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1 – Parte 1
As Origens da Cabala
O primeiro trabalho impresso conhecido sobre o misticismo Judaico é o Sefer
Yetzirá, cuja autoria tem sido atribuída ao Patriarca Abraão.
Embora contenha idéias e conceitos do mais sublime e elevado nível, este texto não
tem sido utilizado pelos Cabalistas do passado, devido à dificuldade em definir com
exatidão os termos e os significados ocultos que o mesmo contém.
O trabalho mais elaborado e completo que apareceu dentre os estudos esotéricos
Judaicos, é o Zohar.
De fato, aqueles que o tem estudado e que entenderam completamente o
significado de seus ensinamentos são unânimes em atribuí-lo ao santo sábio do
período Mishnaico, o rabino Shimon Bar Yohai.
Em que pese tal realidade, a autoria do Zohar é objeto de debate entre aqueles que
estudam a Cabala como um passatempo acadêmico, os quais sequer realizam
qualquer tentativa no sentido compreender o conteúdo dos trabalhos que eles
analisam.
Muitos destes estudiosos argumentam que o Zohar foi escrito por Moisés de León,
um Cabalista do século XI, de abençoada memória, ou por outros dentre seus
contemporâneos.
No entanto, quando o santo Zohar é melhor compreendido, torna-se evidente que
só alguém da estatura e espiritualidade do rabino Shimon poderia ter composto o
trabalho.
Hoje sabemos que a cada nova geração de Judeus a Torá é menos entendida que
na sua predecessora.
Atribuir um livro como o Zohar a qualquer outra época que a dos Tanaím, os
compiladores da Mishná que viveram do primeiro ao terceiro século da Era Comum,
é simplesmente impossível, pois tal entendimento implicaria em assumir que o nível
de consciência e compreensão espiritual de Moisés de León era comparável, senão
mais alto, que o dos santos Tanaím.
Quando os historiadores elegem Moisés de León como sendo o autor do Zohar, eles
desconsideram a opinião de grandes Cabalistas, tais como o Moisés Cordovero, o
Shlomo Alkabetz, o Yosef (José) Caro, o Isaac Luria, o Moisés Luzzato e muitos
outros — homens para quem o Zohar constituiu-se em um modo de vida, antes que
qualquer campo de estudo, os quais foram unânimes em concordar que o rabino
Shimon era o autor do Zohar.
A premissa básica destes grandes homens sugeria que quem escreveu o Zohar
deveria estar no mesmo nível de espiritualidade que seus conteúdos, e que só o
rabino Shimon pode ser considerado adequado à tal descrição.
Portanto deixe-nos agora considerar a história deste grande sábio, em uma
tentativa de compreender o veredicto dos famosos Cabalistas anteriormente
mencionados.
Quando Israel se encontrava sob o domínio de Roma, o rabino Shimon era discípulo
do rabino Akiva, o qual continuou a ensinar a Torá apesar do decreto romano que
proibia o seu estudo.
O rabino Akiva foi capturado e executado, o que ensejou ao rabino Shimon lançar
um ataque verbal contra os Romanos, a quem acusou de intolerância e crueldade, o
que resultou na sua própria condenação à pena de morte.
O rabino Shimon refugiou-se com seu filho Elazar, numa caverna nas montanhas
próximas à cidade de Pekiin, localizada na Galiléia, onde ele permaneceu escondido
por um período de treze anos, até que a morte do imperador lhes permitiu sair de
lá com segurança.
No que se refere à revelação do santo Zohar, os sábios de abençoada memória' nos
relatam a seguinte lenda: os treze anos que o rabino Shimon e seu filho
permaneceram na caverna constituíram-se em um momento de transformação na
história do grande corpo do conhecimento esotérico Judaico.
Durante o período de reclusão na caverna, o rabino Shimon foi visitado duas vezes
ao dia pelo profeta Eliahu, o qual revelou à ele os segredos do Zohar.
As secções mais profundas e globais conhecidas como Ra'ya Mehemna, constituem-
se em anotações das conversas que também ocorreram entre o rabino Shimon e o
próprio Moisés, o amado pastor conhecido por este nome.
Ante o exposto não se deve deduzir que os segredos do Zohar foram revelados
apenas ao rabino Shimon.
Seu mestre, o rabino Akiva, e inúmeros outros antes dele, eram totalmente
versados nos ensinamentos do Zohar.
De fato, a total compreensão da Cabala foi apresentada em forma oral ao povo de
Israel no Monte Sinai; muitos estudaram e compreenderam as verdades magníficas
do misticismo Judaico, mas poucos foram capazes de ajudar aos outros a discernir
e a compreender.
Para lograr tal discernimento e compreensão, o que se tornou possível com o texto
escrito do Zohar, o Judaísmo teria que esperar por Pekíin e pelo rabino Shimon.
No entanto um problema ainda subsiste, e se refere às razões pelas quais o rabino
Shimon foi o escolhido para registrar os ensinamentos do Zohar, de preferência ao
seu mestre, o rabino Akiva, ou em relação a qualquer outro dos importantes
Cabalistas que o precederam.
Este problema tem se constituído na base de muitas interpretações e parábolas;
por exemplo, o mesmo é enfatizado, com frequência, que o rabino Shimon através
de sua vida fugitiva e solitária, se tornou capaz de superar todas as restrições e
limitações físicas que normalmente impedem o alcance de níveis de consciência
espiritual mais elevados.
Deste modo ele foi capaz de transcender as leis que governam o tempo e o espaço
e, portanto adquirir a base do conhecimento de toda a existência, conforme nós a
experimentamos aqui no plano terrestre.
Assim, que nós encontramos no Zohar não só discussões em torno de questões
estritamente espirituais, mas também conceitos fundamentais em campos tais
como a medicina, a astrologia, o direito, as telecomunicações e a psiquiatria.
Mas de todo modo um problema ainda persiste — por que o rabino Shimon foi o
escolhido para viver numa caverna por um período de treze anos?
A resposta deverá ser encontrada num problema ainda mais importante, o qual se
relaciona à história espiritual do povo Judeu.
No interior do corpo físico do Homem nós encontramos dois fatores motivadores
distintos, denominados como a Luz Interna e a Luz Circundante.
A Luz Interna constitui-se na luz contida dentro do Homem desde que chega ao
mundo terrestre, através de seu nascimento.
A Luz Circundante constitui-se no elemento de luz que o indivíduo passa a merecer
no decorrer de sua existência, devido aos seus bons feitos e boas ações — em
outras palavras, a mesma é adquirida gradualmente e não por ocasião do
nascimento.
A diferença básica existente entre as duas Luzes pode ser determinada pelo grau ao
qual um indivíduo é capaz de subordinar a sua realidade física à Luz; com efeito, a
Luz Interna que acompanha o homem deve ser identificada como uma luz que
apenas o ajuda em sua ascensão espiritual.
Por outro lado, o grau ao qual o indivíduo se encontra restringido pelas limitações
de tempo, espaço, e movimento — as leis físicas do universo — é dependente do
grau ao qual ele domina para controlar o Desejo de Receber de seu corpo, ou a
inclinação para o mal.
É pois, só gradualmente que o homem adquire a Luz Circundante e,
consequentemente, ascende na escada da espiritualidade.
O Ari (o rabino Isaac Luria), ao explicar a formação íntima de Moisés, declara que
«Moisés abarca as Luzes Interna e Circundante»; a inclusão da Luz Interna é
indicada pelo versículo «e ela percebeu que ele era bom», e a Luz Circundante é
expressa pelo versículo «a pele de sua face resplandecia».
Estas duas qualidades eram necessárias antes que Moisés pudesse ter recebido
toda a Torá e inclusive, conforme já disse, a compreensão da Cabala e as
explicações dos seus significados esotéricos.
Nós temos conhecimento que o rabino Shimon era a reencarnação do próprio
Moisés, em referência ao qual o próprio Zohar diz: «O filho de Yohai (fazendo
alusão ao rabino Shimon) sabe como seguir sua orientação; se ele se aventura
pelas profundezas do mar, ele olha ao redor antes de entrar, de modo a saber
como ele irá cumprir sua meta por meio de uma única tentativa».
Partindo desta afirmação o Ari chega às seguintes conclusões:
«Todos deveriam entender que entre as almas dos justos existem aqueles que
possuem a Luz Circundante, e que têm a capacidade de comunicar os mistérios
exotéricos do Torá, através do oculto e referências secretas, de maneira a prevenir
o seu entendimento àqueles aos quais lhes faltam discernimento.
A alma do rabino Shimon incorporou a Luz Circundante desde o nascimento;
portanto, ele tinha o poder de assumir a erudição esotérica e também de discorrer
sobre ela. Posteriormente o rabino Shimon foi agraciado com a permissão para
escrever o Livro do Esplendor: a autorização para escrever este livro de sabedoria
não foi dada aos sábios que precederam o rabino Shimon porque, mesmo que eles
fossem profundos conhecedores desta sabedoria, inclusive chegando ao extremo de
superar o rabino Shimon, lhes faltava a habilidade de assumir e proteger a erudição
esotérica. Este é o significado da referência ao rabino Shimon, realizada
anteriormente».
Nós já tínhamos visto que os acidentes da história que culminaram com a reunião
dos grandes espíritos da Cabala em Safed, eram, em realidade, parte integrante do
desejo do Eterno, o qual culminaria com a salvação eventual da humanidade.
A presença de Chaim e de Samuel fazia parte deste plano, o que é demonstrado
pela sua compreensão infalível de um corpo considerável de conhecimentos
Cabalísticos.
Eles apresentam conceitos que não são perceptíveis por meio dos cinco sentidos, e
identificaram verdades, as quais não poderiam ser apreendidas através de exercício
lógico ou mera imaginação.
O próprio Ari deixou claro que sua reencarnação neste mundo estava
profundamente ligada ao propósito de instruir a Chaim Vital nos mistérios da
Cabala.
Além do mais, sua presença permitiu a Vital retificar erros de muitas
personalidades reencarnadas que ele continha, dentre os quais figuravam Caim,
Korach, Yohanan ben Zakai e o rabi Akiva.
Mesmo assim, o Ari disse ao Vital que sua alma continha centelhas de Essência
Divina, as quais eram de um nível mais elevado do que aquelas possuídas por
muitos dos anjos celestes. «Porém mais do que isto eu não posso te revelar; se eu
fosse revelar a tua essência para ti próprio, tu muito provavelmente planarias de
júbilo; mas eu não recebi permissão para discutir tua atual encarnação em maiores
detalhes ».
As circunstâncias desta revelação estão contidas em uma carta que o rabino Ashlag
endereça a um tio, na qual ele relata o encontro que ele teve com seu mestre, e a
aura egocêntrica que ele desenvolveu, depois de conhecer os mistérios mais
profundos da Cabala.
Por ter desenvolvido tal orgulho, seu mestre suspendeu os ensinamentos até que o
rabino Ashlag viesse a adotar uma atitude correta de humildade, a partir de quando
o seu mestre — um estranho, cujo nome ele fora proibido pronunciar, lhe revelou
um Sod (um segredo, ou sentimento profundo), relacionado ao Mikveh (banho
ritual). «Isto, relata o rabino Ashlag, produziu em mim um êxtase de tamanha
intensidade que ele criou literalmente um Devekut total, uma divisão da Essência
Divina, uma separação completa das contigências corporais, e um despedaçar do
véu que me separava da vida eterna».
Logo após esta revelação o seu mestre faleceu, deixando-o com o coração partido.
Ante sua tristeza profunda e desespero, a revelação também o abandonou por um
certo período, até que ele recuperasse sua capacidade e novamente pudesse
devotar sua vida ao Criador, «Após o que, as fontes da sabedoria divina se abriram
repentinamente; com a graça do Todo Poderoso, eu relembrei todas as revelações
que eu havia recebido de meu mestre, de abençoada memória».
Continua