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Língua Portuguesa

e Literatura
Professor

Caderno de Atividades
Pedagógicas de
Aprendizagem
Autorregulada – 02
9º Ano | 2º Bimestre

Disciplina Curso Bimestre Série


Português Ensino Fundamental 2° 9º

Habilidades Associadas
1. Identificar narrador, foco narrativo, espaço, tempo, personagens e conflito.
2. Identificar os elementos do enredo: apresentação, complicação, clímax e desfecho.
3. Identificar os usos dos discursos direto e indireto.
4. Identificar a presença de figuras de palavra, pensamento e de sintaxe nos gêneros estudados.
5. Reconhecer o encadeamento das orações pelo mecanismo da coordenação e reconhecer a
importância da pontuação e da paragrafação.
6. Reconhecer a importância da crônica e do conto na literatura nacional e do conto oral para o povo
indígena e africano; comparando os gêneros em questão.
Apresentação

A Secretaria de Estado de Educação elaborou o presente material com o intuito de estimular o


envolvimento do estudante com situações concretas e contextualizadas de pesquisa, aprendizagem
colaborativa e construções coletivas entre os próprios estudantes e respectivos tutores – docentes
preparados para incentivar o desenvolvimento da autonomia do alunado.
A proposta de desenvolver atividades pedagógicas de aprendizagem autorregulada é mais uma
estratégia pedagógica para se contribuir para a formação de cidadãos do século XXI, capazes de explorar
suas competências cognitivas e não cognitivas. Assim, estimula-se a busca do conhecimento de forma
autônoma, por meio dos diversos recursos bibliográficos e tecnológicos, de modo a encontrar soluções
para desafios da contemporaneidade, na vida pessoal e profissional.
Estas atividades pedagógicas autorreguladas propiciam aos alunos o desenvolvimento das
habilidades e competências nucleares previstas no currículo mínimo, por meio de atividades
roteirizadas. Nesse contexto, o tutor será visto enquanto um mediador, um auxiliar. A aprendizagem é
efetivada na medida em que cada aluno autorregula sua aprendizagem.
Destarte, as atividades pedagógicas pautadas no princípio da autorregulação objetivam,
também, equipar os alunos, ajudá-los a desenvolver o seu conjunto de ferramentas mentais, ajudando-o
a tomar consciência dos processos e procedimentos de aprendizagem que ele pode colocar em prática.
Ao desenvolver as suas capacidades de auto-observação e autoanálise, ele passa ater maior
domínio daquilo que faz. Desse modo, partindo do que o aluno já domina, será possível contribuir para
o desenvolvimento de suas potencialidades originais e, assim, dominar plenamente todas as
ferramentas da autorregulação.
Por meio desse processo de aprendizagem pautada no princípio da autorregulação, contribui-se
para o desenvolvimento de habilidades e competências fundamentais para o aprender-a-aprender, o
aprender-a-conhecer, o aprender-a-fazer, o aprender-a-conviver e o aprender-a-ser.
A elaboração destas atividades foi conduzida pela Diretoria de Articulação Curricular, da
Superintendência Pedagógica desta SEEDUC, em conjunto com uma equipe de professores da rede
estadual. Este documento encontra-se disponível em nosso site www.conexaoprofessor.rj.gov.br, a fim
de que os professores de nossa rede também possam utilizá-lo como contribuição e complementação às
suas aulas.
Estamos à disposição através do e-mail curriculominimo@educacao.rj.gov.br para quaisquer
esclarecimentos necessários e críticas construtivas que contribuam com a elaboração deste material.

Secretaria de Estado de Educação

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Caro Tutor,
Neste caderno, você encontrará atividades diretamente relacionadas a algumas
habilidades e competências do 2° Bimestre do Currículo Mínimo de Língua Portuguesa
do 9º Ano do Ensino Fundamental. Estas atividades correspondem aos estudos durante
o período de um mês.
A nossa proposta é que você atue como tutor na realização destas atividades
com a turma, estimulando a autonomia dos alunos nessa empreitada, mediando as
trocas de conhecimentos, reflexões, dúvidas e questionamentos que venham a surgir no
percurso. Esta é uma ótima oportunidade para você estimular o desenvolvimento da
disciplina e independência indispensáveis ao sucesso na vida pessoal e profissional de
nossos alunos no mundo do conhecimento do século XXI.
Neste Caderno de Atividades, os alunos vão estudar os gêneros textuais crônica e
conto. Eles vão aprender a identificar os elementos da narrativa e do enredo e
aprenderão a distinguir texto ficcional de não ficcional. Ao final, verão a relevância da
crônica e do conto para a literatura nacional e do conto oral para o povo indígena e
africano.
Para os assuntos abordados em cada bimestre, vamos apresentar algumas
relações diretas com todos os materiais que estão disponibilizados em nosso portal
eletrônico Conexão Professor, fornecendo diversos recursos de apoio pedagógico para o
Professor Tutor.
Este documento apresenta 06 (seis) aulas. As aulas podem ser compostas por
uma explicação base, para que você seja capaz de compreender as principais ideias
relacionadas às habilidades e competências principais do bimestre em questão, e
atividades respectivas. Leia o texto e, em seguida, resolva as Atividades propostas. As
Atividades são referentes a dois tempos de aula. Para reforçar a aprendizagem, propõe-
se, ainda, uma avaliação e uma pesquisa sobre o assunto.

Um abraço e bom trabalho!


Equipe de Elaboração

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Sumário

Introdução .......................................................................................... 03
Objetivos Gerais .................................................................................. 05
Materiais de Apoio Pedagógico .......................................................... 05
Orientação Didático-Pedagógica ........................................................ 06
Aula 1: Texto ficcional e não ficcional ................................................. 07
Aula 2: A estrutura da narrativa........................................................... 13
Aula 3: Discursos direto e indireto ...................................................... 20
Aula 4: As figuras de linguagem nos textos ......................................... 26
Aula 5: Pontuação e paragrafação ...................................................... 32
Aula 6: Gêneros importantes ............................................................. 39
Avaliação ............................................................................................ 45
Pesquisa ............................................................................................... 49

Referências ......................................................................................... 52

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Objetivos Gerais

No 2º bimestre do 9º ano do Ensino Fundamental, os gêneros textuais


contemplados para estudo são a crônica e o conto. A partir deles, vamos aprender a
identificar os elementos que compõem a narrativa e sua estrutura. Em seguida,
aprenderemos a reconhecer e utilizar os discursos direto e indireto. Após, vamos
estudar as principais figuras de linguagem e reconhecer o encadeamento das orações
por meio do processo de coordenação. Além disso, aprenderemos a reconhecer a
importância da pontuação e da paragrafação. Depois, vamos estudar a importância da
crônica e do conto na literatura nacional e a importância do conto oral para os povos
indígenas e africanos. Por fim, faremos um estudo comparativo dos gêneros crônica e
conto.

Materiais de Apoio Pedagógico

No portal eletrônico Conexão Professor, é possível encontrar alguns materiais


que podem auxiliá-los. Vamos listar estes materiais a seguir:

Aula Teleaulas Recursos


Orientações Pedagógicas do CM
Referência Autonomia nº Digitais
http://www.con
http://www.conexaoprofessor.rj exaoprofessor.r
.gov.br/downloads/cm/cm_11_ j.gov.br/downlo
9_9A_2.pdf ads/cm/cm_12_
9_9A_2.pdf
Aula 1 20, 20 e 30 --- ---
28, 29, 41, 44 e
Aula 2 --- ---
45
Aula 3 71, 77 --- ---
Aula 4 63 --- ---
08, 09, 24, 28,
Aula 5 29, 41, 44, 45, --- ---
82, 85

5
42, 44, 64, 65,
Aula 6 --- ---
84

Orientação Didático-Pedagógica

Para que os alunos realizem as atividades referentes a cada dia de aula,


sugerimos os seguintes procedimentos para cada uma das atividades propostas no
Caderno do Aluno:
1° - Explique aos alunos que o material foi elaborado que o aluno possa
compreendê-lo sem o auxílio de um professor.
2° - Leia para a turma a Carta aos Alunos, contida na página 3.
3° - Reproduza as atividades para que os alunos possam realizá-las de forma
individual ou em dupla.
4° - Se houver possibilidade de exibir vídeos ou páginas eletrônicas sugeridas na
seção Materiais de Apoio Pedagógico, faça-o.
5° - Peça que os alunos leiam o material e tentem compreender os conceitos
abordados no texto base.
6° - Após a leitura do material, os alunos devem resolver as questões propostas
nas ATIVIDADES.
7° - As respostas apresentadas pelos alunos devem ser comentadas e debatidas
com toda a turma. O gabarito pode ser exposto em algum quadro ou mural da sala
para que os alunos possam verificar se acertaram as questões propostas na Atividade.
Todas as atividades devem seguir esses passos para sua implementação.

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Aula 1: Texto ficcional e não ficcional

Caro(a) aluno (a),

Seja bem vindo(a) à aula 1. Nela, vamos aprender a identificar os elementos


que compõem a narrativa, distinguir texto ficcional e não ficcional, fato e opinião.
Ao longo de sua vida, você já ouviu e leu muitas histórias e certamente já deve
ter notado que elas apresentam elementos que se repetem na maioria delas. Por
exemplo, pense numa história infantil muito conhecida, como a de Chapeuzinho
Vermelho. Certamente, você já ouviu e leu essa narrativa clássica inúmeras vezes na
escola e ouviu de seus familiares. Ao lembrar-se do enredo, ou seja, da história em si,
você vai automaticamente se recordar de algumas informações. Quem são, por
exemplo, Chapeuzinho Vermelho, o Lobo, a Vovozinha e o Caçador? São os seres que
atuam na história, as chamadas personagens. Essas personagens vivenciam as ações
em um lugar, ao qual damos o nome de espaço. Além disso, a história acontece
dentro de um limite de tempo.
Há também alguém que conta a história e que damos o nome de narrador. O
narrador não pode ser confundido com o autor, que tem existência real. O narrador,
ao contrário do autor, tem uma existência fictícia, assim como todas as personagens
da história. Ele pode adotar basicamente dois pontos de vista para contar a história: se
ele for um dos personagens, temos um narrador-personagem. Se ele apenas observa
os fatos e os conta para o leitor, dizemos que se trata de um narrador-observador.
Sendo assim, se o narrador é personagem, dizemos que o foco narrativo, ou seja, a
perspectiva adotada pelo narrador ao narrar os fatos, é 1ª pessoa, já que ele participa
diretamente da história e os pronomes e verbos estarão flexionados na 1ª pessoa
(eu/nós). Se o narrador é observador, dizemos que o foco narrativo é 3ª pessoa, com
pronomes e verbos em 3ª pessoa (ele/ela).
Além dos contos de fadas infantis, outro gênero narrativo comum em nossa
sociedade é a crônica.

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A crônica geralmente apresenta fatos e acontecimentos contemporâneos
narrados sob a perspectiva de quem os escreve. É um gênero de texto importante para
a literatura nacional, já que é muito comum encontrarmos crônicas em jornais,
revistas, livros e internet.
As crônicas podem tratar de diversos temas e possuir diferentes propósitos.
Geralmente, para construir sua crônica, o cronista apoia-se em fatos comuns do
cotidiano e, boa parte das vezes, com um toque de humor. Também é muito comum o
autor apresentar sua opinião em relação ao fato que está narrando na crônica.

Atividade Comentada 1

Nesta atividade, propomos que você leia dois gêneros textuais distintos, mas
com características em comum: uma notícia e uma crônica. Em seguida, responda às
atividades 1 a 5.

TEXTO 1:
Polícia Rodoviária Estadual prende idosa por contrabando de medicamentos
do Paraguai
Uma mulher de 64 anos foi presa em flagrante pelo crime de contrabando de
medicamentos do Paraguai, por volta 20h30 de quarta-feira (29/08/2012), na rodovia
PR-317, próximo ao posto da Polícia Rodoviária Estadual (PRE) de Floresta.
Segundo a PRE, foram encontradas no casaco e na bagagem da idosa, 500
cartelas, totalizando 10 mil comprimidos, do medicamento Pramil, para disfunção
erétil, além de dez cartelas, ou 160 comprimidos, de Disobesi-M, para emagrecer e
para eliminar o sono e a fadiga. A senhora estava em um ônibus que realizava o
trecho Foz do Iguaçu – Belo Horizonte.
A idosa disse à polícia que a droga seria comercializada na cidade de Barra
Mansa (RJ) entre seus amigos, segundo a PRE.

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A mulher foi encaminhada à delegacia de Polícia Federal (PF) de Maringá por
infração ao Artigo 273 do Código Penal, que trata de falsificação de medicamentos e
prevê pena de 10 anos a 15 anos de prisão.
(Disponível em:
http://www.gazetadopovo.com.br/vidaecidadania/conteudo.phtml?id=1292072&tit=PRE-prende-idosa-
por-contrabando-de-medicamentos-do-Paraguai Acesso em: 09 ago. 2013. Com adaptações.)

TEXTO 2:
A velha contrabandista

Diz que era uma velhinha que sabia andar de lambreta. Todo dia ela passava
pela fronteira montada na lambreta, com um bruto saco atrás da lambreta. O pessoal
da Alfândega – tudo malandro velho – começou a desconfiar da velhinha.
Um dia, quando ela vinha na lambreta com o saco atrás, o fiscal da Alfândega
mandou ela parar. A velhinha parou e então o fiscal perguntou assim pra ela:
– Escuta aqui, vovozinha, a senhora passa por aqui todo dia, com esse saco aí
atrás. Que diabo a senhora leva nesse saco?
A velhinha sorriu com os poucos dentes que lhe restavam e mais os outros, que
ela adquirira no odontólogo e respondeu:
– É areia!
Aí quem sorriu foi o fiscal. Achou que não era areia nenhuma e mandou a
velhinha saltar da lambreta para examinar o saco. A velhinha saltou, o fiscal esvaziou o
saco e dentro só tinha areia. Muito encabulado, ordenou à velhinha que fosse em
frente. Ela montou na lambreta e foi embora, com o saco de areia atrás.
Mas o fiscal ficou desconfiado ainda. Talvez a velhinha passasse um dia com
areia e no outro com muamba, dentro daquele maldito saco. No dia seguinte, quando
ela passou na lambreta com o saco atrás, o fiscal mandou parar outra vez.
Perguntou o que é que ela levava no saco e ela respondeu que era areia, uai! O
fiscal examinou e era mesmo. Durante um mês seguido o fiscal interceptou a velhinha
e, todas às vezes, o que ela levava no saco era areia.
Diz que foi aí que o fiscal se chateou:

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– Olha, vovozinha, eu sou fiscal de alfândega com 40 anos de serviço. Manjo
essa coisa de contrabando pra burro. Ninguém me tira da cabeça que a senhora é
contrabandista.
– Mas no saco só tem areia! – insistiu a velhinha. E já ia tocar a lambreta,
quando o fiscal propôs:
– Eu prometo à senhora que deixo a senhora passar. Não dou parte, não
apreendo, não conto nada a ninguém, mas a senhora vai me dizer: qual é o
contrabando que a senhora está passando por aqui todos os dias?
– O senhor promete que não “espaia”? – quis saber a velhinha.
– Juro – respondeu o fiscal.
– É a lambreta.
(Disponível em: http://pensador.uol.com.br/frase/NTE3MzQ5/. Acesso em 06 ago. 2013.)

1) A partir da leitura comparativa dos textos 1 e 2, responda:


a) Qual dos dois textos apresenta fatos, isto é, acontecimentos “reais”?
Resposta: Texto 1.

b) Que texto, 1 ou 2, pertence ao mundo ficcional? Como você chegou a essa


conclusão?
Resposta comentada:
Texto 2. A partir da análise dos fatos que constam na história e da maneira peculiar
como foram narrados, percebe-se que o texto 2 é ficcional. Em narrativas ficcionais,
como a crônica analisada, é comum o traço de humor e uma linguagem bastante
informal, próxima do cotidiano, recheada de gírias e expressões populares que
certamente não seriam utilizadas numa notícia. Embora os fatos narrados sejam
verossímeis, ou seja, com aparência de real, os enredos das crônicas normalmente
são ficcionais.

2) Preencha o quadro a seguir de modo a estabelecer a distinção entre a notícia (texto


1) e a crônica (texto 2):
Resposta comentada:

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Professor, esta atividade tem por objetivo mostrar ao aluno que o material, ou seja,
a temática das crônicas geralmente é abordar fatos cotidianos. Por isso, é importante
estabelecer a diferença entre notícia e crônica, para que o aluno seja capaz de
distinguir texto ficcional de não ficcional.

Notícia (texto 1) Crônica (texto 2)


Quem? (participantes) A idosa Personagens: A velha contrabandista e o
contrabandista. fiscal da alfândega.

O quê? (o fato) Uma idosa foi presa pela Enredo: A velhinha atravessava a
PRE contrabandeando medicamentos. alfândega todos os dias com um saco de
areia na lambreta para não levantar
suspeitas de que estava
contrabandeando a lambreta.
Quando? (tempo) Dia 29/08/2012. Tempo: Um mês

Onde? (lugar) Na rodovia PR-317, Espaço: A alfândega.


próximo ao posto da Polícia Rodoviária
Estadual (PRE) de Floresta.

3) O texto “A velha contrabandista” é chamada de crônica narrativa em que um fato


comum do cotidiano é marcado por pequenos acontecimentos cheios de humor. O
narrador não apresenta os nomes das personagens e elas não têm descrição
psicológica profunda. Com base nessas informações, responda:
a) Quem é a personagem principal da crônica e como ela pode ser caracterizada?
Resposta comentada:
A personagem principal da crônica é a velhinha e pode ser caracterizada como uma
pessoa simples, pelo seu modo de falar e pelo seu aspecto físico (poucos dentes).
Pelas pistas fornecidas pelo texto, podemos dizer também que ela era uma pessoa
corajosa (por realizar um contrabando) e astuta (já que conseguiu enganar o fiscal).

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b) Qual é o foco narrativo (1ª pessoa ou 3ª pessoa) em que a história é apresentada?
Resposta: O texto foi narrado em 3ª pessoa.

c) Qual é o tipo de narrador presente no texto?


Resposta: O narrador é observador.

d) Qual é o conflito gerador da história?


Resposta comentada: O conflito que desencadeia toda a narrativa é o fato de o fiscal
desconfiar do saco que a velhinha carregava todos os dias na lambreta.

A respeito do texto 2, responda às questões a seguir:

4) Por que a velhinha decidiu contar a verdade?

Resposta comentada: Porque o fiscal garantiu a ela que não aprenderia o produto
contrabandeado, não a levaria presa e a deixaria passar.

5) Qual é a grande surpresa da história?

Resposta comentada: A lambreta ser o contrabando e não o saco de areia, como o


fiscal havia pensando inicialmente.

6) A expressão “tudo malandro velho” é própria da linguagem coloquial, da linguagem


do dia a dia. Retire do texto três outras expressões que também ilustram usos
próprios da linguagem não padrão.

Resposta comentada:

As demais expressões coloquiais que aparecem no texto são: “com um bruto saco”;
“Escuta aqui”; “Que diabo”; “maldito saco”; “uai”! “Manjo essa coisa (...) pra burro”;
“Ninguém me tira da cabeça”; “espaia”.

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Aula 2: A estrutura da narrativa

Nesta aula, vamos estudar a estrutura da narrativa, ou seja, as partes


fundamentais que compõem os gêneros narrativos.
O enredo das narrativas, ou seja, o conjunto de fatos que compõem a história,
geralmente apresenta uma sequência de eventos numa ordem padronizada. Para você
compreender melhor, vamos novamente nos reportar à clássica história de
“Chapeuzinho Vermelho”. Transcrevemos, a seguir, a história resumida.

“Uma menina chamada Chapeuzinho Vermelho foi visitar sua avó que morava
distante e estava doente. Sua mãe queria notícias da velha senhora e mandou a filha
fazer-lhe uma visita, levando alguns doces. O caminho era longo e passava por uma
floresta. O Lobo-Mau, vendo a menina andar sozinha pela floresta, abordou-a no
caminho, fingindo ser amigo, pois sua intenção era comer a neta e a avó. Ao chegar à
casa da avó, Chapeuzinho Vermelho foi tomada de surpresa, pois achou-a um tanto
diferente de como a conhecia. O Lobo-Mau já tinha comido a velhinha e vestido sua
roupa, meteu-se em sua cama e esperava para dar o bote final na menina. No
momento em que o lobo tentava devorar a menina, um caçador passava pelo local,
ouviu os gritos de Chapeuzinho Vermelho e foi salvá-la. O caçador matou o lobo,
retirou a vovó da barriga do bicho e todos viveram felizes para sempre!”
(Disponível em: http://www.netsaber.com.br/resumos/ver_resumo_c_4053.html Acesso em 10 ago.
2013. Com adaptações.)

Se você comparar a sequência de ações dessa história com a de outras que


você já leu e ouviu, você vai chegar à conclusão de que há uma estrutura comum entre
elas, ou seja, há um princípio, um meio e um fim. Esse princípio diz respeito à situação
inicial ou apresentação. Nesse primeiro momento, o objetivo do narrador é apenas
descrever os personagens, o tempo e o espaço. Num segundo momento, bem mais
extenso, começa a se desenvolver o conflito. É a complicação. Há um momento de
maior tensão na narrativa, ao qual damos o nome de clímax. E, por fim, quando os
conflitos são solucionados, temos o desfecho.

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Repare que toda essa sequência de ações se estrutura em torno de um conflito,
que é responsável por desencadear toda a narrativa. Geralmente o motivo que gera os
fatos encontra-se, não por acaso, no início da complicação, uma vez que algum
personagem toma uma atitude que desestabiliza o momento inicial, no qual nenhum
evento realmente importante havia acontecido.
Agora, vamos esquematizar no quadro a seguir as partes que compõem a
história de “Chapeuzinho Vermelho”. Observe:

1. Apresentação ou exposição: a mãe pede à filha que vá


à casa da vovó saber notícias e levar alguns doces.

Estrutura clássica do enredo 2. Complicação: No meio do caminho, a menina é


abordada pelo Lobo Mau.
“Chapeuzinho Vermelho”
3. Clímax: O Lobo Mau devora a avó de Chapeuzinho
Vermelho e tenta atacá-la também.

4. Desfecho: O Lobo Mau é morto pelo caçador e a vovó


e Chapeuzinho são salvas.

Agora que você já estudou, na aula 1, os elementos da narrativa (personagens,


tempo, espaço e narrador) e, na aula 2, a estrutura da narrativa (apresentação,
complicação, clímax e desfecho), você terá condições de ler e analisar com mais
profundidade um outro gênero textual, o conto.

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Atividade Comentada 2

Vamos ler a seguir um belo conto de Marina Colassanti, intitulado “A moça


tecelã”.
A moça tecelã
Acordava ainda no escuro, como se ouvisse o sol chegando atrás das beiradas da
noite. E logo sentava-se ao tear.
Linha clara, para começar o dia. Delicado traço cor da luz, que ela ia passando
entre os fios estendidos, enquanto lá fora a claridade da manhã desenhava o
horizonte.
Depois lãs mais vivas, quentes lãs iam tecendo hora a hora, em longo tapete que
nunca acabava.
Se era forte demais o sol, e no jardim pendiam as pétalas, a moça colocava na
lançadeira grossos fios cinzentos do algodão mais felpudo. Em breve, na penumbra
trazida pelas nuvens, escolhia um fio de prata, que em pontos longos rebordava sobre
o tecido. Leve, a chuva vinha cumprimentá-la à janela.
Mas se durante muitos dias o vento e o frio brigavam com as folhas e
espantavam os pássaros, bastava a moça tecer com seus belos fios dourados, para que
o sol voltasse a acalmar a natureza.
Assim, jogando a lançadeira de um lado para outro e batendo os grandes pentes
do tear para frente e para trás, a moça passava os seus dias.
Nada lhe faltava. Na hora da fome tecia um lindo peixe, com cuidado de
escamas. E eis que o peixe estava na mesa, pronto para ser comido. Se sede vinha,
suave era a lã cor de leite que entremeava o tapete. E à noite, depois de lançar seu fio
de escuridão, dormia tranquila.
Tecer era tudo o que fazia. Tecer era tudo o que queria fazer.
Mas tecendo e tecendo, ela própria trouxe o tempo em que se sentiu sozinha, e
pela primeira vez pensou em como seria bom ter um marido ao lado.
Não esperou o dia seguinte. Com capricho de quem tenta uma coisa nunca
conhecida, começou a entremear no tapete as lãs e as cores que lhe dariam

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companhia. E aos poucos seu desejo foi aparecendo, chapéu emplumado, rosto
barbado, corpo aprumado, sapato engraxado. Estava justamente acabando de
entremear o último fio do ponto dos sapatos, quando bateram à porta.
Nem precisou abrir. O moço meteu a mão na maçaneta, tirou o chapéu de
pluma, e foi entrando em sua vida.
Aquela noite, deitada no ombro dele, a moça pensou nos lindos filhos que
teceria para aumentar ainda mais a sua felicidade.
E feliz foi, durante algum tempo. Mas se o homem tinha pensado em filhos, logo
os esqueceu. Porque tinha descoberto o poder do tear, em nada mais pensou a não
ser nas coisas todas que ele poderia lhe dar.
– Uma casa melhor é necessária – disse para a mulher. E parecia justo, agora que
eram dois. Exigiu que escolhesse as mais belas lãs cor de tijolo, fios verdes para os
batentes, e pressa para a casa acontecer.
Mas pronta a casa, já não lhe pareceu suficiente. – Para que ter casa, se
podemos ter palácio? – perguntou. Sem querer resposta imediatamente ordenou que
fosse de pedra com arremates em prata.
Dias e dias, semanas e meses trabalhou a moça tecendo tetos e portas, e pátios e
escadas, e salas e poços. A neve caía lá fora, e ela não tinha tempo para chamar o sol.
A noite chegava, e ela não tinha tempo para arrematar o dia. Tecia e entristecia,
enquanto sem parar batiam os pentes acompanhando o ritmo da lançadeira.
Afinal o palácio ficou pronto. E entre tantos cômodos, o marido escolheu para ela e
seu tear o mais alto quarto da mais alta torre.
– É para que ninguém saiba do tapete – ele disse. E antes de trancar a porta à
chave, advertiu: – Faltam as estrebarias. E não se esqueça dos cavalos!
Sem descanso tecia a mulher os caprichos do marido, enchendo o palácio de
luxos, os cofres de moedas, as salas de criados. Tecer era tudo o que fazia. Tecer era
tudo o que queria fazer.
E tecendo, ela própria trouxe o tempo em que sua tristeza lhe pareceu maior que
o palácio com todos os seus tesouros. E pela primeira vez pensou em como seria bom
estar sozinha de novo.

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Só esperou anoitecer. Levantou-se enquanto o marido dormia sonhando com
novas exigências. E descalça, para não fazer barulho, subiu a longa escada da torre,
sentou-se ao tear.
Desta vez não precisou escolher linha nenhuma. Segurou a lançadeira ao
contrário, e jogando-a veloz de um lado para o outro, começou a desfazer seu tecido.
Desteceu os cavalos, as carruagens, as estrebarias, os jardins. Depois desteceu os
criados e o palácio e todas as maravilhas que continha. E novamente se viu na sua casa
pequena e sorriu para o jardim além da janela.
A noite acabava quando o marido estranhando a cama dura, acordou, e,
espantado, olhou em volta. Não teve tempo de se levantar. Ela já desfazia o desenho
escuro dos sapatos, e ele viu seus pés desaparecendo, sumindo as pernas. Rápido, o
nada subiu-lhe pelo corpo, tomou o peito aprumado, o emplumado chapéu.
Então, como se ouvisse a chegada do sol, a moça escolheu uma linha clara. E foi
passando-a devagar entre os fios, delicado traço de luz, que a manhã repetiu na linha
do horizonte.
(Disponível em: http://www.recantodasletras.com.br/resenhasdelivros/1413748. Acesso em 10
ago. 2013.)

Vocabulário:
Pender: inclinar-se; estar pendurado
Lançadeira: peça de tear por onde passa o fio da tecelagem
Penumbra: sombra incompleta; meia-luz
Pente: peça onde se encaixam as balas de uma arma; peça onde passam os fios de um
tecido
Entremear: misturar; intercalar
Emplumado: enfeitado com plumas ou penas
Aprumado: alinhado
Batente: rebaixo onde janela e porta se encaixam ao fechar
Estrebaria: lugar onde se recolhem cavalos e arreios
Capricho: desejo, extravagância

Após a leitura do conto “A moça tecelã”, respondas às questões propostas.

1) Quais são as personagens da narrativa? Como elas podem ser caracterizadas?


Resposta comentada: Os personagens são a moça tecelã e seu marido. Ela era uma
moça simples, sonhadora, com um talento incrível para o tear. O homem era
autoritário e ambicioso.

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2) Em que espaço os fatos ocorrem?
Resposta comentada: Uma parte da história na casa da moça tecelã, uma pequena
parte na casa nova e a outra parte no palácio que ela havia tecido.

3) Em quanto tempo aproximadamente a história acontece?


Resposta comentada: Embora o texto não apresente uma delimitação temporal,
pode-se inferir, pela sequência dos fatos, que a história se passa durante alguns
anos.

4) Qual é o conflito que desencadeia toda a história?


Resposta comentada: A moça, se sentindo solitária, tece a figura de um marido, na
esperança de ser feliz ao seu lado.

5) Qual é o foco narrativo (1° pessoa ou 3° pessoa) em que a história é apresentada?


Justifique.
Resposta comentada: A história foi narrada em 3ª pessoa, pois o narrador observa e
conta ao leitor os fatos que presencia, sem participar da história.

6) Qual é o tipo de narrador que conta a história? Explique.


Resposta: Narrador-observador.

7) Agora, resuma os fatos presentes nas quatro partes fundamentais da narrativa.

A narração inicia-se com a descrição do dia a dia da personagem.


Acordava antes de o sol nascer e logo sentava-se ao tear. De
acordo com as linhas que escolhia, o tempo e a natureza
mudavam sutilmente. Em dias ensolarados, bastava tecer com
linhas grossas e acinzentadas para o tempo se fechar e depois,
APRESENTAÇÃO
com linhas pratas, fazer chover. Assim como se estivesse
nublado e frio, ela usava linhas claras e quentes para o sol voltar
a aparecer. Além do clima, a moça utilizava seu tear para fazer
suas comidas (peixe, leite etc). Ao final do dia, ia dormir após
tecer a escuridão. Tecia por prazer.

18
Com o passar do tempo, ela se sente só e decide tecer um
marido. Foi feliz, por um tempo, até o marido descobrir o poder
de seu tear. E em nada mais pensou a não ser nas coisas que ele
poderia lhe dar. Primeiramente, pede-lhe uma casa melhor, e a
COMPLICAÇÃO
moça a faz. Não satisfeito, pede-lhe um castelo com vários
cômodos, escadarias, estrebarias e cavalos. A moça tecia e se
entristecia, não tendo mais tempo para chamar o sol ou a chuva.

Cansada de apenas trabalhar e de o marido estar sempre


insatisfeito, ela mesma decide voltar à vida em que não tinha
CLÍMAX trabalho e sim prazer. Assim que seu marido dorme, ela começa
a desfazer seu tecido: os cavalos, as estrebarias, as escadarias, o
castelo e, por fim, o próprio marido ambicioso.

Novamente se viu na sua casa pequena e sorriu para o jardim


DESFECHO além da janela. Voltou a tecer o raio do dia e o resto de sua
aconchegante e prazerosa vida.

19
Aula 3: Discursos direto e indireto

Seja bem-vindo(a) à aula 3. Nela, vamos aprender a identificar o uso dos


discursos direto e indireto nos textos narrativos.
Até aqui, você já leu algumas crônicas e contos e percebeu que, na construção
desses textos narrativos, os fatos giram em torno de personagens e são conduzidos
por um narrador. A maneira como esse narrador apresenta os fatos depende muito de
sua intencionalidade. Numa narrativa, o narrador pode optar por não apresentar os
diálogos entre seus personagens ou, ao contrário, pode apresentar essas falas de
maneira direta – em que as personagens falam por si mesmas, ou seja, o narrador,
interrompe a narrativa, põe-nos em cena e cede-lhes a palavra – ou indireta – em que
o narrador se coloca como intérprete dos personagens, transmitindo ao leitor o que
disseram ou pensaram.
Geralmente, no discurso direto, as falas das personagens são introduzidas pelos
chamados verbos dicendi (de dizer), seguidos de dois pontos, tais como: disse, gritei,
exclamou, retrucou, esbravejou, reclamou... É importante que você saiba reconhecer
os verbos dicendi nas narrativas para identificar quem está com a palavra no texto, se
o narrador ou as personagens.
Na ausência dos verbos dicendi, pode-se utilizar as aspas (“ ”) ou o travessão
(─). As aspas normalmente são utilizadas para marcar falas isoladas dentro do texto,
fora do diálogo entre as personagens, entretanto, na maior parte dos diálogos é
utilizado o travessão.
Vamos observar a história de “Chapeuzinho Vermelho”, no clímax do conto:

O Lobo-Mau já tinha comido a velhinha e vestido sua roupa, meteu-se em sua


cama e esperava para dar o bote final na menina. No momento em que o lobo tentava
devorar a menina, um caçador passava pelo local, ouviu os gritos de Chapeuzinho
Vermelho e foi salvá-la.
Repare que não há diálogo entre as personagens. Imaginemos, entretanto, o
seguinte diálogo:

20
O Lobo-Mau já tinha comido a velhinha e vestido sua roupa, meteu-se em sua
cama e esperava para dar o bote final na menina. No momento em que o lobo tentava
devorar a menina, ela gritou:
─ Socorro, socorro, me ajudem, o lobo malvado quer me devorar! Estou aqui na
casa da vovó! Por favor, alguém me salve!

Agora analise o mesmo trecho reproduzido em discurso indireto:

O Lobo-Mau já tinha comido a velhinha e vestido sua roupa, meteu-se em sua


cama e esperava para dar o bote final na menina. No momento em que o lobo tentava
devorar a menina, ela gritou por alguém que a ajudasse, pois o lobo malvado queria
devorá-la. Ela estava lá na casa da vovó e implorava para que alguém a salvasse.

Repare que o discurso direto e o indireto apresentam características linguísticas


distintas. Quando da transposição do discurso direto para o indireto, os verbos no
presente do indicativo (quer, estou) passam para o pretérito imperfeito do indicativo
(queria, estava); verbos no imperativo (ajudem, salve) passam para o imperfeito do
subjuntivo (ajudasse, salvasse) e os advérbios com referência próxima à primeira
pessoa (aqui) passam à terceira pessoa (lá) e assim por diante.

A seguir, reproduzimos um quadro para você consultar as principais alterações


que ocorrem em verbos, pronomes e advérbios na transposição do discurso direto
para o indireto.

DISCURSO DIRETO DISCURSO INDIRETO


VERBOS
Presente do Indicativo Imperfeito do Indicativo
Todos os presentes disseram: Todos os presentes disseram que não
- Não votamos nele. votavam nele.
Perfeito do Indicativo Mais-que-perfeito do Indicativo
O moço perguntou: O moço perguntou se ele não assinara
- Ele não assinou o requerimento? (tinha assinado) o requerimento.
Futuro do Presente Futuro do Pretérito

21
O mecânico garantiu: O mecânico garantiu que consertaria a
- Eu consertarei a moto. moto.
Presente do Subjuntivo Imperfeito do Subjuntivo
- Duvido que a assembléia aprove a O sindicalista disse-lhe que duvidava que
proposta – disse-lhe o sindicalista. a assembléia aprovasse a proposta do
governo.
Futuro do Subjuntivo Imperfeito do Subjuntivo
A garota disse: A garota disse que só sairia quando ele
- Só sairei quando ele chegar. chegasse.
Imperativo Imperfeito do Subjuntivo
- Passe-me o sal – pediu-me ela. Ela pediu-me que lhe passasse o sal.
PRONOMES
eu, nós, você(s), senhor(a)(s) ele(s), ela(s)
A garota afirmou: A garota afirmou que ela amava ler.
- Eu amo ler.
meu(s), minha(s), nosso(a)(s) seu(s), sua(s) dele(a)(s)
- Meus pais participarão da campanha – O menino disse que seus pais
disse o menino. participariam da campanha.
este(a)(s), isto, isso aquele(a)(s), aquilo
- Isso lhe pertence? – perguntou Ele(a) perguntou se aquilo lhe pertencia.
ADVÉRBIOS
ontem, hoje, amanhã no dia anterior, naquele dia, no dia
- Hoje não posso atendê-lo – disse o seguinte
dentista. O dentista disse que naquele dia não
podia atendê-lo.
aqui, cá, aí ali, lá
- Não entro mais aqui! – afirmou Ivo. Ivo afirmou que não entrava mais ali.
Disponível em www.ceciliakemel.com.br/sala_aluno/dd_di.doc Acesso em 08 ago. 2013.

22
Atividade Comentada 3

Para você compreender melhor a dinâmica do discurso direto e indireto


empregada nos textos narrativos, leia a crônica a seguir e, em seguida, responda às
questões propostas.

O HOMEM TROCADO

O homem acorda da anestesia e olha em volta. Ainda está na sala de


recuperação. Há uma enfermeira do seu lado. Ele pergunta se foi tudo bem.
- Tudo perfeito - diz a enfermeira, sorrindo.
- Eu estava com medo desta operação...
- Por quê? Não havia risco nenhum.
- Comigo, sempre há risco. Minha vida tem sido uma série de enganos...
E conta que os enganos começaram com seu nascimento. Houve uma troca de
bebês no berçário e ele foi criado até os dez anos por um casal de orientais, que nunca
entenderam o fato de terem um filho claro com olhos redondos. Descoberto o erro,
ele fora viver com seus verdadeiros pais. Ou com sua verdadeira mãe, pois o pai
abandonara a mulher depois que esta não soubera explicar o nascimento de um bebê
chinês.
- E o meu nome? Outro engano.
- Seu nome não é Lírio?
- Era para ser Lauro. Se enganaram no cartório e...
Os enganos se sucediam. Na escola, vivia recebendo castigo pelo que não fazia.
Fizera o vestibular com sucesso, mas não conseguira entrar na universidade. O
computador se enganara, seu nome não apareceu na lista.
- Há anos que a minha conta do telefone vem com cifras incríveis. No mês
passado tive que pagar mais de R$ 3 mil.
- O senhor não faz chamadas interurbanas?
- Eu não tenho telefone!

23
Conhecera sua mulher por engano. Ela o confundira com outro. Não foram
felizes.
- Por quê?
- Ela me enganava.
Fora preso por engano. Várias vezes. Recebia intimações para pagar dívidas que
não fazia. Até tivera uma breve, louca alegria, quando ouvira o médico dizer:
- O senhor está desenganado.
Mas também fora um engano do médico. Não era tão grave assim. Uma simples
apendicite.
- Se você diz que a operação foi bem...
A enfermeira parou de sorrir.
- Apendicite? - perguntou hesitante.
- É. A operação era para tirar o apêndice.
- Não era para trocar de sexo?

Disponível em: http://pensador.uol.com.br/frase/MjMxNDk5/ Acesso em 08 ago. 2013.

1) Quantos e quem são os personagens que aparecem no texto?


Resposta comentada: São três as vozes que aparecem no texto: a do narrador, a do
homem e a da enfermeira.

2) Que tipo de discurso predomina no texto?


Resposta comentada: Predomina o discurso direto em que o narrador cede a palavra
à personagem para que ela fale por si mesma.

3) Que sinais de pontuação foram usados para representar esse discurso?


Resposta comentada: Geralmente no discurso direto utiliza-se o travessão para
introduzir as falas das personagens. Mas é possível também utilizar as aspas para
marcar o discurso direto. Nesse caso, as aspas são utilizadas para a marcação de falas
isoladas dentro do texto, fora de um discurso dialogado.

4) Aponte três verbos dicendi que aparecem no texto.

24
Resposta comentada: Os verbos dicendi que aparecem no texto são: “Ele pergunta se
foi tudo bem.”; “- Tudo perfeito - diz a enfermeira, sorrindo.” “E conta que os
enganos começaram...”; “...quando ouvira o médico dizer...”; “ - Apendicite? -
perguntou hesitante.”

5) Observe o fragmento: “Conhecera sua mulher por engano. Ela o confundira com
outro. Não foram felizes.” Reescreva-o, passando para o discurso direto.
Resposta comentada: Professor, sugira ao aluno que consulte a tabela que consta no
início deste caderno sobre as principais mudanças linguísticas que ocorrem na
transposição do discurso direto para o indireto.
Discurso direto:
“- Conheci minha mulher por engano. Ela me confundiu com outro. Não fomos
felizes”.

6) Agora você deverá passar o trecho a seguir para o discurso indireto: “- Há anos que
a minha conta do telefone vem com cifras incríveis. No mês passado tive que pagar
mais de R$ 3 mil.”
Resposta comentada: Discurso indireto: “Há anos que a conta de telefone dele vinha
com cifras incríveis. No mês passado teve que pagar mais de R$ 3 mil.”

25
Aula 4: As figuras de linguagem nos textos

Nesta aula, vamos aprender a identificar as figuras de linguagem presentes em


textos narrativos e em outros gêneros também.
Você já percebeu que todos nós, como usuários da língua, seja na sua
modalidade escrita ou falada, selecionamos determinadas palavras ou optamos por
alguma estruturação da frase de modo a dar maior expressividade àquilo que
pretendemos dizer? Vamos começar nosso estudo analisando a tira a seguir. Repare
como o quadrinista utilizou a palavra “gelado” para produzir o efeito cômico no seu
texto.

Disponível em: http://www.tudocriativo.com/index.php/category/inspiracao-criativa/hqs/


Acesso em 08. Ago. 2013

Note a expressividade que uma única palavra está conferindo ao monólogo. A


mulher, Helga, dona de casa, está realizando o árduo trabalho doméstico enquanto o
marido, Hagar, se encontra confortavelmente sentado no sofá, observando-a trabalhar
sem, no entanto, oferecer-lhe ajuda. Ao pedir à mulher algo gelado para saciar a sede,
ela lança sobre ele um olhar “gelado”, ou seja, um olhar de reprovação pela sua
atitude machista de não ajudar nas tarefas domésticas e ainda sobrecarregá-la com
algo que ele mesmo poderia fazer, como pegar um copo de água para matar a sede.
Quando Hagar diz à mulher que não queria algo “tão gelado”, Hagar utiliza a palavra
“gelado” em sentido figurado, ou seja, com seu sentido comum modificado a fim de
atribuir maior expressividade ou um significado especial ao seu enunciado. Mas você
deve estar se perguntando: por que “gelado”, no contexto, significa “reprovação”?

26
Para responder a essa pergunta, inicialmente precisamos verificar que as
palavras possuem mais de um significado dependendo do contexto em que são
utilizadas. Vamos ver dois exemplos:

1. Quero um chá gelado para refrescar o calor.


2. Não gostei daquele seu olhar gelado.

Repare que em ambos os enunciados temos um mesmo termo que se repete –


gelado –, mas com significados diferentes, embora haja alguma relação de semelhança
entre eles. Sabemos que uma substância gelada é aquela que se encontra em uma
temperatura baixa e é muito apropriado em determinadas situações, como, por
exemplo, no verão. Entretanto, a temperatura fria também pode ser algo que
incomoda e se torna desagradável em outras situações: tomar um líquido muito
gelado no inverno, por exemplo. Outra situação igualmente desagradável é quando
encostamos alguma parte do nosso corpo numa superfície gelada: numa parede, no
chão ou em alguma superfície de metal, por exemplo. Imediatamente sentimos uma
reação física de incômodo pela diferença de temperatura: corpo quente X superfície
fria. Dessa forma, por associação, temos que a temperatura quente é mais agradável
que a fria e transpomos esses valores para as relações humanas, interpessoais. É muito
comum ouvirmos as pessoas dizerem: “Meu namorado me deu um gelo”, ou seja,
tratou com indiferença, desinteresse, ou, ao contrário, “Tive uma recepção calorosa na
festa”. Portanto, olhar frio ou gelado significa um olhar que incomoda, que desaprova,
pouco receptivo.
Sendo assim, podemos afirmar que o termo “gelado” foi empregado na tira de
modo figurado. Quando palavras ou expressões são utilizadas fora de seu sentido
usual para obter efeitos expressivos nos textos, temos as chamadas figuras de
linguagem. Assim, figura de linguagem é uma forma de expressão que consiste no
emprego de palavras em sentido figurado, isto é, em um sentido diferente daquele em
que convencionalmente são empregados.
Veja no quadro-resumo a seguir as figuras de linguagem mais utilizadas nos
textos, seus respectivos conceitos e exemplos:

27
Conceito: é a figura de linguagem que consiste no
Metáfora emprego de uma palavra com sentido que não lhe é
comum ou próprio, sendo esse novo sentido resultante
de uma relação de semelhança, de intersecção entre
dois termos. Exemplo:
Exemplo: O pavão é um arco-íris de plumas.
Toda profissão tem seus espinhos.
Conceito: é a figura de linguagem que consiste em
Comparação aproximar dois seres em razão de alguma semelhança
existente entre eles, de modo que as características de
um sejam atribuídas ao outro, e sempre por meio de
um elemento comparativo expresso (explícito): como,
tal qual, semelhante a, que nem, etc.
Exemplo: O pavão é como um arco-íris de plumas.

Conceito: é a figura de linguagem que consiste em


Personificação atribuir linguagem, sentimento e ações próprios dos
seres humanos a seres inanimados ou irracionais.

Exemplo: A raposa disse algo que convenceu o corvo.


Conceito: é a figura que consiste em expressar uma
Hipérbole ideia com exagero, a fim de destacar, enfatizar uma
ideia.

Exemplo: dizer mil vezes, morrer de rir, sair voando,


etc.

Conceito: é a figura de linguagem que consiste no


Antítese emprego de palavras que se opõem quanto ao sentido.

Exemplo: O bem e o mal caminham juntos.


Conceito: é a figura de linguagem que consiste em
Ironia afirmar o contrário do que se quer dizer.
Exemplo: Pedrinho é o melhor aluno da turma: só tira
notas baixas!
Conceito: Consiste na omissão de uma ou mais palavras
Elipse facilmente subentendidas pelo contexto, sem, contudo,
prejudicar o sentido da frase.
Exemplo: Posso te fazer uma pergunta? (palavra
subentendida: “eu”)
Conceito: Consiste na tentativa de reproduzir
Onomatopeia linguisticamente sons e ruídos do mundo natural, bem
como vozes de animais.
Exemplo: Não aguentava mais o tique-taque do relógio
insistente.

28
Apesar de seu uso constante na linguagem poética, as figuras de linguagem,
sobretudo a metáfora, não são exclusivas da linguagem literária. A metáfora pode
estar presente nas conversas do dia a dia, em anúncios publicitários, na linguagem dos
quadrinhos, nas letras de música, reportagem, notícias, textos científicos, didáticos,
etc. Elas representam uma forma que os seres humanos criaram a fim de organizar e
expressar seu mundo; fazem parte da nossa vida diária na linguagem e no
pensamento.

Atividade Comentada 4

1) Identifique a frase que está em sentido próprio, comum, e a que está em sentido
figurado. Para isso, escreva (P) para PRÓPRIO e (F) para FIGURADO.

( P ) As ondas do mar nos encantam!


( F ) Não dê ouvidos a essa onda de boatos.
( F ) Os preços dos combustíveis ficarão congelados até o próximo mês.
( P ) Comida congelada é uma opção prática.
( P ) Li o livro página por página.
( F ) Já virei essa página na minha vida.
( F ) Vamos passar uma borracha no passado.
( P ) Esqueci minha borracha na sala de aula.
( P ) A cobra picou o fazendeiro.
( F ) A vizinha é uma cobra!
( F ) Vou cortar as asas desse menino antes que seja tarde demais!
( P ) Cortaram as asas da ave para ela não fugir.

29
Agora, leia o conto a seguir para responder à questão proposta.

E vem o sol
João Anzanello Carrascoza

Tinham acabado de se mudar para aquela cidade. Passaram o primeiro dia


ajeitando tudo. Mas, no segundo dia, o homem foi trabalhar; a mulher quis conhecer a
vizinha. O menino, para não ficar só num espaço que ainda não sentia seu, a
acompanhou.
Entrou na casa atrás da mãe, sem esperança de ser feliz. Estava cheio de
sombras, sem os companheiros. Mas logo o verde de seus olhos se refrescou com as
coisas novas: a mulher suave, os quadros coloridos, o relógio cuco na parede. E, de
repente, o susto de algo a se enovelar em sua perna: o gato. Reagiu, afastando-se. O
bichano, contudo, se aproximou de novo, a maciez do pêlo agradando. E a mão desceu
numa carícia.
O menino experimentou de fininho uma alegria, como sopro de vento no rosto.
Já se sentia menos solitário. Não vigorava mais nele, unicamente, a satisfação do
passado. A nova companhia o avivava. E era apenas o começo. Porque seu olhar
apanhou, como fruta na árvore, uma bola no canto da sala. Havia mais surpresas ali.
Ouviu um som familiar: os pirilins do videogame. E, em seguida, uma voz que
gargalhava. Reconhecia o momento da jogada emocionante. Vinha lá do fundo da
casa, o convite.
O gato continuava afofando-se nas suas pernas. Mas elas queriam o corredor. E,
na leveza de um pássaro, o menino se desprendeu da mãe. Ela não percebeu, nem a
dona da casa. Só ele sabia que avançava, tanta a sua lentidão: assim é o imperceptível
dos milagres.
Enfiou-se pelo corredor silencioso, farejando a descoberta. Deteve-se um
instante. O ruído lúdico novamente o atraiu. A voz o chamava sem saber seu nome.
Então chegou à porta do quarto e lá estava o outro menino, que logo se virou ao dar
pela sua presença. Miraram-se, os olhos secos da diferença. Mas já se molhando por
dentro, se amolecendo. O outro não lhe perguntou quem era, nem de onde vinha.

30
Disse apenas: Quer brincar? Queria. O sol renasceu nele. Há tanto tempo precisava
desse novo amigo.

Disponível em: http://revistaescola.abril.com.br/lingua-portuguesa/pratica-pedagogica/vem-sol-


423512.shtml Acesso em 07 ago. 2013.

2) Após a leitura, identifique as figuras de linguagem presentes no conto e preencha o


quadro a seguir. Transcreva um exemplo da figura indicada e que esteja presente no
parágrafo apontado no quadro.

FIGURA PARÁGRAFO EXEMPLO DO TEXTO

Metáfora 2º “Estava cheio de sombras...”

“O menino experimentou de fininho uma alegria,


Comparação 3º como sopro de vento no rosto.”

Elipse 2º (ele, o menino) “Entrou na casa atrás da mãe...”

Personificação 5º “A voz o chamava sem saber seu nome.”

“Só ele sabia que avançava, tanta a sua


Antítese 4º lentidão...”

Onomatopeia 3º “Ouviu um som familiar: os pirilins do


videogame.”

31
Aula 5: Pontuação e da paragrafação

Nesta aula, vamos aprender a reconhecer e utilizar os mecanismos de coesão


por meio do emprego das conjunções coordenativas. Também vamos estudar a
importância da pontuação e da paragrafação nos textos.
Comecemos relembrando que os textos são estruturados a partir da articulação
dos enunciados. Quando esses enunciados mantêm entre si relações, de dependência
ou independência, temos um período composto, que pode ser por coordenação
(independente no plano sintático) ou subordinação (dependente no plano sintático).
Nas orações subordinadas, a dependência se dá no plano sintático e semântico,
pois a oração (subordinada) depende semântica e sintaticamente de outra oração (a
principal) para completar seu sentido.
Vejamos agora um exemplo de processo de subordinação.

a. Os índios gostam de que lhes contem histórias.

Repare que nesse exemplo há uma relação de dependência entre os


enunciados, que são compostos por uma oração principal e uma oração subordinada.
Em “Os índios gostam” (oração principal) e “de que lhes contem histórias” (oração
subordinada) são orações que, sozinhas, não possuem sentido completo, pois
necessitam uma da outra para se complementarem sintática e semanticamente.
Inicialmente, é muito importante que você seja capaz de diferenciar o processo
de coordenação do de subordinação no período composto. Veja os exemplos a seguir:
b. Os índios comem, dançam, cantam, contam histórias em dias de festa.
c. Os índios ouvem e contam histórias.

Perceba que em b, as orações são independentes do ponto de vista sintático e


não há conjunção ligando essas orações. Quando as orações coordenadas estão
justapostas, ou seja, uma ao lado da outra, sem estarem ligadas por qualquer termo,
dizemos que são orações coordenadas assindéticas, sem síndeto (sem conjunção)

32
Já em c, embora as orações possuam independência sintática, entre “Os índios
ouvem” e “contam histórias” foi usada a conjunção “e” para estabelecer a ligação
entre as orações. Essas são as chamadas orações coordenadas sindéticas, com síndeto
(com conjunção).
As orações coordenadas não exercem funções sintáticas umas sobre as outras,
mas exercem dependência semântica, ou seja, de sentido, entre si. Quando o
encadeamento de orações é feito por intermédio de conectivos ou conjunções e
dependendo do valor semântico que introduzem, temos as orações coordenadas
sindéticas aditivas, adversativas, alternativas, conclusivas e explicativas. Exemplo:

d. Alguns povos africanos passam suas histórias novas às gerações, pois não
possuem escrita.

Repare que temos duas orações independentes: “Alguns povos africanos passam
suas histórias novas às gerações” e “pois não possuem escrita”. Entretanto, a
conjunção “pois” une as duas orações estabelecendo entre elas uma relação semântica
de explicação, justificando o motivo pelo qual alguns povos africanos transmitem suas
histórias às novas gerações: não possuem escrita (explicação, justificativa)
Como mostra o quadro a seguir, as orações coordenadas sindéticas se dividem
em cinco tipos, dependendo do valor semântico das conjunções que as introduzem.
Relacionam orações de modo que a segunda
estabeleça uma ideia de acréscimo em relação à
primeira.

Exemplo: O garoto trabalhava e estudava.


ADITIVAS

Conjunções: e, nem, não só… mas também, não


só… como, assim… como.

Relacionam orações de tal modo que aquilo que


se afirma na segunda é consequência ou
conclusão (resultado, efeito) do que se declara
na primeira.
CONCLUSIVAS
Exemplo: Terminei meu trabalho, portanto, posso
descansar.

33
Conjunções: logo, pois, portanto, então.
Locuções conjuntivas: por isso, por conseguinte,
por consequência.

Relacionam orações de tal modo que a segunda


apresenta o motivo ou explicação (razão,
EXPLICATIVAS
justificativa) do que se declara na primeira.

Exemplo: Ana só passou na prova porque estudou


muito.

Conjunções: pois, porque, que.

Relacionam ideias que se opõem.


ADVERSATIVAS
Exemplo: João dormiu tarde, mas acordou cedo.

Conjunções: mas, porém, contudo, entretanto,


no entanto, todavia.

Relacionam ideias que se excluem ou alternam.


ALTERNATIVAS
Exemplo: Natal ou Maceió são ótimos lugares
para se passas as férias.
Conjunções: ou; ou...ou; quer...quer; ora...ora;
seja...seja; já...já.

Além das conjunções, que são responsáveis pela coesão e coerência nos textos,
os sinais de pontuação são outro recurso da linguagem escrita que desempenham
funções importantes nos enunciados, pois carregam consigo valores semânticos
importantes, dependendo do contexto em que são utilizados. Já os parágrafos
constituem unidades temáticas importantes e que, quando bem articulados,
contribuem para a progressão temática do texto.

34
Atividade Comentada 5

Leia o conto africano a seguir para responder às questões 1 a 5.

Por que o cachorro foi morar com o homem

O cachorro, que todos dizem ser o melhor amigo do homem, vivia antigamente
no meio do mato com seus primos, o chacal e o lobo.
Os três brincavam de correr pelas campinas sem fim, matavam a sede nos
riachos e caçavam sempre juntos.
Mas, todos os anos, antes da estação das chuvas, os primos tinham dificuldades
para encontrar o que comer. A vegetação e os rios secavam, fazendo com que aos
animais da floresta fugissem em busca de outras paragens.
Um dia, famintos e ofegantes, os três com as línguas de fora por causa do forte
calor, sentaram-se à sombra de uma árvore para tomarem uma decisão.
– Precisamos mandar alguém à aldeia dos homens para apanhar um pouco de
fogo - disse o lobo.
– Fogo?- perguntou o cachorro.
– Para queimar o capim e comer gafanhotos assados - respondeu o chacal com
água na boca.
– E quem vai buscar o fogo?- tornou a perguntar o cachorro.
– Você!- responderam o lobo e o chacal, ao mesmo tempo, apontando para o
cão.
De acordo com a tradição africana, o cão, que era o mais novo, não teve outro
jeito, pois não podia desobedecer a uma ordem dos mais velhos. Ele ia ter que fazer a
cansativa jornada até a aldeia, enquanto o lobo e o chacal ficavam dormindo numa
boa.
O cachorro correu e correu até alcançar o cercado de espinhos e paus pontudos
que protegia a aldeia dos ataques dos leões. A notícia, e das cabanas saía um cheiro
gostoso. O cachorro entrou numa delas e viu uma mulher dando de comer se distrair
para ele pegar um tição.

35
Uma panela de mingau de milho fumegava sobre uma fogueira. Dali, a mulher,
sem se importar com a presença do cão, tirava pequenas porções e as passava para
uma tigela de barro.
Quando terminou de alimentar o filho, ela raspou o vasilhame e jogou o resto do
mingau para o cão. O bicho, esfomeado, devorou tudo e adorou. Enquanto comia, a
criança se aproximou e acariciou o seu pêlo. Então, o cão disse para si mesmo:
– Eu é que não volto mais para a floresta. O lobo e o chacal vivem me dando
ordens. Aqui não falta comida e as pessoas gostam de mim. De hoje em diante vou
morar com os homens e ajudá-los a tomar conta de suas casas.
E foi assim que o cachorro passou a viver junto aos homens. E é por causa disso
que o lobo e chacal ficam uivando na floresta, chamando pelo primo fujão.

Disponível em: http://docenciaonlinesaberespedagogicos.blogspot.com.br/2012/10/alguns-


contos-africanos.html Acesso em 11 ago. 2013.

1) Analise as passagens destacadas do conto e identifique se tais enunciados são


dependentes ou independentes uns dos outros nos contextos em que se apresentam:

a) “Os três brincavam de correr pelas campinas sem fim (1), matavam a sede nos
riachos (2) e caçavam sempre juntos (3).”
Resposta: (1) independente (2) independente (3) independente

b) “Enquanto comia,(4) a criança se aproximou e acariciou o seu pêlo. Então, o cão


disse para si mesmo (...)”
Resposta: (4) dependente

c) “Um dia, famintos e ofegantes, os três com as línguas de fora por causa do forte
calor, sentaram-se à sombra de uma árvore para tomarem uma decisão.” (5)
Resposta: (5) dependente

d) “E foi assim que o cachorro passou a viver junto aos homens. E é por causa disso
que o lobo e chacal ficam uivando na floresta (6), chamando pelo primo fujão.”
Resposta: (6) dependente

36
e) “De acordo com a tradição africana, o cão, que era o mais novo,(7) não teve outro
jeito, pois não podia desobedecer a uma ordem dos mais velhos.(8)
Resposta: (7) dependente (8) independente

2) Leia os fragmentos e identifique a relação de sentido que as conjunções destacadas


imprimem ao contexto (adição, adversidade, explicação, conclusão, alternância):

a) Mas, todos os anos, antes da estação das chuvas, os primos tinham dificuldades
para encontrar o que comer.
Resposta comentada: A conjunção “mas” estabelece relação semântica de oposição,
adversidade.

b) Dali, a mulher, sem se importar com a presença do cão, tirava pequenas porções e
as passava para uma tigela de barro.
Resposta comentada: A conjunção “e” estabelece relação semântica de adição,
soma.

3) Considere a passagem seguinte:

“De acordo com a tradição africana, o cão, que era o mais novo, não teve outro
jeito, pois não podia desobedecer a uma ordem dos mais velhos. Ele ia ter que fazer a
cansativa jornada até a aldeia, enquanto o lobo e o chacal ficavam dormindo numa
boa.”

a) Que ideia é introduzida pela conjunção “pois”?


Resposta comentada: Ideia de explicação.

b) Reescreva o trecho destacado, substituindo a conjunção “pois” por outra de sentido


equivalente.
Resposta: De acordo com a tradição africana, o cão, que era o mais novo, não teve
outro jeito, porque não podia desobedecer a uma ordem dos mais velhos.

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c) Reescreva o trecho em destaque, criando uma justificativa diferente da do texto.
Resposta comentada: Professor, esta é apenas uma das muitas sugestões de
respostas possíveis:
De acordo com a tradição africana, o cão, que dos três, era o animal com o menor
porte físico, não teve outro jeito, porque não podia competir com o chacal e o lobo.

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Aula 6: Gêneros importantes

Nesta aula 3, vamos conhecer um pouco mais a história da crônica e do conto


no Brasil e a importância do conto oral para o povo indígena e africano.

 A Crônica
A palavra “crônica” vem do grego “khrónos” e significa “tempo”. É um gênero
textual que existe desde a Antiguidade e vem sofrendo transformações ao longo do
tempo. Os primeiros cronistas relatavam, principalmente, acontecimentos históricos
relacionados a pessoas de linhagem nobre, como reis, rainhas, imperadores, etc.
Inicialmente, a crônica tinha por finalidade narrar histórias maravilhosas e
lendárias, conhecidas como cronicões medievais. Entretanto, foi ao longo da tradição
humanista portuguesa que o cronista passou a ser reconhecido como um escritor
profissional. Nesse período, foi merecedor de destaque Fernão Lopes, cronista-mor da
Torre do Tombo, que tinha como incumbência registrar a história dos reis de Portugal.
Nesse sentido, a crônica poderia ser considerada como uma forma preliminar da
historiografia moderna.
Também de autoria de um português é o texto considerado como a primeira
crônica redigida no Brasil. A Carta de Pero Vaz de Caminha, endereçada a D. Manuel,
não simplesmente contém o registro da “descoberta” de nossas terras: figura como a
primeira crônica nacional. A carta de Pero Vaz de Caminha a el-rei D. Manuel assinala o
momento em que, pela primeira vez, a paisagem brasileira desperta o entusiasmo de
um cronista, oferecendo-lhe matéria para o texto que seria considerado a nossa
certidão de nascimento.
Ainda que o texto tivesse uma finalidade específica – dar ao rei de Portugal
“boas novas” da terra encontrada – e que tenha recebido o nome de Carta a El Rey
Dom Manuel, não se pode negar que é uma recriação artística e engenhosa da
realidade e, por essa razão, salientou Jorge de Sá que a Carta de Caminha é “criação de
um cronista no melhor sentido literário do termo”.

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Teria nascido aí uma das grandes vocações da crônica no Brasil, ou seja,
“registrar o circunstancial”. Muito já se discutiu a respeito daquela que é considerada a
Certidão de Nascimento do país, mas aqui ela apenas foi citada para demonstrar que
um dos seus principais traços característicos remonta à literatura informativa. A
crônica seria, então, uma recriação da realidade em pequenas doses. Pequenas
porque, de fato, a curta extensão é uma de suas marcas, mas não é uma caracterização
suficiente para torná-la singular.
No Brasil, a crônica contemporânea é um gênero que se consolidou em torno
do século XIX, com o desenvolvimento da imprensa. A partir dessa época, muitos
escritores passaram a registrar a vida social, a política, os costumes e fatos do
cotidiano publicando seus escritos em jornais. Ou seja, de um modo geral, importantes
escritores começam a usar as crônicas para registrar, de modo ora mais literário, ora
mais jornalístico, os acontecimentos cotidianos de sua época.
Grandes nomes de nossa literatura escreveram crônicas em jornais: José de
Alencar, Joaquim Manuel de Macedo, Machado de Assis, Aluísio de Azevedo, Raul
Pompéia. Machado de Assis, por exemplo, trabalhava no jornal ao mesmo tempo em
que cuidava de sua produção literária. Ao entrelaçar notícia e ficção, encontrou formas
para a produção de crônicas, escritas com uma linguagem em tom coloquial, como se
o autor estivesse em conversa íntima com o leitor, como ocorre em seus romances.
Pode-se, além disso, trazer à luz o tom de crítica que muitos desses autores
imprimem em seus textos também. Além de entreter o leitor com histórias leves, bem
humoradas, a crítica social é também uma constante nesses textos.

 O Conto
Os contos são narrativas cuja origem é de difícil precisão. Fato é que contar
histórias constitui-se em hábito comum às civilizações, mesmo em culturas ágrafas
(sem escrita), nas quais essas histórias sobreviveram através dos tempos por conta da
transmissão oral.
Esse tipo de narrativa foi fortemente influenciada pelos europeus, que nos
trouxeram contos representativos de sua multifacetada cultura, talvez com maior
força que outros povos, por ser uma “cultura dominante”. Para isso, muito contribuiu

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o fato de grande parte de suas narrativas terem sido publicadas em livros, não
dependendo da oralidade para a sua sobrevivência.
Ressalta-se, também, que, além dos contos publicados em livros, muitos contos
de tradição oral, popularizados, através de fábulas, “causos” e até mesmo cantigas de
rodas, têm origem europeia. Essa herança popular enriquece o cenário literário
brasileiro e tem grande importância na formação cultural do nosso país.
Os contos ditos populares, especificamente, obedecem a uma moral e,
didaticamente, levantam discussões sobre conflitos humanos. Pelo convite à reflexão
sobre a vida concreta, o trabalho com esse gênero revela-se estimulante, pois o conto
ultrapassa a narrativa de aspectos mágicos, fantásticos ou de encantamento.
Os contos da tradição oral, em diferentes sociedades, assumiram diversas
formas. No Brasil, apresentam aspectos bastante diversificados – tendo sido
classificados como contos de exemplo, de animais, de encantamento, cômicos,
religiosos, adivinhação, acumulativos, etiológicos, demônio logrado e ciclo da morte.
Esses contos foram fundamentais para a difusão e popularização das culturas indígena
e africana no nosso país. No entanto, é necessário esclarecer que, nesses povos, o
conto tem papel fundamental na transmissão dos ensinamentos, pois ultrapassam o
lúdico e ampliam o conhecimento através do seu caráter didático.
Em relação ao conto oral, é preciso lembrar que as narrativas indígenas e as
africanas sustentaram-se por séculos, na oralidade, por meio da transmissão de
histórias verdadeiras de antepassados, narrativas de guerras, fatos antigos ou, até
mesmo, ficcionais. A tradição da transmissão oral foi mantida de geração em geração,
e muitas foram recuperadas e/ou reescritas, o que permitiu que os contos indígenas e
africanos conseguissem chegar aos dias atuais.

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Atividade Comentada 6

Agora você vai ler um conto de tradição indígena. Em seguida, faça o que se
pede.
Como nasceram as estrelas do céu
Algumas índias foram colher milho para fazer pão para seus maridos. Um
indiozinho seguiu a mãe e, ao vê-las fazendo pão, roubou um monte de milho.
Chamou seus amigos e foram pedir para a avó fazer pão para eles também.
Mas as mães sentiram a falta do milho e começaram a procurar. Os meninos,
depois que comeram o pão, resolveram fugir. Para que a avó não contasse o que
tinham feito, cortaram-lhe a língua. Então, fugiram para o mato. Chamaram o colibri e
pediram para que amarrasse lá no céu o maior cipó que encontrasse.
Assim feito, começaram a subir.
As mães voltaram para a tribo para procurar o milho. Então, perceberam que as
crianças não estavam lá.
Desesperadas, perguntaram para a avó o que tinha acontecido. Mas essa não
podia responder.
Então, uma das mães olhou para o céu e viu os meninos subindo pelo cipó.
As mães correram e imploraram para que voltassem, mas os meninos não
obedeceram.
Então, elas decidiram subir no cipó também.
Mas os indiozinhos cortaram-no e as mães caíram. Ao chocarem-se contra o
chão, transformaram-se em animais selvagens.
Os meninos malvados foram punidos por sua crueldade.
Como castigo, tiveram que olhar fixamente todas as noites para a terra, para ver o
que aconteceu com suas mães. Seus olhos, sempre abertos, são as estrelas.
Disponível em: http://www.velhobruxo.tns.ufsc.br/Lenda022.html Acesso em 11 ago. 2013.

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1) Agora, preencha o quadro abaixo apontando os elementos da narrativa que
aparecem no conto.

As crianças, as mães e a avó.


Personagens
Algumas horas.
Tempo
A tribo e o mato.
Espaço
O indiozinho roubou o milho da mãe e levou-o até à avó para
fazer pão. Para que a avó não contasse nada, ele e os amigos
Conflito cortaram-lhe a língua e fugiram para o mato. Pediram um
pássaro amarrasse um cipó no céu e subiram. As mães viram e
tentaram subir, mas os meninos cortaram a corda. Elas caíram e
viraram animais selvagens. Os meninos foram punidos e se
transformaram em estrelas.
3ª pessoa.
Foco narrativo
Narrador-observador.
Tipo de narrador

2) No conto “Como nasceram as estrelas do céu”, você percebeu a existência de


marcas e valores característicos da cultura indígena em ações tipicamente cotidianas,
como, por exemplo, a explicação sobrenatural para o surgimento das estrelas e dos
animais. Considerando que o povo indígena não possuía um sistema de escrita, qual
seria a importância dos contos orais para esses povos? Explique.

Resposta comentada: Professor, nessa questão, o aluno deve atentar para o fato de
que, em sociedades ágrafas, isto é, sem escrita, a transmissão cultural se dá por meio
da oralidade.
Como os povos indígenas não possuíam uma ciência desenvolvida como a
nossa, eles explicavam os fenômenos físicos de outra maneira, sobretudo por meio
do sobrenatural. A ausência da escrita, no entanto, não impossibilitou que os povos
sem escrita deixassem de analisar aspectos do seu cotidiano ou deixassem de criar

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“teorias” sobre eles. Nesse sentido, o que diferencia as sociedades ágrafas das
sociedades grafocêntricas – que possuem escrita – é a maneira de transmitir as
informações. Dessa forma, ressalta-se a importância capital que a tradição oral tinha
para esses povos, já que era a única forma que possuíam para transmitir e garantir a
continuidade de sua cultura.

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Avaliação

Caro(a) aluno(a),
Agora que você estudou as seis aulas deste bimestre, está preparado para testar
os conhecimentos adquiridos ao longo destas quatro semanas! A seguir, você deverá
responder às questões propostas. Elas foram formuladas, de acordo com as
habilidades trabalhadas neste caderno. Bom trabalho e boa prova!

Nesta atividade, propomos que você leia uma divertida crônica de Luis Fernando
Veríssimo.
João e Maria
Esta é uma daquelas histórias que as pessoas juram que aconteceram, não faz
muito sentido, com um amigo delas. Há anos você ouve a mesma história, sempre com
a garantia de que aconteceu mesmo. Há pouco, com um amigo. Nesta versão o amigo
se chama João e a mulher se chama Maria, para simplificar.
O João começou a desconfiar das constantes conversas da Maria com José,
amigo do casal. Volta e meia o João pegava a Maria e o Zé cochichando, e quando se
aproximava deles, eles paravam.
- O que vocês dois tanto conversam?
- Nada.
Ou a Maria estava falando ao telefone e, quando o João chegava, dizia - "Não
posso agora" e desligava.
- Quem era?
- Ninguém.
Não foi uma nem duas vezes. Durante semanas, o ninguém ligou muito. E um
dia a Maria anunciou que precisava viajar. Sua vó Nica. No interior. Muito mal. Nas
últimas. Precisava vê-la. Iria na sexta de manhã e voltaria no domingo.
- Logo na sexta, Maria?
- Por quê? Que que tem na sexta?
- Nada.

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João telefonou para a sogra e perguntou como ia a vó Nica.
- A mamãe? Deve estar bem. Foi com o grupo dela fazer compras no Paraguai.
Maria só levou uma pequena sacola na viagem. Claro, pensou João. Só o que
iria precisar, no hotel em que se encontraria com o Zé para um fim de semana de
amor. No fim da tarde, só para confirmar, João telefonou do seu escritório para o
escritório do Zé. Não, o seu José não estava. Tinha saído cedo e avisado que não
voltaria. Muito bem, pensou João. Muito bem. Era assim que ela queria? Pois muito
bem. Ele se vingaria. Levaria uma mulher para casa. Sim, para casa. Uma mulher, não.
Duas. Fariam um “maneger a troi”, ou como quer que se chame aquilo - na cama do
casal!
Na boate, já bêbado, João perguntou para as duas mulheres, Vanessa e Gisele:
- Sabem que dia é hoje?
- Fala, filhote - disse Vanessa.
- O meu aniversário. E sabe que presente a minha mulher me deu?
- O quê? (Gisele)
- Cornos! E com o Zé. Com o Zé!
- Sempre tem um Zé - filosofou a Vanessa.
João desconfiara que uma das duas mulheres era um travesti, mas ao chegarem
a casa, ele não se lembrava mais qual. Decretou que os três tirariam a roupa antes de
entrar na casa. As mulheres toparam. Quando João conseguiu acertar o buraco da
fechadura e abrir a porta, a Gisele tinha pulado nas suas costas e se pendurado no seu
pescoço, e a Vanessa tentava pegar o seu p., e era assim que eles estavam quando as
luzes da casa se acenderam e todos que estavam lá para a festa de aniversário que a
Maria e o José tinham passado semanas planejando gritaram:
- “S-U-R-P-R-E-S-A!!!”.
Disponível em: http://macroscopio.blogspot.com.br/2007/05/um-conto-de-lus-fernando-verssimo-joo-
e.html Acesso em 06 ago. 2013.

1) Após a leitura da crônica e com base em seus conhecimentos sobre os elementos da


narrativa, responda:
a) Quem são as personagens principais e secundárias da crônica?
Resposta: Personagens principais: Maria, José e João.
Personagens secundárias: Vó Nica, sogra, Gisele e Vanessa.

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b) Em que espaço os fatos ocorrem?
Resposta: Na casa de Maria e João e uma pequena parte na boate.

c) Em quanto tempo aproximadamente acontece a história?


Resposta: Pela sucessão dos fatos, em algumas semanas.

d) Qual é o foco narrativo (1ª pessoa ou 3ª pessoa) em que a história é apresentada?


Resposta: Terceira pessoa.

e) Qual é o tipo de narrador presente no texto?


Resposta: Narrador observador.

2) Agora, identifique os parágrafos que constituem


a) a apresentação: 1º §.
b) a complicação: 2º § ao 21º §.
c) o clímax: 22º§ e 23º§.
d) o desfecho: 23º§.

Comentário: Professor, perceba que, nessa crônica, particularmente, o clímax e o


desfecho coincidem. Na verdade, não há um desfecho nos moldes tradicionais em
que o conflito é solucionado. O narrador não terminou a história justamente para
deixar para o leitor a tarefa de imaginar o que teria acontecido após o flagrante no
último parágrafo. Mas, para efeitos de contagem, pode-se considerar o 23º§ como
sendo de desfecho.

3) Qual é o conflito gerador do enredo, ou seja, que fato gera toda a história?
Resposta: As constantes conversas de Maria e José ao telefone.

4) Observe o fragmento destacado a seguir:


“João telefonou para a sogra e perguntou como ia a vó Nica.

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- A mamãe? Deve estar bem. Foi com o grupo dela fazer compras no Paraguai.”
Reescreva-o, passando para o discurso indireto.
Resposta comentada: “João telefonou para a sogra e perguntou como ia a vó Nica. A
sogra respondeu que a mãe devia estar bem, pois tinha ido com o grupo dela fazer
compras no Paraguai.”

5) Observe o trecho: “João desconfiara que uma das duas mulheres era um travesti,
mas ao chegarem a casa, ele não se lembrava mais qual.”
a) Que ideia é introduzida pela conjunção “mas”?
Resposta: Ideia de oposição, adversidade.

b) Reescreva o trecho destacado, substituindo a conjunção “mas” por outra de sentido


equivalente.
Resposta comentada: Professor, qualquer uma das conjunções a seguir é possível
substituir o “mas” no contexto.

“João desconfiara que uma das duas mulheres era um travesti, porém, todavia,
contudo, no entanto ao chegarem a casa, ele não se lembrava mais qual.”

6) Você deve ter percebido que a crônica “João e Maria” não apresenta um desfecho.
Sua tarefa agora será redigir um parágrafo de desfecho para o texto, de modo a
solucionar o conflito. Imagine qual seria a reação de Maria, de José dos convidados e
do próprio João diante daquela cena bizarra. Como você imagina que, de fato, seria o
final dessa história?
Professor, oriente os alunos para que eles não produzam um parágrafo muito
extenso, já que se trata do final da história. Outro detalhe importante é que o
desfecho deve ser coerente com o restante da narrativa. Portanto, avalie os critérios:
extensão do parágrafo e sua coerência em relação à crônica.

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Pesquisa

Caro professor aplicador, agora seguem os comentários a pesquisa solicitada no


caderno de atividades do aluno.

Leia o conto indígena a seguir.

Por que o porco vive no chiqueiro

Esta história é do tempo em que o porco morava com o dentuço do seu tio, o
javali, lá no meio da mata africana.
Os dois passavam as manhãs, alegres e despreocupados, fuçando o chão em
busca de frutas e raízes. À tardinha, depois de ficarem horas e horas se banhando e
chafurdando nas águas dos inumeráveis rios que cortam a profundeza da selva,
regressavam à casa, situada no oco de uma árvore muito velha, para tirarem uma
longa soneca.
O javali adorava a vida ao ar livre. Graças aos seus pontiagudos e afiados dentes,
não era incomodado, nem mesmo pelo poderoso rei da selva: o leão, que o tratava
com todo respeito.
Mas o porco, muito preguiçoso, vivia reclamando de tudo. Um dia, ele chegou
perto do tio e anunciou:
- Eu quero morar na aldeia dos homens.
- O quê?- respondeu o surpreso javali. – As pessoas que moram naquelas
estranhas cabanas cobertas de palha não gostam de bichos. Vão te prender. – avisou.
- Estou cansado de comer só frutas e raízes todos os dias - protestou o porco.
- Não faça isso, sobrinho pediu o javali. – Aqui nós vivemos em liberdade e junto
à natureza - aconselhou o mais velho.
O porco, que vivia sonhando saborear as guloseimas dos caldeirões fumegantes
das mulheres, não deu ouvidos às advertências do tio e partiu no dia seguinte.
A viagem até a aldeia dos homens foi longa, penosa e cheia de perigos. Mas o
guloso, farejando a comida no ar, acabou chegando a um grande povoado.

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As crianças do vilarejo, assim que avistaram o animal, foram correndo chamar os
adultos. Os homens, armados de paus e porretes, pegaram o pobre do porco e o
colocaram dentro de um cercado.
Desde esse dia ele vive preso no chiqueiro comendo restos de comida e,
lamentando a sua sorte, choraminga dia e noite:
- Bem que meu tio disse para eu não vir para a aldeia dos homens.
Disponível em: http://docenciaonlinesaberespedagogicos.blogspot.com.br/2012/10/alguns-
contos-africanos.html Acesso em 11 ago. 2013.

Após a leitura do conto, você deverá imaginar outra versão que explique o fato
de os porcos atualmente viveram no chiqueiro.
Lembre-se, você escreverá um conto. Portanto, sua narrativa deve conter
personagens, tempo, espaço, narrador e ter apresentação, complicação, clímax e
desfecho. Você poderá utilizar discurso direto e indireto ou indireto apenas, se quiser.

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Orientações para correção

Professor, essa atividade poderá ser realizada em duplas.


De acordo com o comando da tarefa, os alunos deverão escrever um conto que
contenha personagens, tempo, espaço, narrador e ter apresentação, complicação,
clímax e desfecho. Se os alunos não atenderem a esses quesitos, deverão ser
apenados em suas notas. Os demais critérios de avaliação dizem respeito ao
atendimento à norma culta. Portanto, deslizes gramaticais também deverão ser
assinalados. Entretanto, professor, procure não dar importância demasiada às normas
gramaticais, mas analise se o texto dos alunos atendeu integralmente, parcialmente ou
não atendeu minimamente o comando da tarefa.
Bom trabalho para vocês!

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Referências

[1] Brasil, Ministério da Educação. PDE: Plano de Desenvolvimento da educação: SAEB:


ensino médio: matrizes de referência, tópicos e descritores. Brasília: MEC, SAEB; Inep,
2008.

[2] ILARI, Rodolfo. Introdução à semântica: brincando com a gramática. 5 ed. São
Paulo: Contexto, 2004.

[3] INFANTE, Ulisses. Curso de gramática aplicada aos textos. São Paulo: Scipione,
1997.

[4] KOCH, Ingedore. Ler e compreender os sentidos do texto. São Paulo: Contexto,
2006.

[5] Rio de Janeiro. Secretaria de Estado de Educação. Orientações Pedagógicas para o


9º ano do Ensino Fundamental – 1º ciclo do 2º bimestre. Rio de Janeiro, 2013.

[6] Rio de Janeiro. Secretaria de Estado de Educação. Orientações Pedagógicas para o


9º ano do Ensino Fundamental – 2º ciclo do 2º bimestre. Rio de Janeiro, 2013.

[7] SOUZA, L. et al. A metáfora na escola: uma conversa com o professor. Monografia
de Especialização. Curso de Especialização em Ensino de Língua Portuguesa.
Universidade Federal de Juiz de fora, 2005.

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Equipe de Elaboração

COORDENADORES DO PROJETO

Diretoria de Articulação Curricular

Adriana Tavares Maurício Lessa

Coordenação de Áreas do Conhecimento

Bianca Neuberger Leda


Raquel Costa da Silva Nascimento
Fabiano Farias de Souza
Peterson Soares da Silva
Ivete Silva de Oliveira
Marília Silva

PROFESSORES ELABORADORES

Andréia Alves Monteiro de Castro


Aline Barcellos Lopes Plácido
Flávia dos Santos Silva
Gisele Heffner
Leandro Nascimento Cristino
Lívia Cristina Pereira de Souza
Tatiana Jardim Gonçalves

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