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O r d e m dos A d v o g a d o s d o Brasil

L ut a Pel a C r i a ç ã o e R e s i s t ê n c i a s

\ C
Z

- V

Rubens A p p ro b a to Machado
Presidente da OAB

H e rm ann Assis Baeta


C o o rd e n a d o r

A u ré lio Wander Bastos


A u tcr-P e s q u is a d o r
▲ i
__________ H L s t Q x i a d a
O r d e m d o s A d v o g a d o s d o B ra si l
Luta Pela Criação e Resistências
CONSELHO CONSULTIVO
Rubens Approbate Machado - Presidente da OAB/ CF
Ivan Alkimin - Presidente do lAB
Hermann Assis Baeta - Coordenador - Projeto História da OAB
José Geraldo de Sousa Júnicff - Sociólogo
Anna Maria Bianchini Baeta - Pedagoga
_______ Id ls tó ria da
O r d e m d o s A d v o g a d o s d o B ra si l
Luta Pela Criação e Resistências

Diretoria da Ordem dos Advogados do Brasil

Rubens Ápprobato M achado Presidente -

Roberto Á n to nio Busato - Vice-Presidente


G ilberto Gomes Secretârio-Geraf
-

Sergio Ferraz Secretário-Geral A d ju n to


-

Esdras Dantas de Souza Diretor-Tesoureiro


-
R e tra to d o Im p e ra d o r D. P e d ro II e m 1837. F o to acervo C o lé g io P e d ro II.
S U M Á R IO
Apresentação ____________________________________________________________ 9

Capítulo I - A Advocacia no Brasil Império _________________________________ 12

1.1. A Origem da Advocacia no Brasil C olônia________________________________ 12

1.2. A Advocacia no Brasil após a Independência Imperial______________________ 16

1.3. A Criação do lAB em 1843_____________________________________________ 24

1.4. As Exigências Burocráticas Imperiais para o Exercício da Advocacia_________ 32

1.4.1. As Exigências Tributárias para Advogar _______________________________ 33

1.4.2. As Exigências para a Obtenção de Licença para Advogar _________________ 38

1.4.3.Os Provisionamentos para o Exercício da Advocacia______________________44

1.4.4. As Incompatibilidades e os Impedimentos para o Exercício da A dvocacia 48

1.4.5. Os Direitos dos A d w g a d o s___________________________________________54

Capítulo II - O Projeto Montezuma _______________________________________ 58

2.1. A Influência Histórica do Decreto Francês de 1810________________________ 65

2.2. Os Debates sobre Projeto M ontezuma no Senado do Império ______________ 70

2.3. O Projeto M ontezum a na Câmara dos Deputados ________________________ 89


2.3.1. O Projeto Montezuma e as Oposições do Deputado Antônio José H enriques__ 92

2.3.2. As Críticas do Deputado Araújo Lima e de Outros ao Projeto M ontezuma____101

2.3.3. A Questão da Liberdade Profissional do Advogado _____________________104

2.3.4. A Defesa do Projeto de Criação da OAB pelo Deputado Silveira da M o tta_ 109

2.3.5. As Novas Críticas do Deputado Antonio José H e n riq u es________________ 114

2.3.6. As Críticas do Deputado Bandeira de Mello ao Projeto M o n te z u m a ______ 118

2.3.7.0 Adiam ento e o Ai^uivamento do Projeto M ontezum a na Câmara dos


D eputados______________________________________________________________126

Capítulo III - Os Projetos Nabuco de Araújo e Saldanha N&rinho de Criação da Ordem


dos Advogados no Império ______________________________________________ 128

3.1. O Projeto Nabuco de Araújo __________________________________________130

3.2. Análise Comparativa entre os Projetos M ontezum a e Nabuco de A ra ú jo ____ 138

3.3. A Petição do lAB à Câmara dos Deputados em 1869______________________ 142

3.4. O Projeto Saldanha M arin h o __________________________________________ 145

3.5. Análise Comparativa entre os Projetos M ontezum a, hfebuco de Araújo e Saldanha


M a r in h o _______________________________________________________________ 153

3.6. A Transformação do Instituto dos Advogados Brasileiros em Instituto da Ordem


dos Advogados Brasileiros e a Criação do Conselho da O rd e m ________________ 162

3.7.0 Instituto dos Advogados Brasileiros no Fim do Império e no Início da


República ______________________________________________________________164
Capítulo IV - A República e a Criação da Ordem dos Advogados Brasileiros 171

4.1. Preliminares Históricas ______________________________________________ 171

4 .2 .0 Instituto da Ordem dos Advogados Brasileiros na República ____________174

4.2.1.0 lOAB e a Assistência Judiciária na República ________________________ 176

4.2.2. Os Advogados e a Liberdade Profissional _____________________________ 178

4.2.3. O lOAB e a Defesa dos Interesses da Classe dos A dvogados______________ 184

4.3. A Restauração Rqjublicana das Políticas Tributárias Im periais_____________ 188

Capítulo V - Os Projetos Republicanos de Criação da Ordem dos Advogados __ 193

5.1. O Anteprojeto Barão de Loreto ________________________________________193

5 .2 .0 Prc^eto Celso Bayma ______________________________________________ 194

5.3. O Projeto Nogueira Jaguaribe ________________________________________ 195

5.4. O Substitutivo Aurelino Leal __________________________________________197

5.5. Análise Comparativa do Anteprojeto Barão de Loreto e o Substitutivo Aurelino


L eal___________________________________________________________________ 204

5.6. O Substitutivo Alfredo P in to __________________________________________205

5.7. Análise Comparativa dos Substitutivos de 1914 e 1915/16 ________________ 210

5.8. Análise Comparativa e Analítica dos Projetos de Criação da Ordem dos


Advogados______________________________________________________________212
5.9.0 Projeto Alfredo Pinto e sua Tramitação na Comissão do Senado de
1916 a 1925 _________________________________________________ 218

5.10.0 Último Incidente Republicano sobre a Criação da OAB _____________ 222

C a p ítu lo VI - A R ev o lu ção de 1930 e a C ria ç ã o d a O rd e m do s A dvog ado s


Brasileiros_____________________________________________________________ 228

C onclusão_____________________________________________________________ 235

índice O n om ástico______________________________________________________ 239

Referências Bibliográficas _______________________________________________ 243

Anexo I - O Decreto Francês de 1810 _____________________________________ 256

Anexo II - Estatuto de Lisboa ____________________________________________266

Anexo III - O Anteprojeto Barão de Loreto_________________________________268

Anexo IV - O Projeto Nogueira Jaguaribe__________________________________276

Anexo V - O Projeto Celso Baym a________________________________________ 278

Anexo VI - O Substitutivo Aurelino L e a l___________________________________ 282

Anexo VII - O ft-ojeto M aurício de L acerd a________________________________291

A nexo Especial I - Breve Biografia dos Presidentes do In stitu to dos Advogados


Brasileiros de M ontezum a a Levi C a rn e iro _________________________________293

Anexo Especíal II - Biografia dos Parlam entares que Atuaram nos Projetos sobre a
Criação da OAB ________________________________________________________ 304
APRESENTAÇÃO

Este livro, intitulado HISTÓRIA DA ORDEM D O S A D V O G A D O S-


Luta pela Criação e Resistências, revela todas as tentativas, obstáculos e oposição
à criação da O rdem dos A dvogados do Brasil no curso do tem po.
N a verdade, c o m o se c o n sta to u , são 89 a n o s de lu tas in ten sas e
resistências injustas que retardaram o diploma legai que iria fazer nascer a Ordem
dos Advogados.
R eco rd em o s que, q u a n d o se fu n d o u o In stitu to d o s A d v oga d os
Brasileiros (IA B),na forma do AVISO de 7 de agosto de 1843, do Estado Imperial,
a referida entidade tinha co m o finalidade precípua organizar a Ordem dos
Advogados.
O lAB não dispunha, por conseqüência, de legitim idade institucional
para, por si próprio, criar a O rdem dos A dvogados, entidade destinada a
disciplinar o exercício da advocacia em todo o País.
C om efeito, o lAB poderia tão só propor ao Im pério o u à República,
após sua proclamação, a criação em referência, com o o fez, em bora tais projetos
tenham sido frustrados.
Está claro que som en te u m diplom a legal, na acepção rigorosa da
expressão, oriundo do Poder Político do Estado nacional brasileiro, poderia,
com o aconteceu, criar a Ordem dos Advogados, em virtude das im plicações
existentes entre a Advocacia e o Estado.
N ão é sem razão que, hoje, a Constituição Federativa do Brasil estabelece
no seu art. 133 que:

“O advogado é indispensável à administração da justiça, sendo inviolável


po r seus atos e manifestações no exercício da profissão, nos termos da lei.'"
Para que não paire dúvida ao leitor, em bora o autor dos textos deste livro
tenha esclarecido a matéria, convém , desde já, transcrever ipsis litteris o disposto
n o artigo 2® dos Estatutos subm etidos por um a C om issão de advogados à
aprovação do Governo Imperial e aprovados pelo referido AVISO de 7 de agosto
de 1843:

“art. 2®- O fim do Instituto é organizar a O rdem dos Advogados, em proveito


geral da ciência da jurisprudência”

O autor-pesquisador deste livro, Prof. Aurélio W ander Bastos, realizou


u m trabalho exaustivo e dem onstrou, depois da análise de vários projetos
apresentados na Câmara e n o Senado, que foram infrutíferas todas as tentativas
de criação da entidade orgânica.
Ora alegava-se barreira constitucional, oriunda das C onstituições de
1824 e 1891, que prescreviam a liberdade de profissão e, por isso, não permitiriam
a criação de um a instituição específica organizadora e disciplinadora dos
profissionais da advocacia; ora as polêm icas entre senadores e deputados não
chegavam a term o e resultavam no arquivamento dos projetos; ora a famosa
pressão e articulação de rábulas, provisionados e até m em bros da magistratura
influíam de forma a propiciar obstáculos ao andam ento dos projetos; ora posição
am bígua de m em bros do próprio lAB, que às vezes a cu m u la w m suas funções
co m outras no parlam ento e na estrutura orgânico-adm inistrativa d o Estado,
retardavam a criação.
E nesse processo contraditório transcorreram-se 89 anos entre 7 de
agosto de 1843 (data da fundação do lAB) e 19 de novem bro de 1930 (data da
criação da OAB) sem que o Instituto dos Advogados pudesse cumprir, de forma
concreta e absoluta, o disposto n o art. 2° dos seus Estatutos, aprovados pelo
AVISO imperial de 7 de agosto de 1843.
Acresce observar que já em 1888, ao mudar o nom e de Instituto dos
Advogados Brasileiros - lAB - para Instituto da Ordem dos Advogados Brasileiros
- lOAB - a referida entidade não incluiu n o seu Regulam ento a norm a que
objetivava a criação da OAB, passando a ter, por objeto, tão só, n os term os do
art. l°y §1®, 1 e 2, do referido Regulamento, aprovado em 06 de dezem bro de
1888, o seguinte:
“ 1 - 0 estudo do direito, na sua história, no seu m ais am plo desenvolvimento.
nas suas aplicações práticas e comparação com os diversos ramos da legislação
estrangeira;
2- A assistência ju d ic iá r ia ”

Em suma, o lAB, agora com o novo nom e de lOAB, não obstante os esforços
e tentativas de m u itos de seus associados, com o se verá nesta obra, não foi o
criador da Ordem dos A dvogados do Brasil.

H erm ann Assis Baeta


Coordenador
______________ História da
Ordem dos Advogados do Brasil

C APÍTU LO I
A Advocacia no Brasil Im pério

Esta pesquisa consolida as normas brasileiras sobre o exercício da advocacia


entre o s an o s de 1808 a 1930, recorrendo, para efeito s d e recuperação
informativa, aos períodos históricos antecedentes. Pareceu-nos, neste sentido,
fundam ental para co m p reen são da m atéria co n so lid a d a um a introdução
histórica que indicasse os antecedentes norm ativos m ais im portantes sobre o
exercício da advocacia até a edição da Portaria de 7 de agosto de 1843, que
aprovou os Estatutos do Instituto dos Advogados Brasileiros.

1.1. A Origem da Adw cacia no Brasil Colônia

O exercício da advocacia n o Brasil, durante o período colonial, c o m o não


poderia deixar de ser, foi absolutam ente determ inado p elos regulam entos
m e tr o p o lita n o s . E stes e n c o n tr a m -se c o n c e n tr a d o s e c o n s o lid a d o s nas
Ordenações Filipinas de 1603 ', cuja influência estendeu-se até a independência
e, em m uitas circunstâncias, n o que se refere às norm as civis gerais e processuais,
até a República. Nas Ordenações e Leis do Reino de Portugal, m esm o após a
Independência, cabe destacar, em relação ao exercício da advocacia, os seguintes
livros cujos títulos especificam ente se referem ao papel do advogado e do
bacharel em D ireito na prestação da justiça e do serviço burocrático d o Estado.
N o texto das O rdenações Filipinas que consolida os axiom as e brocardos de
D ireito, coloca-se, preliminarmente: Advogado: sua assignatura he necessaria

‘ A lmeid\ , C â n d id o M en d e s d e (ed.). C ó d ig o Filipino o u O rd e n a çõ e s e Leis d o R ein o d e P o rtu g al, recom pU ados


p o r m a n d a d o d o Rei D. Filipe I, 14* ed., 3 vols. Rio d e Janeiro, In s titu to F ilo m ático , 1870. Esta edição
c o m e n ta d a é c o n su lta o b rig a tó ria p a ra a c o m p a n h a r o d e se n v o lv im e n to h is tó ric o d a re g u la m e n ta çã o d o
exercício d a adv o cacia n o Brasil d u ra n te o século XIX.

72
V o lu m e 2 Lu ta p o l a ( j - i a ç ã o c R e s i s t ê n c i a s

em artigoSy allegaçoes, cotas, e mesmo petições^. N o Livro 3, T ítulo 20, § 45,


encontram os que sobre os deveres do advogado assim é disposto: Q ualquer
advogado que não der o feito no termo que lhe for assignado, será logo condenado
pelo Juiz nas custas do retardamento, as quais pagará á parte. N o Livro 3°, Título
19, §§ 1° e 2° (Porto, 11 de agosto de 1867) ao se referir ao “regim ento das
audiências” encontram os que A dvogados entregão os autos pela simples descarga
feita no Protocolo na presença do Fiel, ou pelos recibos dos Escrivães^. Com pleta
este tem a o Livro 3°, T ítulo 28, que dispõe sobre as pessoas a que é defeso procurar
ou advogar.
Ainda nesta m esm a linha dispõe o Livro l.T ítuloè,'^^?^, 11 e 4 8 (Lisboa, 16
de novembro de 1700) onde se lê: advogado que fa z petição e deAggravo, em que não
se dá provimento, deve ser condemnado na pena da Lei* (dois mil réisp . Assim
também está disposto no Livro 1, Título 48, § 7° (Porto, 11 de agosto de 1685) que
os escrivães não acceitem Articuldados, Cotas ou Requerimentos sem assinatura de
Advogado^. Firmando esta posição, também se prevê no Livro 1, Título 48, § 7°
(Porto, 24 de março de 1672) para se não deferir na Relação a requerimentos, que não
foram feitos e assignados com o nome e sobrenome por advogado da Casa^.
Com relação ao exercício da advocacia, veja o Livro 1, Título 4 8 ,§ 25 (Lisboa,
28 de julho de 1671); que os penitenciados pelo Santo Officio, seus filhos e netos, debaixo
de certas penas não advoguem na Casa de Supplicação, nem nos mais Auditorios da
C ô r t^ . Interessantemente, afirmando sobre o exercício da advocacia, o Livro 3 da
Supplicação prevê que os Advogados, huma vez que receberão o patrocínio das causas,
não se podem escusar, senão p or causas legítimas declaradas na Lei, e juradas; e o que
se deve observar, sendo ou, não sendo os Constituídos Advogados da Cazà^.

' A ssentos de 2 d e m a io d e 1654, de 1 1 d e fevereiro de 1658, d e 24 d e m a rç o d e 1672 e d e 11 d e ag o sto d e 1685,


e art. 703 d o D e creto n “ 737, d e 25 d e n o v e m b ro de 1850.
’ Ai.MF.irw, C â n d id o M en d e s d e (ed.). A u x ilia r juridko '. ap ên d ice a o v. 1. Lisboa: F u n d : C alo u ste G u lb e n k ia n ,
198 5 .2 V, p. 251.
* ALMRim, C â n d id o M en d e s d e (ed .). A u x ilia r jurídico: a p ên d ice a o v ,l. Lisboa: F u n d : C alo u ste G u lb e n k ia n ,
1 9 85 .2 v ,p . 200,
* Tem lugar a m esm a p e n a , havendo despreso dos embargos, postos na C hancelaria às sentenças da Relação, a
q u a l fic a depen dente d o a rbítrio dos Juizes vencedores, havendo voto p o r p a r te dos embargos.
* Almeicw, C â n d id o M en d es d e (ed .). A u x ilia r juridico: a p ên d ice ao v .l. Lisboa: F u n d : C alo u ste G u lb e n k ia n ,
1985. 2 V, p. 193.
' ALMtiüA, C â n d id o M en d es d e (ed.). A u x ilia r juridico: a p ên d ice ao v .l. Lisboa: F u n d : C alo u ste G u lb e n k ia n ,
1985. 2 v ,p . 187.
* Aimi-ida, C â n d id o M en des d e (ed.). A u x ilia r juridico: ap ên d ice ao v .l. Lisboa: F u n d : C alo u ste G u lb e n k ia n ,
1985. 2 v ,p . 187.
’ Almeiim, C â n d id o M en d e s d e (ed.). A u x ilia r juridico: ap ên d ice ao v .l. Lisboa: F u n d : C alo u ste G u lb e n k ia n ,
1985. 2 v ,p . 316.

13
______________ História da
Ordem dos Advogados do Brasil

Em linha sem elhante, sobre o espaço de trabalho do advogado, v g a o que


estabelece os Arestos da Casa da Supplicação, Livro 1, T ítulo 79, § 45, XCIII: os
Advogados, como pessoas egrégias, podem d a r em suas casas os depoim entos a que
forem obrigados^^. Estas m esm as ordenações n o capítulo XCIV n o s oferecem a
seguinte inform ação antecedente na historia da advocacia sobre honorários de
advogado: Os salários dos Advogados podem ser estim ados p o r árbitros e cobrados
p or via su m m á ria '\
N o texto da consolidação das Ordenações fica visivelm ente estabelecido
que havia um a certa diferenciação n o exercício da advocacia n os diferentes
tribunais: Casa da Suplicação, Correição da Corte, Casa da Portaria d o Regedor,
Juízos inferiores e outros. Assim, por exem plo, dispõe o Livro 1, T ítulo 48, § 1*^
(Lisboa, 27 de novem bro de 1711): A dvogados da Suplicação, a quem são
removidas as Portarias, podem fa zer uso das suas Cartas nos Juízos inferiores, e
ainda mesmo na Correição da Corte dos feitos cíveis^^. A inda, observa-se n o Livro
1, Título 13, § 3° (Porto, 29 de m aio de 1751) que,

Juízo da Fazenda, a requerimento do seu procurador, avoca de qualquer outro


Juízo todos os Autos, em que a Fazenda interessa, não deve porém im pedir a
observância dos termos, legitim am ente practicados no cum prim ento das
A vocatórias: reprovando pa ra esse effeito o abuso in tro d u zid o de tirar
semelhantes autos violentamente das mãos de Advogados ou Escrivães dos
Juizes a que as Avocatórias são dirigidas'^.

O Livro 1, T ítulo 35, § 2“ se refere às exigências para exercer o cargo de


desembargador:

E o letrado que tom am os para desembargador da Relação do Porto, terá


estudado na U niversidade de Coim bra ao m enos doze anos d e D ireito
Canônico ou Civil, ou oito anos em cada um a das ditas faculdades, e quatro
anos de serviço de ju iz de Fora, ouvidor, corregedor, ou procurador, ou de
advogado na Casa da Suplicação.

A l m eid \ C â n d id o M en d e s de (e d .). A u xilia r jurídico: ap ên d ice ao v .l. Lisboa: F u n d : C alo u ste G u lb e n k ia n ,


1985. 2 V. p . 355 .
" Ib id .
A lm eida , C â n d id o M en d e s d e (ed .). A u xilia r jurídico: ap ên d ice a o v . l . Lisboa: F u n d : C alo u ste G u lb en kian ,
1985. 2 V . p . 206.
” A lm eida , C â n d id o M en d e s d e (ed .). A u xilia r jurídico: ap ên d ice a o v .l. Lisboa: F u n d : C alo u ste G u lb en kian ,
198 5. 2 V . p . 241.__________________________________________________________________________________________

14 •àB
V o lu n u ’ 2 L u l. i C n . K ã o c Rcsi.'Ic’ i u ins

Entre os anos de 1808 e 1822, da m esm a forma, a advocacia foi objeto de


vários regulam entos que não fugiram à orientação geral vigente durante o
período anterior. Assim , o exercício da profissão regulou-se, nesse período, pelas
seguintes norm as legais:
- Alvará de 13 de m aio de 1812, que criou um a Relação na capitania do
M aranhão e estabeleceu em seu T ítulo X, Artigo VIII, que cabia à Mesa em que
devem despachar alguns negócios pertencentes ao Tribunal do Desembargo do Paço
(...) conceder provisões anuais para advogar nos auditórios do distrito da Relação,
em que não houver suficiente número de advogados form ados pela Universidade
de Coimbra, às pessoas que o requererem.^'*
- Provisão s/n° de 19 de janeiro de 1818: Proíbe discrim inar os judeus na
escolha dos bacharéis que forem ocupar os lugares de letras.^^
- Provisão s/n® de 10 de fevereiro de 1820: sobre a determ inação de não
serem ad m itid os nos auditórios (...) advogados e ajudantes dos escrivães sem
provisão d a M esa do Desembargo do Paço.^^
- D ecreto s/n° de 10 de m aio de 1821: Declara os bacharéis form ados em
leis ou cânones pela Universidade de Coimbra, habilitados pa ra os lugares de
magistratura.^'^
- Provisão n® 79, da M esa do Desem bargo do Paço, de 7 de dezem bro de
1821: Declara que a um advogado da Relação da B ahiaprovisionado não compete
aposentadoria passiva. O texto desta provisão acrescenta ainda o D ecreto de 8
de outubro de 1771:

que concede o privilégio aos advogados da Casa d a Suplicação, não é aplicável


aos advogados das Relações subalternas, já porque os privilégios, odissos p o r
direito, não se devem estender fora dos casos positivam ente prescritos, já porque
os advogados da Casa da Suplicação têm outros requisitos e circunstâncias
qu e não concorrem nos advog ado s d a s o u tras Relações, d e v e n d o ser
im preterivelm ente exam inados p o r lição de ponto (...) e não se adm itindo
ja m ais advogados deprovisão.^^

" C L IB , 1812, p . 10-33.


'^C L IB , 1812-1818, t. II, 1818, p. 300.
“’CCLIB, 1819-1822, t. III, 1820, p. 65-66.
" C L B , p a rte 1 . 1821, p.10-11.
'* CLB, D ecisões. 1821. p .55-56.

•àB 75
______________ História da
Ordem dos Advogados do Brasil

- Provisão n® 30, da Mesa do D esem bargo d o Paço, de de abril de 1822;


declarando não ser da com petência do governador de província dar provisões
para advogados, visto que as provisões para advogar são da competência da Mesa
do Desembargo do Paço privativamente}'^
- Provisão s/n° de 6 de agosto de 1822: reitera a anterior ao declarar que é
privativo da M esa do Desembargo do Paço dar provisão para advogar/'^
A pós a independência foram ainda prom ulgados vários atos referentes ao
exercício da advocacia. Esses atos diziam respeito tanto a bacharéis formados
quanto a provisionados, com o se p ode observar n o texto con stitu cion al e
legislação que a seguir analisaremos. A leitura deste material m uito claramente
d em o n stra que o s regu lam en tos, alvarás, provisões, decretos, etc. foram
produzidos sucessivamente a fatos e situações concretas ou traduziram costumes
e práticas m uitas vezes centenárias. Dispersam ente, c o m o se verifica, tratam de
c o m p etên cia s para peticionar n orm as disciplinares aplicadas p elo R eino,
hierarquia entre os profissionais junto aos Tribunais e, inclusive, advogados
“exam inados por lição de p on to” ou bacharéis em Coim bra e advogados de
provisão.
Estes term os permearão a história da advocacia não apenas em Portugal,
m as n o Brasil co lo n ia l até o s dias recentes. O s re g u la m e n to s e práticas
advocatícias são um processo histórico que reflete a evolução das instituições,
diferentes situações éticas na relação entre advogados, juizes e o poder público
em geral, e, inclusive, com as partes que procurem seus serviços.

1.2. A Advocacia no Brasil após a Independência Imperial

A proclam ação da Independência política brasileira foi fundam entalm ente


um ato de Estado que m anteve guardadas as m odificações im prescindíveis à
estrutura e à legislação estatal m etropolitana, m uito especialm ente o Poder
Judiciário^’. Politicam ente,por u m lado, diferentem ente da Revolução Francesa
e seu processo de consolidação, os advogados extrem am ente vin cu lad os à
burocracia imperial não tiveram qualquer papel especial. Por outro lado, na

‘"C L IB , D ecisões, 1822, p. 21-22,


CCLIB, 1819-1822. t. III, 1822, p. 313)
BASTOS, A u rélio W an d er; O Legislativo e a organização do S uprem o Tribunal tio Brasil. B rasília/R io de
Janeiro. C â m a ra d o s D ep u tad o s/F C R B . 1978.

76 •àB
Volume 2 l uta })ela C r i . \ j u c Kt-sislêncicis

construção da C onstituinte de 1823, e no texto constitucional de 1824, os ideais


ilum inistas da Declaração dos Direitos do H om em e do Cidadão de 1789, bem
com o os ideais constitucionais, influíram decisivam ente abrindo espaços para
a sua atuação e fortalecim ento de seu papel político e judicial.
A C onstituição Política do Im pério do Brasil, de 25 de m arço de 1824, não
se referiu especificam ente à regulam entação da profissão, nem m esm o na parte
referente ao Poder Judiciário. Todavia, o capítulo VI (“D as Eleições”), em seu
artigo 92 estabeleceu que os bacharéis form ados maiores de 25 anos o u m esm o
c o m id ad e in ferio r a esse lim ite teriam v o to s nas e le iç õ e s p rim árias e,
conseqüentem ente, n os demais graus, podendo ser eleitor o u concorrer a cargos
públicos eletivos, o que foi m antido pela legislação eleitoral subseqüente?^
Todavia, foi de fundamental relevância a luta parlamentar pela criação dos
cursos jurídicos no Brasil desde 1823, juntamente com a Assembléia Constituinte.
O s debates parlam entares e os diferentes projetos de lei são inesquecíveis
docum entos referentes não apenas à formação que se pretendia para os advogados,
com o tam bém sobre a formação do estado nacional brasileiro e o papel dos
bacharéis em Direito e, posteriormente, ciências jurídicas e sociais^\
C om a independência e a criação dos cursos jurídicos^\ a primeira norm a
a tratar do exercício da advocacia foi a Lei de 22 de setem bro de 1828 que
extinguiu os tribunais das Mesas do Desem bargo do Paço e da C onsciência e
Ordens - o prim eiro, com petente para provisionar pessoas n o exercício da
profissão de advogado - e estabeleceu em seu artigo 2°, §§ 7- e 8 ^ que;

Aos presidentes das Relações compete conceder licença para que advogue homem,
que não é formado, nos lugares onde houver falta de bacharéis formados, que
exerçam este ofício, precedendo para isso exame na sua presença}^

“ CLIB, p a rte 1 , 1824, p. 7-36. S o b re as eleições n o Im p é rio , ver BASTOS, Ana M a r ta R.: Católicos e Cidadãos.
Rio d e Janeiro; L u m e n Juris, 1998.
" BASTOS, A urélio W an d e r. O Ensino Jurídico no Bm sil. Rio d e Janeiro: L u m en Juris, 2000. E a in d a . C riação
d os C u rso s Juríd ico s n o Brasil. C â m a ra d o s D e p utad o s. Rio de Janeiro: FCRB, 1977.
^ S o b re este te m a v er m in u c io s o e stu d o d e B ast os, A u rélio W an d e r “O E sta d o e a fo rm a ç ã o d o s c u rríc u lo s
ju ríd ico s n o B rasil”, in: O s Cursos jurídicos e as Elites Políticas Brasileiras, C âm ara d o s D e p u ta d o s , Brasília,
1878, p. 13-64, 0 5 C ursos Jurídicos no Brasil, C âm ara d o s D e p u tad o s e F u n d a ç ã o C asa d e R ui B arbosa,
Brasília, 1977.
” CLIB, 1828, p a rte I, p. 47-50. Ver ta m b é m BASTOS, A u rélio W and er: A organização e criação do S uprem o
Tribunal de Justiça no Brasil, op. cit.

•Al 77
______________ História da
Ordem dos Advogados do Brasil

U m aspecto importante, relacionado ao exercício da advocacia n o Brasil,


foi historicam ente definido no Aviso n“ 151, de 7 de outubro de 1828, da
Secretaria de Estado dos N egócios da Justiça, que declarou: sendo a advocacia
tnunus público não p o d e ser exercida p o r estrangeiros}^ M antendo este caráter
excludente - o que se entende até m esm o devido ao processo de consolidação
da independência - este docum ento classifica a advocacia co m o munuspublicd^\
N este sentido, a advocacia profissional se im planta le a lm e n t e n o Brasil com o
explícito serviço prestado publicam ente, o q ue só seria alterado, segundo
C ândido M endes de A lm eida, a partir de 1860^®.
Em bora sobre matéria diversa, a Lei s/n“ de 2 0 de setem bro de 1830, sobre
abuso de liberdade de imprensa, n o título III, artigo 16, fixou que:

0 5 prom otores devem ser form ados em Direito, ou advogados de profissão, e


onde absolutam ente os não houverem eleger-se-á quem parecer m ais apto
para isso, e poderão ser reconduzidos consentindo élesP

Com a promulgação do Código Criminal, em 16 de dezembro de 1830, por


m e io d o seu artigo 241, foram fixadas providências punitivas em relação ao
comportamento do advogado, especialmente aquele que caluniasse ou injuriasse nos
autos/ ° Este aspecto, fixado pelo Código Criminal, foi um a das primeiras iniciativas
de punição l^ a l aplicável aos advogados. O Aviso n^ 206, de 16 de junho de 1834, da
Secretaria dos N ^ ó c io s da Justiça, é um demonstrativo da força aplicativa deste
dispositivo, ao determinar que fosse punido o advogado que atacasse o juiz durante o
andamento do processo, estendendo a esse caso o disposto no artigo 46, § 4° do Código
do Processo Criminal (1832), que estabeleceu as competências do juiz de Direito^^.

^ CLIB, decisões, 1828, p. 127.


” S e g u n d o José N áufel, N ovo D icionário Jurídico Brasileiro, m u n u s público é o encargo q u e em a n a de autoridade
pública o u d a lei. q u e não p o d e ser recusado pelos cidadãos a q u e é im posto. E x.: o serviço d o jú r i, o serviço
m ilitar, o serviço eleitoral etc... (vol. III, 6* ed-, Ed. B eta, 1976, p. 156).
A profissão d o a d v o g a d o p o r nossas antig as leis e ra m m u n u s público-, m as u ltim a m e n te te m -s e d iv e rsam en te
in te rp re ta d o . V ide Avs. N ° 4 1 0 ,d e 29 d e s ete m b ro d e 1860, n “ 318, d e 19 d e ju lh o d e 1865, § 5», c o n tra o
q u e d is p u n h a o av iso d e 7 d e o u tu b r o d e 1828 (...). E ta n to e ra m u n u s público, p e lo m e n o s os d e n ú m e ro
d as Relações, q u e p e lo Reg. D ed. 7 d e ju n h o d e 1605 § 12 n ã o p o d ia m sair d a s au d iên cias, o n d e e ra m
o b rig a d o s a c o m p a re ce r, s e m licença d o juiz. H oje, p e lo s Avs. N ° 522, d e 23 d e n o v e m b ro d e 1863 e n “
423, de 16 d e s e te m b ro d e 1864 os a d v o g ad o s p e rd e ra m a qu alificação d e m u n u s público p a ra a su a
profissão. A LM EIDA , C â n d id o M en d e s de, op. cit., n® 6, p. 86.
* CLIB, p a r te 1 , 1830, p. 40.
" C L I B , p a rte 1 , 1830, p. 187.
” CLIB, D ecisões, p a r te 1 , 1834, p. 153.

18
\u lL in ic 2 l . u l a p e l . ) C r i . i c ã o V R e s i s i õ n c i.is

Sem correlação direta com o exercício da advocacia, m as im portante enquanto


instrum ento de consolidação do Estado N acional, a Lei de 18 de agosto de 1831
(que criou a Guarda Nacional) inclui, através do seu artigo 18, item 2“, na lista
da reserva os advogados que nesse sentido requeressem, e os estudantes de cursos
jurídicos^^
O D ecreto de 3 de janeiro de 1833, que regulou as Relações do Im pério,
por m eio d o seu artigo 7^, § 5^, am pliou o disposto na Lei de 22 de setem bro de
1828 que havia dado aos presidentes das Relações com petência para provisionar
cidadãos co m o advogados. Este decreto possui duas características im portantes
em relação à Lei de 1828: em primeiro lugar deu aos presidentes das Relações
com petência para exigir exam e prévio daqueles cidadãos não form ados que
quisessem advogar nas localidades onde não houvesse bacharéis formados; em
segundo lugar, estabeleceu que tam bém aos presidentes das Relações com petia
con ceder licen ça para advogar a brasileiros form ad os o u d ou torad o s em
universidades estrangeiras. Esse últim o aspecto foi o que m ais claram ente
a m p lio u as m en cio n a d a s co m p etên cia s dos p residentes das R elações, ao
conceder-lhes poderes para autorizar bacharéis form ados n o estrangeiro a
advogar” .
Mais tarde, o A viso n^ 212, de 19 de junho de 1834, da Secretaria de
N egócios da Justiça, restringiu esta com petência aos term os da Lei de 1828,
significando que som ente poderia autorizar o provim ento aos cidadãos não
form ad os em ad vocacia o presidente da Relação e m a is n e n h u m a outra
autoridade, m e sm o que com petente para autorizar o exercício de profissões
similares com o oficiais de justiça, entre outras^'*. Estes avisos revelam, sobretudo,
as marchas e contramarchas que marcaram esta fase inicial da regulam entação
do exercício da advocacia no Brasil.
O Aviso n“ 328, de 21 de novem bro de 1835, expedido pela Secretaria dos
N egócio s da Justiça, e que solve dúvidas sobre a execução de diversos artigos do
C ódigo de P rocesso Criminal, dispôs em seu item 1“ que

O prom otor público não pode encarregar-se de defesa de algum réu, porque o
exercício d a profissão de advogado, em causas crimes, se não p o d e bem
combinar com o desempenho das atribuições que lhe são marcadas nos artigos.
37, 73, 74, 238, 241, 279, 329 e 335 do Código de Processo Criminal.
» CLIB, p a rte I, 1831, p. 52-53.
» CLIB, p a rte II. 1833, p. 2-19.
CLIB, D ecisões, p a r te 1, 1834, p .l5 9 .

19
______________ História da
Ordem dos Advogados do Brasil

O item 3- deste m esm o aviso estendeu a proibição de advogar aos escrivães


dos juizes de Paz, com base nas Ordenações de 1603^^. E foi na m esm a linha de
d efin içã o de in com p atib ilid ad es q u an to ao d e se m p e n h o das fu n çõ es de
advogado o Aviso n° 621, de 5 de dezembro de 1837, do m inistro da justiça ao
presidente da província do Rio de Janeiro, declarando ser incom patível o
exercício da advocacia com o de juiz m unicipal dentro de um m esm o termo^^.
O aviso anterior, n° 328 (item 6 °), de 21 de novembro de 1835, foi também o
primeiro a definir que na falta de defensor poderia o juiz de Direito determinar que
algum advogado do auditório fosse designado para defender o réu, e, não o fazendo,
ficar sujeito à pena prevista nos artigos 203 e 204 do Código do Processo CriminaP^.
D entro desta seqüência de norm as punitivas aplicáveis ao advogado, há
que se destacar ainda o Aviso n “ 437, de 8 de agosto de 1836, expedido pela
Secretaria dos N egócios da Justiça e dirigido ao Presidente interino da Relação
da Bahia, reiterando que aos advogados caberiam pagar as m ultas fixadas em
virtude do art. 310 do C ódigo Criminal, quando retardasse na entrega dos autos.
Recomendava, tam bém , que se adotassem procedim entos mais rigorosos contra
os advogados que se tornassem “incorrigíveis”^®.
O aviso n- 102, de 18 de fevereiro de 1837, do m inistro da Justiça ao
presidente de província da Bahia, trata de queixa apresentada por negociantes
ingleses contra o seu juiz conservador, que remetera ao juiz de Paz um processo
sobre desobediência de advogados que deixaram de entregar o s autos nos termos
estabelecidos por lei. A resposta do m inistro da justiça esclarece dois aspectos:
o prim eiro é que por se tratar de cidadãos ingleses, a matéria era da com petência
do próprio juiz conservador, podendo este aplicar as penas de m ulta, conform e
0 disposto n o aviso de 8 de agosto de 1836, acim a com entado. O segundo, e
m ais im portante aspecto deste Aviso, é que m ostra a inexistência de pena de
prisão para advogados n o caso de dem ora o u falta de entrega d os autos^^.
N o espírito ainda de d efinição das n orm as p u n itivas, n ã o faltaram na
história da legislação que tratou do exercício da advocacia n o Brasil episódios
universitários c om reflexos sobre a regulam entação da profissão. A ssim , por
exem p lo , o A viso n ° 182, d e 12 de abril d e 1837, d o m in istr o d o Im p ério ao

CLIB, D ecisões, 1835, p. 296-297.


CLÍB, D ecisões. 1837, p. 416-417.
” CLIB, D ecisões, 1835, p. 297.
C LIB, D ecisões, 1836, p. 262-263.
” CLIB, D ecisões. 1837, p. 62-63.

20 O ál
Voiuine 2 Luta |)ola Criac^ào c Resistônc ias

p residente da p rovín cia de Pernam buco, d eixou claro que u m bacharel não
p o d ia ser im p e d id o de advogar por n ã o estar de p o sse da sua carta de
bacharel, d ev id o ao fato de, na form atura, ter in su ltad o o presidente d o ato
e os dem ais lentes, e te n d o dessa form a deixado de cum prir o s rituais de
p raxe. N e ste s c a s o s , s e g u n d o este a v iso , d e v e r ia a p e n a s a p lic a r -s e as
d isp o siç õ e s disciplinares d os estatutos dos cursos ju rídicos d o Im pério, de
7 de n ovem b ro de 1831, não cabendo as n orm as p u n itivas previstas para
advogados'’®.
Som ente em 1842, com o Regulamento n° 143, de 15 de março (que regulou
a execução da parte civil na Lei n° 261, de 3 de dezembro de 1841), através do
item 11 do artigo 15, é que se definiram as práticas processuais relativas às penas
e multas em que porventura incorressem os advogados^’ . Em 1836 com eçaram a
surgir as primeiras restrições ao licenciamento para cidadãos advogarem com
base no já com entado Decreto do 3 de janeiro de 1833. Sobretudo porque, segundo
se depreende do Aviso n- 25, de agosto de 1836, do ministro da Justiça ao presidente
da Relação do Rio de Janeiro não se vinha cum prindo o art. 7^ § 5® do Decreto de
1833. Segundo o m encionado aviso de 1836:

sendo tantas e tão repetidas licenças concedidas com tão manifesta infração
do art. 7^ §5^ do Decreto de 3 de janeiro de 1833, V. S. deverá sobrestar em
concedê-las como tem feito, nem renová-las aos licenciados logo que os prazos
p o r que foram concedidas as de quem gozam.

Esta restrição, co ntudo, referia-se som ente àqueles provisionados para


advogar na Corte."*^
C om o se verifica, a prom ulgação dispersa destas norm as sobre o exercício
da advocacia atribuía aos poderes públicos, principalm ente judicial, não só o
poder de provisionar cidadãos advogados, com o tam bém prescrevia condutas
e prefixava penas, m ultas, incompatibilidade e im pedim entos. N a verdade, no
contexto legislativo que discorrem os, a advocacia vinha se consolidando no
Brasil com o um a profissão de estado regulada pelo Estado im perial. É claro
que esta especial situação repercutiria sobre a sua história p rofission al e,
principalm ente, sobre o seu exercício independente do Estado.

CLIB, D ecisões, 1837, p. 182-183.


" CLIB, t. v. p a rte II, 1842, p. 203-204.
C LIB, D ecisões, 1836, p. 285.

21
______________ História da
Ordem dos Advogados do Brasil

A situação, todavia, n o contexto geral era u m p ou co m ais com plexa. O


exercício da advocacia, mais ainda, estava subm etido a outras obrigações que
fugiam à autorização dos presidentes das Relações para advogar sem carta de
bacharel o u outros procedim entos judiciais conform e verem os. O Aviso de 19
de outubro de 1833, do presidente do Tribunal do Tesouro Público Nacional,
nesse sentido declara: as cartas dos bacharéis e doutores não são isentas das taxas
do selo. Isso significa que para advogar os bacharéis teriam suas cartas seladas
pelo Estado imperial. Este m esm o aviso rem ete-se a duas disposições anteriores:
o s Alvarás de 27 de abril de 1802 e 24 de janeiro de 1804, que trataram da
referida taxa**\ D em on strou -se, assim, a co n exão d os políticos d o passado
colonial com o s políticos desta época.
Da m esm a forma, a Lei n“ 60, de 20 de outubro de 1838, que fixou a despesa e
orçou a receita para os anos de 1839 a 1840, estabeleceu a quantia que deveriam
pagar os advogados e procuradores pela aquisição de suas provisões e carta de doutor
e bacharel, nos auditórios do Rio de Janeiro, Bahia, Pernambuco e Maranhão*” .
O Aviso n“ 238, de 16 de janeiro de 1841, do presidente d o Tribunal do
Tesouro Público Nacional, volta a reiterar que o advogado estava obrigado, para
exercer a profissão, a pagar determ inado im posto pelos títulos de nom eações e
provim entos, seja para iniciar suas atividades o u para continuar exercendo-as.
Segundo este aviso, aqueles que se apresentarem n os auditórios sem

os seus títulos de novas nomeações, e provim entos, sem que m ostrem ter pago
im posto [...j [poderia ser suspenso do exercício] [...]p o isse m essepagamento
se não po d em julgar legitim am ente providos*^.

O utro tip o de im posto a que estav^m subm etidos o s advogados, em bora


referido em Alvará de 20 de outubro de 1812, n o Brasil independente só foi
regulam entado por m eio da Lei n“ 70, de 22 de outubro de 1836, que pelo artigo
92 ^ 4 a estabeleceu que cobrar-se-ia na Corte, nas capitais da Bahia, Pernambuco
e M aranhão a quantia de 10% (dez por cento) sobre o aluguel de casas de
com ércio, escritórios de negociantes e de advogados, entre outras^^.
Avisos subseqüentes revelam o interesse desta m atéria ao apontarem para
o fato d e que, na realidade, se advoga sem o respectivo provim ento o u licenças

CLIB, D ecisões, 1833, p. 437.


" CLIB., 1.1, p a rte 1,1838, p. 49-65.
CLIB. D ecisões, t. IV, 1841, p. 8.
“ CLIB, p a r te 1 ,1836, p . 43-54.

22
\'()luiT)l' 2 l.ula Cl iac.U) c Rvsislúni i.i^

para tal. É o caso, por exem plo, das Decisões 507, de 10 de outubro de 1837,
e n° 296, de de abril de 1841, que declararam:

não estão compreendidos na disposição do artigo 9^, § ^ d a Lei de 22 de


outubro de 1836, os indivíduos que, não tendo provim ento de advogados, p o r
nenhum título estão autorizados para exercer o ofício da advocacia, e não
são adm itidos e reconhecidos como advogados nos auditórios*'^.

Este texto indica que muitos buscavam pagar os m encionados impostos com o
meio de fugir às limitações estabelecidas pela legislação que regulamentava o e)ffircício
da advocacia. Entretanto, se os avisos mostram a inviabilidade desta solução com o
forma de fugir à legislação vigente, não significam que na prática tenham sido
impedidos de advogar em alguma situação. Verifica-se, inclusive, que se firmou
uma posição administrativa sobre a obrigatoriedade do pagamento dos impostos.
É o que se pode concluir por m eio da Decisão n° 302, de 25 de m aio de 1841, do
presidente do Tribunal do Tesouro Público Nacional respondendo a ofício do
inspetor de Tesouraria de Alagoas, em que esclarece não caber isenção de impostos
de escritórios de advogados, nem de tabeliães e escrivães a pretexto algum, nem
mesmo o da indigência, que não é presumível nos que de tais empregos subsistem^^.
Além destes avisos, a Lei n“ 243, de 30 de novembro de 1841, que fixou a
despesa e orçou a receita para os anos de 1842-43, estabeleceu por m eio do § 5“,
parte I, que nas cidades do Rio de Janeiro, Bahia, Pernambuco e Maranhão os
advogados não formados, mas providos vitaliciamente, deveriam pagar sessenta
mil-réis de im posto anual para exercer a profissão. Nas demais cidades do Império
o m esm o im posto foi fixado em trinta mil-réis. Aqueles que fossem providos
temporariamente, m esm o com provimento inferior a um ano, pagariam dois mil
réis por ano'*’.
Essa lei explicita um a questão que até agora não estava evidente, o u seja,
além d o s ad vog ad os fo r m a d o s, que obtiveram o títu lo n o Brasil o u no
estrangeiro, os provisionados classificavam-se em “vitalícios” e “tem porários”
Tudo leva a crer que os prim eiros fossem aqueles que obtiveram a provisão
antes do Decreto de 3 de janeiro de 1833 (anteriormente com entado),eos temporários
aqueles que exerciam a profissão com base nos requisitos fixados a partir deste decreto.

CLIB, D ecisões, 1837, p. 353 e CLIB, D ecisões, t. IV, c a d e rn o 3®, 1841, p. 28.
” CLIB, D ecisões, t. IV, c a d e rn o 4“, 1841, p. 35.
CLIB, p a rte I, t. IV, seção 30*, 1841, p. 84.

23
______________ História da
O rdem dos Advogados do Brasil

O ano de 1842 foi m uito significativo na história da regulam entação da


advocacia no Brasil, um a vez que a reinstalação do C onselho de Estado, pela Lei
n° 234, de 23 de novem bro de 1 8 4 1 ,e o conseqüente Regulam ento n° 124, de 5
de fevereiro de 1842, definiram -se não só as suas funções contenciosas com o
tam bém a participação do advogado neste contencioso. Assim é que pelo art.
36 ficou estabelecido que após a apresentação do relatório d o presidente da
seção, sobre as consultas ao C onselho de Estado, poderão os interessados por
seus advogados assistir e fazer os reparos precisos para sua retificação^°.
Esta mesma lei, além de ter definido as atividades que os advogados do Conselho
de Estado (fixados em até dez) poderiam exercer, estabeleceu no seu art. 38:

O advogado que fa lta r ao devido respeito ao Conselho, às seções, ou cada um


dos seus conselheiros, será demitido; e sefo r um ato de ofício, além de demitido,
será p u n ido na form a das /eíV .

A participação do advogado nas funções do contencioso do C onselho de


Estado foi essencial quanto ao reconhecim ento da im portância pública desta
função. Se até então as suas atividades ficam restritas às órbitas da Justiça,
especialm ente às Relações, a partir da fixação de suas funções neste órgão de
assessoramento ao Poder Moderador, o C onselho de Estado, redefinia-se o papel
desta profissão e a sua im portância para o funcionam ento do próprio Estado.
Pareceu-nos que este fato não pod e ser dissociado da prom ulgação, em 7 de
agosto de 1843, da portaria expedida pela Secretaria de Estado dos N eg ócios da
Justiça, aprovando os Estatutos do Instituto dos Advogados Brasileiros^^

1.3. A Criação do lAB em 1843

A Ordem dos Advogados do Brasil, idealizada em 1843, só foi efetivamente


criada em 1930, oitenta e sete anos depois da criação do Instituto dos Advogados
Brasileiros - lAB, na forma de Aviso assinado por H on orio H erm eto Carneiro
Leão, secretário de Estado de N egócio da Justiça, após deferim ento do imperador

« CLIB, p a r te IV. 1 8 4 2 ,'p ri5 2 .


C.L.I.B., p a rte II, t. IV, 1842, p. 152.
(NA, II - 82, p. 37). In te re ssa n te n o ta r q u e esta p o rta ria n ã o se e n c o n tra p u b lic a d a n a C oleção das Leis d o
Im p é rio d o Brasil e q u e , ta m p o u c o , foi assin ad a p e lo m in is tro da Justiça. Ela tra z a a ss in a tu ra de Joâo
C a rn e iro d e C am p o s, à é p o c a o fic ia l-m aio r d a q u ela secretaria.

24 màM
V o lu m e 2 L u ta })()!,1 Cri.K^.U) c R e s i s t ê n c i a s

Pedro II, em 7 de agosto de 1843. Este m esm o ato dispunha que será tam bém
subm etido à Im perial aprovação o regulamento interno (regimento, sic) de que
tratam os referidos estatutos.^^
O processo de fundação do lAB se inicia com a convocação dos advogados
da capital em 1843 pelo conselheiro d o Supremo Tribunal de Justiça, Francisco
Alberto Teixeira de Aragâo^'*, em sua residência para fundarem o Instituto dos
Advogados Brasileiros. Nesta ocasião, o conselheiro pronunciou as seguintes
palavras:

Temos a m aior satisfação de poder annunciar aos nossos leitores que há poucos
dias houve um a reunião de distinctos advogados brasileiros nesta corte, com
0 fim de organisarem um a associação, como ou tr’ora alguns delles tinham
projectado

D iretor da G a zeta dos Tribunaes, Teixeira de A ragão o fereceu -a para


que o In stitu to d ivulgasse suas publicações sobre a n o v a organ ização que
ajudara a fundar/^
R ealizados estes atos prelim inares sob o s auspícios do con selh eiro (não
eram seu s titu la re s d e n o m in a d o s m in istr o s) d o S u p r e m o T rib u n al de
Justiça-'^^, em 7 de agosto de 1843 o im perador Pedro II p u b lico u o Aviso
Im perial ap rovan d o o s E statutos do Instituto d os A d vog ad o s Brasileiros^®.
Este é o integral teo r d o aviso:

AVISO D E 7 D E A G O ST O DE 1843
A provando os Estatutos do Instituto dos Advogados Brasileiros

" Revista do In s titu to dos Advogados Brasileiros (E dição fac-sim ilar d a Revista do In s titu to dos Advogados
Brasileiros - a n o I e II - 1862, 1863), an o s XI - 1977, n ú m e ro especial.
^ Veja C a rta d o Dr. A n to n io P ereira P in to d e 18 d e ju lh o d e 1870 ao D r. José d a Silva - a cerca d a fu n d a ç ão d o
I n s titu to d a O rd e m d o s A dvogados. Revista do In stitu to da O rdem dos Advogados, t. 8®, a n n o 1871, p. 212
a 214. Veja ta m b é m G azeta dos Tribunaes, 1“ a n n o - 22 d e agosto d e 1843, p. 4.
" G azeta dos Tribunaes, 1° a n n o , 9 d e ju n h o d e 1843, n" 41, p, 1.
Ata da 3® Sessão d o In s titu to d os A dv o g ad os B rasileiros e m 22 d e s e te m b ro de 1843. R evista do In s titu to dos
A dvogados Brasileiros (E dição fac-sim ilar da Revista do In stituto dos A dvogados Brasileiros - a n o s I e II -
1862, 1863), a n o XI - 1977, n ú m e ro especial.
” C ria d o e m 1828, v er B a s t o s , A u rélio W ander. A criação e organização do S u p rem o Tribunal de lustiça no
Brasil. C asa d e Rui B a rb o sa /C â m a ra d o s D e p u tad o s. 1978.
Revista do In s titu to dos A dvogados Brasileiros (E dição fac-sim ilar d a Revista do In s titu to dos Advogados
Brasileiros - ano s I e II - 1862, 1863), a n o XI — 1977, n ú m e ro especial.

• á l
25
______________ Histó ria-da
Ordem dos Advogados do Brasil

Sua Magestade o Imperador, deferindo benignamente ao que lhe representarão


diversos advogados d'esta côrte, m anda pela secretaria de Estado dos Negocios
da Justiça, approvar os estatutos do Instituto dos Advogados Brasileiros, que
os su pplkan tes fizeram subir á sua Augusta Presença, e que com esta baixão
assignados pelo Conselheiro O jficial-m aior da m esm a Secretaria de Estado;
com a clausula porém de que será tam bem subm etido á Im perial approvação
0 regulamento interno, de que tratão os referidos estatutos.

Palacio do Rio de Janeiro, em 7 de agosto de 1843. Honorio H erm eto Carneiro


Leão.

João G ualberto d e Oliveira^^, ao c o m en ta r o s atos p relim in ares de


im plantação do lAB, afirma que nas primeiras reuniões, Francisco Gê Acaiaba
e M ontezum a (prim eiro presidente d o Instituto dos A dvogados Brasileiros)
argum entava que ainda não era o m o m e n to de se criar a O rdem , tendo em
vista que o País acabava de proclam ar sua Independência. Acreditava que a
O rd em só seria p le n a m e n te e fic a z q u a n d o o p aís se o r g a n iz a sse e se
regulam entasse, sistem atizando o s serviços públicos. Por esta razão, dentre
outras, segu n d o Oliveira, Teixeira de A ragão propôs criar u m a organização
q ue facilitasse a instalação de um a futura O rdem dos A dvogados do Brasil,
idéia que já vigorava n o Estatuto da A ssociação d o s A dvogados de Lisboa^'’ .
O C onselheiro assim observou na G azeta dos Tribunaes:

...Nessa reunião fo i nomeada um a commissão, composta de tres illustrados


advogados para que, tomando por base os estatutos da Associação dos Advogados
de Lisboa (que ja publicámos no n. 35 da gazeta) fizessem nelles as alterações
indispensáveis p a ra se poderem adoptar como estatutos interinos: até que uma
prudente experiencia indique o que m dh or convier para o referido effeito.^^

O artigo 1° do referido Estatuto da Associação dos A dvogados de Lisboa


assim dispunha:

O LIV EIR A , / o l o G u a lb e rto de. H istória dos Ó rgãos d e Classe dos Advogados. São Pau lo , In d u s tria Gráfíca
B entivegna E d ito ra Lida., 1968, p. 221 e 222.
“ Veja A nexo II.
G azeta dos Tribunaes, 1“ a n n o , 9 d e ju n h o d e 1843, n® 41, p. 1.

26
V()kinK‘ I u L i p e l , I ( I icK. j n L’ K i ' s i s k ' n i i . i h

O objecto da Associação é conseguir a organisação definitiva da ordem dos


advogados, e auxiliaretn-se os associados m utuam ente, tanto para consultas,
como para manutenção dos seus direito^^.

Apesar destes problemas contextuais, em 7 de setembro de 1843, M ontezum a


abriu a primeira sessão de instalação do Instituto co m o seu presidente:
O dia 7 do corrente m ez de setembro, dia da sem pre m em orável e gloriosa
época da nacionalidade brasileira, foi, entre todos, o escolhido pelo Instituto
dos A dvogados Brasileiros para a sua solem ne installação, a qual nesse dia foi
effectuada n o salão do collegio de Pedro II, que para esse fim fora facultado por
aviso de 31 de agosto proxim o passado, expedido pela secretaria de estado dos
negocios do im pério.
O prim eiro presidente do lAB fez um discurso primoroso'^^ em que conta
a história da advocacia d o Egito até a época em que vivia, evidenciando a
antigüidade da profissão e sua im portância para a sociedade civilizada, assim
co m o a im portância de um a instituição co m o a que presidiria: O s vindouros
dirão o que houver de ser o Instituto. Por ora é sua UTILIDADE, que nos cumpre
provar (Ihiá.).
Dias depois, aquele que fez a primeira convocação dos fundadores da nova
organização, Francisco Alberto Teixeira de Aragão, registra na Gazeta dos Tribunaes'.

Está p o r tanto installado, e com m uitos lisongeiros auspicios, o Instituto dos


Advogados Brasileiros, sem que até agora tenha apparecido o espirito mau,
que m uitas vezes mallogra á nascença as melhores instituições ! Estamos
inteiram ente de accordo com o Diario do Rio de 8 deste mez, quando d iz -
'Não será serena e sem tributações a infanda desta associação..’, e com elle
igualmente pedim os a Deus que a proteja; que seus membros, tendo só em
vista a utilidade publica, e sua propria dignidade, não se deixem apoderar
p o r mesquinhos caprichos, nem p o r dem asiado a m or de opiniões próprias, a
ponto de não poderem fa ze r dellas honroso sacrifício a bem d a vitalidade,
progresso, e m elhoramentos do Instituto: assim o esperamos da prudência,
perseverança, e instrucção dos nobres advogados de que é composto.^^

“ G azeta dos Tribunaes, n<* 35, 1® a n n o - 16 d e m a io d e 1843, p. 3 e 4.


A r a g Ao , F rancisco A lb e rto Teixeira de. Gazeta dos Tribunaes, 1“ a n o ,n “ 6 4 ,1 2 d e s e te m b r o d e 1843.
Revista do In stitu to dos Advogados Brasileiros, a n o 1,1.1, n* 1, jan./fev./m ar. 1862, p a rte q u a rta , p. 67-116.
A ragào, F rancisco A lb e rto Teixeira de. Gazeta dos Tribunaes, 1“ an o , n “ 6 4 ,1 2 d e s e te m b r o d e 1843.

27
______________ História da
Ordem dos Advogados do Brasil

O Aviso Imperial, com o se pode verificar n o seu próprio texto, estabelece


que será subm etida à aprovação imperial o Regulam ento (R egim ento) Interno
do lAB. Em 15 de m aio de 1844, cum prindo a disposição estatutária, o imperador
publicou portaria aprovando o primeiro R egim ento Interno do lAB. O ato
imperial está disposto com o seguinte teor:

PORTARIA D E 15 D E M A IO D E 1844
Approvando o Regimento Interno do Instituto

M anda S. M . o Im perador pela secretaria de estado dos negocios da justiça


approvar o regimento interno do Instituto dos Advogados Brasileiros desta
côrte, que este acompanha, contendo seis titulos com cincoenta e seis artigos,
escriptos em seis meias folhas d e papel, que vão rubricadas pelo conselheiro
ojficial-m aior da mesma secretaria de Estado.
Falado do Rio de laneiro, em 15 de M aio de 1844. M anoel Alves Branco^^

Este R egim ento Interno do lAB de 1844, sem elhantem ente ao Estatuto
português, n o seu art. 2 “ m uito claramente dispunha:

O fim do Instituto é organizar a ordem dos advogados, em proveito geral da


sciencia e da jurisprudência.

C o m o se p ode verificar, a criação d o lA B c o m o finalidade política e


estratégica de se alcançar a criação da O rdem dos A dvogados foi de direta
inspiração da A ssociação dos Advogados de Lisboa^^. C o m o verem os, nos
projetos de criação da Ordem debatidos n o Parlamento, pelo m enos os primeiros
projetos sofreram influência direta dos advogados da França^®, sem que, todavia,
fossem aprovados. D e qualquer forma, esta estratégia definirá a história de lutas
dos prim eiros anos para a criação da OAB e dem onstrará tam bém que as forças
de resistências, por um lado, e as forças de propulsão, por outro, se reproduzirão
A leitura dirigida da Portaria de 7 de agosto d e 1843^’, que aprova os Estatutos
^ o E sta tu to e este R eg im en to serão estu d a d o s iso lad o s e c o m p a ra tiv a m e n te c o m os d e m a is e m cap ítu lo
específico d esta o b ra .
G azeta dos Tribunaes, n “ 3 5 ,1 " a n n o - 16 d e m a io d e 1843, p. 3 e 4.
“ B ulletin d es Lois, n “ 332. D écret Im p é ria l c o n te n a n t R ég lem en te s u r 1’exercice d e la Professio n d ’Avocat, et
la d iscip lin e d u B arre au (n® 6.177). A u palais d es Tuileries, le 14 D é c e m b re 1810, p. 569-577. Este
d o c u m e n to d e m o n s tra o q u a d ro d e co n solidação ju ríd ica q u e se s eg u iu à R evolução Francesa, n o rte a d o s
pelo s ju rista s d a n o v a o rd e m e N ap o leão B o n ap a rte.

28 •à i
V o k in u ' 2 l.utci p c L i C ri.i(,ã () c K c s i s t r n c i . i s

do Instituto dos A dvogados Brasileiros, com binadam ente co m o Regim ento


Interno do lAB, aprovado pelo im perador em 15 de m aio de 1844^'', m uito
claramente nos perm ite concluir que poderão ser m atriculados co m o m em bros
efetivos do lAB o s advogados que, sendo cidadãos brasileiros, estando no
exercício da advocacia, em qualquer tem po de prática, forem condecorados
co m graus acadêm icos, e cujo teor da carta de formatura deverá ser inserido n o
ato da matrícula. Esta orientação deixa visível que poderiam se matricular no
Instituto, com o advogados, não apenas bacharéis em Direito, m as aqueles que
tivessem grau acadêm ico em outras áreas, pod en d o-se tam bém entender que,
aqueles que fossem apenas advogados “práticos”, sem qualquer grau acadêm ico,
não poderiam se inscrever. Sobre esta matéria d ispõem os seguintes artigos do
Regimento de 1844 que com plem entam a Portaria de 1843:

A rt.1° - H averá um livro num erado e rubricado pelo presidente do Instituto,


no qual serão m atriculados os advogados que, sendo cidadãos brasileiros e
condecorados com gráos acadêmicos, pretenderem ser m em bros effectivos
do Instituto.
Art. 2° - Estas matriculas serão lançadas no livro já referido, p o r termo escripto
pelo secretario do Instituto, e p o r este assignado ju n tam en te com o presidente
e matriculado, sendo no mesmo termo inserido o theor da com petente carta
de form atura.
A rt. 5" - N esta p rim eira organização do quadro, p o d erã o ser m em bros
effectivos os advogados que, achando-se nas circunstancias do art. 1° do
presente regimento, estiverem em effectivo exercido de advocacia, qualquer
que seja o tem po de pratica, com tanto que se m atriculem nopraso de 60 dias,
contados da approvação deste regimento.

D e qualquer forma, o artigo 9° do m esm o Regim ento de 1844 entende


que poderão ser m em bros honorários do Instituto os advogados que tenham
graus acadêm icos, conform e disposto no artigo 1° deste m esm o Regim ento,
m as tam b ém aqueles que gozem de probidade, ten h a m b on s co stu m es e

Revista do In stitu to dos Advogados do Brasil: Eàií;àofac-s']m \hr da Revista do Instituto da O rdem dos Advogados
do B r a s il- A n o s I e II - 1862, 1863, p. 7/9. Secretaria d o E stad o d o s N egócios d a Ju stiça, em 7 d e agosto
de 1843. Presidente: Joâo C a rn e iro d e C am p o s.
™Revista do In stitu to dos Advogados do Brasil: Edição fac-sim ilar da Revista do In stitu to da O rd em dos Advogados
do Brasil - A n o s 1 e 11 - 1862, 1863, p, 10-231. Secretaria d e E sta d o d o s N e g ó cio s d a lu s tiç a , em 15 d e
m a io d e 1844. Presid en te: João C a rn e iro de C am pos.

•Al 29
______________ História da
Ordem dos Advogados do Brasil

conhecimentos tradicionais.^^ Por outro lado, este R egim ento tam bém se refere
aos m em bros supranumerários, que, da m esm a forma, vierem n o futuro a se
inscreverem e que não tiverem dois anos de prática n o foro, cuja inscrição será
em livro separado, po rém num erado e rubricado-, sen d o q ue estes m esm o s
supranum erários poderão vir a se transformarem em m em bros efetivos ao fim
d e cada ano, c o n fo rm e segue:

Art. 9" - Podem ser membros honorários do Instituto: os advogados das


provincias propostos e approvados n a fó rm a do art. 11:2°, os jurisconsultos
nacionaes e estrangeiros que não exercerem a advocacia, que o Instituto julgar
dignos, propostos a approvados nafórm a dita. São porém membros honorários
natos e os effectivos que deixarem de o ser p o r m otivo que lhes não seja
deshonroso.
Art. 11 - A proposta para admissão de qualquer advogado deverá ser feita
p o r escripto, e assignada p o r tres membros do conselho director: a votação
será na conferencia im m ediata, além dos requisitos do art. 1'^ do presente
regimento, probidade, conhecimentos profissionaes e bons costumes.

N a inscrição, n o ato da matrícula, antes de assinar o term o, o s advogados


que vierem a ser m em bros efetivos do lAB deveriam prestar, na form a do artigo
4° d o R egim ento de 1844, u m juram ento. Os Estatutos e R egim entos que
sucederam a este ato inaugural suprimiram a referência ao juramento, dispondo
apenas, com o se verifica no Estatuto de 1877^^, q ue a posse do m em bro efetivo
do lAB ocorre co m a declaração, em sessão, de fielm ente cum prir com os estatutos

N ão p o d e m o s d eix ar d e n os referir ao E statu to Portu g u ês d a A ssociação d e A dvogados d e Lisboa, de 16 de


m a io d e 1843, q u e s e rv iu de inspiração p a ra o E s ta tu to d o In stitu to d o s A dvogados Brasileiros d o m esm o
an o , q u e p revê e m seu a rtig o 1“ q u e o o b jeto d a associação é c o n se g u ir a organ ização defin itiv a da O rd e m
d o s A dvogados, te n d o c o m o sócios to d o s os ad vogados q u e se inscreverem (a rt. 2“). Este E statuto traz
ain d a a divisão d e sócios e m efetivos, q u e e ra m os bacharéis fo rm ad o s e m D ireito c o m escritório d e advocacia
p o r espaço d e d o is an o s e m L isboa (p arágrafo ú n ico d o a rt. 2» d o R eg im en to d e Lisboa); em h o n o rá rio s,
q u e e ra m a d v o g ado s q u e, p e rte n c e n d o à classe d o s efetivos, p e rd e re m esta q u a lid a d e p o r d eix arem de
ex erce r a ad v o ca c ia o u p o r q u a lq u e r m o tiv o q u e lhes n ã o se ja d e s o n r o s o (a rt. 3“ d o re g im e n to ); e
s u p ra n u m e rá rio s, q ue e ra m bacharéis fo rm ad o s q u e d e fu tu ro se inscreverem n a fo rm a d o R egim ento, e
q u e n ã o tiverem d o is a n o s d e exercício d a advocacia, o u q u a n d o , a in d a te n d o -o s, se a ch a r p re e n ch id o o
n ú m e ro d e efetivos ( a r t.4 “ d o R e g im e n to ).V a le re ss a lta rq u e e ra p e rm itid o ap en a s c in q ü e n ta sócios efetivos
e, o n ú m e ro d e sócios h o n o rá rio s e su p ra n u m e rá rio s e ra in d efin id o , c o n fo rm e d isp o sto n o p a rág rafo ú nico
d o artig o 1“ d o R eg im en to d o E statuto d a A ssociação d e A dvogados de L isboa d e 1843.
^^Colecção d a s Leis d o Im p é rio d o Brazil d e 1880, p a rte 1, t. X X V Il - P a rte II, t. XLIII. R io d e Janeiro:
T h y p o g ra p h ia N a cio n a l, 1881, p. 591-599. Rio d e Janeiro, 6 d e m a rç o d e 1877. Presid en te: Jo aquim
S ald an ha M a r in h o e S ecretário: D r./o s é d a Silva Costa.

30 màM
V o lu m e 2 I liL i ( K ' l a ( ' r i > u ,U) r R c s iS l è tK . ias

(parágrafo 2 ^ do art. 2^), que se com plem enta definindo os pré-requisitos de


adm issão, m arcados pela avaliação jurídica do candidato a que se seguiria o
pagam ento de jóia (parágrafos 3^ e 4^ do art. 2^). Assim dispõe o art. 4° do
R egim ento de 1844:

N o acto da matricula e antes de assignar o termo de que trata o art. 2°, prestará
0 advogado, m em bro effectivo, o seguinte juram ento sobre os Evangelhos, que
terá 0 presidente, fazendo-se disso no termo expressa menção: ‘J uro ser fiel a
constituição, ao Im perador e aos deveres do meu m inistério’.

C onform e o Estatuto de 1843 e o Regimento de 1844, estavam dispensados


do juram ento os m em bros honorários e supranumerários. Assim dispõe o artigo
10 do Regim ento de 1844:

Serão m em bros supranum erarios os advogados mencionados no art. 5®, que


de fu tu ro se inscreverem, na form a deste regulamento, e que não tiverem
d ou s ann os d e p r a tic a no foro. A sua inscripção com a d o s m em bros
honorários, será fe ita em livro separado, p o rém num erado e rubricado na
fo rm a do art. F.

F in alm en te, tu d o ind ica, até p elo teor d o s d o c u m e n to s legislativos


subseqüentes, que a inscrição no lAB não era pré-requisito para o exercício da
advocacia. A inscrição se qualificava com o um a exigência anteriormente indicada
n o s d ecreto s e d e c isõ e s im p eria is, origin ários das O rd en a çõ es Filipinas.
Posteriormente, as inscrições se referiram aos Impostos do Selo, taxas e outros.
N o s itens a seguir, procurarem os criar as co n d içõ es necessárias para
dem onstrar que aos projetos e definições de com p etên cias da O rdem dos
Advogados se contrapunham os interesses imperiais ou profissionais instituídos,
com prom etidos co m as origens m etropolitanas do Direito brasileiro e o s seus
ftindam entos im periais de resistência.

31
______________ História da
Ordem dos Advogados do Brasil

1.4. As Exigências Burocráticas Imperiais para o Exercício da


Advocacia

Im ediatam ente após a aprovação do E slaiuiu úo lAB em 1843 (e do


R egim ento em 1844), foram promulgadas várias leis, decretos, portarias, avisos,
circulares e decisões relacionadas ao exercício da advocacia. Evitaremos no
transcurso descritivo deste item posições analíticas para evidenciar a literalidade
da legislação que im p unh a exigências para o exercício da advocacia, facilitando
de qualquer forma, u m conjunto da questão e seus efeitos sobre as resistências
institucionais à criação da O rdem dos Advogados. Para m elh or com preensão e
análise do material, subdividim os em diversos tem as conform e as seguintes
categorias:

1.4.1. As Exigências Tributárias para Advogar:


a. O Selo;
b. Os Im postos;

1.4.2. As Exigências para a Obtenção de Licença para Advogar

1.4.3. Os Provisionam entos para o Exercício da Advocacia:


a. O Papei da Secretaria de Estado dos N egócios da Justiça;
b. Os A dvogados e os Solicitadores.

1.4.4. As Incom patibilidades e o s Im p ed im en to s para o Exercício da


Advocacia:
a. As Incompatibilidades;
b. Os Im pedim entos.

1.4.5. Os Direitos d os Advogados

Para habilitação n o exercício da advocacia, era necessário o cum prim ento


de inúm eras exigências burocráticas, independentem ente da sim ples obtenção
do diplom a. Entre essas exigências estava o pagam ento de vários im postos,
destacando-se o Im posto do Selo.

32
\'o lu n K ‘ 2 l u l a p e l a ( j i a c . U ) c R u ^ i s t c n c ia s

1.4.1. As Exigências Tributárias para Advogar

a. O Selo

A Lei n.° 317 de 1843” , que fixava a despesa e a receita para o s exercícios
dos anos de 1843-1844-1845, regulou a forma de arrecadação, o valor do im posto
a ser pago por aqueles que detinham diplom as científicos e literários (art. 1 2 ),

efetuando sua receita através da matrícula dos cursos jurídicos e da venda de


cartas de bacharéis (art. 25), conform e disposto adiante.

Art. 12.
§ ^ - Ao selo fixo ficam sujeitos:
2® - A s cartas e diplom as que conferirem títulos, tratamento, nobreza, brasão,
condecorações honoríficas, privilégio ou outra qualquer mercê; as despensas
de qualquer natureza que sejam; as licenças de qualquer espécie, inclusive
p ara jogos lícitos; os diplomas científicos e literários. E o respectivo selo será
de UOQO a 100$000.
A r t 25. Esta receita será efetuada com produto de renda geral arrecadada
dentro do exercício d a presente lei, sob os títulos abaixo designados:
§4^ - M atrículas dos cursos jurídicos, e das escolas de medicina, e venda de
cartas de bacharéis.

N o ano seguinte, o D ecreto n° 355 de 26 de abril de 1844^ \ m a n d o u


executar provisoriam ente o regulamento da Lei supracitada, dando u m valor
ao selo em seu artigo 28.
O D ecreto n“ 681 de 1850^\ n o artigo 44, m andou novam ente executar
provisoriam ente o Im posto do Selo, apresentando u m n ovo m éto d o para as
vendas d o papel selado n o lugar de verbas escritas nos papéis. Esta solução foi
necessária para com pilar as inúm eras ordens expedidas para a arrecadação e,
assim, alterar as disposições incoerentes com a Lei n“ 317/43. Sobre a m esm a
questão, o artigo 73 do D ecreto 2.713, de 26 de dezem bro de 1860^^, contin uou
a m andar executar o regulam ento do selo e sua arrecadação.

” CLIB, p a rte 1 . 1. V, 1843, p. 59-80.


CLIB, D ecisões, t, VII, 1844, p. 33.
” CLIB, t. XIII, p a r te II, seção 15', 1850, p. 66-100.
" CLIB, t. X XIII, p a rte II, 1860, p. 1141 -1182

33
______________ História da
Ordem dos Advogados do Brasil

O artigo 28 d o Decreto n® 355/44, que dispõe sobre diplom as científicos e


literários, estabelecia:

Carta de d outor o u bacharel fo r m a d o .................................................... 25 $


D iplom a de advogado do C onselho de E sta d o ..................................... 25 $
D iplom a de Solicitador ou Procurador de Causas ante os Tribunais e Juízos
da Corte, Bahia, Pernambuco e M a ra n h ão ...............................1 5 $

O D ecreto n° 681/50, em seu art. 44, que versa sobre diplom as científicos
e literários, estabelecia:

Carta de Dr. o u bacharel fo r m a d o .................................................... 25$000


D ito de advogado do C onselho de E sta d o .......................................25$000
Título de Solicitador ou Procurador de Causas ante os Tribunais e Juízos
da Corte, Bahia, Pernambuco e M a ra n h ã o .........................15$000

Finalmente, a Seção 5® - D os diplom as científicos e literários, d o art. 73 do


D ecreto 2.713/60, estabelecia:

Art. 73.
Carta de doutor ou bacharel fo r m a d o .............................................. 25$000
D ito de advogado do C onselho de E sta d o .......................................25$000
D ito de solicitador o u Procurador de Causas ante Tribunais e Juízos da
Corte, Bahia, Pernambuco e M ara n h ã o..................................... 15S000

D a leitura acim a infere-se que o Im posto do Selo cobrado diretamente


pelo Estado imperial mostrava que o exercício da advocacia não era livre, ficando
o advogado sujeito ao seu pagam ento conform e a legislação vigente. O Estado
imperial selava para o exercício da advocacia inclusive outros d ocu m en tos que
não fossem especificam ente o diplom a.
Interessante notar que os decretos acima citados adm item presumir que
outros docum entos permitiam o exercício prático da advocacia, tais com o: Carta
de D outor, D iplom a o u D ito de Advogado do C onselho do Estado; Título ou
D ito de SoHcitador; D iplom a, Título o u D ito de Procurador de causas ante os
Tribunais e Juízos da Corte, Bahia, Pernambuco e Maranhão.

34 «41
V o Iliu k ' 2 I . Li t. i p c l . i ( r i . i L j u L' la s

Esta sistematização n os perm ite concluir que o exercício da advocacia não


era exclusivo dos profissionais bacharéis em Direito, m as partilhados com outros
profissionais provisionados pelo Estado imperial, o que justificará as posições e
análises n os capítulos subseqüentes.

b. Os Impostos

A lém da m atrícula dos cursos jurídicos e do pagam ento de diplom as


científicos e literários, a R eceita Pública im perial era obtid a p o r m e io do
pagamento dos im postos pelas lojas e casas de comércio, casas de leilão e moedas,
seges e barcos de navegação interior, conform e estabelecido pelo Alvará de 20
de outubro de 1812, pelo artigo 9°, § 4° da Lei de 22 de outubro d e 1836 e pelo
artigo 10° da Lei de 21 de outubro de 1843. Finalm ente o D ecreto n® 361, de 15
de jun ho de 1844^^, em seu artigo 2°, § 1 0 °, reforçou um a forte vinculação da
atividade advocatícia co m o Estado. Assim dispõem os seguintes artigos:

Art. I® O im posto das lojas, estabelecido pelo A lvará de 2 0 de outubro de


1812, pelo artigo 9^ §4^ da Lei de 22 de outubro de 1836, e art. 10 da Lei de
21 de outubro de 1843 será cobrado:
[...] Art. 2® São sujeitas ao imposto do artigo antecedente:
[...]§ 10 O s cartórios de advogados, compreendidos os que não assinam os
papéis do foro, escrivães, tabeliães, distribuidores e contadores judiciais.

D esde que pagassem o respectivo im posto, empregados públicos, bacharéis


o u não, p odiam advogar fora das horas de serviço das suas repartições, inclusive
o s advogados que não assinavam os papéis do foro, conform e a D ecisão n° 135,
do M inistério da Fazenda, de 12 de novem bro d e 1846^*.
Em contrapartida, a D ecisão n“ 64, do M inistério do Im pério, de 17 de
m a io d e 1848^^, e sta b elecia qu e o s e sc r itó r io s d e a d v o g a d o s p ú b lic o s e
particulares estrangeiros, que não assinavam os papéis e pagavam im p osto, não
eram reconhecidos co m o advogados. Som ente em 22 de ju lh o d e 1851**^, a
D ecisão n° 204, do M inistério da Fazenda, instituiu quais advogados estavam

” CLIB, p a rte 1.1. V I, 1844, p. 128-141.


" CLIB, D ecisões, t. IX. C a d e rn o II, 1846, p. 164-185.
" C L IB , D ecisões, t. XI, 1848, p. 70-71.
“ CLIB, D ecisões, 1851, p. 198.

35
______________ H istó ria da
Ordem dos Advogados do Brasil

sujeitos ao im p osto dos cartórios de advogados. N o m esm o ano, os promotores


que exerciam a profissão de advogado foram incluídos, conform e a D ecisão n°
227, de 11 de setembro de 1851*', do M inistério da Fazenda. Posteriormente,
todos os que tratavam das causas forenses tam bém foram incluídos, conforme
D ecisão n° 39 do presidente do Tesouro Nacional, de 6 de fevereiro de 1858®^.
Assim dispõe a decisão 64/48;

[...] na fo rm a do art. 2° §10 do Regulamento de 15 de ju n h o de 1845 [a data


correta é d e 15 d e ju n h o d e 1844] são lançados os escritórios dos advogados,
compreendidos os que não assinam os papéis do foro, sejam estes nacionais
ou estrangeiros, sem que pelo simples fa to de pagarem o im posto fiquem
reconhecidos como advogados p o r autoridade ou repartição alguma, assim
com o p a g a m os escritó rio s dos b a n q u eiro s, n ego cian tes e corretores
estran g eiro s, p e la p rofissão , in d ú stria ou c o m ércio q u e exercem . O
Regulam ento sobre o imposto dos escritórios não distingue os advogados
públicos dos advogados particulares, e [...] não há lei algum a que proíba a
qualquer estrangeiro exercer particularm ente o ofício de advogado.

As d ecisõ es indicadas a segir d em o n stra m exatam en te esta linha de


observação. A D ecisão n° 204/51, do Ministério da Fazenda dispõe:

[...] os advogados provisionados, embora não graduados em Direito, estão


sujeitos ao imposto estabelecido pelo § 10° do Art. 2° do Regulam ento n°361
de 15 de ju n h o de 1844... um a vez que façam uso de suas provisões, nada
im portando que tenham escritório aberto ou não, e que as vantagens daí
precedentes sejam grandes ou pequenas.f...]

Complementarmente, a Decisão n° 227/51 do Ministério da Fazenda dispõe:

[...] porque o imposto é lançado sobre o Escritório pelos lucros, que nele se
procura obter como advogado, e não pela utilidade que ela p ode prestar ao
Promotor. [...}

CLIB, D ecisões, t. XIV. 1851. p. 216-217.


" CLIB, D ecisões, t. XXI, 1858. p. 33.

36
V o lu m e 2 l-uta p o la C r i . i t à c ; o R esi^-tê iu ias

Da mesma forma, a Decisão n° 39/58, do presidente do Tesouro Nacional dispõe:

[...] são sujeitos ao im posto sobre escritórios de advogados todos aqueles que,
apesar d e residirem fora das cidades e vilas e não terem nelas escritórios de
advocacia, tra ta m de causas forenses ou sejam bacharéis fo rm a d o s ou
provisionados, quer assinem quer não os papéis do foro, quer exerçam
advocacia pública, quer particularm ente [...]

C o m o se verifica, tam bém o pagam ento de im p osto era o instrum ento


im portante para a legitimação do exercício da advocacia, e um a forma do Estado
imperial acom panhar as atividades profissionais do advogado. Originariamente,
podia-se falar em advogados, cham em os, privados e advogados públicos. Os
primeiros, pelo m enos em tese, poderiam se organizar em cartórios de advogados
e, além disso, cum prir co m as exigências dos im p o sto s p rovisionad os. Os
advogados públicos, co m o um a outra categoria, ao que parece, aqueles que
tin h a m lim ita ç õ e s ao exercício p len o da advocacia (escrivães, tabeliães,
distribuidores e contadores judiciais), que se, originariam ente, estavam isentos
d o s im p o sto s, as d ecisõ es im periais ev o lu íra m para e n q u a d r á -lo s c o m o
contribuintes d os im p ostos imperiais.
A leitura com parada destes diferentes dispositivos sobre cobranças de
im postos para o exercício da advocacia, preliminarmente, indica que o Estado
imperial recolhia valores tributários com o pré-requisito do exercício profissional
e a falta de pagam ento im pedia o exercício da advocacia. Nessa legislação, ao
dispor que deveriam pagar im postos os bacharéis form ados e os advogados
provisionados, ficava im plícito que o exercício da advocacia não estava restrito
aos portadores de diplom a superior de bacharel em Direito.
Vale ressaltar ainda que essas im p osições d o Estado im perial sobre a
cobrança do selo e de im posto, extensiva a profissionais que não eram apenas
bacharéis form ados, perm item concluir que o controle corporativo d o controle
p r o fissio n a l n ã o era d os próp rios a d vo g a d os fo rm a d os, m as d o Estado.
C onseqüentem ente o que se vislumbra é que quem , na verdade, resistia à criação
da OAB não era, ideologicam ente, os profissionais da área, m as o próprio Estado
imperial. Na verdade, as resistências, com o veremos na análise subseqüente sobre
a criação da OAB, são resistências do Estado imperial com vistas a manter o
controle corporativo.

•Ál 37
______________ Historia da
O rdem dos Advogados do Brasil

1.4.2. As Exigências para a Obtenção de Licença para Advogar

Ainda n o que diz respeito às exigências burocráticas, está a obtenção da


licença para advogar, que foi formalizada em vários decretos. Verifíca-se que,
ao pagar um a certa quantia, im posta pelo Decreto n° 681 de 10 de julho de
1850®\ o indivíduo, não formado nas academias do im pério o u form ado em
universidade estrangeira, adquiria a licença para advogar.
Os diplom as literários e científicos em países estrangeiros, se não deviam
direitos, só deveriam ser selados quando fossem apresentados co m o docum ento,
conform e o disposto n o Aviso n° 29, de 6 de abril de 1844®"’ . O D ecreto 2.713,
de 26 de dezem bro de 1860, em seu artigo 78 da Seção 9°, con tin u ou a fixar
valores para a obtenção desta licença.
O D ecreto n.° 681, de 10 de julho de 1850 dispõe o seguinte:

Seção 9® - Licenças
Art. 48.
Licença para advogar concedida a indivíduo que não seja form ado, não
sendo vitalícia, por cada a n o ......................................................... 5$000
Licença para advogar concedida a indivíduo que não seja form ado em
Direito nas academias d o Império o u sendo-o em Universidade estrangeira
............................................................................................... 50$000

Nesta m esm a linha, o Decreto n^ 2.713, de 26 de dezem bro de 1860 dispõe:

Seção 9® - Licenças
Art. 78.
Licenças para advogar:
C oncedida a indivíduo que não seja formado, não sendo vitalícia, por cada
a n o ....................................................................................................... 5 $000
C oncedida vitaliciam ente a indivíduo que não seja form ado em Direito
o u q ue o seja em universidade, faculdade o u a cad em ia estrangeira
................................................................................................50$000

" CLIB, t. X III, a d ita m e n to a o c a d e rn o 10®, 1850, p. 324-325.


« CLIB, D ecisões, t. V III. 1844, p. 33.

38
V o k im i' 2 lu la C iia tà o f.' ia s

A o com pararm os os D ecretos 681/50 e 2.713/60, observa-se que a licença


para advogar concedida ao indivíduo que não fosse formado, não sendo vitalícia,
foi mantida. Em com pensação, adotou-se a vitaliciedade da licença concedida
ao indivíduo que não fosse form ado em Direito o u que fosse form ado em
universidade, faculdade o u academia estrangeira.
C o m o se verifica, tivem os um a visível m udança na orientação legislativa,
que pode ser abordada em dois ângulos: em prim eiro lugar, que havia uma
política im perial voltada para formalizar, através do pagam ento de taxas de
licenças ao G overno, a prática da advocacia por profissionais não form ados e,
em segundo lugar, que estes m esm os profissionais, em m eados dos anos 1850,
recebiam a licença para o exercício temporário da advocacia e, a partir dos anos
1860, a autorização para esses m esm os profissionais passou a ser vitalícia, o que
significa que o Estado imperial to m o u estável o exercício da advocacia por
profissionais não form ados em Direito o u que o seja em universidade, faculdade
o u academia estrangeira.
N o entanto, em 29 de m aio de 1866, o Aviso n° 206®^, do m inistro da
Justiça ao presidente da província de M inas Gerais, decidiu que o estrangeiro
não m ais podia advogar perante os tribunais do Império, conform e segue:

[...] 0 imperador, à quem fo i presente o ofício dessa presidência de 9 de janeiro


deste ano, propondo a questão se um estrangeiro p o d e ou não ser advogado
perante os tribunais do Império - houve p o r bem, p o r sua im perial resolução
de 11 do corrente mês, sobre consulta da seção de Justiça do Conselho do
Estado, decidir negativam ente às vistas das razões constantes d a m esm a
consulta, impressa no D iário Oficial n° 113, incluso razões derivadas do aviso
de 7 de outubro de 1828 [declarou que, sendo a advocacia ‘m u nus’ público,
não poderia ser exercida p o r estrangeiros] e do art. 7° do regulamento de 3 de
janeiro de 1833 [que deu aos presidentes das Relações do Império competência
p a ra exigir exa m e p ré v io daqueles cidadãos que não sendo form ados,
quisessem advogar; estabeleceu tam bém que a eles competia conceder licença
p a ra advogar aos brasileiros form a d o s ou doutorados em universidades
estrangeiras].

" CLIB, D ecisões, t. XXX, 1867, p. 90-91.

39
______________ História da
Ordem dos Advogados do Brasil

A Circular n° 303, do M inistério da Fazenda, de 17 de outubro de 1859^^


instituiu im posto pela permissão concedida pelas autoridades judiciais para as
partes o u seus procuradores, não provisionados, assinarem articulados ou
alegação, sendo o selo fixo de 160 réis, não cabendo a cobrança de nenhum
im p osto a mais:

[...] Constando que em alguns lugares as partes ou os seus procuradores, não


provisionados, a quem são concedidas permissões p o r despacho das autoridades
judiciárias, para assinarem articulados ou alegações, se consideram habilitados
não só p a ra assinarem petições e arrazoados, com o p a ra residirem nas
audiências, ato distinto e sem dúvida mais importante que aquele; rogo a V.
Ex. [Sr. João Lustosa d a Cunha Paranaguá - Ministro da Justiça] se sirva
providenciar em ordem a que não sejam adm itidos às audiências procuradores
não provisionados que não tenham prêviam ente obtido provisão para nelas
residirem, pagos os direitos e selo a que a mesma é sujeita.
Já a p a rtir de 1844, para regularizar a situação financeira do Instituto dos
Advogados Brasileiros, vários decretos versavam sobre como se procederia ao
pagam ento dos provimentos de seus membros. Inicialmente, havia a ordem
para que os solicitadores do número, contínuos e oficiais de justiça fossem
providos pelos presidentes das mesmas Relações (Decreto n° 398, de 21 de
dezembro de 1844^^), e ainda, que os solicitadores da Fazenda deviam ter
provimentos temporários, não devendo haver solicitadores d e 2 ‘*Instância (Aviso
do ministro da Justiça ao presidente da província do Rio de Janeiro, de 3 de
outubro de 185(T^). O Decreto n° 398/44 assim dispõe:

Art. 1°. Os solicitadores do núm ero das Relações, os con tín u os e os oficiais
de Justiça delas serão, de agora em diante, providos pelos presidentes das mesm as
Relações.

Nesta m esm a linha de raciocínio, reza o Aviso de 3 de outubro de 1850:

[...} Tendo [S.M .] o imperador, p o r sua im ediata Resolução de 2 8 passado,


tom ada sobre consulta da seção de Justiça do Conselho de Estado, reconhecido

“ CLIB, D ecisões, t. XXII, 1859. p. 274.


CLIB, p a rte II, t. V II, 1845, p. 266.
" CLIB, t. X lll, a d ita m e n to a o c a d e rn o 10°, 1850, p. 324-325.

40
V o lu m e 2 I ula p e la C r i a u u ) <? Resistências

que os solicitadores da Fazenda devem ter provim entos temporários, e que


não devem haver solicitadores espaciais de 2 " instância, devendo ser estes
empregos servidos conjuntamente com 0 de solicitador da instância, sendo,
entretanto, m antidos em seus direitos aqueles que até hoje fo ra m providos de
outra maneira. Assim, comunico a V. Ex. p a ra sua inteligência e execução na
p a rte que lhe toca, ep a ra que, no caso de vagar o lugar, de conform idade com
esta Resolução informe quando a este respeito fo r ouvido.

Em 11 de junho de 1855,oA vison° 148®^ do ministro da Justiça ao presidente


do Tribunal do Comércio da Capital do Império, esdareceu que, em virtude do
Decreto n° 398, de 21 de dezembro de 1844” , deviam ser adm itidos n o Tribunal
do Com ércio os solicitadores nom eados pelos presidentes das Relações, para que
não houvesse a multiplicação de tais empregados, conform e segue:

[...] 0 im perador [...] houve p o r bem decidir [...] - Q uanto à 3 ' [dú vida],
que deve adm itir-se a servirem no Tribunal do Comércio os solicitadores
nom eados pelos presidentes das Relações, para que se não m ultipliquem tais
empregados [...}.

C o m base n o m e sm o decreto, o Aviso n® 116, de 10 d e m arço de 1865^',


d o m in is t r o da J u stiç a a o p r e s id e n t e d o T r ib u n a l d o C o m é r c io de
P e r n a m b u c o , d e c la r o u q u e o s p r o v im e n to s d o s s o lic ita d o r e s d o foro
com ercial d ev ia m ser e x p ed id o s p elos presidentes das Relações. A prática
contrária estava e m desacordo co m o Aviso n° 148 de 11 de ju n h o de 1855^^,
c o n fo r m e segue:

[...] não devem haver solicitadores especiais de 2 ‘*instância, devendo ser estes
empregos servidos conjuntamente com o de solicitador de instância, sendo,
entretanto, m antidos em seus direitos aqueles que até hoje fora m providos de
outra maneira...os solicitadores perceberão os vencimentos que preferirem
m as não acumularão. [...]

CLIB, D ecisões, 1855, p. 166-168.


CLIB, t. VI, p a rte 1,1844, p, 266.
CLIB, D ecisões, t. XXVII, 1865, p. 122.
CLIB, D ecisões, 1855, p.166-168.

•Al 41
______________ História da
Ordem dos A dw gados do Brasil

O A viso 197 do m inistro da Justiça ao presid en te da Província da


Bahia, de 31 d e o u tu b ro de 1854^^ declarou que a exp edição d os títulos de
n o m e a ç ã o d o s s o lic ita d o r e s o u req u eren tes d o s a u d it ó r io s c o m p e tia ,
exclu sivam en te, aos presidentes das R elações e s o m e n te aos ju izes de 1*
in s tâ n c ia n o s lu g a r e s o n d e n ã o h a v ia p r o v is io n a d o s p e lo s r e fe r id o s
p r e s i d e n t e s , e , o u t r o s s i m , q u e a q u e le s e m p r e g o s n ã o p o d ia m se r
c o n sid era d o s v italícios, m as deviam ser p rovidos p o r títu lo s tem p orários,
o u sem te m p o determ inado:

[...] Foi presente a [S.M. o im perador] o ofiáo àe V. Ex., d a ta d a de 8 àe


fevereiro próxim o passado, sob n° 417, pedindo que se declare se com pete ao
Presidente da Província, ou ao da Relação expedir os títulos de nomeação dos
solicitadores ou requerentes dos auditórios; e houve [o im perador] p o r bem,
ouvido o Conselheiro Procurador d a Coroa, e p o r sua im perial e im ediata
resolução de 2 5 do corrente mês, sobre consulta da seção de Justiça do Conselho
de Estado, decidir que a dita nomeação compete exclusivamente aos presidentes
das Relações em todos os auditórios do respectivo distrito, e som ente aos juizes
de instância nos lugares em que não houver solicitadores provisionados
pelos ditos presidentes, sendo que esses empregos, em razão d e sua natureza,
não se p o d e m considerar vitalícios, m as d evem ser p rovid o s p o r títulos
temporários, ou sem tem po determ inado. [...].

A inda sobre os provim entos, o Aviso n° 82 do m inistro da Justiça ao


presidente da Província do Ceará, de 16 de fevereiro de 1860, decidiu que aos
procuradores de causas que assinavam term o de responsabilidade e tiravam
licença de juiz para advogar, com petia custas que estavam marcadas para os
advogados form ados e provisionados:

[...] as custas marcadas são a justa remuneração do trabalho daquele que


patrocina um a causa [...]

N ota-se, tam bém , que alguns decretos versavam sobre a vestim enta e boa
con duta d o s m em bros. O D ecreto n° 393, de 23 de no vem b ro d e 1844^**,
concedeu aos m em bros d o Instituto dos A dvogados Brasileiros da Corte o uso

« CLIB, t. X V II. 1854, p. 214-215.


CLIB, p a r te II, t. VJl, 1845, p . 2241.

42 9 àM
V o liin io 2 1 L i l a [ ) ( . ' l a C n a u u ) <: K r s i s i r m ia s

de veste talar e a faculdade de terem assento, no exercício de seu ofício, dentro


dos cancelos dos Tribunais, com o objetivo de distinguir os m em bros, a bem da
adm inistração da justiça e pelos bons serviços que p od iam prestar.
Dentre as inúm eras exigências, várias versam sobre o s requisitos para a
matrícula d os bacharéis. O Aviso Circular do M inistério da Justiça, de 8 de
fevereiro d e 1851” , disse o que deviam provar o s bacharéis q ue queriam
matricular-se:

[...] nenhum bacharel será despachado Juiz de Direito antes de m atriculado,


convém que [se] faça saber aos que se quiserem m atricular, que deverão
apresentar nesta Secretaria de Estado da Justiça documentos p o r onde provem
0 dia em que entraram em exercício dos lugares de Juiz M u n iá p a l, de Órfãos,
e Prom otor Público; que não exerceram outro emprego, ou comissão, e que
não tiveram interrupção p o r licença, ou moléstia, excedente de seis meses
durante o quadriênio. [...].

A D ecisão n° 25, do M inistério da Justiça, de 12 de julho de 1887^^,


estipulava que o bacharel em Direito só era obrigado a apresentar a carta quando
não estivesse provado que foi cumprida a exigência de pagar direitos à autoridade
a quem fosse servir:

[...] Representando o bacharel Luiz Augusto Crespo, advogado nesta capital,


contra o ato pelo q u a l o respectivo ju iz m unicipal o m an dou in tim id a r para
exibir em ju ízo o título acadêmico, exibição que já havia sido feita quando
em 1868 abriu o seu escritório de advocacia, declaro aV . Ex. [Presidente da
província d e S anta C atarina], a fim de o fa ze r constar ao referido ju iz
m unicipal e ao reclamante, que tendo p o r fim único a disposição dos avisos
deste ministério n. 3 de 16 de janeiro de 1882 [não p odem ser a dm itidos ao
exercício de quaisquer funções judiciárias os bacharéis que não apresentarem
0 título acadêm ico] e do da Fazenda n. 58 de 17 de abril do m esm o ano [fixa
a inteligênáa do aviso-rírcuíar áe 16 de janeiro último, relativo à exibição
que os m agistrados e advogados devem fazer dos competentes diplom as ou
títulos cientíjicos], im pediu que os bacharéis exerçam a advocacia ou cargo
judiciário antes de tirar o título acadêmico que lhes dá deliberação legal pela

” CLIB, D ecisões, t. XIV, 1851, p. 2 1 4 ^ 5 .


’"C L IB , D ecisões, 1887, p. 16.

•4 1 43
______________ História da
O rdem dos Advogados do Brasil

qual são obrigados a pagar direitos; à autoridade, perante quem hajam servir,
só cabe exigir a apresentação quando não esteja provado por fo rm a regular
que já fo i cumprido esse dever.

N esta m esm a linha de raciocínio, os advogados provisionados a ofícios da


justiça deviam exibir certificados de exame de língua portuguesa e aritmética,
conform e D ecisão n° 56, do ministro da Justiça, de 28 de dezem bro de 1887^.
A D ecisão n ° 58, do M inistério da Fazenda, de 17 de abril de 1882^®, fixou
a inteligência do Aviso Circular de 16 de janeiro últim o, relativo à exibição que
os m agistrados e advogados deviam fazer dos com petentes diplom as o u títulos
científicos:

[...] é aplicável somente aos bacharéis que hajam de assum ir de agora em


diante funções judiciárias incluindo a advocacia, ou tam bém aqueles que, já
sendo juizes e advogados, estão em exercício desde antes da publicação do
aviso [...j

1.4.3. Os Provisionamentos para o Exercício da Advocacia

O exercício da advocacia com o até agora verificamos, permeia e se relaciona


diretamente co m diversos órgãos da Adm inistração Imperial. Na verdade, a
estrutura do Estado rem anescente da colônia e d o Reino U nido ainda não
diferenciava, exatamente, as funções constitucionais dos três poderes. Por outro
lado, ainda que m uito forte no Estado imperial, a influência absolutista, traduzida
no nosso Poder Moderador, foi presente através de interferências em todos os
poderes e atos da administração. Esta situação ampliava as dependências da
advocacia ao Estado, o que só com eçou a ser alterado em 1843^, com a Portaria
de 7 de agosto que aprovou os Estatutos do Instituto dos Advogados Brasileiros.
Posteriorm ente a esta data, várias norm as foram aprovadas, regulando e
organizando seu funcionam ento e evolução. C o m o exem plo, a Portaria de 29
de m aio de 1849'“ que aprovou o selo sim bólico adotado pelo Instituto dos
Advogados Brasileiros, co m o segue:

CLIB, D ecisões, 1887, p. 37.


“ CLIB, D ecisões. 1882, p. 319-320.
CLIB, D ecisões, t. VI, 1843, p . 79-80.
Revista do In s titu to dos Advogados Brasileiros, a n o 1 ,1 .1 ,1862.

44 •àM
V n lu n ii' 2 l.Lita pci,I C r ia ç ã o v Rcsislú ncia s

M anda [S.M .] o imperador, pela Secretaria de Estado dos Negócios da Justiça,


comunicar ao Instituto dos Advogados Brasileiros, p ara seu conhecimento,
que fica aprovado o selo simbólico adotado pelo referido Instituto, e cujo
exemplar se acha apenso ao requerimento que ele fe z subir à presença do
mesm o Augusto Senhor.

Em 15 de m aio de 1844, outra portaria aprovou o R egim ento Interno do


Instituto, tratando da matrícula e quadro de associados, direitos e obrigações
dos m em bros, da direção o u governo interno, das sessões e discussões e dos
fu ndos do Instituto. Este diferenciava o trabalho de advogado d o sim ples
em prego. N o Aviso n° 147 do m inistro da Justiça ao presidente da província de
M inasG erais.de 17 de abril de 1867'°', declarou-se que apesar de ser a advocacia
um “m u n u s” público, não era propriamente u m emprego:

[...] Foi p resen te [ao im p era do r] o ofício de 12 de a b ril do ano passado,


no qu al essa presidência tra z ao conhecim ento d o governo im p eria l que,
tendo o l ° su b stitu to do Juiz M unicipal de M a ria n a consultado se Vicente
de Paulo B ernardino, pronu nciado no art. 156 do Código C rim in a l e j á
suspenso dos em pregos de C urador Geral dos Órfãos e G u a rd a -m o r das
terras minerais, devia tam bém sê-lo da profissão de advogado não form a do
que a li exerce, respondera V. Ex. n egativam ente [...], com cujo parecer se
conform ou [o im pera d or] p o r sua im p eria l e im e d ia ta resolução d e 6 do
corrente mês, houve p o r bem m a n d a r aprovar a decisão dessa presidência,
p o r isso que, apesar de ser a advocacia 'm unus'público não é p ro p ria m e n te
um emprego. [...].

a. O Papel da Secretaria de Estado dos N egócios da Justiça

O D ecreto n° 2.350, de 5 de fevereiro de 1859'°^ refo rm o u a Secretaria


de Estado d os N e g ó c io s da Justiça, tratando da sua organização e d os seus
em pregad os. A p rovou o regulam ento in tern o e sua divisão na form a do
D ecreto n° 3 .44 5 , d e 12 de abril de 1 8 6 5 '° \ O D ecreto n° 4.159, de 22 de

CLIB. D ecisões, t. XXX. 1867, p. 157-158.


CLIB, D ecisões, t, XXI, 1858, p. 33.
CLIB, t. XXVIII. p a rte II, 1865, p. 33.

45
______________ História da
Ordem dos Advogados do Brasil

a b r il d e 1 8 6 8 ’°'^, a b o r d a n d o a q u e stã o da m a tr íc u la d o s b a ch a réis da


secretaria dispôs:

Usando da autorização concedida ao Governo pela Lei n° 1.507 de 2 6 de


setembro do ano passado, art. 3 6 § 3° [autorizou o governo a reformar as
secretarias de Estado}. H ei p o r bem decretar o seguinte:
Art. 4°. A segunda seção compreende:
§ 13. A m atrícula anual dos bacharéis formados, com as notas prestadas pelos
diretores das faculdades d e Direito.

A p aren tem en te p o u c o significativo, este a to a m p lio u o con trole da


Secretaria sobre o quadro de bacharéis form ados em D ireito pelas faculdades e,
por conseguinte, am pliando sua interferência nas políticas do Instituto.

b. O s A dvogados e os SoUcitadores

Finalm ente mereceram atenção especial duas figuras n o Instituto, sendo


objetos de vários regulam entos e normas: advogados e solicitadores.
O oficio de solicitador o u requerente dos auditórios nunca foi contem plado
na classe d os em pregos de justiça em que tem lugar a propriedade o u serventia
vitalícia por força do Aviso n° 98 d o m inistro da Justiça ao presidente da
província de São Paulo, de 10 de m arço de 1851'°^:

[...] m anda declarara V E x .em resposta, que o ofício desolicitadory ou requerente


dos auditórios, nunca foi contemplado na classe dos empregados de Justiça, em
que tem lugar a propriedade ou serventia vitalícia, m as sim construir sempre
em um a faculdade ou licença, para ser adm itidos na qualidade depreposto, ou
agente, das partes litigantes, a requerer p o r elas nas audiências e em outros atos
judiciais, acrescendo não haver lei que criasse ou desse a esse emprego a categoria
de vitalício. [...].

N em m esm o aos presidentes do Tribunal de Com ércio cabia a atribuição de


nom ear solicitadores do seu juízo, conforme Aviso n° 227 do m inistro da Justiça

CLIB, D ecisões, t. XXXI, p a rte II, 1868, p. 229-244.


CLIB, D ecisões, t. XIV, 1851, p . 93.
CLIB, D ecisões, t. XXV III, 1865. p . 218.

46
V o íu fiu ’ 1 I u l . i | K ‘ la CricU, j o l \ i ' > i s t ( ' t x ia s

ao presidente d o Tribunal de Comércio de Pernambuco, de 27 de m aio de 1865‘“ .


Era apenas um a licença para que fossem adm itido na qualidade de preposto ou
agente das partes litigantes, conform e segue;

[...] em resposta ao ofício de 18 de dezembro de 1863, sobre as dúvidas


ocorridas com o Presidente da Relação do distrito, acerca de sua competência
para provisionar solicitadores especiais para o foro comercial; que não cabe
aos presidentes dosTribunais do comércio a atribuição de nom ear solicitadores
do seu juízo, como fo i reconhecido pelo aviso d e 11 de julho de 1855 [a data
correta é 11 de ju n h o de 1855} com petindo essa atribuição som ente aos
presidentes das Relações, de conformidade com o decreto n° 398 de 21 de
dezem bro de 1844 [estabeleceu que os solicitadores do número, contínuos e
oficiais de Justiça fossem provisionados pelos presidentes das Relações}.

Foi declarado inconveniente e supérfluo o exam e de suficiência para a


nom eação de solicitadores interinos na falta de provisionados, conform e o Aviso
n° 414 de 27 de setem bro de I860 do M inistério da Justiça ao presidente da
província d o M a r a n h ã o :

[..} sendo, portanto, o exam e p a ra nom eação de solicitadores interinos


incon ven ien te p e la dem ora que acarretaria no respectivo p r o v im e n to
tem porário e, supérfluo, porque o ju iz tem contra a fa lta de habilitação do
nom eado o m elhor corretivo na sua destituição. [...}.

Em 23 de setem bro de 1880'°®, o Decreto n° 2.993 revogou o regulam ento


que criava advogados especiais do C onselho de Estado. Esses fatos indicam
claramente que ao longo do tem p o o Instituto foi reform ando seus estatutos e
norm as para que se adequassem à realidade, conform e disposto n o Aviso n°
414 do m inistro da Justiça ao presidente da província do Maranhão, de 27 de
setem bro de 1860‘^:

[...} declarou que para a nomeação provisória de solicitadores pelos juizes de


prim eira instância, na falta de provisionados pelo Presidente da Instância, na

'" C L I B , D ecisões, 1860, p 354.


'“'C L IB , p a rte I. t. XX V Il, p. 38,
CLIB, D ecisões. 1860. p.354.

47
______________ Historia da.
O rdem dos Advogados do Brasil

falta de provisiom dos pelo Presidente da Relação, era necessário exam e de


suficiênría na form a ão art. 2° ào decreto n° 398 áe 21 de dezembro de 2844
[ordenou que os solicitadores do número, contínuos e oficiais de Justiça das Relações
fossem providos pelos presidentes das mesmas Relações] [...].

Já as R elações eram resp on sáveis pelas p r o v isõ e s d o s a d v o g a d o s e


solicitadores. O Decreto n° 5.618, de 2 de m aio de 1874' deu n ovo regulamento
às Relações do Império:

T ítu lo I, art. 10, § 6°: C o m p ete às Relações a d v e r tir os a d vo g a d o s e


solicitadores, m ultá-los nas taxas legais, e suspendê4os do exercício de suas
funções a té seis meses...

E ainda, o Decreto n° 5.618, de 2 de m aio de 1874, deu n o v o regulam ento


às Relações do Im pério - Título II, art. 14, § 9«:

A o Presidente d a Relação compete conceder provisões de advogado a pessoa


não form ada, e de solicitador judicial para qualquer comarca d a Relação,
m ediante exame.

1.4.4. As Incompatibilidades e OS Impedimentos para o Exercício


da Advocacia

a. As Incompatibilidades

As questões das incom patibilidades para o exercício da advocacia sempre


foram temas relevantíssimos, especialm ente porque, em geral, se discute nesses
casos a d esvin culação entre as atividades públicas de estado e atividades
p rofissionais autônom as. A par de outras in d ica çõ es as decisões seguintes
colaboraram para se firmar o quadro de vantagens, inconveniências e resistências
ao exercício da advocacia.
O Aviso n.o 62, do ministro da Justiça ao presidente da província de Minhas
Gerais, de 28 de agosto de 1843" ', declarou que aos juizes n ão era p erm itido o
exercício da advocacia:

" « CLIB, t. XXXVII, p a r te II, 1874, p. 502-528.


GLIB, Decisõgs. t. V L l 8 4 3 , p . 19-80.

48
V o lu m e 2 1 Litii p c la C r ij( , ã u c R csistú n i ias

[...] Fiz presente [ao imperador] a representação de O lim pio Carneiro Veriato
Catão, na qual depois de relatar os inconvenientes, que em baraçavam a
marcha da Justiça no termo de Santa M aria de Baependy, p o r tom ar a si o
ju iz m unicipal dele, o bacharel Aleixo Ferreira Tavares de Carvalho, a defesa
de m uitas causas como advogado, concluía pedindo que se declarasse ao mesmo
que não lhe era lícito advogar no distrito de sua jurisdição: e tom ando [o
imperador] em consideração a dita representação, a resposta do ju iz suplicado,
a informação do chefe de Polícia, e a de V. Ex. no ofício de n ° 3 8 de 2 de maio
próxim o passado, ordenou-m e que declarasse a V. Ex., para ser presente ao
referido ju iz municipal, que suposto ele tenha m ostrado em sua resposta que
as causas de que se encarregou, estavam compreendidas na exceção que f a z a
Ordenação Livro 3° tit. 28 § 2°, [segundo esse título, é lícito aos juizes advogar
e procurar em ju ízo em se tratando de causas próprias ''ou das pessoas a que
eles forem suspeitos”] porque já ele era suspeito para julgá-las p o r m otivos
anteriores à sua posse do cargo, to d a via não é m enos certo que aquela
Ordenação subsiste ainda, e não foi revogada pelo § 3®do artigo 129 do Código
C rim in al, que p u n in d o com o prevaricadores, os que p o r afeição, ódio,
contemplação, ou interesse pessoal, aconselham algum as das partes, que
perante eles litigam, não teve certamente em vista p e rm itir o exercício da
advocacia aos juizes nem isentá-los das penas em que incorrem quando por
outros m otivos menos reprovados deixam de cum prir a Lei, em cujo caso
ficaram p o r conseqüência os que infringirem aquela Ordenação, que não foi
derrogado p o r legislação alguma posterior, nem era possível que o fosse, em
razão dos graves inconvenientes que resultariam em se perm itir indistintam ente
aos juizes o exercício da advocacia. [...].

Essa incom patibilidade não alcançava aos advogados que se achavam nas
funções de juiz de Paz, conform e o Aviso n° 453 do M inistério da Justiça ao
presidente da província do Rio de Janeiro, de 11 de dezem bro de 1857"^:

[...] O uvido 0 conselheiro procurador da Coroa, e conformando-se S.M. o


im perador com o parecer p o r ele dado, houve p o r bem declarar que aos juizes
de Paz, na limitação das funções que ora exercem, não é aplicável o Aviso de
28 de agosto de 1843, que se refere exclusivamente aos juizes municipais, não
existindo p o r conseqüência incom patibilidade de direito nos advogados que

CLIB, D ecisões, 1857, p, 428.

•à M 49
______________ História da
Ordem dos Advogados do Brasil

ocuparem o cargo de ju iz de Paz como a prática o tem confirmado, segundo


V. Ex. mesmo declara no citado ofício. [...].

A fu n çã o de pároco era in co m p a tív el c o m a fu n çã o de advogado e


procurador por força do Aviso n° 359*^^ do m inistro da Justiça ao presidente da
província de M inas Gerais, de 4 de agosto de 1863.
Tam bém n ã o era possível a acum ulação c o m cargo de Secretário do
G overno, conform e o Aviso n° 489 do m inistro do Im pério ao presidente da
província do Paraná, de 24 de outubro de 1863” '’ :

[...] as funções de secretário do Governo repugnam com o exercício de advogado,


já pela notícia antecipada que estes empregados têm do andam ento dos negócios
adm inistrativos, o qual p o d e estar em contradição com os interesses dos
p a rticu lares, j á p elo crédito d a adm inistração, a qual, a in d a estando
desprevenida, e sem se guiar p o r influências estranhas poderá parecer que
encaminha as coisas para conseguir esse fim determinado.

E, seguindo a m esm a Jinha, o D ecreto n.° 9.031,d e 3 de outubro de 1883“ ^,


proibia aos em pregados públicos dependentes do M inistério d o Im pério o
exercício da advocacia e a acum ulação de empregos:

Art. 1°. Aos funcionários públicos remunerados de qualquer classe, efetivos


ou interinos, dependentes do Ministério dos Negóríos do Império, é vedado
exercitar atos de advocacia.

N o m esm o sentido, o Aviso n° 104 do M inistério da Justiça, de 13 de


fevereiro de 1869, proibia a acumulação do cargo de delegado de polícia com o
de advogado. Entretanto, em 24 de outubro de 1883, a D ecisão n° 6 4 “ ^, do
M inistério da Justiça, estabeleceu que poderia haver o exercício da advocacia
pelo delegado de polícia som ente na área cível:

[...} Fica aprovado o ato pelo qual essa presidência, em solução à consulta
fe ita pelo delegado d e polícia do term o de Bragança, declarou não haver

C LIB, D ecisões, t. XXVI. 1863, p. 356.


C LIB, D ecisões, t. XXVI, 1863, p . 482-483.
CLIB, D ecisões, 1882, p. 83.
CLIB, D ecisões, 1883, p. 45.

50 màM
\'() lu m c 2 1 u l a | U ' l a ( . ' r i d í d o c R e s i s t e m uís

disposição que o proibisse de advogar no cível; mas que prevalecia a doutrina


do aviso de 13 d e fevereiro d e 1869, quanto ao crime, visto que as funções de
advogado não p odem coadunar-se com atribuição que têm os delegados de
proceder em inquéritos.

Tam bém não se podia acumular o exercício d o em prego de escrivão do


júri e execuções criminais co m o de solicitador de causas cíveis perante os juízos
m unicipal e de órfãos (Aviso do M inistério da Justiça ao presidente da província
de São Paulo, de 1° de m aio de 1851"^):

[...] em que pede se declare se é incompatível [...] o exercício daquele emprego


[de escrivão do jú r i e execuções criminais] com o de solicitador de causas
cíveis p e ra n te os ju íz o s M u n icipa l e de Ó rfãos d e respectivo termo; e,
respondendo, direi que o governo imperial aprovou a d eá sã o [...] [de] que o
suplicante não p o d ia acum ular os dois empregos. [...].

Ainda era proibido acumular funções de advogado com as de secretário da


Relação, por força da Decisão n° 17 do Ministério da Justiça, de 12 de janeiro de 1881 :

[o im perador] conformando-se, p o r sua im ediata resolução de 8 do corrente,


com 0 parecer da seção de fustiça do Conselho de Estado em consulta de 3 do
mesmo mês, houve p o r bem m andar decretar que tanto na prim eira como na
segunda instância existe tal incompatibilidade, não só porque ela resulta
necessariamente da natureza das funções acumuladas, p o is é repugnante ao
decoro do Tribunal a intervenção interessada do seu secretário, m as ainda
porque este empregado exerce funções de escrivão nos termos do § 12 do art.
2 4 e outras disposições do regulamento anexo ao decreto rf 5.618 de 2 de
m aio de 1874 [que deu novo regulamento às Relações do Império], e nestas
circunstâncias está compreendido na Ord. [liv. l^ tít. 48 § 2 4 ] eA viso n°335,
de 3 0 de setembro de 1874 [ “O tabelião e escrivão de um term o não p ode
advogar em outro da mesma comarca, onde esse serventuário acumula funções
de oficial d o Registro Geral das hipotecas''] quer vedam o exercício da
advocacia aos escrivães.

CLIB, D ecisões, t. XIV, a d ita m e n to a o c a d e rn o 5°, 1851, p. 355.


CLIB, D ecisões, I 8 8 I , p. 11.__________________________________

51
______________ História da.
Ordem dos Advogados do Brasil

Em com pensação, o Aviso n° 104 do m inistro da Justiça ao presidente da


Relação da Corte, de 8 de m arço de 1866"’ , declarou que só por lei expressa
poderia ser estabelecida incom patibilidade entre o ofício de advogado e o cargo
de em pregado público;

[Ao imperador] foi presente uma representação do bacharel Augusto José Castro
e Silva, que se queixou contra o ato dessa presidência, declarando ao Juízo
Municipal do termo de Niterói que não devia considerar no número de bacharéis
que efetivamente exercem advocacia, aqueles que, sendo oficiais das Secretarias
de Estado, estão p o r este em prego m a te ria lm e n te im p o ssib ilita d o s de
desempenhar os deveres do oficio de advogado.
[...] houve p o r bem, p o r sua imperial resolução de 2 8 de fevereiro último,
m a n d a r d eclarar esta in co m pa tibilid a de, im p o r ta n d o u m obstáculo à
confiança das partes, e um a limitação da liberdade garantida pelo art. 179 §
24 d a Constituição ['‘N enhum Gênero de trabalho, de cultura, indústria ou
comércio p o d e ser proibido, uma vez que não se oponha aos costumes públicos,
à segurança, e saúde das cidadãos.”], [...].

Por força do D ecreto n° 6.840, de 16 de fevereiro de 1878, o pai não


p odia advogar n os processos em que o escrivão fosse o filho, assim c o m o era
proibido advogar o u procurar perante pai o u irm ão, segu ndo a D ecisão n°
106, d o M inistério da Fazenda, de 30 de setem bro de 1845'^°. T am bém eram
incom patíveis as funções de procurador judicial e advogado perante o juiz
que fosse seu parente, conform e Circular n° 7, da 2® Seção d o M inistério da
Justiça, de 24 de dezem bro de 1889'^'.

b. Os Im pedim entos

Além das incompatibilidades, existiam alguns impedimentos ao exercício da


advocacia. U m deles dizia que era irregular a concessão de provisão à pessoa não
formada para advogar indistintamente em qualquer dos termos do Distrito da Relação,
segundo a Decisão n° 326 do Ministério da Justiça, de 15 de novembro de 1870'^^:

CLIB, D ecisões, t. XXIX, 1866, p. 112.


CLIB. D ecisões, t. V III. 1845, p. 95-96.
CLRB, D ecisões. 1° fase., 1889-1890, p. 5.
CLIB. D ecisões. 1870. p. 402-403._____________________________________________________________________

52 Q 4 I
V o lu m e 2 l.u ta p e l. i Criac^cU) e R e s is tê n c ia s

[...] Foi presente a [S.M.J o im perador o ofício dessa presidênáa, de 2 de


setembro de ano passado, remetendo a representação de Joaquim Ferreira de
Souza Jacarandá, advogado p ro visio n a d o do distrito da Relação dessa
Província [do M aranhão], na qual consulta se é regular conceder-se provisão
geral a pessoa não form ada para advogar indistintam ente em qualquer dos
termos do distrito.
E 0 [im perador], tendo ouvido a seção de Justiça do Conselho de Estado,
houve p o r bem decidir, p o r sua im perial resolução de 9 do corrente, que
irregular é semelhante concessão; porquanto im portaria isso um a habilitação
que só a form atu ra pode dar, sendo a atribuição conferida ao presidente da
Relação pelo art. 7° § 5° do Regulamento de 3 de janeiro de 1833, [compete
aos p re sid e n te s d a s Relações p r o v is io n a r c id a d ã o s com o a dvo g a d o s],
excepcional e dependente de condição de fa lta de bacharéis e d a conveniência
do serviço d a adm inistração da Justiça. [...].

O Aviso Circular n.° 3, da 2® Seção do Ministério da Justiça, de 16 de janeiro


de 1882’^^, dizia que não podiam ser admitidos ao exercício de quaisquer funções
judiciárias os bacharéis que não apresentarem o título acadêmico, conforme segue:

[...] D e acordo com o aviso expedido pelo M inistério da Fazenda em 10 do


corrente [não fo i localizado] sobre a conveniência de corrigir-se o abuso
com etido p o r diversos alunos das faculdades de D ireito que to m a m o grau
de bacharel e não solicitam as suas cartas, deixando assim de p a g ar os
direitos exigidos p o r lei, cum pre que V. Ex. [não fica esclarecido que a
p rovíncia pertence o Presidente a quem é destinada este A viso-C ircular]
entendendo-se com as autoridades ju diciárias dessa província, providencie
para que não sejam adm itidos ao exercício de quaisquer funções judiciárias,
incluída a d a advocacia, os indivíduos que não tiverem apresentado o seu
título acadêmico. [...].

A sim ples leitura destes avisos e despachos m uito bem d em onstram que o
exercício com patível da advocacia com funções públicas (e até privadas ou
clericais) geravam u m grande sistema de vantagens e benefícios difíceis de serem
d e s m o n ta d o s , a ssim c o m o o s p r ó p r io s im p e d im e n t o s eram frágeis e

CLIB, D ecisões. I 8 8 I ,p . 11.

53
______________ Históda da.
Ordem dos Advogados do Brasil

viabilizavam situações m uito especiais para advogar. Este quadro com binado,
c o m o não é difícil de se deduzir, representou um a grande resistência interna,
co m o veremos, à construção de um a OAB disciplinarm ente au tôn om a e com
poderes de controle sobre as práticas profissionais.

1.4.5. Os Direitos dos Advogados

Os estatutos do Instituto abordavam variados direitos dos advogados-


m em bros. Aconteceram casos em que advogados foram habilitados para advogar
independentem ente de licença dos presidentes das Relações (Decreto n.® 466,
de 4 de setem bro d e 1847'^^):

Art. 1°. Antônio Pereira Rebouças está habilitado p a ra advogar em todo o


Império, independente de licença dos presidentes das Relações, como se fora
bacharel form ado, ou doutor em ciências jurídicas e sociais.

Os advogados m ais antigos p od iam falar de seus assentos nas audiências,


conform e o Decreto n° 1.799, de 7 de agosto de 1856'^^, que segue:

Hei p o r bem, de conformidade com a m inha imperial resolução de vinte e


seis do mês próxim o passado, tom ada sobre consulta da seção de Justiça do
Conselho de Estado, decretar que seja m antido o costume, não derrogado
pelo artigo sessenta do Código do Processo ["nas audiências e sessões os
expectadores, as partes, e os escrivães se conservarão sentados; aquelas porém
levantar-se-ão, quando falarem ao Juiz do Tribunal, ou jurados, e todos
quando estes se levantarem ’], de nas audiências, falarem os advogados de
seus assentos, e p o r sua antiguidade. [...].

C om base no Aviso 87 do m inistro da Justiça ao presidente da província


do Paraná, de 26 de fevereiro de 1867'^^, juizes municipais suplentes que tivessem
aceitado advogar em causas anteriores à sua jurisdição p odiam continuar a
exercer a advocacia naquela causa:

CLIB, p a rte 1, t. IX. 1847, p. 51.


CLIB, parte 1,1S56, p. 378-379.
CLIB, D ecisões, t. XXX, 1867, p. 378-379.

54 9 àB
\ '( ik in i( ’ 2 I.Lila C 'lM i.id (■ Rt^-istriu i.i-.

[O imperador], a quem foi presente o referido oficio, houve p o r bem m andar


declarar aV. Ex. que pode o Juiz suplente continuar a advogar nas causas cujo
patrocínio já houve aceitado antes de assumir a jurisdição, por isso que tendo-
se nelas tom ado suspeito, a Ordenação do liv. 3®, tít. 38, § 2*’ [ “D o que impetrou
graça d'El-Rey para não ser demandado até certo tempo, como usará dela contra
si”] lhe faculta o direito de procurar e requerer p o r elas em Juízo. [...].

O Aviso n° 90 do m in istro da Justiça ao presidente da província do


Maranhão, d e 4 de m arço de 1863'^% declarou que os cegos p odiam advogar.
O Aviso n° 233 do m inistro da Justiça ao presidente da província do Rio
de Janeiro, de 31 de m aio de 1860'^®, declarou que o defensor de u m réu perante
0 júri tinha direito a custas, em bora não fosse advogado provisionado, conform e
o art. 51 do regimento, com binado com o art. 99 da Lei 261, de 3 de dezem bro
de 1841 (reforma d o C ódigo do Processo Criminal):

[...] houve por bem, por sua imediata e imperial resolução de 26 do corrente, decidir
que um d^ensor de um réu perante o júri tem direito às r^eridas custas, embora
não seja advogado provisionado, visto ser essa a inteligência do art. 51 doregimento,
combinado com o art. 99 da lei de 3 de dezembro de 1841 [...].

A lguns direitos eram conferidos aos advogados-m em bros d o Instituto,


c o m o por exem plo a determ inação do Aviso n° 418 do M inistério da Justiça ao
presidente da província do Rio de Janeiro, de 29 de setem bro de 1860'^^, onde
foi declarado que não podia ser processado o advogado que aconselhasse contra
as ordenações e direito expresso.
A lgum as norm as colocavam obstáculos ao abuso de poder de alguns
magistrados, c o m o o Aviso n° 251, do M inistério da Justiça ao presidente da
província de Santa Catarina, de 6 de junho de 1862‘^°, que declarou que os
advogados não estavam sujeitos às correções dos juizes de Direito:

[...j Levei [ao im perador] o oficio dessa presidência, d atado de 11 de julho do


ano passado, em que V. Ex. comunica ao governo im perial que, tendo sido

CLIB, D ecisões, t. XXVI, 1863, p. 90.


CLIB, D ecisões, t. XX, 1860, p. 211.
CLIB, D ecisões, t. X X III, 1860, p. 357.
■^ C L IB , D ecisões, t.X X V , 1862, p. 190-191.

55
______________ História da
Ordem dos Advogados do Brasil

multado em 20$000 Polidoro do Am aral e Silva pelo Juiz de Direito da comarca


dessa capital, em correição, com o fundam ento d e que, sendo advogado, não
comparecera à audiência de abertura, nem apresentara escusa legal; recorrera
ela à presidência de um despacho, no qu al o referido Juiz de D ireito,
indeferindo-lhe um requerimento, im puzera-lhe a obrigação de, sob multa
100$000, mostrar em ju ízo a sua provisão. E o [im perador] houve p o r bem
decidir que pela letra dos arts. 8°, 9° e 25 do regulamento d e 2 d e outubro de
1851 [que deu regulamento às correições], não estão os advogados sujeitos às
correições dos juizes de Direito; e, outrossim, que o governo imperial nenhuma
providência p ode tomar, quer quanto a pena disciplinar, imposta em correição
ao mencionado Amaral, quer quanto ao processo de responsabilidade que lhe
fo i instaurado.

Outras decisões criavam benefícios para dim inuir a burocracia. A Decisão


n° 360 do presidente do Tribunal do Tesouro Nacional, de 4 de agosto de 1862*^',
preceituou que os bacharéis formados em Direito, que professassem as letras de
seu grau acadêmico, podiam passar procuração de próprio punho, tendo essa
procuração força de autenticidade das que eram passadas por tabelião público:

[...] declara outrossim [...] que os bacharéis fo rm a d o s em d ireito que


professarem as letras de seu grau acadêmico, quer ensinando, quer advogando,
julgando ou exercendo qualquer ministério público para o qual se exija a
form atura em direito, p odem passar procurações escritas e assinadas pelo
próprio punho, p o r serem tais procurações adm itidas com a m esm a força de
autenticidade das que são passadas p o r tabelião público.

N o m esm o sentido, a Decisão n.® 44, do M inistério da Justiça, de 18 de


ju lh o de 1 8 8 2'^ \ declarou que os advogados estavam isentos de exam es de
suficiência para concorrem aos ofícios de justiça, por força do art. 3° do Decreto
n° 4.668, de 5 de janeiro de 1871;

[...] com referência ao oficio de 10 do corrente mês, declaro aV.Ex. [presidente


da província de São Paulo] que, pelo art. 3® do Decreto n® 4.668 de 5 de
janeiro d e 1871 [dispensou do exame de suficiência p a ra preenchimento dos

CLIB, D ecisões, t. XXV, 1862, p. 278-279.


CLIB, D ecisões, 1882, p. 83.

56
V 'o k in x ' 2 I Litci |)C 'l ,i C ric H iK ) 0 R e sislc n c ia s

ofícios de justiça, os doutores em direito, bacharéis form ados e advogados], os


advogados provisionados estão dispensados do exam e de suficiência a que se
refere o Decreto rfi 8.276 de 15 de outubro do ano passado [estabeleceu regras
sobre habilitação para concurso de oficiais de justiça].

C onclusivam ente, co m o se verifica, o leque de deveres e im postos àqueles


que advogavam eram inúm eros e am plos, e os seus direitos m ais exprim iam a
boa vontade m onárquica. Estes tantos fatores, com binadam ente, dem onstram
q u e a ad vocacia m a is se exercia c o m o u m a c o n c e ssã o de E stado, n u m a
interpretação restritivíssima do conceito de m unus publico.
Vencer estas lim itações será o desafio futuro da advocacia.

57
______________ História da
O rdem dos Advogados do Brasil

C APÍTU LO II
O Projeto Montezuma

A elaboração do Estatuto e do R egim ento do lAB não nos pareceu que


tivesse tid o m a io res c o m p lic a ç õ e s. M u ito m ais c o m p le x a , to d a v ia , foi a
elaboração do Projeto que pretendia a criação da OAB, e isto d evido a inúmeras
e diversas reações.
M ontezum a dirigiu este processo enquanto exerceu a presidência do lAB
d e sd e 1843, a n o de sua fu n d ação.' Em 1850, sete a n o s ap ós o in ício do
fu n c io n a m e n to d o In stitu to , e m sessão ex traordinária, co n v o c a d a pelo
presidente em 28 de fevereiro,^ este propôs a seguinte pauta de discussão: o
prim eiro item era referente à revista do lAB, que, por causa do núm ero dos
conselheiros, não iria ser discutido; o segundo era: ...um a proposta para que se
faça ao Corpo Legislativo a organisação definitiva d a Ordem. (Ibid.)
A pós anunciar os fms da reunião extraordinária, M ontezum a lê

um discurso m ostrando o esquecimento em que se tem deixado cahir varias


disposições sobre os advogados e fóro, e conclue pela necessidade de fazer
suscitar a sua observância, assim como de a d d ir outras providencias exigidas
pela ordem publica, e dignidade da classe.
N este sentido offerece o mesmo senhor um a proposta.
O Instituto resolve que se faça ao Corpo Legislativo a organisação definitiva
da Ordem. (Ibid.)

' Veja b reve b io g ra fia n o A nexo Especial.


^Actas das Sessões o u C o n fe re n cias d o In stitu to . Sessão d o In stitu to em 28 d e fevereiro d e 1850 (extrao rdin ária).
RevíSla d o in s titu to d os Advogados Brasileiros. E dição fa c -s im ih r da R evista d o In s titu to dos Advogados
Brasileiros - a n o I e 11 - 1862, 1863, a n o s XI - 1977, n ú m e ro especial.

58 •àM
I.Lit,I pc'ia C r i j ( , j ( j Ro'r-istOiui.is

Assim , os m em bros do lAB, passaram a discutir o form ato da petição que


seria enviada ao Congresso. Em 14 de abril de 1850, M ontezum a inform a que
d istr ib u iu e n tr e o s m e m b r o s da C âm ara d o s D e p u ta d o s seu d isc u r so ,
pronunciado n o lAB em 28 de fevereiro de 1850 (Ibid.), sobre a necessidade de
constituir definitivam ente a O rdem dos Advogados,^ evoluindo, por conseguinte,
de sua posição originária.
Em 3 de julho de 1850 é apresentado ao Senado o projeto de criação da
O rdem dos A d v o g a d o s .O Senado nele trabalha até 3 de ju lh o d e 1851,^ e o
entrega à Câmara dos D eputados. Nesse ínterim, M ontezum a, em 23 de janeiro
de 1851,^ pede sua dem issão do cargo de presidente, pois

havendo sido nom eado Conselheiro d'Estado extraordinario, ju lgava-se


impossibilitado p ara continuar a exercer o nobre officio de advogado, e p or
conseguinte ta m b ém o encargo honroso de Presidente do Instituto, visto
entender que é incom patível esse exercício com o do novo emprego referido;
que p o rta n to offerecxa a sua demissão de Presidente, e p e d ia que se lhe
nomeasse sucessor.

Desta form a em 23 de fevereiro de 1851’ a presidência d o lA B passa a ser


de Carvalho Moreira® e M ontezum a recebe o título de Presidente Honorário.
Estava cum prida a proposta a que se propusera.
Em 3 de julho de 1850 é apresentado ao Senado do Im pério o prim eiro
projeto de criação de um a ordem dos advogados brasileiros,^ que, co m o já
dissem os, foi elaborado pelo lAB sob a presidência de M ontezum a. C ontudo,

’ A ctas das Sessões o u C o n fe re n cias d o In stitu to . Sessão d o In s titu to e m 14 d e a b ril d e 1850. O p . cit.
* A nais d o S e n a d o d o Im p é rio , p. 41 a 45. Sessão e m 3 d e ju lh o d e 1850. P resid ên cia d o Sr. b a rã o d e M o n te
San to . S u m á rio - O rd e m d o dia. - Loterias. A provação. - E sta tu to s p a ra o s c u rs o s ju ríd ic o s e p a ra as
escolas d e m e d ic in a . D iscu rso s d o s Srs. B aptista d e O liveira, M an o e l Felizardo, H o lla n d a C avalcanti,
C o sta Ferreira, e S a tu rn in o . - Bancos p rovinciais. Ratificações. A p ro v ação . - P re te n s ã o das co n v ertid a s
d o re c o lh im e n to d o Rego. D iscu rso d o s Srs. Maya e H o lla n d a C avalcanti.
^ O u seja, e x a ta m e n te u m a n o e d u r a n te c in c o sessões: 3 de ju lh o d e 1 8 5 0 ,2 d e s e te m b ro d e 1 850,12 d e m aio
d e 1851, 5 d e ju n h o d e 1851 e 3 d e ju lh o d e 1851.
* Actas das Sessões o u C o n fe re n cias d o In stitu to . Sessão d o In s titu to e m 23 d e ja n e iro d e 1851. Revista do
In stitu to dos Advogados Brasileiros (E dição fac-sim ilar d a Revista do In s titu to dos Advogados Brasileiros-
a n o s 1 e II - 1862, 1863), a n o XI — 1977, n ú m e r o especial.
' Revista do In stitu to dos A dvogados Brasileiros (E dição fac-sim ilar d a Revista do In s titu to dos Advogados
Brasileiros - a n o s I e II - 1862, 1863), a n o XI - 1977, n ú m e ro especial.
“ F rancisco Ig n acio d e C a rv a lh o M o re ira (b a rã o d e Penedo). Veja b reve bio g rafia e m A nexo Especial.
®A nais d o S en ado d o Im p é rio , p. 41 a 45. Sessão e m 3 d e ju lh o d e 1850. O p . cit.

59
______________História da
Ordem dos Advogados do Brasil

apresentado não por M ontezum a o u por Carvalho Moreira, mas, com o de praxe
legislativo, pelo senador M anoel Alves Branco (Alves Branco). N o texto dos
Anais do Senado do Im pério podem os subtrair as seguintes palavras do senador
apresentando o referido projeto:

O S r. A lv e s B ra n c o : - Sr. presidente, tendo lido o últim o discurso proferido


perante o instituto dos advogados nesta corte pelo seu ilustre presidente, gostei
m uito da idéia desenvolvida nesse discurso, isto é, a da criação da ordem dos
advogados do império do Brasil; e, como não estava preparado para form ular
um projeto nesse sentido, escrevi ao ilustre presidente do instituto para lançar
sobre p a p el as idéias que em seu estudo tivesse colhido, e que m e mandasse, se
acaso quisesse que eu as apresentasse ao corpo legislativo: ele assim o fez. E,
não obstante ter agora entrado na câmara dos Srs. D eputados,‘° como já me
tinha remetido o projeto, não o quis apresentar p o r si; e como adoto quase
todas as suas idéias, tenho a honra d e oferecer ao senado o m esm o projeto,
organizando a ordem dos advogados do império. Ele vai assinado p o r mim.
(Ibid., op. cit.)

O teor integral deste Projeto de 1850 é o seguinte;

P r o je t o DE 1 8 5 0 "

Sessão em 3 de julho de 1850


“A Assembléia geral legislativa resolve:

Art. 1° Fica criado nas capitais das províncias do im pério u m instituto


c o m o título de Instituto da O rdem dos Advogados, do qual serão m em bros
tod os os que na província exercem legalmente a advocacia. O Instituto da
capital do im pério compreenderá tam bém a província d o Rio de Janeiro.
Art. 2° O Instituto nomeará, de dois em dois anos, e n o dia 12 de outubro,
um conselho com o título de C onselho D isciplinar e A dm inistrativo,

Ele se refere a C arv alh o M oreira.


" A nais d o S enado d o Im p é rio , p. 41 a 45. Sessão e m 3 d e ju lh o d e 1850. P residência d o Sr. b a rã o d e M o n te
Santo. S u m á rio - O rd e m d o dia. - Loterias. A provação. - E s tatutos p a ra os c u rs o s ju ríd ic o s e p a ra as
escolas d e m e d icina. D iscursos d o s Srs. B aptista d e Oliveira, M an o e l Felizardo, H o lla n d a C avalcanti,
C osta Ferreira, e S a tu rn in o . - Bancos provinciais. Ratificações. A provação. - P rete n são das conv ertidas
d o re c o lh im e n to d o Reg. D iscu rsos d o s Srs. M aya e Fíoland a C avalcanti.

60 •4 1
V o lu n u ’ 2 Lut.i pcici Cii.ic^ão (■ Rc'sisrêncijis

com posto de um presidente, secretário, tesoureiro, e oito vogais, a saber: o


presidente, o secretário e o tesoureiro, por m aioria absoluta dos votos
presentes, e os vogais por maioria relativa. Os advogados que não puderem
comparecer poderão votar por procuração. O conselho tom ará posse n o
dia 9 de janeiro do ano seguinte ao da eleição.
Art. 3° O Instituto reunido em sessão exerce o poder deliberante da ordem.
O conselho e m suas conferências aplica disciplina e administrativamente
a lei e as deliberações do Instituto. Para haver sessão do Instituto é suficiente
qualquer núm ero de m em bros além da totalidade dos que co m p õ em o
conselho. Este porém não pode funcionar sem se acharem presentes seis
m em bros. O presidente do conselho é tam bém presidente d o Instituto; e
em ambas as quahdades, só tem voto de desempate.
Art. 4° São atribuições dos Conselhos Disciplinares e Administrativos:
1° Fazer anualm ente a matrícula da ordem , alistando todos os advogados
residentes e em exercício legal da respectiva província, e igualm ente a dos
procuradores e soUcitadores da m esm a, rem etendo-as co m as necessárias
observações à Relação do distrito, às câmaras m unicipais, aos juizes de
direito, e aos juizes m unicipais da m esm a província.
2° Informar em virtude de portaria do presidente da Relação do distrito
sobre a falta de bacharéis form ados, exigida pelo § 5° do art. 7° do
regulam ento das relações do Império de 3 de janeiro de 1833, para se
conceder licença para que advogue q uem não é formado.
3° Examinar, e atestar em virtude de portaria do presidente da Relação do
distrito, sobre a suficiência e moralidade dos que querem ser na província
procuradores, solicitadores, e advogados, não sendo graduados no Império.
4 “ Velar pela fiel execução das leis e das deliberações do Instituto, pelo que
concerne ao exercício e dignidade da advocacia, e da procuradoria judicial,
m anutenção e defesa de suas prerrogativas, em proveito geral do país e da
ciência da jurisprudência.
5° Aplicar as m edidas disciplinares autorizadas pela lei e regulam entos do
governo, a saber: além de qualquer outras, a advertência, a repreensão, e
b em assim o interdito geral ou local, e a expulsão da ordem , o u da classe
d o s p r o cu ra d o res ju d ic ia is, p r e c e d e n d o n estes d o is ú lt im o s ca sos
deliberação do Instituto em sessão para esse fim convocada, e dando
recurso suspensivo para a Relação do distrito.

• à t
67
______________ História da
Ordem dos Advogados do Brasil

Art. 5° N in g u ém poderá advogar, o u procurar judicialm ente, sem ter


provisão d o presidente da relação do distrito, e prestar nela, o u em
audiência pública da autoridade judicial m ais elevada d o lugar, juramento
de ser fiel à lei, ao Imperador e aos deveres de seu ministério.
Art. 6° Só pod e obter provisão para advogar: 1° o cidadão brasileiro,
graduado no Im pério, provando que n o v ic io u durante dois anos no
escritório de um advogado conspicuo residente n o império; 2® o cidadão
brasileiro, graduado em país estrangeiro, provando ter estudado dois anos
com u m advogado conspicuo no Brasil, e obtendo atestado de suficiência
e de m oralidade do conselho disciplinar e administrativo d o Instituto da
ordem da província onde reside; 3° o cidadão brasileiro, não graduado,
m aior de 25 anos, que provar ter estudado quatro anos com u m conspicuo
advogado brasileiro, e obtiver atestado de suficiência, e de moralidade do
con selh o disciplinar e adm inistrativo d o Instituto d o lugar o n d e que
advogar, e for reconhecida a falta de bacharéis form ados. Todas essas
provisões pagarão 50$, e serão concedidas com a cláusula de durarem
enquanto bem servirem.
Art. 7° Os Institutos, em seus regimentos internos aprovados pelo governo,
marcarão as jóias de entrada para a ordem e as m ensalidades, e bem assim
quando e quais as beneficências à que terão direito as viúvas e descendentes
legais dos advogados pobres.
Art. 8° Os advogados não graduados gozarão de todas as prerrogativas,
isenções, e privilégios que nas leis não forem expressam ente concedidos
aos d outores, em cuja generalidade são com p reen d id o s o s bacharéis
form ados.
Art. 9° N enhum advogado assinará requerim entos, m em oriais, alegações,
em bargos, libelos, contrariedades, réplicas, tréplicas, razões finais, ou
qualquer papéis forenses, não tendo sid o feitos e deliberados por ele
próprio, sob pena de suspensão por sei meses, e de pagar 100$ pela primeira
vez; de u m ano, e de pagar 200$ pela segunda; e d e ser expulso da Ordem
pela terceira vez. Incorrerão nas m esm as multas, suspensões de ofício, e
perda dele pela terceira vez, os escrivães que con tinuarem os feitos a
advogados que neles não escrevem, e são meros assinantes.
Art. 10, O exercício da advocacia é incompatível: 1° c o m todos o s cargos
da ordem judiciária, exceto a d interim; 2° co m o s ofícios de escrivão,

62
\ ' ( ) l u n i r -1 I.Lit,I [ X ’ I .i C'n.it-K) (■ R c sistrn c ids

ta b elião , secretá rio de trib u n a l, contador, d istrib u id o r, so licita d o r,


procurador, e agentes comerciais; 3° com os cargos am ovíveis que vencem
salário público; 4° com o ministério sagrado de curas d ’almas; 5° com
tod os os em pregos ue poiicia.
Art. 11. N ão poderão ser advogados: 1° os falidos julgados de m á fé; 2° os
condenados por crimes de falsidade, perjúrio, peculato, prevaricação, peita,
concussão, irregularidade de conduta, e os que forem incursos nas penas
dos arts. 150'^ e 264'^ do C ódigo Criminal; se to d o aquele que perdesse
qualquer ofício por erro que nele fizesse. O s que não p o d em ser advogados
tam bém não p o d em ser procuradores, salvo em seu feito próprio o u dos
seus ascendentes e descendentes, e de afins nos m esm os graus.
Art. 12. É defendido aos advogados e procuradores que não façam avença
com as partes para haverem certa quantia, o u coisa, vencendo-lhes as
dem andas. E o s que a fizerem sejam suspensos por u m ano, e paguem
100$ pela prim eira vez, além de ser nela a avença, sem em bargo de
quaisquer cláusulas que tenham , com o seja a de fazerem as despesas do
processo, o u contra. Na reincidência, além da nulidade, pagarão 200$, e
n ã o p o d e r ã o m a is advogar, n e m p rocu rar, n e m s u b s ta b e le c e r as
procurações que lhes hajam de dar. Nas m esm as multas incorrerão os que
lavrarem as escrituras públicas, o u escreverem os escritos particulares de
tais avenças; e bem assim as testemunhas, e todas as pessoas e interessados

" o a rtig o 150 d o C ó d ig o C rim in a l te m a seguinte redação: Solicitar o u seduzir m u lh e r que peran te o empregado
litigue, ou esteja culpada o u accusada, requeira ou tenha algum a dependencia: Penas. N o gráo m a x im a -
dezesseis m ezes d e suspensão do emprego, além das m ais e m que tiver incorrido. N o gráo m édio - dez m ezes
de suspensão do emprego, além das m ais e m que tiver incorrido. N o gráo m in im o - q u a tro m ezes de suspensão
idem , idem . S i o q ue c o m m e tte r este crim e fô r ju iz de facto: Penas. D e prisão p o r dous m ezes, além das m ais
e m que incorrer. {JüNioi^ A raújo Filgueira (o i^ .). Código C rim ina l do Im pério do Brasil, e d ita d o p o r E d u ardo
e H e n riq u e L a e m m e rt, R io d e Janeiro, 1876, In: 162.jpg" h ttp ://w w w .liph i5.com /bu5cadorcodiyo/F iles/
p a gin a 162.jpg. E dição E letrô n ic a fac-sim ilar. O rganização d e J anaina P e rray o n Lopes (fo to g ra fo u os
orig in ais e o rg a n iz o u o léxico p a ra b u sca) e D u rv a l d e Souza Filho co n c e b e u o siste m a d e busca.
” 0 A rt. 264 d o C ó d ig o C rim in a l diz o seg uinte: julgar-se-ha crim e d e estellionato (A ): $ 1° A alheação de bens
alheios com o proprios, ou a troca das cousas, que se deverem entregar, p o r outras diversas (B );§ 2 ” A alheação,
locação (199), aforam ento o u arrendam ento (200) d a cousa propria, já alheada, locada, aforada o u arrendada
a outrem , ou alheação da cousa p ro p ria especialm ente hypothecada a terceiro (2 0 1 );§ 3 ° A h y p o th e c a especial
da m e sm a cousa a diversas pessoas, não chegando o seu valor p a ra p a g a m e n to de todos os credores
hypothecarios; § 4 " E m g e ra l, todo e qualquer artificio fra u d u le n to pelo q u a l se obtenha de o u trem toda a sua
fo r tu n a o u p a rte delia, ou quaesquer titulos (202) (203): Penai. N o gráo m a x im a —seis annos de p risão com
trabalho e m u lta de 2 0 % do valor das cousas sobre que versar o estellionato. N o gráo m édio - tres ann os e tres
mezes de prisão id e m e m u lta d e 12 + % do valor da cousa sobre que versar o estellionato. N o gráo m in im o
- seis m ezes de p risão idem e m u lta de 5 % do valor da cousa sobre que versar o estellionato. (Ibid.).

• á l
63
______________ H is to ria d a
Ordem dos Advogados do Brasil

que em tais escrituras ou escritos particulares assinarem o u intervirem.


Art. 13. É igualm ente defendido aos advogados e procuradores que não
com prem dem andas antes, n em depois da intentadas n em ligarem nelas
c o m o procuradores em causa própria, n em la^ani contrato algum sobre o
direito que nelas possa alguém ter. E os que fizerem o contrário, lavrarem
tais escrituras, o u escreverem os escritos particulares de tais compras, ou
cessões, e os que assinarem com o testem unhas, incorrerão nas m esm as
penas e m ultas do artigo antecedente.
A rt. 14. U m a n o d e p o is da p r o m u lg a ç ã o d e sta le i s ó p o d e m ser
procuradores judiciais e solicitadores os cidadãos brasileiros, maiores de
vinte e cinco anos, de bons costum es, que tenham sido exam inados e
aprovados plen am en te pelo conselho disciplinar e adm inistrativo do
Instituto da província de seu dom icílio, ou por advogados para isso por
ele nom eados. O exame versará sobre tudo o que é concernente ao processo
civil e crim inal de primeira e segunda instância, tanto no foro com um
com o no foro privilegiado, qualquer que seja sua natureza. São dispensados
do exam e os que forem graduados no império.
Art. 15. O s escrivães e secretários dos tribunais não confiarão autos,
sentenças, ou outros papéis judiciários, nem informarão sobre seus termos,
a ou tros que não sejam as próprias partes, o u procuradores por elas
constituídos dentre os que, segundo esta lei, p o d em exercer o ofício de
procurador judicial o u solicitador.
Art. 16. Os presidentes das Relações, os juizes de direito e juizes m unicipais
cum prirão e farão exatamente cumprir a ord., liv. 1°, tít. 48, e as demais
que dispõem acerca das obrigações dos advogados e procuradores, na parte
em que se não acham revogadas ou alteradas. As multas im postas nas
m encionadas ordenações são elevadas ao quádruplo.
Art. 17. Todas as multas im postas pela lei aos advogados e procuradores
judiciais, e bem assim o im posto de 50$ pago pela provisão de advogado
entrará para o cofre do Instituto da província respectiva, e farão parte de
seu patrim ônio.
Art. 18. N ão é permitido às partes tomarem por advogados ou procuradores
senão os que, segundo esta lei, podem ser advogados e procuradores, salvo
se do juiz que preside o júri obtiverem licença para tom ar por seu advogado
ou procurador u m de seus parentes o u amigos.

64
V o lu m e 2 l . u t .1 p c k i C r i a ç ã o v R e s is té n c ia b

Art. 19. Ficam revogadas todas as leis em contrário.


Paço do senado» 3 de julho de I S 5 0 .- M . Alves Branco. - J. da Silva Mafra.
- Baptista de Oliveira. - Francisco de Paula Pessoa. - José Joaquim Fernandes
Torres^

C om este projeto inaugurava-se uma longa e proficiente história de debates


sobre as dificuldades institucionais de criação de um a O rdem dos Advogados,
n u m Brasil ainda em processo de consolidação política, o n d e as forças de
organização social não estavam absolutam ente convencidas da organização
aberta d o E stado e n em m u ito m e n o s estavam d ista n tes as resistências
corporativas ao estado absolutista e centraHzado. Todavia, estes debates, co m o
verem os, tornaram -se significativos indicadores das resistências ao projeto de
criação do Brasil m oderno.

2.1. A Influência Histórica do Decreto Francês de 1810

N en hum a leitura legislativa comparada pode indicar exatas similaridades,


mas, não é de to d o im possível afirmar que o primeiro projeto de criação da
OAB teve com o parâmetro a organização dos advogados de Paris, especificam ente
o Décret Im perial contentenant Réglement sur Vexercice de la Profession d'Avocat,
et la discipline du Barreau (Decreto Imperial contendo Regulam ento sobre o
exercício da profissão d o Advogado e a disciplina do Barreaw) de 14 de dezembro
de 1810."' Havia a afirmação na Câmara dos D eputados, co m o a do deputado
Figueira de Mello,'^ de que o projeto brasileiro era um a cópia do decreto francês
de 14 de dezem bro de 1810 (Ibid.), o que a presente obra não confirm a, com o

B ulletin d cs Lois, n ° 3 3 2 . D é cret Im p e rial c o n te n a n t Réglem ente s u r l ’exercice d e la P ro fession d ’A voc at.e t
la discipline d u B a rre a u (n° 6.177). A u palais desT uileries, le 14 D é ce m b re 1810, p . 569 a 577. M ais tarde
são p u b lic a d o s m ais trê s te xtos legislativos q u e tra ta m d o m e sm o a ssu n to , c o m e n ta n d o , c o m p le ta n d o
o u m o d ific a n d o este D e creto. O p rim e ir o texto te m a d a ta d e 20 d e n o v e m b ro d e 1822, R a p p o rt a u Roi
su r Vordre des avocats (In fo rm e d o Rei sobre a O rd e m d o s A dvogados); o s e g u n d o texto é d e 10 d e
sete m b ro d e 1830, O rdo nna nce d u R oi contenant les dispositions s u r Vexercice de la profession d ’avocat
( O rd e m d o Rei c o n te n d o as d ispo sições so b re o exercício d a profissão d e a d v o g ad o ); o terc e iro e ú ltim o
texto é d e 22 d e m a rç o d e 1852, N . 3839 - D écret r e la tif a u x Elections d u B arreau (D e c re to relativo as
Eleições d o Barreau).
Veja o q u e d iz o d e p u ta d o Fig ueira d e M ello, in; A nnaes d o P a rla m e n to B razileiro - G a m a ra d o s srs.
D e p u tad o s. Terceiro a n n o d a O ita v a Legislatura, Sessão d e 1851. C olligidos p o r A n to n io Pereira Pinto.
T om o segund o. Rio d e Janeiro. l y p o g r a p h ia d o H . ]. Pinto. 1878. Sessão d e 27 d e agosto d e 1851: Discussão
d o p ro je c to d o se n a d o so b re o In s titu to dos A dvogados, vol. II, p. 710 e 714.

65
______________História da
O rdem dos Advogados do Brasil

verem os m ais adiante. N o Senado afirm ações sem elh antes ta m b ém eram
difundidas. R eferindo-se ao dispositivo que trata das m edidas disciplinares que
no projeto, ainda em debate n o Senado, tinha co m o redação o § 5° do art.
afirm ou o Sr. Dantas:

(...) Esta disposição foi tirada da lei do instituto dos advogados de França, mas lá
vem acompanhada de dedarações indispensáveis. Como está aqui e perigosa; os
advogados entendem que ficam com um juízo privativo para os seus crimes,
entendem que em vista deste artigo nenhum tribunal nenhum juízo lhes pode
impor penas. A lei do instituto dos advogados de França dá estas mesmas atribuições
aos conselhos quanto às penas, mas tem um artigo que diz- ‘Estas penas disciplinares
não prejudicam qualquer pena que em virtude das leis se possa impor ao advogado
que ultrajar as partes, que atacar o governo representativo, que injuriar o juiz, etc.]
porque os advogados entenderam que em virtude da anterior disposição não havia
tribunal algum que lhes pudesse im p o r penas.

C om parando os dois textos, o projeto brasileiro e o decreto francês,


constatam os que existem tantas semelhanças quanto diferenças, não apenas
estruturais, mas tam bém organizativas. Podem os m esm o observar, num a leitura
mais profunda, que a afirmação do parlamentar Figueira de Mello'® não tinha e
não tem fundam ento, que existem significativas diferenças que desm entem a
afirmação de simples cópia. Entretanto, é indiscutível que o decreto fi-ancés serviu
de m odelo e inspiração para o projeto brasileiro, e é evidente que u m país com a
tradição jurídica da França tivesse um texto legislativo mais virtuoso, m esm o
porque era u m texto final e não um projeto em discussão co m o o texto brasileiro.
Para q ue tenham os um parâmetro de sim ilaridades, fizem os algum as
preliminares observações comparativas que n os parecem significativas, até para
alcançar o exato sentido do projeto brasileiro. O decreto francês, antes d e expor

'^Art. 4°. São atribuições dos Conselhos Disciplinares e A dm inistrativos: (...) $5®. Aplicar as m edida s disciplinares
autorizadas pela lei e regulamentos do governo, a saber: além de quaisquer outras, a advertência, a repreensão,
e bem assim o interdito geral ou local, e a expulsão da ordem , o u da classe dos procuradores judiciais, precedendo
nestes dois últim os casos deliberação do instituto em sessão pa ra essef i m convocada, e dando recurso suspensive
para a relação do distrito, In: A nais d o S enado d o Im p é rio , p. 41 a 45. Sessão e m 3 d e ju lh o d e 1850.
P residência d o Sr. b a rã o d e M o n te Santo. O p. cit.
” A n a is do Senado d o Im pério, p. 6 6 a 80. Sessão d e 5 d e ju n h o d e 1851: Presidencia do sr. C ândido José de
A raújo Vianna. Sum ario: Segunda discussão do projeto creando institutos da O rd em dos Advogados. Discursos
dos srs. L im p o d e Abreu, D. M ano el M aya, Lopes G am a, C avalcanti de Lacerda, e D antas.
'‘ Anrtaisdo Parlamento B ra zikirv -C a m a ra d o s Srs. Deputados. Sessão de27 d e agosto d e 1851, p. 710 a 714. O p.cit.

6 6
\'c i!u n K ‘ 2 I ul.t })c'lct ( n a ç ,io c K í-^istcn cia s

seus dispositivos, dispõe sobre o que se poderia historicam ente identificar com
os propósitos do exercício da advocacia na França, que em d o cu m en to de Estado
traduzia alguns de seus ideais.

Napoleão, im perador dos franceses, rei da Itália, protetor da confederação do


Reno, m ediador da confederação suíça, &c. &c. &c. a todos os presentes e aos
que virão, saúda:
Q u an do nós nos ocupamos da organização da ordem judiciária, e dos meios
de assegurar às nossas cortes a alta consideração que lhes é devida, um a
profissão d a qu a l o exercício influi com po d er sobre a distribuição d a justiça
fixada à vista; nós temos em conseqüência ordenada, pela lei do 2 2 ventôse
ano XII, o restabelecimento do quadro dos advogados, como um dos meios
mais próprios a m anter a probidade, a delicadeza, o desinteresse, o desejo da
conciliação, o a m o r d a verdade e da justiça, um zeloso esclarecimento para os
fracos e os oprimidos, bases essenciais de seu estado.
Retraçando hoje as regras desta disciplina salutar das quais os advogados se
m ostraram tão felizes nos belos dias do Barreau, convém assegurar ao mesmo
tem po à magistratura a vigilância que deve naturalmente lhes pertencer sobre
um a profissão que tem tão íntim as ligações com ela: nós terem os assim
garantido a liberdade e a nobreza da profissão de advogado, pousando nos
limites que a devem separar da licença e da insubordinação.
Por esses motivos.
Sob direção de nosso grande ju iz-m inistro da Justiça;
Nosso Conselho de Estado entendeu,
N ós decretamos e decretado está: (Op. cit.)

A simples leitura deste texto inaugural da ordem dos advogados da França,


promuJgada por decreto imperial, nitidamente associa a atividade dos advogados
com a nova organização judiciária francesa, traduzindo, sem qualquer resistência ao
antigo Barreau, importante papel destes profissionais para alcançar a justiça e obter
os instrumentos de equilíbrio para fracos e oprimidos. Este docum ento histórico da
França ainda não fora traduzido ou transposto para os ideais da advocacia no Brasil,
mas de qualquer forma, com o veremos, sobreviverá com o texto referencial.
O p ro jeto apresen tado e m 1850 n o Senado do Império'^, preparado por
M ontezum a no lAB, foi à discussão na Câmara dos D eputados, após rápidos e

A nais d o S en ad o d o Im p é rio , p. 41 a 45. Sessão e m 3 d e ju lh o d e 1850. O p. c i t . ______________ _______

67
______________ História da
Ordem dos Advogados do Brasil

dispersos pronunciam entos n o final de 1850, início de 1851. Todavia, tal projeto
não assum e esta exposição preliminar de m otivos, m uito em bora M ontezum a
em vários dos seus discursos, inclusive n o discurso de fundação d o lAB, e o no
q u e fora d is tr ib u íd o en tre o s m e m b r o s da C â m a r a , t e n h a e x p o sto a
im portância e as benesses de um a ordem dos advogados n o Brasil.
Observação tam bém significativa é que o projeto brasileiro de 1850/51
propõe a criação de u m Instituto da Ordem dos A dvogados Brasileiros com
sede nas capitais o nde houvesse Relações - esta questão de se criar um a Ordem
direta m en te o u u m In stitu o da O rdem p erm eará o s d ebates e projetos
posteriores - o texto propõe tam bém a criação de um conselho disciplinar e
administrativo trazendo, assim, no seu cerne a questão da instituição com o
corpo disciplinar, foco central das questões futuras de organização. O decreto
francês em linha sem elhante dispõe:

3. N a s cidades o n d e são situ a d a s as cortes im periais, h a verá a p en a s u m único e


m e sm o q u a d ro e u m único conselho d e d iscip lin a p a ra os advogados.
4. A p rim eira form ação dos quadros será executada pelos presidentes e
procuradores gerais de nossas cortes imperiais; e, nas cidades onde não tiverem
cortes imperiais, pelos presidentes e procuradores im periais dos tribunais de
prim eira instância. Uns e outros serão assistidos e pegarão o parecer de seis
antigos advogados, nos locais onde se encontrarem m ais de vinte; e de três,
nos outros locais.

Estas alusões dão o exato indicativo de que o que se pretendia é que os


advogados viessem a ter um corpo disciplinar próprio, evitando o d o m ínio do
Estado sobre a profissão e ao m esm o tem po o cerceamento de suas atividades
com as ameaças da lei geral. N ão era esta, todavia, a convicção, preliminar, das
elites imperiais brasileiras, diferentemente da elite “revolucionária” francesa que
colaborou na construção do Estado Nacional francês após 1789, e que prom ulgou
alguns dos mais proeminentes docum entos jurídicos da história m oderna.
Ainda num a com paração preliminar, p o d em o s observar que o dispositivo
do projeto brasileiro que trata das incom patibilidades para o exercício da
advocacia - tão questionado pelos congressistas brasileiros - co m o terem os a
oportunidade de constatar, é m uito sem elhante ao dispositivo francês:
^“Atas das Sessões o u C onferências d o Instituto . Sessão d o In s tituto e m 28 d e fevereiro d e 1850 (extraordin ária).
Revista do In s titu to dos Advogados Brasileiros (Edição fac-sim U ar d a Revista do In stitu to 4os Advogados
Brasileiros - ano I e II - 1862, 1863), a n o XI - 1977, n ú m e r o especial.______________________ __

68
V o lu m e 2 L u l a |)cl<i C riac ^ .io c R e s is tê n c ia s

(P ro je to M o n te z u m a ) Artigo J3^ O exercido da advocacia he incompatível:


i° com todos os cargos da Ordem Judiciaria excepto a d interim; 2° com os
Officios de Escrivão, Tabellião, Secretario de Tribunal, Contador, Destribuidor,
solicitador, e Agentes Commerciaes, 3° com os cargos amoviveis, que vencem
salario publico, 4° com o ministério sagrado de Cura d'Almas, 5° com todos
os Empregos de Policia

{ D e c re to F ran cI-s) Art. 18. A profissão de advogado é incompatível: 1° com


todos os cargos da ordem judiciária, exceto aquela de suplente; 2° com as
funções de prefeito e de subprefeito; 3° com aquelas de oficial, de notório e de
procurador judicial; 4° com os empregos de penhores e aqueles de agente
contábil; 5^ com todas as espécies de negócio. São excluídas quaisquer pessoas
que fizerem trabalho de agente de afazeres.

Já a França em seu decreto trata dos honorários dos advogados, dispositivo


que nenh um dos projetos brasileiros, de 1850/51 a 1916, sequer m encionou.

Art. 36: Proibimos expressamente aos advogados de assinar as consultas,


memórias e documentos que eles não tiverem feito ou deliberado; lhes fazemos
paralelam ente a proibição de fazer os tratados para seus honorários, ou de
forçar as partes a reconhecer seus cuidados antes do serviço advocatício
concluído, sob as penas de repreensão pela prim eira vez e de exclusão ou
expulsão em caso de recaída.^^

Semelhanças e diferenças, que, com o já dissemos, mostram que o texto francês


foi inspiração para o projeto brasileiro de 1850/51 e não um a simples cópia.
Para m elhor com preensão comparada, ao longo da descrição e análise dos
debates parlamentares, ressaltaremos, sempre que o portuno, as sem elhanças e
diferenças entre o projeto brasileiro de 1850/51 e o decreto francês de 1810.
Esta estratégia m e to d o ló g ic a evitará u m lo n g o arrazoado d escritivo e a
circunscrição dos debates sobre o projeto de 1850/51 à temática de origem e
não à leitura nacional, que pretendem os ressaltar.

O s arts. 42 e 43 d o D ecreto fran c ê s ta m b é m tr a ta m dos h o n o rá rio s advocatícios. Veja A nexo 1.

• á l 69
______________História da
Ordem dos Advogados do Brasil

2.2. Os Debates sobre o Projeto Montezuma no Senado do Império

O Senador Sr. A lves Branco, após seu p eq u en o d iscu rso in tro d u tó rio à
apresentação d o projeto q ue propõe a criação da O rdem , lê o projeto sem
m ais com en tários. D o is m eses d epois, em 2 de setem bro de 1850,^^ o Senado
tem u m p rim eiro debate sobre o projeto. D ebate que c o m eça co m o Sr.Maya
(José da Silva M aya), p rim eiro -secretá rio d o S enad o, a fir m a n d o qu e o
projeto precisava ser am adurecido. Ele acreditava ser im p o ssív el atender o
seu artigo 1°:

0 S r. M aya: - (...)Para que à prim eira vista se reconheça que este projeto
não f o i suficientem ente m e d itad o basta ler a gigantesca disposição do
prim eiro a r t i g o , e m que se d iz que em cada uma das províncias do império
haja um instituto d a ordem dos advogados. Isto d á a entender que não se
atendeu ao que é o Brasil, quantos são os advogados que se acham nas
diferentes províncias. Poderia haver um instituto dos advogados no Rio de
Janeiro, na B ahia, e talvez em Pernam buco; m as creio que m esm o no
M aranhão o não poderia haver, e m u ito menos nas outras províncias do
império.
Portanto, julgo necessário que este projeto seja a d ia d o enquanto vai a um a
comissão, que, exam inando-o m aduram ente, proponha as em endas de que
ele m uito precisa p a ra ser eficaz a sua utilidade.
É apoiado 0 seguinte requerimento:
“P roponho o a d ia m e n to d a discussão do p ro je to p a ra ser re m e tid o à
comissão de legislação. - M a ya ” (Ibid.)

O Sr. Alves Branco, responsável pelo projeto, discorda do seu colega,


entretanto, não se opõe a que o m esm o vá para a com issão pelo sim ples m otivo

" A nais d o S e n a d o d o Im p é rio , p, 453 a 465. Sessão em 2 d e s e te m b ro d e 1850. P resid ê n cia d o Sr. barã o d e
M o n te Santo. S u m ário: N o va organização d o c o rp o d ip lo m á tic o : 3» discussão. D iscurso dos Srs. Baptista
d e O liveira, P a u lin o , e M aya. Aprovação. - Sub venção ao te a tro d e S. P ed ro d e A lcântara: 1« discussão.
D iscurso d o Sr. C le m en te Pereira. A d ia m e n to .- P e rm is s ã o à irm a n d a d e d a C a n d e lá ria pa ra p o s s u ir u m a
casa. D iscurso d o Sr. V isconde d e A brantes. A provação. - In s titu to d o s advogad os: 2‘ discussão, Discursos
d o s Srs. M aya, Alves B ranco, e D antas.
" Art. Fica criado nas capitais das p rovíncias do im pério u m in stitu to com o titu lo d e Institutoda ordemdos
ADV0G.4006, do qual serão m em bros todos os que na província exercem legalm ente a advocacia. O in stitu to
da capital do im pério com preenderá tam bém a província do R io de Janeiro, in: Anais d o S enad o d o Im p é rio ,
p. 41 a 45. Sessão e m 3 d e Julho d e 1850. O p. cit.

70 •ái
1 lAiti! p i'l.i ( ri.ttã o (’ R o ís tê n c iits

de que o ano legislativo estava findando e o projeto obrigatoriam ente passaria


para o ano seguinte.

O Sr. A lv e s B ra n c o : - Sr. presidente, não m e oponho a que o projeto vá a


u m a comissão, e a razão principal que tenho para isso é que está fin d a a
sessão legislativa. Como ele não p ode passar este ano, m e parece que não fa z
m a l q u e seja visto p o r m ais algum as pessoas e p o r conseqüência m ais
considerado antes da discussão. N ão voto, portanto, pelo requerimento, pela
razão que apresentou seu autor, razão cujo fundam ento não reconheço. (Ibid.)

C om o se pode verificar, o pronunciamento do Sr. Maya procurou restringir


o u dificultar a criação da O rdem pela insuficiência de advogado nas províncias,
o que p rovocou a reação de Alves Branco. Posto seu voto, o parlamentar,
responsável pelo projeto, contesta os argum entos do Sr, Maya, afirmando: os
cursos jurídicos têm lançado tantos bacharéis, que não posso acreditar que haja
capital de província alguma onde não os haja de sobra p a ra advogar. (Ibid.)
O Sr. Alves Branco ainda discorre um p ou co mais em defesa do projeto,
recrim inando o aum ento indiscrim inado dos serviços da advocacia, e finaliza:

Sr. A lv e s B ra n c o : - (...) Sr. presidente, é triste dizê-lo, m as a advocacia está


hoje monopolizada, não obstante nossas leis a respeito deste objeto, que tanto
se esforçaram em tornar impossível o monopólio, e este fo i o principal m otivo
que tive para apresentar o projeto que ofereci.
Portanto, senhores, não m e oponho a que o projeto vá a um a comissão, mas
não pela razão apontada pelo nobre senador, que não m e parece exata e digna
de ser atendida. (Ibid.)

O Sr. Maya retom a a palavra:

O Sr . M aya: - Eu peço ainda a palavra p ara declarar que não em iti um a


proposição inconsideradamente. Costumo fa la r pouco; m as aquilo que digo,
d ig o -o com conhecim ento. O nobre sen ador não p o d e d u v id a r qu e a
form ação de um instituto da ordem dos advogados, do m odo que se propõe
no projeto pa ra haver um conselho de disciplina como nele se diz, a não ser
nas províncias do Rio de Janeiro, Pernambuco, Bahia, e talvez M aranhão,

•Al 71
______________ História da
Ordem dos Advogados do Brasil

será coisa im possível; n in gu ém ignora as c ircu n stâ n cia s das d e m a is


p rovín cias em relação a este objeto. Um in stituto fo rm a d o de todos os
advogados da província, digo que é a té impossível no Rio de Janeiro; como
se há de conseguir cham ar para a m atrícula da corte aos advogados de toda
a extensão da província, de todos os municípios? A lém disso, ninguém poderá
d u v id a r de que nas províncias pequenas, como Santa C atarina, Espírito
Santo, Goiás, Rio Grande do Norte, Alagoas, etc., não p ode haver um número
de advogados nas capitais suficiente p a ra fo rm a r um instituto e obrigar
que os de fora delas venham matricular-se; e não será possível, ao menos
p o r m uito tempo, im pedir que advoguem, se estiverem habilitados para
isso. Eu lem brei-m e, Sr. presidente, desta razão, m as não é a única que me
f a z requerer que o projeto vá à comissão. (...)

O senador Alves Branco, por sua vez, tam bém , retruca:

O Sr. A lv e s B ra n c o : - Eu não disse que o nobre senador costumava falar


inconsideradamente (...). Disse que não m e parecia exato que houvessem
províncias sem advogados, como alegou o nobre senador, p o is creio que em
todas há suficientes, ou que m ui brevemente serão deles providos, não fazendo
0 governo tantos juizes. (Ibid.)

Até aquele m om ento a discussão se concentrava num dispositivo do projeto


p o r um ângulo, que cham arem os - por falta de outro term o - de logístico ou
redacional, m as logo após a fala do Sr. Alves Branco, u m outro senador, o Sr.
Dantas, inicia um questionam ento d o projeto que representa e representará ao
longo dos anos sua recusa peremptória:

O Sr. D a n ta s: - Eu fu i prevenido pelo nobre senador que prim eiro falou.


Pretendia m an dar um requerimento para que o projeto fosse a um a comissão,
porque eu entendo que ele não tem esse único vício de que fe z mensão (sic.] o
autor do requerimento; ele precisa de ser revisto em m uitos dos outros artigos
que alteram a nossa legislação civil e criminal. Há, p o r exemplo, o artigo que
d iz que todo o bacharel será obrigado a pra ticar dois anos p era n te um
advogado, esem atestado do qual não poderá advogar; de maneira que depois

72
V o lu m e 2 Lu ta p e l a C r i a ç ã o o R e s i s tê n c i a s

de cinco anos de estudo não lhe é bastante o título d a academ ia para advogar,
é necessário ainda que vá ser criado, p o r espaço de dois anos, de um advogado,
e advogar a in d a um ano para p o d e r ser prom otor, ou ju iz m u n ic ip a l
Entretanto d iz o nobre senador que me precedeu que o projeto vai acabar
com 0 m onopólio que se tem feito na advocacia, quando o projeto, a meu ver,
é que vem estabelecer o monopólio, porque, segundo ele, não poderá advogar
nem mesmo aqueles que têm um titulo passado p o r um a academia, sem o
EXEQUATUR de um advogado, ou do instituto; além do que, revoga disposições
criminais, porque o instituto fica com faculdade de impor multas, de suspender
advogados, procuradores, etc., e como está o projeto tem m uitas disposições
revogatórias da legislação civil e criminal. A té lembro ao nobre senador que
esse projeto vai colocar as academias abaixo de um advogado, e chamo a meu
favor 0 argum ento do nobre senador. Q uando se tratava da criação da ju n ta
de higiene p ú b lica , o nobre sen ador disse que esse estabelecim en to ia
subordinar um a corporação como a câmara municipal, ou um a instituição
pública como a academ ia de medicina, a um a porção de médicos; m as eu
digo que agora ainda se f a z pior, vai-se sujeitar a academ ia jurídica a um
advogado. Traz um bacharel um a carta de form atura, é obrigado a ser criado
d e um advogado p o r dois anos, e está sujeito ao atestado que ele lhe passar; ãe
sorte que se o advogado quiser tem a faculdade de penitenciá-lo, obrigando-
0 a praticar m ais dois anos, ou pelo tempo que quiser.
Eu entendo que o projeto deve limitar-se a conservar as prerrogativas reais
ou pessoais dos advogados ao menos aquelas que vão de acordo com a
constituição... favorecê-los, organizar um a espécie de m ontepio para suas
famílias; mas, d a r ao instituto atribuição de organizar o foro, dar-lhe a ação,
além da que tem sobre os advogados, sobre os procuradores e escrivães, acho
isto m uito perigoso e subversivo da boa justiça, e é o q u e f a z presentem ente o
projeto. Sou de parecer que ele vá à comissão, e que ela não atenda só a este
art. 1 m as a todo o projeto, porque ele tende a alterar várias disposições civis
e criminais. (Ibid.)

O caráter categórico das proposições do senador D antas reside no fato de


que nunca os projetos de criação da Ordem foram aprovados pelos congressistas
pelos m otivos - pela primeira vez e resum idam ente - expostos por ele. M otivos
estes declarados, confessados, mas que tinham em butido outros m uitos m otivos

73
______________História da
Ordem dos Advogados do Brasil

não tão explícitos que, contudo, foram defendidos co m força e determinação


c o m o verem os ao longo do presente trabalho.
Logo após a fala do Sr. Dantas, o senador Alves Branco, retorna a defender
o projeto de m ais esta nova investida:

O S r .A l v e s B f a n c o : - (...) O nobre senador entende que devemos continuar com


a legislação atual que fa z ju iz a um bacharel que praticou um ano. Eu assento
que esta disposição é muito fatal. Poderia talvez tolerar-se na ocasião em que
havia falta de juizes, mas não já hoje, quando abundam tanto que podiam bastar
para muitas nações. Não há povo algum sensato que entregue assim a população
à discrição de alguns moços saídos dos cursos jurídicos, e que apenas praticaram
p o r um ano perante os tribunais. Isto não deve continuar entre nós, e p o r isso é
que eu não posso aprovar as disposições legislativas que existem a este respeito, e
muito desejo que elas quanto antes deixem de existir.
O nobre senador também entende que um moço que se queira dedicará advocacia
não deve praticar com um advogado dois anos. Eu entendo que isso convém para
que os advogados sejam pessoas perfeitamente habilitadas, a quem as partes
possam confiar os seus negócios com toda a segurança. E isto não é uma invenção
arbitrária. Disposições como esta estão consignadas em códigos de grandes nações;
aí não se dedicam os principiantes de praticar com advogados hábeis. Não procede
a analogia que o nobre senador quis achar entre esta disposição e o que eu disse a
respeito das câmaras municipais, que não deviam subordinar-se ao conselho de
salubridade, porque uma câmara municipal não é uma academia. Uma câmara
municipal é um elemento governativo muito importante no nosso sistema de
governo, e um a academia é apenas uma repartição destinada ao ensino da
mocidade. Além disto, não há subordinação alguma de uma academia ao instituto
dos advogados pelo simples fato de praticarem seus alunos com um advogado
dele; não há mesmo pesar algum para ela, nem para o aluno. Não há pois analogia
alguma entre uma e outra coisa, como disse; o que há somente é atender-se muito
bem da nossa sociedade, que reclama advogados hábeis e moralizados, e que
reclama juizes dignos em todo o sentido de exercerem as atribuições de um poder
independente. Sr. presidente, eu desejo que daqui em diante as autoridades judiciais
não sejam nomeadas como agora, convém muito que sejam tiradas da classe dos
advogados. (Ibid.)

74
X 'o k in u ' 2 l.ulci pc’ki C n a t. 'io e R i s i s l c i x ij s

O Sr. D antas ironiza;

O Sr. D antas: - Q ue sejam nom eadas por um atestado do advogado!


O Sr. A lv e s B ra n c o : - Não. Desejo-qae-sejam mmreadas dentre os advogados
m ais capazes do instituto. A Inglaterra, assim como a França, têm colégio de
advogados, e de que prerrogativas não gozam eles! N inguém se queixa; são,
pelo contrário, os homens d e m aior respeito das duas nações.
O Sr. D a n ta s: - O rganizam o ju ízo lá?
O Sr. A iv ís B ranco; - A qu i não se organiza o juízo, educa-se o advogado
donde se há d e tirar o magistrado. Eu quisera que eles se tirassem hoje dentre
os práticos que tivessem pelo menos dez anos do foro.
O Sr. d . M a n o e l: - D e z anos!
0 S r . A lves B r a n c o : - S im , senhor.
O S r. d . M a n o e l: - N o Brasil?
O Sr. A lv e s B ra n c o : - Sim, senhor, temos muitos bacharéis; tantos que bem
p odem suprir as necessidades de dez nações.
O S r. d . M anoel: - E o q u e se co m e nesses d e z a n o s ?
O Sr. A lv e s B ra n c o : - Pois não advogam? N ão ganham com isso? É o que nos
mata. Tem-se feito crer que só podem os ganhar a vida p o r empregos públicos.
D etestável crença!!
O Sr. D a n ta s: - Pelo projeto têm eles cinco anos de academia e dois de criados.
O S r. A lv e s B ra n c o : - N ão lance o ridículo quando não há m otivo para isso,
não há a í criado, nem amo, há sim um pretendente ao exercício de um a
im portante profissão, e que deve praticar, cabem habituar-se prim eiro com
os m ais antigos e habilitados nela.
Enfim, agora não se trata da matéria do projeto, mas sim do adiamento. Vá
à comissão 0 projeto para m ais desenvolver-se, como aqui se diz. É verdade
que 0 tenho p o r m uito desenvolvido, m as não importa, estava em foro; vá à
comissão, desenvolva-se mais, já que assim o querem.
Julga-se discutido o adiamento, e, posto à votação, é aprovado. (Ibid.)

Estes debates introdutórios no senado do Im pério abrem as luzes sobre a


formação do Estado nacional brasileiro, que se preocupavam co m a form ação
escolar dos servidores da elite do Estado (juizes) e dos agentes sociais de
demandas (advogados). É claro que neste quadro de dificuldades seria impossível

75
______________ H istó ria da
Ordem dos Advogados do Brasil

que viesse a prevalecer um a Unha de orientação, m as de qualquer forma, mais


do que a discussão sobre os debates do Instituto da O rdem , estavam e m aberto
as oportu nidad es para o exercício da advocacia o u da m agistratura pelos
advogados “práticos” profissionais habituados co m as práticas jurídicas, mas
sem a titulação suficiente.
Na verdade, é neste espaço vazio, ou na dificuldade de bacharéis form ados
para a magistratura, para os cargos superiores do Estado, para a advocacia, que
o Estado nacional im perial desenvolveu m ecanism os de viabilização da atuação
funcional de “práticos” (“práticos” eram advogados, juizes e personalidades de
Estado) o que, co m certeza, afetou o desenvolvim ento criativo d o Direito e
incentivou rotinas m eram ente aplicativas, que, não só retardaram a criação da
Ordem, com o entidades de profissionais independentes, mas tam bém um a certa
aderência prolongada as ordenações filipinas e um a profunda dificuldade em
se promulgar códigos importantes com o o Código Civil e o Código de Processo,
vigentes, ainda m esm o, na França napoleônica.
Retornando da com issão no ano seguinte (1851) o projeto M ontezum a
encontra um novo presidente d o senado imperial. C ândido José d e Araújo
V ian n a o (n o ss o c o n h ecid o ) m arquês de Sapucaí, p rofessor e am igo do
im perador D. Pedro II. N este m esm o ano, M ontezum a foi escolhido num a lista
tríplice c o m o senador da B a h i a , e , portanto, participa das discussões sobre o
projeto que ajudou a elaborar, contudo pou co se manifesta, m esm o porque o
senado se m ostra francamente favorável ao projeto. N o s Anais do Senado de 12
de maio, na abertura dos debates sobre o projeto que retornou da com issão,
encontram os a seguinte redação:

Lê-se e vai a im prim ir o seguinte parecer:


A comissão de legislação, a que foi remetido o projeto de criação do Instituto
da O rdem dos Advogados, reconhecendo a im portância d a matéria, nada
duvida d a necessidade de providências eficazes que restituam a ordem dos
advogados no império à dignidade que lhe éprópria, e à consideração que lhe
é devida, e lhe não será mais negada quando libertada d a degradação em
que vai caindo, levada p o r um a desmesurada relaxação a que é preciso obstar.
N estas circunstâncias adota, p o r convenientes, as m edidas propostas no

B oletim d o In s titu to d a O rd e m d o s Advogados Brasileiros {nova série) n ú m e r o 6, vol. IIIA, 1927 {segunda
pa rte ). Rio d e Janeiro, Im p ren sa Nacional, 1931. Ulysses B randão: Os presidentes do in stitu to dos Advogados,
desde sua fundação.

76 •Al
V o Iliu kí 2 L u ta p c i a C r i a ç ã o e R c s i s t õ n c i a s

projeto; m as com vênia dos ilustres senadores que o subscreveram e apoiaram,


tem a f a z e r - lh e a lg u m a s alterações e a d ita m e n to s q u e lhe pa recem
convenientes, em atenção às circunstâncias de fa to e de direito que se lhe
apresentaram, e que talvez facilitem a discussão.^^

A pós este intróito, a com issão apresenta suas em endas, assinadas pelo Sr.
Maya e por Cavalcanti de Lacerda.

O 5 artigos 1‘’ e 2 ° do projeto sejam substituídos p o r estes:


Art. 1° Fica criado nas capitais das províncias em que há Relações, um
instituto com 0 título de - Instituto da O rdem dos A dvogados, — do qual
serão m embros na prim eira organização todo os que no distrito das Relações
exercerem legalm ente a advocacia.
Art. 2° Todos os referidos advogados serão inscritos em um a lista que pela
p rim eira ve z será fo rm a d a sob a direção dos presidentes das relações, com
assistência dos dois advogados m ais antigos das capitais, e nela serão
inscritos, com distinção das comarcas e dos termos em que exercerem a sua
profissão.
Art. 3'^Para a form a çã o destas listas os ju izes d e D ireito das comarcas, com
inform ação dos ju izes municipais, farão e remeterão aos presidentes das
Relações a enumeração dos que em suas comarcas exercerem atu alm en te a
a d vo ca cia , com especificada declaração d a ca p a c id a d e , p r o b id a d e e
com portam ento de cada um deles.
Art. 3° Logo que se tiver fo rm a d o a lista dos advogados dos termos das
capitais, se o rgan izará nelas um conselho com 0 títu lo de - Conselho
disciplinar e adm inistrativo, - 0 qual será com posto de um presidente,
secretário, tesoureiro, e de membros, na seguinte proporção:
N ove na Corte, e nas das províncias em cujas capitais houver m ais de trinta
advogados; seis nas que tiverem de vinte a té trinta; quatro se tiverem menos
de vinte.
Art. 4° N esta p rim eira organização 0 presidente, secretário, tesoureiro e
m em bro do conselho serão nomeados, na corte, pelo m inistro da Justiça, e

“ Anais d o S e n a d o d o Im p é rio , p. 55 a 58. Sessão e m 12 d e m a io d e 1851. P residência d o Sr, C â n d id o José de


A ra ú jo V iann a. S u m á rio - 3 “ discussão d o p ro je to a u to riz a n d o o g o v e rn o p a ra o rg a n iz a r u m novo
re g im e n to d e custas judiciárias. D iscursos dos Srs. D. M anoel. D antas, C avalcanti de Lacerda, M o n tez u m a
e C assiano. E m e n d a d o Sr. D. M anoel. V otação. - 3* discussão d o p ro je to a u to riz a n d o o gov e rn o p a ra
c o n ce d e r c arta d e n a tu ra liz a çã o ao p o rtu g u ê s M an o e l Joaq u im C oelho.

77
______________ História da
Ordem dos Advogados do Brasil

nas províncias pelos presidentes delas, e servirão p o r um ano.


Art. 5 ‘’ Depois de assim form ado o instituto, este de dois em dois anos, e no
dia 12 de outubro, nomeará o conselho, sendo o presidente, secretário e
tesoureiro eleitos p o r maioria absoluta dos votos, e os vogais p o r maioria
relativa; adm itindo-se os votos dos advogados de fora do termo da capital, ou
legitim am ente impedidos, p o r procuração d ada a advogado, que compareça
pessoalmente e com a expressa indicação dos advogados em quem deve votar
para os diferentes empregos do conselho. Este tom ará posse no dia 9 de janeiro
do ano seguinte ao d a eleição.
N o art. j», que passa a 6°, em vez das palavras “presentes seis m em bros”
diga-se ‘*sem se achar presente a m aioria dos m em bros”.
N o art. 4°, que passou a 7°, depois da palavra “solicitadores” acrescente-se
“que 0 requererem”
Suprim am -se as palavras “igualmente a dos”
N o§ 5®deste artigo, depois das palavras “nestes dois últimos casos” acrescente-
se “audiência dos denunciados, ou argüidos, e . ”
Art. 5^ passa a 8°
N o art. 6°, que passa a 9°, no n° 1 suprim am -se as palavras “provando que
noviciou durante dois anos no escritório de um advogado conspícuo residente
no im pério”.
Artigos Aditivos:
Art. 10 O s advogados, ainda que não estejam inscritos, poderão propor e
defender as causas d e que os encarregarem nos juízos d e prim eira instância:
apesar porém de não inscritos serão sujeitos à inspeção do conselho disciplinar,
que poderá requerer perante o ju iz de direito d a respectiva comarca, p o r meio
do prom otor público, que sejam processados para se lhes im porem as penas
em que incorrerem.
Art. 11 Som ente os inscritos serão adm itidos a advogar perante as relações e
m ais tribunais superiores, e do comércio, epoderão ser nom eados advogados
do conselho d e Estado.
Art. 7“^passa a 12.
Art. 8^ passa a 13.
Os arts. 9® e seguintes terão a numeração conveniente.
Paço do senado, 9 de m aio de 1 8 5 1 .- Maya. - M . I. Cavalcanti de Lacerda.^^

78
V u lu in i' 2 Liil.i |)cl(i C r i.iu u i i; Rcsisiêix icts

O b serve q u e a C o m iss ã o se d etém , quase que e x c lu siv a m e n te , n o s


artigos 1° e 2° do p r o je to qu e se d esd ob raram em seis o u tr o s artigos,
a te n d e n d o às críticas d o Sr. Maya feitas na sessão de 12 d e se te m b r o de
1850, d e q u e seria im p o s sív e l criar u m a o r d e m em cada p r o v ín c ia do
Im p ério , já qu e n em to d o s tin h a m um n úm ero de ad vo ga d o s nas ca pita is
su ficien te p a ra f o r m a r um in stitu to e obrigar qu e os de fo ra delas venh am
m atricu lar-se; e não será possível, ao m enos p o r m u ito tem po, im p e d ir que
advogu em , se estiverem h a b ilita d o s p ara issoJ'^
O trab alho da c o m issã o , na tentativa de resolver a q u e stã o a p on ta d a
p elo Sr. Maya, cria e reelabora d isp o sitiv os q ue parecem , em p rim eira vista,
resolver o p ro b lem a . O s artigos su b stitu tiv o s p rim eiro e x p lic ita m que a
O rdem seria criada nas capitais em que h o u v e sse R elações. C o lo c a m os
p resid en tes das R elações c o m o resp on sáveis p ela lista d os a d v o g a d o s, sob
a a ssistê n c ia d o s d o is a d v o g a d o s m a is a n tig o s da reg iã o. A lista seria
f o r m a d a c o m o a u x ílio d o s ju iz e s d e D ir e ito da c o m a r c a e o s ju iz e s
m u n ic ip a is, q ue deveria m fazer u m a relação d o s que exerciam a advocacia
n a p r o v ín c ia e m q u e s t ã o , j u n t o c o m a r e la ç ã o u m a d e c la r a ç ã o da
cap acida d e, p ro b id a d e e c o m p o rta m e n to d e cada um deles .(Ibid.)^* Por fim ,
o r g a n iz a m a n o m e a ç ã o d o s m e m b r o s d o C o n s e l h o D i s c i p l i n a r e
A d m in istrativ o p ro p o rcio n a lm en te ao n ú m ero de a d v og a d o s p resentes nas
cap ita is das P rovíncias.
A crítica contundente e m esm o irônica do Sr. Dantas na sessão de 2 de
setembro de 1850, foi em parte atendida retirando do art. 6°^^ a redação que
dizia: provando que noviciou durante dois anos no escritório de um advogado
conspícuo residente no império.
A com issão ainda acrescenta dois artigos que n os parece dem onstrar u m
afrouxamento, um a capitulação dos propósitos do projeto de regular e organizar
a advocacia e os advogados d o país, já que os citados dispositivos pressupunham
advogados fora do âm bito da instituição que seria criada:

^ A nais d o S e n a d o d o Im p é rio , p . 55 a 58. Sessão d e 12 d e m a io d e 1851. O p . cit.


” A nais d o S e n a d o d o Im p é rio , p. 453 a 465. Sessão d e 2 d e se te m b ro d e 1850. O p . cit.
® Sem elhante ao D ecreto francês: a r l.5 ‘’ (...) têm direito de exercer a profissão de advogado, assegurando entretanto
que haja indicações satisfatórias sobre sua capacidade, probidade, delicadeza, boa vida e con duta moral.
(O p . cit.)
^ Arf. 6° Só pod e obter a provisão pa ra advogar: (...). O p . cit.

79
______________História da
Ordem dos Advogados do Brasil

Art. 10. Os advogados, ainda que não estejam inscritos, poderão propor e
defender as causas de que os encarregarem nos juízos de prim eira instância:
apesar porém de não inscritos serão sujeitos à inspeção do conselho disciplinar,
que poderá requerer perante o ju iz de direito da respectiva comarca, p o r meio
do p rom otor público, que sejam processados para se lhes im parem as penas
em que incorrerem.
Art. 11 Som ente os inscritos serão adm itidos a advogar perante as Relações e
m ais tribunais superiores, e do comércio, e poderão ser nomeados advogados
do conselho de estado.^°

O senador M iranda Ribeiro, na últim a sessão em que se discute o projeto,


ou seja, em 3 d e julho d e 1 8 5 P ', observa que os d ois dispositivos contradizem
o artigo 1°. Q ue diz que todos os advogados serão m em bros do instituto, e os
artigos citados acim a supõem que pode haver advogados que não fa ça m parte
do instituto, porque diz: "Os que não forem inscritos etc”.^^ A ssim , evidenciado
a contradição, os artigos aditivos da com issão são sum ariam ente excluídos
do texto final.
N a sessão de 5 de junho de 1851” , as em endas, junto co m o projeto são
debatidas sem que aconteça nenhum a discussão frontalm ente contra o projeto,
som ente algum as manifestações contra alguns dispositivos que prontam ente
são solucionadas. Ressaltaremos algumas, com o, por exemplo, o questionamento
do Sr. Lopes Gama em relação ao art. 3° que dá poder aos juizes de emitir, ou
não, declaração de capacidade, p ro b id a d e e com portam ento^*. O receio do
deputado é que o ju iz de Direito p ode (...), em razão do seu ofício, ter indisposições
pessoais com advogados com prom etendo o seu julgamento:

Por outro lado a apreciação das qualidades de um advogado no que respeita


à sua probidade e conhecimentos é certam ente m uito delicada e difícil. Por
conseqüência entendia que não era conveniente semelhante disposição. Fui o

Anais d o S e n a d o d o Im p é rio , p . 55 a 58. Sessão d e 12 d e m a io d e 1851. O p . cit.


Anais d o S enado d o Im p é rio , p. 19 e 20. Sessão d e 3 d e ju lh o d e 1851. Sr. M ira n d a Ribeiro: oferecendo
em enda á redação fin a l do projecto que crea institutos de advogados no Brasil.
A nais d o S e n a d o d o Im p é rio , p. 19 e 20. Sessão d e 3 d e ju lh o d e 1851. O p . cit.
" Anais d o S e n a d o d o Im p é rio , p. 6 6 a 80. Sessão d e 5 d e ju n h o d e 1851: Presidencia do Sr. C ândido José de
Araujo Viarina. Sum ario: Segundadiscussâodo projeto creando institutos da O rdem dos Advogados. Discursos
dos Srs. Lim p o de Abreu. D. M an oel M aya, Lopes G am a, C avalcanti de Lacerda, e D antas.
^ A nais d o S e n a d o d o Im p é rio , p. 55 a 58. Sessão e m 12 d e m a io d e 1851. O p . cit.

80 màM
V o lu m e 2 L u fn p ( 'L i O i . K ^ ã o o R e s is tê n c ia s

m em bro da comissão que fe z essa ponderaçao, todavia assinei o parecer para


que 0 senado em sua sabedoria decidisse como melhor entendesse

O senado decidiu: aprovou o artigo criticado. Outra crítica que, diferente


da anterior resultou e m m udança, foi feita pelo Sr. Limpo de Abreu sobre o do
art. 4°^^, que em seu § 5° diz:

A plicar as m edidas disciplinares autorizadas pela lei e regulam entos do


governo, a saber: além de quaisquer outras, a advertência, a repreensão, e
bem assim o interdito geral ou local, e a expulsão da ordem, ou da classe dos
procuradores judiciais, precedendo nestes dois últim os casos deliberação do
instituto em sessão para esse fim convocada, e dando recurso suspensivo para
a Relação do distrito.^'’

A com issão, em 12 de m aio de 1851, em enda o dispositivo c o m a seguinte


redação; Depois das palavras - nestes dois últimos casos - acrescente-se-audiências
dos denunciados, ou argüidos, e... (Ibid.) Eis a crítica do Sr. Lim po de Abreu:

C om binando a em enda oferecida pela comissão com a disposição do projeto,


vê-se que o conselho adm inistrativo da ordem dos advogados que se cria por
esta lei fica com direito de aplicar, sem recurso algum, e sem convocação do
instituto, todas as penas disciplinares, exceto aquelas que contiverem interdito
geral ou local, e expulsão da Ordem ou da classe dos procuradores judiciais.
Todas as outras penas que não forem estas podem ser aplicadas pelo conselho
adm inistrativo da O rdem com audiência dos denunciados ou argüidos, como
quer a em enda d a comissão; porém sem recurso algum, m esm o sem ser
convocada para essef im o Instituto da Ordem. Q uanto porém as penas forem
essas d e que o parágrafo trata ultimamente, isto é, o interdito geral ou local,
e expulsão da O rdem ou da classe dos procuradores judiciais, então é necessária
a convocação do Instituto, além da audiência dos denunciados ou argüidos, e
dá-se recurso suspensivo para a relação. Parece-me que po d em dar-se outras
penas em que convenham algumas garantias mais aos advogados que possam
v ir a sofrê-las, p o r exemplo multas. N ão m e parece ju sto que um advogado

Anais d o S enado d o Im p é rio , p. 66 a 80. Sessão d e 5 de ju n h o d e 1851. O p. cit.


" Art. 4° São atribuições dos C onselhos D isciplinares e Adm inistrativos. O p. cit.
” Anais d o S e n a d o d o Im p é rio , p. 41 a 45. Sessão e m 3 de ju lh o d e 1850. O p. cit.

• á B 81
______________ História da
Ordem dos Advogados do Brasil

possa ser m ultado, principalm ente se a multa for de grande importância,


sem que, além d a audiência, se lhe dêem outras garantias, o recurso para a
relação, ou ao menos a convocação do Instituto da Ordem?^

H á, a p ós a declaração do Sr. L im po d e Abreu, u m a d iscu ssão deste com


o Sr. M aya, q ue o transcritor não ou viu . O Sr. L im po d e Abreu, respond e, e,
em m e io a sua fala, co lo ca sua proposta para resolver o p rob lem a por ele
apontado:

...será justo que o conselho administrativo da O rdem possa sem recurso algum
im por um a suspensão p o r largo tem po a um advogado? Pode esta pena ser
m ais incômoda, m ais gravosa para o advogado do que um a m u lta de 20$000,
30$000 ou 50$000; semelhante m ulta é um a p en a p or certo m ais benigna do
que u m a suspensão p o r dois anos, um ou ainda menos... (Ibid.)

Propõe por fim um a emenda, prontam ente aceita pela assem bléia dos
senadores, que atendia as suas reivindicações:

Substitua-se a segunda p a rte d o § 5° d o art. 4°, pela seguinte emenda, a


saber: advertência, repreensão, m ulta até 200$; e bem assim o interdito geral
ou local, e a expulsão da ordem, ou da classe dos procuradores judiciais,
precedendo nestes dois casos e no de m ulta p o r m ais de 50$000, deliberação
do Instituto em sessão para esse fim convocada, e dando recurso suspensivo
p a ra a Relação do distrito. (Ibid.)^^

C o m algum as m ais observações sem grandes relevâncias, o prim eiro


projeto de criação da O rdem dos Advogados, elaborado n o lA B sob a liderança
de M ontezum a, passa para a sua terceira discussão n o a n o d e 1851 e é aprovado
co m suas respectivas em endas e enviada para a Câmara dos D eputados, não
c o m o um projeto do Instituto, m as d o senado do Império.

A nais d o S e n a d o d o Im p é rio , p. 66 a 80. Sessão d e 5 d e ju n h o d e 1851. O p . cit., p . 73 e 74.


” É in teressante o b s e rv a r q u e o de creto francês n ã o e stip u la “jóias d e e n tr a d a ”, n e m “ c o n trib u iç õ e s m e n sa is”
p a ra os ad v o g ad o s inscritos n a O rd e m , n e m te m o q u e o te x to brasile iro c h a m a d e beneftcencas, á que
segundo as circum stancias terão direito as viuvas e descendentes legaes dos advogados pobres (a rt. 7“). N o
artig o francês q u e tra ta das penalid ad e s n ã o h á o ite m m u lta , p o r sinal, n ã o h á o d ito dispo sitivo em
n e n h u m a p a r te d o te x to francês: Art. 25. O C onselho de disciplina poderá, seguindo a exigência dos cargos:
aconselhar, censurar, reprimir, interditar d u rante u m tem po que não poderá exceder a u m ano, excluir ou
riscar do q ua dro (B ulletin d e s Lois, n® 332, o p . cit.).

82 •à l
V 'o k im c 2 I III,I C r i a c . K ) (' Rc’s i s t r n i ias

A redaçao final do projeto que foi enviado à Câmara dos Deputados foi a seguinte:

O Senado envia á Gamara dos D eputados a Proposição junta, e pensa que


tem lugar pedir-se ao Imperador a Sua Sancção.
Paço do Senado, em 5 de julho de 1851.
C ândido José de Araujo Vianna - Presidente
José da Silva Maya - Primeiro Secretario
José Joaquim Fernandes Torres - 4^* Secretario

A Assem bléa Geral Legislativa Decreta


Artigo 1° Haverá n o districto de cada hum a das Relações do Im pério h um
Instituto co m o titulo de - Instituto da O rdem dos A dvogados - com
assento na Capital, em que estiver collocada a Relação, e sen d o seus
m em bros quantos n o m esm o districto exercerem a advocacia legalmente.
Estes serão inscriptos em hum a lista formada na primeira vez sob a direção
d os Presidentes das Relações com assistência dos dous m ais antigos dentre
os A dvogados presentes, especificando-se as Provincias[,] C om arcas e
Termos, e m que exercerem a sua profissão.
Artigo 2° N a inscripção, de que trata o Artigo precedente, o s Presidentes
das Relações, cada h um n o districto de sua com petencia, hão de regular-
se pelas inform ações dos Juizes de Direito, os quaes depois de ouvirem aos
Juizes M unicip aes as darão m ostrando, qu an tos nas suas respectivas
Comarcas exercem effectivamente a advocacia, e declarando especificadamente
a capacidade!,] probidade e comportamento de cada hum delles.
Artigo 3° Logo que estiver formada a lista dos A dvogados dos Termos das
Capitaes, se organisará nestas hum C onselho com o titulo de - C onselho
D isciplinar e Adm inistrativo - o qual será com p osto de h u m Presidente[,]
Secretario^,] Thesoureiro, e de Vogaes na proporção seguinte[:j nove na
Capital do Im pério e nas que tiverem mais de trinta Advogados; seis nas
que tiverem de vinte athe trinta; e quatro nas que tiverem m en os de vinte.
Artigo 4° N a primeira organisação do C onselho o s m em bros de que deve
ser com posto, e que ficão acima declarados, serão nom ead os na capital do
Im pério pelo M inistro da Justiça, e nas outras capitaes, de que trata o
Artigo 1®[,] pelos Presidentes de Provincia e servirão por h u m anno,
tom an do posse n o dia nove do m ês de Janeiro seguinte á sua nom eação.

83
______________ História da
Ordem dos Advogados do Brasil

Artigo 5° O rganisado assim o Instituto, á este com p ete a escolha dos


m em bros do C onselho por eleição biennal, que será praticada á primeira
vez n o dia d oze de O utubro seguinte á p o sse de qu e trata o Artigo
precedente!,] sendo o Presidente Secretario e T hesoureiro eleitos por
m aioria absoluta de votos, e os vogaes por m aioria relativa. Os Advogados
residentes fora do Termo da capital, ou legitim am ente im pedidos poderão
votar por procuração dada á Advogado, que compareça pessoalm ente, e
com a expressa designação dos Advogados, em quem deve recahir o voto
para os differentes cargos do Conselho. O C onselho assim nom eado tomara
posse n o dia nove de Janeiro do anno seguinte ao da eleição.
Artigo 6 ° A o Instituto, em sessão, com pete exercer o poder deliberante da
O rd em ; e ao C o n se lh o , em c o n feren cia , a pp licar a d m in istr a tiv a e
disciplinarm ente a Lei, e as deliberações d o Instituto. Poderá haver sessão
do Instituto com qualquer num ero de m em bros alem da totalidade dos
que co m p o em o Conselho: este porem não exercerá suas funcções, sem se
achar reunida a m aioria de seus m em bros. O Presidente do C onselho será
tam bem Presidente do Instituto, e em am bos os casos só terá voto de
desempate.
A rtigo 7° Os Institutos em seus R egim entos in te rn o s, que n ã o terão
execução sem approvação d o Governo, marcarão as joias de entrada para
a Ordem , e as contribuições m ensaes dos seus m em bros, assim com o as
beneficencias, á que segundo as circum nstancias terão direito as viuvas e
descendentes legaes dos Advogados pobres.
Os m esm os Institutos á nem hum a pessoa poderão conferir o titulo de
m em bro honorário da Ordem.
Artigo 8 ®Os Conselhos Disciplinares e Administrativos regulando-se pelas
inform ações dos Advogados alistados nom earão em cada Comarca das
Provincias do respectivo districto hum D elegado para os coadjuvar no
d esem p en ho de suas attribuições segundo as instrucções que lhe derem.
Artigo 9° São attribuições dos C onselhos Disciplinares e Administrativos;
$ 1° Fazer an nualm en te a m atricula d os A d vogad os e Solicitadores,
alistando to d o s o s qu e residirem , e estiverem em exercicio legal no
respectivo districto, e remette-la com as necessarias observações á Relação,
ás Comarcas M unicipaes, aos Juizes de Direito, e aos Juizes M unicipaes do
m esm o districto.

84
Voknue 1 Lu In p e l a ( c K c s is tc n c i.is

§ 2° Examinar e informar, em virtude de Portaria do Presidente da Relação,


sobre a sufficiencia e m oralidade dos que pretenderem ser solicitadores,
o u A dvogados, não sendo graduados em D ireito pelas A cadem ias do
Império.
§ 3° Infom ar em virtude de Portaria do Presidente da Relação, sobre a
falta [de] Bacharéis formados, que exerção a advocacia, q uando requerer
licença para advogar, quem não for graduado em Direito.
§ 4° Nelas pela fiel execução das Leis e das deliberações do Instituto, no
que for concernente ao exercício e dignidade do O fficio de A dvogado e de
solicitador, e a m anutenção e defesa de suas prerogativas, em proveito geral
do Paiz e da sciencia da jurisprudência.
§ 5° Applicar adm inistrativam ente as seguintes m edidas disciplinares,
quando autorizadas por Lei, e Regulam entos d o Governo, a saber:
Advertencia, reprehenção, multa até duzentos m il reis, interdicto geral ou
local, e expulsão da Ordem , o u da Q asse dos solicitadores, precedendo
n os dous últim os casos, e n o de multa por mais de cincoenta m il reis,
audiência dos denunciados ou arguidos, e deliberação do Instituto em
Sessão para esse fim convocada; e havendo recurso suspensive para a
Relação.
A rtigo 10° N in g u ém poderá advogar, nem solicitar em Juizo, sem ter
Provisão do Presidente da Relação do districto, e prestar nella, ou em
audiência publica da Autoridade judicial mais elevada do lugar, juram ento
de ser fiel ao Imperador, observar as Leis, e cum prir os deveres do seu
ministério.
Artigo 11° Só poderá obter Provisão para advogar[:] prim eiro o cidadão
Brazileiro, graduado em Direito pelas Academias do Império. Segundo o
cidadão Brazileiro, graduado em D ireito por A cadem ias estrangeiras,
provando ter praticado dous annos com A dvogado do Paiz, e o obtendo
in fo rm açã o de sufficiencia e m oralidade d o C o n se lh o D iscip lin a r e
Adm inistrativo do districto em que residir. Terceiro o cidadão Brazileiros
não graduado em D ireito, e maior de vinte cinco annos, que provar ter
praticado quatro annos com A dvogado do Paiz, e obtiver inform ação de
sufficiencia e m oralidade do C onselho Disciplinar e A dm inistrativo do
districto, em que pretender advogar, havendo falta de Bacharéis form ados,
que se dediquem á advogacia no lugar, onde a quiser exercer.

85
______________ História da
Ordem dos Advogados do Brasíí

Qualquer Provisão de Advogado pagará cincoenta m il reis> e será passada


com a clausula de durar em quanto o Provisionado b em servir.
Artigo 12° Os Advogados não graduados gozarão de todas as prerogatives [, ]
isenções, e privilégios, que não forem nas Leis expressam ente concedidos
aos Doutores, em cuja generalidade achão-se com prehendidos os Bacharéis
formados.
Artigo 13° 0 exercício da advocacia he incompatível: 1° c o m todos os
cargos da O rdem Judiciaria excepto ad ínterim; 2° co m os Officios de
Escrivão, Tabellião, Secretario d e Tribunal, C on tad or, D estrib u id or,
solicitador, e Agentes Com m erciaes, 3° co m o s cargos am oviveis, que
vencem salario publico, 4° com o m inistério sagrado de Cura d ’Almas, 5°
c o m todos os Empregos de Policia.
Artigo 14° N ão poderão ser Advogados: l° o s f a llid o s j u lg a d o s d e m á f é ,2 °
os condem nados por crimes de falsidade, perjúrio, peculato, prevaricação,
peita, concussão, irregularidade d e conducfa, e pelos d os Artigos 150 e
264 do C odigo C r i m i n a l , 3° o que tiver perdido o officio por erro que
com ettesse.
Os que não p o d em ser Advogados tam bem não p o d em ser solicitadores,
salvo n o seu proprio feito, o u n o dos seus ascendentes o u descendentes, e
affins nos m esm o s graos.
A rtigo 15° N e n h u m A dvogado assignará req u erim en to s, m em ó ria s,
libellos, contrariedades, replicas, tréplicas, razões fmaes, o u quaesquer

o a rtig o 150 d o C ódigo C rim in a l te m a seguinte redação: Solicitar ou seduzir m u lh e r que perante o empregado
litigue, ou esteja culpada o u accusada, requeira ou tenha algum a d e p etid enáa : Penas. N o gráo m a x im o -
dezesseis m ezes d e suspensão do emprego, além das m ais e m q u e tiver incorrido. N o gráo m é d i o - d e z m ezes
de suspensão d o emprego, além das m ais e m q u e tiver incorrido. N o gráo m in im o - q u a tro m ezes de suspensão
idem , idem . S i o que c o m m e tte r este crim e fô r ju iz de facto: Penas. D e prisão p o r dous mezes, além das m ais
em que incorrer. E o a rt. 264 d o C ódigo C rim in a l diz o seg uinte; Julgar^se-ha crim e de estellionato (A ): §
1“ A atheação de bens alheios com o proprios, ou a troca das cousas, que se deverem entregar, p o r outras
diversas (B );§ 2 ”A alheação, locação (199), aforam ento o u a rrendam ento (200) da cousapropria, já alheada,
locada, aforada ou a rrendada a outrem , ou alheação da cousa propria especialm ente hypothecada a terceiro
(201); § 3 “A hypotheca especial da m esm a cousa a diversas pessoas, nüo chegando o seu valor p ara pagam ento
de todos os credores hypothecarios; § 4" E m geral, todo e q u alqu er artificio fr a u d u le n to pelo q u a t se obtenha
de o u trem toda a sua fo r tu n a o u p a rte delia, o u quaesquer títulos (202) (203): Penas. N o gráo m a x im a -s e is
annos d e prisão com trabalho e m u lta de 2 0 % do valor das cousas sobre q u e versar o estellionato. N o gráo
m édio - tres annos e tres m ezes de prisão id em e m u lta d e 12 + % do valor da cousa sobre q u e versar o
estellionato. N o gráo m in im o - s e is m ezes de prisão idem e m u lta de 5 % do valor da cousa sobre q u e versar
0 estellionato. ( J ü n i o r , A raújo Filgueira (org.). C ódig o C rim in a l d o Im p é rio d o Brasil, e d ita d o p o r E dua rd o
e H e n riq u e L a em m ert, Rio d e Janeiro, 1876, In; \62.)p$” http://www.liphis.com/buscadorcodigo/Files/pagina
I62.jpg. E dição E letrô n ic a fac-sim ilar.

86
V 'o iu iiu ' J 1 u l a p c ' k t ( i ia i. à n t ’ l \ í ‘> i > ! ê i K I.1 S

outros artigos e allegações, que forem feitas por outrem sob pen a de
suspensão por seis m eses, e de multa de cem m il reis pela primeira vez, do
dobro pela segunda, e de expulsão da Ordem pela terceira.
Nas m esm as multas, suspensões, e perda de O fficio pela terceira vez,
incorrerão os Escrivães, que continuarem [os] feitos com vista á Advogados,
que apenas assignarem, e não forem os proprios, que tratarem das causas.
Artigo 16° N ã o he perm ettido aos Advogados e solicitadores:
§ 1° Fazer avença co m as partes, para haverem certa quantia, o u cousa,
vencendo lhes a dem anda.
§ 2° Comprar dem andas antes ou depois de intentadas.
§ 3° Intervir nellas com o procurador em causa propria.
§ 4° Fazer qualquer contracto sobre o direito que alguem possa ter n’ellas.
A rtigo 17° O s A dv o g a d o s e solicitad ores, q u e in frin g irem o A rtigo
antecedente, alem de nullidade que acom panhará taes convenções, sem
em bargo de quaesquer clausulas que contenhão, serão suspensos por hum
anno, e p a d r ã o a multa de cem m il reis pela primeira vez. N a reincidencia
pagarão a de duzentos m il reis, e nunca mais poderão advogar n em solicitar,
nem substabelecer as procurações que tiverem.
N as m esm as multas incorrerão os que lavrarem as escripturas publicas,
o u escreverem os escriptos particulares das referidas convenções, e bem
assim as testem unhas e todas as pessoas e interessados, que nas ditas
escripturas e escriptos particulares de qualquer m o d o intervieram.
Artigo 18° H u m anno depoes da promulgação desta Lei só poderão obter
Provisão de solicitadores os cidadãos Brazileiros, m aiores de vinte e cinco
a n n o s, e b em morigerados^' que forem en cam in h ad os e plenam ente
approvados pelo C onselho DiscipUnar e Adm inistrativo d o districto, em
que residirem, o u por Advogados nom eados pelo m esm o C onselho. O
exam e versará sobre tudo o que for concernente ao processo civil e criminal
de prim eira e segun da Instancia, tanto n o fóro c o m m u m , c o m o no
privilegiado, qualquer que seja a sua natureza. Serão isentos de exam e os
graduados em Direito pelas Academias d o Império.
Artigo 19° Os Escrivães e Secretários dos Tribunaes não confiarão autos,
sentenças, ou outros papeis judiciário, nem subm inistrarão inform ações
sobre os seus term os, senão ás próprias partes, o u aos procuradores por

■" Morigerado: Q u e te m b o n s co stu m es o u vid a exem plar. D icionário Aurélio.

87
______________ História da
Ordem dos Advogados do Brasil

elles co n stitu íd o s, e q ue execerem as fu n c ç õ e s de A d vo g a d os o u de


Solicitador na forma desta Lei.
Artigo 20° Os Presidentes das Relações, os Tuizes de Direito, e os Juizes
M unicipaes cumprirão, e farão enviolavelmente cumprir a Ord. L° [,] 4®
Tit.“ 48 e todas as mais Leis, que versarem sobre as obrigações dos Advogados
e solicitadores na parte, em que não estiverem alteradas o u revogadas. As
multas impostas nas mencionadas Ord. e Leis ficão elevadas ao quádruplo.
Artigo 21° Todas as multas im postas por Lei e Regulam entos do Governo
aos Advogados e Solicitadores, e bem assim o im p osto de cincoenta mil
reis por cada Provisão de Advogado, entrarão para o cofre do respectivo
Instituto, e farão parte do seu patrim onio.
Artigo 22° As Partes só poderão constituir por seus procuradores em juizo
os que, na form a desta Lei podem ser Advogados e solicitadores, salvo se
do Juiz, que poesidir ao Jury[,] obtiverem licença para constituir por seu
procurador h um dos seus parentes o u amigos.
Artigo 23° Ficão revogadas quaesquer disposições em contrario.
Paço do Senado, em 5 de julho de 1851.
C ândido José de Araujo Vianna - Presidente
José da Silva M a p - Primeiro Secretario
José Joaquim Fernandes Torres - 4° Secretario"*^

Estes prim eiros debates no senado do Im pério, c o m o se verifica, são


bastante explicativos, eles traduzem um a situação dispare em que as forças
políticas liberais radicais pretendem um a advocacia autônom a, e com explícitos
poderes disciplinares sobre os advogados e procuradores judiciais, e, em que as
forças conservadoras mais estão interessadas em limitar a autonom ia corporativa
resguardando ao Estado imperial o privilégio punitivo em algum as especiais
situações.
Por outro lado, são tam bém muito interessantes os posicionam entos dentro
da própria categoria e os seus receios na definição das práticas profissionais
irregulares, p o is fica visível à d isc u ssã o sobre o c o n c e ito d e prob id ad e
profissional. Esta questão, n os debates, aparece sempre associada aos recursos
d os próprios Institutos o u à própria Relação, em que, ao que parece, inclusive,
nos tribunais superiores, som ente poderiam advogar os inscritos na Ordem,
C D -R O M C â m a ra dos D epu tad o s: C e n tro de D o c u m e n to s e Inform ações - C O ARQ: Seção d e D o c u m e n to s
H is tó ric o s.“ P ro p o siç â o d o S e n a d o c ria n d o e m cada u m a das Relações d o I m p é rio o ‘In s titu to da O rd e m
dos A d vogado s’. 5 d e ju lh o d e 1851”. Brasília, ab ril d e 2003.

88 màM
V o lu m e 1 Lute) | X ' L i C r i . i ç à o c R c s i s t è n c i c i s

assim co m o som ente estes poderiam advogar perante o C onselho de Estado:


im portante órgão administrativo de consulta do imperador.

2.3. O Projeto M ontezuma na Câmara dos Deputados

Em 27 de agosto de 1851 o projeto de criação da OAB chega à Câmara dos


D eputados com a seguinte indicação: Projeto n® 43 do Senado do Im pério sobre o
Instituto dos Advogados Brasileiros^^ E quem o apresenta é Carvalho Moreira,
presidente do lAB.
D e pronto p o d em o s constatar, nas duas discussões (a do Senado e a da
Câmara) sobre o projeto de criação da Ordem, um a agilidade e um a priorização
que só serão sem elhantes ao últim o projeto de núm ero 26, de 14 de novem bro
de 1916,^^ que tam bém , c o m o o primeiro, não foi aprovado.
A força do m ovim en to im plem entado pelo lAB com vistas a criar a Ordem
é visível nas primeiras palavras proferidas na sessão da Câmara de 27/08/1851,
(ibid.) quando o deputado Ferreira Penna reclama, p ela ordem, que se consulte á
casa sobre a urgência que hontem pedio para se discutir a pretenção do estudante
da escola de medicina. E é retrucado pelo presidente da Câmara:"'* A respeito da
resolução que agora deve entrar em discussão, venceu-se hontem urgência; m as o
nobre deputado pelas Alagoas pede urgência para se discutir o projecto n° 43 vindo
do senado.... Um outro deputado. Sr. Moraes Sarmento, levanta outra questão:
M as creio que hontem fo i approvada a urgência sobre um projecto de naturalisações
que ficou adiado pela hora. N ovam ente refuta o presidente da Câmara: Tem-se
entendido que a urgência votada em um dia não prevalece no d ia seguinte.
Aquele que transcreve relata: consultada a camara sobre a urgência pedida
pelo Sr. Carvalho Moreira, delibera pela affirmativa. Entra portan to em discussão
o projecto a que se referio o honrado membro. E assim, sob a tutela do senado do
Im pério e em seu n o m e, o lAB inicia o primeiro grande debate sobre o projeto
de criação da O rdem dos Advogados do Brasil.

A nnaes d o P a rla m e n to B r a z i le i r o - C a m a r a d o s srs. D e p u tad o s. T erceiro a n n o d a O ita v a Legislatura. Sessão


de 1851. C olligidos p o r A n to n io Pereira P in to . T e m o seg u n d o . R io d e Janeiro. T y p o g ra p h ia d o H . ].
P in to . 1878. Sessão d e 27 d e ag osto de 1851. Presidência d o Sr. G abrie l M en d e s d o s Santos: D iscussão d o
p ro je c to d o s e n a d o so b re o In s titu to d o s A dvogados, vol. II, p. 710 a 714.
" Francisco Ig n acio d e C a rv a lh o M o re ira (barão d e Penedo). Veja breve biog rafia n o A n exo Especial.
Anais d o S enado d a R epública, p. 265 a 270. Sessão d e 14 d e n o v e m b ro de 1916. P residên cia d o Sr. U rb a n o
Santos: “O sr. M en d e s d e A lm eida ju stific a n d o u m p ro je to c ria n d o c o m c a rá te r oficial e p e rs o n a lid a d e
juríd ica a O rd e m d o s A dvogados n o D is trito Federal”.
D e p u ta d o G a b riel M en d e s d o s Santos.

•àB 89
______________ Hisfória Ha
Ordem dos Advogados do Brasil

Francisco G ê d e A caiba e M o n te z u m a
(V isconde d e J e q u itin h o n h a ), 1843 - 1851.

90
\'(ilL im c 2 L u la p c l . i C n a c . u ) (' K i s i s i c i x las

N a Câmara o projeto é profunda e am plam ente esm iuçado e discutido


p elo s d e p u ta d o s, o u ainda, p rofu n d a e am p la m en te rech aça d o p e lo Sr.
H enriques, que assumirá os principais argum entos contra a criação da OAB/^
A rgum entos que, ao nosso ver, representam o pensam ento de m uitos que, na
época, não desejavam a organização dos advogados, já que isto lhes roubariam
o exercício não regulam entado da advocacia. Existe, tam bém , a idéia de que a
Ordem iria contra o que eles chamavam de “liberdade profissional”. O que é
e n t e n d id o p o r “lib e r d a d e p r o f is s io n a l” p e lo s “C o n tr a -a -O r d e m ”, fica
razoavelm ente claro nos debates legislativos e, especialm ente neste, que irem os
descrever e analisar.
O Sr. Henriques foi, durante os debates, de um a contundência incisiva."*®
Observe co m o inicia sua refutação ao projeto apresentado: ...N ão posso, Sr.
presidente, concordar com as idêas do projecto, porque elle m e parece odioso e
injusto, anti-politico, inexequivel e mesmo inconstitucional'*'^ Carvalho Moreira
exclama surpreso e assustado: Santa Barbara !. Seguido pelo Sr. Aprigio e por
m anifestações d os outros deputados: É um corta-cabeça, não é assim ? (Riso).
M as o d ep u ta d o é u m ex c ep c io n a l o rad or e ju stifica c o m m a estria sua
contrariedade.
Para m d h o r com preender os argumentos do Sr. Henriques contra a criação
da O rdem o u contra “o projeto de criação da O rdem ”, indicarem os topicam ente
as suas principais objeções, até m esm o pelo peso histórico que adquiriu no
convencim ento das forças resistentes. Os dados históricos que dispom os indicam
que A ntonio José Henriques era um hom em de Estado, diretor de rendas públicas
e conselheiro d o imperador, o que se presum e parlamentar identificado com o
Im pério e suas vertentes conservadoras.

" A n to n io José H e n riq u e s - É n a tu ra l d a p ro v ín c ia da P arahyba, q u e re p re s e n to u n a c a m a r a te m p o rá ria em


diversas legislaturas, s e n d o c o n te m p la d o o seu n o m e e m d u a s listas tríplices p a ra s e n a d o r d o im p ério;
s u b - d ir e c to r a p o s e n ta d o d o d ire c to rio g eral das re n d a s pu blic a s; d o c o n se lh o d e s u a m a g e sta d e o
Im p e ra d o r, e c o m m e n d a d o r d a O r d e m d a Rosa. Escreveu, alem d e m u ito s officiaes: A D u p lic a ta d o 2”
d istric to eleitoral d a p ro v in c ia d a P arahyba d o N o rte; exposição á C a m a r a dos D e p u ta d o s . Rio d e Janeiro,
1857, 69 pags. in-4. In: SA C R A M E N T O BLAKE, A ugusto V ic to rin o Alves. D icionário Bibliographico
Brazileiro. 1° vol. R eim p ressão d e off-set. C o n se lh o Federal d e C u ltu ra , p, 217,1 9 7 0 .
■•“ São q u a tro d eb ates n a C â m a ra d o s D e p u ta d o s ; sessões d e 27 d e ago sto d e 1 8 51,28 d e a g o sto d e 1 8 51,3 0 de
agosto d e 1851 e 2 d e s e te m b ro d e 1851.
A n n a es d o P a rla m e n to B razileiro - C a m a ra dos srs. D e putad os. Terceiro a n n o d a O ita v a L egislatura. Sessão
de 1851. C o llig id o s p o r A n to n io Pereira Pinto . T om o seg u n d o . Rio d e Janeiro. T y p o g ra p h ia d o H . J,
P in to . 1878. Sessão d e 27 d e agosto d e 1851; D iscussão d o p ro je c to d o s e n a d o s o b re o In s titu to dos
A dvogados, vol. II, p. 710 e 714.

97
______________História da
O rdem dos Advogados do Brasil

2.3.1. O Projeto Montezuma e as Oposições do Deputado


A ntônio José Henriques

Fundam entalm ente, os pontos críticos do projeto de criação da OAB, que


transcreveremos a seguir com as palavras do deputado A n tô n io José Henriques
- foram abordados na seguinte ordem por aquele que se consagrou co m o seu
ferrenho opositor, definindo, inclusive, as linhas futuras de discussão do tema.
Para facilitar o entendim ento da matéria foram colocados em itens na
form a seguinte:

A. O Pagam ento de taxas para o exercício da advocacia

O S r . H e n r iq u e s : - Considero o projecto odioso, e p o r consequencia injusto,


a vista da disposição do art. 7° {Lèf^ {...) Este artigo im porta, portanto, Sr.
Presidente, um onus, e um onus m u i pesad o sobre a classe dos advogados. (...)
N o m esm o caso do art. 7° está. Sr. presidente, o art. 1J.^' Elle sujeita o advogado
ao p a g a m en to de 5 0$ p ara p o d e r obter um a provisão, e p o rta n to im p õ e sobre
elles um trib u to excessivo, sem que se a tten d a que p e la tabella am n exa á lei de
30 de N ovem bro d e 1841 os advogados do Rio de Janeiro, B ahia, Pernam buco
e M aranhão estão j á sujeitos ao direito de 60$, e os d as outras p ro vin cia s ao de
30 $ pela provisão. Ora, esses 50$, unidos á im porta n cia dos direitos de que
fallei, vêm a elevar a despeza do advogado, p ara p o d e r exercer u m a in du stria
legitim a e de reconhecida utilidade, á q u an tia de 110$ p a ra os das prim eiras
provincias, e á d e 80$ p a ra os das outras, q u a n tia que não p ó d e d eixar de

A rtig o 7* Os In stitu to s e m seus Regim entos internos, que não terão execução sem approvação do Governo,
marcarão as jo ta s de entra d a para a O rdem , e as contribuições m ensaes dos seus m em bros, assim com o as
beneficencias, á (jue segundo as circum nstancias terão direito as viuvas e descendentes legaes dos Advogados
pobres. O s m esm os In stitu to s á n em h u m a pessoa poderão conferir o titulo de m e m b ro honorário da O rdem .
In: C D -R O M C â m a r a d o s D e p u ta d o s : C e n tro d e D o c u m e n to s e In fo rm a ç õ e s — C O A R Q : Seção de
D o c u m e n to s Históricos. “ Proposição d o Senado criando e m cada u m a das Relações d o Im pério o ‘In stituto
d a O rd e m d o s A dvogados’. 5 d e ju lh o d e 1851”. Brasília, ab ril d e 2003.
Artigo I 1 ‘’ S6 pod erá obter Provisão p a ra advogar[:j p rim eiro o cidadão Brazileiro, graduado e m D ireito pelas
A ca d em ia s do Im pério. Segundo o cidadão Brazileiro, graduado e m D ireito p o r A cadem ias estrangeiras,
provando ter praticado dous annos com Advogado do Paiz, e o obtendo inform ação desufflciencia e m oralidade
do C onselho D isciplinar e A d m in istra tiv o do d istricto em que residir. Terceiro o cidadão Brazileiros não
graduado e m D ireito, c m a io r de v in te cinco anno$, que p ro var ter praticado q u atro annos com A dvogado do
Paiz, e obtiver inform ação desufflciencia e m oralidade do C onselho D isciplinar e A dm in istra tivo do districto,
e m que p reten d er advogar, havendo fa lta de Bacharéis form ados, que se d ed iq u e m á a d v ogada no lugar,
o n d e a qu iser exercer. Q u a lq u er Provisão de A dvogado pagará cincoenta m il reis, e será passada com a
clausula de d u ra r e m q u a n to o Provisionado b em servir. (Ibid.)

92 •à l
V o lu m e 2 L u la p c k i C r i i i ç . U ) c R c s is tô n c ia s

influir m u ito nos lucros que a profissão tem de offerecer...


O Sr. C a r v a l h o M o r e ir a : - Banca-rota de 5 0 $ 0 0 0 !
O Sr. H e n r iq u e s : - Essa quantia é nada para o nobre deputado, e outros
advogados distinctos, que têm m uita clientela aqui na côrte; m as é m uito para um
advogado de um cidade pequena e pobre, ou de um a villa, cujofôro apenas lhe dá
300 ou 400$ p or anno; e bem vê o nobre deputado o que restará deduzido 80$ das
provisões, e as outras despezas do art. 7°

B. As incom patibilidades com os em pregos públicos am ovíveis

O Sr. H e n r iq u e s : - (...)...não posso perceber qual a razão em que se fu n d a


sem elhante disposição, qu al o m otivo p o r que os empregados públicos am oviveis
não po d em advogar, que prejuízo ou desvantagem p o d e resultar d aqu i aoforom ,
a boa adm inistração da justiça, ou ao p a iz em geral. (...) e funcionários há a
quem eu entendo que o exercido d a advocacia é m uito conveniente, é mesmo
necessário a boa adm inistração da justiça. Fallo Sr. Presidente, dos procuradores
fiscaes das thesourarias e dos prom otores públicos. O prim eiro são em geral
bacharéis form ados, e como taes pessoas m uito habilitadas p a ra o exercido da
advocacia; ao menos elles têm um a presum pção do direito. Ora, elles são pela
natureza d e seus empregos, os advogados da fazen da publica, e, como taes, m uito
versados na legislação do paiz; e s e o estudo e a pratica esclarece cada vez m ais a
razão h um ana, se quem m ais trabalha e m ais pratica tem, m ais instruidos, m ais
habilitado se deve suppôr no seu exercício, é obvio que os procuradores fiscaes
advogando, m ais aptos ficarão para melhor defenderem os interesses da fazenda,
e quanto m elhor forem elles sustentados e defendidos, m ais lucrará a m esm a
fazenda, e com ella a adm inistração da justiça e o paiz.
Q uanto aos prom otores públicos, Sr. presidente, é ain da m ais obvia essa
conveniencia e necessidade. Sendo esse lugar de mero tirocinio e habilitação para
0 de ju iz de direito, não se p óde contestar que a adm inistração d a Justiça lucra
muito, e lucra m u ito o p a iz com o exercido da advocacia dos m esm os prom otores
(apoiados). (...); ninguém contestará, Sr. presidente, que o p ro m o to r que se
occupar na consulta constante dos autos e das leis que lhes são applicaveis, melhor
a d m in istra rá ju stiç a com o j u i z de direito, do qu e aquelle que se lim ita r a
acom panhar ao j u iz d e direito para as correições, e peran te os ju ra dos form u lar
libellos e fizer accusações.

m àM 93
______________ H istória da
Ordem dos A dw gados do Brasil

C. Sobre o nivelam ento d o advogado com o solicitador

O Sr. H e n r iq u e s : - ( ...) O art. 14, Sr. presidente, não póde também merecer o
meu assentimento, porque diz na segunda parte que os que não podem ser advogados
também não podem ser solicitadores (...) O advogado é umjurisconsulto que aconselha
e auxilia de direito as partes litigantes, e o solicitador é apenas um procurador que se
limita a diligenciar; seu mesmo nome está indicando o que die é: qual a razão pois por
que 0 projecto nivella o advogado com o solicitador ?
O Sr. C a rva lh o M o reira : - Quem disse isso ao nobre deputado ? Lêa o artigo.
O S r. H e n r iq u e s (d e p o is d e ler)^^: - O art. 14 declara, na segunda parte,
que os que não podem ser advogados tam bém não pod em ser solicitadores; e daqui
resulta certam ente a exactidão da proposição que em itti.

D . Sobre o direito adquirido para advogar

O Sr. H en riq u es: - F in a lm e n te, Sr. p resid en te, con sid ero o p ro jecto o dioso e
in ju sto ; p o r q u e n o to q u e n e n h u m a d isp osiçã o elle te m q u e re sp eite a d ire ito s
a d q u irid o s. O títu lo d e a d vo g a d o é hoje e n tre n ós o u v ita líc io ou tem p o rá rio , e
c o n s e g u in te m e n te d e v e m o s su p p ô r q u e h a ja a lg u n s a d vo g a d o s vita lício s, cujos

” Art. 14° disp óe o seguinte: N ã o poderão ser Advogados: os fallidas julgados d e m á fé, 2 “* os condem nados par
crim es de falsidade, perjúrio, peculato, prevaricação, peita, concussão, irregularidade de conduct», e pelos dos
Artigos 150 e 264 do Codigo C rim inal, 3" o que tiver perdido o officio p o r erro que comettesse. O s que não
p o d e m ser Advogados la m b e m não p o d e m ser solicitadores, salvo no seu próprio feito, o u n o dos seus ascendentes
ou descendentes, e affins nos m esm osgráos (Ibid.). A redação d o art. 150 d o C ód igo C rim in a l é a seguinte:
Solicitar ou seduzir m u lh er que perante o empregado litigue, ou esteja culpada o u accusada, requeira ou tenha
algum a dependencia: Penas. N o g rá o m a x im o —dezesseis m ezes d e suspensão d o em prego, além das m ais e m
que tiver incorrido. N o gráo m édio - dez m ezes de suspensão do emprego, além das m ais e m que tiver incorrido.
N o gráo m in im a - q u a tro mezes de suspensão idem , idem. S i o que com m etter este crim e fô r ju iz de fa d o :
Penas. D e prisão p o r dous mezes, a lém das m ais e m que incorrer. E o a rt. 264 d o C ó d ig o C rim in a l diz o
seguinte: juigar-se-ha crim e de esteiUonato (A): § 1” A alheação de bens alheios com o proprios, ou a troca das
cousas, que se deverem entregar, po r outras diversas (B); § 2 “ A alheaçào, locação (199), aforam ento ou
arrendam ento (200) da cousa propria, já alheada, locada, aforada o u arrendada a outrem , ou alheaçào da
cousa propria especialmente hypothecada a terceiro (201); $ 3 “ A hypotheca especial d a m esm a cousa a diversas
pessoas, não chegando o seu valor para pagam ento de todos os credores hypothecarios; $ 4 “ E m geral, todo e
qualquer artificio fra u d u len to pelo qual se obtenha de ou trem toda a sua fo r tu n a ou p arte delia, ou quaesquer
títulos (202) (203): Penas. N o g rá o m a x im o - seis annos de prisão com trabalho e m u lta de 20% do valor das
cousas sobre que versar o esteiUonato. N o g rá o m é d io -tr e s annos e tr e s mezes de prisão idem e m ulta de 12 +
% do valer da cousa sobre que versar o esteiUonato. N o g rá o m in im o - seis mezes de prisão idem e m u lta de 5%
do valor da cousa sobre que versar o esteiUonato. (JüNiOR, A raújo Fíigueira (org.). C ó dig o C rim inal d o im pério
d o B rasil, e d ita d o p o r E d u a rd o e H e n r iq u e L a e m m e rt, R io d e la n e iro , 1876, In: 162.jpg” h ttp :!/
yvww.liphis.com/buscadorcodigo/Files/pagina I62.jpg. Edição Eletrônica fac-similar.

94 •àB
Volume J I Lila ))cl<i ( t i d c . U ) R c s i s i O n c . ias

direitos a boa f é p e d e que sejão attendidos e respeitados; e no projecto nenhuma


disposição encontro que a respeito delles providencie: antes vejo que, segundo o
projecto, se tem de proceder a uma matricula para, á vista delia, considerar-se
quaes as pessoas que estão nu tuso de ser advogados, no que m e parece haver sum m a
injustiça, tornando-se assim aos vitalicios dependentes de novo titulo e de novas
despezas para a continuação de um exercício, que aliás devemos presum ir que
tenhão desempenhado.

E. Sobre a n om eação política do Conselho Disciplinar da Ordem

O Sr. H e n riq u e s: - (...) Eu disse, Sr. presidente, que considerava o projecto


anti-político e este m eu pensam ento se refere ao art. 4*," onde se determ ina que
os membros do conselho disciplinar e adm inistrativo sejão nomeados na côrtepelo
ministro da justiça^ e nas províncias pelos presidentes.
Ora, em p rim e iro lugar, d irei que o projecto, tirando algum as de suas
disposições do instituto francez...
O Sr. F igueira d e M e llo : ~ A m aior pa rte ou quasi todas.
O Sr. H en riq u es: - ...não sei que inconveniente se encontrou para não se lhe
applicar tam bém a disposição que rege o instituto de França a respeito da nomeação
dos m em bros dos conselhos, que alli é feita pela assembléa geral dos advogados.^^
O S r . C arw ^l h o M o r e jjm : - Assim é aqui, menos a prim eira nomeação para
a organisação: logo, o projecto merece o apoio do nobre deputado.
O S r. H en riq u es: - M as mesmo para essa prim eira nomeação po d ia ter lugar
a disposição francesa. Além disso, accresce que sendo a profissão de advogado uma
profissão independente e inteiram ente alheia dapolitica, subordinando o projecto
a nomeação dos presidentes e m ais membros do conselho, assim ao governo na
côrte, como aos presidentes na provincias, como que subordina essa independencia

^ A rtigo 4° N a p rim eira organisação do C onselho os m em bros de que deve ser com posto, e que ficão acim a
declarados, serão nom eados tia capital do Im p é rio pelo M inistro d a justiça, e nas outras capitaeSy d e que
trata o A rtigo l^ l.j pelos Presidentes de Província e servirão p o r h u m anno, tom ando posse no dia nove do
mês de Janeiro seguinte á sua nom eação. (Ibid.)
^ 0 d e p u ta d o se refere a o a rt. 19 d o d e creto francês d e 1810; A rt. 19, O s conselhos de disciplina serão fo rm a d o s
da m a n eira seguinte: A ordem dos advogados será convocada pelo seu b â to n n ie r e nom eará, n a pluralidade
dos sufrágios de todos os advogados inscrito no quadro e presentes, u m n ú m e ro duplo de candidatos p ara o
conselho de disciplina. Esses candidatos serão sem pre escolhidos d e n tre os dais terços m ais antigos n a ordem
do quadro. Essa lista de candidatos, será transm itida, pe/o b â to n n ie r ao nosso procurador geral p ró xim o da
nossa corte, que nom eará, sobre a d ita lista, os m em bros do conselho de disciplina, levando e m conta os
núm eros d eterm inados a seguir.

• à i
95
______________ História da
Ordem dos Advogados do Brasil

que deve assistir aos advogados á política que dom inar na côrte e nas províncias.
O Sr. C a rv a lh o M o re ir a : - É s ó a prim eira nomeação.
O Sr. H e n ríq o e s: - M a s que inconveniente haveria em que na prim eira
nom eação fossem os m em bros dos conselhos eieiWi y e la assembléia geral dos
advogados ? Podião reunir-se os advogados matriculados debaixo da presidencia
do mais velho delles ou de uma autoridade qualquer, p o r exemplo, do presidente
da relação, e proceder-se a essa eleição, não se tornando desta sorte dependente da
nomeação do governo da côrte, o que será revestir a advocacia das cores da política
que dom in ar n o p a iz, (...).

F. Sobre docu m en tos assinados por advogados e preparados por outro

O S r. HEmiQUEs: - (...) É inexequivel o projecto. Sr. presidente, a respeito


do art. 15. (Lê).^^ Nesse artigo seprohibe que o advogado assigne requerimentos,
m em órias, libellos, contrariedades, e m ais peças forenses feita s p o r outrem , sob
pena de suspensão p o r seis mezes, e de m u lta de 100$ pela prim eira vez, do dobro
pela segunda, e de expulsão da ordem pela terceira.
Ora, além de que estas penas m e parecerem m u i severas, entendo que a
disposição do artigo é inexequivel, porque não sei com o é que se pod erá conhecer
o verdadeiro autor de um libello, uma contrariedade, um a excepção, um embargo;
com o se poderá saber se um as razões fin aes assignadas p o r Pedro, p o r exemplo,
forão ou não fe ita s p o r Pedro, ou se Pedro as assignou p o r favor e obséquio a
Paulo; bem vê V. Ex. que haverá necessidade de um processo inquisitorial, cujo
resultado nem sempre é a verdade, e p o r consequencia irá d a r lugar a actos injustos
do conselho.

A rtigo 15° N e n h u m A dvogado a ssig m rá requerim entos, m em órias, libellos, contrariedades, replicas, tréplicas,
razões finaes, o u quaesquer outros artigos e allegações, q u e fo rem fe ita s p o r o u trem sob p e n a d e suspensão
po r seis meses, e de m u lta de cem m il reis pela prim eira vez, do dobro pela segunda, e de expulsão da O rdem
pela terceira. N as m esm as m ultas, suspensões, e p erda de O fficio pela terceira vez, incorrerão os Escrivães,
q u e c o n tin u a rem [osj fe ito s com vista á Advogados, q ue apenas assignarem, e não fo r e m os proprios, que
tratarem das causas. (Ibid,)

96
V o lu m e 2 L u l a p c i a ( .'l i c i i ã o ( ‘ R i ’ s i s l ( - ' t ) c i a s

G. Sobre a in u tilid a d e e in co n stitu c io n a lid a d e de u m a O rdem d os


Advogados

O S r. H e n riq u e s: - (...) Sr. p re sid en te, o p ro je cto é fin a lm e n te , n o m e u


enten d er, in c o n stitu c io n a l: p rim e ira m e n te , p o rq u e é in u til.
O Sr. C a r v a lh o M o re ira : - O que é inutil é inconstitucional?
O S r. H e n r iq u e s : - A con stitu ição d e te rm in a qu e n en h u m a lei será
prom ulgada sem utilidade publica. Ora, ofôro, a adm inistração da justiça, o p a iz
nenhum inconveniente, nenhum as difficuldades tem soffrido com o system a
actualm ente em vigor; logo, o projecto é inutil. Demais, temos a té hoje passado
sem esse instituto, e não vejo que reclamações tenhão havido a tal respeito; vejo,
pelo contrario, que ofôro trabalha regularmente, a adm inistração da justiça se fa z
na form a das leis e segundo a intelligencia que ellas dão os tribunaes do paiz, e
nenhum a providencias têm solicitado do corpo legislativo ou do governo esses
tribunaes sobre a materia sujeita; e em tal caso a promulgação de um a lei semelhante
e no sentido do projecto é de certo escusada e inutil; e como as leis devem ser feitas
p o r utilidade publica, segundo a constituição, temos que esta é contraria á mesma
constituição, e p o r isso anticonstitucional.

H. Sobre a inconstitucionalidade da criação de u m Tribunal

O S r. H en riq u es: - (...) Considero, ainda, S r. presidente, anti-constitucional


0 projecto á vista do disposto no § 5® do art. 9°. Ahi se autorisa (lê)^ o conselho
disciplinar e adm inistrativo para advertir, reprehender, m ultar até 200$, e im pôr
interdicto geral ou local, e expulsão da ordem ou da classe dos solicitadores;
precedendo, nos dous últim os casos, e no de m ulta p o r m ais de 50$, audiência dos
denunciados com recurso suspensivo para a relação. Antes de tratar do fundam ento
da inconstitucionalidade, observarei com mágua. Sr. presidente, que o projecto
tem em m u i pouca conta o brio ep u n d o n o rd o advogado, de homens cuja profissão

“ A rtigo 9° S ã o attribuiçõesdos Conselhos Diíciplinares e Adm inistrativos: (...)§ 5° AppUcar adm inistrativam ente
as seguintes m edidas disciplinares, quando autorizadas p o r L a , e Regulamentos do Governo, a saber: Advertencia,
reprehenção, m ulta até duzentos m il reis, interdicto geral ou local, e expulsão da O rdem , ou da Classe dos
solicitadores, precedendo nos dous últim os casos, e no de m u lta p o r m ais de cincoenta m il reis, audiência dos
denunciados o u arguidos, e deliberação do In stitu to em Sessão p a ra esse fim convocada; e havendo recurso
suspensivo para a Relação. Ibid. Este art. 9° foi resultado d o d eb ate n o S enado (veja A nais d o S enado d o
Im pério, p. 66 a 80. Sessão d e 5 d e ju lh o d e 1851. O p.cit., p. 73 e 74). O p ro je to origin al n ã o tin h a a m u lta de
200$ (du z e n to s m il-reis), esta foi a p ro p o s ta de em e n d a d o se n a d o r L im po d e A breu aceita pe lo senado.

• à l 97
______________ História da
Ordem dos Advogados do Brasil

a nossa legislação declara nobre, porque, negando-lhes a audiência no caso de


reprehensão, IHa dá no de m ulta que exceda a 50$000l
O Sr. C arvalho M oreira : - E p o r isso é inconstitucional?
O Sr. H enriques: - Não; observo primeiramente isso, observo que o projecto
presume que o advogado sente mais 50$ do que um a reprehensão, e semelhante
presumpção é triste. (Apoiados.).
O projecto é inconstitucional, por isso que crea sem necessidade mais um tribunal.
O S r . R ibeiro: -A p o ia d o .
O S r . C arvalho M oreira : - U m tribunal!
O Sr. H enriques: - Sim, um tribunal. 0 projecto crea um tribunal, ao qual
incumbe advertir, reprehender e impôr penas, porque im põe multas até 50$ aos
advogados: e, portanto, póde-se dizer que é inconstitucional.
O Sr. Ferreira d e A g u l\r : - Tem até recursos para a relação. (...).
O Sr. H enriques: - Sr. presidente, não ha crim e a lg u m q u e o advogado possa
co m m etter en tre nós q u e não esteja previsto na legislação em vigor, q u er n as ordenações
do reino q u e a in d a vogão, quer na lei d e 3 d e D ezem bro n a p a rte relativa á justiça civil,
e em outras m u ita s disposições; p o rta n to q u e necessidade h a d e dar-se ao conselho
a d m in istra tivo o p o d er d e advertir, reprehender e m u lta r ao advogado sem o ouvir,
salvo se a m u lta exceder a 50$?
O Sr. C a rva lh o M oreira: - Então não queria que fosse ouvido?
O Sr. H e n r iq u e s : - Entendo que deve ser ouvido no caso da reprehensão, mas
não no da multa somente p or mais de 50$. Isto é baratear muito o sentimento de
dignidade de um advogado.

Ao fim dos seus argum entos o Sr. Henriques faz u m requerim ento que
será peça de discussão e votação ao longo das três outras sessões de discussão
do projeto de criação da Ordem.

Requeiro que o projecto em discussão sq a remetido ás commissões de constituição


e poderes, ejustiça civil para darem o seu parecer, a sobre a constitucionalidade,
a 2® sobre a utilidade do mesmo projecto. - A J. Henriques.

Logo após lido o requerimento, acim a citado, u m dos deputados, o Sr.


Paula Cândido (Francisco de Paula C ândido), representando a classe médica,
tom a a palavra contra o requerim ento. Sua principal m otivação é que tam bém

98 qám
V 'o lu n ic 2 I.lit.) p d a ( 'I'i,K /H ) V K o i s l ê n c i.is

gostaria, futuram ente, de colocar sob apreciação da Câmara projeto idêntico


relativo aos m édicos, diz o deputado:

(...)...Mas eu começava a minha impugnação a este requerimento, protestando


a minha adhesão a este projecto, porque eu desejaria que outro igual a respeito
dos medicos fosse adoptado (...) ...porquanto acho, em meu fraco entender,
que um a matéria que não envolve interesses de partidos, e que p o r conseguinte
não poderia cegar aos homens, não é de suppôr que o senado, além da calma
própria daquellas regiões sibericas, ponderando o projecto com toda madureza,
não visse que elle offendia a constituição. (Apoiados.) Portanto, neste caso
não e n te n d o q u e o p r o je c to d e v a ser r e m e ttid o á s d u a s co m issõ es
conjunctamente.
Poderia ir sem dúvidas á comissão de justiça, mas para ver essa commissão se
0 projecto é ou não de utilidade, parece-me, perdoe-m e o meu illustre amigo,
tam bem desnecessário, porque pelo facto de ter a camara votado a urgência,
julgou-se o projecto util; e, demais, esse espirito de associação proprio do seculo
em que vivem os prova a utilidade do projecto, que tem p o r fim a reunião de
um a classe illustre da sociedade para se p o d e r socorrer m utuam ente.
Acho pois que o requerimento de adiam ento do illustre deputado não deve
ter andam ento; e peço-lhe licença para votar contra, pelas razões que acabo
de expender.^^

C om estas palavras do Sr. Paula C ândido o debate é adiado para as sessões


subseqüentes, em que os argumentos do Sr. Henriques são retom ados por outros
deputados; alguns contra, outros a favor. Analisaremos estes m ais detidam ente,
e conseqüentem ente o s do Sr. Henriques
O correr destes debates historicam ente foram bastantes significativos para
a formatação de alguns conceitos que vieram a influir na institucionalização da
profissão, entre eles, por exem plo, a distinção (de época) entre advogado e
solicitador, entendendo-se que o “prim eiro é um jurisconsulto que aconselha e
auxilia de direito as partes litigantes e o segundo é u m procurador que se limita
a diligenciar”. A o advogado, por conseguinte, se exige o conhecim ento do direito,
da jurisprudência da doutrina, sendo o solicitador m ero agente o u procurador
de partes. Esta d istin ção , não tão sutil, todavia, foi que p erm itiu q ue os
solicitadores m ais se aproxim assem dos “práticos”, os sem form ação jurídicas

A nnaes d o P a rla m e n to Brazileiro - C a m a ra d o s srs. D eputados. Terceiro a n n o da O itava Legislatura. O p. cit.

99
______________ Histó ria da.
Ordem dos Advogados do Brasil

escolar, que exerciam o procuratório de partes e/ou eram provisionados para


peticionar ou atuar em determinadas instâncias judiciais com o se advogados fossem.
É deste período tam bém a definição ou, pelo m enos, a pretensão de se
definir legalm ente os im pedim entos para o exercício da advocacia, dentre tais
aqueles que poderiam com prom eter a dignidade e a honradez da profissão ao
que se presum e extensíveis àqueles que poderiam exercê-la “supletivam ente”
(solicitadores, provisionados, procuradores de partes,“práticos” enfim ), m esm o
que tem porariam ente e especificamente. Neste contexto, fica visível que há um
am plo esforço para desconectar o advogado bacharel form ado do profissional
prático, dom inante nas cidades, m esm o nas capitais, m ais “ágeis” e sem as
lim itações e restrições profissionais dos advogados form ados.
N esta linha de discussões é m uito importante os opinam entos e debates
sobre o direito adquirido daqueles que, m esm o não sendo bacharéis formados,
exerciam tradicionalmente a profissão de advogado “prático”. Possivelmente uma
das grandes resistências à implantação de um a ordem dos advogados - mais do
que a cobrança de taxas para o efetivo exercício da profissão o u a cumulatividade
de funções públicas com as privadas - foi o desconhecimento dos direitos daqueles
que 0 faziam por força de decisões, provisões ou atos imperiais isolados ou dos
próprios tribunais. Esta questão realmente perm eou a história da advocacia no
Brasil e sobreviveu m esm o após a criação da Ordem em 1930.
M uito relevante em toda a história da advocacia foi a au ton om ia da
profissão e do órgão corporativo. Ao que parece, todavia, a profissão esteve
sem pre m uito intim am ente ligada à autoridade do Estado, senão para definir
os seus desígnios, para constituí-los. A sua fundação tanto na França, co m o em
Portugal o u na criação do lAB no Brasil, padeceu de forte e interferente ação
dos poderes de Estado, que esvaziou à m edida que se consolidavam as suas
perspectivas e o papel dos advogados na prestação da justiça.
Finalmente, m uitos foram os argumentos que pretenderam evitar a Ordem
dos Advogados, em verdade, pou co apoiados em dispositivos constitucionais.
Argum entava-se sobre sua inutilidade, sobre sua dispensabilidade disciplinar
em vista às leis vigentes e até sobre sua vocação contenciosa. Estes argum entos,
todavia, não prosperaram , co m o tam bém aqueles que pretendiam que os
advogados pudessem assinar peças alheias. Aliás a fidedignidade da profissão
ainda é um a exigência até nossos dias.

100
V o k im e 2 L iiti! p c l i i Ciicic^ãd c K e s i s t ê n c ii i s

2.3.2. As Críticas do Deputado Araújo Lima e de Outros ao


Projeto Montezuma

N a sessão seguinte, 28 de agosto de 1851^® o presidente d o lAB, deputado


Carvalho Moreira, pede em caráter de urgência para continuar a discussão do
projeto, no que foi prontam ente atendido.
A discussão com eça com um a fala do Sr. Zacharias de G óis que não é
transcrita, M aciel M onteiro (Antonio Peregrino Maciel M onteiro) logo após
tom a a palavra votando contra o adiam ento requerido pelo Sr. Henriques.

Sr. p re sid en te, vo to co n tra o a d ia m e n to p o r d u a s razões q u e m e p a recem


fu n d a m e n ta e s . E m p r im e ir o lugar, p o rq u e esta m e sm a ca m a ra a q u e m se
s u b m e tte u o re q u e rim e n to d e a d ia m e n to , reco n h ecen d o a u rg ên cia desta
questão, v o to u p o r ella (Apoiados.); e m e p arece q u e seria u m a especie d e
in co h eren cia e co n tra d icçã o d a m esm a cam ara, ju lg a r u rg e n te u m a m a te r ia
e d ep o is a d ia l-a . (N ã o apoiados.) (...).
V oto a in d a c o n tra o a d ia m e n to p o r e n te n d e r q u e u m p ro je c to q u e fo i
co n sid era d o p elo sena d o , a h i d isc u tid o e a p p rovado, ao m e n o s é u til em sua
to ta lid a d e , b e m q u e e m u m a ou o u tra d e suas p a rte s se p o ssa co n testa r a sua
u tilid a d e . (Ibid.)

A estratégia do lAB^^ fíca visível na fala do Sr. M aciel M onteiro, o u seja, o


que está em discussão é um a obra, um projeto do próprio corpo legislativo, no
caso 0 Senado, pedindo a aprovação de outro corpo legislativo, a Câmara dos
D eputados. O p en sam en to prim eiro é que tal facilitaria sua aprovação e,
provavelm ente, é o que fez com que o projeto tivesse tão plena atenção dos
deputados, inclusive daqueles com o o Sr. M aciel M onteiro, que se dizia sem
um a idéia formada sobre o m esm o:

D ev o decla rar q u e n ã o te n h o ju iz o fo r m a d o a respeito do p rojecto; a ch o q u e


a lg u m a s considerações do nobre d e p u ta d o d e v e m ser recebidas; acho m e sm o
q u e 0 pro jecto te m a lg u n s p o n to s p elo s q u a es terei s u m m a d iffic u ld a d e de

A nn aes d o P a rla m e n to B razileirc - C a m a ra dos srs. D eputados. Terceiro a n n o d a O ita v a Legislatura. Sessão
d e 28 d e ag osto d e 1851: S u m m ario . E x pe d ie n te - In stitu to d a o rd e m d o s advogados. D iscu rsos d o s Srs.
Zacharias, M aciel M o n te iro , A ra ú jo Lima e Silveira d a M o tta. Vol. H, p. 729 a 733.
Q ue, e n tre ta n to , n ã o p o d e m o s a firm a r q u e fosse p le n a m e n te consciente.

•á l 101
______________História da
Ordem dos Advogados do Brasil

votar; m as isto não é razão para o projecto ser adiado.


Voto portanto contra o adiamento. (Ibid.)

O deputado Araújo Lima {Raymundo Ferreira de Araújo Lima) tom a o


lugar do Sr. P tnriques co m o protagonista na oposição ao projeto:

O projecto, Sr. presidente, m e parece que é constituído com o fim simplesmente


de regular os fóros das grandes capitaes do Brasil; sendo inteiram ente
inapplicavel a ofóro das mais provincias ou localidades do império. (Ibid.)

D ito isto, cita um a das disposições que considera inaplicável: a incom pa­
tibilidade com o s em pregos amovíveis:

O system a das incompatibilidades que o projecto estabelece, Sr. presidente, é


detrim entoso ao serviço publico. É mister que a camara saiba o que se passa
nas diversas localidades do império: em certas provincias o ordenado dos
prom otores publico é limitadissimo, p o r exemplo, no Ceará é de 400$; os
presidentes de provin cias achão in d ividu os p a ra exercerem sem elhante
emprego, porqu e estes podem accumular o exercício d a advocacia; m as se
acaso 0 projecto fô r adoptado, esses administradores p o r certo se hão de ver
collocados em graves embaraços p o r não ser possível que hajão bacharéis que
queirão servir semelhante emprego vencendo 400$ somente, vedado o exercício
sim ultâneo de sua profissão. Portanto, digo eu, o projecto é inteiramente
inexequivel, se a camara dos Srs. D eputados o adoptar resultará que, ou elle
será letra morta, papel borrado, como são m uitas das nossas leis, ou então
que daqui a um finno ou antes os proprios presidentes de provincias serão os
prim eiros a reclamar a revogação de um a semelhante lei. (Ibid.)

Esta discussão, fortalecida pela posição do Sr. Araújo Lima, não apenas
tem u m efeito conjuntural, mas traduz com n ítid a clareza u m d o s m ais
im portantes fenôm enos da formação do Estado brasileiro: a superposição entre
o exercício de funções públicas e privadas. Aliás, este não é u m fen ôm en o
institucional brasileiro, m as da história das instituições no m undo. Todavia, os
seus efeitos são desastrosos para a organização do Estado e a prestação eficiente,
em especial, com o é o caso do serviço jurisdicional. A confusão entre o público

102 9A I
\'()[u ilK ' 2 Liit.i C r ic t ( .< u ) c K c ' s i s lc ' i K las

e o privado - e nas áreas jurídicas e judiciais o fenôm eno prospera com facilidade
- perm ite a privatização de decisões públicas o u vice-versa, sempre, todavia,
sobrepondo os interesses privados. O seccionam ento da advocacia das funções
de Estado foi im p rescin d ível e essencial à a u to n o m ia da advocacia e da
transparência dos atos do poder público.
Voltando às considerações do Sr. Araújo Lima. O deputado combate também o
dispositivo que trata da incompatibilidade da função de advogado com a de solicitador.

O Sr. A r a u jo Lima: - 0 projecto tam bém determ ina que os advogados não
possão ser solicitadores, o que prova que os seus autores não sabem o que se
passa nofôro dessas pequenas localidades, porquanto fóra das grandes capitaes
quasi sempre o advogado é solicitador ao mesmo tempo...
O Sr. C a rv a lh o M o re ir a : - M as isso é bom?
O Sr. A r a u jo Lima: - N ão entrarei já prontam ente na questão se é bom ou
não, m as sem p re p o n d e ra r e i que não vejo que d a h i resultem graves
inconvenientes para o serviço publico, e quaesquer que sejão elles, cumpre
m uito attender ás circunstancias locaes para que se não fação leis que são
inexequiveis. (Ibid.)

É interessante observar que o Sr. Araújo Lima não se diz contra o projeto
(tal qual o Sr. H enriques, m ais tarde, n o debate de 30 de agosto), m as a favor de
em endá-lo:

Esta consideração, é verdade, mostra que o projecto deve ser emendado e não
rejeitado, mas eu, que acredito pouco em emendas formuladas em cima da perna,
que ordinariamente vejo que as matérias que não são discutidas com toda a
madureza no seio das commissões não têm aquella sabedoria que é conveniente
aos actos do poder legislativo, coherente com meus princípios, entendo que o
projecto deve ser remettido ás commissões mencionadas no requerimento que se
discute, para que seja reconsiderado e devidamente modificado. (Ibid.)

O deputado segue criticando o projeto, dizendo que este eleva as taxas e,


m ais, as u n iform iza, d e te rm in a n d o que a taxa seja a m esm a nas diversas
localidades do império. O Sr. Figueira de M ello explica: A taxa é a mesma, as
contribuições é que podem diversificar.

•àM 103
______________ História da
O rdem dos Advogados do Brasil

2.3.3. A Questão da Liberdade Profissional do Advogado

A C onstituição Imperial brasileira de 25 de m arço de 1824, n o Título 8°,


que trata das D isposições Gerais, e Garantias dos Direitos Civis, e Políticos dos
Cidadãos Brasileiros, no art. 179 dispõe que: A inviolabilidade dos direitos civis
e políticos dos cidadãos brasileiros, que tem p o r base a liberdade, a segurança
individual, e a propriedade, é garantida pela Constituição do Império, pela maneira
seguinte: (...) XXIV. N enhum genero de trabalho, de cultura, industria, ou comércio
pode ser proibido, uma vez que não se oponha aos costumes públicos, à segurança,
e saúde dos cidadãos. Em seguida, tam bém , dispõe: XXV. Ficam abolidas as
corporações de ojficios, seus juizes, escrivães e mestres.
D ispondo sobre esta matéria, de forma que o fez, a Constituição brasileira
trazia para o cerne de sua estrutura fundamental a definitiva opção entre o modelo
corporativo m edieval e a liberdade profissional, evitando que juizes, escrivães e
mestres prescrevessem as práticas profissionais, m onopolizassem o exercício das
profissões e evitassem a dinâmica do crescimento profissional e do trabalho. Esta
medida, de toda salutar para a dinâmica e o crescimento da sociedade moderna,
repercutiu profundamente nos debates parlamentares sobre a criação da Ordem
d o s A d v o g a d o s n o Brasil, e sp e c ia lm e n te p ela s in siste n te s p o s iç õ e s d os
parlamentares, e m uitos advogados, sobre a retomada da estrutura corporativa
dos advogados. Aliás, neste m esm o trabalho, no texto introdutório ao decreto
francês que criou a Ordem, m uito claramente se refere à restauração do Barreau,
especime de catálogo e regras do rei para o funcionam ento da advocacia.
Esta especial situação, apesar do desm onte revolucionário francês do velho
Estado absolutista de bases medievais remanescentes, se num primeiro m om ento
afetou genericam ente as corporações de ofício, num segundo m o m en to admitiu
a reorganização profissional dos advogados - que continuavam se m ostrando
úteis na defesa dos interesses das partes perante o Estado e d os pobres e
oprim idos diante da força irresistível, senão agora do poder político absoluto
dos reis e m onarcas, do poder econôm ico. Neste sentido a advocacia se m ostrou
imprescindível às garantias dos direitos civis perante o Estado, assim com o a
form ação jurídica se dem onstrou absolutam ente necessária para o exercício
dos poderes e funções públicas do Estado.
O primado da lei sobre os costumes, m uito especialmente na França revelou
que esta especial profissão perpassava e sobrevivia aos tem pos. Aliás, ao contrário,

“ BuJJetin des Lois, n® 332. O p. d í.

104
V o lu m e 2 I Il i a p c id Ci'iac^.io e R e s is tê n c ia s

o que dem onstrou a história m oderna é que o papel dos jurisconsultos se estendia
para a construção da nova ordem; e a liberdade, a segurança individual e a
propriedade - os direitos individuais enfim - estavam intim am ente vinculados
à lei e ao seu conhecim ento.
Esta situação não poderia ter deixado de influir na construção d o Estado
nacional brasileiro e, m uito especialmente, nos debates sobre a criação da Ordem
dos A dvogados do Brasil. Neste sentido, na Câmara dos D eputados - tendo
com o interlocutores os deputados Silveira da M otta (José Inácio Silveira da
M otta) e Carvalho Moreira - Araújo Lima coloca a questão central e motivadora
daqueles que estavam contra a criação de um a ordem d o advogados brasileiros:
a questão da “liberdade profissional”. D iz o deputado, con clu in d o u m dos seus
argumentos: ...isto é, p re sto in teiro assenso o q u e está fo r a d a a lça d a d os Srs.
D e p u ta d o s estabelecer a o rd e m dos advogados.... Silveira da M otta pergunta o
porquê. Araújo Lima responde:

P o rq u e a liberd a d e p ro fissio n a l é g a ra n tid a n a co n stitu içã o , q u a n d o p elo


pro jecto n in g u é m p ó d e exercer a advocacia se m q u e seja filia d o n o in s titu to
dos advogados. C on co rd o fa c ilm e n te em q u e sen d o o a d vo g a d o o d ep o sitá rio
d o s segredos d a s fa m ilia s , se n d o encarreg ad o d e d e fe n d e r a f o r t u n a dos
p a rticu la res, a lei d ev e ex ig ir g a ra n tia s d e instru cçã o e m o ra lid a d e m a s a lei
n ã o p o d e d iz e r q u e p a ra se exercer a profissão d e a d vo g a d o d eve-se fa z e r
p a r te d e u m a corporação... (Ibid.)

É a con cep ção e o exercício do que o s congressistas e (o u versu s) os


m em bros do lAB entendiam por “liberdade profissional”, o que está e estará em
jo g o por 79 an os (1851 a 1930). N estas duas palavras está a sín tese dos
argum entos d o s deputados e senadores que opinaram contra a criação da
Ordem . Esta questão é tão forte e recorrente que 63 anos depois (1914) - num
parecer sobre o projeto que terá o núm ero 26 n o Congresso^' - o Instituto
ainda a levanta para contestar opiniões desfavoráveis à criação da O rdem dos
Advogados.

Anaes d o S enado d a R epública, Sessão d e 14 d e n o v e m b ro d e 1916: O Sr. M en d e s d e A lm eida ju stific a n d o


u m p ro je c to c re a n d o c o m c a ra c te r official e perso n alid ad e jurid ica a O r d e m d o s A dvogados n o D istricto
F ederal (P ro je to n ° 26, p. 268 a 270).

105
______________ História da
Ordem dos Advogados do Brasil

A p r im e ir a in d aga ção a f a z e r com a in s titu iç ã o d a O R D E M D O S


A D V O G A D O S é si, dada a regulamentação decorrente do projecto, não collide
ella com o systema de liberdade própria ao nosso regimen politico (...). A
Comm issão responde negativamente...^^

A recorrência desta questão é, talvez, ainda m ais evidente se lembrarmos


que na ata de reunião do Instituto em 30 de dezem bro de 1930^^ - já decretada
a c r ia ç ã o da O A B^ e sen d o c o n feccio n a d o s e d isc u tid o s o s disp ositivos
regulamentares^^ da nova instituição - o voto do Dr. Eurico de Sá Pereira era
contra o projeto da Ordem dos Advogados com sem elhante argumento:

Voto contra o projecto que institue e organiza, com o corporação de officio


“disciplinadora” e “seleccionadora” a O rdem dos advogados. E voto contra,
p o r u m a qu estã o de p rin cip io ; p o r ser in stitu iç ã o d e n a tu re za a n ti-
republicana, de caracter exclusivista tanto m ais revoltante quanto attinge
um a profissão denom inada liberal (...). N ão nos illudam os, meus caros
collegas; a nossa projectada Ordem tem todos os característicos dos antigos
ju izad os de officio, e o perigo está em estabelecel-a. Fundada ella, as outras
virão depois: as dos advogados, seguir-se hão a dos medicos, a dos engenheiros,
a dos dentistas, a dos architectos, a dos músicos, a dos barbeiros, a dos
cozinheiros e tantas outras que a industria e a especialização do trabalho
criarem. (O p. cit.)

Mais à frente, já descritos os vários discursos que foram pronunciados e


redigidos ao longo dos 79 anos (1851 a 1930) sobre o tem a, nos deteremos
exaustivam ente nesta questão, por ora constatem os o que o deputado Araújo
Lima entende por liberdade profissional.
Q uestionado por Carvalho Moreira sobre a suposta inconstitucionalidade
do projeto apresentado - ou: quando é que este afronta a “liberdade profissional”.

B oletim d o In s titu to d a O rd e m dos A dvogados Brasileiros, n® 2, vol. I, 1925. A c re ação d a O r d e m dos


A dvogados (collectad a d o s p rin c ip a e s tra b a lh o s relativos a esse a ss u m p to , o rg a n iz a d a pe lo D r. A rm a n d o
V idal, 2° sec re ta rio d o In stitu to ).
B oletim d o In s titu to d a O rd e m d o s A dvogados Brasileiros, vol. V I I I ,- n. 5, D e ze m b ro d e 1930- p u b l i c a d o
e m ab ril d e 1931 - T ypog. d o Jornal d o C o m m e rc io - R odrigues & C. 1931.
“ D ecreto n ° 19.408, de 18 d e n o v e m b ro de 1930. Colleção das Leis d o Im p é rio d o Brasil, t. VII, 2»-parte,
sec^ão 4 2 ‘,p .2 6 6 .
** D ecreto n® 20.784, d e 14 de d e zem bro d e 1931. “Aprova o R egulam ento da O rd e m d o s A dvogados Brasileiros”,
S en ad o Federal, S ubsecretaria d e In form ações, w w w .senado.gov.br., m a io de 2003.

706
V o lu n u ' 2 1 üUt |) ( ‘ l,i O i a ç j o c‘ Kc'sislrnc las

OU ainda, onde é que a constituiçãoprohibe as corporações scientificas?^ Araújo


Lima recorre ao texto constitucional e cita o artigo que acredita endossa seu
argumento:

O S r. A ra u jo L im a :- A r t . 179, § 24 d iz (Lendo): N enhum genero de trabalho


[,] de cultura, industria ou commercio p ó d e serprohibido, um a vez que não
se opponha aos costumes públicos, á segurança, e saúde dos cidadãos.

E completa:

Entretanto senhores, a profissão de advogado fica restringida pelo projecto,


quando o trabalho da advocacia, trabalho de natureza especial ou intellectual,
m as comprehendido no artigo, fica limitado. (Ibid.)

O advogado Figueira de M ello adverte que a C onstituição se refere ao


trabalho m anual, entretanto o deputado Araújo Lima continua a sustentar sua
afirmativa.

Devo ainda observar. Sr. presidente, de conformidade com o mesmo honrado


deputado por Sergipe, que o monopolio que o projecto estabelece é demasiadamente
perigoso. Segundo o projecto, os indivíduos que nãoforem formados nas academias
não podem advogar senão com licença do instituto... (Ibid.)

N estes trechos citados há o entendim ento do Sr. Araújo Lima do que ele
cham a de liberdade profissional. Entendem os, entretanto, que este discurso - o
cerne retórico da resistência à criação da Ordem - tam bém funciona c o m o um
obstáculo à regulam entação daqueles que advogavam sem a devida form ação
acadêmica, os rábulas. O dicionário Aurélio®^ define “rábula” com o os Advogados
de lim itada cultura e chicaneiro. Indivíduo que fala muito, m as não conclui nem
prova nada. Indivíduo que advoga sem possuir o diploma.^^

" A nnaes d o P a rla m e n to B razileiro - C a m a ra d o s srs. D e p u tad o s. Ibid., O p. cit.


H olanda F erreira , A u rélio B u arq ue de. N o vo D icionário da L íngua Portuguesa, 2* ed., rev. e a u m ., 34“
im pres. R io d e Janeiro: N ova Fro nteira, 1986.
“ C o m o e v id e n c ia m o s d e b a te s p a rla m e n ta re s, o s E s ta tu to s d o lA B d e 1843 a 1930, o s p ro je to s d e cria ç ão d a
O rd e m e a legislação vige n te n a época, os rábulas, c o n tu d o , n ã o e r a m s o m e n te os p o u c o s in s tru íd o s o u
sem form aç ã o a ca dêm ica, m as, e ta m b é m , o s profissionais d e o u tra s áreas q u e , n ã o o b s ta n te , advogavam .

107
______________História da
Ordem dos Adwgados do Brasil

Referindo-se à observação do Sr. Araújo Lima, acima citada, o deputado


Carvalho Moreira interroga:

O Sr. C a rvalh o M oreira: - Licença?


O Sr. A raü[o Uma: - E qüivale a u m a licença.
O Sr. C a rvalh o M oreira: - A h !
O Sr. Figueira d e M e llo : - É uma informação.
O Sr. A ra ü jo Lima (Lendo.): - “Informação de sujfjcienría e de moralidade”
O Sr. Figueira de M e llo : - É o m esm o q u e a lei exige a respeito dos m édicos
fo rm a d o s e m academ ias estrangeiras.
O Sr. A r a ú o L im a : - De sorte que aquelles de quem o instituto disser que não têm
sufficiencia, que não têm moralidade, não podem ser advogados.
O Sr. C a rva lh o M oreira: ~ É o que acontece a respeito dos médicos.
O Sr. A ra ú /o Lima: - Perdôe~me; o argumento do nobre deputado não tem
applicação. Concebo que se sujeite o medicoformado n u m a academia estrangeira,
a um individuo que não apresenta um titulo, a exames, e que se nesse exame não
provar sua capacidade, não possa exercer a profissão; mas não concordo que, pelo
voto da ordem dos advogados, que simplesmente em virtude dessa declaração de
insufficienáa e não moralidade, fique o individuo impossibilitado de exercer sua
profissão. Portanto ha muita differença entre a opinião que sustento e aquellas
que os nobres deputados apresentão. E uma cousa é querer que o instituto, como
0 mais habilitado, dê seu voto a respeito da moralidade e instrucção do individuo
que quer ser advogado, e outra é querer, como os nobres deputados que vão mais
longe, monopolisar a profissão em beneficio do instituto, é querer que não sejão
habilitados senão aquelles que o instituto dos advogados quizer.
Senhores, devo fazer uma observação aos honrados deputados que estão tão
empenhados a favor deste projecto. Os nobres deputados muito bem sabem que
em tudo ha a invasão dos odios politicos, que muitas vezes nas corporações se
introduzem abusos. Será justo que homens divididos por odios politicos, que
homens que tomão a peito patentear os abusos introduzidos nessa corporação,
fiquem inteiramente á mercê dessa corporação? Os nobres deputados devem
concordar em um a cousa, e é que, se houvesse um instituto de advogados na
Inglaterra, e Benthanf^ fosse advogado, elle seria excluido da ordem, porque

Jerem y B en th an (1748-1842). Jurista e filósofo inglês. R en u n c io u à vida ju ríd ic a , m as se tin h a c o m o o


“ N ew to n " d o D ireito. Foi e m p iris ta e c o n tra o irrac ionalism o . P a ra ele filosofia, m o ra l e ciências sociais
se c o m b in a v a m n o u tilitarism o . In flu en c io u o lib eralism o radical inglês. A u to r d e Introduction Tothe
Principies o f M o ra l a n d Legislation {l7S9y, A Plea fo r lh e C onstitution (1803) e C o n s tiíu tio n a l Code {1830).

108 « ▲B
V o lu m e 2 l.Líta |k.'Íl 1 ( ri.ic^ào c k c s i b t c n t ias

disse tanta cousa contra essa profissão na Inglaterra, patenteou tanto os vidos
que a infeccionavãoy que em verdade os que aprofessão o olhão com horror...
O Sr. Silveira da M cíita : - Com horror para Bentham! Quem?
O Sr. A ra ü io Lima: - Os advogados da Inglaterra.
O Sr. Silveira da M o tta : - Com muito respeito.
O Sr. A r a ü jo L im a : - Sou capaz de apresentar ojuizo de escriptores muito notáveis,
como seja o Sr. Joseph Rey, de Grenoble, que diz que os advogados olhão com
horror para Bentham. Por conseguinte, estou convencido, repito, de que se houvesse
instituto da ordem de advogados na Inglaterra, e Bentham fosse advogado, elle
teria sido excluído de exercer essa profissão, de adquirir p or ella meios de
subsistência (...). (Ibid.)

2.3.4. A Defesa do Projeto de Criação da OAB pelo Deputado


Silveira da Motta

A inda na sessão da Câmara dos Deputados de 28 de agosto de 1851, o


deputado Silveira da M otta (José Inácio Silveira da M otta) to m o u a palavra e
desenvolveu vários argum entos a favor de u m a organização da classe dos
advogados contra o pretendido adiamento. Em seu pronunciam ento destacou
a suposta inconstitucionalidade do projeto e ressaltou o fato d o projeto ser
originário do senado, m erecendo portanto um apreço m aior dos deputados.
Interessantem ente, abordou tam bém a questão dos “rábulas”, num a das poucas
ocasiões em que a matéria foi debatida no parlam ento imperial.

S r. S ilv e ira da M o tta : - Sr. presidente, tendo de d a r o m eu voto contra o


adiam ento, devo offerecer á consideração da cam ara algum as razões que
m e fa ze m não acom panhar o honrado m em bro que encetou hoje o debate
fallan do em fa vo r do adiam ento.
O nobre d e p u ta d o p e la p ro v in c ia de Sergipe deu m u ito p e so a um a
su sceptibilidade ou escrupulo seu a respeito da con stitu cion alid ade do
projecto, e p o r isso apoiou a idéa de ser elle rem ettido a um a commissão
desta cam ara. M as, Sr. presidente, entendo que na nossa organisação
constitucional, quando um a lei é resultado da elaboração de duas camaras
diversas, ellas não p o d e m deixar de reciprocamente d ar algum assenso,

109
______________ História da
O rdem dos Advogados do Brasil

algum peso aos trabalhos q u e são approvados em cada um a deltas; porque


se esta cam ara ju lg a que um trabalho legislativo ela borad a em um a
com m issão sua tem p o r si um precedente favoravel, com o no nosso regimen
co n stitu cion al não havem os de d a r o m esm o apreço, se não m aior, á
elaboração d e um projecto vindo da outra camara? (A poiados.) Por ventura
não poderá ao menos a elaboração desse projecto vin do da outra camara
ser equiparada á elaboração que este projecto p ó d e ter em um a commissão
desta camara? O senado não fará as vezes de um a comissão que tem p o r si
razões superiores ás que m ilitão a respeito das commissões desta camara,
qu an do a opinião do senado é opinião da cam ara toda e não de um a
com m issão de dous ou tres membros? Entendo pois. Sr. presidente, que,
segundo as relações reciprocas que devem haver entre as duas camaras, é
não só um acto d e deferencia, m as um a consequencia da constituição que
se dê um apreço os projectos que venhão reciprocamente de um a para outra
cam ara. E tanto, Sr. presidente, esta razão é proceden te, que o nosso
regim ento d eterm in a que os projectos que vêm do senado não tenhão
prim eira discussão; porquanto o nosso regim ento j á tem reconhecido essa
verdade, e já tem reconhecido p o r isso que o facto de v ir um projecto de
um a cam ara p a ra outra im porta m ais algum a cousa do que o facto de vir
um projecto de um a commissão.
O S r. R o d r ig u e s d o s S a n to s : - M as no senado não se pratica assim.
O S r . S ilv e ira da M o tta : - Portanto não acho necessário que o projecto vá
a com m issão alguma.
D evo além disto declarar á cam ara que hei de vo ta r contra o adiam ento,
porque não vejo na ordem dos nossos trabalhos negoáo de mais importancia do
que este que está actualmente em discussão. N ão vejo na ordem dos nossos
trabalhos senão objectos de mais ou menos prwdmo ou remoto interesse particular,
que não devem ser preferidos a uma organisação de evidente interesse publico,
qual é a organisação da dasse legista do império, que, como todos reconhecem,
deve ter seu ascendente legitimo, um a influencia immensa, e que está, Sr.
presidente, em p a rte ainda m uito desogarnisada; e é talvez p o r essa sua
desorganisação que ella não exerce no paiz, toda a influencia legitima que tem
direito a exercer.
O Sr. C a rva lh o M o r h r a : - D iz muito bem.
O Sr . Silveira da M o tta : - A classe legista divide-se em juizes e advogados; a

110 9àM
V o lu m e 2 I I l i a p r i l l C j i a c ã i ) c R c s i s t c n i i .i s

classejudiciaria tem tal ou qual organisação; mas a classe dos advogados não tem
organisação alguma. E essa organisação da classe dos advogados é de summa
importando, não só para ella mesma, como para aquelles cujos direitos essa classe
se encarrega de d^ender. Nós sabemos que a classe dos advogados está espalhada
por esse nosso vasto império, á mercê muitas vezes de um rabula de aldêa. (Ibid.)

Era bastante com um , e até m esm o compreensível, que num vasto país - e
num país que a 29 anos tinha conquistado sua independência, tendo toda a sua
legislação vinculada a Portugal, tendo, portanto, em m ãos a grande tarefa de criar
suas próprias leis - que indivíduos, sem a devida formação se alastrasse, em especial
no interior do país. Tal acontecia com muitas profissões inclusive com a medicina,
com o lembrou o deputado Góes Siqueira. Silveira da Motta, entretanto, faz uma
ressalva à lembrança de Góes Siqueira, argumentando que o tratamento do charlatão
da medicina é diferente do da advocacia, ...porque os medicos têm muito mais protecção
do que os advogados..., pois, segundo o deputado, u m m édico estrangeiro chegando
em uma aldeia onde exista um profissional da medicina, este profissional pode
pedir, com o apoio da lei, que a Câmara Municipal verifique se o medico estrangeiro
passou pelo exame de sujficiencia.

O S r. S ilv e ira d a M o t t a : - Ora, pergunto eu ao nobre deputado, se se


apresentar um rabula em um a aldêa em que exista um advogado form ado
em qualquer das academias do império, há na lei algum meio de obrigar a
esse rabula a retirar-se d a aldêa ?N ão ha nenhum. O advogado form ado não
0 p ô d e fazer retirar, porque não tem meios....
O Sr. A r a ü jo Lima: - Tem sua sabedoria.
O S r. S ilveira da M o tta : - ...entretanto que o medico, se quizer usar do
privilegio que a lei lhe concede, póde fa zer com que o charlatão deserte da
aldêa e procure outro rumo.
O Sr. P a u la C â n d id o : - E se os magistrados não quizerem como acontece
aqui mesmo no Rio de Janeiro?
O Sr. G óes Sigueira: - Em toda parte.
O Sr. S ilveira d a M o tta : - N ão estou fallando a respeito dos abusos, convenho
em que devem haver alguns; o que digo é que na lei ha protecção para o
medico, e não para o advogado.
(H a alguns apartes). (Ibid.)

777
______________História da
Ordem dos Advogados do Brasil

E conclui 0 seu argumento:

H á desgraçadamente bacharéis em leis que assignão papeis de rabulas, assim


como ha médicos form ados que fazem conferencias com charlatães.
Portanto, Sr. presidente, essa classe im portante do império, a classe legista,
na pa rte que consta de advogados, não tem a proteção da lei, e é preciso dar-
lhe essa proteção. Ora, tendendo o projecto em discussão a organisar essa
im p o rta n te classe, é sem d u v id a um projecto de gran de im portancia e
necessidade publica (Apoiados.). (Ibid.)

Silveira da M otta continua sua fala, agora m ais diretam ente atacando a
idéia de “liberdade profissional” levantada por Araújo Lima:

Eu ouvi. Sr. presidente, alguns escrupulos dos honrados membros quefallarão


a favor do adiam ento a respeito da constitucionalidade do projecto, mas não
posso d ar a minha annuencia a esses escrupulos. Os nobres deputados devem
reconhecer que todas as industrias, sendo livres no nosso paiz, são entretanto
sujeitas ás restricções indispensáveis, segundo as habilitações necessariaspara
cada industria. N inguém contesta, v. g., que todos p o d em dar-se a uma
industria mecanica, mas mesm o na industria mecanica, se o hom em que a
procura não tem certa aprendizagem, certas habilitações, esse hom em não
póde dar-se a ella, qualquer que seja o seu desejo; assim acontece a respeito
das industrias que p o r sua natureza são privilegiadas, tal é a industria do
advogado, que exige habilitações, e que po rtan to a ella não se póde fazer
extensivo o principio da liberdade da industria.{lhid.)

O deputado Araújo Lima tem um a breve manifestação: N inguém contesta


isso. N ão sei, responde Silveira da Motta, pois, como os nobres deputados querem
contrariar as restricções da industria do advogado pelo principio geral d a liberdade
da industria, que é extensivo a outros e não a esta.
Silveira da Motta, logo após, faz um a observação significativa: o silêncio
daqueles que eram a favor do projeto:

O S r. S ilveira da M o tta : - Sr, presidente, se já não fosse chegada a hora da


segunda parte da ordem do dia, a discussão do adiam ento deste projecto levar-

112
V o lu m e 2 L u la pelci ( j i a ( , ã í > e K c s i s iõ n c i a s

m e-hia a outras considerações que acho de algum a importancia, e pa ra as


quaes chamarei em meu apoio a nobre opposição desta camara, cujo silêncio
em um a matéria desta importancia, quando ja se levantou um brado de
ojfensa da constituição, é de certo para admirar.
O S r. C a r v a lh o M o re ir a : - A opposição não pensa assim, nem p ó d e pensar.
O Sr. S ilveira da M o tfa : - Ê de certo para causar sorpresa que os nobres
mem bros d a opposição se conservem silenciosos quando são tão defensores
da constituição.
O S r. R o d rig u e s d o s S a n to s: - Agradecemos o bom conceito que de nós faz,
qualificando-nos de sentinella da constituição.
O Sr. S ilveira da M o ita : ~ Pelo menos dizem que o são; e p o r isso é de adm irar
que, tratando-se de um projecto que se diz que offende a liberdade da industria,
se tenhão conservado silenciosos.
Páro aqui, Sr. presidente, visto que já está dada a hora. (Ibid.)

Mas o que p ode significar esse silêncio ? Ataca-se com veemência o projeto
- tanto na sessão de 27 de agosto, quanto nesta que transcrevemos e nas outras
duas o>ntudo só se levantam algumas poucas vozes com a m esm a dedicação,
força e convicção dos que são contra o projeto. Podem os supor dois m otivos,
entre vários outros possíveis, para esse silêncio: o primeiro seria a pouca convicção,
daqueles que se diziam a favor do projeto, dos benefícios que uma ordem dos
advogados traria para o Brasil, podem os m esm o supor que outros interesses
estavam em jogo, já que m uitos dos deputados, especialmente os m em bros do
lAB, exerciam a advocacia. Em outras palavras, estes que se diziam a favor do
projeto, concordavam com os argumentos contra a criação da Ordem, portanto
não queriam e não podiam contra-argumentar. A segunda hipótese, possivelmente
a mais verdadeira, se vincula às resistências e à ampla penetração política dos
profissionais práticos. A definição explícita do leque geral do problema exige,
todavia, u m diagnóstico de causas m ais profundas, o que se presum e pelos
pronunciam entos e sua hermenêutica, mas não ostensivamente se verifica.
N a verdade, o contexto geral das discussões, principalm ente dos opositores
do projeto, é um roteiro ideológico (máscaras argumentativas) para encobrir e
desviar os verdadeiros propósitos dos '‘contra-a-ordem ” A própria temática
co n stitu cio n a l, trazida ao debate, soa m al-arranjada, em q u e, “liberdade
profissional” aparece ccm o indicação similar de “liberdade de indústria” e não

113
______________ História_da
Ordem dos Advogados do Brasil

propriam ente co m o “liberdade de trabalho” depreciável porque à época mais


se lhe conceituava c o m o liberdade de trabalho físico, o que não era o caso.
D e qualquer forma, nào há com o desconhecer que havia u m profundo
interesse em manter profissionalm ente desorganizados o s advogados, evitando
que a própria categoria se disciplinasse a categoria, facilitando o u deixando ao
poder público a aplicação de sanções gerais aos desvios específicos da profissão.
Por o u tr o la d o , d e ix a n d o passar e m a n te n d o o p o d e r d isc ip lin a r e de
provisionam ento (autorização para funcionar) vinculado ao poder imperial,
c o m o já observam os, e ainda mais recolhendo o Estado as taxas, im postos e
em olu m en tos exigíveis para a prestação dos serviços de advogado - o poder
público tinha o controle da profissão e de seus serviços.

2.3.5. As Novas Criticas do Deputado A ntonio José Henriques

O Sr. H enriques, que pediu a palavra na sessão anterior (28 d e agosto de


1851, op. cit.) e lhe foi negada em vista da hora, abre a discussão na sessão
seguinte’“ (30 de agosto de 1851)^' com argum entos repetidos, recorrentes,
m as que traduzem grande insistência de opinião.

O Sr. H en riq u es: - (...) O nobre deputado por S. Paulo {Silveira da MotaJ, que
ultim am ente fallou combateu a conveniencia do adiam ento com argumentos
deduzidos d a organisação constitucional entre nós; disse que tendo sido já o
projecto bem discutido no senado, escusado era tratar-se aqui mais da sua
utilidade. Este argumento, se procedesse, provaria de mais; provaria então que
escusado era que na camara tem poraria tivesse o projecto de que se trata
discussão alguma; provaria até a inutilidade, a desnecessidade mesmo de uma
segunda camara (Apoiados.); m as creio que o nobre deputado não contestará a
conveniencia de um a segunda cam ara, não quererá expô r o p a iz aos
inconvenientes eperigos que um a só camara legislativa póde ojferecer. (Ibid.)

o d e p u ta d o H e n riq u e s se m a n ife s ta e m to d a s as q u a tro sessões e m q u e se d is c u te o p ro je to . E m to d a s ele se


faz presente.
A n n a e s d o P a rla m e n to B r a z i le i r o - C a m a r a dos srs. D e p u ta d o s . T erceiro a n n o d a O ita v a Legislatura. Sessão
d e 30 d e agosto d e 1851. C o n tin u a a discussão d o a d ia m e n to d o p ro je c to n. 43 c re a n d o u m in s titu to da
o r d e m d o s ad vog ados, vol. II, p. 774 a 775.

114
V o lu m e 1 l . l lK l (X'1.1 C l ' i . K . l O I' l \ t ' s i ^ k ’' I K Í . i S

O deputado tem a dara intenção de com bater os argum entos pró-projeto


que fecharam a sessão anterior. Ele repete c o m outras palavras alguns dos
argumentos que enumeramos; ataca com a m esm a veem ência da primeira sessão,
defendendo o adiam ento que ele propôs e som ente o deputado Figueira de
M ello 0 retruca co m alguns apartes que o transcritor não consegue ouvir.

Sr. presidente, o projecto de que se trata offendegravemente direitos adquiridos,


offende gravem ente o interesse de uma classe im portante, qual é a classe dos
legistas entre nós; offende direitos adquiridos, porqu e nós sabemos que os
bacharéis form ados, pela simples apresentação da carta de form atu ra estão
habilitados para o exercido da advocacia; o projecto p riva-os desse direito,
cessa essa garantia que as leis em vigor lhes tem dado, determ inando que elles
não possãõ ser advogados senão por um a provisão do presidente d a relação.
Offende interesses, porque o projecto im põe á classe dos legistas, a classe dos
bacharéis ~ form ados advogados, e aos advogados em geral, um onus m uito
pezado, como são as mensalidades e asjoias; sujeita-os a um a contribuição
pela provisão, e de m ais a m ais eleva ao quádruplo as m ultas im postas pelas
leis em vigor. Parece, Sr. presidente, que semelhante projecto se póde p o r isso
qualificar de um a fo rm a l declaração de guerra á algibeira dos advogados.
N oto tam bém que o projecto, offendendo assim direitos adquiridos, offendendo
os interesses dos advogados, nenhuma prerrogativa lhes dá. N ã o descubro
que o projecto dê á classe dos advogados prerrogativa alguma, entretanto que
os sobrecarrega de onus e contribuições m ui vexatórias. (Ibid.)

E, claro, o Sr. H enriques não poderia deixar passar a questão dos rábulas,
levantada na sessão anterior:

D iz 0 nobre deputado p o r Pernambuco, que o projecto regularisa a classe dos


advogados; regularisada esta ella entre nos, porque ninguém p ó d e advogar
sem ser bacharel form ado, sem que se apresente com carta de form atura com
a qual prove que tem a habilitação necessária e offereça assim um a garantia
de sua sufftciencia e capacidade, e se não é form ado, sem que seja essa carta
su bstitu ida p o r um exam e perante a prim eira au torid ade ju d icia ria do
districto. Seprevaricão nesse exercício tão honroso, as leis em vigor os sujeitão
ap en as. (Ibid.)

#Àm 115
______________ Historia da
Ordem dos Advogados do Brasil

Levanta tam bém um a questão que é interessante pela m udança de tom;

...Sr. presidente, eu entendo ainda que o projecto procura extinguir os


sentimentos de am isade e de gratidão, procura suffocar sentimentos tão nobres
que nascem comnosco, porque o projecto prohibe qu e o advogado possa
assignar um a peça forense organisada p o r outro de que é m uitas vezes amigo,
e a quem deva obséquios e finezas. Ora, supponhamos que um advogado
encarregado de um a causa não póde, p o r um im pedim en to legitimo, de
moléstia, p o r exemplo, assignar um a peça forense nos termos fataes; que
inconveniente ha, em que um outro seu amigo, e que lhe possa ser obrigado,
preste a sua assignatura? N ão será isto suffocar no fóro 05 sentim entos de
am isade e gratidão? Que prejuizos p odem resultar d ah i á boa adm inistração
da justiça?. (Ibid.)

O deputado critica tam bém o dispositivo do projeto que, segundo este,


trata de quotas pa ra 0 sustento das viuvas dos advogados fallecidos (Ibid.)^^,
argum entando que tal dispositivo foge da esfera do legislativo. Em seguida ataca
outro dispositivo do projeto:

O projecto tam bem tem 0 defeito grave d e crear um instituto, ordem dos
advogados, dando-lhe no art. o p o d e r deliberante; m as não desenvolve
esse m esm o poder, não m ostra em que elle consista, não lhe estabelece bases,
não lhe põe limites alguns; d iz somente que o instituto de advogados tem 0
p o d e r deliberante, e nada mais. Parece-me que 0 projecto, dando ao instituto
de advogados p or elle creado 0 poder deliberante, devera m ostrar em que este
poder consistia, devera estabelecer limites ao m esm o poder. Mós sabemos
quanto 0 poder tende de ordinário a exceder as raias de suas atribuições;
entretanto não limitando, como 0 projecto não lim ita, o p o d er deliberante do

" A rtigo 7° O s I n s titu to s e m seus R egim en tos in te rn o s, q u e n ã o te rá o execução s e m ap p ro v a ç ã o d o G overno,


m a rc a rã o as jo ias d e e n tra d a p a ra a O rd e m , e as c o n trib u iç õ e s m e n sa e s d o s seus m e m b ro s , assim c o m o
as beneficencias, á q u e seg u n d o as c irc u m n stan c ia s te rã o d ire ito as viuvas e d e sc e n d e n te s iegaes dos
A d v o g a d o s p o b re s. O s m e sm o s In s titu to s á n e m h u m a p e sso a p o d e rã o c o n fe rir o titu lo d e m e m b ro
h o n o r á r io d a O rd e m . In: C D -R O M C â m a r a dos D e p u ta d o s . O p . cit.
” A rtig o 6° Ao In s titu to , e m sessão, c o m p e te exercer o p o d e r d e lib e ra n te d a O rd e m ; e a o C o n se lh o , e m
conferência, a p p licar a d m in is tra tiv a e d is c ip lin a rm e n te a Lei, e as deliberações d o In stitu to , P o d e rá hav er
sessão d o In s titu to c o m q u a lq u e r n u m e ro d e m e m b ro s alem d a to ta lid a d e d o s q u e c o m p o e m o C onselho:
este p o r e m n ã o exercerá suas funcções, sem se a c h a r re u nid a a m a io ria d e seus m e m b ro s . O P reside nte
d o C o n se lh o será ta m b e m Presidente d o In s titu to , e em a m b o s o s casos só te rá v o to d e desem pate,

116 •Al
V o lu m e I Lufc) pc’la C r iiiç ã o e R csislê n ci.is

instituto de advogados, não seria para receiar que esse instituto excedesse
esse poder, abusasse mesmo delle. Eu noto apenas que a respeito do poder
deliherante o a r t 5^^“ do projecto incum be ao in stitu to de proceder ao
alistam ento dos advogados, e o art. 7°’’^ o marcar a jo ia da entrada para a
ordem. Ora, consistirá o po der deliberante da ordem em alistar os advogados,
em m arcar as joias? Se consiste, não vale a pena a creação de semelhante
ordem. (O p. cit.)

Este pronunciam ento em suas indicações finais, de certa forma, apesar


dos superficiais argum entos anteriores, desdobra-se em visível argum ento de
poder, o u seja, contra u m poder não seria conveniente que se manifestasse outro
p o d e r c o m c o m p e tê n c ia s para organizar, d iscip lin a r , d elib erar, alistar
profissionais e cobrar “jóias”. Com certeza estas com petências esvaziariam as
atribuições de quem já as têm o u exercem, instaurando-se visível conflito de
atribuições que resultaria na fragilização, no caso, do poder público imperial,
inclusive, judiciário.
C o m o se sabe o poder imperial no Brasil tinha longuíssim as m ãos que
perpassavam, inclusive, o próprio “Poder Judicial” e, por conseguinte, interferia
na m o v im e n ta ç ã o d o s advogados. U m in stitu to o u o rd em c o m vocação
corporativa profissional - cuja proibição organizativa enquanto “liberdade
profissional” não estava na Constituição - m m amplas competências organizativas,
com certeza representava (ou representaria) u m justificável agente de rejeição
institucional. Por estas razões, os argumentos listados sobre o papel dos rábulas,
a autonom ia dos bacharéis formados, os custos de taxas e jóias, na verdade, são
argu m en to s fa la c io so s para im p ed ir a co n stitu içã o de u m a organ ização
profissional imprescindível ao funcionam ento transparente do Estado.

A rtig o 5° O rg a n is a d o assim o In s titu to , á este c o m p e te a escolha d o s m e m b ro s d o C o n se lh o p o r eleição


bie n n a l, q u e será p ra tic a d a á p r im e ir a v ez n o d ia doze de O u tu b r o seg u in te á p o s se d e q u e t r a ta o A rtigo
preced e n te ),] s e n d o o P re sid e n te Secretario e T h e s o u re iro eleitos p o r m a io ria a b so lu ta d e votos, e os
vogaes p o r m a io ria relativa. O s A d vogado s residentes fo ra d o T e rm o d a c apital, o u le g itim a m e n te
im p e d id o s p o d e rã o v o ta r p o r pro c u ra ç ão d a d a á Advogado, que com p a re ça pe sso a lm e nte, e c o m a expressa
d esig nação d o s A dvogados, em q u e m deve recahir o v oto p a ra os differen tes cargo s d o C o nselh o. O
C o n se lh o assim n o m e a d o to m a ra p osse n o d ia n o v e d e la n e iro d o a n n o seg u in te a o d a eleição.
” A rtigo 7° Os I n stitu to s e m seus R eg im en to s in te rn o s, q u e n â o te rã o execuç3o s e m a p p ro v a ç ã o d o G o verno,
m a rc a rã o as jo ias d e e n tra d a p a ra a O rd e m , e as c o n trib u iç õ e s m e n sa e s d o s seus m e m b ro s , assim c o m o
as beneficencias, á q u e s e g u n d o as c irc u m n stan c ia s te rã o d ire ito as v iuvas e d e sc e n d en tes legaes dos
A dvogados p o b re s. O s m e sm o s In s titu to s á n e m h u m a pessoa p o d e rã o c o n fe rir o titu lo d e m e m b ro
h o n o rá rio da O rd e m .

•ái 777
______________ História da
O rdem dos Advogados do Brasil

2.3.6. As Críticas do Deputado Bandeira de M ello ao Projeto


Montezuma

N a sessão seg u in te, a de 2 de setem b ro d e 1851,^'' o Sr. H enriques


novam ente com eça com a palavra e surpreendentem ente diz:

Sr. presidente, como os nobres deputados, fautores do projecto que entra em discussão,
se compromettem no interstício da segunda para terceira discus0o a formular e
apresentar emendas que salvem o projecto dos viáos e defétos em que elle labora, e
nisto se cifrem os meus desejos a esse respeito, peço a retirada do adiamento que tive
a honra de offerecer á camara com o protesto de offerecel-o de novo, e de combater
0 projecto com todas as forças ao meu alcance, quando os nobres deputados, como
eu não espero, não satisfação ao seu com prom ettim ento. ’ ’

Apesar do recuo do Sr. Henriques; consultada a camara^ resolve pela negativa.


O fato de a Câmara votar a favor do requerimento do Sr. Henriques, contra o projeto
de criação da Ordem, mostrava certamente que: ou a Câmara foi convencida pelos
argumentos do Sr. Henriques/Araújo, ou a Câmara já tinha tais convicções implícitas,
ou mesm o, declaradas, e serviu-se dos dois deputados com o porta-vozes.
A pós a consulta e a negativa da Câmara, o deputado Bandeira de Mello
{João Capistrano Bandeira de M ello), sem elhante ao Sr. H enriques, ataca com
um a retórica afiada o projeto de criação da Ordem: Peço a palavra a favor do
adiam ento. (Ibid.) O deputado com eça os seus argum entos, tal qual o Sr.
Henriques, criticando a taxa, que ele cham a de “im p osto”, logo depois vai para
um outro argum ento q ue retomará m ais à frente co m o p o n to central das suas
críticas, o “m o n o p ó lio da advocacia”:

Por outra razão ainda, Sr. presidente, julgo que o projecto deve ser submettido
ao exame de um a commissão especial; e vem a ser que elle tem sido arguiào ãe
estabelecer sob a apparencia de organisação, um monopolio contra o preceito
claro da constituição; monopolio que m e parece resultar indirectamente das
A n n a es d o P a rla m e n to Brazileiro - C a m a ra d o s srs. D e p u ta d o s . T erceiro a n n o d a O ita v a Legislatura. Sessüo
d e 2 d e s e te m b ro d e 1851; C o n tin u a a discussão d o a d ia m e n to ao p ro je c to n. 43 v in d o d o sen a d o , sobre
o in s titu to d a o r d e m d o s adv ogados, vol. II, p . 810 e 814.
" O Sr. H e n riqu es éum rábula? Daí s e u g ra n d e em p e n h o ? N a biografia d e S a c ra m e n to Blake (op . cit.) n ã o há
referência à profissão d e advogado, o q u e n ã o q u e r d izer q u e n ã o o fosse. P o d e m o s ta m b é m s u p o r algo
m ais n o b re q u e justifique seu e m p e n h o : o Sr. A n tonio José H e n riq u e s con vic tam en te e desinteressadam ente
acredita q u e esta b rig a n d o p o r u m a causa justa.

118 •ài
V o liin n ' 1 \ iiU i p c l j C jia u lo (' K e - ' i ^ l r n c i.is

ãifferentes disposições que elle encerra como logo demonstrarei. M as antes de


tudo, note V. Ex. que a advocacia já p o r si envolve um monopoUo que é o resultado
natural do talento, da capacidade superior... (Ibid.)

O deputado Carvalho Moreira o interrompe: Isso nunca fo i monopolio.


Bandeira de M ello se desdobra para explicar o que ele entende co m o m onopolio
dado pela natureza:

O Sr. C a r v a lh o M o re ir a : - A natureza não dá monopolio.


O Sr. B a n d eira d e M e llo : - D á o talento que é um a superioridade, uma
especie d e aristocracia, crea desigu aldades que d e te r m in ã o d ecidida s
preferencias e excluem a competencia até certo ponto; e o que é isto senão
um a sorte de monopolio? É um monopolio, sim, de que aliás ninguém tem
direito de queixar-se, porque a natureza é livre em distribuir as suas graças
como bem lhe parece. (...) Q ue necessidade ha em que a lei intervenha quando
0 talento natural produ z todos os efeitos beneficos que se poderião desejarf
Esse privilegio assim fortificado pela lei não fe z senão tornar a advocacia
mais cara; porque os advogados que estiverem no posse dessa vantagem,
exigirião pelos seus serviços salarios mais avultados (...) Q uem perde pois é o
povo, p o r effetto deste monopolio com que a lei vem fortificar o que a natureza
já tem estabelecido a respeito do talento... (Ibid.)

Os argum entos do deputado não convenceram seu colega de Câmara que,


ao fim dos esforços do dito, retruca: N ão sei o que seja m onopolio n atu ral
D eixando de lado sua tese do “m on op ólio natural”, Bandeira de M ello
entra n o grande argum ento contra o projeto: “a liberdade profissional”:

Antigamente, Sr. presidente, o principio da liberdade em m atéria de industria


era a d m ittid o largam ente entre nós; hoje parece que as idêas reagem contra
essa liberdade que a constituição sanciona em larga escala. H a pouco passou
aqui um a lei a respeito da instrucçãopublica que na minha opinião estabeleceu
um monopolio; porque, segundo ella, não se poderá estabelecer um collegio
em bora se apresentem as condições que essa lei exige, se não se obtiver uma
licença que poderá ser negada. (Ibid.)

• ▲I 779
______________ História da
O rdem dos Advogados do Brasil

O deputado - seguindo sua linha de raciocínio em que pretende combater


a idéia de m o n op ó lio que> acredita, esta sendo reforçada pelo projeto de criação
de um a ordem dos advogados - compara a O rdem às corporações m edievais,
fazendo analogias, dentre outras, entre o C onselho Administrativo e a mestrança
(C onselho de Mestres).

(...) Sr. presidente, noto que a ordem dos advogados, como está estabelecida
no projecto, exactamente se assemelha ás corporações de officios; é o systema
dessas corporações applicado á advocacia. Nas corporações de ojftcios havia
um a mestrança autorisada para a d m ittir e excluir todos aquelles que nessas
corporações devem ser adm ittidos ou deltas devem ser escolhidos; é o que
exactam ente se dá no projecto (A poiados), p o is que crea um conselho
adm inistrativo e disciplinar, que é exactam ente a mestrança na classe dos
advogados, conselho que está autorisado a a d m ittir e excluir os advogados
que entender como depois mostrarei. Nas corporações de ojftcios existia o que
chamão fm anças, isto é, um a quantia que se pagava p a ra ser a d m ittid o na
corporação; exactamente essa finança tam bém está estabelecida pelo projecto,
ainda que debaixo de outro nome, porque não se p ó d e advogar sem pagar-se
um a jo ia e um a patente, isto é, um tributo lançado sobre as provisões que
hoje se tornão de absoluta necessidade ain d a m esm o p a ra os bacharéis
form ados. Existe ainda outra analogia com relação ao aprendisado das
corporações de officios; ninguém, como se sabe, podia pertencer a ellas, isto é,
abrir casa de officios, sem servir ao mestre um certo numero de annos; da
m esm a sorte, pelo projecto, ninguém, excepto os bacharéis form ados, póde,
sem servir gratuitam ente a um advogado provisionado p o r espaço de quatro
annos, quero dizer, sem praticar com elle durante esse tempo, ninguém, digo,
póde ser adm ittid o a exame para advogado. (Ibid.)

C ontinua, Bandeira de M ello, questionando a utilidade de um a ordem


dos advogados, argumento retrucado por Figueira de M ello e Carvalho Moreira,
mas que o parlamentar passa por cim a com algumas poucas palavras e continua;

O S r . B andeira de M ello : - ...M as que queixumes apparecem a respeito da


advocacia segundo o systema actualm ente adoptado que sejão remediados
p o r este projecto? N ão vejo que este projecto possa rem ediar esses queixumes...

120 9àM
V o lu m e ' 2 L ü l. i p c ic i C r i a ç . i í ) c R o s i s l c r u ias

O S r . F igueira d e M ello : - Há advogados traficantes e o projecto vai acabar


com elles.
O S r . B a n d e ir a d e M e llo : - N ão espero ^ue o projecto acabe com elles.
O S r . C arvalho M oreira : - Esses advogados traficantes tem horror a esse
projecto.
O S r . B an d eira de M ello : - Q uem sabe, talvez folguem com o monopolio
(...) O projecto, Sr. presidente, autorisa o conselho adm inistrativo a tres cousas:
a m atricular advogados, a incluil-os na ordem e a excluil~os. Q u an to á
attribuição de alistar advogados, de que serve ella? O que quer dizer fazer
anualm ente o rol dos advogados? D iz o projecto que é p a ra m a n d a r aos
differen tes juizes...
O S r . F igueira de M ello : - Isto é sà na prim eira organisação.
O Sr. B a n d e ír a de M ello; - N ão é só na prim eira organisação, é um a das
attribuições perm anentes do conselho adm inistrativo. Ora, este trabalho
m aterial é sem im portancia nenhuma; m ais facilm ente se conseguiria esse
mesmo resultado apresentando o advogado directamente sua provisão ao ju iz
perante quem tem de exercer a sua profissão. E p a ra que annualm ente esse
arrolamento geral? Bastarião as alterações que pudessem apparecer no pessoal
da advocacia ou na matricula que um a fe z [vez] foi feita. (Ibid.)

Bandeira de M ello prossegue, propondo provar que o projecto estabelece


indirectamente o monopolio da advocacia. (Ibid.) São argum entos já levantados
pelo Sr. H enriques e pelo Sr. Araújo Lima com o acréscim o retórico da analogia
da O rdem às corporações m edievais e a idéia de que o projeto estabelece o
m o n o p ó lio do exercício da advocacia.

0 5;?. B andeira DE M ello : - (...) Digo eu que o privilegio se acha estabelecido


p rim eiram ente pela condição pecuniaria que se exige; ninguém p ó d e advogar
sem pagar certa qu an tia que agora o projecto estabelece, sem pagar o imposto
de escriptorio já anteriorm ente exigido, sem pagar um a jo ia e mensalidade
que tam bem agora se exigem, e que devem ser avultadas, p o r isso que têm de
fa ze r p a r te dos fu n d o s para o m ontepio que o projecto p reten d e crear, e
pergunto eu, um bacharel que ainda não tem firm a d o o seu conceito de
advogado, que vai aventurar-se, que vai encetar a carreira, não poderá recuar
diante de tantas despezas? Aquelles que já têm seu credito estabelecido, que já

•áb 121
______________ História da
Ordem dos Advogados do Brasil

têm grande clientella, sem duvida não se im portarão com essas despezas,
porque poderão fazêl-as; m as o bacharel que sahe da academia, que acaba de
fazer grandes dispendios, e que tem ainda d e fazer logo 300$ de despezapara
se habilitar...
O S r . C arvalho M oreira : - 300$ como?
O Sr. B/^nd£/ím d e M e llo : - 200$ a 300$000.
O Sr. C arvalho M oreira : - N em 60$000.
O S r . B andeira de M ello : ~ E se a mestrança p e d ir um a joia de 200$? Uma
m ensalidade de 10$? Em quanto vem a im portar no fim do anno?
O S r. C a r v a lh o M o r e ir a : - Q ual 200$ A h i uns 20$000.
O Sr. B andeira de M ello : - Então para que se estabelece um monte-pio,
cujos contribuintes são os advogados? Se essas joias não forem importantes,
esse m onte-pio de nada poderá servir.
O S r . C arvalho M oreira : - O nde é que está isso.
O Sr. B andeira de M ello : - Pois não está aqui m onte-pio para d a r de comer
ás viuvas dos advogados?
O S r . C arvalho M oreira : - N ão está tal.
O Sr. B andeira de M ello : - Se o projecto não d iz m onte-pio, estabelece cousa
semelhante (Lê): “$7® Os institutos marcarão as joias de entrada para a ordem
e as attribuições mensaes dos seus membros, assim como as beneficencias a
que segundo as circunstancias terão direito as viuvas e descendentes legaes
dos advogados pobres”.
O S r . C arvalho M oreira : - E isto é m o n te-p io ?
O S r . B andeira de M ello : - D ê o nobre deputado o nom e que quizer, ha de
ser sempre um a instituição que tenha p o r fim fa zer essas beneficencias ás
viuvas dos advogados (Apoiados.). Lembrei-m e de cham ar-lhe monte-pio;
que nom e quer que lhe dê? Caixa de beneftcencia? Pois seja um a caixa de
beneficencia; m as p a ra dar~se algu m resultado, essas jo ia s de v e m ser
importantes. Ora, pergunto eu, não se monopolisa a advocacia, quando se
exige essa finança a esses que não têm ainda seu credito, com o advogado,
assás estabelecido, que não sabem se serão felizes ou não, na carreira que
pretendem tentar, a esses que p o r ventura querem obter somente as habilitações
necessarias para os empregos públicos que exigem a pratica d o fôro? Isto é
incontestável. Fecha-se a po rta dofóro a m uita gente. (Ibid.)

122 9AB
\'()lunK' J I .Li t. i ( 'n a t . ' io ( ‘ R c'xislriicicts

O Sr. Bandeira de M ello coloca ainda u m segundo argum ento querendo


provar sua tese do m onopólio;

O S r . B an d e ir a de M ello : - A in d a mostrarei que o m onopolio se estabelece


p ela p e n a lid a d e que 0 projecto determ ina. O projecto d iz que a m e st r a n ç a ,

isto é, 0 conselho disciplinar e a dm inistrativo (sirvo-m e desta palavra pela


analogia que já dem onstrei em relação ás corporações de offtcios).
O Sr. F erreira de A gu iar : - M estrança d a Ribeira.
O S r . C arvalh o M oreira : - Foi fe liz na idêa.
O Sr. B andeira de M ello : - Pois bem! O conselho adm inistrativo tem direito
a im pôr p enas aos advogados; e quem são os m em bros d o conselho? São
advogados, interessados em d im in u ir o numero (e é com este argum ento
que as corporações d e officios são com batidas), interessados em d im in u ir a
concurrencia; elles terão facilidade em a d m ittir advogados m enos habeis
que com elles não poderão competir, (...). O que eu disse é que sendo o
conselho a d m in istra tivo composto d e advogados interessados em restringir
a concurrencia, p ó d e fu lm in a r censuras e m ultas que tragão comsigo ou o
desgosto, que tende a afastar advogados habeis da carreira, ou o descredito
que ten de a afastar delles os clientes, e isto sem audiência desses advogados!
O conselho a d m in istra tivo póde mais, p óde a te im p ô r a p en a de expulsão
da ordem, além do interdictogeral ou local com que se acha tam bem armado,
contra os rivaes que lhe possão fa ze r sombra. E esta pena, aliás tão grave, é
im p osta p o r u m a corporação suspeita de im p a rcia lid a d e egoistica, e que
p ó d e em certas circum stancias ser reputada como j u i z em causa p ropria!
E depois, senhores, será o conselho a d m in istra tiv o o m ais pro p rio para
im p ô r essa p e n a lid a d e , co nstituindo-se um p o d e r ju d ic iá rio , e tan to é
um p o d e r ju d ic iá r io q u e se dá appellação p a ra a relação do districto?
(A poiados.)
Q ue inconveniente ha em que os ju izes, com o actu alm en te, im p o n h ão as
p en a s em que possão incorrer os advogados? H oje, q u a n d o o advogado
c o m m ette a lgu m delicto, com o tal, o ju iz , 4 vista dos a u to s im p õ e a pena;
o ju i z é 0 m ais próprio, porque, além da im parcialidade, tem sem pre dia n te
dos olhos as fa lta s dos advogados, á m e d id a que ellas são co m m ettid a s, e,
pois, não precisa d e d evassal-as p o r m eio d e um processo especial. O
conselho d e disciplina, p orém , p a ra exercer esta a ttrib u iç ã o tem de a n d a r

mAB 123
______________ Históri&da.
Ordem dos Advogados do Brasil

s y n d ic a ttd o , p r a tic a n d o actos odiosos, in q u isito ria e s, a re sp e ito do


procedim ento dos advogados, augm entando assim as intrigas e rivalidades
d a classe (...). (Ibid.)

O Sr. Bandeira de MelJo, repetindo os seus companheiros, argumenta contra


0 dispositivo que proíbe que u m advogado assine documentos de outro, colocando,
com o sempre, seus argumentos dentro da sua retórica de que o projeto estabelece
u m m onopólio, chamando o dispositivo de systema inquisitorial:

A inda o projecto estabelece o monopolio pelo systema inquisitorial que se


acha nelle virtualm enteprescripto a respeito de todos aquélles que, não tendo
provisão de advogado, todavia advogão p edindo a amigos que assignem os
seus papeis, porque o projecto não quer que nenhum advogado assigne papeis
alheios. Por que razão um jurisconsulto que não tem provisão de advogado,
não poderá defender a sua propria causa (Apoiados.) a causa de seus parentes
ou amigos?. (Ibid.)

O deputado ainda lança outros argumentos que, segundo sua visão, provam
que um a ordem dos advogados cria o m o n o p ó lio da advocacia. O prim eiro é
um questionam ento dos critérios do conselho administrativo^® para determinar
aqueles que não são graduados dos que têm ou não suficiência de moralidade
para exercerem a advocacia.
O segundo argum ento é sobre a incompatibilidade:

...Entendo que nenhum a razão há p a ra que um empregado publico, que


entre nós tem sem pre um ordenado m u i dim inuto, não possa nas suas horas
vagas occupar-se com a advocacia, afim de au gm en tar seus lucros para
p o d e r viver com m ais facilidade, com m ais algum as vantagens; tam bem
direi que nenhum inconveniente enxergo em que um advogado, que tem
d im in u ta clientella, accumule algum emprego publico p ara indem nisar-se
d a fa lta de clientes.
O pensam ento dom inante do projecto é dim in u ir a concurrencia; revela-se
isto p o r todas estas incom patibilidades (A poiados.), lem brando-se a té dos
agentes commerciaes. (Ibid.)

A queles q u e são os interessados em d im in u ir a concurrenciaycom o a firm a B an d e ira d e M ello, op. cit.

124
V o lu m e 2 L u l a p e l a C r i a ç ã o o R e s i s tê n c i a s

O terceiro argum ento contra é sobre o que ele cham a de rigor de pureza:

(...) nós vemos que os condemnadoSy depois que têm cum prido as penas, não
ficão inhabilitados para os cargos públicos (Apoiados.); um ou outro caso se dá
de inhabilidade perpetua; fóra desses casos rarissimos, o empregado publico,
tendo cumprido a sentença, póde ser de novo empregado (...) Com o épois que
um homem, que um advogado condemnado p o r concussão, p o r peculato, póde
ficar perpetu am ente p rivad o do direito de advogar, quando elle p óde ser
empregado publico, quando o governo o póde aproveitar? (...) ...um homem
que fo i condemnado a uma pena, ainda mesmo dessas que infamão no conceito
publico, não deve ficar aos olhos da lei inutilisado, menospresado para sempre,
porque faltar-lhe-ha então o estimulo para reentrar nas vias da honra e da
dignidade; o desanimo, o esmerecimento se apoderará delle, se a lei nunca o
rehabilitar, se elle nunca o suppuzer arrependido, corrigido. E a pressumpção
legal não é a correcção do delinqüente depois do cumprimento da pena?. (Ibid.)

Este p r o n u n c ia m e n to de Bandeira de M ello, n o c o n ju n to geral d os


pronunciamentos contra a Ordem, não tem novidades substanciais, exceto a sua
desenvolvida tese sobre o m onopólio corporativo que a Ordem teria sobre o exercício
da profissão. Na verdade, este monopólio corporativo - que define padrões de ingresso,
permanência, exclusão e penalidades - no fundo confronta-se com o histórico
m onopólio do Estado da profissão de advogado, exatamente porque na forma vigente
o Estado tinha o monopólio de bacharéis advogados, provisionados “práticos” (rábulas)
e, inclusive, cobrava taxas de selo e impostos regulares e punia por m eio de juizes.
É claro que esta não é uma simples discussão, especialm ente porque o
a d v o g a d o n ã o d e v e r ia ser fu n c io n á r io p ú b lic o , e m b o r a su a s f u n ç õ e s
historicam ente tenh am sido públicas (exercidas c o m o reco n h ecim en to de
serviços ao rei ou a partes litigantes). N o fundo, no cerne desta discussão - e daí
a insistência de m uitos deputados a favor da cumulatividade de funções públicas
e o exercício da advocacia - está um a discussão sobre a natureza do Estado
m o d ern o , volta d o para a proteção das garantias dos direitos e liberdades
individuais e o estado antigo, voltado para a proteção dos poderes do governante.
Nesta linha, a confusão do advogado com o poder político tem efeito pou co
significativo, porque direitos eram os direitos dos reis e governantes, agora, na
segunda hipótese, os direitos são direitos do cidadão em que o papel do advogado

125
______________ História da
Ordem dos Advogados do Brasil ]
com o jurisconsulto é fundam ental para resguardá-lo da força leviatânica do
Estado, m esm o do Estado m ín im o e m relação ao indivíduo desprotegido.
A importância da Ordem dos Advogados se coloca exatamente neste contexto:
organizar contra o m onopólio do Estado os profissionais comprometidos com a
defesa dos direitos e dos cidadãos. Este novo m odelo de organização da vida civil,
principalmente se manifesta na virada dos anos 1800, imediatamente às conquistas
civis da Revolução Francesa, e, em n osso caso, da independência do Brasil, que,
trouxe n o seu bojo, a difícil articulação entre o Estado autoritário, representado
no poder m oderado (poder real) e os direitos civis, representados pelas garantias
dos direitos individuais e seus primeiros instrum entos processuais.
Aparentem ente a discussão sobre a criação da O rdem seria um a simples
discussão sobre a organização de um instituto c o m finalidades m ais amplas ou
mais restritas. Mas na verdade é um a discussão, em prim eiro lugar, sobre a
natureza e essência da advocacia e, em segund o, é u m a discussão sobre o
fortalecim ento da sociedade em relação ao Estado, é um a discussão sobre a
re d e fin iç ã o d o s d ir e ito s e liberd ad es in d iv id u a is frente o s p o d e r e s d os
governantes. Por estas razões os advogados se organizavam c o m o agentes dos
novos direitos civis consolidados após a Revolução Francesa em relação ao poder
político hipertrofiado dos reis e governantes. F en ôm en o que, n o Brasil, não era
dessem elhante, mas que devido às resistências autoritárias do Estado brasileiro
e seus com prom issos de sustentação jurídica, social e econ ôm ica não prosperou
c o m a vitahdade e o apoio renovador do Estado francês.
Por estas e tantas outras razões é que as d iscu ssõ es sobre o projeto
originariam ente preparado por M ontezum a não prosperou n o senado e foi
adiado na Câmara d os D eputados à espera de arquivamento.

2.3.7. O Adiam ento e o Arquivamento do Projeto Montezuma


na Câmara dos Deputados

O Sr. Paula C ândido (Francisco de Paula C ândido), primeiro-secretário


da Câmara dos D eputados, após as manifestações do últim o orador, conclui:

Sr. presidente, achão-se envolvidos tantos direitos individuaes e sociaes e até


os princípios fundam entaes da nossa constituição neste projecto, que eu na

126
' v 'u lu n 'iu 1 Lü U i |K 'l.i C'ri,u,ri() (■ K i . 's is t r n c i a s

realidade temo que não sefaça mais nada neste anno senão tom ar o tempo
com esta questão, e p o r isso peço o encerram ento d o a d ia m e n to para,
desembaraçados desses tropeços de adiamento, poderm os entrar com vento e
p o pa nesta discussão. (Rtsadas.)
D ando-se p o r encerrada a discussão, é approvado o adiamento. (Ibid.)

Estas palavras finais dão a exata dim ensão d o p osicionam ento da Câmara
dos D eputados sobre o Projeto n° 43, originário d o senado, e prelim inarm ente
preparado no lAB: ficava a matéria adiada dado o volum e de direitos envolvidos
na questão. M u ito s foram os arg u m en to s visíveis, m as a m p líssim a foi a
h e r m e n ê u tic a q ue ju stific o u o s a rg u m en to s c o n trá rio s e as resistên cias
institucionais à criação da Ordem dos Advogados do Brasil.
N ã o obstante, o leque de argum entos resistentes ao andam ento d o projeto
não são bastante, nem profundos, e, na verdade, de superficiais, não se consegue
efetuar um a am pla herm enêutica política ou social.

7 2 7
______________ História da.
Ordem dos Advogados do Brasil

CAPÍTULO III
Os Projetos Nabuco de Araújo e Saldanha M arinho
de Criação da Ordem dos Advogados no Império

o presid en te da OAB, C arvalho M oreira, c o n tin u a n d o n u m a linha


cronológica, ou seja, antes que o parlamento conhecesse o projeto Nabuco de
Araújo e ainda n o ano de 1851,conform e ata de 1 2 d e novem bro de 1 8 51 ,pede
afastam ento da presidência do lAB;

O sr. Presidente communica que se acha nom eado M inistro Plenipotenciario


nos Estaàos-Uniãosy e assim teria de se ausentar d o Instituto em quanto o
Governo se dignasse de conserval-o no serviço do Império. ‘

Desta form a Caetano Alberto Soares^ assum iu a presidência d o Instituto


em 1852, e, em 1853, dois anos depois d os debates descritos anteriorm ente, se
propõe reformular o projeto n° 43 apresentado à Câmara dos D eputados. A ata
do Instituto de 17 de m arço de 1853^ registra:

O Sr. Dr. Perdigão Malheiros, como relator da commissão nom eada para
rever o projeto de lei relativo á organisação da O rdem dos Advogados no
Império, lê o parecer da commissão (...).

‘ R evista do In stitu to dos Advogados Brasileiros (E dição fac-sim ilar d a Revista do In s titu to dos Advogados
Brasileiros - a n o s 1 e II - 1862, 1863). A n o X I - 1977, n ú m e r o especiaJ.
' T erceiro p re sid en te d o lAB. Veja breve bio grafia n o Anexo Especial.
^ Actas das Sessões o u C onfe re ncias d o In s titu to (p a rte segu nda ). Sessão d e 17 d e m a rç o d e 1853. Revista do
In stitu to dos Advogados Brasileiros (Edição fac-sím ilar d a Revista do In s titu to dos Advogados Brasileiros -
a n o s l e I I - 1 8 6 2 . 1 8 6 3 ).A no X I - 1977, n ú m e r o especial.

128
V o k im c 2 I L i ta C r ia ç ã o v R u ^ isiú n cia s

A com issão d o Instituto apresenta seu trabalho aos conselheiros do lAB


que passam as sessões de 7 de abril até 9 de m aio de 1853 rediscutindo o projeto.
As atas d eixam en ten d er que a reform ulação n ão m u d o u o s parâm etros
principais d o projeto n° 43, originária das discussões na Câmara de 1851
(parâmetros contestados pelo deputado Henriques e seus colegas). Em 9 de
m aio de 1853*’ , o projeto é novam ente enviado ao parlam ento imperial.
Em 10 de novem bro de 1853^, após seis m eses da remessa ao parlamento,
o Instituto elege u m a com issão para tratar do projeto com o governo:

Sob proposta do Secretario, é eleita uma commissão composta dos Srs. C. A.


Soares, Octaviano, e Fausto de Aguiar para se entender com o governo sohre
a definitiva organisação da O rdem dos Advogados. N ada m ais houve.

Esforço frustrado, o Projeto n“^ 43 do Senado do Império sobre o Instituto


dos Advogados Brasileiros fm da definitivamente.
Caetano Alberto Soares, em 29 de novem bro de 1853^, resolve, com os
seus, fazer u m novo projeto, presidindo ele m esm o a com issão responsável.

(...) Resolvida a necessidade de se confeccionar um projecto de regulamento


p ara a O rdem dos Advogados, é nomeada a commissão p ara isso composta
dos Drs. Perdigão Malheiros, Cordeiro e Freitas Coutinho, sob a presidencia
do Sr. presidente.

Em 1857, Caetano Alberto deixa a presidência do Instituto sem que tivesse


concluído o trabalho. Em seu lugar entra Urbano Sabino Pessoa de Mello^, que
deixa a presidência em 1861, entrando Agostinho Marques Perdigão Malheiros*
que, por sua vez, sai da presidência em 1866, tom ando p osse José T hom az
Nabuco de Araújo’ .

* Actas das Sessões o u C o n fe re n cias d o In s titu to {parte s egund a ). Sessão d e 9 d e m a io d e 1853. Revista do
In stitu to dos A dvogados Brasileiros (E dição fa c -s im ila rd a R evista do In stitu to das A dvogados B ra sileiros-
a n os I e II - 1862, 1863). A n o XI - 1977, n ú m e ro especial.
* Actas das Sessões o u C onfe re ncias d o In s titu to (p a rte seg u n d a ). Sessão d e 10 d e n o v e m b ro d e 1853. O p .c it.
^ A ctas das Sessões o u C o n fe re n cias d o In s titu to (p a rte segunda). Sessão d e 29 d e n o v e m b ro d e 1853, O p. cit.
' Q u in to p re sid en te d o lAB. Veja breve biografia n o A nexo Especial.
‘ Sexto p re sid en te d o lAB. Veja breve biografia n o A nexo Especial.
®Sétim o p re s id e n te d o lAB. Veja bre v e biog rafia n o A nexo Especial.

•4B 129
______________ H isto ria d a
Ordem dos Advogados do Brasil

3.1. O Projeto Nabuco de Araújo

N abuco de Araújo, antes de ser eleito presidente d o lAB, e ainda Ministro


da Justiça, tem um a iniciativa que ilustra o prestígio que gozava o lAB: apresenta
à Câmara dos D eputados, em 1° de jun ho de 1866, três propostas do m inistro
da Justiça. A primeira é um projeto de lei alterando o processo das fallencias,
estabelecido pelo (...) codigo do comtnercio. A segunda é um projeto de lei sobre
a reforma judiciária. E a terceira é um a proposta creando o Instituto d a O rdem
dos Advogados^°. Essa iniciativa fez o lAB (registrado em ata de 7 de ju nho de
1866) conferir-lhe o título de presidente honorário:

(...) O Dr. presidente declara que o actual Sr. ministro da Justiça, já como
m em b ro d a O rd em dos A dvogados, j á com o ju risc o n su lto distincto, e
u ltim a m en te no alto cargo que exerce de m inistro d a Coroa, tem dado
demonstrações inequívocas de apreço, em que tem o Instituto, e que um a prova
de interesse e favor do mesmo acaba de ser dado p or elle, apresentando á
consideração do corpo legislativo um projetcto d e lei sobre a O rdem dos
Advogados, tendo sido ouvido previam ente sobre tal assempto a Conselho
d'Estado.
Que propõe que o Instituto confira ao actual Sr. ministro da fustiça o título de
seu presidente honorário, havendo já o precedente d e se [sic] hover conferido
igual titulo ao Sr., Visconde de Jequitinhonha [M ontezuma] que, como é sabido,
desde o principio da creação da Ordem, mostrou p o r ella o mais vivo interesse.
A moção é unanim ente approvada.
Levanta-se a sessão ás 8 horas d a noite.''

Este posicionam ento de José T hom az N abuco de Araújo - originário da


magistratura c o m alto conceito de jurisconsulto, sobre o qual foi preparado,
pelo seu filho, Joaquim Aurélio Nabuco de Araújo, u m dos m ais importantes
livros sobre a formação política do Brasil: Um estadista do Império - m ostra
que a consciência esclarecida do Império, se não objetava, estava aberta para a

A nn aes d o P a rla m e n to Brazileiro - C a m a ra d o s Srs. D e p u tad o s. Q u a r to A n n o d a D u o d é c im a Legislatura.


T o m o 2. P residência d o Sr. C am ilo M aria Ferreira A rm o n d (b a rã o d e P rad o s). Sessão d e 1° d e ju n h o de
1866, p . 14 a 21. Rio d e Janeiro. T y p ographia im p e ria l e c o n stitu c io n a l d e J. Villeneuve & C . 1866.
" A ctas d a s C o n fe re n cias d o In s titu to - C o n fe re n cia e m 7 d e ju n h o d e 1866 - p re s id ê n c ia d o D r. Perdigão
M alheiros. {Revista do lA B , 1871 - a n n o IX. t. V III ,n ° 1, ja n . - j u n . , p . 136/137).

130
Volum e 2 Luta pela Criação e Resistências

J o & I T r tO M A Z N a ^ü C -O s t A t^ A ü J O
1 8 6 6 /) 8^-5

lo se T h o m a z N a b u c o d e A raújo , 1866 - 1873.

131
______________ História, da.
Ordem dos Advogados do Brasil

importância e criação da Ordem dos Advogados. A esta época {1864/65) Nabuco


d e Araújo tinha term inado a sua passagem do cam po conservador para o liberal,
marcha que começara desde o Gabinete da Conciliação (1 8 5 3 /5 7 ),o m ais longo
do Império,*^ que possivelm ente em m uito influenciou sua posição e atitude.
Assim, tendo c o m o ilustre elaborador o m inistro da Justiça e em n o m e do
imperador, o segundo projeto de criação da Ordem é apresentado à Câmara
dos D eputados em 1° de junh o de 1866.

Achando-se na sala im m eàiata o Sr. ministro da Justiça, é introduzido com


as formalidades do estylo, toma assento á direita do Sr. presidente, ea h i procede
á leitura das seguintes propostas:
Augusto e digníssimos Srs. representantes d a nação. - D e ordem do S. M.
im perial venho apresentar-vos um a proposta criando o Instituto da Ordem
dos Advogados nas capitaes das provincias onde existem relações.
Esta instituição não é senão o reconhecimento da independencia de tão illustre
profissão.
Com effeito, essa independencia, em relação á autoridade, exige que os
advogados não vivão isolados, m as que constituão um a ordem que se governe
a si m esm o p o r m eio de seus m andatarios, e possa p ela inspecção, pela
disciplina, pela emulação, m anter a honra, a gloria e as tradições dessa
profissão que, como d iz d'Aguesseau, é tão antiga como a magistratura, tão
nobre como a virtude, tão necessaria como a justiça.
A creação dos Institutos dos Advogados, á im itação dos que existem em outros
paizes, é um aprevidencia connexa com a organisação do ministério publico,
cuja proposta tive a honra de apresentar-vos ha poucos dias.
Espero, pois, que tomareis na m aior consideração a seguinte proposta:^^

Após esta apresentação, o m inistro da Justiça, que dali a quatro m eses será
eleito presidente do lAB, faz a leitura do projeto’'*.

N a b u c o d e A ra ú jo liq u id o u o tráfego de escravos africanos in ic ia d o p o r Eusébio d e Q u e iró z , assim co m o


m u ito se p r e o c u p o u c o m as g a ra n tia s ju d iciais da lib e rd a d e in d iv id u a l. Ver Jo a q u im N a b u c o (1849-
1910), M in h a Formação. 10» ed., Ed. U nB: Brasília, 1981.
A n naes d o P a rla m e n to B razüeíro - C a m a ra d o s Srs. D e p u tad o s. Q u a r to A n n o d a D u o d é c im a Legislatura,
t. 2. P residência d o Sr. C am ilo M aria F e rreira A rm o n d (b a rã o de P ra d o s ). Sessão d e 1“ d e ju n h o d e 1 8 6 6 ,
p. 14 a 21. R io d e lan eiro. T y p og raphia im p e ria l e c o n stitu c io n a l d e J. ViDeneuve & C. 1866.
N a b u c o d e A ra ú jo foi eleito p re sid en te d o In s titu to d o s A dvogados Brasileiros e m 18 d e o u tu b r o d e 1866.

132 •Al
V o lu m t-’ 2 L u ta p c l i i C r i a ç ã o e R c ^ i s l c n c i a s

Art. 1 Haverá no districto de cada relação um instituto com o título de -


Instituto da O rdem d os A dvogados Brazileiros com assento na capitai
em que estiver coUocada a relação.
§ 1° Serão m em b ro s d o Instituto to d os q ue n o respectivo districto
exercerem legal e effectivam ente a profissão de advogados.
§ 2° Em cada um a das referidas capitaes será organizado um conselho
co m o título de - C onselho disciplinar e administrativo da ordem dos
advogados o qual será com posto de um presidente, secretario, thesouieiro
e de vogaes na proporção seguinte: doze na côrte, nove nas capitaes das
províncias que tiverem mais de trinta advogados, seis nas que tiverem de
vinte a trinta, quatro nas que tiverem m en os de vinte.
§ 3® N a p rim eira o rgan isação do c o n se lh o o s seu s m e m b r o s serão
nom eados pelo governo na côrte, e presidentes nas províncias, d ’entre os
advogados constantes de um a lista remettida pelos presidentes das relações.
Este conselho durará u m anno contado da sua posse.
§ 4° O rganisado assim o Instituto, a este com pete a escolha d os m em bros
do conselho por eleição biennal, sendo o presidente, secretario e thesoureiro
eleitos por m aioria absoluta, e os vogaes por m aioria relativa.
Os advogados residentes fóra do term o da capital, o u legitim am ente
im p e d id o s , p o d e r ã o votar p o r p ro cu ra çã o dada a a d v o g a d o s qu e
com pareção pessoalm ente, e c o m expressa designação dos advogados em
quem deve recahir o voto para os diíferentes cargos do conselho.
Art. 2° A o Instituto com pete o poder deliberante da O rdem , n o conselho
a adm inistração e jurisdicção disciplinar que esta lei estabelece.
O presidente do conselho é o chefe da Ordem , preside ao Instituto, e o
convoca quando julga [r] conveniente; seu voto no conselho o u no Instituto
é só de desem pate.
§ Os Institutos em seus regim entos internos, que não terão execução
sem approvação do governo, marcará as jóias de entrada para a O rdem e
as contribuições m ensaes dos seus membros; assim co m o as benefíciencias
[sic] que, segundo as circumstancias, terão direito as viuvas descendentes
legaes dos advogados pobres.
Os m esm os Institutos a nenhum a pessoa poderão conferir o título de
m em bro honorário da Ordem.
§ 2® O conselho nomeará em cada comarca, de entre os advogados ahi

•4B 133
______________ História da
Ordem dos Advogados do Brasil

residentes, u m delegado para coadjuva-Io n o d e se m p e n h o das suas


atribuições.
Art. 3° São atribuições do conselho:
§ 1° Inscrever e inspeccionar os bacharéis praticantes.
§ 2° M atricular n os quadros respectivos os advogados e solicitadores
residentes n o districto do Instituto, que tiverem exercício legal e effectivo,
decidindo todas as questões que ocorrerem sobre a matricula.
§ 3° Remetter ao governo na côrte, e aos presidentes nas provincias, assim
co m o as relações, juizes de direito, juizes m unicip aes, juizes de paz e
autoridades policiaes um a Hsta dos advogados e solicitadores matriculados.
Esta lista será tam bém publicada n os jornaes.
§ 4° Exercer a vigilância que a honra e os interesses da O rdem reclamarem,
representando, e pedindo ao governo na côrte, e presidentes nas provincias
as providencias que forem a bem delia.
§ 5° Applicar as penas disciplinares, por esta lei autorizadas contra os
advogados e solicitadores que faltarem aos p rincípios de m oderação,
desinteresse e probidade, sobre os quaes associa a honra d ordem dos
advogados.
§ 6 ° Consultar sobre os casos em que a jurisprudência for duvidosa, assim
com o sobre as questões de direito, a respeito das quaes as pessoas miseráveis
pedirem conselho.
§ 7° Administrar, adquirir e alienar, em n o m e da O rdem .
§ 8 ° São penas disciplinares a advertencia, reprehensão, suspensão por
dous m ezes, m ulta de 50$ a 200$ e exclusão da Ordem.
$ 9° Estas pensas serão im postas administrativamente.
§ 1 0 .A suspensão do exercício, assim com o a expulsão da Ordem, não podem
ser impostas senão com audiência do advogado o u solicitador culpado.
§ 1 1 . D estas duas penas haverá aggravo para a relação.
§ 12. A jurisdicção disciplinar que esta lei estabelece não deroga [sic] a
jusrisdicção c o m m u m quando os factos por sua natureza constituem
crim es previstos pelo codigo criminal.
Art. 4° N in guém poderá exercer a profissão de advogado o u solicitador:
§ 1° Sem estar inscripto o u m atriculado n o s quadros d o Instituto.
§ 2° Sem ter prestado perante o Chefe da O rdem , o u seu delegado, o
juram ento de ser fiel ao Imperador, observar as leis, respeitar os tribunaes.

734 «4B
\'( ) Iu n i( .' 2 L u I,I p u i c i C r i a c . i o c K(.'sistc’ i x ' i a s

e cum prir com zelo e probidade os deveres de advogado.


Art. 5° Só pód e ser inscripto o u matriculado no quadro dos advogados o
cidadão brasileiro graduado em direito pela faculdade do Im pério, ou
graduado em direito pelas universidades estrangeiras approvado pelas
faculdades do Im pério, que tiverem dous annos de pratica da advocacia.
§ 1° A pratica da advocacia consiste na frequencia das audiências; no
exercicio das funcções de solicitador; na accusação o u defesa perante o
jury; no desem penho de algum trabalho determinado pelo chefe da Ordem;
na assistência ás conferencias do conselho disciplinar; n o auxilio prestado
ao advogado em cujo escriptorio praticar; na discussão, perante o Instituto,
de algum a materia designada pelo chefe da Ordem.
§ 2° Fica entendido que a pratica do paragrapho antecedente será feita na
côrte o u capitaes das províncias.
§ 3° Só p o d em ser inscriptos ou matriculados co m o solicitadores bacharéis
graduados em direito, de trata o artigo antecedente.
§ 4° O exercicio de advogado ou solicitador é incompatível:
C o m tod os o s cargos da ordem judiciaria e adm inistrativa de qualquer
natureza que seja, excepto a d in te rim .

C o m o s c a r g o s d e a g e n te s d e c o m m e r c io e c o m a p r o f is s ã o de
com m erciante.
C o m a cura de almas.
§ 5° N ã o p o d em ser advogados ou solicitadores:
Os fallidos co m culpa o u fraude.
Os c o n d e m n a d o s p o r c rim e d e falsidade, perjúrio, p e c u la to , peita,
concussão, prevaricação, furto, roubo, estellion ato, irregularidade de
conducta, m oeda falsa, ou pelo crime do art. 150 d o codigo criminal.'^
O s que tiverem perdido o officio por erro nelle com m ettido.
$ 6 ° N e n h u m advogado assignará requerim entos, m em órias, libellos,
contrariedades, replicas, tréplicas, razões finaes, o u quaesquer outros

o a rt igo 150 d o C ó d ig o C rim in a l te m a seguin te redação; Solicitar ou seduzir m u lh e r que p erante o empregado
litigue, o u esteja culpada o u accusada, requeira ou tenha algum a dependencia: Penas. N o gráo m a x im o -
dezesseis m ezes de suspensão do emprego, além das m ais e m q ue tiver incorrido. N o gráo m éd io - d ez m ezes
de suspensão do emprego, além das m ais e m que tiver incorrido. N o gráo m in im o - q u a tro m ezes de suspensão
idem , idem . Si o q u e ca m m e tte r este crim e fô r ju iz de facto: Penas. D e prisão p o r dous mezes., além das mais
em que incorrer. {]0u \o ^ A raú jo Filgueira (org.). Código C n'm m a/í/o/m pérío<fo flraii/, e d ita d o p o r E dua rd o
e H e n riq u e L a e m m e rt, Rio d e Janeiro, 1876, In: I62.jpg" http://w w w .liphis.com /buscadorcodigo/Files/
p a g in a I62.jpg. Edição E letrô n ic a fac-sím ilar. O rgan iz aç ã o d e Janaina P e rra y o n L o pes (fo to g ra fo u os
o riginais e o rg a n iz o u o léxico p a ra busca) e D u rv a l de Souza Filho c o n c e b e u o s istem a d e busca.

135
______________ História da
Ordem dos Advogados do Brasil

artigos e allegações que forem feitas por outrem , sob pena de suspensão
por seis mezes, e de multa de 100$ pela primeira vez, do dobro pela segunda,
e d e expulsão da Ordem pela terceira.
Nas mesmas multas, suspensões, perda de ofRcio pela terceira vez, incorrerão
os escrivãos que continuarem feitos com vista a advogados que apenas
assignarem e não forem os proprios que tratarem das causas.
§ 7° Nas comarcas em que não houver solicitadores pertencentes ao quadro
do Instituto servirão os que forem provisionados pelo presidente da relação,
sob proposta do chefe da Ordem, perante o qual os pretendentes farão exames.
Ficão mantidas as provisões dos advogados e solicitadores não formados
por to d o o tem po pelo qual forão ellas concedidas.
§ 8 ° Os escrivães e secretários dos tribunaes não confiarão autos, sentenças,
o u outros papes judiciários, nem subm inistrarão inform ações sobre os
seus term os, senão ás próprias partes, o u n o s procuradores por ellas
constituídos, e que exercerem as funcções de advogado ou de solicitadores
na form a desta lei.
§ 9^ Serão inviolavelm ente cum pridas as obrigações das leis vigentes,
relativas ás obrigações dos advogados e solicitadores, as quaes serão
transcriptas n o regulam ento que o governo der para execução desta lei.
As m ultas im postas pela lei vigente ficão elevadas ao triplo, m as não
excederão a 200SOOO.
§ 10. Pela matricula do advogado, n o quadro do Instituto, será devido o
em o lu m en to a 20 $0 0 0 .
Pela matricula d o solicitador, lOSOOO.
Pela provisão de advogado o u so licita d o r n ã o graduado em direito,
conform e o $ 7*^, pagará aquelle 50$ e este 25$000.
As multas em que incorrerem os advogados e solicitadores, e o em olum ento
da matricula e provisões farão parte da renda do Instituto.
Art. 6° As partes não podem constituir nas causas civis senão os advogados
ou solicitadores inscriptos nos quadros do Instituto o u provisionados pelo
presidente da relação.
§ 1° Nas causas crimes perante o jury a parte pôde livremente constituir a
pessoa em quem tiver confiança.
§ 2° N enhum réo, sob pena de nullidade, será condem nado sem ser assistido
por u m advogado nom eado pelo presidente d o jury, se a parte o não escolher.

136 « ▲I
V o lu m e 2 L u ta p e l a C riv it^ ào c R e s i s tê n c i a s

Para a n om eação do juiz se entenderá com o chefe da O rdem o u com o


seu delegado.
§ 3° N ão póde o advogado inscripto nos quadros do Instituto recusar seu
m inistério co m o curador nas causas eiveis, o u com o defensor nas causas
crimes, pena de desobediencia.
§ 4° A defesa é livre n o crime ou no civel, com tanto que o advogado respeite
a lei, a ordem publica, e os bons costum es.
As injurias escriptas pelos advogados serão riscadas por ordem do juiz.
A transgressão da clusula [clausula] da primeira parte deste paragrapho e
as injurias verbaes sujeitão o advogado á advertencia, á suspensão por
quinze a sessenta dias, im postas pelos juizes e presidentes dos tribunaes.
§ 5° Ficão m antidas todas as honras e prerrogativas de que actualm ente
gozão os advogados.
Art. 7° O governo dará os regulamentos necessários para execução desta lei.
Art 8° Ficão revogadas as leis em contrario. - José T h o m az N abuco de
Araújo.'^

Ao fim da leitura, o presidente da Câmara’^ declara que (...) tom ará na


devida consideração as propostas do po d er executivo. O m inistro se retira e as
propostas são remettidas ás commissões respectivas.'^
Esta especialíssim a posição, originária d o interior d o Estado im perial,
ouvida previam ente no C onselho de Estado, dem onstra que havia abertura no
Im pério para se alcançar estes efeitos, m uito em bora não se possa deixar de
debitar estes resultados a N abuco de Araújo, respeitabilíssima personagem do
Império. Ele pretendia um a Ordem que se governasse a si m esm a pelos seus
mandatários e que tivesse poderes disciplinares para evitar a decadência da
profissão de advogado, que, de tão antiga e prestigiosa, deveria m anter suas
honras e glórias. O discurso de apresentação foge dos tradicionais arrazoados
contra a Ordem que preferiam ver os advogados desorganizados e sujeitos ao
Estado.

A n n a e s d o P a rla m e n to B razileiro - C a m a ra d o s Srs. D eputad os. Sessão e m 1° d e ju n h o d e 1866. O p . cit.


C am ilo M aria Ferreira A rm o n d , b a rã o de P rad o s, d ep ois v is co n d e d e P ra d o s e c o n d e d e P ra d o s (Veja
“G aleria d o s P residentes d a C â m a r a d o s D e p u ta d o s ” In; w v m .ca m a ra .g o v .b r).
'* A nnaes d o P a rla m e n to B razileiro - G am ara d o s Srs. D eputados. Sessão e m 1° d e ju n h o d e 1866. O p. cit.

137
_ — _______ Histórialda.
Ordem dos Advogados do Brasil

3 .2 . Análise Com parativa entre os Projetos M ontezum a e


Nabuco de Araújo

C om parando os dois projetos, este de 1866 e o de 1 8 5 0 /I8 5 1 ,a s diferenças


são poucas. A lguns artigos novos, um a nova redação detalhando certos pontos,
m as n en hum dos argum entos do Sr. Henriques m u d o u a essência do projeto.
Há, entretanto, u m artigo, que o projeto anterior não tinha:

Art. 6 ")As partes não podem constituir nas causas civis senão os advogados ou
solicitadores inscriptos nos quadros do Instituto ou provisionado pelo presidente
da Relação
§ 2°: Nenhum réo, sob pena de nulidade, será condemnado sem ser assistido por
um advogado nomeado pelo presidente do jury, se a parte o não escolher. Para a
nomeação o ju iz se entenderá com o chefe da Ordem ou com o seu delegado.

O dispositivo citado lembra a futura assistência judiciária que será prestada


p elo lAB co m o u m a das suas atribuições estatutárias, regulam entada pelo
Decreto n° 2.457, de 8 de fevereiro de 1897^° que se prenuncia neste projeto de
criação da Ordem.
C ontudo, se o § 2° do art. 6 ° acima citado lem bra a assistência judiciária,
te m o s que observar que é so m en te isto que o d isp o sitiv o parece ser, um
prenuncio. Já o D ecreto Francês (op. cit.) - de o n d e veio a inspiração e o m odelo
do projeto de 1851 56 anos antes era explícito;

24. O conselho de disciplina fará o necessário para a defesa dos pobres, pelo
estabelecimento de um escritório de consultoria gratuita, que se form ará uma
vez p or semana.
A s causas que esse escritório acreditará justas, serão p o r ele enviadas, com o
seu parecer, ao conselho de disciplina, que as distribuirá aos advogados, por
turno d e função.
Q ueremos que o escritório tenha a m aior atenção a essas consultorias, afim
de que elas não se tornem um assunto vergonhoso que impeça seu reembolso
das despesas da instância.

A nnaes d o P a rla m e n to B r a z i le i r o - C a m a ra d o s Srs. D ep utad os. Sessão e m 1° d e ju n h o d e 1866. O p . cit.


Revista L E X, A c io s d o P o d e r Executivo, p. 84 a 90. D ecreto n® 2.457, d e 8 d e fevereiro d e 1897: "O rganisa a
A ssistência ludic ia ria n o D istricto F ederal”.

138
V o lu m e J I uta pcKi ( ' l i j c à o (' K ( s is ! r n ( las

O sjovens advogados adm itidos no estágio deverão comparecer pontualm ente


as assembléias do escritório de consultoria.
Encarregamos expressam ente nossos procuradores de velar especialm ente
pela execução deste artigo, e indique, ele mesmo, as junções necessárias
àqueles ad vo g ad o s que d e v o ta d a m e n te p a rtic ip e m d a s assem bléias do
escritório, em observação, entretanto, que se po d erá m a n ter os advogados
em torno da questão.

C o n tin u a n d o nossa análise, ob servam os que tanto o projeto de 1851


quanto o de 1866 reconheciam o s direitos adquiridos d o s ad vogados sem
form ação acadêm ica (os rábulas), sem, contudo, deixar de tentar regulam entá-
los.^' O projeto de 1866 diz em seu art. 1°, § 1°: Serão m em bros do Instituto
todos que no respectivo districto exercerem legal e ejfectivamente a proftssão de
advogado. O bserve que o artigo 1^ d o projeto de 1851 só tem a palavra
legalmente’) já este, de 1866, acrescenta o effectivam enté\ E ntendem os aqui
que o “efetivam ente” é sin ôn im o de real, de realidade, ou seja, a palavra significa:
Serão m embros do Instituto todos que no respectivo disctrico exercerem legal e (na
prática, na realidade cotidiana) a profissão de advogado. Este reconhecim ento
dos advogados sem formação, mas que conquistaram o posto profissional através
do efetivo exercício, é am plam ente abordado ao lo n g o dos dois projetos. Desde
que provisionados e inscritos na Ordem , são reconhecidos tod os o s direitos,
tanto do advogado não form ado quanto do solicitador. O projeto de 1866
explicita n o seu art. 5°, $ 7°: ... Ficão m antidas as provisões dos advogados e
solicitadores não form ados p o r todo o tem po pelo q u a lfo rã o ellas concedidas. E o
projeto de 1851 tam bém deixa claro:

Artigo 12°. Os advogados não graduados gozarão de todas as prerrogativas,


isenções e privilégios que nas leis não forem expressamente concedidos aos
Doutores, em cuja generalidade são comprehendidos os bacharéis formados.^^

C o m o já dissem os, rá b u la p o d e ser e n te n d id o c o m o o ad vo g ad o nSo g ra d u a d o e /o u n ã o p ro v is io n a d o ,


e n tre ta n to , o e n te n d im e n to p o d e e deve ser a m p lia d o , po is rábulas (c o m o c o n s ta ta m o s n a le itu ra das
legislações d a é p o c a ) ta m b é m e ra m os que, g ra d u a d o s e m o u tra s áreas, ad v o g av a m e a d v o g av a m d e n tro
da lei, o u seja, p ro v isio nados.

•At 139
______________ Históriaxla
Ordem dos Advogados do Brasil

Nas muitas sem elhanças entre os dois projetos, existe um a que deve ser
ressaltada: art. 18 do projeto de 1851 e art. 5°, § 7° do projeto de 1866:

Artigo 18 H um anno depoes d a promulgação desta Lei só poderão obter


Provisão de solicitadores os cidadãos Brazileiros, maiores de vinte e cinco
a n n o s, e b e m morigerados^^ que fo rem en ca m in h a d o s e p le n a m e n te
approvados pelo Conselho Disciplinar e A dm in istrativo do districto, em que
residirem, ou p o r Advogados nom eados pelo m esm o Conselho. O exame
versará sobre tudo o que fo r concernente ao processo civil e crim inal de
prim eira e segunda Instância, tanto nofóro com m um , como no privilegiado,
qualquer que seja a sua natureza. Serão isentos de exame os graduados em
Direito pelas Academias do Império}^

O projeto de 1851, propunha u m exam e da Ordem. Mas observe que o


exam e não é para o s advogados, mas para os procuradores judiciais e para os
solicitadores, e mais, para os procuradores e solicitadores que fossem graduados
fora do Império, ou seja, graduados e m outro país.
Ainda que não com a m esm a clareza, o projeto de 1866 tam bém propõe
u m ex a m e para o s so licita d o res, sob a resp o n sa b ilid a d e da O rd em dos
Advogados, n o seu art. 5°, que trata das inscrições e matrículas no quadro da
Ordem:

$7" Nas comarcas em que não houver solicitadores pertencentes no quadro


do Instituto servirão os que forem provisionados pelo presidente da Relação,
sob proposta do chefe da Ordem, perante o qual os pretendentes farão exam eP

É fundam ental ressaltar que o exam e para advogar já era previsto m uitos
a n o s antes pela Lei de 28 de setem bro d e 1828^® q u e em seu art. 2°, §7°

C D -R O M C â m a ra dos D epu tados: C e n tro de D o c u m e n to s e In f o rm a ç õ e s -C O A R Q : Seção d e D o c u m e n to s


H istóricos. “P ro p o siç ã o d o S e n a d o c ria n d o em cada u m a das Relações d o I m p é rio o ‘In s titu to da O rd e m
do s A d v ogados’. 5 de ju lh o d e 1851”. Brasília, abril de 2003.
" Morígerado: Q u e te m b o n s co stu m e s o u v id a exem plar. H o la n d a, A urélio B u arq u e de, D ic io n á rio Aurélio
d a língua p o rtu g u e s a .
C D -R O M C â m a ra d o s D epu tad o s: C e n tro de D o c u m en to s e In form ações - C O A R Q : Seção d e D o c u m e n to s
H istóricos. O p . cit.
A nn aes d o P a rla m e n to B razileiro - C a m a ra d o s Srs. D e p u tad o s. Q u a r to A n n o d a D u o d é c im a Legislatura,
t. 2. Presidência d o Sr. C am ilo M aria Ferreira A rm o n d (barão d e P ra d o ). Sessão d e 1®d e ju n h o d e 1866,
p. 14 a 21. Rio d e Janeiro. T y p og raphia im p e ria l e c o n stitu cio n al d e J. V illeneuve & C . 1866.

740 «ál
V o lu m e 2 Lula p c lc i C t ia u t o o Rcslsrencias

determinava: com pete aos presidentes das Relações conceder licença, m ediante
exame, p a ra que advogue hom em não form ado, nos lugares onde houver fa lta de
bacharéis form a d o s (...)•
A diferença entre o s projetos e a lei é que esta tratava dos que queriam
advogar, e o s projetos propu nham que tam b ém o s solicitadores prestassem
exam es para exercer a função. D ispositivo que não existia na legislação, já que
o D ecreto n° 358 de 21 de dezem bro de 1844^^ (c o m a ementa; O rden a que os
solicitadores do num ero, continuos e oficiaes de ju stiça das Relações sejam
providos pelos presidentes das mesmas relações) som ente definia com o exigência:
asprovanças de idoneidade na form a das leise, claro, o p agam ento das taxas ao
governo.
A inda analisando com parativam ente os projetos de 1851 e o de 1866,
devem os tam b ém ressaltar a questão das incom patibilidades entre o exercício
da advocacia e certos em pregos e /o u funções. N o projeto de 1866, a relação
dos em pregos e fu nções incom patíveis com a advocacia é b em m en o r do que
n o projeto de 1851, acrescido de um detalhe: a in com p atibilidade entre o
advogado e o solicitador, que o Sr. H enriques c o n d en o u n o projeto de 1851,
não se encontra n o projeto de 1866. É im portante, tam bém , ressaltar que a
incom patibilidade da advocacia co m certos cargos e fu nções não era um a
novidade legislativa trazida p elo projeto de 1851, c o m o , talvez, deixe entender
as críticas feitas p elo Sr. H en riques e seus colegas deputados.^® Todavia,
ressalte-se que a legislação, ao lo n g o dos oitenta e sete anos de luta para criar
a O rdem dos A dvogados (1 8 4 3 /1 9 3 0 ), estabelecia que certos cargos e funções
não deveriam ser acu m ulados c o m o exercício da advocacia. Esta leitura, que
se verifica inclusive nas O rdenações, é anterior à data do prim eiro projeto de
criação da O rdem , basta que se observe o Aviso n° 62 do m inistro d a Justiça ao
presidente da província de M inas Gerais de 2 8 de agosto de 1843 qu e declara
que aos juizes não é p e rm itid o o exercício da advocacía^"^. Ou^ ainda, a

C oleção das Leis d o Im p é rio d o Brasil (1822-1889), t. VII, p a rte II, secção 42, p. 266.
Coleção das Leis d o Im p é rio d o Brasil (1822-1889), Decisões, t. VI, p a rte 1,1844, p, 266.
A q u estão das in c o m p a tib ilid a d e s é ta m b é m u m d isp ositivo p re sen te n o d e c re to francês, c o m o já tiverm o s
a o p o r tu n id a d e d e m o s tra r: Art. 18. A profissão de advogado é incom patível: l" corn todos os cargos da
ordem judiciária, exceto aquela de suplente; 2° com as funções de p refeito e de subprefeito; 3° com aquelas de
oficial, de n otório e d e procurador judicial; 4° com os empregos de penhores e aqueles de agente contábil; 5 “
com todas as espécies de negócio. São excluídas q uaisquer pessoas que fiz e re m trabalho d e ag ente de afazeres.
C oleção das Leis d o Im p é rio d o Brasil (1822-1889), t. VI, 1843, p. 79-80.

141
______________ História da
Ordem dos Advogados do Brasil

Decisão n° 130 do Ministério da Fazenda de 30 de setembro de 1847, [que


diz que] o exercício dos empregos de escrivão, de coletor geral e provincial,
conjuntam ente com o oficio de advogado e solicitador, ou escrivão de camara
m unicipal é incompatível?^

D o p on to de vista analítico, este projeto de 1866 evoluiu para esclarecer a


obscura situação dos "rábulas”, solicitadores e dem ais “práticos” que, parece,
representavam grande resistência à organização da Ordem , que, na form a da
leitura aparente dos textos, pretendia excluí-los. Assim com o, o fato d o projeto
incentivar os exam es de qualificação, o u autorização de delegado da Ordem ,
contribuía para evitar a degeneração inteiectiva da profissão, de certa form a
reconhecendo o poder dos bacharéis form ados e doutores jurisconsultos.
Portanto, este projeto representou u m avanço conjuntural o u ao nível das
negociações, con tu d o as resistências institucionais, c o m o tem os m ostrado, não
estavam apenas ao nível conjuntural, m as, tam bém , ao nível estrutural, o u seja,
poderiam reverter o papel d os agentes sociais e do próprio Estado insensível à
reversão dos seus próprios fundam entos, autocráticos e patrimoniais.

3.3.A Petição do lAB à Câmara dos Deputados em 1869

O projeto N abuco de Araújo, quase três anos depois de sua apresentação,


continuava na Câmara dos Deputados sem que houvesse qualquer decisão sobre
ele. Em 10 de agosto de 1869, o Instituto, agora sob a presidência do ex-m inistro
da Justiça José T h om az N abuco de Araújo, que encam inhara o Projeto d e 1866
no parlam ento, redigiu um a petição para a Câmara d os Deputados,^* em que
solicitava qu e fosse dado andam ento às discussões sobre o projeto de 1866.

Secretaria d o Instituto dos Advogados, 10 de A gosto de 1869.


A ugustos e D igníssim os Senhores Representantes da Nação.

O Instituto d os Advogados Brasileiros, que tem a sua sede nesta Corte,


vem , respeitosam ente, em virtude de deliberação tom ada e m conferência
de 2 do corrente, pedir a esta A ugusta Câmara a segunda o u terceira

C o leção das Leis d o Im p é rio d o Brasil (1822-1889), Decisões, t. X, 1847, p. 201-202.


C â m a ra d o s D e p u ta d o s , Seção H istó ric a , D iretoria d e A rquivos. ________ _________________ _______

142
V (jIl]iiu ' 2 1 L iL i p c l i i C j i . K c U ) ( ’ K o ^ i s l r m . i a s

discu ssão do projeto sobre a organização da O rdem d os A dvogados,


projeto, que, iniciado no Senado, discutido e aprovado há mais de dois
anos, foi enviado a esta Augusta Câmara, onde, depois de um a o u duas
discussões, não teve andam ento.
A necessid ad e de organização da O rdem é. A u gustos e D ig n íssim o s
S en h o r e s R ep resen tan tes da N ação, in fin ita m e n te urgen te; está na
consciência púbHca e tem sido reconhecida pelos Poderes Executivo e
Legislativo por atos seus à respeito. E ,com efeito, a organização da O rdem
dos A dvogados im porta a ordem do Foro para a boa adm inistração da
Justiça, - e nada de salutar se poderá obter sem m edidas legislativas que
elevem a classe dos Advogados, auxílio indispensável à adm inistração da
Justiça, a altura que é mister, de m o d o a constituir um a corporação, cuja
im portância tem sido reconhecida pelas N ações antigas e m odernas, e que
[velel [a] b em da ordem e da moralidade.
O Instituto, portanto, nutrindo robusta confiança no decidido patriotismo e
sabedoria dessa Augusta Câmara, pede que acolha benignamente a sua súplica.
E R. Mcê.
Rio de Janeiro, 10 de agosto de 1869.
O Presidente José T hom azN ahuco de Araujo.
O Secretário José Figueiredo de Andrade.

Apesar deste insistente apelo, todavia, e lamentavelmente, m esm o com o explícito


e originário apoio do ministro da Justiça, à época, agora presidente do lAB, o Instituto
não obteve a almejada movimentação das frações conservadoras da câmara.
D e qualquer forma, no docum ento originário do lAB, verifica-se, claramente,
o insistente posicionam ento sobre a importância da OAB para a administração
da justiça e a prestação do serviço jurisdicional. O que se verifica é que o papel da
OAB já agora não se circunscrevia a uma articulação corporativa, m as mostrava-
se necessária à funcionalidade judiciária e à ordem do foro.
Os estudos sobre o funcionam ento do Poder Judiciário^^ nesta época (anos
de 1860/70) d em on stram que a organização judiciária era a bsolutam ente
precária para garantir as liberdades individuais e garantir um a magistratura
independente. A subordinação da magistratura aos poderes políticos ampliavam
as suas dificuldades para m anter u m processo lím p id o de decisões.

" Ver A r a ü i o , Rosalina C o rrê a de. O Estado e o Poder Judiciário no Brasil. 2 ' ed.. R io d e lan eiro; L u m e n lu ris,
2003._______________________________________________________________________________________________

143
______________ História da
O rdem dos Advogados do Brasil

A liás, para m anter a discu ssão de u m a p ersp ectiv a ex clu siv a m en te


estrutural, o papel do C onselho de Estado (que fora extinto pelo Ato Adicional
de 1834 e restaurado em 23 de novem bro de 1841,Lei n° 234), órgão de consulta
obrigatória do imperador, no uso de suas atribuições de poder moderador, tinha
profundos efeitos sobre o funcionam ento do Judiciário. A lém das atribuições
originariam ente constitucionais^^ com petia ao C on selh o de Estado - cujos
m em bros eram n om ead os pelo imperador, que podia avocar os assuntos de
interesse do Estado - julgá-los.
N este con selh o atuavam os “advogados do C o n selh o ”, nom ead os pelo
imperador. As com petências do conselho eram fixadas pela Lei 234 de 1841
e eles podiam assinar petições e razões, selecionar assuntos da com petência do
conselho, colaborar em assuntos da adm inistração pública, elaborar projetos
de leis, uniformizar a interpretação e aplicação das leis administrativas.
Por outro lado, para m elhor explicitar a questão, n o C onselho de Estado
funcionava o poder administrativo, que, na prática, era o órgão principal para
avaliação das questões de caráter político e adm inistrativo do Estado. Este
C onselho, na verdade, permeava a vida judiciária brasileira e dava aos seus
a d vogad os p oderes especia líssim o s. M uitos são o s autores qu e afirm am ,
inclusive, que este C onselho (poder adm inistrativo) substituía em m uitas
situações o Poder Judiciário, porque julgava conflitos contenciosos, fazia o
controle da legalidade dos atos do Estado e coibia os abusos, as arbitrariedade e
ilegalidades da administração.
O que se afirma é que estes poderes se justificavam pela om issão e ausência
do Poder Judiciário, m as na verdade, co m o ocorre nas autocracias, o mais
provável é que pela extensão de suas com petências e a força do poder moderador
que 0 presidia, ele im pedia e dificultava o Poder Judiciário de cum prir sua
própria missão, o que esvaziava a grandeza do papel dos advogados nas Relações
e nas instâncias originárias e fortalecia o papel dos “advogados de Estado” ou
provisionados, os advogados imperiais que, na form a das exigências legais, não
necessariam ente eram bacharéis e m Direito.
Rosalina Correa de Araújo afirma que

0 controle da legalidade dos atos adm inistrativos deveriam fica r a cargo


dos tribu n ais judiciários, p o is o contencioso a d m in istra tiv o d o m odelo

F. p o s te r io rm e n te re c o n h ec id a peJa Lei n ° 234/1841.

144 9àM
V olum e 2 l.uLi pe l.i CricKiU) 0 Ki'SistciK.ins

im p e r ia l não era senão um a u su rpação d e c o m p e tê n c ia s d a ju stiç a


ordinária.^'*

Estas observações inclinam -se para dem onstrar que a criação da Ordem
dependia m esm o da redefinição do Poder ludiciário, assim com o da própria
estrutura decisória do Estado brasileiro.

3.4. O Projeto Saldanha M arinho

Em 1873, José T hom az Nabuco de Araújo deixa a presidência d o Instituto


ficando em seu lugar Joaquim Saldanha M arinho^^ Sob sua presidência é
redigido e aprovado o Estatuto d o Instituto de 6 de m arço de 1877.^^ Mais
específico e detalhado que o de 1843, com oito artigos, este tinha trinta e quatro,
explicitando inclusive que a finalidade do lAB continuava a m esm a; ...organisar
a O rdem dos Advogados....
Saldanha M arinho em 1880, agora tam bém deputado, apresentou o terceiro
projeto de lei para a criação da OAB preparado pelo lAB, que, na Câmara dos
Deputados, recebeu o n úm ero 95. Leia-se o seguinte n o s Annaes de 2 0 de
agosto de 1880;^®

O Sr. Saldanha M arin h o (pela ordem ) p e d e a palavra p a ra offerecer á


consideração da casa um projeto relativo á organisação do instituto d a ordem
dos advogados e elaborado pelo mesmo instituto, projecto que na qualidade
de representante d a nação, apresenta, como presidente daqueüa associação....

O deputado e presidente do lAB faz um adendo, em que parece querer se


prevenir da já conhecida resistência dos seus colegas deputados:

A ra ü io >Rosalina C o rre a d e . “ Rui B arbosa c as q u e stõ e s c o iis litu d o n a ís essenciais d o p o d e r ju d ic iá rio na


R ep ública” in: fiirisPoiesis, Rio d e Janeiro, a n o I, n ° 1, 1999, p, 104.
O ita v o p re s id e n te d o lAB, Veja b re v e b iog ra fia n o A nexo Especial.
Coleção das Leis d o Im p é rio d o Brasil (1822-1889). Actos d o P o der Executivo, t. XVI, 1877, p. 591-599.
T a m b é m presidiu, e n tre os a n o s d e 1866 e 1867, a C â m a ra dos D e p u ta d o s (G aleria dos P residen tes da
C â m a ra d o s D e p u ta d o s , w w w .cam ara.gov .br),
A nnaes d o P a rla m e n to Brazileiro - C â m a ra dos Srs. D eputad os. Terceiro A n n o d a d e cim a setim a legislatura.
Sessão d e 20 d e agosto de 1880. P residencia d o Sr. C am ilo M aria F e rreira A im o n d (V isc o n d e d e P rados);
“S aldanha M a r in h o a p re se n ta p ro je c to d e lei (n® 95), su bsc rito ta m b é m p o r B aptista Pereira, v isan d o a
crea<;ão d a O r d e m ”, t. U l, p. 334 a 336. R io d e Janeiro. T ypografia N a cio n a l - 1880.

#àm 145
______________ H istória da
O rdem dos Advogados do Brasil

JoA Q o'M SalBANm* MaÍIINHO


1873/ '692

lo a q u im S a ld a n h a M a r in h o , 1873 - 1892.

146 GAB
I iil.i p f l . i (’ K t^ - is lrix i.is

... Observa [e-se] que as iàéas contidas no projecto são absolutamente aceitaveis,
embora ao depois seja elle concertado como parecer á camara. Em todo o caso,
cumpre que alguma providencia seja tom ada neste sentido... (Ibid.)

Os dois debates anteriores, de 1851 e o de 1866, deixaram marcas fortes


n o Instituto, que são expressas, por seu presidente-deputado, em form a de
críticas aos congressistas:

...n ã o q u e te n h a esp era n ça s d e ver o p ro je c to a d o p ta d o ou m esm o


d iscu tid o , e, ao contrario, crê que elle irá a v o lu m a r a in d a m a is a p a sta
d a s com m issões, o n d e o p ro jecto de casam en to civil, e ta n to s o utros que
c o n têm im p o r ta n tís s im a s idéas de elevado alcance social, a té hoje não
m ereceram a attenção, nem d a s illustres com m issões, nem d o g overn o
im p eria l. (Ib id .)

Assim co m o o projeto anterior, este tam bém é som ente lido, não há debate.
Veja a integra d o projeto:

Projecto 1880 - N . 95

A assembléa geral resolve:

Art. 1° As profissões de advogado e solicitador constituem um m unus


publico que só p ode ser exercido pelos cidadãos brazileiros.
Art. 2® A s duas profissões são distinctas e n ã o p o d e m ser exercidas
cum ulativam ente.
Art. 3° O exercício de am bas é incompatível:
1° com qualquer cargo judiciário, eclesiástico e adm inistrativo, excepto
c o m o de professor de direito de qualquer estabelecim ento de instrucção
superior.
2° com a profissão de com m erciante e de qualquer agente de com m ercio.
N ã o são com prehendidos nas incom patibilidade as funcções publicas de
eleição popular.
Art. 4° N ão pod em ser advogado e solicitador:
1° Os co n d em n ad o s por crim e de falsidade, perjúrio, peita, suborno,

9àM 147
_____________ Kistóría_da,
O rdem dos Advogados do Brasil

prevaricação, fiirto, roubo, estelionato, hom icídio, infanticidio, offensas


p h y s ic a s gra v es, q u e b r a c u lp o s a o u f r a u d u le n t a , m o e d a fa lsa e
irregularidade d e conducta;
2 ° O s q ue tiverem perdido o offício por erro n elle com m ettido.
Art. 5^ Os advogados e solicitadores inscriptos têm o direito de exercer
indistinctam ente a profissão perante tod os os juizes e tribunaes, ainda
m esm o os de caracter administrativo.
Art. 6° A data da inscripção n o livro da matricula estabelece a antiguidade
entre os advogados que pertencerem ao m esm o instituto.
Art. 7° N ingu ém poderá exercer a profissão de advogado o u solicitador
sem estar inscripto nos quadros do instituto.
Art, 8° As partes não p o d em constituir nas causas eiveis o u crim es senão
a d vogad os o u solicitad ores inscriptos n o s q uadros do in stitu to , o u
legalmente provisionados nos casos e pelo m o d o por que esta lei o permitte.
Paragrapho unico. Nas causas crimes perante o jury a parte póde livremente
constituir a pessoa em que tiver confiança.
Art. 9° Para ser inscripto no livro da matricula dos advogados é necessário:
1° Ser g radu ado em direito por qualquer facu ld ade d o Im p ério o u
universidade e academia estrangeira, tendo sido approvado em exame feito
perante qualquer faculdade do Império.
Este exam e consistirá nas m esm as provas pelas quaes passa o bacharel em
direito que aspira o graú de doutor.
2° Provar que está isento de culpa e pena.
3° Ter exercido por tres annos as funcções de solicitador, freqüentando as
audiências dos juizes e tribunaes.
Art. 10. Para ser in scrip to no livro da m atricula d o s solicitadores é
necessário que o aspirante prove os requisitos dos ns. 1 e 2 do artigo
precedente.
Art. 1 1 . 0 solicitador que contar tres annos de exercício póde passar para
a classe dos advogados, si requerer a sua transferencia.
Art. 12. A petição para a inscripção n o livro da matrícula será dirigida ao
c o n s e lh o da ordem , in stru íd a c o m d o c u m e n to s q ue p ro v em que o
peticionario está nas condições de ser inscripto.
A decisão do conselho recusando a inscripção deve ser m otivada, e delia
cabe o recurso de aggravo para a relação.

148 OAI
V o ksiiK ' 2 1III,] pel,I Criatcit) o Kcsislcncias

Art, 13. Haverá n o districto de cada relação u m instituto co m o titulo


Instituto d a ordem dos advogados, co m assento na capital ond e estiver
coUocada a relação.
§ 1" Serão m em bros do instituto tod os que nos respectivos districtos
exercerem legal e effectivam ente a advocacia.
§ 2'* Em cada um a das referidas capitaes será organizado um conselho
c o m o titu lo - C o n selh o adm inistrativo e disciplin ar da ordem dos
advogados, - o qual será com posto de um presidente, um secretario, um
thesoureiro e vogaes, na proporção seguinte: vinte na côrte, nove nas
capitaes que contarem m ais de trinta advogados, e cinco nas outras.
O nde, p orém , o num ero de advogado em exercido não chegar a dez, os
existentes serão inscriptos no livro da matricula do instituto m ais proximo,
designado pela relação.
Art. 1 4 . 0 conselho nom eará em cada comarca, d ’entre os advogados ahi
r esid en tes, u m d e le g a d o para coa d ju v al-o n o d e s e m p e n h o de suas
atribuições.
Art. 15. Cada instituto terá dous livros de matricula, em um dos quaes se
hão de inscrever os advogados e n o outro os solicitadores.
Art. 16. A inscripção com pete ao conselho adm inistrativo disciplinar, o
qual, n o fim de cada anno, procederá a revisão do livro da m atricula dos
advogados e solicitadores, e á renovação do m esm o com as alterações e
additam entos que occorrerem.
Art. 17. Só o s advogados que contarem m ais de 10 annos de exercício
p o d em ser m em bros d o conselho administrativo disciplinar.
Art. 18. N a primeira organização dos institutos os m em bros do conselho
serão n o m e a d o s p e lo s presid en tes das relações. O s m e m b r o s assim
nom ead os escolherão d ’entre si o presidente, o secretario e o thesoureiro,
e todos servirão por um anno.
Art. 19. O rganizados pelos respectivos con selhos os institutos, a estes
com p ete eleger o seu conselho administrativo disciplinar, cujos m em bros
servirão por um biennio, sendo o presidente, secretario e thesoureiro eleitos
por m aioria absoluta e os outros por m aioria relativa.
Paragrapho unico. Todos p o d em ser reeleitos.
Art. 20. Ao instituto com p ete o poder deliberante da ordem; ao conselho
administrativo disciplinar a administração e jurisdicção que a lei estabelece.

749
______________ História da
O rdem dos Advogados do Brasil

Paragrapho unico. O presidente do conselho é o chefe da ordem; preside o


instituto e convoca-o quando julgar conveniente; tem vo to de qualidade
n o conselho e n o instituto.
Art. 2 1 . 0 instituto trabalhará sempre em sessão geral; com pete-lhei
I. Promover, por todos os m eios ao seu alcance, o estudo da jurisprudência;
II. Eleger o conselho administrativo disciplinar;
III. Deliberar contribuições extraordinarias;
IV. Tomar contas annualm ente ao conselho adm inistrativo da gestão
econom ica.
Art. 22. São attribuições d o conselho:
I. M atricular n o s quadros respectivos os a d vo g a d os e solicitad ores,
residentes n o districto d o instituto, que tiverem exercício legal e effectivo,
decidindo as questões q u e ocorrerem sobre a matricula;
II. Remetter anualm ente ao governo, ás relações, e a todas as autoridades
judiciarias e policiaes, um a lista dos advogados e solicitadores matriculados;
III. Exercer a vigilância que a honra e o s interesses da ordem reclamarem,
representando e pedindo aos poderes com petentes providencias a bem
delia;
IV. Applicar as penas disciplinares que esta lei estabelece aos m em bros da
ordem e solicitadores, e form ado o respectivo processo ex-officio o u por
queixa da parte offendida, ainda que não seja m em bro d o instituto;
V. Administrar, adquirir e alienar em n o m e d o instituto;
VI. Consultar sobre os casos em que a jurisprudência for duvidosa, assim
c o m o sobre questões de direito, não pendentes dos tribunaes, a respeito
das quaes as pessoas miseráveis pedirem conselho;
VII. Intervir e resolver, sendo para isso requerido, as contestações que se
suscitarem entre os advogados, solicitadores e clientes, o u entre advogados
e advogados, solicitadores e solicitadores, ou tenham por m otivo restituição
de d ocu m en tos o u pagam ento de despezas e honorários.
Art. 23. As penas disciplinares que o conselho adm inistrativo e discipHnar
póde im por aos advogados e solicitadores são:
I. Multa;
II. Advertencia;
III. Censura;
IV. Suspensão de exercício por tem p o não excedente de u m anno;

150
V'()I(.ini(’ -I I u l. i [ i i ' ia (Y icic.'tn K r s i s l c n c ias

V. Cancellam ento da matricula.


Art. 24. Incorrem nas penas de multa, advertencia e censura o advogado e
solicitador que faltarem aos princípios de civilidade e m oderação, e nas de
suspensão e cancellam ento da matricula os que não exercerem os deveres
do seu m inistério co m honra e probidade.
Á p ena de suspensão p ód e ser accumulada a de multa.
Art. 25. A advertencia consistirá na dem onstração feita ao advogado ou
solicitador, da falta com m ettida com conselho para não repetil-a.
Art. 2 6 . A c en su ra será a d eclaração form a l da falta c o m m e ttid a ,
acom panhada de reprehensão.
Art. 27. A pena de cancellam ento da matricula será applicada, além de
outros casos marcados nesta lei, sempre que o advogado e solicitador, que
já tiver sido suspenso por com prom etter a dignidade da profissão, fôr
c o n v e n c id o d e n ã o d e se m p e n h a r h o n e sta m e n te o s d everes d o seu
m inistério.
Art. 28. N e n h u m a pena disciplinar poderá ser applicada, sem que o
accusado seja intim ado para comparecer em conselho, afim de defender-
se, m arcando-se-lhe para isso um prazo razoável, conform e as distancias,
não excedente de dez dias nas capitaes.
Art. 2 9 .0 conselho administrativo disciplinar applicará ex-officio a pena
de suspensão ao advogado o u solicitador, que fôr pronunciado em crim e
inafiançavei, e b em assim ex-offtcio pronunciará o ca n cella m en to da
matricula d o advogado o u solicitador, que se tornar incom pativel o u fôr
con dem nado, por sentença passada e m julgado, por crim e que inhabilite
o exercicio da profissão, nos term os dos arts. 3° e 4° n. 1 desta lei.
Art. 30. N o s casos em que couber a pena de m ulta, de advertencia ou
censura, a decisão proferida pelo conselho adm inistrativo disciplinar será
tida co m o sentença definitiva, e se executará sem recurso.
N os outros casos é facultado á parte o recurso para a assem bléa geral do
instituto.
Art. 3 1 . 0 advogado que assignar requerim entos, m em oriaes, libellos,
contrariedades, réplicas, tréplicas, razões finaes ou quaesquer outros artigos
e allegações feitas por outrem , incorrerá na pena de suspensão por seis
m ezes e na m ulta de 100$ pela primeira vez, d o dobro pela segunda, e de
cancellam ento da matricula pela terceira.

« ▲1 151
______________ História da
Ordem dos Advogados do Brasil

Paragrapho unico. Nas m esm as multas, suspensões e perda d o officio pela


terceira vez, incorrerão os escrivães que continuarem feitos co m vista a
advogados, que apenas assignarem e não forem os proprios que tratarem
das causas.
Art. 32. Os secretários dos tribunaes e os escrivães não confiarão autos,
sentenças o u papeis judiciaes senão ás próprias partes o u procuradores
p o r ellas co n stitu id o s e que exercerem as fu n c ç õ e s de ad vogado ou
solicitador, sob pena da m esm a multa pela primeira vez, dobrada pela
segunda e de suspensão por dous m ezes pela terceira.
Art. 33. A s m u ltas em que incorrerem os advogados, solicitadores e
escrivães, o s em olum entos de matricula e provisões farão parte da renda
do instituto.
Art. 34. A jurisdicção disciplinar que esta lei estabelece não deroga a
jurisdicção co m m u m , quando os factos por sua natureza constituírem
crim es previstos pelo C odigo Criminal, e nem tam bem a que é conferida
aos juizes e tribunaes pelos seus regim entos e pelas leis d o processo.
Art. 35. È prohibido ao advogado referir actos de vida privada nos seus
articulados e allegações, salvo quando for isso necessário á defesa da causa,
tendo inform ação da parte por escripto.
Art. 3 6 . 0 advogado é obrigado a apresentar-se de habito talar (D ec. n.
393 de 23 de Setembro de 1844) nas audiências de julgam ento criminal e
perante o jury e os tribunaes.
Art. 37. N os term os onde não houver doutores o u bacharéis em direito
pod em ser advogado ou solicitador, em num ero designado pelo presidente
da relação, c o m inform ação d o conselho adm inistrativo e disciplinar,
in d iv id u o s que, alem d e provarem capacidade m oral, m ostrarem -se
habilitados em exam e theorico e pratico, feito perante um a com m issão,
com posta de u m juiz de direito nom eado pelo presidente da relação e
dous m em bros d o conselho designados pelo chefe da ordem .
Art. 38. Pela m atricula de advogado n o quadro do instituto será devido o
em u lu m en to de 20$, e o de 10$ pela de solicitador. Pela provisão de
advogado o u solicitador não graduado em direito, na conform idade do
artigo antecedente, pagará aquelle 50$ e este 205000.
Art. 39. Os solicitadores não votam e não podem ser votados para m em bros
do conselho.

152 «4B
V u Il i h i c 2 L u ta )X ‘ Ia C r i a ç ã o c R c s i s i ê n c i a í

Art. 40. C ada instituto n o seu regim ento intern o marcará as joias de
entrada, as c o n tr ib u iç õ e s m en sa es e seu s m e m b r o s, as presta ções
extraordinarias; o program m a de sua revista e creação de sua biblioteca,
das conferencias publicas, m ethodos e form a de discussão; as attribuições
dos m em bros do conselho, forma de processo e julgam ento para applicaçào
de penas disciplinares.
Art. 41. São mantidas todas as honras e prerogatives de que actualm ente
gozam os advogados.
Art. 42. As multas im postas pela legislação vigente ficam elevadas ao triplo,
mas não poderão exceder de 2005000.

S. R. - Paço da camara dos deputados em 20 de A gosto de 1 8 8 0 .- Joaquim


Saldanha M arinho. - Baptista Pereira.

3.5. Análise Comparativa entre os Projetos Montezuma, Nabuco


de Araújo e Saldanha M arinho

O projeto Saldanha M arinho, significativa e diferentem ente - tanto do


projeto M ontezum a, quanto d o projeto N abuco de Araújo - não trata primeiro
da criação da Ordem , m as da regulamentação conceituai do advogado e do
solicitador:

Art. 1°. As profissões de advogado e solicitador constituem u m m unus


publico que só p óde ser exercido pelos cidadãos brazileiros.
A rt. 2 ° A s d u a s p ro fissõ es são d is tin ta s e não p o d e m se r e x e rc id a s
cum ulativam ente. (Ibid.)

M únus público, o dicion ário define: o que procede de autoridade pública ou


da lei, e obriga o indivíduo a certos encargos em benefício da coletividade ou da
ordem social (D icionário A urélio). N áufel (1989) diz o m esm o com palavras
ligeiram ente diferentes: É o encargo que emana de autoridade pública ou da lei,
que não pode ser recusado pelos cidadãos a que é imposto. Exs. o serviço do júri, o
serviço militar, o serviço eleitoral, etc.^^

” N A U K tL . José. N ovo D icionário Jurídico Brasileiro (tira g em s u p le m e n ta r da 8 ' edição acrescida d e a p ê n d ice
c o m atu a liz aç ã o d e ve rb e te s d e a c o r d o c o m a C o n stitu iç ã o d e 1988). São Paulo: íc o n e . 1989.

•Ai 153
______________ Historia da
Ordem dos Advogados do Brasil

A concepção de que a advocacia é um encargo público, o u um a ocupação


de interesse do Estado e da sociedade, era presente nas entrelinhas dos projetos
anteriores. Ê, na verdade, u m dos m otivos dos projetos, do porquê criar uma
organização que discipline e regulamente uma profissão de tanta im portância
e ingerência política e social.
N o atual estatuto da advocacia e da Ordem dos Advogados do Brasil, Lei n°
8.906, de 4 de julho de 1994,“® à semelhança do projeto que estam os analisando,
trata primeiro do exercício da advocacia e depois da organização chamada Ordem
dos Advogados do Brasil O título primeiro do Estatuto da OAB de 1994 denomina-
se “D a Advocacia” e desta trata do art. 1® até o art. 43, quando e, então, abre o
título segundo denom inado “Da Ordem dos Advogados d o Brasil”
É interessante ressaltar tam bém que o Estatuto da OAB de 1994, n o início
do texto, sem elhante ao projeto de 1880, define a advocacia c o m o u m encargo
de interesse social, u m m únus público:

Arf. 2® O advogado é indispensável à adm inistração da justiça.


§ 1° N o seu ministério privado, o advogado presta serviço público e exerce
função s o á a l
§ 2° N o processo judicial, o advogado contribui, na postulação de decisão
favorável ao seu constituinte, ao convencim ento do julgador, e seus atos
constituem m únus público - Lei n" 8.906, de 4 d e ju lh o d e 1994. (ibid.)

Ressalte-se que o decreto francês de 1810, semelhante aos projetos brasileiros de


1851 e 1866, e diferente do projeto de 1880, começa instalando a instituição que se
quer criar (arts. 1° e 2°) e só depois trata do exercício da profissão (arts. 23 em diante) / ‘
N este projeto d e 1880, tan to q u a n to n o s o u tr o s d o is an teriores, os
argumentos do Sr. Henriques não deturparam a proposta essencial: regulamentar
e disciplinar o exercício e a profissão de advogado e de solicitador. N a verdade,
não há nenhum a alteração n o presente projeto em que p ossam os afirmar que
algum dos oito argumentos críticos do deputado Henriques tenha sido atendido.
As diferenças deste projeto para os anteriores, fora a inversão da estrutura,
não são grandes. A lguns itens são mais o u m enos detalhados, m as a grande
m aioria das questões continua inalterada. D uas redações, contudo, cham am a

“ Lei n° 8.906, d e 4 d e ju lh o d e 1994. “ D ispõe so b re o E sta tu to da A dvocacia e a O r d e m d o s A d vogados d o


Brasil”, w ww .oab.org.br/íegislação/eslatuto.htm .
*' Veja o A n ex o I.

154
V 'o lL in ic 2 I Lita | ) c l a ( T i.ic ^ ã í) ( ’ R t ' s i s i O n t ia s

atenção, um a é a do artigo 36 que diz o seguinte: O advogado é obrigado a


apresentar-se de habito talar (Dec. n° 393 de 2 3 de Setembro de 1844)^^ nas
audiências de julgam ento crim inal e perante o ju r y e os tribunaes^^
O D ecreto n° 393'’'’ tem na época trinta e seis anos, foi criado n o ano
seguinte à form alização estatutária do Instituto e é interessante ressaltar que o
decreto se refere expressam ente aos m em bros d o Instituto (um a distinção dos
m em bros do lAB)**^ e não à organização que o lAB propunha criar, a O ídem
dos Advogados. Entretanto, o projeto coloca o decreto c o m o sendo algo a ser
cum prido obrigatoriam ente por todos os advogados/®
A segunda redação, que se ressalta, é a do art. 39 que dispõe: O 5 solicitadores
não votam e não p odem ser votados para membros do conselho*^
Tanto o projeto de 1851 quanto o de 1866 não explicitavam tal dispositivo,
ainda que deixassem claro que 0 solicitador era um a função advocatícia abaixo
da de advogado. O projeto de 1880 teve o cuid ad o de deixar claro que o
solicitador, m esm o , o u ainda, que u m m em bro da O rdem d os Advogados, não
tinha sobre esta n enhu m a ingerência.
P o d e m o s p in ça r o u tr o s c u id a d o s (q u e d ife r e n c ia o so lic ita d o r do
advogado) que o projeto de 1880 teve, com o, por exem plo, o art. 2° que diz: As
duas profissões são distinctas e não podem ser exercidas cum ulativam ente. (Ibid.)
P odem os encontrar este m esm o dispositivo no art. 12 do projeto de 1851 que
p õ e o exercício da advocacia co m o incom patível com o de solicitador, entre
outros, m as não é tão explícito e claro quanto este de 1880. Outro dispositivo
que realça a distinção entre as duas funções está no no art. 15 d o referido projeto:
C ada instituto terá dous livros de matricula, em um dos quaes se hão d e inscrever
os advogados e no outro os solicitadores. (Ibid.) O projeto de 1866 não é tão
claro, entretanto, d iz o m esm o:

A da ta c o rre ta é 23 d e n o v e m b ro d e 1844.
" A nnaes d o P a rla m e n to Brazileiro. C â m a ra d o s D e p u tad o s. Terceiro A n n o d a d e c im a -se tim a legislatura.
Sessão d e 1880. O p. cit.
" Coleção das Leis d o Im p é rio d o Brasil (1822-1889), p a rte II, t. VII, secção 39, 1845, p. 224.
Sua e m e n ta diz; Concedendo aos m em b ro s do In stitu to dos Advogados Brasileiros, n ’esta côrte, o uso de veste
talar, e a faculdade de terem assento, n o exercido de seu ofiicio, d en tro dos cancellos dos tribunaes. O p. cit.
**No a rt. 35 d o D ecreto Francês d e 1810, e n c o n tra m o s dispo sitivo se m e lh a n te : Os advogados portarão a
batina de sua grade de licenciado ou de doutor; os inscritos no quadro serão situados no interio r do parquet.
Eles sustentarão d e p é e cobertos; m a s eles se descobrirão quando fo r e m fa z e r suas conclusões, ou lerem peças
do processo.
A nn aes d o P a rla m e n to Brazileiro. C â m a ra d o s Srs. D e p u ta d o s . Terceiro A n n o d a d e c im a - s e tim a legislatura.
Sessão d e 1880. O p. cit.

#Á # 155
______________ Hi<;fnría da
Ordem dos Advogados do Brasil

Art. 3° São attribuiçoes do conselho:


$2‘’ M atricular nos quadros respectivos os advogados e solicitadores residentes
no districto do Instituto, que tiverem exercido legal...^^

O solicitador (auxiliar do advogado) é um a figura de grande presença nos


três projetos. Sendo uma função tão o u m ais presente do que a de advogado,
regulamentá-la era visivelmente uma relevante preocupação de todos os projetos.
P odem os tam b ém entender esta preocupação co m o u m a form a de controlar as
rabulices dos solicitadores e/o u de evitar que estes se transformassem em rábulas.
Ainda sobre a questão dos solicitadores, é im portante ressaltar o art. 11 do
projeto de 1880, que põe u m dispositivo que não se encontra sem elhante nos
dois projetos anteriores;

Art. 1 1 . 0 solicitador que contar tres annos de exercido p ó d e passar para a


classe dos advogados, si requerer a sua transferencia. (Ibid.)

O p ro jeto de 1880 dá ao so licita d o r a o p o r tu n id a d e de ascender à


categoria de advogado, bastando para tanto ter três anos co m o solicitador e
p e d ir a p r o m o ç ã o . N ã o e n c o n tr a r e m o s em n e n h u m o u t r o p r o je to tal
dispositivo.
N ã o p o d e m o s deixar de ressaltar que este d is p o s itiv o ,art. II do projeto
d e 1880, é p or dem ais sem elhante ao art. 17 do decreto francês, que por sua
vez coloca algo ainda m ais interessante que sua sem elhança co m o projeto
brasileiro:

Art. 17. Os procuradores judiciais licenciados que, tendo postulado [solicitado]


durante m ais de três anos, quiserem deixar sua condição para tornarem-se
advogados, serão dispensados do estágio, justificando todavia seus títulos e
moralidade.

N ão tem os elem entos para afirmar que os procuradores ju d id a is licenciados


(les avoués licenciés) sejam parecidos o u iguais à figura brasileira d o solicitador,
presente em tod os os projetos de criação da Ordem , m as não p odem os negar
que é um a questão m uito sugestiva. Ainda m ais se observarm os que no art. 18

A n n a es d o P a rla m e n to Brazileiro. C â m a ra d o s D e p u ta d o s . Q u a r to A n n o d a D u o d é c im a Legislatura. Sessão


d e 1866. O p . cit,____________________________________________________________________________________

756 •4 1
V o k im e 2 l.uta p e la Criac.vU.! e Rci^istôneias

do referido decreto francês o “procurador judicial” é um a função o u profissão


dada com o incom patível com a de advogado/^
O projeto analisado tem m ais um a singularidade que a princípio p ode ser
interpretado co m o u m erro “datilográfíco” (ou técnico);

A rt. 9° P ara s e r in s c r ip to no liv ro d a m a tr ic u la d o s a d v o g a d o s é


necessário:
1° Ser g r a d u a d o em d ire ito p o r q u a lq u e r f a c u ld a d e d o Im p é rio ou
u n iv e rsid a d e e a ca d em ia estrangeira, ten do sido a p p ro v a d o em ex a m e
fe ito p e r a n te q u a lq u e r fa c u ld a d e do Im pério.

Este exam e consistirá nas m esm as provas pelas quais passa o bacharel em
Direito que aspira ao grau de doutor.

2" Provar que está isento de culpa epena.


j* Ter exercido p o r tres annos as funcções de solicitador, freqüentando as
audiências dos juizes e tribunaes.
Art. 10. Para ser inscripto no livro da matricula dos solicitadores é necessário
que o aspirante prove os requisitos dos ns. 1 e 2 do artigo precedente.

Ora, se u m indivíduo para ser solicitador tivesse que ser graduado em


Direito com grau de doutor, o m esm o não perderia tem po e seria, não solicitador,
mas advogado. Faz m ais sentido se no art. 10 a redação fosse: ...é necessário que
0 aspirante prove os requisitos dos n^ [2 e 3] do artigo precedente.
E ntretanto, o b serv a n d o m elh o r o prim eiro item do art. 9°, v e m o s que
para ser inscrito n o quadro d o s advogados da O rdem , o in d iv íd u o , além de
g ra d u a d o em d ire ito p o r qu alquer fa cu ld a d e d o Im pério ou u n iversid a d e e
academ ia estrangeira tin h a q u e ser, tam bém , aprovado em e x â m ç pelos quaes
passa 0 bacharel em direito que aspira o graú de doutor. O u seja, para ser
inscrito na O rdem não bastava ser graduado bacharel, tin h a que ter o grau
de d o u to r e m D ireito. P oderíam os supor - e so m en te su p or - q ue o projeto
de 1880 quisesse na O rd em não só os doutores, m as ta m b ém o s bacharéis, e
estes fossem o s solicitad ores, e os solicitadores fo ssem , acad em icam ente,
um grau abaixo d o s advogados. Se neste projeto de 1880 p o d e m o s inferir

Veja A nexo I.

7 5 7
______________ História da
Ordem dos Advogados do Brasil

tal d isp o sitiv o , n o anterior (o d o en ta o m in istr o da Justiça, N a b u co de


A raújo) o d isp o sitiv o é explícito n o § 3° d o art. 5°^“:

Só p o d em ser inscriptos ou m atriculados como solicitadores os bacharéis


graduados em direito....

Para m elh or esclarecer a discu ssão com parada, p o d e m o s observar o


significado acadêm ico de bacharel e /o u de doutor em D ireito, n o Decreto n°
1.134, de 30 de m arço de 1853, que deu novos estatutos aos cursos jurídicos do
Im pério (título I> artigos 6 ° e 7°).^*

Art. 6° Em cada um a das faculdades se conferirão os graus d e bacharel, e de


doutor. O grau de bacharel em D ireito será suficiente para os empregos para
que se exigem habilitações acadêmicas. O de doutor som ente será necessário
p a ra os casos em que o exigirem disposições especiais legislativas, ou
regulamentares.
Art. 7° Para se conferir o grau de bacharel será necessário a freqüência do
curso completo, e competente aprovação. Os bacharéis, que aspirarem o grau
de doutor, serão obrigados a m ais um exame em conclusões magnas.^^

N ovam ente ressaltemos que a legislação da época deixava aos presidentes


das províncias o provim ento dos solicitadores, e o D ecreto n® 398, de 21 de
dezem bro de 1844” , não especificava n enhu m exam e a ser feito:

D ecreto n° 398, de 21 de dezem bro de 1844

Ordena que o s Solicitadores d o num ero, C on tinuos e Officiaes de Justiça


das Relações sejão providos pelos Presidentes das m esm as Relações.

Tendo em vista o dispositivo no Art. 22 da D isposição Provisória, ácerca


da Adm inistração da Justiça Civil, e n o § 12 do Art. 102 da Constituição

” Actas das Sessões o u C o n fe re n cias d o In s titu to (p a rte s e g u n d a ). Sessão d e 17 d e m a rç o d e 1853. Revista do


In stitu to dos A dvogados Brasileiros (E dição fac-sim ilar d a Revista do In s titu to dos A dvogados Brasileiros -
a n o s I e II - 1862, 1863). A n o XI - 1977, n ú m e ro especial.
C oleção das Leis d o Im p é rio d o Brasil (1822*1889), t. XVI, p a rte II. 1853, p . 92-148.
Ver ta m b é m B a s t o s , A urélio W ander. O ensino jurídico no Brasil, 2* ed., Rio d e Janeiro: L u m en Juris, 2000.
" Collecção das Leis d o Im p é rio d o Brasil (1822-1889), t. VII, p a rte II, secção 42*. p. 266.

158 •àB
V o lu m e 1 I u t a p e l , I ( I t i . t i ã o V R e s i s t ê i K . i<is

Politica do Imperio: H ei por bem , em additam ento ao Regulam ento das


Relações, de 3 de Janeiro de 1833, Decretar o seguinte:
Ar. 1° Os Solicitadores do num ero das Relações, os C ontinuos e os Officiaes
de Justiça dellas seiau, u ora em diante, providos pelos Presidentes das
m esm as Relações.
Art. 2° Para o provim ento se farão, perante os m esm o s Presidentes, as
p rovan ças d e id o n e id a d e na form a das Leis, e o s p r o v im e n to s d os
Solicitadores serão tem porário, o u sem tem po determ inado, c om o parecer
aos m e sm o s P residentes, que não passarão as respectivas Cartas aos
providos, sem que ten hão verificado o pagam ento d os novos e velhos
Direitos, na fórm a das Leis e Regulamentos.
M anoel A ntonio Galvão, do M eu C onselho M inistro e Secretario d ’Estado
dos N egocios da Justiça, o tenha assim entendido, e faça executar. Palacio
do R io de Janeiro em vinte e h um de D ezem bro de m il o ito c e n to s e
quarenta e quatro, vigésim o terceiro da Independencia e d o Império.
C o m a Rubrica de Sua Magestade o imperador.
M an oel A n to n io Galvão

R etom a n d o às observações do debate sobre o s solicitadores, ressalte-se


que esse dispositivo (o solicitador bacharel) não existe n o projeto de 1851,
en tretan to, p o d e m o s en ten d er qu e o art. 18 do citad o p ro jeto alm ejava
sem elhante rigor seletivo quando determinava que u m ano após a prom ulgação
do projeto, o s solicitadores e procuradores judiciais teriam q ue prestar exame.

Artigo 18° H um anno depoes da promulgação desta Lei só poderão obter


Provisão de solicitadores os cidadãos Brazileiros, maiores de vinte e cinco
a n n os, e b e m morigerados^^ qu e fo rem en c a m in h a d o s e p le n a m e n te
approvados pelo Conselho D isciplinar e A dm inistrativo do districto, em que
residirem, ou p o r Advogados nomeados pelo m esm o Conselho. O exam e
versará sobre tudo o que fo r concernente ao processo civil e crim inal de
prim eira e segunda Instancia, tanto nofóro com m um , como no privilegiado,
qualquer que seja a sua natureza. Serão isentos de exam e os graduados em
Direito pelas Academ ias do Imperio.^^

" Morigeradcr. Q u e te m b o n s c o stu m e s o u v i d a exem plar. H o la n d a, A urélio B u arq u e de. D ic io n á rio d a língu a
p o rtu g u e sa.
C D -R O M d a C â m a r a dos D e p u ta d o s . O p. cit.__________________________________________________________

•à l 159
______________ H istó ria da
O rdem dos Advogados do Brasil

U m a outra diferenciação do projeto de 1880 é o seu extenso detalham ento


das penas disciplinares que os advogados e solicitadores p oderiam sofrer.
D edicaram -se ao tem a onze artigos com os seus devidos desdobram entos.
Desta forma, tendo em vista a presente análise ci^i^parativa, o que se verifica
é que os projetos vão traduzindo o amadurecimento das dim ensões profissionais
do advogado> perm itindo que u m certo processo de acom odação estabilize o
quadro de peticionam ento, o que não significa, é claro, que esteja m aduro o
quadro o u vencidas as resistências, para a instalação da OAB.
O projeto de Saldanha M arinho, assim co m o o s anteriores, não obteve
s u c e sso , a p esa r das palavras in ic ia is d o d e p u ta d o e p r e sid e n te d o lA B
repreendendo os seus colegas pelo desm erecim ento que davam a projetos de
im portante interesse público, co m o o que ele apresentou em 1880, após a sua
própria reforma do Estatuto do lAB, quando era seu presidente, em 1877. Desta
forma o projeto de 1880 nem sequer foi discutido nas sessões da Câmara, se
perdendo nos trâmites das suas com issões. O projeto M ontezum a levou 15 anos
(1851) engavetado e o segundo projeto de N abuco de Araújo (1866) levou 14
anos até o terceiro projeto (1880) de Saldanha M arinho. O próxim o e quarto
projeto, co m o verem os, será apresentado depois de 36 anos, já na República^^,
em 1916, cuja discussão se iniciou em 1904.
N a verdade, apenas para efeito rememorativo, os Estatutos eram do Instituto
dos Advogados e foram aprovados em 1843/44, sob a presidência de Francisco
Gê Acaiba e M ontezum a, e em 1877, sob a presidência de Saldanha Marinho; os
projetos de lei, que, por outro lado, pretendiam cumprir a finalidade estatutária
do lAB e criar a Ordem dos Advogados, propunham a criação do Instituto da
Ordem dos Advogados. Fundamentalmente estes projetos foram apresentados
por M ontezum a (1850/51), Nabuco de Araújo (1866) e Saldanha Marinho (1880).
Em 1888, foi aprovado pelo Instituto u m n o v o regulam en to, leia-se
Regulam ento do lAB, m as agora d enom inan do-o de Instituto da Ordem dos
Advogados Brasileiros, sendo que nesta data ainda o presidia Saldanha Marinho.
Este regulam ento, do que se presum e dada as sucessivas reações negativas da
Câmara aos projetos, na im anência do agravamento das con dições do exercício

* o p rim e ir o sec retário d o lAB. Sá V ianna (M a n o e l Álvaro d e Souza Sá V ia n n a), e m se u R elatório d e 1896,
p. 5 a 8, refere-se a u m p ro je to e n v ia d o à C o m issã o d e Justiça d a C â m a r a dos d e p u ta d o s e m 1895, u m
p ro je to d e fe n d id o pe lo D e p u ta d o E d u a rd o R am os. Fizem os a b u s c a d e tais d o c u m e n to s , en c o n tra m o s
os p ro n u n c ia m e n to s d o d e p u ta d o E d u a rd o R am o s, m as n a d a foi e n c o n tra d o so b re este s u p o s to projeto
d c c ria ç ã o <áa O rd e m .

160
V o lu m e 2 Lu la p c io CriaccUj v Kcsis tôncia s

da advocacia no Império e o aprofundamento da crise das instituições imperiais,


procurou absorver aspectos relevantes dos projetos que poderiam requalifícar
o exercício da advocacia.
É do con hecim ento dos que viveram à época do início do século XX, o
desbaratamento em que a profissão de advogado vivia, sem que os esforços do
lOAB, que não detinha poder regulamentar, tivesse efeitos. Este dilapidam ento,
que Silveira da Motta, n os debates de 1851, fez reverência e com a qual o Instituto
tanto lutou para acabar, tinha se acentuado ao longo dos anos, conform e nos
dizem Eugenio R. H addock Lobo e Francisco Costa Netto^^, com

...0 in gresso no fo r o d e um e n o r m e b a ta lh ã o d e e x - p r e s id iá r io s e
com erciantes fa lid o s, os quais, sobraçando seus p a p e is nos corredores
palacianos, ia m p o n tilh a n d o a advocacia de abusos e chicanas da p io r
espécie. A inexistência de laços gregários entre os profissionais d o D ireito
dificu ltava a in d a m ais um a proftlaxia m oral do m eio, d esprestigiado
crescentem ente p o r elementos inescrupulosos e sem idon eidade m oral p a ra
0 exercício d a grave profissão (p. 15 e 16).

O ilustre d esem b argad or, n o 25° aniversário d e criação da O rdem ,


conform e n os afirma Ruy A. Sodré,^® faz um resgate histórico da época e de sua
luta pelo célebre art. 17, confirm ando a que nível de em pobrecim ento estava a
profissão nos anos 20 do século passado.

Àquele tempo não havia egresso das penitenáárias ou comerciante falido que
não se julgasse com o direito de sobraçar uma pasta e afrontar o pretório no
exercido d a mais degradante rebulice. A consciência coletiva repelia os intrusos,
mas seus malefícios desmoralizavam o ambiente a tal ponto que a função do
advogado era suspeitada como de traficantes irresponsáveis. Os advogados dignos
sofriam a concorrência dos aventureiros ousados e não havia meios de evitar a
intoxicação cau sada no m eio social pelos elem entos claudicantes, que
prosperavam à sombra de generalizada irresponsabilidade (p. 239).

Lo bü , Eugênio R. & N etto , F rancisco C osta. C om entários ao E statuto da O A B e às regras d a p ro fusã o do


advogado. Rio d e Janeiro: E d ito ra Rio, 1978.
SoDRÉ, Ruy A. Ética profissional. E statuto do advogado. São Paulo: LTR, 1975.

767
______________ História da
O rdem dos Advogados do Brasil

3.6. A Transformação do Instituto dos Advogados Brasileiros


em Instituto da Ordem dos Advogados Brasileiros e a Criação do
Conselho da Ordem

O fracasso do Projeto Saldanha M arinho (1 8 8 0 ) na Câm ara, ao que


p arece foi u m d o s fatores qu e in flu ír a m d e c isiv a m e n te nas m u d a n ç a s
regulam entares d o lAB, prom ovido por ele próprio en quanto seu presidente.
O R egu lam ento de 27 de fevereiro de 1888” transform ou o Instituto dos
A d vogados Brazileiros em Instituto da O rdem d os A dv og a d o s Brazileiros -
lO A B , d e n o m in a ç ã o que era usada n os projetos en v ia d o s ao C ongresso e
qu e visavam a criação da O rdem d os A d v o g a d o s .A s s i m ficou o prim eiro
artigo d o n o v o R egulam ento d o lOAB, de 27 de fevereiro de 1888, que definia
suas finalidades;

Art. 1” O Instituto da O rdem dos Advogados Brazileiros, definitivam ente


constituído em 7 de Agosto de 1843 e installado um m ez depois nesta Côrte,
é um a associação de advogados legalmente graduados em direito.
§ 1° Tem p o r objeto:
1) O estudo do direito, na sua história, no seu m ais am plo desenvolvimento,
nas suas aplicações práticas e comparação com os diversos ramos da legislação
estrangeira;
2 ) A assistência judiciaria;
§ 2 ° È ilim itado o numero de seus membros;
§ 3° É indefinido o tem po de sua duração.^’

O Instituto já não tinha mais em seu Regulamento de 1888 - mas não


propriamente em seu Estatuto - com o finalidade criar a Ordem dos Advogados do
Brasil. Assumira com o finalidade o estudo do Direito em diferentes vertentes e a

o In s titu to estava a in d a so b a presidência d e S aldanha M a rin h o . Revista do In s titu to da O rd em dos Advogados


Brazileiros, t. X II, 1888, p. 264-275.
“ C o m a re fo rm a e sta tu tá ria d e 9 d e d e z e m b ro d e 1949, v o lto u a se d e n o m in a r In s titu to d o s A dvogados
B rasileiros. N este e sta tu to d e 1949 seu art. 1° vem a c o m p a n h a d o d e n o ta c o m a seg u in te redação: Essa
denom inação (In stitu to d o s Advogados Brasileiros], era a p rim itiva , fo i depois alterada pa ra Instituto
da O rd em dos Advogados Brasileiros e, afinal, restabelecida com a aprovação da presente reforma dos Estatutos.
In: In s titu to d o s A d vogados Brasileiros. E s tatutos e A n e x o s ./o rn a /d o C o m m e rd o , R o d rigues & C. Rio de
Janeiro. 1950, p, 1-40.
Revista d o In s titu to d a O rd e m d o s A dvogados Brazileiros, to m o XII. 1888, pp. 264 a 275.________________

762
\'t)lu tn c 2 I u l a p e l a C i i a c ã c i c K c v i s t c n c ias

assistência judiciária. Pareceu-nos uma sobrevida do Estatuto de 1883^^ a definitiva


e eficaz decisão d o lAB em se transformar em lOAB por ato regulamentar.
C oincidentem ente, a última m odificação n o m in al do Instituto, n o ano
h is tó r ic o d e a b o liç ã o da escravatu ra, n ã o fo i u m a m era a lte r a ç ã o de
denom inação, m as u m a significativa alteração de finalidade: deixava o lAB de
ser um Instituto, cuja precípua finalidade era criar a O rdem dos Advogados,
para se transformar n o executor da tam bém honrosa função de pensar e estudar
histórica e com paradam ente o Direito, assim com o prestar assistência judiciária.
D e qualquer form a ao que parece, os advogados, enq u an to categoria
profissional, term inaram o Im pério sem que alcançassem os seus objetivos
instituídos em 1843, e o Instituto, transform ando-se estatutariamente em lOAB,
ficou esvaziado de sua finalidade precípua: criar a OAB. N a verdade, apesar do
lOAB ter um Conselho^^ de natureza m uito própria, ele não conseguira se definir
c o m o u m a in stitu iç ã o discip lin ar da advocacia e, da m e sm a form a, não
conseguira quebrar os poderes imperiais para provisionar profissionais para
exercerem a advocacia.
O Império não teve um governo de advogados bacharéis em Direito com o
agentes de cidadania, e sim um regime de barões da terra com o agentes contrários
a este principio. O Im pério era u m Estado organizado e não um a sociedade
organizada, onde os advogados são importantes e essenciais. Apesar disso, m uitos
políticos individualm ente foram advogados com força política e destaque no
parlamento, m as não promoveram substantivas alterações neste quadro. Aliás,
historicamente, o s advogados não foram vistos co m o categoria - n em durante a
independencia Independência, pelas especiais circunstâncias do fato histórico,
nem ao m enos durante as rebeliões imperiais, que envolveram o período da
Regência (1834/41).
A ausência de um a corporação e o espírito corporativo ta m b ém não
favoreceram o envolvim ento da categoria nas lutas de desagregação d o Império
- questão religiosa, militar, abolicionista, federativa e republicana. M uitos foram
os advogados que se destacaram no conjunto destas questões, outros tantos
foram os que individualm ente estiveram com prom etidos com o abolicionism o
com o Joaquim Nabuco de Araújo, Rui Barbosa e José do Patrocínio. Na verdade,

Revista do In s titu to dos Advogados Brazileiros. C o n te n d o : D o u trin a - Legislação - Ju ris p ru d ê n c ia - Actas


das C o n fe rê n cias d o In s titu to s o b a R edação d a Respectiva C o m m issà o . R io d e Janeiro; T yp ograpliia
U nião , 1884, p. 231-244. Rio d e Janeiro, 30 d e ju n h o d e 1883. Presidente; S aldanha M a r in h o e sec re tá rio
D r. Silva C osta.
“ Art. 18 d o E sta tu to d e 5 d e ju lh o d e 1917.

•à l 163
______________ História da
Ordem dos Advogados do Brasil

Rui Barbosa foi o elo de transição política d o Im pério para a República, e com o
advogado e jurista arquitetou o m od elo republicano federativo brasileiro.
O problem a, na verdade, tem duas vertentes: a proibição corporativa
remanescente das corporações medievais e a necessidade profissional do diploma
para advogar, na form a dos conhecim entos apreendidos na escola e não na
prática profissional.
F inalm ente, trata-se a questão corporativa d os ad vogad os c o m o u m
conflito político-profissional. N a verdade, o Estado resistia aos advogados com o
corporação política e não co m o corporação profissional. O tem po m ostrou
que a organização c o m o corporação profissional era im prescindível à ação
política para alcançar os objetivos profissionais. A sociedade m oderna, na
e x te n siv a luta p o r n o v o s d ir e ito s in d iv id u a is , c o le tiv o s e d ifu so s , tem
dem onstrado que a ação profissional tem um a am pla dim ensão política e a
dim ensão política, na verdade, é um a m obilização profissional.

3.7. O instituto dos Advogados Brasileiros no Fim do Império e


no Início da República

O Im pério conviveu com três estatutos do Instituto dos Advogados: O


Estatuto de 1843 e seu R egulam ento de 1844, o Estatuto de 1877, o Estatuto de
1883 que veio a ser regulamentado em 1888. N a verdade estes estatutos não
tê m gra n d es d ife r e n ç a s entre si, p o is tratam d e a ss u n to s se m e lh a n te s,
sem elhantem ente.
As resistências podem ser pontuadas e cum ulada em diferentes aspectos.
C om exceção do Regulam ento de 1888, todos m antiveram co m o finalidade a
criação da O rdem dos Advogados. Entretanto, este objetivo não alcançou o
desígnio estatutário do lAB, apesar de seus m em bros e presidentes, dentre eles
alguns senadores com o M ontezum a e Nabuco de Araújo - este tam bém ministro
da Justiça, e Saldanha M arinho, que foi presidente da Câmara.
Assim dispõe o artigo 2° do R egulam ento de 1844 e o artigo 1°, § 1° do
Estatuto de 1877, respectivamente;

O f im d o Instituto é organizar a ordem dos advogados, em proveito geral da


sciencia d a jurisprudência.

164
V o lu m e 2 L u ta p e l a C r i a q u u c R e s i s tê n c i a s

O fim do Instituto é organizar a ordem dos advogados e o estudo do direito e


jurisprudência em geral.

É m uito interessante verificar que se em 1884 o Instituto tratava de estudar


a ciên cia da jurisprud ência, já em 1877 pretendia estudar o D ireito e a
Jurisprudência. Esta disjunção é um interessante indicativo da discussão conceituai
sobre Direito, Lei, Jurisprudência, Ciência do Direito e Ciência da Jurisprudência,
sendo que esta última deixou de ser referida nos com pêndios de Direito.
N o ano de 1883, d urante a presidência do Instituto dos A dvogados
Brasileiros pelo conselheiro Saldanha M arinho, ocorreram algum as m udanças
com a prom ulgação do Estatuto em 30 de junho de 1883^ , quando se entendeu
que o Instituto é um a associação scientifica de Advogados brazileiros, graduados
em direito pelas faculdades nacionaes ou estrangeiras.

Art. 1 ^ - 0 Instituto dos Advogados Brazileiros, definitivam ente constitutido


em 7 de Agosto de 1843 e installado um m ez depois nesta Côrte, é uma
associação scientifica de Advogados brazileiros, graduados em direito pelas
faculdades nacionaes ou estrangeiras.

D e tod os os estatutos, este é o único que entende que o Instituto é uma


associação científica de advogados, diferentemente dos dem ais que propunham
estudar a ciência do Direito. D e qualquer forma, dentre os seus objetivos, embora
revertida na prioridade em relação ao estatuto antecedente, está definido que,
além de organizar a O rdem dos Advogados Brasileiros, é seu objeto o estudo do
Direito na sua história, no seu mais am plo desenvolvim ento, nas suas aplicações
práticas e sua com paração com os diversos ram os da legislação estrangeira.
Interessantemente, tam b ém em especialíssim o p osicionam ento, de todos os
estatutos é este o único que dispõe co m o item do seu objeto a defesa dos réus
inválidos:

Art. 1, § 1°: Tem p o r objeto: 1 ) 0 estudo do direito na sua hitoria, no seu


m ais am plo desenvolvimento, nas suas applicações praticas e comparação

íevísf/i tio In s titu to dos Advogados Brazileiros. C o n te n d o : D o u trin a - Legislação - Ju ris p ru d ê n c ia - Actas
das C o n fe re n d a s d o In s titu to so b a R edação d a Respectiva C o m m issã o . Rio d e Janeiro; TypograpJiia
U nião, 1884, p. 231-244. Rio d e JanC iro, 30 d e ju n h o d e !883. Presidente: S aldanha M a r in h o e secretário
Dr. Silva Costa.

•Al 165
______________ H istória da
Ordem dos Advogados do Brasil

com os diversos ramos da legislação estrangeira; 2 ) A defesa dos réus desvalidos;


3 ) A organização da ordem dos Advogados brazileiros.

Essa indicação sobre o papel do Instituto na defesa d os réus desvalidos é


m u ito im portante para a história da advocacia, pois, ao que parece, é um
docum ento pioneiro no com prom etim ento dos advogados na defesa dos direitos
dos desam parados e oprim idos. N ão existem indicativos m ais profundos sobre
esta exata atuação d o Instituto, m as deve-se ressaltar que esse é o período da
efervescência abolicionista e das sucessivas crises que afetaram o Império. Muitas
são as referências sobre a colaboração de advogados ilustres na defesa de escravos
e libertos, com o se verifica em recente trabalho publicado por Eduardo Silva.

A escravidão, como sabemos, não era apenas um m odo de produção, era também
um a ordem político-jurídica secularmente estabelecida. Para Rui Barbosa,
contudo, a ordem escravista não era apenas ineficiente, injusta e moralmente
condenável, como se dizia até então, era simplesmente “ilegal” Esendo ‘HlegaF,
d evia ser c o m b a tid a com a aplicação dura d a lei. M as com o p o d ia ser
considerada “ilegal” um a instituição que fazia parte, desde tempos imemoriais,
da ordem estabelecida? O acadêmico Rui Barbosa, do alto de seus vinte anos,
form ulou uma prim eira resposta para esse difícil problema. Rui permaneceu
fiel a essa resposta p o r toda a vida. Para ele, em síntese, “um a porção imensa da
propriedade servil existente entre nós (mais de um terço), além de ilegítima,
como toda a escravidão, é também ilegal (...)”
Para ele [Rui Barbosa], pagar indenização aos proprietários — fosse em
dinheiro ou tem po d e serviço, como aconteceu na maioria dos países — parecia
totalm ente inaceitável. Era o mesmo que com pactuar com a pirataria. Era,
m oralmente, um a espécie de cum plicidade com o próprio crim e que se queria
combater. Se a escravidão era mesmo um roubo, então não havia p o r que
indenizar os proprietários. Se é que se possa fa la r em proprietários.^^

O m esm o ocorreu nos históricos pronunciam entos de Rui Barbosa, quando


da sua posse co m o sócio do lAB em 18 de m aio de 1911 e, na sua posse c om o
presidente d o Instituto em 19 de novem bro de 1911:

SILVA, E d u ardo : A s Cam élias do Leblon e a Abolição da Escravatura: u m a investigação de história cultural.
São Paulo: C o m p a n h ia das Letras, 2003, págs. 52/53 e 56/57.

766 •Al
\'()lu n u ' 2 l.ut.i p c k i C i ia c .u ) c R c s i ^ t ú n i i j s

Aqui está, senhores, o porquê vos eu digo e redirei que, com a abolição da legalidade
e da liberdade no Brasil, abolição agora a pouco mais ou m enos consumada, se
enceta, para nós, para este Instituto, uma existência bastarda, precária, irreal, a
existência de um organismo num meio a ele hostil e com ele incompatível.
Os advogados, na Inglaterra, nos Estados Unidos, na França, na Bélgica, na
Itália, em toda a parte, nunca deixaram de sentir esse laço de solidariedade
vital entre a sua classe e o governo da lei, a preservação das garantias liberais, a
observância das constituições juradas. N em vírgula ao elaborar a brasileira, os
juristas, os advogados que nela trabalhamos é que, pela nossa preponderância
na sua composição, não se exagerará, dizendo que a fizemos, nos devíam os da
linha, que a nossa educação jurídica nos traçava, que ela nos im punha,
mostrado-nos a associação inseparável do gênio do novo regimen, cuja carta
redigimos, com um a organização da justiça, capaz de se contrapor aos excessos
do Governo e aos das maiorias legislativas, uns e outros dez vezes mais arriscados
e am iudados nas repúblicas do que nas monarquias, nas federações do que nas
organizações unitárias, no presidencialismo do que no parlamentarismo.^

O Estatuto de 1877 (que m odifica o Estatuto de 1843), n o que se refere à


inscrição n o lAB, entende que poderão ser m em bros d o Instituto cidadãos
brasileiros graduados em Direito pelas faculdades, academ ias e universidades
nacionais o u estrangeiras. Sem elhantem ente ao Estatuto de 1843, o § 1° do
artigo 2° do Estatuto de 1877 entende que poderiam se matricular n o lA B os
cidadãos que provem tem po praticado no foro por três anos consecutivos, sendo
que as demais exigências tinham um a natureza essencialmente protocolar. Assim,
está no Regulam ento de 1844 e n o Estatuto de 1877:

Art. 8 * Nesta prim eira organisação do quadro, poderão ser m embros effectivos
os advogados que, achando-se nas circunstâncias do art. 1° do presente
regimento, estiverem em ejfectivo exercido de advocacia, qualquer que seja o
tem po de pratica, com tanto que se matriculem no prazo de 60 dias, contados
da approvação deste regzme«fo.(Regulamento de 1844).

Parágrafo 1° do art. 2° - Para ser adm ittido no Instituto deve o candidato ter
bons costumes, provar com documentos que tem praticado no foro p o r três

“ C A R M O , L aura e o u tra s . Discursos no In stitu to dos Advogados Brasileiros. Rio d e Janeiro: Edições C asa de
R ui B arbosa, 2002, pág. 58.__________________________________________________________________________

•Al 167
______________ História da
Ordem dos Advogados do Brasil

annos consecutivos, e escrever e apresentar m em ória ou m onographia sobre


qualquer ponto de jurisprudência, comprehendido no program m a para tal
fim previam ente organizado pelo commissão de jurisprudência, e approvado
pelo conselho disciplinar. (Estatuto de 1877).

N a verdade, na reta final do Império, nas m esm as linhas do ano de criação


do IAB> ainda se admitiam o s práticos em advocacia co m o m em bros do Instituto,
ficando, todavia, excluída a permissão inicial para que pudessem se inscrever
aqueles que tivessem graus acadêm icos que não fosse e m Direito. Esta questão
perpassa os tem pos e atravessa a República, no fundo um a questão de caráter
corporativo, m as tam bém , de natureza técnica.
O Estatuto de 1877, diferentemente de 1843/44, elim inou as inscrições com o
membros honorários do Instituto, resguardando aqueles que já tivessem adquirido
este direito, onde se incluíam profissionais que tinham graus acadêmicos em outras
áreas ($ 2° do art. 1°). Neste sentido, ele modifica superficialmente o Estatuto anterior,
dando a entender que o grau de Bacharel em áreas não jurídicas não eram suficientes
para o exercício da advocacia, muito embora não deixe transparecer restrições mais
significativas para o exercício da advocacia por provisionados.
O Estatuto de 1883 passa a se referir exclusivamente aos m em bros efetivos
que c o m p õ e m o Instituto, criando um a categoria de sócio correspondente
(advogados residentes fora da Corte), o que tam bém não ocorria n os Estatutos
antecedentes.

Art. 12, § 4° - São correspondentes os graduados em direito, brazileiros ou


estrangeiros, residentes fóra da Côrte, que p o r seus serviços ao Instituto ou
distincção pessoal estejam no caso de o serem.

De qualquer forma, ele dispõe que poderão ser m em bros os advogados


sem fazer distinção em relação aos bacharéis form ados, o que se explicita pelo
indicativo do artigo 1° deste Estatuto que entende que a Associação do lAB se
constitui de advogados graduados em D ireito pelas faculdades nacionais e
estrangeiras. A ssim está disposto no art. 1°:

Art. 1 ^ - 0 Instituto dos Advogados Brazileiros, definitivam ente constituído


em 7 de agosto de 1843 e instalado um m ez depois nesta Corte, é um a

168 9à!Ê
V o lu m e 2 L u ta p e l a C'ri<i(,à(> c R e s i s t ê n c i a s

associação scientíflca de Advogados brazileiros, graduados em direito pelas


faculdades nacionaes ou estrangeiras.

Muito embora este Estatuto de 1883 não abra qualquer espaço para se rediscutir
a denominação do lAB, o Regulamento deste Estatuto, promulgado em 1888 passa
a se referir ao Instituto dos Advogados Brasileiros com o Instituto da Ordem dos
Advogados Brasileiros. C om o já observamos, esta é a mais significativa modificação.
N esta lin h a de d isc u ssã o h erm e n ê u tic a é im p o r ta n te n o ta r q u e o
Regulamento prom ulgado em 1888^ no seu artigo P n ã o volta a repetir o termo
Instituto d os Advogados Brasileiros, mas se refere a Instituto da O rdem dos
A dvogados Brasileiros. Este Regulamento, denom inado Instituto da Ordem dos
A dvogados Brasileiros, assim dispõe no seu artigo 1°:

O Instituto da O rdem dos Advogados Brasileiros, definitivam ente constituído


em 7 de agosto de 1843 e instalado um mês depois nesta Corte, é um a
associação de advogados legalmente graduados em direito.

D estaca-se deste texto que ficava excluído das finalidades do Instituto a


criação da O rdem dos A dvogados Brasileiros, adjetivada pelo R egim ento de
1844. Isto significa que, por conseguinte, na forma deste R egulam ento de 1888,
estava excluída da finalidade do lAB criar a O rdem dos Advogados Brasileiros,
visto que estava incorporado ao seu n o m e a palavra Ordem.
Este m e s m o R e g u la m e n to do In stitu to da O r d e m d o s A d v o g a d o s
Brasileiros de 1888 prevê em seu artigo 1°,§ 1°:

que o objeto do lA B [lOAB] é o estudo do Direito, na sua história, no seu


m ais am plo desenvolvimento, nas suas aplicações práticas e sua comparação
com os diversos ram os da legislação estrangeira e a assistência judiciária.

Finalmente, resta observar que no fluxo da história do lAB/IOAB, ao fim


do Império, foi atribuída ao Instituto a im portante função de prestar assistência
judiciária, som ando-se às finalidades de estudo do direito no seu contexto e
desenvolvim ento. O Instituto no fim do Im pério não alcançou a sua finalidade
preliminar e assim, não conseguiu promover o seu envolvim ento corporativo

R evistado In stitu to dos A dvogados Brazileiros, to m o XXII, 1888, pág. 276-287. R io d e Janeiro, 6 de d e zem b ro
de 1888. Presidente: lo a q u im S aldanha M a rin h o e S ecretário D r. José d a Silva Costa,____________

169
______________ História da
Ordem dos Advogados do Brasil

no contexto político imperial, nem tam pouco na definição funcional do exercício


profissional.
Os fatores que contribuíram ou determ inaram para que o Instituto não
alcançasse seus objetivos são os mais diversos, co m o procuram os demonstrar
por m eio da sistematização a seguir:

• A interpretação constitucional sobre o papel das corporações “de ofício”.


• Os poderes d o Estado im perial em seus diversos escalões, inclusive
judiciais, para provisionar profissionais para exercer a advocacia;
• O s privilégios resultantes da superposição entre as funções privadas dos
advogados e as funções públicas;
• O recolhim ento de significativas taxas e im postos pelo Estado imperial
para o exercício da advocacia.
• A resistência dos advogados e provisionados do C onselho de Estado com o
poder administrativo;
• As lim itações do Poder Judicial devido à ação interventiva do Poder
Moderador.

170
V 'o lu n ic 1 l.Lila p i ' l , ) C r i a ç ã o c R o i s t O i K . i a s

C APÍTU LO IV
A República e a Criação da O rdem dos Advogados
Brasileiros

4.1. Preliminares Históricas

O m ov im en to republicano brasileiro teve um a especialíssim a conotação


em que mais se destacaram militares revoltosos d o que propriam ente grupos
da sociedade civil, fragílim os no Brasil da época, inclusive o s advogados. Sem
qualquer estruturação corporativa, o envolvim ento de advogados n o m ovim ento
republicano foi novam en te de natureza individual e n ão era, propriam ente,
projeto e proposta d o Instituto.
Ruptura política inesperada, a queda do Im pério possibilitou a instauração
de um governo republicano. Com a edição do D ecreto n° 1, de 15 de novem bro
de 1889, proclam ou-se co m o forma de governo da Nação Brasileira a República
Federativa, e estabeleceram-se as normas pelas quais se deveriam reger o s Estados
Federais, até que viesse a ser prom ulgada a Constituição Republicana. A este
decreto segue-se o D ecreto n° 9 I4-A , de 23 de outubro de 1890, que publicou o
texto posteriormente convertido na primeira constituição brasileira republicana.
A C on stitu ição da República dos Estados U n id os d o Brasil, de 24 de
fevereiro de 1891, todavia, defm iu-se para a nossa história contem porânea com o
um a prim orosa construção jurídica, que, não apenas reorganizou o Estado
brasileiro, redefiniu a organização do Poder Judiciário, inclusive criando o
Suprem o Tribunal Federal, c o m o tam bém aprovou evoluidíssim o texto para a
época sobre o Cidadão Brasileiro e a Declaração de D ireito (título IV, secçôes I
e II). Acentuadam ente rígida, esta C onstituição só veio a ser em endada em 1926,
após sucessivas ocorrências revoltosas que evoluíram para a Revolução de 1930,

171
______________História da
Ordem dos Advogados do Brasil

que prim eiro se c o n so lid o u com a form ação do G overno P rovisório e a


prom ulgação do Decreto n° 19.398, de 11 de novem bro de 1930.
Este capitulo, por conseguinte, estuda o m ovim ento para a criação da OAB,
na primeira República ou República velha, especialm ente na forma dos atos e
decretos governamentais e projetos e debates parlamentares, e durante o período
inicial do Governo Provisório de Getúlio Vargas.
Imediatamente antes da promulgação da Constituição de 1891, a República
iniciava a sua história definindo os procedim entos para se conferir o grau de
bacharel em Direito, todavia, reafirmando a validade de decretos imperiais. O
Decreto n.° 668, de 18 de agosto de 1890, declarava o m o d o pelo qual deveria ser
conferido o grau de bacharel nas faculdades de Direito da República. Curioso
notar, com o afirmamos, que o grau de bacharel seria conferido conform e aprovado
nos decretos imperiais antecedentes. Isto significa que o quadro de exercício da
advocacia n o início da República não apresentava qualquer mudança em relação
ao Império. Assim dispunha o Decreto n.° 668 , de 18 de agosto de 1890:'

Declara o m odo por que deve ser conferido o gráo de bacharel nas Faculdades
de Direito da República
O Generalissimo M anoel Deoãoro da Fonseca, Chefe do Governo Provisório
da República dos Estados Unidos do Brazil, constituído pelo Exército e Armada,
em nome da Nação, resolve que o gráo d e bacharel nas Faculdades de Direito
da República seja conferido, na form a determinada pelo art. 92 dos estatutos
approvados por decreto rf 1386 de 28 de abril de 1854 e pelos arts. 8 7 a 91 do
regulamento complementar approvado pelo decreto rf 1568 de 24 de fevereiro
de 1855, menos na parte referente ao juramento; ficando assim revogado o
decreto rf 4260 de 10 de outubro de 1868.

N ão há, todavia, qualquer expressa m anifestação no texto constitucional


ao exercício da advocacia, muito em bora disponha o § 24 do art. 72: É livre o
exercício de qualquer profissão moral, intelectual e in du stria l D a m esm a forma,
dispõe o antecedente § 8° do m esm o artigo: A todos é licito associarem-se e
reunirem-se livremente
Finalmente, prevê o § 12 do seu artigo 48:

' FO N TE : P U B C L B R 1893 VOOl PAG 000026 C O L !. C oleção d e Leis d o Brasil. Ver ta m b é m B a stos .A u rélio
W ander, O ensino ju rídico no Brasil, op. cit.

7 7 2 • 4 1
V okim c 2 l u t a p c l i i C j i a ( , ã o c R t - s i s t ô i u i<is

O Supremo Tribunal Federal compor-seá de 15 juizes, nomeados na form a do


art. 48, t f 12, dentre cidadãos de notável saber e reputação elegtveispara o Senado.

D e qu alqu er form a, vale con siderar que ao não fixar o d isp o sitiv o
constitucional sobre a relevância do saber jurídico, ficava aberta a possibilidade
de m inistros d o Suprem o não serem bacharéis ou doutores em Direito.
N este sentido, destacam os o Decreto n“ 848, de 11 de outubro de 1890,
que organizava a Justiça Federal e fixava regras de natureza processual para os
advogados, conform e disp om os a seguir:

Art. 371. D everão ser assignadas p o r advogado as petições iniciaes das causas
e todos os articulados e allegações, que se fizerem nos autos, salvo não
havendo advogado no auditorio, ou não querendo prestar-se ao patrocínio
d a causa nenhum dos que houver, ou não sendo ellesda confiança d a parte.

Art. 372. Só aos advogados poderão os escrivães m an d a r os autos com vista,


ou em confiança debaixo de protocoUo, sob p e n a de responderem pelo
descam inho, ou pelas despezas na cobrança às partes interessadas.

Art. 373. N enh um advogado poderá, sob qualquer pretexto, reter autos em
seu poder, fin d o o term o assignado ou legal, pelo qual lhe tiverem ido com
vista ou em confiança, sob p en a de perda, p a ra seu constituinte, do direito
de que não tiver feito uso no refererido termo, além de p a g a r todas as
despezas que p a ra a cobrança dos autos se fizerem .

A rt. 374. Si os autos fo rem cobrados p o r m a n d a d o ju d ic ia l, que só se


passará não os entregando o advogado, sen do-lhepedidos com o protocollo,
d e p o is d e f in d o o te r m o a ssig n a d o ou legal, p o r d esp a ch o d o j u iz ,
req u eren d o '0 a p a r te contraria, não a ju n ta rá o escrivão aos a u to s o
a rticu lado ou allegações e razões com que vier o m esm o advogado; e si
algum a cousa nellas estiver escripta, o escrivão a riscará de m o d o que se
não a possa ler; devolvendo incontinenti ao advogado ou a seu constituinte
0 q u e e x tra h ir dos autos, ou os docum en tos que assim vierem ju n to s,
lavrando de tu d o o respectivo termo.
Art. 375. Si, p orém , o advogado não entregar os autos à vista d o m andado,

173
______________ História da
Ordem dos Advogados do Brasil

p a ssad a a com peten te certidão, p o d erá ser m u lta d o pelo ju iz a té 100$ e,


si persistir, responsabilisado p o r crim e de desobediência.

Art. 376. Q u alquer cota m oratoria do advogado, não sendo de moléstia


ju rada, será to m a d a como resposta directa aos term os da causa, ficando
elle responsável à p a rte p o r essa falta, si p o r culposa.

Art. 377. Si, todavia, o advogado p retextar moléstia, dar-se-lhe-ha p o r um a


vez somente, novo p razo de cinco dias, fin d o o qu a l se cobrarão os autos.

Art. 378. A concessão a que se refere o artigo antecedente se com prehende


os termos das acções ordinarias, de nenhum m odo os dos recursos e incidentes
respectivos.

Art. 379. A s dilações são continuas, e o seu curso não se suspende nem
interrom pe p o r ferias supervenientes, salvo si estas absorverem m etad e da
dilação.

Art. 380. N ã o correm os termos e dilações havendo im p ed im en to d o juiz,


ou obstáculo ju dicial opposto pela p a rte contraria.

O texto legislativo acima não alcança propriam ente a validade total do


funcionam ento judicial. Entretanto, ao dispor sobre condutas e procedim entos
dos advogados em juízo, consegue-se demonstrar a realidade judicial imperial
que se pretendia corrigir. N este sentido, p o d em o s reconhecer que os propósitos
deste decreto eram realm ente a moralização das políticas forenses na Ju stiçai

4 .2 .0 Instituto da Ordem dos Advogados Brasileiros na República

Entre o s E statu tos de 1 8 4 3 /4 4 e 1 8 8 0 /8 8 , b em c o m o n o s p e r ío d o s


intermediários de discussão dos projetos (1850/51 e 1916) o Instituto continuou
cum prindo o seu papel co m m éritos e louvores reconhecidos e docum entados,
e sp e c ia lm e n te nas áreas d e estu d o s ju ríd ico s, c o m o b e m d e m o n str a as

^ Q u e , m a is ta r d e , viria a s e r a lu stiça Federal. M as, c o m o se verificou, este alcance n ã o se e s te n d e u às A ntigas


Relações, m ais ta rd e tra n s fo rm a d a s em T ribunais d e Justiça d a R epública.

774 máB
V o lu m e 2 l.Lila p c i . I ( l i i t u u i V K c s i s t c n c u i s

publicações das revistas d o lAB, com destaques na vida jurídica e histórica


brasileira. O s presidentes do Instituto neste p eríod o foram: A n to n io José
Rodrigues Torres N eto (1892-1893); M anuel do N ascim ento M achado Portella
( 1893-1896); A ugusto Alvares de Azevedo (1895-1900); João Evangelista Sayão
de Bulhões Carvalho (1900-1906); Herculano Marcos Inglez de Souza (1906-
1910); Joaquim Xavier da Silveira Júnior (1910-1912); Alfredo Pinto Vieira de
M ello (1912-1914); Rui Barbosa (1 9 1 4 ^ 1 9 1 7 )/
N este contexto histórico, não houve do ponto de vista formal alterações
jurídicas o u políticas substanciais que pudessem mudar os rum os d o Instituto
dos Advogados Brasileiros na sua estrutura originária do Império. C o m exceção,
é claro, das m o d ific a ç õ e s introd uzid as pelo R egulam ento de 1888, q ue o
transform ou em Instituto da O rdem e criou o C onselho da Ordem.
Ocorre, todavia, que em 21 de novem bro de 1 91 0 ,“’ sob p residên cia de
Joaquim Xavier da Silveira Júnior^, ocorreu n o v a reform a estatutária, que
manteve a denom inação de Instituto da Ordem e definiu o C onselho da Ordem,
na forma do R egulam ento de 1888. A nova função do Instituto era zelar pela
profissão e pelas finalidades estatutárias originárias de 1880/88, e tam bém de
estudar o Direito e prestar assistência judiciária, acrescido de um n ovo item: a
defesa d os interesses d a classe dos advogados
Ainda nesta linha de ampliação de competências, no item 3 d o seu art. 19^,
já explicitando um a posição sobre os deveres dos advogados, conform e segue:

A presentar ao Conselho da O rdem queixa contra qualquer m em bro do


Instituto que fa lte ás leis d a dignidade profissional [e, n o artigo 24, capítulo
V] D a Eliminação dos Membros do Instituto: Serão eliminados: (...) 2° Os
[m em bros] de qualquer categoria, contra quem houver sido apresentada
queixa julgada procedente pelo Conselho da O rdem ep e lo Instituto.

Entretanto, é n o Estatuto de 5 de julho de 1917% que o C onselho da Ordem


fica explicitam ente delimitado:

^ Veja b reve biog ra fia n o A ne x o Especial.


■' Esta tu to s e R e g im en to In te rn o d o In s titu to d a O rd e m d o s A dvogados Brasileiros, Pap. M o d e lo José A y re s&
C haves, Rio d e Jan eiro. 1911, p. -20.
^ Veja b reve biog ra fia n o A ne x o Especial.
E s tatutos e R e g im e n to In te rn o . O p . cit.
’ E s ta tu to s e R egim entos d o In s titu to d a O rd e m d o s A dvogados Brasileiros. O ff G ra p h ic as Alba, Rio de
Janeiro, 1917, p p . 1 a 16._____________________________________________________________________________

175
______________ História da
Ordem dos Advogados do Brasil

Art. 18. Fica creado o Conselho da Ordem dos Advogados constituído p o r


todos os m embros do Instituto, de qualquer categoria, que estejam servindo
ou hajam servido como seu presidente ou vice-presidente.
§l<^Esse Conselho elegerá o seu presidente, tendo como funcção, p o r iniciativa
propria ou do Instituto ou p o r provocação de qualquer dos seus m em bros ou
de qualquer dos membros do Instituto, a defesa superior dos interesses da
classe dos advogados e do prestigio e dignidade d a profissão.
$2° O presidente effectivo do Instituto será o relator, perante o Conselho, das
questões que se tenham originado no Instituto.
$3® O Conselho organizará o seu regimento interno, que será approvado pelo
Instituto.
$4® Os pareceres do Conselho da Ordem deverão ser subscriptos no minim o
p o r tres de seus m embros não divergentes.

Em 27 de outubro de 1917, foi em possado o C onselho e o seu primeiro


presidente, o Dr. José da Silva Costa.® A criação interna deste C onselho am pliou,
é verdade, a com petência remanescente do Instituto imperial na form a de 1888,
m as não alcança, n em lim itadam ente, os objetivos esperados e definidos nos
debates parlamentares e nos docum entos d o lAB. O fato de se lhe atribuir a
defesa dos advogados não lhe resguardava a autoridade corporativa, n em
legitim idade de ação, assim com o as m edidas disciplinares originárias de 1910
não lhe davam os suficientes poderes para disciplinar a profissão de advogado,
m as, apenas, atuar em relação à conduta de seus m em bros afiliados.

4.2.1. O lOAB e a Assistência Judiciária na República

Anteriorm ente ao Estatuto de 1910, já na República, que dispôs com o


finalidade do lOAB a prestação da assistência judiciária, o D ecreto n° 1.030, de
14 de dezem bro de 1890^ que organisa a Justiça do D istricto Federal, indicava
n o seu art. 176:

* A rm a n d o Vidal. “O In s titu to d a O rd e m d o s A dvogados B rasileiros”. In; Livro d o C e n te n á rio d o s C ursos


Jurídicos (1827-1927), / Evolução histórica do D ireito brasileiro. F a c u ld a d e d e D ire ito d a U n iv e rsid ad e do
R io d e Janeiro. Im p re n s a N acional. R io d e Janeiro, 1928.
’ Collecção d e Leis d o Brasil. D e cretos d o G o v e rn o Pro visório, p p . 3653 a 3686.

176
V o lu m e 2 L u t a p c k i ( ' r i a c ã o e R c sisté n cicis

Fica 0 M inistério ora a meu cargo autorisado a organisar um a commissão de


patrocínio gratuito dos pobres no crime e no civil, ouvindo o Instituto da
Ordem dos Advogados e dando-lhe os regimentos necessários.

Ficou, portanto, na responsabilidade d o Instituto manifestar-se sobre a


regulamentação legislativa da assistência judiciária aos desvalidos na República.
M ais tarde, o Instituto levou à apreciação do m inistro da Justiça, A m aro
Cavalcanti, o texto que se tornaria o D ecreto n° 2.457, de 8 de fevereiro de
1897'“, c o m a ementa: Organisa a Assistência Judiciaria no D istricto Federal.
Am aro Cavalcanti (Amaro Bezerra Cavalcanti de Albuquerque), então
ministro da Justiça, articulou o referido decreto. Em sua Exposição de M otivos"
apresentada ao vice-presidente da República, pedindo a sua assinatura no decreto,
ele conta a história que resultou n o texto apresentado pelo Instituto. Dias depois
de sancionado o decreto, cordialmente, no Aviso de 22 de fevereiro de 1897 (Ibid.,
p. 3), Amaro Cavalcanti agradece ao Instituto em n o m e do Governo.
O lOAB fica, desta forma, incum bido, junto com o Governo, na forma
deste decreto, de gerenciar a assistência judiciária:

Art. 4° A Assistência Judiciaria aos pobres consistirá na prestação de todos os


serviçosnecessarios para a defesa de seus direitos em Juizo, independentemente
de sellos, taxa judiciaria, custas e despezas de qualquer natureza, inclusive a
caução judicatu m solvi (...)
Art. 5° A Assistência Judiciaria será exercida p o r um a commissão central e
varias commissões seccionaes (...)
Art. 7° Cada um a das commissões de que trata o artigo antecedente se comporá
de três membros, dos quaes um servirá de presidente.
§° 1° Pelo M in istro d a Justiça será livrem ente nom eado o presiden te da
commissão central, sendo os outros dous m embros dessa commissão eleitos
pelo Instituto da O rdem dos Advogados Braszileiros.

A repercussão desta iniciativa foi extremamente positiva. O Jornal do Brasil,


de 9 de fevereiro de 1897'^, abre a matéria dizendo: Vaefinalmente ser uma realidade

Revista LEX, “A ctos d o P o d e r Executivo”, D e creto n ° 2.457, d e 8 d e fevereiro de 1897, p. 84-90.


" R elatórios d o s Trabalh os e O c c u rre n c ia s d o In s titu to d a O rd e m d o s A d vo gad os B razileiros n o a n n o de
1896 - a p re s e n ta d o p e lo 1° se c re ta rio M an o e l Á lvaro de Souza Sá V ia n n a - 3° a n n o - 1897, p. 22-23.
" Revista LEX, A ctos d o P o d e r Executivo, D ecreto n ° 2457, de 8 d e fevereiro d e 1897, p p . 84 a 90.
'^Jornal do Brasil, n “ 40, Rio d e Janeiro, 9 d e fevereiro d e 1897.

7 7 7
______________ Historia da
O rdem dos Advogados do Brasil

a assistenda judiciaria dos pobres no civil e no crime no Districto Federal (...). Deve-
se tão im portante serviço ao Instituto dos Advogados.... O jornal Cidade do Rio de
10 de fevereiro de 1897’^, tam bém não econom iza elogios ao Instituto: Si o governo
attendeu a este serviço que a tantos annos reclama a sua attenção, é isso devido
principalm ente ao henemerito Instituto da Ordem dos Advogados Brazileiros.
Sá V ian na, o ilustre prim eiro-secretário do In stitu to da O rdem dos
A dvogados Brasileiros, n o Relatório dos Trabalhos e Ocorrências do ano de
1897, aproveita a boa repercussão da criação da Assistência Judiciária para
lembrar os benefícios de uma O rdem dos Advogados:

(...) Para isso a constituição da Ordem dosAdvogados é uma necessidade indedinável


Cerre S. Ex. os ouvidos a perigosa d e m a g o g que vê nessa creação um privilegio
odioso, sem querer attender que essa instituição é um complemento a qualquer
organisação judiciaria bem traçada, como a têm a Italia e a França.
A idéa Jbi lançada em um projecto da Commissão de lustiça da Camara dos
Deputados, no anno próximo jindo, e vantajosamente sustentada pelo nosso distincto
collega Sr Dr. Eduardo Ramos, com assento n'aquella casa do Congresso NaáonaV^
Sem entrar na apreciação da estructura que á Ordem foi dado naquelle projecto, o
que se fa z mister é aproveitar a oportunidade e o facto de estar a idéa submetida á
consideração do poder legislativo e convertel-a em lei

Finalm ente, este especial contexto de desenvolvim ento do trabalho nos


perm ite analisar, a seguir, a questão dos advogados e a liberdade profissional, e
o 1 0 AB com o instituição de defesa dos advogados.

4.2.2. O s A dvogados e a Liberdade Profissional

Este livro fu n d am en talm en te dem onstra que a qu estão da criação e


organização da O rdem dos Advogados está essencialm ente vinculada à questão
da liberdade profissional o u às proibições o u lim itações para o exercício de

C idade do Rio, n" 41, Rio d e Janeiro, 10 d e fevereiro d e 1897.


C o m o já d issem os n o c a p ítu lo anterior, p ro c u ra m o s o p ro je to m e n c io n a d o pe lo d is tin to p rim e ir o secretário
d o lO A B e a p e s a r d e e n c o n tra rm o s p ro n u n c ia m e n to s p a rla m e n ta re s d o d e p u ta d o E d u a rd o R am os, este
e m n e n h u m m o m e n to a p re se n ta o u faz referência ao p ro je to citado.
'^R e la tó rio d o s T rab alhos e O c c u re n c ia s d o In s titu to d a O rd e m d o s A d vogados B razileiros n o a n n o d e 1896
- a p re se n ta d o p e lo 1° sec re ta rio M an o e l Á lvaro d e Sou za Sá V iann a - 3° a n n o - 1897 - p . 5 a 8.

178 •à l
V'liluntc 2 I.L i l a p e la C.iictcão v Ki-sislòiK ins

qualquer o fício o u trabalho de natureza cultural, com ercial o u industrial. Para


alcançar estes o b jetivos, o s seus presidentes e m em b ro s d o lA B e alguns
le g is la d o r e s p a r la m e n ta r e s n ã o s ó a tr a v e ssa r a m s i n u o s o s c a m in h o s
adm inistrativos, c o m o tam b ém desenvolveram um a inventiva pragm ática
institucional para sobreviver às resistências do Estado tradicional brasileiro.
Na verdade, h istorica m en te, a advocacia m ais sobreviveu p e lo s seus
com prom issos com os direitos essenciais do hom em e com as sociedades abertas,
em qualquer tem po, d o que propriam ente dos seus co m p rom isso s co m os
regimes fechados e autoritários. É exatam ente a delicadeza n o tratam ento das
questões individuais e direitos sensíveis junto aos poderes que exigia (e exige) a
proteção corporativa, e não o contrário, a criação de um a força autônom a, para
afrontar o Estado. É nesta lin h a ,em 19 de abril de 1897'^, que está o papel da
O rdem c o m o dem onstração efetiva desta situação, sendo o então m inistro da
Justiça Am aro Cavalcanti quem articulou, junto com o lOAB, a confecção do
decreto que organizava a assistência judiciária (Decreto n° 2.457, de 8 de fevereiro
de 1897). O m inistro da Justiça prom ulgou um aviso em que dá m argem ao
entendim ento que endossa o conceito de liberdade profissional co m o proibição
de organização corporativa defendida pelos deputados do Im pério que se
opu n h am à criação da O rdem dos Advogados. Eis a integra do Aviso:

N. 8 - Em 19 de abril de 1897
Sobre o exercício da profissão de advogado

M inistério da Justiça e N egocios Interiores - Directoria da Justiça - 1°


Secção - Capital Federal, 19 de abril de 1897.

Perante este M inistério representa o bacharel José Pires Brandão Junior


contra o acto de 5 de janeiro do corrente anno, pelo qual o Presidente da
Côrte de Appellação determ inou aos respectivos escrivães não dessem vista
de autos n em recebessem razões, allegações o u petições de advogados que
não exhibissem suas cartas ou certidão de se acharem as m esm as registradas
na secretaria do tribunal.
Por ODnstituir aquelle acto embaraço ao livre exercicio da profissão de
advogado, em cujo gozo se acha o reclamante, sem contestação desde 1883
nos auditorios e tribunaes desta Capital, havendo antes exercido o cargo

" o In s titu to estava so b a p residência d e A ugusto Alvares d e A zevedo. Veja bre v e b io g ra fia n o A n exo Especial.

•4 1 7 7 9
______________ História da
Ordem dos Advogados do Brasil

d e p r o m o to r p u b lic o nas an tiga s com arcas d e M agé, Santa M aria


M agdalena e Angra dos Reis n o Estado do Rio de Janeiro e o de adjunto
dos prom otores na dita Capital, e não lhe sendo possivel tirar certidão de
sua carta de bacharel, para supprir o original que lhe falta, pelo facto de
incêndio do archivo da Faculdade de S. Paulo, onde recebeu o gráo scientifico
em 1879, tom o conhecim ento da reclamação, cum prindo-m e declarar-vos:
1° Q ue o art. 72, § 24, da C onstituição de 24 de fevereiro de 1891 garante,
de m o d o categorico e pleno, o livre exercicio de qualquer profissão moral,
intellectual e industrial;
2= Q ue o acto de 5 de janeiro do corrente anno, a que acima se allude, impõe
condições que suspendem , e em certos casos, com o o em que se acha o dito
cidadão, definitivamente privam do livre exercicio da profissão de advogado,
sem que ao m enos tenha sido ouvido em seu direito, pois que nem elles
nem outros certamente em condições idênticas foram intim ados para, em
prazo certo, exhibirem as suas cartas ou allegarem as razões de excusa;
3® Que a falta de exhibição dos títulos de bacharel não justifica a privação do
exercicio da profissão de advogado, e m uito m enos por deliberação dos
escrivães, com o determinou a portaria dessa presidencia;
4^ Que os avisos de 16 de janeiro e 17 de abril de 1882, invocados naquelle
acto, não teem força de lei e são, no todo, inefficazes, em vista do direito
amplamente garantido pela Constituição Federal, e m m prehendem tambem
os magistrados e funcionários de justiça, a respeito dos quaes é omissa a mesma
portaria; além de que o fim da portaria foi auxiliar a cobrança de direitos
físcaes, porventura, não pagos, e a privação imposta ao exercicio da advocacia
nem sempre o conseguiria; accrescendo que não seria este o processo regular
da dita cobrança, porquanto, no em penho da fiel arrecadação dos alludidos
direitos, caberia no zelo do Presidente da Còrte de Appellaçào mandar tirar a
relação dos advogados, juizes e fianccionarios da justiça em debito para com a
Fazenda, e remettel-a á autoridade competente para promover o respectivo
processo; e deste m odo, sem violação dos direitos adquiridos e garantidos
pelo nosso Estatuto fundamental, conseguir-se-hia o resultado desejado.
Saude e fraternidade. - Amaro Cavalcanti. - Sr. Presidente da Côrte de
Appellação.'®

180
V o Il iiih ' 2 LuLi |)L'la C r i a c õ o c R c s is tciicia s

Izaias de M e llo , con gressista e m e m b r o d o lO A B , é q u e m leva ao


c o n h e c im e n to d o In stitu to o teo r do Aviso*’ , e cham a a atenção para a
interpretação divergente daquela defendida pelo Instituto que perdurava entre
alguns legisladores e advogados e, o possível entendim ento de que o m inistro
da Justiça, tam bém assim pensasse. O m inistro, interrogado, esclareceu por
escrito quais foram suas intenções com o aviso. Sá Vianna transcreveu-o no
Relatório de 1897:

Declarou S. Ex. “que no seu Aviso não cogitou, nem lhe com petia declarar
se a liberdade profissional do art. 72, § 24 da Constituição depende ou
in d ep en d e d e h abilitações p révia s d o in d iv id u o qu e va e exercer u m a
profissão, isso pertence ao poder legislativo, que ain d a não se pronunciou
sobre a especie. Intervindo com relação á portaria de 5 de Janeiro, fel-o em
vista de um caso concreto, como consta do A viso de 19 do m ez de Abril, e
fu n da n d o-se em du as razões principaes: 7", que a m esm a p o rta ria versa
sobre m ateria a dm in istrativa e nada tem com a funcção de julgar, o que
caracterisa a independencia das au to rid ades ju diciarias; 2 ", p o rq u e o
presidente da Côrte de Appellação, que a expedio, baseou-se em avisos do
M inistério da Justiça para autorisar que simples escrivães suspendessem (a
tanto eqüivale) do exercido de advogar a individuos que se a havam no
goso e posse d'essa profissão. Se o presidente da Côrte de Appellação não
tivesse in voca do os avisos do governo p a ra fu n d a m e n ta r o seu acto,
naturalm ente 0 governo não teria tomado conhecimento da m esm a portaria;
mas, tendo-o feito, a este com petia declarar, como declarou, que os seus
avisos não autorisam a suspensão da advocacia aos que j á a exerciam nos
termos perem ptorios da m esm a p o rta ria ’?^

D esta form a, segu n d o Sá Vianna, ficou esclarecida a p osição do m inistro


A m aro Cavalcanti, d issip an d o-se as dúvidas que pairavam. E, com o Aviso de
1° de m aio de 1897,^' c o m o con teú d o idêntico ao tex to transcrito por Sá
V ianna em seu Relatório, o m inistro e o Instituto enceraram o incidente.
Incidente que m ostra (de form a docum entada, assim c o m o outros até 1930)

‘*Collecçâo das L eisdo Brasil. Decisões d o G overno (M inistério da Iusti<;aeN egodos I n t e r i o r e s ) - 1897, p. 21 e 22.
‘’ A h istó ria é c o n ta d a p o r Sá V ia n n a e m R elatório d o lO AB de 1897, p. 12 a 15.
R elatório d o lO A B de 1897, p. 12 a 15.
D iário Oficial, 4 d e m a io de 1897, a n o XXXVI, 9° da R epública, n» 119, p. 2033.

181
______________ História da
O rdem dos Advogados do Brasil

o quanto era presente a problem ática d o que eles cham avam de “liberdade
profissional”
Esta discussão em torno do Aviso de 19 de abril de 1897 pretende retomar
a velha discussão imperial, que se apoiara n o art. 179, XIV da Constituição
Imperial^^ que dava sustentação argumentativa às resistências para se criar uma
Ordem dos Advogados com estrutura corporativa. O texto constitucional de 1891,
todavia, co m o já ressaltamos, abriu significativamente as interpretações imperiais
e permitiu um a definição da liberdade profissionaP^ que o texto imperial não
consagrava. Entretanto, o parlamento republicano e a administração imperial
faziam um a leitura restritiva do texto constitucional republicano, com o objetivo
de interpretar à luz do texto im perial u m fundam ento herm enêutico com o
resistência e esvaziamento dos projetos imperiais para a construção da OAB.
Esta percepção interpretativa durante a República influiu decisivam ente
nas lim itações do papel do lOAB na defesa dos interesses da categoria e nos
pronunciam entos parlamentares sobre os projetos de criação da OAB.
Tendo e m vista um a apreciação m elhor da extensão desta questão dentro
do C ongresso brasileiro no final do século XIX, é, para tanto, interessante
ressaltar os debates na C onstituinte de 1891, quando da discussão do art. 72, o
prim eiro da Seção II sobre a Declaração de Direitos:

Art. 72. - A Constituição assegura a brasileiros e a estrangeiros residentes no


País a inviolabilidade dos direitos concernentes à liberdadcy à segurança
individual e à propriedade, nos termos seguintes:

Após a análise dos textos do debate constituintes sobre a Seção II da Constituição


de 1891, podem os constatar o quanto continuava viva, para alguns congressistas, a
mesma interpretação de liberdade profissional defendida pelo deputado Araújo Lima
em 1851 (ressalvando as diferenças históricas e políticas). Interpretação esta que lutaram
para incluir no texto constitucional na forma de dispositivos que contemporaneamente
soam absurdos^'*, com o a proposta do constituinte Barbosa Lima (Alexandre José
Barbosa Lima) que propõe o seguinte parágrafo ao art. 72:

“ A rt. 179, XIV: N e n h u m ge n ero de tra b a lh o , d e cu ltu ra , in d u s tria , o u c o m m e r d o p ó d e ser p ro h ib id o , u m a


vez q u e n ã o se o p p o n h a aos co stu m e s púb licos, á seg urança, e sa u d e d o s C idadãos.
" A rt. 72, § 24: É g a ra n tid o o livre exercício d e q u a lq u e r pro fissão m o ra l, in te le c tu al e in d ustria i.
" N a época ta m b é m n ã o soav a tã o dife re n te de c o m o so a hoje.

182
\'()IUIT1L‘ 2 1 u l . i p c ’ I.i C ri.II,I t ) V Krxixiúni i as

Acrescente-se, onde couber


§ Ê livre 0 exercício de todas as profissões, independentem ente de qualquer
titulo escolar, acadêmico, ou outro qualquer {p. 459)/^

Barbosa Lima não estava sozinho. Ao seu lado, N elso n de Vasconceilos


Alm eida considerava a exigência do diplom a profissional, não u m requisito
indispensável e indiscutível, m as sim um privilégio:

A dditivos - ao art. 72, § 2°


{a) A Republica não adm itte tam bem privilégios philosophicos, scientificos,
artísticos, clínicos ou technicos, sendo livre no Brazil o exercício de todas as
profissões, independentem ente de qualquer titulo escolastico, acadêmico, ou
outro, seja de que natureza for. S. R. - Nelson, (p. 535)

Os argum entos do constituinte M oniz Freire em defesa da “liberdade


profissional” esclarece, u m pouco que seja, qual era a form ulação retórica destes
congressistas:

(...) Parece-me, Sr. Presidente, que assim com o a liberdade esp iritu a l está
assente no projecto constitucional, sobre bases contradictorias, p o is ao
lado do principio se creou o embaraço ao seu exercício, tam bem , em relação
á liberdade in du stria l, o projecto é ím m en sam en te falho.
N ã o encontro no art. 72 disposição algum a que consagre a plena liberdade
de profissão, a p le n a lib erd a d e in du strial; não sei p o r q u e razão as
activídades praticas empregadas nas industrias, que são o grande elemento
tem poral das sociedades m odernas, não d evam fic a r resguardadas pelas
gara n tias constitucionaes.
(...) Q u a n d o m e refiro ás industrias, Sr. Presidente, com prehendo na
m in h a expressão as proftssões de toda natureza; e neste p on to, p a ra ser
in te ir a m e n te logico e in te ira m e n te franco, d e v o d iz e r qu e acceito o
p rin c ip io a té as suas extrem as consequencias, d even do sa h ir desta Casa
consignada na lei organica do p a iz a proscripção do pro p rio p rivilegio
acadêmico, que a in d a actua sobre o espírito pu blico com o preconceito
fu n d a m e n te arraigado.

A n naes d o C o n g re sso C o n s titu in te d a R epública, 1891. C â m a ra d o s D e p u ta d o s . S e gu nd a e dição , revista,


vol. II, Rio de Janeiro, Im p r e n s a N acional, 1926, p. 438 a 460.

183
______________ História da
Ordem dos Advogados do Brasil

C om o sabemos, os aditivos ao art. 72 defendendo o que M oniz Freire chama


de plena liberdade profissional foram rejeitados pelo Congresso Constituinte. Não
obstante, a interpretação que davam e que defenderam perdurou, com o teremos
oportunidade de observar no capítulo seguinte, por m uitos anos.

4.2 .3 .0 lOAB e a Defesa dos Interesses da Classe dos Advogados

A análise que até agora desenvolvem os dem onstra que um a com preensão
restritiva da Constituição Imperial de 1824 foi o m otivo jurídico que sensibilizou
aqueles que, politicam ente, por diversas razões reagiam à criação da OAB e
negavam ao próprio lAB imperial competências para a defesa o u regulamentação
da categoria. Da m esm a forma, guardadas as diferenças de linguagem , este
entendim ento im perial com prim iu as aberturas constitucionais republicanas e
fund am en tou os argum entos parlamentares e da im prensa que resistiam à
criação da OAB e negavam ao lOAB republicano atribuições para a defesa da
classe dos advogados, reconhecendo-lhe, apenas, com petências para estudar o
direito e prom over a assistência judiciária.
Em 1 9 0 1 após tantos incidentes n o Império, um acontecim ento realçou
institu cion alm en te esta questão: a defesa da profissão de advogado e suas
prerrogativas pelo lOAB. O juiz Eneas Galvão do Tribunal Civil e Criminal
pretendeu obrigar o advogado Pedro Carvalho de M oraes a falar de pé. O
Instituto, tom ando conhecim ento, form ou um a c om issão para estudar o caso.
O Parecer de 2 de dezem bro de 1901 desta com issão foi publicado no Relatório
dos Trabalhos e Ocorrências do Instituto. Embasado am plam ente na legislação
vigente, o Instituto dirigiu reclamação ao C onselho Suprem o contra o juiz. O
C onselho Supremo, ainda que resolvesse pela ilegitim idade (o ofendido foi o
advogado, m as quem apresentou queixa foi o Instituto), a prerrogativa foi
conservada tornando-se m ais tarde lei federal.
D ia n te d este in c id e n te , n ã o p o d e m o s nega r a v a n ç o s n o p ro cesso
com p reen sivo destas questões, m esm o porque já estava a sociedade m ais
am adurecida para reconhecer a im portância dos advogados e a necessidade de
se respeitar suas prerrogativas. A m aior evidência desta situação é exatam ente a
decisão supra-referida em que o C onselho Suprem o de juizes entende que o

o In s titu to estava so b a p re sid ên c ia d e Jo ão Evangelista Sayão B ulhões d e C arvalho . Veja breve biografia no
A nexo Especial._____________________________________________________________________________________

184 •Al
V o lu n u ' 2 L iit.i |X ‘ lci C r i . i ç . l i ) e K c s i s t é n c i a s

advogado tinha específicas prerrogativas no exercício de sua profissão. C ontudo,


0 e n te n d im e n to d o tr ib u n a l a in d a n ã o e v o lu ír a para r e c o n h e c e r que>
independentem ente do direito do advogado, o lOAB tam bém poderia, em nom e
da categoria, proceder à queixa junto ao C onselho Supremo.
Ficava m ais um a vez visível a necessidade de um a Ordem dos Advogados,
com prom etida com os interesses e com as defesas da prerrogativa profissional
e da representatividade da classe. Aliás, estes são os ideais que irão presidir a sua
vocação futura: um a organização de profissionais voltada para a defesa das
prerrogativas do advogado e com petente para executar as práticas disciplinares.
N a im anência desta e tantas outras situações, as novas reformas estatutárias
procuram ampliar as com petências do lOAB para alcançar tam bém a defesa
dos interesses da classe dos advogados. O Estatuto de 1917, que definia esta
especialíssima situação n o parágrafo l° d o artigo 1° do Estatuto de 1917, dispõe:

0 Instituto tem p o r fim : o estudo do Direito em geral e especialmente do direito


pátrio e das reformas que devam ser introduzidas na legislação, a assistência
judiciária e a defesa dos interesses da classe dos advogados.

Essa m esm a orientação poderia ser tam bém identificada, com superficiais
m odificações, no anterior Estatuto de 1910^% conform e o parágrafo ú n ico do
seu artigo 1 °:

O Instituto tem p o r fim : O estudo do direito pa trio e das reformas que devam
ser introduzidas em nossa legislação, a assistência judiciária e a defesa dos
interesses da classe dos advogados.

A leitura retrospectiva comparada destes diferentes estatutos mostra que a


alteração mais significativa sobre a organização dos advogados ocorreu com a
promulgação do regulamento do Instituto da Ordem dos Advogados Brasileiros de
1888^, quando se acrescentou à denominação originária a palavra Ordem, subtraindo-
se das finalidades do lOAB “criar a Ordem dos Advogados”. Portanto, ao fim do Império

E statuto s e R eg im en to I n te rn o d o In s titu to d a O r d e m d o s A d vogados Brazileiros. Rio d e Janeiro: Pap.


M o d elo - José Ayres & Chaves, 1911. A p ro v a d o em sessão e m 21 d e n o v e m b ro d e 1910. Presidente:
X avier da Silveira Jú n io r, 1° Secretário: M o u tin h o D o ria e 2° Secretário: Levi C arn eiro .
A pesar d a im p o r tâ n c ia d a in tr o d u ç ã o d e ste ite m so b re a c o m p e tên c ia d o lO A B p a ra a defesa do s interesses
d a classe d o s advogados._________________________________ __________________

•á l 185
______________ História da
Ordem dos Advogados do Brasil

as reações à criação da Ordem estavam visíveis, muito embora mais visíveis se tom em
com a promulgação dos Estatutos republicanos de 1910 e 1917, quando então, se
criara um Conselho da Ordem, mas que na verdade não tinha as finalidades de uma
Ordem dos Advogados, com o mais tarde veio a ser criada.
N a verdade, não é m u ito d ifícil reconhecer q ue na im p o ssib ilid a d e
parlamentar de se criar a Ordem dos Advogados, o próprio R egim ento Interno
do lAB (co m o aconteceu em 1888, n o alvorecer da República) transform ou o
Instituto dos Advogados Brasileiros (lAB) em Instituto da Ordem dos Advogados
Brasileiros (lO A B ), absorvendo não propriam ente as com p etên cias, m as a
denom inação que se procurava dar à Ordem nos antigos projetos imperiais. Da
m esm a forma, a criação do C onselho da Ordem n o lOAB - com presidente e
regim en to in tern o próprios e com p etên cias específicas para a defesa dos
superiores interesses da classe dos advogados, seu prestígio e a dignidade da
profissão - não representaram maiores garantias para a ação disciplinar do lOAB,
nem ao m enos m aior eficácia na defesa das prerrogativas d o advogado.
O Estatuto d o Instituto da Ordem dos Advogados Brasileiros, de 21 de
dezem bro de 1928^^, quando era presidente Levi Carneiro, retom ou a discussão
n u m aspecto m ais programático, com o prescreve n o seu artigo 1 °:

[o lO A B ] é u m a associação, com sede na C a p ita l Federal e duração


indeterminada, de bacharéis e doutores em Direito que legalmente exerçam
ou tenham exercido a advocacia.

Este Estatuto, igualmente ao Estatuto e Regimento do Instituto da Ordem dos


Advogados Brasileiros de 1910 e o Estatuto do Instituto dos Advogados Brasileiros
de 1917, dispõem em seu artigo 1°, parágrafo único que a finalidade do lAB é:

0 estudo do D ireito em geral, especialmente do direito p á trio e das reformas


que devam ser introduzidas na legislação; assistência judiciária; defesa dos
interesses da classe dos advogados.

N o que diz respeito aos mem bros, o Estatuto do Instituto da Ordem dos
A dvogados Brasileiros de 1928 diferencia os seus m em bros com o:

E statutos e R eg im en to I n te r n o d o In s titu to d a O rd e m d o s A dvogados Brazileiros (F u n d a d o e m 1843). Rio


d e Janeiro: Off. G ra p h . Alba, 1929. Rio d e Janeiro, 31 d e d e z e m b r o d e 1928. P residente; Levi C a rn e iro , 1°
Secretario: P h ilad e lp h io Azevedo e 2« Secretario: H a ro ld o Valladão.

186 « ▲I
\ 'illu m e .1 1 u t.i p i'i. i (' K c s i s t c ' i u i.is

- M em bros Efetivos, que eram doutores e bacharéis em D ireito, que, na


Capital, façam da advocacia profissão habituai e tenham apresentado
trabalho jurídico;
- M e m b ro s H on orários, ad v oga d os o u ju r isc o n su lto s, n a c io n a is o u
estrangeiros, de notável merecimento;
- M e m b ro s C o rresp o n d en tes, g r a d u a d o s em D ir e ito , n a c io n a is o u
estrangeiros, residentes fora da sede do Instituto, que forem autores de
trabalhos científicos;
- M em bros Beneméritos, doutores e bacharéis em D ireito, nacionais ou
estrangeiros, a quem , por serviços extraordinários, o Instituto resolveu
conceder essa graduação e m em bros efetivos, que, por m ais de cinco anos,
hajam prestados serviços relevantes ao Instituto;
- M em b ro s Avulsos, m em b ro s efetivos q u e, por a u sê n c ia , o u ou tro
im pedim ento tem porário, não puderem exercer a advocacia nesta Capital,
os que deixaram o exercício da profissão de advogado e magistrados,
professores de D ireito e outros juristas, form ados em D ireito, que não
exerçam a advocacia.

O Estatuto do Instituto da Ordem dos Advogados Brasileiros de 1928 prevê


ainda, co m o n os regulam entos posteriores a 1888, a constituição d o C onselho
da O rdem por tod os o s m em bros do Instituto, de qualquer categoria, que
estivessem servindo, o u tivessem servido, com o presidente o u vice-presidente,
tendo co m o objetivo a defesa superior dos interesses da classe dos advogados e
do prestígio e dignidade da profissão, conform e disposto n o artigo 17, em
conform idade c o m o artigo 18 do Estatuto de 1917:

Art. 17. O Conselho da O rdem dos Advogados será constituído p o r todos os


membros do Instituto, de qualquer categoria, que estejam servindo ou hajam
servido como seu presidente ou vice-presidente.

O fato destas sucessivas reformas não alcançarem resultados efetivos, que


viabilizassem a criação da O rdem dos Advogados do Brasil, estão vinculados
aos mais diferentes fatores. Todavia, não se pode esquecer que, independentem ente
dos fatores políticos o u ideológicos, o u m esm o herm enêuticos, são evidentes

•à l 187
______________ História d a
Ordem dos Advogados do Brasil

os fatores de resistência institucional ou mais am plam ente estatal. Estes fatores


e procedim entos evoluíram das ordenações e norm as imperiais até a restauração
republicana das velhas práticas, que perm itiam que o Estado provisionasse
profissionais para advogar, e ao m e sm o te m p o , recolh esse e m o lu m e n to s
judiciais, taxas e im postos para a legitim ação de títulos, diplom as, certificados
e até m era autorizações.

4.3. A Restauração Republicana das PolíticasTributárias Imperiais

F undam entalm ente a República não desenvolveu um a política que se


perm itisse dispensar de seus orçam entos os recursos recolhidos com a cobrança
do Selo de Verbas e os tributos.
As regras para a cobrança do Selo de Verbas, um a obrigação imperial
imprescindível para o exercício profissional, continuaram exigíveis durante a República,
assim com o os impostos cobrados para o exercício profissional. A cobrança destes
valores recolhida ao Estado, de certa forma, impedia que se reconhecesse ou se admitisse
que estes pudessem ser cobrados por uma entidade corporativa. Apesar desta questão
não aparecer em destaque no conjunto dos pronunciamentos parlamentares, este é o
principal indicativo que demonstra que o Estado não apenas autorizava o exercício
profissional no caso do advogado, muitas vezes independentemente do diploma, como
também recolhia as verbas conseqüentes do ej^rcício da profissão.
As regalias concedidas no Império se estenderam durante a República. C om o
se observa no decreto a seguir, o Estado ainda guardava o controle do exercício da
advocacia mais ostensivamente àqueles que portavam o título de bacharel formado.

Decreto n. 585 - de 31 de julho de 1899°

Estabelece regras a que deve obedecer a discriminação das taxas de sello que
a União e os Estados podem decretar.

Art. 1 . ^ , § } . ° - É d a competência exclusiva da União decretar taxas de sello,


excepto sobre actos emanados dos Governos dos Estados e negócios de sua
economia, sobre os quaes compete exclusivamente aos mesmos Estados exercer
essa faculdade.

« FO N TE: PUB CLBR, 1899, vol. 1, p. 13, col. 1. C oleção d e Leis d o Brasil.

188 «4B
V o lu m e 1 1 u t i l p c k i C r i d w i ) (.' R c s i s t c i u i a s

C onfirm ando nossas observações anteriores, o D ecreto n.° 3.564, de 22 de


janeiro de 1900, observava a vigência da Lei Imperial n.° 317, de 21 de outubro
de 1843. A lém disso, prevaleciam ainda as provisões para advogar perante a
justiça federal àqueles não form ados em faculdades da República.

Decreto n. 3561 - de 22 de janeiro de 190(P'


Approva o regulamento para a cobrança do imposto do sello

O P residen te da República dos Estados U nidos do B razil, usando da


autorização conferida ao Poder Executivo no art. 48, n. 1, da Constituição da
República, resolve que, para a execução do art. 2° d a lei n. 585, de 31 de julho
de 1899, se observe o regulamento que a este acompanha.

Regulam ento para a cobrança do im posto do selo anexo ao D ecreto n.


3.564 desta data.

CA P ÍTU LO I - D o Imposto
Art. L° O imposto de sello éproporcional ejvco (lei n. 317, de 21 de outubro de 1843,
art. 12); recahe sobre os contractos e actos mencionados nas tabellas juntas, A e B ,e
0 seu pagamento se fará por meio de estampilhas^^ ou por verbas de repartições
arrecadaáora^^, salvas as exceções deste regulamento.
§ 8.° Diplomas Scientificose outros conferidospor estabelecimentos de ensino superior

1. Cartas de doutor ou de bacharel............................................................. 126$500


2. De bacharel em lettras.................................................................................. 60$500

FO N TE; PUB CLBR, 1900, vol l . p , 100, col. 1. C oleção d e Leis d o Brasil.
” Art. 17. Para a rre c ad a ç ã o d o im p o s to haverá estam p ilh as, cujos valores, fo rm a to e signaes característicos
serão fixados pe lo M in istro da Fazenda (FO N T E: PUB CLBR, 1900, vol. 1, p. 108, col. 1. C oleção de Leis
d o Brasil.
” Art, 30. D evem se selar p o r verba; 1.° O s papéis n ã o su jeito s ao sello d e estam pilha; 2.° Aquelies e m qu e se
n ã o e m p re g a r o sello d e esta m p ilh a p o r n ã o ha v er dessa espécie n a estação fiscal d o m u n ic íp io [...]. 3.°
Os títulos cu jo im p o s to e x c e d e rã o m a rc a d o n a estam p ilh a d e m a i o r valor, si o c o n tr ib u in t e nã o preferir
o m o d o de p a g a m e n to fa c u lta d o n o art. 20; 4.° O s passados fora d o Brazil e nos C o n s u la d o s nas nações
estran geiras l...]. 5.° O s q u e in c o rre re m e m revalidação o u m u lta ; 6.° O s das n o m e a çõ e s.

189
______________ História da
Ordem dos Advogados do Brasil

Observação:
A s a p o stila s nos títu lo s scien tificos co n ferid o s p o r e sta b e le cim e n to s
estrangeiros, facultando aos titulados o exercício da profissão no Brazil,
pagarão o sello estabelecido para os diplom as passados na República.

8. Provisões p a ra advogar p e ra n te a ju stiça federal, a qu em não seja


f o r m a d o em a lg u m a d a s F acu ldades da R e p ú b lic a , se m f ix a ç ã o de
tempo..................................................................................................................330$000
S en d o p r o v id o te m p o r a r ia m e n te , c a d a a n n o ou p o r m e n o s d e um
anno.......................................................................................................................11$000

Poder-se-ia argumentar que seria impossível alterar a legislação vigente para a


cobrança do Im posto do Selo nos primeiros anos de u m regime republicano.
Felizmente, nossa conclusão não se revelou precipitada. Ainda em 1919, quando da
edição da Lei n.° 3.966, de 25 de dezembro, o novo regulamento para a cobrança do
Im posto do Selo veio a reafirmar toda a lógica da estrutura imperial no sentido de
não promover qualquer alteração na questão da cobrança em relação aos bacharéis
em ciências jurídicas e provisionados.
Decretos posteriores sobre regulamento para a cobrança e fiscalização do
Im posto do Selo tam bém foram sancionados. O Decreto n.° 14.339, de de
setem bro de 1920 e o Decreto n.° 17.538, de 10 de novem bro de 1926 não
promoveram alterações que pudessem sinalizar um legítimo interesse em promover
a criação da Ordem dos Advogados do Brasil.
N a verdade, a discussão sobre o Im posto d o Selo, em bora não tenha
diretamente nada a ver com a criação da Ordem dos Advogados, revela que o selo
era o docum ento oficial que nos permite verificar que, por um lado, o exercício da
advocacia dependia da regularidade das obrigações com o Estado e não com uma
organização corporativa (no caso o Instituto da Ordem dos Advogados Brasileiros).
C ontudo, esta com petência do Estado, que por sinal não dá indicações
favoráveis à criação de uma Ordem dos Advogados ODm poder de cobrança de
taxações sobre o exercício profissional, é que permite o exercício da advocacia por
terceiros que não eram diplom ados pelas faculdades. Na verdade, o Estado
republicano permitiu a continuidade da autorização do exercício da advocacia por
cidadãos não formados.
A transcrição a seguir do caputáe alguns decretos republicanos mostra, durante
o período do Governo Provisório e da República Velha, que por diversas vezes foram

190
V o lu m i’ 2 L . l i I j p e l . i ( r i . l L j ( i v R c s i ^ t e i K . ios

abertos créditos pelo Ministério da Justiça e Negócios Interiores para pagamento


de subvenções ao Instituto da Ordem dos Advogados Brasileiros.

Decreto n. 1 5 1 A - d e 2 9 de julho de 1893^^^


Presta um a u x ílio pecu n iá rio não excedente de 10:000$ à Associação
den o m in a d a « Instituto da O rdem dos Advogados Brazileiros « p ara a
realisação da exposição de trabalhos jurídicos em agosto do corrente anno.

Decreto n. 1.543 - de 01 de setembro de 1893^^


A bre à verba - Eventuaes - do orçamento da despeza do M inistério da
Fazenda, no corrente exercício, um credito supplem entar de dez contos de
réis (10:000$000) p ara auxiliar a realisação da exposição de trabalhos
jurídicos que a Associação denom inada « Instituto da O rdem dos Advogados
Brazileiros « pretende realisar no corrrente anno.

Decreto n. 8.302 - de 15 de outubro de 191(P^


Abre ao Ministério da Justiça e Negócios In teriores o crédito especial de 8:000$
p a r a p a g a m e n to d a subvenção ao In stitu to d a O rd em dos A dvogados
Brazileiros.

Decreto n. 12.950 - de 03 de abril de 191^^


Abre ao Ministério da Justiça e Negócios Interiores o crédito especial de 7:000$,
para pagam ento da subvenção ao Instituto dos Advogados.

N este sentido, tam bém entendem os que a C onstituição republicana abriu


as portas para a construção da Ordem , quebrando o lim ite do texto imperial,
m uito em bora possam os verificar que remanesceram resistências institucionais
que, pretenderam , inclusive, fazer valer na República restrições im periais
quebráveis pela nova ordem constitucional. Identificar estes focos de resistência
institucional, sobreviventes na República, com maior visibilidade, exige u m novo
p ercu rso a n a lític o , p ro c u r a n d o id en tifica r sim ila r id a d e s en tre o p od er
republicano, sua ordem social e econôm ica, e o poder imperial.

FO N TE: PUB CLBR. 1893, vol. 1, p. 26, col. 1. Coleção d e Leis d o Brasil.
FO N TE: PUB CLBR, 1893, vol. 1, p, 627, col. 1. C oleção d e Leis d o Brasil.
^ FO N TE: PUB CLBR, 1910, vol. 2, p. 1029, col. 1. C oleção d e Leis d o Brasil.
FO N TE: PUB CLBR, 1918, vol. 2, p. 203, col. 1. C oleção d e Leis d o Brasil.

191
______________ Historia da
Ordem dos Advogados do Brasil

Finalmente, fica visível que não apenas convicções políticas e ideológicas


presidiram as resistências tam bém republicanas à criação da OAB, mas tam bém
profundas resistências institucionais que traduziam específicos interesses de
Estado e dos seus agentes controladores. N o caso do Im pério e da República
estes fatores são m uito im portantes porque poderiam resguardar interesses
econ ôm icos e políticos, o u os próprios poderes de constituição de advogados
provisionados, co m o tam bém o vício con gên ito do estado patrim onial: a
superposição entre o exercício de atividades públicas e privadas. Em muitas
situações o Estado era o advogado e, outras tantas, o advogado era o Estado. A
corporação profissional seria, com o foi, um a instituição que provocaria, com o
provocou, ruptura deste pacto silencioso.

192 9AB
V o lu m e .’ 2 I u(.i |X 'la Cri.Tç.io c Rcsistcncins

CAPÍTULO V
Os Projetos Republicanos de Criação da O rdem dos
Advogados

Os projetos parlamentares que propunham a criação da OAB caminharam


lado a lado co m a história do lAB imperial e do lOAB republicano. C ontudo, da
m esm a forma que o lAB não conseguiu cumprir sua finalidade estatutária no
Império, o lOAB, embora não tivesse com o finalidade estatutária criar a OAB,
não conseguiu sucesso no parlamento. A história dos projetos parlamentares é
profundam ente ilustrativa, em bora tenha sido um a coletânea de insucessos.

5 . 1 . 0 Anteprojeto Barão de Loreto

Em 1904, com eça a jornada de mais de 22 anos do quarto e últim o projeto


que será apresentado ao Senado em 1916, mas que não chegará aos seus objetivos:
a criação da Ordem dos Advogados do Brasil. O Aviso de 3 de setembro de 1904'
- do ministro da Justiça J.J. Seabra (José Joaquim Seabra) - convidou o lOAB, pelo
seu presidente João Evangelista Sayão de Bulhões de Carvalho^, para apresentar ao
Ministério um projeto que propusesse a criação da Ordem dos A d vo ^ d os, assim
com o a construção de um edifício que comportasse todas as seções e dependências
da Justiça local. Em 16 de setembro, o Instituto tom ou conhecim ento do aviso e
nom eou Franklin Américo de Menezes Doria {barão de Loreto), Inglez de Souza e
Eugenio de Barros para elaborarem o projeto de criação da OAB e, Amaro Cavalcanti
(ex-ministro da Justiça), Fabio Leal e Isaias de Mello para estudarem os m eios de
ser construído o Palácio da Justiça (ibid. p. 8 e 9).

' R elatório d o s T rab a lh o s e O c u rre n c ia s d o In s titu to d a O rd e m dos A d vo g ado s Brazileiros d o s A n n o s d e 1904


e 1905 (p u b lic a d o e m 1906), p. 22.
' Veja breve biografia n o A nexo Especial,_________________________________________________________________

193
______________ H istoria da
Ordem dos Advogados do Brasil ]
O barão de Loreto, seis dias depois da nom eação, apresentou o anteprojeto
de criação da Ordem que foi discutido pelo lOAB durante seis reuniões seguidas,
vindo a ser aprovado em 27 de outubro de 1 9 0 4 / Q uanto ao Palácio da Justiça,
em 6 de outubro d o m esm o ano, o anteprojeto já estava pronto (ibid.). N ão
obstante a prontidão do lOAB, os anteprojetos ficaram congelados, e som ente
dali a dez anos, ou seja, em 1914, o m esm o texto de criação da Ordem seria
retom ado, revisto e apresentado ao Congresso.

5.2. O Projeto Celso Bayma

N o ínterim entre o anteprojeto de 1904 e o projeto de 1916, o deputado


Celso Bayma, num a iniciativa individual, apresentou, em 14 de setem bro de
1911, à Câmara dos D eputados, u m projeto de criação de um a ordem dos
advogados.'*
O projeto de Celso B aym a/ diferente de tod os os anteriores que tratavam
da organização da Ordem e da regulam entação da profissão de advogado, trata,
som en te e sim plesm ente, da organização da Ordem . N ão há um a explícita
referência à regulam entação da profissão, a figura do solicitador é ignorada, a
questão das incom patibilidades entre a advocacia e outras funções o u cargos
tam bém não é tratada e nem são m encionados os casos que requeiram punições
ou multas. O bservem os o artigo 2°:

Art. 2° A O rdem é constituída p o r todos os advogados inscriptos no quadro e


tem p o r fim discutir e resolver todas as questões concernentes à doutrina e
pratica do direito e especialmente ao exercido da advocacia.

Nele fica entendido que a Ordem tem a responsabilidade de gerir o exercício


da advocacia, de resolver todas as questões concernentes á doutrina epratica do direito
e especialmente ao exercício da advocacia. Contudo, ao longo do projeto não existe
um desdobramento explicitando este dispositivo, ficando sua redação praticamente
subentendida. Observemos ainda o título Dos membros da Ordem, artigos 16 a 19:

’ Veja o a n te p ro je to n o A nexo III.


* A nn aes d o P a rla m e n to Brazileiro - C â m a r a d o s Srs. D e p u ta d o s . Sessões d e 1" a 30 d e s e te m b r o d e 1911;
“Projecto n® 175, c r i a a O r d e m do s A dvogados Brazileiros e dá o u tra s p ro v id e n c ia s ” vol. V, p. 423 a 426.
^ Veja 0 p ro je to n o A nexo V.

194 màB
V olum e 2 Luta p e l a C riae.u j c Kcsistências

Art. 16. Para ser adm ittido no quadro da Ordem dos Advogados é necessário:
1°, ser cidadão brazileiro;
2°y estar isento de culpa e pena;
3°, ter 0 curso de direito em qualquer das Faculdades da Republica ou ser
G R A D U A D O POR U N IV E R S ID A D E E ST RA N G E IRA , O FFIC IALM EN TE RE C O N H E C ID A ;

4°, ter exercido consecutivamente a advocacia p or espaço nunca inferior a


dous annos.
Art. 17. A s inscripções dos advogados nos respectivos quadros serão solicitadas
em requerimentos acompanhados dos documentos comprobatórios das condições
exigidas na presente lei.
Art. 18. D a decisão que recusar a inscripção cabe recurso p a ra assembléa
geral da Ordem.
Art. 19. Só os advogados inscriptos no quadro teem direito de exercer a profissão
perante os juizes e tribunaes do Districto Federal e a Justiça Federal da União
no mesmo districto.

Também podemos entender como um gerenciamento da advocacia os artigos


citados, entendimento que pode ser reforçado pelo artigo 19 que determina que só
quem pode aàvogar são os membros da Ordem. Mas, não é preciso muito para chegarmos
à conclusão de que tais dispositivos não tratam da regulamentação da profissão e sim
D os m embros da Ordem. Em suma, o que trata o Projeto n° 175 de 1911 do deputado
Celso Baym a é da organização pura e simples da Ordem dos Advogados, sem a
preocupação em regulamentar a profissão dos advogados e solicitadores.
A pós sua apresentação, o projeto do deputado é rem etido à C om issão de
Finanças da Câmara dos D eputados e desta com issão não sai, não se ouvindo
mais qualquer notícia. O Instituto, três anos depois, estará em penhado n o projeto
nascido em 1904 e é deste que se falará durante m uitos anos.

5.3. O Projeto Nogueira Jaguaribe

N ão podem os deixar de ressaltar o projeto do deputado Nogueira Jaguaribe^


apresentado em outubro de 1906 à Câmara dos D eputados com o n° 298 com a
seguinte ementa: Regula o exercício da A d v o c a c ia / O seu artigo 1°, fazendo

Veja o pro je to n o A n e x o IV.


' C â m a ra d o s D e p u ta d o s . C o o rd e n a ç ã o d e Arquivo. C e n tro de D o c u m e n ta ç ã o e In fo rm a çã o .

195
______________ História da
Ordem dos Advogados do Brasil

referência ao artigo 72, parágrafo 24 da Constituição de 1891 (op. c it) , a pretexto


da liberdade profissional, procura definir uma série de pré-requisitos p ara o exercício
da advocacia.

Art. 1° Para exercer a advocacia, nos termos da Constituição de 24 de fevereiro


de 1891, art. 72, § 24, e art. 34, § 34,^ ou solicitar perante os juizes singulares
de 1^* instanàa, em feitos de qualquer natureza, é indispensável:
a) folha corrida;
b) capacidade civil e politica;
c) m andato da parte, com poderes especiaes;
d) licença do juiz, requerida pelo procurador e conjunctamente assignada
pela parte;
e) termo de responsabilidade. (Ibid.)

O projeto tem seis artigos e o seu artigo 4° é explicitam ente um a afronta


aos propósitos de um a Ordem dos Advogados pleiteada pelo lOAB:

Art. 4° A os bacharéis em direito form ados pelas faculdades offtciaes ou


equiparadas basta para o exercido da advocacia o registro em juizo do titulo
scientifico ou documento que o supra e o mandato. (Ibid.)

Havia um entendim ento daro> em todos os projetos do lAB/IOAB criando


a Ordem , que não bastaria o diplom a o u a provisão das autoridades do Estado
para o exercício da advocacia. O artigo acim a citado do projeto Nogueira
Jaguaribe ia, assim , contra um a das principais reivindicações do Instituto,
expressa nos seus projetos que visavam criar a Ordem dos Advogados Brasileiros.
E ntretanto, este projeto é bastante sign ificativ o d o quadro geral da
advocacia à época (1906), principalm ente em dois aspectos: por u m lado, já se
implantara no Brasil outros cursos de Direito, ainda em bora co m o escolas livres,
o que, em m u ito aum entava o núm ero de advogados, n em sem pre com a
d o cu m e n ta çã o regulará Por outro lado, ao que se percebe pelas cautelas do
projeto, o núm ero de profissionais atuando irregularmente tam bém aumentava.
Estes dois fatores co m outros tantos que pressionavam o quadro do exercício

‘ Art. 34. C om pete priva tiva m e n te ao Congresso N acional (...). Inc. 34, decretar as leis orgânicas p a r a a execução
com pleta d a Constituição.
° B astos . A urélio W ander. O ensino jurídico no Brasil. 2* ed-. R io de Janeiro: L u m e n Juris, 2000.____________

796 •Al
V (jk m u ' 2 1 u fa pcici C r i a ç ã o e R e s i s tc n c i a s

da advocacia justificavam plenam ente a retomada da discussão sobre a criação


da Ordem, dem onstrando, que o lOAB, m esm o com o seu C onselho Disciplinar,
não alcançava os objetivos regulamentares da profissão.

5 . 4 . O S u b s t i t u t i v o a u r e l i n o Leal

O projeto de criação da Ordem dos Advogados de 22 de setembro de 1904'°,


dez anos mais tarde, foi retomado por uma comissão do Instituto com posta pelos
conselheiros João Marques (presidente), Aurelino Leal (relator), J. Canuto de
Figueiredo e Esmeraldino Bandeira, que apresentaram um substantivo' ‘, precedido
de um parecer'^ de 6 de m aio de 1914, no qual a comissão discutiu e com bateu as
concepções tendenciosas do que se chamava de “liberdade profissional”.
C oncepções que, desde 1851, quando da apresentação do primeiro projeto,
se constituem (guardado o tem po histórico) o im pedim ento retórico para manter
a profissão sem a devida regulamentação. Na verdade, a retomada do argum ento
negativista sofi-eria a seguinte interpretação: dada a liberdade profissional, qualquer
organização corporativa cercearia os seus conceitos e íim dam entos.

A prim eira indagação a fazer com a instituição da O rdem dos Advogados é


si, dada a regulamentação decorrente do projecto, não collide ella com o
systema de liberdade propria ao nosso regimen político.
A Commissão responde negativamente. A inda m esm o que prevalecesse a
perigosa theoria da liberdade profissional, que não poucos insistem ter passado
do dom ínio abstractopara o terreno rígido das nossas concretisações jurídicas,
a creação da Ordem não se conceberia menos, porque, nesse caso, a organisação
e n c o n tra ria sa tisfe ita nos seus in tu ito s o rig in á rio s a d ita liberdade,
abstrahindo dos diplom as acadêmicos e cuidando, apenas, de precaver o
Estado, no d o m in io m oral e no terreno p ratico, q u a n d o o in dividu o,
reputando-se capaz, pretendesse participar da actividade judiciaria, entrando

B oletim d o In s titu to d a O rd e m d o s A dvogados Brazileiros, n° 2. vol. I, 1925. “A C re aç ã o d a O r d e m dos


A dvogados (collectanea dos p rin c ip a e s trabalho s relativos a esse a ss u m p to , o rg a n iz a d a pelo Dr. A rm a n d o
Vidal, 2° Secretario d o I n s titu to )”, p. 147 a 153.
’' Veja o su b stitu tiv o n o A nexo VI,
In s titu to da O rd e m dos A dvogados Brasileiros. Parecer d a C o m m is sã o d e ju stiça e Legislação s o b re o
Projecto de C reação d a O rd e m dos Advogados. Rio d e Janeiro, Typ. d o Jornal d o C o m m e rc io , de R odrigues
& C., 1914, p. 1 a 42.

197
______________ História da
Ordem dos Advogados do Brasil

a collaborar na realização da justiça, um dos fins prim ordiaes de toda a


collectividade politicam ente organisada. (Ibid., p. 3 e 4.)

N o parágrafo seguinte, com pletando-se, o relator do substitutivo, Aurelino


Leal, ataca a questão da diplom ação, assunto que tam bém gerava controvérsias.

Si, pois, 0 projecto e o substitutivo exigem para a inscripção no quadro da Ordem,


quanto aos advogados, a exhibição do diploma acadêmico é apenas porque,
queiram ou não queiram, esta é ainda, felizmente, a nossa situação jurídica,
situação a que acaba de adherir o ministro da justiça declarando ao presidente
do Conselho Superior do Ensino que lhe compete exercer contraste ejficaz sobre os
estabelecimentos destinados á instrucção superior. (Ibid.)

A com issão com bate incisivamente a concepção de liberdade profissional


que era contra a criação de um a ordem dos advogados n o Brasil, em especial, o
argum ento de que é o bastante ter diplom a para advogar. Cita as legislações de
certos países estrangeiros em que o advogado tinha u m percurso a cumprir
além do diplom a, e cita tam bém a própria legislação brasileira da época, em
que o pressuposto de que bastava o diplom a era negado para os cargos da
magistratura e do m inistério público (o juiz de direito, o s pretores, o procurador
geral, etc.).

Seria inutil estar repetindo exemplos para provar o que aqui visa a Commissão,
isto é: que o diploma ou certificado de habilitação não póde nem deve ter a
força intrinseca sufficiente para, só por si, conduzir ao exercido da actividade
judicial, porque nas nossas próprias leis encontramos apoio, sinão para a
profissão de advogado, mas para o cargo da magistratura e do ministério publico.
O dec. n. 9.263 de 28 de dezembro de 1911, no art. 13 § 2°, não perm itte a
investidura no cargo de ju iz de direito senão áquelles que tiverem ‘seis anos,
pelo menos, de exercido em cargo de judicatura, ministério publico ou na
advocacia^ O art. 14, § 2°, relata ainda a prova de Hdoneidade moral e a
capacidade judiciaria para o cargol Os pretores sópódem ser nomeados ‘dentre
os juristas com quatro annospelo menos de tirocionio no ministério publico ou
advocacia] com a mesma exigencia de prova relativa á capacidade judidaria. O
procurador geral ha de ser buscado ineluctavelmente ‘entre os juristas com oito

198
V o k in u ’ 2 L u ta p e k i C i ici(,cU) c R c s is I cmk i.is

anos, pelo menos, âe tirocionio na judicatura, ministério publico ou advocacia.


( .. .)
Ora, a razão que indica a necessidade de exigir-se do concurrente a um cargo de
magistratura uma certa pratica judicial tanto mais longa quanto mais importante
é a investidura, éprecisamente a mesma quepódeser invocada quanto á advocacia
(...). Ora, oju iz não exerce a sua actividade em outra esphera que o advogado. Ao
contrario, este se encontra sempre numa situação potencial muito mais intensa
do que certos magistrados nos primeiros cargos. (Ibid., p. 8 e 9.)

O parecer levanta tam bém outro argum ento contra o valor puro e sim ples
do diplom a co m o sendo o suficiente ao exercício da advocacia: ...a falta de cunho
pratico de que se ressente o estudo do direito. Aurelino Leal, relator do parecer
que estam os analisando, afirma que o curso de Direito n o país é, na verdade,
precário.

(...) É raro o estudante que sae das faculdades um theorico apreciavel. Um


pratico, não sae nunca (...). Porque, a verdade dolorosa é que as faculdades
brasileiras, salvante um ou outro caso, despejam annualmente na vida pratica
turm as e turmas de despreparados, satisfeitos de si porque ornam o annular
ou 0 indicador com o annel symbolico, mas sem a m enor aptidã o para,
sósinhos, dirigirem o mais simples dos processos. (Ibid., p. II )

N u m segundo item , o parecer compara o parágrafo 24 do artigo 72 da


C onstituição da República'^ e o núm ero 24 do artigo 179 da C onstituição do
Império'^, que tratavam da liberdade profissional

Por outro lado, a creação da Ordem dos Advogados não contraria o principio
da liberdade profissional, ainda mesmo que a nossa constituição o houvesse
consagrado. Sobre este ponto, a discussão está feita. N ão vê a Commissão
differença algum a entre o § 2 4 do art. 72 da constituição da Republica: “é
g a ra n tid o o livre exercido de qualquer profissão moral, intellectual e

É garantido o livre exercido de qualquer profissão moral, intelectual e industrial”. S e n a d o Federal, Subsecretaria
d e In form açõ es, w w w .senado.gov.br./legbras/. M aio de 2003.
N e n h u m genero de trabalho, de cultural, industria, ou commercio póde ser prohibido, u m a vez que não se
o ppon ha aos c ostum es públicos, á segurança, e saude dos c/(ia</fl05” w w w .P resid e n c ia d a R ep u b lica -
co n stitu íç ão - ia24_arqtiivo5/)egisla_arquivos/.,. M aio d c 2003.________________________________________

199
______________ Historiada,
Ordem dos Advogados do Brasil

industriar, e o n. 24 do art. 179 da const, do Império: “nenhum genero de


trabalho, de cultura, industria ou commercio póde ser prohibido, um a vez
que se não opponha aos costumes públicos, á segurança e saude dos cidadãos”.
O - LIV R E e x e r c í c i o - da prim eira clausula corresponde á phase - p õ d e ser

PR O H IB ID O - da segunda. E a phase restrictiva do preceito da lei imperial -


U M A V E Z Q U E SE N Ã O O PP O N H A A O S C O STU M ES PÚBLICOS, Á SE G U R A N Ç A E SAUDE DOS

C ID A D Ã O S - está implicita no seu correspondente da lei republicana, porque


não ha, épreciso dizel-o com a m aior emphase, — perem ptoriam ente não ha
e não p ó d e haver - um dispositivo legal a que se attribua a capacidade de
deixar que periguem na sociedade - os b o n s c o stu m e s, a seg u ran ç a e a sau d e

D O S C ID A D Ã O S .'^

Aurelino continua enfático:

Toda a vez que se d iz que o - e x e r c íc io d e u m a p r o f is s ã o B l iv r e - entende-se,


en tre outras cousas, pela p ro p ria v irtu a lid a d e dos fin s d o Estado, da
organização politica e da constituição do governo, que a lei se refere ao exercício
da profissão moral, da profissão segura, da profissão que n ã o c au sa d a m n o s á

SAUDE. (Ibid.)

Cam inhando para a conclusão de seus argum entos, o Relator ainda afirma:

Certamente, o Estado não póde dizer ao individuo: tu não e xe rc er ás esta

p r o f is s ã o . Porque, em principio, elle tem o direito de exercel-a; mas póde


dizer-lhe: tu só exercerás esta profissão si satisfizeres taes e taes condições,
porque, envolvendo a actividade que queres praticar, perigos p ara os outros
indivíduos, é meu dever assegural-os contra esses perigos. É isto claríssimo: a
liberdade do individuo só existe dentro do conjuncto harmonico dos outros
direitos. (...) O mesmo estado que consagra a liberdade profissional, reserva-
se 0 direito de con trasteal-a, porque essa reserva assen ta na base da sua propria
existencia, que depende da regulamentação de todas as manifestações da
a c tiv id a d e h u m an a. Estado é organização p o litic o -ju rid ic a . E stad o E

regulam entação , o estado se fu n da sobre a lei. Esta é a sua base. (Ibid.)

In s titu to d a O r d e m dos A dvogados Brasileiros. Parecer d a C o m m is sã o d e Justiça e Legislação s o b re o


P ro jecto de C reação d a O rd e m dos A dvogados. Rio de Janeiro, Typ. d o Jornal d o C o m m e rc io , de Rodrigues
& C . 1914. p- 13 a 16._______________________________________________________________________________

200
V o lu m e 2 L u la p e l a C i i.ic^ào c R c s ií^ tcn c ia s

A frase, do próprio Relator, que pode resumir com propriedade a análise


do parecer é: ...não ha liberdades livres, ha liberdades jurídicas....
N o terceiro item , o Relator enum era e analisa alguns países europeus e os
Estados U n id os quanto à regulam entação da profissão:

(...) M esm o entre os povos que mais extremessem pela liberdade, assim é. Na
Suissa, os cantões têm “o direito de organizar a advocacia, como profissão
especial, de m odo correspondente ás exigencias do bem publico” (Salis; Le
droitfed. Suisse; vol. II; p. 683).

Nos Estados Unidos, não menos. “Ha certas artes eprofissões em que a segurança
do publico, relativamente á vida, saude ou propriedade, é inteira e visceralmente
dependente da posse, p o r aquelles que os praticam , de um certo graó de
habilidade, competencia ou educação technica... Este principio se applica aos
cirugiões, advogados (attorneys a t law)" (Black; Const. Law; pag. 353).

E assim continua o relator citando e com entando as legislações estrangeiras


e tam bém as brasileiras da época, que disciplinavam a figura do advogado dando
p oderes a certas instâncias do judiciário de advertir, m ultar e suspender
advogados e solicitadores.
N o quarto item , o foco se volta para o objeto do parecer: o anteprojeto de
1904 e o seu substitutivo. A com issão em seu parecer diz que se deteve na
orga n ização da O rdem , na A ssem b léia Geral e n o C o n selh o da O rdem .
D iscrim inando co m m ais precisão e conferindo á Assembléa Geral a cathegoria
de orgão supremo d a Ordem (ibid., p. 21) e a o Conselho a sindicância e a disciplina
da advocacia.
A Assembléa Geral da Ordem deve ser uma continuação deste Instituto, eis a
m aior preocupação da Com issão. Preocupação que não tinha sim plesm ente a
finalidade de cum prir um a tradição, mas para que as questões de direito, o u seja,
todas as questões concernentes à doutrina epratica do direito fossem , por am or à
profissão, debatidas e resolvidas por todos os m em bros da Ordem. Pois, da forma
que o projeto de 1904 propunha, som ente um a fração m ínim a dos com ponentes
da futura instituição teria esta incum bência, co m o explica o relator (ibid.):

201
______________História da
Ordem dos Advogados do Brasil

...Seguindo esta orientação, que lhe pareceu mais logica, a Commissão fe z da


Assembléa Geral o orgão prin cipal da O rdem . É a pro pria O rdem viva,
objectivada, funccionando. Ê ella que elege o presidente, que, originariamente,
superintende o patrim onio da Ordem, que discute e resolve todas as questões
technicas e praticas, que julga os recursos do Conselho.
Por seu turno, o Conselho será um orgão syndicante e disciplinar. A primeira
funcção, elle a exercerá resolvendo sobre a admissão de candidatos á Ordem;
a segunda, impondo penas aos advogados e solicitadores que transgredirem o
estatuto funccional. (ibid., pp. 22 e 23)

U m a outra m odificação que o parecer relata ter feito foi acrescentar a pena
de m ulta e substituir o cancelam ento definitivo da inscrição pelo temporário,
delim itan d o assim , à O rdem a p u n ição de caráter disciplinar. Entendia a
com issão que a gravidade que requer um a suspensão indefinida da profissão
seria de âm bito da justiça com um .
O substitutivo colocava a assistência judiciária c o m o um a atividade da
Ordem dos A dvogados sem a intervenção do Estado, pois

não existindo a O rdem , essa interferencia do pod er publico se comprehende


bem. M as regulam entada a profissão e instituida a O rdem brasileira, é
justissim o que seja ella, obedecendo á magistratura, a encarregada normal
de um serviço que f a z honra á solidariedade social, como a de defender os
direitos dos pobres.{ihid., p. 25)

A com issão amplia o que o projeto de 1904 chama, nos seus artigos 4° e
9°, parágrafo ú n ic o , de p ratica forense no escriptorio de um advogado.'^
C olocando esta prática não só no âm bito distrital, mas, e tam bém federal, já
que o intuito deve ser facilitar-lhes o conhecimento das duas liturgias processuaes
(Ibid., p. 26).
A o final, em seu sexto item, a com issão retoma a defesa do projeto de
criação da Ordem , com batendo a idéia, tam bém corrente na época, de que a
Ordem seria u m privilégio e uma afirmação de u m preconceito de classe.

B oletim d o In s titu to da O rd e m do s Advogados Brazileiros, n» 2. O p . cit.

202
V o lu m e 1 L li Ui |) c I<i C n a ç i l o c K c ^ i h t c t i c i i i s

Individualmente, nenhum de nós terá outra vantagem que não seja, dadas
certas condições patentes do nosso fóro e innumeras outras latentes que
constituem grande ameaça á ordem e á bôa fé publica, a de sanearmos o
scenario d a nossa actividade, e elevarmos o nivel d a justiça.
N ão se redigiu no substitutivo um codigo de favores. N o fundo, o que se fez foi
systematizar o direito existente. 5ó a creação da Ordem é nova; mas a idéa não
descança menos na logica da nossa eurythmia jurídica, porque, como mostrou
a Commissão o motivo que fa z exigir condições de capacidade para a investidura
de ju iz é precisamente o mesmo que autorisa a adopção de iguaes medidas para
o exerdcio da profissão de advogado. Nem mais nem menos. (Ibid.)

Termina o parecer, de apresentação do substitutivo do anteprojeto de 1904,


com as palavras; ...a creação da Ordem dos Advogados é um a columna que se
pretende levantar para tornar mais firm e a grande construção da ordem pública
(ibid., p.28).
O Parecer de Aurelino aborda as principais questões que já vinham se
acum ulando nas discussões sobre a criação da Ordem: a liberdade profissional
versus a liberdade de organização, os m odelos possíveis de organização interna
da O rdem , a questão do poder disciplinar, a força suficiente do diplom a, a
questão do “prático” e, com o não poderia deixar de ser, sua autonom ia frente
ao Estado.
Todavia, A urelino aborda com m ais cu id ad o a questão da liberdade
profissional, finalm ente reconhecendo que esta não é impeditiva de organização
da Ordem , porque a liberdade que se reconhece nunca é a liberdade contra os
costum es, a segurança e a saúde dos cidadãos. A liberdade não pod e pôr em
risco a própria liberdade, assim co m o a organização da O rdem sim plesm ente
regulamentaria (definiria) os lim ites do exercício da liberdade profissional do
advogado. A lei não poderia proibir o exercício de qualquer profissão, m as
p od eria d efin ir o s p arâm etros gerais para o seu ex ercício n o “co n ju n to
harm ônico de outros direitos”.
Finalm ente, o relator reconhece o papel substitutivo da Ordem ao poder
público n o exercício e aplicação regulamentar da profissão, remanescendo um a
nova questão: co m o transmudar o lOAB, que já tinha sua história de absorção
dos ideais corporativos em Ordem dos Advogados? O tem po respondera a esta
nova questão.

203
______________ História da
Ordem dos Advogados do Brasil

5 .5 . A n á lis e C o m p a r a t iv a do A nteprojeto barão de Lo r e t o e o

S u b s t it u t iv o A u r e l in o L eal

A diferença entre o projeto de 1904 e o seu substitutivo de 1914 é (além


daqueles que cita o parecer) o m aior detalham ento deste últim o das questões
postas pelo prim eiro. Enquanto o anteprojeto tem 23 artigos, seu substitutivo
tem 37 , sendo m uitos dos artigos desdobrados em vários itens e parágrafos.
Tanto u m quanto o outro explicita que as funções de advogado e solicitador,
ainda que distintas, poderiam ser exercidas cum ulativam ente. Tratava-se de uma
singularidade do anteprojeto m antido pelo seu substitutivo:

A nte P r o íe t o d e 1904

A rt. 2° A s d u a s p rofissõ es são d istin c ta s, m a s p o d e m ser exercidas


cum ulativam ente p o r quem tenha os requisitos legaes estabelecido tanto para
uma como para outra. (...)
Art. 20 (...) Quem pretender exercitar cum ulativam ente as profissões de
advogado e de solicitador deve inscrever-se no quadro de um a e de outra.
As inscrições dependem do pagam ento prévio de um a taxa de cem m il réis,
applicavel ás despezas da Ordem.

S u b s t it u t iv o de 1914

Art. 35° As profissões de advogado e solicitador são distinctas, m as podem ser


exercidas cumulativamente, um a vez satisfeitos os requisitos exigidos po r
ambas. {Ibid., p. 176)

A palavra estagiário e a idéia de estágio advocatício são defendidas no


parecer e a m p la m e n te esm iu çad a n o su b stitu tiv o an exo. A u relin o Leal,
defendendo a idéia, propõe u m “escritório m odelo” co m o u m a form a de suprir
a falta de prática nas faculdades de Direito:

...Pretendeu o relator attenuar o m al propondo a creação, em cada faculdade,


de ‘uma sociedade acadêmica, constituída p o r todo o corpo discente, presidida
superiormente p o r um professor, a quem incumbisse, especialmente, guiar os

B oletim d o I n s titu to d a O rd e m d o s A d vogados Brazileiros, n® 2, vol. I, 1925. “A C re a ç á o d a O rd e m dos


Advogados (collectanea dos p rin c ip a e s trabalho s relativos a esse a ss u m p to , o rg a n iz a d a pelo Dr. A rm a n d o
Vidal, 2 “ Secretario d o I n s titu to )”, p. 147 e 149.

204 •à l
V o lu m e 1 Lutci pc'Ici ( ' r i a c ã o o R c s i s i c n c i a s

alumnos no ensino pratico’. A inda para facilitar o seu objectivo, lembrou que
‘chegados ao 4° anno, p u d e sse m os e stu d a n te s ser a d m ittid o s com o
solicitadores...''^.

O substitutivo acrescenta na parte referente aos direitos e deveres dos


advogados (secçâo IV em am bos os projetos) o “direito” de requerer e falar
sentado n os tribunais e audiências p úblicas.“D ireito” que, e m 1901, o juiz do
T ribunal C ível e C r im in a l, Dr. E néas G alvão e n fr e n to u , le v a n ta n d o a
indignação do Instituto da Ordem dos A dvogados Brasileiros. Em seu artigo
27, 0 substitutivo recoloca um a questão que foi retirada pelas em endas do
anteprojeto de 1904: a de que os advogados e solicitadores estariam sob o
poder disciplinar do juiz quando em audiência.
N o parecer, a com issão deixa claro que o substitutivo passa à O rdem a
A ssistência Judiciária, sem a interferência do G overno, m as não diz algo
significativo e que, pela prim eira vez, era incluída n u m projeto de criação da
Ordem: a assistência seria prestada [tam bém ] aos estrangeiros independentes de
reciprocidade internacional (art. 30, § único. Ibid., p. 39).
N este m ntexto devem -se ressaltar alguns importantes aspectos do processo
formativo da advocacia no Brasil. Em primeiro lugar a questão de imprescindibüidade
dos estágios nas faculdades, a questão diferenciadora dos solicitadores e o poder
disciplinar dos juizes durante as audiências. C om binadam ente estas variáveis
indicam os cam inhos das resultantes futuras.

5 .6 . O S u b s titu tiv o A lf r e d o P in to

Em 6 de m aio de 1914, o substitutivo ao anteprojeto de 22 de setem bro de


1904 é apresentado ao Instituto. Entretanto, um ano depois, um a outra com issão
de justiça e legislação do Instituto, tendo com o relator Alfredo P into (Alfredo
Pinto Vieira de M ello) propõe um outro substitutivo'^ que prim a m ais pela
estratégia que facilite sua aprovação do que pelo detalham ento z elo so do
substitutivo de 1914.

'* In s titu to d a O r d e m d o s A d vo gad os Brasileiros. Parecer d a C o m m is sã o d e Justiça e Legislação so b re o


Projecto d e C reação d a O rd e m d o s A dvogados. Rio de Janeiro, Typ. d o Jorn al d o C o m m e rc io , de Rodrigues
& C . 1 9 1 4 ,p. 10.

205
______________ História da
Ordem dos Advogados do Brasil

O que actualmente a commissão de Justiça e Legislação tom a a liberdade de


propôr ao Instituto é que esses projectos e emendas sejam reunidos em synthese
em um novo projecto - composto de poucos artigo; de m odo que acceitos pelo
Congresso N a cion al as idéas capitaes sobre a creação da '‘O rd em dos
Advogados”, fique esta, então habilitada a p ro p o rã o Governo o seu Estatuto
no q u al serão condensada todas as disposições de caracter p u ra m e n te
regulamentar como são effectivamente, muitas das em endas offerecidaspelos
doutos collegas. (Ibid.)

A proposta da com issão é posta com energia e, diríam os m esm o, com


certa agressividade:

Se 0 Instituto abandonando esse alvitre quizer elaborar um Projecto completo


ou que deva abranger a estructura geral do instituto a crear - é claro que
obterá um resultado negativo pela po ssib ilid a d e de u m a in term in a da
discussão em torno de pontos secundários”. (Ibid., p. 178.)

A questão da organização o u da liberdade profissional, retórica que


acom panhou os projetos de criação da Ordem desde 1851, é tratada neste parecer
co m o um assunto encerrado. Erroneamente, nos parece, tendo em vista que
este projeto tam bém teve com o obstáculo a m esm a retórica.

F elizm en te p a r a o p a iz , cessou o espirito de anarchia qu e p reten d eu


transform ar no m ais revoltante mercantilismo a l i b e r d a d e p r o f is s io n a l que
a Constituição e os Tribunaes subordinam a limitações necessarias á ordem
juridica.
O titulo scientifico ou o diplom a de habilitação profissional é hoje necessário
p ara o exercido da advocacia, da medicina, da engenharia e de outras
profissões liberaes. (Ibid.)

N ão estarem os exagerando se disserm os que esta com issão convoca para


um a batalha, evocando e m exendo com o brio do Instituto:

B oletim d o In s titu to d a O r d e m d o s A dvogados Brazileiros, n° 2, vol. 1, 1925. “A C reação d a O r d e m dos


A dvogados (collectanea dos p rin c ip a e s trab alh os relativos a esse a s s u m p to ,o rg a n iz a d a p elo Dr. A rm a n d o
Vidal, 2° Secretario d o I n s titu to )”, p. 177 e 178._______________________________________________________

206 •Al
V o lu n u ' J L u ta pc'la C riac^ã o c R c s i s i c n i ins

Pois bem, estamos perfeitam ente apparelhados para reclamar a creação da


O rdem dos Advogados e devem os agir sem tibiezas, sem preoccupações
doutrinarias.
Ou este Instituto reage e vence, ou, então será preferível fechar as suas portas
desde que a sua existencia platônica não lhe perm ite realizar as aspirações da
classe, seroorgam immediato de sua defesa e dos seus mais legitimos interesses.
(Ibid.)

D esta form a, term ina o parecer, diferente do anterior, co n vocan d o o


Instituto a aprovar o substitutivo anexo e autorizar a apresentação n o Congresso
Nacional. E, assim foi feito. Em 16 de agosto de 1915, o segundo substitutivo do
projeto de 1904 foi apresentado ao Instituto e, em 14 de novem bro de 1916, o
Senado da República tom a ciência do projeto, através do senador M endes de
Almeida.
Eis, abaixo, a íntegra do substitutivo Alfredo Pinto que foi para o Senado
com o projeto n° 26, de 14 de novem bro de 1916.

P r o j e t o A l f r e d o P i n t o ^”

O Sr. M endes de Almeida - Sr. Presidente, pouco tempo m e demorarei na


tribuna.
O trabalho importante do Instituto dos Advogados do Brazil organizando a
Ordem dos Advogados, mereceu da parte de importantes jurisconsultos e
pessoas sabedoras do direito approvaçâo. Desejando ver quanto antes realizado
esse sonho, venho apresentar ao Senado um projecto baseado exactamente
nos termos em que foi elaborado pela eminente com missão do Instituto dos
Advogados, sendo relator o D r. Aurelino Leal^‘ , chefe de Policia.
N ão pretendo fazer hoje a analyse do trabalho, porque o tem po urge e nós
tem os v o tações im portantes na ordem do dia. R eservar-m e-hei para
discutir opportunam ente o assumpto, se assim o perm ittir o Senado.
Vem á mesa, é lido e fica preenchendo o triduo regimental, o seguinte:

A n ais lio Senado da Republica. Sessão d e 14 d e n o v e m b ro de 1916. “O sr. M en d e s d e A lm e id a ju s tific a n d o


u m pro je c to cre an d o , c o m c a rac te r official e p e rs o n alidade ju rid ica a O r d e m d o s A dv og ado s n o D istricto
F ederal” (P rojecto n° 26, p. 268 a 270),
" O re la to r é A lfredo P in to e n ã o A ure lino Leal.

207
______________ História da
Ordem dos Advogados do Brasil

Projecto

N. 2 6 -1 9 1 6
O Congresso Nacional decreta:

Art. 1° É creada, c o m caracter official e personalidade juridica, a Ordem


dos A dvogados no Districto Federal.
§ 1° A O rdem será constituída dos advogados inscriptos n os respectivos
quadros de accordo com as prescripções desta lei e do regulam ento
expedido para a sua fiel execução.
§ 2° A O rdem terá o seu regim ento interno e será adm inistrada por um
conselho com posto de um presidente e oito m em bros eleitos biennalm ente
por m aioria de votos da assembléa geral, com posta da m aioria relativa
dos advogados inscriptos.
§ 3° 0 presidente e os m em bros do conselho não p o d em ser reeleitos.
§ 4® A Ordem dos Advogados será representada para todos os effeitos
jurídicos pelo respectivo presidente.
Art. 2° São requisitos essenciaes para inscripção no quadro da O rdem dos
Advogados;
1 °, ser brasileiro nato o u naturalizado;
2°y ser graduado em sciencias jurídicas e sociaes p o r uma das faculdades
officiaes o u equiparadas da Republica;
3°, ter exercid o effectiv a m en te n o D istr ic to Federal a p ro fissão de
solicitador durante dous annos, o u por quatro em qualquer dos Estados
da Republica, o u pertencer á Ordem dos Advogados que, em qualquer dos
Estados, tenha sido fundada de accôrdo com as prescripções desta lei;
4°, estar livre de p ena e culpa.
Art. 3® A profissão de advogado é incompatível:
1°, com as funcções de Presidente da Republica e de M inistros de Estado;
2 °, com os cargos de magistratura local o u federal;
3®, com os cargos policiaes;
4°, com as funcções de escrivães, tabellião, official de registro, escrevente,
distribuidor, contador, depositário publico, porteiro d os auditorios e
official de justiça.
Paragrapho unico. Essas incompatibilidades não vedam que outras possam

208
V o lu m e 2 L u ta pol<i C n .K ^ à o (' R c sis tê n ci< is

ser estabelecidas em leis o u regulamentos especiaes.


Art. 4° Som ente os advogados, os solicitadores inscriptos no quadro da
Ordem poderão officiar perante a justiça federal e a justiça do Districto
Federal.
Art. 5® Os advogados e solicitadores inscriptos ficam sujeitos ás seguintes
penas disciplinares, no caso de graves infracções de ethica profissional.
1 °, advertencia;
2 ®, suspensão do exercicio da profissão por tempo não excedente a tres mezes.
§ 1° As penas serão im postas pelo C onselho da Ordem ou vid o sem pre o
accusado dentro do prazo de 10 dias da notificação.
§ 2® D a pena prevista n o n. 2 caberá recurso de effeito suspensivo, para o
C onselho Suprem o da Côrte de Appellação.
Art. 6 ° Os advogados e solicitadores, pelas faltas disciplinares com m ettidas
no foro ou em audiências, incorrerão nas penas disciplinares previstas nas
respectivas leis.
Paragrapho unico. O C onselho da Ordem tomará con hecim ento do caso,
m ediante reclamação do advogado punido e promoverá im m ediatam ente
a sua defesa si n o m esm o parecer illegal ou injusta a pena im posta.
Art. 7° O exercicio da profissão de solicitador do Districto Federal depende
da in sc r ip ç ã o e m quadro e sp e c ia l e está s u b o r d in a d o ás m e sm a s
incom patibilidades e penas previstas nos arts. 3° e 5°.
Art. 8 ° São condições para exercer a profissão de solicitador:
1 ®, ser graduado em sciencias jurídicas e sociaes por um a das faculdades
officiaes o u equiparadas á da Republica;
2°, ter d om icilio n o Districto Federal;
3®, estar livre de pena e culpa.
Paragrapho unico. C om quanto distinctas, as profissões de advogado e
solicitador p o d em ser cum ulativam ente exercidas por advogado.
Art. 9° Os actuaes advogados graduados em sciencias juridicas e sociaes e os
solicitadores provisionados pela Côrte de Appellação serão m antidos no
exercicio da profissão independentemente dos requisitos exigidos pelo art. 2 °,
n. 3 e art. 8 °, n. 1, desde que sejam inscriptos no respectivo quadro da Ordem.
Art. 10. O G overno expedirá o necessário regulam ento para a execução
desta lei, definindo a com petencia da assembléa e do conselho da Ordem
e os deveres e direitos d os advogados e solicitadores, creando o seu

209
______________ H istoriada
Ordem dos Advogados do Brasil

patrim ônio, rem odelando a assistência judiciaria, respeitados os direitos e


vantagens conferidos a seus m em bros pela legislação actual, e conferindo
ao Instituto da Ordem dos Advogados Brazileiros a attribuição privativa
de organizar o quadro dos actuaes advogados no Districto Federal e de
convocal-os em assembléa geral para a fundação defmtiva da instituição
creada.
Art. 11. Revogam -se as disposições em contrario.

Sala das sessões, 14 de novem bro de 1916 - F. M endes de Almeida.

5.7. Análise Comparativa dos Substitutivos 1914 e 1915/16

O projeto se contém em 11 artigos, bem diferente d o seu antecedente que


tinha 37. E tal com o anuncia a G^missão em seu parecer, o projeto se limita a
delinear sem detalham ento os parâmetros gerais para a criação da Ordem,
resum indo em poucas linhas o que o substitutivo Aurelino Leal especificava
em m uitos artigos que se desdobravam em vários itens e parágrafos.
Apesar da com issão afirmar que o projeto é um a síntese dos dois textos
anteriores, existem algumas inovações substantivas n o projeto apresentado ao
Senado. N o artigo que trata da incom patibilidade (art. 3°) é acrescentado um
texto prudente que nenhum outro projeto tinha proposto: Paragrapho unico.
Essas incom patibilidades não vedam que outras possam ser estabelecidas em leis
ou regulamentos especiaes. {Ibid., p .l7 9 .) U m a outra diferença é que o projeto
analisado explicita que a Ordem é criada no D istricto Federal (art. 1°, ibid.).
Enquanto o substitutivo exigia para ser u m solicitador, unicam ente, a
presença por dois anos nas audiências dos juizes e tribunais^^, o projeto de
1916 colocava c o m o exigência (art. 8 °) p a ra exercer a profissão de solicitador:
ser graduado em sciencias ju ridicas e sociaes p o r um a das facu ldades officiaes
ou equiparadas á d a Republica {ibid., p. 180). Assim o projeto de 1916 retomava
o dispositivo do projeto de 1880 que exigia que o solicitador fosse bacharel
form ado, no caso form ado em Direito e, neste de 1916, em ciências jurídicas
e socia is, que é a m esm a exigência para os ad vogad os que q u isessem se

“ N o a n te p ro je to d e 1904, a c o n ju n ç ã o n ã o era alternativa (o u ), m a s a d itiv a (e): ...e se a p p lk a d o á pratica


forense no escriptorio de u m solicitador (a il. 6 “). O seu sub stitu tiv o (1914) tro c a a c o n ju n ç ã o e acrescenta
o esc ritó rio d e u m advogado.

210
\'()lu n ic 2 U iia (ji.K .à o R ('s i> irn c 'ic is

inscrever na O rdem /^ Essa recorrência, o u este esforço na regulamentação do


solicitador/"* perdurará m e sm o depois da criação da OAB em 1930 e só em
1963, 33 (trinta e três) anos depois de criada a Ordem, a figura do solicitador
será extinta pela Lei n° 4.215, de 27 de abril de 1963 (Estatuto da O rdem de
1963) / '
Assim com o todos os projetos anteriores o projeto Alfreto Pinto não afronta
nem revoga a legislação vigente ou, o que eles chamavam de direitos adquiridos.

Art. 9® Os actuaes advogados graduados em sciendas jurídicas e sociaes e os


solicitadoresprovisionadospela CôrtedeAppellaçào serão mantidos no exercido
da profissão independentemente dos requisitos exigidos pelo art. 2% n . 3 e art. 8°,
n. I desde que sejam inscriptos no respectivo quadro da Ordem. (Ibid., p. 180.)

N o artigo em que o substitutivo Aurelino Leal inova permitindo a acumulação


das profissões de advogado e solicitador, a redação é melhorada, deixando daro que
quem pode acumular as duas profissões é o advogado e não o solicitador. Percebe-se
claramente um rigor maior quanto à ftmção de solicitador, rigor que não está presente
no substitutivo Aurelino Leal, a começar pelo Artigo 1- em que o substitutivo diz ser
a Ordem constituída pelos advogados e solicitadores, já o projeto de 1916 restringe a
formação da Ordem aos advogados inscritos. Comparemos os dois:

Art. 7® Fica creada, com personalidade juridica, a O rdem dos A dvogados

B r a s il e ir o s , constituída, para os effeitos desta lei, pelos advogados e solcitadores


(sic) que exercerem a profissão perante a justiça federal na capital da Republica
e a d o D istricto Federal.^^ (Substitutivo Aurelino Leal.)^^
Art. 1° É creada com caracter official e personalidade juridica a ‘O rdem dos
Advogados' no D istricto Federal. § 1° A Ordem será constituída dos advogados

Art. 2'’ São requisitos essenciaes para inscripção no quadro da O rdem dos Advogados (...) 2® Ser gradu ado em
Scieiicias jurídicas e sociaes p o r u m a das Faculdades officiaes o u equiparadas da Republica. Ibid., p. 179.
O u m e sm o sua e x tin ç ã o , Já q u e o p ro je to an alisad o (1916) exige g r a u a ca d ê m ic o id ê n tic o ao d o adv og ad o.
Sen.uio Federal, Su bsecretaria d e Info rm a çõ e s, w w w .senado.gov.br., m a io d e 2003.
In s titu to d a O r d e m d o s A d vo gad o s Brasileiros. Parecer d a C o m m is sã o d e Justiça e Legislação s o b re o
Projecto d a C reação d a O r d e m dos Advogados. Rio de Janeiro. Typ. d o Jornal d o C o m m e rc io , de R odrigues
& C , 1914. p. 1 a 42
A C o n stitu iç ão Brasileira d e 1891 d isp õ e n o a rt. 55: O Poder Judiciário da União tem p o r órgão u m S up rem o
Tribunal Federal, com sede na capital da República, e tantos ju ize s e tribu nais federais, distribuídos pelo
pflís, f)iiaiito o congresso creor. A C o n stitu iç ã o F ederal n ã o p ro p r ia m e n te in c o rp o ro u n a e s tr u tu ra judiciária
os trib u n a is d a s Relações. Ver A h a ü i o , Rosalina C o rrê a de. O Estudo e o Poder Judiciário no Brasil. 2“ ed.,
Rio d e Janeiro: L u m e n Juris, 2003.___________________________________________________________________

211
______________ História da
Ordem dos Advogados do Brasil

inscriptos no respectivo quadro de accordo com as prescripções desta Lei e do


Regulamento expedido para su a ftel execução. {Projeto Alfredo Pinto)^*'

Aquilo que é detalhado no projeto anterior {as competências da Assembléia


G eral, d o C o n se lh o da O rdem e o s direitos e deveres d o s a d vog ad os e
solicitadores entre outros) é deixado para ser regulamentado após aprovação
do projeto; O Governo expedira o necessário regulamento para a execução desta
lei... (Ibid.)
Em 22 de dezem bro daquele ano (1916), M aurício de Lacerda apresenta à
Câmara o Projeto n° 299 que Declara que as profissões de advogado ou solicitador
são incompatíveis com as funções que estabelece^^ (m ostrando a preocupação
presente em todos os projetos de criação da Ordem ). Lem brem os que o parecer
do projeto de criação da Ordem de 1916 ressalta que guardaram um a atitude
liberal em relação a incompatibilidade das profissões de advogado e solicitador;
“IiberaIismo”que não existe n o Projeto n” 299 de 1916. É, tam bém , interessante
le m b r a r q u e o P r o je to de c r ia ç ã o da O r d e m d e 1 9 1 6 , tr a ta n d o das
incom patibilidades, faz um a ressalva que anunciava o então futuro projeto n°
299 de 1916: Art. 3® Essas incompatibilidades não vedam que outras possam ser
estabelecidas em leis ou regulamentos especiaes (Op. cit.).

5.8. Análise Comparativa e Analítica dos Projetos de Criação


da Ordem dos Advogados

D iante deste últim o projeto enviado pelo Instituto para o Congresso surge
um a pergunta: H á alguma mudança, na essência da proposta, deste projeto de
1916 em relação ao projeto d e 1851? Ou, ainda, nestes sessenta e sete anos entre
o prim eiro projeto e este de 1916, entre as refutações do Sr. ít n r iq u e s (1851),
recorrentes ao longo dos anos, e de seus colegas, modificaram o presente projeto
analisado?

" B oletim d o I n s titu to d a O rd e m d o s A dvogados Brazileiros, n “ 2, vol. I, 1925. “A C re aç ã o d a O r d e m dos


A d vogados (collectanea d o s p rin c ip a e s trabalho s relativos a esse a ss u m p to , o rg a n iz a d a p e lo D r. A rm a n d o
Vidal, 2° S ecretario d o In s titu to )’’, p. 179.
A n n a es d o P a rla m e n to B razileiro - C a m a r a d o s Srs. D e p u ta d o s . Sessão d e 22 d e d e z e m b r o d e 1916.
“A p re se n ta d o o p ro je c to 299 p e lo D e p u ta d o M a u ric jo d e Lacerda. O p ro je c to estabelece os casos de
in c o m p a tib ilid a d e das profissões d e adv o g ad o e s o lic ita d o r co m as funcções q u e e n u m e r a ”, vol. XV, p.
204 e 205. Veja A n e x o VI.

212 •àM
V o lu m e 2 L u ta p o l a C r i a ( , a o c R c s i s t c n c i a s

Certamente podem os dizer que uma influência é evidente. O fato do projeto de


1916 ser elaborado com o sendo um resumo do de 1914, com o afirma o seu relator, é
uma influencia direta, uma modificação substantiva que tentava amenizar, ou não
dar margens, as longas controvérsias que foram presentes nos debates da Câmara em
1851, e que se fizeram presentes ao longo dos sessenta e cinco anos (1851/1916).
Contudo, podemos fazer uma pergunta mais específica: algum dispositivo foi excluído
ou alterado substantivamente, tendo por parâmetro os argumentos do Sr. Henriques
apresentado em 1851 contestando o Projeto Montezuma?
Para responderm os façamos u m quadro comparativo, usando tam bém o
substitutivo de 1914 que, “resumido”, se transformou no Projeto de 1916.

A. Pagam ento de taxas para o exercício da advocacia

O argum ento do Sr. Henriques era simples. A taxa que a O idem cobraria
acumularia c om as taxas das provisões cobradas pelas Províncias e pela Corte o
que seria um a despesa enorm e, especialm ente para os que não viviam na Corte,
onde a clientela era grande.
Todos os projetos d e criação da Ordem tiveram o cuidado em não afrontar
a legislação vigen te, inclusive as leis, d ecretos e avisos que tratavam do
provisionam ento do exercício da advocacia e dos solicitadores, assim co m o as
taxas, tributos e em olu m en tos estatais. O substitutivo de 1914 não foi exceção.
C ontudo, o projeto de 1916, estrategicamente, não trata do assunto, certamente
deixando para a form ulação do estatuto o referido dispositivo. Em resumo, em
nenhum projeto este dispositivo foi mudado.

B. As incom patibilidades com os em pregos públicos amovíveis

O Sr. H enriques não entende qual possa ser o prejuízo que existe nos
funcionários públicos amovíveis (os não vitalícios, os suscetíveis de transferência)
de exercerem a advocacia. Acha até m esm o que para alguns - com o os procuradores
fiscais, os promotores públicos entre outros - seria excelente que fossem advogados,
pois ficariam mais aptos para uma defesa dos interesses públicos.
Tanto o projeto de 1914 quanto de 1916, assim com o todos os anteriores,
tinham, inelutavelmente, o dispositivo criticado pelo deputado. Na verdade a

•à i 213
______________ História da
Ordem dos Advogados do Brasil

concepção de incompatibilidade da advocacia com certas profissões ou funções


era presente na legislação brasileira, já na época do Sr. Henriques, com o já tivemos
a oportunidade de mostrar.

C. Sobre o nivelam ento do advogado com o solicitador

O projeto de 1851 e m seu art. 14 dizia que o exercício da advocacia era


incom patível com a de solicitador. O Sr. Henriques reclama deste nivelamento.
Tanto o substitutivo de 1914 quanto o projeto de 1916 fazem a distinção
clara entre as duas funções. Entretanto, os dois projetos, em outro nível, fazem
tam bém u m certo nivelam ento entre elas (cada u m de m o d o diferente). O
projeto de 1916, tal com o o projeto de 1880, nivela o solicitador ao advogado
quando exigem dos dois o grau de graduados em D ireito o u em Ciências
Jurídicas e Sociais. E, observe, a ordem dos fatores é aqui relevante: são os
solicitadores que devem ascender a categoria acadêmica dos advogados.
Já o substitutivo de 1914 faz o nivelam ento colocando os solicitadores
c o m o m em bros com iguais poderes de decisão dos advogados da O rdem (veja
art. 1° do substitutivo, op. c/t.), con seq ü en tem en te rebaixando a categoria
acadêm ica da nova instituição que se queria criar.

D . Sobre o direito adquirido para advogar

A crítica do Sr. Henriques é que existem advogados com direitos adquiridos


por lei e que o projeto não respeita estes direitos, pois para que estes continuem
advogando têm que se filiarem à Ordem, dependendo assim de um novo título
e com novas despesas.
É claro que este quarto argum ento não poderia ser incorporado em
n en h u m projeto, já que ataca um a das funções principais da Ordem que é
cadastrar o s que exercem a advocacia; e é evidente que som ente cadastrando os
profissionais é que a Ordem poderia regulamentar o exercício da advocacia.
O Sr. Henriques, contudo, é bastante incorreto quando acusa o projeto de não
respeitar os direitos adquiridos, pois o m esm o (o u “os m esm os"ao longo dos anos)
teve um a clara preocupação em não ferir tais direitos, exigindo, contudo, que tais
“profissionais da advocacia” tivessem que se inscrever na Ordem dos Advogados.

214 «4B
V 'o k im c 2 L u la |)(.'la ( ' l i.iL.ao c R c s i ^I c i k las

E. Sobre a n om eaçao política do Conselho Disciplinar da Ordem

D iz o d eputado que o projeto é antipolítico porque os m em b ros do


Conselho Disciplinar e Administrativo seriam nom eados pelo governo, na Corte
pelo m inistro da Justiça e nas províncias pelo seu presidente. Ainda que sendo
som ente na primeira nom eação, o Sr. Henriques argumenta que tal dispositivo
subordinaria a Ordem às políticas que dom inavam na Corte e nas províncias.
Acredita que m elhor seria se os m em bros do C onselho fossem nom eados por
um a assembléia de advogados.
Este é o m ais ju d icioso, o mais acertado argum ento do parlamentar,
plenamente incorporado pelo substitutivo de 1914,^° onde os m em bros diretores
da Ordem são eleitos, pela primeira vez, por um a assembléia de advogados, no
caso o Instituto da Ordem dos Advogados Brasileiros.
O projeto de 1916, ainda que, por força de sua estratégia,^' deixa claro
sua posição no art. 10:

O governo expedirá o necessário regulamento para a execução desta lei, (...)


conferindo ao Instituto da O rdem dos Advogados Brasileiros a attribuição
priva tiva de organizar o quadro dos actuaes advogados no D istricto Federal
e de convocal-os em assemblea geral para fundação definitiva d a instituição
creada. (Op. cit.)

F. Sobre docu m en tos assinados por advogados e preparados por outros

O art. 15 do projeto de 1851, diz:

Artigo 15^^ N enhum A dvogado assignará requerimentos, memórias, libellos,


contrariedades, replicas, tréplicas, razões finaes, ou quaesquer outros artigos
e allegações, que forem feitas p o r outrem sob pena de suspensão p o r seis meses,
e de multa de cem m il reis pela prim eira vez, do dobro pela segunda, e de
expulsão da O rdem pela terceira.

E ta m b é m p e lo p ro je to q u e v in g o u , o u seja, o q u e re g u la m e n to u o a r t. 17 d o D e creto 19.408, d e 18 d e


n o v e m b ro d e 1930, c ria n d o a O r d e m d o s A dvogados d o Brasil. O p. cit.
N ã o e sm iuçar os dispositivos p a r a n ã o d a r m a rge ns a discussões q u e p o ssa m im p e d ir a a provação d o projeto.

275
______________ História da
Ordem dos Advogados do Brasil

N as mesmas multas, suspensões, eperda de Ojficiopela terceira vez, incorrerão


os Escrivães, que continuarem [os] feitos com vista á Advogados, que apenas
assignarem, e não forem os proprios, que tratarem das causas. (Op. cit.)

O deputado acha impossível de determinar se tal o u tais docum entos foram


assinados por fiilano e não por sicrano. A lém disto, acha a penalidade m uito
severa e, acredita, que pela dificuldade em determinar quem assinou o que,
gerará m uitos julgam entos injustos do Conselho.
O parlam entar não está errado. É e v id en te que é quase im possível
determinar quem foi o autor de um dado docum ento judiciário, caso não haja
um a confissão ou denúncia, que, neste caso, pode ser um ato de represália e não
necessariamente, um a revelação de um a fraude, o que p o d e gerar injustiças
c o m o afirma o deputado.
A prática de assinar docum entos de autoria de outrem , condenado pelo
projeto da Ordem, provavelmente continuará enquanto houver docum entos a
serem assinados; e a dificuldade em identificar, o u m esm o de restringir ou
extinguir tal prática, tam bém continuará durante m uito tem po. Entretanto,
ainda que quase im possível executar o artigo 15, nos parece ser um a questão
ética irrefutável, não abolida pelo projeto de 1914 e, m esm o que o projeto de
1916 não tenha o dispositivo, crem os que o seu estatuto o teria.

G. Sobre a inconstitucionalidade de um a Ordem dos Advogados

Para o deputado o projeto não tem utilidade pública é, portanto, inútil e,


sendo inútil é inconstitucional. Acredita que o projeto é inútil porque o sistema
legislativo em vigor na época não tinha nenhum a reclamação dos que por ela
eram regidos e administrados.
Certam ente havia um a legislação que regulava os advogados e o exercício
da advocacia, contudo, não havia um a peça legislativa co m o o projeto de criação
da Ordem, regulamentando de forma sistêmica, o u seja, afetando organicamente
todos os que exerciam as funções advocatícias. Desta forma, sem dúvida o projeto
não era inútil, m as incôm odo.
O sétim o argum ento nos parece ter um a carga retórica e constitui-se em
u m raciocínio sofistico maior do que os anteriores argumentos, contudo, ele é

276 «41
V o lu m e 1 L u ta p e l a C riac^ào c K c s i s t c n c i a s

um a das principais concepções que perduraram durante anos n o Congresso


evitando que a Ordem dos Advogados fosse criada.

H . Sobre a inconstitucionalidade do projeto porque cria m ais u m tribunal

Para o parlamentar o projeto é inconstitucional porque acredita que o


Conselho Disciplinar e Administrativo com poderes de advertir, repreender,
im por penas e m ultas faz o papel previsto na legislação em vigor, e assim, o
projeto, desnecessariamente, cria mais um tribunal.
Este oitavo a rg u m en to está in trin secam en te v in c u la d o ao anterior,
entretanto este ataca u m dispositivo específico. Dispositivo tam bém presente
no substitutivo de 1914 e n o projeto de 1916. Entretanto c o m ressalvas. O
substitutivo de 1914 achou por bem excluir a pena de expulsão (c o m o declara
em seu parecer, op. cit.) enviando para o Governo os casos que chegarem a tal
nível de penalidade. O projeto de 1916, manteve a m esm a resolução. E, tanto
um quanto o outro (assim com o a maioria dos projetos anteriores) têm o
cuidado de não desautorizar os juizes e tribunais, c om o vem os nos arts. 26 e 27
do substitutivo de Aurelino Leal de 1914.

Art. 26. Quando um membro da Ordem commetter qualquer dos crimes a que se
refere o art. 2 0 9do Cod. Pen., o Conselho procederá ao respectivo inquérito e remettel-
0 'á ao ministério publico para esclarecer a sua acção. Nem inquérito, o inculpado
será admittido a defender-se da imputação criminosa.

Art. 27. Os juizes e tribunaes continuarão a exercer o p o d e r disciplinar sobre


os advogados e solicitadores quando as faltas forem commettidas em audiência.
Em taes casos, o Conselho da O rdem não p oderá proferir outra p en a pelo
m esm o facto.

V em os d isp o sitiv o sem elh an te n o projeto de 1916, que, c o n tu d o se


diferencia pela concisão e por u m simpático parágrafo único.

Art. 6° Os advogados e solicitadores pelas faltas disciplinares com m ettidas no


fôro ou em audiências, incorrerão nas penas disciplinares prevista s nas
respectivas leis.

•4 1 2 7 7
______________ História da
Ordem dos Advogados do Brasil

Paragrapho unico. O Conselho d a O rdem tom ará conhecimento do caso,


m ediante reclamação do advogado pu n ido e prom overá im m ediatam ente a
sua defesa si ao mesmo parecer illegal ou injusta a p en a imposta.

Ainda que este oitavo argumento ataque, diferente do sétimo, u m dispositivo


específico, u m e outro se completam. Neles residem a tese (ou o pré-conceito) de
que a criação de uma Ordem dos Advogados é um retorno as corporações medievais,
afrontando a liberdade profissional assegurada pelo art. 179, item 24 da Constituição
do Império, (op. cit.) Argumento que se sustentou também durante a República,
apoiando-se no art. 72, § 24 da Constituição da República, (op. cit.)
O estudo comparado dos projetos imperiais e republicanos na linha do tempo
demonstra que a flutuação argumentativa nas reações aos projetos são poucos
significativas e, interessantemente, não se define no tempo um corpo de argumentos
teóricos ou ideológicos favoráveis. Por outro lado, o que se verifica é que as conquistas
estatutárias são lentas e graduais e de pouquíssimos resultados práticos. Na verdade,
projetos e reformas estatutárias não viabilizaram a transmutação do Instituto dos
Advogados em Ordem dos Advogados. A sua criação foi m esm o u m ato de Estado,
de um governo revolucionário vitorioso sobre as velhas oligarquias republicanas.

5.9. O Projeto Alfredo Pinto e sua Tramitação na Comissão do


Senado de 1916 a 1925

Em 1925, com o nos inform a A rm ando V id al/^ o projeto n° 26 de 14 de


novem bro de 1916 - nove anos após sua apresentação no Senado - encontrava-
se ainda parado na C om issão de lustiça e Legislação.
Antes de ir para a Comissão o projeto teve, ainda na Assembléia, uma pequena
discussão em 21 de novembro de 1916, seguida de outra, tam bém breve, em 22
de novembro de 1916 com uma declaração de voto contrário ao projeto:

N o B oletim d o In s titu to da O r d e m d o s Advogados Brasileiros d e 1925. o seg u n d o -se c re tá rio d o In s titu to ,


A rm a n d o Vidal, faz u m le v a n ta m e n to d o c u m e n ta l referente ao p ro je to d e 14 d e n o v e m b ro de 1916, diz
ele: A discussão do Projecto, creanáo a O rdem dos Advogados, apresentado ao Congresso N acional pelo
então senador Fernando M end es e m 14 de novem bro de I9J6, tem sido tão dem orada, que nos pareceu de
vantagem reunir os docum entos referentes aos precedentes do Projecto e á sua m archa no Congresso Nacional.
P o r força d e sua p ro x im id ad e d o fato - n ã o só cro n o lo g ic a m e n te, m a s, e ta m b é m , pe lo interesse declarad o
p e lo a ssu n to - o secretário fez u m le v a n tam en to vasto e p ro fíc u o d o s trâ m ites d o c u m e n ta is n o C o ng resso
N acion al referen tes ao p ro je to de cria ç ão d a O rd e m . Ju n to co m o le v a n ta m e n to qu e fizem os, usarem o s
ta m b é m o tra b a lh o d o ilustre m e m b r o do In s titu to d a O rd e m d o s A d vo gad o s Brasileiros.

213 • ▲I
V o lu m e 1 L u fa pc'la C r i a ç ã o v. R i ' s i s i c n c i J b

Declaro ter votado contra o projeto n° 26, p o r julgar que o m esm o institue
um privilegio p a ra a O rdem dos Advogados no D istricto Federal, contrario
ao regimen republicano vigente.
Rio, 22 de novembro de 1916 - Soares dos Santos^^

Em 27 de dezem bro de 1916 o projeto foi enviado à C om issão de Justiça e


Legislação (ibid.) e lá perm aneceu até que Alfredo Pinto, relator do substitutivo
que se tornou o projeto n® 26, assum iu o cargo de m inistro da Justiça (28/07/
1919 a 03/09/1921)^^ e interveio junto ao Senado fazendo c o m que a C om issão
emitisse um parecer em agosto de 1919 e desse prosseguim ento à discussão do
projeto em 13 de agosto de 1919,^^ (debates que se estenderam até dezem bro
de 1921 sem que o projeto fosse aprovado).
N o s d e te r e m o s nas duas ú ltim as sessões da C o m issã o o n d e foram
aprovadas as em endas de forma a termos um a amostra de c o m o trataram a
questão.
P u b licad o n o D iário do C ongresso N a cion al de 17 d e setem b ro de
1920^^ a d iscu ssão sobre o projeto n° 26 foi objeto d e em en d as, algum as
m utiladoras c o m o a supressão do § 1° do art. 2° que exigia c o m o co n d iç ã o
para a inscrição na O rdem , ser brasileiro nato ou naturalisado.^^ A em en d a
dava, assim , m argem a que u m estrangeiro, sem c o n h e c im e n to da legislação
brasileira, advogasse no país. Outras em endas n o s pareceram ten d en cio sas,
com a que é aprovada para tom ar o lugar do § 2 ° do art. 2 °, ela tirava a
exigência para a inscrição na Ordem: ser g ra d u a d o em sciencias ju rid ic a s e
sociaes... e co locava em seu lugar: ter dous anos de serviços, ou na advocacia,
ou na ju d íca tu ra , ou no M in istério Publico, ou com o professor em q ualqu er
fa c u ld a d e de direito official ou equiparadas.^^ É interessante observar que o
art. 8 ° ficou in alterad o, e n treta n to era flagrante sua in c o e r ê n c ia co m a
em en d a citada: art. 8° São condições p a ra exercer a profissão d e solicitador: 1 ®

” B oletim d o In s titu to d a O r d e m d o s A dvogados Brazileiros, n° 2, vol. I, 1925. “A C re aç â o d a O r d e m dos


A dvogados (collectanea d o s p rin c ip a e s tra b a lh o s relativos a esse assu m p to , o rg a n iz a d a p elo D r. A rm a n d o
Vidal, 2“ Secretario d o in s ti t u t o ) ”, p. 184.
” Relação d o s m in is tro s da Justiça, http ://w w w .m i.go v.b r
" B oletim d o In s titu to d a O r d e m d o s A dvogados Brazileiros, n» 2, vol. I, 1925. "A C re aç ã o d a O r d e m dos
A d vogados (collectanea d o s p rin c ip a e s tra b a lh o s relativos a esse a ss u m p to , o rg a n iz a d a p elo D r. A rm a n d o
Vidal, 2° Secretario d o I n s titu to )”, p. 186.
D iá rio d o C o ng resso N acio nal, a n n o XXXI, n. 114, 17 d e se te m b ro d e 1920, p. 2931 e 2932.
” A p rim e ir a e m e n d a foi n o § 3° d o art. 1°, lim ita n d o a reeleição d o p re s id e n te a d u a s vezes so m en te.
" D ia rio d o C o ng resso N a c io n a l, a n n o XXXI, n. 114, 17 d e se te m b ro d e 1920, p. 2931 e 2933.

•4 1 219
______________Historia da
Ordem dos Advogados do Brasil

ser gra d u a do em sciencias ju ríd ica s e sociaes p o r um a das fa cu ld ad es officiaes


ou equiparadas da Republica (op. cit.).
A em enda seguinte, no art. 3°, amplia um pouco mais as incompatibilidades
da profissão de advogado. O art. 4° toma nova redação especificando, conform e
proposta de emenda, quais os profissionais que poderiam oficiar diante da justiça
federal e do Distrito Federal.
A o art. 5° acrescentou-se que o advogado punido com suspensão pudesse
recorrer, assim com o cria u m Tribunal de Recurso, que se comporá dos membros
da O rdem reunidos emAssem bléa, excluidos os membros do Conselho, (ibid.)
Por fim, a com issão acrescenta u m artigo que atrela as organizações da
Ordem em âm bito estadual à Ordem do Distrito Federal de que trata o projeto.

Si a Ordem organizada pela legislação estadoal obedecer as mesmas normas desta


lei, e do regulamento respectivo, ecommunicarao Conselho da Ordem noDistricto
Federal todas as matrículas epenalidades e mais factos ocorridos na sede respectiva,
os advogados e solicitadores, ahi matriculados, poderão, e só elles, officiarperante
a justiça federal, no mesmo Estado e em qualquer outro. (Ibid.)

Em 1° de outubro de 1920, o Diário do Congresso Nacional publica novas


discussões da C om issão de Justiça e Legislação sobre o p rojeto n° 2 6 .^ As
sugestões iniciam, novam ente, tendo com o foco o art. 2 °, objeto de em endas na
sessão anterior de 17 de setembro de 1920. (op. cit.)
O Sr. Vespucio de Abreu, na sessão de 1° de outubro d e 1920, p ro p õe uma
em enda simples, o u seja, suprimir o n° 3 do artigo segundo, que exige para a
inscrição no quadro da Ordem que o solicitador exerça efetivamente a profissão
durante seis anos na capital e quatro anos nos Estados. Abaixo a redação do
item 3 do 2° artigo:

Art. 2® São requisitos essenciaes para inscripção n o quadro da Ordem dos


Advogados: (...)
3" Exercer effectivam ente no D istricto Federal a profissão d e solicitador
d urante dous annos, ou p o r quatro annos em qualquer dos Estados da
Republica; ou pertencer á O rdem dos Advogados que nos Estados tenham
sido fundados de acordo com as prescipções desta lei. (op. cit.)

D ia rio d o C o ng resso N acional, a n n o XXXI, n. 125, 1” de o u tu b r o de 1920.

220
volum e J. L u ta p o l a C r i a ç ã o c R e s is tê n c ia s

Se fosse aceita a em enda do Senador som ente restaria ao artigo segundo o


4° item: estar livre de pena e culpa e, mais a em enda do Sr. A dolpho Gordo,
aprovada na sessão publicada em 17 de setembro de 1920 (ibid.), que diz que
para a inscrição na O rdem basta ter dous anos de serviços, ou na advocacia, ou na
judicatura, ou no M inistério Publico, ou como professor em qualquer faculdade de
direito official ou equiparadas.
O senador do Rio Grande do Sul, Vespucio de Abreu, tam bém propôs
outra em enda simples: retirar o art. 4°,'*'’ que diz:

Somente os advogados e solicitadores inscriptos no quadro d a Ordem, ora


instituida, poderão ojficiar perante a justiça federal, no Districto Federal e nos
Estados, onde não houver ordem organisada, de accôrdo com esta lei e respectivo
regulamento e perante a justiça local do Districto Federal {Op. cit.)

A pesar de m a is curta d o que a p u b lica çã o an terior d o D iá r io do


C on gresso N acion al, esta m ostra u m p o u co m ais explícita, a resistência que
ainda havia à regulam entação da profissão. A o propor que se deixasse no
art. 2° so m e n te a em en d a do Sr. A d olp h o G ordo e que se su p rim isse o art.
4°, o senador V espucio de Abreu deixa ev id en ciad o q u e sua in ten çã o era
esquartejar o d isp o sitiv o que tratava da form ação do quadro da O rdem dos
A d vogados. E, desta form a, cooptar o projeto ao sta tu s vigen te, em que
in d iv íd u o s sem a devida form ação acadêm ica, o u sem n e n h u m a form ação,
exerciam a advocacia.
A resistência é ainda m ais explícita na fala do Sr. Marcilio de Lacerda, que
cham a a attenção p ara as disposições do art. 3°, n° 4,‘*' que veda o exercício da
advocacia para todos quantos exerçam officios ou empregos públicos remunerados,
frisando que com batia calorosam ente ta l providencia'*'^. A d olp h o G ordo e
Raym undo de Miranda falaram logo após, mas não foram registradas suas falas.
A co m issã o se m a n ifesto u contra o Sr. M arcilio de Lacerda m a n te n d o o
dispositivo criticado.

D iário d o C o ng resso N a cio n a l, a n n o XXXI, n. 125,1 de o u tu b r o de 1920.


Ari. 3° A profissão de advogado é incompatível: (...) 4° com as funcçòes de es crivão, tabelião, official de registro,
escrevente, distribuidor, contador, depositário publico, porteiro do auditorios e o fic ia l dejiistiça. O p . cit.
D iario d o C o n g re sso N acion al, a n n o XXXI, n. 125,1 d e o u tu b r o de 1920.

2 27
______________ História da
Ordem dos Advogados do Brasil

A o fim , o senador Rego M onteiro,

...pondera que vê com pezar ser eliminada do projecto a disposição que exigia
para fazer parte da Ordem a condição de ser brasileiro ou estrangeiro naturalizado,
declarando que opportunamentefará uma declaração nesse se n tid o ”.

Finalizando a discussão, o relator, Raymundo de Miranda, tom a para si a


incumbência de redigir parecer para dar encaminhamento ao projeto. Contudo, antes
de mandar o projeto de volta para a assembléia o Sr. Eusebio de Andrade, membro da
comissão, pediu para ler o projeto, não apoiando a resolução naquela data.

5 .1 0 . O Ú lt im o In c id e n te R e p u b lic a n o s o b re a C ria ç ã o da O A B

Em julho de 1921, u m incidente, u m mexerico, alim entado pela m ídia, no


caso a Gazeta d e Notícias, se faz em torno do projeto de n° 26. N o jornal citado,
é publicada a manchete: O C h efe d o E st a d o a p o ia r á a O r d e m d o s A d v o g a d o s -

TU D O DEPEND E D O Sr. R a Y M U N D O DE M i r A N D A .

O relator do projeto, em sessão da Câmara de 22 de ju lh o d e 1921,'’“'


levanta a questão posta pelo jornal em busca de sua defesa. Ele lê para os seus
colegas o jornal que, noticiando sobre o projeto de criação da Ordem , finaliza
acusando-o de reter o projeto consigo:

Depois de terem estado, ha dias, na Secretaria do Palacio do Cattete, voltaram


hontem á séde da presidencia e foram recebidos pessoalm ente pelo Chefe da
Nação os Drs. Herbert Moses, Castro Nunes e M outinho Doria, os quaes
reiteraram a 5. Ex. o pedido de apoio para o projecto, actualm ente no Senado,
creando a O rdem dos Advogados Brasileiros.
O Sr. Dr. Epitacio Pessoa p rom etteu a m parar como p u d e r esse projecto,
reputando-o um a iniciativa louvável, que só poderá concorrer para m anter a
elevação m oral da classe.
Há, porém , uma circunstância que difficulta no m om ento a prosecussão do
trabalho parlam en tar sobre o assumpto. É a d e na ultim a vez que o Senado

S upressão feita n a sessão da C o m issã o de Justiça e Legislação em 17 d e se te m b r o de 1920. O p . cit.


** A nn aes d o P a rla m e n to B ra z U e iro - C â m a r a do s Srs. D e pu tad o s. Sessão d e 22 d e ju lh o d e 1921: “ D iscurso
d o Sr. R a y m u n d o d e M ir a n d a ”, vol. II, p. 369 e 371.

222
V o lllllK ? L c iL i [)C'í<i ( c K c N o f r r K ia s

esteve considerando o projecto, terem sido os documentos distribuídos para


estudo ao então Senador R aym undo de M iranda.
Agora, tendo deixado de fazer parte daquela Casa legislativa e occupando
um a cadeira na Camara, o referido Congressista não devolveu os papéis á
Comm issão que Ih’os conftou.
Eis só de que depende a votação do projecto creando a O rdem dos Advogados
(Ibid.).

O acusado defende-se citando docum entos que, segundo ele, provavam


sua dedicação na tarefa de conduzir a termo o projeto. Projeto que ele ajuntou
ao parecer de sua autoria e entregou ao senador Eusebio de Andrade, que ao
fim da sessão da Com issão, p ed iu vista do documento, (ibid.)
Seus argumentos e suas provas documentais convenceram seus colegas da
Câmara que, ao fim de sua intervenção, aclamaram: muito bem; muito bem. (ibid.)
Realm ente p o d em o s constatar que em 28 de setem bro de 1920, o Sr.
Raym undo d e Miranda apresenta, conform e tinha se c o m p ro m e tid o , o p ro jeto
emendado^® e, co m o ele afirma na Câmara dos D eputados, deve ter entregue,
em data próxima o u na m esm a, ao senador Eusebio de Andrade que, entretanto,
som ente em novem bro de 1921 (ibid.)'*^ é que aparece na assembléia do Senado
com o projeto, o substitutivo e seu voto vencido. Assim se pronunciou o senador:

N ão posso dar m eu voto de approvação, quer ao projecto n. 26, de 1916, da


autoria do mesmo Instituto, adoptado e apresentado ao Senado pelo nosso
sa u dosissim o collega Sen a d o r F ernando M endes de A lm e id a , q u er ao
substitutivo offerecido em 3° discussão e acceito pela maioria dos m em bros da
Commissão de Justiça e Legislação, porque um e outro m e parecem peccar por
vicio de inconstitucionalidade.
Sou dos que consideram a creação de uma Ordem de Advogados, com c a r a c t e r
OFFICIAL, um retrocesso ao longinquo e relegado passado, porque semelhante
instituição é um a verdadeira c o r p o r a ç ã o d e o f f ic io , que não se adapta á indole

^^Diario d o C o ng resso N a c io n a l- R e p ú b lic a d o s Estados U n id os d o Brasil, a n n o XXXI, n “ 122,28 d e s ete m b ro


de 1920, p. 3156/3157. Veja ta m b é m : B oletim d o In s titu to d a O r d e m d o s A d vogados Brazileiros, n® 2,
vol. I, 1925. “A C re aç ã o d a O r d e m d o s Advogados (collectanea d o s p rin c ip a e s tra b a lh o s relativos a esse
a ss u m p to , org a n iz a d a p e lo D r. A r m a n d o Vidal, 2“ Secretario d o I n s titu to ) ’’, p. 204 e seg.
M ais d e u m a n o d e p o is d a a p re se n ta ç ão d o sub stitu tiv o pelo relator d o p ro je to à asse m b lé ia d o S e n a d o e
q u a tro m eses d e p o is d a p u b lic a çã o d a G azeta de Notícias d is c u tid a n a C â m a r a do s D e p u tad o s.

223
______________ História da
Ordem dos Advogados do Brasil

do nosso direito p o r ser contraria ao nosso actual systema constitucional, como


já 0 era 0 preceito expresso da constituição do Império.
A revolução franceza, que marcou na historia da hu m an idade a chamada
G RA N D E CRISE, aboHu em França as velhas instituições monarchicas, irradiou
pelo mundo a sua influencia estabelecendo e proclamando o reconhecimento
dos direitos do homem, extinguiu as corporações de officio, isto é, os privilégios
e monopolios á hierarchia de varias profissões. Para o exercido de qualquer
officio, de qualquer arte ou profissão deixou de ser indispensável ter sido
p ré v ia m e n te inscripto, a d m ittid o ou ju ra m e n ta d o em u m a corporação
( a s s o c i a ç ã o c o m c a r a c t e r o f f i c i a l ), subordinado a um certo numero de regras,
subm ettido á disciplina, sujeito á fiscalização e direcção de um a autoridade.
(...) ...Em face porém , da Constituição Federal e dos principios p or ella
prescriptos, officializar um a corporação de classe, im porta em um a restricção
ao direito de liberdade profissional. (Ibid. p. 208 a 210.)

Os dispositivos que tratam das incom patibilidades são ressaltados pelo


senador:

Além de investir um a corporação particu la r de attribuição e au toridade


p a ra im pôr pen as (art. 7° do substitutivo e art. 5° do projecto), ha nos
dispositivos do art. 3° do substitutivo, visivel e accentuada preoccupação de
afastar do exercido d a advocacia a um grande numero de profissionaes,
inclusive magistrado aposentados, empregados das repartições administrativas
e, em geral, “a todos quantos exercem o f f ic io s ou empregos p ú b l ic o s

r e t r ib u íd o s ” leva n d o o desejo d a proh ibição, ou antes, o p r u r id o da


IN C O M P A T IB IL IZ A Ç A O a a u to riza r a creação de outras incom pa tibilid a des
(paragrapho unico do art. 3°).
Sem duvida, justifica-se que aos escrivães, escreventes, tabelliães, officiaes de
registro, contadores e quantos estão comprehendidos no n. 4 do art. do
substitutivo assim como aos incluidos no n. 1 do mesm o artigo, seja vedada a
profissão de advogado, porque collide evidentem ente com o exercido dos
respectivos cargos. Mas, não se p ó d e justificar que fiq u em prohibidos de
advogar todos quantos exercem cargos adm inistrativos fóra do fôro e dos
tribunaes ou das raias judiciarias. (Ibid. p. 215.)

224
V o lu m e 2 Luta pola Criai,.Io o Resistcncias

E conclui:

Q uer histórica, quer juridicam ente, tanto o projecto quanto o substitutivo


representam um a idéa archaica, e, na phase de Pim enta Bueno, jÁ p r o s c r ip t a

PELA C IV IL IZ A Ç Ã O c cxprcssam eute condem nada pelo preceito d a propria


Constituição do Império.
Corporação p u ra m en te scientifica de advogados já existe o Instituto, de
gloriosa e fecunda existencia. Continue elle a prestar o concurso de suas luzes
ao progresso do nosso direito e á elaboração da nossa legislação. Concedam-
se-lhe, como bem justificam ente merece, todas as regalias, todas as honras,
auxilios e favores para form ação do seu patrim onio. Enxertar, porém , ao seio
da classe dos advogados um a O rdem, tal como está architectada e concebida,
é idéa a que não posso prestar o concurso de m eu voto, nem como advogado,
nem como legislador. (Ibid., p. 216.)

C om o podem os notar, a resistência à criação da Ordem tem os m esm os


argum entos de 70 anos atrás, a m esm a questão da “organização corporativa”
atrelada à acusação de que a O rdem seria u m retrocesso às corp orações
medievais.
Em sessão do Senado de 2 4 de novembro de 1921 (ibid.), o Instituto form ou
um a frente de batalha com M outinho Doria, Solidonio Leite, Julio Barbosa, Castro
Nunes e Gabriel Bernardes. Foram ao Senado preparados para refutar a declaração
de voto do senador Eusebio de Andrade, que, apesar de ter sido um voto vencido na
comissão: o Sr. Marcilio de Lacerda, depois de algumas ponderações salientando
o trabalho do Relator, requereu fosse o m esm o impresso para estudo, por conter
materia nova sobre o assum pto, o que foi approvado. (ibid.)
Transcreveremos alguns trechos das declarações de M o u tin h o D oria (o
prim eiro a se m anifestar na sessão) à guisa de term o s u m a am ostra dos
argum entos do Instituto diante das concepções e preconceitos que perduravam
mais de m eio século, constituindo-se um dos im pedim ento à criação da Ordem.

(...) N em a organização projectada envolve a creação de um a co rpo ração de

O F F IC IO , nem é con tra o d ire ito in d iv id u a l e a lib erd a d e d e trabalho


proclamados pela Revolução Franceza e consagrados nas constituições politicas
e legislações de paizes democráticos e modernos.

•à l 225
______________ Historia da
O rdem dos Advogados do Brasil

N ão é um retrocesso, mas, ao contrario, uma phase de evolução adiantada,


uma conquista de sociedade bem organizada, cuja civilização proveja o bem
publico e 0 interesse geral. (...)
A a ssem bléa c o n s titu in te reu n id a d e p o is d a q u é d a d a B astilh a não
com prehendeu entre as corporações de officios, p o r ella expressam ente
extinctas, as ordens dos advogados existentes nas cidades francezas, occupou-
se separadam ente d o assum pto e m ostrou assim que não eram a m esm a
cousa{...)
N enhum a prova m ais convincente se p ôde fazer de que a extincção da Ordem
dos A dvogados não representava u m a aspiração do espirito liberal da
Revolução do que, primeiro, não ter sido restabelecida em 1810, p o r Napoleão
como um a necessidade indeclinável na vida judiciaria da França, da França
progressista em tem po de paz, pioneira d a civilização européa nas artes e nas
sciencias como nas instituições sociaes.
Torna-se m ais brilhante a demonstração de que a Revolução não aboliu a
O rdem como corporação de officio porque não a considerou como tal, que
apenas a O rdem soffreu o choque da anarchia revolucionaria p ara logo se
restabelecer, conhecendo-se a defesa que delia fe z Robespierre, um a das tres
figuras culminantes da época, e convém ler essa defesa ao lado da conclusão
idêntica á do voto divergente do honrado Senador Eusebio de Andrade, para
responder a essa [sic.] voto com as mesmas palavras de um dos grandes
promotores da Revolução. (...)
O argum ento tirado das corporações de officios e da Revolução Franceza nos
pareceu carecer de mais detido exame, para dem onstrar que nem aquellas se
confundiram com as instituições creadas pelos advogados, nem a revolução
conseguiu abolir estas que rebrilharam, depois de pacificado o paiz, como
um dos m ais poderosos factores da cultura adiantada e do progresso exemplar
da sociedade. (...)
Restará dizerm os da segunda these que reputam os essencial no voto vencido,
sobre a offensa ao direito individual e liberdade de trabalho ou o vicio de
inconstitucionalidae, e friza rm o s em seguida q u e não se tra ta d e um a
antiqualha porque tem sido adoptada p o r paizes adiantados que ainda não
a possuiam e que o Codigo de Ethica Profissional não basta, o que faremos
em outra opportunidade que se nos offereça. (Ibid., p. 218, 2 2 0 ,2 21 e 224.)

226
V iilu m c J L u t a |)(' l.t ( j i a c i i o R c^ i s tO n ci a s

Sem grandes n o v id a d e s as declarações se desenrolaram . Tanto as a


favoráveis à criação da Ordem quanto as contra, e

Finda a leitura do trabalho do instituto, o Sr. Marcilio de Lacerda pediu vista


dos papeis para elaborar o seu voto sobre o assumpto, com um a em enda
substitutiva ao projecto.
Foi-lhe concedida a vista pedida.
O Sr. Adolpho Gordo agradece a collaboração da commissão do Instituto da
O rdem dos Advogados.
O Sr. M o u tin h o D oria, fin a lm e n te agradece o a colhim ento que teve a
commissão de que fe z parte.
O Senador Marcilio de Lacerda não sendo reeleito devolveu ospapeis á Commissão,
onde se acham com vista ao Senador Vespucio de Abreu. {Ibid., p. 256.)

Desta forma, o projeto n® 26, de 14 de novem bro de 1916, se perde no


silên cio da C o m issã o d e Justiça e Legislação do S en ad o da República,
finalizando assim a história do últim o projeto enviado ao Congresso.
Para efeitos comparativos, e conclusivos, vale ressaltar, que a Assenbléia
C onstituinte de 1823 tinha 9 (nove) bacharéis em direito, eleitos deputados; a
I® Legislatura tinha 24 (vinte e quatro) bacharéis eleitos deputados (14% do
total), a 9®Legislatura, entre 1853/56, tinha 48 (quarenta e oito) bacharéis eleitos
deputados (42,48 % do total) e a 20® Legislatura, entre 1886/89, tinha 89 (oitenta
e n o v e) bacharéis eleitos deputados (71,20 %). Estes dados indicam a acentuada
participação parlamentar dos bacharéis, muito embora, os projetos de criação
da OAB não constassem com o apoio da maioria na Câmera dos Deputados.**®
Finalmente, apesar das derrotas no Congreso (quando se referia à criação da
Ordem), o Instituto gozava de grande prestígio político e reconhecimento público
pelos seus serviços. Fato testemunhado, entre outros, pelo projeto n^394, de 8 de
dezembro de 1922^^ que transformou-se em Decreto n^4.753A em 28 de novembro
de 1923, coroando os oitenta anos de existência do Instituto; considera de utilidade
publica 0 Instituto da Ordem dos Advogados Brasileiros, com sede nesta capital.

Em 1925, A r m a n d o V idal faz referência ao p ro je to p a r a d o n a C o m issã o d o S e n a d o (B o le tim d o In s titu to


da O r d e m do s A dv og ad os, n “ 2, vol. I. 1925, cp. cit.).
A nnaes d o P a rla m e n to Brazileiro - C a m a ra dos Srs. D eputados. Sessão d e 8 d e d e z e m b ro d e 1922. “C onsidera
de u tilid a d e pu blic a o I n s titu to da O r d e m do s Advogados Brasileiros, c o m sed e nesta c a p ital” - P ro je to
n “ 394, vol. XVI. p, 103,
w w w .senad o.g ov .br/legb ras/.

#à# 2 2 7
______________ H}i=;tória da
Ordem dos Advogados do Brasil

C APÍTULO VI
Revolução de 1930 e a Criação
/ \

da Ordem dos Advogados Brasileiros

Este capítulo fmal fundamentalmente tem duas linhas diretivas: o estudo da


evolução do lOAB nos últimos anos da Primeira República e a criação da OAB na
linha crescente da Revolução de 1930.0 lOAB, criado por transformação do lAB
n o s ú ltim o s m e se s d o Im p ério , se c o n s o lid o u d u r a n te a R ep ú b lica, e,
diferentemente do lAB, não tinha entre suas finalidades criar a OAB, mas o estudo
do Direito, assistência judiciária e, mais tarde, a defesa da classe dos advogados.
O lOAB, m e sm o neste difícil contexto, prestou relevantes serviços à
advocacia, principalm ente através dos seus estudos e trabalhos m onográficos,
assim com o contribuindo para a instalação da assistência judiciária na República.
Todavia, a ausência de alcance regulamentativo não perm itiu que o lOAB tivesse
u m papel político m ais ostensivo ao fim da Primeira República, assim com o no
controle disciplinar dos advogados.
Por estas razões, apesar de Levi Carneiro ter sido o último presidente do lOAB,
e o primeiro da OAB, a Ordem dos Advogados não foi criada por transformação do
lOAB, mas por ato do Governo Provisório da Revolução de 1930.
A Revolução de 1930 ocorreu num contexto econ ôm ico e político muito
com plexo, em que as oligarquias governantes entre si divergiam, a classe média
já ocupava am plos espaços sociais e urbanos e os assalariados já demandavam
o reconhecim ento de seus direitos. Foi neste contexto contraditório que o
Governo Provisório se instalou, m uito embora, mais interessado na reforma
do Estado e na reforma legislativa co m o instrum ento de m udança política.
A Revolução de 1930, dentre os seus tantos projetos que foram viabilizados
através dos decretos do Chefe do Governo Provisório G etúlio Vargas, criou, no

228 9àB
V o lu m e 2 Lutíi pelcT Criac^ão o Rcsistêncids

bojo do Decreto n° 19.408, de 18 de novembro de 1930, assinado, tam bém , por


Oswaldo Aranha, que reorganiza a Corte de Apelação do Distrito Federal, a
Ordem dos A dvogados do Brasil, dispondo em seu artigo 17:

Art. 1 7 - F ic a criada a O rdem dos Advogados Brasileiros, órgão d e disciplina


e seleção da classe dos advogados, que se regerá pelos estatutos que forem
votados pelo Instituto da Ordem dos Advogados Brasileiros, com a colaboração
dos Institutos dos Estados, e aprovados pelo Governo.

À medida que o Decreto de criação da Ordem dos A dvogados Brasileiros


dispõe que os seus Estatutos seriam votados pelo Instituto da O rdem dos
Advogados Brasileiros, em 30 de dezembro de 1930' foram prom ulgados os
novos Estatutos do lOAB na m esm a linha evolutiva dos Estatutos anteriores e,
que, fundam entalm ente, não foge dos parâmetros do Estatuto de 1928. Assim
dispõe o artigo 1^, em concordância com o Estatuto do Instituto dos Advogados
Brasileiros de 1917 e co m o Estatuto e Regimento do Instituto da Ordem dos
Advogados Brasileiros de 1928, que o lOAB:

é uma associação, com sede na Capital Federal e duração indeterminada, de bacharéis


e doutores em Direito que legalmente exerçam ou tenham exercido a advocacia.

D e m od o geral, podem os identificar neste Estatuto a exigência do exercício


legal da advocacia de bacharéis e doutores em Direito para a inscrição no
instituto dos Advogados Brasileiros. Este m esm o Estatuto prescreve a finalidade
do lOAB c o m o o estudo do Direito em geral, especialm ente do Direito pátrio e
das reformas que devam ser introduzidas na legislação; assistência judiciária;
defesa dos interesses da classe dos advogados; a difusão da cultura jurídica no
País. Assim dispõe o parágrafo único do artigo 1°:

O Instituto tem p o r fim: 1°. O estudo de Direito em geral, e especialmente do


direito patrio e das reformas que devam ser introduzidas em nossa legislação; 2°.
A assistência judiciaria; 3*. A defesa da dignidade, do prestígio e dos interesses da
classe dos advogados; 4°. A difusão da cultura jurídica no Paiz.

' E statutos e R egim en tos do In s titu to d a O rd e m d o s A dvogados Brazileiros. Rio d e Janeiro; T ypog. D o Jornal
d o C o m n ie rc io R o drigu es & C., 1931. R io de Janeiro, 31 d e d e z e m b ro d e 1928. Presid ente: Levi C arn eiro ,
1° Secretario: P h ilad e lp h io A zevedo e 2" Secretario: H a ro ld o Valladão.

2 2 9
______________ História da
Ordem dos Advogados do Brasil

Prevê ainda o Estatuto de 1930 a divisão dos m em bros do lAB em M embros


Efetivos que poderiam se inscrever doutores e bacharéis em direito, que, nesta
Capital, façam da advocacia profissão habitual; apresentação de trabalho
jurídico; M em bros H onorários, advogados o u jurisconsultos, nacionais ou
estrangeiros, de notável merecimento; M embros Correspondentes, graduados em
Direito, nacionais o u estrangeiros, residentes fora da sede do Instituto, que forem
autores de trabalhos científicos; M embros Beneméritos, doutores e bacharéis em
D ireito, nacionais o u estrangeiros, a quem , por serviços extraordinários, o
Instituto resolva conceder essa graduação; M embros Avulsos, m em bros efetivos,
que, por ausência ou outro im pedim ento temporário, não puderem exercer a
advocacia nesta Capital; os que deixaram o exercício da profissão de advogado
e magistrados, professores de Direito e outros juristas, form ados em Direito,
que não exerçam a advocacia, dispostos nos artigos 9° ao 12.
N o que diz respeito ao Conselho da Ordem, o Estatuto do Instituto da Ordem
dos Advogados Brasileiros de 1930 dispõe que o cham ado Conselho Superior
será constituído, vitaliciamente, por todos os membros do Instituto, de qualquer
categoria, que estejam servindo, ou tenham servido, com o presidente o u vice-
presidente, e bem assim os presidentes dos Institutos dos Estados, ao tem po de
sua filiação ao Instituto da Ordem dos Advogados Brasileiros e os que lhes
sucederem nesses cargos, enquanto subsistir a filiação - artigo 30. Ainda o artigo
30, § 1° dispõe que a finalidade do Conselho é a defesa superior dos interesses da
classe dos advogados e do prestígio e dignidade da profissão:

Art. 30. O Conselho Superior será constituído vitaliciam ente p o r todos os


membros do Instituto, de qualquer categoria, que estejam servindo, ou hajam
servido, como seu Presidente ou Vice-Presidente, e bem assim os Presidentes
dos Institutos dos Estados, ao tempo de sua filiação ao Instituto d a Ordem
dos A dvogados Brasileiros e os que lhes sucederem nesses cargos, enquanto
subsistir a filiação. $ i®. Esse Conselho elegerá o seu Presidente, tendo como
função, p o r iniciativa própria ou do Instituto, ou p o r provocação de qualquer
dos seus membros, ou de qualquer dos membros do Instituto, a defesa da
dignidade, do prestígio e dos interesses da classe dos advogados.

Aqui p od em os verificar o surgim ento de um a nova nom enclatura para o


C onselho, o Conselho Superior, trazendo a figura vitalícia para os m em bros

230 •áM
V o lu m e 2 Llií.í pela C r iiit ã o r R('<i4('iit las

deste C onselho, acrescentando com o m em bros os presidentes dos Institutos


dos Estados e seus sucessores com o m em bros do Conselho.
Finalmente, é m uito importante ressaltar que esse Estatuto, que repete os
p rop ó sitos d o Instituto da O rdem sem redefinir as fu n ç õ e s disciplinares
adm inistrativas e seletivas indicadas no Decreto de criação da O rdem dos
Advogados Brasileiros, dispõe no item três do artigo 31 que ao Conselho Diretor
do Instituto, com posto do presidente deste em exercício e dos Estados e do
secretário geral, compete: prom over e zelar a instituição legal d a O rdem dos
Advogados Brasileiros, e a adopção de um Codigo de ethica profissional.
Esse texto, na forma da sua redação, combinado com os demais dispositivos do
mesmo Estatuto, deixa antever que a Ordem nascera na forma do artigo 17 do Decreto
n° 19.408, de 18 de novembro de 1930, mas remanescia informe no Instituto da Ordem
dos Advogados Brasileiros até a sua efetiva implementação que se inicia com o Decreto
n° 20.784, de 14 de dezembro de 1931, que aprovou o Regulamento da Ordem dos
Advogados Brasileiros. Com o se pode verificar foi este Decreto que definitivamente
seccionou o lOAB da OAB, se lhe atribuindo as competências de órgão de classe.
O D ecreto 22.478, de 20 de fevereiro de 1933, assinado por G etúlio Vargas
e Oswaldo Aranha, aprovou e m andou observar a consolidação dos dispositivos
reguJamentares da O rdem dos Advogados do Brasil, con form e disposições
antecedentes do próprio D ecreto n° 20.784/31, do D ecreto n° 21.592, de 1°
julho de 1 93 2,0 Decreto n° 22.039, de 1° de novem bro de 1932 e o D ecreto n°
22.266, de 28 de dezem bro de 1932, no seu artigo o Decreto de consolidação
dispõe, repetindo o texto de 1931: A O rdem dos Advogados d o B rasil criada pelo
art. 17 do Decreto n° 19.408, de 18 de novembro de 1930, é o órgão de seleção,
defesa e disciplina da classe dos advogados em toda a República.
Com plem entando, dispõe o artigo 2'' do m esm o decreto: A O rdem constitui
um serviço público federal, ficando, p o r isso, seus bens e serviços e o exercício de
seus cargos isentos de todo e qualquer imposto ou contribuição.
C om o se verifica, este decreto definitivamente institui a nom enclatura
Ordem dos Advogados do Brasil, superada a denom inação da criação Ordem
dos A dvogados Brasileiros.
O Decreto n° 24.185, de 30 de abril de 1934, alterou alguns dispositivos
regulamentares da Ordem dos Advogados do Brasil e foi seguido pelo Código de
Ética aprovado pelo Conselho Federal da OAB, de 25 de junho de 1934, que entrou
em vigor em 15 de novembro de 1934, posteriormente à constituinte de 1933.

231
______________ História da_
Ordem dos Advogados do Brasil

Estes decretos, q u e fin alm en te v ia b ilizam a criação da O rdem dos


A dvogados d o Brasil, dem onstram que a criação definitiva da instituição
m anifesta-se na forma de ato político do Estado, m uito embora a documentação
sobre a evolução da advocacia no Brasil traduza u m significativo esforço do
Instituto da Ordem dos Advogados Brasileiros^.
N e s t e p e r ío d o , r e c u a n d o in c lu siv e ao a n o de 1 9 2 8 , d e s ta c o u -s e ,
fundam entalm ente, o advogado Levi Carneiro, que assina os Estatutos de
dezembro de 1928 e dezembro de 1930,assim com o o Código de Ética Profissional
do Advogado de 1934, com o presidente da OAB. Levi Carneiro teve acentuado
destaque nos debates internos que seguiram à promulgação do Decreto de 1930.
Neste período, Levi Carneiro, inscrição n° 1 na OAB, representa realmente a figura
simbólica do advogado na luta para a constituição da Ordem, na observação de
Roberto Rosas: Levi Carneiro bem conheceu os escolhos e abrolhos da tortuosa vida
advocatícia. Nunca esmoreceu,pelo contrário, era o ânim o e estímulo de todos (...) .^
Todavia, m esm o diante deste quadro e, m esm o após o decreto presidencial
de 1930, antes da promulgação do decreto regulamentar de 1931, as reações dentro
do próprio Instituto contra a criação da Ordem caminharam no m esm o sentido
dos pronunciamentos parlamentares que analisamos anteriormente. A declaração,
por exemplo, do Dr. Eurico de Sá Pereira reproduz este contexto histórico

Voto contra o projecto que institue e organiza, como corporação de ojficio


“disciplinadora” e “seleccionadora", a O rdem dos advogados. E voto contra
p o r u m a questão de prin cip io : p o r ser in stitu iç ã o de n a ta ru za a n ti-
republicana, de caracter esclusivista tanto mais revoltante quanto attinge uma
profissão denom inada liberal (...)

E prossegue:

Em vez de disfarçarem o monopolio, aquellas funcções mais o revelam e melhor


accentuam a origem medieval dessa form a de organização do trabalho. Pelo
projecto, queiram ou não queiram, estimula-se a form ação das mestrias,
• R uy A. S odré, n u m especialissim o a rtig o so b re a O rd e m d o s A vdogados d o Brasil faz u m a n a rra ç ã o que,
p elo seu a c aráter d o c u m e n ta l, precisa ser referida n u m e s tu d o c o m o este, p rin c ip a lm e n te p o rq u e se
re fe re ã c o r r e s p o n d ê n c ia c o m o D e s e m b a r g a d o r A n d ré d e F a ria P e re ira , q u e se lh e a t r i b u i u m a
in terferên cia d ire ta n a criação da O r d e m ju n to a O sw a ld o A ra n h a , a trib u in d o , ta m b é m , relevante pap el
a So la n o C a r n /e ir o d a C u n h a .
' R osas , R ob erto . “Levi C arn eiro : o ad vo g ad o e h u m a n is ta ”, In: Revista da O rd e m dos Advogados do Brasil, n"
11, a n o 4, vol. 4, set. /d e z . 1973.

232
V o lu m e i Luta pcia C riação c Resisicntias

corporaçoes e juiza d o s de officio, de cuja natureza a O rdem dos advogados


participa.

E continua para alcançar e defender o exercício prático da advocacia

(...) 0 preconceito do diplom a acadêmico empresta autoridade de um direito,


está no projecto de seus Estatutos, onde a influencia do interesse pessoal ou as
prevenções injustificáveis já repontam em alguns dispositivos com ataque mais
forte á liberdade profissional.'^

Estes argumentos não apenas repetem os anteriores, mas tam bém reforçam
as linhas de resistências à criação da OAB.
D e qualquer forma, não podem os fugir da verificação que, se o Estado
imperial resistia à criação da OAB, de certa forma adm itindo as dificuldades
im postas pelos advogados provisionados e pelos funcionários de Estado que
tam bém exerciam a advocacia, por outro lado, foi ainda o Estado revolucionário
de 1930 que acedeu à ação dos advogados bacharéis e doutores que demandavam
a imprescindível organização da OAB.
Neste contexto, resta demonstrar que estes decretos estatuintes evoluíram
na proposta de sistematização do exercício da atividade da advocacia definindo
a q u e les que e sta v a m p r o ib id o s e im p e d id o s de p ro cu ra rem em ju ízo,
principalm ente evitando a sobreposição entre as funções públicas e privadas,
assim co m o aqueles que ferissem as condutas juridicamente proibidas. N o que
se refere à adm issão, o estatuto era bastante claro ao exigir que o profissional
fosse bacharel ou doutor em direito, m uito embora ainda remanescesse no texto
o reconhecim ento da atividade de alguns provisionados.
Nesta linha, os capítulos que tratam dos direitos e deveres dos advogados
provisionados e solicitadores m uito claramente dispõem que são direitos dos
advogados: 1. Exercer os atos de sua profissão, de conform idade com as leis e os
regulam en tos aplicáveis, a ssim c o m o exp licita n o n o v o o r d e n a m e n to as
prerrogativas d o advogado e as faltas n o exercício da profissão.
Evoluindo, também, significativamente em relação aos textos regulamentares
e projetos anteriores, os novos decretos definem as penalidades disciplinares e
dispõem que o poder de punir os advogados provisionados e solicitadores

‘ B oletim d o I n s titu to da O r d e m d o s A dvogados Brasileiros - vol. V ! I I - n . 5 - D e z e m b r o d e 1930 - p u b l i c a d o


c m abril d e 1931 - Typ og . d o Jo rnal d o C o m m e r c i o - R odrigues & C. 1931.

233
______________ História da
Ordem dos Advogados do Brasil

com pete exclusivamente ao Conselho da Sessão em que estiver inscrito ao tempo


do fato punível. Estabelece ainda ao contrário, n o que se fazia no passado, que
aos juizes não cabia julgar os advogados pelos seus atos, exceto advertir e
determinar a exclusão do recinto, devendo, no entanto, os juizes, nos casos de
falta grave representar a qualquer órgão com petente da Ordem.
Genericamente estavam definidos os parâmetros éticos gerais da atividade
de advogado, assim como, o m esm o estatuto dispunha sobre a Assembléia Geral,
cuja a principal com petência era a eleição do C onselho da Ordem , que no
Distrito Federal, se com punha de 21 m em bros em que 11 seriam eleitos pelo
C onselho Superior do Instituto da O rdem dos Advogados Brasileiros, cuja
principal atribuição era eleger a diretoria, que exerceria as atividades executivas.
Estes estatutos dispunham tam bém sobre o Conselho Federal da Ordem que
tinha com petência para eleger o presidente e o secretário geral da Ordem , assim
co m o deveria reunir na forma do art. 83, anualmente, os Conselhos de todas as
seções, em data previamente fixada.
N esse sentido, co m o se verifica, o D ecreto de criação da O rdem dos
Advogados e os decretos regulamentares sucessivos foram editados na linha
das reformas institucionais promovidas pela Revolução de 1930. Todavia, é m uito
im p ortan te ressaltar que estes decretos não propriam ente absorveram as
e x p e r iê n c ia s h istó r ic a s in te r n a c io n a is, m a s a e v o lu ç ã o c o n te x tu a l e as
circunstâncias da vida profissional dos advogados, dos estatutos, dos projetos e
debates parlamentares sobre a criação da Ordem dos A dvogados n o Brasil.
Finalmente, a Ordem dos Advogados do Brasil tem representado, a partir
de 1930, u m significativo papel na garantia dos direitos individuais, coletivos e
difusos e na defesa do Estado D em ocrático de Direito no Brasil.

234 •áB
V o k im e 2 Lul.i p c i. i Crici<,ã() c Rcsis rcncia s

CONCLUSÃO

Para alcançar os resultados desta pesquisa dividim os o nosso estudo em


seis capítulos, voltados para a demonstração das suas específicas hipóteses. Todos
os capítulos têm u m a fundam entação docum ental específica e u m específico
â n g u lo de a n álise, q ue, co o r d e n a d o s entre si, n o s p e r m ite u m a leitura
com preensiva do processo histórico da evolução institucional da Ordem dos
Advogados.
O capítulo prim eiro, denom inado Advocacia d o Brasil Im pério, fez um
estudo das origens da advocacia n o Brasil e da criação do Instituto dos Advogados
do Brasil - lAB, em 1843, com a finalidade de criar a Ordem dos Advogados,
para demonstrar, que, fundam entalm ente, as resistências à criação da Ordem
apoiavam-se nas exigências burocráticas imperiais para o exercício da advocacia.
Estas resistências estavam, principalmente determinadas, pelas exigências para
se obterem a licença e o provisionam ento para o exercício da advocacia, assim
com o pelas incompatibilidades e os im pedimentos originários da velha legislação
m etropolitana. Neste m esm o contexto, procuram os dem onstrar que u m dos
fatores marcantes na resistência à criação da Ordem era a cobrança das taxas e
e m o lu m e n to s im periais, que davam ao Estado especiais p o d eres sobre a
advocacia e os tribunais.
O capítulo segundo, denom inado O Projeto M ontezum a de Criação da
O rdem dos A dvogados n o Im pério, traçou um perfil deste destacado advogado
do Brasil Império, criador e ex-presidente do lAB, conselheiro d o Conselho de
Estado e senador do Im pério. O Projeto M ontezum a sofreu u m a profunda
influência do D ecreto napoleônico de 1810 que criou a Ordem dos A dvogados
de Paris e, com o tantos outros docum entos e códigos elaborados na m esm a

235
______________ História da
Ordem dos Advogados do Brasil

época, exerceu um a profunda influência sobre a legislação de outros países. A


influência francesa, todavia, no Projeto M ontezum a, embora profunda, teve
efeitos superficiais porque o projeto não alcançou resultados parlamentares
positivos. O deputado A ntonio José Henriques, cujos argumentos parlamentares
influíram em todas as discussões parlamentares, inclusive na República, ofereceu
p r o fu n d a s r e s istê n c ia s a e stes p r o je to s , p r o v o c a n d o u m a ver d a d eira
desm obilização parlamentar.
Outros tantos parlamentares se envolveram na discussão deste projeto,
tais c om o Araújo Lima, Silveira da Motta e Bandeira de M ello, sendo que quase
todos procuravam ressaltar que estava proibida pela C onstituição imperial
qualquer organização corporativa que viesse a restringir a liberdade de ofícios
e trabalho. Esta questão tornou-se um a questão recorrente durante os debates
parlamentares, que, todavia, não foi superada nem pelos estatutos do Instituto,
nem por qualquer outra lei (ou projeto) imperial. O material da pesquisa,
todavia, não permitiu, exatamente, desvendar a força ideológica deste argumento
que o tem po, ultrapassada a primeira República, superou.
O Projeto N abuco de Araújo, no capítulo terceiro, assim com o o Projeto
Saldanha M arinho não estiveram m uito distantes do prim eiro projeto de 1850/
51 originário do Instituto dos Advogados. Todavia, várias questões foram
suscitadas durante os debates deste projeto de 1866, elaborado por Nabuco de
Araújo, ex-ministro da Justiça e presidente do lAB, principalmente os problemas
relativos à superposição do exercício de funções públicas e privadas, bem com o
o problema das peças judiciais preparadas por outrem e assinadas por advogados.
C om o os projetos anteriores, tam bém estes não tiveram sucesso, apesar da
importância imperial de Nabuco de Araújo que fora ministro da Justiça.
Interessantem ente este estudo que preparam os, com base em fontes
prim árias, apesar de identificar com bastante visibilidade os argum entos
conjunturais favoráveis e contrários aos projetos de lei, pou cos elem entos
oferecem para um a leitura estrutural das razões políticas e ideológicas do
p osicionam ento parlamentar. Por estas razões, ficou sempre m uito difícil fazer
correlações de natureza político-partidárias o u econôm icas que permitissem
identificar as vertentes de interesse social dos argum entos apresentados no
Parlamento. D e qualquer forma, o material nos perm itiu fazer um a leitura
sensivelm ente segura sobre as resistências do Estado imperial e do Estado
republicano à criação de um a corporação de advogados.

236
V o lu m e 2 Lula pcLi C riação e Resistências

N a verdade, os advogados, enquanto profissionais liberais, exerciam (e


exercem) um a profissão profundamente identificada com os direitos civis e com
os direitos individuais, principalm ente quando atuam na defesa de cidadãos ou
de direitos contra a ação de poderosos. A profissão de advogado, do p on to de
vista sociológico, na verdade está intim am ente com prom etida, apesar da sua
antigüidade, com as sociedades comerciais e industriais abertas, assim com o
com os direitos do cidadão, e não propriamente com a ação opressiva do Estado.
N o fundo, a corporação dos advogados é um a corporação para resguardar a
defesa de direitos nos tribunais, evitando os desvios n o exercício da própria
profissão, garantindo as prerrogativas do advogado contra a ação opressiva ou
abusiva dos poderes públicos, e de m obilização social na defesa do Estado de
Direito e da democracia, com o efeito de sua moderna evolução.
Os capítulos quarto e quinto, sobre a República e a criação da OAB, estudam
a evolução dos projetos de criação da Ordem na evolução do Império para a
República, dem onstrando que o contexto circunstancial do processo é m uito
semelhante, de certa m aneira evitando que os projetos abram tem as novos ou
perm itam discussões que ultrapassem o m ero discurso parlam entar para
identificar os seus fundam entos estruturais. A temática do anteprojeto do Barão
de Loreto, dos Projeto de Celso Bayma e de Nogueira Jaguaribe, e o substitutivos
de Aurelino Leal e Alfredo Pinto continuam circulando sobre a questão da
liberdade profissional, da assistência judiciária, da superposição das atividades
dos advogados, dos direitos adquiridos dos “rábulas” e, inovadoram ente, sobre
a defesa dos interesses da classe dos advogados.
A questão final, todavia, que marcou a evolução dos estatutos da lAB desde
1843, passando pelo estatuto de 1877 no Império e pelos estatutos de 1917 e
1928 na República, não é, propriamente, qualquer m udança estatutária, m as a
m u d an ça regulam entar que, em 1888, ano da ab olição e antevéspera da
proclamação da República, transform ou o Instituto dos Advogados Brasileiros
e m I n s tit u t o da O r d e m d o s A d v o g a d o s B r a sile ir o s, c o m p le m e n t a d o s
posteriorm ente pelos estatutos republicanos. Por estas razões p od em os afirmar
que o lAB era o Instituto do Império e o lOAB o Instituto da República, que
não tinha, com o finalidade, criar a Ordem dos Advogados, m as estudar o Direito,
prestar assistência judiciária e defender a classe dos advogados. N em o primeiro,
n em o últim o, apesar das sucessivas m udanças estatutárias, conseguiram ser
reconhecidos c o m o corporação disciplinar dos advogados.

237
______________ História da
Ordem dos Advogados do Brasil

F in a lm e n te , n o ú ltim o c a p ítu lo d e m o n s tr a m o s que a O r d e m dos


Advogados Brasileiros, posteriorm ente denom inada O rdem dos A dvogados do
Brasil,' não propriam ente evoluiu do Instituto da O rdem dos Advogados
Brasileiros. A O rdem dos A dvogados d o Brasil foi criada n o con texto da
Revolução de 1930 e regulamentada em 1931, o que viabilizou a institucionalização
de seus objetivos disciplinares e a definição das prerrogativas dos advogados.
Esta especial situação perm itiu que a Ordem evoluísse corporativam ente e, nas
circunstâncias históricas determinadas, desenvolvesse o seu com prom isso com
a modernização do Estado brasileiro e a defesa dos interesses da sociedade civil,
bases do Estado Dem ocrático de Direito.

‘ Espaço a n tig a m e n te reserv ad o p a ra o b a n c o d o s a d vo gad o s nas salas d e audiência, ta m b é m c o m o significado


d e O R D E M D O S A D V O G A D O S.___________________________________________________________________

238
\'()lu n ir 2 L u ! . i p t' l< i { ' r i a c ^ ã o c R c s i s t r n i i.is

ÍN D IC E O N O M Á S T IC O

A dolpho Gordo, 221, 227


Aleixo Ferreira Tavares de Carvalho, 49
Alexandre José Barbosa Lima, 182,183
Alfredo Pinto Vieira de M ello, 175,205, 207, 211, 212, 218, 219,237
Am aro Bezerra Cavalcanti de Albuquerque, 1 7 7 ,1 7 9 ,1 8 0 , 1 81,193
André de Faria Pereira, 232
A ntônio íosé Henriques, 91, 92, 93, 94, 95, 96, 97, 98, 99, 101, 102, 103,
1 1 4 ,1 1 5 ,1 1 8 ,1 2 1 ,1 2 9 ,1 3 8 ,1 4 1 ,1 5 4 , 212, 214, 215, 236
A n tôn io José Rodrigues Torres N eto, 175
Antônio Paulino Limpo de Abreu (visconde de Abaeté), 6 6 6 ,7 0 ,8 0 ,8 1 ,8 2 ,9 7
A n ton io Peregrino M aciel M onteiro, 101
A n ton io Pereira Pinto, 2 5 ,2 6 ,8 9 ,9 1
A n tôn io Pereira Rebouças, 54
Aprígio, 91
A rm ando Vidal, 106, 197, 204, 206, 212, 218,219, 227
Augusto Alvares de Azevedo, 175, 179
Augusto José Castro e Silva, 52
Augusto Marques Perdigão Malheiros, 1 28,1 29, 130
Augusto V ictorino Alves, 91
Aurelino Leal, 1 9 7 ,1 9 8 , 199, 203, 204, 207, 210,211, 237
Aurélio Wander Bastos, 10, 16, 17, 25, 158, 172, 196
Baptista de Oliveira, 59, 6 0 ,6 5 , 70
Baptista Pereira, 145, 153
Caetano Alberto Soares, 128, 129
Camilo Maria Ferreira Armond (visconde de Prado), 1 3 0 ,1 3 2 ,1 3 7 ,1 4 0 ,1 4 5

•ál 239
______________ História da
Ordem dos Advogados do Brasil

Cândido José de Araújo Vianna (marquês de Sapucaí), 6 6 ,7 6 ,7 7 ,8 0 ,8 3 ,8 8


Cândido M endes de Almeida, 12, 1 3 ,1 4 ,1 8
Cassiano, 77
Castro N u n es, 222, 225
Celso Bayma, 194, 195, 237
Cordeiro, 129
Costa Ferreira, 5 9 ,6 0
Dantas, 66 , 70, 72, 73, 74, 75, 77, 79, 80
D om in gos José Nogueira Jaguaribe, 195,196, 237
Durval de Souza, 6 3,135
Eduardo Ram os, 160, 178
Enéas Galvão, 184, 205
Epitácio Pessoa, 222
Eugênio de Barros, 193
Eurico de Sá Pereira, 106, 232
Eusebio Francisco de Andrade, 222, 223, 225, 226
Fabio Leal, 193
Fausto de Aguiar, 129
Fernando M endes de Almeida, 8 9 ,1 0 5 , 207, 2 10,2 18, 223
Ferreira de Aguiar, 98,123
Ferreira Pena, 89
Figueira de Mello, 65, 6 6 ,9 5 ,1 0 3 ,1 0 7 ,1 0 8 , 115, 120, 121
Francisco Alberto Teixeira de Aragão, 25, 26,27
Francisco de Paula Cândido, 9 8 ,9 9 ,1 0 0 , 126
Francisco de Paula Pessoa, 65
Francisco Gê Acaiaba de M ontezum a (visconde de Jequitinhonha), 26,27,
5 8 .5 9 ,6 0 ,6 7 ,6 8 ,6 9 ,7 0 ,7 6 , 7 7 ,8 2 ,8 9 ,9 2 ,1 0 1 ,1 0 8 , 1 2 6 ,1 3 0 ,1 3 8 , 153,160, 164,
213, 2 3 5 ,2 3 6
Francisco Ignacio de Carvalho Moreira (barão de Penedo), 59, 60, 89,91,
9 3 ,9 4 ,9 5 ,9 6 ,9 7 ,9 8 ,1 0 1 ,1 0 3 ,1 0 5 ,1 0 6 ,1 0 8 ,1 1 0 ,1 1 3 ,1 1 9 ,1 2 0 ,1 2 1 ,1 2 2 ,1 2 3 ,1 2 8
Francisco Otaviano de Alm eida Rosa, 129
Franklin A m érico de M enezes Doria (barão de Loreto), 1 9 3 ,1 9 4 ,2 0 4 ,2 3 7
Freitas C outinho, 129
Gabriel Bernardes, 225
Gabriel M endes dos Santos, 89

240
V o lu m e 2 L u ta p e l a C i i a ( , ã o e R e < is tê n i iab

Getúlio Vargas, 172, 228, 231


Góes Siqueira, 111
H aroldo Valladão, 186, 229
H ebert M oses, 222
Herculano Marcos Inglez de Souza, 175, 193
Hollanda Cavalcanti de Albuquerque (visconde de A lbuquerque), 59, 60
H on orio H erm eto Carneiro Leão, 25, 26
Isaias de M ello, 181,193
João Capistrano Bandeira de Mello, 1 18,119 ,1 20,121 ,122,12 3,124,12 5,236
João Carneiro de C am pos, 2 4 ,2 9
João Evangelista Sayão de Bulhões Carvalho, 175, 184, 193
João Gualberto de Oliveira, 26
João Lustosa da Cunha Paranaguá, 40
João Vespucio de Abreu e Silva, 220, 221, 227
Joaquim Aurélio Nabuco de Araújo, 130,163
Joaquim Ferreira de Souza Jacarandá, 53
Joaquim Saldanha M arinho, 3 0 ,1 2 8 ,1 4 5 ,1 5 3 ,1 6 0 ,1 6 2 ,1 6 4 ,1 6 5 ,1 6 9 ,2 3 6
Joaquim Xavier da Silveira Júnior, 175,185
José A ntônio Pim enta Bueno, 225
José Cesário de Miranda Ribeiro (visconde de Uberaba), 80, 98
José C lem ente Pereira, 70
José da Silva Costa, 3 0 ,1 6 3 , 165, 169, 176
José da Silva Mafra, 65
José da Silva Maya , 5 9 ,6 0 , 70, 71, 77, 7 8 ,7 9 ,8 2 , 83, 88

José do Patrocínio, 163


José Figueiredo de Andrade, 143
José Inácio Silveira da Motta, 1 0 1 ,1 0 5 ,1 0 9 ,1 1 0 ,1 1 1 ,1 1 2 ,1 1 3 ,1 1 4 ,1 6 1 ,2 3 6
José Joaquim Fernandes Torres, 65, 83, 88

José Joaquim Seabra, 193


José T hom az Nabuco de Araújo, 128, 129, 130, 132, 137, 138, 142, 145,
153, 158, 160, 164, 236
Julio Barbosa, 225
Levi Carneiro, 185, 186, 228, 229,232
Lopes Gama, 6 6 ,8 0
Luís José de Oliveira M endes (barão de M onte Santo), 59, 60, 70

241
______________ História da
Ordem dos Advogados do Brasil

Luiz Augusto Crespo, 43


M anoel Álvaro de Souza Sá Vianna, 160, 177, 178, 181
M anoel Alves Branco, 2 8 ,6 0 ,6 5 ,7 0 , 7 1 ,7 2 , 74, 75
M anoel A n tôn io Galvão, 159
M anoel D eodoro da Fonseca, 172
M anoel Felizardo, 5 9 ,6 0
M anoel loaquim Coelho,
M anoel Maya, 66 ,7 5 , 7 7 ,8 0
M anuel do N ascim ento M achado Portella, 175
M anuel Inácio Cavalcanti de Lacerda, 66 , 7 7 ,7 8 ,8 0
Marcilio Teixeira de Lacerda, 221, 225, 227
M aurício de Lacerda, 212
M outinho Doria, 1 8 5 ,2 2 2 ,2 2 5 , 227
M oniz Freire, 183, 184
M oraes Sarmento, 89
N apoleão Bonaparte, 226
N elson de Vasconcellos Almeida, 183
O lim pio Carneiro Veriato Catão, 49
Oswaldo Aranha, 229, 231, 232
Pedro II (Imperador), 25, 2 7 ,7 6
Phidadelphio Azevedo, 186,229
Raym undo Ferreira de Araújo Lima, 1 0 1 ,1 0 2 ,1 0 3 ,1 0 5 ,1 0 7 ,1 0 8 ,1 0 9 ,1 1 1 ,
1 1 2 ,1 1 8 ,1 2 1 ,1 8 2 , 236
Raym undo Pontes de Miranda, 221, 222, 223
Rego M onteiro, 222
Rodrigues dos Santos, 110,113
Rui Barbosa de Oliveira, 1 63,16 4, 166,175
Saturnino, 5 9 ,6 0
Soares dos Santos, 219
Solidonio Leite, 225
Ulysses Brandão, 76
Urbano Sabino Pessôa de Mello, 129
Urbano Santos, 89
V isconde de Abrantes, 70
Zacharias de Góis e Vasconcelos, 101

242
V o lu m e Lutci | X ' ! a C i i a c . ' i o v R c s i s t r i u i.i>.

BIBLIOGRAFIA
Fonte Primária

A nais do Parlamento Brasileiro - Anais do Senado do Im pério. Rio de


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Boletim do Instituto da Ordem dos Advogados Brasileiros, n® 5, vol. VIII,


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Boletim do Instituto da Ordem dos Advogados Brasileiros (nova série) n. 6 ,


vol. IIIA, 1927 (segunda parte), Rio de Janeiro, Imprensa Nacional, 1931.

Boletim do Instituto da Ordem dos Advogados Brasileiros, n° 2,vol. 1 , 1925. A


creação da Ordem dos Advogados (collectada dos principaes trabalhos relativos
a esse assumpto, organizada pelo Dr. Armando Vidal, 2® secretario do Instituto).

#Á # 243
______________ História da
Ordem dos Advogados do Brasil

Boletim do Instituto da Ordem dos Advogados Brazileiros, 2, vol. 1 , 1925. “A


Creação da O rdem dos A dvogados (collectanea dos principaes trabalhos
relativos a esse assum pto, organizada pelo Dr. Armando Vidal, 2° secretario
do Instituto)”

B ulletin àes Lois, n° 332. D écret Im perial co n ten a n t R èglem en t sur


Texercice de la Profession d ’Avocat, et la discipline du Barreau (n° 6.177).
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Coleção das Leis do Império do Brasil { \8 2 2 -l8 S 9 ) , t. VI, 1843.

Coleção das Leis do Império do Brasil (1822-1889), t. VII, parte 2°, secção 42.

Coleçãodas l^is do Império do Brasil {l8 2 2 -\8 8 9 ),i. XVI,parte II, 1853.

244 «ài
V o lu n u ’ 2 L u t.i p c ( a (.'riac cio o K c s i s t ô n c l a s

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Coleção das Leis do Império do Brasil, parte 1 , 1821.

Coleção das Leis do Império do Brasil, t. V, parte ÍI, 1842.

Coleção das Leis do Império do Brasil, Decisões, t. XXX, 1867.

Coleção das Leis do Império do Brasil, parte I, t. XXVII.

Coleção das Leis do Império do Brasil, t. XXXVII, parte II, 1874.

Coleção das Leis do Império do Brasil, 1812.

Coleção das Leis do Império do Brasil, 1812-1818, t. II, 1818.

Coleção das Leis do Império do Brasil, 1819-1822, t. Ill, 1820.

Coleção das Leis do Império do Brasil, 1828, parte I.

Coleção das Leis do Império do Brasil, Decisões, 1822.

Coleção das Leis do Império do Brasil, decisões, 1828.

Coleção das Leis do Império do Brasil, Decisões, 1833.

Coleção das Leis do Império do Brasil, Decisões, 1835.

Coleção das Leis do Império do Brasil, D ecisões, 1836.

AàB 245
______________ História da
Ordem dos Advogados do Brasil

Coleção das Leis do Império do Brasil, D ecisões, 1837.

Coleção das Leis do Império do Brasil, D ecisões, 1855.

Coleção das Leis do Império do Brasil, D ecisões, 1855.

Coleção das Leis do Império do B rasil D ecisões, 1857.

Coleção das Leis do Império do Brasil, Decisões, 1860.

Coleção das Leis do Império do Brasil, Decisões, 1860.

Coleção das Leis do Império do Brasil, D ecisões, 1870.

Coleção das Leis do Império do Brasil, Decisões, 1881.

Coleção das Leis do Império do Brasil, Decisões, 1882.

Coleção das Leis do Império do Brasil, D ecisões, 1883.

Coleção das Leis do Império do Brasil, D ecisões, 1887.

Coleção das Leis do Império do B rasil D ecisões, parte 1 , 1834.

Coleção das Leis do Império do Brasil, Decisões, t. IV, caderno 3°, 1841, p. 28.

Coleção das Leis do Império do Brasil, D ecisões, t. IV, caderno 4°, 1841.

Coleção das Leis do Império do Brasil, D ecisões, t. VI, 1843.

Coleção das Leis do Império do B rasil D ecisões, t. VII, 1844.

Coleção das Leis do Império do B rasil Decisões, t. VIII, 1845.

Coleção das Leis do Império do B rasil D ecisões, t. XI, 1848.

246
V'oluint- J I-Lll.T | K ‘ l j C lic K .à o K o I sU mU I.1>

Coleção das Leis do Im pério do Brasil, D ecisões, t. XIV, aditam ento ao


caderno 5°, 1851.

Coleção das Leis do Império do Brasil, D ecisões, t. XXI, 1858.

Coleção das Leis do Império do Brasil Decisões, t. XXII, 1859.

Coleção das Leis do Império do Brasil, Decisões, t. XXIII, 1860.

Coleção das Leis do Império do Brasil, D ecisões, t. XXIX, 1866.

Coleção das Leis do Império do Brasil, Decisões, t. XXV, 1862.

Coleção das Leis do Império do Brasil, Decisões, t. XXVI, 1863.

Coleção das Leis do Império do Brasil, Decisões, t. XXVII, 1865.

Coleção das Leis do Império do Brasil, Decisões, t. XXVIII, 1865.

Coleção das Leis do Império do Brasil, D ecisões, t. XXX, 1867.

Coleção das Leis do Império do Brasil, Decisões, t. XXXI, parte II, 1868.

Coleção das Leis do Império do Brasil, parte 1 ,1824.

Coleção das Leis do Im pério do Brasil, parte 1,1830, p. 187.

Coleção das Leis do Império do Brasil, parte 1 ,1831.

Coleção das Leis do Império do Brasil, parte 1 ,1836, p. 43-54.

Coleção das Leis do Império do Brasil, parte 1 , 1856.

Coleção das Leis do Império do Brasil, parte I, t. IV, seção 30 “, 1841.

•4B 247
_______________ História da_______________________________________
Ordem dos Advogados do Brasil______________________________________________

Coleção das Leis do Império do Brasil, parte I, t. IX, 1847.

Coleção das Leis do Império do Brasil, parte I, t. V, 1843.

Coleção das Leis do Império do Brasil parte I, t. VI, 1844.

Coleção das Leis do Império do Brasil, parte II, 1833.

Coleção das Leis do Império do Brasil, parte II, t. l y 1842.

Coleção das Leis do Império do Brasil parte II, t. VII, 1845.

Coleção das Leis do Império do B rasil 1 .1, parte 1,1838.

Coleção das Leis do Império do Brasil t. VI, parte I, 1844.

Coleção das Leis do Império do Brasil, t. XIII, aditamento ao caderno 10°, 1850.

Coleção das Leis do Império do B rasil t. XIII, parte II, seção 15®, 1850.

Coleção das Leis do Império do B rasil t. XVII, 1854.

Coleção das Leis do Império do B rasil t. XXIII, parte II, 1860.

Coleção das Leis do Império do B rasil t. XXVIII, parte II, 1865.

Colleção das Leis do Império do Brasil t. VII, parte 2°, secção 42=.

Colec0o das Leis do Império do Brazil de 1880, parte I, t. XXVII - parte II, t. XLIII.

Collecção das Leis do Brasil. Decisões do Governo (M inistério da Justiça e


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250 #4#
V o lu m e 2 Luta |)ela C ri.i(,A (i r R csis lcn i ias

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Revista do Instituto dos Advogados Brasileiros (Edição fac-similar da Revista


do Instituto dos Advogados B ra sileiro s-a n o s l e l l - 1862,1863). A n o X I - 1977,
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Revista do Instituto dos Advogados Brasileiros (Edição fac-similar da Revista


do Instituto dos Advogados Brasileiros ~ anos I e II - 186 2,1863 ), ano XI - 1977,
núm ero especial.

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Rio de Janeiro, 6 de dezembro de 1888. Presidente: Joaquim Saldanha Marinho
e Secretário D r. José da Silva Costa.

Revista do Instituto dos Advogados Brazileiros. Contendo: Doutrina - Legislação


- Jurisprudência - Actas das Conferencias do Instituto sob a Redação da Respectiva
Commissão. Rio de Janeiro: Typographia União, 1884, pág. 231-244. Rio de Janeiro,
30 de junho de 1883. Presidente: Saldanha Marinho e Secretário Dr. Süva Costa.

Revista do Instituto dos Advogados do Brasil: Edição Fac-similar da Revista


do Instituto da Ordem dos Advogados do B r a s i l - anos 1 e II - 1 862,1863, p. 7-9.
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João Carneiro de Campos.

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por Eduardo e Henrique Laemmert, Rio de Janeiro, 1876, In: 162.jpg” http://
www.liphis.com/buscadorcodigo/Files/paginal62.jpg. Edição Eletrônica fac-simiiar.
Organização de Janaina Perrayon Lopes (fotografou os originais e organizou o léxico
para busca) e Durval de Souza Filho concebeu o sistema de busca.

Lobo, Eugênio R. & N etto, Francisco Costa. Comentários ao Estatuto da


OAB e às regras da profissão do Advogado. Rio de Janeiro: Editora Rio, 1978.

N áufel, José. Novo Dicionário Jurídico Brasileiro (tira g e m s u p le m e n ta r da


8° edição acrescida de a p ên d ice co m atualização de verbetes de a c o rd o c o m a

254 ttà i
Vokm u' 2 L l i I . i [)<“la ( r i c K . ã o v R t ' s i s t o i u i.is

Constituição de 1988). São Paulo: ícone, 1989.

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Advogados. São Paulo, Industria Gráfica Bentivegna Editora Ltda., 1968.

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•à l 255
______________ História da
Ordem dos Advogados do Brasil

A NEXO I
Decreto de 14 de dezem bro de 1810

Boletim das leis n® 332

(n° 6.177) Decreto imperial contendo Regulam ento sobre o exercício da


profissão do advogado, e a disciplina do B arreau'.

N o palácio das Tuileries, dia 14 de dezembro de 1810

Napoleão, imperador dos franceses, rei da Itália, protetor da confederação


do Reno, m ediador da confederação suíça, 8 cc. &c. &c. a todos os presentes e
aos que virão, saúda.

Q uando nós nos ocupam os da organização da ordem judiciária, e dos


m eios de assegurar às nossas cortes a alta consideração que lhes é devida, um a
profissão da qual o exercício influi com poder sobre a distribuição da justiça
fixada à vista; nós tem os em conseqüência ordenada, pela lei d o 22 ventôse ano
XII, o restabelecimento do quadro dos advogados, com o u m dos m eios mais
p róp rios a m anter a probidade, a delicadeza, o desinteresse, o desejo da
conciliação, o am or da verdade e da justiça, u m zeloso esclarecim ento para os
fracos e os oprim idos, bases essenciais de seu estado.

' Espaço a n tig a m e n te reservado p a ta o b a n c o d o s a d vo gado s nas salas d e a ud iên cia, ta m b é m c o m o significado
d e O R D E M D O S AD V O G A D O S,

256 «àl
V o lu m e 2 Lula p d a Criação o Rcsistcncias

Retraçando hoje as regras desta disciplina salutar das quais os advogados


se mostravam tão felizes nos belos dias do Barreau, convém assegurar ao m esm o
tem po à magistratura a vigilância que deve naturalmente lhes pertencer sobre
uma profissão que tem tão íntimas ligações com ela: nós teremos assim garantido
a liberdade e a nobreza da profissão de advogado, pousando nos limites que a
devem separar da licença e da insubordinação.

Por esses motivos,

Sob direção de nosso grande juiz-m inistro da Justiça;


N osso C onselho de Estado entendeu,
N ó s decretam os e decretado está:

TÍTULO 1»
D is p o s iç o e s g e r a is

Art. 1®Em execução do artigo 29 da lei do 22 ventôseãno XII,será preparado


u m quadro dos ad vogados exercendo nas proxim idades de nossas cortes
imperiais e de nossos tribunais de primeira instância.

2. Em todas as cidades onde os advogados excederem o núm ero de vinte,


será form ado u m conselho para sua disciplina.

TÍTULO II
Do Q U A DR O DOS A D V OG A D O S, E DE SUA RECEPÇAO E INSCRIÇÃO

3. Nas cidades onde são situadas as cortes imperiais, haverá apenas um


único e m esm o quadro e u m único m nselho de disciplina para os advogados.

4. A primeira formação dos quadros será executada pelos presidentes e


procuradores gerais de nossas cortes imperiais; e, nas cidades onde não tiverem
cortes imperiais, pelos presidentes e procuradores imperiais dos tribunais de primeira
instância. Uns e outros serão assistidos e pegarão o parecer de seis antigos advogados,
nos locais onde se encontrarem mais de vinte; e de três, nos outros locais.

•àM 257

i
______________ História da
O rdem dos Advogados do Brasil

5. Serão com preendidos na primeira formação dos quadros, nas datas de


seus títulos o u recepções, todos aqueles que, nos termos da lei de 22 ventôse ano
XII, têm direito de exercer a profissão de advogado, assegurando entretanto
que haja indicações satisfatórias sobre sua capacidade, probidade, delicadeza,
boa vida e conduta moral.

6 . Os quadros assim feitos serão subm etidos à aprovação de no sso grande-


juiz ministro da Justiça, e em seguida depositados nos cartórios.

7. Na primeira audiência que seguirá a instalação das cortes imperiais,


todos os advogados inseridos nos quadros prestarão individualm ente o sermão
prescrito pelo art. 14 abaixo.
Os advogados que não puderem se encontrar nesta audiência, terão o prazo
de u m m ês para se apresentar e prestar seu serm ão na audiência que lhe será
indicada.

8. Cada ano, após a entrada das cortes ou dos tribunais, os quadros serão
reim pressos com os adicionais e m udanças que as circunstâncias acharem
necessárias.

9. Aqueles que serão inscritos no quadro, formarão sozinhos a ordem dos


advogados.

10. Os advogados inscritos unicam ente no quadro da corte imperial serão


adm itidos a advogar em todas as cortes e tribunais de alçada.
Aqueles inscritos no tribunal de primeira instância, advogarão diante da
corte criminal e diante dos tribunais d e todo o departamento.
U ns e outros poderão, entretanto, com a perm issão do nosso grande-juiz
m inistro da Justiça, irem advogar fora da Alçada da corte im perial o u do
departamento onde eles estão inscritos.

11. Os advogados da corte imperial, que se estabelecerão perto dos tribunais de


primeira instância, terão posição do dia de sua inscrição no quadro da corte imperial.

12. Em seguida, será necessário, para se estar inscrito no quadro dos


advogados perto de um a corte imperial, ter prestado serm ão e feito três anos de

258 ttà i
V o lu m e 2 L u la p c 'la C r i . \ j o v R c s í s I ô i k ia s

estágio perto de um a das ditas cortes; e, para estar inscrito no quadro perto de
um tribunal de primeira instância, ter feito o m esm o tem po de estágio diante
um dos tribunais de primeira instância.
O estágio p ode ser feito em diversas cortes o u tribunais, m as sem poder
ser interrom pido por mais de três meses.

13. Os licenciados em Direito que quiserem ser advogados, se apresentarão


ao nosso procurador geral n o parquet, eles lhe mostraram seus diplom as de
licença, e o certificado de suas inscrições nas escolas de D ireito, liberado
conform e o artigo 32 do nosso decreto do 4 com plem entário ano XIII.

14. A recepção terá lugar em audiência pública, sob a apresentação do


advogado mais antigo e sob as conclusões do M inistério Público; o impetrante
prestará sermão nesses termos: “eu juro, obedecendo às constituições do Império
e sendo fiel ao Imperador, de nada dizer o u publicar de contrário às leis, aos
regulamentos, às boas morais, à segurança do Estado e à paz pública; de jamais
m e distanciar do respeito devido aos tribunais e às autoridades públicas; de
não aconselhar o u defender nenhum a causa que eu não acredite justa em m inha
alma e consciência”.
O cartório preparará, de todo processo verbal, u m resum o sobre um
registro tom ado a este efeito; e o certificará, no verso do diplom a, a recepção,
assim c o m o a prestação do sermão.

15. A prova do estágio o u freqüência assídua às audiências será feita por


um certificado liberado pelo conselho de disciplina; e, lá onde não o houver,
pelo nosso procurador.

16. Os advogados poderão, durante o estágio, sustentar e defender as causas


que lhes serão confiadas.

17. Os procuradores judiciais licenciados que, tendo postulado [solicitado]


durante mais de três anos, quiserem deixar sua condição para tornarem -se
advogados, serão dispensados do estágio, justificando todavia seus títulos e
moralidade.

259
______________ H istó ria rla
Ordem dos Advogados do Brasil

18. A profissão de advogado é incompatível: 1° co m todos os cargos da


ordem judiciária, exceto aquela de suplente; 2 ° com as funções de prefeito e de
subprefeito; 3° com aquelas de oficial, de notório e de procurador judicial; 4®
com os empregos de penhores e aqueles de agente contábil; 5° com todas as
espécies de negócio. São excluídas quaisquer pessoas que fizerem trabalho de
agente de afazeres.

TITULO III
D os CO NSELHOS DE DISCIPLINA

19. Os conselhos de disciplina serão form ados da maneira seguinte:


A ordem dos advogados será convocada pelo seu bâtonnier e nomeará, na
pluralidade dos sufrágios de todos os advogados inscritos no quadro e presentes,
u m núm ero duplo de candidatos para o conselho de disciplina. Esses candidatos
serão sempre escolhidos dentre os dois terços mais antigos na ordem do quadro.
Essa lista de can d id a tos será transm itida, p e lo bâton n ier, a o n o sso
procurador geral próxim o da nossa corte, que nomeará, sobre a dita lista, os
m em bros do conselho de disciplina, levando em conta os núm eros determinados
a seguir.

20. Se o núm ero de advogados for de cem o u superior, os conselhos serão


com postos de quinze membros
Eles serão com postos de nove, se o núm ero de advogados for de cinqüenta
ou superior;
D e setCy se os advogados forem no número de trinta o u mais;
D e cincOy se o núm ero de advogados for superior a trinta.
Os m em bros d o conselho poderão ser reeleitos.

21. N osso procurador geral nomeará dentre os m em bros do conselho um


representante {bâtonnier) dos advogados, que será o chefe da ordem e presidirá
a assembléia geral dos advogados quando ela se reunir para nom ear os conselhos
de disciplina.
A assembléia geral só poderá ser convocada e reunida com o consentim ento
do nosso procurador geral

260
V o lu m e 2 L u to pcHc) C r i j ( , ã u c R c s i s l ê n c i a s

22. Os conselhos serão renovados antes do final de cada ano judiciário,


para com eçar suas funções no retorno dos tribunais.
O ú ltim o m em bro do con selh o inscrito n o quadro terá a função de
secretário do conselho e da Ordem.

2 3 .0 conselho de disciplina será encarregado:


D e supervisionar a conservação da honra da Ordem dos Advogados;
D e m anter os princípios de probidade e de delicadeza que fazem a base de
sua profissão;
D e reprimir ou fazer punir, por m eio de disciplina, as infrações e as faltas,
sem prejuízo da ação dos tribunais, se o tiver.
O conselho terá um a atenção particular sobre as condutas morais e a
conduta dos jovens advogados que farão seu estágio; poderá, n o caso de
inexatidão habitual o u de m á conduta notória, prolongar um ano a duração de
seu estágio, o u recusar a admissão no quadro.

24. O conselho de disciplina fará o necessário para a defesa dos pobres,


pelo estabelecim ento de u m escritório de consultoria gratuita, que se formará
uma vez por semana.
As causas, que esse escritório acreditará justas, serão por ele enviadas, com
o seu parecer, ao conselho de disciplina, que as distribuirá aos advogados, por
turno de função.
Querem os que o escritório tenha a maior atenção a essas consultorias,
afim de que elas não se tornem u m assunto v erg o n h o so que im p eça seu
reem bolso das despesas da instância.
O s j o v e n s a d v o g a d o s a d m it id o s n o e s tá g io d e v e r ã o c o m p a r e c e r
pontualm ente às assembléias do escritório de consultoria.
Encarregamos expressamente nossos procuradores de velar especialm ente
pela execução deste artigo, e indicar, ele m esm o, as junções necessárias àqueles
advogados que devotadam ente participem das assembléias do escritório, em
observação, entretanto, que se poderá manter os advogados em torno da questão.

25. O C onselho de disciplina poderá, seguindo a exigência dos casos:


Aconselhar,
Censurar,

261
______________ Históriajda
Ordem dos Advogados do Brasil

Reprimir,
Interditar durante um tem po que não poderá exceder a u m ano,
Excluir ou riscar do quadro.

2 6 .0 conselho de disciplina não excederá o direito de aconselhar, censurar


ou reprimir, e apenas após ter ouvido o advogado acusado.

27. Ele só poderá pronunciar a interdição após ter ouvido o u chamado ao


m enos duas vezes, co m oito dias de intervalo, o advogado acusado.

28. Se u m advogado com ete um a falta grave, que pareça exigir que ele seja
riscado do quadro, o conselho de disciplina só pronunciará após ter ouvido ou
cham ado ao m enos três vezes, com oito dias de intervalo, o advogado acusado,
que poderá pedir um período de quinze dias para se justificar; esse período não
poderá lhe ser recusado.

29. O advogado censurado, reprimido, proibido o u riscado do quadro,


poderá apelar à corte imperial se assim o quiser.
N o caso de exclusão do quadro, se o advogado riscado não se prover, a
deliberação do conselho de disciplina será remetida ao prim eiro-presidente e
ao procurador geral, para que eles a aprovem; e nesse caso, ela será executada
sobre o quadro depositado n o cartório.

30. Será dado conhecim ento, no mais breve período, ao nosso grande-juiz
m inistro da Justiça, por nossos procuradores, dos pareceres, deliberações e
julgam entos intervindos sobre a interdição e sobre a exclusão dos advogados.

31. Todo o advogado que, após ter sido duas vezes suspenso o u proibido
de suas funções, seja por interrupção o u julgamento, seja por forma disciplinar,
incorrendo na m esm a pena um a terceira vez, será, de direito, riscado do quadro.

32. Nas sedes onde o núm ero de advogados não exceder o núm ero de
vinte, as funções do conselho de disciplina serão preenchidas pelo tribunal.
Q uando ele estimar que haverá lugar à interdição o u à exclusão, ele pegará o

262
Viilunic J I I I Id |)C'l,i ( ' r i a c . i o (' Kc'^i>t('ti( i.i<

parecer por escrito do bâtonnier, ouvirá o acusado nas formas prescritas pelos
artigos 2 6 ,2 7 e 28, e pronunciará salvo apelo.

TÍTULO IV
D o s D IREITOS E D O S DEVERES DOS ADVOGADOS.

33. A ordem dos advogados só poderá se reunir sob a convocação de seu


bâtonnier e por eleição dos candidatos ao conselho de disciplina, assim com o
está dito n o artigo 19.
O bâton n ier n ã o perm itirá que qualquer outro objeto seja p o sto em
deliberação. Aqueles que infringirem a disposição do presente artigo poderão
ser perseguidos e punidos em conform idade com o artigo 293 do C ódigo Penal,
sobre as associações e reuniões ilícitas.

34. Se todos o u alguns advogados de um a sede se aliam para declarar,


sobre qualquer pretexto que seja, que eles não exercerão mais seu m inistério,
eles serão riscados do quadro e não poderão m ais ser restabelecidos.

35. Os advogados portarão a beca de sua grade de licenciado o u de doutor;


os inscritos n o quadro serão situados no interior do parquet.
Eles sustentarão de pé e cobertos; mas eles se descobrirão quando forem
fazer suas conclusões, o u lerem peças do processo.
Eles serão cham ados, nos casos determ inados por lei, a substituir os juizes
e os oficiais do M inistério Público, e não poderão se recusar sem m otivo
desculpável o u im pedim ento.

36. P roib im os expressam ente aos advogados de assinar as consultas,


m em órias e docu m en tos que eles não tiverem feito o u deliberado; lhes fazemos
paralelamente a proibição de fazer os tratados para seus honorários, o u de forçar
as partes a reconhecer seus cuidados antes do serviço advocatício concluído,
sob as penas de repreensão pela primeira vez e de exclusão o u expulsão em caso
de recaída.

37. O s advogados exercerão livremente seu m inistério para a defesa da


justiça e da verdade; nós querem os ao m esm o tem po que eles se abstenham de

263
______________ História da
Ordem dos Advogados do Brasil

toda suposição nos fatos, de todas as surpresas nas citações, e outros m eios
ruins, m esm o de todos os discursos inúteis e supérfluos.
D efen d erem o-os das injúrias e das ofensas entre as partes o u de seus
defensores, proibim os que prossigam com qualquer fato grave contra a honra e
a reputação das partes, a m enos que a necessidade da causa o exija e que eles a
tenham expresso e por escrito de seus clientes o u representantes de seus clientes;
as penalidades serão conform e está dito pelo art. 371 do C ódigo Penal.

38. Ordenam os da mesma forma de jamais se distanciar, seja nos seus


discursos, seja nos seus escritos, ou de outra maneira qualquer, do respeito
devido à justiça, com o tam bém de não faltar às justas considerações que eles
devem a cada um dos magistrados diante dos quais eles exercem o seu ministério.

39. Se um advogado permitir em suas argum entações ou nos seus escritos


atacar as c o n stitu içõ es do Im pério, as leis, o G ov ern o o u as autoridades
instituídas, o tribunal julgará o processo e sentenciará im ediatam ente com as
conclusões do M inistério Público, aplicando-se um a das penas contidas no art.
23 citado acima, sem prejuízo das ações extraordinárias, se ocorrer.
O rdenam os aos nossos procuradores, e aos que fazem as funções, de velar,
sob pena de responder, a execução do presente artigo.

40. Se em u m assunto civil, um a parte não encontrar nenhum defensor, o


tribunal lhe designará um escritório de advocacia, se for preciso.

41. O advogado nom eado para defender u m acusado não poderá recusar
sua função, sem que prove os m otivos da recusa o u im pedim ento.

42. Aguardando o que foi instituído sobre os custos de um a regulamentação


da administração pública, seguiremos os regulamentos das tarifas existentes
dos tribunais sobre os honorários e as férias dos advogados.
Na falta de regras para os objetos que não são previstos nas regulamentações
existentes, querem os que os advogados taxe eles m esm os seus honorários com
discrição que se espera do seu ministério. N o s casos em que a taxação exceder
os lim ites de um a justa m oderação, o c o n selh o de d iscip lin a a reduzirá,
considerando a im portância da causa e a natureza do trabalho; ordenará a

264 9ÁU
Volume; 2 Lut<i pela Oicição c Rcsistôncias

restituição, até m esm o com repreensão. N o caso de reclamação contra a decisão


do conselho disciplinar o reclamante recorrerá ao tribunal.

43. Os advogados farão menção dos seus honorários baseados nas suas
consultas, m em ó rias e seus textos, eles tam bém darão um recibo de seus
honorários para as suas argum entações orais.

44. As con d en a çõ e s pronunciadas pelos tribunais de acordo com os


dispositivos do presente artigo estarão sujeitas a apelação judicial, se for preciso,
entretanto elas serão executadas provisoriamente.

45. N osso grande juiz m inistro da Justiça está encarregado da execução do


presente decreto.

14 de dezem bro de 1810.

Bulletin des Lois, n° 332. D écret Imperial con ten an t R églem en te sur
Texercice de la Profession d'Avocat, et la discipline du Barreau (n° 6.177). Au
palais des Tuileries, le 14 Décembre 1810, p. 569 a 577.

2 6 5
______________ História da.
Ordem dos Advogados do Brasil

ANEXO II
Es t a t u t o d a A s s o c i a ç ã o d o s A d v o g a d o s d e L i s b o a

Art.l® O objecto da associação é conseguir a organisação definitiva da


ordem dos advogados, e auxiliarem-se os associados m utuam ente, tanto para
consultas, com o para m anutenção dos seus direitos.
Art. 2° São so c io s to d o s os a d voga d os que se inscreverem n o livro
com petente, dentro de sessenta dias, contados da approvação dos estatutos. Os
que o não fizerem nesse termo não poderão inscrever-se em approvação da
associação.
Art. 3®A associação terá um presidente e secretario, eleitos por escrutinio
secreto á pluralidade de votos dos m em bros presentes. Estes cargos durarão
u m anno.
Art. 4° Na falta o u im pedim ento do presidente occupará o seu logar o
advogado mais antigo que se achar presente, e na falta o u im pedim ento do
secretario o mais m oderno.
Art. 5® A associação será representada em todos os seus actos pelo seu
presidente.
Art. 6° Haverá tam bem um thesoureiro eleito pela m esm a forma do art.
4®, cujas funcções durarão um anno, no fim da qual será obrigado a prestar as
suas contas.
Art. 7° Cada u m dos associados concorrerá to d o s o s m ezes c o m a
contribuição de 480 réis. Só á pluralidade de votos dos associados se poderá
exigir qualquer contribuição extraordinaria.

266 9àM
X 'o lu in c 2 L l i I . i p e l , I C ric K ,.u ) c R i ' s i s t r n i ias

Art. 8 ° Esta associação poderá fazer as suas sessões todas as tardes, qualquer
que seja o num ero presente dos socios. As sessões serão sem pre publicas.
Art. 9® D as sessões fará o secretario a acta, que contenha so m en te as
decisões, e as principaes razões em que ellas se fundaram.
Art. 10. A associação recebe» por intervenção de seu presidente, quaesquer
consultas que se lhe dirigirem, vindo anonymas: a decisão será m otivada e
assignada pelo presidente, secretario e advogado que a votaram. O honorário
devido por estas decisões será taxado pela mesa, e reverterá para o cofre da
associação.
Art. 11. A associação empregará todos os m eios conducentes a prom over
a empresa de um a Gazeta dos auditorios; m as esta empresa será distincta e
separada da associação dos advogados.
Art. 12. Tudo o mais que pertence á direcção e econom ia da associação
será regulado no seu regimento interno.
Art. A ddicional. Os presentes estatutos continuarão a reger, salvas as
em endas que de futuro se lhe fizerem.

Secretaria de Estado dos N egocios do Reino, em 23 de m arço de 1838. -


Antonio Fernandes Coelho.

Gazeta dos Tribunaes, 1° anno, 16 de m aio de 1843, Typ. Imparcial de F. de


Brito.

•4 1 267
______________ História da
Ordem dos Advogados do Brasil

ANEXO III
A n t e - pro jeto B a r ã o d e L o r e t o

CAPITULO I
D is p o s iç õ e s P r e l im in a r e s

Art. 1° O exercício das profissões de advogado e de solicitador perante a


Justiça no Districto Federal e a Justiça Federal da Republica é regulado pelas
disposições da presente lei.
Art. 2° As duas profissões são d istinctas, m as p o d e m ser exercidas
cumulativam ente por quem tenha os requisitos legaes estabelecidos tanto para
um a com o para a outra.
Art. 3° Para exercitar as funcções de advogado e de solicitador é necessário
a inscripção nos quadros formados e accordo com esta lei.

CAPITULO II
D os A d v o g a d o s e d o s S o l ic it a d o r e s

S e c ç Ao I
C o n d iç õ e s daI in sc r iç a o n o Q u a d r o d o s A d v o g a d o s

Art. 4® Para ser inscripto no quadro - dos advogados é necessário:


1° - Ser cidadão brasileiro;,

268 9àM
V o lu m e 2 L u tii p c l . i C r i a ç ã o e R o s i s tc n c i a s

2 ° - Estar isento de culpa e pena;


3® - Ser graduado em direito por um a das Faculdades da Republica, ou
por Universidade o u Faculdades estrangeiras, depois de confirm ado o graó
m ediante e com petente exame;
4®- Haver consecutivamente, durante dois annos ao menos, exercido as funcções
de solicitador, e se applicado á pratica forense no escriptorio de um advogado.
Art. 5° T êm direito de fazer-se inscrever n o quadro dos advogados:
1®Os magistrados e os agentes do Ministério Publico, que tiverem deixado
os seus cargos, depois de dois annos de exercício.
2° Os professores das Faculdades de Direito.

Se c ç à o II

C o n d iç õ e s d a I n s c r ip ç ã o n o Q u a d r o d o s So l ic it a d o r e s

Art. 6 *^ Para ser inscripto no quadro dos solicitadores é necessário ter as


condições indicadas no art. 4°, ns. 1 2° e 3°, assim com o haver consecutivamente,
durante dois annos ao menos, freqüentado as audiências dos juizes e as sessões
dos tribunaes, e se applicado á pratica forense no escriptorio de um solicitador.

S ecçào III
D as I n c o m p a t ib il id a d e s

Art. 7° As profissões de advogado e de solicitador são incompativeis:


1° - C om os cargos da Ordem judiciaria;
2° - C om os officios o u empregos públicos retribuidos;
3° - C om as funcções de escrivão e de tabellião;
4° - C om as de agente de cam bio e corretor;
5° - C om a profissão de commerciante.

S ecçào IV
D os DIREITOS E DEVERES D O S ADVOGADOS E DOS SOLICITADORES

269
______________ História da
Ordem dos Advogados do Brasil

Art. 8 ° Aos advogados e solicitadores inscriptos n os quadros é applicavel a


legislação vigente na parte relativa aos direitos e deveres dos advogados e dos
solicitadores em geral.
Art. 9® Os advogados inscriptos no quadro têm a faculdade de exercer a
profissão perante quaesquer juízos e tribunaes do D istricto Federal e da justiça
Federal da Republica.
Paragrapho unico. - Os pretendentes á inscripção no quadro dos advogados,
durante o tem po de pratica a que se refere o art. 4, n. 4° poderão defender perante
os juizes e tribunaes criminaes de 1» instancia do Districto Federal.
Art. 10. Os advogados e solicitadores residentes em u m Estado, para serem
adm ittidos a advogar e solicitar perante os juizes federaes da respectiva secção,
deverão estar inscriptos em quadro especial da Ordem.
Art. 11. Nas audiências dos juizes e sessões dos tribunaes a que assistirem,
trarão os advogados o uniform e que for proprio delles.

CAPITULO III
D a O rdem dos A dvogados

Secção I
C o m p o s iç ã o d a O rdem

Art. 12. A O rdem dos Advogados é constituida por todos os advogados


inscriptos n o quadro.
Esta O rdem gozará de personalidade jurídica.

Secção II
D a A ssem bléa G eral d a O rdem

Art. 13. A Assembléa geral da Ordem reune-se em sessão ordínaría ou


extraordinaria.
Para a validade da sessão é necessário que intervenha u m terço dos
m em bros da Ordem.

270
V o lu U K ' 2 L il t . I ( j i . x à o (' K ( ‘S i s l ê n ( ia?

Ocorrendo segunda convocação da Assembléa geral, é valida a sessão com


a intervenção de u m sexto, e co m a de 20 advogados, n o caso de terceira
convocação.
Art. 14. C om pete á Assembléa geral:
1° - Eleger annualmente, por escrutínio secreto e maioria absoluta de votos,
o presidente e mais m em bros do Conselho da Ordem;
2° - Autorizar a acquisição o u alienação dos bens da Ordem;
3° - Discutir e resolver todas as questões concernentes á doutrina e pratica
do Direito;
4° - Julgar os recursos das decisões do C onselho da O rdem sobre a recusa
da inscripção nos quadros dos advogados e dos solicitadores, e sobre a applicação
das penas disciplinares;
5° - Organizar o s regim entos internos relativos ao exercicio das suas
attribuições e das do C onselho da Ordem, e os regulamentos que os serviços
delia exigirem.

S e c ç Ao I I I
Do C onselho da O rdem

Art. 1 5 . 0 C onselho da O rdem com por-se-ha de nove m em bros, inclusive


o presidente da O rdem , e d ’entre elles se elegerá o prim eiro secretario e o
thesoureiro.
A nnualm ente será renovado o Conselho.
Para a validade de suas decisões é necessária a intervenção da maioria
absoluta de seus m em bros.
Art. 16. São atribuições d o Conselho:
\° Velar pela conservação da honra e da independencia da Ordem;
2° Formar os dois quadros dos advogados e dos solicitadores, decidindo,
por despacho m otivado, acerca dos pedidos de inscripção em u m o u em outro;
3° Consultar sobre os casos em que as jurisprudência fôr duvidosa, assim
co m o sobre questões de D ireito a respeito das quaes lhe pedirem o seu parecer;
4° Prover sobre a assistência judiciaria, nom eando, d ’entre os m em bros
da Ordem, com petentes com m issões e delegados;
5° Adm inistrar os bens da Ordem , prom over a cobrança da receita, e
autorizar as despezas;

#à# 2 7 7
______________ H istória da
Ordem dos Advogados do Brasil

6 ° Adquirir ou alienar bens> com prévia autorização da Assembléa Geral da Ordem;

7° Nom ear, em cada Estado, um delegado para o coadjuvar no exercicio


das suas funcções;
8 ® Applicar aos advogados e aos solicitadores as penas disciplinares
estatuidas no artigo seguinte.
Art. 17. As penas disciplinares que o C onselho da O rdem póde pronunciar
contra os advogados e solicitadores inscriptos nos quadros são:
1® Advertência;
2° Censura;
3° Suspensão do exercicio da profissão por tempo não excedente de um anno;
4® Cancellam ento da inscripção.
Pertence exclusivamente ao C onselho applicar as ditas penas quando as
faltas não forem com m ettidas em audiência.
A repressão, porém das faltas ahi praticadas continua a competir aos juizes
e tribunaes, segundo as attribuições disciplinares que lhes são conferidas por lei.
Art. 18. N enhum a pena disciplinar poderá ser pronunciada pelo Conselho,
sem que seja citado a comparecer perante elle o inculpado, dentro de prazo não
m enor de cinco dias.
A s d e c isõ e s d o C o n se lh o acerca d e m ateria d isc ip lin a r p o d e m ser
im pugnadas pelo inculpado, com recurso para a Assem bléa geral da Ordem.

Secção IV
D o P r esjd en t e da O rdem

Art. 1 9 .0 presidente da Ordem é o seu chefe.


Representa a Ordem em todas as instancias judiciarias;
Convoca extraordinariamente as sessões da Assem bléa geral e conselho
da ordem , e a ellas preside, c om voto de qualidade;
Ordena as despezas autorizadas pelo Conselho;
Superintende todos os serviços.

2 7 2 «41
V d I u iiu ' 2 Lula ( X ' l a C r ia ç ã i) c Rcsib tcncia s

CAPITULO IV
D as I n s c r ip ç o e s nos Q uadros

Art. 20. As inscripçoes dos advogados e dos solicitadores nos respectivos


q u a d ro s serã o r e q u erid a s p e lo p r e te n d e n te , em face d o s d o c u m e n t o s
com probatorios das condições legaes.
Q uem pretender exercitar cum ulativam ente as profissões de advogado e
de solicitador deve inscrever-se no quadro de um a e de outra.
As inscripçoes dependem do pagam ento prévio de um a taxa de cem miJ
réis, applicavel ás despezas da ordem.
A data da inscripção estabelece o graó da antiguidade.
Art. 21. D o despacho de indeferimento da inscripção póde o pretendente
recorrer para a Assem bléa gera da Ordem.

CAPITULO V
D is po siç õ e s T r a n s it ó r ia s

Art. 22. Publicada a presente lei, serão formados pelo Instituto da O rdem
dos Advogados Brasileiros quadros especiaes dos advogados e dos solicitadores
provisionados que n o Districto Federal exercitarem as profissão conform e as
leis e regulam entos em vigor. O Instituto fará inscrever uns e outros nesses
quadros. D epois de concluida a inscripção, se convocará extraordinariamente,
por intervenção do presidente do Instituto, uma Assembléa geral dos advogados
inscriptos, afim de procederem á eleição do C onselho da Ordem. A este Conselho
caberá prom over a organização definitiva delia.
Art. 23. A inscripção dos actuaes solicitadores no quadro especial indicado
no artigo p reced en te poderá, d ep o is de fin d o o te m p o da p ro v isã o, ser
annualm ente renovada, por deliberação do C onselho da Ordem.
Rio de Janeiro, 22 de setembro de 1904.

B a rã o de L o re to , relator.
In g le z de S o u za, com restricção.
E u g e n io d e B a rr o s , com restricção.
EMENDAS

273
______________ História da
O rdem dos Advogados do Brasil

Substitua-se a palavra - profissões - dos arts. 1°, 2°, 7°, e outros - pela
palavra - funcções.
Rio, 20-10-04. - Vilella dos Santos

CAPITULO II

Secçao I
Art. 5® acrescente-se no final do n. 2®“que forem graduados em Direito”.

Secçao II
Art. 6° Supprima-se: “o n. 2 do art. 4® que será substituido pela simples
exigencia de não estar condem nado por crime que diga com a bôa fama e honra”.

S ecçao IV
Art. 9° A crescente-se logo depois de: “os advogados - a Partícula e - e a
palavra - solicitadores”.
Paragrapho unico - acrescente-se depois de - “dos advogados e o quadro
dos solicitadores” e depois do “o art. 4 n. 4 ” e o art. 6 ®“levando o verbo referir
ao plural “a que se referem”
Art. 10. Redija-se da segu in te forma; “o s ad vogad os e solicitadores,
residentes em um Estado, deverão estar inscriptos em quadro especial da Ordem,
para serem a d m ittid o s a advogar e solicitar perante o s ju izes federaes da
respectiva secção.”

CAPITULO III

S ecçao II
Art. 14. Supprima-se o n. 3®, ou então substitua-se pelo seguinte: “Determinar
annualmente as épocas em que a Ordem se deve reunir, em sessões publicas para
discutir e resolver todas as questões concernentes á doutrina e pratica do Direito”.

274
\'()lunu' 2 I ulJ |)C ’ l.i (j c> Rc’sistc’fU ids

S ecção III
Art. 18. substitua-se a palavra - inculpado, por qualquer um a das seguintes:
“accusado”, “culpado”, “criminado”, ou outra que exprima o pensam ento do artigo.

CAPITULO V
D is p o s iç õ e s T r a n s it ó r ia s

Art. 22. supprim a-se “e dos solicitadores provisionados” e nesse sentido se


altere a redacção de todo o artigo.
Art. 23. supprim a-se por com pleto.
A o m esm o tem po proponho que se encaixe, on de couber, a disposição
salutar de que “o solicitador accusado” se possa defender perante o C onselho e
a Assembléa Geral da Ordem , por interm edio de um advogado, para assim ficar
equiparado n o graó de hierachia aos que o vão julgar.
Salvo o m elhor juizo.
Sala das Sessões do Instituto, e m 13 de Outubro de 1904.

A ugusto Pinto Lima.

Em tem p o . - Art. 17. - su p p rim a -se a parte final, relativa ás penas


disciplinares, applicadas pelos juizes em audiência.
E r a u t supra . - A ugusto P in to L im a .

Boletim do Instituto d a Ordem dos Advogados Brazileiros, n® 2, vol. 1 , 1925.


“A Creação da O rdem dos Advogados {collectanea dos principaes trabalhos
relativos a esse assum pto, organizada pelo D r. A rm ando Vidal, 2° Secretario do
Instituto)”, p. 147 a 153.

2 7 5
______________ História da
Ordem dos Advogados do Brasil

A NEXO IV
Projeto Nogueira Jaguaribe (1906)

Projecto 2 9 8 - 1906
Regula o exercício da advocacia

O Congresso Nacional decreta:

Art. 1° Para exercer a advocacia, nos termos da C onstituição de 24 de


fevereiro de 1891, art. 72, § 24, e art. 34, § 34,^ o u solicitar perante os juizes
singulares d e i * instancia, em feitos de qualquer natureza, é indispensável:
a) folha corrida;
b) capacidade civil e politica;
c) m andato da parte, com poderes especiaes;
d) licença do juiz, requerida pelo procurador e conjunctam ente assignada
pela parte;
e) term o de responsabilidade (ibid.).
Art. 2° Perante os juizes criminaes, durante a form ação da culpa, actos
que a precederem , ou julgam ento, é perm ittido o exercicio da advocacia a
qualquer cidadão desde que o accusado a isso o autorize por escripto o u por
term o nos autos, o u o juiz ex-officio o n om eie curador o u defensor nos casos
perm ittidos em direito.

^ Art. 34. C om pete priva tiva m en te ao Congresso N acional (...). Inc. 34, decretar as leis orgânicas p a ra a execução
com pleta da Constituição.___________________________________________________________________________

2 7 6
V o lu m e 2 L u l a |)ol.i C r i a ç ã o o R e s i s tê n c i a s

§ 1“ É perm ittido a qualquer cidadão brazileiro o u estrangeiro requerer


habeas-corpus o u prestar fiança a seu favor ou de terceiros.
§ 2° O habeas-corpus e a fiança, quando requeridos verbalm ente, serão
im m ediatam ente reduzidos a termo e não se proseguirá no processo sem decisão
do pedido, salvo o auto de prisão em flagrante, em cujo corpo se lançará o
pedido e despacho.
Art. 3° A os juizes singulares cabe conceder, dentro dos lim ites de sua
jurisdicção, provisões para o exercicio da advocacia o u para solicitar em feitos
ás pessoas de reconhecida com petencia que, n os term os do art. 1 °, tiverem
funccionado em 20 feitos ou eiveis, ou orphanalogicos o u com m erciaes e em
outros tantos criminaes, aos term os d o art. 2 °, subm etten do-os a prévio exam e
pela fórma que as leis determ inarem e prazos que forem estabelecidos para as
provisões.
§ 1® Os advogados provisionados e solicitadores que tiverem o u vierem a
ter 12 annos do effectivo exercicio legalm ente com provado, independem de
novas provisões para o exercicio de suas profissões.
Art. 4® Aos bacharéis em direito formados pelas faculdades officiaes ou
equiparadas basta para o exercicio da advocacia o registro em juizo do titulo
scientifico o u docum ento que o supra e o mandato.
§ 1° A mulher diplomada em direito está comprehendida no artigo anterior.
Art. 5° Os advogados diplom ados ou provisionados estão sujeitos ás leis
regulamentares locaes quanto a im postos e registro dos titulos e b em assim os
solicitadores.
Art. 6 “ R evogam -se as disposições em contrario.

Sala das sessões, outubro de 1906. - Nogueira Jaguaribe.

Câmara dos Deputados. Coordenação de Arquivo. Centro de Docum entação


e Informação.

2 7 7
______________ História da
O rdem dos Advogados do Brasil

A N E XO V
PROJETO CELSO BAYMA

Projecto 175 - 1911


Crêa a O rdem dos Advogados Brazileiros e dá outras providencias

Art. 1® Fica creada a Ordem dos A dvogados Brasileiros.


Art. 2“ A Ordem é constituída por todos os advogados inscriptos no quadro
e tem por fim discutir e resolver todas as questões concernentes á doutrina e
pratica do direito e especialm ente ao exercicio da advocacia.
Art. 3° Incum be-lhe estudar todos os assum ptos que dizem respeito ao
seu objecto, e responder ás perguntas do Governo e das autoridades constituidas.

DA ADM INISTRAÇÃO D A ORDEM

Art. 4° A adm inistração da O rdem ficará a cargo de u m presidente, um


vice-presidente, u m secretario geral, u m 1° secretario, u m 2° secretario, um
thesoureiro, u m orador e de um a com m issão geral com posta de 5 mem bros.
Art. 5° A m esa será constituída pelo Presidente e pelos 1° e 2° Secretários.
Art. 6 ® Todos os cargos da Ordem serão por eleição geral e o m andato
durará por espaço de um anno podendo ser renovado.
Art. 7° A O rdem terá u m co n selh o ad m in istrativo c o n stitu íd o pelo
presidente, secretario geral, thesoureiro e pelos 5 m em bros da com m issão geral.

278
V o lu n it' 2 [ ut.i j H ‘la C r i a t . H ) c R i\-i< lc n c i,is

§ unico. A este con selh o com p ete gerir o p atrim on io da O rdem , resolver
to d o s os a ssu m p tos que e n te n d a m co m a ad m in istra ção e e c o n o m ia da
corporação.
Art. 8 ° Nas reuniões d o conselho adm inistrativo deverão estar presentes
pelo m en o s 5 dos seus m em bros com tanto que n’elle figurem o presidente,
secretario geral e thesoureiro.
A rt. 9 ° O P r e sid e n te rep resen ta a O r d e m e m to d a s as in sta n c ia s
judiciarias.
§ 1° Preside ás assem bléas geraes ordinarias e ás extraordinarias.
§ 2° Autoriza o pagam ento das despezas de accordo c o m o resolvido
com o co n selh o e ordena as urgentes.
§ 3° D esigna q u em sirva interinam ente na adm inistração o u conselho
por falta dos respectivos m em bros.
§ 4® Superintende tod os os serviços.
Art. 10. Os secretários e dem ais m em bros da adm inistração e conselho
terão suas attribuições fixadas pelo regim ento in tern o da O rdem .
Art. 11. O presidente será substituido em suas faltas e im p ed im en to s
pelo vice-presidente e, na falta d ’este, pelos m em bros do co n selh o na ordem
de suas collocações.

DAS ASSEMBLÉAS

Art. 12. A assem bléa geral da O rdem reun e-se em sessão ordinaria e
extraordinaria.
Art. 13. A votação poderá ser nom inal, sym bolica o u por escrutinio secreto.
Art. 14. C om pete á assembléa geral:
1° Eleger annualmente o presidente e mais membros da administração e conselho;
2° Organizar o regim ento interno;
3° Autorizar a alienação e acquisição de bens.
Art. 15. Para validade da sessão é necessário que intervenha mais de metade
dos m em bros da Ordem.
O ccorrendo 2° convocação, é valida a sessão com a presença de 1/5 dos
m em bros, e, n o caso de 3* convocação, basta a presença de 20 advogados.

« là l 2 7 9
______________ Histó ria da
Ordem dos Advogados do Brasil

D O S M EMBROS DA O RDEM

Art. 16. Para ser admittido no quadro da Ordem dos Advogados é necessário:
1 ®, ser cidadão brazileiro;
2 ®, estar isento de culpa e pena;
3°, ter o curso de direito em qualquer das Faculdades da Republica o u ser
GR ADUADO POR U N IV E R S ID A D E ESTRANGEIRA, O FFICIALM ENTE REC O N H E C ID A ;

4®, ter exercido consecutivam ente a advocacia por espaço nunca inferior a
dous annos.
Art. 17. As inscripções d os advogados n o s respectivos quadros serão
solicitadas em requerim entos acom panhados dos docum entos com probatórios
das cond ições exigidas na presente lei.
Art. 18. D a decisão que recusar a inscripção cabe recurso para assembléa
geral da Ordem.
Art. 19. Só os advogados inscriptos no quadro teem direito de exercer a
profissão perante os juizes e tribunaes do D istricto Federal e a Justiça Federal
da U nião n o m esm o districto.

MEMBROS HONORÁRIOS

Art. 20. A O rdem poderá conferir o titu lo de m em b ro h o n o rário a


advogados e m agistrados de notoria reputação scientifica.
Art. 21. Os membros honorários estão isentos de qualquer contribuição pecuniaria.
Art. 22. A admissão dos m em bros honorários terá logar m ediante proposta
de 10 m em bros titulares pelo m enos, e votação em assembléa geral de m ais de
+ dos votos presentes.
Art. 23. É presidente honorário da Ordem o Ministro da Justiça e Negocios Interiores.

MEMBROS CORRESPONDENTES

Art. 24. Para ser adm ittido m em bro correspondente são exigidas as mesmas
con dições que se exigem para os m em bros titulares, m en os a de nacionalidade.
§ unico. O processo para a adm issão é o consignado no art. 16.

280 màM
V o lu m e 2 1 uUi |) c l a C r i j ç ã o o K o s i s tô n e i a s

Art. 25. Os m em bros honorários e correspondentes poderão comparecer


ás sessões o)m todas as vantagens dos titulares, mas não poderão votar nem ser votados.
Art. 26. Os m em bros da Ordem pagarão a joia e a contribuição mensal
que for estipulada em seu regim ento interno.
Art. 27. A O rdem publicará um a Revista sob a direcção do con selh o
administrativo.

DISPOSIÇÕES TRANSITÓRIAS

Art. 1° O Instituto da Ordem dos Advogados Brasileiros organizará um


quadro d os advogados que exercitarem a profissão de accordo co m as leis
vig en tes. C o n c lu id a a in scrip çã o se convocará ex tra o rd in a ria m en te por
interm edio do presidente d o Instituto um a assem bléa geral dos advogados
inscriptos, afim de procederem á eleição da adm inistração da Ordem , a quem
caberá prom over a sua organização definitiva.
Art. 2° Revogam -se as disposições em contrario.

Sala das Sessões - 14 de Setembro de 1911 - Celso Bayma.

Annaes do Parlamento Brazileiro - Câmara dos Srs. D eputados. Sessões


de 1° a 30 de setem bro de 1911: “Projecto n® 175, crêa a Ordem dos Advogados
Brazileiros e dá outras providencias” vol. V, p. 423 a 426.

281
______________ História da
Ordem dos Advogados do Brasil

ANEXO VI
Substitutivo Áurelino Leal (1914)

CAPITULO I

S ecçâo I
Da O rdem dos A dvogados

Art. \ ° Fica creada, com personalidade jurídica, a O rdem dos Advogados


Brasileiros, constituida, para os effeitos desta lei, pelos advogados e solicitadores
que exercem a profissão perante a justiça federal na capital da Republica e a do
D istricto Federal.
Art. 2° Todos os m em bros da O rdem constituirão a sua A ssembléa Geral.
A lém desta, haverá u m C onselho da Ordem , tendo aquella e este a com p osição
e attribuições definidas nesta lei.

SECÇÂO II
D os Q uadros da O rdem e da I n sc r ipç ã o dos M em bros

Art. 3° A O rdem terá dois quadros, u m para a inscripção d os advogados e


outro para a inscripção d os solicitadores.
Art. 4° São condições essenciaes para ser inscripto n o quadro dos advogados:

282 9àM
V 'o litm c ' 2 Lut<t jiclct C'nat.'n) c- K i - s i ^ t c í K i c i s

N . 1. Ser cidadão brasileiro no exercido dos seus direitos politicos;


N . 2. Esta livre de pena por crim e contra a boa fama e a honra;
N . 3. Ser graduado em sciencias juridicas por um a das faculdades da
R ep ublica, o u e sta b e le c im e n to s eq u ip a ra d o s, o u p o r facu ld a d e d e paiz
estrangeiro, depois de confirm ado o gráo no paiz, salvo si entre este e aquelle
houver tratado relativo a reconhecim ento reciproco de titulos acadêm icos por
am bos expedidos;
N . 4. Haver durante dois annos exercido as funcções de advogado ou
solicitador, n os term os do art. 6 °.
Art. 5° São c o n d iç õ e s essenciaes para ser in scrip to n o quadro d os
solicitadores:
N . 1. As enum eradas nos ns. 1 e 2 do artigo anterior;
N . 2. Haver durante dois annos funccionado nas audiências dos juizes e
tribunaes a que se refere o paragrapho unico do art. 6 °, o u, durante o m esm o
tem po, no escriptorio de um advogado ou de um solicitador.
Art. 6 ° D urante o tem p o de pratica a que se refere o n. 4 do art. 5°, os
graduados em direito que aspirarem á inscripção no quadro dos advogados
poderão officiar perante os juizes e tribunaes crim inaes da primeira instancia
federaes ou locaes e perante os pretores eiveis.
P a r a g r a p h o u n ic o . O s p r e te n d e n te s á in s c r ip ç ã o n o q u a d r o d o s
solicitadores poderão tam bem officiar, co m o estagiarios, perante o s juizes
federaes o u locaes e os pretores do civel.
Art. 7® Nos term os dos artigos anteriores, serão m em bros da Ordem.
N . 1. Os ad vogad os que, inscriptos na fórm a do art. 5°, exercerem a
profissão perante os tribunaes federaes na capital da U nião e perante a justiça
do Districto Federal;
N . 2. Os solicitadores inscriptos na fórm a d o art. 5°.
N . 3. Os magistrados e agentes do m inistério publico, que tiverem deixado
os seus cargos depois de u m anno de exercicio, o u im m ediatam ente depois de
os deixarem, si antes tiverem pertencido á Ordem, o u si já contarem o tem po a
que e refere o n. 4 do art. 4°.

•áB 283
______________ História da
O rdem dos Advogados do Brasil

S ecçào III
D as I n c o m p a t ib il id a d e s

Art. 8 ° As profissões de advogado e solicitador são incompatíveis:


N . 1. C om os cargos da magistratura federal o u local, de nom eação do
governo ou electiva;
N. 2. C om as fiincções de escrivão, tabellião e official d e registro.
Art. 9° O s m em bros da Ordem que vierem a dedicar-se a qualquer das
profissões o u empregos acim a m encionados serão prohibidos de advogar ou
solicitar. Voltarão, porém , ao exercicio da profissão logo que com m u n iq u em e
provem á Ordem terem deixado a actividade que determinara a interrupção.

S ecção I V
D os D í r e / t o s £ D e v e r e s dos A dvogados

Art. 10. Só aos advogados inscriptos no quadro da Ordem é licito officiar


perante a justiça da União e do Districto Federal. Egualmente, ninguém solicitará
em juizo sem estar inscripto no respectivo quadro.
Art. 11. Os advogados, membros da Ordem, sempre que os juizes e tribunaes
estiverem realizando sessões o u audiências publicas, terão livre entrada nos
respectivos recintos, com direito a assento proprio e requererão e fellarão assentados.
Art. 22. Os advogados são obrigados:
N . 1. A comparecer ás sessões da Assembléa Geral da Ordem e do Conselho,
quando deste fizerem parte;
N . 2. A respeitar os principios da ethica profissional;
N . 3. A não assignar consultas, arrazoados e petições que não tenham feito;
N . 4. A evitar n os papeis forenses allusões pessoaes contra os seus collegas
e partes, fóra das questões debatidas;
N . 5. A manter co m os juizes e tribunaes, perante o s quaes officiarem,
attitude respeitosa;
N. 6 . A não exceder os limites da cortezia quando criticarem os actos do
poder publico;
N . 7. A não recusar as nom eações que receberem para a defesa dos menores
orphãos e miseráveis;

284
V o lu m e 2 Lu ta p e l a C r i a ç ã o c R c s i s i c n c i a s

N. 8 . A pagar um a joia de 50$, ao serem adm ittidos á O rdem e um a


contribuição m ensal de 5$000.
Art. 13. As disposições dos ns. 1 ,2 ,3 ,4 ,5 ,6 e 7 são applicadasaos estagiarios
a que se refere o art. 7° e aos solicitadores no que lhes tocar.
Art. 14. Nos debates perante os tribunaes, os advogados usarão as vestes
talares que a lei deerminar.
Art. 15. C ontinuam em vigor todos os direitos e deveres que as leis vigentes
attribuem aos advogados e solicitadores.

CAPITULO II

S ecçao I
D a A ssem bléa G eral

Art. 16. A Assembléa Geral da O rdem com por-se-á de todos os m em bros


da O rdem n o g ozo dos seus direitos e será dirigida por u m presidente, um 1° e
um 2 ° vice-presidentes, um 1° e um 2° secretario, cada u m com um supplente.
A lém desses funccionarios, a Assembléa elegerá um orador para representar a
O rdem em so lem n id ad es internas o u externas, e u m thesoureiro. Haverá
tam bem um bibliothecario nom eado pelo presidente.
O m andato dos funccionarios electivos é annual.
Art. 17 Á Assem bléa Geral compete:
N . 1. Eleger annualmente, por escrutínio secreto e maioria absoluta de votos,
o presidente e mais m em bros a que se refere o art. 6° e os m em bros do Conselho;
N. 2. Autorizar a acquisição ou alienação de bens da Ordem;
N. 3. Discutir e resolver todas as questões concernentes á doutrina e pratica do direito;
N. 4. Julgar o s recursos das decisões do C onselho relativos á inscripção no
quad ro d o s a d v o g a d o s e so lic ita d o r e s, e sob re a a p p lic a ç ã o das p en as
disciplinares;
N . 5. Organizar o regim ento interno necessário ao exercicio de suas
attribuições e do C onselho da Ordem.
Art. 18. A A ssembléa Geral funccionará em sessões ordinárias:
N . 1. A nnualm ente, no dia marcado no respectivo regimento, para a eleição
dos funccionarios que a dirigem e dos m em bros do Conselho;

285
______________ Histó ria da
Ordem dos Advogados do Brasil

N . 2. Q uinzenalm ente, e durante os m ezes determ inados n o regim ento


interno, para discutir e estudar os assum ptos a que se refere o n. 3 d o art. 18 e
resolver sobre os recursos previstos n o n. 4 do referido artigo.
Art. 19. A Assembléa Geral realizará sessões extraordinarias:
N . 1. Q uando, fora dos m ezes a que se refere o n. 2 do artigo anterior,
houver recurso de decisões do C onselho a julgar;
N . 2. Quando qualquer poder politico consultar a Ordem sobre materia urgente;
N . 3. Q uando, a requerim ento de u m quinto d os m em bros da Ordem,
constituído na sua maioria de advogados, se requerer a sua convocação para
tratar de assum pto que, não sendo im m ediatam ente resolvido, possa trazer
prejuizos á Ordem , á sua boa fama e norm al administração;
N . 4. Para tomar con hecim ento da renuncia do presidente e proceder a
eleição im m ediata.
Art. 2 0 .0 quorum da Assem bléa Geral será assim regulado:
N . 1. Para os effeitos dos ns. 1 ,2 e 4 do art. 17, e 1,3 e 4 d o art. 1 9 a maioria
absoluta de m em bros da Ordem. Si esse quorum não se reunir far-se-á uma
segunda convocação na qual a Assembléa poderá funccionar co m u m sexto dos
seus m em bros e ainda não se reunindo este num ero, haverá u m a terceira que
poderá deliberar c o m a presença de 20 advogados, p elo menos:
N . 2. N os demais casos, a Assembléa reunir-se-á com a presença de 15 advogados.
Paragrapho unico. N o caso de um a terceira convocação da Assembléa Geral
serão com putados n o quorum até cinco advogados estagiarios, na ordem de
antiguidade do registro dos titulos. E n o caso do n. 2 a presença delles será
sempre com putada.

S ecçao II
D o C onselho da O rdem

Art. 2 1 . 0 C onselho da O rdem com por-se-á de nove m em bros, inclusive


o presidente da Assembléa Geral, que será tam bem o seu presidente, eleitos na
fórm a do art. 17, n. 1. O prim eiro e segundo secretários do C onselho serão
eleitos entre os respectivos m em bros. Os demais m em bros, em num ero igual,
com p orão a com m issão de syndicancia e a com m issão de disciplina, cada uma
c o m um presidente de sua livre escolha.

286
\'()kiiiK ' 2 L u l . i [ K ‘ l a ( j ictccK) e R v s i s t c t K i.is

Art. 2 2 .0 C onselho funccionará com a presença da maioria absoluta dos


seus m em bros e decidirá com igual quorum dos presentes.
Art. 23. Ao C onselho incumbe:
N. 1. Tomar conhecimento dos pareceres desta, acceitando o u rejeitando os
pedidos. Neste caso, os pareceres e sua discussão serão secretos. Rejeitado o parecer,
o C onselho remetterá cópia delle ao pretendente, habilitando-o a contestar,
documentalmente, dentro de 15 dias, os motivos determinantes da rejeição. Si o
Conselho mantiver o seu voto, o candidato poderá recorrer para a Assembléa Geral
dentro de oito dias. Qualquer mem bro da Ordem terá o direito de, firmado em
documentos, representar ao Conselho contra os pretendentes a que se refere o artigo
anterior e sempre que tal occorrer, o Conselho, depois de decidir a respeito, informará
devidamente sobre o caso e devolvel-o-á ao conhecimento definitivo da Assembléa
Geral por meio de recursos ex-officio, si a decisão tiver sido acceitando o concurrente;
N . 3. \è la r pela conservação da honra e da independencia da Ordem;
N . 4. Applicar aos advogados, solicitadores e estagiarios as seguintes penas
disciplinares: a) advertencia; b) censura; c) multa de 100$ até 2 0 0 $; d) suspensão
do exercício da profissão por tem po não excedente de tres mezes.
Paragrapho unico. O membro da Ordem será sempre admittido a defender-se.
Art. 24. A pena de advertência será applicada em officio d o presidente da
O rdem ao m em bro culpado, consistindo, apenas, em cham ar delicadam ente a
sua attenção para o facto que a motivar. A censura far-se-á tam bém por escripto,
empregando, porém , o presidente a palavra - censura - , e fazendo allusão ao
facto incrim inado. A m ulta e a suspensão constarão da acta da sessão em que
forem decretadas, sendo a m esm a assignada pelo presidente e secretários do
C onselho. D e am bas caberá recurso para a Assembléa Geral, e si esta mantiver
a decisão do C onselho far-se-ão as devidas com m unicações aos juizes e tribunaes,
de m o d o que o s culpados não voltem ao exercicio da profissão senão depois de
cum prida a respectiva pena.
Art. 25. A pena de censura será imposta em seguida á de advertencia quando
o m em bro da O rdem reincidir na falta que tiver dado logar a esta pena. N o caso
de um a segunda reincidencia, será applicada a de multa, e, finalm ente, a de
suspensão. Si porém , a falta fôr grave, qualquer das penas enum eradas nas letras
b, c e d poderá ser applicada sem dependencia de graduação.
Art. 26. Q uando u m m em bro da Ordem com m etter qualquer dos crimes
a que se refere o art. 209 do Cod. Pen., o C onselho procederá ao respectivo

•àB 287
______________ História da
Ordem dos Advogados do Brasil

inquérito e rem ettel-o-á ao ministério publico para esclarecer a sua acção. Nesse
inquérito, o inculpado será adm ittido a defender-se da im putação criminosa.
Art. 27. Os juizes e tribunaes continuarão a exercer o poder disciplinar
sobre os advogados e solicitadores quando as íalias forem com m ettidas em
audiência. Em taes casos, o C onselho da O rdem não poderá proferir outra pena
pelo m esm o facto.

S e c ç Ao III
D o P r e s id e n t e da O rdem

Art. 2 8 .0 presidente da Assembléa Geral e do C onselho terá o n om e official


de Presidente da O rdem dos Advogados.
Art. 29. Ao presidente compete:
N . 1. Representar a Ordem perante os poderes públicos;
N. 2. Refresental-a em juizo, activa e passivamente;
N. 3. Convocar as assembléas geraes ordinarias e extraordinarias e o Conselho;
N . 4. Ordenar todas as despezas;
N. 5. Adquirir ou alienar os im m oveis, depois da autorização da Assembléa
Geral nos term os do n. 2 do art. 17;
N. 6 . Exercer o suprem o contraste de todos os serviços da Ordem;
N . 7. Assignar os officios para applicação das penas de advertencia e censura
dos m em bros que nellas incidirem.

CAPITULO III

S ecçao U n ic a

D a A s s is t ê n c ia J u d ic ia r ia

Art. 30. A legislação vigente sobre a assistência judiciaria, que será prestada
tam bém perante a justiça federal, passará toda para a O rdem dos Advogados,
in cum bind o á respectiva Assem bléa Geral eleger, ao m esm o tem po os seus
funccionarios, aquelles a que se referem os arts. 5 e 7 do decreto n. 2.457, de 8

de fevereiro de 1897.

288
V o lu m e 2 Lu ta p e l a ( ' t i . K ^ ã o c R e s i s t ê n c i a s

Paragrapho unico. A Assistência Judiciaria será prestada aos estrangeiros,


independente de reciprocidade internacional.

CAPITULO IV

Secção Unica
D o patrim onio da O rdem

Art. 3 1 . 0 patrim onio da Ordem será constituído:


N . 1. Pelos I r a d o s e doações feitos á Ordem;
N . 2. Pelos bens e valores que ella adquirir;
N . 3. Pelas m ultas a que forem condem nados os m em bros da O rdem nos
casos do art. 23, n. 4 e do art. 26;
N . 4. Por quaesquer valores adventicios.
Art. 32 O patrim onio da Ordem será dirigido pelo presidente, guardadas
as disposições desta lei.

CAPITULO V

Secção Unica
D a Beneficencia da Ordem

Art. 33. U m quarto de todas as rendas da Ordem será destinado á instituição


do fund o beneficente da O rdem , cujo serviço será regulado n o respectivo
regim ento interno.

CAPITULO VI

D isposições Geraes

Art. 34. A o ser adm ittido á Ordem o advogado e solicitador prestarão o


com prom isso funccional, cuja formula será prescripta n o regim ento interno.
Art. 35. As profissões de advogado e solicitador são distinctas, m as p odem
ser exercidas cum ulativam ente, um a vez satisfeitos os requisitos exigidos por
ambas.

•à l 2 8 9
______________ História da
Ordem dos Advogados do Brasil

Art. 36. Os actuaes advogados e solicitadores, nos term os d os arts. 4° e 5°,


serão m antidos no exercício da profissão, ainda m esm o sem o estagio a que se
referem o n. 4 do art. 4°, n. 2 do art. 5® e o art. 6 ° da presente lei.
Art. 37. U m a vez em vigor a presente lei, o Instituto dos A dvogados
Brasileiros organizará dois quadros, n u m inscrevendo o s actuaes advogados do
Districto Federal e no outro os solicitadores devidam ente provisionados.
§ 1® Um a vez organizados, serão os quadros publicados n o D iario Official,
concedendo-se o prazo de 30 dias para as respectivas reclamações. U m a vez
satisfeitos os requisitos dos ns. 1 ,2 e 3 do art. 4° e n. 1 do art. 5° a inscripção não
poderá ser recusada.
§ 2° Organizados definitivamente os dois quadros, o presidente do Instituto
convocará um a sessão de Assembléa Geral, nos term os do art. 20, para eleger os
funccionarios a que se referem os arts. 16 e 17, n. 1, feito o que designará dia
para a installação official da Ordem.

Rio de íaneiro, 6 de m aio de 1914

JoÀo M arques, Presidente.


A u r e l i n o L ea l , Relator.
J. Canuto de Figueiredo.
Esm eraldino Bandeira.

B oletim do Instituto da O rdem dos A dvogados Brazileiros, n° 2, vol. I,


1925. “A Creação da Ordem dos Advogados (collectanea dos principaes trabalhos
relativos a esse assum pto, organizada pelo D r. A rm ando Vidal, 2° Secretario do
Instituto)”, p. 147 a 153.

290 «41
\ '( ) l u n ic 1 1ula |)C 'l.i C r i a c . H ) v Rc si s tO nc ia s

ANEXO VII
Projeto M au ricio de Lacerda

Projecto 299 - 1916

Declara que as profissões de advogado o u solicitador são incom patíveis


com as funcções que estabelece

O Congresso Nacional decreta:

A r t. As profissões de advogado o u solicitador são incompatíveis:

a) com as funcções de Presidente da Republica e de m inistros de Estado


em qualquer foro; e co m as dem ais funcções executivas, electivas o u não, nos
Estados, n os respectivos fôros;
b) c o m as funcções de D eputado ou Senador Federal, o u outras quaesquer
electivas na Republica em qualquer dos fôros, federal o u locai;
c) co m os cargos da magistratura federal ou local, de nom eação do Governo
o u electiva;
d) com os cargos policiaes;
e) com as funcções de escrivão, tabellião, official de registro, escrevente,
contador, depositário publico, porteiro dos auditorios públicos, official de justiça
e todas de ordem judiciaria, federal o u local;

291
______________ História da
Ordem dos Advogados do Brasil

f) co m as funcções de agente de cam bio e corretor;


g) com os officios o u empregos públicos retribuidos;
h) com a profissão de commerciante.
§ As disposições da alinea esã o extensivas aos que por aposentaçâo
o u outro qualquer m otivo tenham deixado de p ertencer a quaesquer das
magistraturas nacionaes.
§ ____ As disposições da alinea g s e entendem co m qualquer das advocacias
forense ou administrativas, inclusive, com procuradoria para quaesquer negocios
dependentes da sua co m o de outra repartição publica federal o u local onde se
apresente o funccionario pretendendo excercel-as.
A r t. Q uando em juizo ficar provada qualquer das incom patibilidades
desta lei o u delia houver o juiz conhecim ento bastante, deixará de adm ittir a
procuração passada ao incompativel, ou mandará excluil-a dos autos no caso
de prova ou noticia que lhe chegue n o curso da causa.
A rt. N os cargos electivos, im porta na respectiva perda a infracção
verificada das incom patibilidades desta lei; e aos de n om eação na suspensão
c o m perda de vencim entos, na primeira vez, e na reincidencia na demissão
im m ediata> q u e será lavrada a b em do serv iço , n o ca so de ad verten cia
administrativa.
A r t. Revogam -se as disposições em contrario.

Sala das sessões, 22 de dezem bro de 1916 - M aurício de Lacerda.

Annaes da Câmara dos D eputados (vol. XV). Sessão de 22 de dezem bro


de 1916. “Apresentado o projecto n° 299 pelo D eputado M auricio de Lacerda.
O projecto estabelece os casos de incom patibilidade das profissões de advogado
e solicitador com as funcções que enumera”, p. 204 e 205.

292
V o k im c 2 Luta pela C riação c Rcsistcncias

A N E XO ESPECIAL I
B r e v e B i o g r a f i a d o s P r e s id e n t e s
D O In s t i t u t o d o s A d v o g a d o s B r a s i l e i r o s
DE M o n t e z u m a a L evi C A r n e i r o ^

M ontezuma

Francisco Gê Acaiaba de M ontezum a nasceu em 23 de m arço de 1794 na


Bahia, form ou-se e m Direito em Portugal na Universidade de Coim bra.
Jornalista, parlam entar, advogado crim inalista entre ou tros cargos e
funções, M ontezum a era irrequieto e entusiasta ativista das causas liberais em
que acreditava.
Foi re d a to r p o lít ic o d o D iá r io C o n s titu c io n a l e do I n d e p e n d e n te
Constitucional, trabalhou também no Ipiranga e só a partir de 1831 é que se dedicou
com mais afmco ao exercício diário da advocacia, abrindo o seu escritório.
Em 21 de julho de 1823 foi eleito deputado e, por causa de suas idéias
liberais, foi, junto com outros, preso e deportado para a Europa.
Q uando D. Pedro I abdicou do trono em 7 de abril de 1831, M ontezum a
voltou para o Brasil e to m o u assento na Câmara dos D eputados, pois, m esm o
ausente, fora eleito prim eiro-suplente de deputado.

' E xtra ído d o artigo d e Ulysses B rand ão: “O 5 presiiieittes do Instituto dos Advogados, desde siin fuiidação",
p u b lic a d o n o B ole tim d o Iiístitu to da O r d e m d o s Advogados Brasileiros (no va série) n ú m e r o 6, vol.
IllA, 1 927 {segunda p a rte ), R io de Janeiro, Im p ren s a N acio nal, 1931; c d o livro o rg a n iz a d o p o r Picanço,

Aloysio Tavares ScF euraZ, Sérgio: Ex-Presidentef do Instituto dos Advogados Brasileiros, desde M onlezuitia:
tríi(,os biográficos, Rio d e Janeiro, lAB, 1988.

293
______________ História da
Ordem dos Advogados do Brasil

Secretário dos N e g ó c io s da Justiça do regente Feijó em 1837 e eleito


deputado em 1840, viajou para a Inglaterra co m o enviado extraordinário e
m inistro plenipotenciário do Brasil. C om a ascensão ao poder do partido
conservador, M ontezum a voltou a se dedicar ao seu escritório de advocacia.
Em 1843 foi u m dos fundadores do lAB e o seu prim eiro presidente, eleito
em 21 de março de 1843, antes m esm o de o Instituto ser efetivam ente instaurado
em 7 de setem bro de 1843. N este cargo perm aneceu até 23 de fevereiro de 1851,
saindo porque fora n om ead o conselheiro do Estado e acreditava que o cargo
era incom patível com o de presidente do Instituto dos A dvogados Brasileiros.
Em 1° de m aio de 1851 foi escolhido, em lista tríplice, senador pela Bahia.
Em 2 de dezem bro de 1854 recebeu o título de visconde de Jequitinhonha.
Veio a falecer dezesseis anos m ais tarde, no ano de 1870.

C a r v a lh o M o r e ir a

F rancisco Ignacio de C arvalho M oreira foi o seg u n d o presidente do


Instituto, substituindo M ontezum a em 23 de fevereiro de 1851, presidindo o
lAB até 9 de setem bro de 1852. Nasceu em Alagoas em 25 de dezem bro de 1815.
Form ou-se na Faculdade de Direito de São Paulo em 1837 e veio para a Corte
trabalhar. Foi u m dos fundadores, junto com M ontezum a e outros, do Instituto
dos A dvogados Brasileiros.
D ep u ta d o em 1848, foi u m dos principais colaboradores d o C ódigo
Comercial de 1850. Ainda em 1848, viajando para a Bahia ajudou a criar uma
filial do Instituto, fazendo o m esm o em Pernambuco. Veio a falecer em 1° de
abril de 1900.

C a e ta n o S oares

O terceiro p r esid en te do lA B, C a e ta n o A lb e r to S o a res, d e origem


portuguesa, se form ou na Universidade de Coim bra em D ireito Civil e em
Direito C anônico, recebendo por isso o grau de doutor m utroquejure em 1820:
“Em Coimbra pela reforma pom balina de 28 de agosto de 1772, os cursos jurídicos
bi-partiram -se em um curso de direito civil e outro de direito canonico, os que

294 màB
\'i)lLinX' 2 1 u la I'x 'la C'ri-K.ãt) (■

seguiam os dois cursos eram doutores in utroque jure!'


Ainda em Portugal foi deputado da Corte de Lisboa, m as, por causa das
lutas políticas, veio para o Brasil, instalando-se n o Rio de Janeiro o n d e abriu
seu escritório e naturalizou-se cidadão brasileiro.
C aetano Soares, tam bém u m dos fundadores do lAB, fo i o autor do
prim eiro Regim ento Interno do Instituto, aprovado pela Portaria M inisterial
de 25 de m aio de 1844.
Era antiescravista e defendia a abolição gradual da escravidão. Em 7 de
setembro de 1845, apresentou seu trabalho sobre o “M elhoram ento da sorte
dos escravos”.
Foi presidente do Instituto de 9 de setembro de 1852 a 19 de novembro de 1857.

T e ix e ir a d e F reita s

A ugusto Teixeira d e Freitas foi o quarto presidente do lAB, nasceu em


Cachoeira, Bahia, em 19 de agosto de 1816. Foi u m dos mais conceituados juristas
brasileiros do sécu lo XIX. Encarregou-se de ordenar, organizar e consolidar a
legislação civil do Brasil entre os anos de 1855 e 1860, data em q ue publicou um
esboço do C ódigo Civil Brasileiro. Form ou-se em Direito na Faculdade de São
Paulo e exerceu a magistratura na cidade onde nasceu, Cachoeira. Mais tarde
m u d ou -se para o Rio de Janeiro, on de desenrolou sua carreira. Foi presidente
do lAB em 1857, não com pletando o seu mandato.
Teixeira de Freitas, faleceu em Niterói em 12 de setem bro de 1883.

U r b a n o P essôa

Sabino U rbano Pessôa de M ello, o quinto presidente do lAB n o período


de 19 de novem bro de 1857 a 10 de outubro de 1861.
Era pernambucano» nasceu em 1811. Bacharelou-se em Direito n o Curso
Jurídico de O linda em 1834. N o ano seguinte, m ais precisam ente em 13 de
julho de 1835, foi nom eado juiz m unicipal e de Órfãos de G oiânia, e ,e m 20 de
abril de 1836, juiz de Direito, tam bém de Goiânia, sendo enviado para a capital
d o Império.

•à l 295
______________ História d a
Ordem dos Advogados do Brasil

Foi deputado em 1838, reeleito até 1848 quando, por força da ascensão do
Partido Conservador, deixou a Câmara. Entretanto, perm aneceu no Rio de
Janeiro, ab an donou a magistratura e dedicou-se à advocacia.
Foi m agistrado, parlamentar, jornalista e ad vogado, faleceu em 7 de
dezem bro de 1870.

P íiR D IG A O M a LH EI RO S

A gostinho Marques Perdigão M alheiros foi o sexto presidente do lAB.


Bacharel em letras, formado pelo Imperial Colégio de Pedro II e doutor em
Ciências Jurídicas e Sociais pela Faculdade de São Paulo. Foi presidente do
Instituto em 10 de outubro de 1861 a 18 de outubro de 1866.
Perdigão Malheiros inspirou um a das leis que am enizaram a escravização
dos africanos, projeto defendido por Caetano Alberto. Em discurso proferido
em 1836, ouvido pelo visconde do Rio Branco, este corporificou as idéias que
ouvira de Perdigão M alheiros na Lei do Ventre Livre.
N a presidência de Perdigão M alheiros, o lAB to m o u u m novo rum o,
deixando de lado as questões práticas do Direito e detend o-se n o estudo teórico
dos códigos e das leis brasileiras.

N a b u c o d e A r a ú )o

José Thom az Nabuco de Araújo nasceu na Bahia em 1813 e foi um dos alunos
das primeiras turmas a se formarem no curso jurídico de Olinda em Pernambuco.
Já em 1836 era prom otor público da capital de Pernam buco, em 1838 foi
m em bro da Assembléia Provincial, e m 1840 Juiz de direito de Pau d ’Alho, em
1842 juiz do Cível no Recife e deputado e m 1843, saindo pela primeira vez de
Pernam buco e instalando-se na Capital.
Em 1851 foi presidente da província de São Paulo até 1852 quando foi reeleito
deputado. Foi convidado para a pasta da Justiça em 6 de setembro de 1853, onde
trabalhou com afinco e sem descanso. Em 1857 tornou-se senador do Império.
Junto com Teixeira de Freitas fez o contrato para a redação do C ódigo
Civil Brasileiro. C om a desistência de Teixeira de Freitas foi contratado para

2 9 6 9ÀM
V o lu m e 2 Luta pela Crij<;Ão c Rcsistências

assumir o trabalho que não finalizou por causa de sua saúde debilitada. D eixou
contudo, vasto material.
Q uando m inistro da Justiça não esqueceu dos advogados, o seu Instituto e
a luta pela criação da O rd em , apresen tan d o, ele m e s m o , à C âm ara dos
D eputados, u m projeto de criação da O rdem do A dvogados do Brasil.
Em 18 de outubro de 1866, Nabuco de Araujo, foi eleito presidente do 1AB
(o sétim o presidente), cargo que exerceu até 10 de novem bro de 1873. Em 19 de
m arço de 1878, N abuco de Araujo faleceu.

S a ld a n h a M a r in h o

Joaquim Saldanha Marinho foi o oitavo presidente do lAB/IOAB, ficou quase


20 anos no cargo, ou seja, de 10 de novembro de 1873 a 25 de m aio de 1892.
Nasceu em Pernambuco em 4 de maio de 1876. Bacharelou-se em Ciências
Jurídicas e Sociais na Faculdade de Olinda em 6 de novem bro de 1836.
Em 1837 foi n om ead o prom otor público da Com arca de Icó n o Ceará e
eleito deputado em 1842.
Veio para o Rio de Janeiro por causa da revolução em Pernambuco. Aqui abriu
seu escritório, foi eleito deputado provincial em 1856, reeleito por mais duas vezes.
Fazia parte do Partido Liberal, mas suas idéias iam além do liberalism o e,
em 3 de dezem bro de 1870 fundou o Partido Republicano c o m u m m anifesto.
Foi ele um dos pioneiros das idéias republicanas e, antes que o desejo republicano
vingasse no Brasil, ele clam ou praticamente sozinho por elas.
Eleito presidente do lOAB, Saldanha M arinho, m u d o u o ru m o que o
Instituto tinha tom ado co m a presidência de Perdigão Malheiros. Em vez do
estudo da teoria, agora o Instituto deveria mergulhar nas questões jurídicas e
sociais do país. C ham ou o Instituto para a tarefa expondo o seu programa e m
sessão solene, datada de 7 de setembro de 1875.
Já, na República, foi senador pela capital da U nião Federal e m em bro da
com issão encarregada da redação da Constituição.
Saldanha M arinho faleceu em 26 de maio de 1894.

2 9 7
______________ História da
Ordem dos Advogados do Brasil

T orres N etto

A n to n io José R od rigu es Torres N e tto , o n o n o presid en te d o lOAB,


bacharelou-se e m Ciências Jurídicas e Sociais pela Faculdade de Direito de São
Paulo em 1864. Exerceu o cargo de presidente do Instituto de 25 de m aio de
1892 a 16 d e m arço de 1893.
O D ecreto 1.030, de 14 de novem bro de 1890, q ue organizou a justiça
do distrito federal, na época o Rio de Janeiro, foi objeto de trabalho, pedido
pelo Governo, prontam ente realizado por Torres N etto e a com issão que reunira.
Faleceu em 3 de setembro de 1905.

M a c h a d o P ortella

M anoel d o N ascim ento M achado Portella, nasceu em Pernam buco em


25 de dezem bro de 1883. Bacharelou-se na Faculdade d e D ireito de Olinda em
9 de novem bro de 1855, defendendo tese em 17 de novem bro de 1856, recebendo
0 grau de doutor.
Foi vice-presidente da província de Pernam buco em 1 8 6 9 ,1 8 7 1 e 1872,
m as seu pendor estava m ais para a sala de aula do que para a política. Foi
presidente do Instituto no período de 16 de março d e 1893 até o seu falecimento
em 1895 (fo i o d écim o presidente). N a sua presidên cia fo i inaugurada a
Exposição de Trabalhos Jurídicos em 7 de setembro de 1894 com em oran do os
50 (cinqüenta) anos d o lOAB,

Á lvares d e A z e v e d o

A u gu sto Álvares d e A zevedo, foi o décim o prim eiro presidente do lOAB,


de 19 de dezem bro de 1895 até 25 de m aio de 1900.
Foi indicado pelo próprio M anoel Portella, o presidente anterior, para
substituí-lo por causa de suas indiscutíveis qualidades, am or ao Instituto e,
"'principalmente, p o r ter o m esmo prog ram m a do seu antecessor, de d a r aos
trabalhos d o Instituto um caracter pratico e não o simplesmente theorico, então
vigorante”.

298 9àM
V o lu m e 1 Luln ( j i a ç ã o c Rcsistênci.is

A assistência judiciária, conquista gloriosa d o lOAB, foi sob a presidência


de Álvares de Azevedo, assim com o o Congresso Jurídico Am ericano de 3 a 20
de m aio de 1900.

B u lhões de C arvalho

João E vangelista Sayão de B u lh õ es d e C arvalho, o d é c im o segund o


presidente do lOAB, nasceu n o Rio de Janeiro em 1852. Bacharelou-se pela
Faculdade de Recife em 1874 e doutorou-se em 1875 pela Faculdade de São Paulo.
Foi deputado, m as quando a República foi declarada, abandonou a política,
dedicando-se a advocacia.
Fundou e presidiu a Faculdade Livre de Ciências Jurídicas, assim com o
dirigiu a cadeira de Direito R om ano da m esm a. Foi presidente d o Congresso
Jurídico A m ericano.
Presidiu o lOAB de 25 de m aio de 1900 a 13 de dezem bro de 1906. Faleceu
em 12 de outubro de 1914.

Inglez de S ouza

H erculano M arcos Inglez de Souza, décim o terceiro presidente do lOAB,


nasceu n o Pará em 1853 e bacharelou-se pela Faculdade de Direito de São Paulo.
Foi tam bém deputado, além de redator da Tribuna Liberal e da Revista
Nacional. Autor de rom ances com o; Coronel Jangrado, H istória de um Pescador
entre outros.
Logo após a proclam ação da República, veio para o R io de Janeiro. Exerceu
o cargo de presidente do lOAB de 13 de dezembro de 1906 a 7 de abril de 1910.
Inglez de Souza veio a falecer em 6 de setembro de 1918.

S il v e ir a J u n i o r

Joaquim Xavier da Silveira Junior, décim o quarto presidente do lOAB,


exerceu o cargo de 7 de abril de 1910 até 5 de m arço de 1912.

299
______________ História da.
Ordem dos Advogados do Brasi)

M atriculou-se na Faculdade de Direito de São Paulo em 1885. Foi redator


de vários jornais. Na República foi nom eado prim eiro delegado auxiliar da
Chefatura de Polícia e logo depois governador do Rio Grande do Norte. Foi
tam bém prefeito do Distrito Federal em 1902.
Faleceu ainda na presidência do lOAB, em 5 de março de 1912.

A i -f r e d o P in t o

Alfredo Pinto Vieira de Mello, décimo quinto presidente do lOAB, nasceu no


Recife e formou-se na Faculdade de Direito desta cidade em 20 de março de 1886.
Foi deputado em 1897, reeleito em 1902. Em 1903 abriu seu escritório de
advocacia no Rio de Janeiro exercendo conjuntam ente o cargo de representante
da Fazenda Nacional junto à Com issão das Obras do Porto. Foi tam bém chefe
de polícia do Rio de Janeiro no governo A ffonso Penna.
Foi presidente do lOAB de 15 de abril de 1912 a 19 de novem bro de 1914.
Foi u m grande batalhador na luta pela criação da OAB, tendo m e sm o influído
diretamente, quanto ministro da Justiça, no andam ento do Projeto n° 26 de
criação da Ordem dos Advogados.
Faleceu em 8 de julho de 1923.

R uy B arbosa

Ruy Barbosa foi o décim o sexto presidente do lOAB. Nasceu na Bahia, cm 5


de novembro de 1849. Em 1861 ingressa no ginásio baiano onde pronuncia seu
primeiro discurso público. Em 1866 matricula-se na Faculdade de Direito do Recife
e em 1868 transfere-se para a Faculdade de Direito de São Paulo onde se forma.
Sua filiação com o membro do Instituto em 8 de maio de 1911 foi solenemente
comemorada e o seu discurso foi memorável. Quatro anos depois, logo após cliegar
de Haya, cm 19 de novembro de 1914, foi eleito presidente do Instituto, e neste
cargo permaneceu até 19 de abril de 1917, quando recebeu o título de presidente
honorário do Instituto da Ordem dos Advogados Brasileiros, sendo colocado em
sessão solene de 13 de agosto de 1917 seu retrato na sala das sessões.

300
V olum e 2 Luta pcin C>ia(,ào e Rosistóncias

Foi senador da República e candidato por duas vezes a presidência do país.


Quando foi eleito presidente do lOAB em sessão solene em 5 de novembro de 1914,
por 30 votos em 37 votantes, Rui Barbosa estava completando 65 anos de idade.
Faleceu em 1° de m arço de 1923.

R o d rig o O cta v io

Rodrigo O ctavio Langgaard M enezes foi o décim o sétim o presidente do


lOAB. Nasceu em 1° de outubro de 1866 em Campinas. Form ou-se em São
Paulo em 1886 e veio para o Rio de Janeiro, onde, co m Raul Pom péia e Oscar
Macedo Soares, m o n to u u m escritório de advocacia que fechou logo depois
por falta de clientes. Foi então ser prom otor no interior de M inas Gerais, mais
precisamente em Santa Barbara. “ Com o advento do novo regime, obteve, em
1890, um a das Procuradorias Seccionais da República no então Districto FederaV?
Daí com eça a sua ascensão profissional até ser M inistro do Suprem o Tribunal
Federal.
Advogado, procurador seccional, consultor geral da República, professor
universitário, ministro d o Supremo Tribunal Federal, subsecretário das Relações
Exteriores, m em bro da Academ ia Brasileira de Letras, em que foi u m dos
fundadores. Sócio do Instituto desde 1892, aos 26 anos. Foi presidente do lOAB
por três vezes, em 1916/1917, (reeleito) 1917/1918 e quase dez anos depois em
1926/1928. Foi então o 16°, o 17“ e o 22° presidente do Instituto. Faleceu em
1944.

C arvalho M o u r ã o

João Martins de Carvalho M ourão foi o décim o oitavo presidente do lOAB,


nasceu em 2 de ju n h o de 1872 em São João d’el Rey, M inas Gerais. Bacharelou-
se em Direito pela Faculdade do Largo de São Francisco em São Paulo em 13 de
agosto de 1892. Foi advogado do Banco do Brasil, professor, juiz, ministro do
Supremo Tribunal Federal e três vezes presidente do lOAB. ''Antes de ser nosso
Presidente, foi orador oficial, i ‘’ Secretário, 2° Vice-Presidente na Presidência de

' P ic a n ç o , Aloysio Tavares & F erraz, Sérgio: Ex-Presidentes do In s titu to dos Advogados Brasileiros, desde
M o n tezu m a : traços biográficos. Rio d e Janeiro, lAB, 1988.

•Al 301
______________ História da
Ordem dos Advogados do Brasil

Vieira de Melo, 1913, e 1° Vice-Presidente, na de Rodrigo Octavio, 1916-1918. Foi


presidente, a prim eira vez, de 1918 a 1920; depois, d e 1922 a 1924; finalmente, em
193V\^ Faleceu em 24 de dezembro de 1951.

A lfred o B ernardes

Alfredo B em ardes da Silva foi o décim o nono presidente do lOAB. Nasceu


no Rio de Janeiro em 1860. Bacharelou-se em Direito pela Faculdade de Direito
de São Paulo em 1882. Foi prom otor público, procurador Geral, jurista, professor
de Direito Civil na Faculdade de Ciências Jurídicas e Sociais do Rio de Janeiro e
árbitro brasileiro na Corte Permanente de Arbitragem de Haia e foi presidente
do Instituto no biênio 1920/1922. Faleceu em 1948.

S á F r e ir e

MUcíades M ário de Sá Freire foi o vigésim o primeiro presidente do lOAB'*.


Nasceu em 18 d e fevereiro de 1870 n o Rio de Janeiro, bairro de São Cristóvão.
Bacharel em D ireito, no ano da proclam ação da República, em 1891 pela
Faculdade d e São Paulo. C om apenas 25 anos foi eleito para o C onselho
M unicipal do Distrito Federal, na época Rio de Janeiro. Era u m especialista em
Direito Civil, con tu d o teve um a especialíssima incursão na área criminal. Diz
David Aarão Reis que

'‘quando foi, com Nicanor Nascimento, um dos defensores de Irineu Machado,


que tentara m a ta r a mulher e, só a ferindo, atingiu, m ortalmente, a tia desta. O
caso foi rumoroso, não pela sua natureza em si, porém porque a prim eira era filha
do grande jurisconsulto Carlos de Carvalho, o da Consolidação das Leis Civis e
antigo M inistro das Relações Exteriores, no Governo do Marechal Floriano. M ais
tarde, torn ou a defen der Irineu, em ou tro processo c rim in a l, m a s houve,
posteriormente, desentendimento entre ambos, e a tal ponto que, quando o eloqüente

’ P ic a n ç o , Aloysio Tavares & F erraz, Sérgio: '"Ex-Presidentes do In stitu to dos Advogados Brasileiros, desde
M o n tezu m a : traços biográficos", Rio d e Janeiro, lAB, 1988.
* C a rv a lh o M o u rã o , n o v a m e n te eleito, foi o v igésim o p re sid en te d o lAB.
’ P i c a n ç o , Aloysio Tavares & F e r r a z , Sérgio: "Ex-Presidentes d o In stitu to dos Advogados Brasileiros, desde

M o n tezu m a : traços biográficos”, Rio d e Janeiro, lAB, 1988.

302 •àm
V o lu m e 1 L u fn p c l . i (. ri.i çõc) e Rc‘> i s tc n c i a s

tribuno foi eleito Senador, em 1916, Miícíades abriu m ão de sua cadeira, na Câmara
Alta, para não ter qualquer contato com o antigo cliente” (p. 158).^

Foi presidente do Instituto de 1924 a 1926. Faleceu em 8 de julho de 1947.

L ev i C a r n e ir o

Levi Fernandes Carneiro, foi o vigésim o terceiro^ presidente do lOAB.


Nasceu em Niterói em 8 de agosto de 1882. Bacharel em Direito pela Faculdade
de Ciências Jurídicas e Sociais do Rio de Janeiro. Foi m em bro da Academia
Brasileira de Letras e depois presidente em 1940, foi tam bém D o u to r honoris
causa da Universidade de La Prata.
Foi presidente d o lOAB n o período de 1929/1930, o u seja, n o a n o da
Revolução de 1930. M udado o regime político, foi criada a Ordem dos Advogados
do Brasil pelo Decreto 19.408, de 18 de novem bro de 1930, regulam entado pelo
D ecreto n° 22.478, de 20 de fevereiro de 1933 que consolidou os dispositivos
dos Decretos n° 22.038, de 1° de novem bro de 1932 e do Decreto n° 22.266, de
28 de dezem bro de 1932. Levi Carneiro foi o primeiro presidente da Ordem
dos Advogados do Brasil.
Levi Carneiro faleceu em 5 de setembro de 1971, n o Rio de Janeiro.

‘ R o d rig o O ctav io foi o v ig ésim o seg u n d o .

•A l 303
______________ História da
Ordem dos Advogados do Brasil

A N E XO ESPECIAL II
Biografia dos Parlamentares
(que atuaram nos projetos sobre a criação da OAB)

A dolpho A ffonso da S ilva G ordo - Nasceu em Piracicaba, São P au la em


12 de agosto de 1858. Fez o seu curso de hum anidades no Instituto Santista,
dirigido pelo professor Dr. Augusto Freire da Silva, m atriculou-se em 1875 na
Faculdade de Direito de São Paulo, onde recebeu o grau de bacharel em Ciências
Jurídicas e Sociais a 30 de outubro de 1879. Abrindo banca de advogado em
Capivary, co n sa g r o u -se , desde lo g o , ao lad o de C esario M o tta Junior, a
organização do partido republicano em toda aquela zona. Em 1886, m u d ou -se
para a capital do Estado, e, em 1888, foi eleito m em bro da com issão diretora do
partido republicano paulista. Candidato do partido a um a cadeira na Câmara
dos D eputados em 1889.
D ias antes de ser proclam ada a R epública, foi in c u m b id o p or seus
com panheiros de vida partidária de vir ao Rio, co m o general Glycerio, a fim de
acompanhar o m ovim ento revolucionário; e,n a madrugada de 15 de novembro,
expediu a seus am igos o seguinte telegrama; Escriptura ãep e n h o r agrkola lavra-
se hoje..., com outros termos: “Hoje será proclamada a República”. Proclamada
a República, foi nom eado, pelo Governo Provisório, presidente do Rio Grande
do N orte e, depois de ter exercido esse cargo durante quatro m eses, foi obrigado
a regressar a São Paulo, por grave incom odo de saúde.
Jurista e orador, erudito e operoso, no Congresso tem -se batido sempre
pela liberdade de testar, casamento civil, divórcio, regulamentação do art. 6® da

304 QàM
V o lu m e 2 L u ta ()c !a C ri.K ^ ã o c R e s is tê n c ia s

Constituição, redução dos direitos aduaneiros, reformas do ensino secundário


e superior, envolvendo-se em quase todos os debates de assuntos jurídicos e
econôm icos. Defendeu sempre com ardor a política e a administração do Dr.
Prudente de Moraes, seu cunhado e grande amigo. Faleceu em 1913 e o senador
C am p os Salles foi e leito para su b stitu í-lo na Câmara Alta da República.
(D U N SH EE DE ABRANCHES, vol. 1, p. 361 e 362.)

A lexandre losÈ B a r b o z a L im a -N a sceu em 23 de m arço de 1862 no Recife,


assentou praça em 18 de fevereiro de 1882. A lferes-aluno em 12 de janeiro de
1884, foi p rom ovid o a segundo-tenente em 7 de fevereiro de 1886, a prim eiro-
tenente em 4 de janeiro de 1890, a capitão em 31 de dezem bro de 1891, a
major em 14 de dezem bro de 1900, a tenente-coronel em 1911. R eform ou-se
em coronel graduado a 19 de abril de 1912. Foi m em bro do Estado M aior e
tin h a o cu rso de en gen h aria p e lo regu lam en to de 1874. É bacharel em
M atem ática e C iências Jurídicas e foi lente de geom etria analítica da Escola
Militar do Ceará (1889 - 1890). Foi tam bém (1896 - 1898) professor de história
natural da Escola Militar do Rio de Janeiro. Foi m em bro do Instituto H istórico
e Geográfico Brasileiro, presidente do Instituto A rqueológico de Pernam buco
e presidente honorário do C entro de Acadêm icos. Proclam ada a República,
foi eleito deputado federal à Constituinte da União pelo Ceará. Em 1892 perdeu
0 m andato por eleger-se governador de Pernam buco. H o m e m de letras e
ciência, tribuno e pensador, voltou, de 1896 - 1899, a eleito deputado federal
por P ern a m b u co, se n d o reeleito pelo Rio G rande d o Sul para a 4® e 5^
legislaturas (1899 - 1905) e novam ente enviado a essa casa do C ongresso pelo
\° circulo do D istrito Federal, na 6° e na 7“ (1906 - 1911) e na 9^ (1915 -
1917). Por ocasião do atentado de 5 de novem bro, foi preso e desterrado pelo
presidente Prudente de Morais para Fernando de N oronha. A prisão se efetuou
no porto do Rio de Janeiro quando procurava evadir-se a b ord o de u m vapor
estrangeiro sob o n o m e de “Idefonso de Barros”. Foi u m a das grandes figuras
da Câmara dos D eputados. (D U N SH E E DE ABRANCHES, vol. 1, p. 205 e
206.)

A maro B ezerra C avalcanti - Nasceu em Caiei, Rio Grande do Norte, em


15 de agosto de 1851. D iplom ado em Direito em 1881 pela A lbany L aw School,
de New-York, e habilitado desde esse m esm o ano para a advocacia no Brasil,

305
______________ História da
Ordem dos Advogados do Brasil

com eço u exercendo essa profissão em Fortaleza, capital do Ceará, transferindo


mais tarde a residência para o Rio de Janeiro. Foi inspetor geral de Instrução
Pública e diretor do Liceu do Ceará (1881 - 1883). Eleito pelo seu Estado natal
senador à C onstituinte Federal, exerceu o m andato até o fim da 1* legislatura
em 1894. D e m arço a outubro deste último ano, foi m inistro plenipotenciário e
enviado extraordinário do Brasil n o Paraguai. N om eado m inistro do Interior
pelo Dr. M anuel Victorino em janeiro de 1897, con tin u ou nessa pasta com o
D r. Prudente de Moraes até o fim do seu quatriênio. D e setembro de 1905 a
ju n h o de 1906, serviu c o m o consultor jurídico do m inistério do Exterior.
Representou o Brasil com o delegado na 3® Conferência Internacional Americana,
reunida em 1906 no Rio de Janeiro. Nom eado em 27 de junho de 1906, Ministro
do Supremo Tribunal Federal, aposentou-se em princípios de 1915 nesse cargo.
Delegado do Brasil à Conferência Financeira de W ashington, deixou todavia de
exercer igual representação na de Buenos Aires. {D UN SH EE DE ABRANCHES,
vol. 1, p. 100 e 1 0 1 .)

A n to n io F ra n cisco de P a u u H ouanda C a v a l c a n t i de A l b u r q u e r q u e

(V isc o n d e de A lb u q u e rq u e ) - F ilh o do c a p itã o -m o r F ra n c isc o d e Paula


Cavalcanti de Albuquerque e de D. Maria Rita de Albuquerque M ello, nasceu
em Pernam buco e m 21 de agosto de 1797 e faleceu n o Rio de Janeiro em 14 de
ab ril de 1865.
Assentou praça no exército aos dez anos de idade, sendo prom ovido a
diversos postos até o de tenente-coronel, em que se reform ou em novem bro de
1832. Serviu em M oçam bique co m o ajudante-de-ordens do governador; serviu
em Macau, sendo nom eado lente da Escola Real de Pilotos e sargento-m or do
batalhão do príncipe regente. V indo para o Brasil, serviu em Pernam buco em
1824 à causa da m onarquia. Foi deputado por sua província em diversas
legislaturas e senador do Im pério em 1838. Foi m inistro m uitas vezes: foi
m inistro da Fazenda no gabinete de 4 de outubro de 1830, e n o subseqüente de
18 de março de 1831; foi ministro do Império, e interinam ente da Fazenda no
gabinete de 3 de agosto de 1832; m inistro da Marinha n o gabinete de 24 de
julho de 1840 (o primeiro do reinado de D. Pedro II), e tam bém n o de 2 de
janeiro de 1844, sendo interinam ente m inistro da Guerra, e neste ú ltim o
m inistério foi ministro no gabinete de 2 de m aio de 1846. Finalm ente ministro
da Fazenda no de 30 de m aio de 1862, em cujo cargo faleceu. Era conselheiro de

306
V o lu m e 1 L u t a [x .‘ la C i i a c ^ â o c R e s i s t ê n c i a s

Estado, g e n til-h o m e m da Imperial Câmara. O rn avam -lh e o peito m uitas


condecoração nacionais e estrangeiras. (BLAKE, vol 1, p. 172.)

A n t o n io José H en r iq u es - Natural da província da Paraíba, que representou


na Câmara temporária em diversas legislaturas, sendo contem plado o seu nom e
em duas listas tríplices para senador do Império. Subdiretor aposentado do
Diretório Geral das Rendas Públicas; membro do conselho de sua majestade o
Imperador e com endador da Ordem da Rosa. Escreveu, entre outras obras: A
D uplicata do 2^ distrito eleitoral da província da Paraíba do Norte: exposição à
Câm ara dos Deputados. Rio de Janeiro, 1857, 69 págs. in-4. {BLAKE, vol. 1, p.
217.)

A n t o n io L u iz D antas de B a r r o s L eite - Nasceu na cidade de Penedo em


Alagoas em 13 de fevereiro de 1802 e faleceu na Corte em 9 de agosto de 1870,
sendo seus pais o coronel de milícias José Gom es Ribeiro e D. A nna Felicia de
M acedo Leite. Em 1817, já tendo os estudos de preparatórios, acom panhou a
Pernambuco seu pai que para aí seguira contra os revoltosos de 6 de m arço e
ganhou por seus serviços a venerada Ordem de Cristo. F orm ando-se depois em
Direito na faculdade de Olinda, serviu com o juiz de Direito em sua província e
aposentou-se no lugar de desembargador da Relação da Corte, foi deputado
em duas legislaturas e senador por Alagoas. (B L A K E, v o l.1, p. 239.)

A n t ô n io P a u l in o L im po de A b r e u {v i s c o n d e de A baeté) - Nasceu em 22 de
setembro de 1798 em Lisboa, Portugal e faleceu em 14 de setem bro de 1883 no
Rio de Janeiro. Bacharelou-se em Direito pela Universidade de Coimbra. C om o
juiz de Fora da Vila de São João dei Rei, foi escolhido, por ocasião da visita de D.
Pedro I para regularizar as rendas das Forças Armadas e m anter a segurança da
Vila. C o m o presidente da província de M inas Gerais em 1832, conseguiu
pacificar os ân im os e os m otins políticos com habilidade e tino administrativo.
C om o ministro da Justiça, im pediu o alastramento da Guerra dos Farrapos,
assim com o na Pasta dos Estrangeiros, a política do Prata (1836). Na campanha
da M aioridade (1840), teve um a atuação entusiástica e dinâm ica. C o m o líder
do m ovim en to revolucionário de 1842, foi preso e deportado para Lisboa,
regressando ao Brasil em junho de 1843. Em 1846, ao assum ir a Pasta dos
Estrangeiros, teve atividade brilhante com relação ao tráfico de escravo, questão

307
______________ História da
Ordem dos Advogados do Brasil

seriamente discutida com a Inglaterra, na execução do “Bill Aberdeen” (08/08/


1845). (BRASIL. Congresso. Senado Federal, p. 25.)

A n t o n io P er e g r in o M a c iel M o n t e ir o (Seg u n d o barào de Ita m a ra c á ) Filho


d o b a c h a re l M a n o e l F ra n c isc o M a ciel M o n te iro , n a s c e u e m P e r n a m b u c o e m 30
de a b ril de 1804 e faleceu e m Lisboa em 5 d e ja n e iro d e 1868.
D e p o is de estudar hum anidades e m O linda, partiu para a França e,
cursando a Universidade de Paris, aí recebeu o grau de bacharel em Letras em
1824, o de bacharel em Ciências em 1826 e o de doutor em M edicina em 1829.
D e volta à pátria, exerceu a clínica médica, representou sua província em quatro
legislaturas desde 1833, sendo na última presidente da Câmara, fez parte do
gabinete organizado em 19 de setembro de 1837, ocupando a pasta dos negócios
estrangeiros. Deixando o ministério em 1839, foi nom eado diretor da Faculdade
de Olinda e exerceu diversos cargos c om o o de vereador da Câmara Municipal,
diretor do Teatro Público, provedor da saúde do Porto, m em bro da Junta de
H igiene, diretor da Instrução Pública e finalmente ministro plenipotenciário
do Brasil junto à corte de Portugal, em cujo cargo morreu.
Foi, além de m édico distinto e orador eloqüente, poeta lírico maviosíssimo.
Era do Conselho de sua majestade o Imperador, grande dignitário da Ordem
da Rosa, oficial da Ordem do Cruzeiro e da Grã-Cruz e de diversas outras da
Itália, de R om a e de Portugal; m em bro da Arcadia de R om a e de outras
associações literárias nacionais e estrangeiras. (BLAKE, vol. 1, p. 278.)

A u r elin o d e A r aújo L eal - Nasceu na Bahia em 1877 e faleceu n o Rio de


Janeiro em 1924. Bacharelou-se em D ireito pela Faculdade da Bahia. Foi
prom otor público e dedicou-se ao jornalismo e à política.
Foi diretor da penitenciária de Salvador, chefe de polícia e secretário geral
do Estado. Em 1912 transferiu-se para o Rio de Janeiro, exercendo a advocacia.
Foi nom eado chefe de polícia do Distrito Federal e m ais tarde m inistro do
Tribunal de Contas da União. Elegeu-se deputado federal pela Bahia e tornou-
se líder de sua b ancada. Foi n o m e a d o p e lo p resid en te Artur Bernardes
interventor federal n o Estado do Rio de Janeiro em 10 de janeiro de 1923 em
decorrência da disputa política ocasionada pela duplicidade de presidentes e
assembléias no Estado. Permaneceu no cargo até 23 de dezem bro de 1923 e
durante sua administração foi eleito o novo presidente do Estado. (LACOMBE.)

308 9àM
V olunic 2 Luta p e la C ria ç ã o c R esisiências

Caetano Maria Lopes Gama (visconde de Maranguape) - Filho do Dr. João


Lopes Cardoso M achado e de D. Anna Bernarda do Sacramento Lopes Gama, e
irmão do padre M iguel do Sacramento Lopes Gama. Nasceu em Recife em 5 de
agosto de 1795 e faleceu no Rio de Janeiro em 21 de junho de 1864. D estinando-
se à vida monástica, entrou para o noviciado do mosteiro de São Bento de Olinda,
onde fez o curso de hum anidades, mas em vez de professar, foi para Coimbra,
form ou-se em Direito e entrou para a carreira de magistratura no lugar de juiz
de Fora de Penedo em Alagoas. Daí passou a ouvidor da capital e neste cargo
tanto cooperou para a independência do Brasil, que foi eleito presidente do
Governo Provisório e deputado à Constituinte, por essa província, que ele ainda
foi pacificar em 1844, adm inistrando-a, sem derramar um a só gota de sangue.
Subiu na magistratura até aposentar-se no cargo de m inistro do Suprem o
Tribunal de Justiça. Foi o primeiro presidente da província de Goiás, por onde
foi eleito deputado na segunda legislatura, já o havendo sido por sua província
natal na primeira. Serviu em diversos gabinetes ocupando as pastas do Império
e dos Estrangeiros e a da Justiça, em cujo exercício morreu, sendo senador pelo
Rio de Janeiro. Foi do conselho do Imperador, conselheiro de Estado, grande
do Império, grande dignitário da Ordem da Rosa, C om endador da Ordem de
Cristo e oficial da Ordem do Cruzeiro e tam bém da Grã-Cruz da O rdem de São
Januário de N ápoles, da Ordem Turca de Medgidie, sócio do Instituto Histórico
e Geográfico Brasileiro e da Academia de Arqueologia da Bélgica. (BLAKE, vol.
2, p. 14 e 471.)

C â n d id o B a pt ist a de O l iv eir a - Filho de Francisco Baptista dos Anjos e de


D., nasceu em Porto Alegre, capital do Rio Grande do Sul, em 15 de fevereiro de
1801 e faleceu em 26 de m arço de 1865 a bordo d o paquete francês Pelouse, em
que seguira para a Europa com o fim de tratar de sua saúde. Seus pais,
destinando-o ao estado clerical, o recolheram ao sem inário de São José do Rio
de Janeiro, onde fez o curso de humanidades, mas daí seguiu para Coim bra, em
cuja universidade fez os cursos de Matemática e Filosofia com aplicação tal,
que foi prem iado em todos os anos e classificado com o Sábio por u m de seus
lentes. A congregação da faculdade propôs ao governo que, ainda com o prêmio,
se m andasse graduar gratuitam ente o estudante brasileiro. Recebendo o grau
de bacharel em 1824, foi para a França, onde freqüentou a Escola Politécnica.
Foi nom eado em 1827 Lente substituto da Academia Militar, passando logo a

9ÀM 309
_________________H is tó r ia da
Ordem dos Advogados do Brasil

Lente Catedrático de Mecânica, em que se jubileu ao cabo de vinte anos. Serviu


o lugar de inspetor do Tesouro N acion al d esde a abdicação d o prim eiro
Imperador até 1834, e de 1837 a 1838, sendo esta interrupção devida a ter ele
exercido neste ínterim o cargo de m inistro residente em Turim. Foi deputado
por sua província em diversas legislaturas desde a segunda e senador escolhido
em dezem bro de 1848. Foi ministro da Fazenda e interinam ente dos N egócios
Estrangeiros no gabinete de 1839, ministro da Marinha em 1848 e depois disto
ocu p ou ainda os cargos de diretor do Banco do Brasil e do Jardim Botânico.
Era conselheiro de Estado, do conselho do Imperador, viador da Casa Imperial,
com endador da Ordem da Rosa, da Ordem de Cristo e da Grã-Cruz da Ordem
Russiana de Santo Estanislau e m em bro do Instituto H istórico e Geográfico
Brasileiro entre outros cargos e títulos (BLAKE, vol. 2, p. 24.)

C ândido José de A rauio V ianna ( marques de SapucaI) - Filho do capitão-


m or M anoel de Araujo Cunha e D. Marianna Clara da Cunha, nasceu em Sabará,
província de M inas Gerais, em 15 de setembro de 1793 e faleceu no Rio de
Janeiro em 23 de janeiro de 1875, bacharel em Direito pela Universidade de
Coimbra, gentil-hom em da Imperial Câmara, senador do Império, conselheiro
de Estado, do conselho do Imperador, ministro aposentado do Supremo Tribunal
de Justiça, dignitário da Ordem do Cruzeiro, cavaleiro da Ordem de Cristo, da
Ordem da Rosa da Grã-Cruz da m uito nobre e antiga ordem portuguesa da
Torre e Espada e da Ordem Ernestine da Casa D ucal da Saxônia, mem bro do
Instituto H istórico e Geográfico Brasileiro. Freqüentou tam bém em Coimbra
parte do curso m édico e n o m esm o ano de sua formatura foi nom eado Juiz de
Fora da comarca de seu nascim ento. Representou sua província na Constituinte
de 1823 e nas quatro legislaturas subseqüentes até entrar para o Senado por
escolha da regência em 1839. Presidiu a província de Alagoas e a do Maranhão,
dirigiu a pasta dos N egócios da Fazenda e interinamente a da Justiça de 14 de
dezembro de 1832 a junho de 1834, e a do Império de 1841 a 1843. Desem penhou
outras com issões honrosas, com o as de mestre de literatura e ciências positivas
do Imperador, D. Pedro II, de mestre das princesas D. Isabel e D. Leopoldina, e
de testemunha do casamento desta princesa com o duque de Saxe. Cultivou as
letras com o as ciências, mas, excessivamente m odesto, pouco escreveu e menos
ainda publicou além de seus relatórios com o ministro de Estado e presidente de
Província. (BLAKE, vol. 2, p. 30 & BRASIL. Congresso. Senado Federal, p. 22.)

310 ttá i
V o liin u ' 2 I ula p e la (.ricK^ào u k o i s i r i K ias

C elso B ayma - N ascido em 8 de julho de 1874 em A ssum pção, capital da


República do Paraguai. Foi seu pai o general Dr. Alexandre M arcellino Bayma e
sua m ãe D. M anoela Sion Bayma. Fez o curso secundário n o Rio de Janeiro,
m atriculando-se em 1892 na Faculdade Livre de Direito do Rio de Janeiro.
Recém -form ado, abriu banca de advogado no Rio de Janeiro, sendo nom eado
em 1898 coadjuvante d o ensino do C olégio Militar.
Em 1898, entrou para o magistério oficial co m o professor de história
universal n o C olégio Militar do Rio de Janeiro. Em 1898 ingressou na vida
política co m o deputado à assembléia estadual de Santa Catarina, m andato que
lhe foi renovado até 1909. N esse ano foi eleito deputado federal pelo m esm o
Estado, p erm anecendo na Câmara dos D eputados até 1926. Em 1927 foi eleito
senador federal, ainda pelo estado de Santa Catarina.
N a C âm ara foi m em b ro das com issões de Justiça, de Finanças e de
D iplom acia e Tratados, da qual foi presidente. Foi igualm ente m em bro das
com issões especiais do C ódigo Civil e do Código das Águas, de que foi relator
geral. Foi presidente da D elegação da Câmara na XII C on ferên cia Inter-
Parlamentar de C om ércio, sendo a princípio vice-presidente e depois presidente
da delegação brasileira da m esm a Conferência.
N o Senado fez parte da C om issão de D iplom acia e Tratados, nom eado
presidente da delegação brasileira à XIII Conferência Inter-Parlamentar de
Com ércio, a ele se deve o êxito dessa Conferência, realizada n o Rio de Janeiro,
com a presença dos m ais em inentes hom ens de Estado representando 44 das
m ais im portantes nações do m undo. Foi m em bro efetivo do Instituto da Ordem
d os A d v o g a d o s B rasileiros e v ice -p r e sid e n te d o B ureau P e rm a n en te da
C o n fe r ê n c ia P arlam entar In te rn a c io n a l do C o m é r c io . ( D U N S H E E D E
ABRANCHES, vol. 1, p. 333 e 334 Sí C astro e C a st ig n in o , p. 130 e 131.)

C ezar R ego M o n t e ir o - Nasceu no m unicípio da U n ião, cidade da então


província do Piauí, em 17 de abril de 1863. Filho legítim o do major Benjamin
do Rego M onteiro. Eleito senador em 12 de janeiro de 1916, reconhecido em 19
de junho de 1916. Estudou preparatórios no Seminário de N ossa Senhora das
Mercês em São Luís do Maranhão, em cujo Liceu fez com sucesso os prim eiros
exames. Em 1881 m atriculou-se na Faculdade de D ireito do Recife, na qual se
form ou em 1885. Prom otor público da Comarca do Amarante, d e o n d e saiu
em 1887, quando foi nom eado juiz m unicipal da cidade da Parnaíba. C o m o

• ▲I 311
______________ Historia da
Ordem dos Advogados do Brasil

advento da R epública, foi n o m ea d o em 1890 juiz m u n icip al de Teresina,


deixando-a em 1891 para assumir o exercício do cargo de juiz de Direito de
Tefé, Cidade do estado do Amazonas. N o m esm o ano de 1891, foi nom eado
desembargador do Superior Tribunal de Justiça, com sede em Manaus. Em 1903,
a p o se n to u -se e estabeleceu residência na Capital Federal, o n d e exerceu a
advocacia e fez parte do Primeiro Congresso Jurídico Brasileiro realizado em
1908 na sede do Instituto da Ordem dos Advogados Brasileiros. C om o delegado
do governo do Piauí nesse Congresso, apresentou três teses notáveis que estão
publicadas n o Relatório Geral dos Trabalhos do Primeiro Congresso Jurídico
Brasileiro. (D U N SH E E DE ABRANCHES, vol. 2, p. 400.)

E u z é b io F r a n c is c o de A ndrade - N asceu em 15 de abril de 1866 em


Leopoldina, estado de Alagoas. Bacharel em Direito, dedicou-se desde logo à
advocacia. Inteligente, estudioso e ativo, tem exercido na sua terra natal os
seguintes cargos: Diretor do Colégio Orfanato de 1890 a 1891, professor do
liceu de Artes e Ofícios de 1886 a 1890; Lente do Liceu Alagoano desde 14 de
setem bro de 1895, secretario da Fazenda (interino) de dezem bro de 1895 a
janeiro de 1896 e advogado da m unicipalidade de janeiro de 1896 a outubro de
1898. Foi redator-chefe do Gutenberg, decano dos jornais alagoanos. Em 1902
esteve c o m o delegado do Governo de Alagoas na Conferência Açucareira da
Bahia. Foi, tam bém , diretor da Sociedade Alagoana de Agricultura e deputado
federal em 1903. (D U N SH EE DE ABRANCHES, vol. 1, p. 130.)

F ernando M endes de A lm eid a - Nasceu na cidade do Rio de Janeiro em 26


de julho de 1845, foi filho do senador do Império, C ândido M endes de Almeida
e D. Rozalina Ribeiro de Campos e Almeida. Eleito senador em 21 de m arço de
1910, reconhecido na sessão extraordinária de abril do m esm o ano. Professor
de Direito e jornalista, ocu p ou -se no Jornal do Brasil de questões de política
in tern acion a l. N o Senado foi presidente da C o m issã o de C o n stitu içã o e
D iplom acia (1912). Faleceu em 1927. (D U N SH EE DE ABRANCHES, vol. 2,
pp. 261 e 262 & GUIMARÃES, p. 24.)

F ra n c is c o de P aula C â n d id o - Nasceu na antiga província de M inas Gerais


em 2 de abrü de 1805, faleceu em Paris em 5 de abril de 1864, bacharel em Ciências

312
V (jlum c 2 Lut . i |Dcl,i ( j i a C j ã o c R e s i s t ê n c i a s

e doutor em Medicina pela faculdade dessa capital. Professor jubilado de física da


Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, membro do conselho do Imperador, D.
Pedro II, m édico da Imperial Câmara, presidente da junta central de higiene
pública, m em bro titular da Imperial Academia - depois Academia Nacional de
Medicina - e mem bro honorário da Academia das Belas Artes, sócio da Academia
Filomática, com endador da Ordem da Rosa e Cavalheiro da Ordem de Cristo. Na
faculdade do Rio de Janeiro, onde lecionou cerca de trinta anos, exerceu tam bém
o cargo de vice-diretor, e na Câmara temporária representou sua província em
quatro legislaturas - 1838 - 1845 e 1849 - 1856. Escreveu vários livros sobre higiene
e saúde pública. (BLAKE, vol. 3, pp. 71 a 73 e 462.)

H o n ô r io H erm hto C a r n e ir o L eao ( m arquês de P araná) - Filho de N icolao


Nctto Carneiro Leão, nasceu em Jacuí, Minas Gerais, e m 11 de janeiro de 1801
e faleceu no Rio de Janeiro em 3 de setembro de 1856. Bacharel em Direito pela
Universidade de Coimbra, desembargador da Relação da Corte, senador do
Im pério, presidente do C on selh o e m inistro da Fazenda do G abinete que
organizou e m 6 de setem bro de 1853. D o Conselho do Imperador, conselheiro
de Estado, oficial da O rdem do Cruzeiro, só c io do In stitu to H istó ric o e
G eográfico Brasileiro. R epresentou M inas Gerais nas três legislaturas que
precederam sua entrada no Senado. Foi ministro da Justiça dos gabinetes de 13
de setem bro de 1852 e de 20 de janeiro de 1843. Presidiu as províncias de
Pernambuco e do Rio de Janeiro e desem penhou um a m issão do governo no
Rio da Prata. (BLAKE, vol. 3, p. 247.)

Jo ã o C a pis t r a n o B a n d e ir a de M ello - Filho do capitão Jeronymo José


Figueira de M ello e de D. Maria do Livramento Figueira e irmão mais velho do
conselheiro Jeronymo M artiniano Figueira de M ello. Nasceu em Sobral, cidade
da província do Ceará, em 23 de outubro de 1811 e faleceu no Rio de Janeiro
em 29 de m aio de 1881. Bacharel em Direito, form ado em 1833 pela Faculdade
de Olinda onde obteve prêm ios em quatro anos sucessivos por sua grande
aplicação e aproveitam ento, consistindo o últim o num a m edalha de ouro c»m
a inscrição “Tributo ao M érito”, e logo depois doutor pela m esm a academ ia em
1834, no ano seguinte foi nom eado, por concurso, a lente de um a cadeira na
m esm a faculdade, renunciando por este m otivo a um a nom eação que obtivera
para juiz de Direito de um a das comarcas do Ceará, da qual não chegara a

313
______________ História da
Ordem dos Advogados do Brasil

tomar posse, m as exercendo antes do professorado o cargo de auditor de Guerra


do Recife. Foi eleito deputado por sua província na legislatura de 1838 a 1841,
e d ep ois em m ais legislaturas. Presidiu a província de A lagoas durante o
m ovim en to revolucionário de Pernambuco de 1848 a 1849 e as da Paraíba e de
M inas Gerais. O btendo sua jubilação no magistério em 1861, foi neste m esm o
ano nom eado m em bro efetivo do Conselho Naval, onde serviu até a época do
seu falecimento. Era do Conselho do Imperador, Com endador da Ordem da
Rosa, m em bro da Sociedade de Geografia do Rio de Janeiro. Teve várias obras
publicadas, muitas delas de poesias. (BLAKE, vol. 3, p. 382 a 384.)

JoAo V e s pu c io d e A breu e S ilva - Nasceu em 2 de dezem bro de 1869 em


Porto Alegre, capital do Estado do Rio Grande do Sul. É filho do senador do
Império Florencio Carlos de Abreu e Silva e D. Maria José Borges de Abreu e
Silva.
Fez os seus estudos primários n o C olégio G om es em Porto Alegre e uma
parte do curso preparatório na Escola Militar da capital do seu Estado e outra
no Imperial Colégio de D. Pedro II na cidade do Rio de Janeiro. Iniciou o seu
curso de engenharia na Escola Militar de Porto Alegre, o 2“ ano cursou na Escola
Militar da Praia Vermelha e os restantes (até o 6® ano) na Escola Superior de
Guerra. Engenheiro Militar e o de Bacharel em M atemáticas e Ciências Físicas
e Naturais.
C o m o lente catedrático lecionou na Escola de Engenharia e no Ginásio
Julio de Castilhos, e foi professor do C olégio Ig. M ontanha, todos três na cidade
de Porto Alegre. Eleito deputado estadual à Assembléia dos Representantes do
Rio Grande do Sul, dela fez parte de 1901 a 1908, sendo o relator-geral do
orçam ento do Estado na legislatura de 1905 a 1908. N o ano seguinte foi eleito
deputado federal, tendo o seu m andato renovado em quatro legislaturas. Na
Câmara dos Deputados, foi eleito para a C om issão de M arinha e Guerra nos
anos de 1909 a 1913, para a de Finanças nos anos de 1913 a 1915. Em 1916, foi
escolhido por seus pares para o cargo de 1° vice-presidente, e nessa qualidade
esteve n o exercício da presidência quase ininterruptam ente até 1919. Deixando
a Câmara dos Deputados, foi enviado com o embaixador de seu estado ao Senado
federal. N o Senado foi mem bro interino da C om issão de M arinha e Guerra e
efetivo das de D iplom acia e de Finanças, tendo relatado nestas os orçam entos
da Agricultura, Viação e Receita. (Castro & Castignino, p. 134.)

314
V o lu m e 2 Luf.i pela ( riação e Resistências

Jo sé da S ilva M aya - Natural da antiga província do Maranhão, nasceu na


cidade de Alcântara em 26 de fevereiro de 1811. D ou tor em M edicina pela
Faculdade de Paris, representou esta província em várias legislaturas gerais desde
1872, ano em que substituiu o deputado Luiz A ntônio Vieira da Silva, nom eado
senador do Im pério, e exerceu vários cargos, quer de eleição popular, quer de
confiança do governo. Faleceu na capital do Maranhão em 24 de abril de 1893.
(BLAKE, vol. 5, p. 203 e 204.)

JosÊ I g n a c i o S ilveira da M otta - Filho de Joaquim Ignacio Silveira da Motta


e D. Anna Luiza da Gam a e irmão do barão de Vila Franca. Ignacio Francisco
Silveira da M otta nasceu em Goiás em 15 de fevereiro de 1807 e faleceu n o Rio
de Janeiro em 16 de outubro de 1893, doutor em Direito pela Faculdade de São
Paulo e professor jubilado da m esm a faculdade desde 1856, oficial da Ordem
da Rosa, senador do Im pério pela província do seu nascim ento desde 1865,
agraciado pelo Imperador co m o título de Conselho e Advogado do Conselho
de Estado. C om eçou em Lisboa sua educação literária e fez o curso de Direito
em São Paulo, recebendo o grau de bacharel e m 1833 e de doutor e m 1834, ano
em que foi nom eado oficial da Secretaria de Governo Provincial e substituto da
faculdade, passando a catedrático em 1842. Foi deputado por esta província em
duas legislaturas e diretor da Instrução Pública em 1852. Já senador, foi consultor
da Secretaria de Justiça. (BLAKE, vol. 4, p. 462.)

Jo sé Jo a q u im S eabra - Nasceu na capital da Bahia em 21 de agosto de 1855.


Bacharelou-se em Direito no Recife em 1877. Formado, em barcou para a Bahia
e o presidente da província, nessa época o Barão de Lucena, n o m e o u -o primeiro
prom otor público da Capital.
Voltando ao Recife, doutourou-se em Direito, sendo plenam ente aprovado,
e, no ano seguinte, entrou em concurso para lente substituto da faculdade, com
os Srs. Albino de Meira, Roza e Silva e outros, sendo nom eado em m arço de
1880.
Abolicionista, to m o u parte na campanha contra a escravidão; e, filiado
embora ao partido conservador, pleiteou em 1889 pela capital da Bahia a cadeira
de deputado geral, inscrevendo n o seu programa a federação das províncias.
Proclamada a Repúbhca, além de haver sido nom eado diretor da Faculdade
de Direito de Recife e lente catedrático de econom ia política, foi eleito deputado

9ÁM 315
______________ História da.
Ordem dos Advogados do Brasil

à C onstituinte Federal. Adepto decidido da política de D eodoro, sustentando


fortemente o governo do Barão de Lucena, apoiou a República e foi depois de
23 de novem bro u m dos mais fervorosos adversários da adm inistração do
Marechal Floriano. Por causa dos sucessos de 10 de abril, foi dem itido da direção
da Faculdade de Recife, preso e desterrado para Cucuí, n o Alto Amazonas.
Restituído aos trabalhos da Câmara dos D eputados, apresentou denúncia contra
o Marechal Floriano. Sobrevindo a revolta da armada de 6 de setembro de 1893,
foi nesse dia para bordo do Aquidaban e em seguida exilado para o Uruguai e
Argentina.
Decretada a anistia, regressou a esta capital, indo m ais tarde ao Rio Grande
do Sul tomar parte no Congresso Federalista. Em 1897, voltou ao Recife, sendo
recebido co m festas pelos estudantes e pela congregação. Reintegrado por
sentença do poder judiciário. Nesse m esm o ano de 1897, foi eleito deputado
federal pelo 1° Distrito da Bahia. Apresentou então na Câmara a m oção que
prom oveu a cisão do Partido Republicano Federal, e, declarada esta, colocou-se
ao lado do governo de Prudente de Morais.
Reeleito para a legislatura de 1900 a 1902, foi algum tem po leader da
Câmara no ú ltim o ano da presidência de C am pos Sales, mas renunciou o
m andato em 15 de novem bro de 1902 por haver sido n om ead o m inistro do
Interior do presidente Rodrigues Alves. Em 28 de m aio de 1906, deixou o
M inistério, sen d o dip lom ad o senador federal por A lagoas, porém não foi
reconhecido. Reeleito deputado em 1909 para a 7® legislatura, foi ainda leader
da Câmara e renunciou de novo ao m andato para ocupar a pasta da Viação no
governo d o Marechal Hermes.
Em 27 de janeiro de 1912, exonerou-se do M inistério para disputar o cargo
de governador da Bahia.
Eleito para a Câmara dos Deputados, além de m em bro das C om issões de
Justiça e de Finanças, foi o presidente da C om issão Especial do C ódigo Civil.
Terminado o seu m andato de governador da Bahia, foi de novo eleito deputado
federal em 1916 na vaga aberta pela renúncia do D r. A n ton io M uniz que o
sucedera naquele alto cargo no Estado. Falecendo em 1917 o D r. José Marcelino
foi eleito para substituí-lo no Senado Federal. H o m em de talento e de ação, foi
um a das m ais brilhantes figuras da política republicana. (D U N S H E E DE
ABRANCHES, vol. 1, p. 144-147.)

3T6 @4#
V o lu m e 2 L u ta p e la C r ia ç ã o e R e s is tê n c ia s

M anoel A lves B ranco (S egundo visconde de C aravelas) - Filho de João


Alves B ranco e D. A n n a Joaquina de São Silvestre B ranco, nasceu n a cidade da
Bahia e m 7 de j u n h o de 1797 e faleceu e m N iteró i e m 13 de ju n h o de 1855,
sen d o bacharel em leis p ela Universidade de C o im b ra , s e n a d o r do Im pério,
co nselheiro de E stado do co nselho de su a M ajestade o I m p e r a d o r e oficial d a
O rd e m do Cruzeiro. A ntes de e stu d a r leis, fez o curso d e ciências n a tu ra is e o de
m a te m á tic a a q u e só faltou o q u a rto an o o u a aula de a s tro n o m ia , d e p o is foi
n o m e a d o juiz de Fora de S anto A m a ro na Bahia, sendo re m o v id o p a ra a cidade
d o Rio de Janeiro. A ntes de ser senador, foi eleito d e p u ta d o à segunda legislatura,
a p re se n ta n d o v ário s p ro je to s sobre o P o d er Judiciário e o sistem a eleitoral co m
in c o m p a tib ilid a d e d o s juizes e sobre a p le n a lib e rd a d e de c o n sc iê n c ia e a
fe d e ra ç ã o m o n á r q u i c a e ex erc eu o c a rg o de c o n t a d o r g e ra l d o T e so u ro ,
e la b o ra n d o re g u lam en to s de contabilidad e e as p rim e ira s in stru ç õ e s p a ra a
escrituração p o r p a rtid a s dobradas. O c u p o u as pastas de m in is tro d a Justiça e
dos E strangeiros. Fez ajustes p a ra repressão do tráfico d e a fric an o s, depo is
o c u p o u as pastas d a Fazenda e do Im p é rio em 1837, s e n d o in stad o pelo regente
Feijó p a ra a ssu m ir a regência, ao que se recusou. Foi m in istro d a Fazen da em
1839 e e m 1844, d a F az e n d a e d o I m p é r io e m 1847 n o g a b in e te p o r ele
organizad o. Foi u m dos m a io re s estadistas e o ra d o re s d o Brasil. Foi ta m b é m
d istin to p o eta. (BLAKE, vol. 6, p. 7 e 8.)

M anoel I nácio C avalcanti de L acerda ( barao de P irapama) - N asceu em


1799 e m P e rn a m b u c o e faleceu em 11 de m a rç o de 1882 no Rio de Janeiro.
F o rm a d o pela A cadem ia Militar, d o u to r em Ciências Jurídicas e Sociais pela
U niversidade de C o im b ra e m 1821. Foi presidente d o S en ad o d o Im p é rio de
1854 a 1861. Foi sob sua presidência q u e a Princesa Isabel, aos 14 an o s, em 29
de ju lh o de 1860, p re s to u o solene ato de ju ra m e n to c o m o h e rd e ira d o tr o n o do
Brasil. Foi juiz d e Fora de S anto A m aro, São Francisco, Paraíba do N o r te e Pará;
d e p u ta d o à C o n stitu in te p o r P e rn a m b u c o e m 1823; d e p u ta d o à Assembléia
G e ral Legislativa (s u p le n te ) p e lo M a r a n h ã o d e 1832 a 1833; d e p u t a d o à
A ssem bléia Geral Legislativa p o r P e rn a m b u c o de 1843 a 1844; ju iz -re la to r do
C o n se lh o S u p re m o M ilita r de Juiz em 1847 a 1848; p resid e n te d a Relação da
C o rte e m 1846 a 1849; se n a d o r p o r P e rn a m b u c o d e 1850 a 1882; p re sid e n te do
S enado Im p e ria l de 1854 a 1861 e m in istro d o S u p re m o T ribu nal de Justiça.
(BRASIL. Congresso. Senado Federal, p. 24.)

•à l 317
______________ História da
Ordem dos Advogados do Brasil

M aurício P a iv a d e Lacerda - Nasceu em 1° de junho de 1888, na cidade de


Vassouras, estado do Rio de Janeiro. É filho do Dr. Sebastião de Lacerda, ministro
do Supremo Tribunal Federal. Form ou-se pela Faculdade de Ciências Jurídicas
e Sociais do Rio de Janeiro em 1909. Foi o representante dos estudantes
brasileiros no 1° C ongresso S u l-A m ericano de E studantes, realizado em
M ontevidéu em 1908. Recém-form ado, foi advogado na cidade de Vassouras,
onde colaborou no M unicípio (1909/1911) e n o Vassourense (em 1910). Foi
voluntário do 1® batalhão do Exército (m aio a outubro de 1908) e oficial de
gabinete do presidente da República de 15 de novem bro de 1910 a 1° de maio
de 1912. Eleito deputado federal pelo 3® distrito do Estado do Rio de Janeiro
em 30 de janeiro de 1912, foi reeleito em 1915 à 9= legislatura. N a Câmara fez
parte da Comissão de Diplomacia e Tratados na sessão legislativa de 1917. Dotado
de grande talento e possuidor de um a palavra fácil e eloqüente, não tardava a
declarar-se, logo depois de eleito deputado, em oposição ao governo de Marechal
Hermes, de cuja candidatura fora aliás um dos m ais ardentes propagandistas.
Sobrevindo a presidência do Dr. Wenceslau Braz, con tin u ou na sua campanha
oposicionista, proferindo m últiplos e vibrantes discursos contra os atos da
administração federal, exigindo diariamente inform ações ao poder executivo e
analisando quase todas as m edidas que este solicitava do Congresso Nacional.
Até o ano de 1918 foi o deputado que m aior núm ero de discursos pronunciou,
tendo algumas de suas notáveis orações parlamentares impressas em folhetos.
(D U N SH E E DE ABRANCHES. vol. 2, p. 400.)

R aymundo F erreira de A raujo L im a - Nasceu no Ceará e m 23 de junho de


1818, foi bacharel em Direito pela Faculdade de O linda e eleito deputado pela
sua província à 8^ legislatura geral e a outras. Casou-se no Rio de Janeiro e aqui
estabaleceu-se com o advogado. Fez parte do gabinete de 29 de setembro de
1870 ocupando a Pasta da Guerra, tem o título de conselho do Imperador D.
Pedro II e foi oficial da Ordem da Rosa. M embro da com issão encarregada pela
Câmara dos D eputados de examinar a proposta do governo para a reforma do
elem ento servil, foi um dos esforçados atletas nessa bela e civilizada campanha,
e u m d o s au tores d o “E lem e n to S ervil”: Parecer da c o m is s ã o especial,
apresentado à Câmara do Senhores D eputados na sessão de 30 de junho de
1871 sobre a proposição do Governo de 12 de m aio do m esm o ano. Rio de
Janeiro, 1871 - assinam -no tam bém os deputados Joaquim Pinto de Campos,

318
V o lu m e 1 L u t a ()o ía ( riac^ào v R ('S iM ô n ri< i5

Joao M endes de Almeida, A ngelo Thom az do Amaral e Luiz A n ton io Pereira


Franco (...). (BLAKE, vol. 7, p. 110.)

R aymundo P ontes de M iranda - N asceu e m 11 de abril d e 1868, n o Recife,


e stado de P e rn a m b u c o . Bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais pela Faculdade
de D ireito da sua te rra natal, d esde 31 de ju lh o de 1892, te m o c u p a d o n o estado
de Alagoas os seguintes cargos: d e p u ta d o d o C o n g resso C o n s titu in te e relator
d a C o m issão de R edação d a C onstituição d e 1891 a 1893; p r o c u r a d o r geral do
E stado em 1895; le n te de inglês d o Liceu de P en ed o desde 12 de ja n e iro de
1896. C o m o jo rn a lista foi re d a to r do Penedo, d e 1896 a 1905 e do Evolucionista
e m 4 de m a io de 1905. Eleito d e p u ta d o federal e m 1900, foi sucessivam ente
reeleito até o fim d a 7^ legislatura (1909- 1911). E m 30 de ja n e iro de 1912, foi
eleito se n a d o r federal p ela te rm in a ç ã o d o m a n d a to do s e n a d o r P aulo M atta.
(D U N SH EE DE ABRANCHES, vol. 2, p. 40.)

Z a c h a r ia s de G o is e V asconcelos - Nasceu na Bahia em 15 de novem bro


de 1815 e m orreu no Rio de Janeiro em 28 de dezembro de 1877. Foi professor
de Direito, deputado por Sergipe de 1*^ de janeiro de 1850 a 4 de setem bro de
1852 e depois deputado pela Bahia de 3 de m aio de 1853 a 20 de setem bro de
1856. Foi senador da Bahia de 16 de fevereiro de 1864 a 28 de dezem bro de
1877. Foi presidente da província do Piauí e de Sergipe, foi m inistro da Marinha,
m inistro da Justiça e ministro da Fazenda. Publicou em 1860 um a obra que
repercute até aos dias de hoje com o título D a N atureza e Limites do Poder
Moderador. Na primeira edição não colocou indicação de autoria, recebendo
boas críticas e atenção da opinião pública reeditou-a em 1862 agora com sua
assinatura c o m o autor. Ibi, tam bém , um historiador e tam bém autor do livro
História de D. Pedro / / , José O lym pio, 1975,5 vol. (SENA DO FEDERAL.)

Bibliografia Consultada

BLAKE, A ugusto Victorino Alves Sacramento. Dicionário Bibliographico


Brazileiro. 1“ vol. Reimpressão de off-set. Conselho Federal de Cultura, p. 217,1970.

LACOMBE, Lourenço Luiz. O5 chefes do executivo fluminense. Petrópolis:


Vozes, 1973.

319
______________ História da
Ordem dos Advogados do Brasil

SE N A D O FEDERAL. N o g u e ir a , O c ta v ia n o & Firmo, João Sereno.


Parlamentares do Império: obra comemorativa do sesquicentenário da instituição
parlam en tar no Brasil Brasília: Centro Gráfico do Senado Federal, 1973.

D unshee de A branches. Governos e Congressos da República dos Estados


Unidos do Brazil (apontamentos biographicos sobre todos os prezidentes e vice-
prezidentes da republica, ministros de estado, e senadores e deputados ao Congresso
Nacional) 1889 a 1997, 2® vol. São Paulo, 1918.

G u im a r ã e s , Argeu. Diccionario Bio-Bibliographico Brasileiro de Diplomacia


Política Externa e D ireito Internacional. Rio de Janeiro: edição do autor, 1938.

BRASIL. Congresso. Senado Federal. D ados biográficos dos presidentes do


Senado Federal (1826 a 1999). 5^ ed. Atual. Brasília. Senado Federal, Subsecretaria
de Edições Técnicas, 1997.

C astro, A. O. G om es de & C a s t a g n i n o , A. Souto. O Senado Federal de 1890


á 1927 (Relação dos senadores desde a c o n stitu in te a té á 13° legislatura,
acom panhada de ligeiros traços biographicos dos actuaes membros do Senado da
Republica). Rio de Janeiro, 1927.

MINISTÉRIO DA VIAÇÃO E OBRAS PÚBLICAS. Dados Biográficos dos


Ministros. Serviço de D ocum entação. Rio de Janeiro, 1961.

320 •Al
Volum e 2 Luta pela Criaçao e Resistências

F a c u ld a d e d e D ire ito d e São Pau lo . In sta la d a n o C o n v e n to d e São F ran c isco e m 1“ m a rç o d e 1828.


F o n te: Site d a F a c u ld a d e d e D ireito.

P réd io d a F a c u ld a d e d e D ire ito - “A rcad as” ap ó s refo rm a.


F o n te: Site d a F a c u ld a d e d e D ireito.

321
______________ História da
Ordem dos Advogados do Brasil

M o ste iro d e São B en to , O lin d a (P E ). Fonte: Livro OAB O D esafio d a U to p ia .

C o n s tr u ç ã o d e 1825. A n tig a C â m a r a d o s D e p u tad o s. A cervo IH G B

322
Volume 2 Luta pela Criação c Resistências

A n tig o S e n a d o d o Im p é rio . A cervo d e IH G B .

Provável sede d o lAB. P réd io s d o século XIX, atu ais n°‘45 e 41 d a R u a d a C o n stitu iç ão - R io d e Janeiro

•àM 323
______________ História da
Ordem dos Advogados do Brasil

Silogeu. F o to : E u g e n io N ovaes.

324
Volum e 2 Luta pc‘la Criação e Resistências

C asa d o A d v o g a d o - M arec h a l C âm ara.


F o n te: Livro OAB O D esafio d a U to p ia.

325
' GPÂf i l CÂ f O i r O f l A

Siinto Múeio • RS • Pon«/Fax' <55[ 222.3050


www.9allot1i.combr
Com Íiiiniís lo'nectaos
o Instituto dos Advogados não dispunha de legitim idade
institucional para, por si próprio, criar a Ordem dos Advogados,
entidade destinada a disciplinar o exercício da advocacia
em todo o País.
Com efeito, o Instituto dos Advogados poderia tão só propor ao
Império ou à República, após sua proclamação, a criação em
referência, com o o fez, embora tais projetos tenham sido
frustrados.
Está claro que somente um diplom a legal, na acepção rigorosa
da expressão, oriundo do Poder Político do Estado nacional
brasileiro, poderia, com o aconteceu, criar a Ordem dos
Advogados, em virtude das implicações existentes entre
a Advocacia e o Estado.
Não é sem razão que, hoje, a Constituição da República
Federativa do Brasil estabelece no seu art. 133, verbis:
"O advogado é indispensável à administração da justiça, sendo
inviolável p o r seus atos e manifestações no exercício
da profissão, nos termos da lei."

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