apego e Perda: Separação e Apego e Perda.

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a mãe e, posteriormente, com outras figuras significativas, que a criança vai construindo
expetativas e modelos do mundo, das relações, das pessoas e de si própria.

A vinculação constitui-se como a base para a construção de modelos internos


dinâmicos ou representações mentais do self e do mundo (working models) construídos
nas transações e relações que vamos estabelecendo com os outros significativos e com
o mundo, ao longo do nosso desenvolvimento. Os sistemas pessoais de significados são
construídos, mantidos e transformados no contexto de relações de vinculação com os
significativos mais próximos. Assim, a presença de figuras de vinculação disponíveis,
apoiantes e responsivas transformam-se numa base segura a partir da qual o sujeito
pode explorar o mundo e desenvolver um sentido de competência pessoal.
Contudo, padrões de funcionamento parental caracterizados por aspetos de não-
responsividade, rejeições, depreciações, descontinuidades na relação, ameaças de
abandono, fuga, indução de culpa, intrusão etc., podem conduzir a uma vinculação
ansiosa, que se caracteriza por numa forte insegurança e na ânsia de não perder a figura
de vinculação.
A qualidade da vinculação é uma dimensão crucial para o desenvolvimento de um
sentido seguro e estável do self ao longo do itinerário de vida. Daí que as experiências
relacionais mais precoces do ser humano sejam, afinal, as principais organizadoras da
qualidade das experiências e das relações que vamos estabelecendo ao longo da nossa
vida.

PADRÕES PSICOPATOLÓGICOS DE ORGANIZAÇÃO COGNITIVA PESSOAL

Guidano e Liotti, da Escola Construtivista de Roma, sublinham a emergência de


estruturas básicas de organizações pessoais que irão prevalecer ao longo do
desenvolvimento, a partir da relação de vinculação que o self estabeleceu com o mundo.
Nomeadamente, com os outros significativos e que, dessa forma, moldam a
personalidade do futuro adulto (Guidano et Liotti, 1979). Assim sendo, foram
identificados padrões que corroboram as principais perturbações psicopatológicas.

Padrões correspondentes a quatro quadros característicos da psicopatologia:

I. PD: Padrão Depressivo;


II. PA: Padrão Agorafóbico;
III. PA: Padrão de Distúrbios Alimentares (anorexia e bulimia);
IV. POC: Padrão Obsessivo-Compulsivo.

Contudo, estes padrões de organização cognitiva não se conceptualizam segundo uma


taxonomia estática da psicopatologia clássica da DSM V-TR, que se centra na descrição
exaustiva de sintomas, mas mais numa perspetiva de desenvolvimento e relacional. Por
isso, cada organização cognitiva analisa-se, segundo várias dimensões:

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• Estruturas tácitas;
• Padrões disfuncionais de vinculação;
• Sentimento do self;
• Temas dominantes;
• Estratégias para lidar com as situações.

Na verdade, trata-se de identificar estratégias comuns para lidar com as situações


problemáticas.

PADRÕES DE ORGANIZAÇÃO COGNITIVA (QUATRO PADRÕES IDENTIFICADOS)

I. PADRÃO DEPRESSIVO

A nível tácito: caracteriza-se por um self destinado à solidão, que tem uma visão
negativa de si próprio, do mundo e do futuro e é marcado por perdas reais e simbólicas.

Padrões disfuncionais de vinculação: Predomina um sentimento global de perda e


rejeição, por parte das figuras de vinculação. Pais exigentes mas sem afeto; abandono,
solidão e negligência por parte das figurais parentais. Perdas reais ou simbólicas durante
a infância; inexistência de figuras seguras.

Sentimentos do self: visão negativa de si mesmo, predominando sentimentos de raiva,


perda e culpa.

Temas dominantes: abandono, perda e solidão.

Estratégias do indivíduo para lidar com as situações problemáticas: são marcadas por
uma autoconfiança compulsiva. O mundo é percecionado como hostil. Vive dominado
pela tristeza e ira, com sentimentos de revolta, angústia e culpabilidade em relação à
perda. Predominam atribuições causais internas de autoculpabilização; a realidade
exterior é cruel e responsável pela solidão. As autodescrições são globais, marcadas por
uma gramática do «tenho» e «devo», levando a uma incapacidade para se autoperdoar
e perdoar os outros.

II. PADRÃO AGORAFÓBICO

A nível tácito: caracteriza-se por um self com desejo de liberdade mas,


simultaneamente, de proteção. Dependência em relação às figuras de vinculação; o
mundo é visto como ameaçador e coercivo.

Padrões disfuncionais de vinculação: predomina um sentimento global de inibição por


parte das figuras de vinculação. As figuras de vinculação não promoveram a capacidade
de exploração do mundo, transmitindo uma visão dos outros e do mundo ameaçadora.
Pais ansiosos e superprotetores.

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Sentimentos do self: visão de si mesmo controlada e insegura; o mundo é visto de forma


hostil; um self pouco autónomo e dependente, mas com desejo de liberdade e
autonomia.

Temas dominantes: solidão, medo, constrição, ameaça e terror.

Estratégias do indivíduo para lidar com as situações problemáticas: para resolver o


conflito de necessidade de liberdade e a sua falta de autonomia, o sujeito desenvolve
uma atitude marcada por um controlo rígido do self e dos significativos. Esta polaridade
é ultrapassada através da afirmação do self, mostrando uma imagem de si forte,
autossuficiente, de sucesso, empreendedora e superpopular.

III. PADRÃO DE DISTÚRBIOS ALIMENTARES

A nível tácito: caracteriza-se por um self pouco diferenciado, indefinição de fronteiras


no sistema familiar e evitação de conflitos através de uma comunicação paradoxal e
ambivalente.

Padrões disfuncionais de vinculação: As figuras de vinculação foram tão possessivas,


que não permitiram uma diferenciação do self e não-self; família aglutinada, em que
predomina uma cultura do mito da família unida. Há uma desilusão com as figuras de
vinculação, quando o sujeito percebe que elas não são perfeitas. Comunicação
paradoxal e ambivalente. Pais intrusivos e manipuladores.

Sentimentos do self: visão confusa e hesitante de si mesmo, predominando um


sentimento de indiferenciação e ausência de privacidade.

Temas dominantes: procurar e evitar a intimidade.

Estratégias do indivíduo para lidar com as situações problemáticas: são marcadas por
uma procura ambivalente de uma figura de intimidade que lhe permita um equilíbrio,
mas simultaneamente, pela evitação da intimidade que lhe pode produzir desilusão.
Evita expor-se em relação aos outros, porque desconfia desde logo que a intimidade lhe
vai trazer desilusão. A identidade reduz-se a um ideal de perfeição pela mediação da
imagem corporal.

IV. PADRÃO OBSESSIVO-COMPULSIVO

A nível tácito: caracteriza-se por um self assimétrico; o self e os outros são percebidos
dicotomicamente como bons e maus.

Padrões disfuncionais de vinculação: predomina um sentimento global de


ambivalência; relação de vinculação ambivalente. Pais competitivos que impõem
exigências em relação ao desempenho, mas sem darem o respetivo apoio. É isso que dá

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origem a uma representação dicotómica das figuras de vinculação: são boas, porque se
preocupam; e são simultaneamente más, porque são exigentes e não dão muito apoio.

Sentimentos do self: organiza-se em fronteiras opostas e assimétricas de bom/mau e


positivo/negativo. Julga-se mau, porque rejeita os bons pais, e bom, porque rejeita os
pais que não o amam.

Temas dominantes: certeza e incerteza, amor e desamor, bom e mau.

Estratégias do indivíduo para lidar com as situações problemáticas: obsessão de


procura de certezas, através da dúvida sistemática. Atitude perfecionista face a si
próprio e ao mundo; dá importância aos pormenores e à ordem. Desenvolve rituais
repetitivos para evitar o erro e tentar acertar sempre.

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A TEORIA DO MANDATO GERACIONAL: CICLOS BIOLÓGICOS CELULARES


MEMORIZADOS DE MARC FRECHET (1945-2017)

LEGADO GERACIONAL: DA CONCEÇÃO AO NASCIMENTO E A IMPORTÂNCIA DOS IMPRINTS FAMILIARES

O psicólogo clínico francês Marc Frechet, apresentou-nos a sua Teoria de Transmissão


Geracional (1944-2017). Este autor descobriu a noção do significado do legado do
Mandato Geracional baseado na sua própria história de vida. Defende Frechet que a sua
vida começou já com dezoito meses de prisão. No seu mais famoso trabalho, «Ciclos
Biológicos Celulares Memorizados», este retrata a sua própria história de vida e como
isso contribuiu para a conceção da sua teoria, mais tarde designada de:
Biodescodificação. Efetivamente, Frechet foi concebido no final da Segunda Guerra
Mundial, em 1945. Por essa altura a sua mãe foi acusada de ilegalidades praticadas
durante a guerra, assim ela foi feita prisioneira e julgada. Quando se preparava para ser
julgada e presa os pais de Marc Frechet tinham a seguinte espectativa: se ela está
grávida, o júri pode ser mais indulgente e as condições na prisão serão obviamente
melhores. De facto, ele é concebido com o intuito de a sua mãe evitar a prisão ou, no
mínimo, seria uma forma de o júri tornar a estadia da mãe mais confortável na prisão.
Assim, grande parte dos nove meses de gravidez foram passados na prisão, e quando
nasceu a sua mãe manteve-o com ela na prisão, somente quando tinha nove meses de
vida é que saiu do cárcere. O projeto de vida que os pais tinham para ele no momento
da conceção, era o de que «facilitasse o tempo de prisão da mãe», e estes primeiros
nove meses de vida condicionaram toda a sua vida. Na realidade, nunca se sentiu
verdadeiramente amado pela mãe, ele explica porquê. O simples facto de os seus pais
terem planeado e concebido um filho, para que a vida da mãe fosse mais confortável na
prisão, e não importava o quanto ela mostrasse amor por ele quando ele cresceu, não
era sentido como genuíno. Refere Frechet que em toda a sua vida sempre se viu cercado
por pessoas, mas sempre se sentiu implacavelmente sozinho.

Da pior forma, Frechet descobriu que a teia dos legados geracionais invisíveis dos nossos
antepassados, com aspetos negativos e de enfermidades, como: acidentes, episódios
psicóticos, tarefas inacabadas e outros, continuam a perpetuar-se nas gerações futuras

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clamando a sua concretização. A isso ele deu o nome de: Ciclos Biológicos Celulares
Memorizados. Fruto da sua experiência pessoal e do seu trabalho desenvolvido
posteriormente o autor percebeu que a maioria das pessoas reproduz, muito
simplesmente, os esquemas e processos mentais disfuncionais das gerações que a
precedeu, como forma de legado geracional e que precisa de ser resgatado pelos
vindouros. Teoriza também o autor que os eventos importantes das nossas vidas, tanto
os afortunados quanto os desafortunados, estão registados na nossa memória celular e
serão reproduzidos dentro de um esquema rígido de crenças e comportamentos que
podemos prever e «descodificar biologicamente». Postula o autor que este enredo
emocional é tão decisivo quanto intransigente e impositor, na conduta e
comportamentos repetitivos dos vindouros, já que são os descendentes que,
implicitamente, têm de romper energeticamente com as emoções retorcidas dos
antecessores.

«O QUE É CALADO NA PRIMEIRA GERAÇÃO, A SEGUNDA CARREGA NO CORPO.» - FRANÇOISE DOLTO

Quando fazemos um mind setting de regressão procuramos saber o tipo de família (se
é rígida e castradora ou benevolente) e sobre os tramas do enredo da história familiar
do nosso paciente. Há quem defenda que quando nasce um ser ele surge como uma
«tábua rasa» e começa a escrever uma história de vida com suas ações e
comportamentos no seio da família nuclear. Se observarmos as histórias de cada
membro de uma família, naturalmente encontraremos semelhanças essenciais e
objetivos comuns. Contudo, Carl Jung, defendeu que existia o «consciente pessoal e
coletivo». Ora, para Frechet, da mesma forma que existe um «inconsciente coletivo»,
também existe um «inconsciente familiar». Nesse inconsciente familiar estão guardadas
todas as experiências silenciadas, que foram escondidas porque são um tabu falar sobre
elas: suicídios, abortos, doenças mentais, homicídios, perdas, abusos sexuais e físicos.
Quando não expressados e rompida o enrede negativo o trauma tende a se repetir na
próxima geração, até encontrar uma maneira de tornar-se consciente e poder ser
resolvido.

Aparentemente, estamos enganados quando pensamos que a nossa história começou


quando emitimos o nosso primeiro choro. Pensar dessa forma é um erro, porque assim
como somos o fruto da união do óvulo e do esperma, também somos um produto dos
desejos, fantasias, medos e toda uma constelação de emoções e perceções que se
misturaram no momento da conceção para dar origem a uma nova vida. As expetativas
e circunstâncias no momento em que foi concebido, o drama familiar e os planos que
os progenitores têm para o filho (Ciclos Celulares Memorizados) são muito significativos
na formação da sua personalidade. Parece que cada ser faz parte de um capítulo, ou de
uma história maior, e que está sendo escrita ao longo de diferentes gerações. Segundo
o autor, o que herdamos das gerações anteriores contém também sonhos e pesadelos,
assim como os traumas e as experiências mal resolvidas da família. Normalmente, são

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situações ocultas ou confusas que causam vergonha, mágoa ou medo. Os descendentes


de alguém que sofreu um trauma mal resolvido suportam o peso dessa falta de
resolução. Na realidade sentem ou pressentem que existe «algo estranho» que gravita
ao seu redor, como um peso ou uma tarefa inacabada, mas que não conseguem definir
o que é. Esse processo de transmissão entre as gerações é algo inconsciente, mas
repetitivo, uma herança dos antepassados que atravessa gerações como um legado
geracional à espera da sua resolução.

Já Sigmund Freud alertava de que «As emoções não expressas nunca morrem, elas
momentaneamente vão embora, mas tendem a voltar mais tarde em forma de doença.»
Ou seja, tudo que reprimimos na psique manifesta-se de uma outra forma no corpo.
Pense desta forma, o exemplo de uma avó que foi abusada sexualmente no passado e
transmite os efeitos do seu trauma, mas não foi capaz de verbalizar o seu conteúdo. O
mais certo é que talvez mais tarde os seus filhos, netos e bisnetos podem sentir uma
certa intolerância em relação à sexualidade, ou uma desconfiança visceral das pessoas
do sexo oposto, ou uma sensação de desesperança que não conseguem explicar. Essa
herança emocional também se pode manifestar como uma disfuncionalidade da líbido
ou uma doença de cariz sexual. Outro exemplo, uma família que tenha vivenciado o
suicídio de um dos seus membros, provavelmente vai experimentá-lo novamente com
outra pessoa de uma nova geração. E se a situação não foi abordada e resolvida
adequadamente, ficará a flutuar como um «fantasma» que voltará a se manifestar mais
cedo ou mais tarde nos vindouros. O mesmo princípio também se aplica a todos os tipos
de trauma. Em terapia regressiva é bem mais seguro quando se volta no tempo através
da regressão ao momento da conceção e nascimento, de forma a que o paciente possa
expressar na segurança do consultório este legado geracional negativo. Creio que cada
um de nós tem muito a aprender com os nossos antepassados. A herança que
recebemos é muito mais ampla do que supomos e nela poderemos encontrar a causa
de muitos de nossos sofrimentos e desgraças. Em terapia regressiva ao descobrir o
«Mandato Geracional», seguramente nos irá ajuda a dar um passo importante para
chegar a uma compreensão mais profunda de qual é o verdadeiro papel e propósito na
vida daquele ser no mundo.

COMO DESCOBRIR O MANDATO GERACIONAL (MEMÓRIA CELULAR GERACIONAL)?

Um profissional de terapia regressiva deve ter o cuidado de fazer regredir o seu paciente
não só à infância, mas também ao nascimento e ao momento das primeiras memórias
entre a conceção e o nascimento. De facto, saber: qual a herança positiva e negativa dos
antepassados do paciente? Se positiva devemos perpetuar, resgatar e salvar? Se
negativa, porque estão a negar e encobrir as feridas destes eventos transformados em
segredos? Descobrir as causas entender os motivos e consequências da altura, o que
fazer com a herança geracional? Como resgatar, aprender e transcender? Segundo a

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teoria da Transmissão Celular Geracional de Frechet, existem três importantes variáveis


a descobrir durante a regressão e a ter em conta no momento da conceção:

Três pontos a pesquisar em busca do Mandato Geracional:

1. O ambiente familiar na conceção (se for disfuncional, deve ser resgatado);


2. O conflito latente entre ambos os progenitores: libertar a responsabilidade);
3. O projeto/plano dos pais para os filhos (derivante dessa disfuncionalidade), que se
traduz na busca do «Mandato Geracional». Deve ser identificado, libertado e
modificado.

Concluindo, o conceito dos Ciclos Biológicos Celulares Memorizados em TRVP

O «mandato geracional» dos nossos pais ou avós pode ser negativo ou positivos e,
normalmente, traduz a forma como somos acolhidos na conceção e, sobretudo, a forma
como somos recebidos ao nascer e o que os nossos progenitores esperam de nós. É de
suma importância perceber em TRVP esse «mandato geracional», que o paciente de
forma inconsciente tende a honrar - mas que, normalmente, está a ser vivido no
presente em estado de drama — para desativar o traço de personalidade disfuncional.
Num trabalho de pesquisa transderivacional completo é de suma importância trabalhar
estas dimensões e as informações que pudermos recolher sobre os pais e antepassados
do nosso paciente. Estas dimensões psíquicas poderão ser a «pedra de toque» que fará
a terapia evoluir e o melhor legado que ele poderá ter e deixar para os seus
descendentes. Saber de onde viemos, quem são as pessoas que não conhecemos, mas
que estão na raiz de quem somos, é um caminho fascinante que só trará benefícios e
desbloqueia na maioria das vezes uma doença ou comportamento disfuncional grave.

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MIND SETTING DE INTERVENÇÃO EM TRVP


TÉCNICAS DE REESTRUTURAÇÃO COGNITIVA

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APLICAÇÃO DA TÉCNICA DE RESGATE DA CRIANÇA INTERIOR

O NOSSO MAIOR PODER PESSOAL É A NOSSA LIBERDADE DE ESCOLHER UMA RESPOSTA. NÃO É O
QUE NOS ACONTECE QUE MAGOA, MAS A FORMA COMO RESPONDEMOS A ISSO.
VIKTOR FRANKL

O resgate da criança interior é uma técnica que pode ser aplicada juntamente com a
regressão de idade e a regressão à criança interior. O resgate da criança interior pode
ser feito com os recursos de pessoa adulta e completa, que é representada no presente
pelo nosso consulente, mas utilizando a sabedoria, a força e os recursos que, entretanto,
adquiriu para auxiliar a criança que era quando o trauma ocorreu.
Inicialmente, pede-se à parte adulta do consulente para se apresentar à criança
interna. Seguidamente, pergunta-se à criança o que ela quer mostrar ou dizer. Pede-se
ainda que revele o que ela mais necessita e o que lhe falta para conseguir descansar. Se
necessário, pede-se ao consulente que se imagine a fazer tudo aquilo que a criança lhe
pediu.
As sessões deste tipo são muito emotivas e reorientadas para a cura. Assim sendo,
durante uma sessão de regressão, pode pedir ao consulente em transe para imaginar a
sua parte adulta a regressar ao passado e a resgatar a sua parte perdida, para a trazer
ao presente em segurança, ou a imaginar outra pessoa a interceder por ele e a fazer o
que deveria ter sido feito quando o evento doloroso ocorreu (a parte adulta ou um
mentor).

Divisão da técnica de inoculação do trauma inicial da infância em 6 passos:

1. Descobrir o início do trauma, ou seja, o evento de Sensibilização Inicial (esgotar e


drenar a dor emocional em segurança);
2. Projetar a parte adulta no passado, para conversar com a criança e perguntar-lhe o
que ela lhe quer «mostrar ou dizer»;
3. Trabalhar com o Reforço do Ego e permitir que a criança interior descanse;
4. Se necessário, efetuar o Resgate da Criança Interior com egos auxiliares (mentores);

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5. Substituir a experiência original por uma mais funcional;


6. Fazer uma Ponte para o Futuro, para verificar se o evento traumático foi inoculado.

GUIÃO: PARA EFETUAR O RESGATE DA CRIANÇA INTERIOR

Aplicamos um protocolo de regressão hipnótica tipo, e prosseguimos:

Enquanto ouve a minha voz, talvez possa sonhar que é você mesma/o, quando era
pequena/o… muito pequenina/o… frágil… e indefesa/o… esquecida/o no passado das
suas memórias… E sabe como é, não é? Aquelas memórias que nos forçaram a
esquecer… Isso… Está certo, o que está a recordar… E, se quiser, também pode imaginar
aquela criança ou uma parte sua do passado que precisa de ajuda… Isso.
Imagine-se, veja-se ou, até, sinta-se uma criança… Aquela criança que há muito não se
lembra de visitar… Uma criança que foi tantas vezes ignorada… mas que precisa de si…
Uma criança de quem gosta e que está simplesmente escondida de si… algures no seu
passado longínquo… Isso… E talvez possa sentir uma emoção… um aperto no coração…
ao perceber quem ela realmente é… É você mesma/o… pequenina/o… frágil…
indefeso… É normal emocionar-se, não é? Peça, então, ao coração que agora pode
sentir… que pode baixar a guarda… baixar as defesas… Apenas peça ao coração que seja
ele próprio… no seu elemento natural… E só nós sabemos como o coração é sensível à
gratidão… ao amor, não é verdade? Diga-me que sim, com a cabeça, quando encontrar
a sua criança do passado!
[Dar um tempo de pesquisa ao consulente]

Muito bem… Já se deu conta da sua criança interior? Aproxime-se dela… Observe-a no
seu ambiente natural… e permita-se agora perguntar à Criança Interior o que é que ela
tem para lhe mostrar ou dizer? Isso… Por vezes… para sobrevivermos ao abandono… à
injustiça… à solidão… damos uma corrida para a frente… Obrigam-nos a crescer… sem
nos darem tempo de ser crianças… Então, permita-se ter tempo agora… e observe
calmamente… Olhe e sinta a sua criança interior… com gratidão… protegidamente… E,
se ela lhe falar, ouça-a… Isso… E talvez ela lhe queira dar a mão… e mostrar-lhe algo que
nunca tinha revelado a ninguém… Acompanhe-a neste momento… Não a abandone…
Não lhe vire as costas… Ela espera por si há tanto tempo… Ela precisa de si…. Já se deu
conta de como ela precisa de si? Muito bem…
[Aproveitar e descobrir o que a criança interior precisa; fazer desvinculação se deparar
com figuras de vinculação austeras e/ou inseguras ou outras.]

Às vezes, basta observar… Nem precisa de dizer ou fazer nada… O processo é tão intenso
que se desenrola por si mesmo… Observe simplesmente… como se fosse o pai ou a mãe
que ela não teve no passado… um pai ou uma mãe amoroso/a e complacente… de que
ela precisa… Não a assuste… Observe-a… E talvez possa ver a sua criança interior a
movimentar-se simplesmente à maneira dela… A continuar a dar-lhe um ar suave e
terno, com a sua respiração… Enquanto o seu coração pode finalmente emocionar-se e

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tranquilizar-se… nesse calor manso que acalma e flui no seu ambiente natural…
Simplesmente a boiar nesse calor morno… que aquece o coração… Isso.
[Aproveite e procure fazer a desvinculação com os progenitores (se intuir um vinculação
insegura); se necessário, crie um ego auxiliar (um mentor), para reforçar a criança
interior.]

Está a aprender… Está a aprender realmente a aquietar-se… A desfrutar desse calor


morno e manso… A aprender a observar tudo aquilo que não foi possível observar… ou
que alguém não permitia observar no passado… Entretanto, gostaria de lhe pedir para
prestar atenção à saborosa sensação de calor ou de expansão que sente surgir no peito…
Ligue-se gradualmente à sensação de calor que se espalha… como uma onda que se
expande no seu peito… Com o seu pensamento e a sua respiração, acompanhe-a e
encoraje-a a expandir-se cada vez mais… dando-lhe uma saudável sensação de calor e
paz… Por vezes, esta sensação maravilhosa de calor começa timidamente… e manifesta-
se muito discretamente… Outras vezes, surge em força… e vai propagando essa
sensação de quietude e paz por todo o corpo… Isso… Muito bem… E prepare-se para
despertar naturalmente… automaticamente mais leve… mais livre… profundamente
mais saudável.

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APLICAÇÃO DA TÉCNICA DE: ESTADOS DO EGO

INTRODUÇÃO À TÉCNICA DE «ESTADOS DO EGO»

A técnica de «ESTADOS DO EGO» inspira-se no meu trabalho com o Hans Tendam. Na


realidade, é uma notável abordagem de desemaranhamento psicológico, sendo
considerada a melhor técnica para a resolução dos problemas do passado. Não é
exagero, quando afirmo que é aplicada praticamente em todos tratamentos pós
regressivos, pois permite ao próprio paciente conhecer e falar com a criança do passado
e, finalmente, resgatá-la dos recalcamentos de experiências emocionalmente
traumáticas. Quer dizer, permite compreender a nossa parte de criança maltratada ou
abandonada na infância e recuperá-la para o aqui e agora, «drenando» a dor do
passado.

DUAS DIMENSÕES PRESENTES NA TÉCNICA DE ESTADOS DO EGO

É aconselhável aplicar a Técnica de Estados do Ego em duas partes (2 sessões). Não


obstante, e se não houver complicações no desemaranhamento do ego, pode ser
aplicada na totalidade, tal como o explicado:

I. Primeira parte: através da linguagem simbólica da mente do paciente, serve


essencialmente, para aferir as dimensões dos sentimentos que ele trouxe à terapia,
hierarquizar a força e o peso dos sentimentos trabalhados anteriormente e/ou
elementos novos que possam ter surgido;

II. Segunda parte: serve para descobrir e reforçar os egos fragilizados, fazer a
desvinculação com figuras parentais e fazer uso de Egos auxiliares.

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RESGATAR OS EGOS FRAGILIZADOS

A hipnose é um processo de expansão da consciência, através do qual nos


fragmentamos em várias personalidades. Lá diz o ditado popular: «De criança e de louco
todos temos um pouco.».
De facto, na técnica de «ESTADOS DO EGO», cabe ao paciente resgatar a sua
personalidade de criança perdida, indefesa, impotente e maltratada… Em transe, pode
conversar com ela, apoiá-la, protegê-la e trazê-la para o aqui e agora. Nesse processo
de transformação, «decantamos» a dor e o medo, e o paciente traz a criança para o seu
interior. Dessa forma, pode fazer as pazes com os seus «egos» do passado e dar-lhes
amor incondicional, pois, agora, já sabe defender-se e proteger a criança que existe no
seu interior.
Resumindo, esta poderosa ferramenta procura fazer uma simbiose das dinâmicas
internas do próprio paciente. Ou seja, o paciente fala com a criança que vive dentro de
si, promete-lhe segurança, amor incondicional e proteção; em troca, a criança devolve-
lhe paz interior, força renovada e alegria de viver. Revigorado, o paciente torna-se um
ser humano livre, mais confiante e com maior autoestima, capaz de caminhar para a
direita ou para a esquerda sem perder o equilíbrio ou o rumo…

QUANDO É QUE SE PODE APLICAR A TÉCNICA DE ESTADOS DO EGO

A Técnica de Estados do Ego é uma poderosa técnica hipnoanalítica de restruturação


cognitiva que deve ser aplicada logo após a aplicação da Regressão Estruturada e feito
o trabalho de regressão ao momento de Sensibilização Inicial, seja na infância, no
nascimento ou ao ventre materno. Serve para identificar os vários Egos de Idade, ou
alter-egos do paciente que foram assinalados, e que podem representar sentimentos e
emoções ainda não resolvidas. Nomeadamente, aqueles que resultam de experiências
emocionalmente traumáticas e/ou recalcamentos de índole física e emocional.

AS QUATRO ÁREAS DE INTERVENÇÃO DESTA PODEROSA TÉCNICA PÓS-REGRESSIVA:

1. Aferição do «peso» dos Sentimentos e Emoções: aferir os sentimentos;


nomeadamente, se existe alguma alteração da hierarquização dos
sentimentos/emoções iniciais;

2. Resgate de Egos de idade e trabalho com Egos Auxiliares: identificar, compreender


e libertar egos recalcados do passado. Identificar e trabalhar com Egos Auxiliares
(mentores) que, porventura, existam na psique da pessoa;

3. Desvinculação das Figuras de Vinculação inseguras ou castradoras: efetuar o


trabalho de desapego e trabalhar com as Figuras de Vinculação;

4. Reforço do Ego e ponte ao futuro: reforçar o ego fragilizado, ou reforçar a criança


interior, permitindo restruturar o traço de personalidade.

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GUIÃO: PARA A TÉCNICA DE ESTADOS DO EGO (INDUÇÃO E RELAXAMENTO HIPNÓTICO)

Quero que se acalme um pouco… respire fundo e pausadamente… liberte todas as


tensões… Muito bem. Agora, acomode-se confortavelmente na sua cadeira… Respire
calma e pausadamente… tranquilamente…. De olhos abertos ou fechados… Como for
mais confortável para si… Deixe que a paz se instale… e se espalhe por todo o seu
corpo… Gostaria que se acomodasse o melhor possível nessa cadeira ou poltrona… e me
permitisse fazer uma indução verbal… Gostaria que prestasse atenção às minhas
palavras…
Neste momento, está confortavelmente sentado… e ouve nitidamente a minha voz…
Sinta o calor dos seus dedos e das suas mãos pousados no braço da cadeira ou nas suas
coxas… Pode ter os olhos abertos ou fechados… É como for mais confortável para si… Aí
sentado… relaxado… sinta-se encostado na cadeiras… as costas todas apoiadas… até aos
quadris… Sinta os pés suavemente apoiados no chão… Aí sentado, sinta o calor que as
suas mãos geram… a repousar no braço do sofá… Sinta uma crescente sensação de
conforto… e bem-estar… E, da próxima vez que os seus olhos começarem a piscar… a
fechar-se… permita que permaneçam simplesmente fechados… e desfrute dessa
sensação de conforto… e paz interior… que cresce em si… Qualquer som exterior
espalha-se para dentro de si… deixando-os ainda mais confortável… E, enquanto está aí
sentado… a inspirar e a expirar… sinta uma agradável sensação… de tranquilidade… e
conforto… Atente ao som da sua respiração… e desfrute da crescente sensação
crescente de segurança… conforto… e paz… Pode relaxar-se verdadeiramente… relaxar-
se para alcançarmos os objetivos que aqui nos propormos alcançar… Aí sentado… vai-
se acalmando cada vez mais… ao som da minha voz… ao som de todos os ruídos que
vêm do exterior… Sinta-se distanciar-se cada vez mais do que o cerca… e a ganhar um
conforto interior… cada vez mais profundo…. Peço à sua mente inconsciente… que faça
uma das suas mãos… ou um dos seus braços… começar a levantar-se… Se for oportuno,
as suas mãos começam a levantar-se… a distanciar-se do braço da cadeira… ou das suas
coxas… não sei se já se deu conta… mas a sua mão começa a levantar-se
inconscientemente… em movimentos pequenos mas honestos… Aí sentado, pergunte-
se… a inspirar e expirar… se essa resposta de levantar o braço… Seria ou não… a que a
sua mente inconsciente escolheria… Isso será útil… para os propósitos de cura… e o
equilíbrio que temos nesta sessão… para o ajudar… e o curar do que tem de ser curado…
para o curar do problema que o trouxe aqui… Escolha o que escolher… se o seu
inconsciente o fizer mergulhar ainda mais fundo… num estado de paz e relaxamento…
confirme-o… para que eu o veja levantar lentamente uma das suas mãos… deixo essa
escolha inteiramente ao critério da sua mente inconsciente… E gostaria de lhe pedir…
que, seja qual for a sua escolha… comece agora a reunir os materiais… as emoções… os
sentimentos… para iniciarmos uma viagem mental… uma viagem à sua mente
profunda…
Gostaria de o convidar a imaginar uma maravilhosa praia… Imagine-se no alto de uma
escarpa… Lá em baixo, avista uma deliciosa praia de areia dourada… Uma das primeiras
coisas que pode sentir… é a sua envolvência… ao olhar para cima… veja claramente… o
azul do céu… um azul muito suave… a contrastar com algumas nuvens brancas a

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flutuar… Olhe à sua volta… e aprecie a pureza do ar… e sinta uma lufada de ar fresco…
Olhe para baixo… e contemple a superfície dourada da praia… Repare num pequeno
caminho que desemboca nessa praia maravilhosa… e comece a percorrê-lo… o caminho
não é difícil… à medida que o percorre… vai sentindo um agradável aroma a maresia…
Chega ao areal e para… a admirar essa maravilhosa praia onde pode caminhar… veja-se
descalço… e sinta… sinta realmente… os pés em contacto com a areia dourada e macia
dessa praia… Agora lance o olhar para o mar… para o horizonte… para lá do oceano…
Repare nas ondas… a suceder-se… umas atrás das outras… a rolarem… vindas do
horizonte…. Em direção à praia… Cada onde tem a sua forma única… uma curvatura
diferente… uma cor particular… ao embater na areia da praia… ao desfazer-se em
salpicos de espuma branca… Enquanto contempla as ondas… o movimento do mar…
aperceba-se do vento à sua volta… a soprar a crista das ondas… a aspergir o ar de água
salgada… enquanto a onda se espalha e desfaz na areia… Observe o vento a fustigar a
crista das ondas… Sinta a humidade no ar… e o agradável aroma a maresia… inspire
fundo… isso…. Sinta a brisa marítima acariciar-lhe as faces… e permita-se começar a
andar… dês uns passos… e entre na água… sinta-a a envolver os pés… e os tornozelos…
Imagino que possa realmente apreciar essa sensação…
Continue a sentir-se bem…. Olhe à sua frente… e vislumbre uma ilhota… não muito
longe da costa… talvez, até, bem perto da praia… é uma ilha linda… uma ilha coberta de
uma vegetação luxuriante… parece uma ilha mágica… de repente, você sente
necessidade de ir a essa ilha… sente-a chamar por si… sente um apelo vindo do seu
âmago… sente uma necessidade imperiosa de viajar até a essa ilha que avista no mar…
bem à sua frente… e isso deixa-o intrigado… curioso sobre o que tem a aprender nessa
ilha… Comece a avançar, por entre o vai e vem de ondas… sinta o mar beijar-lhe os pés…
Sinta a agradável sensação do sol cálido a acariciar-lhe o rosto e o corpo…. A carta altura,
avista uma silhueta… Ali, junto à praia… Parece um barco… um pequeno barco… Apresse
o passo e aproxime-se dele… É realmente um pequeno barco a remos… Repare na cor…
De que cor é esse barco?
[Aguarde a confirmação do paciente.]
Toque no barco e sinta como ele é seguro e robusto… e lance novamente o olhar para
aquela ilha maravilhosa… Talvez necessite de lá ir, não é?… Realmente, esta é a sua
oportunidade de o fazer… e decide entrar no barco da cor que você escolheu… decidido
a remar até à sua ilha mágica… Empurre o seu barco lindo para a água… salte lá para
dentro… pegue nos remos… e comece a remar… Enquanto vai rema, sinta a agradável
sensação do barco a balouçar com as ondas… Ouça o piar calmo e tranquilo das
gaivotas… Veja uma gaivota a pousar na borda do seu barco… e admire-a… veja-a
balouçar em sintonia com o barco… Você vai remando… remando… mas há algo de
errado no seu barco… Sente-o muito pesado… Faz um enorme esforço para o fazer
avançar… mas, por mais que faça… o casco do seu barco só se afunda na água… de
repente, apercebe-se de que, no fundo da quilha do seu barco, estão uns sacos…. Sacos
velhos… que estavam no fundo do seu barco… são feitos de um tecido grosseiro… Há
quanto tempo é que carrega consigo esses sacos? Há quanto tempo é que os tem na sua
vida? De repente, lembra-se de que já carrega esse peso há muito… Esses sacos já vêm
de longe… Já existem há muito tempo, dentro de si… e sabemos que, em determinadas
alturas, se tentou livrar deles… mas não conseguiu… outras vezes, tentou ignorá-los…

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NÍVEL II: Manual de TRVP e Hipnoanálise: numa perspetiva clínica e transpessoal

mas sempre lhes sentiu a presença… a pesar-lhe no coração… são como espinhos
cravados no seu corpo… Decida-se agora e deite esses sacos fora… liberte-se desses
sacos que carrega consigo há tanto tempo… E talvez se possa lembrar de há quanto
tempo os carrega dentro de si… Entenda agora o que significam… Sacuda o pó de um
dos sacos… Nesse saco está escrito [Exemplo: MEDO]… Sacuda o pó de outro… Nesse
está escrito [Exemplo: REVOLTA]… Sacuda o pós de todos os sacos… Noutro está escrito
[Exemplo: SOLIDÃO?]… E veja e sinta o que cada saco representa… sem ter de os abrir…
para ver que contêm… E recorde vagamente todos esses momentos… todas essas
experiências emocionais… que foram enchendo cada vez mais… esses casos… tornando-
os cada vez mais pesados… Pense nisso… no que cada saco contém… E perceba que já
pode… finalmente… libertar-se desse peso… desse fardo que carrega no seu interior…
há muito, muito tempo… Agora, gostaria de lhe fazer umas perguntinhas… Qual dos
sacos é o mais pesado? Qual dos sacos é o mais antigo? Verifique se não lhe escapou
nenhum saco… Compare os sacos e diga-me qual deles é o maior…

AFERIÇÃO DOS SENTIMENTOS E EMOÇÕES

Aguarde a resposta; tome nota de todos os sentimentos/emoções que o paciente disser


que carrega dentro dele e o que cada saco — e o respetivo peso — representa para ele.
Assim, aferimos o nível de importância que ele dá a cada sentimento e se apareceu
algum sentimento novo que precise de atenção. Depois de obtermos estas respostas,
prosseguimos.

Muito bem… Agora, agarre no saco mais pesado… Isso… Força… Veja como esse
sentimento pesava na sua vida… Lance-o para bem longe de si… Observe como esse saco
do [Exemplo: MEDO] o prejudicava… Liberte-se desses sentimentos, antes de chegar à
sua ilha mágica… Veja o saco a afundar-se rápida ou lentamente no mar… E, quando o
saco desaparecer totalmente, diga-me… [Aguarde a resposta; por vezes, temos de
auxiliar o paciente a levantar o respetivo saco, tal é o peso que esse sentimento
representa para ele.]

NOTA: Se, porventura, o saco não afundar ou não desaparecer, isso pode significar que
o paciente ainda não está pronto para se libertar desse sentimento — ou seja, que ainda
tem algo a aprender ou a libertar, relacionado com o sentimento em causa. Nesse caso,
o terapeuta não deve forçar o consulente a ver desaparecer o saco. O melhor será que
ele fique a boiar na água, pois na cabana ainda vamos trabalhar com o respetivo ego
que é representado nesse saco, enquanto isso o terapeuta passa a trabalhar os outros
sentimentos.

Muito bem… Pegue no outro saco com o sentimento de [Exemplo: REVOLTA] e atire-o
pela borda fora também… e faça isso a cada saco de sentimentos que estiverem dentro
do seu barco… Excelente.

Lançar todos os sacos, um a um, para a água, para ver cada sentimento afundar-se no
oceano. Sempre que considerar adequado, o terapeuta deve ajudar o paciente a lançar
o saco pela borda fora. Se o saco teimar em não se afundar de imediato, isso pode ser

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NÍVEL II: Manual de TRVP e Hipnoanálise: numa perspetiva clínica e transpessoal

uma indicação de que a mente inconsciente ainda não está preparada para se libertar
desses sentimentos. Se isso acontecer, deixe os sacos a boiar no oceano e continue com
a indução da técnica. Lembre-se que de alguma forma essa é uma representação
simbólica das dimensões psíquicas do paciente, por isso não devemos forçar o seu
desaparecimento, mas esclarecer e auxiliar a compreender a sua mensagem.
Recordemos de que ainda vai trabalhar com os Egos de Idade, os Egos Auxiliares e as
Figuras de Vinculação, cada dos quais pode ter respostas para ajudar a libertar os sacos
que não foram ao fundo.

FINAL DA PRIMEIRA PARTE

Dê sugestões para que o consulente regresse novamente ao presente, dizendo que, na


sessão seguinte, os sacos que não se afundarem naturalmente darão à costa e voltarão
a trabalhar o seu conteúdo na próxima sessão. Conclua esta sessão com Perguntas Finais
de Possibilidade.

NA PRÓXIMA SESSÃO APLICA -SE O MESMA LINHA DO PROTOCOLO ANTERIOR

Chegado à praia, o consulente embarca novamente e parte em direção à ilha mágica. O


terapeuta prossegue questionando durante a travessia se por acaso algum saco, que
porventura não tinha afundado na sessão anterior, ainda se encontra a boiar. Sugira-lhe
que não há problema, pois a mente sábia e amiga pede para que encontremos as razões
da sua mensagem e mudança que pede para fazer e que irão abordar o que representa
esse saco/sentimento na ilha mágica.

Muito bem… Agora que removeu da sua vida todos esses pesados fardos que tanto o
incomodavam… pegue novamente nos remos… Sinta o barco mais leve… mais veloz…
Sinta-o navegar sem esforço… Veja-se aproximar-se rapidamente da sua ilha…
Vislumbre um lindo arco-íris sobre o mar, à sua frente… Atravesse esse maravilhosos
arco-íris… como se atravessasse um enorme portão… E deixe o seu barco bater
suavemente na areia macia… Na areal dourada dessa pequena enseada… Salte para fora
do barco e comece a puxá-lo… Puxe o seu barco para a praia… para evitar que as ondas
o levem…. Observe as águas azul-turquesa… Contemple os magníficos corais… os peixes
multicolores… Veja diante de si uma pequena praia de areia dourada… com uma linha
de coqueiros mesmo junto ao mar… Há imensas árvores e pássaros multicolores…
Respire fundo… sentindo muita paz… muita tranquilidade… Comece a caminhar para
explorar a sua ilha… De repente, mesmo à sua frente, avista uma pequena cabana… uma
cabana de madeira… Aproxime-se um pouco… constate que se trata realmente de uma
cabana de madeira… assente em estacas… e coberta de colmo… Tem uns degraus acima
dos quais avista nitidamente uma porta… Olhe para a porta… Vê-a aberta ou fechada?
[Aguarde a resposta.]

Suba os degraus… empurre a porta… e entre… Atravesse uma pequena cozinha arejada
e confortável… Entre numa sala… uma sala ampla… Veja duas janelas… uma virada para

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o mar… e outra para a floresta… Dirija-se para uma das janelas e respire fundo… Isso…
Agora, observe a sala da sua cabana… Arrume-a ao seu estilo… Veja uma mesa…
Estantes com livros… e, encostado à parede, um sofá confortável… Veja uma lareira de
tijolo… Ao olhar pela janela, verifica que a noite começa a chegar… Já começa a
escurecer… E as noites na sua ilha costumam ser frias… Aproxime-se da lareira e pegue
fogo aos gravetos que ela contém… Junte-lhes lenha… e sinta o crepitar agradável do
lume… Sinta um agradável calor nas faces… Sinta-se muito mais aconchegado… Sente-
se no sofá… e observe calmamente a sombra da sua cabeça na parede… a ondular… a
dançar ao ritmo das chamas na lareira… Enquanto está aí confortavelmente sentado…
sonolento… enquanto se descontrai… todas aquelas dúvidas antigas sobre si mesmo
começam a emergir na sua mente… todas as dores… todos os traumas não
ultrapassados… sentimentos de medo… ou sentimentos de revolta, começam a aflorar
à sua mente… Tem consciência daquilo que lhe fizeram… das dores a que o
submeteram… das humilhações por que o fizeram passar… até das suas falhas… das
coisas que gostaria de não ter feito… e das coisas que desejaria ter feito no passado…
de repente, uma parte de si… a criança que há em si e que sofreu… que foi maltratada…
ou que tem medo… se lhe permitir… ela vai bater à porta da sua sala… pois essa sala é
especial… É a sala das suas memórias… [Os primeiros Egos a sugerir serão os egos a
representar cada um dos sentimentos encontrados em cada saco.]… Isso… Deixe essa
parte sua [por exemplo, a REVOLTA] surgir… Permita-lhe vir finalmente ter consigo…
Permita-lhe falar consigo… Esta é a sala das suas memórias… Deixe-a vir… Deixe-a vir
transmitir-lhe tudo o que lhe fizeram no passado… Já se deu conta de que a parte sua
que representa a REVOLTA quer falar consigo? Isso… Olhe para a porta… Quando
alguém bater à porta, diga-me que sim com a cabeça, para eu saber a sua resposta…
Está pronto? Muito bem… Levante-se e dirija-se para a porta…

[O terapeuta espera o tempo que for necessário para que o paciente lhe responda que
alguém bateu à porta. Logo que o paciente confirme que alguém chegou — que chegou
o Ego de Idade — continue.]

Abra a porta à sua parte do passado… Deixe entrar aquela parte que está associada ao
seu problema [Exemplo: o MEDO, a SOLIDÃO, a TRISTEZA, etc.] e obtenha uma primeira
impressão dessa parte… É uma parte sua adulta ou criança? Que idade é que aparenta
ter? Está triste ou contente? O que é que lhe fizeram?

Iniciar então a comunicação interior com o Ego de Idade — neste caso, tomamos o
exemplo de uma parte criança. Depois das primeiras impressões, peça ao paciente em
transe que traga a criança para dentro da cabana e que a faça sentar-se no sofá, para se
dar início à comunicação de forma a ressignificar a sua dor.

IMPORTANTES QUESTÕES A PERGUNTAR AO EGO DE IDADE

Pergunte-lhe se ela tem alguma coisa a mostrar ou a dizer. O que é que lhe fizeram?
Porquê? Quem? O que é que essa criança sentiu? [Importa ouvir com atenção as
respostas e, se necessário, acompanhar a criança até ao momento traumático do passado.

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NÍVEL II: Manual de TRVP e Hipnoanálise: numa perspetiva clínica e transpessoal

Prossiga.] Acarinhe agora essa criança, junto a si… Aperte-a carinhosamente nos braços
e prometa-lhe que a vai proteger… Que agora você vai ser o pai, o irmão, o amigo dela…
Que agora vai ser quem ela precisava de ter e não teve no passado… Faça finalmente a
sua criança interior sentir-se segura e protegida… Em troca, ela poderá dar-lhe paz,
felicidade e autoestima…

A partir deste momento, faça entrar todos os recalcamentos ou traumas do passado,


resultado dos sentimentos anteriormente encontrados nos sacos. Identifique e crie Egos
Auxiliares, limpe e proteja todos os Egos de Idade, todas as figuras das crianças
abandonadas, maltratadas, assustadas ou com medo. Recorrendo a metáforas de
transformação e resgates da criança interior, crie uma dinâmica de perdão, proteção e
cura, para fazer a simbiose com a pessoa adulta. Se necessário, poderá agora proteger
a criança maltratada das figuras de vinculação autoritárias —dos déspotas que
eventualmente não a protegeram no passado — e efetuar a respetiva desvinculação
dessas figuras. Finalmente, junte todos os Egos de Idade numa bola de luz e deixe-os
entrar no peito do paciente, porque eles fazem parte dele; estabeleça uma âncora de
contato futuro, pousando a mão sobre o coração.

EVOCAR MENTORES E/OU EGOS AUXILIARES

Nalgumas situações de vinculação insegura e/ou complexa — se os recalcamentos do


passado estiverem emparelhados com alguma figura de vinculação que tenha sido
agressiva, déspota ou austera — é importante evocar um Ego Auxiliar, que pode ser um
familiar significativo ou alguém que tenha protegido a criança no passado (por exemplo,
a avó amorosa e protetora). Também pode ser um guia, um mentor ou qualquer figura
religiosa que seja realmente importante para o nosso paciente.

INSTALAR UMA ÂNCORA DE CONDICIONAMENTO

Este é o momento-chave para pedir ao paciente que, todos os dias logo pela manhã,
coloque a mão no peito, junto ao coração, e prometa a todas as suas partes que as ama
incondicionalmente, que as deseja e as protege. Prometa-lhes que elas já estão bem.
Naturalmente que este é um momento muito intenso e cheio de boas emoções, em que
o paciente experimenta uma agradável sensação de paz interior e equilíbrio. Este é o
momento ideal para lhe dar sugestões para dormir e sonhar, explicando que as
mudanças de que precisa irão continuar a operar-se automaticamente durantes os
sonhos. Utilize as «palavras mágicas da mente»: protegidamente, automaticamente,
saudavelmente, a aprender e a desfrutar. Nesta altura, poderá ser oportuno contar
uma metáfora transformacional e/ou fazer uma Ponte para o Futuro.

PONTE PARA O FUTURO

Muito bem… Agora, que fez as pazes com o seu passado, irá sentir que, a partir de hoje,

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se sentirá mais forte, seguro e feliz… Já nada nem ninguém lhe poderá fazer mal… Agora
está extremamente forte e feliz… Pois sabemos que, com este conhecimento adquirido,
não irá permitir que mais ninguém faça mal à sua criança interior, não é? E, agora,
aquiete-se um pouco… pois deve estar a sentir-se tão bem… e tão em paz… que
simplesmente vai dormir… Dormir calma e tranquilamente… Enquanto dorme
placidamente… a sua mente começa a sonhar… Nesse sonho, está no futuro… Não sei
se é daqui a um dia… uma semana… ou um mês… Mas está totalmente feliz… e está a
enfrentar naturalmente o seu problema… E apesar de antes se sentir [explicitar o que o
paciente sentia], agora sente-se maravilhosamente bem… automaticamente seguro…
naturalmente protegido… saudavelmente a aprender e a desfrutar de um nono ser… Já
se deu conta de que está a aprender a ser diferente? E sente-se automaticamente cada
vez melhor… mais bem-disposto… e mais forte… A cada dia que passa… sentir-se-á cada
vez melhor…

Permita que o paciente reviva alguns momentos felizes no futuro, durante uns minutos,
para poder enfrentar o seu problema de uma forma mais segura, confiante e plena, mas
também com novos recursos criados. Em seguida, continue.

Agora, vai sair desse sonho maravilhoso… pois o dia já nasceu de novo… Ouça outra vez
o agradável som das ondas do mar…. Respire fundo… Espreguice-se… Isso… vá até à
janela… Observe as ondas do mar… a ondular tranquilamente… Repare no seu pequeno
barco… Aviste-o na praia… à sua espera… Sinta-se o ar fresco do mar a bater-lhe nas
faces… e prepare-se para sair… Saia pela porta da sua cabana… e, ao olhar para trás,
observe mais uma vez a sua magnífica sala… Lembre-se… É a sua sala… o seu local
seguro… e tranquilo… para onde pode voltar… sempre que precise de fazer alguma
correção física… ou mental… Estará sempre aí… num lugar que pode sempre voltar…
Desça as escadas… sinta a frescura da areia nos pés… e a frescura da brisa do mar na
pele… aproxime-se do seu barco… e empurre-o para a água… para fazer a sua viagem
de regresso… mas repare… Já se deu conta de que se sente muito leve? Sente-se tão
livre… que nem sequer entra logo no seu barco… Empurra-o simplesmente… sentindo-
se leve… livre… como se fosse capaz de voltar a caminhar sobre a água do mar… tal é a
paz… tal é a leveza… e tal é a confiança… que encerra em si neste momento… Quando
entra no barco, sente-se muito mais reconfortado… muito mais preparado para
enfrentar os seus problemas… Sente-se realmente diferente… Algo mudou dentro de
si… Agora, sente-se muito mais forte… muito mais confiante… muito mais feliz… como
nunca se sentiu…

Se, durante a travessia de volta, o consulente ainda assim encontrar algum dos sacos
com sentimentos a boiar, sugira-lhe que não há problema, pois a mente sábia e amiga
continuará a trabalhar aquele sentimento durante os sonhos e, na sessão seguinte, irão
abordar novamente esse saco/sentimento. Entretanto, faça uma Pergunta de
Possibilidade, para aproveitar o Zeigarnik effect.

Não é interessante, como podemos deixar alguma coisa assim, de lado, para continuar
a aprender no futuro? [Prossiga com a técnica, gravando uma mensagem de cura.]
Muito bem… Sente-se naturalmente diferente… seguro e confiante… Atravessa

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rapidamente esse pedaço de mar… Muito bem… Deixe o seu barco no local onde o
encontrou… E, agora, com a ponta do dedo, escreva na areia húmida uma frase que
possa demonstrar o que sente agora. Perceba como se sente agora e escreva uma frase
a respeito, e a frase é: «Eu, [nome do consulente], sou… (livre?) EU [nome do
consulente], estou curado de [Deixar uma mensagem de Cura na areia molhada]»... Isso…
deixe essa mensagem escrita para toda a gente ver… Deixe essa frase escrita para o
Universo ler… E repare que o movimento vai e vem das ondas não apagam as palavras
que escreveu na areia húmida da praia… Agora compreende que é como se o Universo
confirmasse e abençoasse a sua cura… a sua nova pessoa… o seu novo brilho… o seu
novo ser… Como se, finalmente, o Universo sorrisse para si… E é tão bom sentir-se
pleno… vivo… e curado… capaz de dançar a dança da vida… Pois, acima de tudo e apesar
de tudo, ainda temos o direito de ser seres imperfeitamente perfeitos a viver uma
epopeia terrena, verdade, não é?

DESPERTAR DO TRANSE E FINALIZAR A SESSÃO

Regresse ao aqui e agora com muito mais paz… com muita calma… a sentir-se
rejuvenescido e muito melhor do que antes…Volte… volte para o aqui e agora… Volte
ao seu ritmo… à sua maneira… a sentir-se forte… revigorado… e muito mais preparado
para enfrentar as suas experiências terrenas… [Se necessário efetue a contagem para o
despertar, e depois desperte-o], Acorde agora… Abra os olhos… respire fundo… e sorria
para a vida… Sinta-se feliz, bem-disposto e em perfeito equilíbrio com a Natureza…

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APLICAÇÃO DA TÉCNICA DA CIRURGIA PSÍQUICA

INTRODUÇÃO À TÉCNICA DA CIRURGIA PSÍQUICA

O corpo etéreo, também conhecido como Aura, é um campo energético que rodeia
todos os seres humanos. Alguns especialistas defendem que a sua principal função é
proteger-nos de agressões e roubos energéticos de outros seres. Todavia, esse campo
energético pode carregar lesões, rasgos ou escórias energéticas com origem em vidas
traumatizantes do passado (em que morreram torturados, enforcados, queimados ou
feridos por armas, sofreram amputações, etc.) e que fazem com que a paciente perca
imensa energia vital.

A CIRURGIA PSÍQUICA COMO FORMA EXCELENTE


DE SIMBOLIZAR PROBLEMAS, DESCONFORTOS OU EXPERIÊNCIAS

A técnica de limpeza e equilíbrio da aura através da Cirurgia Psíquica é uma excelente


ferramenta para remoção das «Escórias Energéticas» — muitas das quais se devem a
situações traumáticas — que se acumulam como «tensão» no campo energético do
paciente. Esta escórias podem ter sido provocadas por situações eventualmente
traumáticas da infância, ou em vidas pregressas e que de alguma forma as pessoas
carregam como presente como uma «CROSTA ENERGÉTICA» e que permite ser
removida se procurarmos onde, quem e quando foi colocada? Esta interessante técnica
pode também ser utilizada como forma de revelar a origem ou causa de um problema
ou desconforto existente no corpo do nosso paciente, como um desconforto físico sem
causa aparente e/ou um sinal de nascença. Como é uma técnica que simboliza a
problemática (faz uso dos símbolos para representar o problema) ela é de máxima
importância quando um paciente se encontra bloqueado. A sua grande eficácia consiste
em ajudar aqueles pacientes que têm dificuldade em verbalizar ou medo de somatizar
os seus problemas ou doenças (medo de sofrer), pois permite-nos aceder-lhes
facilmente através de uma linguagem simbólica (fruto da imaginação da mente
inconsciente), que por sua vez deixa espaço ao paciente para representar o seu

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problema sem se envolver emocionalmente. Pede-se ao profissional que se prepare e


que seja criativo e eclético, pois, terá de usar a capacidade mental do inconsciente do
seu paciente para representar qualquer problema, desconforto ou situação através de
símbolos.
Exemplo, para um paciente que tem «medo»: peça ao paciente para simbolizar o medo:
Se o seu medo tivesse um símbolo qual seria? [Exemplo, uma «faca»]… Pense agora num
contra exemplo do medo? [Um contraexemplo do medo ele pode referir «amor»] Muito
bem, se o «amor» tivesse um símbolo qual seria? [Exemplo, um «coração»]…
Desta forma simples o paciente facilmente compreende que sem se envolver
pessoalmente, pode simbolizar o seu problema ou doença e dessa forma pode ser
trabalhada com esta técnica.

A CIRURGIA PSÍQUICA, NA REMOÇÃO DE ESCÓRIAS ENERGÉTICAS DE DRAMAS DE VIDAS PASSADAS

Esta técnica também é muito útil para remover escórias energéticas de situações vividas
em vidas pregressas. Normalmente, quando se explora a aura com esta técnica, acede-
se às cargas, aos cortes, às manchas, às amputações ou outros incidentes que se
acumularam no corpo extrassensorial ou nos chacras do paciente.
Esta interessante técnica de exploração deve ser usada principalmente depois da
regressão e do insight já realizados em sessões anteriores. Além disso, é muito
importante, já que permite identificar Fragmentos de Vidas Passadas que porventura
ainda não tenham sido identificadas nas anteriores regressões.
Lembre-se de que a Cirurgia Psíquica nem sempre permite ao paciente compreender
o seu carma, como acontece com a regressão ao passado, e daí ser importante aplicá-la
sempre como técnica pós-regressiva de inspiração analítica.

ALGUNS CASOS OU SINTOMAS A QUE PODE APLICAR A TÉCNICA DA CIRURGIA PSÍQUICA

A Cirurgia Psíquica é especialmente adequada em casos de problemas psicossomáticos


(por exemplo, dor crónica, dor localizada ou a chamada «dor fantasma»), e em casos
que o paciente tem dificuldade em verbalizar o porquê destas dores. A técnica também
pode ser utilizada para se descobrir a causa de determinadas características
dermatológicas e/ou somáticas do paciente (por exemplo, dores ou enxaquecas sem
explicação ou doenças de pele, como psoríase, urticária, lúpus e outras). Para além
disso, e como já referi, a técnica oferece ótimos resultados em casos de pessoas que
tenham nascido com manchas anormais em determinadas zonas do corpo e queiram
saber se são de nascença ou se têm origem numa experiência mal resolvida do passado.
De facto, a exploração da aura através da Cirurgia Psíquica é considerada uma
fabulosa «ferramenta» nestes e outros casos de natureza psicossomática, já que faz uso
do lado simbólico das palavras para simbolizar a problemática e para identificar e tratar
Escórias Energéticas no campo vibracional dos pacientes.

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TIPOS DE ESCÓRIAS ENERGÉTICAS QUE GERALMENTE APARECEM NA APLICAÇÃO DA TÉCNICA

As escórias energéticas presentes no campo energético apresentam uma tipologia


temporal e emocional e podem ser identificadas em quatro importantes áreas
arquetípicas:

I. ESCÓRIAS ENERGÉTICAS SÍMBOLOS/OBJETOS: objetos cortantes ou perfurantes (balas,


punhais, espadas, flechas ou machados, entre outros), cordas, grilhetas, objetos de
madeira, pedras, etc.;

II. ESCÓRIAS ENERGÉTICAS PESSOAS: podem surgir personagens históricas, talvez figuras de
vinculação (pais ou familiares diretos), ou pessoas conhecidas e/ou estranhas;

III. ESCÓRIAS ENERGÉTICAS ANIMAIS: pode ser um animal doméstico (cão, gato ou ave de
capoeira); se for uma animal selvagem e feroz, este poderá ter sido causa de morte,
numa vida ancestral. Por vezes, aparecem mandíbulas, bicos ou garras em
determinadas partes do corpo; nesse caso, deve-se averiguar a que animal
pertencem e quando surgiram ou foram fixos no corpo energético;

IV.ESCÓRIAS ENERGÉTICAS ENERGIA ESCURA, COR DESVIADA OU ALCATRÃO: é a simbologia mais


comum; pode ser uma cor desviada ou uma mancha tipo de alcatrão, mas o mais
usual é ser uma energia escura (preta ou castanha).

GUIÃO DA TÉCNICA: PARA FAZER UMA CIRURGIA PSÍQUICA

SUGESTÕES DE RELAXAMENTO E INDUÇÃO HIPNÓTICA

Coloque-se numa posição confortável… Sinta os pés em contacto com o chão e pouse as
suas mãos nas coxas ou nos braços da poltrona… Deixe a cabeça cair lentamente para a
frente… Descontraia-se… Isso… Agora, deixe-se descontrair ainda mais… e deixe os
olhos fecharem-se sem forçar…. Com os olhos fechados, evita que se distraia com que
o rodeia… Agora, relaxe completamente…. E pense na palavra RELAXAMENTO como
nunca pensou antes… porque, agora, essa palavra… esse estado, vai proporcionar-lhe…
neste momento… um relaxamento… uma descontração muito pacífica… um
relaxamento que vai envolver todo o seu corpo… desde a ponta dos dedos dos pés… até
ao topo da cabeça… uma descontração que o vai aliviar… e o vai disponibilizar para as
suas próprias maravilhas interiores… Por isso, deixe-se agora descontrair…. Relaxe
completamente… Deixe-se ficar absolutamente descontraído… Agora, vou pedir-lhe
que se concentre na respiração… Simplesmente… Inspire e expire… Inspire e expire…
Inspire relaxamento…. Expire tensão… Inspire e expire… e deixe os músculos do rosto
amolecer e descontrair… Inspire e expire… e sinta os músculos dos ombros… soltar-se e
a descontrair… Inspire e expire… Sinta o relaxamento alastrar-se pelo pescoço… e pelos
ombros… Inspire e expire… Sinta este maravilhoso relaxamento penetrar nos músculos
dos braços e libertar todas as tensões… Sinta os músculos soltos e descontraídos…

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Inspire e expire… Inspire e expire… Sinta os músculos das costas soltar-se e descontrair…
Sinta o conforto dos músculos das costas sem tensões… Inspire e expire… e deixe os
músculos do peito descontrair… Sabe tão bem relaxar… É tão suave, este seu
relaxamento… Inspire e expire… e sinta este relaxamento alastrar-se aos abdominais e
às coxas… Inspire e expire… Sinta esse relaxamento alastrar-se à barriga das pernas…
aos pés… Sinta o conforto desses músculos sem tensões… Inspire e expire… e sinta um
enorme bem-estar em cada músculo… cada tendão… e cada nervo do seu corpo… Sinta
muito descontraído… muito confortável… Inspire e expire… e sinta o seu sistema
nervoso muito calmo… Sinta-o a enviar sensações de bem-estar e relaxamento… para
cada uma e todas as partes do seu corpo… Sinta-se a descontrair… calmamente…
profundamente… Agora, vou contar regressivamente de dez a um… A cada número, o
seu relaxamento será cada vez mais profundo… Quando eu disser dez… você está
confortavelmente sentado na sua cadeira… Simplesmente descansado… relaxado… e
descontraído… ouvirá a minha voz sempre a falar consigo… mas isso não o perturbará…
Sentado, descobrirá que a sua mente está a ficar mais sonolenta… está adormecida…
Está sonolenta… e adormecida… tentará não pensar no que lhe estou a dizer… mas
ouvirá tudo o que eu digo… todos os ruídos que possam surgir parecerão muito
distantes… não terão qualquer importância para si… porque você só ouve a minha voz…
Concentre-se agora nos pés… Deixe-os descontrair… Sinta um calor agradável a invadi-
los… e a espalhar-se aos tornozelos… Essa sensação cálida e relaxante está a alastrar-se
a todos os músculos do seu corpo… Essa maravilhosa sensação de calor desloca-se
lentamente… e progressivamente… dos seus pés para a barriga das pernas… e da barriga
das pernas para a coxas… à sua passagem, todos os nervos… todos os tendões… e todos
os músculos… vão amolecendo… e soltando-se… Nove… enquanto eu falo consigo, sente
as suas pernas ficarem cada vez mais pesadas… a cada respiração… Sente-se lentamente
a afundar… está sonolento… e cada vez mais adormecido…. Uma parte da sua mente já
está adormecida… e, no entanto, continua a ouvir tudo o que eu digo… é tão bom
descontrair… Oito… sente-se muito melhor… agora que os músculos do abdómen estão
a responder a essa sensação de calor e relaxamento… Sente os seus órgãos internos
invadidos de uma cálida sensação de alívio… é tão agradável… Sete… o relaxamento
espalha-se agora pelos músculos do peito… e das costas… Sinta-os a relaxar-se ainda
mais profundamente… A sua respiração é tão calma… sem nenhum esforço… Seis… a
sua mente está em perfeito descanso… Você está a descansar calmamente… e
pacificamente… Nada o preocupa… e nada o perturba… Está muito, muito
descontraído… Cinco…continua a afundar-se nessa maravilhosa sensação de paz e
relaxamento profundo… Quatro… Agora, sinta também as pontas dos dedos a
responder à sua ordem de paz e descontração… Sinta essas sensações suavizantes a
espalhar-se pelas mãos… pelos antebraços… pelos braços… é tão agradável relaxar
dessa forma tão calma e profunda… Três… nada lhe interessa, neste momento… a não
ser essa maravilhosa sensação de paz e relaxamento… e o que ela pode fazer por si…
está cada vez mais sonolento e descontraído… a afundar-se cada vez mais dentro de si
mesmo… O seu pescoço está mole e solto… Sente todos os nervos… todos os músculos…
e todos os tendões… soltos e descontraídos… Dois… esse relaxamento está agora a
envolver os maxilares… a fazê-los descontrair… ficar frouxos e confortáveis… todos os
músculos faciais se soltam e relaxam… as pálpebras estão agora tão confortáveis… tão

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confortáveis… Um… tem uma sensação tão boa na cabeça… sinta toda a restante tensão
a sair pelo topo da cabeça… todas as tensões e preocupações a sair… todos os
aborrecimentos do dia são postos de lado e simplesmente esquecidos… está a começar
a aprender a não oferecer resistência à paz e ao relaxamento… Afunda-se cada vez mais
num profundo estado de relaxamento e paz… Sente-se tão confortável… tão cansado
para se preocupar com o que quer que seja… exceto aquilo que pode conseguir através
deste estado maravilhoso de torpor e relaxamento… Sente-se afundar… afundar… mais
longe… mais longe… mais longe… num profundo estado de relaxamento e paz
profunda…
[Pausa.]
Agora vou falar consigo…. e, enquanto falo consigo, você irá descontrair-se ainda mais
profundamente… Vou pedir-lhe que imagine ou veja determinadas cenas ou situações…
estas cenas ainda o vão descontrair mais profundamente… mais e mais
profundamente… Isso vai fazê-lo sentir-se tão bem… em todos os aspetos… Descobrirá
que fica mais sonolento… e mais adormecido… mais e mais relaxado… será capaz de ver
e observar todas as situações de uma forma emotiva mas desprendida… até mesmo
enquanto as experimenta… Imagine, veja e sinta-se num local onde se sinta totalmente
bem… num local onde se sinta totalmente em casa… Pode ser no seu quarto… na sua
sala… ou, até, se quiser, num local onde você gostava de estar em criança… no quarto
da avó… ou outro local…. Imagine-se deitado nalgum lugar onde se sente totalmente
bem… totalmente em casa… na sua cama… no sofá, descontraído… Imagine esse lugar,
onde está… Você está deitado lá, da mesma forma que está deitado aqui… Imagine que
está sozinho… É fim da tarde… começa a anoitecer… e você está deitado… relaxado… da
mesma forma que está aqui, agora… Se consegue imaginar isso, diga que sim com a
cabeça para eu saber…
[Esperar pela resposta.]
Você sente-se calmo… relaxado… tranquilo…. Não tem pressa de se levantar… O
crepúsculo vai desaparecendo… e você vai ficando mais calmo… e mais lento… Você
percebe que está a escurecer… a noite começa a chegar… está a ficar cada vez mais
escuro… até você deixar de ver o que seja… se consegue visualizar isso, confirme…
[Esperar pela resposta.]
Agora, você está a adormecer… A próxima coisa que percebe é que, de alguma forma,
você está no quarto… fora do seu corpo… Veja vagamente o seu corpo deitado na
escuridão… Se consegue visualizar isso, diga que sim…
[Esperar pela resposta.]
Nessa escuridão, veja uma luz a entrar pela janela ou pela porta… É uma luz suave e
brilhante… que começa envolver o seu corpo… Se consegue visualizar isso, diga-me de
que cor é essa luz…
[Esperar pela resposta. Pode surgir uma cor branca-amarelada, por exemplo.]
Excelente… Veja uma luz amarelada em torno do seu corpo deitado… Agora, veja-a
intensificar-se… veja o seu corpo envolto em milhares de brilhantes partículas de luz…
Observe tudo do alto… onde está a flutuar… mas a ver o seu corpo deitado… lá em
baixo… Veja o seu corpo deitado, lá em baixo… totalmente iluminado… envolto nessa
luz… Agora, centre-se especialmente num ponto…

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[Observação: a primeira coisa a fazer é pedir ao paciente para visualizar e se concentrar


na parte do corpo onde ele se refere e se localiza a somatização do sintoma de que se
queixava.]
Dirija a sua atenção para esse ponto em particular no seu corpo… [Por exemplo, a
cabeça, o peito ou o abdómen, etc.]
Agora, veja essa luz intensificar-se, especialmente nesse ponto, para onde está a olhar…
Dirija toda a sua atenção para esse ponto em particular, no seu corpo… Concentre toda
a sua atenção no ponto onde a luz é mais intensa… Onde está esse ponto?
[Esperar pela resposta. Se o paciente disser que é na cabeça ou sobre as têmporas, por
exemplo, responda:]
Muito bem… Agora, olhe atentamente para esse ponto na cabeça… Veja alguma coisa
relacionada com [recordar o problema de que o paciente se queixa]… Observe muito
atentamente esse ponto… Observe-o, como se fosse um médico ou um enfermeiro…
Veja uma das seguintes coisas: uma mancha de energia escura… um tom desviado… um
objeto… um símbolo… ou outra coisa qualquer… O que é que aparece no meio dessa
luz? Já se deu conta do que apareceu?
[Esperar pela resposta.]

Atenção: O paciente pode ver diversas Escórias Energéticas, tais como, pontos escuros,
buracos, feridas, cores desviadas, símbolos, pedras, objetos de metal, pessoas, animais,
etc., embora o mais comum seja ver manchas escuras nos locais assinalados pela
somatização. Nessa altura, deve fazer perguntas-padrão, como as que se seguem.

Esse símbolo ou objeto pertence-lhe? Há quanto tempo é que ele está no seu corpo, foi
colocada antes ou depois de nascer? Como é que o faz sentir-se? O que é que esse
símbolo lhe quer mostrar ou dizer?

IDENTIFICAR E TRATAR AS ESCÓRIAS ENERGÉTICAS

Nesta altura, importa perceber que as escórias energéticas devem ser enquadradas em
quatro áreas distintas e que cada enquadramento sugere uma origem temporal e
emocional. Assim, cada tipo de escória energética sugere uma abordagem terapêutica
diferente, a saber:

I. ESCÓRIAS ENERGÉTICAS SÍMBOLOS/OBJETOS: objetos cortantes ou perfurantes (balas,


punhais, espadas, flechas ou machados, entre outros), cordas, grilhetas, objetos de
madeira, pedras, etc.

Possíveis perguntas, origens e resolução simbólica

A quem pertence esse objeto/símbolo? Há quanto tempo é que o tem em si? Foi
colocado no corpo antes ou depois de nascer?

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✓ Se o símbolo/objeto tiver sido colocado nesta vida, chame a(s) pessoa(s)


responsável/responsáveis. Se o símbolo/objeto tiver vindo de outra vida, pergunte
como é que isso o faz sentir-se e utilize o sentimento-base (Tríade Emocional) para
fazer uma regressão ao passado.

✓ Nalguns casos, se o paciente encontrar algum objeto, nesse local, por exemplo,
um punhal, ao responder às perguntas anteriores, ele entrará em regressão
naturalmente indo para a infância ou vidas pregressas. Para isso, damos uma
sugestão do género, «volte ao momento em que esse punhal apareceu no seu
corpo e o fez sentir-se assim…»

II. ESCÓRIAS ENERGÉTICAS PESSOAS: podem surgir personagens históricas, talvez figuras de
vinculação (pais ou familiares diretos), ou pessoas conhecidas e/ou estranhas.

Possíveis perguntas, origens e resolução simbólica

Há quanto tempo é que tem essas pessoas na sua vida? Pertencem a esta ou a outra
vida? O que é que elas lhe querem mostrar ou dizer?

✓ Mais uma vez, pode ser preciso fazer uma regressão à infância, ao ventre
materno ou a uma vida passada; pode ser necessário fazer um Resgate da Criança
Interior, uma Terapia das Partes (Estados do Ego), uma Limpeza da Aura ou outras
técnicas.

III. ESCÓRIAS ENERGÉTICAS ANIMAIS: pode ser um animal doméstico (cão, gato ou ave de
capoeira); se for uma animal selvagem e feroz, este poderá ter sido causa de morte,
numa vida ancestral. Por vezes, aparecem mandíbulas, bicos ou garras em
determinadas partes do corpo; nesse caso, deve-se averiguar a que animal
pertencem e quando surgiram ou foram fixos no corpo energético.

Nota: Muito cuidado, se a escória energética for constituída por vermes, trata-se de uma
escória parasítica que se alimenta da energia do consulente, desgastando-o e levando-
o a cansar-se facilmente. Deve dar especial atenção a este tipo de escórias, que são de
difícil remoção. Se não forem removidas de forma adequada, podem degenerar em
doenças graves, de pele e autoimunes, nomeadamente, Psoríase, Lúpus, Urticária, entre
outras.

Possíveis perguntas, origens e resolução simbólica

Há quanto tempo é que esse animal, essa garra ou mandíbula existem na sua vida?
Pertencem a esta ou a outra vida? O que é que lhe querem mostrar ou dizer? Como é
que o fazem sentir-se (Tríade Emocional)?

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✓ A regressão, ao passado, a Terapia das Partes e Resgate Interior são técnicas a


aplicar vulgarmente neste tipo de escória.

IV.ESCÓRIAS ENERGÉTICAS ENERGIA ESCURA, COR DESVIADA OU ALCATRÃO: pode ser uma cor
desviada ou uma mancha tipo de alcatrão, mas o mais usual é ser uma energia escura
(preta ou castanha).

Possíveis perguntas, origens e resolução simbólica

Há quanto tempo é que tem essa energia escura em si? Pertence a esta ou a outra vida?
O que é que lhe quer mostrar ou dizer? Como é que o faz sentir-se (Tríade Emocional)?

TRANSFORMAR OS DEDOS NUM BISTURI COM RAIO LASER

Se, por cima ou dentro do corpo do paciente, existir alguma cor ou energia que pareça
pegajosa, suja ou perigosa — especialmente quando os pacientes veem uma espécie de
alcatrão ou energia pegajosa — leve-o a imaginar uma luz branca a irradiar das suas
mãos. Da mão direita, a luz forma uma espécie de luva de energia tipo metálica, branca-
prateada, que protege toda a mão e o antebraço. Da mão esquerda, através do dedo
indicador, essa luz forma um raio de luz fino, que pode iluminar o orifício. É um bisturi
de laser, tão poderoso como um bisturi clínico, capaz de limpar tecidos, fazer
movimentar coisas paralisadas e extrair tudo que não pertence ao corpo.

BURACOS OU VAZIOS ESCUROS NA AURA DO CONSULENTE

Se existirem buracos, leve o paciente a iluminá-lo com seu feixe de luz. Se detetar algum
objeto no fundo, pode levar o paciente a soltá-lo, lavá-lo ou forçá-lo a sair com a sua luz.
Se o fundo não aparecer, deve pedir ao paciente para vos imaginar aos dois muito
pequenos, a entrar no espaço escuro, levando convosco a luz curadora e protetora. Em
geral, quando se chega ao fundo do buraco, encontra-se a situação traumática original.
Libertar e remover o que encontrar, exceto quaisquer símbolos positivos que encontre
— esses podem e devem ser guardados.

✓ Se encontrar pedras, bolas ou bocados de terra, deixamos que o paciente os


remova e corte com o seu raio laser, verificando se resta alguma coisa escondida. Às
vezes, essas pedras contêm outras coisas.

✓ Se o que se vê for doloroso ou ameaçador, primeiro, leve o paciente a remover


essas coisas, limpando e a curando qualquer ferida ou cicatriz remanescente com luz
branca. Depois, e só depois, faça-o voltar ao momento em que essa coisa, energia ou
mancha escura, entrou nele. Volto a recomendar precaução, se aparecerem coisas vivas:
plantas, animais, vermes e, até, pessoas.

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PRESTE MUITA ATENÇÃO AO TRABALHAR COM A SIMBOLOGIA DO INCONSCIENTE

Lembre-se de que estamos a trabalhar a nível simbólico e que tudo é possível, a nível dos
arquétipos; assim, deve aceitar qualquer objeto/símbolo, por mais estranho que seja, que
possa esconder sentimentos, experiências ou situações mal resolvidas do passado. Procure
ter a mente aberta, pois, neste tipo de técnica, é frequente acontecerem coisas muito
inusitadas.

DESCARTE AS ESCÓRIAS ENERGÉTICAS ANTES DE FINALIZAR A SESSÃO DE CIRURGIA PSÍQUICA

Finalmente, no final da aplicação da técnica, e antes do despertar, é necessário destruir


todas as escórias energéticas (cores, símbolos, energias, manchas, objetos, vermes etc.)
encontradas no paciente. Para isso, pode-se imaginar um tipo de forno com ou sem fogo,
mas com a mesma energia intensa branco-prateada, que tudo consome e reduz a cinzas
brancas inofensivas. Se existir alguma coisa valiosa dentro do objeto queimado, esse
«tesouro» será libertado na sua forma original e poderá expandir-se numa força positiva.
Tudo isso ficará reduzido a energia pura. Poderá também perguntar ao paciente o que
pretende fazer com essa energia inofensiva, sob a forma de cinzas brancas.
Frequentemente, levo o paciente a misturar essas cinzas com a terra de um vaso e a plantar
flores do seu agrado. Afinal, é muito mais gratificante para o ele saber que «na Natureza,
nada se cria, nada se perde e tudo se transforma» (Lavoisier), e que participou nessa
transformação interior de energia negativa em positiva.

Observação: Depois da Cirurgia Psíquica efetuada no campo energético e na aura, pede-


se ao consulente que regresse calmamente ao seu corpo.

DESPERTAR DO TRANSE E FINALIZAR A SESSÃO

Agora, calmamente… veja pela última vez o seu corpo iluminado lá em baixo… Observe-se
bem… desde o alto da cabeça… até à base dos seus pés… verifique se está totalmente limpo
e purificado… [Esperar pela resposta.] Agora, sinta a qualidade do seu corpo… Sinta-o
totalmente limpo… purificado… regenerado… e protegido de qualquer agressão exterior…
Comece a sentir uma vontade irresistível de voltar para o seu corpo… E, calmamente…
comece a descer em direção ao seu corpo iluminado… Vá descendo… até se encaixar
totalmente no seu corpo… Sinta como se tivesse uma bolha protetora… que, a partir de
agora, o protegerá de toda e qualquer agressão física ou psíquica… Volte à sua vida no
mundo… muito mais luminoso… muito mais claro… sentindo-se mais forte… revigorado…vai
regressar muito mais leve e relaxado… Volte ao aqui e agora… ao seu tempo… à sua
maneira… sentindo-se forte e revigorado… muito mais preparado para enfrentar as suas
experiências terrenas… [Se necessário efetue a contagem para o acordar e depois desperte-

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o], Abra os olhos… respire fundo… e sorria para a vida… sentindo-se feliz… bem-disposto… e
em perfeito equilíbrio com a Natureza.

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APLICAÇÃO DA TÉCNICA DA LIMPEZA DA AURA

INTRODUÇÃO À TÉCNICA DE PÓS-REGRESSÃO DA LIMPEZA DA AURA

A técnica da «Limpeza da Aura», à semelhança da técnica da «Cirurgia Psíquica», é uma


excelente ferramenta pós-regressão, que permite identificar e remover corpos
estranhos que vivam na aura do paciente e que possam estar a «alimentar-se» dela.
Normalmente, a técnica é utilizada com bastante sucesso para libertar o paciente de
uma obsessão, pseudo-obsessão ou possessão (são formas de energia parasítica ou
«encostos estranhos» que vivem no interior da aura do «hospedeiro»). A técnica
consiste em detetar a origem das energias parasíticas deixadas por algum Obsessor ou
Possessor durante o tempo que permaneceu no interior do campo áurico do paciente.
As pseudo-obsessões, obsessões ou possessões são subpersonalidades projetadas de
fragmentos do passado ou presença de pessoas falecidas que condicionam o
comportamento e, por vezes, acabam por ser agressivas para o paciente que recorre à
terapia.

TIPOS DE ENERGIAS PARASÍTICAS QUE PODEM SURGIR NA TÉCNICA DA LIMPEZA DA AURA


São geralmente três, os tipos de energias suscetíveis de se revelarem com esta
interessante técnica. De seguida, apresento cada uma das energias referidas, mediante
o seu grau de força e a complexidade do respetivo tratamento.

I. ENERGIAS PSEUDO-OBSESSÕES: na realidade, quando falamos de pseudo-obsessão, não


estamos propriamente a falar de uma energia estranha ao paciente, já que essa
subpersonalidade resulta de um traço de personalidade, geralmente forte, de uma
vida passada. Não obstante, ela é parasítica, e muitos dos comportamentos
inexplicáveis (multipersonalidades e alter-egos), derivam da sua manifestação e
presença nesta vida.

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Intervenção e tratamento

As pseudo-obsessões são as mais fáceis de tratar da tríade apresentada.


Normalmente, faz-se uma regressão ao passado, e a tomada de consciência do
seu objetivo ou do que ficou pendente no passado é o suficiente para a libertar.

II. ENERGIAS OBSESSIVAS: Quando falamos de obsessões, estamos já na presença de


energias externas ao paciente, que precisam de uma intervenção apurada. As
obsessões são geralmente constituídas por «almas» de pessoas já falecidas que
vivem no campo áureo do paciente ou vagueiam pelo campo terreno, sem ir ao
encontro da luz e a saltar de hospedeiro em hospedeiro. Na maior parte das vezes,
sentem-se confusas, tristes e/ou presas a um local, com uma tarefa inacabada,
muitas vezes, à procura de alguém que perderam há muitas décadas. Algumas, não
se deram conta de que já não têm o invólucro físico (corpo biológico) e procuram um
hospedeiro (o paciente) para poder continuar na sua busca ou a usufruir das
sensações terrenas dos hábitos que tinham quando eram vivas (por exemplo, fumar,
beber ou compulsão sexual).

Intervenção e tratamento

Geralmente, é muito emocionante «doutrinar» uma energia obsessora, daí que


aconselho a que as obsessões sejam tratadas com muito respeito e amor. Após a sua
identificação pelo terapeuta, o tratamento energético consiste em pedir à respetiva
energia obsessora que utilize o corpo do paciente para comunicar connosco (sobretudo
o aparelho vocal). Estabelecida a confiança, efetua-se uma regressão ao passado,
procurando algum acidente mortal em que a obsessão tenha estado envolvida. Na
realidade, vamos em busca do evento mortal, em que pereceu o invólucro físico da
obsessão, de forma a fazê-la constatar que já morreu há muito tempo. Por vezes, e
quando, eventualmente, damos conta de que perderam algum familiar por quem eram
responsáveis, podemos e devemos ajudar a procurar esses dependentes — só assim a
energia obsessora fica em paz e pronta para partir em direção à luz. Sobretudo, devemos
entender o que aconteceu aos seus dependentes e mostrar à obsessão que eles ficam
bem (constatando que sobreviveram a alguma catástrofe) ou sugerir que eles se
encontram há décadas na luz, à espera dela (se, eventualmente, também tenham
morrido no mesmo evento passado, juntamente com a obsessão) — isso facilita a
doutrinação e a partida da energia obsessora é feita a pedido desta.

III. AS ENERGIAS POSSESSIVAS: as possessões são as energias mais agressivas e difíceis de


tratar. De facto, sou da opinião de que nunca devemos estar sozinhos a tratar de uma
energia possessora, mas acompanhados por pelo menos um hipnoterapeuta
experiente na doutrinação deste tipo de energias. As possessões são energias que
tomam literalmente conta do corpo do hospedeiro, sem que este possa controlar o

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processo. Muitas vezes, alteram visivelmente a voz e as feições do hospedeiro e


fazem-no ter tiques ou comportamentos que não são seus. Grande parte das vezes,
quando tomam o controlo de um corpo (o paciente possesso), estas entidades são
irascíveis e violentas, inclusive para o próprio paciente que os hospeda. Após
largarem o corpo, geralmente, o paciente não se recorda de nada. Como estão muito
revoltadas, as possessões são desafiantes e referem que vivem na escuridão,
apregoam frequentemente que são ou foram assassinos ou bandidos e que ninguém
as pode retirar daquele corpo. Argumentam que, no passado, já outros as tentaram
retirar, mas que elas voltam sempre. Geralmente, voltam mais fortes e, não raro,
violentas, verbal e fisicamente não só para os terapeutas, mas também para o próprio
corpo onde se alojam. Mais uma vez, por tudo o que foi dito, deixo o meu conselho:
jamais efetue um doutrinamento/encaminhamento de uma possessão sem a
presença de alguém experiente neste tipo de intervenção.

LIDAR COM POSSESSÕES QUE SE MANIFESTAM SEM O TERAPEUTA ESTAR PREPARADO

Vamos supor que uma possessão se manifesta, no início da aplicação da técnica, e o


terapeuta não estava de todo preparado. Nesse caso, deve manifestar segurança e
dirigir-se à respetiva energia manifesta, dizendo: «Peço imensa desculpa, não sabia que
este corpo já estava ocupado. As minhas sinceras desculpas, por o importunar, de
imediato vou dar por encerrada a sessão e não o incomodo mais!» Dito desta forma,
manifesta respeito pela energia, que, sentindo-se vencedora do desafio, tenderá a
aquietar-se. Assim, o hipnoterapeuta ganha mais tempo para se preparar para um
desafio futuro. Entretanto, desperta o paciente e deve marcar a consulta seguinte, na
qual já poderá contar com uma equipa de hipnoterapeutas especialistas nesse tipo de
intervenção.

CASOS OU SINTOMAS A QUE SE APLICA A TÉCNICA DA LIMPEZA DA AURA

Esta excelente técnica de exploração energética aplica-se principalmente a casos de


perturbações de humor inexplicáveis ou mudanças súbitas de personalidade. Dá ótimos
resultados em vários tipos de adições (drogas, álcool, tabaco, comida e outros), assim
como em casos de ideação ou tendências suicidas. Também produz excelentes
resultados nos casos vulgarmente conhecidos como presenças de «espíritos»
possessivos ou comportamentos obsessivos inexplicáveis. Muito importante, quando o
historial do paciente inclui episódios inexplicáveis e impossíveis de diagnosticar ou se
suspeita da presença de uma energia parasítica possessiva (possessão), o
hipnoterapeuta jamais deve efetuar o trabalho exploratório sozinho. Deve sempre
contar com a ajuda de mais um ou vários hipnoterapeutas neste tremendo processo de
doutrinação possessiva. Lembre-se de que uma possessão é uma energia parasítica que
pode ser violenta não só para o hospedeiro, mas também, e normalmente, para o
terapeuta interventor.

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GUIÃO: TÉCNICA DA LIMPEZA DA AURA - RELAXAMENTO E INDUÇÃO HIPNÓTICA

Vou-lhe pedir que se acalme… que procure relaxar um pouco… enquanto ouve a minha
voz… Procure respirar fundo… e libertar todas as tensões… Agora, acomode-se
confortavelmente na sua cadeira… Respire calma e pausadamente… tranquilamente…
Pode fechar os olhos… se isso for confortável, para si… Deixe que a paz se instale… e se
espalhe por todo o seu corpo… Muito bem… Agora, quero que preste atenção às minhas
palavras… Sinta o corpo… com os olhos fechados… sinta o corpo… Sinta os braços e
pernas leves… muito leves… Deixe que a paz se instale… e se espalhe por todo o corpo….
Descontraia os músculos… Acalme os pensamentos… Sinta-se completamente calmo…
completamente relaxado… como se nada o pudesse distrair… Está completamente
tranquilo… completamente relaxado… mas sempre atento à minha voz…
[Pausa.]
Agora, deixe-se envolver… Respire lentamente… regularmente… Sinta-se totalmente
bem… invadido de uma agradável sensação de calma…
[Pausa.]
Agora, concentre-se nas pernas… Sinta-se completamente calmo… Nesse estado, sinta
as pernas ficarem pesadas… cada vez mais pesadas… mais e mais pesadas… de tal modo
que já pesam como chumbo… Sinta os braços ficarem pesados… cada vez mais
pesados… como se tivessem um peso a puxá-los para baixo… Sinta esse peso invadir
cada vez mais os braços… cada vez mais… de tal modo que já pesam como chumbo…
Sinta as pálpebras pesadas… muito pesadas… cada vez mais pesadas… tem os olhos
completamente fechados… hermeticamente colados… já não tem vontade de abri-los…
já não quer abri-los…. Deixe-se envolver cada vez mais por essa maravilhosa sensação
de torpor e peso… nada o pode distrair… está a ouvir a minha voz… a minha voz calma…
relaxada… e tranquila… nada o pode distrair… afunda-se cada vez mais num profundo
estado de relaxamento… e paz… sente-se tão confortável… tão cansado para se
preocupar com o que quer que seja… exceto aquilo que pode conseguir… através deste
maravilhoso estado de torpor… e relaxamento… sente-se afundar… mais e mais… cada
vez mais longe… mais e mais longe… cada vez mais longe… num profundo estado de
relaxamento e paz profunda…
[Pausa.]

TÉCNICA DE APROFUNDAMENTO HIPNÓTICO: O ELEVADOR

Agora, vou falar consigo… Enquanto falo consigo, sinta-se a descontrair-se ainda mais
profundamente… Vou-lhe pedir para imaginar ou ver determinadas cenas ou
situações… Essas cenas ainda o fazem sentir-se mais descontraído… mais e mais
profundamente… e sentir um tremendo bem-estar… em todos os aspetos… Descubra
agora que se sente mais sonolento… e mais adormecido… que se sente mais relaxado…
profundamente relaxado… É capaz de ver e observar todas as situações de uma forma
emotiva mas desprendida… até mesmo enquanto as experimenta… A sua mente é livre,
agora… livre de viajar no tempo e no espaço… Imagine-se diante de um seguro e
tranquilo elevador… Muito bem… Imagine-se a carregar no botão para chamar o
elevador… Isso… Assim… Veja e sinta a porta abrir-se calmamente… tranquilamente…

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Agora, espreite para o interior do elevador… Verifique que o elevador é cómodo…


seguro… e tranquilo… Entre no elevador… Olhe para o seu lado esquerdo… Olhe para o
seu lado direito… Isso… Veja um painel de botões, aí, num dos lados… Repare que, no
último botão, está escrito «sono profundo»… Carregue nesse botão… Isso… Exatamente
assim… Veja e sinta a porta fechar-se lentamente à sua frente…. Sinta o elevador
começar a descer… Isso… Sinta-o a descer cada vez mais… Verifique que, à medida que
desce… número a número… andar a andar… o seu sono se torna cada vez mais profundo.

[O terapeuta pode abanar lentamente a poltrona ou cadeira, para criar um efeito de


oscilação característico do movimento dos elevadores e, assim, ajudar a induzir o transe.]

À medida que o elevador vai descendo… o seu sono vai-se tornando cada vez mais
profundo… cada vez mais… O elevador vai descendo… e o seu sono vai aprofundando-
se cada vez mais… o elevador vai descendo… descendo… e o seu sono vai ficando cada
vez mais profundo… cada vez mais profundo… cada vez mais… Está a chegar ao seu
destino… e o seu sono já está muito profundo… Acaba de chegar… Sinta o elevador
chegar ao sono profundo… Carregue no botão para abrir a porta do elevador… Veja a
porta do elevador abrir-se… e sinta uma lufada de ar fresco… um lindo raio de sol acaba
de entrar no elevador… Saia do elevador… Constate que o elevador é uma casa de
campo… Diante de si, estende-se um magnifico vale… sinta no ar um aroma fresco a
feno … sinta o ar límpido que a brisa faz roçar na sua pele… sinta o sol radioso da tarde
a brilhar sobre si… está num sítio cheio de paz e segurança… calma… e serenidade…
Está num pequeno vale… Nesse vale está a sua casa (o Lugar Seguro)… É uma casa
agradável… bem localizada… onde se sente à vontade… Olhe à sua volta e veja a sua
casa rodeada pela natureza… Veja uma cerca… um quintal grande… um jardim… uma
pequena floresta… água… campos… e arbustos… Contemple a paisagem… É um
pequeno vale… há algum campo… alguma floresta… arbustos… água… um braço de rio…
ou, talvez, algum rochedo… O mais vê? É um vale bonito e interessante… e uma casa
interessante… Está um bonito sol… o céu está azul… De um azul muito calmo… Está a
olhar para o céu e avista uma nuvem ténue… ligeira… Tudo é calmo e repousante… e o
seu espírito também está muito calmo… Está a sentir o aroma agradável dos pinheiros…
e nota que… lá ao fundo… existe um lago… O seu espírito fica tão sereno como a água
desse lago… Agora, caminhe tranquilamente para junto desse lago… Veja um cisne… um
pequeno grupo de patos bravos… a nadar preguiçosamente nesse lago… De repente, à
sua esquerda… junto ao lago… entre as árvores… repare numa cabana… É uma pequena
cabana feita de troncos de árvores… tem o telhado coberto de feno… Aproxime-se
lentamente dessa cabana de madeira… Veja nitidamente uns degraus… Veja a porta…
está aberta ou fechada?

Agora, está de pé… em cima dos degraus… diante da porta da frente da sua cabana… à
beira do lago… Tem as chaves na mão… Sente-se dono dessa casa… Introduza a chave
na fechadura e abra a porta… Entre no vestíbulo… veja à sua frente a sala cuja está
semiaberta… O lugar é claro… Feche a porta… atravesse o vestíbulo… e entre na sala…
Veja como é… Esta é a sala da sua cabana… Veja algumas estantes repletas de livros…
muitos livros com conhecimentos interessantes… Pode estudar aí, se quiser… e também

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NÍVEL II: Manual de TRVP e Hipnoanálise: numa perspetiva clínica e transpessoal

ficar confortavelmente relaxado… O que mais vê?


[Aguardar resposta.]
Agora, imagine-se e sinta-se aí totalmente relaxado… a ver a noite chegar… Observe a
noite a cair… o escurecer… Acenda uma luz… Feche as cortinas… desça as persianas das
janelas… até ocultar a escuridão… Sinta a luz e o calor da sala… sinta agradável sensação
que lhe transmitem… Veja o sofá… É um sofá confortável… está diante de uma lareira
de tijolo… Com a noite a chegar… o sol a desaparecer… vai começar a arrefecer…
Aproxime-se da lareira… e pegue fogo aos gravetos que lá estão… Junte-lhes lenha… e
sinta o crepitar agradável do lume… Sinta o calor agradável a aquecer-lhe as faces…
Sinta-se muito mais aconchegado… Deite-se no sofá… e fique a observar calmamente a
sombra do seu rosto na parede… a ondular ao ritmo das chamas na lareira… Enquanto
está aí sentado… confortável… começa a ficar sonolento… e a adormecer… a cair num
sono cada vez mais profundo… de repente, aperceba-se de uma luz forte a vir da janela…
Parece uma bola… uma bola de luz brilhante… a entrar pela janela e a posicionar-se bem
no alto da sua cabeça…

O SCANNER COM A BOLA DE LUZ

Muito bem… Agora gostaria que fechasse os olhos… e que dirigisse a atenção para o seu
corpo… Sinta essa bola de luz a envolver todo o seu corpo… desde a cabeça… até aos
pés… Sinta o seu corpo como um todo… como se essa luz estivesse a preencher todo o
seu corpo… a preencher o seu corpo o mais uniformemente possível… Preste atenção…
Sinta todas as partes do seu corpo fortes ou fracas… Nenhuma parte é mais forte do que
a outra… nenhuma parte domina… Veja essa luz como uma névoa cintilante… como
gotas de partículas de luz… como pérolas que preenchem todo o seu corpo… Veja-se
completamente impregnado desse brilho de luz cor de pérola… Sinta como isso o
tranquiliza… Sinta-se uma névoa cintilante… calma…
Agora, veja essa névoa tornar-se mais cintilante… como se o sol brilhasse através dela…
Observe essa bola de luz intensa a percorrer o seu corpo… desde a cabeça… até aos
pés… como se fosse um scanner… um scanner muito potente… um scanner luminoso…
um scanner que tudo deteta e remove… Muito bem… Veja esse brilho… muito leve e
puro… descer até aos pés… e percorrer o caminho contrário… elevando-se pelo seu
corpo… lentamente… Luminoso e curador… esse scanner vai subindo… até chegar à sua
cabeça… Isso… Veja essa luz subir um pouco mais… veja essa bola maravilhosa de luz
brilhante novamente sobre a sua cabeça…

PESQUISA DAS ENERGIAS PARASÍTICAS


(NORMALMENTE, REQUER CINCO PASSAGENS)

I. PRIMEIRA PASSAGEM DO SCANNER DE LUZ: IDENTIFICAR A ENERGIA ESCURA

Já se deu conta de como o scanner chegou ao topo da sua cabeça? [Aguardar pela
resposta.] Agora, daí do alto, olhe para o seu corpo… Sinta que alguma coisa nele ficou
de lado… foi revelado pelo scanner de luz… repare numa energia estranha… observe…
veja se alguma coisa estranha é revelada… alguma coisa que não devia estar no seu
corpo branco cintilante… algo que não se pode misturar com a luz…. [Aguardar pela

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NÍVEL II: Manual de TRVP e Hipnoanálise: numa perspetiva clínica e transpessoal

resposta; se for um sim, prosseguir:] Agora, repare em algo escuro e cinzento, no seu
corpo… uma figura escura… Veja-se de fora… como se estivesse acima do seu corpo…
Veja o seu corpo todo transparente e feito de luz… repare numa figura escura dentro
dele… Veja essa figura emergir do seu corpo e observe-a… Procure observar o seu
tamanho… a sua forma… já se deu conta de como é essa energia estranha?

Aguarde a confirmação da presença da figura energética, tendo em conta que a cada


passagem do scanner de luz, se o paciente identificar pelo menos duas imagens
humanas, normalmente, estaremos na presença de uma energia parasítica. Faça agora
as seguintes perguntas:

Observe… essa figura é maior ou menor do que o seu corpo? Que forma tem? [Aguardar
pela resposta; pode ser um símbolo, uma massa escura ou um objeto, mas preste atenção.
Se tiver a forma de uma figura humana, um ser andrógeno ou mitológico, isso pode indicar
que estamos na presença de uma energia parasítica.] Muito bem… Agora, já sabe bem
que tipo de imagem é… É uma figura cinzenta e escura… como se toda a escuridão onde
você tem vivido grande parte da sua vida estivesse contida nessa figura… [Utilizar a
linguagem e os adjetivos utilizados pelo paciente, para classificar a energia.] Olhe
calmamente para ela… sabendo que está protegido num plano mais elevado… deixe-a
de fora… mesmo ao lado do seu campo energético…

II. SEGUNDA PASSAGEM DO SCANNER DE LUZ: IDENTIFICAR A ENERGIA PESADA

Muito bem… Excelente… Agora, sinta-se você próprio… sem reagir… e, mentalmente,
entre de novo no seu corpo… Sinta mais uma vez essa bola de luz branca radiante… Veja
um scanner de luz novamente posicionado acima da sua cabeça… por um momento…
Mais uma vez, mentalmente, envie-a como se fosse um scanner, para os seus pés…
lentamente… a iluminar… a descobrir… a revelar… Isso… E, quando chegar aos seus
pés… essa luz retorna para cima… a percorrer lentamente todas as partes do seu corpo…
a subir lentamente e a revelar tudo aquilo que está escondido em si… e não lhe
pertence… Isso… a subir até ao alto da sua cabeça… Muito bem… E, enquanto manda o
scanner, na forma de bola de luz, para cima… aparece uma outra figura… uma figura
pesada… Toda a sua parte pesada está nessa figura… aqueles pesos que sentia no
corpo… nos braços… nas pernas… lembra-se? [Mais uma vez, utilizar a linguagem e os
adjetivos que o paciente utilizou para classificar a energia.]
Já se deu conta da presença dessa energia pesada no seu corpo energético leve? Veja
essa figura pesada sair agora do seu corpo… É tão pesada… tão pesada… que cai para
fora do seu corpo… Não suporta a leveza do seu corpo energético… e salta para fora
dessa luz… Ela sabe que foi descoberta… e você está nesse plano elevado… leve e
transparente… a observar… observe… Veja essa figura lá em baixo… Sinta o tipo de
imagem que ela é… Na verdade, parece que contém todo o peso do mundo… e percebe
que não quer essa figura pesada dentro de si… pois não?

Mais uma vez, aguarde a confirmação da presença da figura energética, tendo em conta
que, em cada passagem do scanner de luz, se o paciente identificar pelo menos duas

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figuras humanas, a probabilidade de estarmos na presença de uma energia parasítica é


muito grande. Entretanto, faça agora as seguintes perguntas:

Observe… essa figura é maior ou menor do que o seu corpo? Que forma tem? [Aguardar
pela resposta; pode ser um símbolo, uma massa escura ou um objeto, mas preste atenção.
Se tiver a forma de uma figura humana, um ser andrógeno ou mitológico, isso pode indicar
que estamos na presença de uma energia parasítica.] Muito bem… Agora, já sabe bem
que tipo de imagem é… É uma figura pesada… como se todo o peso que sentiu ao longo
da sua vida estivesse contido nessa figura… [Utilizar a linguagem e os adjetivos que o
paciente utilizou para classificar a energia.] Olhe calmamente para ela… sabendo que
está protegido num plano mais elevado… deixe-a de fora… mesmo ao lado do seu
campo energético…

III. TERCEIRA PASSAGEM DO SCANNER DE LUZ: IDENTIFICAR A ENERGIA FRACA E DOENTE

Isso… e, mais uma vez, deixa que o scanner feito bola de luz branca… posicionado acima
da sua cabeça… comece a descer e a penetrar no seu corpo energético… a cintilar… a
detetar… a descobrir… a iluminar todas as partes… os espaços vazios… a descer e a
iluminar lentamente o seu corpo energético… Isso… lentamente… até à ponta dos dedos
dos pés… e começa a recuar lentamente… na direção da sua cabeça… e, pela terceira
vez… veja uma coisa… uma figura… Veja uma coisa que não devia ali estar… Já se deu
conta? Uma figura que parece fraca e doente… Algo muito fraco e doente… É como se
toda a fraqueza e toda a doença que sentiu ao longo da sua vida estivessem contidas
nessa figura… e sabemos que não quer essa figura fraca e doente no seu campo
energético, pois não? Essa figura é tão fraca e doente que desliza do seu corpo…
Observe-a, daí de cima… do plano elevado em que está… Muito bem… Observe-a
deitada no chão… Agora, por fim, pode ter uma ideia dessa figura que vivia escondida
dentro de si… Já se deu conta da existência de uma figura fraca e doente… como se essa
figura contivesse todas as doenças do mundo… [Novamente, utilizar a linguagem e os
adjetivos que paciente utilizou para classificar a energia.]

Pela última vez, aguarde a confirmação da presença da figura energética, tendo em


conta que, nesta passagem do scanner de luz, se o paciente identificar pelo mais uma
figura humana, isso é um forte indicador de uma presença energética parasítica.
Prepare-se para desafiar a energia e estabelecer contato com ela, para efetuar uma
regressão à obsessão ou pseudo-obsessão. Entretanto, faça agora as seguintes
perguntas:

Observe… essa figura é maior ou menor do que o seu corpo? Que forma tem? [Aguardar
pela resposta; pode ser um símbolo, uma massa escura ou um objeto, mas preste atenção.
Se tiver a forma de uma figura humana, um ser andrógeno ou mitológico, isso pode indicar
que estamos na presença de uma energia parasítica.] Muito bem… Agora, já sabe bem
que tipo de imagem é… É uma figura fraca e doente… como se todo o toda a fraqueza e
doença que sofreu ao longo da sua vida estivessem contidas nessa figura… [Utilizar a
linguagem e os adjetivos que o paciente utilizou para classificar a energia.] Agora é

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possível ver três figuras: uma escura, uma pesada e uma fraca e doente… Olhe
calmamente para elas… sabendo que está protegido num plano mais elevado… deixe-
as de fora… mesmo ao lado do seu campo energético…

IV.QUARTA PASSAGEM DO SCANNER DE LUZ: IDENTIFICAR IDEIAS E PENSAMENTOS NEGATIVOS

Muito bem… agora permita mais uma vez que esse scanner feito bola de luz maravilhosa
desça pelo seu corpo… Mais uma vez, deixe passar essa luz branca pelo seu corpo…
desde o alto da cabeça… até às pontas dos dedos dos pés… e, mais uma vez, veja a bola
retirar-se muito devagar… até ao alto da sua cabeça… Observe… Já se deu conta de uma
figura negativa? Como se toda a negatividade e todo o pessimismo… que sentia
anteriormente… estivessem contidos nessa figura.
Veja agora essa figura… pessimista e negativa… Qual é a natureza principal da energia
negativa dessa figura? Que tipos de sentimentos carrega? Deixe que essa figura saia
também do seu corpo iluminado… Veja-a do alto… para poder sentir que tipo de pessoa
negativa é… Olhe calmamente para ela… sabendo que está protegido num plano mais
elevado… [Pela última vez, preste atenção se a figura referida tem uma forma humana,
de um ser andrógeno ou mitológico, pois isso pode indicar a presença de uma energia
parasítica.] Veja agora quatro figuras ao seu lado… uma escura… uma pesada… uma
fraca e doente… e uma negativa… Observe pela última vez essas quatro figuras e deixe-
as de lado.

V. ÚLTIMA PASSAGEM DO SCANNER DE LUZ: LIMPAR E PREENCHER O VAZIO

Muito bem… pela última vez, sinta a luz branca percorrê-lo… desde o alto da cabeça…
até à base dos pés… a limpar automaticamente… a remover saudavelmente… a curar
protegidamente… Veja esse scanner de luz percorrer lentamente o seu corpo… a
iluminá-lo… a iluminar todas as partes… todos os espaços vazios… até o preencher
completamente de luz branca cintilante… Isso… Dê-se conta da qualidade da sua luz…
da paz que ela transmite… do brilho que o seu corpo irradia… Já se deu conta? Porque
o seu corpo já está livre dessas figuras que existiam dentro de si… a figura escura… a
figura pesada… a figura fraca e doente… a figura negativa… Já pensou no que quer fazer
a essas figuras?

Com foi referido, durante as passagens do scanner de luz, se aparecerem duas ou mais
figuras humanas, é muito provável que esteja na presença de energias parasíticas
obsessoras. Deve procurar estabelecer contato com elas, para as desafiar e efetuar uma
regressão à obsessão ou pseudo-obsessão. Finalmente, e embora possamos dar alguma
sugestão para a eliminação das «escórias energéticas» deixadas por energias
obsessoras, em geral, é o paciente que decide o que fazer com elas: podem ser
queimadas num forno de luz, enterradas, lançadas ao mar, dissolvidas pelo vento, etc.

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DESPERTAR DO TRANSE E FINALIZAR A SESSÃO

Observe esse campo energético que é a sua aura… Veja como ela é mágica… Veja como
está preenchida de paz… Veja-a irradiar a sua luz branca e cintilante… Muito bem… Sinta
vontade de regressar ao seu corpo… Lentamente… à sua maneira… sinta a frescura do
seu novo corpo… a qualidade da sua luz… como tivesse agora uma bolha de luz… um
escudo protetor a protegê-lo… Veja a luz diminuir lentamente… até ficar uma névoa
cintilante… que preenche todo o seu corpo por igual… todas as reentrâncias e espaços
vazios… Mergulhado nessa tranquilidade e repouso… pode voltar ao aqui e agora… à
sua maneira… ao seu ritmo… Isso.
Regresse ao aqui e agora… com mais paz… com muita calma… a sentir-se rejuvenescido
e muito melhor do que antes… Volte automaticamente ao seu ritmo… à sua maneira…
a sentir-se forte… revigorado… muito mais preparado para enfrentar as suas
experiências terrenas…[Se necessário efetue a contagem para o acordar e depois
desperte-o], E, quando for oportuno… abra os olhos… respire fundo… e sorria para a
vida… Sinta-se feliz… bem-disposto… e em perfeito equilíbrio com a Natureza…

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UM PSICOTERAPEUTA COMO «CURADOR DE ALMAS»

QUEM SOU EU? SOU UM CIDADÃO DO COSMO SEMPRE A VIAJAR PARA A LUZ.
ASSURAMAYA, 1987

Obrigado por fazer parte desta viagem com sabor a eternidade. Ser um hipnoterapeuta
exige responsabilidade, mas ser um Curador de Almas exige sobretudo humildade e
humanidade para conhecer a nossa cumplicidade espiritual. Creio que a humildade só
pode ser a veste mais importante no encontro que todos temos um dia com Deus. Ser
digno de conhecer os tesouros preciosos de uma alma humana só pode ser a maior
honra que alguém possa merecer. Lembre-se de que, quando olhamos para a luz, ela
também olha para nós e inspira-nos a fazer o bem. A inspiração de ser um Curador de
Almas serve muitas vezes como absolvição para os nossos erros cometidos no passado,
já que nos permite partir em busca de nós próprios, da nossa reminiscência ancestral e
da nossa ligação à fonte, ao Criador. O mais importante, e o que se espera de cada um
nós, é ser e estar presente, no aqui e agora. Importa também salientar que precisamos
de uma profunda capacidade de aceitação e vontade de mudar para caminhos de cura
mais saudáveis. Devemos saber dar a conhecer — e também escolher para nós próprios
— novos caminhos de grande significado. Só a sabedoria espiritual e a paixão no seu
novo projeto de vida lhe conferem a capacidade de aprender a aprender a ser um
verdadeiro Ser de Luz.

É imprescindível voltar a trabalhar a energia do perdão, aceitação e o amor, para que


possamos voltar a aprender o significado do saber perdoar, a aceitar e a amar os erros
dos outros, mas, sobretudo, os nossos próprios erros. O perdão deve fazer parte da
preparação para a vida já que o perdão é uma das faces da mesma moeda. Pois ao

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perdoar os outros, torna-se mais fácil perdoarmo-nos. Evidentemente, é importante


redescobrir que uma das formas mais sublimes de se aprender a amar é voltar a ser um
ser humilde, compreensivo e amoroso com a maior criação do Universo: o ser humano.
Nesta caminhada até ao infinito, não espere ser compreendidos por todos. Sabemos
que algumas pessoas têm medo de alternativas, mas sei que irá concordar comigo,
quando afirmo que reconhecer que só o «amor é real» é tarefa para uma vida inteira.
Mas, creio que como por milagre, a mensagem encontra sempre o seu destinatário.
Acredito que somos Seres de Luz condensados nestas formas humanas; façamos desta
cumplicidade espiritual uma escada de palavras e ações que permitam a cada homem,
mulher ou criança tocar nos seus sonhos, já que são eles que comandam a vida.
Não quero concluir este manual sem sugerir ao futuro «Curador de Almas», um bem-
haja por fazer a sua parte na construção de um mundo melhor, pois com o seu exemplo
está a trabalhar para que num futuro seguramente perto em que nem sequer
precisamos de sonhar para ser felizes.
Deus o abençoe nesta caminhada de ancestralidades,

Do seu facilitador e companheiro de ancestralidades,


Alberto Lopes

NOTA: DEVE CONSULTAR OS ANEXOS DO SEU MANUAL

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ANEXOS

ADVERTÊNCIA DA SALVAGUARDA DE PROPRIEDADE INTELECTUAL (INPI)

Este Manual, de TVP e Hipnoanálise: Nível II está protegido por Copyright®, registado no Instituto
Nacional de Propriedade Intelectual (INPI), e faz parte integrante da formação em Hipnose
Clínica e Hipnoanálise de Alberto Lopes. Como tal, não pode ser reproduzido, seja em parte ou
na totalidade, sem a autorização expressa do autor.
(Aprovado pelo Decreto-Lei n.º 63/85, de 14 de março, e alterado pelas Leis n.º 45/85, de 17 de
setembro, e 114/91, de 3 de setembro, e os Decretos-Leis n.º 332/97 e 334/97, ambos de 27 de
novembro, pela Lei n.º 50/2004, de 24 de agosto, pela Lei n.º 24/2006 de 30 de junho e pela Lei
n.º 16/2008, de 1 de abril).

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CÓDIGO DEONTOLÓGICO DA APHCH

«ASSOCIAÇÃO PORTUGUESA DE HIPNOSE CLÍNICA E HIPNOANÁLISE»

Os Sócios Terapeutas são obrigados a respeitar o seguinte Código Deontológico da


APHCH – Associação Portuguesa de Hipnose Clínica e Hipnoanálise:

Princípios fundamentais

a) Este Código aplica-se aos hipnoterapeutas no exercício da atividade profissional,


nomeadamente aos sócios da Associação Portuguesa de Hipnose Clínica e
Hipnoanálise.
b) O hipnoterapeuta deve defender a dignidade e o respeito da pessoa humana,
salvaguardando o bem-estar de qualquer pessoa que procure os seus serviços e com
quem entre em relação profissional, abstendo-se de qualquer ato ou palavra
suscetíveis de a lesar.
c) É dever do hipnoterapeuta, informar-se dos progressos referentes à sua profissão,
com a finalidade de conseguir uma atualização constante dos seus conhecimentos
científicos e técnicos.

Responsabilidade

a) O hipnoterapeuta deve reconhecer os limites da sua competência e da sua técnica,


não devendo oferecer serviços ou utilizar métodos para os quais não tenha
qualificação.
b) O hipnoterapeuta deve ajudar os seus clientes a obter assistência adequada de
outros profissionais em todos os aspetos importantes dos seus problemas que
estejam fora do âmbito da sua competência.
c) O hipnoterapeuta consciente da grande responsabilidade social que recai sobre si,
pois através do seu trabalho conhece aspetos da vida e da personalidade de outros
indivíduos, deve ser objetivo e prudente, em particular quando a sua ação faz
intervir noções relativas, tais como normal, anormal, adaptado, desadaptado,
aplicadas às pessoas e aos relatórios pessoais.
d) O hipnoterapeuta deve estar atento às consequências diretas ou indiretas das suas
intervenções, e assegurar-se da correta interpretação e utilização que delas possam
ser feitas por terceiros.

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Exercício da profissão

a) Quando um hipnoterapeuta, ou pessoa que se identifique como tal, violar os


princípios deontológicos, o hipnoterapeuta que primeiro tiver conhecimento de tal
atuação tem o dever de tentar corrigi-la; quando esta não puder ser resolvida deste
modo deve chamar para ela a atenção das entidades responsáveis, nomeadamente
a Associação Portuguesa de Hipnose e Técnicas Regressivas.
b) O hipnoterapeuta procurará manter boas relações com os outros profissionais,
devendo limitar o seu trabalho ao âmbito da sua atividade profissional.

Relações com os pacientes

a) Entende-se como paciente a pessoa a quem o hipnoterapeuta presta serviços


profissionais.
b) O hipnoterapeuta tem de respeitar os valores ideológicos, religiosos, filosóficos,
morais e outros do paciente a quem presta serviços profissionais.
c) O hipnoterapeuta deve pôr termo a quaisquer relações profissionais quando se
aperceber que o paciente não está a colher benefício de tais relações, tomando as
precauções necessárias para que daí não advenham prejuízos ao paciente.
d) O hipnoterapeuta deve informar o paciente dos serviços ou do tipo de assistência a
dar-lhe, definindo bem os seus compromissos a fim de que o paciente possa aceitar
ou não os seus serviços, esclarecendo-o ainda sobre os eventuais prejuízos de uma
interrupção da assistência a prestar.

Sigilo profissional

a) Constitui obrigação indeclinável do hipnoterapeuta a salvaguarda do sigilo acerca


de elementos que tenha recolhido no exercício da sua atividade profissional ou dos
seus estudos de investigação desde que seja de algum modo identificável a pessoa
a quem se referem.
b) Só o próprio paciente pode ser informado dos resultados dos exames realizados
pelo hipnoterapeuta, quando tais exames tenham sido solicitados por ele.
c) O sigilo deve ser salvaguardado tanto nas palavras como na conservação e difusão
de documentos. O hipnoterapeuta deve proceder de tal modo que os documentos
provenientes do seu trabalho (conclusões, comunicações, relatórios, gravações,
exposições, etc.) sejam sempre apresentados e classificados de forma a garantir que
o sigilo seja respeitado evitando intromissão abusiva na vida íntima dos indivíduos
ou dano de qualquer espécie.

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Disposições finais

a) O hipnoterapeuta deve dar a conhecer, tão amplamente quanto possível, as regras


deontológicas deste código, tanto a pacientes, como aos superiores hierárquicos e
outros trabalhadores da instituição em que se encontre, sendo responsável por
respeitá-las e fazê-las respeitar pelos que estão efetuando a sua formação
profissional e pelos colaboradores que dele dependem.
b) Os princípios e normas contidos neste Código estão em vigor e foram aprovados em
Assembleia Geral da Associação Portuguesa de Hipnose Clínica e Hipnoanálise.

(Fonte: website da APHCH, acesso em 01 Maio 2018. www.aphch.pt )

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UM MODELO DE CONTRATO HIPNOTERAPÊUTICO


Cláusula primeira — O objetivo deste contrato é a prestação de serviços na área Hipnoterapêutica, com
as técnicas de Hipnose Clínica, PNL e Terapêutica Regressiva, prestado por
______________________________________________ (nome do hipnoterapeuta), ora denominado
CONTRATADO, sendo o terapeuta acreditado pela Associação Portuguesa de Hipnose Clínica e
Hipnoanálise (APHCH), com o número de sócio terapeuta ____, inscrito na data
___/___________/_______ com o número fiscal ___________, com consultório sito em
______________________, cidade __________________código postal ______ - ____
Cláusula segunda — Fica esclarecido que o serviço prestado se refere a atendimentos psicoterapêuticos,
em que o terapeuta CONTRATADO utiliza na sua intervenção as técnicas de Hipnose Clínica, PNL e Terapia
Regressiva, com objetivo de auxiliar o(a) CONTRATANTE a obter bem-estar e qualidade de vida.
Cláusula terceira — Considera-se o CONTRATANTE desde já ciente de que as respetivas técnicas
enunciadas na cláusula anterior não estão regulamentadas pelo Serviço Nacional de Saúde (SNS), sem
prejuízo de serem reconhecidas e acreditadas peal APHTR.
Cláusula quarta — Considera-se que o CONTRATANTE aceita que as técnicas empregadas são da
responsabilidade do CONTRATADO, a quem compete a sua adequada utilização durante a intervenção
terapêutica. Nomeadamente, compete ao CONTRATADO sugerir o número adequado de sessões, o uso
das técnicas mais adequadas na sua intervenção terapêutica e como auxiliar na solução de problemas
psíquicos e emocionais do CONTRATANTE. Compete também ao CONTRATADO explicar devidamente o
uso das técnicas hipnoterapêuticas e explicitar o propósito de cada uma, antes, durante e após o ato
terapêutico.
Cláusula quinta — A hipnoterapia é apenas um complemento para a promoção e o restabelecimento da
saúde. Está a ser aplicada com êxito em inúmeros casos que afetam o ser humano, dos quais se destacam
as manifestações de origem psicológicas, psicofisiológicas e comportamentais. Contudo, é expressamente
reconhecido por ambos os intervenientes que as técnicas hipnoterapêuticas ainda não são reconhecidos
pelo SNS.
Cláusula sexta — O CONTRATADO, em caso algum, recomenda ou prescreve medicamentos (fármacos e
químicos) e muito menos sugere a descontinuação de qualquer outra terapêutica convencional, médica
e/ou psiquiátrica que o(a) CONTRATANTE esteja a seguir, por indicação do seu médico assistente.
Cláusula sétima — As sessões de hipnoterapia duram cerca de _____ minutos, sem prejuízo de o tempo
da cada intervenção se estender, em virtude do procedimento aplicado, ficando o CONTRATANTE ciente
de que deve chegar a cada sessão sempre com uma antecedência mínima de 15 minutos.
Cláusula oitava — Fica absolutamente claro que o profissional não é médico, psicólogo ou psiquiatra, mas
um Terapeuta Holístico com certificação e curso de formação em Hipnose Clínica e Terapia Regressiva
acreditado pela APHTR.
Cláusula nona — As marcações, desmarcações e alterações de marcações das sessões hipnoterapêuticas
podem ser feitas pelo telefone, através do nº _________________, por e-mail, para
_________________________, e/ou presencialmente, na morada do CONTRATADO.
Cláusula décima — Fica desde já avençado de que, ao não comparecer a uma consulta agendada, sem
avisar, no mínimo, com 24 horas (vinte e quatro horas) de antecedência, o CONTRATANTE ficará sujeito
ao pagamento de uma penalização de ______________________, a ser paga na sessão subsequente à
que faltou.
Cláusula décima primeira — A pedido do CONTRATANTE, as sessões de hipnoterapia podem ser gravadas
(somente em formato áudio) e cedidas no término do tratamento. Ainda a pedido do CONTRATANTE, o
CONTRATADO poderá reter uma cópia das sessões gravadas em arquivo para futura consulta e/ou como
meio de prova.
Cláusula décima segunda — O CONTRATADO tem a liberdade de, após criteriosa análise do caso em
concreto e consoante a resposta do CONTRATANTE à terapia, aumentar ou diminuir o número de sessões
inicialmente previsto.

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Cláusula décima terceira — No término do tratamento, em caso de insatisfação com o resultado


terapêutico da hipnoterapia, o CONTRATANTE deverá apresentar um texto/relatório ao CONTRATADO, a
descrever a sua experiência, indicando os objetivos alcançados e, eventualmente, os objetivos não
alcançados, para que o CONTRATADO possa tomar as devidas providências.
Cláusula décima quarta — Sem prejuízo da cláusula anterior, e não obtendo uma resposta favorável à sua
reclamação, o CONTRATANTE deverá enviar o mesmo texto/relatório, por carta registada, para a sede da
APHTR, dirigido ao Conselho Ético Científico, sito na Rua da Alegria, n.º 964, Bonfim, 4000-040 Porto.
Cláusula décima quinta — Fica desde já definido que, após a receção da carta registada contendo o
supracitado texto/relatório na sede da APHTR, o Conselho Ético e Científico dos órgãos da APHTR dispõe
de 30 dias úteis para se pronunciar. E, quando necessário, o CONTRATANTE poderá receber um vale-
retorno para uma avaliação hipnoterapêutica a efetuar nos 90 dias seguintes, sem qualquer ónus.
Cláusula décima sexta — Em caso de desistência, o CONTRATANTE não terá direito, em circunstância
alguma, à devolução das quantias pagas ao CONTRATADO.
Cláusula décima sétima — Os intervenientes compreendem e aceitam que, em qualquer terapia, a
influência negativa do meio psicossocial pode levar ao descondicionamento do tratamento. Desse modo,
em caso de recaída ou retrocesso do CONTRATANTE na terapêutica encetada, o CONTRATADO não é
obrigado a devolver o pagamento dos honorários.
Cláusula décima oitava — As partes elegem o foro da Comarca de ____________________ para dirimir
quaisquer dúvidas com relação ao teor do presente contrato.

Estando cientes de todas as cláusulas contratuais acima consignadas e de acordo com as mesmas, ambas
as partes assinam o presente contrato em duas vias de igual teor.
_________________________ , _____ de ____________________de ________________________

________________________________________________ _______________________________________
CONTRATADO CONTRATANTE
Terapeuta acreditado pela APHCH n.º_________ Cartão Cidadão n.º____________

233
Manual de TRVP e Hipnoanálise®. Alberto Lopes, Copyright 2019
O ESTÁGIO CLÍNICO EM TVP E HIPNOANÁLISE

O Estágio Clínico será realizado em contexto hipnoterapêutico e destina-se somente aos


formandos que completarem com aproveitamento os dois níveis de formação (Nível I de
Hipnose e Regressão e Nível II da Formação em TVP e Hipnoanálise).
Este estágio é facultativo e será impreterivelmente realizado no Porto, nas instalações da Clínica
Dr. Alberto Lopes, ao fim-semana, salvo indicações contrárias do formador.

PRINCIPAIS OBJETIVOS DO ESTÁGIO CLÍNICO

a. Desenvolver competências, em conjunto com o orientador de estágio

I. Criar, organizar e coordenar uma consulta exclusiva de hipnoterapia e hipnoanálise;


II. Criar um plano de intervenção hipnoterapêutica com vista a intervenções futuras em
contexto hipnoterapêutico;
III. Elaborar um diagnóstico da sintomatologia do consulente com vista ao
estabelecimento de baselines, ou seja, linhas de base para intervenção;
IV. Estabelecer um prognóstico, por cada intervenção, com base na evolução do
consulente no setting hipnótico;
V. Elaborar um desenho de intervenção baseado na técnica da Tríade Emocional;
VI. Avaliar a eficácia da terapia na evolução cognitiva do consulente;
VII. Organizar uma agenda para a intervenção e posterior consulta de controlo (revisão)
do consulente.

b. Saber fazer a avaliação e o diagnóstico hipnoterapêuticos


I. Elaborar a história clínica;
II. Fazer a Anamnese;
III. Aplicar, corrigir e interpretar testes e induções hipnóticas;
IV. Apresentar propostas de intervenções com técnicas estudadas na formação;
V. Aplicar protocolos clínicos de intervenção psicoterapêutica de etiologia emocional;
VI. Redigir mini relatórios e informes sobre a intervenção de cada formando e ulterior
proposta de intervenção por cada sessão hipnoterapia;
VII. Redigir a informação a oferecer aos consulentes e familiares/cuidadores (informação
sobre tarefas a desenvolver em casa e consolidação dos engramas interiorizados na
hipnoterapia).
Alberto Lopes, Hipnose & Regressão

AVALIAÇÃO E ACREDITAÇÃO DA FORMAÇÃO EM HCI®

ELEMENTOS DE AVALIAÇÃO DA FORMAÇÃO EM HIPNOSE E TVP

I. Exame Escrito
Realização de um teste escrito para demonstrar a aquisição do conteúdo teórico que
compõe a formação;
II. Avaliação Qualitativa/Diagnóstica
Certificação, pelo formador, da aquisição das competências necessárias para conduzir uma
adequada sessão hipnoterapêutica: a supervisão e o aconselhamento do formador serão
efetuados através do método interrogativo e role-play no decorrer da formação;
III. Avaliação Empírica do Contexto Clínico
A avaliação empírica será efetuada pelo formador durante o respetivo Estágio Clínico, em
ambiente clínico e de intervenção hipnoterapêutica. O formando fará a demonstração do
conhecimento adquirido, no uso e na aplicação das ferramentas hipnoterapêuticas e de
TVP, em consulentes que tenham dado o seu «consentimento informado». O formador
também irá avaliar os princípios éticos e morais subjacentes ao uso mais adequado das
técnicas de hipnoterapia em contextos de saúde;
IV. Avaliação Sumativa
Entrega de uma resenha sobre um tema presente na formação e/ou apresentação de um
Relatório final de Estágio. O formando só poderá receber o Certificado de Habilitações
Acreditado mediante a entrega deste trabalho final. Tanto as atitudes comportamentais e
profissionais, como o desempenho global do formando como hipnoterapeuta serão
avaliados e validados durante toda a formação.

CERTIFICAÇÃO E ACREDITAÇÃO DA FORMAÇÃO EM HIPNOSE CLÍNICA, TVP E HIPNOANÁLISE

Terão direito a um Certificado (Nível I), os formandos que tenham frequentado com assiduidade
o curso de Hipnose e Regressão, e a um Diploma (Nível II) os formandos com pelo menos 90%
de participação presencial na formação, que tenham demonstrado capacidade para proceder à
adequada aplicação das ferramentas, segundo os supracitados critérios de avaliação.

I. Entrega de certificados (Nível I)


II. Entrega de certificados (Nível II)
III. Entrega de certificados (Nível III)
IV. Estágio e Prática Clínica (Nível IV)
V. Certificado de Habilitações e Diplomas acreditados pela APHCH e pela DGERT
Alberto Lopes, Hipnose & Regressão

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NOTAS FINAIS:
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