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Referência bibliográfica:
FOUCAULT, Michel. O poder psiquiátrico. Curso do Collège de France (1973-1974). Tradução de Eduardo Brandão. São Paulo: Marins Fontes, 2006.
Categoria
Aula Conceitos-chave Excerto Comentários
analítica
7 de O tema que lhes proponho esse ano é o poder psiquiátrico, um pouco em
novem descontinuidade com o que lhes falei nos dois anos precedentes, mas só um
poder psiquiátrico I
bro de pouco. (p. 3)
1973
7 de [...] tudo isso, é uma descrição fictícia, no sentido de que eu a construo a
novem partir de um certo número de textos que não são de um só psiquiatra;
descrição fictícia I
bro de porque, se fossem de um só psiquiatra, a demonstração não teria valor. (p.
1973 6)
7 de [...] como se apresenta essa instância do poder dissimétrico e não limitado
novem que atravessa e anima a ordem universal do asilo? (p. 6)
problematização I
bro de
1973
[...] funciona como uma clásula de dissimetria absoluta na ordem regular do
7 de
asilo, é essa presença que faz com que o asilo não seja, como nos diriam os
novem
poder dissimétrico III psicosociólogos, uma instituição que funciona de acordo com certas regras;
bro de
é um campo na realidade polarizado por uma dissimetria essencial do poder.
1973
(p. 6 e 7)
7 de [...] o poder nunca é aquilo que alguém detém, tampouco é o que emana de
novem alguém. O poder não pertence nem a alguém, aliás, a um grupo; só há poder
poder I
bro de porque há dispersão, intermediações, redes, apoios recíprocos, diferenças de
1973 potencial, defasagens, etc. (p. 7)
[...] esse sistema de poder que funciona no interior do asilo e que distorce o
sistema regulamentar geral, sistema de poder que é assegurado por uma
7 de multiplicidade, por uma dispersão, por um sistema de diferenças e de
novem posição tática do sistema hierarquias e, mais precisamente, no que poderíamos chamar de uma
I
bro de de poder disposição tática na qual os diferentes indivíduos ocupam um lugar
1973 determinado e cumprem certo número de funções precisas. Vocês têm aí,
portanto, um funcionamento tático do poder ou, melhor dizendo, é essa
disposição tática que permite que o poder se exerça. (p. 9)
7 de arco-temporal II A opoeração terapêutica que se formula desde esses anos de 1810-1830 é
novem uma cena e é uma cena de enfrentamento. (p. 12)
bro de
1973
Ora, agora eu queria tentar ver, nesse segundo volume, se é possível fazer
uma análise radicalmente diferente, no sentido de que eu queria ver se não
se pode colocar no ponto de partida da análise, não mais essa espécie de
7 de
deslocamento de sua núcleo representativo [análise das representações] que remete
novem
análise em História da III necessariamente a uma história das mentalidades, do pensamento, mas um
bro de
loucura dispositivo de poder. Ou seja: em que medida um dispositivo de poder pode
1973
ser produtor de um certo número de enunciados, de discursos e, por
conseguinte, de todas as formas de representações que podem
posteriormente se formar a partir daí e daí decorrer? (p. 17)
o dispositivo de poder como instância produtora da prática discursiva. É
7 de nisso que a análise discursiva do poder estaria em relação ao que chamo de
novem arqueologia, dispositivo arqueologia, num nível - a palavra "fundamental" não me agrada muito -,
I
bro de de poder, digamos num nível que permetiria apreender a prática discursiva
1973 precisamente no ponto em que ela se forma. A que devemos referir, onde
devemos procurar essa formação da prática discursiva? (p. 17)
7 de Dispositivo de poder e jogo de verdade, dispositivo de poder e discurso de
novem verdade, é um pouco isso o que eu gostaria de examinar este ano,
bro de retomando no ponto de que falei: o psiquiatra e a loucura. (p. 18)
1973
De fato, quando se fala de violência, e é aí que essa noção me incomoda,
sempre se tem presente ao espírito uma espécie de conotação que se refere a
um poder físico, a um poder irregular, passional, a um poder desenfreado,
7 de se ouso dizer. Ora, essa noção me parece perigosa porque, de um lado, ela
novem deixa supor, esboçando assim um poder físico, e regular, etc., que o bom
poder, violência, corpo
bro de poder ou o poder pura e simplesmente, aquele que não é atravessado pela
1973 violência não é um poder físico. Ora, parece-me ao contrário, que o que há
de essencial em todo poder é que seu ponto de aplicação é sempre, em
última instância, o corpo. Todo poder é físico, e há entre o corpo e o poder
político uma ligação direta. (p. 18 e 19)
7 de forma de análise; III Creio que o problema que se coloca é [...] fazer a análise dessas relações de Substituir o vocabulário
novem vocabulário poder próprias da prática psiquiátrica na medida em que — e será esse o psicosociológico por um
bro de objeto do curso — são produtores de certo número de enunciados que se pseudomilitar
1973 apresentam como enunciados legítimos. Logo, em vez de falar de violência,
eu preferiria falar de microfísica do poder; em vez de falar de instituição,
preferiria procurar ver quais são as táticas que são postas em ação nessas
forças que se enfrentam; em vez de falar de modelo familiar ou de
"aparelho de Estado", o que eu gostaria de procurar ver é a estratégia dessas
relações de poder e desses enfrentamentos que se desenrolam na prática
psiquiátrica (p. 21).
É um poder anônimo, sem nome, sem rosto, é um poder que é repartido
14 de
entre diferentes pessoas; é um poder, sobretudo, que se manifesta pela
novem
Poder na instituição implacabilidade de um regulamento que nem sequer se formula, já que, no
bro de
fundo, nada é dito, e está bem escrito no texto que todos os agen-tes do
1973
poder ficam calados. P.27-28
Pois bem, no lugar desse poder decapitado e des-coroado se instala um Descrição da anátomo-político
poder anônimo múltiplo, pálido, sem cor, que é no fundo o poder que
chamarei da disciplina. Um poder de tipo soberania é substituído por um
poder que po-deríamos dizer de disciplina, e cujo efeito não é em absoluto
14 de consagrar o poder de alguém, concentrar o poder num in-divíduo visível e
novem Poder disciplinar X nomeado, mas produzir efeito apenas em seu alvo, no corpo e na pessoa do
bro de poder soberano rei descoroado, que deve ser tomado "dócil e submisso"' por esse novo
1973 poder. Enquanto o poder soberano se manifesta essencialmente pelos
símbolos da força fulgurante do indivíduo que o detém, o poder disciplinar
é um poder discreto, repartido; é um po-der que funciona em rede e cuja
visibilidade encontra-se tão-somente na docilidade e na submissão daqueles
sobre quem, em silêncio, ele se exerce.p. 28
[...] ela [cena] me permite retificar um erro que cometi na História da
loucura. [...] A relação com a família vai ocorrer na história da psiquiatria,
mas vai se produzir mais tarde e, até onde posso ver atualmente, é no campo
Retifica o que escreveu da histeria que devemos apreender o momento em que se faz o enxerto de
14 de
em A história da loucura um modelo familiar na prática psiquiátrica. [...] Assim como o modelo da
novem
(sobre a família, a I família só intervém mais tarde, também o momento da verdade intervirá
bro de
verdade e a instituição mais tarde na prática psiquiátrica. [...] Tenho a impressão, aqui também, de
1973
na prática psiquiátrica). que o momento da instituição não é prévio a essas relações de poder. Isso
significa que não é a instituição que determina essas relações de poder,
como tampouco é um discurso de verdade que as prescreve, como
tampouco é o modelo familiar que as sugere. (p. 33).
[...] ainda estamos na emergência de algo que é o poder disciplinar [...]
deparado com outra forma de saber político que eu chamaria poder de
soberania. [...] Não é qualquer poder político, são dois tipos de poder
perfeitamente distintos e correspondentes a dois sistemas, a dois
14 de Apresentação de
funcionamentos diferentes: a macrofísica da soberania, tal como podia
novem macrofísica da soberania
I funcionar num governo pós-feudal, pré industrial, e a microfísica do poder
bro de e microfísica do poder
disciplinar, cujo funcionamento é encontrado nos diferentes elementos que
1973 disciplinar
dou a vocês e que aparece aqui apoiando-se de certo modo nos elementos
desconectados, arruinados, desmascarados do poder sobreano.
Transformação, portanto, da relação de sobrania em poder de disciplina (p.
34).
O que eu queria fazer este ano é, no fundo, uma história dessas cenas
psiquiátricas, levando em conta o que talvez seja, de minha parte, um
14 de História dessas cenas
postulado, em todo caso uma hi-pótese: é que essa cena psiquiátrica e o que
novem psiquiátricas analisadas
I se trama nessa cena, o jogo de poder que se desenha nela, devem ser ana-
bro de pelo seu jogo de poder,
lisados antes de tudo aquilo que possa ser organização ins-titucional, ou
1973 a microfísica do poder
discurso de verdade, ou importação de mode-los. [...] O que me proponho
este ano é mostrar a microfísica do poder (p. 40 e 41).