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A cidade e o urbano: um estudo de Geografia Urbana
Revisão Textual:
Prof. Ms. Luciano Vieira Francisco
A cidade e o urbano: um estudo de
Geografia Urbana
··Introdução
··Um breve processo histórico
··Teorias e a situação no Brasil
Esta Unidade trata dos processos de existência das cidades, dando ênfase à visão ocidental,
especificamente europeia, sobre o assunto. Além disso, aborda as concepções sobre o que é
rural e urbano.
Assim, é fundamental compreender que há diferentes sentidos para tais categorias, ou seja,
há diversificadas maneiras e concepções para definir cada um desses termos e suas relações,
tanto tecnicamente, como teoricamente.
Nesse sentido, é importante perceber que há uma dinâmica urbana atual que transforma os
espaços e torna mais difícil fazer uma separação do que é rural e urbano, já que as relações
campo-cidade estão cada vez mais complexas e integradas.
Finalmente, para alcançar tais objetivos leia atentamente o texto da Disciplina, realize as
atividades propostas e procure ler os materiais complementares.
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Unidade: A cidade e o urbano: um estudo de Geografia Urbana
Contextualização
Nessa visão, Ana Fani A. Carlos mostra os diferentes usos do espaço em uma cidade capitalista.
Nessa encontramos as atividades produtivas, caso da indústria, onde se materializam as relações
de trabalho e a exploração da mais valia. É onde também se encontram atividades de serviços,
ou seja, de apoio à produção e à existência das pessoas que ali vivem, tais como agências
bancárias, unidades básicas de saúde, transporte e distribuição de correspondências etc.
Na cidade também há concentração de atividades e de ocupação com uma morfologia
espacial, ou seja, formas espaciais, com padrões de arruamentos, diversificados estilos de
moradias onde diferentes classes sociais vivem o cotidiano.
A cidade capitalista é desigual e isso pode ser apreendido até mesmo pela observação de
sua paisagem com diferentes usos do território, dos mais pobres, que a veem como espaço de
moradia, como um abrigo; assim como dos atores hegemônicos que a tratam como recurso e
possibilidade de consumo, com um uso especulativo, capitalista e como mercadoria.
Ainda que tais condições sejam comuns na cidade capitalista, contudo, cabe lembrar que
as cidades já existem antes do capitalismo. Então, como eram as cidades antes desse sistema?
Quais as diferenças? Todas passaram pelos mesmos processos?
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Introdução
Nessa Unidade trataremos sobre questões relativas à Geografia urbana, iniciando pelo
processo e origem das cidades no mundo e, em uma segunda etapa, discutindo os conceitos de
urbano e rural, evidenciando a opinião de alguns autores, bem como determinados aspectos
técnicos sobre este tema.
Esse período é o que Milton Santos chamava de meio natural. Momento histórico no qual
homens e mulheres dependiam do ritmo da natureza e do que se dispunha no meio em que
viviam, como explica o autor:
Quando tudo era meio natural, o homem escolhia da natureza aquelas suas
partes ou aspectos considerados fundamentais ao exercício da vida, valorizando,
diferentemente, segundo os lugares e as culturas, essas condi¬ções naturais
que constituíam a base material da existência do grupo. Esse meio natural
generalizado era utilizado pelo homem sem grandes transformações. As técnicas
e o trabalho se casavam com as dádivas da natureza, com a qual se relacionavam
sem outra mediação. O que alguns consideram como período pré-técnico exclui
uma definição restritiva. As transformações impostas às coisas naturais já eram
técnicas, entre as quais a domesticação de plantas e animais aparece como um
momento marcante: o homem mudando a Natureza, impondo-lhe leis. A isso
também se chama técnica (SANTOS, 2006, p. 235).
A divisão social do trabalho foi se tornando mais complexa à medida que esses grupos
humanos foram domesticando plantas e animais e não viviam somente de caça, coleta de
vegetais e pesca, atividades que atualmente denominamos de extrativistas. Ainda assim,
recorriam a técnicas para caçar, pescar, coletar vegetais e plantar.
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Unidade: A cidade e o urbano: um estudo de Geografia Urbana
Alguns autores (MUMFORD, 1998) consideram que esse processo foi criando uma maior
concentração de pessoas e levou ao início da formação das cidades. Isso variou conforme
os lugares. Desse modo, não podemos afirmar que tudo o que se deu em um determinado
momento da história fosse igual para todos os lugares do mundo, havendo sempre diferentes
temporalidades sociais e espaciais, mesmo no mundo de hoje.
Muito do que sabemos sobre a origem das cidades tem relação com alguns textos e análises
históricos, documentos encontrados, objetos, utensílios e, em alguns casos, as próprias
construções arquitetônicas que resistiram ao tempo ou suas ruínas, todos serviram como
elementos para uma análise de como se constituíam as cidades.
É importante ressaltar também que as produções acadêmico-científicas que existem no Brasil
originam-se principalmente dos europeus, por isso, acostumamo-nos a contar a história das
cidades pelo viés acadêmico desse continente.
De qualquer modo, e em geral, alguns povos tornaram-se mais sedentários e de aldeias,
cujo modo de vida era mais próximo à natureza, de modo que foram criando técnicas que
lhes permitiram um modo de vida um pouco mais complexo, conforme comenta Ana Fani
Alessandri Carlos (1992, p. 60):
Por volta de 8000 a.C. o homem aprofunda suas relações com o meio circundante
aproveitando a terra para o plantio, iniciando um rudimentar princípio de
organização. Aproximadamente no ano 6000 a.C., inovações técnicas, tais como
arado de relha, aliadas ao deslocamento para os vales fluviais (inicialmente
Tigre, Eufrates, Nilo, Indo e mais tarde o rio Ucango na China), cuja inundação
deixava – em extensas áreas alagadas um lodo bastante fértil, dão à agricultura
um notável impulso. As inovações tecnológicas prosseguem e no ano 5000 a.C.
já se podia notar a presença de diques, canais e vales de irrigação.
Nas atuais regiões do Oriente Médio, bem como na China e na Índia, no contexto da citação
acima houve no entorno dos vales fluviais (de rios) as primeiras civilizações e a formação das
cidades, nesse caso a proximidade da disponibilidade da água e do solo fértil eram fundamentais
à existência desses povos.
Nem sempre havia uma rígida distinção entre o que seria o campo e a cidade. No antigo Egito,
por exemplo, havia uma proximidade entre a cidade construída para os deuses e para servir de
administração do reino (aos faraós), assim como os campos de cultivo em torno do rio Nilo.
Desse modo, cita-se como exemplo algumas cidades antigas e onde seriam suas localizações
atuais, comparadas à provável época de origem: Jericó, atual Jordânia, 5000 a.C.; UR, atual
Iraque, 5000 a.C.; Tróia, Turquia, 3500 a.C.; Roma, atual Itália, 2700 a.C.
UR, por exemplo, situava-se na confluência dos rios Tigre e Eufrates, na antiga Mesopotâmia
(atual Iraque) e, por meio da cidade, controlava o comércio marítimo da região. Tais cidades
geralmente tinham uma relação com o comércio, mas também com a religião, pois nessas havia
templos destinados aos deuses, bem como algumas também eram cidadelas.
As cidadelas constituíam-se em cidades muradas, pois havia preocupação de invasões de
outros povos em alguns lugares do Oriente Médio, região em que essa prática era comum.
A cidade era vista como meio de proteção contra as agressões de outros povos e também se
tornava um espaço sagrado, pois as construções dos templos e outros símbolos religiosos eram
uma forma de materialização do respeito aos deuses.
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Para isso a divisão social ficava cada vez mais complexa conforme surgiam novos atores
sociais, tais como: arquitetos, engenheiros, sacerdotes, militares, escribas, reis e rainhas, além
de escravos que comumente eram usados para construir tais cidades.
Mesmo em algumas cidades que foram dominadas pelos romanos havia construções de
espaços livres, aquedutos (Figura 1), estádios etc.
Este aqueduto foi construído para trazer água à cidade, provavelmente em torno 50 d.C,
durante o período que egóvia fazia parte do Império Romano.
Onde hoje se considera o Continente americano também havia civilizações que criaram
algumas cidades, caso de Teotihuacán, próxima à atual cidade do México, cuja origem estima-
se ao século I d.C. e que alcançou cerca de 120.000 habitantes até o século II d.C.
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Unidade: A cidade e o urbano: um estudo de Geografia Urbana
Outra característica das cidades europeias na Idade Média era a existência de cidadelas
(Figura 3) terem uma vida mais pacata, comunitária e relacionada à vida religiosa cristã,
inclusive com os hospitais vinculados à igreja, denominados de santas casas.
Nesse sentido, apenas algumas cidades como Gênova e Veneza, situadas na atual Itália,
continuaram realizando comércio mais intenso e, portanto, em geral, as cidades regrediram de
tamanho nesse período, pois o modo de vida era predominantemente rural.
Figura 3 – Vista da muralha de Ávila, Espanha.
A muralha foi construída no período medieval, mais precisamente ao final do século XI.
Atualmente a cidade se expandiu para além da muralha.
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Importante ressaltar que tal situação é específica de parte da Europa, pois enquanto isso em
cidades como Bagdá – situada no atual Iraque –, estima-se que alcançava mais de um milhão
de habitantes. Bagdá, entre os séculos IX e XI, tornou-se um grande centro de cultura e Ciência
da época, assim como Córdoba e Granada, na atual Espanha, eram ocupadas pelos árabes e já
figuravam como importantes nesse período.
A grande transformação das cidades europeias veio com o mercantilismo e reinos absolutistas,
a partir da qual a cidade passou a ser também espaço de morada da nobreza, em uma segregação
espacial clara entre a nobreza e os demais moradores. Com construções suntuosas para a corte
em detrimento da população em geral.
A primeira mudança social foi o surgimento das classes sociais formadas basicamente
pela burguesia e proletariado (operários), habitando as mesmas cidades, mas em bairros ou
distritos significativamente segregados, coexistindo ainda com formas pretéritas de existência,
caso da nobreza.
Desse modo, houve, sobretudo na Europa, diversas mudanças da Idade Média à Idade
Moderna, como explica o geógrafo Marcelo Lopes de Souza (2007, p. 68):
Considere-se uma cidade européia medieval: nela, a separação espacial entre
ricos e pobres, ou entre segmentos sociais com status diverso, era, ainda, pouco
complexa em comparação com uma grande cidade capitalista industrial do
século XIX na própria Europa, ou em uma grande cidade no “Terceiro Mundo”
atual. Na cidade medieval havia, sem dúvida, uma dimensão ”horizontal” da
divisão espacial do trabalho (como no caso dos bairros onde se concentravam
os artesãos vinculados a uma dada corporação de ofício) e da separação entre
estratos sociais, mas a mistura de classes e estratos era grande, sobretudo do
ponto de vista “vertical”: no mesmo prédio coabitavam o mestre artesão e sua
família, seus aprendizes e empregados e o local de trabalho, ocupando andares
diferentes. Em contraste, o capitalismo trará consigo uma separação crescente
entre local de trabalho e local de moradia, e os locais de moradia dos industriais
e, até certo ponto, e cada vez mais, também dos locais de moradia dos pequeno-
burgueses e profissionais liberais – enfim, da dita classe média.
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Unidade: A cidade e o urbano: um estudo de Geografia Urbana
Maria Stella Martins Bresciani, mediante uma citação de Engels, evidencia as condições
do cotidiano, pelas quais passavam as classes operárias de Londres no século XIX, conforme
afirmação de Engels (apud BRESCIANI, 2004, 1989, p. 25):
uma massa de casas de três a quatro andares, construídas sem planejamento,
em ruas estreitas, sinuosas e sujas, abriga parte da população operária. Nas
ruas a animação é intensa, um mercado de legumes e frutas de má qualidade
se espalha, reduzindo o espaço para os passantes. O cheiro é nauseante. A
cena torna-se mais espantosa no interior das moradias, nos pátios e nas ruelas
transversais: “não há um único vidro de janela intacto, os batentes das portas
e janelas estão quebrados, e as portas, quando existem, são feitas de pranchas
pregadas. Nas casas, até os porões são usados como lugar de morar e em toda
parte acumulam-se detritos e água suja. Aí moram os mais pobres dentre os
pobres, os trabalhadores mal pagos misturados aos ladrões, aos escroques e às
vítimas da prostituição.
Outra mudança diz respeito à exploração do trabalho humano, esse que nesse processo
capitalista industrial tornou-o mais abstrato. Se, por exemplo, antes do processo capitalista um
agricultor produzisse arroz, esse o fazia em todo o processo. Plantava, cuidava da manutenção,
colhia e vendia, portanto, na divisão social do trabalho esse era seu papel.
Com a indústria houve uma divisão do próprio processo e cada um especializava-se em
uma fase da produção e ainda havia a exploração do trabalhador, esse que vendia sua força
do trabalho em troca de um salário. Por meio desse trabalho, Marx e Engels citam que houve a
exploração da mais valia, que é o trabalho não pago.
Paulo Sandroni (1982) usa um exemplo didático em seu livro O que é mais valia?,
cuja essência e ideia principal segue-se:
O autor sugere um fictício grupo de pescadores que trabalhava de forma tradicional;
pescava-se um pouco a cada dia e parte da produção do trabalho era consumida
(subsistência), enquanto a outra parte comercializa-se. Portanto, o produto da pesca
em parte virava mercadoria (valor de troca). Ao vender, os pescadores colocavam o
preço e recebiam pelo que produziam. Ou seja, pescavam, por exemplo, dez peixes,
consumiam cinco e outros cinco vendiam e recebiam pela produção trocada por
dinheiro desses cinco ou trocavam por outros produtos.
Eis que chega uma indústria pesqueira na região, com mais técnicas e tecnologias,
grandes navios, equipamentos (trabalho morto), cujas máquinas e técnicas faziam
da produção e da produtividade maiores. Aos poucos, começam a competir com os
pescadores tradicionais. Com o tempo, não tendo como competir com os preços e
alta produtividade da indústria pesqueira, esses pescadores tradicionais passam a
trabalhar para essa indústria da pesca. Ao definir o salário do trabalhador (pescador),
a empresa não lhe paga tudo o que esse produziu, ou seja, o pescador – agora
empregado assalariado – produz milhares de peixes por mês, mas seu salário ao final
desse período não é proporcional ao número de peixes produzidos.
Desse modo, esse trabalho que não é pago é a mais valia. Ou seja, pesca milhares de
peixes, mas ganha um salário bem menor, de modo que o restante é a exploração da
mais valia de seu trabalho como parte do processo capitalista de produção.
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Para explicar esses processos relativos ao campo e cidade, Henri Lefebvre definiu três
períodos da história: um é a Era camponesa, na qual predominava a atividade agrícola e a vida
no campo; depois um período industrial, na Revolução Industrial – a partir do século XVIII –,
que se iniciou na Europa Ocidental e foi propagada pela expansão capitalista, com predomínio
da indústria e de sua forma racional na organização do espaço e nas condições do trabalho e,
por fim, a Era urbana, com predomínio do modo de vida urbano, ou da sociedade urbana.
Nessa perspectiva de Lefebvre, o urbano é o modo de vida, que atualmente chega até o campo,
de modo que para esse autor cidade e urbano não são sinônimos. Contudo, cabe novamente
ressalvar que nem todos os lugares do mundo passaram por esses três períodos destacados.
Já Milton Santos define o momento pós-Revolução Industrial como período técnico-científico,
porque a revolução das técnicas com as novas descobertas – caso da máquina a vapor, sistema
ferroviário, fabricação do aço, uso dos combustíveis fósseis (carvão e petróleo), eletricidade (final
século XIX) etc. – revolucionaram as formas de produção, dos transportes e da vida urbana,
conforme afirma o autor:
Esse meio técnico vem sofrendo transformações sucessivas e, segundo os
períodos, com diferente intensidade nas diversas partes do mundo. Naqueles
países ou regiões onde eram disponíveis técnicas mais avançadas e elas podiam
ser aplicadas à transformação da natureza, encontraremos também um meio
técnico mais complexo. [...] Todavia, apenas recentemente é que se pôde falar
num meio técnico-científico, contemporâneo do período de mesmo nome da
civilização humana. Esse período coincide com o desenvolvimento da Ciência
das técnicas, isto é, da tecnologia, e, desse modo, com a possibilidade de aplicar
a Ciência ao processo produtivo (SANTOS, 1981, p. 37).
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Unidade: A cidade e o urbano: um estudo de Geografia Urbana
Definir o que é cidade e urbano, bem como rural e campo, pode ser algo complexo. Na
verdade, atualmente ambos os espaços são cada vez mais integrados e complementares em
algumas partes do mundo, entre as quais no Brasil.
Alguns autores (BERNADELLI, 2006) buscam a definição do urbano e do rural considerando
alguns critérios, entre os quais: tamanho demográfico e número de habitantes; densidade da
ocupação; aspectos morfológicos do espaço; tipos de atividades desenvolvidas; modo de vida;
geração de inovações, entre outros (Quadro 1).
Quaisquer desses critérios podem ser discutíveis, mas em conjunto podem ajudar a compreender
algumas características desses espaços. Atualmente os recursos de imagem de satélite do Google
Maps, do Google Earth ou do Google Street View permitem ter uma maior proximidade com as
formas espaciais dos lugares (morfologia espacial), mesmo à distância (imagem remota).
Por meio dessas imagens é possível observar o desenho, por exemplo, das ruas, do padrão de
ocupação etc., permitindo, em princípio, precisar qual tipo de atividade econômica predomina,
entre outras características.
Quadro 1 – Alguns critérios de definição entre rural e urbano.
Levando-se em conta tais critérios, pode-se ter certa ideia sobre urbanidade e ruralidade,
contudo, há diversas situações que no mundo de hoje, sobretudo com o processo de globalização
e com a inserção do capitalismo no campo, esses juízos podem ser questionados.
É o caso, por exemplo, das atividades econômicas, já que há também agroindústria no
campo, assim como a concepção de que na cidade há mais inovações tecnológicas. Com o
capitalismo no campo e o agronegócio, por exemplo, tais técnicas – caso da Biotecnologia –
chegam também mais ao campo. Assim, Maria Lúcia Bernardelli (2006, p. 48) explica sobre o
critério do modo de vida:
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A vida rural é associada, geralmente, com uma expressiva valorização da
comunidade, valores de vida da família e também ao papel importante da
religião. A vida urbana tem como característica agrupar mais as pessoas a partir
da sua profissão, muito mais do que somente a partir da família ou da orientação
religiosa. Obviamente, essa é uma consideração geral. Outra consideração a ser
lembrada é a de que, quando pensamos em “modo de vida rural”, pensamos
haver maior articulação entre o espaço de trabalho e o espaço de vida como,
por exemplo, no caso de uma pequena propriedade.
Contudo, em alguns casos, apesar desses critérios, é difícil fazer uma definição rígida sobre
tais termos. Para alguns autores, como Lefebvre, urbano e cidade não são sinônimos, dado que
esse autor urbano possui relação com o modo de vida e mesmo no campo atualmente temos
um modo de vida cada vez mais urbano.
Do ponto de vista formal, cabe à cada prefeitura municipal a definição do perímetro urbano
e, a partir desse, o município assume obrigação de dotá-lo de infraestrutura urbana, caso de
coleta de lixo (resíduos sólidos urbanos), arruamentos, aprovação de loteamento urbano etc.
Se há um imóvel na área formalmente urbana (perímetro urbano), a prefeitura poderá,
considerando-se seus critérios, cobrar o Imposto Predial e Territorial Urbano (Iptu), mas se for
imóvel na área rural, será o Imposto sobre a Propriedade Territorial Rural (ITR), pago ao Instituto
Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), órgão do governo federal.
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Unidade: A cidade e o urbano: um estudo de Geografia Urbana
Pode também ocorrer situações de propriedade aparentemente rural, caso de chácaras, cujas
localizações possam ser urbanas. Então, é fundamental separar os processos do que seria urbano
e rural da definição técnica. Cabe à prefeitura municipal a definição do perímetro urbano de um
município.
Assim, não cabe a separação e dicotomia entre o que seja urbano-rural, cidade-campo,
pois há lugares no mundo que esses espaços estão cada vez mais integrados, não competindo,
portanto, compreendê-los separadamente, dado que ambos têm relação e interfere um no outro.
Há, por exemplo, trabalhadores agrícolas que moram na área urbana, ou atividades como
o pesque-pague que ficam no limiar entre o rural e o urbano. Há também casos de processos
urbanos de ocupação, caso de favelas, que se instalam em áreas que legalmente são rurais. Ou
seja, judicialmente não fazem parte do perímetro urbano definido pela prefeitura municipal,
mas são sistemas de vida urbana.
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Ao longo do tempo, criaram-se termos para expressar essa transição entre o rural e o urbano,
é o caso da expressão “subúrbio”, que etimologicamente vem de sub-urbe, onde urbe é a
cidade. Então, o subúrbio é a transição entre a cidade, dotada de infraestrutura urbana e com
um modo de vida igualmente urbano, para aquele rural.
Nos EUA, por exemplo, os subúrbios se referem aos lugares de moradia mais afastados da
cidade, da urbe, mas que não são rurais. Logo, subúrbio não é sinônimo de popular, como ficou
mais conhecido no Brasil.
No caso do Brasil, devido ao fato de os chamados “trens de subúrbios”, em cidades como o
Rio de Janeiro, situarem-se em bairros populares, fixou-se o sentido equivocado de que subúrbio
seria uma região popular, quando na verdade tratam-se de bairros suburbanos porque, em um
primeiro momento, eram espaços em transição.
Finalizando, evidencia-se nesta Unidade que ao longo da história humana a existência das
cidades passou por inúmeras transformações e por diferentes contextos espaciais. Atualmente,
definir o que é urbano e rural é ainda mais complexo, pois os espaços estão cada vez mais
integrados, o que dificulta a apreensão e compreensão de forma dicotômica, ou seja, de modo
separado.
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Unidade: A cidade e o urbano: um estudo de Geografia Urbana
Material Complementar
Caro(a), aluno(a),
Como material complementar, leia os seguintes textos:
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Referências
BERNARDELLI, Maria Lúcia Falconi da Hora. Contribuição ao debate sobre o urbano e o rural.
In: SPOSITO, Maria Encarnação Beltrão; WHITACKER, Artur Magon (Org.). Cidade e campo:
relações e contradições entre urbano e rural. São Paulo: Expresso Popular, 2006.
BRESCIANI, Maria Stella Martins. Londres e Paris no século XIX: o espetáculo da pobreza.
São Paulo: Brasiliense, 2004.
LEFEVBRE, Henry. O direito à cidade. Trad. Rubens Eduardo Frias. São Paulo: Centauro, 2001.
SANDRONI, Paulo. O que é mais valia? Col. Primeiros Passos, n. 65. São Paulo:
Brasiliense, 1982.
SANTOS, Milton. A natureza do espaço: Técnica e tempo. Razão e emoção. São Paulo:
Edusp, 2006.
SOUZA, Marcelo Lopes de. ABC do desenvolvimento urbano. Rio de Janeiro: Bertrand
Brasil, 2007.
SPOSITO, Maria Encarnação Beltrão; WHITACKER, Arthur Magon (Org.). Cidade e campo:
relações e contradições entre urbano e rural. São Paulo: Expressão Popular, 2006.
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Unidade: A cidade e o urbano: um estudo de Geografia Urbana
Anotações
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