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PROTOCOLO CIRÚRGICO PARA PACIENTES ONCOLÓGICOS

SURGICAL PROTOCOL FOR ONCOLOGICAL PATIENTS

“Lo peor no es cometer un error, sino tratar de justificarlo, en vez de aprovecharlo


como aviso providencial de nuestra ligereza o ignorancia”
Santiago Ramón y Cajal
1852-1934
(Premio Nobel de Fisiología y Medicina, 1906)

Adrian Farias1
Kelly Reiter2
Lorena Souza Santos3
Lucas Silva4
Luiz Alexandre Da Luz De Almeida5

1
Aluno do 5º semestre de Odontologia, Faculdades Adventistas da Bahia
2
Aluno do 5º semestre de Odontologia, Faculdades Adventistas da Bahia
3
Aluno do 5º semestre de Odontologia, Faculdades Adventistas da Bahia
4
Aluno do 5º semestre de Odontologia, Faculdades Adventistas da Bahia
5
Aluno do 5º semestre de Odontologia, Faculdades Adventistas da Bahia
Resumo:
O câncer é uma doença que atinge milhões de pessoas todos os anos, tendo
como característica o crescimento desordenado de células6, que tendem a invadir
tecidos adjacentes e órgãos, provocando muitas das vezes a morte de suas vítimas.
Essas células tendem a ser agressivas e por vezes, incontroláveis, formando assim
tumores que podem se espalhar para outras regiões do corpo7.Segundo os dados do
Instituto nacional de Câncer (Inca)8, são detectados mais de 12,6 milhões de novos
casos de câncer em todo o mundo, com 7,6 milhões de mortes a cada ano.
Essa doença, como é multifatorial9, exige uma abordagem multiprofissional
para que todas as áreas de conhecimento trabalhem juntas, procurando melhorar na
cura e no tratamento no paciente. Com isso, o papel do cirurgião-dentista é
indispensável no cuidado dos pacientes oncológicos, tanto antes, durante e depois
dos tratamentos para o câncer, procurando ajudar o paciente na prevenção de certas
patologias características dos medicamentos (radioterapia e quimioterapia) utilizados
nos tratamentos contra essa patologia.
Palavras-chave: osteorradionecrose, Câncer, diagnóstico, tratamento, atendimento.

Abstract:
Cancer is a disease that affects millions of people every year, characterized
by the disorderly growth of cells, which tend to invade adjacent tissues and organs,
often causing the death of their victims. These cells tend to be aggressive and
sometimes uncontrollable, thus forming tumors that can spread to other regions of the
body. According to data from the National Cancer Institute (Inca), more than 12.6
million new cases of cancer are detected worldwide, with 7.6 million deaths each year.
This disease, as it is multifactorial, requires a multiprofessional approach for
all areas of knowledge to work together, seeking to improve healing and treatment in
the patient. Thus, the role of the dental surgeon is indispensable in the care of cancer
patients, both before, during and after cancer treatments, seeking to help the patient

6 (Instituto Nacional de Câncer (Brasil), 2011)


7 (Câncer no Brasil: presente e futuro, 2004)
8 (INCA, 2021)
9 As doenças multifatoriais são o resultado de complexas interações entre fatores genéticos e

ambientais, assim são também denominadas de doenças complexas. Os fenótipos complexos dos
distúrbios multifatoriais podem ser descritos em duas grandes categorias. (Disponível em
http://rdu.unicesumar.edu.br/bitstream/123456789/6075/1/Maria_Gabriela_Reis_Bossoni.pdf)
in the prevention of certain pathologies characteristic of the drugs (radiotherapy and
chemotherapy) used in the treatments against this pathology.
Keyword: osteoradionecrosis, Cancer, diagnosis, treatment, care.

1. INTRODUÇÃO

No Brasil, o câncer de cabeça e pescoço provoca mais de 10 mil mortes por


ano, dentre os 43 mil casos novos10. Com esse número de caso aumento
crescentemente todos os anos, em diferentes países, sente-se uma necessidade
inegável ampliar os conhecimentos sobre esse tema, aumentando também o
conhecimento da população com o intuito de minimizar futuramente o número de
casos e ajudar por vezes no diagnóstico precoce.
Entretanto, por vezes ocorre uma necessidade de realizar procedimentos
cirúrgicos em pacientes oncológicos, e para amenizar o desconforto do paciente é
importante que os profissionais conheçam adequadamente seu papel e possa
desenvolvê-lo da forma mais adequada possível para o bem estar de seu cliente
observando algumas restrições. Para isso é importante entender: quais seriam as
restrições? Quais procedimentos são permitidos? Quais seriam as interações
medicamentosas?
Assim, este trabalho tem como objetivo, promover um protocolo cirúrgico para
pacientes oncológicos, visando o melhor atendimentos destes, procurando
conscientizar tanto a alunos como a profissionais na área da odontologia sobre as
medidas necessárias para se realizar uma cirurgia em pacientes com alguma
patologia cancerígena. E ainda, incentivar a correta avaliação clínica inicial, com
exames complementares, agenciando para que o profissional conheça sobre os
medicamentos de uso contínuo para controle da patologia, se for o caso e as diversas
particularidades na condução e manejo operatório, administrando o tempo de duração
das sessões, vendo o horário mais adequado, preparando o posicionamento da
cadeira, escolha do anestésico e vasoconstritor e outros medicamentos que poderão
ser indicados, se não houver contraindicações, dentre outros. E analisar as interações
medicamentosas com os medicamentos de uso contínuo.

2. REVISÃO DE LITERATURA

10 Idem
AVALIAÇÃO CLÍNICA

A avaliação clínica inicial, tem sua grande importância e deve ser trabalhada
juntamente coma equipe oncológica do paciente11. Nela deve conter uma anamnese,
destacando as principais informações detalhadas e o desenvolvimento da doença,
para que posteriormente possa ser elaborado um plano de tratamento.
É comum doenças como, mucosite, estomatite, xerostomia, disgeusia,
glossite migratória benigna (língua geográfica), telangiectasia, hemorragia das
mucosas, disestesia, osteonecrose da mandíbula em pacientes sob o tratamento do
câncer12. A identificação da condição bucal é necessária, para analisar possíveis
infecções, principalmente as doenças que foram citadas anteriormente, cáries, doença
periodontal, lesões na mucosa intra-bucal, mobilidade dentária, exames físicos,
destacando-se a falta de uma boa adaptação ou trama de prótese, sendo
indispensável os cuidados com a saúde dos tecidos bucais, prevenindo incidentes
futuros13.
Exames complementares também são essenciais para o bom andamento da
avaliação. O paciente deve ser incentivado à está em dia com sua higiene bucal
adequada, sendo orientado também por fazer o uso da aplicação de flúor ou
clorexidina em forma de bochecho, todavia favorecendo melhoria na higiene e
reduzindo o risco de cárie no paciente.

Exames complementares14
• radiografia panorâmica;
• tomografia computadorizada;
• exames laboratoriais (hemograma, fezes e urina, hormonais,
eletrocardiograma, tgo-tgp, colesterol total e glicerídeos, glicemia).

CONHECIMENTO SOBRE OS MEDICAMENTOS DE USO CONTÍNUO PARA


CONTROLE DA PATOLOGIA

Procedimentos cirúrgicos

11 (ALBUQUERQUE, MORAIS, & SOBRAL, 2016)


12 ( BUENO, MAGALHÃES, NOGUEIRA, & MOREIRA, 2012)
13
(OCHOA-CARILLOA & COTE-ESTRA, 2010)
14 (CONDUTA, ALDUANTE, COLTRO, BUSNARDO, & FERREIRA, 2010)
Em pacientes oncológicos, os procedimentos cirúrgicos são mais restritos,
principalmente quando estes estão sob terapia medicamentosa. É importante ressaltar
que o potencial benefício da intervenção cirúrgica deve sobrepassar aos riscos da
cirurgia em si15. Não havendo outra opção, o aconselhável é que os pacientes que
tenham passado por algum tratamento radioterápico só façam algum procedimento
não invasivo apenas três meses após sua última sessão de radioterapia, enquanto
procedimentos invasivos só podem ser realizados após seis meses com profilaxia
antibacteriana16.
A preocupação do cirurgião-dentista deve se aplicar ao primeiro às datas em
que o paciente foi submetido ao tratamento quimioterápico ou radioterápico, pela
baixa em seu sistema imunológico, dado às diversas complexidades do tratamento,
sendo assim, algumas atitudes por parte do profissional pré-quimioterapia, de forma
rotineiro e protocolar devem ser realizadas, tais como: profilaxia profunda, tratamento
com fluoretos, e qualquer necessidade de raspagem. A exodontia deve ser utilizada
para os dentes que não podem ser restaurados, antes do tratamento quimioterápico17.
Entretanto, pelo risco de osteorradionecrose18 (ORN), as exodontias são evitadas aos
máximos, e quando feito, a técnica cirúrgica deve ser a menos traumática possível e
o paciente orientado sobre os cuidados pós-operatórios, indicando-o bochechos com
clorexidina, por exemplo. Existe, entretanto, outros fármacos e terapias adjuvantes
que podem diminuir a probabilidade de complicações como o oxigénio hiperbárico,
plasma rico em plaquetas e esteroides19

Medicamentos de uso contínuo:

Os protocolos modernos de terapia antineoplasica possuem diversos


medicamentos quimioterapêutivos, a adequação de tratamento e protocolo utilizado
deverá ser individualizado, se adequando a cada paciente, sendo por vezes

15 (OCHOA-CARILLOA & COTE-ESTRA, 2010)


16 (LOPES, MAS, & ZANGARO, 2006)
17 (HUPP, ELLIS, & TUKER, 2015)
18 A osteorradionecrose é uma das mais graves complicações da radioterapia utilizada para o

tratamento das neoplasias de cabeça e pescoço. Trata-se de uma doença na qual o osso irradiado
torna-se desvitalizado e exposto através da perda da integridade da pele e da mucosa, persistindo
sem cicatrização. A osteorradionecrose da face acomete a mandíbula na grande maioria dos casos,
seguida da maxila. Disponível em http://www.rbcp.org.br/details/604/osteoradionecrosis-in-face--
pathophysiology--diagnosis-and-
treatment#:~:text=A%20osteorradionecrose%20%C3%A9%20uma%20das,da%20mucosa%2C%20p
ersistindo%20sem%20cicatriza%C3%A7%C3%A3o
19 (CONDUTA, ALDUANTE, COLTRO, BUSNARDO, & FERREIRA, 2010)
necessário considerar muitas variáveis que podem ser determinadas tanto pelo
câncer, quanto pelo organismo do indivíduo que irá receber o tratamento, procurando
analisar todas as possíveis interações medicamentosas das drogas que esse paciente
faz uso, e os efeitos que essas interações podem provocar no organismo 20. Hoje em
dia os fármacos que mais são utilizados em pacientes oncológicos, segundo a
Brazilian Journal of Development, são

“qualificados como antagonistas de serotonina, glicocorticóides e


antagonistas dos receptores de neurocinina, administrados de forma
combinada ou não. Ainda merecem destaque a olanzapina e os derivados do
tetra-hidrocarnabinol”21.

Dentre estes, podemos citar alguns, como o 5-Fluorouracil e a cisplatina que


possuem diversos efeitos colaterais, como náuseas, vômitos, mucosite oral, por vezes
a supressão do sistema imune, favorecendo infecções fungicas, dentre muitos
outros.22

PARTICULARIDADES NA CONDUÇÃO E MANEJO OPERATÓRIO

O tempo de duração das sessões, o horário mais adequado, o posicionamento


da cadeira, dentre outros cuidados são de fundamental importância para ampliar os
cuidados com os pacientes trazendo-lhes maior conforto e segurança. Sendo um
processo desgastante, desde a suspeita diagnóstica de um câncer até a reabilitação
e reajuste psíquico do paciente, requer esforços de enfrentamento da situação, sendo
a tarefa primordial reconquistar o equilíbrio psíquico apropriado. Enfrentamento é
definido como um processo através do qual o indivíduo administra as demandas da
relação pessoa-ambiente que são avaliadas como estressantes e as emoções que
elas geram2324.
O cirurgião dentista tem uma importância significativa no tratamento do
paciente com câncer em qualquer sítio corporal, visto que esse passará por terapias
que levarão a efeitos colaterais bucais25. Além disso, cabe a esse profissional, a
realização de campanhas de prevenção do câncer de boca assim como seu

20 (SANTOS , 2020)
21 (RODRIGUES, ALVES, GODOI, & LOPES, 2021)
22 (SANTOS , 2020)
23 (PEREIRA & BRANCO, 2016)
24 (Instituto Nacional de Câncer (Brasil), 2011)
25 (GRIMALDI, SACRAMENTO, PROVEDEL, ALMEIDA, & CUNHA, 2005)
diagnóstico, de preferência precoce26. É importante que esse paciente seja avaliado
por um profissional antes do início do tratamento , a fim de evitar complicações trans
tratamento e piorar sua qualidade de vida e doença, o cirurgião dentista tem uma
grande importância no tratamento oncológico desde o diagnóstico até os cuidados
paliativos2728 apresentando uma enorme responsabilidade na eliminação dos fatores
locais traumáticos, no reconhecimento de lesões potencialmente cancerizáveis, na
orientação para a redução à exposição de fatores carcinogênicos ambientais e no
diagnóstico precoce das neoplasias da boca, além de atuar no tratamento de efeitos
colaterais bucais decorrentes do tratamento antineoplásico e preservação do paciente
com o câncer instalado29.

26 (OCHOA-CARILLOA & COTE-ESTRA, 2010)


27 (Instituto Nacional de Câncer (Brasil), 2011)
28
(FARIA & ARAGÃO, 2017)
29 (SANTOS , 2020)
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