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OSTEOSARCOMA: UPDATE
Nathalia Bof ill Burger 1 , Maurício Pandolfo Botelho 1 , Isabel Cristina Mot ta 1 ,
Lauro Manoel Etchepare Dorneles 2 , Osvaldo André Seraf ini 2,3
1
Acadêmico de Medicina da A ssociação Turma Médica 2018 da Escola de
Medicina da PUCR S 2
Médico Or topedista e Traumatologista do Ser viço de
Quadril e Tumores Ósseos do Hospital São Lucas da PUCR S 3
Professor da
Escola de Medicina da PUCR S
RESUMO
Introdução: O osteossarcoma é o tumor maligno primário dos ossos
mais frequente. Esta patologia é classicamente descrita como neoplasia
de alto grau de células malignas que produzem osteoides.
Objetivo: Abordar sobre sinais e sintomas associados ao osteossarcoma,
bem como, diagnóstico e manejo.
Método: Estudo realizado através de artigos, literatura e relatos de
caso sobre osteossarcoma.
Resultados: O diagnóstico precoce é decisivo quando discutimos
sobre prognóstico, tratamento cirúrgico e quimioterápico para ressecção
do tumor, na tentativa de evitar amputação de membros.
Conclusão: Uma boa anamnese, reconhecendo desde os primeiros sinais
e sintomas, até a chegada em um serviço de saúde terciário é de extrema
importância. Além disso, devemos identificar as características clínicas e
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ABSTRACT
Introduction: Osteosarcoma is the most frequently primary malignant
bone tumor. Classically, this disease is described as high-grade neoplasm
of malignant cells that produce osteoids.
Objective: Approach to signs and symptoms related to osteosarcoma,
as well as diagnosis and management.
Method: Study performed through articles, literature and case reports
osteosarcoma.
Results: Early diagnosis is decisive when discussing prognosis, surgical
and chemotherapy treatment for tumor resection in attempt to avoid
limb amputations.
Conclusion: A good medical history, recognizing from the first sig-
ns and symptoms until arrival in a tertiary health service, is extremely
important. Furthermore, we should identify clinical and epidemiological
characteristics of this disease with help of multidisciplinary teams, from
diagnosis to treatment of these patients.
Keywords: osteosarcoma, diagnosis, treatment.
INTRODUÇÃO
Epidemiologia
O osteossarcoma (OS) é classicamente descrito como uma neoplasia
de alto grau com células malignas que produzem osteoides.(1) As neoplasias
malignas primárias dos ossos são raras, representando menos de 5% de todos
os tumores malignos. Neste grupo, o OS é o mais prevalente, constituindo
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Fatores de risco
A maioria das crianças é diagnosticada sem fatores de risco associados
identificáveis, enquanto que uma proporção de 30-50% dos pacientes adultos
terá um fator de risco conhecido. Os fatores de risco conhecidos são: doença
de Paget do osso, histórico de radiação ionizante, síndromes hereditários de
predisposição ao câncer - como a síndrome de Li Fraumeni, a síndrome do
retinoblastoma hereditário, a síndrome de Bloom ou a síndrome de Werner. (1)
Estudos recentes do perfil genético apontam uma mutação na li-
nhagem terminal TP53 que poderia estar associado ao aparecimento da
neoplasia. (1)
Características
Em adultos, o OS é considerado uma neoplasia secundária, pois sua
origem está associada a uma condição prévia como, por exemplo, irradiação,
infartos ósseos, doença de Paget ou até mesmo outras patologias ósseas
benignas. (4) A localização mais comum desta neoplasia é o fêmur distal,
seguido da tíbia proximal e do úmero proximal. (1) Em mais de 50% dos
casos a neoplasia ocorre próximo ao joelho. (2)
A metástase ocorre mais comumente nos pulmões, ossos, fígado
e linfonodos ou em outras lesões de tecidos moles. Cerca de 10-20%
dos pacientes terão doença metastática mensurável ao diagnóstico da
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Quadro clínico
Os sinais e sintomas mais comuns são: dor óssea progressiva e dor
noturna, seguidos de aumento de volume do membro afetado e limitação
de movimentos. (5) A presença de sintomas relacionados a eventos pós-
-traumáticos e/ou achado de fratura patológica ocorre em pelos menos
25% dos pacientes. (3)
Os sintomas sistêmicos são raros - como febre, perda de peso, respiratórios
e linfadenopatia. No Brasil, a primeira consulta com o ortopedista ocorre em
média seis meses após o aparecimento dos sintomas. (5)
MÉTODOS
Estudo realizado através de literatura, artigos e relatos de caso sobre
OS, disponíveis em bibliotecas virtuais.
RESULTADOS
Diagnóstico e estadiamento
Na presença de um quadro clínico sugestivo de OS, a realização de
exames de imagem para investigação de neoplasia não deve ser retardada.
O estudo radiológico do osso afetado caracteriza-se pela região metafisária
do tumor, presença de reações periostais (raios de sol), triângulo de Codman,
lesão blástica e/ou lítica de bordas mal definidas, ruptura da camada cortical,
invasão de partes moles e ou fratura patológica. (3) A radiologia poderá ser
acompanhada de ressonância magnética para confirmar ou descartar a pre-
sença de lesões agressivas relacionada à lesão em estruturas adjacentes. (2)
Lesões ósseas suspeitas devem ser sempre biopsiadas, para confirma-
ção do diagnóstico. (3) O diagnóstico definitivo é o exame anatomopatoló-
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gico, o qual deverá ser feito pelo cirurgião que realizará a cirurgia definitiva,
com agulha Trefina 0,3mm e material adequado para o anatomopatológico.
(2) O achado laboratorial de maior valor diagnóstico é a elevação dos
níveis de fosfatase alcalina, e de maior valor prognóstico é o LDH, onde
níveis superiores a 1.000UI/ml estão associados a pior prognóstico. (2,3)
Confirmado o diagnóstico histológico de OS, será necessário realizar
o estadiamento. (3) A cintilografia óssea e a tomografia computadorizada
de tórax elucidam a presença ou não de metástases ósseas e pulmonares
respectivamente. Além disso, a ressonância nuclear magnética do membro
acometido pelo tumor também busca a presença de outro sítio tumoral. (2)
O OS pode ser estadiado pela classificação do TNM e grau de diferen-
ciação celular ou pelo estadiamento cirúrgico de Enneking que é o mais
utilizado (tabela 1). (6,7) O estadiamento de Enneking, também conhecido
como The Musculoskeletal Tumor Society Staging System (MSTS) pode ser
utilizado para qualquer tumor ósseo, inclusive benigno, enquanto que o
sistema TNM é útil para alguns tumores ósseos malignos. (7,8) Todavia,
o sistema MSTS não é utilizado para avaliar a necessidade de quimiotera-
pia. Outra diferença em relação ao sistema TNM é que a classificação de
Enneking não leva em consideração a região do esqueleto acometido. O
sistema TNM aborda a categoria T conforme o local do tumor, logo um
osteosarcoma na coluna vertebral terá um critério diferente para classificar
o estádio T do que um tumor localizado na face, por exemplo. (8)
Tratamento
Atualmente o tratamento é multiprofissional, iniciando pela quimioterapia
neoadjuvante, após, a ressecção cirúrgica com margens livres e uso de quimiote-
rapia adjuvante. (1,3) As amputações e desarticulações foram os procedimentos
utilizados para o tratamento até a década de 70. Nos últimos anos, houve um
avanço significativo na qualidade de tratamento das próteses ortopédicas e da
realização de cirurgias conservadoras. (2) Estas mudanças representam uma
significativa melhora para a qualidade de vida desses pacientes. (3) Hoje, as duas
opções principais de tratamento cirúrgico são as cirurgias ablativas (amputação
e desarticulação) e a cirurgia de preservação do membro, esta última visando à
manutenção funcional do membro sem comprometê-lo com recidivas locais. (9)
Os princípios da cirurgia oncologia devem ser rigorosamente respeita-
dos. Aproximadamente 70-80% dos pacientes com OS em extremidades são
elegíveis para o tratamento de preservação do membro. (9)
A quimioterapia neoadjuvante é aplicada em 9-12 semanas e seus
efeitos como, por exemplo, redução do tamanho da lesão e tratamento de
micrometástases contribuiu para melhorar os resultados da cirurgia. Além
desses efeitos, alguns outros benefícios da quimioterapia neoadjuvante
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CLASSIFICAÇÃO DE HUVOS
Fonte: adaptado de Petrilli AS, Gentil FC, Epelman S, Lopes LF, Bianchi
A, Lopes A, et al. Increased survival, limb preservation, and prognostic
factors for osteosarcoma. Cancer. 1991 Aug;68(4):733–7.
Doxorubicina
Ciclofosfamida Cisplastina
Metotrexate Dactinomicina Vincristina
Ifosfamida Carboplatina
Etoposida
Prognóstico
Antes da década de 70, cerca de 90% dos pacientes com osteossarcoma
teriam o óbito entre o primeiro e o segundo ano após o diagnóstico em con-
sequência da doença metastática. A partir desta década, graças a associação
de quimioterapia e cirurgia, houve uma melhora significativa no prognóstico
destes pacientes, de forma que a sobrevida passou para 60-70%. (2)
Os fatores prognósticos desfavoráveis em osteossarcoma incluem
presença de doença metastática no momento do diagnóstico, ressecção
tumoral com margens comprometidas, resposta desfavorável a quimioterapia
a partir dos critérios de Huvos, tumores volumosos, níveis séricos elevados
de lactato desidrogenase (LDH), idade abaixo de 10 anos, sexo masculino e
níveis séricos elevados de fosfatase alcalina. Destes fatores de prognóstico,
o pior é a presença de doença metastática, onde a sobrevida livre de doença
é inferior a 20%. Nos doentes com metástase, o prognóstico será melhor
para as lesões pulmonares e pior para metástase óssea ou medular. (3)
CONCLUSÃO
O OS é o tumor maligno primário de ossos mais frequente. Vários fatores
influenciam no atraso para que o paciente, com diagnóstico de osteossarcoma,
seja encaminhado para tratamento em um serviço especializado. O diagnóstico
precoce é decisivo quando discutimos sobre prognóstico e tratamento, com
a possibilidade de cirurgia preservadora do membro. Assim sendo, uma boa
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REFERÊNCIAS
1. Harrison DJ, Geller DS, Gill JD, Lewis VO, Gorlick R. Current and future therapeutic
approaches for osteosarcoma. Expert Rev Anticancer Ther. 2018 Jan;18(1):39–50.
2. Petrilli AS, Gentil FC, Epelman S, Lopes LF, Bianchi A, Lopes A, et al. Increased
survival, limb preservation, and prognostic factors for osteosarcoma. Cancer.
1991 Aug;68(4):733–7.
3. Rech Â, Jr. CGC, Mattei J, Gregianin L, Leone L Di, David A, et al. Clinical
features in osteosarcoma and prognostic implications. J Pediatr (Rio J). 2004
Jan;80(1):65–70.
4. Mirabello L, Troisi RJ, Savage SA. Osteosarcoma incidence and survival rates
from 1973 to 2004. Cancer. 2009 Apr;115(7):1531–43.
5. Fundato CT, Petrilli AS, Dias CG, Gutiérrez MGR de. Itinerário terapêutico de ado-
lescentes e adultos jovens com osteossarcoma. Rev bras cancerol. 2012;197–208.
8. Amin MB, Greene FL, Edge SB, Compton CC, Gershenwald JE, Brookland
RK, et al. The Eighth Edition AJCC Cancer Staging Manual: Continuing to
build a bridge from a population-based to a more “personalized” approach
to cancer staging. CA Cancer J Clin. 2017 Mar;67(2):93–9.
10. Canale ST. Cirurgia Ortopédica de Campbell - Volume 1. 10th ed. 2006.
2393 p.