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2016 ANO 2 Nº 13
As fases da imunização
O processo de imunização ativa contra agen- minante no plasma e também o de maior meia-vida.
tes virais e bacterianos, obtido por meio do uso das A IgG responde pelos fenômenos de opsonização e
vacinas, possui algumas fases definidas. Sabe-se que neutralização de antígenos, sendo também envolvida
os anticorpos maternos podem interferir negativa- na citotoxicidade mediada por células dependente de
mente na resposta às vacinas empregadas durante a anticorpos.
série inicial em filhotes com menos de 16 semanas de
idade; a partir de 16 semanas, cães e gatos são consi-
derados em sua maioria “livres” dos anticorpos e seus
efeitos. Tanto para animais com anticorpos maternos
como para aqueles que não os possuem, 3 fases da
imunização são observadas: sensibilização (“prime”),
imunização (“immunize”) e estimulação ou reforço
(“boost”).1 A diferença principal é que, diante dos
anticorpos maternos, essas fases podem ser adiadas, IgM IgG
com o efeito protetor atingido somente após uma
Figura 1 - Estrutura das imunoglobulinas do tipo M e G. Observa-se que
série de vacinações. IgM é pentamérica, com 10 locais de ligação a antígenos, ao passo que
IgM é monomérica, possuindo 2 locais para ligação de antígenos.
A sensibilização corresponde ao primeiro con-
tato do organismo com um agente bacteriano ou viral. Na fase de estimulação ou reforço (“boost”), as
Em termos de imunidade mediada por anticorpos sis- vacinas que desencadeiam imunidade humoral pro-
têmicos (humoral), a diferenciação inicial dos linfó- vocam uma resposta anamnéstica. Tal resposta é
citos B ainda não estimulados pelo antígeno vacinal caracterizada pela produção muito rápida de um nível
direciona-se para a produção de imunoglobulinas do bastante elevado de anticorpos do tipo IgG, os quais
tipo M (IgM). A IgM é um tipo de anticorpo pentamé- possuem grande afinidade pelos seus antígenos.
rico, formado pela união de 5 moléculas de anticor-
pos monoméricos, cada qual com 2 locais de ligação A Figura 2 ilustra a cinética da produção de anti-
de antígenos (Figura 1). Sendo assim, uma molécula corpos em uma resposta vacinal primária e secundá-
de IgM possui 10 locais de ligação de antígenos. ria. Verifica-se que em uma primeira exposição, a res-
A IgM é a primeira classe de anticorpos produzida pelo posta predominante está relacionada a IgM, embora
organismo em um resposta primária, tendo meia-vida quantidades menores de IgG também sejam produ-
curta e respondendo por um porcentual pequeno do zidas. Na segunda exposição, IgG é o anticorpo pre-
total de imunoglobulinas no plasma. Além disso, ela dominante. Outro ponto relevante a ser mencionado
desempenha um papel muito importante ao ativar de é que a quantidade total de anticorpos produzidos
forma eficiente a via clássica do complemento. (IgM+IgG) é maior na resposta secundária. Tais fatos
possuem uma implicação clínica importante na inter-
Na fase de imunização, em que ocorre a segunda pretação de exames sorodiagnósticos para doenças
exposição ao mesmo antígeno, verifica-se um desvio infecciosas, em particular para animais vacinados.
ou alteração de classe na produção de anticorpos. Por exemplo, a presença de níveis elevados de IgM
Essa fase, considerada uma resposta secundária, em um animal pode significar doença ativa ou vaci-
caracteriza-se pela produção de imunoglobulinas nação recente, em especial a primovacinação, onde
do tipo G (IgG) ou, dependendo da situação, IgA e se observa resposta primária (fase de sensibilização).
IgE. A IgG é um anticorpo monomérico, com 2 locais Por outro lado, níveis altos de IgG podem corres-
de ligação de antígenos, sendo o anticorpo predo- ponder a exposição anterior a um antígeno (animal
Referências
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