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PROJETO EDUCAÇÃO PARA A PAZ E NÃO VIOLÊNCIA

Autora: Francisca Gomes

Conceito de PAZ

É geralmente definida como um estado de calma ou tranquilidade, uma ausência de perturbações


e agitação. No plano pessoal, paz designa um estado de espírito isento de ira, desconfiança e de
um modo geral todos os sentimentos negativos. Assim, ela é desejada por cada pessoa para si
própria e, eventualmente, para os outros, além de ser também um objetivo de vida. (Fonte:
INFOESCOLA)

Conceito de NÃO VIOLÊNCIA

É um termo utilizado para se referir a um conjunto de teorias que acreditam na rejeição da


violência no que se refere a conquistas sociais e políticas na sociedade. Foi idealizada por
Mahatma Gandhi, que tinha por objetivo tornar a Índia independente da Inglaterra utilizando este
princípio. A não violência foi originada pelos princípios presentes na ahimsa, ética religiosa
utilizada pelo Jainismo, e com presença marcante nas culturas budista e hinduísta. Implica na
constante rejeição de qualquer tipo de violência e prega que o homem respeite não apenas os
seres de sua espécie, mas todas as formas de vida. Desta forma, Mahatma Gandhi, utilizou-se das
teorias da ahimsa e tornou a não violência mais popular. (Fonte: INFOESCOLA)

Subvalores da PAZ

PAZ

Aceitação

Autoaceitação

Autoconfiança

Autocontrole

Autodisciplina

Autorrespeito

Bom humor

Calma

Compreensão

Concentração
Disciplina

Paciência

Reflexão

Silêncio interior

Tolerância

Tranquilidade

Etc.

Subvalores da NÃO VIOLÊNCIA

Não Violência

Aceitação de outras culturas

Aceitação de outras raças

Aceitação de outras religiões

Altruísmo

Amor universal

Cidadania

Compaixão

Cooperação

Cortesia

Fraternidade

Igualdade

Incapacidade de causar danos

Interesse pelos demais

Irmandade
Justiça social

Lealdade

Participação responsável

Perdão

Respeito aos sentimentos

Respeito pela natureza

Respeito pela opinião do outro

Respeito pela propriedade

Respeito pela vida Serviço aos demais

Solidariedade

Etc.

(Fonte: Programa Sathya Sai de Educação em Valores Humanos)

JUSTIFICATIVA

Dos quatro pilares da Educação apresentados pela UNESCO (Organização das Nações Unidas
para a Educação, Ciência e Cultura) dois deles têm relevância neste Projeto: Aprender a Viver
com os Outros e Aprender a Ser, sem prescindir, obviamente, dos outros dois – Aprender a
Conhecer e Aprender a Fazer – pois se complementam na formação integral do nosso aluno que
na atual faixa etária se desenvolve nos níveis físico, intelectual, emocional, psíquico e
espiritual. Importante ressaltar que quando supervalorizamos os dois últimos pilares citados,
formamos indivíduos principalmente para a vida profissional, quando a finalidade maior da
educação é formar os educandos para a vida.

Não se discute o fato de que a família tem a responsabilidade maior de formar moralmente seus
filhos, mas a educação em valores humanos está inserida nas atribuições da escola no que diz
respeito ao pleno desenvolvimento do educando e à preparação dele para o exercício da
cidadania, conforme nos instrui o artigo 2º das Leis das Diretrizes e Bases da Educação (LDB).

Diante desses argumentos, compreendemos que diante do caos em que vivemos, formado pela
violência que se manifesta em todos os lugares, a escola deve traçar um plano de ação que leve o
educando a analisar a situação atual do nosso planeta e a posicionar-se com atitudes contrárias às
que predominam agora, ou seja, a desenvolver uma postura não violenta diante desse estado
caótico com a intenção de alcançarmos dias em que a paz ganhe lugar em nossas mentes e
possamos finalmente aprender a conviver.

Elaboramos 24 (vinte e quatro) ações interdisciplinares que levarão nosso aluno a refletir sobre
diversas situações do nosso cotidiano que promovem a violência entre os seres humanos, contra
os animais, a natureza, o patrimônio, e a tomar atitudes que ressaltem o valor não violência como
solução. Tais situações abordadas neste projeto necessitam de posicionamento urgente, pois
dizem respeito a nossa vida dentro e fora da escola e através das disciplinas do currículo escolar
podemos encontrar meios de desenvolver ações para que solucionemos algumas dessas questões
no nosso contexto e colaborar para amenizar outras numa perspectiva global.

Somos cidadãos do mundo, nossa casa é o planeta Terra, e o indivíduo que formamos está apto a
se empenhar junto com os adultos pela paz com atitudes que os conhecimentos das disciplinas
lhe oferecem. Depois de conhecer, o momento é de fazer, como nos recomenda a UNESCO, mas
isso só é possível quando o educando se forma indivíduo com valores humanos e aprende a
conviver harmoniosamente com os demais seres do planeta.

Todos podemos agir agora, jovens e adultos, a favor da supremacia de uma cultura de não
violência dentro e fora da escola, mas sobretudo no nosso planeta, pois é com a ação de cada um
em cada parte do globo que poderemos ver a paz vigorando no presente e em futuros dias.

Nossas crianças e jovens necessitam admirar pessoas do bem e tê-las como exemplos, formando
conceitos e opiniões acerca de questões relevantes, aprendendo a enxergar o outro em suas
necessidades, resolvendo seus próprios conflitos e agindo em favor do bem e da solidariedade.
Eles estão na fase adequada para aprender valores, para que formem junto conosco a sociedade
justa que tanto ansiamos. Não convém pensar em formá-los para o futuro ou em entregarmos a
eles um mundo perfeito, mas convocá-los a essa construção no agora, como agem verdadeiros
cidadãos.

A educação é para a vida, é para além dos muros da instituição escolar. A escola não pode ser
um mundo à parte dentro da comunidade, utópico, formado apenas por livros e gravuras, mas
uma extensão da vida que existe lá fora, um laboratório de aprendizagens significativas para a
vida real. A vida dentro da escola deve ser legítima quando todos são convocados, inclusive a
família, a resolver os conflitos que existem dentro dela e que são reflexos do que acontece
adiante do portão. Portanto, diante desse embasamento, uma educação para a paz e não violência
se faz necessária e urgente quando consideramos a formação integral do educando e a condição
atual do mundo em que vivemos.

OBJETIVO GERAL

Desenvolver no educando valores relativos à paz e à não violência através de experiências


significativas para a vida de todos os seres e do planeta.

OBJETIVOS ESPECÍFICOS
Despertar no educando a consciência de que deve colaborar para o desenvolvimento de uma
cultura de paz e não violência na escola e fora dela.

Envolver todos os membros da escola em ações que promovam uma cultura de paz e não
violência no ambiente escolar.

Desenvolver no educando uma consciência ambiental para a preservação da natureza e dos seres
vivos.

Estimular o educando à prática do bem e da solidariedade em favor dos semelhantes, dos animais
e do meio ambiente.

Formar cidadãos conscientes de seus direitos e deveres em relação ao planeta e a todos os seres.

Convocar os responsáveis pelos educandos para que participem das ações que a escola
desenvolverá para uma cultura de paz e não violência e que deve se estender à comunidade.

 METODOLOGIA

A equipe de professores e grupo gestor escolherão em conjunto ações dentre as 24 (vinte e


quatro) ações apresentadas neste projeto que serão desenvolvidas de forma interdisciplinar com a
participação de toda a comunidade escolar e responsáveis pelos alunos no decorrer do ano letivo.

DURAÇÃO

Todo o ano letivo.

AVALIAÇÃO

As ações do projeto devem ser planejadas e avaliadas pelo grupo de professores e equipe gestora
antes e após serem realizadas, bem como atualizadas e aprimoradas quando necessário.

AÇÕES:

1. AULAS DE EVH (EDUCAÇÃO EM VALORES HUMANOS) SOBRE OS SUBVALORES


DA PAZ E DA NÃO VIOLÊNCIA

Sugestão:
Programa Sathya Sai de Educação em Valores Humanos (PSSEVH), cujas técnicas são:

Harmonização
Citação
Conto
Canto
Atividade em Grupo

Disciplinas:

Artes
Ensino Religioso
Formação Humana
História
Português

2. PATRONOS PACIFISTAS PARA AS SALAS DE AULA

Sugestões de abordagem e desenvolvimento do tema:


Sorteio dos pacifistas para as salas de aula, apresentação da biografia do pacifista de cada sala
através de vídeos, textos, canções, afixação da foto do patrono na sala de aula com sua biografia,
apresentação criativa do pacifista numa assembleia de abertura do projeto, exposição
dos pacifistas no ‘hall’ da escola.

Pacifistas:

Albert Einstein
Bezerra de Menezes
Chico Mendes
Chico Xavier
Dalai Lama
Desmond Tutu
Dom Hélder Câmara
Francisco de Assis
Irmã Dulce
Jesus
João Paulo II
John Lennon
Madre Teresa de Calcutá
Mahatma Gandhi
Martin Luther King
Nelson Mandela
Papa Francisco
Sathya Sai Baba
Steve Biko
Zilda Arns

Disciplinas:

Artes
Ciências
Ensino Religioso
Formação Humana
Geografia
História
Português

3. BULLYING, NÃO!

Sugestões de abordagem e desenvolvimento do tema:


Campanhas publicitárias, visualização de vídeos, pesquisas sobre consequências da prática do
Bullying, apresentações de seminários etc.

Disciplinas:

Artes
Formação Humana
História
Matemática
Português

4. BRINCAR NÃO DÓI

Sugestões de abordagem e desenvolvimento do tema:

Conceituação e conscientização sobre a ação de brincar, prática de brincadeiras tradicionais e


atuais, criação de brincadeiras, confecção de brinquedos, etc.

Disciplinas:

Artes
Educação Física
Formação Humana
Matemática
Recreação

5. RESPEITO ÀS RELIGIÕES

Sugestões de abordagem e desenvolvimento do tema:


Estudo sobre as religiões, pesquisas, entrevistas, apresentação de seminários, campanhas
publicitárias, etc.

Disciplinas:

Artes
Ensino Religioso
Formação Humana
História
Matemática
Português

6. FIM DOS VILÕES

Sugestões de abordagem e desenvolvimento do tema:


Leitura e análise crítica dos clássicos infantis, fábulas, contos infantojuvenis atuais, desenhos
animados e recriação dessas obras, apresentações teatrais, confecções de livros, HQs, etc.

Disciplinas:

Artes
Formação Humana
Português

7. MEU HERÓI, MEU ÍDOLO

Sugestões de abordagem e desenvolvimento do tema:


Visualização de clipes, filmes, análise crítica de biografias de cantores, atores e outros artistas e
profissionais; letras de músicas, canto, criação de paródias, apresentações de teatro, dança, canto,
etc.

Disciplinas:

Artes
Formação Humana
Português

8. ARTE DA PAZ

Sugestões de abordagem e desenvolvimento do tema:

Análise crítica de pinturas de pintores famosos, de arte em grafite, oficina de grafite e desenho
com temática voltada para a paz e a cidadania, criação de uma galeria de arte na escola para
visitação de alunos e comunidade, etc.

Disciplinas:

Artes
Formação Humana
Português

9. JOGOS COOPERATIVOS
Sugestões de abordagem e desenvolvimento do tema:
Realização de torneios, enfoque sobre a importância do ‘fair play’ (jogo limpo), que simboliza a
paz nos esportes; reflexão sobre as torcidas organizadas, etc.

Disciplinas:

Recreação
Educação Física

10. JORNAL DA BOA NOTÍCIA

Sugestões de abordagem e desenvolvimento do tema:

Criação de um jornal para divulgação de boas notícias internacionais, nacionais e locais,


pesquisa e coleta de boas notícias na TV, rádio e internet, produção de notícias, reflexão sobre a
qualidade e utilidade de notícias, comentários e postagem de vídeos disseminados nas redes
sociais, divulgação do jornal na comunidade, etc.

Disciplinas:

Todas

11. GINCANAS DE SOLIDARIEDADE PARA ABRIGOS DE IDOSOS E DE ANIMAIS

Sugestões de abordagem e desenvolvimento do tema:


Gincana para arrecadação de alimentos, ração, medicamentos, vestuário e itens de higiene,
apresentações teatrais e musicais, palestras de membros de ONGs, etc.

Disciplinas:

Todas

12. PLANETA TERRA: CASA DE TODOS

Sugestões de abordagem e desenvolvimento do tema:


Desenvolvimento de conscientização ambiental a partir de vídeos, debates, palestras, entrevistas,
criação de hortas e jardins, trabalhos com reciclagem, aprendizagem sobre cuidados com animais
domésticos, estudo sobre a extinção de animais, desmatamento, combate ao desperdício,
realização de campanhas publicitárias sobre o respeito à vida humana, dos animais e das plantas,
etc.

Disciplinas:

Artes
Ciências
Ensino Religioso
Formação Humana
Geografia
História
Português

13. MEDIAÇÃO DE CONFLITOS NA ESCOLA

Sugestões de abordagem e desenvolvimento do tema:

Palestras sobre o tema, realização da tarefa pela equipe gestora, professores e responsáveis pelos
alunos.

14. UM MILHÃO DE AMIGOS

Sugestões de abordagem e desenvolvimento do tema:

Compreensão do significado legítimo da Amizade, reflexão sobre a amizade nas redes sociais,
interação entre as turmas para apresentação de trabalhos, brincadeiras, trocas de gentilezas,
recadinhos carinhosos, etc.

Disciplinas:

Artes
Educação Física
Formação Humana
Português
Recreação
Mais Educação

15. CAMPANHAS SOCIAIS

Sugestões de abordagem e desenvolvimento do tema:

Criação de campanhas sociais com panfletagens e divulgação no bairro a favor dos direitos dos
idosos, da criança, da mulher, dos animais, contra o aborto, etc.

Disciplinas:

Artes
Formação Humana
Português
História

16. CIDADÃ / CIDADÃO

Sugestões de abordagem e desenvolvimento do tema:


Estudo de leis básicas, compreensão sobre política, direitos e deveres do cidadão, etc.

Disciplinas:

Formação Humana
Português
História

17. EU ME AMO

Sugestões de abordagem e desenvolvimento do tema:


Aulas para despertar a autoaceitação, o autoamor, o autorrespeito, o autocuidado (EVH), etc.

Disciplina:

Formação Humana

18. VIVA A DIVERSIDADE!

Sugestões de abordagem e desenvolvimento do tema:


Reflexão sobre a necessidade de aceitação e valorização das diferenças humanas através de rodas
de conversas, visualização de vídeos, análises de textos, canções, desenvolvimento de
campanhas publicitárias, etc.

Disciplinas:

Artes
Formação Humana
Português
História

19. ELO FAMÍLIA-ESCOLA

Sugestões de abordagem e desenvolvimento do tema:


Convite à família para participar das campanhas, gincanas, palestras e seminários promovidos
pelos alunos e educadores.

20. MINHA ESCOLA

Sugestões de abordagem e desenvolvimento do tema:


Valorização do espaço e da comunidade escolar, conservação do patrimônio escolar através da
participação na limpeza, decoração, campanhas, etc.

21. PALESTRAS SOBRE CULTURA DE PAZ E OUTROS CORRELATOS AO TEMA


Sugestões de abordagem e desenvolvimento do tema:
Convite aos membros do grupo de Cultura de Paz da UFC e outros profissionais para ministrem,
bimestralmente, palestras para toda a comunidade escolar e responsáveis pelos alunos.

22. DIVULGAÇÃO DE NOTÍCIAS SOBRE O DESENVOLVIMENTO DO PROJETO NA


PÁGINA DA ESCOLA NA INTERNET, COM APOIO DOS ALUNOS

Sugestões de abordagem e desenvolvimento do tema:


As ações do projeto servirão de notícias a serem produzidas pelos alunos e serão divulgadas
na página da escola no Facebook para serem curtidas e comentadas por todos.

23. SLOGAN E LOGOTIPO PARA A PAZ E A NÃO VIOLÊNCIA

Sugestões de abordagem e desenvolvimento do tema:


Criação de slogans e logotipos para a paz e a não violência por todas as turmas e exposição no
‘hall’ da escola.

Disciplinas:

Artes
Português

24. EVH PARA TODOS

Sugestões de abordagem e desenvolvimento do tema:


Aulas de EVH (Educação em Valores Humanos) com os subvalores da Paz e Não Violência para
professores, grupo gestor, funcionários e responsáveis pelos alunos.

Disciplina:

Formação Humana

Profª Francisca Gomes

O que é paz?

O vocábulo paz possui conotações diversas na língua portuguesa, entre elas, a "de um
estado de um país que não está em guerra, união, concórdia nas famílias ou tranquilidade
da alma."1 Existem na literatura tantas definições de paz quanto às disciplinas que a
estudam (Columa, 2001). Independentemente do seu significado referencial, paz é a
condição de vida que almejamos em todas as dimensões da existência humana, incluindo a
política, social, psicológica e pessoal.

Paz tem uma conotação positiva e negativa, sendo que a primeira pressupõe certos padrões
de justiça, harmonia com a natureza, cidadania e participação em formas democráticas de
governo. Na Paz negativa existe a priori algum tipo de conflito a ser combatido. Daí a
dicotomia Paz Positiva, que constrói a paz como parte do currículo escolar regular, e Paz
Negativa, cujo objetivo é a contenção e prevenção de diferentes manifestações da violência.

A ausência de guerras ou a não-violência, por sua vez, não necessariamente pressupõe a


existência da Paz. Esta envolve mais que a não-violência. A paz significa seres humanos
trabalhando juntos para resolver conflitos; ela respeita padrões de justiça, satisfaz
necessidades básicas do homem e honra os direitos humanos (Morrison & Harris, 2003).

Em contrapartida, o mundo de hoje, longe de propiciar a paz que tanto idealizamos, está
cada vez mais conturbado e violento. E a mídia e as fontes de entretenimento em geral
agravam essa situação reportando incessantemente notícias que vão desde a destruição do
planeta à destruição de vidas por guerras, pela violência urbana e as mais diversas formas
de opressão.

Hannah Arendt, filósofa e prolífera escritora sobre direitos humanos e o fenômeno da


violência, constatou que "muito da presente glorificação da violência é causada pela severa
frustração da faculdade da ação no mundo moderno" (1994, 60). Pode-se claramente
deduzir do pensamento de Arendt sobre a importância do agir e reagir perante tal fenômeno
que certamente se aplica amplamente ao tema em questão.

A cultura da violência

No campo da educação, há muito que discorrer sobre o tema. Refletindo o mundo lá fora, a
escola atual enfrenta conflitos e enormes desafios. A cultura da violência, normalmente
associada à exclusão social, altos índices de desemprego e falta de oportunidades de
ascensão, enfraquece os alicerces da escola e desnorteia seu rumo.

Isto tem gerado uma crise de identidade da escola pública, para empregar a frase de
Nascimento, pois ela tem sido incapaz de promover, a longo prazo, uma melhor qualidade
de vida para os alunos, tradicional missão da escola. Como consequência, "pais e
educadores/as têm manifestado uma grande preocupação com as frequentes expressões da
violência no interior das escolas, tais como: a interferência e a presença do narcotráfico no
cotidiano escolar, a depredação dos prédios e materiais escolares, as brigas e agressões
entre alunos/as e entre estes/as e os adultos que trabalham nas escolas e a violência
familiar, que apesar de estar localizada, quase sempre, fora dos muros escolares, interfere
significativamente no trabalho que aí se realiza" (2000, 48 ).

Uma elaboração sobre as causas da deteriorização do ensino público estaria fora do escopo
desta seção nem caberia atribuí-la exclusivamente à violência escolar. Talvez esta seja a
causa, não consequência. No entanto, pode-se concluir com um grau de certeza que a
violência é um reflexo da crise de valores (morais, éticos, humanísticos) em que a violência
se insere e que o Brasil e o mundo em geral atravessam.

Educar para a paz


No entanto, o contexto sócio-político em que se dá a Educação Para Paz (EPP) é fator
determinante para a realização de metas e objetivos (Solomom & Nevo, 2002). Cada país
implementa programas e trata do assunto de acordo com sua própria visão cultural.
Consequentemente, o ensino da EPP difere quanto à ideologia, ênfase, conteúdo, práticas e
objetivos.

Na Austrália, por exemplo, a EPP enfrenta o desafio do etnocentrismo enquanto tenta, ao


mesmo tempo, promover o desarmamento nuclear e a diversidade cultural. No Japão,
enfatiza-se o tipo de responsabilidade pelos atos de violência cometidos no passado e o
militarismo assim como o desarmamento nuclear. Nos Estados Unidos, interessa-se mais
pelo combate ao preconceito racial, à violência e questões sobre o meio-ambiente. Em
países em desenvolvimento, a maior preocupação é com o que se denomina "violência
estrutural", ou seja, a desigualdade sócio-econômica e injustiça social.

Além disso, a EPP pode abordar a violência de três formas distintas (Morrison & Harris,
2003): Manter a Paz, Fazer a Paz e Construir a Paz. Para Manter a Paz, educadores utilizam
atividades de prevenção da violência a fim de criar nas escolas um clima organizado de
aprendizagem que se assemelha a políticas governamentais que investem recursos
astronômicos em defesa e prisões para garantir segurança a seus cidadãos. Para Fazer a
Paz, a resolução de conflitos se tornou uma das reformas escolares mais empregadas nas
últimas décadas; os alunos aprendem técnicas de resolução de disputa na tentativa de
resolverem construtivamente seus próprios conflitos. Para Construir a Paz, observa-se ainda
uma escassez de métodos, por esta ser menos divulgada que as outras. Nesta abordagem,
a paz é construída, ou seja, é cultivada desde a infância escolar por meio de um incentivo
de atitudes positivas e implementação de valores promovendo um mundo mais justo e
igual. Este é o programa encontrado nas denominadas 'regiões de relativa tranquilidade'.

A EPP não deve ser rígida nem padronizada, concluiu Reardon (1997) após analisar mais de
uma centena de currículos nesta área. Segundo a pesquisadora, a EPP atua,
respectivamente, nos domínios da cognição, do comportamento e da atitude nas oito
seguintes áreas: cooperação, resolução de conflito, não-violência, direitos humanos, justiça
social, recursos mundiais, meioambiente global, e compreensão multicultural.

Os programas em EPP, no entanto, não estão isentos de problemas. A prática ainda se vê


defasada em relação à teoria; há escassez de avaliação dos programas (somente 30% dos
programas mundiais em EPP são avaliados); e a aplicação de um currículo em EPP nem
sempre se transfere para outros locais (Solomom & Nevo, 2002).

A partir destas conclusões e das idéias acima introduzidas, em seguida o tema será
explorado do ponto de vista da aplicação destas idéias na realidade educacional no Brasil
como em qualquer país onde a Educação para a Paz, em ambos os sentidos de Construir e
Fazer a Paz, se faça urgente e vital.

Sugestões práticas

Primeiramente, a Educação para a Paz deve ser embasada em uma compreensão


significativa de conceitos fundamentais tais como os fatores que causam a violência, o real
significado da não-violência e os métodos pedagógicos disponíveis para alcançá-la ou
mantê-la.

Quanto aos métodos de EPP, há uma vastidão de propostas de metodologias e currículos


que traduzem os anseios de educadores e especialistas nesta área. Normalmente avocam o
uso de conhecidas técnicas como a cooperação, a colaboração, o diálogo, a criatividade, e o
altruísmo. Algumas metodologias são mais gerais e abrangentes enquanto outras, mais
específicas e localizadas. Embora não sejam propriamente revolucionárias em termos de
concepção, elas podem tornar-se instrumentos úteis e eficazes.

As recomendações serão listadas a seguir, constituindo uma pequena amostra das mais
relevantes idéias extraídas de diversos autores. Independente do objetivo para que possa
ser utilizado, o conteúdo das recomendações oferece mais uma forma de reflexão sobre
esse tema. Elas tendem a ser específicas ou abrangentes, aplicando-se, respectivamente,
ao âmbito escolar e educadores ou à sociedade e ao governo. As dez recomendações que se
seguem, porém se aplicam somente ao âmbito escolar, ainda de que forma bastante ampla.

Finalmente é importante ressaltar, conforme anteriormente mencionado, a importância da


avaliação dos programas de EPP e de sua implementação direcionada às necessidades locais
de cada região ou de cada país, tendo em mente que trabalhar para a construção
permanente da paz é sempre o ideal de todos nós.

Recomendações finais

1. Promover uma educação que envolva valores humanos e sociais, resolução de conflitos
através do diálogo e a construção da justiça (Nascimento, 2000).

2. Desenvolver uma cultura dos direitos humanos através do reconhecimento da dignidade


de cada pessoa (Candau,2005).

3. Redefinir o papel da educação, onde predomine a forma da "violência estrutural"


(Nascimento, 2000).

4. Dar voz aos estudantes e desenvolver formas participativas de construção de normas


(Nascimento, 2000).

5. Lutar pela manutenção da paz ressaltando a valorização da ética, da criatividade, das


experiências e da reflexão constante sobre nossas ações (Beauclair, 2007).

6. Identificar recursos e material de apoio a serem utilizados num curso, currículo ou


programa em EPP, quer seja ele informal ou formal (Morrison & Harris, 2003).

7. Refletir sobre o impacto de nossas ações sobre o meio físico e psicológico da escola e do
ambiente à nossa volta (Beauclair, 2007).

8. Estimular a aquisição de competências, as quais os alunos poderão utilizar para


desenvolverem estratégias não-violentas para toda a vida (Columa, 2001).

9. Focar na formação de um ser social com o potencial de falar e se comunicar, como


principal estratégia para a resolução de conflitos (Nascimento, 2000).

10. Criar sentido para a construção de um novo tempo num mundo em complexa
interdependência (Beauclair, 2007).

 
Referências

Arendt, H. (1994). Sobre a violência. Rio de Janeiro: Relume - Dumará.

Beauclair, J. (2007). No tempo do possível: notas sobre educação para a paz. Em Revista
Iberoamericana de Educación,42(2), 1-6. Organización de Estados Iberoamericanos para la
Educación, la Ciencia y la Cultura (OEI),.

Columa, E. (2001). Educação para a paz. Revista Educação e Ensino-USF, 6(2), 37-41.

Johnson, M. L. (1998). Trends in peace education. ERIC Database.

Morrison, M., & Harris, L. (2003). Peace education. (2ª ed.). Jefferson, Carolina do Norte:
McFarland & Company.

Nascimento, M. (2000). Por uma educação pela paz e pela não violência. Revista
Novamerica, (48).

Reardon, B. A. (1997). Human rights as education for peace. Em G. Andreopoulos & R. P.


Claude (Eds.), Human Rights Education for the Twenty-First Century (21-34). Filadelfia:
University of Pennsylvania Press.

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