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A desindustrialização gradual no
Brasil
O Brasil foi o país da América Latina que mais aprofundou e diversificou a estrutura produtiva
manufatureira no século 20.
Esse fenômeno ganhou impulso a partir dos anos 50, sob a lógica da substituição de importações,
economia fechada, proteção contra a concorrência externa e grande participação de grupos
estrangeiros.
A indústria criou capacidade de produzir desde bens não-duráveis até bens de capital sob encomenda,
mas, a partir dos anos 80, esse modelo passou a ser questionado, pois o protecionismo resultou em uma
estrutura viciada em subsídios e pouco competitiva no mercado internacional.
A partir dos anos 90, a indústria nacional foi exposta à concorrência externa durante o processo de
abertura da economia. O impacto não foi pequeno. Vários setores e empresas que não conseguiram se
modernizar fecharam as portas. Outros, no entanto, reagiram e novos investimentos ocorreram. O
Plano Real voltou a trazer alguma dificuldade competitiva por causa da apreciação da moeda brasileira
até 1998, mas a indústria, depois de alguns anos, voltou a atuar com força.
Nos últimos dez anos, no entanto, um novo desafio surgiu para a indústria nacional. A partir de uma
abundância da liquidez internacional, países como o Brasil, com elevada taxa interna de juros,
passaram a atrair esses capitais à procura de melhor remuneração.
Isso, aliado aos bons resultados da conta do comércio exterior brasileiro após 2003/2004, resultou em
uma entrada maciça de recursos externos. O mercado de câmbio brasileiro voltou a ser pressionado,
consumindo grande parte dos ganhos de competitividade comparativa que a indústria nacional
promoveu nos últimos anos.
É mandatório reduzir e redirecionar a carga tributária. A legislação que regula as relações de trabalho
requer flexibilidade, de forma que companhias com características, porte e mercados regionais distintos
possam encontrar em comum acordo com os empregados as regras, a remuneração e os benefícios mais
condizentes com a realidade de cada um.
O custo de capital e as péssimas condições de logística no Brasil são outros dois ingredientes que
minam a competitividade do produto brasileiro, exigindo mais investimento em infraestrutura.
Mas, mesmo que equalizados os custos tributários, trabalhistas, financeiros e de logística, é preciso
corrigir desequilíbrios com um dos principais parceiros comerciais do Brasil: a China.
Em certo sentido, a China replica o modelo asiático de desenvolvimento e industrialização que foi
utilizado anteriormente pelo Japão e pelos tigres asiáticos.
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Em outras palavras, ela mantém a moeda depreciada em um ambiente de elevada taxa de investimento
produtivo no mercado interno, utilizando-se da demanda externa como um vetor importante para o
crescimento.
A estrutura produtiva industrial global está sendo novamente moldada e o Brasil, com certeza, não
ficará imune a isso.
Essa inserção chinesa no plano global tem provocado mudanças significativas na estrutura produtiva
dos países, com o deslocamento de plantas e o fechamento de atividades produtivas. Mesmo que não
cessem atividade, muitas empresas desativam etapas fabris de forma gradual, representando uma lenta
e penosa perda de densidade da indústria. No limite, algumas que possuíam uma atividade significativa,
viraram praticamente firmas de montagem ou distribuidoras de produtos importados meramente
colocando marca própria no produto. Por trás ainda há o fato de o Brasil contar com enormes estoques
em produtos naturais que, quando exportados, causam nova pressão sobre o câmbio, considerando a
tendência de elevação dos preços de commodities. A diplomacia brasileira terá de ser extremamente
ativa e realista.
A situação é desigual, pois, à medida que o Brasil pratica o câmbio livre, a China se dá ao luxo de
praticar um câmbio controlado diante da enorme poupança interna acumulada. Enquanto nenhuma
correção é feita, o Brasil já pode ter ingressado, mesmo sem o saber, em um processo lento e gradativo
de desindustrialização silencioso, à medida que as indústrias vão penosamente se moldando à nova
realidade em que não é possível competir em face do novo cenário global.
É PRESIDENTE DA ASSOCIAÇÃO
DESTAQUES EM ECONOMIA
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