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A MULHER NA SOCIEDADE DE JESUS HISTÓRICO

POR MÁRCIA MAIA DA OLIVEIRA

FACULDADE

2016
A MULHER NA SOCIEDADE DE JESUS HISTÓRICO

POR MÁRCIA MAIA DA OLIVEIRA

Monografia apresentada
emcumprimento do curso de
Integralização em Teologia -
FAECAD

FACULDADE FAECAD- 2016


A MULHER NA SOCIEDADE DE JESUS HISTÓRICO

___________________________________
Autor: Márcia Maia da Mota Oliveira
___________________________________
Orientador de Conteúdo:
___________________________________
Orientador de Forma:

Aprovada em_____/_____/_____

Niterói – 2016
Epígrafe
DEDICATÓRIA

Ao meu amado esposo Davi, pela


relevância de contribuição, apoio e
motivação.
AGRADECIMENTOS

A Deus pela oportunidade de viver, pensar,


crer e principalmente de amar.

Ao corpo docente e discente da FAECAD.

A minha mãe Maria Eterna pelo carinho e


criação que me deu e por ser exemplo de
que não se deve remover os marcos, sendo
mulher guerreira, representando mulheres
com as quais convivo no meu dia a dia, nas
funções demães, sogras, filhas, amigas,
esposas, tias, cunhadas, noras.
SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO...................................................................1
2. O CONTEXTO HISTÓRICO-SOCIAL DA MULHER PALESTINENSE
CONTEMPORÂNEADEJESUS.......................................................................................5
2.1 A FAMÍLIA JUDAICA EM SUA ESTRUTURA
PATRIARCAL..................................7
2.2 A MULHER NA CONDIÇÃO DE
FILHA......................................................................8
2.3 A MULHER NA CONDIÇÃO DE
ESPOSA.................................................................10
2.4 A MULHER PALESTINENSE: A EDUCAÇÃO E A
RELIGIÃO...............................13
3. O MOVIMENTO DE JESUS COMO LIBERTADOR DA CONDIÇÃO DA
MULHER............................................................................................................................
16
3.1 MUDANÇA DE PARADIGMA - MULHERES NA
MISSÃO...................................20
3. 2 ELAS NO CERNE DO
DISCIPULADO ....................................................................22
3.3 AS PRIMEIRAS DISCÍPULAS, SEGUIDORAS DO PRINCÍPIO AO
FIM..............29
3.4 MULHERES E HOMENS – LADO A LADO NA PROMOÇÃO DO
REINO...........32
4.
CONCLUSÕES.............................................................................................................35
5. REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS........................................................................41
RESUMO.........................................................................................................................42
RESUMO

Este trabalho tem por objetivo propor uma reflexão sobre a presença da mulher
na sociedade de Jesus e a sua importância para a propagação do cristianismo. Há o
desejo nesta pesquisa de possibilitar o diálogo, sem contanto promover o que é inferior
ou superior. De acordo com Shelley (2004):

“Jesus mostrou a distinção entre seu reino e os reinos do mundo.Seus


seguidores, disse ele, representavam um outro tipo de sociedade e de
grandeza. Nos reinos deste mundo, líderes e poderosos dominam os
outros homens, mas o reino de Deus é governado de maneira santa,
pelo serviço e pelo amor” (pag. 9) .

Desde modo, pretende-se pensar como a mensagem do Reino de Deus pregada


por Jesus visava o respeito e a igualdade .

A historicidade fornece elementos para analisar a presença da mulher numa


sociedade patriarcal, onde socialmente era vista como inferior ao homem, sem direitos
sociais, submissa e perceber como a pessoa de Jesus, através de seus ensinos, parece
preconizar a importância do olhar o outro independente, de sua condição social.

Os ensinamentos de Jesus parece buscar dignificar o outro partindo da


mensagem do reino de Deus.
1. INTRODUÇÃO

“(...)Então, lhe disse a mulher samaritana: Como, sendo tu judeu, pedes de beber a mim, que
sou mulher samaritana? João 4:9

Refletir sobre a presença da mulher na sociedade de Jesus é um desafio


interessante. É importante situar a Palestina contemporânea do Jesus Histórico, região
conquistada pelos romanos em 64 a.C., anexada à Judéia em 40 a.C. no governo de
Herodes, o Grande. É neste contexto que surge o Cristianismo.

Uma sociedade patriarcal, onde socialmente a mulher era vista como inferior ao
homem, sem direitos sociais, submissa, desperta o desejo de buscar na historicidade,
elementos que levem a perceber como a pessoa de Jesus, através de seus ensinos, parece
preconizar a importância do olhar o outro independente de sua condição social. Pagola
(2014), diz que:

“Jesus traz um horizonte diferente para a vida (...) O contato


com ele convida a desprender-se de posturas rotineiras e postiças; (...)
introduz em nós algo tão decisivo como a alegria de viver, a
compaixão pelos últimos.”(p.22).

Os ensinamentos de Jesus parece buscar dignificar o outro partindo da


mensagem do reino de Deus.

Neste sentido, pensar o que significava ser mulher neste contexto social,
estimula o esforço de procurar uma metodologia que possibilite uma reflexão que
dialogue com o “Jesus histórico” tendo como foco a contextualização histórica e social
desta sociedade, devidamente referenciada com os elementosque enriqueçam a análise.

Para direcionar a reflexão, será utilizada como apoio a contribuição da história,


através dos critérios científicos e fontes literárias aceitos hoje, buscando dados que
possibilitem analisar a questão. Pagola (2014) chama a atenção para a utilização de
expressões como “provavelmente”, “talvez”, “certamente”, “tudo leva a pensar que”,
dentre outras, num esforço de se chegar à essência: “o perfil básico da pessoa de Jesus,
os traços mais característicos de sua atuação, o conteúdo e as linhas de força de sua
mensagem.”(p.18), uma vez que a história não é uma ciência exata.

Cairns (1984) diz:

“A história pode ser definida como o relato interpretado do


passado humano socialmente importante, baseado em dados
organizados e reunidos pelo método científico a partir de fontes
arqueológicas, literárias ou vivas. O historiador da Igreja deve ser tão
imparcial na coleta dos dados da história quanto o historiador secular,
muito embora reconheça que ninguém pode ser neutro diante dos
dados, uma vez que cada um tratará do material com uma estrutura
própria de interpretação.

A história da Igreja portanto, é o relato interpretado da


origem, progresso e impacto do cristianismo sobre a sociedade
humana, baseado em dados organizados e reunidos pelo método
científico a partir de fontes arqueológicas, documentais ou viva.(pag.
14)

Sendo assim, esta reflexão terá como esforço apreender o significado das
atitudes Jesus, ao pensar, ver e sentir a condição social da mulher no contexto da
sociedade judia. Haveria lugar para a mulher enquanto seguidora do “Jesus Histórico”?
2. O lugar da mulher na sociedade do “Jesus Histórico”

Segundo Gundry (2008), “Como seria de esperar, a família formava a unidade


básica da sociedade”(pag. 63)e Jesus nasceu dentro de uma sociedade patriarcal, onde o
homem naquele contexto ditava as regras.

Parece que desde sua infância, passando pela juventude e sua vida adulta, Jesus
participava do cotidiano da vida em Nazaré, apreendendo os ensinamentos de sua
família judia, dentro do contexto sociocultural e religioso do seu tempo.

Aprendeu o ofício de artesão, obtendo a educação no seio familiar que o possibilitasse


vivenciar as experiências cotidianas do seu contexto.

Entre os seus 27-28 anos, Jesus dá início à sua atividade de profeta itinerante,
desvinculando-se de sua família - o que parece ter causado constrangimento para a sua
família – o que o levou deixar o seu lar em Nazaré, dirigindo-se para Cafarnaum,
constituindo o seu grupo de seguidores. De acordo com Pagola, é uma atividade breve,
porém contínua. Há indícios de ter passado nos lagos da Galileia, andando e visitando
aldeias, sem no entanto passar nas cidades de Séforis e Tiberíades – cidades importantes
da Galileia. Focalizou sua atividade durante alguns tempos em Cafarnaum, sendo
seguido por discípulos e discípulas, realizando curas de enfermos, anunciando o “reino
de Deus”. Sua linguagem é simbólica, atraente, utiliza ditos breves, aforismos e
parábolas.

Através de uma mensagem que agrega grupos socialmente marginalizados –


homens e mulheres do povo – estes o seguirãono percurso de sua vida itinerante, pela
Galileia e Judeia, partilhando da mensagem que fala sobre o “reino de Deus”. Percebe-
se que há aqueles que aderem tal mensagem, não deixando suas casas. Outros, no
entanto, chamados de discípulos e discípulas, o acompanham durante sua vida
itinerante, oferecendo total apoio, formando um grupo certo.1 É interessante como o
autor Aslan (2013) cita agradecimentos a Jhon Meier pela elucidação quanto a

1
Autores como Theissen, Sanders, Meier, Stegemann e Stegemann, Barbaglio, distinguem: as
“multidões”que o seguia por curiosidade, os “adeptos” os que o acolhiam em sua casa, os” seguidores”
que o acompahavam em sua andanças e os mais íntimos, denominados “Doze”.
designação dos Doze, em Marginal Jew, vol.3, p. 198-285, esclarecendo que estes eram
especiais e separados dos demais discípulos, como se lê no trecho: “E, quando já era
dia, chamou os seus discípulos e dentre eles escolheu doze a quem deu o nome de
apóstolos.” (Lucas 6:13). O autor ainda, coloca que há estudiosos que assinalam que os
Doze talvez tenha sido uma criação da Igreja primitiva, ao que ele acredita ser
improvável.

De acordo com Aslan (2013), “a palavra grega para “discípulos”, “hoimathetai”


poderia significar tanto discípulos masculinos quanto femininos’, (p.258). O autor
chama a atenção para o fator de constrangimento que a presença da mulher poderia
causar, ao seguir um pregador itinerante, uma vez que a maioria dos seguidores de Jesus
era composta de homens. Tal situação, para a época, poderia ter sido motivo de
escândalo na cidade da Galileia.

O autor Pagola descreve a presença das mulheres no ministério de Jesus com


surpresa, citando os nomes de algumas próximas, como Maria, oriunda de Magdala, as
irmãs Marta e Maria, vizinhas de Betânia; outras, enfermas, como a hemorroíssa; pagãs
como a siro-fenícia; prostitutas desprezadas bem como, seguidoras fiéis como Salomé.

É interessante pensar a relação de Jesus com as mulheres, tendo em vista pontos


importantes, a saber: a questão da produção das fontes, pois estas foram escritas por
homens, refletindo assim, os seus códigos de atuação no mundo, o que talvez pudesse
ocultar a presença feminina.

Neste sentido, Jesus crescendo na sociedade judia, com certeza ouvia os relatos
orais sobre o papel da mulher, como o registrado em Gênesis 2,4-3,24 – relato datado
por volta do século IX a.C – que narra a criação da mulher por Deus para ser
“ajudadora” do varão. Pagola utiliza o relato do fruto proibido em Gênesis 3, chamando
a atenção para o fato da expulsão do homem e da mulher do paraíso. Ela coloca que,
esta narrativa ao ser transmitida de geração a geração, pode ter desenvolvido no povo
judeu uma consciência negativa sobre a mulher.

Além disto, não podemos perder de vista o fator patriarcal da sociedade judia
que via a mulher como “propriedade” do homem: pertencendo em primeiro lugar ao
pai,após casada, ao marido; se viúva, aos filhos ou de volta ao pais e aos irmãos. De
acordo com Gundy (2008):
“Como regra geral, as mulheres – tanto mais as judias - , embora
houvesse exceções e variáveis de um lugar para outro, viviam sob severas
restrições. Em grande medida, eram incultas. Os homens as dominavam dentro
de casa e nas instituições religiosas e políticas. Da mesma maneira, os filhos
viviam debaixo da autoridade quase irrestrita dos pais do sexo masculino.”
(pag.61).

Neste sentido, observa-se que à mulher era negada a autonomia, tendo sua
função social bem definida e estruturada: ser mãe e servir ao homem. É importante
chamar a atenção ainda para a questão ritual em que a mulher estava inserida: impura –
de acordo com o que estava escrito em Levítico 15, 19-30 – durante o período menstrual
e no parto. Era excluída da vida social, religiosa, pública. Além disto, ao homem cabia-
lhe a proteção e seus deveres eram: moer o trigo, cozer o pão, cozinhar, tecer, fiar, lavar
o rosto, as mãos e os pés de seu homem, pronta a satisfazê-lo sexualmente, dando-lhe
filhos varões que garantissem o sustento da família. Devido a influência da mulher
dentro da família, parece, de acordo com o autor Pagola, que muitos homens
respeitavam e exaltavam a função materna da mulher. Porém, fora de casa, a mulher
parecia não existir. De acordo com Pagola, “Jesus sem dúvida foi advertido disso desde
pequeno” (p.257).2

Diante do exposto, o que poderia a mulher esperar do “Jesus Histórico”?

2
Pagola cita que, de acordo com Witherington III e Elisabeth Meier, parece que há indícios de que talvez,
empequenos povoados da Galileia, os costumes pudessem ser mais estritos, onde as mulheres
pudessem sair de casa, acompanhando os homens.
3. Redefinindo o significado da mulher, a partir do Reino de Deus

O autor Pagola, utiliza investigadores como Freyne, Corley, Witherington III


para sustentar seu pensamento de que as mulheres pareciam que se aproximavam do
movimento do “Jesus Histórico” por perceberem nele a possibilidade de uma vida com
dignidade. Talvez, vislumbrassem em sua atitude algo diferenciador da dos rabinos,
uma mensagem de respeito, compaixão para com suas condições de mulher. Parece que
paradigmas vigentes na sociedade, poderiam sofrer uma ressignificação.

O “Jesus Histórico” parece abrir espaço em sua mensagem sobre o reino de Deus
para as mulheres enfermas, curando-as, como por exemplo Maria de Magdala. As
mulheres renegadas socialmente, como as viúvas indefesas, mulheres repudiadas pelos
seus maridos, mulheres sozinhas, impuras, eram acolhidas por ele. À elas era dado o
direito por ele, de presença nas refeições, sem preconceitos.

O movimento proposto pelo “Jesus Histórico” parece propor uma co-


responsabilidade de direitos, como o observado no texto de Mateus 5:28-29, que trata da
questão do divórcio. Outro ponto que Pagola chama atenção, refere-se ao fato da mulher
ser mãe, onde cita:“Feliz o seio que te carregou e os peitos que te
amamentaram!”(Lucas 11:27-28) – embora chame a atenção para o fato da certeza da
historicidade do episódio - a dignidade da mulher parece estar em ouvir a mensagem do
reino de Deus. Movido pela experiência de Deus Pai, que defende e acolhe, parece que
Jesus atuava de forma agregadora, trazendo à reflexão, os costumes, tradições e práticas
tão enraizadas na sociedade judia patriarcal. No entanto, Pagola chama a atenção para o
fato de se apresentar Jesus como um precursor do feminismo moderno, comprometido
com a luta de propor igualdade de direitos da mulher e do homem.

Segundo Pagola, Jesus “introduz algumas bases novas: ninguém pode em nome
de Deus defender ou justificar a prepotência dos varões, nem a submissão das mulheres
ao poder patriarcal deles.”(2014, p.269). Mulheres e homens são criadose amados por
Deus, sendo acolhidos em seu reino como filhos e filhas, em igual dignidade.3
3
Pagola cita SchüsslerFiorenza, colocando que para este autor a atitude libertadora de Jesus ocorre num
momento onde é possível constatar entre os helenistas e na sociedade judaica, um movimento de
Observa-se a presença das mulheres desde a Galileia até Jerusalém. A
mensagem de Jesus era ouvida, seguiam-no de perto. Para Pagola, a presença das
mulheres é um fato incontestável – atestado em todas as fontes cristãs, embora que
alguns evangelistas como Lucas tente atenuar a presença destas.

Investigadores como Meier, Crossan entre outros, atestam que estas mulheres
eram verdadeiras discípulas, seguindo Jesus desde o início: mulheres casadas – e de
acordo com o evangelho de Marcos, o mais antigo, não há registro de abandono de
esposas, segundo Pagola - mulheres sozinhas, sem relatos de chamados individuais
como ao que parece ter feito Jesus aos Doze. Parece que as mulheres se aproximavam
voluntariamente.

O autor Pagola cita o nome de algumas: Maria de Mágdala, sendo citada sempre
em primeiro lugar. O grupo de três mulheres mais próximas de Jesus: Maria de
Mágdala, Maria mãe de Tiago menor e de José, e Salomé; estas mulheres parecem gozar
de uma amizade especial, da mesma forma que Pedro, Tiago e João. Outras também são
sempre citadas nos evangelhos como mulheres queridas: as irmãs Marta e Maria, que
sempre o acolhia em sua casa em Betânia.

A presença das mulheres não se dá de forma marginal, são exemplos no


discipulado. Ocupam sempre os últimos lugares, prontas a servir – como diz a tradição
de Marcos 15:41, estas “o seguiam e o serviam quando estava na Galileia.” O autor
chama atenção para o fato delas não serem chamadas “discípulas”, por não existir em
aramaico uma palavra que nomeasse. O nome “discípula” (mathêtria) não aparecerá até
o século II, sendo aplicado à Maria Madalena (Evangelho [apócrifo] de Pedro 12, 50).

Jesus parece não ter enviado às mulheres pelos campos da Galileia para que
anunciassem o reino de Deus, pois talvez houvesse rejeição. Às mulheres não era
permitido a leitura da Palavra de Deus e nem falar em público. Pagola acredita que
Jesus pudesse ter enviado discípulos “dois a dois” e que talvez, pudesse ter enviado um
varão e uma mulher.

Certamente o “Jesus Histórico” parecia olhar para a condição da mulher com olhar de
dignidade, com olhar de indivíduo, notando-as entre as multidões. Parecia querer que
elas ouvissem a mensagem do reino de Deus, pois era importante que ouvissem a Boa

emancipação da mulher e uma tensão crescente com o sistema patriarcal rígido.


Notícia de Deus, comunicando-a à outras mulheres. Jesus parece dar visibilidade para as
mulheres, colocando-as como protagonistas em sua mensagem.

4 CONCLUSÕES
O movimento do “Jesus Histórico” parece que propôs mudança à vidas daquelas
mulheres que, de acordo com o judaísmo não podiam ser discípulas, sendo
oportunizadas a participarem diretamente no movimento de Jesus.Jesus confronta
explicitamente os costumes excludentes de seu povo e época.
Para começar, o Reino de Deus anunciado por Jesus não exclui ninguém, todos
são convidados (as mulheres e os homens, as prostitutas e os piedosos fariseus), ou
seja,o anúncio do Reino de Deus feito por Jesus denuncia a desigualdade e promove a
eqüidade entre os homens.
Jesus inverte a ordem comumente praticada, sua mensagem tem como prioridade
os pobres, marginalizados e oprimidos. Junto com outros excluídos, as mulheres
também se encontravam nesta lista,com todo seu sentimento de inferioridade em sua
estrutura social de dominação masculina. Jesus irrompe preconceitos, “quebra tabus”.
Mantêm profunda e intensa amizade humana com algumas mulheres, como Marta e
Maria (Lucas 10,38-42; João 11,5. 33; 12, 1-8). Não hesita em conversar a sós
publicamente com mulheres, contrariando em muito o rígido costume de sua época.
No caso da mulher samaritana junto ao poço de Jacó, agravado pelo sentimento
de ódio e desprezo que o judeu adquiriu no decorrer de sua história, que a considerava
estrangeira, idólatra e maldita, Jesus lhe pede um favor e conversa longamente sem
superficialidade (João 4,4-42).
Em Marcos 7,24-30, há um relato sobre uma mulher desconhecida da região
pagã de Tiro – Meier o considera um relato de invenção da comunidade cristã para
justificar a pregação aos gentios; Pagola coloca ser aceitável sua historicidade – sua está
enferma e possuída por um espírito imundo. A mulher se aproxima de Jesus, lançando-
se aos seus pés, solicitando libertação para a sua filha. Parece que Jesus a responde com
frieza, dizendo que foi enviado às ovelhas perdidas de Israel, não podendo dar atenção
aos pagãos: “Espera primeiro que se saciem os filhos, pois não fica bem tomar parte do
pão dos filhos e lançá-los aos cachorrinhos”. O autor coloca que Jesus utiliza a
linguagem habitual dos judeus ao referir-se aos pagãos como “cães”, num caráter
ofensivo.
A mulher do relato não se ofende. Pede por sua filha no intuito de vê-la curada.
Responde confiante: “Sim, Senhor; mas também os cachorrinhos comem em baixo da
mesa migalhas das crianças.” Sua filha se satisfaria das migalhas. Jesus compreendeu
que a vontade da mulher era concernente com a Deus: não ao sofrimento! Diz-lhe: “
Mulher, grande é tua fé; faça-se como tu queres”. A compaixão de Deus se estende a
todos os povos e religiões, portanto, deve ser experimentada por todos os seus filhos e
filhas – de acordo com Patterson, Jesus deixa-se convencer por uma mulher pagã,
renunciando sua posição, aceitando a do seu interlocutor.

5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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