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TJSE - Sistema de Controle Processual https://www.tjse.jus.br/tjnet/consultas/internet/exibeIntegra.wsp?tmp.numProcesso=202000112425&...

Gerada em
16/05/2020
21:33:46

Tribunal de Justiça do Estado de Sergipe

DECISÃO OU DESPACHO

Dados do Processo:
Número:
202000112425
Classe:
Mandado de Segurança Cível
Fase: Situação:
DISTRIBUÍDO ANDAMENTO Órgão Julgador:
Escrivania: Impedimento/Suspeição: TRIBUNAL PLENO
Escrivania da Câmara Criminal e Tribunal Pleno NÃO Distribuido Em:
Segredo de Justiça: Processo Sigiloso: 14/05/2020
NÃO NÃO
Tipo do Processo:
Eletrônico
Número Único:
0004311-66.2020.8.25.0000

Partes do Processo:
Tipo Nome Representante da Parte
Impetrante JOSÉ ANTÔNIO SILVA Advogado: ANDRÉ OLIVEIRA DE REZENDE - 10731/SE
Impetrado ESTADO DE SERGIPE Procurador Estadual: CARLOS HENRIQUE LUZ FERRAZ - 566-A/SE
Impetrado GOVERNADOR DO ESTADO DE SERGIPE Procurador Estadual: CARLOS HENRIQUE LUZ FERRAZ - 566-A/SE

Trata-se de Mandado de Segurança nº 202000112425, impetrado por JOSÉ ANTÔNIO SILVA para impugnar ato do GOVERNADOR
DO ESTADO DE SERGIPE que, em meio à pandemia de coronavírus (COVID-19), determinou " a proibição das atividades e dos
serviços públicos e privados não essenciais, com necessário fechamento, a exemplo de academias, shopping centers, galerias,
boutiques, clubes, boates, casas de espetáculos, salão de beleza, clínicas de estética, clínicas de saúde bucal/odontológica, clínicas
de fisioterapia, ressalvadas aquelas de atendimento de urgência e emergências, além do comércio em geral; ", por via do Decreto
Estadual nº 40.567, de 23 de março de 2020 (art. 2º, I, “b”).

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Diz a Impetrante que é Barbeiro na cidade de Itabaiana e com a sua barbearia fechada vem passando diversas privações e, inclusive, com o
seu sustento e de sua família comprometido.

Assevera que o Presidente da República editou o Decreto nº 10.344, de 8 de maio de 2020, o qual estabelece que os salões de beleza e as
barbearias passam a ser consideradas como atividades essenciais, desde que obedecidas as determinações do Ministério da Saúde.

Pede o deferimento da gratuidade, de medida liminar e a final concessão do ‘writ’.

Relatei e decido.

O artigo 2º, I, “b” do Decreto Estadual nº 40.567/2020, de 23 de março de 2020, expôs:

"Art. 2º Em decorrência do disposto no art. 1º deste Decreto, ficam determinadas as seguintes medidas em todo o território do Estado de
Sergipe, com vigência até o dia 17 de abril de 2020:

I - a proibição:

...........

(b) b) das atividades e dos serviços públicos e privados não essenciais, com necessário fechamento, a exemplo de academias, shopping
centers, galerias, boutiques, clubes, boates, casas de espetáculos, salão de beleza, clínicas de estética, clínicas de saúde bucal/odontológica,

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clínicas de fisioterapia, ressalvadas aquelas de atendimento de urgência e emergências, além do comércio em geral."

O Ministro do STF Marco Aurélio Mello proferiu decisão em ação movida pelo PDT que questionava a Medida Provisória (MP), publicada
pelo presidente Jair Bolsonaro, que deu aos órgãos reguladores - como a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) - a competência
para determinar medidas de restrição de locomoção como forma de conter a pandemia de coronavírus, bem como medidas de isolamento e
quarentena. O Ministro ampliou a competência de tais medidas para prefeitos e governadores, dizendo o seguinte:

"A disciplina decorrente da Medida Provisória nº 926/2020 não afasta a tomada de providências normativas e administrativas pelos Estados,
Distrito Federal e Municípios."

O entendimento foi referendado, por unanimidade, pelo Plenário do Supremo Tribunal Federal no último dia 15 de abril.

É certo, portanto, que o Presidente da República pode editar normas sobre os serviços essenciais, mas ainda cabe aos estados e municípios a
competência para estabelecer políticas de saúde — inclusive questões de quarentena e a classificação dos serviços essenciais.

E o Presidente da República editou o Decreto nº 10.344, de 8 de maio de 2020:

“Art. 1º O Decreto nº 10.282, de 20 de março de 2020, passa a vigorar com as seguintes alterações:

“Art. 3º ...........

§ 1º. ..............

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LIV - atividades de construção civil, obedecidas as determinações do Ministério da Saúde;

LV - atividades industriais, obedecidas as determinações do Ministério da Saúde;

LVI - salões de beleza e barbearias, obedecidas as determinações do Ministério da Saúde; e

LVII - academias de esporte de todas as modalidades, obedecidas as determinações do Ministério da Saúde.”

Assim, o Presidente da República pode editar Decretos sobre a pandemia e os Estados e Município possuem competência concorrente, sendo
certo que todas as normas federais, estaduais e municipais devem atender à razoabilidade.

Gramaticalmente falando, não podemos considerar que uma barbearia seja um salão de beleza, tanto assim é, que o Decreto presidencial
refere-se aos dois estabelecimentos. Neste caso, o óbice de funcionamento poderia ser enquadrado na expressão ‘comércio em geral’ constante
do Decreto estadual.

Tudo, então, resultaria no princípio da razoabilidade e é com este tema que defiro a liminar.

Ora, a partir do momento que um Decreto presidencial libera o uso de ‘barbearia’, os decretos estaduais e municipais só podem efetivar uma
proibição que seja razoável.

Então, em casos em que a pandemia se demonstre diversa de outros locais, o decreto estadual encontra razoabilidade. Assim, por exemplo, o
Estado do Ceará, que apresentou um índice de contaminação alto em comparação com os demais estados do nordeste.

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Sergipe vem enfrentando a pandemia com índices normais que não justificam medidas que podem se apresentar mais nocivas que a própria
pandemia, considerado o interesse social.

A abertura de uma barbearia atendendo a normas ditadas pelos organismos de saúde, em nada difere dos bancos e supermercados. Ou melhor,
apresentam um movimento bem inferior e menor risco de contaminação.

Por estes argumentos, fundado no princípio da razoabilidade e considerando o Decreto Presidencial, que inseriu os salões de beleza como
atividade essencial, entendo que está presente se demonstra o ‘fumus boni iuris’.

O ‘periculum in mora’ é evidente diante da penúria instalada com a pandemia, levando os profissionais, principalmente autônomos, a não ter,
sequer, o sustento seu e da família.

Portanto, DEFIRO a liminar para que o Impetrante possa desenvolver sua atividade de BARBEARIA, durante o período de restrição imposto
pelo Decreto nº 40.567/2020, de 23 de março de 2020, DESDE QUE ATENDIDAS AS NORMAS IMPOSTAS PELOS ORGANISMOS
DE SAÚDE.

Esta decisão servirá de alvará devendo as autoridades competentes cumpri-la como nela se contém, sendo desnecessária a imposição de multa
no presente momento.

1) Notifique-se o impetrado para, querendo, prestar informações, no prazo consignado no art. 7º, inciso I, da Lei n. 12.016/2009.

2) Devem as autoridades cumprir a decisão como nela se contém, servindo a consulta ao processo eletrônico como efetiva notificação de
conhecimento da decisão.

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3) Dê-se ciência do feito ao órgão de representação judicial da pessoa jurídica interessada, devendo os expedientes necessários ao efetivo
cumprimento da decisão ser firmados pela chefia da escrivania competente.

4) Esta decisão, quando disponibilizada e acessada no sistema de informática e de internet, fará ciência às partes e às autoridades para que a
cumpram como nela se contém.

5) Expeçam-se mandados e intimem-se.

I.

Ricardo Múcio Santana de A. Lima


Desembargador(a)

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