Você está na página 1de 6

Tu, que te dizes Homem!

Dilúvio Universal!
e mais Universal ainda:
Sempre a crescer, sempre a subir...
até apagar o Sol!

Tu, qu'inventaste as Ciências e as Filosofias,


as Políticas, as Artes e as Leis,
e outros quebra-cabeças de sala
e outros dramas de grande espetáculo
Tu, que aperfeiçoas sabiamente a arte de matar.

Tu consegues ser cada vez mais besta


e a este progresso chamas Civilização!

Tu chegas sempre primeiro...


Eu volto sempre amanhã...
Agora vou esperar que morras.
Mas tu és tantos que não morres...

Acouraça-te de senso,
vomita de vez o morticínio,
enche o pote de raciocínio,
aprende a ler corações,
que há muito mais que fazer
do que fazer revoluções!

Vivemos sobre a terra. Apresento-te


a nossa casa, os nomes que damos às coisas,
as honras que nos são destinadas,
este corpo de sangue e nervos. 

Acaba de vez com este planeta,


faz-te Deus do Mundo em dar-lhe fim!
(Há tanta coisa que fazer, Meu Deus!
e esta gente distraída em guerras!)

A Terra vive desde que um dia


deixou de ser bola do ar
p'ra ser solar de burgueses.

Eu queria, como tu, sentir o bem-estar


que te dá a bestialidade!
Eu queria que a vida fosse tão divinal
como tu a supões, como tu a vives!
Eu invejo-te, ó pedaço de cortiça
a boiar à tona d'água, à mercê dos ventos,
sem nunca saber que fundo que é o Mar!
Olha para ti!
Se te não vês, concentra-te, procura-te!
Indigesta-te na palha dessa tua civilização!
Estriba-te em Ser!

Queria-te antes antropófago porque comias os teus


– talvez o mundo fosse Mundo

Ah! Já tens medo?!

Larga a cidade e foge!


Larga a cidade!

larga tudo primeiro, ouviste?


Larga tudo!
– Os outros, os sentimentos, os instintos,
e larga-te a ti também, a ti principalmente!
Larga tudo e vai para o campo
e larga o campo também, larga tudo!
– Põe-te a nascer outra vez!

Depois põe-te a viver sem cabeça,


vê só o que os olhos virem,
cheira os cheiros da Terra
come o que a Terra der,
bebe dos rios e dos mares,
- põe-te na Natureza!
Ouve a Terra, escuta-A.
A Natureza à vontade só sabe rir e cantar!

Larga tudo e a ti também!

Mas tu nem vives nem deixas viver os mais,


Crápula do Egoísmo

CÂNTICO NEGRO

“Vem por aqui” - dizem-me alguns com olhos doces,


Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: “vem por aqui”!

 cruzo os braços,
E nunca vou por ali…

A minha glória é esta:


Criar desumanidade!
Não acompanhar ninguém.
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!

Ide! tendes estradas,


E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios.
Eu tenho a minha Loucura!

Ninguém me diga: “vem por aqui”!

Não sei para onde vou,


Não sei para onde vou
—Sei que não vou por aí!

Vivemos sobre a terra. Apresento-te


a nossa casa, os nomes que damos às coisas,
as honras que nos são destinadas,
este corpo de sangue e nervos. 
Sobre ele que julgamos vivo
dizes minha razão. A da vida
e a de outras coisas que se percebem. 

O mundo do ter perturba e paralisa e desvia em seus circuitos o estar, o viver, o ser.
Tu, que te dizes Homem!

Dilúvio Universal!
Sempre a crescer, sempre a subir...
até apagar o Sol!

Tu, qu'inventaste as Ciências e as Filosofias,


as Políticas, as Artes e as Leis,
Tu, que aperfeiçoas sabiamente a arte de matar.
Tu consegues ser cada vez mais besta
e a este progresso chamas Civilização!

Agora vou esperar que morras.


Mas tu és tantos que não morres...

Vivemos sobre a terra. Apresento-te


a nossa casa, os nomes que damos às coisas,
as honras que nos são destinadas,
este corpo de sangue e nervos. 

Acaba de vez com este planeta,


faz-te Deus do Mundo em dar-lhe fim!

A Terra vive desde que um dia


deixou de ser bola do ar
p'ra ser solar de burgueses.

Indigesta-te na palha dessa tua civilização!


Estriba-te em Ser!
Queria-te antes antropófago porque comias os teus
– talvez o mundo fosse Mundo

Ah! Já tens medo?!

Larga a cidade e foge!


Larga a cidade!
larga tudo primeiro, ouviste?
Larga tudo!
– Põe-te a nascer outra vez!

Depois põe-te a viver sem cabeça,


vê só o que os olhos virem,
cheira os cheiros da Terra
come o que a Terra der,
bebe dos rios e dos mares,
- põe-te na Natureza!
Ouve a Terra, escuta-A.
A Natureza à vontade só sabe rir e cantar!

Larga tudo e a ti também!


Mas tu nem vives nem deixas viver os mais.
Tu, que te dizes Homem!

Tu, qu'inventaste as Ciências e as Filosofias,


as Políticas, as Artes e as Leis,
Tu, que aperfeiçoas sabiamente a arte de matar.

Chamas a este progresso... Civilização...?

Vivemos sobre a terra. Apresento-te


a nossa casa.
este corpo de sangue e nervos. 

Vou esperar que morras.


Mas tu és tantos que não morres...

Acaba de vez com este planeta,


faz-te Deus do Mundo em dar-lhe fim!

A Terra vive desde que um dia


deixou de ser bola do ar
p'ra ser solar de burgueses.

Indigesta-te na palha dessa tua civilização!


Estriba-te em Ser!
Queria-te antes antropófago porque comias os teus
– talvez o mundo fosse Mundo

Ah! Já tens medo?!

Foge.

Larga a cidade e foge!


Larga a cidade!
larga tudo primeiro, ouviste?
Larga tudo!
– Põe-te a nascer outra vez!

Aaah... nasce... vive....

Depois põe-te a viver sem cabeça,


vê só o que os olhos virem,
cheira os cheiros da Terra
come o que a Terra der,
bebe dos rios e dos mares,
- põe-te na Natureza!
Ouve a Terra, escuta-A.

Larga tudo e a ti também!


Mas tu nem vives nem deixas viver os mais.

Você também pode gostar