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SOLUÇÃO – É forçoso admitirmos a igualdade Respondeo dicendum quod necesse est ponere
das pessoas divinas. Pois, segundo o Filósofo, o aequalitatem in divinis personis. Quia secundum
igual é uma quase negação do menor e do philosophum, in X Metaphys., aequale dicitur
maior5(X Metaphys., c. 5.). Ora, não podemos, nas quasi per negationem minoris et maioris. Non
pessoas divinas, introduzir o conceito de maior autem possumus in divinis personis ponere
nem de menor; porque, como diz Boécio, a aliquid maius et minus, quia, ut Boetius dicit, in
diferença de divindade resulta da opinião dos libro de Trin., eos differentia, scilicet deitatis,
que a aumentam ou a diminuem, como os comitatur, qui vel augent vel minuunt, ut Ariani,
Arianos que, fazendo variar a Trindade pelos qui gradibus meritorum Trinitatem variantes
graus dos méritos, a destroem e introduzem nela distrahunt, atque in pluralitatem deducunt. Cuius
a pluralidade6(De Trin., c. 1.). E a razão disso está em ratio est, quia inaequalium non potest esse una
não poderem seres desiguais ter a mesma quantitas numero. Quantitas autem in divinis non
quantidade numérica. Ora, a quantidade em est aliud quam eius essentia. Unde relinquitur
Deus não é senão a sua essência mesma. Donde quod, si esset aliqua inaequalitas in divinis
resulta, que se existisse qualquer desigualdade personis, quod non esset in eis una essentia, et
nas pessoas divinas, elas não teriam a mesma sic non essent tres personae unus Deus, quod est
essência e, portanto, não constituiriam um só impossibile. Oportet igitur aequalitatem ponere
Deus, o que é impossível. Logo, devemos in divinis personis.
admitir a igualdade das pessoas divinas.
1.Metaphys., c. 15.; 2.Q. 39, a. 2.; 3.VI de Trin., c. 10.; 4.In Symbolo.; 5.X Metaphys., c. 5.; 6.De
Trin., c. 1.; 7.VI de Trin., c. 8.; 8.Fulgentius.; 9.De Fide ad Petrum, c. 1.; 10.9 cap., de div. nom.;
11.31 dist., I Sent.
O segundo discute-se assim. – Parece que a Ad secundum sic proceditur. Videtur quod
pessoa procedente não é coeterna com o seu persona procedens non sit coaeterna suo
princípio, como o Filho, com o Pai. principio, ut filius patri.
1. – Pois Ario assinala doze modos de Arius enim duodecim modos generationis
geração1(Liber de generatione divina ad Marium Victorinum, n. 4.) . O assignat. Primus modus est iuxta fluxum lineae a
primeiro modo é o pelo qual a linha provém do puncto, ubi deest aequalitas simplicitatis.
ponto, no que falta a igualdade da simplicidade. Secundus modus est iuxta emissionem radiorum
O segundo, pelo qual a emissão dos raios a sole, ubi deest aequalitas naturae. Tertius
provém do sol, no que falta a igualdade de modus est iuxta characterem, seu impressionem a
natureza. O terceiro, pelo qual o caráter ou a sigillo, ubi deest consubstantialitas et potentiae
impressão provem do carimbo, no que falta a efficientia. Quartus modus est iuxta
consubstancialidade e a eficiência do poder. O immissionem bonae voluntatis a Deo, ubi etiam
quarto, pelo qual a imissão da boa vontade deest consubstantialitas.
provém de Deus, no que também falta a
consubstancialidade.
O quinto, pelo qual provem o acidente da Quintus modus est iuxta exitum accidentis a
substância; mas ao acidente falta a subsistência. substantia, sed accidenti deest subsistentia.
O sexto, pelo qual a abstração da espécie Sextus modus est iuxta abstractionem speciei a
provém da matéria, da mesma maneira que o materia, sicut sensus accipit speciem a re
sentido recebe a espécie, da coisa sensível; no sensibili, ubi deest aequalitas simplicitatis
que falta a igualdade de espiritualidade. O spiritualis. Septimus modus est iuxta
sétimo, pelo qual a excitação da vontade provém excitationem voluntatis a cogitatione, quae
do conhecimento, cuja excitação é temporal. O quidem excitatio temporalis est. Octavus modus
oitavo é pela transfiguração, da maneira pela est iuxta transfigurationem, ut ex aere fit imago,
qual do ar se faz a imagem; e esse é material. O quae materialis est. Nonus modus est motus a
nono, pelo qual o movimento provém do motor, movente, et hic etiam ponitur effectus et causa.
onde também há efeito e causa. O décimo, pelo Decimus modus est iuxta eductionem specierum
qual as espécies provém gênero, o que não a genere, qui non competit in divinis, quia pater
convém a Deus, pois, o Pai não é predicado do non praedicatur de filio sicut genus de specie.
Filho, como o gênero da espécie. O undécimo é Undecimus modus est iuxta ideationem, ut arca
o pela ideação, como a arca exterior procede da exterior ab ea quae est in mente. Duodecimus
que está na mente. O duodécimo, pelo qual os modus est iuxta nascentiam, ut homo est a patre,
seres que nascem, p. ex., um homem, procede de ubi est prius et posterius secundum tempus. Patet
um pai, no que há anterioridade e posterioridade ergo quod in omni modo quo aliquid est ex
no tempo. É, portanto, claro que, em todos os altero, aut deest aequalitas naturae, aut aequalitas
modos pelos quais uma coisa procede de outra, durationis. Si igitur filius est a patre, oportet
ou falta a igualdade de natureza ou a de duração. dicere vel eum esse minorem patre, aut
Se, pois, o Filho procede do Pai, é necessário posteriorem, aut utrumque.
dizer ou que ele é menor que o Pai, ou que é
posterior, ou uma e outra coisa.
2. Demais. – Tudo o que provém de outro tem Praeterea, omne quod est ex altero, habet
princípio. Logo, o Filho não é eterno e nem o principium. Sed nullum aeternum habet
Espírito Santo. principium. Ergo filius non est aeternus, neque
spiritus sanctus.
3. Demais. – Tudo o que se corrompe deixa de Praeterea, omne quod corrumpitur, desinit esse.
existir. Logo, tudo o que é gerado começa a Ergo omne quod generatur, incipit esse, ad hoc
existir, pois, o gerado o é, para existir. Ora, o enim generatur, ut sit. Sed filius est genitus a
Filho foi gerado pelo Pai. Logo começa a existir patre. Ergo incipit esse, et non est coaeternus
e não é coeterno com o Pai patri.
4. Demais. – Se o Filho foi gerado pelo Pai, ou Praeterea, si filius genitus est a patre, aut semper
foi sempre ou devemos admitir um instante em generatur, aut est dare aliquod instans suae
que foi gerado. Se sempre foi gerado, como toda generationis. Si semper generatur; dum autem
coisa gerada é imperfeita, segundo claramente o aliquid est in generari, est imperfectum, sicut
mostram as sucessivas, como o tempo e o patet in successivis, quae sunt semper in fieri, ut
movimento, que estão sempre em vir a ser, tempus et motus, sequitur quod filius semper sit
resulta que o Filho é sempre imperfeito, o que é imperfectus; quod est inconveniens. Est ergo
inadmissível. Logo, devemos admitir de sorte dare aliquod instans generationis filii. Ante illud
que, antes desse momento, o Filho não existia. ergo instans filius non erat.
Mas, em contrário, diz Atanásio, no Símbolo Sed contra est quod Athanasius dicit, quod totae
que todas as três pessoas são coeternas entre tres personae coaeternae sibi sunt.
si2(In Symbolo, n. 39.).
SOLUÇÃO – Devemos admitir que o Filho é Respondeo dicendum quod necesse est dicere
coeterno com o Pai. Para evidenciá-lo é mister filium esse coaeternum patri. Ad cuius
notar que, o ser tudo o que existe, em virtude de evidentiam, considerandum est quod aliquid ex
um princípio, posterior ao seu princípio, pode principio existens posterius esse suo principio,
dar-se de dois modos: relativamente ao agente potest contingere ex duobus, uno modo, ex parte
ou relativamente à ação. – Relativamente ao agentis; alio modo, ex parte actionis. Ex parte
agente, devemos distinguir entre os agentes agentis quidem, aliter in agentibus voluntariis,
voluntários e os naturais. Nos voluntários, por aliter in agentibus naturalibus. In agentibus
causa da eleição no tempo; pois, assim como quidem voluntariis, propter electionem temporis,
está no poder de um agente voluntário escolher a sicut enim in agentis voluntarii potestate est
forma que vai conferir ao efeito, segundo eligere formam quam effectui conferat, ut supra
dissemos3(Q. 41, a. 2.), assim no poder do mesmo está dictum est, ita in eius potestate est eligere tempus
escolher o tempo em que produzirá esse efeito. in quo effectum producat. In agentibus autem
Com os agentes naturais, porém, tal se dá porque naturalibus hoc contingit, quia agens aliquod non
esses agentes não tem originariamente a a principio habet perfectionem virtutis naturaliter
perfeição da virtude natural para agir, mas a ad agendum, sed ei advenit post aliquod tempus;
recebem só depois de certo tempo; assim, o sicut homo non a principio generare potest. Ex
homem não pode gerar desde que começa a parte autem actionis, impeditur ne id quod est a
existir. – Relativamente à ação, é impossível o principio simul sit cum suo principio, propter
que provém de um princípio ser simultâneo com hoc quod actio est successiva. Unde, dato quod
este, porque a ação é sucessiva. Por onde, dado aliquod agens tali actione agere inciperet statim
que um agente viesse a agir, deste modo, cum est, non statim eodem instanti esset effectus,
imediatamente depois de ter começado a existir, sed in instanti ad quod terminatur actio.
o efeito não existiria concomitantemente, no
mesmo instante, mas no instante em que
terminasse a ação. Manifestum est autem secundum praemissa,
Ora, é claro, pelo que demonstramos4(Ibid.), que o quod pater non generat filium voluntate, sed
Pai não gera o Filho pela vontade, mas pela natura. Et iterum, quod natura patris ab aeterno
natureza; e demais, que a natureza do Pai é perfecta fuit. Et iterum, quod actio qua pater
perfeita abeterno; e ainda que a ação pela qual o producit filium, non est successiva, quia sic filius
Pai produz o Filho não é sucessiva, porque então Dei successive generaretur, et esset eius
o Filho de Deus seria gerado sucessivamente, e a generatio materialis et cum motu, quod est
sua geração seria material e sujeita ao impossibile. Relinquitur ergo quod filius fuit,
movimento, o que é impossível. Donde se quandocumque fuit pater. Et sic filius est
conclui, que o Filho existiu desde que existiu o coaeternus patri, et similiter spiritus sanctus
Pai. E portanto é coeterno com o Pai. E, utrique.
semelhantemente, o Espírito Santo, com ambos.
RESPOSTA À TERCEIRA. – Toda corrupção é Ad tertium dicendum quod omnis corruptio est
uma certa mutação; donde, tudo o que se mutatio quaedam, et ideo omne quod
corrompe começa a não ser e cessa de ser. Ora, a corrumpitur, incipit non esse, et desinit esse. Sed
geração divina não é uma transmutação, como se generatio divina non est transmutatio, ut dictum
disse7(Q. 27, a. 2.). Por isso, o Filho sempre é gerado e est supra. Unde filius semper generatur, et pater
o Pai sempre gera. semper generat.
RESPOSTA À QUARTA. – No tempo, uma coisa Ad quartum dicendum quod in tempore aliud est
é o seu elemento indivisível, que é o instante e quod est indivisibile, scilicet instans; et aliud est
outra, o persistente, que é o tempo. Mas na quod est durans, scilicet tempus. Sed in
eternidade, o próprio instante é indivisível e aeternitate ipsum nunc indivisibile est semper
sempre existente, como se disse8(Q. 10, a. 2, ad 1; a. 4, ad 2.). stans, ut supra dictum est. Generatio vero filii
Ora, a geração do Filho não é num instante do non est in nunc temporis, aut in tempore, sed in
tempo ou no tempo, mas na eternidade. E aeternitate. Et ideo, ad significandum
portanto, para exprimirmos a presencialidade e a praesentialitatem et permanentiam aeternitatis,
permanência da eternidade, podemos, com potest dici quod semper nascitur, ut Origenes
Origines, dizer que sempre nasce9(In Ioan., t. 1.). Mas, dixit. Sed, ut Gregorius et Augustinus dicunt,
com Gregório10(Moral., l. XXIX, c. 1.) e Agostinho11(L. Octog. melius est quod dicatur semper natus, ut ly
Trium Quaestion., q. 37.), melhor é dizermos sempre semper designet permanentiam aeternitatis, et ly
nascido, designando sempre a permanência da natus perfectionem geniti. Sic ergo filius nec
eternidade, e nascido, a perfeição do ser gerado. imperfectus est, neque erat quando non erat, ut
Assim, pois, o Filho não é imperfeito, nem Arius dixit.
existia quando ainda não existia, como disse
Ário.
1.Liber de generatione divina ad Marium Victorinum, n. 4.; 2.In Symbolo, n. 39.; 3.Q. 41, a. 2.;
4.Ibid.; 5.De Verbis Domini, serm. Ad pop. 38 (al. De Verbis Evang. 117), c. 6.; 6.Parte III, c.
10.; 7.Q. 27, a. 2.; 8.Q. 10, a. 2, ad 1; a. 4, ad 2.; 9.In Ioan., t. 1.; 10.Moral., l. XXIX, c. 1.; 11.L.
Octog. Trium Quaestion., q. 37.
Art. 3 – Se nas Pessoas divinas há a ordem da ARTICULUS 3
natureza.
(I Sent., dist. XII, a. 1; dist. XX, a. 3; De Pot., q. 10, a. 3; Contra errors Graec., parte II, cap.
XXXI).
O terceiro discute-se assim. – Parece que nas Ad tertium sic proceditur. Videtur quod in
pessoas divinas não há a ordem da natureza. divinis personis non sit ordo naturae.
1. – Pois, tudo o que existe em Deus é essência Quidquid enim in divinis est, vel est essentia vel
ou pessoa ou noção. Ora, a ordem da natureza persona vel notio. Sed ordo naturae non
não significa a essência, nem nenhuma das significat essentiam, neque est aliqua
pessoas ou das noções. Logo, a ordem da personarum aut notionum. Ergo ordo naturae non
natureza não existe em Deus. est in divinis.
2. Demais. – Em todos os seres onde há a ordem
da natureza, um é anterior ao outro, ao menos Praeterea, in quibuscumque est ordo naturae,
pela natureza e pelo conceito. Ora, nas pessoas unum est prius altero, saltem secundum naturam
divinas, não há anterior nem posterior, como diz et intellectum. Sed in divinis personis nihil est
Atanásio (no Símbolo). Logo, nas pessoas prius et posterius, ut Athanasius dicit. Ergo in
divinas não há a ordem da natureza. divinis personis non est ordo naturae.
3. Demais. – Tudo o ordenado é distinto. Ora, a
natureza, em Deus, não é distinta. Portanto, não Praeterea, quidquid ordinatur, distinguitur. Sed
é ordenada. Logo, não há em Deus a ordem da natura in divinis non distinguitur. Ergo non
natureza. ordinatur. Ergo non est ibi ordo naturae.
4. Demais. – A natureza divina é a sua essência.
Ora, em Deus, não há a ordem da essência. Praeterea, natura divina est eius essentia. Sed
Logo, nem a da natureza. non dicitur in divinis ordo essentiae. Ergo neque
Mas, em contrário. – Onde quer que haja ordo naturae.
pluralidade sem ordem, há confusão. Ora, nas Sed contra, ubicumque est pluralitas sine ordine,
pessoas divinas não há confusão, como diz ibi est confusio. Sed in divinis personis non est
Atanásio1(Ibid.). Logo; há ordem. confusio, ut Athanasius dicit. Ergo est ibi ordo.
SOLUÇÃO – A ordem supõe sempre relação
com um princípio. Ora, a palavra princípio tem Respondeo dicendum quod ordo semper dicitur
múltiplos sentidos, a saber: o locativo, como o per comparationem ad aliquod principium. Unde
ponto; o intelectivo, como o princípio da sicut dicitur principium multipliciter, scilicet
demonstração; o relativo a cada causa. Assim secundum situm, ut punctus, secundum
também a ordem. Mas, em Deus, o princípio é intellectum, ut principium demonstrationis, et
relativo à origem, sem idéia de prioridade, como secundum causas singulas; ita etiam dicitur ordo.
vimos2(Q. 33, a. 1 ad 3). Por onde, há necessariamente In divinis autem dicitur principium secundum
em Deus a ordem, quanto à origem, sem idéia de originem, absque prioritate, ut supra dictum est.
prioridade. E essa é a ordem da natureza, Unde oportet ibi esse ordinem secundum
conforme Agostinho, quando diz: Não por ser originem, absque prioritate. Et hic vocatur ordo
um anterior ao outro, mas por ser um procedente naturae, secundum Augustinum, non quo alter sit
do outro3(Contra Maximin., l. II (al. III), c. 14.). prius altero, sed quo alter est ex altero.
ARTICULUS 4
Art. 4 – Se o Filho é igual ao Pai em
grandeza. Ad quartum sic proceditur. Videtur quod filius
(I Sent., dist. XIX, q. 1, a. 2; IV Cont. Gent., cap. VII, XI. In Boet. De Trin., q. 3, a. 4). non sit aequalis patri in magnitudine.
O quarto discute-se assim. – Parece que o Filho
Dicit enim ipse, Ioan. XIV, pater maior me est; et
não é igual ao Pai em grandeza.
apostolus, I Cor. XV, ipse filius subiectus erit illi
1. – Pois, ele próprio o diz, na Escritura (Jo 14, qui sibi subiecit omnia.
28): O Pai é maior do que eu. E o Apóstolo (1
Cor 15, 28): O mesmo Filho estará sujeito Praeterea, paternitas pertinet ad dignitatem
aquele que sujeitou a ele todas as coisas. patris. Sed paternitas non convenit filio. Ergo
2. Demais. – A paternidade é própria à non quidquid dignitatis habet pater, habet filius.
dignidade do Pai. Ora, a paternidade não Ergo non est aequalis patri in magnitudine.
convêm ao Filho. Logo, nem toda dignidade que Praeterea, ubicumque est totum et pars, plures
tem o Pai tem o Filho. Portanto, não é igual ao partes sunt aliquid maius quam una tantum vel
Pai em grandeza. pauciores; sicut tres homines sunt aliquid maius
3. Demais. – Onde há todo e partes, muitas são quam duo vel unus. Sed in divinis videtur esse
mais que uma só ou algumas; assim, três totum universale et pars, nam sub relatione vel
homens são mais que dois ou um. Ora, em Deus, notione plures notiones continentur. Cum igitur
o todo é universal e parte; pois, a relação ou a in patre sint tres notiones, in filio autem tantum
noção inclui várias noções. Portanto, como no duae, videtur quod filius non sit aequalis patri.
Pai há três noções, e no Filho somente duas, não Sed contra est quod dicitur Philip. II, non
é este igual ao Pai. rapinam arbitratus est esse se aequalem Deo.
O quinto discute-se assim. – Parece que o Filho Ad quintum sic proceditur. Videtur quod filius
não está no Pai e inversamente. non sit in patre, et e converso.
1. – Pois, segundo o Filósofo1 (IV Physic., c. 3.), de oito Philosophus enim, in IV Physic., ponit octo
modos pode um ser existir em outro; e por modos essendi aliquid in aliquo; et secundum
nenhum deles o Filho está no Pai; e nullum horum filius est in patre, aut e converso,
inversamente, como claramente o verá quem ut patet discurrenti per singulos modos. Ergo
examinar cada um desses modos. Logo, o Filho filius non est in patre, nec e converso.
não está no Pai, nem inversamente.
2. Demais. – O que saiu de um ser já neste não Praeterea, nihil quod exivit ab aliquo, est in eo.
está. Ora, o Filho abeterno saiu do Pai, segundo Sed filius ab aeterno exivit a patre, secundum
a Escritura (Mq 5, 2): Cuja geração é desde o illud Micheae V, egressus eius ab initio, a diebus
princípio, desde os dias da eternidade. Logo, o aeternitatis. Ergo filius non est in patre.
Filho não está no Pai.
3. Demais. – Um dos contrários não está no Praeterea, unum oppositorum non est in altero.
outro. Ora, o Filho e o Pai opõem-se Sed filius et pater opponuntur relative. Ergo unus
relativamente. Logo, um não pode estar no non potest esse in alio.
outro.
ARTICULUS 6
Art. 6 – Se o Filho é igual ao Pai pelo poder.
(I Sent., dist. XX, a. 2; IV Cont. Gent., cap. VII, VIII). Ad sextum sic proceditur. Videtur quod filius
non sit aequalis patri secundum potentiam.
O sexto discute-se assim. – Parece que o Filho
não é igual ao Pai pelo poder. Dicitur enim Ioan. V, non potest filius a se facere
quidquam, nisi quod viderit patrem facientem.
1. – Pois, diz a Escritura (Jo 5, 19): O Filho não
Pater autem a se potest facere. Ergo pater maior
pode de si mesmo fazer coisa alguma senão o
est filio secundum potentiam.
que vir fazer ao Pai. Mas, o Pai pode fazer por
si. Logo, o Pai é maior que o Filho, pelo poder. Praeterea, maior est potentia eius qui praecipit et
2. Demais. – Maior é o poder de quem manda e docet, quam eius qui obedit et audit. Sed pater
ensina do que o de quem obedece e ouve. Ora, o mandat filio, secundum illud Ioan. XIV, sicut
Pai manda o Filho, segundo a Escritura (Jo 14, mandatum dedit mihi pater, sic facio. Pater etiam
31): Faço o que o Pai me ordena. O Pai também docet filium, secundum illud Ioan. V, pater
ensina ao Filho, segundo ainda o Evangelho (Jo diligit filium, et omnia demonstrat ei quae ipse
5, 20): O Pai ama ao Filho e mostra-lhe tudo o facit. Similiter et filius audit, secundum illud
que faz. Enfim o Filho ouve, ainda segundo a Ioan. V, sicut audio, iudico. Ergo pater est
Escritura (Jo 5, 30): Assim como ouço, julgo. maioris potentiae quam filius.
Logo, o Pai tem maior poder que o Filho. Praeterea, ad omnipotentiam patris pertinet quod
3. Demais. – Pela sua onipotência é que o Pai possit filium generare sibi aequalem, dicit enim
gera um Filho igual a si, segundo Agostinho: Se Augustinus, in libro contra Maximin., si non
não pôde gerar um filho igual a si, onde está a potuit generare sibi aequalem, ubi est
onipotência de Deus Padre?1(Contra Maximin., L. II (al. III), c. 7.) omnipotentia Dei patris? Sed filius non potest
Ora, o Filho não pode gerar o Filho, como se generare filium, ut supra ostensum est. Non ergo
demonstrou. Logo, nem tudo o que pode a quidquid pertinet ad omnipotentiam patris, potest
onipotência do Pai o pode também o Filho. filius. Et ita non est ei in potestate aequalis.
Portanto, este não lhe é igual em poder. Sed contra est quod dicitur Ioan. V, quaecumque
Mas, em contrário, a Escritura (Jo 5, 19): Tudo pater facit, haec et filius similiter facit.
o que fizer o Pai o faz também semelhantemente
o Filho.
SOLUÇÃO – É forçoso admitirmos que o Filho Respondeo dicendum quod necesse est dicere
é igual ao Pai em poder. Pois, o poder de agir quod filius est aequalis patri in potestate.
resulta da perfeição da natureza. Assim, vemos Potentia enim agendi consequitur perfectionem
que quanto mais perfeita for a natureza de uma naturae, videmus enim in creaturis quod quanto
criatura, tanto maior será o seu poder de agir. aliquid habet perfectiorem naturam, tanto est
Porque, como demonstramos2(Q. 42, a. 4.), a essência maioris virtutis in agendo. Ostensum est autem
mesma da paternidade e da filiação divina exige supra quod ipsa ratio divinae paternitatis et
que o Filho seja igual ao Pai em grandeza, i. é, filiationis exigit quod filius sit aequalis patri in
em perfeição natural. Donde resulta que o Filho magnitudine, idest in perfectione naturae. Unde
é igual ao Pai em poder. – E o mesmo devemos relinquitur quod filius sit aequalis patri in
dizer do Espírito Santo, em relação às outras potestate. Et eadem ratio est de spiritu sancto
duas pessoas. respectu utriusque.
DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA
OBJEÇÃO. – Quando a Escritura diz: O Filho Ad primum ergo dicendum quod in hoc quod
não pode de si mesmo fazer coisa alguma– não o dicitur quod filius non potest a se facere
priva por isso de nenhum poder do Pai; pois, quidquam, non subtrahitur filio aliqua potestas
logo acrescenta: - Tudo o que fizer o Pai o faz quam habeat pater; cum statim subdatur quod
também semelhantemente o Filho. Mas essa quaecumque pater facit, filius similiter facit. Sed
expressão mostra que o Filho tem o poder, do ostenditur quod filius habet potestatem a patre, a
Pai, de quem recebeu a natureza. Por isso diz quo habet naturam. Unde dicit Hilarius, IX de
Hilário: A unidade da natureza divina é tal que o Trin., naturae divinae haec unitas est, ut ita per
Filho faz por si o que não faz de si3(IX de Trin., num. 48.). se agat filius, quod non a se agat.
RESPOSTA À SEGUNDA. – Quando a Escritura
diz que o Pai ensina e o Filho ouve, não quer Ad secundum dicendum quod in demonstratione
dizer senão que o Pai comunica a sua ciência ao patris et auditione filii, non intelligitur nisi quod
Filho e também a sua essência. No mesmo pater communicat scientiam filio, sicut et
sentido podemos entender o mandado do Pai; essentiam. Et ad idem potest referri mandatum
porque abeterno deu ao Filho, gerando-o, a patris, per hoc quod ab aeterno dedit ei scientiam
ciência e a vontade de agir. – Ou antes, devemos et voluntatem agendorum, eum generando. Vel
referir o mandado a Cristo, na sua natureza potius referendum est ad Christum secundum
humana. humanam naturam.
RESPOSTA À TERCEIRA. – Assim como a Ad tertium dicendum quod, sicut eadem essentia
mesma essência é no Pai a paternidade, e no quae in patre est paternitas, in filio est filiatio; ita
Filho, a filiação, assim pelo mesmo poder o Pai eadem est potentia qua pater generat, et qua filius
gera e o Filho é gerado. Por onde é manifesto generatur. Unde manifestum est quod quidquid
que tudo quanto pode o Pai pode o Filho. potest pater, potest filius. Non tamen sequitur
Donde, porém não se segue que este possa gerar; quod possit generare, sed mutatur quid in ad
mas que se muda o ponto de vista absoluto aliquid, nam generatio significat relationem in
(quid) o relativo a (ad aliquid). Pois, geração divinis. Habet ergo filius eandem omnipotentiam
significa relação em Deus. Tem portanto o Filho quam pater, sed cum alia relatione. Quia pater
o mesmo poder que o Pai, mas com outra habet eam ut dans, et hoc significatur, cum
relação. Porque o Pai o tem como dador, e é o dicitur quod potest generare. Filius autem habet
que se exprime quando se diz que pode gerar; o eam ut accipiens, et hoc significatur, cum dicitur
Filho, porém, o tem como quem recebe e é o que quod potest generari.
se exprime quando se diz que pode ser gerado.
1.Contra Maximin., L. II (al. III), c. 7.; 2.Q. 42, a. 4.; 3.IX de Trin., num. 48.