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YAKIN, BOAZ E MORALIDADE À LUZ DA ÁRVORE DA VIDA DA

CABALA E NA BÍBLIA

Luiz Carlos Silva*

SUMÁRIO

O texto nos diz que havia uma árvore da vida onde nossos primeiros antepassados se tornaram
humanos. Tornando-se demasiados humanos e muito gananciosos, eles tiveram que deixar o que parecia
ser um Éden; “E, expulso o homem, colocou querubins ao oriente do jardim do Éden, e o refulgir de uma
espada que se revolvia, para guardar o caminho da árvore da vida” (Gn. Cap. 3, vers. 24). Os “guardas” que
foram encarregados de negar-lhes o acesso, conhecidos como Gabriel e Raphael. Desde então, após
profundas pesquisas, análises, cogitações e deduções, descobrimos esses dois personagens, escondidos sob
o nome de Yakin (Jaquim) e Boaz, as duas colunas na entrada de um edifício, o Templo de Salomão, outro
tipo de paraíso, mais conhecido com o nome de “pardes”. Lá – nesses jardins – os estudiosos místicos
consideraram, por laborações espirituais, que se poderia conceituar a existência de outra árvore da vida, - a
árvore das sefirot. Revelando-se como uma constante fundamental, tanto em rituais quanto nas lojas,
embora muito frequentemente tratadas sem o devido valor, Yakin e Boaz nos questionam sobre sua relação
com essa metáfora arbórea. Legitimamente, temos o direito de buscar sua conivência especulativa, porque
a famosa árvore da Cabala, a árvore das sefirot, é, de fato, também na forma de pilares, a comparação com
as nossas duas colunas. Por contaminação semântica, o que cada um desses dois pilares representa?

Palavras chave: Árvore da vida; Colunas; Cabala; Jaquim; Boaz

ABSTRACT

The text tells us that there was a tree of life where our first ancestors became human. Becoming
too human and too greedy, they had to leave what appeared to be Eden; "And he cast out cherubim unto
the east of the garden of Eden, and the brightness of a moving sword, to keep the way of the tree of life"
(Gen. 3: 24). The "guards" known as Gabriel and Raphael. Since then, after deep research, analysis,
cogitation and deduction, we have discovered these two characters, hidden under the name of Yakin and
Boaz, the two columns at the entrance of a building, the Temple of Solomon, another kind of paradise,
better known with the name of "pardes". There - in these gardens - the mystical scholars considered, by
spiritual labors, that one could conceptualize the existence of another tree of life, - the tree of the sefirot.
Revealing itself as a fundamental constant, both in rituals and in shops, though often treated without value,
Yakin and Boaz question us about their relationship to this tree metaphor. Legitimately, we have the right
to seek their speculative connivance, because the famous tree of the Kabbalah, the tree of the sefirot, is, in
fact, also in the form of pillars, the comparison with our two columns. By semantic contamination, what
does each of these two pillars represent?

Key words: tree of life; pillars; Kabbalah; Yakin; Boaz.

1 – INTRODUÇÃO
A Teosofia Esotérica Hebraica comumente conhecida como “Cabala” (Kabbalá,
“Recibo”, “Aceitação” ou “tradição”), é uma herança muito antiga de Israel. A Cabala
alcançou seu período de auge em torno dos séculos XII e XIII, influenciando os
pensadores medievais ainda antes do renascimento. De fato, nos séculos XI e XII grandes
contribuições à ciência e à filosofia foram perpetradas pelos “Mekubbalim” (Aceitos ou
Kabalistas), conhecidos nos livros de história como inventores, reveladores e filósofos
excepcionais.

Os estudos da Cabala incluem o “Ets H'ayim” (“Árvore da vida”) e suas “Sefirot”


(“Emanações Divinas”). Dez Sefirot se organizam no incompreensível “Ain Sof” (“sem
fim” ou “infinito” - denominação Cabalística do Único, Eterno e Todo-poderoso Deus,
criador, origem e essência absoluta de tudo). As 10 Sefirot representam: (1) A
compreensão humana finita (limitada) dos canais de energia que Deus gerou de sua
própria energia infinita, para criar e governar nosso universo finito e material; e (2) as
qualidades que os seres humanos devem esforçar-se em desenvolver para acercar-se de
Deus. As 10 Sefirot também refletem Associações Morais. Embora existam variadas
versões destas Associações Morais, em princípio, todas elas refletem a Fé em Deus e à
Moralidade.

A aquisição de novos Poderes Morais em nossa vida diária ajuda-nos a alcançar


valores mais elevados. As integrações Multilaterais dos Poderes Morais concedem maior
dimensão, ou seja, virtudes adicionais. Assim sendo, uma prece pode alcançar
determinado valor, se for feita com Fé, Amor, Respeito (temor), Sinceridade, Honestidade
ou Humildade frente a Deus. Se esta mesma prece é feita não apenas para nós mesmos,
mas também para outros, ela alcança um valor mais alto, posto que integra também, entre
outros valores, o altruísmo, o amor e a sinceridade para com o próximo. Além do mais,
isto reflete nossa capacidade de sentir alegria pelo bem-estar dos nossos irmãos e o perdão
ante seus possíveis defeitos.

A seguir descrevemos as Sefirot, formadoras da árvore da vida, e suas associações


interpretativas correspondentes.

2 – APRESENTAÇÃO DAS SEFIROT


Kether: coroa, ponto primordial, a vasta capacidade, a cabeça branca, a existência
das existências, os velhos tempos.

A primeira sefira inicia a Árvore e não tem começo. Ela incorpora a própria
centelha divina. Esta “encarnação” é desprovida de forma, mesmo mental, e só pode ser
entendida, de acordo com a Cabala, tornando-se uma com ela, tornando-se deus. A
máxima “Ninguém pode contemplar o rosto de Deus e continuar a viver” parece se aplicar
especialmente a Kether.

Nas tradições e nas religiões, ela representa o Deus Supremo, o Pai hermafrodita,
o Criador. Em um sistema de pensamento, ela pode ser comparada ao postulado inicial, o
conceito-chave que não tem antecedente e que permite que o sistema se desdobre.

A imagem do ponto, objeto adimensional, é frequentemente associada a Kether.


É coroa pois confere todo o poder ao homem enquanto ser distinto do seu ser, colocado
“acima” dele. Ou seja, Kether é o ponto, o ponto no centro do círculo, o crânio, a centelha
divina.
Chokhmah: Sabedoria, pai supremo, o yod, o tetragrammaton, o
transbordamento.

A segunda sefira é a expansão, uma sopa na qual tudo existe de forma


indiferenciada. Ela é movimento: - o ponto em animação torna-se linha e adquire a
primeira dimensão. Chokhmah representa o primeiro impulso, o fluxo inexorável, o
conceito pai que potencialmente contém todos os outros, o princípio masculino. Ela é
sabedoria no sentido de que ela incorpora o estado final antes da fusão total com Deus, -
consciência cósmica.

Chochmah, pode-se dizer, é a linha reta, o lado esquerdo do rosto, o falo, a pedra
em pé, a torre, o bastão do poder, um rosto barbudo.

Binah: Compreensão, mãe nebulosa, mãe estéril, mãe luminosa, mãe fértil, trono,
grande mar, reservatório.

A terceira sefira se densifica e concentra o fluxo de Chokhmah. Binah está


associada ao princípio feminino. Ela é a Mãe em toda a sua ambiguidade: aquela que dá
vida, isto é, que molda o primeiro impulso para dar forma, mas também aquela que causa
a morte, toda limitação do ser divino condenada à destruição. Esta restrição de Chokhmah
em Binah marca o nascimento do tempo. A linha, canalizada, é moldada e se torna um
triângulo. Aparece a segunda dimensão e, com ela, as premissas da finitude.

Binah é a compreensão, que já induz uma certa dualidade: - entendemos algo (o


que nos era estranho) enquanto somos sábios (síntese, união).

Ela é o corte, o lado direito do rosto, a Vesica Piscis, a vulva, o cálice, uma mulher
madura.

Chesed: Misericórdia, benevolência, amor, majestade.

A quarta sefira é inteligência coesiva e receptáculo de todos os poderes. As formas


tornadas possíveis por Binah são mantidas e alimentadas por Chesed. Ela garante a sua
perenidade. Chesed é coesão e multiplicidade; está associada aos princípios de ordem,
síntese e assimilação. No corpo humano, pode ser associada ao anabolismo. Em termos
de atitude, ela é compassiva e magnânima.

A figura geométrica, o braço esquerdo, o tetraedro, a pirâmide, o orbe, a cruz com


braços iguais, o cetro, um rei coroado sentado no seu trono.

Geburah: Gravidade, Severidade, justiça, medo, rigor, força.

A quinta sefira é inteligência radical. É discriminatória: - vai contra o processo de


coesão de Chesed. É forte porque se dispersa, é guerra porque se opõe, é caos porque
destrói. Ela é coragem porque ela coloca as criações de Chesed à prova. Muitas vezes, é
associada ao princípio do Mal e Satanás, o Adversário, “aquele que semeia a discórdia”.
Isso não significa que Geburah seja “malvada”. Ordem e caos são dois princípios
essenciais para o equilíbrio do mundo.
No corpo humano, Geburah é semelhante ao catabolismo. Geburah é às vezes
chamada “Din”, Justiça, embora seja qualificada como “severa”. Justiça seria mais a ação
combinada do par formado por Chesed e Geburah. Esta última sefira pode então ser vista
como o equilíbrio que permitirá emitir o julgamento final (para decidir).

Tiphereth: Beleza, equilíbrio, o rei, o filho, o homem.

A sexta sefira é mediadora de inteligência e união de influências. Ela é beleza,


harmonia de formas e idéias. É um ponto de equilíbrio, mas também uma encruzilhada: -
o lugar onde a transmutação de energias é possível. Nesse sentido, está associada ao
sacrifício (renunciando a um “bem” para alcançar um estado de consciência maior).

O sol que queima constantemente para brilhar é o símbolo mais usado para
Tiphereth.

O cubo, o baú, o coração, a cruz do Calvário, a rosa cruz, a pirâmide truncada, o


sol, uma criança, um deus sacrificado.

Netzach: Vitória, firmeza, poder, síntese.

A sétima Sefira é inteligência oculta, uma união de intelecto e fé. Netzach está
associada à beleza, em todas as suas formas. Netzach é mística, confiante e entusiasmada.

É a esfera das emoções, dos sentimentos e, mais geralmente, dos impulsos, das
tentativas de compreensão imediata. As andanças de Netzach tornam-se raios ou
projeções.

Netzach é Vitória porque é meta alcançada, é adequação. Ela nutre as tentativas


de entendimento em que tentamos entrar em ressonância com o objeto que buscamos
entender.

Os rins, os quadris, as pernas (em movimento), a lâmpada, cintura, a rosa, a mulher


nua.

Hod: a Glória.

A oitava sefira é a inteligência absoluta. Hod está associada ao formalismo, à


lógica, aos sistemas formais, ao racionalismo. É Glória porque expressa o reconhecimento
do saber dominado, codificado e entregue a todos. Hod disseca os impulsos de Netzach,
analisa e se opõe, desmonta e argumenta. O fluxo de Netzach, canalizado por Hod, gera
uma bulimia de conhecimento, uma versatilidade, uma inventividade extrema. Quem
procura saber tudo, quem “devora” as informações, é frequentemente encontrado na
esfera de Hod. Sob a influência dessa sefira, o homem tenta entender um objeto,
analisando-o.

Hod é o receptáculo do conhecimento congelado (os livros), nesse sentido ela é a


guardiã dos segredos, do conhecimento e da memória do mundo.

Yesod: Fundamento, fundação, tesouro de imagens.


A nona sefira é inteligência purificadora. Ela projeta moldes, esculpe, garante sua
integridade. Ela molda o rio da vida resultante de Netzach nas complexas estruturas
elaboradas por Hod. Ela seleciona as imagens resultantes da união desses dois princípios
para manter apenas os esboços puros e equilibrados. Essas imagens, esses planos, essas
arquiteturas, tornar-se-ão materiais em Malkuth.

Então Yesod é o alicerce de todas as coisas encarnadas. Enquanto união de dois


princípios, ela é prazer e gozo.

Malkuth: o Reino, Kallah (a noiva), o limiar, o limiar da morte, o limiar das


lágrimas, o limiar do Jardim do Éden, a rainha, a virgem.

A décima sefira é inteligência resplandecente. Ela é o receptáculo de todas as


influências. Malkuth incorpora o último estágio da forma, denso e palpável, incapaz de
existir de forma mais concreta. É nosso universo, nosso planeta, nosso corpo e todas as
coisas animadas e inanimadas ao nosso redor.

Malkuth é o Reino das formas imaginadas finalmente realizadas. Malkuth também


é o lugar onde os laços entre força e forma são degradados e quebrados, o limiar onde
“desistimos da alma”, onde o que não pode ser assimilado torna-se excremento. O desafio
do homem provavelmente é poder dominar um dia a infinidade de energias e influências
que se agitam em seu reino.

Cada Sefira (singular de Sefirot) alcança níveis de energia mais elevados quando
está combinada com outras Sefirot. Por exemplo, guiar-se pela “Justiça” outorga um alto
valor. E quando combinada com “Misericórdia”, a “Justiça” alcança um valor mais
elevado. Do mesmo modo, se a “Misericórdia” constitui um alto valor, quando é
distribuída “Justamente” se torna mais valiosa. As combinações bilaterais alcançam
níveis de energia muito mais altos que as unilaterais.

Deus tem uma vontade infinita para “doar” sua infinita e absoluta qualidade divina
a toda sua criação. Deus, entretanto, não tem uma necessidade ou a vontade de “receber”.
Por outro lado, todos os seres criados têm a vontade de “receber”. Se somente recebemos,
permanecemos sempre distantes de Deus. Em troca, fazendo boas ações e doando aos
outros estaremos mais perto de Deus. Por exemplo, se educar-se tem valor, é mais valiosa
então a educação que brindamos aos outros. Para aproximar-se de Deus, alguém deve
desenvolver a vontade (Ratson) de torna-la unida (Yih'ud) a Deus, para atuar de acordo
com as Sefirot e integra-las.

As associações morais correspondentes constituem princípios morais básicos


(virtudes) da conduta diária e consequentemente podem ser referidas como Potências
Morais. Ao alcançar estas Potências Morais, a pessoa promove uma “escala” espiritual
na caminhada em direção à sua auto perfeição. Estas Potencias Morais de Perfeição são
a base dos graus e os ensinamentos do Rito Escocês Antigo e Aceito da Maçonaria. Na
Cabala se denomina “Or” (“Luz”) a qualquer energia recebida de Deus, e compreensível
aos seres humanos, através dos 10 canais das Sefirot. A “Fé em Deus” é a primeira
Potência Moral e corresponde à primeira das Sefirot, “Kether” (“Coroa de Deus”). Na
Cabala, a “Fé em Deus” se descreve como “Or Ain-Sof” (“Luz de Deus”) que Ilumina
todos os sentidos de uma pessoa. Na mesma acepção, o significado simbólico da “Luz”
Maçônica é em primeiro lugar o da “Fé em Deus”. A busca humana da Luz começa dentro
de nosso próprio interior, posto que todos havemos recebido a semente da luz. Se
desenvolvermos nossa Fé em Deus e revelarmos uma conduta moral adequada, aquela
semente poderá receber mais luz e germinar.

3 – BOAZ E YAKIN

Elemento essencial da arquitetura, a coluna é o suporte: - ela representa o eixo da


construção e liga os seus diversos níveis. As Colunas garantem a solidez da Obra.
Enfraquecê-las é ameaçar o edifício inteiro. Simbolizam a solidez de uma edificação, quer
ela seja arquitetural, social ou pessoal. Daí a arvore da vida, diagrama criado para melhor
entendimento da ideia contida no Sepher Yetsirah, ser analogicamente comparada a uma
coluna, interligando diferentes planos da criação.

As colunas egípcias, eram uma transposição em pedra, dos suportes vegetais,


troncos, feixes de colmos, que bastavam outrora, para sustentar os tetos dos edifícios de
madeira... Elas terminam no alto, por um capitel, que figura, como o desabrochar floral
das plantas saídas do solo.

Numa coluna de fogo, à noite, numa coluna de nuvem de dia, IHVH guiava os
hebreus através do deserto que bordejava o mar dos juncos (Êx. 13, 21-22). Essas colunas
simbolizavam a presença de Deus, uma presença ativa, a qual no sentido histórico,
conduziu o povo eleito através das ciladas do caminho e, no sentido místico, dirige a alma
nos caminhos da perfeição.

Mas, as Colunas que nos interessam no momento são as colunas do Templo de


Salomão: - Hiram fundiu essas duas colunas de bronze. Levantou-as diante do vestíbulo
do Santuário, ou o Templo da sabedoria. Ergueu a Coluna da direita e lhe deu o nome de
Yakin. Ergueu a Coluna da esquerda e chamou-lhe Boaz. Assim foi completada a obra
das Colunas (1 Rs. 7, 15-22), Ora, o Bronze não é encontrado na natureza, é obtido por
meio de uma liga de metais, principalmente de estanho e prata com cobre, assim o bronze
se origina simbolicamente da união de contrários, pois os alquimistas associavam os dois
primeiros (estanho e prata) à Lua e à água, e o outro (cobre) ao sol e ao fogo. Daí a
ambivalência e o caráter violentamente conflitivo das duas faces de seu simbolismo.
Metal sagrado, sinal da aliança indissolúvel do céu e da terra. O Nome dado à coluna da
direita evoca, justamente em hebraico, a ideia de solidez e de estabilidade (Yakin), ao
passo que o da coluna da esquerda sugere a de força (Boaz). As duas palavras reunidas
significam então, segundo Crampon, que Deus estabeleceu na força, solidamente, o
templo e a religião de que ele é o centro.

Então, o texto nos diz que havia uma árvore da vida onde nossos primeiros
antepassados se tornaram humanos. Tornando-se demasiados humanos e muito
gananciosos, eles tiveram que deixar o que parecia ser um Éden; Supostamente, era fim
de março, quando eles foram expulsos – “E, expulso o homem, colocou querubins ao
oriente do jardim do Éden, e o refulgir de uma espada que se revolvia, para guardar o
caminho da árvore da vida” (Gn. Cap. 3, vers. 24). Os “guardas” sem carne que foram
encarregados de negar-lhes o acesso, chamemo-os de Gabriel e Raphael. Desde então,
após profundas pesquisas, análises, cogitações e deduções, descobrimos esses dois
personagens, escondidos sob o nome de Yakin (Jaquim) e Boaz, as duas colunas na
entrada de um edifício, o Templo de Salomão, outro tipo de paraíso, mais conhecido com
o nome de “pardes”. Lá – nesses jardins – os estudiosos místicos consideraram, por
laborações espirituais, que se poderia conceituar a existência de outra árvore da vida, - a
árvore das sefirot.

Revelando-se como uma constante fundamental, tanto em rituais quanto nas lojas,
embora muito frequentemente tratadas sem o devido valor, Yakin e Boaz nos questionam
sobre sua relação com essa metáfora arbórea. Legitimamente, temos o direito de buscar
sua conivência especulativa, porque a famosa árvore da Cabala, a árvore das sefirot, é, de
fato, também na forma de pilares, a comparação com as nossas duas colunas. Por
contaminação semântica, o que cada um desses dois pilares representa?

Na sua separação: - dualidade e dualismo.

Sua aparente separação: - dualidade.

- A dualidade é estabelecida primeiro com base na lateralização, na direita e na


esquerda, tão precisamente explícita tanto para as colunas do templo maçônico quanto
para os dois pilares da árvore Sefirot. Yakin está à direita fora do templo, à esquerda está
Boaz. As colunas tornam o termo “dois”, - binário, - o princípio fundamental e essencial
da existência do mundo sensível e da vida da espécie humana.

O Zohar chama Kether “a Coroa” “o crânio”, Chokhmah e Binah, “os cérebros”;


o hemisfério cerebral direito é atribuído a Chokhmah (sabedoria) e o à esquerda é
atribuído a Binah (inteligência). As colunas do templo, assimiladas a estas duas sefirot,
correspondem a todas as dualidades: sujeito-objeto, agente-paciente, ativo-passivo,
positivo-negativo, pai-mãe, esquerda-direita, dar-receber, agir-sentir, espírito-matéria,
sol-lua, concreto-abstrato.

- Quando se apresenta qualquer oposição, tanto espacial quanto qualitativa, pode-


se considerar a dualidade, aparentemente, como um destaque das relações dos princípios
arquetípicos do masculino e feminino.

Em Yakin o modo ativo da manifestação, o princípio masculino, em Boaz, o


caminho passivo, o princípio feminino. Essas colunas pertencem ao mundo da formação
(Yetsirah). Os pilares exteriores Yakin e Boaz são os reflexos claramente diferenciados
em machos e fêmeas do homem andrógino, aparecido no mundo da criação (Beriah) e
separados em Adão e Eva em Yethsirah.

Os textos não dizem que são simétricas ou similares. Uma das colunas é descrita
por sua altura, a outra pela sua circunferência. Seria um erro de interpretação torná-las
iguais. Existe assim uma correspondência, uma alteridade sem identificação, daquela que
é alta, e daquela que é larga.

Isso significa que o outro nem sempre é o mesmo. O outro está, então, apenas em
oposição ao seu outro; Boaz e Yakin se complementam. Yakin e Boaz, 10 e 2 em valor
gemátrico, portanto, semente e matriz, escolhidos e nomeados, fundamentalmente, com
intenção hermenêutica.

Em todas as tradições antigas, o cilindro delgado é uma representação fálica, assim


como a romã está associada ao ovário gerador. A associação desses dois símbolos não
poderia ser mais explícita para as Colunas que evocam, em evidência, um simbolismo
sexual de geração e fertilização.

Da luz original que se encheu de forma igual e sem diferença de grau antes do
tsimtsum (a retirada divina que encheu o Ain sof), surge uma luz emanada no vazio
deixado pelo tsimtsum. Esta Luz emanada contém todas as Sefirot e divide-se em duas
radiações, a interna, a alma, e a outra, externa, o mundo da separação. Todas Sefirot
emitem e recebem luz (energia), mas esta luz pode ser mais ou menos intensa. Narram-se
que a emissão de luz é de natureza masculina, enquanto a recepção é de natureza feminina.
Cada uma das 10 Sefirot recebe o influxo que o alcança do Ain Sof e, por sua vez, o
emite. Pode-se então imaginar: como é que algumas sefirot são chamadas de machos e
outras fêmeas, se todas são andróginas? Em geral, a energia e a matéria são formas
andróginas da unidade que, no pleroma hebraico, também são consideradas como
princípio masculino e feminino. Esses princípios só podem ter uma convivência
dramatúrgica onde o princípio feminino é fonte de vida, mas também de morte para o
princípio masculino; é a forma que limita a energia; daí, ao opor a mulher ao homem não
seria um perigo? Certamente, mas o original andrógino não é a dualidade do hermafrodita,
nem a dos híbridos mencionados. É dizer e repetir que somos homens e mulheres, ao
mesmo tempo, como imagem da criação. É uma consubstancialidade da unidade vista em
seus aspectos diferenciados, mas é a unidade que está sempre em questão. “Sua emanação
é andrógina” (A doutrina secreta, H. P Blavatsky). Quando esta radiação irradia, por sua
vez, todas as suas radiações são andróginas, mas se tornam princípios do sexo masculino
e feminino em seus aspectos inferiores (criação, formação). Isso também é o que Einstein
diz: “Prefiro olhar matéria e energia não como fatores que produzem os mesmos graus de
curvatura do universo, mas como elementos de percepção desse universo”.

- Encontramos esta separação da androginia nas iniciais do nome das colunas.

A letra Yod, inicial de Yakin, décima Letra Força do alfabeto sagrado hebreu,
representa um retorno à Unidade; é uma espécie de Aleph ‫ א‬internalizado. A Fonte da
Vida representada pela letra Aleph, que é a semente de todas as coisas, torna-se em Yod,
uma Força Motriz, que estimula de dentro, e que dá a possibilidade de criar. O Yod
estabelece a base racional para a compreensão da mecânica do trabalho. Yod é um
elemental criativo e transformador. No mundo material, representa a fase em que as
sementes do pensamento, transportadas pelo ar, são aspiradas e incorporadas ao corpo.
De acordo com a Cabala, a letra Yod é um sinal com duas determinações: - uma
é formada e revelada, o sinal de Yod desenhado (o desenho original do sinal é um braço
estendido, transformado em um ponto, a direção é uma mão fechada em um punho); O
outro não está formado e nem revelado, o ponto conceitual propriamente dito. Estes dois
aspectos da letra Yod também são chamados “desbloqueado ou implantado” ou real e
“bloqueado ou não implantado, substancial” ou irreal.

O ponto primordial é o resultado da ablação divina chamada "tsimtsum" a partir


da qual o universo é criado. Na Árvore da Vida, este ponto, Yod, colocado ao nível da
Sabedoria (Chokhmah), emite duas luzes das quais uma, infinita, desaparece. A luz finita
desce e revela o sinal explícito de Yod, pelo qual o universo e seus conteúdos existem e
são tangíveis. É a coluna Yakin que também é traduzida como: - ela estabelece.

De acordo com a Tradição, o ponto inicial se desdobrou como uma linha para
baixo em um sinal de Vav, depois em uma segunda linha para formar um plano, o sinal
de Daleth. E, pouco a pouco, o ponto inicial é a origem de todas as letras e escritas. Mas,
além disso, o Yod revela-se em sua escrita explícita "yod-vav-daleth", para nos confirmar
sua implantação progressiva.

O significado da letra Yod é o braço e, por extensão, a mão. As duas mãos juntas
formam um lugar de encontro; ambas as mãos cruzadas, um vínculo de fraternidade; mãos
abertas, a imagem de apoio, de compreensão; A mão é o sinal de ação e reação. A mão
indica, materializa e faz existir um conceito ou uma ideia.

O valor da letra Yod é 10 (dez), retorna à unidade por dualidade e multiplicidade.


Há dez palavras criativas do mundo e dez mandamentos para a sua manutenção.

A letra Beth, inicial de Boaz representa a condensação do adquirido, a


interiorização da Luz. Para que a energia se manifeste, em qualquer nível, deve passar
por uma fase de internalização e condensação. Esta condensação da Força Primordial
produz Amor. No nível humano, é um amor não revelado, mas que, agindo a partir do
interior faz avançar no caminho da obra. A letra Beth simboliza a casa, o receptáculo da
força criativa de yod. De acordo com este simbolismo das letras, o iniciado deve passar
primeiro por Yod, entidade masculina, força produtiva, racionalidade no conhecimento,
então, quando ele puder ler e escrever, ele poderá abordar Beth, elemento feminino,
despertando o amor não mais passional e, então, construa sua Casa, seu templo interior
no qual o trabalho da força criadora se desenvolverá facilmente.

O significado principal de Beth é a casa, um edifício, uma construção. “... com


sabedoria fundou a terra, com inteligência estabeleceu os céus” (Pv. Cap. 3, Vers. 19).
Beth está no caminho do Discernimento na Árvore da Vida. Esta letra tem a forma de um
abrigo fechado em três lados e aberto à esquerda. Beth, também, é o Templo, o palácio
divino, a manifestação do absoluto. De acordo com a mesma Tradição, os três lados do
sinal Beth representam o que é revelado, o quarto lado não tratado é o segredo ou o selo
divino. De acordo com a tradição da Cabala, Beth tem sua abertura para o norte, de onde
sopra vento fresco, riqueza, mas também más intenções. Localizado para a esquerda
saindo do templo, no norte, Boaz é consistente com a sua inicial.

Vindo do exterior, o rigor pode encontrar “dentro” de Beth o calor da misericórdia.


A abertura de Beth é a liberdade de escolha, seja a tentação da inclinação para o mal, seja
a compaixão e o amor. Cabe ao homem escolher a direção certa.

Outro significado desta letra é a mulher, o feminino. Beth é uma preposição que
reconhece tanto a interioridade quanto o acompanhamento. A mulher e a casa sugerem a
doçura de um lar longe das vicissitudes: mas para ir de uma para outra, de “bat”, a mulher,
para “bayt”, a casa, é necessário adicionar a letra Yod, imagem da lei moral, através dos
dez mandamentos. A construção de um interior só pode ser identificada com o feminino
se sua base for a lei moral; então o espírito que reina lá é uma alma superior.

O valor de Beth é dois. Beth é o portal de uma porta. Em aramaico, "bab" com
uma Beth dupla é uma porta dupla: - a primeira letra das Escrituras, esta letra foi escolhida
para criar o universo. As duas primeiras palavras da Bíblia começam com uma Beth: - a
primeira palavra é um recipiente, um interior oferecido, o do começo (bereshit). A
segunda palavra "cria" (bara) onde Beth é filha da unidade, a diferenciação e o
discernimento sendo os prelúdios de toda a criação. Dobrada, a letra Beth é a primeira
manifestação do múltiplo.

No plano divino, Beth é o paradoxo dos paradoxos: o universo tem uma realidade
fora do divino? Se o divino é a unicidade e a totalidade, há um lugar para o homem? Daí
a impressão íntima de ser e de não ser ao mesmo tempo, o sentimento de ida e vinda da
onda existencial. A realidade é dual: - na tradição bíblica, tudo é (ou tem) o seu oposto,
Beth é interior e exterior ao mesmo tempo.

Em hebraico, pai e mãe começam com aleph, filho e filha começam com Beth: -
Beth é, portanto, a segunda geração, aquele que já recebeu o ensinamento de seu mais
velho, Aleph. No entanto Beth também é a casa de estudos, o abrigo da Torá, a nova
geração que também está aprendendo sozinha. O ensino deve sempre ser repetido duas
vezes: - aprender, em aramaico, significa repetir duas vezes.

Beth é, portanto, um abrigo precário da dualidade existencial, a porta aberta ao


exercício da responsabilidade do homem e ao seu livre arbítrio, um refúgio consolidado
pelo discernimento e o estudo da lei.

- As cores de Yakin e Boaz, vermelho e branco, participam da sua dualidade. As


duas colunas de bronze são, em nossos templos, coloridas, Yakin, macho em branco e
Boaz, fêmea, em vermelho. O Zohar atribui uma cor específica a cada uma das Sefirot: o
branco a Chokhmah; o vermelho a Binah; Verde para Tiphereth e preto para Malkhuth.
Este sistema de cores é colocado em paralelo com o dos 4 mundos que também são
atribuídos a uma cor; em particular, o mundo de Atziluth está associado ao branco, o
mundo de Briah com vermelho; no entanto, essas alocações variam entre os Cabalistas e
os sistemas.
As cores que são visíveis aos nossos olhos, ou que são representadas em espírito,
podem ter um efeito sobre o espiritual, embora as próprias cores sejam físicas (Moisés
Cordovero, Pardes Rimonim, Porta das cores). Yakin está assim associado com a sefira
da sabedoria - Chokhmah -, e Boaz com a da inteligência, - Binah.

Quando é dito em 1 Reis 7:14 que Hiram “era cheio de sabedoria, entendimento e
ciência” (retomando as mesmas qualidades que Betsalel havia recebido, o mestre de obras
do primeiro templo nômade sob Moisés), é, também, muito claramente uma junção
semântica das duas colunas com as duas sefirot, a da sabedoria, Chokhmah e a da
inteligência, Binah.

Sabemos que, para os Hebreus, a Lei (a das tabelas homónimas) e a Justiça, a


equidade em sua aplicação (que se encontram sob os nomes de mishpat e tsedek) foram
“fundadoras” da governança deste povo e das relações entre eles. “Ai daquele que edifica
a sua casa com iniquidade, e os seus aposentos com injustiça” (Jr. 22,13).

Neste sentido, a Lei e a Justiça podem, naturalmente, ser entendidas como rigor e
misericórdia, o julgamento vermelho e a misericórdia branca, porque o branco e a prata
são as cores tradicionalmente associadas à bondade, o vermelho e o ouro associados ao
julgamento; Yakin, Tzedek e Boaz Mishpat!

O templo maçônico de algumas Lojas e Ritos manteve para suas colunas as cores
de sua correspondência com os pilares da árvore da vida, vermelho e branco.

O entrelaçamento de sua natureza: - o dualismo.

O dualismo da oposição aparente nos leva à coincidência dos opostos.


Inseparáveis, indivisíveis, as colunas formam uma espécie de diálogo; o equilíbrio de suas
forças de luz é uma estrutura de criação.

Boaz traduz a força, mas não a força física, evoca uma força superior, a força
espiritual da consciência da indestrutibilidade do ser real, o Espírito.

Yakin expressa força, estabilidade. Significa que o iniciado passou no estágio das
flutuações humanas e atingiu o estado de Ser no presente eterno.

Dizem que a união das duas colunas gera uma terceira, no meio, que representa,
do ponto de vista esotérico, o homem e a humanidade. A combinação das duas forças
opostas produz o pilar central: - o homem perfeito. Também é dito que o Templo,
localizado entre as duas colunas, seria então Kether, a coroa, o Pai-Mãe.

O trabalho de iniciação consistirá em equilibrar essas duas polaridades, a fim de


dar à luz a beleza, que não será estética, mas a sublime harmonia criada pela Força e
guiada pela Sabedoria.

Em sua inter-relação: a Luz.


As duas colunas trazem em seus significados toda a árvore sefirotica. A sabedoria
é uma árvore da vida para aqueles que a abraçam, aqueles que se apoiam nela estão
percorrendo.

Chokhmah e Binah, - Yakin e Boaz -, como acabamos de ver, estão associadas à


Sabedoria e à Inteligência. Agora é necessário entender o alcance da associação
Sabedoria-Inteligênceia.

Embora seja útil considerar as sefirot separadamente, deve-se ter em mente que
elas interagem constantemente. Suas influências estão continuamente entrando na
realidade.

Este fluxo incessante garante a estabilidade da Árvore. Por sua vez, as sefirot
desempenham um papel de emissor e receptor. Assim, Chokhmah é passivo em relação a
Kether e ativo em relação a Binah. Além disso, uma sefira é influenciado pelas sefirot
que estão diretamente relacionadas a ela, mas também com todas aquelas que a precedem.

A primeira sefira, esfera de manifestação, é colocada mais alta do que as outras


no pilar central. Ele se une com a segunda sefira do pilar da direita, que está unida no
mesmo plano para a terceira sefira no pilar da esquerda, formando assim um triângulo,
dito Triangulo Supremo. Essa triangulação resultante do nada, da origem, é bastante
peculiar. Este é o começo. É como uma frase em que a ideia está embrionária, mas que
só encontrará a realização, somente, em uma fase posterior: - uma ideação do universo.

Kether, traduzido pela coroa, a primeira sefira é assim colocada no cume, no início
da manifestação primordial. Ela Representa de certa forma a cristalização primitiva do
que até então não se manifestava e permanece incognoscível para nós.

Em Kether não existe nenhuma forma, mas, exclusivamente, pura intenção, seja
lá o que do for: - é uma existência latente separada por um grau da origem, do não-ser;
do Ain-Sof. Esta sefira contém tudo o que foi, é, e será ao mesmo tempo. Ela é a única
no processo de se tornar. É com a existência manifestada nos pares de opostos que esta
unidade irá assumir um significado acessível, mas em Kether, ainda, não há diferenciação
alguma. Ela Persiste e em si mesma. Essas diferenciações que a tornam inteligível só
aparecerão quando Chokhmah e Binah, nomes das 2º e 3º sefirot, sejam emanadas.

Kether é a mônada existente sem atributos perceptíveis, mas, no entanto, contendo


todos eles. Por isso, ela contém as potencialidades de todas as coisas. Não podemos
definir Kether, só podemos nos referir a ela. A experiência espiritual atribuída a Kether é
chamada de “União com Deus”: - objetivo e fim de toda experiência mística ou alquímica.
Não é extraordinário localizar aqui como virtude aquela da realização, da conclusão do
grande trabalho alquímico, o retorno final. Mas encontraremos outros títulos para
referirmo-nos a ela, tais como Existência de existências, o ponto primordial, o ponto no
círculo, o macroposo inicial, a luz interna, Ele, a cabeça branca e seu arcanjo é Metatron.

A energia de Kether se espalha e esse primeiro dinamismo, esse ponto em


movimento traça uma linha que vai para a segunda sefira, Chokhmah: - a sabedoria. Essa
expansão da força desorganizada e não compensada seria, antes, mais uma energia
incontrolável: - o grande estímulo do Universo. Mas é impossível compreendê-la sem
associá-la com Binah, a terceira sefira da árvore e a primeira sefira organizadora e
estabilizadora, Binah: - a compreensão. Se os títulos atribuídos a Chokhmah são Ab, o
pai supremo, tetragrammaton, IHVH, Yod do tetragrammaton (muitas vezes representado
pela letra J, nas línguas latinas) e se os símbolos que estão ligados a ele são o falo, a pedra
em pé, - ereta - a torre, a vara do poder que sobe, não nos surpreenderemos em ver e ouvir
em Binah (a compreensão), ima, a mãe sombria, Elhoim, a brilhante mãe fértil, o Grande
Mar, Mara, a raiz de Maria e reconhecê-la no cálice, a taça, o Yoni (termo hindu e
gnóstico que designa os órgãos sexuais da mulher), o vestido exterior de dissimulação.

Assim, Kether é o ser puro, todo poderoso, mas não ativo. Quando uma atividade
emana dela, que chamamos de Chokhmah, é um fluxo descendente de atividade pura, que
é a força dinâmica do Universo e que se estabiliza e toma forma em Binah. A Unidade
Kether é uma mônada que se dá para ser vista em duas Sefirot. Elas formam assim a
Suprema Tríade. A unidade do princípio sob seus dois aspectos diferenciados pode ser
representada por um triângulo: Kether, Chokhmah, Binah. Os Cabalistas nomeiam a
primeira tríade KaHaB, ‫כחב‬, sigla composta pelos nomes iniciais dessas Sefirot.

O Delta dos nossos templos é um triângulo desse tipo? Sim, diríamos, ainda, que
criamos aqui a tríade suprema, mas também a Mônada Pitagórica. Nosso Delta é a
consubstancialidade do Espírito manifestado (a energia), matéria (a forma) e o universo
seu filho. Ele é colocado no lado dos mundos superiores, isto para nós quer dizer, no
Oriente. Na outra extremidade, no mundo da formação, considerado inferior, porque mais
longe da origem, existe o mesmo simbolismo. Sob uma outra forma, Yakin e Boaz
representam, na fase do mundo da dualidade, os dois aspectos diferenciados, mas
separados da unidade ideal do Delta, que os contém em ideação, onde ainda estão unidos
na perfeição andrógina. Pode-se dizer que, desde o topo do Delta, passando através de
seus pontos baixos, conectados às colunas do Templo, são desenhados os pilares da árvore
da vida, ao mesmo tempo as esferas de luz e os caminhos pelos quais se atualiza a
transcendência.

Por existir "e" na androginia inaugural, a gênese nos oferece, a partir deste "e",
uma categoria de pensamento. O que se propõe, não é que Deus existe ou não existe; é
que é necessário que ali exista "e" para que haja uma relação de natureza, caso contrário
é o caos, o magma. Este "e" nos diz para tornar o masculino e o feminino, o Eu e o você,
o indivíduo e o coletivo harmonizados em uma unidade. É preciso, pois, rigor e
misericórdia. Para que haja um filho ou uma filha, deve haver realmente pai e mãe, ab e
ima, caso contrário, é o magma psíquico e social; sem o “e”, é a desintegração da
sociedade. É a barbaridade do politeísmo que oferece seus monstros que têm por nome
estupro, crime, incesto, eliminação do outro. Quando não há mais a conjunção, mesmo
quando há indiferença, não há realidade, há apenas humanidades não relacionadas com a
natureza Humana. Não há mais a presença da transcendência humana que é a humanidade
na justiça ou na benevolência.
Emfim, Yakin e Boaz que se encontram à entrada do Templo da Sabedoria são o
símbolo do aspecto dual de toda nossa experiência no mundo objetivo ou Reino das
Sensações.

Representam os dois princípios complementares humanizados em nossos dois


olhos, na dualidade manifestada em quase todos nossos órgãos, nos dois lados, direito e
esquerdo de nosso organismo, e nos dois sexos que se integram à espécie humana e se
refletem em todos os reinos da vida e da natureza.

Cosmicamente correspondem aos dois Princípios: - da Atividade e da Inércia, da


Energia e da Matéria, da Essência e da Substância, representados pelo enxofre e o Sal na
Câmara de Reflexão e, metafisicamente, pelos dois aspectos masculino e feminino da
Divindade, que como Pai e Mãe Celestes, como deuses e deusas, em seus aspectos
particulares, encontram-se praticamente em todas as religiões.

Yakin e Boaz assinalam os limites do Mundo criado, os limites do mundo profano,


de que a Vida e a Morte são a antinomía extrema de um simbolismo que tende para um
equilíbrio que jamais será conseguido. As forças construtivas não podem agir senão
quando as forças destrutivas tiverem terminado sua tarefa. Essas forças opostas são
“necessárias” uma à outra. Não se pode conceber a Coluna Yakin sem a Coluna Boaz, o
calor sem o frio, ou a luz sem as trevas. Todo ser vivo encontra-se constantemente num
estado de equilíbrio instável, formado pela criação de células novas e a eliminação de
células mortas. As novas gerações não podem afirmar-se senão à medida que as antigas
lhes cedam o lugar.

Essas duas Colunas são a imagem exata do Mundo, e é conveniente que este fique
fora do Templo! O Templo é sustentado por Pilares, que se situam no mundo dos
Arquétipos, onde tudo se funde numa Luz cujo brilho é Incorruptível.

4 – CONCLUSÃO

No princípio, a Cabala nos acentua nossa carência essencial da compreensão do


Universo em que nós vivemos. Mas o estudo gradual e apropriadamente dirigido da
Cabala constitui um desafio intelectual, que nos oferece a oportunidade de elevar-nos de
nosso mundo material através de nossa auto-perfeição moral, ajudando-nos a obter uma
sensação maior da Presença de Deus, e portanto, consolida nossa Fé n’Ele. Sem dúvida,
antes de estudar a Cabala e de esperar qualquer classe de elevação espiritual verdadeira,
a pessoa deve exercitar sua Fé em Deus e sua Moralidade. Somente assim, então, alguém
poderá aproximar-se de Deus mediante a prática das 10 Sefirot e “doando-se” a outros
seres. Uma vela acesa não perde sua luz própria quando acendem-se outras velas que não
estavam acesas. Pelo contrário, quanto mais velas acesas, maior luz multidimensional se
reflete sobre ela.

5 – BIBLIOGRAFIA
Bíblia Sagrada. Tradução de Padre Antônio Pereira de Figueiredo. São Paulo: Editora
Paumape Ltda., 1979.
______. Traduzida em português por João Ferreira de Almeida. 2ª ed. São Paulo:
Sociedade Bíblica do Brasil, 1993.

BOUCHER, J. A Simbólica Maçônica ou a arte real reeditada e corrigida de acordo


com as regras da simbólica esotérica e tradicional. Ed. São Paulo: Editora Pensamento,
1997. 385p. (Tradução de Fraderico Ozanam Pessoa de Barros)

Grande Loja Maçônica do Estado da Paraíba. Ritual do Aprendiz Maçom: Grau 1; Rito
Escocês Antigo e Aceito. João Pessoa, Editora Universitária/UFPB, 1992. 176p.

http://www.artefolk.com.br/livros/a-doutrina-secreta.pdf (acessado em 10/06/2017/).

https://kupdf.com/download/a-doutrina-secreta-vol-2-ndash-simbolismo-arcaico-
universal_58ee6197dc0d609f04da9822_pdf (acessado em 10/06/2017/).

Pérolas Maçônicas – Simbolismo das Cores na Franco-Maçonaria – Gilson da Silveira


Pinto – Traduções - Editora Maçônica “A Trolha” – 1998 – pág. 151.

_____________________

* O autor é Ex-Venerável Mestre da Loja Maçônica de Estudos e Pesquisas Renascença n° 1 e da Loja


Simbólica Professor Leônidas Santiago n° 16. Atual Delegado Litúrgico da Inspetoria Litúrgica 1ª Região
da Paraíba do REAA. É ecofisiologista, agrônomo com grau de doutor em Recursos Naturais.

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