Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
a) Resumo
1
Os principais resultados referentes à fase anterior da pesquisa encontram-se no item (f) abaixo, pp. 21-26.
Além dos resultados listados abaixo, estou terminando a tradução anotada de um texto importante de Leibniz
sobre o tema de minha pesquisa, intitulado Von der wahren Theologia Mystica.
2
Exposto primeiramente em seu Schmitt (1922).
3
Schmitt (2004), p. 43.
2
sentido, a atual fase da pesquisa retomará, embora apenas em parte, e com modificações
substanciais, seu momento inicial (período de 2010-2013), o qual se dedicou a examinar
as teses positivas e os impasses presentes no desenvolvimento do conceito de vontade ao
longo da obra de Leibniz, pelo qual esse último tentou evitar o “abismo spinozista” que sua
teoria sempre margeou. Na atual fase da pesquisa, mostraremos que as soluções propostas
por Leibniz para conciliar liberdade e determinismo (reinterpretadas aqui a partir de uma
alteração essencial na apreciação anteriormente formulada por nós) o comprometem com
uma compreensão da potência como máxima exteriorização de si no mundo e como o
exercício de ações que manifestem, no tempo, a glória de Deus. Em seguida, mostraremos
que o “necessitarismo” spinozano, ao eliminar do conceito de atividade humana a noção
de “ser em potência” aristotélico, mantida por Leibniz, adota uma noção de potência que,
embora implique a exteriorização de si no mundo, não o faz sem uma diferença essencial
com relação à compreensão leibniziana (a qual formula, veremos, até certo ponto, o que se
tornou a “imagem tradicional de ação” na modernidade), a saber: há, nessa noção spinozana
de potência, uma interiorização da exterioridade, promovida graças à compreensão da
relação de imanência que liga os homens à glória de Deus. Finalmente, veremos que,
embora a teoria leibniziana esteja mais próxima da acima referida imagem tradicional da
ação humana, sua reinterpretação da concepção aristotélica do “ser em potência” contém
também elementos críticos a essa mesma imagem, especialmente ao tematizar a presença
do infinito no finito de modo distinto do que faz a tese spinozana da imanência.
4
Agamben (2007).
5
Seria preciso ainda escrever a história da teologia no século XVII como uma reação ao luteranismo paulino
através do “evangelho da glória” de João. Um dos indícios comprovadores dessa hipótese histórica se
encontra, sem dúvidas, na aproximação entre a filosofia de Leibniz e o estilo barroco (ver sobre isso Deleuze
(1988)).
3
mesmo em que age), respondem, no entanto, de maneira diferente a suas exigências. Assim,
enquanto Leibniz pretende eliminar a indeterminação essencial da inoperosidade através
da introdução do conceito de vontade, o qual opera a passagem da potência ao ato, Spinoza
instala-se no interior mesmo da teologia do kabod hebraico e da doxa cristã, mantendo a
conexão sabática entre glória e inoperosidade (ou, no vocabulário spinozano, glória e
aquiescência6). Deve-se notar que Agamben examina o conceito de inoperosidade a partir
do “tempo messiânico” paulino, que “nulifica” o tempo presente através da contemplação
das ações do ponto de vista de sua potencial irrealização. As ideias de contemplação e de
contentamento consigo mesmo ocupará, portanto, um lugar central nesta investigação.
Contra Agamben, nossa pesquisa pretende demonstrar, primeiramente, que a teoria
spinozana da glória de Deus, desenvolvida no Escólio da Proposição 36 da Parte V da
Ética7, embora implique, de fato, uma crítica radical à imagem tradicional da ação humana,
não o faz através da associação da glória com a inoperosidade, mas, antes, através de sua
associação com um tipo de distanciamento de si mesmo (ou melhor, como diz Spinoza, de
uma distinção entre a “parte eterna da mente” e “esta vida presente”) que, de modo apenas
aparentemente paradoxal, deriva da afirmação radical de si. Como se sabe, que, para
Spinoza, a compreensão de que o ser é necessário (e, portanto, que nossas ações também o
são) implica a afirmação de si mesmo como eterno – do que, por sua vez, resulta o
abandono de toda e qualquer hierarquia de valores dada. Expliquemo-nos melhor. Para
Agamben – seguindo aqui de perto o evangelista Paulo –, é a existência mesma de
hierarquias de valor, com sua separação entre o necessário e o contingente, que fundamenta
os projetos de dominação política, de tal modo que a inoperosidade, por ele associada ao
“tempo messiânico”, vem suspender e “nulificar” todas as hierarquias, através de uma
transformação dos valores mundanos em fatos contingentes (posição que ele caracteriza
como a de um “anarquismo niilista”). Nesse contexto, mostraremos que sua tentativa de
reivindicar uma herança spinozana para tal projeto é problemática, na medida em que,
embora ambos compartilhem do mesmo diagnóstico acerca das hierarquias de valor,
Spinoza propõe uma solução diferente – e, na verdade, oposta – à de Agamben. Segundo
6
Deve-se notar a vizinhança entre a noção de contentamento consigo mesmo [acquiescentia in se ipso] e o
quietismo místico, veemente criticado por Leibniz (cf. Discurso de metafísica, § 4).
7
Doravante, as passagens da Ética serão referidas pelas seguintes abreviações: E5p36 (Ética, Parte 5,
Proposição 36, Escólio); E1d1 (Ética, Parte 1, Definição 1), etc..
4
8
Essa tese deve ser entendida a partir da equivalência entre realidade e perfeição enunciada em E2d6. Nesse
sentido, o determinismo spinozano se situa nas antípodas da predeterminação da graça defendida por Lutero;
o que permite que essas duas formas de determinismo se distingam é, veremos adiante, justamente a
compreensão distinta que cada um deles tem da glória de Deus. Para a compreensão do spinozismo como a
prescrição de se abandonar todas as prescrições, cf. Sévérac (2005).
5
aparentemente excludentes (a)- de que, porque o bem moral não é criado por Deus9, as
ações divinas e as das criaturas estão igualmente submetidas a um mesmo padrão de valores
hierarquicamente dados e (b)- de que a glória de Deus destina-se a todas as criaturas,
organizadas em um processo de contínuo aperfeiçoamento em direção à “salvação
universal”10. No caso de (2) e de (b), Leibniz afirma que, ao espelhar infinitamente a glória
de Deus, as criaturas podem fazer parte dela através de um tipo de duplicação de si mesmo
na presença de um “tempo messiânico” semelhante ao que faz o spinozismo. Tendo em
vista essa segunda tendência de seu pensamento, não é à toa que os habitantes de Hanover,
por ocasião de sua morte, o tenham considerado um ateu disfarçado, apelidando-o
humoristicamente, com suspeição, de “Leibniz Glaubenichts”11.
Em suma, ao invés da oposição, proposta por Agamben, entre sua própria posição
(assimilada por ele à de Spinoza) e aquela defendida pela imagem tradicional da ação
(assimilada por ele à de Leibniz), proporemos que a alternativa a essa última se divide ela
mesma em duas opções exclusivas: por um lado, a “nulificação” da inoperosidade
defendida por Agamben; por outro, a “reduplicação” necessitarista defendida por Spinoza
– e, oscilando entre essa última e a imagem tradicional, o “compatibilismo” de Leibniz. Se
aceitarmos a distinção estabelecida por Lutero entre uma “teologia da cruz” (a sua própria,
que compreende as coisas visíveis enxergando-as pelo sofrimento e pela cruz) e uma
“teologia da glória” (que compreende Deus a partir das coisas visíveis) 12, poderemos
identificar a posição de Agamben com a primeira, enquanto que a de Spinoza (e, em certo
sentido, como vimos acima, a de Leibniz, bem como a do “leibniziano” Gilles Deleuze)
com a segunda. Mostraremos que os partidos que se repartem por esses três nomes
mapearão três modelos distintos de soberania, poder, obediência, resistência política e
república. Abordemos cada uma dessas duas alternativas mais extensamente, começando
pelo fim, isto é, por Leibniz.
9
Ao contrário do que supunha a tese teológica da livre criação das verdades eternas por Deus formulada por
Descartes.
10
Sobre a tentação de Leibniz em direção à herética tese cabalística da “salvação universal”, cf. Leibniz
(1991) e Fichant (1991). Ver também o § 15 dos Princípios da natureza e da graça, no qual se enuncia a tese
anti-luterana de que “la nature même mène à la grace”.
11
No dialeto de Hanover, se pronuncia “Glaubenichts” como glöwenix, o que lembra o som do nome
“Leibniz” e permite a aliteração “Leibniz Glaubenichts” [Leibniz não acredita em nada]. Cf. E. Bodemann
(1891), II, p. 292.
12
Lutero (2004), § 21: “O teólogo da glória afirma ser bom o que é mau, e mau o que é bom; o teólogo da
cruz diz as coisas como elas são”. Ver também §19-20.
6
13
C 16-24, republicado, com tradução para o francês por M. Fichant, em Leibniz (1998), pp. 339-349. Nessa
última edição, Jean-Baptiste Rauzy (p. 325) estima que o texto deve ter sido escrito por volta de 1689; Fichant
sugere o seguinte título para o texto “Vérités nécessaires et vérités contingentes”.
14
Analiso uma parte desse conjunto em Pinheiro (2008).
15
Sobre a existência (Leibniz (1998), pp. 30-31; A VI iii 587-588; provavelmente dezembro de 1676). Para
dois exemplos de textos mais tardios sobre o mesmo tema, ver Novos ensaios, IV, Cap. 11, de 1704 (G V,
7
disso, que o “mundo” existente não é nada além do que a interseção das perspectivas das
infinitas mônadas. Dessas duas premissas, podemos inferir por que Leibniz acreditava não
haver confusão entre um nível epistêmico e outro metafísico, uma vez que a noção
metafísica de “mundo”, para ele, é intrinsecamente epistêmica. Se a contingência for
caracterizada como uma propriedade ligada à indemonstrabilidade, e essa última, por sua
vez, à inesgotabilidade das percepções monádicas, então, nos diz ele, devemos afirmar que
a aparência do mundo como contingente e o fato de o mundo ser realmente contingente
coincidem. Não tem sentido, em outras palavras, recusar a contingência como mera
“aparência”, pois o mundo em si mesmo é, ele mesmo, “aparência”. O desenvolvimento
dessa hipótese interpretativa deverá explicar, entre outras coisas, como, segundo Leibniz,
o conteúdo das percepções pode ser o fundamento da contingência, enquanto que,
consideradas formalmente, todas as percepções seguem uma ordem inteiramente
determinista. A distinção cartesiana entre “realidade formal” e “realidade objetiva” das
ideias e a identificação do conceito de “mundo” a partir dessa segunda noção de “realidade”
estão na base da proposta de Leibniz para eliminar essa dificuldade adicional contida em
seu projeto “compatibilista”. Por ora, é importante assinalar que esse momento inicial da
pesquisa nos levará imediatamente a um outro, aquele que conecta diretamente a infinitude
das mônadas e dos fenômenos a elas ligados à teologia leibniziana da glória.
Como vimos, as infinitas mônadas, com suas infinitas modificações internas,
exprimem-se umas nas outras segundo as perspectivas particulares a partir das quais visam
o mundo no qual se encontram – na verdade, ao visar o mundo, elas o constituem, pois o
que se chama de “mundo” não é nada além do que a interseção das infinitas perspectivas
que as mônadas têm sobre ele. Não há nenhum “resto” que seja independente das
perspectivas, de tal modo que o que é representado por elas é resultante das próprias
representações. Cada perspectiva é, lembremos, o resultado do conjunto das percepções e
apetites das mônadas16, e, quando o conteúdo que é claro e/ou claro e distinto em uma é
obscuro e/ou obscuro e confuso em outra, podemos dizer que a primeira age e que a
424-428), e, Do método para distinguir fenômenos reais dos imaginários, escrito entre1683 e 1686 (G
VII,319f./L 363). A melhor análise desse tópico continua sendo a de Robert Adams, “Leibniz’s
Phenomenalism” (in: Adams (1994), pp. 217-261).
16
Evidentemente, tal definição de “perspectiva” inclui nela um regresso ao infinito, pois as próprias
percepções são perspectivas sobre o mundo. É preciso, portanto, aplicar iterativamente a definição no
definiens, o qual, por sua vez, também contém novas perspectivas, etc.
8
segunda sofre uma ação. O “eu” é outro nome dessa perspectiva resultante, pelo menos nas
mônadas dotadas não apenas de alma, mas também de espírito, isto é, de racionalidade. Ao
invés de um universo cujos objetos se ligam uns aos outros através de relações causais, o
que Leibniz nos oferece à vista é um universo cujo princípio de unidade é, por assim dizer,
semântico e hermenêutico. Daí se segue que cada domínio no interior do mundo é, por
princípio, traduzível em qualquer outro domínio: o sensível no racional, o matemático no
metafísico, o teológico no filosófico.
Duas dimensões dessa concepção semântico-hermenêutica do mundo serão
particularmente relevantes para a compreensão da dimensão teológico-política da filosofia
de Leibniz, as quais poderíamos denominar dimensão hermenêutica-política e dimensão
hermenêutica-existencial. De acordo com a primeira delas, a expressão de um “ponto de
vista” monádico deve ser entendida a partir de uma modalidade especial do diálogo17 – ou
ainda, de uma sua definição peculiar, segundo a qual a forma dialogal visa não tanto a
eliminação de uma das posições antitéticas em confronto, e sim, mais propriamente, sua
assimilação, tal como ocorre no processo digestivo18, no qual certas substâncias são
transformadas, integradas e, em parte, descartadas pelo organismo. O texto dos Novos
ensaios sobre o entendimento humano, construído em forma de diálogo dramático com
Locke através da contraposição de duas personagens, é exemplar desse processo: as
intervenções de Teófilo permitem-lhe explicar tudo aquilo de que o empirista lockeano,
representado por Filaleto, pretende, de sua perspectiva, dar conta, e, indo além dele,
possibilitam situá-lo em um quadro teórico mais amplo, que é capaz de compreender até
mesmo as limitações do empirismo de seu rival. Veremos, nesse sentido, em um dos passos
da pesquisa, como o desenvolvimento dramático das personagens do diálogo embaralha o
jogo de identificações, fazendo com que Leibniz passe a ser encarnado por Filaleto, saindo
por alguns momentos da pele de Teófilo19. A atividade profissional de Leibniz como
17
O gênero literário do diálogo foi um dos mais frequentados por Leibniz. É significativo que, desde muito
cedo, ele tenha se dedicado a traduzir alguns diálogos platônicos para o latim.
18
Sobre a importância do processo digestivo para a compreensão das teorias metafísicas de Leibniz, cf.
Justin Smith (2012).
19
Leibniz usou como base de seu comentário do Ensaio de Locke a tradução francesa de Pierre Coste; ele
constrói boa parte das falas de Filaleto a partir de transcrições literais do texto francês, mas se permite, em
algumas ocasiões, acrescentar trechos inteiros de sua própria autoria. Usaremos esses últimos como objeto
para identificar o processo assimilativo a que Leibniz submete o texto de Locke.
9
diplomata da corte de Hanover é apenas mais uma faceta dessa forma peculiar de confronto
em que, para vencer um inimigo, é preciso, ao menos em parte, transformar-se nele.
Já de acordo com o aspecto hermenêutico-existencial, a concepção semântica do
mundo defendida por Leibniz promove uma inversão notável no cerne mesmo da expressão
do “ponto de vista” monádico: remetendo todos os signos à interioridade do “eu”, que
sintetiza a multiplicidade na unidade de um ponto de vista, a interpretação não visa, no
entanto, ao esforço de transformação que corresponderia a uma espécie de “trabalho sobre
si” ou de conversão, mas equivale, antes, a um devir interno em que o que está “fora”
aparece como limite – ou seja, propriamente, como definição – do “eu”. É assim que, nos
Novos ensaios, o cogito cartesiano tem sua formulação alterada de “penso, logo existo”
para “eu tenho diferentes pensamentos”20. Essa dimensão hermenêutico-existencial,
segundo a qual a máxima interioridade coincide com a máxima exterioridade, não deve, no
entanto, ser confundida com um mero apagamento de si no mundo ou em Deus, à maneira
do quietismo místico; ao contrário, é preciso levar a sério os dois lados da identidade
proposta entre interno e externo, de tal modo que a atividade interpretativa do sujeito, que
tem por princípio explicativo a unidade interna do “eu”, se exprima necessariamente como
ação individual no mundo. Participar da glória de Deus não significa nada além do que
preferir o bem comum ao seu interesse particular – mas a “renúncia de si”, nesse caso, não
tem nada a ver com a contemplação quietista, e sim, ao contrário, com o engajamento em
ações no mundo21.
Os aspectos político e existencial da hermenêutica leibniziana estão intimamente
conectados. (I)- Por um lado, a importância atribuída ao processo de interiorização – de
observação de si, poderíamos dizer – aproxima a filosofia de Leibniz da experiência de
místicos como Santa Teresa d’Ávila: quando essa última propõe que a alma imagine que
existem apenas Deus e ela mesma no mundo, nos diz Leibniz, tal pensamento “dá lugar a
uma reflexão que merece atenção mesmo em filosofia”, acrescentando: “fiz bom uso dela
em uma de minhas hipóteses”22. A “hipótese”, exposta no § 14 do Discurso de metafísica,
20
Novos ensaios, Livro IV, cap. 2 (G V, 348).
21
Cf. Carta a Morell de 29 de setembro de 1698 (Grua, p. 137) e Carta a Hansch de 25 de julho de 1707
(Dut., II, pp. 222-225).
22
Carta a Andreas Morell (Grua 103); apud O elogio a S. Teresa é replicado na famosa passagem do § 32
do Discurso de metafísica (A VI, 4, 1581).
10
23
“Ao menos em parte” porque o idealismo leibniziano tem como discriminar entre afecções que indicam
objetos do mundo e afecções puramente subjetivas.
11
O erro dos “falsos místicos” quietistas é ignorar a relação imediata que a contemplação de
si entretém com a ação externa no mundo. Daí podemos enunciar a seguinte hipótese
interpretativa: assim como a infinitude envolvida nas “máquinas da natureza” (os
organismos) é a explicação leibniziana para o conceito de vida, na medida em que ela
fornece uma definição clara e distinta do que significa a “indestrutibilidade” natural dos
seres vivos a partir de uma sua qualidade (“as máquinas da natureza têm um número de
órgãos verdadeiramente infinito, e são tão bem munidas e à prova de todos os acidentes,
que não é possível destruí-las. Uma máquina natural permanece ainda máquina em suas
menores partes”25), também no caso da glória de Deus, é a infinitude monádica que permite
a Leibniz radicalizar sua teologia da glória na mesma direção da do spinozismo, sem que,
para tanto, tenha de adotar o necessitarismo de Spinoza (é nesse momento da pesquisa que
relacionaremos essa posição de Leibniz à filosofia de Deleuze, na medida em que esse
último apresenta uma compreensão “spinozana” de ação distinta da de Agamben). A
infinitude monádica representa, assim, uma tendência infinita em direção à necessidade do
ser, sem, no entanto, nunca a realizar plenamente. É por isso que, no § 9 do Discurso de
metafísica, ele pode afirmar que “o universo é de alguma forma multiplicado tantas vezes
24
Loemker, p. 161; apud Daniel J. Cook (1998, p. 119). O tema da duplicação da experiência (“admiração
da admiração”, “percepção das percepções”) é recorrente em Agamben e em outros autores que tratam da
teologia política (por ex., Jacques Derrida (2008), ao criticar Schmitt, fala de um ponto de vista do “marrano
do marrano”). Todos eles remetem, significativamente, para Schlegel (2007) e sua “ironia da ironia”.
25
Cf. Leibniz, Système nouveau de la nature et de la communication des substances aussi bien que de l'union
de l'âme avec le corps (G IV, 482) e seu comentário por Fichant (2005), pp. 27-28.
12
26
A mesma ideia é formulada na Monadologia, §§ 56-57, e em uma carta a Jacquelot de 9 de fevereiro de
1704 (nessa última, Leibniz assimila a “perfeição das criaturas” a “uma reduplicação de mundos nesses
espelhos inumeráveis da substância, pelos quais o universo é variado ao infinito” (G III, 465)).
27
Entendendo essa expressão a partir de sua elucidação no Tratado da emenda do intelecto.
28
Agamben (2014) desenvolve mais longamente sua leitura de Spinoza.
13
potência”? Pascal Sévérac29 afirma que a maioria das interpretações disponíveis, embora
admitindo o atualismo de Spinoza, reintroduz, sub-repticiamente, em suas exegeses, o
apelo a disposições, potencialidades ou virtualidades. Até mesmo Deleuze, o comentador
que, segundo Sévérac, mais radicalizou o atualismo spinozano, não teria, de acordo com
ele, escapado dessa armadilha. Segundo Sévérac, que faz do ponto de vista ético o centro
de seu comentário, o “percurso” em direção à liberdade caracteriza-se propriamente como
o reconhecimento de que não há qualquer distância a ser percorrida entre o “ser” e o “dever
ser”: todas as coisas são atualmente tão perfeitas quanto podem ser; é o pensamento
imaginativo que constrói modelos fictícios do homem, comparando sempre a realidade
efetiva com aquilo que ela supostamente poderia e/ou deveria ser. Se há aperfeiçoamento
(moral, político, cognitivo) na filosofia de Spinoza, a interpretação de Sévérac deveria
caracterizá-lo de modo inteiramente negativo: passar a um maior grau de perfeição não
equivaleria, segundo ele, a percorrer uma distância qualquer entre o que é atualmente e o
que poderia ser potencialmente, mas apenas a eliminar as ficções imaginativas que
instauram tal distância. É a partir dessa tese atualista – a ser interpretada, nesta pesquisa, a
partir da distinção entre duas séries temporais proposta por John McTaggart30 e aplicada
especialmente a E2d2 – que caracterizaremos a teologia da glória de Spinoza.
A glória é um dos afetos mais importantes no contexto da investigação do “amor
intelectual de Deus” conduzida por Spinoza na Parte V da Ética; o Escólio da Proposição
36 exprime a conclusão desse exame:
Nós comprendemos claramente daí em que consiste nossa salvação, ou
beatitude, ou Liberdade, a saber, em um Amor constante e eterno por Deus
[constanti, & æterno erga Deum Amore], ou seja [sive], no Amor de Deus pelos
homens [Amore Dei erga homines]. E é esse Amor ou beatitude que se chama
Glória nos livros sagrados [in Sacris codicibus], e não sem razão.
A dialética que começa na Proposição 19 (“Quem ama a Deus não pode se esforçar para
que Deus o ame em retorno”) termina aqui pela sua aparente negação, com a identificação
entre o amor dos homens por Deus e o amor de Deus pelos homens. A tarefa, nesse
momento, será conciliar E5p19 com E5p36.
29
Sévérac (2005).
30
McTaggart (1908).
14
31
Matheron (1988), p. 597.
32
Matheron (1988), p. 599 reenvia o leitor à Carta 17 a Pieter Balling (G IV, 77), na qual Spinoza escreve
que o amor de um pai por seu filho pode fazer que os dois sejam um só e mesmo ente, devido à “participação”
do primeiro na “essência ideal” do segundo.
33
Moreau (1994).
15
34
Moreau (1994), p. 61; grifo meu. De fato, E5p19 diz: “Quem ama a Deus não pode esforçar-se para que
Deus também o ame”.
35
E5p36c. Sobre essa identidade, ver a fórmula de E2p7 para exprimir a identidade da ordem das ideias e
da ordem das coisas.
36
Destacamos dois dos mais importantes: Pierre Macherey (1994) e Hasana Sharp (2011).
37
O que nos remete a uma antiga tradição teológica; sobre a incompatibilidade entre “glória” e
“contentamento interior” formulada não pela teologia, mas pela filosofia, cf. Descartes, Les passions de
l’âme, Art. 204.
16
38
Sharp (2011), p. 147 dá uma formulação exemplar dessa pretensa inconcevibilidade: “The intelectual love
of God does not follow from a mutually satisfying correspondence of representations between two
structurally identical beings; it is not a relationship of recognition”.
39
O Capítulo XXVI do Apêndice de E4 mostra que o “contentamento” [gaudium] é um tipo de ligação que
só é vigente entre os homens. Mas deve-se notar que Spinoza não exclui, nesse trecho, que o contentamento
possa nos ligar a Deus – tudo o que é excluído são os outros “singulares”.
40
E2p3e.
41
E4 Def. des Aff. XXV.
17
42
E3p35, p38 e, sobretudo, p42 (a qual articula amor, esperança de glória, ingratidão, tristeza e,
implicitamente, ódio).
18
se produz que se dá, da coisa em questão, sua definição genética, segundo o peculiar
“construtivismo” spinozano. A glória, é, assim, mostra Spinoza no fim de E5p36s, o afeto
próprio ao “terceiro gênero de conhecimento”. Para descrever esse fenômeno sem cair na
armadilha do antropomorfismo, será necessário compreender o sentido preciso desse
“louvor divino” ou “jubilação universal”, empregando uma expressão de Macherey43. O
núcleo da descrição de uma tal “glória impessoal” é a equivalência entre a essência atual
de uma coisa e o valor que ela exprime: algo é “bom” pelo simples fato de que existe, e
não o contrário – eis aqui mais um índice da separação radical entre spinozismo e
leibnizianismo –; uma coisa é “melhor” do que outra se a primeira é representada como
existindo necessariamente, enquanto a segunda é representada como existindo de forma
apenas contingente (outra separação entre Spinoza e Leibniz, na medida em que o último
supõe que a escolha entre alternativas contingentes define o conceito mesmo de bondade).
Quer a equivalência entre a essência atual de uma coisa e o valor que ela exprime
tenha relação com os seres finitos44, quer ela se relacione a Deus45, nos dois casos é o
conhecimento da necessidade do ser que explica o valor que se lhe atribui, e não o inverso.
Ora, a glória é precisamente o ultrapassamento do caráter “solipsista” do contentamento
consigo mesmo em direção à objetividade do valor do ser necessário enquanto tal – isto é,
ela é o afeto envolvido na compreensão singular (intuitiva) de nossa imanência no ser
necessário de Deus. A conjunção entre ser e valor, anunciada em E2d6 (“Por realidade e
perfeição entendo o mesmo”), é finalmente explicada apenas em E4p11, onde se estabelece
uma proporção entre modalidades aléticas e afetivas (“Um afeto para com uma coisa que
imaginamos como necessária é mais intenso (sendo iguais as outras condições) do que para
com uma coisa possível ou contingente, ou seja, não necessária”). (E é preciso observar
neste momento que E2d6 é utilizada na demonstração de que Deus se ama a si mesmo por
um amor intelectual infinito (E5p35): Deus é absolutamente infinito (pela Def. 6 da parte
1), isto é (pela Def. 6 da parte 2), a natureza de Deus goza [gaudet]46 de uma perfeição
43
Macherey (1994), p. 166.
44
Cf. E3p9e: “não nos esforçamos, queremos, apetecemos, nem desejamos nada porque o julgamos bom; ao
contrário, julgamos que algo é bom porque nos esforçamos por ele, o queremos, apetecemos e desejamos”.
45
E1p34: “...a potência de Deus, pela qual ele próprio e todas as coisas são e agem, é sua própria essência”.
46
Um dos tópicos da pesquisa consistirá em examinar cuidadosamente o uso do verbo “gaudere” nesse
contexto: em E3, ele é ligado ao passado, sendo caracterizado como uma alegria que envolve uma
“impotência da alma”, enquanto que, em E5, ele é associado à necessidade da existência de Deus. Ainda que
19
c) Metodologia
Moreau (1994) estime que a retomada desse verbo no contexto de E5 seja um simples uso equívoco, veremos
de que modo passado e eternidade são ambos modalidades aléticas que implicam diretamente a necessidade.
47
Note-se que a primeira premissa da Demonstração é formulada apenas com base em Definições, e não
outras Proposições.
48
Nenhuma ideia pode ser, a rigor, “neutra” do ponto de vista afetivo/volitivo. Cf. E2p49.
49
Derivaremos daí uma explicação de por que, para Spinoza, só os seres racionais podem ser salvos: é
preciso representar intelectualmente a necessidade da existência de Deus e a imanência dos seres singulares
em Deus para que o afeto da glória seja produzido. Deveremos investigar, no tempo devido, em que medida
seres irracionais podem fruir da perfeição de Deus por meio da imaginação.
20
deve ter ficado claro pela exposição das hipóteses da pesquisa. Para além da história da
filosofia e da análise textual, no entanto, a pesquisa procurará integrá-las à compreensão
contemporânea da filosofia política.
d) Resultados esperados
PINHEIRO, U.. Leibniz on the Concepts of Archive, Memory, and Sovereignty. In:
X. Internationaler Leibniz-Kongress, 2016, Hannover. Für unser Glücke oder das
Glück anderer. Vorträge des X. Internationalen Leibniz-Kongress. Hildesheim -
Zürich - New York: Georg Olms, 2016. v. 3. p. 309-322.
22
Livro no prelo:
PINHEIRO, U.. Descartes e o ódio à escrita. Curitiba: Kotter (no prelo). 215
páginas.
Apresentações de trabalho:
Financiamentos vigentes:
Projetos de pesquisa com financiamento:
1. 2014 – Atual
Título: Leibniz, spinozismo e misticismo. Uma investigação em torno do conceito de
"anima mundi"
Descrição: O objetivo da pesquisa é um desdobramento de minha pesquisa anterior: se, nessa
última, se tratava de entender como a imagem de Spinoza foi construída no pensamento
de Leibniz e como ela determinou positivamente algumas de suas teses, especialmente
aquelas relativas à noção de substância livre, na próxima etapa trata-se de circunscrever o
24
pensamento de Leibniz sobre o misticismo através de seu diálogo tardio com Spinoza,
mostrando que esse novo confronto é utilizado por Leibniz para demarcar duas concepções
distintas sobre a natureza da própria filosofia, bem como sobre suas relações com o que
ultrapassa os limites do conhecimento racional – no caso, o místico. Examinaremos como
as teses místicas sobre a origem do mundo em Deus e a presença imanente de Deus no
mundo, assimiláveis ao spinozismo em alguns pontos precisos, particularmente em torno
da noção de “alma do mundo” (anima mundi). Por um lado, este estudo não tem como
objetivo estabelecer as influências –essa noção tão problemática na história das ideias –do
pensamento místico sobre Leibniz; ele aborda, antes, uma questão de natureza conceitual,
como veremos adiante. Isso não significa, evidentemente, que a análise de conceitos não
dependa de uma sólida investigação histórica. Ao contrário, tomando como base uma série
de estudos recentes que criticam a famosa divisão da produção filosófica de Leibniz,
proposta há mais de um século atrás por Bertrand Russell, entre uma filosofia exotérica,
que flertaria com assuntos variados de forma mais ou menos assistemática, e outra,
esotérica e mais rigorosa, preocupada em fornecer as bases lógicas da metafísica,
integrarei a já farta documentação que constata o vivo interesse de Leibniz pela mística
como um dado fundamental da pesquisa. Por outro lado, este estudo tampouco tem como
objetivo estabelecer a importância do diálogo de Leibniz com os autores místicos para a
formulação de algumas de suas teses e conceitos particulares (tais como os de mônada,
infinito em ato, emanação divina, etc.), embora também se beneficie dessa discussão. Ao
invés de percorrer uma intrincada genealogia de conceitos particulares em busca de sua
origem, procurarei determinar, de um ponto de vista geral, qual são os princípios que
regem a filosofia de Leibniz em sua relação com o “outro” da racionalidade, representado
aqui pelo pensamento místico –ou melhor, por uma espécie de “spinozismo místico”, cuja
imagem é construída no interior de seu próprio sistema tendo em vista sua refutação. Dada
essa delimitação negativa, é possível finalmente enunciar a hipótese central desenvolvida
pela pesquisa, a saber: que a aproximação, promovida por Leibniz, entre o spinozismo e a
doutrina mística da anima mundi e, principalmente, a consequente crítica dessa última
podem ser lidas como a expressão de uma oposição mais primitiva a todo projeto de
fundamentação do conhecimento que envolva uma assimilação do fundamento a um
infinito intramundano. Para a concepção leibniziana de conhecimento filosófico e
científico, era essencial que o mundo não contivesse em si mesmo seu próprio fundamento,
o qual deve, ao contrário, ser pensado como uma realidade transcendente. Uma das
consequências mais surpreendentes dessa posição filosófica “transcendentalista” será,
como veremos adiante, uma valorização do conhecimento sensível e do discurso místico.
Veremos também, no entanto, que há, ao longo da vida de Leibniz, uma ambiguidade
contida essencialmente em sua atitude diante do misticismo, especialmente em torno da
doutrina da alma do mundo. Será proveitoso compreender essa ambiguidade não como o
signo de um deslize de atenção ou de um lapso de entendimento, mas antes, positivamente,
como uma ineliminável tensão constitutiva de seu próprio sistema.
Situação: Em andamento
Natureza: Pesquisa.
Alunos envolvidos: Graduação: (4) / Mestrado acadêmico: (4) / Doutorado: (4).
Integrantes: Ulysses Pinheiro - Coordenador.
Financiador(es): Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico –
Bolsa de Produtividade em Pesquisa (nível 1C).
2. 2014 - Atual
Título: O conceito de animal na "Monadologia" de Leibniz
25
Dissertação de mestrado
1.
1. Jonathan Alves. União entre corpo e mente na filosofia de Spinoza. Início:
2017. Dissertação (Mestrado em Programa de Pós-Graduação em Lógica e
Metafísica) - Universidade Federal do Rio de Janeiro, Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior. (Orientador).
2. Kissel Goldblum. A superação da hermenêutica subjetiva na teoria do
conhecimento de Spinoza. Início: 2017. Dissertação (Mestrado em Programa
de Pós-Graduação em Lógica e Metafísica) - Universidade Federal do Rio de
Janeiro. (Orientador).
3. Philippe de Alcântara Gebara. Sub specie libertatis: eternidade ou liberdade
em Espinosa. Início: 2017. Dissertação (Mestrado em Programa de Pós-
Graduação em Lógica e Metafísica) - Universidade Federal do Rio de
Janeiro. (Orientador).
Iniciação científica
1. Caíque Coelho. O conceito de liberdade na Ética de Spinoza. Início: 2017.
Iniciação científica (Graduando em Abi - Filosofia) - Universidade Federal
do Rio de Janeiro, bolsa de estudos da Fundação Carlos Chagas Filho de
Amparo à Pesquisa do Estado do RJ. (Orientador).
2. Fernando Lennertz. Leibniz e os animais. Início: 2015. Iniciação científica
(Graduando em Abi - Filosofia) - Universidade Federal do Rio de Janeiro,
bolsa de estudos do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico. (Orientador).
3. Irene Danowski Viveiros de Castro. Liberdade, compatibilismoe e a teoria do
tempo em Bergson. Início: 2015. Iniciação científica (Graduando em Abi -
Filosofia) - Universidade Federal do Rio de Janeiro, bolsa de estudos do
Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico.
(Orientador).
4. João Paulo Oliveira Carneiro. A noção de pensamento inconsciente em
Spinoza. Início: 2015. Iniciação científica (Graduando em Abi - Filosofia) -
Universidade Federal do Rio de Janeiro, bolsa de estudos do Conselho
Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico. (Orientador).
27
Bibliografia
- Fontes primárias:
LEIBNIZ, G. W. – Die philosophischen Schriften von G.W. Leibniz, ed. C.J. Gerhardt, 7 vols.,
Berlin, 1875-1890, reedição Georg Olms, Hildesheim, 1965 [G].
______ – Sämtliche Schriften und Briefe. Akademie der Wissenschaften zu Berlin (A).
______ – FOUCHER DE CAREIL, A., ed.: Réfutation inédite de Spinoza par Leibniz. Précédé
d’un mémoire par A. Foucher de Careil. Paris, 1854.
______ – Discours de métaphysique et correspondance avec Arnauld. Ed. por Georges Le Roy.
Paris: Vrin, 1988.
______ – Political Writings. Editado por Patrick Riley. Cambridge: Cambridge University Press,
1988.
______ – De Summa Rerum: Metaphysical Papers, 1675-1676 (Yale Leibniz). Yale University
Press, 1992.
______ – Opuscules et Fragments inédits de Leibniz. Editado por Louis Couturat. Paris, 1903.
Hildesheim: Georg Olms, 1966 [C].
______ – Textes inédits. Ed. por Gaston Grua. Paris: P.U.F., 1948.
______ – Recherches générales sur l’analyse des notions et des vérités. 24 thèses métaphysiques
et autres textes logiques et métaphysiques. Org. por Jean-Baptiste Rauzy. Paris: Presses
Universitaires de France, 1998.
______ – Œuvres. Ed. por Foucher de Careil. Paris, 1858-1875 [F. de C.].
______ – Confessio philosophi, La profession de foi du philosophe. Texte, traduction et notes par
Y. Belaval. Paris, Vrin, 1970.
______ – Textes inédits, d’après les manuscrites de la bibliothèque provinciale de Hanovre, publiés
et annotés par Gaston Grua. Paris: PUF, 1943 [Grua].
______ – Gothofredi Guillelmi Leibnitii Opera Omnia. Nunc primum collecta....Ed. L. Dutens. 6
vols. Geneva, 1768; repr. Hildesheim: Georg Olms, 1989 [Dut.].
28
______ – Philosophical Essays. Ed. e trad. Por Roger Ariew e Daniel Garber. Indianapolis:
Hackett, 1989.
______ – Leibniz: Logical Papers. Ed. e trad. Por G.H.R. Parkinson. Oxford: Clarendon Press,
1966.
______ – Spinoza Opera; Ed. Carl Gebhart, 4 vol., Heildelberg, Carl Winters, 1924.
______ – Oeuvres; trad. et notes de Ch. Appuhn, 4 vol., Paris: Garnier Flammarion, 1965.
______ – The Collected Works of Spinoza; edited and translated by E. Curley. Princeton, New
Jersey: Princeton University Press, 1988.
______ – Ética. Edição bilíngue. Tradução de Grupo de Estudos Espinosanos (coordenado por
Marilena Chauí). São Paulo: Edusp, 2015.
______ – Tratado da emenda do intelecto. Tradução de Cristiano Novaes de Rezende. Edição
bilíngue. Campinas: Editora da Unicamp, 2015.
BELAVAL, Yvon – Leibniz. De l’âge classique aux lumières. Lectures leibniziennes. Paris:
Beauchesne, 1995.
BODEMANN, E. – Aus den Briefen der Herzogin Elizabeth Charlotte von Orléans an die Sophie
Kurfürstin von Hannover. 2 volumes. Hanover : Hahn, 1891.
BOUCHER, Wayne I. (Ed.) – Spinoza. Eighteenth and Nineteenth- Century Discussions. Volume
1: 1700-1800. Ed. Por Boucher. Virginia: Thoemmes Press, 1999.
CARLIN, Laurence – “Infinite Accumulations and Pantheistic Implications”. In: The Leibniz
Review, v. 7, dezembro de 1997, pp.1-24.
CASALEGNO, Alberto – Para que contemplem a minha glória (João 17,24). Introdução à
teologia do Evangelho de João. São Paulo: Edições Loyola, 2009.
COLERUS, Johannes – The Life of Benedict de Spinosa (1705-1706). In: Spinoza. Eighteenth and
Nineteenth- Century Discussions. Volume 1: 1700-1800. Ed. Por Wayne I. Boucher.
Virginia: Thoemmes Press, 1999, pp. 66-85.
DELEUZE, Gilles – Le pli. Leibniz et le barroque. Paris: Les Éditions de Minuit, 1988.
______ – Spinoza et le problème de l'expression; Les Editions de Minuit, Paris, 1968.
______ – Spinoza: Philosophie Pratique; Les Editions de Minuit, Paris, 1981.
DERRIDA, Jacques – Séminaire. La bête et le souverain. Tome I (2001-2002). Paris: Galilée, 2008.
DESCARTES, René – Passions de l'âme. Œuvres de Descartes, vol. XI. Ed. por Charles Adam e
Paul Tannery. Paris : Léopold Cerf, 1909.
FICHANT, Michel – “Plus Ultra”. In: Leibniz. De l’Horizon de la Doctrine humaine.
Ἀποκατάστασις πάντων (La Restitution universelle). Paris: Vrin, 1991.
______ – L’invention métaphysique. In: G. W. Leibniz. Discours de métaphysique. Monadologie et
autres textes. Édition établie, présentée et annotée par Michel Fichant. Paris: Gallimard,
2004, pp. 7-140.
______ – “Leibniz e as máquinas da natureza”. In: Revista Dois Pontos, vol. 2, n. 1, outubro de
2005, pp. 27-51.
FRIEDMANN, Georges –Leibniz et Spinoza. Paris: Gallimard, 1962.
GARRETT, Don – “Spinoza’s Necessitarianism”. In: God and Nature: Spinoza’s Metaphysics.
Papers presented at the First Jerusalem Conference (Ethica I), edited by Yirmiyahu Yovel.
Leiden: E. J. Brill, 1991, pp. 191-218.
GUEROULT, Martial – Spinoza, I, Dieu. Paris: Aubier-Montaigne, 1968.
______ – Spinoza, II, L'Ame. Paris: Aubier-Montaigne, 1974.
HALLETT, H. F. – Benedict de Spinoza: The Elements of His Philosophy. London: The Athlone
Press, 1957.
HUNTER, Graeme – Radical Protestantism In Spinoza's Thought. Burlington, Vermont: Ashgate
Publishing Company, 2005.
ISRAEL, Jonathan –Radical Enlightenment. Philosophy and the Making of Modernity 1650-1750.
Oxford, New York: Oxford University Press, 2001.
JACQUET, Chantal – Sub Specie Æternitatis. Études des concepts de temps, durée et éternité chez
Spinoza. Paris: Éditions Kimé, 1997.
30
______ – Politisch Theologie II. Die Legende von der Erledigung jeder politischen Theologie
Berlin : Duncker & Humblot, 1970).
SMITH, Justin – “‘Spirit is a Stomach’: The Iatrochemical Roots of Leibniz’s Theory of Corporeal
Substance”. In: Matter and Form in Early Modern Science and Philosophy. European
History and Culture E-Books Online, Collection 2012 Volume: 28/6. Brill, 2012, pp 203-
224.
TAUBES, Jacob – Die politische Theologie des Paulus. München, 1993; 2003.
______ – Religionstheorie und Politische Theologie, 3 Bände, 1983-1987, München : Fink und
Schöningh, 1985.
WOLFSON, Harry Austryn – The Philosophy of Spinoza, Vol. I. Cambridge: Harvard University
Press, 1934.