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A conduta médica nos pacientes com suspeita ou portadores de tumores ósseos mudou sensi-
velmente na última década. Atualmente há, com o tratamento, uma perspectiva de sobrevida
acima de 5 anos de no mínimo 50%, tanto no osteossarcoma como no tumor de Ewing.
A dor nas extremidades é muito comum na prática clínica, mas a duração e a natureza
progressiva dos sintomas deve alertar os pediatras, os clínicos e os ortopedistas sobre a
possibilidade de uma patologia óssea subjacente.
As causas dessa demora são na maior parte das vezes devidas ao fato de os médicos não
pensarem no diagnóstico diferencial de tumor ósseo. Quando o tumor é lembrado na primeira
consulta, a radiografia freqüentemente conduz ao diagnóstico correto, imediatamente. Por
outro lado, quando não se levanta a suspeita de tumor ósseo, várias modalidades de
tratamento (imobilizações, fisioterapia, manipulações) são utilizadas, sem benefícios para o
paciente e infelizmente atrasando o correto diagnóstico do tumor.
Essas técnicas de preservação dos membros exigem uma localização anatômica precisa do
tumor através de radiografias, tomografia, arteriografia e ressonância magnética, entre outros
exames.
RADIOGRAFIA
As radiografias planas dão as informações mais gerais sobre o tumor. Essas informações,
combinadas com a apresentação clínica, dão alguma idéia sobre tumores primários versus
metastáticos e malignos versus benignos.
MAPEAMENTO ÓSSEO
Hoje em dia, com o aparecimento da tomografia helicoidal, o exame pode ser realizado em
poucos minutos, evitando a anestesia geral em crianças.
A ressonância magnética é o avanço mais recente no diagnóstico por imagem dos tumores
músculo-esqueléticos, tendo acrescentado vantagens importantes ao estadiamento. Em nossa
opinião, a RNM e a TAC são exames complementares e devem, se possível, ser utilizados em
conjunto.
O estudo de um tumor ósseo através da RNM inclui imagens axiais com T1 e T2 e um conjunto
de imagens longitudinais no plano sagital ou frontal (T1).
ARTERIOGRAFIA
A indicação primária para a arteriografia é nas regiões de localização anatômica difícil, como
nas cinturas escapular e pélvica. É também útil na avaliação pré-operatória de tumores que
serão submetidos a cirurgias preservadoras do membro, nas quais o feixe vásculo-nervoso
precisa ser sacrificado e reconstruído por causa do envolvimento causado pelo tumor. O
mesmo acontece na avaliação pré-operatória de extre-midades que serão submetidas a
microcirurgia.
Não se pode esquecer a utilização da arteriografia no tratamento dos tumores ósseos, onde ela
é utilizada freqüentemente para a colocação do cateter junto ao tumor e a posterior infusão de
quimioterapia intra-arterial.
Devido à sua dificuldade técnica e aos riscos inerentes ao exame, raramente utilizamos esse
método para diagnóstico em crianças. Sua utilização fica restrita aos casos em que realizamos
embolizações terapêuticas.
Contudo, nenhum desses estudos é tão preciso ou confiável para julgar a eficiência do
tratamento coadjuvante quanto o mapeamento da necrose no espécime cirúrgico ressecado,
que consiste no estudo histológico de várias áreas do tumor, com a finalidade de se
estabelecer o grau histológico de necrose, provocado pelo efeito da quimioterapia.
BIÓPSIA
A região correta do tumor deve ser biopsiada com o mínimo de violação dos tecidos normais. O
local da biópsia deve permitir a posterior ressecção de seu trajeto, sem o comprometimento
dos resultados posteriores da cirurgia conservadora. Uma hemostasia meticulosa deve ser
conseguida e o uso de drenos deve ser evitado sempre que possível.
Não pode haver dúvidas de que o atraso no diagnóstico possibilita o crescimento do tumor,
tornando a cirurgia de preservação do membro menos provável. Os mais longos atrasos
aconteceram naqueles pacientes que tiveram suas radiografias iniciais erroneamente
diagnosticadas como normais. A conseqüente "falsa segurança" causa um atraso adicional de
2 a 40 semanas, antes de uma segunda radiografia que revele o diagnóstico correto. Neste
grupo de pacientes, diagnosticados de forma incorreta, 58% necessitaram amputações ou
foram considerados inoperáveis, índice inaceitável quando comparado com 15% daqueles
cujas radiografias iniciais foram corretamente interpretadas.
Não encontramos lugar para a biópsia por congelação nos tumores do esqueleto. Mesmo em
mãos de patologistas experientes, esta modalidade de biópsia é passível de erros grotescos e
comprometedores para a conduta definitiva, em nada ajudando o tratamento do tumor.
O diagnóstico dos tumores ósseos após a história, exame físico, estudos de laboratório e
diagnóstico por imagem é ainda um diagnóstico de presunção. Somente após o estudo
anatomopatológico do material obtido pela biópsia é que o tratamento pode ser iniciado. A
finalidade da biópsia é a obtenção de tecido suficiente para um diagnóstico preciso, sem no
entanto ocasionar efeitos lesivos para a lesão e, principalmente, sem prejudicar o tratamento
definitivo. (40),(41),(46).
As biópsias podem ser realizadas de diferentes maneiras. Entre elas a aberta ou incisional e a
percutânea ou por punção. Historicamente, a biópsia incisional tem sido considerada o
procedimento com maior precisão e confiabilidade. Atualmente, contudo, a biópsia percutânea
tem sido em nosso Serviço o procedimento de escolha para as lesões do esqueleto. A precisão
de nossos resultados é de 90%, o que corresponde à precisão dos melhores resultados da
biópsia incisional em outros Serviços no exterior. (16),(40),(37),(46).
É conceito mundial que a biópsia deve ser feita pelo cirurgião que irá realizar o tratamento
definitivo do paciente. É procedimento criticável realizar-se uma biópsia em um Serviço que
não tenha todas as condições de tratar o paciente (18), (39), (40), (41), (38), (46), (60), (79),
(92). [Veja vídeo demonstrativo sobre biópsia em Real Player]
Independentemente da técnica utilizada, a biópsia deve ser realizada com cuidado e reunindo
todas as habilidades, para que possa auxiliar na conclusão do estadiamento e dessa forma
colaborar para se instituir o tratamento correto do tumor ósseo.
Após alguns anos, vários estadiamentos foram desenvolvidos para várias classes de tumores
malignos, sob o júdice da American Joint Committee for Cancer Staging and End Results
Reporting (AJC). No entanto, os sistemas desenvolvidos para o estadiamento dos tumores
ósseos não apresentavam aplicação prática. Em 1980, um sistema para o estadiamento dos
tumores do sistema músculo-esquelético foi proposto pelo Prof. Enneking, sendo
posteriormente estudado e adotado mundialmente (*)
Os tumores que crescem no osso e nos tecidos moles têm padrões característicos de compor-
tamento e de crescimento que os distinguem de outras lesões malignas. Estes padrões, que
formam a base para o estadiamento e estratégias de tratamento devem ser conhecidos pelos
cirurgiões ortopedistas-oncologistas.
BIOLOGIA E CRESCIMENTO
Os sarcomas de células fusiformes formam lesões sólidas que crescem de maneira centrífuga.
A periferia dessas lesões é imatura. Em contraste com a verdadeira cápsula que envolve as
lesões benignas, que é composta de células normais comprimidas, o tumor maligno é
geralmente envolvido por uma pseudo-cápsula, que consiste em células comprimidas do
tumor, e uma zona fibro-vascular de tecido reativo com um componente inflamatório
variável, que penetra e se mistura com o tecido normal adjacente e além da lesão. A espessura
dessa zona reativa varia com o grau de malignidade e com o tipo histológico. A marca
registrada histológica dos sarcomas malignos é seu potencial em quebrar e invadir a pseudo-
cápsula para formar lesões satélites no osso, chamadas de "skip metastasis" ou metástases
saltitantes.
Os sarcomas de alto grau tem uma zona reativa muito mal delimitada, que pode ser localmente
invadida e destruída pelo tumor. Além disso, há nódulos de tumor no tecido que parece ser
normal na macroscopia, isto é, tecidos que não estão em continuidade com o tumor principal.
Embora os sarcomas de baixo grau regularmente se interdigitem na zona reativa, raramente
formam nódulos de tumor além dessa área. Os sarcomas respeitam as barreiras naturais. A
anatomia local influencia o crescimento, impondo barreiras ao crescimento do tumor. Em
geral, os sarcomas ósseos preferem o caminho de menor resistência (Fig. 1).
BARREIRAS NATURAIS
cortical óssea
periósteo
fáscia profunda
placa epifisária
cartilagem articular
septo intermuscular
Com base em considerações biológicas e na história natural, todos os tumores ósseos e dos
tecidos moles, benignos e malignos, foram classificados em cinco categorias, cada uma das
quais apresentando certas características clínicas e padrões radiográficos, com determinados
procedimentos cirúrgicos de tratamento. A história natural de um tumor maligno não tratado é
dividida nesses estágios progressivos, sendo que a progressão nos estágios indica um
prognóstico cada vez mais reservado.
1. baixo grau (G1): lesões bem diferenciadas, com poucas figuras de mitose, poucas
células atípicas ou nenhuma, mínima ou nenhuma necrose, sem invasão vascular;
produzem uma quantidade razoável de matriz madura. Em geral, a chance de
recorrência local ou metástases é pequena. As lesões podem ser adequadamente
tratadas com cirurgias conservadoras.
2. alto grau (G2): são pobremente diferenciadas, tem mitoses freqüentes, um
considerável número de células atípicas, necrose, matriz pouca e imatura e com
invasão vascular.
1) intracompartimental (T1):
2) extracompartimental (T2):
quando uma lesão intra-óssea rompe a cortical e se estende nos tecidos moles, torna-
se extracompartimental;
quando em uma articulação a lesão invade a cápsula e se estende nos tecidos moles,
passa a ser extracompartimental;
quando uma lesão dentro de um grupo muscular se estende na fáscia e invade os
tecidos adjacentes, transforma-se em extracompartimental;
os planos interfasciais, que contêm os principais vasos e nervos, não têm barreiras
proximais ou distais e não são considerados compartimentos. Lesões nessa região são
sempre extracompartimentais;
as lesões que crescem nas superfícies externas dos ossos são
extracompartimentais quando invadem e rompem o periósteo;
os planos extrafasciais são extracompartimentais e incluem:
médio pé;
fossa poplítea;
região inguinal e triângulo femoral;
região intrapélvica;
palma da mão;
fossa antecubital;
axila;
região periclavicular;
região para-espinhal e
cabeça e pescoço
Deve ser evidenciado que o espaço confinado por uma fáscia no plano transverso, mas
sem fronteiras proximais ou distais, apresenta barreiras incompletas à extensão do
tumor e deve ser considerado extracompartimental.
Uma lesão intracompartimental pode se tornar extracompartimental quando a lesão se
estende além das barreiras de seu compartimento anatômico original.
É importante salientar que os sarcomas podem apresentar lesões satélites na zona
reativa extracapsular. Desta forma, todo o tumor, cápsula ou pseudocápsula e zona
reativa devem estar dentro do compartimento para a lesão ser classificada como
intracompartimental.
Iatrogenicamente pode-se converter uma lesão intracompartimental em uma lesão
extra-compartimental recorrente.
O prognóstico é pior em lesões mais profundas do que nas superficiais ou também
quando a lesão engloba ou envolve estruturas neurovasculares maiores.
As lesões benignas, com base na sua história natural e comportamento, podem ser então
estagiadas. Os numerais arábicos são utilizados para designar os vários estágios:
Quando palpáveis nos tecidos moles, são geralmente pequenas, móveis e endurecidas, com
pequeno ou nenhum aumento na observação clínica durante o seguimento (Fig. 3).
As radiografias mostram lesões bem margeadas por uma área de esclerose de osso reativo,
sem deformação ou expansão do osso (Lodwick IA) (Fig. 4).
4. Radiografia de uma lesão benigna latente (fibroma não osteogênico)
na metáfise distal da tíbia. Note o halo de esclerose ao redor da
lesão.
Quando palpáveis nos tecidos moles, são freqüentemente pequenas, móveis, moderadamente
amolecidas e crescem vagarosamente durante a observação clínica (Fig. 6).
Quando invadem áreas irrestritas, como o canal medular, osso esponjoso, tecidos peri-
articulares ou ventres musculares, expandem-se rapidamente, geralmente com uma
pseudocápsula de tecido reativo (Fig. 8).
8. Esquema modificado de Enneking de um tumor ósseo benigno
agressivo (B-3). CP = pseudocápsula, TU = tumor, ZR = zona reativa.
Quando nos tecidos moles, são freqüentemente firmes, fixos e amolecidos, com história de
crescimento rápido (Fig. 9).
A arteriografia mostra uma zona de neoformação vascular na fase arterial precoce e uma maior
vascularização intralesional.
A TAC mostra densidades moteadas heterogêneas, com defeitos na tentativa de o osso conter
a lesão, comprometimento extracompartimental precoce e margens indistintas nos tecidos
moles. Freqüentemente se nota envolvimento do feixe vásculo-nervoso.
São massas presentes como de crescimento lento, indolores, com taxa de crescimento
constante. Raramente causam sintomas. Estimulam quantidades razoáveis de osso reativo ou
tecido fibroso, que oferece uma falsa impressão de cápsula. Não são inibidas pelas barreiras
naturais de crescimento. Seu crescimento através delas é mais por erosão do que por rápida
destruição. Sua progressão incontida ocasiona extensão extracompartimental e envolvimento
de feixes vásculo-nervosos. Raramente atravessam a cartilagem articular ou a cápsula. No
entanto, podem causar irritação da articulação, com derrames articulares. Não se estendem
nas bainhas dos tendões, nervos ou adventícia dos vasos, mas costumam empurrá-los. No
entanto, essas estruturas estão freqüentemente envolvidas pela zona reativa (Fig.11).
Nos tecidos moles costumam ser pequenos, superficiais, fixos, endurecidos e sem sinais
inflamatórios (Fig. 12).
A TAC mostra uma massa heterogênea, um anel perfurado e espesso de osso reativo e uma
extensão oculta nos tecidos moles ou extensão intra-óssea.
A histologia mostra uma lesão invasiva de baixo grau, com um índice equilibrado de
células/matriz, que se apresenta bem diferenciada e freqüentemente madura. Há
características citológicas de anaplasia, pleomorfismo, hipercromasia, mas com modesto
número de mitoses. Essas alterações são consi-deradas Broders 1 e ocasionalmente 2.
Quantidades variadas de necrose, hemorragia e invasão vascular vistas nessas lesões
raramente são vistas em lesões benignas. Há numerosas interrupções da pseudo-cápsula,
satélites na zona reativa, sendo as "skip metastasis" raramente vistas nesses pacientes. As
barreiras naturais seguram o crescimento do tumor por longos períodos. Com sua
potencialidade de destruir ou invadir o tecido normal, terminam por invadir outros
compartimentos. Metástases para os nódulos regionais são infreqüentes. Metástases para o
pulmão são raras, tardias e únicas.
Nos tecidos moles são profundos, grandes, fixos, amolecidos, provocando uma reação
inflamatória ao seu redor (Fig. 15).
15. Esquema modificado de Enneking de um tumor de tecidos moles,
maligno de alto grau,
intracompartimental (II-A) e extracompartimental (II-B). CP =
pseudocápsula, TU = tumor,
ZR = zona reativa, SA = lesões satélites, SK = "skip metastasis", MT =
metástases distantes.
O mapeamento mostra grande aumento da concentração, que se estende além das margens
radiográficas da lesão. Podem-se detectar as "skip metastasis".
A angiografia mostra uma intensa zona de neoformação vascular sobre a lesão, tanto na fase
arterial como na venosa.
Para a coluna, as lesões saltitantes são excepcionalmente raras. As lesões não saltam de uma
vértebra para outra, nem dos elementos anteriores (corpo) para os elementos posteriores.
Sarcomas de alto grau de malignidade, envolvendo mais do que uma vértebra, fazem-no por
extensão direta através do disco ou são considerados de origem multicêntrica. Uma vez no
canal, a lesão salta para o espaço extra-dural, produzindo invasão e comprometimento da
medula óssea.
Os sarcomas de alto grau cruzam rapidamente as barreiras à extensão do tumor e uma
relativamente pequena proporção (10%) é ainda intracom-partimental ao diagnóstico.
METÁSTASES
Diferentemente dos carcinomas, os sarcomas do osso e dos tecidos moles disseminam quase
que exclusivamente através do sangue. Os sarcomas dos tecidos moles disseminam-se
somente em 5 - 10% das vezes, através do sistema linfático, para os nódulos regionais. A
disseminação hematogênica é manifestada pelo envolvimento pulmonar nos estágios precoces
e pelo envolvimento ósseo nos estágios tardios. Somente ocasionalmente a metástase óssea é
o primeiro sinal de disseminação (Figs. 14 e 15 ).
RECORRÊNCIA LOCAL
COMPROMETIMENTO DA ARTICULAÇÃO
O tratamento adjuvante com quimioterapia e irradiação tem alterado a indicação para a cirurgia
radical e preservação dos membros. Isso tem levantado uma série de dúvidas: quanto de
cirurgia é adequado? qual o melhor método adjuvante de tratamento e quais são os melhores
métodos de reconstrução cirúrgica nas cirurgias de preservação dos membros?
AMPLA: o plano de dissecção é além da zona reativa, através de tecido normal. O tumor é
removido em bloco dentro do compartimento de origem com nenhuma barreira natural entre a
lesão e a margem. Lesões saltitantes podem ficar inadver-tidamente nas margens, mesmo em
pacientes com lesões intracompartimentais (Fig. 19).
19. Margem cirúrgica ampla (A), na qual a cirurgia é realizada externa
ao tumor,
à pseudocápsula e à zona reativa. TU = tumor; MR = margem reativa.
RADICAL: quando a lesão é removida em bloco com todo o compartimento, com as barreiras
naturais entre a margem da ferida e a lesão em todas as dimensões (Fig. 20)
20. Margem cirúrgica radical (R), na qual a cirurgia é realizada
ressecando
-se todo o compartimento onde estava localizado o tumor.
BENIGNOS MALIGNOS
A - Intracompartimental
B - Extracompartimental
O Comitê Americano Unido (American Joint Committee - AJC) Para o Estadiamento dos
Sarcomas tem utilizado o estadiamento antigo para os sarcomas dos tecidos moles.
Estadiamento do American Joint Committee para os Sarcomas dos
Tecidos Moles
* Tradução e adaptação para a língua portuguesa autorizadas em 26/6/90 pelo Prof. William
Enneking -Distinguished Service Professor of Orthopaedics, Department of Orthopaedics -
College of Medicine, University of Florida, USA
1 - OSTEOMA
Lesão formadora de tecido ósseo, benigna, constituída por tecido ósseo maduro e bem
diferenciado, com uma estrutura predominantemente laminar e de crescimento lento.
Apresenta aspecto radiográfico de adensamento, homogêneo. Os osteomas se desenvolvem
quase que exclusivamente no crânio e na mandíbula e às vezes invadem os seios paranasais
em forma de massas ósseas densas. Acometem as crianças ou adolescentes com freqüência
relativamente baixa. Algumas vezes podem aparecer nos ossos longos como massas ósseas
justacorticais. São lesões benignas latentes e que devem ser acompanhadas clinicamente,
sem necessidade de cirurgia ou qualquer outro tipo de tratamento. O prognóstico é bom, não
havendo nenhum tipo de complicação, exceto naqueles osteomas localizados junto aos seios
da face, quando podem ocasionar compressões extrínsecas
2 - OSTEOMA OSTEÓIDE
É uma lesão osteoblástica, freqüentemente benigna ativa, caracterizada pelo seu pequeno
tamanho (em geral menos do que 1,5 cm), com bordos claramente delimitados e a presença
freqüente, mas não constante, de uma zona periférica de neoformação óssea reativa.
Histologicamente é constituído por um tecido celular muito vascularizado composto por osso
imaturo e tecido osteóide. (21)
CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS
Aparecem sobretudo nas diáfises dos ossos longos, especialmente na tíbia e no fêmur (57%).
Predominam nos adolescentes e adultos jovens. A lesão costuma ser dolorosa, provavelmente
pela presença de fibras nervosas no tumor (88),(90) e não parece aumentar de volume com a
evolução. A queixa clínica típica é uma dor persistente, vaga, que piora à noite e é aliviada
pelos salicilatos. No entanto, outros processos neoplásicos e inflamatórios apresentam dor
persistente, pioram à noite e são aliviados pelos salicilatos. Quando o osteoma osteóide se
localiza em uma diáfise como a da tíbia, especialmente ao longo da borda subcutânea,
tumefação, sensibilidade, eritema e endurecimento são achados clínicos freqüentes. Reação
articular existe quando localizado na região justa-articular e espasmo, torcicolo ou escoliose
quando localizado na coluna.
O osteoma osteóide comum que ocorre na diáfise dos ossos longos apresenta-se como um
nicho radiotransparente oval ou arredondado, com uma zona reacional esclerótica densa ao
redor da lesão (22) (Fig. 21).
22 A 22 B
22 C
23 B
23 A
23 C 23 D
DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL
HISTÓRIA NATURAL
TRATAMENTO
O tratamento do osteoma osteóide consiste na exérese "ampla" do nicho com pequena área de
esclerose a seu redor. Não há necessidade de ressecção de toda a área de esclerose. Os
procedimentos "intracapsulares", que penetram no nicho durante a excisão podem ocasionar
recorrência. A biópsia antes da cirurgia raramente é necessária.
Atualmente têm sido publicadas várias técnicas que tentam a ressecção percutânea do nicho,
localizado com o auxílio da radioscopia e da tomografia computadorizada e removido com
brocas e curetas (3,68,98). No entanto, apesar da baixa taxa de recidiva apresentada com essa
técnica, consideramo-la um método de ressecção intracom-partimental que deve ser utilizado
com extrema cautela.
PROGNÓSTICO
O prognóstico é bom, podendo haver cura com a evolução natural ou com a cirurgia. As
recorrências podem acontecer nos pacientes submetidos a cirurgias intracapsulares ou
marginais.
3 - OSTEOBLASTOMA
É uma lesão benigna ativa com estrutura histológica semelhante à do osteoma osteóide, do
qual se diferencia pelo maior tamanho (geralmente maior do que 1,5 cm), pela habitual
ausência de uma zona periférica de formação óssea reativa e pela maior agressividade.
CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS
Devido à natureza benigna dessas lesões, em geral são bem circunscritas. No entanto, a
destruição óssea pode se mostrar tão agressiva que a lesão pode sugerir um tumor ósseo
maligno. A expansão óssea e a dilatação aneurismática são achados que podem se associar
ao osteoblastoma (Fig. 25)
25 A 25 B
25 C
25. Radiografia de frente (A) e perfil (B) da coluna cervical de um
paciente portado
r de um osteoblastoma da 6ª vértebra cervical. Note o adensamento ósseo
evidenciado na radiografia e na tomografia (C).
TRATAMENTO
4 - OSTEOSSARCOMA
26 A 26 B
26 C 26 D
CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS
Não são freqüentes as fraturas patológicas. Os sintomas costumam estar presentes vários
meses antes do diagnóstico definitivo. Raramente a criança apresenta comprometimento do
estado geral, mesmo nos osteossarcomas de grande tamanho.
OSTEOSSARCOMA
28 A 28 B
O osteossarcoma central é freqüentemente visto como uma lesão destrutiva com bordos
indistintos, que gradualmente destrói a cortical óssea e apresenta invasão extra-óssea.
Quantidades variadas de calcificação e de osso mineralizado estão freqüentemente presentes
dentro da lesão (Fig. 30).
30. Radiografia mostrando o triângulo de Codman
em um osteossarcoma da extremidade distal do fêmur.
A reação periosteal está freqüentemente presente e tem uma aparência de "raios de sol". Pode
haver também o conhecido "triângulo de Codman", que representa o levantamento do
periósteo, ocasionado pelo crescimento do tumor. No triângulo há osso neoformado normal (
Figs. 31 e 32).
31. Radiografia de um corte da peça cirúrgica de um
osteossarcoma do úmero, onde se evidencia a reação
periosteal em raios de sol e a invasão da epífise,
através da placa de crescimento.
32 A 32 B
32 C
32. Radiografia da metade distal do fêmur em frente (A) e perfil (B)
de um paciente portador de osteossarcoma,
e da parte proximal do fêmur e da bacia (C), com comprometimento
disseminado.
33 A 33 B
33 C 33 D
34 C 34 D
DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL
Calo ósseo, osteomielite sub-aguda, miosite ossificante ativa, cisto ósseo aneurismático e
granuloma eosinófilo são algumas das condições benignas que podem facilmente ser
confundidas com o osteossarcoma central. Entre as lesões malignas, o tumor de Ewing, o
fibrossarcoma e o carcinoma metastático são lesões que devem ser consideradas no
diagnóstico diferencial.
ESTADIAMENTO
Um estadiamento cuidadoso deve preceder o tratamento dos tumores do esqueleto (39). Tanto
o estadiamento como a biópsia devem ser realizados pelo cirurgião que irá realizar a cirurgia
definitiva. Freqüentemente biópsias mal realizadas provocam uma extensão
extracompartimental de uma lesão a princípio intracompartimental, formação de hematoma e
complicações na cicatrização da ferida da biópsia (60). No Departamento de Ortopedia da
Escola Paulista de Medicina utilizamos as biópsias percutâneas no diagnóstico dos tumores
ósseos, com uma precisão diagnóstica de 90% com o método (38),(40),(41),(46).
TRATAMENTO
Até por volta de 1975, o tratamento de escolha para o osteossarcoma central era a cirurgia
ablativa (20),(22),(31). O controle local primário da lesão era obtido na maioria dos casos com
a amputação do membro acometido, ou pela desarticulação da extremidade. No entanto, a
sobrevida em cinco anos desses pacientes era de apenas 20%, mesmo nos melhores centros
de tratamento dos Estados Unidos e da Europa, provavelmente porque 80% dos pacientes já
apresentavam, no momento do diagnóstico e da cirurgia, doença microscópica sistêmica.
Após essa época, com a advento de novas drogas quimioterápicas, houve uma mudança no
prognóstico e na sobrevida dos pacientes com osteossarcoma. Atualmente, em nosso meio, a
sobrevida atuarial em 5 anos é de 67%, que se aproxima dos resultados internacionais de
sobrevida livre de doença (73),(76),(80). Isto se deve, além dos novos agentes quimioterápicos,
ao diagnóstico precoce, ao estadiamento preciso e à cirurgia ortopédica, de preservação do
membro, com quimioterapia pré e pós-operatória.
A taxa de recidiva local após um procedimento cirúrgico conservador nos pacientes com
osteossarcoma central é de aproximadamente 7%, em nosso meio.
35 A
35 B
Considera-se a resposta:
36 C 36 D
37 A 37 B
38 A 38 B
38 C 38 D
39 A 39 B
Deve-se lembrar que esta técnica de cirurgia conservadora só está indicada quando garantir ao
paciente uma sobrevida exatamente igual ou melhor do que a amputação. Isto só é possível
nos pacientes em que o tumor é diagnosticado precocemente, apresenta as estruturas neuro-
vasculares adjacentes livres e principalmente não apresenta um grande tamanho. Hoje em dia
sabemos que os pacientes portadores de osteossarcomas maiores do que 12 cm no maior
diâmetro têm uma porcentagem de sobrevida muitas vezes menor do que aqueles pacientes
com osteossarcomas menores do que 12 cm de diâmetro (73).
Uma correlação entre o anticorpo monoclonal Ki-67, determinado pelo Ki-67 LI ("labeling
index") e o grau histológico, foi observada nos osteossarcomas. O índice é mais elevado em
pacientes com osteossarcomas de maior agressividade e que por sua vez responderam melhor
ao tratamento quimioterápico pré-operatório (89).
PROGNÓSTICO
Hoje podemos afirmar que o prognóstico do paciente depende do tamanho do tumor e das
margens cirúrgicas conseguidas. Os pacientes com tumores de diâmetro menor do que 12 cm
apresentaram, em nosso estudo, uma sobrevida de 65% em 5 anos, enquanto que aqueles
com tamanho maior do que 12 cm apresentaram uma sobrevida de 52% em 5 anos. Além
disso, os pacientes que apresentaram tumores menores do que 12 cm foram submetidos em
84% das vezes a cirurgia preservadora do membro, contra apenas 47% dos pacientes com
tumores maiores do que 12 cm (74). Sabemos também que fatores como sexo e localização
anatômica da lesão não estão associados à recidiva local ou ao prognóstico, enquanto que a
porcentagem de indução de necrose pela quimioterapia e as margens cirúrgicas conseguidas
na cirurgia são fatores associados ao controle local (24),(75).
5 - OSTEOSSARCOMA JUSTACORTICAL
Também conhecido como osteossarcoma paraostal, é uma lesão maligna de baixo grau,
diferente do osteossarcoma central e que se caracteriza por ter sua origem na superfície
externa do osso e por sua grande diferenciação estrutural (Fig. 41)
41. Radiografia mostrando aspecto típico de um osteossarcoma
justacortical na região metafisária proximal do úmero.
Estes tumores têm um crescimento relativamente lento e seu prognóstico é diferente daquele
do osteossarcoma central (22).
42 A 42 B
42. Radiografia de frente (A) e perfil (B) de um osteossarcoma
justacortical da extremidade distal do fêmur. Note que não há
comprometimento da região medular do fêmur.
Somente na fase tardia, devido ao seu crescimento e à destruição da cortical óssea, o tumor
acomete a cavidade medular central. Okada (70) demonstrou invasão medular em 22% dos
pacientes e tecido não mineralizado atípico em 51% dos pacientes com invasão dos tecidos
moles ao redor da le são em 46% dos pacientes. É um tumor raro em comparação ao
osteossarcoma central.
Do ponto de vista histológico, o tecido neoplásico está constituído por uma densa massa de
trabéculas ósseas, freqüentemente maduras e laminares, que se fundem com a cortical óssea
contígua, entremeadas com tecido fibroso e às vezes com cartilagem. As células neoplásicas
apresentam pleomorfismo, mas não apresentam atividade mitótica, exceto em uma fase tardia,
quando se produz a invasão dos tecidos adjacentes. O osteossarcoma justacortical pode ter o
diagnóstico diferencial muito difícil com a miosite ossificante, sobretudo nas primeiras fases do
desenvolvimento (22).
Os osteossarcomas justacorticais são lesões malignas de baixo grau e devem ser tratadas
somente por cirurgia. Não indicamos a quimioterapia para essa modalidade de osteossarcoma.
Deve-se proceder a uma ressecção com margens amplas, lembrando que pode haver tecido
não mineralizado neoplásico ao redor da lesão e a substituição por uma endoprótese ou por
auto ou homoenxerto. Da mesma forma que os osteossarcomas centrais, não respondem à
radioterapia. A ressecção incompleta está associada a um risco elevado de recidiva local e a
desdiferenciação, que pode ocorrer em aproximadamente 15% dos casos, está associada a um
prognóstico pior (70).
PROGNÓSTICO
O prognóstico dessas lesões é bom, raramente havendo recorrência após cirurgia realizada
com margens amplas. A sobrevida em 5 anos é de aproximadamente 90%, sendo as mortes na
maioria dos pacientes devidas à desdiferenciação da lesão (70). As metástases pulmonares
são raras.
IV - TUMORES PRODUTORES DE TECIDO CARTILAGINOSO
1 - CONDROMA
CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS
Os encondromas freqüentemente são achado de exame. São lesões benignas latentes que
freqüentemente são diagnosticadas devido a radiografias realizadas por outros motivos. Nas
falanges dos pés e das mãos, nos metacarpos e nos metatarsos, a presença do encondroma é
freqüentemente descoberta devido a uma fratura patológica, geralmente após trauma leve.
As radiografias mostram uma área lítica, ovóide de rarefação, que afila e insufla a cortical
adjacente.
Não costuma haver reação periostal. Nos ossos chatos e na coluna a tomografia axial
computa-dorizada irá proporcionar a visibilização dos detalhes intrínsecos da lesão, entre eles
o aspecto algodonoso da matriz do encondroma.
ESTADIAMENTO
No esqueleto em fase de crescimento os encondromas são lesões benignas ativas B-2. Depois
da maturidade esquelética, essas lesões tendem a se tornar lesões latentes grau B-1. Na vida
adulta a degeneração maligna pode ocorrer, havendo a transformação em condrossarcoma
secundário (Fig. 45).
45. Radiografia mostrando o aspecto típico do condroma,
na falange média do V quirodáctilo.
DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL
O encondroma solitário dos ossos curtos deve ser diferenciado dos cistos epiteliais de inclusão,
dos focos isolados de displasia fibrosa, dos fibromas não osteogênicos e dos cistos ósseos
solitários.
TRATAMENTO
2 - DOENÇA DE OLLIER
A doença de Ollier ou encondromatose múltipla é um defeito não hereditário, caracterizado
pela presença de massas circunscritas de cartilagem, dispostas de forma linear no interior dos
ossos. O epônimo "Doença de Ollier" é utilizado para uma condição na qual a distribuição dos
encondromas é predominantemente unilateral. Trata-se na verdade de uma discondroplasia,
mais do que umaneoplasia verdadeira.(46).
ASPECTOS CLÍNICOS
Os ossos afetados costumam ser arqueados e encurtados, com alargamento das regiões
metafisárias. Os ossos mais afetados são o fêmur e a tíbia (Fig. 48).
48 A 48 B
TRATAMENTO
O tratamento envolve processos como curetagem e enxertia das lesões que estejam causando
deformidade importante, principalmente nos membros inferiores. As osteotomias da
extremidade proximal da tíbia ou distal do fêmur são muitas vezes necessárias para corrigir as
deformidades. Em geral evoluem para consolidação. Muitas vezes são utilizadas as técnicas de
alongamento, juntamente com a correção do alinhamento, principalmente nos membros
inferiores. Atualmente, com a utilização dos fixadores externos, abre-se uma nova perspectiva
no tratamento dessas lesões múltiplas. Não indicamos a epifisiodese do membro contralateral
na tentativa de equalização, por acharmos que essa técnica pode acentuar a baixa estatura
que é comum nesses pacientes, além de ser técnica de resultados controvertidos.
A transformação sarcomatosa pode se desenvolver na vida adulta. Na Mayo Clinic, entre 1907
e 1985, houve 16 transformações em 55 pacientes, o que fala a favor de 30% de chance de
malignização (56). O crescimento localizado e a dor são evidências prováveis de malignização.
Em tais circunstâncias a biópsia com a finalidade de detectar precocemente a malignização é
indicada (84). Há também relatos de múltiplas transformações em um mesmo paciente (58).
3 - OSTEOCONDROMA
O osteocondroma é uma exostose óssea, coberta por uma capa de cartilagem e classificada
como lesão benigna latente (B-1) ou ativa (B-2). Pode ser considerado um defeito do
desenvolvimento em que há um distúrbio na localização e direção da cartilagem encondral de
crescimento, mais do que uma verdadeira neoplasia. A exostose é produzida por uma
ossificação progressiva da capa de cartilagem hialina, que atua como placa de crescimento e
vai deixando à jusante osso esponjoso desorganizado, mas histologicamente normal.
ETIOLOGIA
Parece que a causa mais provável do osteocondroma é a modificação na direção de
crescimento da placa fisária, com protrusão lateral de porções dessa placa, causando o
desenvolvimento de proeminências ósseas, excêntricas e cobertas de cartilagem (35).
INCIDÊNCIA e LOCALIZAÇÃO
ANATOMIA PATOLÓGICA
A lesão pode ser séssil ou pediculada. A exostose é coberta por uma camada fina de
pericôndrio, que é aderente à cartilagem e contínua com o periósteo do osso adjacente. A capa
de cartilagem costuma variar de 1 a 3 mm em espessura. Quanto mais jovem o paciente, mais
espessa é a capa de cartilagem. O interior da exostose é constituído por osso esponjoso
normal, que é contínuo com o osso da metáfise adjacente. Uma bolsa pode se formar sobre o
osteocondroma e geralmente é decorrente do processo inflamatório que ocorre pela irritação
dos músculos e tendões adjacentes. A bolsa pode conter líquido e corpos fibrosos, algumas
vezes calcificados. O exame microscópico revela ossificação endocondral normal; focos de
cartilagem proliferativa são encontrados nas camadas profundas. Pode haver medula óssea
fibrosada, impregnada por detritos de cartilagem calcificada. A medula óssea do interior da
exostose é predominantemente gordurosa (35).
CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS
O osteocondroma é uma exostose, uma projeção óssea com a cortical contínua com a do osso
subjacente, preenchida por osso esponjoso que também é contínuo com o da metáfise.
TRATAMENTO
A simples presença de um osteocondroma solitário não é uma indicação absoluta para sua
ressecção cirúrgica. A ressecção do osteocondroma está indicada quando houver compressão
de nervos, artérias, tendões ou quando a exostose estiver interferindo com o crescimento da
extremidade, levando a alterações funcionais ou mecânicas, ou quando houver irritação da
"bursa". A fratura do osteocondroma pode ocorrer e nessa circunstância pode-se optar pelo
tratamento conservador ou cirúrgico. Durante a cirurgia, a exostose com sua capa cartilagínea
e o pericôndrio devem ser removidos como um bloco, na tentativa de se evitar a recorrência do
processo.
MALIGNIZAÇÃO DA EXOSTOSE
São comuns as recidivas em partes moles que aparecem após a ressecção marginal da
exostose, quando blocos de células cartilaginosas ficam implantados nos tecidos moles. Em
vista disso, a ressecção deve ser feita sem se descolar o pericôndrio da exostose. O periósteo
da base da exostose deve ser incisado, geralmente em forma de elipse, facilitando assim a
ressecção do pericôndrio e do periósteo que recobrem o osteocondroma.
Se uma pessoa cuja família é afetada pela doença não apresentou nenhuma exostose até a
idade de 12 anos, é muito improvável que a exostose venha a se desenvolver mais tarde.
Entretanto, atualmente acredita-se que haja um pequeno risco, aproxima-damente 4%, de que
o paciente apresente filhos comprometidos (87).
Sua incidência varia de 0.9 a 1.4 afetados por 100.000 habitantes até 100 afetados entre
100.000 habitantes em uma pequena e fechada população em Chamorros de Guam, na
Europa (89). Aproximadamente 10% dos pacientes são considerados como casos isolados,
não apresentando história familiar de exostoses (Fig. 53).
Entre os achados clínicos mais freqüentes estão a baixa estatura (aproximadamente 40% dos
pacientes) em relação aos indivíduos normais da família, valgismo a nível do joelho e
tornozelo, assimetria das cinturas pélvica e escapular e o encurtamento ulnar do antebraço,
acompanhado de desvio ulnar do punho (deformidade de Bessel-Hagen) (45). Aproxima-
damente 75% dos pacientes apresentam uma deformidade óssea reconhecível, mais
comumente envolvendo o joelho (95%), o antebraço (85%) ou o tornozelo (80%) (Fig. 54)
5 - CONDROBLASTOMA
Também conhecido como Tumor de Codman, é um tumor benigno, classificado como benigno
ativo (B-2) e que se caracteriza por um tecido muito celular e relativamente indiferenciado,
constituído por células redondas ou poligonais, semelhantes aos condroblastos, e por células
gigantes multinucleadas do tipo osteoclástico, isoladas ou em grupos. Em geral se encontra
pouco material intercelular, mas é típica a presença de pequenas quantidades de matriz
cartilaginosa intercelular com zonas de calcificação focal (22).
CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS
As lesões costumam acometer a epífise dos ossos longos, em contato com a placa epifisária
cartilaginosa, progredindo às vezes até a metáfise contígua. Os locais mais freqüentemente
acometidos entre nossos pacientes foram a epífise proximal da tíbia, distal do fêmur e proximal
do úmero. Raramente podem acometer ossos chatos ou o talo e o calcâneo. O tumor ocorre na
fase tardia da adolescência, entre os 10 e 17 anos. Devido à localização epifisária, a queixa
articular é freqüente. Alguns pacientes podem apresentar como primeiro sinal o derrame
sinovial. No entanto, a invasão da articulação ocorre em apenas 10% dos casos.
São comuns as áreas de calcificação moteada. A cortical óssea da região pode estar insuflada
e o osso subcondral destruído, dando a impressão de a lesão se abrir para a articulação (Fig.
55).
55. Aspecto radiográfico típico de um
condroblastoma localizado na epífise proximal do úmero.
TRATAMENTO
57 C
58 A 58 B
58 C 58 D
58 E 58 F
58 G 58. Radiografia de frente (A) e
perfil (B) de um
condroblastoma localizado na
epífise distal do
fêmur. Note que a lesão está
totalmente
localizada na epífise, sem
comprometimento
da placa de crescimento. O paciente
não foi
tratado e na evolução da lesão
pode-se notar
em (C) e em (D) o crescimento da
lesão, com
destruição de parte da placa de
crescimento e
invasão da metáfise, como se pode
evidenciar
através da ressonância magnética em
(E), (F)
e (G).
6 - CONDROMA FIBRO-MIXÓIDE
É uma lesão cartilaginosa, classificada como benigna ativa (B-2), na qual o tecido cartilaginoso
é entremeado com áreas de tecido mixóide e fibroso. Parece que o tecido mixomatoso aparece
devido à necrose do tecido condróide, enquanto que o tecido fibroso é o resultado da
reparação das áreas degeneradas (22). É a lesão cartilaginosa benigna mais rara. No estudo
da proteína S-100 encontra-se uma menor quantidade nesta lesão do que nos condromas,
osteocondromas e nos condrossarcomas de baixo grau.
CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS
O tumor acomete crianças na puberdade e adolescência. A localização principal é o membro
inferior, sendo a tíbia acometida em aproximadamente metade dos pacientes, seguida pelo
fêmur, metatarso e calcâneo. A queixa clínica é mínima ou inexistente. O paciente refere leve
dor na região acometida, podendo às vezes aparecer um discreto edema.
60 A 60 B 60 C
60 D 60 E 60 F
60 G 60. Radiografia de
frente (A) de um
fibroma
60 H condromixóide
localizado na
metáfise proximal
da tíbia. Note que
não há
comprometimento
aparente da
placa de
crescimento e não
há invasão
da fise. O
paciente não foi
tratado e
nota-se em (B),
(C) e (D) a
evolução da
lesão com
destruição da
placa de
crescimento e
invasão da
epífise. O
paciente foi
tratado com
curetagem e
colocação de
enxerto de banco
(E) e
(F). Em alguns
meses houve a cura
do
processo com
integração do
homo-enxerto
(G) e (H),
restando, no
entanto, a seqüela
do valgismo da
tíbia devido à
lesão da placa
de crescimento
pelo tumor
TRATAMENTO
7 - CONDROSSARCOMA
Do ponto de vista de diagnóstico por imagem, a lesão é caracterizada por uma expansão da
porção medular do osso, espessamento da cortical e principalmente irregularidade e ondulação
endosteal. O aparecimento de calcificações algodonosas ou anelares é freqüente. O
aparecimento de massas em partes moles é também freqüente. A tomografia axial computa-
dorizada e a ressonância nuclear magnética são de importância para a avaliação da extensão
intra-óssea e da massa de partes moles (Figs. 64 e 65).
CONDROSSARCOMA SECUNDÁRIO
TRATAMENTO
Na região dos ossos da pelve, as hemipelvectomias internas estão muitas vezes indicadas. Na
cintura escapular, as ressecções amplas, como a cirurgia de Tikhoff-Linberg modificada, são às
vezes necessárias. Esse procedimento está indicado quando as estruturas neuro-vasculares
na região dos vasos braquiais não estão envolvidas pelo tumor. Essa técnica consiste na
ressecção ampla da região proximal do úmero, que inclui a remoção extra-articular da
articulação gleno-umeral. A área pode ser reconstruída por meio de uma endoprótese não
convencional ou osso homólogo de banco. Alternativamente, pode-se utilizar a artrodese com o
auxílio de osso de banco (61).
Em nossa opinião o tumor de células gigantes é uma entidade benigna agressiva, mas "não
maligna" e deve ser tratada como tal, tanto no tratamento inicial como nas recorrências.
66A 66 B
66 C
CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS
São tumores de aspecto osteolítico, que destroem toda a epífise, chegando até a cartilagem
articular. O aspecto, na maioria das vezes, é de agressividade radiológica. Na evolução, o
tumor insufla o osso cortical epifisário, invade a região metafisária e acaba por levar à fratura
da extremidade óssea (Figs. 68 e 69).
69 A 69 B
69. Radiografia em frente e perfil de um tumor de células gigantes da
extremidade proximal da tíbia.
Os tumores de células gigantes podem ser bem delimitados ou não. No entanto, anéis ou halos
de esclerose são extremamente raros e, se presentes, sugerem outros diagnósticos. A
neoformação óssea periosteal é extremamente rara na ausência de fratura patológica. Uma
lesão grande pode perder sua excentricidade e crescer até envolver todo o osso. Nessa fase
pode invadir, insuflar e destruir a cortical, invadindo os tecidos moles. Na coluna vertebral
aparecem como lesões líticas puras, acometendo o corpo vertebral, às vezes insuflando o osso
(o osteoblastoma e o cisto ósseo aneuris-mático são mais freqüentes no arco neural) (Fig. 70).
70 A 70 B
70. Radiografia de frente (A) e perfil (B) da extremidade distal da
ulna
de um paciente portador de um tumor de células gigantes.
I - quiescente e intra-ósseo
II - ativo com periósteo intacto
III - agressivo, com invasão dos tecidos moles
71 A 71 B
71C 71D
TRATAMENTO
Devido à freqüente localização do TCG junto à articulação, o desafio é remover todo o tumor e
preservar ou restaurar a função da articulação adjacente.
Nos ossos "dispensáveis", tais como a fíbula, ulna, costelas, ossos da mão e do pé, uma
ressecção completa pode ser feita com pequena ou nenhuma seqüela funcional.
Infelizmente, cerca de 50% dos TCG são localizados na região do fêmur distal e da tíbia
proximal e uma ressecção obriga a uma reconstrução do tipo artrodese ou a substituição por
um homo-enxerto ou uma endoprótese.
1. remoção do tumor e
Remoção do Tumor
A. CURETAGEM DA LESÃO
É a abordagem da lesão através de uma grande janela cortical com remoção cuidadosa,
através da curetagem, de todo o tecido macroscopicamente neoplásico. A utilização de
motores elétricos com brocas de diferentes formas auxilia na melhor remoção dos tecidos. Veja
o gráfico abaixo:
B. RESSECÇÃO/CURETAGEM
C. RESSECÇÃO AMPLA
72 A 72 B
72. Aspecto macroscópico da radiografia (A) e de uma peça cirúrgica
(B)
de um tumor de células gigantes da extremidade distal do rádio.
D. AMPUTAÇÃO
É uma indicação rara, somente para lesões avançadas, nas quais há maciça destruição óssea,
perto de grandes articulações, especialmente após múltiplas recorrências, infecção secundária
ou degeneração maligna.
E. RADIOTERAPIA
Indicada somente para lesões avançadas, nas quais há maciça destruição óssea, múltiplas
recorrências ou infecções secundárias e nas degenerações malignas. Muitas vezes é o único
método de que dispomos para o tratamento dos tumores de células gigantes recidivados na
coluna vertebral ou no sacro, que acometem vários segmentos vertebrais. Além dessas
situações, contra-indicamos veementemente a radioterapia no tratamento dos tumores de
células gigantes.
Deve-se lembrar que a maior parte dos tumores de células gigantes que apresentaram
transformação maligna, seja para fibro-hisciocitoma ou para fibrossarcoma, foram tumores que
receberam a radioterapia como forma de tratamento.
F. EMBOLIZAÇÃO
A. AUTOENXERTO
É técnica que utilizamos para a reconstrução de pequenos defeitos criados pelo tratamento dos
tumores de células gigantes de grau I de Campanacci. Deve-se sempre levar em consideração
o risco de implantação de tumor de células gigantes na área doadora e por isso a cirurgia de
obtenção do enxerto deve ser feita antes de se iniciar a cirurgia do tumor. NUNCA deve ser
realizada concomitante ou posteriormente à abordagem do tumor, mesmo que realizada por
equipes diferentes. Devido ao grau avançado em que os tumores chegam ao nosso Serviço,
raramente podemos utilizar esse método de reconstrução.
B. HOMOENXERTO
C. ARTRODESE
E. METILMETACRILATO
É o cimento ósseo, que pode ser utilizado para preenchimento do defeito criado, no lugar do
auto ou homo-enxerto. Existem várias técnicas que são utilizadas para o tratamento das
paredes da lesão após a curetagem, entre elas a utilização do fenol, o congelamento com
nitrogênio líquido, a cauterização com o termo-cautério e outros. Em nosso Serviço, utilizamos
a cauterização das paredes após a curetagem, seguida do preenchimento com o cimento
acrílico. Acreditamos que a alta temperatura do cimento (100 graus Celsius), atua como um
elemento cauterizador das paredes curetadas, destruindo as células da periferia da lesão. Há
também uma reação química que é tóxica para as células neoplásicas.
No entanto, se a lesão inicial é grande, tem uma aparência agressiva com rotura da cortical,
uma ressecção completa é indicada. Infelizmente, a maioria dos tumores apresenta-se na zona
média entre ser pequeno e inteiramente intra-ósseo e ser grande com destruição da cortical.
Tais tumores requerem considerável julgamento, planejamento e bom senso. Devemos sempre
indicar a opção mais segura: "trata-se de um tratamento oncológico".
Recorrência e Recidiva
Os TCG recidivam com freqüência quando tratados com curetagem simples. Em nosso Serviço
utilizamos a curetagem somente nos tumores de grau I de Campanacci, seguida de
cauterização exaustiva da lesão e a utilização do cimento acrílico de polimetilmetacrilato. Com
isso, procuramos transformar as margens cirúrgicas de marginais em amplas. A recorrência,
que ocorreu em 17% de nossos pacientes, manifestou-se em um período de 2 anos após a
cirurgia, com pico de incidência aos 8 meses de pós operatório.
O único fator que certamente tem influência no aumento da taxa de recorrência é a qualidade
da cirurgia. A curetagem ou a ressecção, mal indicadas ou mal realizadas, independentemente
do método de reconstrução utilizado, vão levar a uma maior taxa de recidiva local. Um fato de
extrema importância que apareceu em nosso material é o fato da maior taxa de metástases
pulmonares nos tumores de células gigantes que apresentaram extensão para os tecidos
moles.
Metástases
Vários casos de tumor de células gigantes com metástases pulmonares têm sido relatados.
Embora nenhum paciente tenha morrido devido a essa condição, os pacientes podem
apresentar centenas de pequenas lesões nos pulmões.
Nos pulmões, estas lesões metastáticas são vistas histologicamente como células gigantes
típicas, que produzem osso em sua periferia.
PROGNÓSTICO
As recorrências devem ser tratadas de forma mais cuidadosa, com cirurgias mais agressivas.
Embora seja descrita na literatura a transformação do tumor de células gigantes para
fibrossarcoma ou fibro-histiocitoma maligno, principalmente após várias recidivas, não temos
nenhum caso de transformação em nosso Serviço.
1 - TUMOR DE EWING
Em 1921, Ewing descreveu um tumor que foi classificado como endotelioma difuso do osso.
Subseqüentemente o tumor foi chamado de Sarcoma de Ewing e hoje em dia se questiona se
é realmente um sarcoma, sendo, a nosso ver, a melhor denominação a de "Tumor de Ewing".
CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS
1. INCIDÊNCIA
2. IDADE E SEXO
O tumor costuma acometer os indivíduos dos 5 aos 15 anos de idade sem predileção por sexo
em nossa casuística.
É o tumor ósseo maligno que acomete os indivíduos na menor faixa etária. No entanto, se o
diagnóstico de Ewing é suspeitado antes dos 5 anos, o diagnóstico diferencial com linfoma ou
metástase de neuroblastoma deve ser realizado.
3. LOCALIZAÇÃO
4. SINTOMATOLOGIA
A dor e a presença de tumor visível ou palpável são os sintomas mais comuns. Tanto a dor
como o tumor costumam ser progressivos. Algumas vezes os sintomas podem persistir por
meses antes de se descobrir a verdadeira natureza do problema. Febre baixa, fratura
patológica ou sintomas como gripe, mal-estar, cansaço, fraqueza podem estar presentes e
retardar o correto diagnóstico.
5. LABORATÓRIO
As radiografias mostram uma lesão salpicada ou semelhante a um padrão de roído por traças,
com características permeativas no osso (Fig. 74).
74. Aspecto radiográfico característico
do tumor de Ewing localizado na diáfise
da fíbula.
Áreas líticas ao lado de áreas blásticas são comuns. Enquanto a destruição lítica é o achado
mais comum, a neoformação óssea reacional produz áreas adensadas. Pode haver múltiplas
camadas de osso neoformado reacional subperiostal, que dão uma aparência de "casca de
cebola", característica de lesões de extrema gravidade e agressividade, mas não
patognomônicas do Tumor de Ewing (Fig. 75).
75. Aspecto típico da reação periosteal
em casca de cebola que é freqüente
no tumor de Ewing.
76 A 76 B
76. Radiografia de frente (A) e perfil (B) de um paciente portador
de um tumor de Ewing da extremidade proximal do fêmur. Note a
reação em casca de cebola e o comprometimento irregular da medula
óssea.
A TAC e a RNM são de valia no diagnóstico do comprometimento de partes moles, assim como
na avaliação da extensão intramedular do tumor. A cintilografia do esqueleto auxilia no estudo
da extensão do comprometimento ósseo e na pesquisa de metástases.
ANATOMIA PATOLÓGICA
Na maioria dos pacientes o tumor rapidamente se estende além dos limites da cortical,
rompendo as barreiras naturais do compartimento. O tumor pode ser sólido ou semilíquido ou
ter aspecto de pus. Devido a isso, acreditamos que todo material retirado de uma osteomielite
deva ser enviado para exame anatomopatológico, além da cultura. As áreas de hemorragia e
necrose são comuns. Na histologia encontramos muito pouco estroma entre as células, que se
apresentam de forma monótona e numerosa. As células são redondas com núcleos redondos
(Fig. 77).
TRATAMENTO
A sobrevida dos pacientes com tumor de Ewing antes dos anos 70 era de 0 a 20% em 5 anos
(82). A partir de 1971 o "Intergroup Ewing's Sarcoma Study" (12), começou a apresentar bons
resultados de sobrevida e controle local da doença, com a utilização de esquemas de
poliquimioterapia pré-operatória seguida de cirurgia e quimio ou radioterapia pós-operatória. As
drogas mais utilizadas são vincristina, actinomicina-D, ciclofosfamida e adriamicina
(doxorrubicina), que compõem o "VACA ou VAC" (69). Atualmente a ifosfamida tem sido
utilizada em nosso meio como uma das drogas do esquema de poliquimioterapia do Tumor de
Ewing.
1. TRATAMENTO CIRÚRGICO
A maior parte dos tumores de Ewing estende-se além dos limites do osso, para as partes
moles adjacentes. Essa área, assim como a cortical destruída pelo tumor e o material intra-
ósseo, devem ser biopsiados. Em nosso protocolo de diagnóstico das lesões suspeitas de
tumor de Ewing sempre utilizamos a biópsia percutânea, com trefinas de pequeno calibre (2,5 a
3,5 mm). O material obtido costuma ser suficiente para o correto diagnóstico.
Quando se prefere utilizar as biópsias abertas, deve-se a todo custo evitar as incisões
transversas, as dissecações e a criação de defeitos ósseos que aumentem o risco de fratura.
Alguns pacientes apresentam um quadro clínico que não se distingue daquele da osteomielite,
podendo apresentar dor, febre intermitente, velocidade de hemossedimentação elevada e
aparência radiográfica que sugere uma osteomielite. No momento da biópsia, material de
aspecto purulento pode ser encontrado e a lesão ser totalmente confundida com a osteomielite.
Devido a isso, orientamos os cirurgiões ortopedistas a sempre enviarem o material cirúrgico
para cultura e anatomopatológico, mesmo que pareça evidente e certo o diagnóstico
macroscópico de osteomielite.
3. RADIOTERAPIA
Em nosso protocolo de tratamento, indicamos a radioterapia sempre que houver suspeita, após
a cirurgia, de tumor remanescente ou quando as margens se mostraram exíguas ou
contaminadas no estudo da peça. Tratamos todo o osso envolvido com 5000 cGy, dependendo
da idade do paciente. Podemos utilizar na área central do tumor doses de até 7000 cGy. Os
tumores de Ewing são rádio-sensíveis e, em geral, respondem totalmente ao tratamento
radioterápico. No entanto, devemos proteger as fises de crescimento, pois a irradiação é lesiva,
levando a alteração do crescimento das extremidades.
PROGNÓSTICO
A sobrevida global do tumor de Ewing em nosso Serviço é de 77% em 5 anos, livre de doença,
porcentagem que tende a crescer com o diagnóstico precoce e com as melhores técnicas de
tratamento quimioterápico, cirúrgico e radioterápico.
2 - LINFOMA ÓSSEO
Esta lesão foi descrita pela primeira vez por Parker e Jackson em 1939 (72). Antes disso, a
lesão estava agrupada com o tumor de Ewing. No entanto, as características clínicas, os
achados patológicos e o prognóstico são diferentes para os pacientes com linfoma e para os
pacientes com tumor de Ewing. A denominação "reticulossarcoma" era utilizada
freqüentemente para descrever esse tumor. Contudo, o termo linfoma é preferível. A maioria
dos linfomas ósseos consiste em uma mistura de células. As leucemias linfocíticas pouco
diferenciadas e a doença de Hodgkin também atingem o osso; por isso "linfoma" é o termo
preferível para todo o grupo. Cerca de 40% de todos os linfomas ósseos são aparentemente
primários do osso. A avaliação pré-operatória é necessária, para se excluir a possibilidade de
doença sistêmica ou metastática. Se os estudos de estadiamento não revelarem evidências de
alguma doença adicional, o tumor pode ser considerado primário. Se outras sedes de
envolvimento forem encontradas, a lesão óssea deve ser considerada secundária (100) (Fig.
80).
A distribuição etária dos pacientes com linfoma ósseo primário é a mesma dos linfomas de
outras localizações; isto é, a maioria dos pacientes são adultos de meia idade ou idosos. O
linfoma ósseo é raro em crianças. A doença óssea se manifesta como dor localizada, difusa ou
mesmo como fratura patológica. No exame radiográfico, a lesão aparece como uma área lítica,
irregular e sem limites precisos de destruição óssea, de aspecto moteado e permeativo,
podendo acometer qualquer osso do esqueleto. Pode se apresentar como um achatamento de
várias vértebras, ou haver espessamento e expansão do osso (Fig. 81)
81 A 81 B
81. Radiografia (A) e tomografia computadorizada (B) da bacia de uma
paciente portadora de linfoma de todo o ilíaco.
3 - MIELOMA MÚLTIPLO
É um tumor maligno que costuma ser múltiplo ou difuso e se caracteriza pela presença de
células redondas do tipo células plasmáticas (plasmócitos), com diferentes graus de
imaturidade e inclusive com células atípicas. A lesão freqüentemente é acompanhada da
presença de proteínas anormais no sangue e na urina (proteína de Bence-Jones) e às vezes
de substâncias amilóides ou para-amilóides, que se depositam no tecido ósseo ou em outros
órgãos, principalmente no rim.
CARACTERíSTICAS CLíNICAS
A maior parte dos mielomas provoca lesões ósseas múltiplas, constituindo uma das patologias
malignas mais freqüentes do esqueleto. Costuma acometer indivíduos acima dos 50 anos de
idade e as localizações mais comuns são a coluna vertebral, a pelve, as costelas, o esterno e o
crânio (Fig. 83)
83 A 83 B
83 C
LABORATÓRIO CLÍNICO
Para o diagnóstico de mieloma pelo sangue periférico, devem-se encontrar mais do que 20%
de células plasmáticas. A punção esternal ou a biópsia do ilíaco são freqüentemente indicadas
para o diagnóstico. A presença de mais do que 5-10% de plasmócitos grandes com um ou
mais nucléolos atípicos é conclusivo de mieloma.
As lesões se apresentam como zonas de osteólise focal ou como áreas de substituição difusa
da medula óssea pelo tumor (massa de plasmócitos), sem provocar alteração da estrutura
óssea. Raramente encontra-se uma lesão óssea aparentemente solitária com estrutura de
mieloma.
TRATAMENTO
O prognóstico dos pacientes com lesões múltiplas é extremamente reservado, com sobrevida
em dois anos menor do que 50%, conseqüente geralmente de lesão renal.
A radioterapia pode ser utilizada como tratamento para as lesões ósseas, com bons resultados,
principalmente nas lesões que apresentam risco iminente de fratura.
1 - FIBROSSARCOMA
Os achados clínicos são semelhantes aos dos osteossarcomas, com história de dor, limitação
dos movimentos da articulação e massas, de longo tempo de duração. A fratura patológica é
uma complicação freqüente, mais do que no osteossarcoma.
TRATAMENTO
A cirurgia é o tratamento de escolha, uma vez que o tumor não responde à radioterapia. Nos
casos de tumores bem anaplásicos. a quimioterapia pode estar indicada como tratamento neo-
adjuvante no pré-operatório. O esquema utilizado é semelhante ao utilizado para o
osteossarcoma. Sabe-se, no entanto, que freqüentemente não há boa resposta. Nesses casos,
após o 1º ou 2º ciclo já se submete o paciente à cirurgia, que pode ou não, de acordo com a
localização, ser preservadora do membro. As técnicas mais utilizadas são as ressecções e a
substituição por endopróteses não convencionais. A radioterapia não se mostrou de valia
nesses tumores.
PROGNÓSTICO
A taxa de sobrevida global varia nos melhores Serviços de 30-40%, sendo tanto melhor quanto
mais bem diferenciado é o tumor (média de 60% em 5 anos). As metástases pulmonares se
desenvolvem em aproximadamente 70% dos pacientes.
2 - FIBRO-HISTIOCITOMA MALIGNO
O fibro-histiocitoma maligno intra-ósseo é um tumor raro, que vem sendo cada vez mais
descrito e estudado pelos patologistas e com várias semelhanças em comportamento e
histologia ao fibrossarcoma de alto grau.
Pode acometer indivíduos de qualquer idade e principalmente nos ossos longos ao redor do
joelho. O aspecto radiográfico é indistinguível do fibrossarcoma.
1 - HEMANGIOMA
Lesão benigna, do grupo das lesões vasculares, constituída por vasos sanguíneos neo-
formados. Algumas dessas lesões são malformações, enquanto que outras, por causa do
crescimento com características de neoplasia, são consideradas como verdadeiros tumores
benignos. Aparecem freqüentemente nas vértebras, geralmente sem nenhuma sintomatologia
clínica, ou no crânio, onde podem produzir a imagem clássica em "raios de sol". Na maioria das
vezes não necessitam de tratamento, mas sim de seguimento periódico.
2 - HEMANGIOENDOTELIOMA
Lesão de baixo grau de malignidade, invasiva, mas que praticamente não apresenta
metástases, caracterizada pela presença de cordões celulares maciços e estruturas endoteliais
vasculares. As células endoteliais costumam ser proeminentes e grossas, mas o tumor não
apresenta as carac-terísticas histológicas francamente malignas do angiossarcoma.
Tem-se observado no esqueleto alguns tumores com uma estrutura histológica semelhante à
do hemangiopericitoma dos tecidos moles. No entanto, não se conseguiram estabelecer
critérios histológicos precisos e satisfatórios para o diagnóstico, nem para sua diferenciação
com o hemangio-endotelioma. A estrutura essencialmente vascular desses tumores se põe
muito evidente mediante a coloração das fibras de reticulina.
IX - OUTROS TUMORES
1 - CORDOMA
É um tumor raro que parece derivar de áreas da notocorda primitiva. Pode localizar-se em
qualquer lugar ao longo da coluna vertebral, mas é encontrado em 70% das vezes na região
sacro-coccígea e em 25% das vezes na coluna, junto ao crânio.
CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS
O cordoma raramente se manifesta antes dos 30 anos de idade. A queixa mais freqüente é a
dor na região lombar ou na nádega. Geralmente a dor tem meses de duração. Sintomas
urinários e intestinais podem ocorrer quando o tumor comprime as estruturas pélvicas ou raízes
nervosas regionais. Geralmente apresentam-se com destruição da parede anterior do sacro e
produzem uma massa pré-sacral.
Não é fácil obter radiografias de qualidade do sacro e isso muitas vezes retarda o diagnóstico.
Além disso, a presença de gases e fezes na região pode dificultar a visibilização da área de lise
(Fig. 87).
ANATOMIA PATOLÓGICA
O cordoma é um tumor que varia em consistência de sólido até mucóide. O tecido que se
estende para a área pré-sacral é geralmente coberto pelo periósteo. Áreas de calcificação focal
ou mesmo de ossificação podem estar presentes. As células fisalíferas com vacúolos
citoplasmáticos contendo muco são comumente encontradas e patognomônicas do cordoma.
TRATAMENTO
A ressecção em bloco com uma margem de tecido normal é o objetivo ideal do tratamento
cirúrgico, mas dificilmente conseguido. Freqüentemente há necessidade de uma cirurgia com
dupla via de acesso, abdominal e sacral. No primeiro tempo procede-se ao descolamento do
reto da região pré-sacral, através de uma via de acesso abdominal anterior e no segundo
tempo, durante o mesmo ato operatório, à abordagem posterior para a ressecção do sacro com
o cordoma.
Nosso protocolo de tratamento é o da ressecção completa do cordoma, com margens de
segurança, independentemente das raízes nervosas que devam ser sacrificadas. De uma
maneira geral, a preservação unilateral da raiz de S-2 é compatível com um razoável controle
esfincteriano, vesical e manutenção da potência sexual.
87 A
87 B
2 - ADAMANTINOMA
É um tumor raro dos ossos longos que tem seu nome devido à semelhança histológica com o
adamantinoma do maxilar inferior, apesar de não existir nenhuma relação entre ambos. Por
isso, seria preferível denominá-lo angioblastoma maligno.
SINAIS CLÍNICOS
A maior incidência é dos 25 aos 50 anos. A principal queixa é a dor, seguida de tumefação,
com o habitual antecedente traumático. Geralmente é uma lesão de baixo grau de malignidade,
raramente dando metástases (pulmões e gânglios linfáticos).
ANÁTOMO-PATOLÓGICO
São mais comuns as lesões tibiais, mas há descrições de pacientes com lesões na fíbula e no
fêmur. Na tíbia, costumam localizar-se na diáfise, com áreas líticas arredondadas, de bordos
escleróticos. Pode haver alargamento ósseo. Pode haver imagem de bolhas de sabão,
insuflando a cortical óssea (Fig. 88).
TRATAMENTO
É uma lesão pseudotumoral, classificada como benigna ativa e caracterizada por uma cavidade
repleta de um líquido claro ou sanguinolento, revestida por uma membrana de espessura
variável, constituída por tecido conjuntivo vascular frouxo em que se podem observar células
gigantes osteoclásticas disseminadas e, às vezes, restos de hemorragias recentes ou antigas
ou depósitos de colesterol. No tecido da parede do cisto se observam com freqüência bandas
ou massas de material fibrinóide ou de tecido conjuntivo hialino ou calcificado e,
ocasionalmente, trabéculas ósseas. As fraturas costumam modificar as características macros-
cópicas e microscópicas das lesões. Eventualmente podem-se encontrar verdadeiros septos
ósseos, principalmente nos casos que já sofreram fraturas anteriormente.
Os cistos ósseos solitários aparecem na infância e adolescência e têm predileção pela metáfise
proximal do úmero e do fêmur (Figs. 89 e 90).
Após a adolescência, o calcâneo e a pelve são as localizações mais freqüentes, além das
lesões que acometem as diáfises dos ossos longos (Figs. 91, 92 e 93).
91 A
91 B
92 A 92 B
92 C
A taxa de recorrência das fraturas na EPM foi de 22% (50) nos membros superiores tratados
pelo método conservador e nesses casos apenas uma refratura ocorreu. Nos membros
inferiores a curetagem com enxertia foi acompanhada com imobilização gessada até a
integração radiológica dos cistos.
O nome "cisto ósseo aneurismático" traz confusões, pois a lesão não é nem um aneurisma,
nem tampouco um cisto ósseo. Sua histologia revela canais ou lacunas que freqüentemente
contêm sangue, mas algumas delas podem conter líquido claro (sinovial?). As superfícies de
corte da lesão têm uma aparência de "tecido esponjoso", sem conter tecido elástico ou músculo
liso, característico dos vasos sanguíneos.
CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS
A queixa de dor no local, de várias semanas ou meses de duração, costuma estar presente. Se
o osso envolvido é superficial, um leve abaulamento doloroso pode ser palpável. Quando perto
de uma articulação, algum grau de comprometimento articular pode existir. Na coluna vertebral,
com o aumento progressivo da lesão, a compressão das raízes e da medula pode dar sintomas
como fraqueza e distúrbios sensitivos nos membros.
A biópsia do cisto ósseo aneurismático deve ser feita com cuidado. Indicamos a biópsia
percutânea, desde que se tenha um conjunto de agulhas de várias formas e calibres e que
possibilitem a colheita de material das paredes internas da lesão (40),(46). Freqüentemente a
biópsia percutânea, quando realizada sem o instrumental adequado, consegue para exame
anatomopatológico somente coágulos sanguíneos.
DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL
97 A 97 B
97 C
TRATAMENTO
A embolização pré-operatória do cisto com molas cirúrgicas, Ivalon(R) ou Gelfoam(R), tem sido
utilizada em nosso Serviço com sucesso. A técnica consiste em se obstruir, com a
embolização, as artérias que nutrem o cisto e, com isso, alguns dias após à embolização,
conseguir uma cirurgia com menor sangramento, facilitando a técnica operatória e conseguindo
obter melhores margens. A técnica de embolização não pode ser utilizada como método de
tratamento definitivo, porque em poucos dias há uma recanalização das artérias e
revascularização do cisto.
Da mesma forma que outras lesões benignas e pseudo-tumorais, a químio e a radioterapia são
contra-indicadas, uma vez que não apresentam nenhum efeito sobre células que não estejam
em divisão celular ou apresentem mitoses. Marcove e Healey (62) apresentaram um caso de
transformação sarcomatosa em um cisto aneurismático submetido à irradiação, o que
correspondeu a uma taxa de 9% de malignização. Farsetti relata um caso de lesão da placa de
crescimento com deformidade esquelética e que correspondeu a 33% de lesão em sua série
(30).
O risco de recorrência depende das margens conseguidas. As cirurgias marginais, desde que
com bom preenchimento com auto ou homoenxerto, têm mostrado pequena taxa de
recorrência. Contra-indicamos a utilização de cimento acrílico no cisto ósseo aneurismático.
Alguns autores têm mostrado bons resultados com a utilização de nitrogênio líquido.
A taxa de cura na EPM gira em torno de 85%, com 15% de recorrência resolvidos em uma
cirurgia de revisão. A recorrência aparece com uma média de 8 meses após o procedimento
inicial. Apesar da taxa de recorrência relativamente alta, não indicamos procedimentos mais
agressivos para esta lesão (Figs. 98 e 99).
98 A 98 B
98 C
99 B
É uma lesão pseudo-tumoral benigna latente B-1 e raramente benigna ativa B-2, caracterizada
pela presença de um tecido fibroso, disposto em rodamoinhos, nos quais se podem observar
numerosas células gigantes multinucleadas, pigmento de hemossiderina e histiócitos repletos
de lipídios (22). Sua etiologia é obscura.
Em estudo radiográfico, Caffey (13), demonstrou que os defeitos corticais podem ser
encontrados em 30 - 40% das crianças com menos de 2 anos de idade, mais freqüentemente
na metáfise distal do fêmur.
102 A 102 B
Tanto os defeitos corticais como os fibromas não ossificantes podem ser múltiplos,
acometendo um ou vários ossos(28).
103. Radiografia de perfil da articulação do
joelho de um paciente portador de um fibroma não
ossificante da extremidade proximal da tíbia e que
apresentou como primeira manifestação a fratura.
TRATAMENTO
Como essas lesões fibrosas são auto-limitadas, a cirurgia é raramente indicada. Por outro lado,
os grandes fibromas não ossificantes ocasionalmente causam repetidas fraturas patológicas.
Sob essas circunstâncias, a cirurgia intralesional, com ou sem enxerto ósseo, está indicada. A
químio e a radioterapia, como em outras lesões benignas, estão contra-indicadas (Fig. 104).
SÍNDROME DE JAFFE-CAMPANACCI
Em 1983, Campanacci (14) chamou a atenção para a associação de fibromas não ossificantes
múltiplos e manchas café-com-leite, retardo mental, hipogonadismo e anomalias oculares e
cardio-vasculares. Diversos pacientes haviam sido descritos por Jaffe(38). Embora a maioria
das anomalias esqueléticas regridam, o crescimento local agressivo foi referido (65).
104 A 104 B
104 C 104 D
104 E 104 F
104 G
As lesões podem ser solitárias ou múltiplas. Quando múltiplas, fazem parte da síndrome de
Hand-Schüller-Christian ou da Enfermidade de Letterer-Siwe (9). Todos esses processos
podem ser manifestações de um mesmo transtorno básico, designado às vezes de histiocitose-
X ou reticuloendoteliose.
Há certa discussão na literatura quanto ao fato de estas síndromes clínicas poderem ser
agrupadas como uma mesma entidade. Daneshbod e Kissane(17), estudando os achados
patológicos, os achados clínicos e o prognóstico, propuseram que a histiocitose-X
apresentasse pelo menos duas diferentes formas: a primeira, disseminada (Letterer-Siwe), que
acomete dois ou mais órgãos, ocorria em crianças com menos de 3 anos de idade, com um
prognóstico extremamente pobre, independente do tratamento instituído; a segunda forma
apresentava-se de forma benigna no curso clínico e ocorria em crianças de maior idade (após
os 3 anos), não apresentando doença sistêmica. Nesta forma o prognóstico seria bom, não
havendo necessidade de terapêutica sistêmica. A lesão poderia regredir espontaneamente,
independentemente do tratamento realizado (excisão, curetagem ou a simples biópsia).
CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS
O diagnóstico diferencial com tumor de Ewing e osteomielite deve sempre ser lembrado. A dor
na região afetada do osso costuma estar presente com semanas ou meses de duração. Pode
haver hipotrofia do membro e marcha claudicante. Pode haver fratura patológica e ser o
primeiro sinal da doença. Nos ossos chatos (crânio e bacia) as lesões são ovais e destroem
ambas as tábuas, aparentando lesões geográficas com duplo contorno (Fig. 106).
106. Radiografia de um paciente
portador de um granuloma eosinófilo
da diáfise do fêmur. Note que, apesar
de haver intensa reação periosteal em
casca de cebola, não há agressividade
e destruição do endósteo, o que fala
contra um tumor de Ewing.
A vértebra plana de Calvé costuma acometer as vértebras torácicas, seguidas das lombares
em freqüência. A princípio há uma lesão lítica pura, seguindo-se o colapso da mesma, sem
acometimento dos discos adjacentes e com densidade homogênea, apesar do achatamento.
TRATAMENTO
As lesões na coluna devem ser tratadas com uma conduta expectante, uma vez que costumam
evoluir para a cura, com restituição parcial da forma da vértebra e sem seqüelas funcionais.
Não há lugar para a instrumentação ou para a curetagem nas lesões únicas de coluna, uma
vez que a cura acontece espontaneamente em poucos meses.
5 - DISPLASIA FIBROSA
É uma lesão benigna ativa, pseudotumoral, que se caracteriza pela presença de tecido fibroso-
conjuntivo disposto em rodamoinhos, no qual se encontram trabéculas mal orientadas de osso
imaturo e não lamelar, que tendem a formar figuras em forma de "S" ou "C". Pequenos focos
de cartilagem podem estar presentes. É uma lesão do esqueleto em crescimento(16),(34).
CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS
As áreas alteradas são bem definidas e às vezes circundadas por uma zona de esclerose
reacional. Pode haver erosão endosteal, que provoca um adelgaçamento e irregularidade do
córtex. O aspecto radiográfico muitas vezes lembra um osso diafisário sem limites entre cortical
e canal medular, dando a imagem de um osso maciço (Fig. 109).
109 A 109 B
111 A 111 B
111. Radiografia de frente (A) e perfil (B) de um paciente portador
de displasia fibrosa. Note o encurvamento da tíbia e a falta de
definição entre osso cortical, osso esponjoso e canal medular,
devido à substituição da medula óssea por tecido fibroso.
TRATAMENTO
Não existem drogas ou tratamentos conhecidos que possam impedir a progressão das lesões
múltiplas nas crianças. Como em outras lesões benignas, a radioterapia é contra-indicada
nesta patologia.
6 - OSSIFICAÇÃO HETEROTÓPICA
Nos estágios iniciais, a lesão pode não apresentar nenhum sinal de calcificação. Entretanto,
freqüentemente existe uma muito bem definida e circunscrita massa óssea, que pode dar a
falsa impressão de estar aderida ou contígua ao osso, quando estudada em uma única
projeção. Pode haver reação periosteal no osso subjacente. No entanto, o completo
diagnóstico por imagem irá mostrar que o córtex ósseo não está envolvido. Esse aspecto de
não envolvimento é de extrema importância no diagnóstico diferencial com o osteossarcoma.
Com a progressão da lesão, a ossificação se desenvolve e intensifica, até que efetivamente se
torna óbvio de que se trata de um processo benigno. O material mineralizado é tipicamente
visto como trabéculas de osso e se inicia da periferia da massa, formando uma moldura na
lesão. A tomografia axial computadorizada é de extrema valia no diagnóstico, pois mostra o
não envolvimento do córtex ósseo, assim como a periferia mais calcificada em relação ao
centro da massa. A cintilografia do esqueleto é também importante na definição da atividade da
lesão, podendo ser utilizada no acompanhamento da maturação da lesão (44) (Fig. 116 e 117).
TRATAMENTO
Também conhecido como "ganglión intróseo" é uma lesão benigna, cística e freqüentemente
multilocular, constituída por tecido fibroso com extensas zonas de degeneração mucóide, que
se localiza no osso subcondral, junto a uma articulação.
O cisto ósseo justa-articular é uma lesão freqüente que se apresenta na idade média da vida.
Geralmente se localiza na parte inferior da tíbia, junto ao tornozelo, ou no úmero, junto ao
ombro. No exame anatomo-patológico evidenciam-se em alguns casos células semelhantes às
encontradas na membrana sinovial. No entanto, a continuidade com a cavidade articular é
difícil de ser mostrada. É comum o osso circundante apresentar certo grau de esclerose.
A radiografia se apresenta como uma zona osteolítica bem definida com uma zona de
esclerose circundante (Fig. 118 A, B e C).
118 A
118 B
118 C
DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL
O cisto ósseo justa-articular deve sempre ser incluído no diagnóstico diferencial das lesões
císticas epifisárias localizadas na vizinhança de uma articulação. Somente umas poucas
lesões, como os condromas e condrossarcomas, os cistos ósseos aneurismáticsos e os
condroblastomas podem ocorrer nessa área e geralmente mostram um maior afilamento e
expansão das paredes. As lesões cartilaginosas costumam mostrar focos de calcificação.
A sinovite vilonodular pigmentada também pode apresentar uma penetração intra-óssea, sendo
o quadril, o tornozelo e o joelho as localizações mais freqüentes. No entanto, em contraste com
o COJA, a SVNP costuma acometer ambos lados da articulação.
8 - TUMOR MARROM DO
HIPERPARATIREOIDISMO
120 A 120 B
Uma fratura em consolidação, nas fases iniciais, exibe uma atividade celular pronunciada, com
abundantes figuras de mitose. Nesse estágio, o material osteóide e condróide pode não
mostrar o arranjo funcional óbvio dos processos reparativos e o aspecto histológico pode ser
preocupante quando estudado fora do contexto clínico-radiológico. Devido a esse aspecto, o
diagnóstico de sarcoma pode ser equivocadamente emitido pelo anatomopatologista.
Posteriormente, a maturação desse tecido soluciona a dúvida. Esse aspecto é o que
chamamos de calo exuberante e somente a correlação entre a clínica, a radiologia e a
anatomopatologia pode resolver.
Da mesma forma, o calo ósseo que resulta da fratura de fadiga (fratura de "stress" ou fratura do
marchador), que freqüentemente afeta os metatarsos e a tíbia de crianças. Muitas vezes não é
possível, nas fases iniciais, visibilizar o traço de fratura e o diagnóstico fica ainda mais difícil.
Da mesma forma que no calo exuberante, somente a correlação entre a clínica, a radiologia e a
anatomia patológica será capaz de orientar o correto tratamento dessa lesão.
1 - DOENÇA DE PAGET
A doença de Paget é uma alteração do processo de remodelação do esqueleto, que parece ser
iniciada por um aumento na reabsorção óssea mediada pelos osteoclastos. Nos Estados
Unidos da América ocorre em aproximadamente 3% das pessoas idosas. É mais comum em
pacientes com ancestrais europeus e alguns autores têm notado uma associação familiar.
Embora a exata etiologia seja desconhecida, a lesão primária parece residir em osteoclastos
pagéticos, modificados em conse-qüência de uma infeção viral nos primeiros anos de vida.
Esta alteração na atividade osteoclástica conduz a um evidente aumento da reabsorção óssea,
o que pode ser detectado pelo aumento na excreção urinária da hidroxiprolina. Há um aumento
compensatório na taxa de osso neoformado e isso é algumas vezes refletido por um aumento
na taxa sanguínea de fosfatase alcalina.
121 A 121 B
121 C
122 A
122 B
Os locais de comprometimento mais freqüentes são a coluna lombar e torácica, pelve, crânio,
clavícula e escápula. Freqüentemente, somente um ou dois ossos são acometidos (Fig. 123 e
124).
123 A 123 B
TRATAMENTO
1 - METÁSTASES ÓSSEAS DE
CARCINOMAS
As metástases ósseas são a forma mais comum de tumores ósseos malignos e todo tumor
maligno pode eventualmente produzir metástases ósseas. As metástases ósseas podem estar
associadas com dor e grave incapacidade, e dar origem a complicações mais sérias. No
entanto, raramente causam a morte. Em geral os pacientes morrem devido ao câncer primário
e por complicações a ele relacionadas. Com o aumento da sobrevida e a precocidade na
detecção das metástases, observamos uma incidência crescente de metástases e de suas
complicações.
INCIDÊNCIA
Na Escola Paulista de Medicina encontramos como incidência dos tumores primários que
apresentaram metástase óssea:
49.6% mama
10.5% mieloma
09.6% rim
09.0% pulmão
04.9% próstata
03.7% tireóide
03.0% desconhecido
01.5% linfoma
01.5% cólon
00.8% bexiga
00.8% leucemia
00.6% útero
00.5% estômago
00.5% naso-faringe
00.5% parótida
Vértebras 69.0%
Pélvis 41.0%
Fêmur 25.0%
Costelas 25.0%
Crânio 14.0%
Úmero Proximal 9.6%
Escápula 5.7%
Clavícula 4.1%
TRATAMENTO
1 - CUIDADOS CRÔNICOS
Deve-se prestar atenção ao estado geral do paciente, seu estado nutricional e a ocorrência de
problemas metabólicos. Dependendo da localização e da extensão da lesão, os sintomas
podem ser controlados com medicamentos analgésicos.
Algumas modalidades de terapia, entre elas as órteses, podem proteger a área e ser muito
úteis (Figs. 126 e 127).
126. Radiografia da bacia de um paciente portador de neoplasia
de próstata, onde se evidenciam as metástases disseminadas
por todos os ossos.
2 - RADIOTERAPIA
128 A e B
128 C
128 D
128 E
128. Radiografia de perfil (A) e de frente (B) de uma paciente
portadora
de metástase de tumor de mama na 2ª vértebra lombar. Na tomografia
axial
computadorizada (C) nota-se a invasão do canal medular pelo tumor. A
paciente apresentava apenas dor, sem déficit motor, e foi submetida a
tratamento radioterápico. Em (D) e (E) nota-se, após 4 meses, a boa
resposta do tumor à radioterapia, evidenciada pelo aumento da
densidade da vértebra.
3 - TRATAMENTO CIRÚRGICO
130 A
130 B
No passado, muitos pacientes foram privados dos benefícios da fixação interna porque a
destruição óssea parecia tão extensa que se acreditava que a fixação interna não seria
possível. Entretanto, com o desenvolvimento da cirurgia da coluna, demonstrou-se que a
combinação de hastes intramedulares e o cimento de metilmetacrilato pode proporcionar uma
fixação rígida na maioria dos pacientes com lesões avançadas. A maioria das lesões requer
radioterapia posterior à cirurgia.
A fixação interna profilática pode ser feita quando uma lesão metastática em ossos longos
torna-se dolorosa devido às microfraturas e ao enfraquecimento da cortical óssea. A
radioterapia como método isolado costuma aliviar a dor, mas a fixação profilática deve ser
considerada antes que ocorra uma fratura. Esta técnica é indicada quando há lesões líticas
bem definidas (aquelas com mais de 3 cm de diâmetro, no qual 50% ou mais de corticais estão
destruídas). Também nos pacientes em que a dor persiste no foco de lise, depois do
tratamento radioterápico, a fixação interna deve ser uma indicação.
A fixação profilática antes que a fratura patológica ocorra evita o deslocamento dos fragmentos
da fratura e elimina a necessidade de cirurgia de urgência. Além disso, o tratamento de uma
lesão intracompartimental (III-A) é, sem dúvida, mais eficaz que o tratamento da lesão
extracompartimental (III-B), onde já houve disseminação local (Fig. 131).
TÉCNICA CIRÚRGICA
A técnica cirúrgica irá variar, dependendo da localização da fratura, da extensão da destruição
óssea e das condições gerais do paciente. Nos ossos longos, de uma maneira geral as fraturas
são tratadas através da ressecção simples ou da curetagem/ressecção e fixação interna,
suplementada com cimento acrílico de metilmetacrilato. Nas extremidades epifisárias ou
metafisárias, a substituição por endopróteses não convencionais é indicada.
Dentre os critérios de qualificação para essas cirurgias está o alívio da dor do paciente,
independentemente do prognóstico de sobrevida. Mesmo em pacientes com um prognóstico
"fechado", sem chances de químio ou radioterapia adjuvante, indicamos essas cirurgias, uma
vez que o não tratamento restringe o paciente ao leito, com as complicações inerentes, além
do dificílimo controle da dor e da sensação de "mobilidade dos ossos fraturados".
A pobre qualidade do osso proximal e distal à fratura não é, de forma nenhuma, contra-
indicação do procedimento.
FRATURAS DO QUADRIL
E DO FÊMUR PROXIMAL
Nas fraturas envolvendo a cabeça e o colo do fêmur, a ressecção com a substituição por uma
endoprótese não convencional metálica é o procedimento de escolha. Trata-se de um método
eficaz para aliviar a dor e permitir a mobilização precoce e restauração da função (Fig. 132).
132 A 132 B
4 - TRATAMENTO PÓS-OPERATÓRIO
A maior parte dos pacientes recebe radioterapia após a cirurgia da fratura patológica. Os
pacientes cujos tumores são químio-sensíveis devem continuar o tratamento, geralmente
interrompido com a ocorrência da fratura.
CONCLUSÃO
2 - METÁSTASE DE NEUROBLASTOMA
A imagem radiográfica das lesões metastáticas ósseas é caracterizada pelo aspecto osteolítico
permeativo, com áreas de tecido ósseo reativo.
Podem acontecer fraturas patológicas. Os ossos do crânio mostram aspecto moteado extenso
e separação das suturas. As lesões solitárias podem ser confundidas com o tumor de Ewing. A
biópsia da lesão mostra células redondas neoplásicas. As catecolaminas, seus derivados e o
ácido vanilmandélico elevados na urina ajudam o diagnóstico diferencial.
TRATAMENTO
XIII - BIBLIOGRAFIA
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