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Capítulo

14.1 Osteomielite Aguda


Priscila Rosalba Domingos de Oliveira, Jorge dos Santos Silva,
João Antonio Matheus Guimarães

Introdução Crianças maiores geralmente apresentam partes moles


normais próximas à área óssea infectada e são capazes de
As osteomielites têm sido classificadas de várias formas uma eficiente resposta meta­bólica, grande reabsorção do
levando-se em consideração alguns critérios, como a loca- sequestro e uma significante resposta periosteal.
lização do processo, extensão do acometimento ósseo, Adultos relatam sintomas vagos, como dor não caracte-
estado imunológico do hospedeiro, comorbidades e tipo de rística, e poucos sintomas constitucionais, podendo ocorrer
agente etiológico causador. febre, calafrios, edema e eritema local.
Para sua classificação, Lima e Zumiotti (1999) sugeri- Os abscessos iniciais na metáfise podem permanecer
ram um modelo baseado na classificação de Waldvogel contidos pelos mecanismos de defesa do hospedeiro, mas
(1970), mas modificada para maior aplicabilidade clínica. eventualmente persistem nas formas subaguda e crônica,
As osteomielites são classificadas em pós-traumáticas, de estendendo-se, em alguns casos, a estruturas adjacentes.
disseminação hematogênica ou por contiguidade, a depen- Esses achados parecem confirmar que o grau e a duração da
der do mecanismo de infecção óssea, e como agudas ou resposta inflamatória determinam a magnitude da destrui-
crônicas de acordo com o tempo de evolução dos sintomas. ção óssea. A rota de disseminação do processo infeccioso é
Para definir o tipo de tratamento ortopédico de uma osteo- controversa, podendo ocorrer da medula metafisária ao
mielite, o sistema de classificação mais utilizado é o de espaço subperiosteal através dos canais de Volkmann.
Cierny-Mader, que define estágios através da correlação O diagnóstico pode ser realizado pela história e exame
entre o local da infecção, a capacidade fisiológica do clínico, a despeito da sofisticação atual dos métodos por
paciente e a melhor opção de tratamento cirúrgico. O imagem.
status fisiológico do paciente é avaliado em A (normal), B Muitas vezes, nas formas mais importantes da doença,
(comprometimento local ou sistêmico) e C (quando o a pre­sença de edema e eritema em partes moles pode difi-
tratamento necessário é pior que a doença). Quanto à cultar o diagnóstico diferencial entre osteomielite e celu-
extensão anatômica, a infecção óssea pode ser I (medular), lite. Se não há confirmação, na presença de características
II (superficial), III (localizada) e IV (difusa). A combina- clínicas sugestivas de osteomielite hematogênica, o aspi-
ção desses fatores pode designar 12 estágios de osteomielite rado ósseo deve ser realizado, guiado por ultrassonografia
no paciente adulto. ou tomografia computadorizada. A lavagem do local com
Do ponto de vista microbiológico, Staphylococcus aureus, 5 mL de solução salina pode ser útil, em especial se não
Staphylococcus coagulase-negativo e bacilos Gram-negati- houver secreção suficiente na fase inicial. O agente etio-
vos aeróbios são, nesta ordem, os agentes mais frequente- lógico pode ser isolado através da aspiração em mais de
mente isolados, mas com percentual relativo variando de 70% dos pacientes. As técnicas modernas de identificação
acordo com o estudo analisado. Nas osteomielites de de fragmentos de antígenos bacterianos aumentam a utili-
disseminação hematogênica, é comum o achado de um dade dessa técnica. As culturas de sangue e a dosagem da
único agente como causador da infecção, enquanto nas proteína C reativa auxiliam no diagnóstico. Na fase aguda
infecções por contiguidade é comum o achado de infecção da doença, a contagem global de leucó­citos, a velocidade
polimicrobiana. de hemossedimentação e a dosagem da alfa-gli­coproteína
Serão descritas a seguir as osteomielites agudas, levando ácida estão aumentadas.
em conta os aspectos gerais de epidemiologia, diagnóstico O estudo radiográfico convencional na fase inicial da
e tratamento. doença não apresenta alterações, embora seja necessário
para excluir outras hipóteses diagnósticas, como tumor de
Osteomielite Hematogênica Aguda Ewing ou leucemia, e para estabelecer a base da interpreta-
ção das alterações subsequentes.
A osteomielite hematogênica aguda é uma doença funda- As alterações radiográficas das periostites e da destruição
mentalmente de crianças e, embora possa ocorrer em qual- óssea tornam-se aparentes entre o 10o e o 14o dia do início
quer fase da vida e atingir qualquer osso do corpo, as da doença. Essas alterações surgem mais rapidamente em
metáfises de crescimento de ossos longos (tíbia e fêmur) são neonatos.
as mais envolvidas. A tomografia computadorizada (TC) e a ressonância
O quadro clínico em neonatais é caracterizado por sin- magnética (RM) identificam as alterações que se seguem
tomas e sinais pouco exuberantes, incluindo dor, febre de ao desenvolvimento da lesão inflamatória. A TC demons-
início abrupto, irritabilidade, letargia e sinais locais de infla- tra abscessos subperios­teais, enquanto a RM pode ser útil
mação. A efusão arti­cular adjacente à infecção óssea está na detecção de alterações precocemente, como microabs-
presente em 60% dos casos. cessos intraósseos.
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CAPÍTULO 14.1 Osteomielite Aguda 1523

Embora os exames com substâncias radioativas, in­ Tabela 14.1.1 Razões entre as Concentrações Sérica
cluindo os leucócitos marcados, possam ser positivos na e Óssea dos Antimicrobianos Estudados
fase inicial da os­teomielite hematogênica, o objetivo prin- Razões entre os Níveis
cipal é identificar o agente infeccioso e determinar o Antimicrobiano Sérico e Ósseo (%)
esquema antimicrobiano mais apropriado, reiterando a Oxacilina 10
indicação da aspiração com coleta de material ou ob­­tenção Cefazolina 7,5 a 37
de fragmentos ósseos nos desbridamentos cirúrgicos. Vancomicina 5 a 21
O Staphylococcus aureus é o patógeno responsável pelo Daptomicina 7
maior número de casos. A maioria dos pacientes com bac- Ceftriaxone 5 a 19
teremia es­tafilocócica confirmada, excluídos os hospedei- Ceftazidima 27
ros imunodeprimi­ dos, apresenta infecções ósseas ou Cefepime 87 a 100
articulares. Vários focos infec­ciosos iniciais são relatados, Imipeném 16 a 48
incluindo cateterização venosa, on­ falites, infecções de Meropeném 17
pele, tonsilites e otites médias. No entanto, em expressiva Piperacilina/tazobactam 20 a 25
porcentagem dos pacientes com diagnóstico de osteomie- Piperacilina 5 a 7,5
lite hematogênica, não se identifica a porta de entrada do Ampicilina/sulbactam 12 a 33
processo, presumindo-se que portadores nasais de S. aureus
apresentem uma incidência maior de infecção óssea e arti-
cular. Essa bactéria adere ao osso através de proteínas do
Osteomielites Pós-traumáticas
hospedeiro, como a fibronectina, fibrinogênio e colágeno.
As adesinas responsáveis por essas ligações têm sido A implantação de microrganismos no tecido ósseo pode
demonstradas e denominadas como MSRAMM (microbial ocorrer por via hematogênica, por via direta no momento
surface componentes recognizing adhesive matrix molecules). de um trauma espontâneo ou cirúrgico, como nas fraturas
Sabemos também que determinadas cepas do Staphylococ- expostas, ou por contiguidade a partir de infecções das
cus aureus produtoras de tipos especiais de adesinas codifi- partes moles adjacentes.
cadas geneticamente têm maior potencial de aderência ao As osteomielites pós-traumáticas são devidas, na maioria
osso e cartilagens articulares, contribuindo para a gravi- das vezes, à implantação de bactérias por via di­­reta no osso
dade na evolução do caso. e classicamente representadas pela infecção na evolução das
Outras bactérias identificadas são Streptococcus agalac- fraturas expostas ou pelas osteomielites pós-operatórias.
tiae, Escherichia coli, Streptococcus pyogenes e Haemophilus Quanto às fraturas expostas, observamos muitas vezes a
influen­zae, com incidência diretamente relacionada à faixa contaminação pela microbiota intra-hospitalar resultante
etária. Salmonella spp. é um agente importante em pacien- da manipulação peri ou pós-operatória. A classificação de
tes portadores de anemia falciforme. Pseudomonas aerugi- Gustillo hierarquiza as fraturas expostas levando em consi-
deração a gravidade do ferimento, sugerindo o potencial de
nosa e Candida spp. são prevalentes nas osteomielites em
infecção para cada um dos graus de fratura, conforme
usuários de drogas ilícitas endovenosas.
demonstrado na Tabela 14.1.2.
O tratamento da grande maioria dos casos requer a
Um estudo multicêntrico americano demonstrou a
combinação de desbridamento cirúrgico e terapia anti- importância de fatores predisponentes de infecção nas fra-
microbiana adequada. A concentração atingida pelo turas expostas. Os três principais fatores relacionados a
antimicrobiano no osso é um dos fatores determinantes infecção pós-fraturas expostas foram fraturas dos tipos IIIb
da eficácia do tratamento da osteomielite, e, do ponto e IIIc, fraturas abaixo do joelho e o volume de sangue
de vista microbiológico, só é relevante a fração do anti- transfundido no atendimento inicial dos pacientes. Com
microbiano que permanece livre no fluido intersticial. menor importância, foram observados fatores anterior-
Além da concentração óssea adequada, o antimicrobiano mente consagrados, como idade, tempo entre o ferimento
deve ter farmacodinâmica adequada nesse tecido, repre- e o início da antibioticoterapia e/ou cirurgia.
sentada pela relação entre a concentração da droga no Na maioria das vezes os pacientes apresentam febre,
osso e as concentrações inibitórias mínimas (CIM) para sinais inflamatórios locais e drenagem de secreção puru-
a maioria dos agentes relacionados às osteomielites. A lenta pela ferida cirúrgica ou ferimento ainda exposto. A
Tabela 14.1.1 resume as variações descritas das razões exemplo das outras apresentações clínicas das osteomieli-
entre as concentrações óssea e sérica dos antimicrobia- tes, é necessário o isolamento dos agentes etiológicos para
nos estudados.
Quando o diagnóstico clínico é realizado, a possibilidade
de identificar o agente etio­lógico é de aproximadamente Tabela 14.1.2 Risco de Infecção em Fraturas Expostas
60%. Após a coleta dos exames, deve-se iniciar a terapêu-
Tipo de Fratura Risco de Infecção
tica segundo os agentes mais prováveis, conforme caracte-
Tipo I até 2%
rísticas descritas anteriormente e quanto à faixa etária,
Tipo II 2% a 7%
devendo a antibioticoterapia ser reavaliada após resultados
Tipo IIIa 7%
de culturas e adequada ao agente isolado e perfil de sensi-
Tipo IIIb 10% a 50%
bilidade. O tratamento antimicrobiano deve ser mantido
Tipo IIIc 25% a 50%
por 4 a 6 semanas.

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a elaboração de antibioticoterapia adequada. Sempre ao para a bactéria isolada no fragmento ósseo e manutenção
lado da antibioticoterapia correta, o desbridamento cirúr- por tempo adequado. O tratamento antimicrobiano deve
gico de todo o tecido mole e ósseo desvitalizado, bem como ser mantido por 4 a 6 semanas. A Tabela 14.1.3 mostra
a avaliação da retirada de materiais de síntese, é de funda- sugestões de esquemas empíricos para início de tratamento
mental importância para o controle da infecção. Também, das osteomielites agudas.
quanto mais rapidamente for restabelecida a cobertura Além desse posicionamento, vale lembrar que a antibio-
cutânea desses ferimentos através de retalhos convencio- ticoterapia não substitui nem exclui a necessidade dos des-
nais ou microcirúrgicos, melhor o prognóstico em relação bridamentos cirúrgicos extensos, retirada dos materiais de
às infecções ósseas crônicas. sínteses em algumas situações, das reparações ósseas e do
As osteomielites agudas pós-operatórias não são citadas revestimento cutâneo, para a obtenção do controle da
claramente na literatura mundial, mas devem ser abordadas infecção.
de maneira diferenciada do ponto de vista clínico e orto- O tratamento da osteomielite aguda é cirúrgico, princi-
pédico. Geralmente, essas infecções são complicações de palmente na vigência de um implante metálico, e o fator
cirurgias ortopédicas eletivas ou de urgência em que houve mais crítico do sucesso do tratamento é a qualidade do
a utilização de materiais de síntese. A apresentação clínica desbridamento. Em um estudo prospectivo, randomizado,
dessa entidade é, por via de regra, aguda, precoce e toxê- todos os pacientes que foram submetidos a um desbrida-
mica, com sinais locais evidentes. Em relação à etiologia, mento agressivo com uma ampla margem de ressecção, com
observamos ainda uma predominância discreta do S. aureus, pelo menos 5 mm, apresentaram completa erradicação da
porém o crescente número de cirurgias ortopédicas com o infecção em pelo menos 1 ano, enquanto no grupo de
uso de implantes e o aumento nos casos de traumas de alta curetagem e biópsia intralesional os resultados foram infe-
energia associados a fraturas expostas fazem que as infecções riores, apresentando recidivas no primeiro ano.
por agentes anaeróbios e bacilos Gram-negativos ganhem O objetivo do desbridamento é obter uma ferida limpa
importância cada vez maior. Embora representem uma e viável através de uma exposição atraumática. O sítio de
parcela menor no total de osteomielites, sua importância infecção deve ser limpo, com retirada de todo componente
clínica é grande pelas particularidades dos padrões de resis- com potencial para perpetuar o processo, incluindo corpo
tência antimicrobiana de tais agentes, pelo risco do surgi- estranho, osso necrótico, tecidos desvascularizados e
mento de resistência durante o longo tratamento demandado implantes não estáveis. Qualquer material residual conta-
e pelas comorbidades geralmente apresentadas pelos pacien- minado pode conter microrganismos dentro de biofilmes e
tes. Ainda mais recentemente, passou a ser descrita a acarretar a falência do tratamento.
importância de bacilos Gram-negativos multirresistentes, No caso de uma infecção aguda, a incisão e a drenagem,
especialmente Acinetobacter baumannii, como agentes cau- seguidas de uma lavagem copiosa e retirada dos tecidos não
sadores de osteomielite aguda pós-traumática em fraturas viáveis, reduzem significativamente a carga bacteriana
expostas dos membros inferiores. local, propiciando a ação dos antibióticos e das defesas do
A escolha da antibioticoterapia empírica imediata a ser paciente. Nessa situação, os implantes estáveis podem ser
instituída até que o desbridamento cirúrgico seja realizado mantidos, pois o tecido ósseo necessita de estabilidade para
com obtenção de fragmento ósseo para cultura e antibio- que o processo de cura possa ocorrer com consolidação da
grama baseia-se no perfil dos agentes mais comumente fratura e erradicação da infecção. A lavagem deve ser rea-
relacionados a esse tipo de infecção. Até o resultado da lizada com solução salina com um volume total de 3 a 9
cultura, é indicada a associação de antibioticoterapia com litros, existindo uma relação direta entre a quantidade de
ação sobre S. aureus meticilino-resistente, anaeróbios e soro empregada e a redução da carga bacteriana. O emprego
bacilos Gram-negativos. Deve-se, também, seguir princí- de aparatos de lavagem com pressão mecânica deve ser
pios clássicos baseados no uso de drogas bactericidas e que evitado, pois, além de causar lesão sobre as partes moles e
tenham concentração óssea conhecida, em dose máxima no osso, a pressão pode inocular microrganismos profunda-
para o peso do paciente, com espectro de ação adequado mente nos tecidos.

Tabela 14.1.3 Sugestão de Antibioticoterapia Empírica Inicial para os Casos de Osteomielite Aguda
Tipo de Esquemas Sugeridos Tempo de Tecidos a Serem
Osteomielite Aguda de Antibióticos Tratamento Enviados para Cultura Observações
Hematogênica Oxacilina 4a6 Osso Considerar punção ou drenagem do
+ semanas Sangue osso acometido
Ceftriaxone Reavaliação do tratamento deve ser
ou guiada pelo resultado da cultura
Aminoglicosídeo
Pós-traumática Glicopeptídeo 4a6 Osso Considerar retirada de material de
+ semanas Partes Moles síntese
Cefalosporina de 4ª geração Exsudato profundo Reavaliação do tratamento deve ser
ou guiada pelo resultado da cultura
Aminoglicosídeo
ou
Carbapenêmico

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CAPÍTULO 14.1 Osteomielite Aguda 1525

Em algumas situações em que existe espaço morto após Outra vantagem do emprego do cimento ósseo como
o desbridamento dos tecidos desvitalizados ou em casos de coadjuvante no tratamento da infecção é que, após 3
infecção óssea com maior tempo de evolução, a utilização semanas da implantação, forma-se uma membrana alta-
de cimento ósseo (polimetilmetacrilato), impregnado com mente vascularizada em torno da superfície do cimento que
um antibiótico para liberação local, está indicada. A justi- constituirá leito ideal para a utilização de enxerto ósseo
ficativa para essa medida é a possível persistência de um quando da existência de perda óssea local. Nessa situação,
significante inóculo bacteriano após o desbridamento, um segundo procedimento é necessário para a retirada do
cimento impregnado com antibiótico, realização de novo
apesar de uma lavagem copiosa com solução salina. A alta
desbridamento e lavagem exaustiva, sem a excisão da mem-
concentração local de antibiótico, geralmente em níveis brana formada em torno da superfície do cimento ósseo.
superiores aos da concentração inibitória mínima (MIC) Quando necessário, a utilização de enxertia óssea do ilíaco,
obtida com esse procedimento auxilia na eliminação do preferencialmente osso esponjoso, deve ser empregada para
inóculo residual. Os antibióticos utilizados no cimento preencher o espaço resultante da retirada do cimento.
ósseo não podem ser termolábeis devido à reação exotér- As Figuras 14.1.1 a 14.1.9 mostram um caso clínico de
mica da polimerização do polimetimetacrilato, que pode osteomielite aguda pós-traumática com bom desfecho
inativar esses agentes. clínico após condução, como descrito anteriormente.

Figura 14.1.1. Caso clínico: paciente Figura 14.1.2. Radiografia pós-ope- Figura 14.1.3. Radiografia pós-opera-
do sexo masculino, 26 anos de idade, ratória em anteroposterior do fêmur tória em anteroposterior do fêmur
vítima de acidente automobilístico, esquerdo evidenciando osteossín- esquerdo com 12 semanas de evolu-
com fratura fechada segmentar do tese com haste intramedular ção evidenciando sinais de periostite
fêmur esquerdo. Radiografia pré-ope- bloqueada. junto à cortical medial do fragmento
ratória em anteroposterior do fêmur intermediário da fratura do fêmur e
evidenciando fratura cominutiva da reabsorção óssea sem sinais de con-
diáfise. solidação. Iniciado esquema empí-
rico de antibioticoterapia oral.

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A B

Figura 14.1.4. A e B, Paciente com 14 semanas de evolução Figura 14.1.6. Imagem peroperatória de novo procedimento cirúr-
submetido a procedimento cirúrgico, consistindo em retirada da gico, com retirada de todo o tecido ósseo desvitalizado, coleta
haste intramedular e colocação de fixador externo, mantendo de material para cultura e antibiograma, desbridamento dos
antibioticoterapia venosa empírica. tecidos moles e lavagem exaustiva com soro fisiológico.

A B B C

Figura 14.1.5. A e B, Radiografia em anteroposterior do fêmur Figura 14.1.7. A–C Imagens da cirurgia após a ressecção de todo
esquerdo, com 8 semanas de evolução, após a retirada da haste o segmento ósseo desvitalizado, gerando um espaço morto que
intramedular, evidenciando presença de fragmento intermediá- foi preenchido por “pérolas” de cimento ósseo com antibiótico.
rio sugestivo de sequestro ósseo. Clinicamente, o paciente A imagem radiográfica evidencia a manutenção do fixador
permanecia com sinais de infecção, dor local e elevação de externo e as pérolas de metilmetacrilato com antibiótico preen-
PCR. chendo a área de ressecção óssea.

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Figura 14.1.9. Imagem radiográfica em anteroposterior do fêmur


12 semanas após a enxertia óssea de ilíaco evidenciando a
consolidação óssea, sem sinais de infecção.

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