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AS DIREITAS NAS
REDES E NAS RUAS:
a crise política no Brasil
1ª edição
Expressão Popular
Introdução .....................................................................................................7
Camila Rocha e Esther Solano
Sobre as organizadoras..................................................................................297
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Camila Rocha e E st h e r Sol a no (O rg.)
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Introdução
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Camila Rocha e E st h e r Sol a no (O rg.)
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Introdução
Boa leitura!
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Ciclos de protestos
e crise política
A trajetória discursiva das
manifestações de rua no Brasil
(2013-2015)1
Céli R egina Jardim Pinto
1
Artigo publicado originalmente na revista Lua Nova n.100, em 2017.
A t r a j e t ór i a di s c u r si va da s m a n i f e s taç õ e s d e rua no Br a si l (2 013 -2 015)
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Paulo (65 mil), Brasília (5 mil), Rio de Janeiro (100 mil), Belo Horizonte
(30 mil), Fortaleza (50 mil), Vitória (20 mil), Curitiba (10 mil), entre outras,
além de municípios de vários Estados da Federação. Outros protestos foram
realizados posteriormente, incluindo uma grande mobilização nacional no
dia 20, onde 1,25 milhão de pessoas, de acordo com matéria do Portal G1,
participaram de protestos em várias cidades.” (<http://observatoriodaim-
prensa.com.br/jornal-de-debates/_ed755_um_ensaio_sobre_o_mes_de_ ju-
nho_de_2013>; acesso em: 20 out. 2015).
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O site de notícias G1 deu os seguintes números sobre as manifestações
convocadas para dia o 15 de maio de 2014: “Nesta quinta-feira (15) houve
protestos contra a Copa do Mundo em 12 cidades do Brasil. Em Porto Ale-
gre, Salvador, Maceió, João Pessoa, Fortaleza, Palmas, Sorocaba e Bauru,
as manifestações reuniram, cada uma, entre 50 e 300 pessoas, segundo as
autoridades. Em Brasília, Belo Horizonte e Rio, o número variou entre 600
e 1 milhão e 300 mil pessoas. Em São Paulo, houve vários protestos nesta
quinta-feira, o maior deles com cinco mil pessoas, segundo a PM.” (<http://
g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2014/05/doze-cidades-do-brasil-tem-
-protestos-contra-copa-do-mundo.html>; acesso em: 20 out. 2015).
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“Cerca de 2 milhões de pessoas foram às ruas para protestar contra o gover-
no federal e contra a corrupção neste domingo (15) em todos os Estados do
país, além do Distrito Federal, segundo cálculos da Polícia Militar de cada
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Estado.” (<http://noticias.uol.com.br/politica/ultimas-noticias/2015/03/15/
protestos-contra-governo-e-corrupcao-reunem-mais-de-2-milhoes-pelo-
-brasil-dizem-pms.htm>; acesso em: 20 out. 2015).
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O conceito de antagonismo é central no trabalho de Laclau. Contrapon-
do-se ao conceito de dialética, ele explica: “Antagonism is a relation be-
tween inimical forcers, so that negativity becomes an internal component
of such a relationship. Each force negates the identity of the other” [An-
tagonismo é a relação entre forças nocivas, de modo que a negatividade se
torna um componente interno de tal relação. Cada força nega a identidade
da outra] (Laclau, 2014, p. 43).
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O Bloco de Lutas pelo Transporte Urbano foi constituído em 2013, reunia
um conjunto diferenciado de movimentos e grupos que atuavam na cidade
[de Porto Alegre], nele havia uma forte tendência anarquista e partidos de
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Em 2013, o Brasil tinha uma taxa de desemprego de 5,4% e o desempre-
go entre os jovens era de 13,7% (fonte: <www.ibge.br>). Já a Espanha
tinha uma taxa de desemprego de 26,03%, destes 53,7% eram de jovens
(<http://www.jornaldenegocios.pt/economia/europa/detalhe/espanha_fe-
chou_2013_com_desemprego_nos_26.html>; acesso em: 10 jan. 2016).
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A presença da mídia como um ator ativo nas manifestações nesses dois anos
ainda necessita ser analisada. Foge do alcance deste artigo fazê-lo, mesmo
assim não se pode deixar de pontuar a atuação da Rede Globo de televisão,
tanto em sua versão de TV aberta como no seu canal pago de notícias, em
campanha declarada a favor das manifestações, principalmente em 2013
e 2015. No primeiro ano, a emissora construiu um discurso que dividia
os manifestantes entre vândalos, aqueles que eram violentos e portavam
palavras de ordem contra os jornalistas da emissora, e os “cidadãos de
bem”, que tinham o direito de se manifestar. Quanto mais as manifestações
adquiriam uma postura antigoverno federal, mais a Rede Globo cobria os
eventos, chegando a mudar sua grade de programação e o horário de sua
mais importante atração, a chamada “novela das 9”. Também em 2015, a
posição da rede foi francamente a favor dos protestos, fazendo cobertura
completa das manifestações pró-impeachment da presidenta da República.
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<http://tarifazero.org/mpl/>; acesso em: 10 ago. 2013.
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Os Black Blocs
Com a retirada do MPL, houve notório vazio discursivo.
A esquerda partidária, representada pelo PSOL e PSTU,
não se manifestou; a radicalização ficou por conta dos Black
Blocs, que se apresentavam não como um grupo ou movi-
mento, mas como uma tática de manifestação para atacar os
símbolos do capitalismo. Vestidos de preto, com os rostos
cobertos para não serem identificados pela polícia, os Black
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A maioria fragmentada
A maioria das centenas de milhares de pessoas que foram
às ruas em junho de 2013 não pertencia a nenhum grupo
organizado, eram indivíduos indignados com a corrupção,
com os políticos, e identificavam no governo a culpa pelo
que chamavam de caos na saúde, na educação e na segurança.
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O ato médico referia-se a uma lei, aprovada posteriormente, que definia as
prerrogativas dos médicos, que provocou muita discussão entre os profissio-
nais não médicos da área da saúde. Nas manifestações, os cartazes estavam
nas mãos de pessoas que defendiam as prerrogativas dos médicos.
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Projeto que estava na Câmara de Deputados, nunca aprovado, que sus-
pendia a decisão do Conselho Federal de Psicologia de proibir qualquer
tratamento para curar a homossexualidade.
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<http://g1.globo.com/brasil/fotos/2013>; acesso em: 10 jan. 2015.
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Ficou conhecida como mensalão a investigação sobre suposto pagamento
em dinheiro, o que era feito pelo PT aos deputados dos partidos aliados no
Congresso Nacional para aprovar seus projetos de governo.
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<http://datafolha.folha.uol.com.br>; acesso em: 20 jan. 2016.
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<www.comitepopularesp.wordpress.com>, acesso em: 14 dez. 2014.
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O presidencialismo de coalizão – no caso do sistema político partidário
brasileiro – torna o partido vitorioso refém de acordos e alianças com os
demais partidos para ter condições de governar, o que diminui muito as
possibilidades de levar adiante políticas exclusivas do partido e os anseios
de sua militância. No caso do PT, isso se tornou ainda mais difícil, pois
mesmo os partidos de centro tenderam a lhe fazer oposição ou cobraram
altos preços pelo apoio.
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Para uma análise detalhada da primeira campanha eleitoral de Dilma Rous-
seff em 2010, ver Pinto (2012).
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Não cabe no escopo deste artigo analisar a forma como a presidenta Dilma
Rousseff foi qualificada por seus opositores, mesmo assim é importante
pontuar que sua desqualificação esteve sempre a todo momento associada
à sua condição de mulher, expressando um forte machismo arraigado na
sociedade brasileira.
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Sobre as políticas sociais dos governos Lula e do primeiro mandato de
Dilma Rousseff, ver Kerstenetzky (2009). Scalon mostra as alterações
ocorridas no período: “Entre 2002 e 2009, a participação da ‘Classe C’ – que
vem sendo chamada de nova classe média –, no recorte estudado, passou
de 45,4% para 54,2%. A ‘Classe A & B’ correspondia a 13% do recorte, em
2002, passando para 17%, em 2009. A ‘Classe D’, que, em 2002, respondia
por 15,5% do recorte, em 2009 cai para 12,2%. Por fim, a ‘Classe E’ apre-
sentou uma substantiva diminuição, indo de 26,1%, em 2002, para 16,5%,
em 2009. Desse modo, percebemos uma melhora na distribuição de renda,
com os grupos de menor renda diminuindo sua participação e os grupos
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<http://www1.folha.uol.com.br>; acesso em: 10 jan. 2016.
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Ver nota de rodapé n. 2.
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Desde 1954, a seleção brasileira tem como uniforme a camiseta amarela
apelidada de canarinho. A histórica identificação entre a seleção e o povo
brasileiro tornou o uniforme sinônimo da expressão de patriotismo.
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Informações sobre esse grupo encontram-se na página do Facebook: SOS
forças Armadas – comunidade (acesso em: 10 jan. 2016).
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Facebook, Revoltados On-line; acesso em: 10 jan. 2016.
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À guisa de conclusão
É difícil afirmar que as pessoas que estiveram nas ma-
nifestações de 2013 ao redor do país voltaram às ruas em
2015 para pedir o impeachment da presidenta Dilma. Cer-
tamente, não foram os grupos radicalizados de esquerda,
os eleitores históricos do PT que estiveram nas ruas para
pressionar o governo, que voltaram dois anos depois. Mas
havia uma massa de pessoas em 2013 que não pertencia
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www.observatoriodaimprensa.com.br
www.tse.gov.br
www.uol.com.br
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Corrupção, legitimidade
democrática e protestos: o boom da
direita na política nacional?1
Helcimara Telles
Introdução
A corrupção política tem sido objeto de inúmeros debates
no país, especialmente a partir do mensalão, cujo julgamento
dos envolvidos coincidiu com o período das eleições para
prefeitos de 2012. O tópico adquiriu ainda maior visibili-
dade a partir das manifestações de junho de 2013, ocasião
em que multidões saíram às ruas para protestar, com um
cardápio diversificado de demandas. A questão central do
movimento, iniciado em São Paulo, foi a melhoria dos
serviços públicos. Contudo, na cobertura realizada pelos
meios de comunicação, os principais pretextos geradores
da convocação para a manifestação – a mobilidade urbana
e as tarifas dos transportes públicos – foram se tornando
invisíveis e, gradualmente, substituídos por outras pautas.
A corrupção foi enquadrada pelas mídias como a referência
1
Artigo publicado originalmente na revista Interesse Nacional, ano 8, n. 30
em 2017.
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A metodologia e os resultados aqui citados podem ser verificados na página
do Grupo Opinião Pública: <https://drive.google.com/file/d/0B1_d2uNS-
-ZSvLURXdTdISTNLY3M/view?pli=1>.
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A partir desta pesquisa, o Grupo Opinião Pública e o Centro de Conver-
gências em Novas Mídias, ambos da Universidade de Minas Gerais, produ-
ziram um vídeo destacando os principais achados da pesquisa. O filme pode
ser acessado em: <https://www.youtube.com/watch?v=H80gq1pZBNs>.
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Instituto Datafolha, janeiro de 2015. Disponível em: <http://datafolha.
folha.uol.com.br/opiniaopublica/2015/02/1587329-aprovacao-a-governo-
-dilma-rousseff-cai-e-reprovacao-a-petista-dispara.shtml>. Acesso em: 1
de jun. 2015.
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A literatura procura saber em que medida a percepção da corrupção pode se
expandir na sociedade a partir do volume de casos expostos nos meios de
comunicação. Em seguida, se a ampliação da percepção pode fazer variar –
aumentar ou reduzir –, a tolerância à corrupção. Finalmente, se a percepção e
intolerância à corrupção têm implicações sobre a legitimidade da democracia.
Mas, existem hipóteses alternativas sobre o papel da mídia em relação a sua
capacidade de fomentar o antipartidarismo e reduzir a adesão à democracia.
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Pesquisa Eleições Presidenciais 2010 – Ipespe e Grupo Opinião Pública
(UFMG).
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<http://observatorio.inweb.org.br/>.
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Pesquisa Ibope em 2 de outubro de 2012. Área em que a população está
enfrentando os maiores problemas: saúde (73%), segurança pública (53%),
educação (48%), corrupção (9%). A partir de survey realizado na capital mi-
neira, a análise das chances de riscos revela que o voto no candidato Patrus
Ananias (PT) foi consideravelmente favorecido pelo acesso à internet como
meio de informações para eleições e o acesso às mídias on-line garantia sete
vezes mais chances de voto para Patrus que outros veículos (Telles et al.,
2013).
9
Pesquisa Eleições Municipais 2012. Ipespe e Grupo Opinião Pública
(UFMG).
10
A análise utilizou dados do Estudo Brasileiro de Mídia, realizado pela
Secretaria de Comunicação da Presidência (Secom). Tal pesquisa, com
18.300 entrevistados, apresentou o mais abrangente levantamento sobre
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-americanos. In: TELLES, H.; LAVAREDA, A. (orgs.) Voto e estratégia
de comunicação política na América Latina. Curitiba: Appris, 2015, p.
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PROGRAMA DAS NAÇÕES UNIDAS PARA O DESENVOLVI-
MENTO – PNUD. A democracia na América Latina, Estados Unidos.
2004.
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H e l c i m a r a Te l l e s
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2016: o ano da polarização?1
Esther Solano
Pablo Ortellado
M árcio Moretto Ribeiro
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E st h e r S ol a no, Pa b l o O rt e l l a d o e Márcio Moretto Ribeiro
3
Resultados completos de todas as pesquisas, incluindo as atuais: <http://
gpopai.usp.br/pesquisa/>.
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Caracterização socioeconômica
Os dois grupos estudados apresentaram um perfil seme-
lhante entre si e distinto dos grupos anti-impeachment e anti-
-Dilma. A idade média tanto da marcha da maconha quanto
dos secundaristas é de pouco mais de 20 anos, com 84,7% e
89,9% dos manifestantes abaixo dos 30 anos; 36,4 e 33,6% são
negros e pardos; e 41,3% e 46% têm renda familiar de até três
salários-mínimos. Como parâmetro de comparação, o perfil
do manifestante do ato anti-impeachment de 31 de março é de
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Principais observações
Os protestos estudados são formados por uma
geração mais nova que não se define na identidade
política polarizada impeachment-golpe cujo centro
organizador é a figura do PT. Esses jovens têm des-
confiança generalizada tanto nos partidos quanto na
imprensa, a maioria votou em partidos de esquerda na
eleição para presidente (divididos entre o PT e PSOL)
e se colocam contrários ao impeachment. Os secunda-
ristas se mobilizaram bastante contra o impedimento:
45,8% dos secundaristas participaram de algum ato
anti-impeachment e 27,8% dos presentes na marcha
da maconha. Apesar da rejeição ao impeachment e à
mobilização, sobretudo por estudantes, esses grupos
parecem não se encaixar na lógica da polarização
nem aderem totalmente à narrativa PT corrupto
versus PT vítima. Quase 90% de ambos presentes nos
protestos concorda total ou parcialmente com a ideia
de que o PT é corrupto, mas por outro lado mais de
90% afirmam que as políticas do PT melhoraram a
vida dos brasileiros. Existe um reconhecimento da
importância do petismo para o país, mas também
se adere à ideia de que o PT se transformou num
partido corrupto.
Finalmente, mais de 60% concordaram total-
mente com a afirmação de que os movimentos
sociais deveriam ser autônomos de partidos políti-
cos, prezando a autonomia dos movimentos frente
à lógica partidária.
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Construção do grafo
Um grafo é uma estrutura matemática formada por nós
e arestas que ligam os nós. Estes podem possuir atributos
e as arestas podem ser ou não direcionadas, e também
podem possuir atributos como seu peso. Os nós no grafo
que construímos representam páginas no Facebook, seu
principal atributo é o número de usuários que curtiu
alguma das postagens da amostra. No diagrama isso é
representado pelo tamanho dos nós. O peso de uma aresta
ligando duas páginas representa o número de usuários que
curtiram postagens de ambas páginas ao mesmo tempo
dividido pela união desses conjuntos. Matematicamente,
se representarmos por A e B os conjuntos de usuários que
curtiram alguma postagem da primeira e da segunda pági-
na, respectivamente, o peso da aresta pode ser representado
pela seguinte fórmula (A∩B)/(A∪B).
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Principais observações
O tipo de análise estrutural das páginas do Facebook
usado parece adequado para a identificação de comu-
nidade de usuários que se informam pelas mesmas
páginas. A disputa em torno do papel histórico do PT
organizou o campo de disputa do discurso político no
Facebook polarizando os usuários entre antipetistas e
antiantipetistas. Essa dinâmica birrelacional pode ser
analisada de maneira mais fina indicando a forma como
cada polo se organiza internamente. Essa análise mais
fina indica a complexidade dos grupos que ficaram
subordinados à disputa em torno do PT. De um lado,
as páginas que puxaram os atos pelo impeachment orga-
nizam o campo, grupos liberais, grupos conservadores
e políticos tradicionais que eram oposição disputam
essas três comunidades. Do outro lado, as páginas
associadas ao PT organizam o campo impondo seu
discurso sobre grupos identitários, novos movimentos
sociais e ambientalistas, ou seja, mesmo os grupos que
se identificam como sendo à esquerda do PT e que
não compartilham um discurso petista se agrupam na
polarização contra os grupos antipetistas. Nas páginas
políticas do Facebook, o PT é um grande organizador
do debate e o centro da polarização.
– O Facebook é uma importante ferramenta de infor-
mação política.
– As páginas políticas do Facebook estão altamente
polarizadas.
– O PT é o centro desta polarização virtual, é o orga-
nizador do debate político na rede social.
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Tabela 5 – Conservadoras
Concorda Não concorda Não sabe
Precisamos punir os criminosos 73,8% 19% 7,2%
com mais tempo de cadeia
O cidadão de bem deve ter o direito 29,7% 64% 6,3%
de portar arma
Se não precisasse trabalhar, toda 38,3% 59,3% 2,5%
mulher devia ficar em casa cuidando
da família
Tabela 6 – Liberais
Concorda Não concorda Não sabe
O governo deveria diminuir o nú- 50,6% 41,3% 8,1%
mero de funcionários públicos
Num momento de crise o governo 9,1% 88,8% 2,1%
precisa cortar gastos em saúde e
educação
As empresas estatais como os Cor- 30,2% 53,1% 16,7%
reios e o Banco do Brasil deveriam
ser privatizadas
As empresas privadas são mais efi- 53,4% 29,5% 17,1%
cientes que as empresas públicas
Tabela 7 – Evangélicas
Concorda Não concorda Não sabe
Fazer aborto é pecado 64% 29,8% 6,2%
Só pode ser considerada família a 39,8% 56,9% 3,3%
união de um homem e uma mulher
Tabela 8 – Sociais
Concorda Não concorda Não sabe
Quem começou a trabalhar cedo, 83,8% 11,3% 4,8%
deve poder se aposentar cedo, sem
limite de idade
O bolsa-família é necessário para 54,1% 36,8% 9,2%
reduzir a desigualdade
Todo mundo deveria trabalhar com 83,1% 13,5% 3,4%
carteira assinada
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Tabela 11 – Antigolpe
Concorda Não concorda Não sabe
O PT é vítima de uma perseguição 26,4% 55,5% 18,1%
da imprensa e do juiz Sérgio Moro
O impeachment da presidente Dilma 41,1% 44,2% 14,7%
foi um golpe
Tabela 12 – Pró-impeachment
Concorda Não concorda Não sabe
O PT se apropriou do governo para 45,3% 34,9% 19,8%
roubar
Todos os partidos são corruptos, 36,4% 48,1% 15,5%
mas o PT é pior
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Principais observações
Há poucos consensos entre os paulistanos, entre
eles a defesa de direitos sociais, e a negação do dis-
curso liberal econômico e do punitivismo. Os temas
do impeachment/golpe dividem a população que majo-
ritariamente nega o discurso da vitimização petista.
As pessoas que assumem a identidade política de
direita e conservadora não concordam de maneira
muito marcada com as afirmações de nenhum dos
campos políticos que identificamos nas redes sociais
(liberal, conservador, social, evangélico, identitário e
novos direitos). Seu traço mais marcante é apenas o
antipetismo que aparece como organizador político
entre esse grupo social. Já as pessoas que assumem a
identidade política de esquerda e não conservadora
têm uma opinião mais ou menos coerente, concor-
dando com as afirmações extraídas do debate no cam-
po social, identitário e de novos direitos e rejeitando
aquelas dos campos liberal, evangélico e conservador.
Entre os mais pobres, as pautas evangélicas têm uma
grande penetração, principalmente questões relativas
à família cristã e o papel da mulher.
– O paulistano, mesmo aquele que se define como de
direita ou conservador, não concorda com as medidas
liberais na economia que o governo Temer defende,
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4
Monitor do debate político no meio digital: <https://www.facebook.com/
monitordodebatepolitico/?fref=ts>.
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5
Dados da manifestação de 12 de abril de 2015: <http://gpopai.usp.br/pes-
quisa/120415/>.
6
Segundo o Datafolha, 82% dos entrevistados presentes na manifestação de
16 de agosto de 2015 se declararam eleitores de Aécio Neves (PSDB).
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Direitas nas redes e nas ruas
“Imposto é roubo!” A formação
de um contrapúblico ultraliberal
e os protestos pró-impeachment
de Dilma Rousseff
Camila Rocha
Introdução
“Imposto é roubo!”. “Menos Marx mais Mises”. “Não
existe almoço grátis”. “Esquerda caviar”. Esses e outros motes
e palavras de ordem passaram a se tornar mais conhecidos nos
últimos anos por conta de um novo fenômeno que teve início
em fóruns e comunidades virtuais há mais de dez anos: a for-
mação de um contrapúblico ultraliberal.1 Ainda que a defesa
do Estado mínimo e do direito de propriedade normalmente
seja associada a grupos de interesse e a partidos políticos que
dispensam militantes de base, à medida que o Partido dos Tra-
balhadores prolongava sua permanência no governo federal, e
a internet se popularizava rapidamente entre as classes média e
alta, jovens universitários, economistas e profissionais liberais
passaram a se reunir em fóruns e comunidades virtuais para
traduzir e compartilhar textos, discutir longamente conceitos e
1
A definição do termo “ultraliberal” será realizada de modo mais detalhado
na primeira seção deste artigo.
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3
Aqui as ideias, pessoas e organizações relacionadas a essa rede internacional
de militância serão adjetivadas como pró-mercado de forma mais genérica,
ou como liberais/neoliberais e ultraliberais/libertarianos quando for preciso
destacar suas diferenças internas.
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A referência a “públicos” ou “públicos dominantes” no plural sinaliza o
entendimento de que em vez de pensar em uma esfera pública unificada
seria mais adequado falar de uma multiplicidade de esferas públicas – mais
ou menos locais, mais ou menos integradas, mais ou menos oficiais e
institucionalizadas, e mais ou menos digitalizadas. Inclusive, é importante
ressaltar que a digitalização não deve ser entendida como sendo um pro-
cesso uniforme e unidirecional que está transformando uma esfera pública
anteriormente não digital, mas sim como um processo complexo e multi-
facetado que transforma e gera uma variedade de públicos diferentes que
estão interconectados e se cruzam de maneiras que complicam a divisão
digital versus não digital (Celikates, 2015).
5
O termo subalterno, oriundo do projeto “Estudos Subalternos” desenvol-
vido por intelectuais indianos/as influenciados/as pelos escritos de Antonio
Gramsci, passou posteriormente a significar a pertença a um grupo que pos-
sui um status subordinado na estrutura social, o que implica em sua exclusão
junto à comunidade política e na falta de acesso a direitos institucionalizados
(Thomas, 2018). Nancy Fraser em seu artigo escrito em 1990, por exemplo,
se remete a mulheres, trabalhadores/as, gays, lésbicas e pessoas não brancas,
mas atualmente outros grupos poderiam ser incluídos nesse rol.
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A oitava, no Rio Grande do Sul, permaneceu em atividade, porém mudou
seu nome para Instituto Liberdade.
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Entre 2015 e 2018, foram realizadas, por mim, mais de 20 entrevistas em
profundidade com militantes e lideranças diretamente ligados à dinâmica
política ensejada a partir da formação do contrapúblico ultraliberal, porém
figuram no Anexo 1 apenas os/as entrevistados/as que são efetivamente
mencionados/as neste artigo.
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Estas e outras informações mais detalhadas a respeito do acesso à internet no
Brasil neste período foram publicadas pelo Comitê Gestor da internet no Brasil
e podem ser consultadas em: <http://www.cetic.br/media/docs/publicacoes/10/
pal2007ofid-11.pdf>.
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Fundado em 1982 por Llewellyn H. Rockwell Jr., com o apoio de Margit
von Mises, Murray N. Rothbard, Henry Hazlitt e Ron Paul, o Mises Ins-
titute defende uma ordem baseada na propriedade privada e na economia
capitalista de livre-mercado que rejeita a tributação, a degradação monetária
e o monopólio estatal coercivo dos serviços de proteção. Para mais infor-
mações, ver <https://mises.org/about-mises/what-is-the-mises-Institute>.
142
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15
Passados alguns anos da fundação do IMB, os irmãos Chiocca deixaram
de fazer parte do Instituto principalmente por motivos ideológicos e estra-
tégicos e decidiram fundar sua própria organização em 2015, o Instituto
Rothbard.
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Nesse sentido é importante lembrar que existiam discordâncias entre as
pessoas que circulavam no contrapúblico ultraliberal, pois havia quem se
autodefinisse como libertários/as de esquerda, conhecidos/as como left-libs,
e pessoas que já eram e/ou se tornaram posteriormente conservadoras em
termos de costumes, algumas das quais passaram a defender a adoção da
monarquia no Brasil.
17
Fundado em 1971 por David Nolan no Estado do Colorado, EUA, o
Libertarian Party defende uma versão radical de liberalismo econômico, o
libertarianismo.
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18
Disponível em <http://politica.estadao.com.br/noticias/geral,partido-
-nascido-no-orkut-prega-o-ultraliberalismo,405536>, (acessado em: 16
de maio de 2018).
19
Para mais informações sobre as organizações pró-mercado brasileiras que
foram fundadas nas décadas de 1980 e 1990, cf. Gross, 2002; Casimiro,
2011; Rocha, 2017.
146
Camila Rocha
20
Desde 1992 a Fundação Friedrich Naumann, organização alemã fundada
em 1958 para divulgar o liberalismo econômico, mantém um escritório
em São Paulo a partir do qual atua em conjunto com os principais think
tanks liberais brasileiros, como o Instituto Liberal, o Instituto de Estudos
Empresariais e o Instituto Millenium, promovendo e financiando atividades
para a difusão do ideário pró-mercado na sociedade civil. Ver em <http://
brasil.fnst.org/>.
21
As organizações Foundation For Economic Freedom, Atlas Network e
Cato Institute, ao lado de outras instituições similares, integram a rede
estadunidense ligada à militância libertariana internacional descrita por
Bryan Doherty. Atualmente o Cato atua em conjunto com a Atlas Network,
fundada em 1981 nos Estados Unidos com o objetivo de articular mais
de quatrocentos think tanks pró-mercado espalhados pelo mundo (Rocha,
2015), e figura como o oitavo think tank mais importante dos Estados Uni-
dos de acordo com o índice Global To Go Think Tanks 2014 desenvolvido
pela Universidade da Pensilvânia. A atuação dessas e outras organizações
é descrita de forma bastante detalhada no livro Radicals for Capitalism: a
freewheeling history of the modern American libertarian movement, publicado por
Doherty em 2007.
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22
O Partido Novo, cuja principal liderança é João Amoêdo, ex-executivo
do mercado financeiro, foi fundado em fevereiro de 2011 e obteve seu
registro oficial em novembro de 2015. O partido defende uma plataforma
liberalizante baseada em uma maior autonomia e liberdade do indivíduo e
na redução das áreas de atuação do Estado. Para maiores informações, ver
<https://novo.org.br/partido/quem-somos/>.
23
Em 1996, Thomas Korontai, liderança do Movimento Federalista de
Curitiba, passou a envidar esforços para fundar o Partido Federalista, o
qual foi registrado em um cartório de títulos em 1999, mas ainda não foi
oficializado junto ao Tribunal Superior Eleitoral. O Partido Federalista tem
como objetivo principal “a redução das ingerências do Poder Central sobre
a vida das pessoas e sobre as estruturas autonômicas estaduais e municipais,
independentemente do regime ou do sistema de governo”. Para maiores
informações, ver <http://www.federalista.org.br/index.php>.
148
Camila Rocha
24
A atuação dos libertarianos, David e Charles G. Koch, bilionários do ramo
de petróleo, junto às principais organizações pró-mercado dos Estados Uni-
dos e ao Partido Republicano é pública e notória. (Doherty, 2007; Moraes,
2015; Skocpol; Hertel-Fernandez, 2016). Charles Koch financiou e ajudou
a estruturar diversos think tanks pró-mercado em seu país principalmente
durante os anos 1970 e 1980, entre os quais o Cato Institute, criado em 1977
em conjunto com o ativista libertariano Ed Crane e que foi integrado por
Murray Rothbard, conhecido intelectual libertariano, e Sam Husbands Jr.,
empresário que participou do governo Reagan. Atualmente, o Cato atua
em conjunto com a Atlas Network, fundada em 1981 nos Estados Unidos
com o objetivo de articular mais de quatrocentos think tanks pró-mercado
espalhados pelo mundo (Rocha, 2015), e figura como o oitavo think tank
mais importante dos Estados Unidos de acordo com o índice Global To
Go Think Tanks 2014 desenvolvido pela Universidade da Pensilvânia. Para
maiores informações sobre a atuação dos irmãos Koch, cf. Doherty (2007).
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25
O mineiro Salim Mattar, proprietário do Grupo Localiza, e a família Ling,
proprietária da Holding Évora, são tidos pela militância ultraliberal como os
principais financiadores de suas atividades. Tanto Mattar quanto a família
Ling vem apoiando do ponto de vista financeiro e organizacional a difusão
do neoliberalismo no país desde a década de 1980; para mais informações,
cf. Gross (2003), Casimiro (2011) e Rocha (2017).
150
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26
Informações contidas no site <http://www.epl.org.br/sobre/> (acessado em:
2 de fevereiro de 2018).
27
Aqui compreende-se que a distinção principal entre esquerda e direita
se dá em relação ao modo como é concebida a relação entre igualdade e
desigualdade. Para quem é de esquerda a igualdade seria a regra e a desi-
gualdade uma exceção que necessitaria de justificação e vice-versa (Bobbio,
2011), o que não implica que a direita seja contrária a qualquer forma de
igualdade, uma vez que, com base em uma longa tradição liberal em favor
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28
O lulismo é um fenômeno político que consistia em um reformismo fraco
baseado na arbitragem do conflito social e político realizado pelo então
presidente Lula e que combinava medidas que ao mesmo tempo benefi-
ciariam os mais pobres, por meio de políticas de transferência de renda, e o
grande capital, por meio da manutenção de políticas econômicas ortodoxas
(Singer, 2012), modus operandi que teria sido herdado, em alguma medida,
por Dilma Rousseff.
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“Eu e o Renan (Santos) ficávamos brigando, diante de alguns projetos, o
Renan muito mais atirado do que eu, sempre muito mais atirado, mais
agressivo. Pra ele não bastava só eu estar com o megafone, ele queria que
eu colocasse o dedo na cara. Coisa que às vezes não eram necessárias, não
é meu perfil. Em alguns momentos eu fui obrigado a adotar (um tom mais
agressivo), porque a situação me colocou nessa condição. Tinha dez pessoas
na minha frente, eu sozinho, o Renan e o Pedro. Se eu não tomasse uma
postura de liderança, e fosse pra cima, nós três iríamos apanhar. Então eu
tive que quebrar os meus paradigmas pessoais, as vezes, pra me defender e
para defender eles.” (Paulo Batista, São Paulo)
31
Ver em <http://www1.folha.uol.com.br/poder/2014/11/1542090-vice-presi-
dente-do-psdb-diz-que-partido-nao-incentiva-atos-contra-dilma.shtml>.
32
“Obviamente, a repercussão do ato foi extremamente nociva. Criou-se uma
ideia de que os eleitores do Aécio não sabiam perder. Os apoiadores do PT
nadaram de braçada diante dessa postura dos manifestantes. Nós assistía-
mos incrédulos a tudo isso. O que esses movimentos estão fazendo?, nos
perguntávamos. O pior foi que a imprensa colocou todos os movimentos,
participantes ou não, no mesmo balaio. Como se nós, que havíamos feito
um movimento bonito e pacífico antes da votação do segundo turno, tivés-
semos agora feito tudo aquilo. [...] Resolvemos fazer algo para deixar claro
que não concordávamos com a postura daqueles manifestantes.” Trecho
retirado do livro Vem pra Rua, de Rogério Chequer e Collin Butterfield
publicado pela Editora Matrix em 2016 (p. 78).
33
A popularidade dos livros e das produções audiovisuais de Olavo de
Carvalho entre os/as militantes liberais e conservadores/as brasileiros/as
foi afirmada espontaneamente em muitas entrevistas que realizei (Anexo
I). Quando atuava como jornalista no Brasil, Olavo de Carvalho trocava
cartas com os membros do Instituto Liberal do Rio de Janeiro e circulava
163
“Imposto é roubo!” A f o r m aç ão d e u m c o n t r a p ú b l i c o u lt r a l i b e r a l
e os protestos pró-impe achment de Dilm a Rousseff
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Camila Rocha
Considerações finais
A popularização da internet vem provocando nos últimos
anos um aumento expressivo no surgimento de contrapú-
blicos à esquerda e à direita (Downey; Fenton, 2003). Esse
aumento aponta ao mesmo tempo para uma democratiza-
ção da esfera pública, na medida em que permite que mais
pessoas possam participar e influenciar o debate público,
mas também pode ter efeitos deletérios na medida em
que aumenta a fragmentação dos públicos (Sustein, 2017),
facilita a formação do chamado “efeito bolha”, processo de
retroalimentação de certas ideias pelos usuários da internet
por filtros de busca e algoritmos (Pariser, 2011), e, eventual
mente, pode conduzir a processos de radicalização política
(Downey; Fenton, 2003).
No que tange à formação de contrapúblicos digitais
localizados à direita no espectro político a literatura especia-
lizada chamou a atenção para os mais variados casos, entre
os quais é possível destacar: os formados por pessoas contra
a imigração ilegal (Gring-Pemble, 2012); por céticos em re-
lação à mudança climática (Kaiser; Puschmann, 2017); por
evangélicos conservadores contrários à universalidade dos
direitos humanos (McIvor, 2018); e por apoiadores e apoia-
doras da candidatura de Donald Trump para a presidência
dos Estados Unidos (Thimsen, 2018). O surgimento de tais
contrapúblicos vem sendo influente na ascensão de lideran-
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e os protestos pró-impe achment de Dilm a Rousseff
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Camila Rocha
Referências
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tisan Ambivalence in the New Brazilian Protests. Bulletin of Latin
American Research, 2016, Vol. 36, Issue 2, (p. 144-159).
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Dilma a Temer. São Paulo: Novos Estudos CEBRAP Especial, 2017,
p. 49-58.
BOAS, Taylor; GANS-MORSE, Jordan. “Neoliberalism: from new
liberal philosophy to anti-liberal slogan”. Studies in Comparative
International Development 44.2 (2009): 137-161.
BOBBIO, Norberto. Direita e esquerda. Razões e significados de uma dis
tinção política. São Paulo: Editora UNESP, 2011.
BRINGEL, Breno; PLEYERS, Geoffrey. “Junho de 2013... dois anos
depois. Polarização, impactos e reconfiguração do ativismo no
Brasil”. Nueva Sociedad, Outubro de 2015.
CASIMIRO, Flávio Henrique. A dimensão simbólica do neoliberalis-
mo no Brasil: O Instituto Liberal e a cidadania como liberdade de
consumo. Cadernos de Pesquisa do CDHIS, 2011, 23(1).
CHALOUB, Jorge; PERLATTO, Fernando. “Intelectuais da ‘nova
direita’ brasileira: ideias, retórica e prática política”. 2015, 39º
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Democracia.
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Economic Counter-Revolution 1931-1983. Londres, Harpercollins
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CELIKATES, Robin. “Digital Publics, Digital Contestation: A New
Structural Transformation of the Public Sphere?” In CELIKATES,
Robin, KREIDE, Regina; WESCHE, Tilo. Transformations of De
mocracy: crisis, protest and legitimation. Londres: London Rowman &
Littlefield International, 2015.
CRUZ, Sebastião C. Velasco. Trajetórias: capitalismo neoliberal e reformas
econômicas nos países da periferia. São Paulo, Editora UNESP, 2007.
DARDOT, Pierre; LAVAL, Christian. A nova razão do mundo. Ensaio
sobre a sociedade neoliberal. São Paulo, Boitempo, 2016.
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e os protestos pró-impe achment de Dilm a Rousseff
ANEXO I – Entrevistas
Arthur Chagas Diniz foi vice-presidente do Instituto Liberal por
mais de vinte anos. É formado em Engenharia Civil e Eletrônica
pela Escola Nacional de Engenharia, tendo trabalhado na Compa-
nhia Siderúrgica Nacional (CSN) entre 1960 e 1964, no Ministério
do Planejamento (1965-1967) e no Jornal do Brasil (1987-1988). En-
trevista realizada no dia 11 de dezembro de 2015 no Rio de Janeiro
em conjunto com o jornalista Lucas Berlanza.
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Camila Rocha
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e os protestos pró-impe achment de Dilm a Rousseff
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A direita que saiu do armário: a
cosmovisão dos formadores de
opinião dos manifestantes de
direita brasileiros1
Débora Messenberg
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Débora Messenberg
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A dir eita que sa iu do a r m á r io: a cosmov isão dos for m a dor es
de opini ão dos m a nifesta ntes de dir eita br a sileiros
Procedimentos metodológicos
Para realização do trabalho adotou-se uma estratégia me-
todológica pautada em pesquisa multimétodos, a qual incluiu,
em um primeiro momento, a identificação dos principais
movimentos sociais que deram suporte logístico e ideológico
às manifestações, suas lideranças e outros formadores de opi-
nião centrais que as promoveram e as incentivaram em seus
respectivos campos de atuação: as redes sociais, o midiático e
o parlamentar. A pesquisa selecionou e analisou, em função
178
Débora Messenberg
Movimentos sociais:
Movimento Brasil Livre (MBL), Vem pra rua e Re-
voltados On-line
Líderes desses movimentos:
Kim Kataguiri, Fernando Holiday, Rogério Chequer,
Marcello Reis e Beatriz Kicis
Jornalistas:
Olavo de Carvalho, Reinaldo Azevedo, Rachel Shehe-
razade, Felipe Moura Brasil e Rodrigo Constantino
Deputados federais:
Jair Bolsonaro e Marco Feliciano
3
Para maiores informações sobre o software Netvizz, acesse: <https://wiki.
digitalmethods.net/Dmi/ToolNetvizz>.
179
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de opini ão dos m a nifesta ntes de dir eita br a sileiros
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Débora Messenberg
5
A noção de enquadramento é aqui tomada no sentido goffmaniano (Goff-
man, 2012), ou seja, como “estruturas cognitivas, que organizam o pen-
samento, são compostas de crenças, atitudes, valores e preferências, bem
como de regras a respeito de como ligar diferentes ideias. São esquemas
que ‘dirigem atenção para a informação relevante, guiam sua interpre-
tação e avaliação, fornecem inferências quando a informação é falha ou
ambígua, e facilitam sua retenção’ (Fiske; Kinder, citados por Entman,
1989; apud Aldé, 2004, p. 47).
183
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184
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9
Disponível em: <http://ultimosegundo.ig.com.br/politica/2015-03-12/
roqueiro-e-ativista-na-web-lider-anti-dilma-defende-privatizar-saude-e-
-educacao.html>.
185
A dir eita que sa iu do a r m á r io: a cosmov isão dos for m a dor es
de opini ão dos m a nifesta ntes de dir eita br a sileiros
10
Disponível em: <https://youtu.be/QpmfMK6D_m4>.
11
Disponível em: <http://istoe.com.br/409231_O.S+MOVIMENTOS+D
E+RUA+VIERAM+PARA+FICAR+/>.
186
Débora Messenberg
12
Disponível em: <https://youtu.be/oZAn4KthDJ4>.
187
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188
Débora Messenberg
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15
Disponível em: <http://www.cartacapital.com.br/blogs/midiatico/sob-
pressao-sbt-barra-comentarios-rachel-sheherazade-4060.html>.
190
Débora Messenberg
16
Disponível em: <http://www.institutomillenium.org.br/institucional/
quem-somos/>.
191
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17
Disponível em:<http://www.bolsonaro.com.br/>.
18
Disponível em: <http://familiabolsonaro.blogspot.com.br>.
192
Débora Messenberg
Os campos semânticos e as
ideias-força em discussão
A atual cosmovisão da direita no Brasil, compreendida
como um universo multidimensional, o qual abarca dife-
rentes tonalidades ideológicas e emissões discursivas, exige
esforço e cuidado redobrados do pesquisador para a sua
decifração. Isso porque não se trata de um universo mental
com contornos claros, nem fronteiras e limites bem defi-
nidos. Ao contrário, como nos esclarece Pierucci (1987), as
diferentes posições e alinhamentos da direita
19
Disponível em: <https://youtu.be/UCA8Z1qDqbM>.
193
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Quadro 1
Campos semânticos
Antipetismo Conservadorismo Princípios
moral neoliberais
Ideias-força Ideias-força Ideias-força
Impeachment (Fora Família tradicional Estado mínimo
PT, Fora Dilma, Fora
Lula)
Corrupção Resgate da fé cristã Eficiência do mercado
(privatização)
Crise econômica Patriotismo Livre iniciativa (empre-
endedorismo)
Bolivarianismo Anticomunismo Meritocracia
Combate à criminalidade/ Corte de políticas
aumento da violência sociais
Oposição às cotas raciais
Fonte: elaborado pela autora.
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O Foro de São Paulo (FSP) é uma organização criada em 1990, a partir de
um seminário internacional promovido pelo Partido dos Trabalhadores
(PT), no qual estiveram presentes partidos e organizações da América
Latina e Caribe, para discutir alternativas às políticas neoliberais domi-
nantes no continente e promover a integração latino-americana no âmbito
econômico, político e cultural. A primeira reunião do Foro foi realizada
em São Paulo e, desde então, tem acontecido a cada um ou dois anos, em
diferentes cidades da América Latina. Atualmente, mais de 100 partidos
e organizações políticas participam dos encontros. As posições políticas
variam dentro de um largo espectro, que inclui partidos social-democratas,
extrema-esquerda, organizações comunitárias, sindicais e sociais ligadas à
esquerda católica, grupos étnicos e ambientalistas, organizações nacionalis-
tas e partidos comunistas (Disponível em: < http://forodesaopaulo.org>).
23
Disponível em: <https://youtu.be/wnzhrr1RIT4>
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Disponível em: <https://youtu.be/U,CA8Z1qDqbM>.
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25
Disponível em: <https://w w w.youtube.com/watch?v=nlJ _St4tt7A
&feature=share>.
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26
Disponível em: <https://w w w.youtube.com/watch?v=nlJ _St4tt7A
&feature=share>
27
Disponível em: <https://youtu.be/OWvaF56u2jU>.
28
Disponível em: <http://webcache.googleusercontent.com/search?>.
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29
Disponível em: <http://apublica.org/2015/06/a-nova-roupa-da-direita/.
WApss1Jly3A.email>.
208
Débora Messenberg
Considerações finais
A apreensão da cosmovisão (Weltanschauung) dos princi-
pais formadores de opinião que deram suporte ideológico e
coordenaram a ação dos manifestantes de direita no Brasil,
em 2015, coloca-se como um desafio intelectual de indiscutí-
vel relevância e atualidade. O desvelamento e a compreensão
dos conteúdos centrais que envolvem as emissões discursivas
desses agentes sociais revelam-se não só importantes para o
reconhecimento do caráter ativo e reflexivo desses sujeitos
como produtores de sentido mas, principalmente, para a
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de opini ão dos m a nifesta ntes de dir eita br a sileiros
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Débora Messenberg
Referências
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de comunicação de massa. Rio de Janeiro: FGV, 2004.
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Letras, 1989.
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BARTHES, Roland. Mitologias. Rio de Janeiro: Bertrand-Brasil, 1989.
BOBBIO, Norberto. Direita e esquerda: razões e significados de uma dis-
tinção política. São Paulo: Unesp, 1994.
BOLTANSKI, Luc. El Amor y la Justicia como competências: tres ensayos de
sociologia de la acción. Buenos Aires: Amorrortu, 2000.
211
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de opini ão dos m a nifesta ntes de dir eita br a sileiros
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Débora Messenberg
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O impeachment nas redes
e na grande mídia
O sentimento político em redes
sociais: big data, algoritmos e
as emoções nos tuítes sobre o
impeachment de Dilma Rousseff1
Fábio M alini
Patrick Ciarelli
Jean Medeiros
1
Artigo publicado originalmente na Liinc em Revista, vol.13, n. 2, 2017.
O sentim ento político em r edes soci a is: big data , a lgor itmos
e as emoções nos tuítes sobr e o impe achment de Dilm a Rousseff
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Fá b io M a l i n i , Pat r ic k Ci a r e l l i e Jean Medeiros
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Conclusão
Nosso objetivo foi demonstrar um trabalho que se
remete à testagem de uma metodologia que possa analisar
como, em momentos políticos distintos, o ânimo social se
revela distinto, em função das polaridades dos sentimentos
inscritos em mensagens no Twitter. E como diferentes téc-
nicas algorítmicas de análise de sentimento apontam para a
modulação das emoções da atenção on-line, implicando no
desenvolvimento de estratégias de comunicação e marketing
para dar ênfase a determinados comportamentos sociais,
com o objetivo de possibilitar que decisões possam ser to-
madas, ações realizadas e opiniões consumadas.
Um caminho futuro contempla enriquecer o dicionário
do Emolex, de forma a torná-lo mais abrangente e mais vol-
tado a textos escritos em português brasileiro, pois embora o
dicionário tenha sido traduzido do inglês para o português,
sabe-se que diferentes povos podem expressar de forma
diferente os sentimentos por meio de textos, e isso pode re-
duzir a assertividade do dicionário para a língua portuguesa.
O comportamento político contaminado pelo sentimento
de raiva e medo confirmou nossa hipótese de que o êxito
das manifestações ligadas ao impeachment de Dilma estava
relacionado à eficácia de trolagens e ofensas compartilhadas
em torno do alvo dos protestos (no caso, a própria presiden-
ta). A política transformada em ação de haters/lovers será a
tônica dos movimentos seguintes, focados mais em destruir
a reputação de políticos do que em enaltecer suas conquistas.
A trolagem ofensiva como mecanismo de pressão política
se conjugará com as demonstrações de certezas, já que a
percepção preditiva (sentimento de antecipação) se consoli-
dou como principal emoção dessa época. Isso implica dizer
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Fá b io M a l i n i , Pat r ic k Ci a r e l l i e Jean Medeiros
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Referências
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ARAUJO, Matheus; GONÇALVES, Pollyana; BENEVENUTTO,
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<http://dx.doi.org/10.2139/ssrn.2272608>.
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California Law Review, v. 104, 2016. Disponível em: <http://ssrn.
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BAYM, Nancy K. Data not seen: the uses and shortcomings of social
media metrics. First Monday, Sep. 2013. ISSN 13960466. Dis-
ponível em: <http://firstmonday.org/ojs/index.php/fm/article/
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BOELLSTORFF, Tom. Making big data, in theory. First Monday,
Sep. 2013. Disponível em: <http://firstmonday.org/ojs/index.
php/fm/article/view/4869>. Acesso em: 1 maio 2015. doi:10.5210/
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BOLLEN, Johan; PEPE, Alberto; HUINA, Mao. Modeling public
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Disponível em: <https://arxiv.org/abs/0911.1583>.
242
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Manifestações e votos
ao impeachment de Dilma
Rousseff na primeira página
de jornais brasileiros1
Camila Becker
Camila Cesar
Débora Gallas Steigleder
M aria Helena Weber
Introdução
O Brasil vivencia uma das mais complexas crises políti-
cas, demarcada pelo processo de impeachment da presidenta
Dilma Rousseff, do Partido dos Trabalhadores (PT), reeleita
em 2014 com mandato até 2018 e destituída,2 em 31/8/16,
pelo Senado Federal. Essa crise tem sido sustentada por ten-
táculos que insinuam uma nova ordem política, econômica e
jurídica que atinge a sociedade. A imprensa registra a disputa
de autoridade e legitimidade entre os poderes estatais, ma-
nifestações de rua, a luta contra a corrupção3 e os conceitos
e procedimentos políticos e jurídicos sobre o impeachment.
1
Artigo publicado originalmente na revista Latinoamericana de Ciencias de La
Comunicación, vol. 13 n. 24, 2016.
2
O impeachment a retirou da função, mas não lhe retirou o direito de elegi-
bilidade.
3
Principalmente por meio da Operação Lava Jato articulada pela Polícia
Federal, na qual o juiz Sérgio Moro é o principal e polêmico ator. Desvela
a rede de corrupção que associa empresas, políticos, governo e a Petrobras.
M a nifestações e votos ao impe achment de Dilm a Rousseff
na pr i m eir a página de jor na is br a sil eiros
248
C a m i l a B e c k e r , C a m i l a C e s a r , D é b o r a G a l l a s St e i g l e d e r e M a r i a H el ena Weber
Democracia e impeachment
O processo de impeachment da presidenta Dilma Rousseff
permite refletir a intervenção midiática na (des)construção
de reputações e verdades, assim como identificar o poder do
jornalismo sobre a opinião pública e o poder de mobilização
da sociedade. Diferente do presidente também cassado Fer-
nando Collor de Mello,4 que não possuía bases partidárias
e sociais, mas apoio das elites empresariais, a presidenta
Dilma pertence ao PT, que governou o país a partir de 2003,
estruturado sobre sólida base e organizações sociais, tendo
implementado políticas públicas decisivas à inclusão social e
à cidadania. Essa situação mantém ativa a mobilização social
e a disputa sobre o projeto político-econômico adotado.
O processo de impeachment teve início nas acirradas
eleições de 2014 entre PT e PSDB5 que disputaram pro-
jetos políticos, índices de desenvolvimento e acusações de
corrupção. Após a vitória de Dilma (51,64% dos votos), o
candidato derrotado Aécio Neves (48,36%) liderou diferentes
4
Primeiro presidente eleito por voto direto após 21 anos de regime militar,
renunciou pouco antes de ser cassado. Foi absolvido pelo STF e está cum-
prindo o segundo mandato como senador. Votou a favor do impeachment.
5
PSDB e PT vêm disputando as eleições à presidência da República há 22
anos, sendo que, desde 2002, o PT tem sido vitorioso elegendo Luiz Inácio
Lula da Silva e Dilma Rousseff.
249
M a nifestações e votos ao impe achment de Dilm a Rousseff
na pr i m eir a página de jor na is br a sil eiros
6
O então presidente da Câmara Federal, Eduardo Cunha (PMDB), que
acolheu a denúncia, foi cassado em seu cargo e mandato no dia 12/9/2016.
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O enquadramento das
manifestações e do impeachment
O conceito de enquadramento tem por base os frames,
como “quadros da experiência social” (Goffman, 2012),
entendidos como dispositivos metodológicos para analisar
fenômenos sociais e os indivíduos envolvidos em processos
de interação. Os quadros servem como esquemas de inter-
pretação que constroem uma ideia organizadora central e
atribuem sentido aos acontecimentos, sugerindo um tema
(Traquina, 2013); são compreendidos como “marcos inter-
pretativos mais gerais construídos socialmente que permitem
às pessoas fazer sentido dos eventos e das situações sociais”
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Manchetes 1) Gilmar Mendes suspende no- 1) Janot diz que grava- 1) Ministro do STF
Secundárias meação de Lula e devolve inquérito ção de conversa é legal devolve caso de
a Moro 2) Juiz não deve buscar Lula a Moro
2) Grampo foi legal, afirma Janot “holofote”, afirma Teori 2) Equipe da PF
3) Por 26 a 2, OAB apoia impeachment 3) Câmara faz sessão será trocada se
4) Blindagem contra a prisão e inicia prazo para houver cheiro de
5) Editorial: IMPEACHMENT é impeachment vazamento
uma saída institucional da crise 4) PF acha na casa de 3) Janot chancelou
6) Um dândi na confeitaria petista laudo da Ode- a divulgação das
7) Iggy Pop em plena formaliza brecht sobre Atibaia escutas de Lula
8) Antropologia da dívida 5) Último suspeito de 4) OAB vai apoiar
ataque à Paris é preso impeachment da
Chamadas para artigos assinados na Bélgica presidente Dilma
1) O pior dos diálogos foi Lula inter- 6) TCU quer banir Rousseff
ferir na atuação da Receita Federal ministro de funções Chamadas para
2) O processo histórico em curso públicas artigos assinados
não é favorável ao PT e a Lula 7) Matarazzo deixa 5) Justiça e impren-
3) Temer se guarda pra quando o PSDB e critica gover- sa parecem colocar
carnaval chegar nador lenha na fogueira”
4) Mudar mentalidades pode ser o 8) SP tem 900 grávidas 6) Não há cortes
legado da Lava-Jato com suspeita de zika tão expostas a testes
5) Incontinência verbal de Lula como o supremo
atenta contra o bom gosto 7) Paralelo que
6) STJ já validou “grampo acidental”, ação petista faz
como o de Dilma. com Berlusconi
7) Como nos deixamos enganar é falso
dessa maneira?
8) Campeonato nacional de tiro no
pé agita o país
9) Estou me sentindo fora de moda:
nunca fui grampeada
10) Nova geração não se resigna com
vícios do passado
11) O juiz Moro e os procuradores
rasgaram a Constituição
12) Moro iniciou a maior reforma
política das últimas décadas
13) Reagir é proteger o povo de atos
de regimes de exceção
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Manchetes 1) Editorial: Não vai ter 1) Grupo de 8 deputados Chamadas para artigos
Secundárias mesmo golpe veteranos prepara, há um assinados
2 )Para tirar dúvidas sobre o ano, o impeachment
processo 2) Dilma considera que 1) Leia “Decisão da
3) O declínio da presidente seu maior erro foi demorar Câmara”, a respeito de
incidental a reagir votação que resolverá
4) Notas de um longínquo 3) Manifestações pro e sobre a abertura do
1992 contra governo acontecem processo de impeachment
5) Dois futuros para um em todo país e dos desafios que se
mesmo país 4)Um dia decisivo apresentam ao país
6) Campo de batalha 2) Se Câmara respeitar a
7) Nomeação “extra” no Constituição, não haverá
Diário Oficial impeachment
3) Presidente Dilma foi
omissa ou conivente, o
Chamadas para artigos que seria ainda pior
assinados 4) 7 pecados da presi-
8) Tudo indica que começa dente
transição que deveria ter 5) 23 colunistas da Folha
ocorrido em 2014 expõem os desafios do
9) 17 de abril é um dia país
inesquecível para Dilma, 6) Plano governista de
Lula e FHC fritar o PMD está no cen-
10) O ex-senador Gim tro da atual crise
Argello já negocia delação 7) Brasil é historicamente
premiada inapto para viver sob
11) A soma das tempestades regime democrático
que atingiram Dilma 8) Seguindo-se todos os
12) O dia seguinte projeta ritos formais, falar em
enigma sobre o país golpe será inaceitável
13) Quem vier a assumir já 9) Sem junho de 2013,
entra devendo destino do governo teria
14) Um dia de derrota para sido diferente?
um pais dividido ao meio
15) Para sempre, a imagem
de Cunha no espelho
16) Temer seria o 3° presi-
dente do PMDB que não era
cabeça de chapa
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Considerações finais
A sucinta análise das primeiras páginas dos jornais, ape-
sar da minuciosa descrição dos enquadramentos, permite
mostrar uma cobertura que desqualifica a política, minimiza
questões de interesse público vinculadas ao impeachment, na-
turaliza o conflito e superficializa as informações. O embate
político é reducionista quanto às implicações do impeachment
e à mobilização das ruas, concentrado na personalização de
problemas políticos, em Dilma Rousseff, não oferece in-
formações que possam alimentar o debate público. Embora
as imagens possam ser compreendidas como adequadas, as
manchetes e textos sublinham o sentenciamento em torno
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Referências
BAQUERO, Marcello. Cultura política participativa e desconsolidação
democrática: reflexões sobre o Brasil contemporâneo. Perspectiva,
São Paulo, v. 15, n. 4, p. 98-104, Dec. 2001.
CORNU, Daniel. Journalisme et la vérité. In: Autres Temps. Cahiers
d’éthique sociale et politique. n. 58, 1998. p. 13-27.
ESTEVES, João Pissarra. Espaço público e democracia. Lisboa: Edições
Colibri, 2003.
______. Sociologia da comunicação. Lisboa: Fundação Calouste Gul-
benkian, 2011.
FISHKIN, James. Quando o povo fala – democracia deliberativa e con-
sulta pública. Curitiba: Atuação, 2015.
GOFFMAN, Erving. Os quadros da experiência social: uma perspectiva
de análise. Petrópolis: RJ: Vozes, 2012.
GOMES, Wilson. Jornalismo, fatos e interesses. Ensaios de teoria do jor-
nalismo. Florianópolis: Insular, 2015.
LIMA, Venício. Comunicação, poder e cidadania. In: Rastros – Revista do
Núcleo de Estudos de Comunicação, Joinville, n. 7, p. 8-16, out. 2016.
MCCOMBS, Maxwell e SHAW, Donald. The agenda-setting function
of mass media. iN/ Public Opinion Quarterly, New York, vol. 36, n.
2., p. 176-187, 1972.
MIGUEL, Luis Felipe. Eleições, opinião pública e mídia: reflexões a
partir das eleições brasileiras de 2002. In: Política & Sociedade, n. 2,
p. 41-66, abr. 2003.
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A dramaticidade na narrativa do
impeachment de Dilma Rousseff
no Jornal Nacional1
Genira Chagas Correia
Carla Montuori Fernandes
Introdução
O desenvolvimento dos meios de comunicação no decor-
rer do século XX alterou o ambiente das práticas políticas.
O espaço midiático tornou-se não apenas um meio, mas o
local onde elas passaram a ocorrer. Ao assumir o papel de
mediadora das relações entre as esferas governamentais e
civis, a mídia deu visibilidade aos acontecimentos políticos
e alterou a noção de publicidade. Nesse campo, as antigas
práticas teatrais das representações políticas, ocorridas em
espaços públicos, passaram a ocupar um lugar privilegiado
nas coberturas jornalísticas, que as narram de maneira es-
petacular, sobretudo diante de cenários intempestivos.
Rubim (2003) alerta para o fato de que, em ambientes de
intensa repercussão, as redações buscam incorporar maior
1
Artigo publicado originalmente na revista Culturas Midiáticas, vol. 9 n. 2,
2016.
A dr a m atici da de na na r r ati va do i m pe ach m en t de
Dilm a Rousseff (PT) no jornal nacional
2
Operação deflagrada pelo Ministério Público e pela Polícia Federal para
investigar esquema de corrupção e lavagem de dinheiro.
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3
Eduardo Cunha teve seu mandato de deputado federal cassado em 12 de
setembro de 2016.
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Dilm a Rousseff (PT) no jornal nacional
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Dilm a Rousseff (PT) no jornal nacional
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Dilm a Rousseff (PT) no jornal nacional
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Dilm a Rousseff (PT) no jornal nacional
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Dilm a Rousseff (PT) no jornal nacional
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Dilm a Rousseff (PT) no jornal nacional
Considerações finais
A cobertura da votação do impeachment da presidente
Dilma na Câmara dos Deputados foi construída pelo Jornal
Nacional a partir do embate entre o governo e a oposição,
tendo o conflito como elemento estruturador das narrativas.
As disputas políticas travadas na Câmara dos Deputados fo-
ram representadas por metáforas comumente reconhecidas
no cotidiano, tal como aponta Motta (2007), para quem as
disputas pelo poder tornam-se metáforas para a vida.
As terminologias retiradas da cultura dos jogos – estraté-
gias, disputas, vencedores, ganhadores etc. – alimentaram o
enredo da cobertura política do telejornal. Ao tentar repro-
duzir tal embate, o noticioso acabou por mostrar o drama
da política nacional. Distante de seus objetivos, longe da
política, mas em busca do poder pelo poder.
Referências
BARDIN, Laurence. Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70, 2011.
BOURDIEU, Pierra. O campo político. Revista Brasileira de Ciência
Política, v. 1, n. 5, p. 193-216, jan./jul. 2011.
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Sobre as organizadoras
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As dir eitas nas r edes e nas ruas
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