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Urologia Hiperplasia Prostática Benigna Nayara Alcântara

Introdução está presente em várias partes do organismo,


 Hiperplasia Prostática Benigna (HPB) é definida porém, a isoforma tipo 2 é exclusiva do tecido
pela proliferação (hiperplasia) das células do prostático (logo, representa um importante alvo
epitélio e do estroma prostático, formando um terapêutico).
tecido nodular adenomatoso. Tal processo  A DHT se liga a receptores androgênicos nucleares,
geralmente promove aumento no volume da formando um complexo que atua sobre genes
glândula, justificando sinais e sintomas
específicos e inicia um processo de síntese proteica
obstrutivos/irritativos.
que modula a proliferação das células epiteliais da
 A HPB está presente em 8% de homens entre 31-
40 anos, em 50% de indivíduos entre 51-60 anos e glândula. Além de atuar diretamente no epitélio, a
em mais de 80% dos homens na nona década de DHT estimula também as células do estroma,
vida. levando-as a secretar fatores de crescimento, que,
 Nem todos os homens com histologia de HPB através de mecanismos parácrinos, estimulam
apresentam sintomas clínicos. ainda mais a proliferação glandular.
Anatomia  Na medida em que o homem envelhece é natural
 A próstata normal é um órgão de consistência que aumentem os níveis de estrogênio em seu
fibroelástica (como a ponta do nariz), com peso sangue. O estrogênio induz as células prostáticas a
aproximado de 20-30 g (1 g = 1 ml = 1 cm3). expressarem receptores de androgênio. Logo,
 Localiza-se inferiormente à bexiga, sendo homens mais velhos possuem próstatas “mais
sensíveis” aos androgênios circulantes, que assim
atravessada pela primeira porção da uretra,
têm seu estímulo trófico potencializado. Como os
limitada anteriormente pela sínfise púbica e
níveis de testosterona livre podem se manter
posteriormente pelo reto.
inalterados, boa parte dos homens passa a
 Divide-se em três regiões anátomo-histológicas apresentar crescimento prostático com o tempo.
distintas de acordo com a morfologia das glândulas Epidemiologia
encontradas: (1) zona central ou periuretral,  Do nascimento até a puberdade há poucas
composta por glândulas curtas; (2) zona de alterações nas dimensões da próstata.
transição, composta por glândulas de tamanho  A partir da puberdade- rápido aumento em suas
intermediário; e (3) zona periférica, constituída por dimensões até os 30 anos de idade.
glândulas longas, ramificadas e tortuosas.  O crescimento prostático nessa fase é ao redor de
 A HPB normalmente se desenvolve na zona de 1,6 gramas/ano, até alcançar em média 20 gramas.
transição, ao passo que os adenocarcinomas  Após essa fase, esse crescimento decresce
costumam surgir na zona periférica. marcadamente para 0,4 grama/ano até os 90 anos
de idade.
Patologia
 A HPB acomete a zona de transição situada em
torno da uretra, neste local, proliferam-se nódulos
formados por tecido glandular (adenomatosos),
contendo proporções variáveis de estroma
fibromuscular.
 A proporção de estroma/epitélio glandular que, na
próstata normal é de 2:1, pode atingir, na HPB, a
proporção de 5:1. Tal processo leva à compressão
Etiopatogenia extrínseca da uretra prostática, que pode ser
 A etiopatogenia da HPB não é totalmente mecânica e/ou funcional.
compreendida. Sabe-se, no entanto, que idade Fisiopatologia
avançada e história familiar de doença precoce são  O processo de obstrução uretral pode ser
fatores de risco bem estabelecidos. decorrente de um efeito mecânico secundário ao
 Influência endócrina: a testosterona livre penetra crescimento prostático exagerado e/ou um efeito
na célula epitelial prostática e, por ação da enzima funcional (“dinâmico”), relacionado à contração
5-alfa-redutase, é transformada em DHT das fibras musculares do estroma prostático.
(diidrotestosterona) – a forma biologicamente  Estas fibras, ricas em receptores alfa-1-
ativa do hormônio. A isoforma tipo 1 desta enzima adrenérgicos, tendem a se contrair por influência

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do sistema nervoso simpático, aumentando o grau  Os sintomas irritativos, conhecidos como de
de obstrução uretral. armazenamento, surgem por reação do detrusor à
 Este último mecanismo explica os quadros de obstrução uretral, levando à “instabilidade
prostatismo em pacientes com próstatas pouco vesical”. Tais alterações, presentes em 50-70% dos
volumosas, bem como a rápida variação dos indivíduos, nem sempre desaparecem após
sintomas observada em alguns pacientes. Além intervenção cirúrgica. Sempre que os sintomas
disso, alterações vesicais COSTUMAM ESTAR irritativos forem exuberantes, deve-se estar atento
PRESENTES nos casos de HPB, sendo responsáveis para a eventual presença de outra doença, como
por parte dos sintomas apresentados. disfunção vesical primária (ex.: bexiga
 Com o surgimento da obstrução uretral, o músculo neurogênica), infecção urinária, litíase vesical etc.
detrusor (parede da bexiga) se hipertrofia, na  As manifestações clínicas costumam ser oscilantes,
tentativa de manter um fluxo urinário normal. com períodos de melhora, que podem durar meses
Como consequência, há uma diminuição da ou anos, intercalados com fases de recrudescência.
complacência e da capacidade vesical, o que  Outro aspecto importante é que a intensidade e o
ocasiona sintomas miccionais “irritativos” como grau de desconforto dos sintomas não
urgência, polaciúria, incontinência de urgência e necessariamente são proporcionais ao volume da
redução do volume miccional. Nesta mesma fase próstata ou à diminuição do fluxo urinário.
surgem alterações neurogênicas, como ativação 2- Complicações da HPB
dos receptores de tensão presentes na mucosa  Pacientes com HPB podem evoluir com
vesical, redução do número de terminações complicações como retenção urinária aguda, litíase
colinérgicas (denervação local) e aumento de vesical, infecção urinária, falência do detrusor,
receptores alfa-adrenérgicos. Juntas, todas essas insuficiência pós-renal e hematúria:
alterações condicionam o surgimento de a) Retenção Urinária Aguda:
“instabilidade vesical” (hiperatividade espontânea  Representa a incapacidade abrupta de
do detrusor), agravando ainda mais os sintomas da esvaziamento vesical. Ocorre em 2-10% dos
síndrome de prostatismo. pacientes e não representa necessariamente o
grau máximo de obstrução uretral pelo adenoma.
É observada tanto em próstatas pequenas quanto
volumosas, sugerindo que outros mecanismos,
além do quadro obstrutivo, estão implicados no
processo.
 Diversos são os fatores que podem desencadear
retenção urinária aguda, como: (1) uso de
simpaticomiméticos ou anticolinérgicos; (2)
distensão aguda da bexiga, como nos casos de
diurese forçada; (3) prostatite infecciosa aguda; (4)
Manifestações clínicas cálculo vesical; ou (5) infarto prostático.
1- Sinais e sintomas clássicos (prostatismo)  O prognóstico desses pacientes é relativamente
 Os pacientes com HPB apresentam sintomas do desfavorável, já que 60-70% voltam a apresentar
Trato Urinário Inferior (STUI) ocasionados por retenção após 1-3 meses da retirada do cateter de
obstrução infravesical pela próstata hiperplásica. Foley.
 Embora possam ser ocasionados por outras b) Infecção Urinária e Prostatite:
condições, a etiologia mais comum de STUI em  Surge em torno de 5% dos pacientes com HPB,
homens acima de 40 anos é a HPB. exacerbando os sintomas urinários, e por vezes
 Os STUI podem ser divididos em obstrutivos e desencadeando retenção urinária.
irritativos (armazenamento).  Essas infecções resultam de colonização prostática
 Os sintomas obstrutivos podem ser de ou da presença de urina residual e podem provocar
esvaziamento ou pós-miccionais; encontram-se quadros de bacteremia, o que justifica a remoção
presentes em 70-80% dos casos e resultam do da próstata em casos de infecção persistente.
efeito mecânico ou muscular (dinâmico) da c) Litíase Vesical:
glândula sobre a luz uretral. Esta sintomatologia  Pode surgir por estase local ou impossibilidade de
costuma quase sempre desaparecer com a expulsar cálculos migrados dos rins.
remoção cirúrgica da glândula.

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 Estes pacientes apresentam bloqueios abruptos do  É composto de sete perguntas, com notas
jato urinário, interrompendo a micção, e outras individuais de 0 a 5, dependendo da intensidade de
vezes quadros de hematúria macroscópica de cada sintoma, e, de acordo com os resultados
graus variados. obtidos, os pacientes podem ser classificados em:
 Há uma grande tendência à recidiva se for o Sintomatologia leve – escore de 0 a 7;
realizada remoção exclusiva dos cálculos, sem o Sintomatologia moderada – de 8 a 19;
correção do processo obstrutivo. o Sintomatologia grave – de 20 a 35.
d) Falência do Detrusor (Descompensação
Vesical):
Resumo- sintomas do trato inferior
 Nos casos de prostatismo de longa duração, o
SINTOMAS OBSTRUTIVOS
detrusor pode sofrer um processo de hipertrofia
I – Esvaziamento
acentuada seguido pela deposição local de
Hesitância
colágeno. Por conseguinte, instala-se falência
Jato urinário fraco
vesical progressiva, com aumento do volume de
Intermitência de jato urinário
urina residual e dilatação da bexiga.
Jato urinário afilado
e) Insuficiência Renal Aguda ou Crônica:
Gotejamento terminal
 O comprometimento crônico da função renal é
II – Pós-miccional
observado em cerca de 15% dos pacientes com
Esvaziamento vesical incompleto
HPB, mas, em muitos casos, deve-se a outros
Gotejamento pós-miccional
fatores, tais como hipertensão, diabetes ou outras
SINTOMAS IRRITATIVOS (de ARMAZENAMENTO)
formas de nefropatia preexistente.
Urgência miccional
 A existência dessa complicação torna Frequência (palciúria)
OBRIGATÓRIA a realização de cirurgia, que deve Noctúria
ser executada após um período de cateterismo Incontinência de urgência (urgeincontinência)
vesical contínuo. Este cuidado promove melhora, Incontinência por transbordamento
pelo menos parcial, do quadro de insuficiência Disúria
renal e, com isso, reduz a morbimortalidade.
 Uma crise de retenção urinária aguda da HPB é Diagnóstico
uma das principais causas de IRA pós-renal,  O diagnóstico de HPB deve ser feito de acordo com
prontamente revertida com o cateter de Foley ou critérios da história clínica (queixa de STUI/LUTS),
a cistostomia. toque retal e alguns exames complementares (EAS,
f) Hematúria: urinálise, dosagem plasmática das escórias
 A hematúria macroscópica surge em alguns poucos nitrogenadas- ureia e creatinina- PSA,
pacientes com hiperplasia prostática e deve-se à urodinâmica, USG).
ruptura de vasos submucosos locais. Toque retal
 Esta manifestação tende a ceder  Avalia diversos aspectos da próstata: volume,
espontaneamente, porém, os pacientes nesta limite, sensibilidade, superfície, mobilidade e
situação devem ser explorados com cistoscopia e consistência; além da presença de nódulos, que
USG renal, já que a hematúria macroscópica pode podem significar a presença de um CA de próstata.
estar relacionada com a presença de outra afecção,  Costuma revelar uma próstata de tamanho
como neoplasias urogenitais (bexiga, rim) ou litíase aumentado (simétrico), de consistência
renal ou ureteral. fibroelástica e com o sulco interlobular preservado.
 A hematúria microscópica também deve suscitar a  O volume prostático não tem, necessariamente,
procura de outras causas, já que pode ser o único relação com a intensidade da obstrução urinária,
sinal de um carcinoma de células renais. ou seja, glândulas pequenas podem causar
obstruções, enquanto próstatas volumosas podem
Avaliação “Quantitativa” dos Sintomas ser oligossintomáticas.
 Esta avaliação, conhecida como Escore  A presença de nódulos endurecidos é sugestiva de
Internacional de Sintomas Prostáticos (IPSS), adenocarcinoma, e sempre indica a realização de
estratifica os sintomas do trato urinário inferior, uma biópsia transretal da próstata guiada por USG.
além de ser, atualmente, o padrão mais utilizado  Além de avaliar as características prostáticas, o
para determinar a eficácia do tratamento. toque retal deve avaliar também o tônus do
esfíncter anal.

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Exame de urina tipo I (EAS)  Nesta situação devemos avaliar diagnósticos
 A presença de piúria significativa deve indicar a diferenciais, como a estenose de uretra.
pesquisa de infecção do trato urinário ou  A cistoscopia é também obrigatória na presença de
prostatite, por exame bacteriológico (coloração de hematúria macroscópica, como parte da
Gram + cultura). investigação para câncer de bexiga.
 A presença de hematúria deve estimular a 3. Estudo Urodinâmico
solicitação de USG de vias urinárias, para afastar  Mensurações do fluxo urinário, do volume vesical
um CA urogenital. residual e das “relações pressão-volume” na bexiga
 Ureia e creatinina para avaliar a presença de uma são recomendáveis quando existe a suspeita de um
importante complicação da HPB, a nefropatia distúrbio neurológico associado, bem como
obstrutiva, bem como a presença de outras quando o paciente persiste com sintomas após o
nefropatias (hipertensiva, diabética etc.). tratamento intervencionista (RTU de próstata,
PSA (Antígeno Prostático Específico) cirurgia) – nestes casos, tal exame evidencia o
 O PSA é uma glicoproteína próstata-específica. componente de disfunção vesical primária
Logo, pode se elevar em qualquer patologia existente.
prostática inflamatória ou neoplásica.
 Em pacientes com > 60 anos, o valor normal é Tratamento
inferior a 4,0 ng/ml; níveis acima de 1,6 ng/ml  Pacientes assintomáticos NÃO necessitam de
estão relacionados à maior risco de progressão da tratamento, seja qual for o tamanho da próstata.
HPB. Por outro lado, para aqueles que apresentam
 Este exame acaba sendo um preditor da alguma das condições citadas abaixo existe
intensidade dos sintomas, retenção urinária aguda indicação ABSOLUTA de cirurgia.
e crescimento prostático.
 Na HPB, alguns indivíduos apresentam PSA na faixa
entre 4-10 ng/ml (a chamada “zona cinzenta”,
onde tanto a HPB quanto o CA de próstata podem
explicar tal achado).
Outros Exames
 Há exames que não são feitos de rotina na
avaliação da HPB, porém, devem ser realizados em
situações específicas como a persistência de
dúvida diagnóstica, presença de complicações
e/ou quando se considera o tratamento  Existe uma importante correlação entre o escore
intervencionista. de sintomas (IPSS) e a evolução da HPB. Por tal
1. Ultrassonografia motivo, este escore atualmente é considerado
 Avliação do trato urinário superior, da espessura imprescindível, devendo ser calculado em TODOS
da parede vesical, do volume e peso da próstata e os doentes de maneira periódica. Pacientes com
do resíduo pós- -miccional. Embora seja um exame sintomas leves (IPSS entre 0 e 7) podem apresentar
realizado de rotina, a USG se encontra indicada na remissão espontânea das queixas clínicas ao longo
presença de elevação da creatinina, na suspeita de do tempo.
litíase vesical e em casos de hematúria.  A observação e o acompanhamento anual estão
 Vale lembrar que o peso prostático é mais bem indicados em pacientes com sintomas leves e sem
estimado pela USG transretal, exame que está complicações (IPSS entre 0 e 7).
indicado nos pacientes que irão se submeter à  O tratamento farmacológico está indicado nos
cirurgia. É com base neste dado que o urologista pacientes com sintomatologia moderada (IPSS
decidirá entre o tratamento endoscópico entre 8 e 19).
(ressecção transuretral da próstata) e a  Os pacientes com sintomatologia grave (IPSS entre
prostatectomia a céu aberto. 20 e 35) devem inicialmente ser abordados com
2. Cistoscopia terapia medicamentosa, porém muitos indivíduos
 Indicada quando a próstata não se encontra muito dentro desse grupo acabarão se submetendo a
aumentada, porém, o paciente apresenta sintomas tratamento cirúrgico – uma não resposta ao
obstrutivos importantes. tratamento farmacológico é uma indicação clássica
de cirurgia. Para definirmos um doente como não

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responsivo às medicações é necessário um período  Tamsulosin (0,4-0,8 mg 1x/dia), alfuzosin (10 mg
inicial de seis meses a um ano de 1x/dia) e silodosin (8 mg 1x/dia) são modernos
acompanhamento, uma vez que os bloqueadores alfa-adrenérgicos de meia-vida
antiandrogênicos demoram a exercer seu efeito longa e SELETIVOS para o receptor alfa-1-a, sendo,
máximo. por conseguinte, as drogas de escolha na
 O termo “não responsivo” implica em um IPSS que atualidade.
se manteve grave ou que se reduziu apenas para  Todos possuem eficácia clínica semelhante
moderado. As formas de tratamento chamadas de (relaxam o músculo liso do trígono vesical e
minimamente invasivas podem ser consideradas estroma prostático), promovendo melhora no
em casos selecionados. escore de sintomas e aumentando o fluxo
Quais são as opções terapêuticas? miccional independentemente do tamanho da
(1) Observação e acompanhamento (Watchful próstata. A diferença está no perfil de efeitos
Waiting). colaterais e na meia-vida. A resposta costuma ser
(2) Terapia farmacológica (fitoterapia, alfa- rápida, com melhora na qualidade de vida em
bloqueadores, inibidores da 5-alfa-redutase). apenas três semanas.
(3) Tratamento intervencionista/cirúrgico  As contraindicações aos alfabloqueadores podem
ser agrupadas em absolutas e relativas.
1-Tratamento Farmacológico  Os principais efeitos colaterais são: hipotensão
 Como já referido, os sintomas resultam da postural, tonteira, fraqueza, cefaleia e rinite
obstrução uretral mecânica imposta pelo (congestão nasal pela vasodilatação mucosa).
crescimento glandular e/ou da oclusão funcional
da uretra, relacionada à contração da musculatura
lisa no colo vesical e estroma prostático. Assim, os
pacientes com obstrução mecânica (próstatas
volumosas) podem ser tratados com drogas
antiandrogênicas que promovem atrofia do
epitélio, e os casos de oclusão funcional (próstatas
de qualquer volume) podem ser tratados com
bloqueadores alfa-adrenérgicos, que diminuem o
tônus prostático e a resistência do colo vesical.
 Na prática, é comum a terapia combinada, visando
o controle de ambos os mecanismos
fisiopatogênicos, que não raro coexistem.
1.1- Bloqueadores Alfa-1-Adrenérgicos
 Existem dois subtipos de receptor alfa-1 1.2- Inibidores da 5-Alfa-Redutase
adrenérgico: alfa-1-a e alfa-1-b. O primeiro é (Antiandrogênicos)
específico do tecido prostático, enquanto o  Visam reduzir o volume glandular e,
segundo é específico dos vasos sanguíneos. consequentemente, o componente físico
 Os bloqueadores alfa-1-adrenérgicos podem ser responsável pela obstrução da uretra.
“seletivos” ou “não seletivos” para os receptores  Dada a sensibilidade do epitélio glandular à ação
alfa-1-a. O ideal é utilizarmos um bloqueador da DHT, todas as medidas que diminuem o efeito
seletivo, pois a incidência de efeitos adversos desse mediador tendem a promover uma
cardiovasculares (ex.: hipotensão postural) tende a regressão da massa glandular.
ser menor.  A finasterida (5mg 1x/dia) foi o primeiro agente
 A fenoxibenzamina foi o primeiro bloqueador alfa- antiandrogênico utilizado. Atua através da inibição
1 não seletivo, mas caiu em desuso devido ao seu da enzima 5-alfa-redutase do tipo 1, impedindo a
perfil de toxicidade. O prazosin (2 mg 12/12h) é um formação local de DHT no tecido prostático. Na
bloqueador alfa-1 não seletivo de meia-vida curta, dose usual, produz uma diminuição de cerca de
cada vez menos utilizado. Terazosin (5-10 mg 30% do volume da glândula após seis meses de
1x/dia) e doxazocin (4-8 mg 1x/dia) são tratamento, o que alivia os sintomas em 35-40%
bloqueadores não seletivos de meia-vida longa, dos pacientes. A finasterida é uma droga segura,
que têm a vantagem de poderem ser feitos em com pouca interação farmacológica e raros efeitos
dose única diária. colaterais. Seu principal inconveniente é a

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disfunção sexual, que se manifesta em 10-15% dos  A seleção do método cirúrgico, nos pacientes com
casos. indicação de intervenção, deve levar em conta as
 Outro agente, a dutasterida (0,5 mg 1x/dia), é dimensões da glândula, a presença de
capaz de inibir as isoenzimas tipo 1 e 2 da 5-alfa- complicações locais, a experiência do cirurgião e as
redutase, e alguns estudos demonstraram uma preferências do paciente.
superioridade discreta (porém estatisticamente  Em pctes com rica sintomatologia obstrutiva e
significativa) quando comparada à finasterida. próstatas de pequenas e médias dimensões, a
 Toda terapêutica antiandrógena interfere nos Ressecção Transuretral (RTUP) representa a
níveis séricos de PSA. A utilização de finasterida, melhor alternativa técnica, já que se acompanha
por exemplo, reduz o PSA em cerca de 50%. Logo, de resultados globais bastante satisfatórios, baixa
quando avaliarmos o PSA sérico de um usuário de incidência de complicações, custos reduzidos e
finasterida ou dutasterida, temos que considerar menor tempo de internação hospitalar.
que o valor “real” representa o dobro do valor  Os pacientes com próstatas muito volumosas (≥ 80
medido. g) ou que apresentam complicações locais da HPB,
Finasterida¹ X Dutasterida² como litíase ou divertículos vesicais, devem ser
¹ação da 5-alfa-redutase 1 e inibição de 70% da DHT tratados por cirurgia a céu aberto.
sérica e 90% da próstata.  A prostatectomia a céu aberto e a RTUP da
²ação na 5-alfa-redutase 1 e 2 e inibição de 90% da DHT próstata constituem as formas mais eficientes para
sérica se tratar pacientes com HPB. Cerca de 90% dos
DHT= di-hidrotestosterona casos apresentam melhora clínica significativa
Ambas as drogas têm efeitos terapêuticos e colaterais após essas intervenções e em 10% podem
similares. permanecer algumas queixas, provavelmente
devido à existência concomitante de doença
1.3- Terapia Combinada vesical ou por sequelas da cirurgia, como o
 Diversos trabalhos científicos testaram a aparecimento de estreitamentos uretrais.
combinação de bloqueadores alfa-1-adrenérgicos
e inibidores da 5-alfa-redutase, levando à Atenção! A ablação por laser destrói a massa prostática
conclusão adotada por muitos, de que a terapia obstrutiva sem sangramento. Por isso, é indicada em
combinada deve ser usada em pacientes com portadores de distúrbios da coagulação e usuários de
sintomas obstrutivos importantes e próstatas de anticoagulantes, nos quais o procedimento pode ser
grande volume. executado sem interrupção da medicação. Uma grande
 Na prática, os inibidores da 5-alfa-redutase são desvantagem é o fato de não podermos coletar
acrescentados à terapia inicial com os amostras de tecido para análise histopatológica: com o
bloqueadores alfa-1-adrenérgicos na presença de laser, o tecido prostático acaba sendo “vaporizado”!
próstatas com peso ≥ 40 g.
2.2- Ressecção Transuretral da Próstata (RTUP)
 Indicada para próstatas ATÉ 60 gramas de volume.
 A RTUP tem sido o tratamento “padrão” da HPB na
prática, devido a sua excelente relação custo-
benefício.
 Seus resultados demonstram importante melhora
nos sintomas e no fluxo urinário. No seguimento
em longo prazo, muitos pacientes continuam
satisfeitos, negando a recidiva das queixas
miccionais (boa durabilidade).
 A complicação intraoperatória mais clássica – e
felizmente incomum nos dias de hoje – é a
síndrome de intoxicação hídrica, que consiste em
hiponatremia aguda, confusão mental, náuseas e
2- Tratamento Cirúrgico vômitos, hipertensão arterial, bradicardia e
 As intervenções cirúrgicas continuam distúrbios da visão, decorrentes de súbita
representando a modalidade mais eficiente para diminuição da osmolaridade plasmática
alívio dos sintomas e das complicações da doença. (encefalopatia hiposmolar aguda) e hipervolemia.
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O risco dessa complicação se torna significativo São indicações relativas de cirurgia:
quando o tempo cirúrgico ultrapassa 90min (o que  Sintomas moderados;
é mais provável quanto maior for o peso da  Litíase e divertículo vesical;
glândula). O tratamento é feito com diuréticos de  Resíduo urinário significativo;
alça e reposição de solução salina a 3%.  Fluxo urinário reduzido.
 As complicações tardias da RTUP incluem
incontinência, que ocorre em até 1,9% dos casos, CA DE PRÓSTATA
Fatores de risco
sendo secundária à lesão do esfíncter urinário
 História familiar
externo ou à hiperatividade do detrusor não
 Componente hereditário
diagnosticada, e contratura do colo vesical
 9% de todos os tumores
secundária à fibrose pós-operatória, que pode
 43% pctes < 55 anos
ocorrer em até 1,7%. Disfunção erétil ocorre em
 Risco de desenvolver CA de próstata
13,6% dos casos, secundária à lesão térmica dos
 Número de pctes afetados
nervos cavernosos que correm lateralmente à  Idade no momento do diagnóstico
cápsula prostática, ou secundária à diminuição do Sinais e sintomas
suprimento sanguíneo do corpo cavernoso,  Precoces: NENHUM
provocada pelo eletrocautério. Outras  Intermediário: miccionais, impotência
complicações possíveis incluem a aspermia e a (compressão de vasos e uretra)
ejaculação retrógrada (parte do volume ejaculado  Tardios: perda de peso, dor óssea (metástases)
reflui para o interior da bexiga – algo que não
deveria acontecer normalmente). PSA/IDADE
 40-49 anos: <2,5
2.3- Prostatectomia Subtotal  50-59 anos: <3,5
 A cirurgia a céu aberto convencional deve ser a via  60-69 anos: <4,5
de eleição nas seguintes situações: (1) a via
 70-79 anos: <6,5
endoscópica é impossível (anquilose do quadril,
 Tem maior sensibilidade para jovens e maior
estenose de uretra); (2) presença de afecções
especificidade para idosos.
vesicais associadas (cálculos e divertículos); (3)
Estratégias para aumentar a acurácia do PSA:
próstatas muito volumosas (≥ 80 g).
 Velocidade do PSA
 A prostatectomia a céu aberto padrão no
 Densidade do PSA
tratamento da HPB é “subtotal”, quer dizer,
 PSA ajustado à idade
somente o tecido adenomatoso é retirado (e não a
 Redução do ponto de corte do PSA
próstata inteira, como é feito nas prostatectomias
totais no tratamento do Ca de próstata).  Determinação da fração livre/total do PSA

Diagnóstico
 Biópsia
 Se o exame de toque retal ou o PSA apontarem
anormalidades, o médico deve solicitar a biópsia.
 A biópsia é um procedimento em que são retirados
fragmentos de tecido do tumor para serem
examinados pelo patologista para detecção de céls
malignas.

Estadiamento
 Escore de Gleason é uma pontuação dada a um
Lembrete! câncer de próstata baseada em sua aparência
São indicações absolutas de cirurgia: microscópica. Escores maiores estão associados a
 Hidronefrose e uremia; piores prognósticos, já que são dados a cânceres
 Infecção urinária recidivante; mais agressivos.
 Hematúria persistente;
 Incontinência paradoxal;
 Cálculos e grandes divertículos vesicais.
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RESUMO HPB:

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