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UNIVERSIDADE ALBERTO CHIPANDE

F.C.S - Medicina Geral - 5º ano


Departamento de Ortopedia e Traumatologia

TEMA: Osteomielites – Hematogênicas Agudas e Crónicas.

Docente:
Dr. Cardoso Fernando José
Médico Ortopedista e Traumatologista Consultor
Discente:
Aissa Macário
Argentina A.P.S Mário José
João Manuel Cesário
Lucas Clinton L. Júnior
Introdução
A osteomielite, patologia infecciosa ortopédica , foi descrita primeiramente por
Hipócrates, que recomendou o desbridamento e o isolamento do tecido ósseo
inflamado de partes necrosadas logo no inicio da medicina moderna.
Paster, anuncia em 1880, que descobriu no caso de uma osteomielite um
microrganismo semelhante ao microrganismo do furúnculo.
Colzi, em 1889, mostra que para chegar ao osso a via de acesso é sanguínea.
LANNELONGUE, e Achard consideraram que o ponto de partida para o
surgimento da osteomielite é sempre medular.
Cont..

Essa teoria patogénica, de LANNELONGUE e seu tratamento trepanação


óssea eram as únicas teorias admitidas durante muitos anos.
Actualmente Wilenski, emite a teoria de embolia séptica de que ˵ a infecção
óssea erra apenas um fenómeno secundário do foco infeccioso primária a
distancia
Actualmente, apesar do surgimento dos novos métodos de diagnóstico e
terapêuticos, a osteomielite continua a constituir um desafio para os médicos
cirurgiões ortopédicos.
Definição
Osteomielite – é uma inflamação do osso causada por organismo infeccioso.
(Campbel).
Osteomielites – é um processo inflamatório que afecta todo o tecido ósseo,
(periósteo, córtex, medula) causado por microrganismos piogénicos.

Osteíte – infecção da cortical;


Mielite – infecção da medula;
Periostite – infecção do periósteo.
Osteomielite
 Infecção óssea envolvendo canal medular,
osso esponjoso e cortical.
 Propagação rápida, com extensa destruição
óssea e tendência a cronificação.
 De fácil diagnostico e potencialmente curável
na fase inicial.
Afecta concretamente as regiões:

Metafisária, Diafisária , ou Meta- Episária.


Classificação

Uma das classificações mais utilizadas actualmente é:

 Osteomielite hematogénica aguda (OHA).

 Osteomielite por contiguidade

 Osteomielite pós-traumática.

 Osteomielite cronica (OC).


Cont..

Outra classificação que é usada tradicionalmente , considera somente o tempo


de infecção:
 Aguda – até 2 semanas de evolução.
 Subagudo – 2 semanas até 3 meses de evolução.
 Crónica – mas de 3 meses de evolução.

Porem, Cierny e Mader desenvolveram um estadiamento para osteomielite com


base na Extensão anatómica da infecção e Estado fisiológico do hospedeiro.
Extensão anatómica (Cierny e Mader)

 Tipo 1: apenas Medular (hematógenica aguda);

 Tipo 2: cortical superficial (por continuidade);

 Tipo 3: Localizada (cortical e medular com

instabilidade mecânica);

 Tipo 3: Difusa (cortical e medular com

instabilidade mecânica).
Osteomielite Hematogénica aguda

É a infecção óssea causada por microrganismos piogénicos que se proliferam no

tecido ósseo após a disseminação pela corrente sanguínea.

 Ocorre principalmente nas metáfises com maior velocidade de crescimento. e

as metáfises distais do fémur e proximal da tíbia são as mais

frequentemente acometidas.
Epidemiologia

 Verifica-se um gradiente decrescente na incidência desde os países

desenvolvidos até aos países em desenvolvimento;

 A infecção hematogenica corresponde cerca de 20% dos casos;

 Sexo masculino é o mais afectado numa proporção de 4/1;

 72% das osteomielites ocorre nos membros inferiores e 8% nos membros

superiores.
Etiologia
Prematuros e neonatos:

 E. Cóli, Salmonela grupo B e Staphyloccus Aureus 90%.

Crianças maiores e adolescentes:

 Staphyloccus Aureus , Streptococcus, Neisseria Gonorrhoeae, Streptococcus

pyogenes, e Kingella Kingae

 3% dos casos, são causados por Streptococcus , Pneumoptococcus,

Haemophilus Influenzae, S. tiphy


Outras causas:

 Propagação contagiosa do tecido ou da prótese articular infectada;

 Ferimentos abertos por fracturas expostas contaminadas ou cirurgias ósseas;

 Traumas, isquemias e corpos estranhos predispõem também a osteomielites

hematogenica aguda
Considerações histológicas
 Existem 2 variedades de estruturas ósseas:

 Osso esponjoso – apresenta cavidades, trabéculas, encontrados nas

epífises, ossos curtos e chatos que revestem a cavidade medular.

 Osso compacto – sem cavidades visíveis encontrado nas diáfises dos

ossos longos, tabuas dos ossos chatos e na periferia dos ossos curtos.
Patogenia
Teoria de Wilenski
O embolo séptico origina se de um foco infeccioso a distância e atinge o osso
por via sanguínea, ou através do contacto directo do agente infeccioso
(osteítes pós traumática/ pós operatória). Fluxo sanguíneo lento faz com que
haja proliferação de bactérias, reacção inflamatória aguda e o restos
necróticos formaram exsudatos (leucócitos polimorfo nucleares, fibrinas e
restos necróticos.

Formam abscessos intra-ósseos medulares e subperiosteal dai que origina a


osteomielite hematogênica aguda
Quadro Cínico
 Dor na região metafisária;

 Sensibilidade a palpação;

 Extremidades em semi-flexao;

 Eritema sobrejacente e tumefacção;

 Febre (> 37,5º C), mal estar geral;

 Disfunção funcional do membro afectado;

 Síndrome tóxico, vómitos, calafrios.


Diagnóstico
Exame clínico.
O diagnóstico é a realização de uma história clínica rigorosa e num exame físico
cuidadoso.

Exames laboratoriais
 Hemograma – leucocitose c/ desvio à esquerda.

 VHS – ↑, é um parâmetro de monitorização de tratamento.

 PCR – aumenta entre 6 à 8 horas após afecção óssea, e é usada para descartar
infecções graves em menores de 1 à 36 meses.
Exame Radiológico

 Radiografia simples (a (Ter em conta a “regra dos 2”)

 Cintilografia Óssea (Gálio ou Tecnécio)

 Ressonância magnética

 Ultra-sonografia

 Aspiração de abcesso suspeito


 Radiografia simples (Rx)

 Menos de 10 dias: sem alterações ósseas;

 11º - 20º dia: elevação do periósteo;

 2ª semana 6ª até a semana: alterações líticas.


Cintilografia Óssea

 Em 3 fases ( com monodisfosfonato de Tecnécio)


 Tem alta sensibilidade de 95% e baixa especificidade;
 Confirma o diagnostico em 24 e 48h.
 Permite-nos saber se estamos perante infecção óssea ou se estamos perante
alterações ósseas não inflamatórias.
 Útil para localizar a área envolvida principalmente em locais de difícil acesso
clinico, e para procura de múltiplos focos (neonatos).
 Ajuda a diferenciar osteomielite de celulite ou abscesso profundo.
Tratamento
Tratamento precoce reduz significativamente a morbidade.
Consiste em:
 Cirurgia seguido de Antibioterapia;
 Antibioterapia isoladamente;
 A escolha do antibiótico baseia-se em:
-Actividade bactericida mais elevada;
-Baixa toxicidade;
-Baixo custo.
Cont..

Na suspeita de OHA devemos:

1º Internar: Hidratar, analgésicos, posicionamento confortável do membro

afectado.

2º Colher amostra de sangue e material para cultura;

3º Iniciar tratamento EV empírico de altas doses de ATB de acordo com o agente

etiológico ( 1 semana) e trocar o ATB quando tiver resultado da cultura ou da

resposta clinica associada aos exames laboratoriais.


Cont..

ATB activos contra o Staphylococos Aures: Oxacilina, Nafcilina, Cefalozina


ou Vancomicina.

Antibiótico de escolha é a Flucloxacilina 250mg cp a 1000mg Ev, de 6/6horas

 Se houver possibilidade de uma infecção por microrganismo gram (–),

devemos dar: Cefalosporina de 3ª geração; um aminoglicosideo ou uma

Fluoroquinona.
Tratamento empírico deve incluir igualmente ATB contra os anaeróbicos

Ex: Ampicilina 100-200mg P/kg de peso de 6/6h ou combinação de

fluoroquinona + clindamicina ou metronidazol 8/8 horas.

Tratamento Especifico

 Neonatos: Gentamicina 5 a 7mg/kg de peso

 Crianças: Cloxacilina
 Osteítes pós-traumática: Penicilinas + Gentamicina

 Oxacilina 150mg/kg de peso dividido em 4 a doses diárias via EV. É

a 1ª escolha.

 Penicilina - 3 a 4 milhões UI 4 em 4 horas .

 Gentamicina - 100-200mg/kg dia


Diagnóstico Diferencial
 Artrite séptica

 Celulite

 Abscesso Profundo

 Febre reumática

 Tumor de Ewing

 Patologia Traumática

 Piomiosite Bursites
Complicações
 Anquilose

 Artrite séptica

 Lesão da fise

 Cronificação (osteomielite crónica)

 Fracturas patológicas

 Morte
Osteomielite crónica
É caracterizada pela presença ou ausência de sintomas sistémicos,

dependendo da apresentação; alterações ósseas no RX e história de

episódios prévios de infecção.


É uma Infecção tardia e é consequência natural da evolução das osteítes
agudas e osteomielites hematogénicas agudas quando não tratadas ou
tratadas inadequadamente. Ou ainda surgir após trauma ou pós
operatório.
Etiologia

Na osteomielite crónica, a infecção é frequentemente causada por disseminação

através de um foco infeccioso contíguo ( sobretudo após fractura exposta e/ou

cirurgia ortopédica) e polimicrobiana, sendo o agente mais comummente

isolado o Staphilococcus aureus

 Bactérias atípicas (Mycobacterium tuberculosis e Brucella).

 Fungos (Aspergillus e Cândida albicans).


Sintomatologia
 Dor óssea que agrava-se à noite ( recidivas);

 Deformidade óssea;

 A pele fica escura, fina, fibrosadas e desnutridas;

 Tecidos moles peri-lesionais tornam-se edemaciados,


quentes avermelhados e dolorosos
 Músculos fibrosados e levam a contracturas das
articulações;
 Fístulas que drenam secreção purulenta.
Diagnóstico

 Historia Clínica
 Análises laboratoriais

Hemograma: Leucocitose moderada;


VHS ( aumentada se há agudização do processo ou não)
Cultura e antibiograma ( Normalmente polibacteriana)
Cont..

 Radiográficos
 Rx simples ( Sequestro + invólucro).
 TAC - um excelente exame para visualizar
sequestros e osso desvascularizado.
 RM - permite identificar a presença de
osteomielite.

 Biópsia - para confirmar o


diagnóstico( diagnóstico diferencial com
tumores).
Tratamento
A base do tratamento é sempre cirúrgico através de

excisão do tecido necrótico sequestrectomia e

fistulectomia.
 Técnica de Papinau ou técnica de illizarov
( ortopedistas)
 Técnica ( Papinau) - Resecção da fístula e
Sequestro, lavagem contínua e Aporte de tecido
esponjoso
Após o procedimento cirúrgico:

 A ferida resultante da cirurgia não deve ser fechada.

 Estabilidade do fragmento ósseo com fixador externo ou com gesso.

 Lavagem e drenagem contínua com sistema ( drenagem permanente de

um soluto + antibiótico ( Gentamicina) até que clinicamente se atinja

esterilidade do foco infeccioso.

 Pensos diários com solutos de Daking são obrigatórios.


 Após cirurgia é também necessário fazer a cobertura antibiótica por via

Endovenosa com:

Cloxacilina ou Cefalosporina + Gentamicina e em alguns casos

Metronidazol durante 4 á 6 semanas.


Complicações

 A osteomielite crónica já é uma complicação

 Fracturas patológicas

 Degeneração maligna» epitelioma

 Encurtamento das extremidades e pseudartroses


Conclusão
As osteomielites agudas e subagudas são uma patologia prevalente nas
idades pediátricas. Por outro lado, a osteomielite crónica é uma
complicação extremamente frequente em situações traumáticas e, embora
em menor número, pós-cirurgicamente. É portanto, bastante pertinente a
realização de investigação acerca da sua etiopatogenia e dos métodos
diagnósticos mais esclarecedores, para tentar aperfeiçoar o tratamento.
Bibiliografia

 Cohen,Moisés at All, TRATADO DE ORTOPEDIA, editora Roca, Brasil- 2007

 Fernandes, Alírio; OSTEOMIELITES, 1ª edição, editora consejo

interospitalario de cooperacion- CIC, Maputo- Moçambique, 2001.

 Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia Associação Brasileira de

cirurgia da mão colégio brasileiro de radiologia, 5 de outubro de 2007, Cunha

LAM, Oliveira Filho OBA, Ohara G, Skaf AY

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