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do Brasil
Material Teórico
Geopolítica no Brasil
Revisão Textual:
Profa. Esp. Kelciane da Rocha Campos
Geopolítica no Brasil
Esta unidade sobre Geopolítica tem o objetivo de destacar a geopolítica do Brasil até o final
dos governos militares, considerando a definição das fronteiras no “pós-tratado de Tordesilhas”,
passando pelas arbitragens internacionais ou acordos bilaterais e finalizando na tentativa de
influência dos governos militares na América do Sul.
É importante que você leia todo material teórico com atenção e assista às videoaulas para
que possa construir conhecimentos acerca do tema.
Ao final, as referências bibliográficas poderão ser utilizadas, caso queira, para que você se
aprofunde no tema.
Lembre-se também de que esta disciplina faz parte da grade curricular do seu curso; portanto,
é importante ao seu processo de formação.
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Unidade: Processos Erosivos e as Rochas Sedimentares
Contextualização
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O início do pensamento geopolítico no Brasil
Fonte: estudopratico.com.br
O processo geopolítico brasileiro foi implementado pelas suas elites desde que era colônia,
segundo textos e documentos de pensadores, de políticos e de militares.
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Unidade: Processos Erosivos e as Rochas Sedimentares
No início do século XX, houve uma grande rivalidade entre o Brasil e a Argentina com
disputas por áreas de influência no Paraguai, Uruguai e Bolívia. No pós-Segunda Guerra,
o desenvolvimento industrial do Brasil foi bem mais acelerado do que o argentino, tendo
intensificado sua política de expansão na região Centro-Oeste na Amazônia, inclusive se
fazendo presente nas Guianas, nos países da bacia amazônica e nos próprios países platinos.
Na região amazônica, no entanto, existia a questão fronteiriça com as Guianas.
Essa discussão se manteve por mais de cem anos até que, em 1900, o presidente Walter
Hauser da Suiça arbitrou, com o consenso dos dois países, a favor do Brasil, ou seja, que a
fronteira deveria ser, efetivamente, no Oiapoque.
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Os ingleses se estabeleceram nas Guianas, no século XIX,
conquistando terras à Holanda e à Venezuela para formar a atual
República da Guiana; daí tentaram se expandir em direção às
nascentes do Amazonas, reivindicando a posse dos campos de
Pirara. (ANDRADE, 2001, p. 40)
Esse impasse foi decidido, a favor do Brasil, por laudo arbitral pelo rei da Itália, tendo
dividido a área entre os dois países, em 1904, após disputas entre o Brasil e a Inglaterra.
Mas, ao contrário do que possa parecer, a questão das Guianas não teve um desfecho final,
já que a Guiana Francesa permanece como um departamento da França. Já as outras Guianas
mantiveram suas permanências aos estatutos coloniais - a inglesa até 1961 e a holandesa
até 1975. Houve várias propostas em relação à questão, como, por exemplo, a que ocorreu
em 1947, quando o brigadeiro Lysias Rodrigues propôs o controle mais eficaz da foz do
Amazonas com a aquisição da Guiana Francesa.
O povoamento da área que compreende a porção oriental da Bolívia e do Peru, realizado
por seringueiros nordestinos que adentravam a região pelos rios Acre, Juruá e Purus e a
falta de condições por parte daqueles países de controlarem aquele território, cumprindo,
assim, o Tratado de Madri, fez com que os dotes diplomáticos de Rio Branco promovessem
um acordo com a Bolívia, a fim de que a região do Acre fosse repassada ao Brasil ao custo
de dois milhões de esterlinas, a construção de uma ferrovia que transportasse a produção da
Amazônia da parte boliviana para o Atlântico e alguns ajustes de regiões de fronteira. Para
finalizar o acordo, em 1909 finalizou-se a questão em relação à definição das fronteiras com
a assinatura, em conjunto com o Peru, do Tratado de Petrópolis.
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Unidade: Processos Erosivos e as Rochas Sedimentares
de pessoas, como ocorre em relação à Guiana Francesa, cujos salários são mais altos, além de
haver uma demanda a trabalhadores, ou ainda, como ocorre em relação ao Paraguai, Peru,
Bolívia, Venezuela e Colômbia, com o avanço de brasileiros; além do Uruguai e da Argentina,
em que, além da presença de brasileiros, existe a proliferação da cultura e da língua.
Conforme conclui ANDRADE (2001), a integração política do território está sendo
complementada pela integração econômica e social.
As questões de fronteira discutidas poderão ser mais facilmente visualizadas através do mapa
a seguir, em que são identificados os principais pontos de contestação, englobando ao Norte as
Guianas e suas fronteiras com os Estados de Roraima e do Amapá; a Oeste, o Peru e a Bolívia e suas
fronteiras com os Estados do Amazonas e do Acre, e ao Sul, o Paraguai, Uruguai e a Argentina e
suas fronteiras com os Estados do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.
Getúlio Vargas, ao assumir a presidência, tinha como meta concentrar as decisões políticas e
econômicas do Brasil, mudando, assim, o eixo político e econômico que assumiria, então, uma
tendência nacionalista. Vargas havia assumido o governo com a ajuda dos militares, assumindo
os poderes executivo e legislativo até a promulgação de uma nova Constituição. A geografia
militar passa a ser uma disciplina obrigatória e base para as reflexões políticas à época.
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[...] foi criado, em 1931, o Conselho Nacional de Estatística, e em
seguida foram organizados os Serviços Geográficos. Em 1932,
foi organizado o Serviço Geográfico e Histórico do Exército, em
substituição ao Serviço Geográfico Militar. Em 1934 foi instituído
o Conselho Brasileiro de Geografia, mais tarde Conselho Nacional
de Geografia. Ambos os Conselhos (de Estatística e de Geografia)
comporiam em 1938 o Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística -IBGE. Com essas iniciativas, o Estado passava a dispor
de instrumentos que lhe permitiam levar adiante a sua “ação
modernizante”, o que incluía um novo tipo de gestão territorial
[...]. (COSTA, 1992, p. 193)
O objetivo, segundo alguns estudiosos, era que, através do conhecimento mais detalhado do
território brasileiro, o governo pudesse fixar normas precisas para a “racionalização territorial”
e a construção do Estado e da Nação, o que não será objeto de estudo neste momento.
Como já pôde ser estudado na Unidade II, após a Segunda Guerra Mundial houve uma
bipolaridade no mundo entre os Estados Unidos da América (EUA) e a União das Repúblicas
Socialistas Soviéticas (URSS).
Em um primeiro momento, o Brasil tentou manter uma neutralidade sobre a questão,
tendo, no entanto, aderido a um alinhamento com os EUA, situação esta que promoveu a
recepção de uma orientação política, com a participação da Força Interamericana de Paz
(FIP)1 e a assinatura do Tratado Interamericano de Assistência Recíproca (Tiar)2 . Segundo
Andrade, a assinatura dos tratados pode ser entendida como uma nova fase na relação com
os norte-americanos.
Tal situação promoveu sucessivas trocas de informações na esfera das Forças Armadas,
sob o âmbito ideológico, levando, na década de 1960, em conjunto com os demais países
do continente americano, ao rompimento de relações com Cuba e o apoio à intervenção dos
EUA na República Dominicana.
1 A Força Interamericana de Paz foi criada pela OEA (Organização dos Estados Americanos) com o objetivo de intervir na crise
política que havia surgido na República Dominicana entre 1965 e 1966. A força brasileira era composta por um efetivo de um batalhão
reforçado, com tropas da Marinha e Exército Brasileiro e denominava-se Força Interamericana - Brasil (FAIBRAS).
2 O Tratado Interamericano de Assistência Recíproca (TIAR) foi assinado em 1947 e seu principal objetivo era o de assegurar a
paz por todos os meios possíveis, prover auxílio recíproco efetivo para enfrentar os ataques armados contra qualquer Estado Americano e
conjurar as ameaças de agressão contra qualquer deles.
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Unidade: Processos Erosivos e as Rochas Sedimentares
3 O Hudson Institute de Nova York foi criado e dirigido pelo primeiro futurólogo do mundo, Herman Khan, e prestava serviços à
CIA, a central de inteligência dos Estados Unidos.
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Os militares brasileiros e a Geopolítica
Os Governos Militares
Em 1968, o Congresso brasileiro realizou uma investigação sobre vendas de terras a pessoas
físicas ou jurídicas, identificando-se a comercialização de, aproximadamente, 20 milhões de
hectares. A disposição dessas terras, segundo a CPI, “formam um cordão para isolar a Amazônia
do resto do Brasil” (GALEANO, 2010). Também, em depoimento na CPI, o general Riograndino
Kruel afirmou “que o volume de contrabando de materiais que contém tório e urânio alcança a
cifra astronômica de um milhão de toneladas” (GALEANO, 2010).
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O impasse foi resolvido em 1979 no governo Figueiredo, em uma situação de política
externa do Brasil voltada ao fortalecimento das relações com os demais países latino-
americanos, com a assinatura de um acordo que previa o aproveitamento de Itaipu e
Corpus, simultaneamente, através da readequação dos projetos.
Em 1978, foi realizada a assinatura do Tratado de Cooperação Amazônica, que consistia
na constituição de um sistema de cooperação entre os vários países em que a região
amazônica fazia parte. Além disso, esse projeto panamazônico não tinha a influência
de outros países, como os Estados Unidos ou os países da Europa, por exemplo, já que
valorizaria os aspectos continentais do continente sul americano.
Apesar de os governos militares prezarem a hegemonia da região amazônica brasileira,
entre 1979 a 1986 houve a implantação do Projeto Carajás pela norte-americana United
States Steel, que, mesmo antes do projeto Radam, vinha procurando manganês na região
da Amazônia. Entendia-se que tal situação, no entanto, trazia um benefício: o controle do
território pelo controle econômico, já que seria desnecessária a ocupação militar.
Durante o período dos governos militares, o Brasil passou a intervir na política de seus
vizinhos, tendo colaborado, segundo a imprensa, com golpes de extrema direita, dos
quais se pode citar a deposição de Salvador Allende, no Chile, ou de Juan José Torres, na
Bolívia. Com a participação do Brasil, a CIA (Agência Central de Inteligência dos EUA)
promoveu a desestabilização dos governos com a criação de situações para que os golpes
fossem bem sucedidos.
Complementando o conhecimento...
Quando em 1980 o coronel Desiré Bouterse assumiu o poder no Suriname, país muito
rico em bauxita e, portanto, área de grande interesse para empresas mineradoras
transnacionais, os norte-americanos ficaram apreensivos diante de uma possível
aproximação desse país com o governo de Cuba, sobretudo depois que a Holanda cortou
o auxílio que dava ao Suriname. Para evitar uma intervenção americana que poderia
trazer problemas para o prestígio dos Estados Unidos na opinião pública internacional,
o Brasil tratou de se aproximar e de “amaciar” o coronel ditador, fornecendo créditos
e vendendo armas, afastando-o de uma maior aproximação com Cuba.
ANDRADE, 2001, p. 57 – Reproduzido integralmente.
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Material Complementar
No artigo Geopolítica da Amazônia, a autora Bertha K. Becker discorre sobre a questão
geopolítica da região amazônica no momento histórico atual, no entanto citando suas causas,
que é objeto de estudo desta unidade.
Becker cita a mercantilização da natureza, situação esta que sempre esteve presente nas
justificativas exploratórias ao longo das décadas.
Trata-se de um material complementar interessante para não só complementar o
conhecimento, mas também como objeto de reflexão.
Sites:
Para baixar a publicação, acesse:
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_pdf&pid=S0103-40142005000100005&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt
BECKER, Bertha K. Geopolítica da Amazônia. Estudos avançados, São Paulo,
v. 19, n. 53, abr. 2005. Disponível em:
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_abstract&pid=S0103-40142005000100005&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt
Acesso em: 18 jan. 2015.
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Referências
BANDEIRA, Luiz Alberto Moniz. O Brasil como potência regional e a importância estratégica
da América do Sul na sua política exterior. Revista Espaço Acadêmico, nº 91, mensal.
Disponível em: http://www.espacoacademico.com.br/091/91bandeira.htm. Acesso em: 14 dez. 2014.
GALEANO, Eduardo Hughes. As veias abertas da America Latina. Porto Alegre: L&PM
Editores, 2010.
MORAES, Marcos Antonio de. FRANCO, Paulo Sergio Silva. Geografia Econômica: Brasil,
de colônia a colônia. Campinas-SP: Editora Átomo, 2010. 2ª Edição.
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Anotações
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