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sem tratamentos cirúrgicos letais. Galeno (129-217 d.C.) acreditava que o câncer
era uma doença sistêmica que não poderia ser tratada com procedimentos
cirúrgicos (Davidson; Routt, 2014; Wyld; Audisio; Poston, 2015; Hoff et al., 2013).
A primeira descrição de uma cirurgia para remoção do câncer de maneira
adequada na perspectiva da oncologia foi no século I d.C., por Leonidas de
Alexandria. O médico descreveu a técnica de incisão gradual do tecido mamário
saudável adjacente a um tumor de mama, seguida de cautela até a ressecção
cirúrgica completa do tumor. Dessa forma, Leonidas descreveu o primeiro
princípio de cirurgia oncológica, que consiste na extirpação tumoral com uma
margem de segurança de tecido saudável (Wyld; Audisio; Poston, 2015).
Entretanto, as teorias que tratavam o câncer como uma doença sistêmica
não passível de tratamento cirúrgico permaneceram por mais de 1.500 anos.
Sendo assim, a cirurgia nesse período ficava reservada a lesões traumáticas,
tendo em vista que poucos optariam por procedimentos que causavam dor pela
ausência de anestésicos ou complicações agravantes, como a sepse, que
causava a morte da maioria dos pacientes. Sendo assim, apenas desalentados,
corajosos ou pacientes mal orientados eram submetidos a procedimentos
cirúrgicos, já que além de alta morbimortalidade as taxas de cura e sucesso eram
baixas (Davidson; Routt, 2014; Wyld; Audisio; Poston, 2015; Figueiredo; Monteiro;
Ferreira, 2013).
Na Idade Média cirurgiões passaram a reconhecer a possibilidade de tratar
tumores cirurgicamente por meio de procedimentos extirpativos radicais.
Considerado o pai da cirurgia alemã, Guilhelmus Fabricius Hildanus (1560-1624)
descreveu a aparente cura de um câncer de mama de crescimento lento por meio
da ressecção radical da mama com dissecção axilar (Hoff et al., 2013).
Os tratamentos cirúrgicos permaneceram raros até o surgimento de
avanços científicos em anestesia e assepsia. O advento da anestesia geral em
1846 pelo dentista William Thomas Green Morton e o pioneirismo em técnicas de
assepsia (1867) pelo médico e cirurgião britânico Joseph Lister tornaram a cirurgia
uma intervenção médica mais acessível, aceita e amplamente utilizada. Esses
avanços subsidiaram o desenvolvimento da cirurgia oncológica, com uma
expansão da terapêutica para além de lesões superficiais, como o tratamento do
câncer de mama e de neoplasias intra-abdominais (Wyld; Audisio; Poston, 2015;
Ganz et al., 2006; Lopez, 2005).
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Além de avanços em técnicas de anestesia a assepsia, o desenvolvimento
científico na área de patologia também impulsionou o interesse de pesquisadores
no tratamento do câncer. No século XVIII, patologistas descreveram as neoplasias
como uma ocorrência local que poderia se disseminar para outros sítios
anatômicos (Davidson; Routt, 2014; Figueiredo; Monteiro; Ferreira, 2013).
Na Idade Moderna, a expansão do conhecimento científico prosseguiu
ampliando a eficiência e progresso de procedimentos cirúrgicos no tratamento do
câncer. Posteriormente, foram descritas as primeiras gastrectomias,
prostatectomias, histerectomias, ressecções abdominoperineais, laringectomias e
esofagectomias. Apesar do desfecho oncológico satisfatório, entre os séculos XIX
e XX, a cirurgia oncológica ainda era associada a altas taxas de morbidade, e os
procedimentos resultavam em deformidades e incapacidades, causados pela falta
de recursos tecnológicos e diagnóstico tardio da doença, ocasionando redução
nas taxas de cura e de sucesso cirúrgico (Davidson; Routt, 2014; Figueiredo;
Monteiro; Ferreira, 2013).
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descoberta da radiografia, antimicrobianos e desenvolvimento da compreensão
da patologia e biologia tumoral (Crane; Selanders, 2017; Davidson; Routt, 2014;
Lopez, 2005).
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oncológica manteve-se como base do tratamento do câncer. Tendo em vista que
os maiores avanços no tratamento do câncer neste período foram provenientes
da cirurgia, durante esse período a área tornou-se popular pelo potencial de cura
ou controle paliativo de sintomas (Fisher, 2008; Ganz et al., 2006).
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Com o surgimento de terapias multimodais, novos desafios emergiram na
área de cirurgia oncológica. Um desses é o aperfeiçoamento do controle local da
doença, com menores taxas de morbimortalidade possíveis. Esse desafio foi
superado ao combinar tratamentos quimioterápicos e radioterápicos
neoadjuvantes ou adjuvantes com técnicas cirúrgicas melhoradas, que trouxeram
maior segurança, eficácia, preservação da função e aumento da qualidade de vida
(Wyld; Audisio; Poston, 2015; Hoff et al., 2013).
Posterior ao advento de novas modalidades de tratamento, houve maior
contribuição destas no controle da doença microscópica, o que permitiu uma
abordagem cirúrgica mais conservadora. Sendo assim, atualmente é possível
tratar tumores com cirurgias menos radicais, com maior preservação de estruturas
e funcionalidade, já que é possível associar a cirurgia a outras modalidades de
tratamento com as mesmas chances de cura e/ou de sobrevida livre de doença
(INCA, 2008).
Dessa forma, observamos que os avanços na área da cirurgia oncológica
estão relacionados ao aumento da complexidade dos procedimentos, visando
minimizar danos sem comprometer o curso da doença. Além do controle local do
câncer, a cirurgia tem desempenhado sua função no tratamento da doença
metastática, realizando cirurgias paliativas e ressecções potencialmente
curativas, que geram aumento de sobrevida dos pacientes (Wyld; Audisio; Poston,
2015; Hoff et al., 2013).
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3.1 Cirurgia preventiva
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3.2 Cirurgia diagnóstica
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Dentre as principais indicações dos acessos venosos centrais em oncologia
e hematologia se destacam:
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3.6 Cirurgia oncológica em cuidados paliativos
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técnica ainda é frequentemente utilizada e amplamente indicada. Entretanto,
atualmente a cirurgia oncológica dispõe de novas técnicas e abordagens que
viabilizam a ressecção tumoral com menores incidências de intercorrências,
incluindo distúrbios de cicatrização em grandes feridas operatórias (Davidson;
Routt, 2014).
Dessa forma, há uma tendência de que o número de cirurgias abertas
reduza, dando espaço a novas técnicas cirúrgicas minimamente invasivas.
Cirurgias laparoscópicas e robóticas auxiliam na rápida recuperação pós-
operatória e facilitam o retorno dos pacientes a suas atividades de vida diárias
(Davidson; Routt, 2014).
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movimentos, e filtração de tremores, viabilizando maior delicadeza e habilidade
na manipulação de tecidos (Figueiredo; Monteiro; Ferreira, 2013).
Crédito: Sentavio/Shutterstock.
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TEMA 5 – A CIRURGIA ONCOLÓGICA NA ATUALIDADE E PERSPECTIVAS
FUTURAS
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otimizando resultados e contribuindo com o desfecho oncológico e com o aumento
da qualidade de vida dos pacientes.
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REFERÊNCIAS
ACS – American Cancer Society. Types of biopsies used to look for cancer, jul.
2015. Disponível em: <https://www.cancer.org/treatment/understanding-your-
diagnosis/tests/testing-biopsy-and-cytology-specimens-for-cancer/biopsy-
types.html>. Acesso em: 31 jan. 2020.
LOPEZ, M. J. The Evolution of Radical Cancer Surgery. Surg Oncol Clin N Am,
Philadelphia, v.1, n. 14, p. XII-XV, 2005.
WANG, D. et al. Recent advances in surgical planning & navigation for tumor
biopsy and resection. Quantitative Imaging in Medicine and Surgery, North
America, v. 5, n. 5, p. 640-8, out. 2015.
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WYLD, L.; AUDISIO, R.; POSTON, G. The evolution of cancer surgery and future
perspectives. Nat Rev Clin Oncol, London, v.1, n.12, p. 115–124, feb. 2015.
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