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04/01/24, 21:34 A Futuridade do Arquétipo – Bibliot3ca FERNANDO PESSOA

Bibliot3ca FERNANDO PESSOA

E-Mail: revista.bibliot3ca@gmail.com – Bibliotecário- J. Filardo

A Futuridade do Arquétipo

Tradução J. Filardo

Contribuição Bro. John Slifko

Por Cologero

Em verdade, em verdade vos digo que quem não recebe o reino de Deus como uma
criança não entrará nele.
~ Marcos 10:15

O clímax da Carta sobre o Mago é a transformação do arquétipo Criança ou Puer no


arquétipo do Eu representado pelo Mago.

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Analogia e Brincadeira

O valor de uma analogia depende da qualidade da experiência de alguém. Mas o


método de analogia corresponde à “concentração sem esforço”. Especificamente, a
analogia é diretamente intuída ou não é. O intelecto racional não é de ajuda, exceto como
trabalho preparatório. Essa preparação exige o acúmulo de experiências e estudo dos
ensinamentos. Só assim a faculdade de percepção imediata de correspondências análogas
pode ser desenvolvida. Nós lemos na Carta:

A prática da analogia no plano intelectual da consciência não exige, de fato, nenhum


esforço; qualquer um percebe (“vê”) correspondências análogas ou não as percebe ou as
“vê”. Assim como o mágico ou malabarista teve que treinar e trabalhar por um longo
tempo antes de atingir a capacidade de concentração sem esforço, similarmente, aquele
que faz uso do método de analogia no plano intelectual deve ter trabalhado muito – ter
adquirido longa experiência e ter acumulado os ensinamentos que ela exige – antes de
atingir a faculdade de percepção imediata de correspondências análogas, antes de se
tornar um “mago” ou “malabarista” que faça uso da analogia dos seres e das coisas sem
esforço como em um jogo.

Como uma forma de “brincadeira”, o método de analogia se torna quase infantil. A


criança brinca em vez de trabalhar, mas está concentrada, com uma atenção completa e
indivisa. Assim, o Arcano do Mago representa o gênio intelectual que Tomberg define
como a visão da unidade de seres e coisas através da percepção imediata de suas
correspondências – através da consciência concentrada sem esforço.

A Criança Interior

Analogamente, a atitude da criança precisa ser nossa atitude quando nos aproximamos
do reino de Deus: para mais uma vez se tornar inteiro e indiviso. Para ter certeza, isso não
significa, em absoluto, tornar-se pueril; parecer infantil não é o mesmo que ser infantil.

Há conversas hoje sobre o despertar da “Criança Interior” como se isso fosse algo difícil,
para não dizer um resultado desejável. Se você faz beicinho quando não consegue o que
quer, você a acordou.

Não, prática psicocirúrgica é a transformação da consciência subindo de um plano a


outro. Assim, tornar-se novamente como uma criança significa recapitular as qualidades
infantis em um nível mais elevado de consciência, isto é, o gênio intelectual. A criança
“carrega apenas cargas fáceis e torna todos os seus jugos leves”.

Harmonia e Equilíbrio

Tomberg refere-se a Carl Jung e Friedrich Schiller para ilustrar seu ponto. O Mago
representa o homem

Que alcançou harmonia e equilíbrio


Entre a espontaneidade do inconsciente (conforme entendido por Jung)

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E a ação deliberada da consciência (como um “eu” ou ego)

Em outras palavras, esse estado é a síntese dos elementos conscientes e inconscientes da


personalidade. Isso corresponde ao processo de “individuação” conforme descrito por
Jung. Esta é a passagem de Ensaios sobre uma ciência da mitologia de Jung e Kerenyi
referenciada na carta.

A Ciência da Mitologia[1]

Uma das características essenciais do tema criança é sua futuridade. A criança é um


futuro em potencial, portanto, a ocorrência do motivo criança na psicologia do indivíduo
significa, via de regra, uma antecipação de desenvolvimentos futuros, embora à primeira
vista possa parecer uma configuração retrospectiva. A vida é um fluxo, um fluxo para o
futuro, e não uma parada ou retorno de líquido, portanto, não é surpreendente que
muitos dos salvadores mitológicos sejam deuses crianças. Isso corresponde exatamente à
nossa experiência na psicologia do indivíduo, que mostra que a “criança” abre o caminho
para uma futura mudança de personalidade.

No processo de individuação, ela antecipa a figura que vem da síntese de elementos


conscientes e inconscientes na personalidade. Ela é, portanto, um símbolo unificador que
une os opostos; um mediador, portador de cura, isto é, aquele que faz o todo. Por ter esse
significado, o motivo criança é capaz das numerosas transformações mencionadas acima:
ele pode ser expresso pela redondeza, pelo círculo ou esfera, ou então pela quaternidade
como outra forma de totalidade. Eu chamei de “eu” essa totalidade que transcende a
consciência. O propósito do processo de individuação é a síntese do eu. De outro ponto
de vista, o termo “enteléquia” pode ser preferível a “síntese”. Existe uma razão empírica
pela qual “enteléquia” é, em certas condições, mais adequada: os símbolos da totalidade
frequentemente ocorrem no início do processo de individuação, na verdade, eles podem
ser observados nos primeiros sonhos da primeira infância.

Essa observação diz muito sobre a existência a priori da totalidade potencial, e, por isso, a
ideia de enteléquia se recomenda instantaneamente. Mas na medida em que o processo
de individuação ocorre, empiricamente falando, como uma síntese, parece,
paradoxalmente, que algo já existente estava sendo montado. Desse ponto de vista, o
termo “síntese” também é aplicável.

Enteléquia e Síntese

Essa passagem de Jung e Kerenyi ilustra lindamente os pontos de Tomberg. A criança


não é o objetivo, mas ao invés, ela aponta o caminho até o objetivo. De uma forma
instintiva, a criança une os opostos dos elementos conscientes e inconscientes. Isto é, ela é
a analogia do Eu, que é a culminação do processo de individuação.

O eu é o resultado de uma síntese, isto é, dos elementos conscientes e inconscientes. É


também uma enteléquia, isto é, aquela atualização de um potencial. Em outras palavras,
o Eu existe primeiro como uma possibilidade, mas o trabalho de síntese o torna real.

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Note como essa compreensão esotérica da atualização difere das concepções comuns hoje
em dia. O Eu representa a Totalidade; ele é transcendente, não empírico. O caminho
Hermético leva à totalidade, a um único ser unificado.

Os ideais contemporâneos de auto-realização envolvem a realização de diferentes


possibilidades empíricas em si mesmas. Assim, pode-se ser um padeiro ou um cientista
de foguetes, um amante e uma mãe, um homem ou uma mulher, à vontade. As únicas
exigências são desejo e oportunidade. No entanto, é claro que nenhuma dessas escolhas
representa a totalidade, mas apenas uma abundância de partes.

O Verdadeiro e o Belo

Friedrich Schiller descreve o mesmo processo de maneira diferente como a síntese de:

Consciência intelectual que impõe deveres e regras


A natureza instintiva como a motivação para brincar (Spieltrieb)

O verdadeiro e o desejado [a palavra é “intenção” em alemão] encontra sua síntese no belo,


que tem dois efeitos:

Ele alivia o fardo associado aos deveres do verdadeiro


Ele levanta a escuridão das forças instintivas ao nível da luz e da consciência

Então, quem vê a beleza no que é verdadeiro, não pode deixar de amá-la. Então o
elemento de restrição imposto pelo dever desaparecerá, tornando-se, ao invés, um
deleite. Ter em mente que não é todo desejo que é belo, mas apenas aqueles que
correspondem à verdadeira natureza das coisas. Quando isso é alcançado:

O trabalho é transformado em brincadeira e a concentração sem esforço torna-se possível.

Publicado originalmente em MEDITAÇÕES SOBRE O TAROT

Nota:

[1] de Ensaios sobre uma ciência da mitologia de Jung e Kerenyi


Agradecemos a Matthew Anderson por localizar a passagem de Jung / Kerenyi.

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