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AGITAÇÃO

Consiste na movimentação de líquidos em tanques por meio de impulsores


giratórios. Com que finalidade? Os principais objetivos são:

1. Acelerar as taxas: de transferência de calor e massa.


2. Facilitar a realização de reações químicas.
3. Conseguir a suspensão de partículas num meio líquido.

Em geral precisamos da ação de mistura para:


 dissolver líquidos miscíveis
 dissolver sólidos
 misturar líquidos imiscíveis
 dispersar gases em líquidos
 misturar líquidos e sólidos

Portanto, trata-se de uma operação unitária muito empregada, tanto em


pequenas, quanto em médias e grandes instalações produtivas.

Alguns exemplos de seu uso:

 dissolução de açúcar, amido, sal, ácidos, etc.


 dispersão de hidrogênio em reatores de hidrogenação de gorduras.
 circulação de líquidos em reatores para fermentação
 tachos de tratamento térmico de laticínios
 tanques de extração
 tachos de cozimento
 tanques de retenção de produto em processamento
 tanques de mistura para preparação de sorvetes
 tanques de recirculação de salmouras para refrigeração
 tanques de aeração para tratamento biológico de resíduos líquidos
 tanques de lavagem de material
 misturadeiras e amassadeiras de pastas e massas para panificação
 suspensão de sólidos sedimentados para facilitar seu arraste por bombeamento, etc.

DESCRIÇÃO DE UM TANQUE AGITADO:

Na agitação de líquidos e pastas semilíquidas é necessário:

1. um tanque ou reservatório com instalações auxiliares


2. um rotor ou impulsor instalado num eixo e acionado por um sistema de motor e
redutor de velocidade (Figura 1).
2

4 defletores igualmente
espaçados Wb
Defletores tão finos
como possível

Hi

Elevação Plano
Figura 1: Configuração de um tanque agitado. H= altura de líquido no tanque,
T= diâmetro do tanque, D= diâmetro do impulsor, N= número de revoluções,
Hi= distância entre impulsor e fundo do tanque, W b= largura dos defletores

Existem muitos tipos de impulsores, a seguir se apresentam os mais comuns,


agrupados em 2 categorias:
1. agitadores para líquidos pouco consistentes ou de consistência média (Figura 2)
2. agitadores para líquidos muito consistentes (Figura 3)

a) Turbina de disco de Rushton b) Hélice c) Turbina de pás inclinadas


“Pitch”= 1,5 W= D/5; ângulo= 45o
L= D/4; W= D/5 e D do disco=
3D/4

d) Turbina de três pás inclinadas (“hydrofoil” )


vários ângulos e inclinações de pás

Figura 2. Impulsores para fluidos pouco consistentes mais usados na indústria


de alimentos.
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e) Âncora f) Espiral dupla


W= D/10 e h= H Di= D/3; W= D/6

Figura 3. Impulsores para fluidos consistentes mais usados na indústria de


alimentos

USOS

Hélice: utilizada geralmente para agitação de fluidos de baixa viscosidade (  2


Pa.s). O padrão de circulação é maior que uma turbina. Uso: suspensão de sólidos,
mistura de fluidos miscíveis ou transferência de calor. D  T e possui uma ampla
faixa de rotações.

Turbinas: padrão de escoamento radial, axial ou misto. Grande intervalo de


viscosidade: 10-3 < < 50 Pa.s. Os impulsores com pás montadas inclinadas (Figura
2c) apresentam escoamento axial que é útil para suspensão de sólidos, e os de pás
planas são adequados para agitação de fluidos viscosos. As turbinas de Rushton
(Figura 2a) são adequadas para agitação de fluidos poucos viscosos, dispersão de
gases em líquidos, mistura de fluidos imiscíveis, dispersão de gases e transferência de
calor. A turbina de 3 pás inclinadas é um dos melhores projetos de impulsores, porque
distribui a energia de maneira uniforme. O padrão de escoamento é misto e é muito
usado em dispersões de sólidos. D  T e a velocidade de rotação é alta.

Pás: D  T e a velocidade de rotação é baixa. Utilizada para mistura de fluidos


muito consistentes. Os mais utilizados em alimentos são o tipo âncora e o helicoidal.
O agitador de âncora dá escoamento radial e é empregado no intervalo de
viscosidades entre 5 e 50 Pa.s. É muito usado em transferência de calor. O tipo
helicoidal ou espiral dupla possui padrão de escoamento misto devido ao movimento
das pás, sendo que a interna joga o fluido para baixo e a externa para cima.
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Escolha do tipo de agitador

A Figura 4 pode auxiliar no processo de escolha do agitador apropriado, que


ainda é considerado uma “arte”.

Amassadeira
Tipo de agitador

Pá em Z

Helicoidal

Âncora

Turbina

Hélice

10-3 10-2 10-1 100 101 102 103 104

Viscosidade (Pa.s)
Figura 4. Tipo de agitador em função da viscosidade do sistema que está sendo
agitado.

Cálculo da potência de agitação

Podemos imaginar um agitador de líquido como um sistema de escoamento


horizontal e circular em que após um certo tempo o fluido retorna ao mesmo lugar de
partida. Aplicando a equação de Bernoulli :

P1 g v12 P g v2
   Ŵu  2   2  Ê f
 z1 2  z2 2

Como P1= P2 ; v12  v 22 e z1 = z2, tem-se que:


  Ê  m  m  f  L   Leq   v 2
 
Wu f  
2 D 

Assumindo, por enquanto que  Leq / D =0 , podemos assumir que L = D:


  f  v 2  (   v  A)
Wu
2

Se: v  ND e A  D2
onde
5

D = diâmetro do impulsor
N = número de revoluções por segundo.

  f ( ND 3 )    D 2  W
W   N  N 3  D5  
u u Po
2

Npo = Número de potência, indicativo de atrito do sistema.


Npo = f (Re, tipo de impulsor, presença de defletores no tanque, Fr, números
adimensionais geométricos)
Número de potência

Número de Reynolds

Figura 5. Número de potência versus Reynolds para diversos tipos de turbina

O gráfico Npo x Re lembra muito o diagrama de Moody. Há uma região


laminar (Re  10), na qual Npo = Kl / Re e uma região de turbulência onde N po = KT.
Os valores KL e KT são constantes e dependem do tipo do impulsor , das medidas do
tanque e das chicanas.
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A maioria dos agitadores tem representação gráfica do número de Potência,


mas no caso de agitadores para fluidos de alta viscosidade deve-se usar relações
empíricas:

0 , 28 0 , 53 0 , 33
150  H i   p  h  W 
- Helicoidal: N Po         nb0,54
Re  D   D  D  D 

0 , 31 0 , 48
85  H i  h
- Âncora: N Po     
Re  T   D

Onde:
Hi= distância entre agitador e fundo do tanque
D= diâmetro externo do impulsor
p= pitch
h= altura do agitador
W= largura das pás
nb= número de pás

Essas equações somente são válidas para escoamento em regime laminar.

Dimensões padrão: são geralmente empregadas no gráfico Npo versus Re:


São estas:

- Número de defletores = 4
D 1 Hi H Wb 1
-  ,  1,  1, 
T 3 D T D 10

W L
-  0,2 e  0,25 para turbinas
D D

W
-  0,2 5 para pás
D
L
W
-  0,2 - 0,25 para hélices W
D

Onde:
W= altura das pás do impulsor
L= largura das pás do impulsor

Passo ou distância entre as linhas de percurso: “pitch” = vai de 1 até 2 D

O gráfico de Npo versus Re de agitação que se empregará nos exemplos de cálculo, na


verdade é um gráfico de  versus Re.
Quando os tanques tem defletores:

  NPo
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Quando os tanques de agitação não possuem defletores ou chicanas deve-se evitar o


efeito do vórtice. Neste caso:

N po
 1
( a  log10 Re)
Fr b

A correção precisa ser feita quando Re  300 e resulta importante quando Fr  5. O


número de Froude quantifica a relação entre a energia cinética e a energia potencial.

V2 ( ND ) 2 N 2D
Fr   Fr agitação 
hg Dg g

Os valores dos parâmetros a e b são constantes:

1 a  2 podemos considerar a=1.5


18  a  40 podemos considerar b=29

Fluidos não newtonianos

O padrão de escoamento desses fluidos é complexo, porque perto das pás, o


gradiente de velocidade é grande e a viscosidade aparente é baixa. A medida que o
líquido se afasta das pás, a velocidade decresce e a viscosidade aumenta. Portanto,
assume-se que a agitação é homogênea e há uma taxa de deformação média para o
sistema. Essa taxa de deformação será função de :

  f (N, tipo de agitador e geometria do tanque)

A taxa de deformação será calculada como:   N

Tabela de valores de :

Impulsor Valor de 
Turbina de disco de 6 pás 11,5
Turbina de 6 pás – inclinação 45o 13
Hélice 10
Helicoidal H  H 
34  114 i  para 0,026   i   0,164
D D
Âncora H  H 
33  172 i  para 0,02   i   0,13
D D

Muitos fluidos alimentícios comportam-se como fluidos lei da potência, com o


qual:
  k n ou ainda,  app  k n 1

Neste caso, o número de Reynolds pode ser calculado como:


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ND 2 ND 2 D 2
Re   
 app k ( N ) n 1 k n 1 N n  2

O nível de agitação de um fluido é definido pela relação potência/volume que


vem dada pela tabela abaixo:

W
u
Nível ou grau de agitação
V
Watts HP
m3 m3
Até 80 até 0.1 Débil
80 - 230 0.1 - 0.3 Suave
230 - 460 0.3 - 0.6 Média

460 - 750 0.6 - 1.0 Forte valor mais usual

750 - 1500 1–2 Intensa


1500 - 2250 2–3 Muito forte
2250 - 3000 3-4 Muito intensa

Fatores de correção dos cálculos de agitadores:

(1) Quando existe mais de um impulsor no eixo: caso típico quando há transferência
de calor.
Neste caso: Hl  T, onde Hl é a distância entre os agitadores

Hl
Portanto:

H ul TOTAL  n o de agitadores  W u AGITADOR


W

A potência útil por impulsor unitário se calcula da maneira usual para agitador
de medidas padrão.

(2) O tanque e o impulsor tem medidas diferentes das medidas padrão.


Quando as relações geométricas diferem um pouco das medidas aplica-se um
fator de correção (fc) desenvolvido pelos pesquisadores dessa operação unitária.
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u corrigida  fc  Wu calculada de acordo com as medidas padrão


W 

 T   H 
   
fc   D  REAL  D  REAL
 T   H 
    PA DRÃO
 D  PAD RÃO  D 

 T   H 
Geralmente :    3 e    3
 D  PAD RÃO  D  PAD RÃ O

 (3) O sistema é gaseificado.

Quando o sistema é gaseificado, usa-se o gráfico de Ohyama e Endoh (Aiba)


ou o gráfico de Caldesbank (Mc Cabe):

 u , g   Wu , g  W

W  u calculada para líquido sem gás
 W  u 
 

V superficia l do gás  vazão do gás  4/ (T) 2

Ampliação de escala:

No desenvolvimento de processos, precisa-se passar da escala de laboratório


para a escala de planta piloto e desta para o tamanho industrial.
As condições que tiveram sucesso na escala menor devem ser mantidas no
tamanho maior, além de ser conservada a mesma proporcionalidade geométrica
(semelhança geométrica).
O cálculo da potência consumida na agitação é somente uma parte do
problema. Em qualquer problema de mistura existe sempre um processo ou resultado
esperado da agitação. O processo requerido pode ser uma mistura de um componente
(certo tempo de mistura), uma certa transferência de calor ou massa, a velocidade de
dissolução de um sólido, etc.
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Ampliação escala – Critérios (dependerão do objetivo do processo):

1. Semelhança geométrica entre modelo (1) e protótipo (2).

 T   T   H   H   Hi   Hi  W W
     ;     ;     ...     ;
 D  1  D  2  D 1  D  2  D 1  D  2  D 1  D  2
 Wb   Wb 
   
 D 1  D  2

Este critério deve ser sempre usado antes de aplicar os demais.

2. Semelhança geométrica e dinâmica

2.1 Regime laminar

NPo= f(Re); Re < 300


Neste caso: Re1= Re2 NPo1= NPo2
N D 2 N D 2
  1 1   1 1  D12 N1  D 22 N 2
 

 u
W  u
W
1
 2

 N1 D1
3 5
 N 2 D52
3

2.2 Regime turbulento

NPo  cte, independe de Re


São utilizados diversos critérios, segundo o objetivo da agitação.

2.2.1 Igualdade de potência por unidade de volume (valores mais usuais foram
fornecidos anteriormente – pág. 8)

Usos: Extração líquido-líquido; transferência de massa em dispersões gás-líquido;


dissolução de sólido em líquidos; transferência de calor; mistura de líquidos.
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W  
W
u1
 u2 V  volume de líquido no tanque
V1 V2
Wu u
W
1
 2
dividindo por D1 e D 2
 2  2
T1 H1 T2 H 2
4 4

Wu1 W 
2
 2
u2

 T1   H1  3  T2   H 2  3
    D1     D 2
D
 1  1 D D
 2  2 D
Simplificando por semelhança geométrica :
W W
u1
3
 u32
D1 D2
Substituin do a expressão anterior na igualdade N P o1  N Po2 obtém - se :

N13 D12  N 32 D32

2.2.2. Igualdade na velocidade periférica do agitador

Usos: Quando interessa manter a tensão de cisalhamento: dispersão-emulsificação.

 D1 N1 =  D2 N2  D1 N1= D2 N2

Como NPo1 = NPo2:


u
W u
W
1
 2
Substituin do a expressão anterior nesta, tem - se que :
 N1 D1  N 2 D52
3 5 3

W u W u
1
 2

D12 D 22

2.2.3. Igualdade nos tempos de mistura


Um outro conceito interessante no campo da agitação é o tempo de mistura.
No caso de mistura de líquidos miscíveis um trabalho de pesquisa foi
desenvolvido por Norwood e Metaner (Mc Cabe) e resumiram a informação em
um gráfico que faz lembrar o gráfico NPo x Re.
O gráfico tem uso limitado pois não entram no cálculo variáveis importantes:
, , .
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