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PARTE 1
Justificativa para o tratamento com bisfosfonatos ou denosumab
Doenças que afetam o osso podem ter efeitos debilitantes na vida dos
pacientes, predispondo-os a eventos como fraturas e outras complicações
ósseas. Esses eventos podem ter um impacto negativo na morbidade,
capacidade de trabalho e atividade social. Além disso, fraturas e outras
complicações esqueléticas podem sobrecarregar consideravelmente os
recursos de saúde.
Osteoporose
Estimativas sugerem que globalmente, aproximadamente 200 milhões de
pessoas sofrem de osteoporose e que 9 milhões de fraturas ocorrem todo
ano (incluindo 1.6 milhões de fraturas de quadril, 1.7 milhões de fraturas
de antebraço e 1.4 milhões de fraturas vertebrais). Portanto, não é
surpresa que a osteoporose tem um impacto socioeconômico significante,
primordialmente como resultado do aumento da mortalidade e dos
encargos financeiros e de qualidade de vida relacionados à saúde
associados a fraturas. Fraturas de quadril têm uma associação particular
com mortalidade. A mortalidade por todas as causas nos primeiros 3
meses após uma fratura de quadril é 5,75 vezes maior em mulheres e 7,95
vezes maior em homens do que em populações de controle pareadas por
idade e gênero. Em adição, fraturas de quadril também são associadas
com uma utilização substancial dos recursos de saúde. Um estudo norte-
americano relatou que, após o ajuste para fatores de confusão, as fraturas
osteoporóticas levaram ao segundo maior tempo de internação hospitalar
(6 dias; intervalo de confiança de 95% [IC] 5,9 6,0 dias) e à maior média
total de despesas hospitalares (US$ 47.386; IC 95%: $ 46.707 48.074) dos
6 problemas de saúde comuns analisados. Além disso, o fardo funcional
das fraturas relacionadas à osteoporose pode se estender por anos após o
evento. A eficácia no tratamento com doses orais baixas de bifosfanato e
denosumab na redução do índice de fraturas em osteoporose foi
claramente demonstrada no cenário de ensaios clínicos. Na prática, no
entanto, a efetividade do tratamento oral para osteoporose é limitada
pelos baixos níveis de adesão dos pacientes a este tipo de tratamento. Isto
tem sido atribuído pela falta de compreensão dos pacientes sobre sua
condição e o risco de fraturas associado, assim como a preocupação sobre
efeitos adversos (EAs), como a OMAM. Em contraste a isto, evidências do
mundo real sugerem que em mulheres na pós-menopausa com
osteoporose, a adesão aos tratamentos antirreabsortivos subcutâneos
(SC) ou intravenosos (IV) é maior e na faixa de 81,6% a 95,3%. Outro
estudo mostrou que a adesão ao tratamento subcutâneo com denosumab
semestralmente foi significativamente maior em comparação com a
adesão aos comprimidos semanais de ácido alendrônico entre mulheres
com osteoporose. Os bisfosfonatos de baixa dose (por exemplo, ácido
zoledrônico 5 mg IV uma vez por ano e ácido alendrônico 10 mg por via
oral uma vez ao dia) são aprovados para o tratamento da osteoporose em
mulheres na pós-menopausa, pacientes recebendo terapia sistêmica com
glicocorticóides de longo prazo e homens com alto risco de fratura (Tabela
I). O denosumab em baixa dose (60 mg SC a cada 6 meses) é aprovado
para o tratamento da osteoporose em mulheres na pós-menopausa e em
homens com risco aumentado de fraturas (ver Tabela I)
Tabela 1. Agentes comumente usados para prevenir eventos
relacionados ao esqueleto
Hipercalcemia de malignidade
A hipercalcemia é uma séria complicação da doença maligna, que ocorre
principalmente em pacientes em estágios avançados de câncer. É uma
condição que pode causar dano de órgão em estágio final, como lesão
renal aguda; e sintomas graves, incluindo arritmias cardíacas, anorexia,
confusão, constipação, letargia, mal-estar e náusea. Os bifosfonatos têm
sido o tratamento padrão para pacientes com hipercalcemia de
malignidade por algum tempo, com ácido zoledrônico (dose única de 4 mg
IV) geralmente sendo o agente de escolha, apesar do risco associado de
insuficiência renal. Em um estudo de fase II de braço único, no entanto, o
denosumab mostrou-se eficaz no tratamento de pacientes com
hipercalcemia que recidivaram após o tratamento com bifosfonatos ou
foram refratários ao tratamento. À luz desses achados, o denosumab em
altas doses também é aprovado em várias regiões (exceto na Europa) para
o tratamento da hipercalcemia neste grupo de pacientes.
Drug holidays
*termo que significa parar de tomar uma droga por um tempo
As opiniões são divididas no que diz os benefícios de pausar
temporariamente o tratamento com bifosfanatos ou denosumab em
pacientes que tem procedimentos dentários invasivos marcados. O risco
aumentado de EREs durante os drug holidays deve ser equilibrado com o
risco reduzido de desenvolver OMAM num contexto de caso-a-caso e
precisa ser discutido por uma equipe multiprofissional. Faltam evidências
para sustentar os benefícios do drug holiday; no entanto, um estudo
japonês recente constatou que um drug holiday antes da realização de
exondontias não reduz o risco do desenvolvimento de OMAM em
pacientes que estão recebendo bifosfonatos oralmente. Um relatório
sobre OMAM feito pela American Association of Oral and Maxillofacial
Surgeons (AAOMS) (Associação Americana de Cirurgiões Bucomaxilo-
faciais), relatou que um drug holiday de 2 meses antes e depois de
cirurgias dentárias em pacientes que recebem bifosfonatos oralmente,
pode ser prudente; e uma força-tarefa de ONM internacional recomendou
que o tratamento deve ser suspenso após cirurgias odontológicas
invasivas em pacientes que recebem altas doses de bifosfonatos ou
denosumab. Vale ressaltar que os autores de ambos os conjuntos de
diretrizes reconheceram que há pouca evidência para apoiar suas
recomendações e o conceito de drug holidays, portanto isto continua a ser
uma questão controversa.
PARTE 2
O papel do dentista
Diagnóstico de OMAM
Principais sinais e sintomas
É importante que os dentistas estejam confiantes em reconhecer os sinais
e sintomas da OMAM e estejam familiarizados com o sistema de
estadiamento estabelecido para essa condição. Dor e sinais de infecção
são os sintomas mais frequentes relatados pelos pacientes, mas a OMAM
também pode ser assintomática. Condições comumente confundidas com
OMAM incluem osteíte alveolar, sinusite, gengivite e periodontite,
patologia periapical, odontalgia, neuralgias atípicas, sarcoma e
osteomielite esclerosante crônica. Na maioria dos casos, o diagnóstico de
OMAM requer o seguinte:
Figura7. Exemplo de sucesso na gestão de um paciente com OMAM. A,
Paciente recebendo baixas doses de ácido alendrônico por mais de 3 anos
apresentou osso clinicamente exposto na região da maxila direita. Dente
25 foi extraído 13 meses depois que esta foto foi tirada. Dente 24 e 26
apresentavam mobilidade. B, Achados radiológicos. Seção da radiografia
panorâmica do paciente demonstrou alvéolo 25 não cicatrizado, e
processo radiolúcido com sequestro central envolvendo o processo
alveolar da região (setas). C, Tomografia computadorizada de feixe cônico.
Um grande sequestro correspondente ao processo alveolar superior
esquerdo pode ser visto (seta). D, Peri-operatório. Exploração mostrando
a demarcação do sequestro. Nota-se a cor cinza-esverdeada do processo
necrótico. E, condição peri-operatória após a remoção do tecido granuloso
envolveu dente e osso necrótico até o nível do osso clinicamente vital. Há
comunicação com o seio maxilar (seta). F, Sutura primária. O paciente foi
tratado com antibióticos por 10 dias no pós-operatório. G, Radiografia
pós-operatória. H, Histologia mostrando lacunas de osteócitos vazias e
acúmulo de bactérias na superfície. I, A condição de um mês de pós-
operatório mostrando cicatrização completa. O paciente agora está livre
de sintomas e é considerado curado da osteonecrose. Os dentes perdidos
são substituídos por uma prótese removível. (Imagens A-G e I, Cortesia do
Dr. Morten Schiødt, Hospital Universitário de Copenhague. Reproduzida
com a permissão do Danish Dental Journal; Schiødt M, et al.
Medicinrelateret osteonekrose i kæberne—oversigt og retningslinjer.
Tandlægebladet. 2015 ; Imagem H, Cortesia do Professor Jesper Reibel,
Departamento de Odontologia, Universidade de Copenhague.)
Tratamento de OMAM
Não existe um algoritmo de tratamento definido, mas os achados de uma
revisão sistemática das estratégias de tratamento para OMAM sugeriram
que as abordagens de tratamento específicas dos estágios têm uma base
científica sólida. O objetivo do manejo da OMAM deve ser o controle da
infecção, progressão da necrose óssea e dor. Se a OMAM ocorrer
enquanto um paciente estiver recebendo altas doses de bifosfonato ou
denosumab, a necessidade de continuação do tratamento deve ser
discutida com todos os envolvidos, levando em consideração a gravidade
e evolução da OMAM, o fardo e a atividade desta doença oncológica e os
desejos do paciente.
Gestão Conservadora
As abordagens da gestão conservadora incluem manter uma higiene
bucal ideal, eliminar doenças dentárias e periodontais ativas e aplicação
de enxaguatórios bucais antibacterianos tópicos e antibioticoterapia
sistêmica, conforme indicado pelas diretrizes locais. Essas estratégias
podem ser usadas nos casos em que não há progressão óbvia da doença,
dor descontrolada ou descontinuação da terapia com bifosfonatos ou
denosumab como resultado da OMAM.
Tratamento cirúrgico
Evidências recentes sugerem que a intervenção cirurgia é eficaz na
redução da dor em pacientes com OMAM e, em por fim, leva à sua
resolução. A cirurgia é, portanto, indicada para pacientes com OMAM cuja
doença não responde ou é considerada improvável que responda a
abordagens conservadoras. Os seguinte princípios cirúrgicos foram
propostos para a remoção de osso necrótico neste grupo de pacientes:
“Um retalho mucoperiosteal de espessura total deve ser levantado e
estendido para revelar toda a área de osso exposto e além das margens
livres de doença; a ressecção do osso afetado deve ser estendida
horizontalmente e inferiormente para atingir o osso sangrando de
aparência saudável; bordas afiadas devem ser suavizadas; e o fechamento
primário do tecido mole alcançado” por meio de mobilização e sutura
apropriadas para facilitar a cicatrização da mucosa sem tensão (ver Figura
7).
Em uma revisão de gráfico observacional de 327 pacientes com câncer
que foram considerados portadores de OMAM, 97% receberam
bifosfonatos e/ou denosumab, 92% receberam medicação para tratar a
doença e 31% foram submetidos à cirurgia. A resolução da OMAM
durante o estudo (a julgar pelos critérios da AAOMS) foi observada em
43% dos pacientes avaliados, e a melhora da OMAM foi relatada em 19%
dos pacientes. O tempo médio para resolução do OMAM foi de 7,3 meses.
Nota-se que, quase metade (47%) dos pacientes do estudo foram
submetidos a uma extração dentária durante o estudo.
CONCLUSÃO
A OMAM é um evento adverso raro, mas potencialmente sério, associado
com diferentes terapias (incluindo quimioterapia), e especificamente com
o uso em altas doses/por longo tempo de bifosfonatos e denosumab. O
desenvolvimento de OMAM pode comprometer o tratamento, assim
aumentando o risco de fraturas patológicas em pacientes com
osteoporose, e de fraturas e outros eventos relacionados ao esqueleto
(EREs) em indivíduos com câncer. Minimizar os riscos da OMAM é
necessário, não somente para prevenir a dor e o desconforto que a
doença pode causar, mas também para maximizar os benefícios do
tratamento feito com bifosfonatos e denosumab. Dentistas tem um papel
crucial na prevenção da OMAM; por meio de avaliação minuciosa,
tratamento odontológico profilático e trabalho em equipe
multiprofissional próxima, o risco de desenvolver essa condição pode ser
reduzido. Para tanto, é importante que os cirurgiões-dentistas sejam
capazes de identificar pacientes em risco, estejam familiarizados com as
recomendações de tratamento profilático necessários e estejam cientes
dos critérios diagnósticos e estratégias de manejo para OMAM.
AGRADECIMENTOS
O suporte de redação médica (incluindo o desenvolvimento de um esboço
e rascunhos subsequentes em consulta com os autores, montagem de
tabelas e figuras, incorporação de comentários e referências dos autores)
foi fornecido por Matthew Long, PhD, Oxford PharmaGenesis (Oxford,
Reino Unido). O financiamento para este apoio foi fornecido pela Amgen
(Europe) GmbH. O apoio editorial foi fornecido por Stephane Gamboni,
PhD, e Sarah Petrig da Amgen (Europe) GmbH.