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Notas de leitura
melhor” – o livro não se dedica à ex- diga-se de passagem, seu intuito –, não dau, que defende a interculturalidade,
posição de experiências educacionais, restam dúvidas de que ele tem o mérito perspectiva que implica a aceitação da
mas constitui-se em um ensaio em que de lembrar-nos de que essa tarefa está interrelação entre diferentes grupos
o autor examina alguns lugares comuns ainda por ser realizada. culturais; da permanente renovação das
caros aos meios educacionais, relativos culturas; do processo de hibridização
à formação para a cidadania, à escola Lílian do Valle das culturas; e da vinculação entre
pública e seu papel na atualidade. De- Professora titular de filosofia da educa- questões de diferença e desigualdade.
certo, o caráter francamente opinativo ção da Universidade do Estado do Rio Partindo do pressuposto que a diferen-
do texto deixa amplo espaço para con- de Janeiro E-mail: lvalle@uerj.br ça se encontra na base dos processos
cordância, assim como para objeções. educativos, a autora sugere possibili-
Mas, em especial, a crítica à pletora de dades pedagógicas para o desenvolvi-
expectativas lançadas sobre a escola e à MOREIRA, Antônio Flávio Barbosa; mento de uma educação intercultural
idéia de uma “criança-cidadã” (p. 42), CANDAU, Vera Maria. Multicul- na escola.
às insuficiências do escolanovismo (p. turalismo: diferenças culturais e O segundo texto, de Antônio
70) e aos excessos do construtivismo práticas pedagógicas. Petrópolis: Flávio Moreira e Michelle Januário
(p. 89), assim como o clamor por uma Vozes, 2008. Câmara, enfoca a questão da identidade,
resposta às desigualdades e exclusões argumentando com base nos estudos
sociais que não implique abandono A questão multicultural tem des- culturais. Discute as concepções de iden-
da exigência da pluralidade e da vi- pertado interesse e candentes debates tidade e diferença e apresenta possíveis
sibilidade são questões que, mais do na atualidade. Multiculturalismo: dife- formas de lidar com essas questões no
que suscitar adesões ou antagonismos, renças culturais e práticas pedagógi- cotidiano da escola. Traz a experiência
carecem ainda de cuidadoso exame da cas traz uma importante contribuição de uma pesquisa realizada em sala de
área. para ampliar e aprofundar esse debate leitura, mostrando a possibilidade de en-
Por isso, não obstante os reparos em bases teóricas. Os organizadores volver alunos em discussões sobre raça,
que se fazem necessários (para citar os são Antônio Flávio Barbosa Moreira gênero e sexualidade, com a intenção de
mais evidentes, é sem dúvida impre- (Universidade Católica de Petrópolis) e desafiar representações hegemônicas.
ciso afirmar que o “primeiro esboço Vera Maria Candau (Pontifícia Univer- O terceiro texto, de Nilma
de projeto nacional” teve que esperar sidade Católica do Rio de Janeiro), que Gomes, sustenta que o racismo e a
por Vargas (p. 68); parece igualmente já possuem outras obras tratando das desinformação sobre a ascendência
pouco prudente incluir a noção de temáticas de currículo, cultura e forma- africana no Brasil constituem obstá-
autenticidade nesse sentido subjetivo ção de professores. culos à formação de uma consciência
e todo interior que a modernidade O livro traz uma coletânea de coletiva que tenha como eixo de ação
cunhou entre os temas platônicos (p. artigos de autores diversos sobre política a construção de uma sociedade
93); também a aproximação da noção questões referentes a identidade, raça, mais justa e igualitária. Discute a lei n.
arendtiana de senso comum às tarefas gênero, sexualidade, religião, cultura 10.639/2003, que tornou obrigatório o
da escola mereceria maior desenvol- juvenil e saberes. Os artigos vinculam ensino de história da África e de cultu-
vimento (p. 101-102); há um evidente essas questões com a escola, com o ra afro-brasileira nos currículos da es-
equívoco na caracterização da dife- currículo, alunos e professores, ou seja, cola básica. A partir de uma visão crí-
rença entre as noções de “educar” e com a prática pedagógica. São textos tica dessa proposta, a autora destaca os
“instruir” na tradição francesa (p. 61) atuais que se propõem a desafiar repre- aspectos positivos da nova legislação,
etc.), deve-se reconhecer que o autor sentações hegemônicas. A discussão da mas também alerta para os necessários
localiza com clareza não só os maiores questão multicultural precisa ir além do cuidados em sua implementação.
desafios colocados atualmente para a discurso, assim como começar a prover O texto de Marília Pinto de Car-
formação humana, como identifica com ferramentas mais práticas em conjunto valho é o quarto da coletânea e aborda
habilidade os instrumentos teóricos ca- com lentes conceituais. Essa é a pro- a relação entre gênero e educação.
pazes de amparar-nos em seu enfrenta- posta do livro: discutir aspectos teóri- Investiga a percepção das professoras
mento. Assim, se o trabalho não esgota, cos e práticos do multiculturalismo que de ensino fundamental sobre o desem-
longe de lá, o prodigioso potencial podem dar bases para uma formação de penho escolar de meninos e meninas,
de contribuições que ainda resta a ser professores mais crítica. apontando que a falta de critérios cla-
explorado pela educação – nem é esse, O primeiro texto é de Vera Can- ros para avaliar faz com que elas recor-
590 Revista Brasileira de Educação v. 13 n. 39 set./dez. 2008