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Material Teórico
Análise de Situação da Urbanização no Mundo
Revisão Textual:
Prof. Esp. Tiago Araújo Vieira
Análise de Situação da Urbanização
no Mundo
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Unidade: Análise de Situação da Urbanização no Mundo
Contextualização
Esse caso, citado por Mike Davis (2006), é emblemático em relação à disputa por espaço
existente nas grandes cidades, e comum a todas elas. Ao mesmo tempo, evidencia as circunstâncias
peculiares e, muitas vezes, precárias de moradia.
Desse modo, é importante sempre contextualizar a existência das cidades, observando os
processos que são semelhantes no mundo, quando comparados ao Brasil, e ao mesmo tempo,
verificar as diferenças e especificidades locais da cidade, região ou país, onde está inserida.
Outro aspecto fundamental é analisar as cidades de forma integrada, do ponto de vista
social, étnico-racial, econômico e político. Tais dimensões estão sempre associadas e mudam
ao longo do tempo.
Para compreender melhor estas situações, procure ler o texto teórico da disciplina e também
buscar mais informações sobre as grandes cidades e megacidades do mundo.
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Megacidades e Grandes Cidades
Nesta unidade, vamos enfatizar a análise da urbanização do mundo, principalmente das
megacidades, sob o viés da questão da moradia e também dos elementos étnico-raciais e das
segregações espaciais existentes nas cidades.
Apesar de chegarmos ao começo do século XXI com um número cada vez maior de grandes
cidades em todo o mundo, ainda imperam, em muitas delas, formas de moradia precárias.
Alguns autores e entidades como as Nações Unidas denominam como megacidades,
àquelas cidades cuja população é grande, acima de 10 milhões de habitantes.
Contudo, não se pode confundir megacidades com metrópoles, pois podemos ter casos de
megacidades que não são consideradas metrópoles, dada a menor centralidade, em termos de
atividades econômicas, de serviços e comerciais. Do mesmo modo, há metrópoles que não são
megacidades, pois não alcançam os 10 milhões de habitantes.
Até o século XIX era mais comum que grandes cidades estivessem nos países desenvolvidos
ou de urbanização mais antiga, como, por exemplo, China e Índia. Naquela época, também, já
era comum uma segregação espacial entre ricos e pobres, em diversificadas situações.
Nas cidades de Nova Iorque, Londres e Paris, no final do século XIX e começo do século
XX, era corriqueira a existência de cortiços, onde, geralmente, moravam os trabalhadores e
imigrantes, enquanto do outro lado havia bairros burgueses.
Contudo, após a Segunda Guerra Mundial e, sobretudo, no período pós anos 1980, várias
das grandes cidades mais populosas no mundo, encontravam-se nos países subdesenvolvidos,
conforme nos explica Milton Santos:
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Unidade: Análise de Situação da Urbanização no Mundo
Figura 1: Distribuição da População em Grandes Cidades (por continente - 500 mil ou mais habitantes)
Conforme apontam relatórios do Programa das Nações Unidas para Assentamentos Humanos
– UN-HABITAT1 (2012) e do site DEMOGRAPHIA (2014), especializado em população,
atualmente, a maioria da população já vive em áreas urbanas, em condições cada vez mais
periféricas, do ponto de vista das infraestruturas, ou seja, geralmente precárias.
Dessa maneira, é importante destacar que definir a existência da maioria da população
como urbana, não significa uma urbanização com infraestrutura adequada, nem tampouco,
características de urbanização nos moldes europeus, por exemplo.
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Conforme explica o relatório Demographia World Urban Areas (Demografia das Áreas
Urbanas do Mundo):
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Unidade: Análise de Situação da Urbanização no Mundo
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11. Pequim, China
A capital da China, Pequim, é uma cidade antiga que
Grande área metropolitana:
vem sendo modernizada. É uma cidade administrativa e
17,3 milhões de pessoas. de negócios. Tem graves problemas de poluição do ar.
Município: 11,7 milhões de pessoas.
Keihanshin é uma Região Metropolitana japonesa,
12. Keihanshin, Japão formada pelas Cidades de Kyoto-Osaka-Kobe-Himeji.
Grande área metropolitana: Trata-se uma região industrializada, que forma um
17 milhões de pessoas. complexo urbano de alta produtividade industrial, de
grande densidade demográfica, e uma urbanização
Município: não disponível.
bastante verticalizada.
13. Mumbai, Índia Mumbai, anteriormente denominada de Bombaim
até 1995, é o principal centro econômico da Índia e
Grande área metropolitana:
já foi uma região industrializada. Atualmente tem se
16,9 milhões de pessoas. transformado num centro de capital financeiro e de
Município: 12,5 milhões de pessoas. negócios. É uma cidade bastante desigual.
Conhecida antigamente como Cantão, esta cidade
14. Guangzhou-Foshan, China no sudeste da China, capital da região de Guandong,
Grande área metropolitana: cresceu muito com a abertura do país para as ideias
16,8 milhões de pessoas. capitalistas. Próxima a Hong Kong, tornou-se um
grande centro industrial e financeiro, possuindo uma
Município: 11 milhões de pessoas.
Zona Franca com um polo tecnológico.
15. Moscou, Rússia A capital da Rússia é a maior cidade europeia. Com
Grande área metropolitana: o final da União Soviética, tornou-se uma região com
15,5 milhões de pessoas. forte imigração. É antiga e possui grande diversidade
de atividades culturais, econômicas e administrativas.
Município: 11,8 milhões de pessoas.
É a capital e principal cidade de Bangladesh, país que
16. Daca, Bangladesh foi desmembrado da Índia. Uma das cidades que mais
crescem no mundo, devido à migração de outras partes
Grande área metropolitana:
do país, tornou um centro de negócios, financeiro e
15,4 milhões de pessoas. comercial. Porém, segundo o Banco Mundial há
Município: 7 milhões de pessoas. inúmeras favelas, e cerca de ¼ da população vive
precariamente.
Los Angeles é a segunda maior cidade dos EUA.
17. Los Angeles, Estados Unidos Localizada na costa oeste da Califórnia, tem mais
de 40% de sua população composta por imigrantes
Grande área metropolitana:
latinos, principalmente mexicanos; asiáticos, entre
14,9 milhões de pessoas. outros. É uma típica metrópole com centros de serviços,
Município: 3,8 milhões de pessoas atividades comerciais e grandes vias interligando sua
área metropolitana.
18. Kolkata, Índia Kolkata (ex-Calcutá) se localiza perto da fronteira com
Grande área metropolitana: Bangladesh. Trata-se de um grande centro econômico
14,4 milhões de pessoas. da Índia, mas que convive com inúmeros problemas
urbanos e ambientais.
Município: 4,5 milhões de pessoas.
19. Karachi, Paquistão Karachi – a maior cidade e centro financeiro e
Grande área metropolitana: administrativo do Paquistão – é também o principal
13 milhões de pessoas. porto marítimo do país, e a segunda maior megacidade
Município: 13 milhões de pessoas. do mundo, desconsiderando-se sua área metropolitana.
20. Buenos Aires, Argentina Buenos Aires é a segunda maior cidade da América
Grande área metropolitana: do Sul. Com os problemas econômicos recentes da
13,5 milhões de pessoas. Argentina, houve aumento da pobreza, embora seja o
Município: 2,9 milhões de pessoas. principal centro econômico e administrativo do país.
Fonte: Diversas: Demographia World Urban Áreas, 2012; UN-HABITAT, 2012; DAVIS, Mike, 2006; DUPONT; SAGLIO-YATZIMIRSKY, 2009; TULLOCH, James. Disponível em:
http://sustentabilidade.allianz.com.br/?2059/as-maiores-megacidades-do-mundo. Elaborado por Vivian Fiori, 2014.
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Unidade: Análise de Situação da Urbanização no Mundo
Fonte: Tradução de Vivian Fiori, 2014. Extraído de UNITED NATIONS HUMAN SETTLEMENTS PROGRAMME (UN-HABITAT) State of the world’s cities report
2012/2013: Prosperity of cities. Nairóbi, Kenya, Malta: Progress Press Ltd., 2012, p. 25. Disponível em:
http://sustainabledevelopment.un.org/content/documents/745habitat.pdf
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Moradias Precárias
Em inglês o termo para moradia precária é slum. Segundo a tradução, no Brasil, do livro de
Mike Davis (2006), Planeta Favela (do original, Planet of slums), o termo ganhou a conotação
de favela, quando, na verdade, o correto seria traduzir como moradia precária, simplesmente.
O próprio termo favela é difícil de ser definido, já que cada país tem sua própria definição
para as moradias precárias. Portanto, em alguns casos, nesta unidade, usaremos o termo
moradia precária, que é de conotação mais geral, podendo incluir aí, loteamentos irregulares e
clandestinos, cortiços e favelas, entre outras formas de existência e de moradia.
Na África, ao sul do Saara, por exemplo, são pouco comuns os cortiços, já que a urbanização,
em geral, nessas regiões é mais recente. Desse modo, praticamente, não podemos tratar de cortiços,
mas há muitos casos de aluguéis e de ocupações precárias, parecidas com as existentes no Brasil.
Na África subsaariana, ao contrário, são raros ou inexistentes os antigos cortiços no centro
da cidade, pois, nas antigas colônias britânicas esses eram incomuns, como destaca o geógrafo
Michael Edwards:
Em setores mais antigos de Acra e Kumasi (Gana), ainda é comum a propriedade
consuetudinária da terra; e embora a locação predomine, os laços do clã
costumam impedir os aluguéis altíssimos, tão comuns em Lagos e Nairóbi. Na
verdade, o complexo habitacional baseado no parentesco, em que os pobres
moram com parentes mais ricos em casas que abrigam a família ampliada,
torna os bairros de Gana mais diversificados em termos econômicos do que nas
outras cidades africanas (EDWARDS apud DAVIS, 2006, p. 44 -45).
Nesse exemplo citado verifica-se que ainda existem famílias que moram juntas, devido à
relação de laços dos clãs, ou seja, de comunidades que têm uma relação de parentesco ou de
proximidade cultural. Isso faz com que, no caso de Gana, por exemplo, nas cidades de Acra e
Komasi, ocorram casos de pessoas mais pobres vivendo junto com parentes mais ricos. Dessa
forma, a relação familiar e os laços de parentescos tornam os bairros mais complexos.
Figura 3: Formas de Moradia em Moamba, Moçambique
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Unidade: Análise de Situação da Urbanização no Mundo
Hoje, no Cairo, por exemplo, há casos em que são ocupados os templos ancestrais e tumbas
mamelucos, e esses antigos cemitérios são tornados espaços de moradia; assim como também
na Índia, onde mais de cem milhões de pessoas moram na rua e dormem, muitas vezes, em
estações de trem, dentro dos trens, táxis e outros lugares improvisados, em cidades como
Bombaim, Kolkata ou Délhi.
Já em Hong Kong, atualmente parte da China, há ainda casos de moradores que vivem
em cortiços flutuantes, morando ou dormindo em barcos improvisados. Dessa forma, existem
inúmeras condições de moradias para além das conhecidas no Brasil.
Outra forma bastante comum de situação de moradia, tanto na África quanto Ásia, é o
tipo de moradia que ocorre por locação – são os moradores locatários, ou seja, moradores
que vivem de aluguéis. Nesse caso, existem diferentes classes sociais vivendo dessa forma. Há
aluguéis de classe média alta, mas também há os aluguéis em favelas ou em prédios públicos.
No caso do Brasil, é incomum que haja prédios públicos alugados para moradia. No entanto,
há países em que essa é a principal forma de habitação popular. Como comenta Mike Davis:
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Reforçando o que diz Mike Davis (2006), geralmente, entre os moradores de favelas, os
locatários são os mais impotentes, pois, caso haja a necessidade regularização, normalmente,
não têm direito algum, pois, trata-se de uma ocupação informal, e como tal, de uma locação
também informal.
Há também, cada vez mais megafavelas no mundo. E essas são mais comuns no continente
americano, principalmente, na América Latina, e também no continente asiático. Há uma
vastidão de moradias precárias, em áreas de risco, tanto nas grandes encostas e montanhas,
quanto nas proximidades de rios e lagos, cujas condições de moradia são bastante inadequadas.
É o caso da favela de Dharavi, em Mumbai, na Índia.
No Brasil, é mais comum que os próprios moradores construam suas casas, mas na África, por
exemplo, há casos em que a favela é construída por poucas pessoas e depois sublocada em aluguéis,
para outras pessoas. Há casos, portanto, de coerção e disputa territorial em que os mais pobres se
submetem à política desses agentes que ocupam e constroem, irregularmente, essas casas.
Do ponto de vista mundial, principalmente após 1990, dentro de uma ótica neoliberal,
o Banco Mundial e o Programa das Nações Unidas pelo Desenvolvimento (PNUD), vêm
elaborando programas de habitação mundial.
No entanto, além de serem incipientes, tais programas nem sempre atendem, de fato, a
realidade existente nesses países subdesenvolvidos, com problemas de déficit habitacional e de
condições inadequadas de moradia.
Conforme explica Mike Davis:
Desde meados da década de 1990, o Banco Mundial, o Programa das Nações
Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) e outras instituições de ajuda
contornaram, ou evitaram progressivamente, os governos para trabalhar de
forma direta com ONGs regionais ou comunitárias. Na verdade, a revolução
das ONGs – há hoje dezenas de milhares delas nas cidades do terceiro mundo
– reconfigurou a paisagem do auxílio ao desenvolvimento urbano praticamente
do mesmo modo que a Guerra à Pobreza, da década de 1960, transformou
as relações entre Washington, as máquinas políticas das cidades grandes e os
eleitorados rebeldes dos bairros pobres. Enquanto o papel do Estado como
intermediário reduzia-se, as grandes instituições internacionais instauraram a
sua própria presença na base, por meio de ONGs dependentes, em milhares
de favelas e comunidades urbanas pobres. Caracteristicamente, um doador-
financiador internacional – como o Banco Mundial, o Departamento do
Desenvolvimento Internacional do Reino Unido, a Fundação Ford ou a Fundação
Friendrich Ebert, alemã – trabalha por meio de uma ONG importante, que por
sua vez dá consultoria a uma ONG local ou destinatário nativo. Esse sistema
de coordenação ou financiamento em camadas costuma ser retratado com a
última palavra em empowerment, sinergia e governança participativa (DAVIS,
2006, p. 83-84).
Outro fator citado pelo autor faz referência ao papel das Organizações Não-Governamentais
(ONGs), que nos países mais precários e pobres, sobretudo, na África e no continente asiático,
desenvolvem programas e atividades que buscam melhorar as condições sociais e de moradia
nesses lugares.
Contudo, como enfatiza o autor, há muitos casos nos quais essas ONGs apenas realizam
medidas paliativas e, muitas vezes, viram uma verdadeira indústria da pobreza, no sentido de
que, ao invés de buscarem minimizar os problemas dessas comunidades pobres pelo mundo,
ampliam ainda mais tais condições, ou não resolvem os problemas, adequadamente.
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Unidade: Análise de Situação da Urbanização no Mundo
Ao tratarmos das cidades pelo mundo, temos de considerar que, além da dimensão
socioeconômica e dos diferentes usos sociais existentes nas cidades, existem também as
dimensões étnico-raciais que precisam ser observadas e analisadas.
Desse modo, considera-se que existe uma inter-relação entre essas dimensões e, portanto, ao
analisar uma cidade, é importante perceber que para além das diferenças entre ricos e pobres e
os seus diferentes usos urbanos, há também, diferenças raciais e culturais.
Tais diferenças se dão desde a observação na paisagem, das diferentes marcas culturais
existentes, por exemplo: dos equipamentos religiosos (templos, igrejas, sinagogas, terreiros etc.);
das práticas culturais, do jeito de se vestir, dos hábitos e costumes de cada cultura; e, até mesmo,
das características raciais – de tratos físicos e da cor da pele.
Há muitos casos, sobretudo nas grandes cidades, de bairros inteiros que formam um conjunto
de certos povos, e acabam constituindo-se em formas de segregações espaciais. É o caso de
bairros chineses em Los Angeles, ou em São Francisco, no Estado da Califórnia, nos EUA,
denominados de Chinatown; ou de bairros judeus, em Nova Iorque; ou de latinos formando um
grande grupo de imigrantes latino-americanos, em Nova Jersey, por exemplo.
Associam-se a essas questões de cunho cultural e étnico-racial, também a questão econômica,
pois, muitas vezes, tais bairros de imigrantes são os bairros mais pobres e, portanto, alia-se a
questão da migração e dos povos que ali vivem, às condições socioeconômicas dos moradores.
Nos Estados Unidos, por exemplo, há casos nos quais, observando-se a paisagem, verifica-
se nitidamente tais diferenças. É o caso da cidade de Los Angeles, onde há bairros tipicamente
brancos, da alta sociedade, como Beverly Hills, e outros bairros brancos de classe média, assim
como bairros predominantemente de negros. Isso denota uma condição econômica e social e,
ao mesmo tempo, racial-étnica.
Alguns autores denominam tais formas de segregação espacial de guetos urbanos. A expressão
gueto vem da Segunda Guerra Mundial, quando, por conta do nazismo, os alemães segregavam
os judeus em bairros específicos. Isso foi visto, por exemplo, em Varsóvia, na Polônia, quando
esta foi invadida pelos alemães, e a partir daí, o termo passou a ser usado comumente.
No entanto, sendo ou não um gueto, há de fato uma segregação espacial desses lugares.
Outro exemplo específico ocorreu na África do Sul, que antes de ser um Estado-Nação, um
país, era uma região, assim como parte da África, ao sul do Saara, formada, principalmente, por
diferentes tribos de culturas e raças distintas.
Em 1648, depois de naufragar na costa da região onde hoje é a Cidade do Cabo, um grupo
de holandeses, que passaram a ser chamados de boers, começaram a viver ali.
Ao longo do tempo, novos grupos foram chegando e começaram um processo de colonização
desses boers, que eram formados principalmente por holandeses, alemães e alguns franceses
que vinham da Europa, fugidos, principalmente, das guerras e disputas religiosas existentes
naquele período.
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Esse grupo, com o tempo, foi migrando para a porção norte do país que hoje chamamos de
África do Sul3, e nesse processo de migração foram fundando novas colônias e criando algumas
cidades, como Pretória e Johanesburgo.
Com a chegada da colonização formal dos ingleses na África do Sul, esses holandeses
disputaram poder com os britânicos. Então, passamos a ter a seguinte situação naquela região:
de um lado, colonizadores ingleses, de outro, grupos de colonizadores, denominados de
africâneres (boers), que eram os descendentes de holandeses e alemães e, por fim, inúmeras
tribos africanas com diversas línguas e costumes.
Já independente, a África do Sul, no começo do século XX, vai criar normas para a existência
dessas populações. Em 1948, após a Segunda Guerra Mundial, o Partido Nacionalista, alinhado
com os africâneres (principalmente, os descendentes de holandeses) criou o regime Apartheid.
Conforme explica Demétrio Magnoli:
Dessa forma, Apartheid representava uma separação de brancos, negros, asiáticos e mestiços.
Nas cidades foram criadas as townships, que eram bairros segregados.
A peculiaridade é que para além dos bairros que já existiam antes do regime Apartheid, esses
novos bairros eram segregados por lei. Assim, se um negro quisesse sair da sua área para viver
ou trabalhar numa área destinada aos brancos, por exemplo, ele deveria ter um passe para
poder circular nas áreas brancas. Tal situação, portanto, é uma peculiaridade existente neste país
chamado África do Sul.
Só no final dos anos 1980 é que, devido a pressões internacionais, Nelson Mandela foi solto e
o país passou por um processo de mudança política, que acarretou com fim do regime Apartheid.
Cabe reiterar que apesar disso, a segregação continua a existir sem que precise, necessariamente,
ser uma lei. Ou seja, apesar de a lei da segregação racial não mais existir, os bairros ainda são
segregados conforme os diferentes grupos socioeconômicos e étnicos.
Finalizando esta unidade, verifica-se que há diferentes formas de segregação espacial em
várias cidades do mundo e que as megacidades constituem-se como cidades gigantes, com
mais de 10 milhões de pessoas e, em muitos casos também, em espaços de grande pobreza e
desigualdade espacial.
3 Procure em sites de busca o mapa da África do Sul. Observe onde fica o país e suas principais cidades.
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Material Complementar
Leituras:
DUPONT, Véronique; SAGLIO-YATZIMIRSKY, Marie-Caroline. Programas de erradicação, reassentamento e urbanização
das favelas: Delhi e Mumbai. São Paulo, Estudos Avançados, 23 (66), 2009. Acesso em 20/10/2014. Disponível em:
http://www.scielo.br/pdf/ea/v23n66/a20v2366.pdf
PREFEITURA DA CIDADE DE SÃO PAULO; ALIANÇA DE CIDADES – CITIES WITHOUT SLUMS. Urbanização de favelas
em foco: experiências de seis cidades. São Paulo: Corset, 2008. Acesso em 15/11/2014. Disponível em:
http://www.citiesalliance.org/sites/citiesalliance.org/files/Urbanizacao-de-Favelas-em-Foco.pdf
Livros:
MAGNOLI, Demétrio. África do Sul: capitalismo e apartheid. São Paulo: Contexto, 1992.
VASCONCELOS, Pedro de Almeida et alli (orgs.) A cidade contemporânea: segregação espacial. São Paulo:
Contexto, 2010. (e-book).
Filmes:
Filme, DVD. O poder de um jovem. Filme, 2h06min, 1992, sobre a África do Sul, primeira metade do século XX,
sobre racismo na África do Sul. Também pode ser assistido na internet a partir de sites de busca.
Filme, DVD. Invictus. 2h 14min, o filme, de 2009, é um dos mais recentes que conta a história de Nelson Mandela.
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Referências
DAVIS, Mike, 1946. Planeta Favela. Tradução de Beatriz Medina. São Paulo: Boitempo, 2006.
MAGNOLI, Demétrio. África do Sul: capitalismo e apartheid. São Paulo: Contexto, 1992.
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Anotações
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