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NOTÍCIA HISTÓRICA DA ORDEM

DOS ADVOGADOS DO BRASIL

(1930 — 1980)
NOTÍCIA HISTÚRICA DA ORDEM
DOS ADVOGADOS DO BRASIL
(1930 - 1980)

Trabalho preparado em cum prim ento à


Resolução n.° 097/78, de 11.12.1979, do
em inente Presidente do Conselho Federal
da Ordem dos Advogados do Brasil, Dr.
Eduardo Seabra Fagundes.

ALBERTO VENANCIO FILHO


A PR ESEN TA ÇÃ O

Antes de com pletar-se o cinqüentenário ãa OAB, na gestão


do Presidente Eduardo Sedbra Fagundes, este idealizou realizar,
ao Uido das comemorações, ju stas e necessárias, da efeméride, um
registro histórico da corporação. A té então nada fora compilado,
com 0 sentido de centralizar pesquisa que pudesse enfeixar toda
a vida da Ordem dos Advogados no seu m eio século de existência.
Preocupado em dar destaque às comemorações que então se^
riam efetivadas, o em érito Presidente Eduardo Seabra Fagundes
baixou a Resolução n.° 097/79, através da qual designou, em 14
de dezem bro de 1979, “o Dr. Alberto Venancio Filho para coorde­
nar a elaboração da m em ória histórica que registre os principais
acontecim entos da Ordem dos Advogados do Brasil no período de
1930 a 1980, dexiendo para ta n to receber toda a colaboração da
Secretaria do Conselho Federal e dos Conselhos Seccionais''.
Era, então, aqvjele em inente ojdvogado Conselheiro Federal,
representante da Seccional do M ato Grosso, dedicado colaborador
da Presidência e profundo conhecedor dos intrincados problemas
do ensino jurídico, com suas atenções continuam ente voltadas ao
aprimorarnento da formação universitária dos futuros bacharéis.
Aceitou, por isso, o pesado encargo, que levou a bom term o
após percuciente pesquisa histórica que lhe tom ou horas precio­
sas de seu trabalho na advocacia e do necessário convívio com a
família.
Nãx) foi possível, no entanto, editar anteriorm ente o trabalho,
de real im portância para a instituição, ultim ado já qiiando en­
cerrada a gestão de Eduardo Seabra Fagundes.
Era preciso que se desse curso ao projeto, que encontrei ter­
minado, com os originais prontos e dependentes apenas de uma
final revisão. Procedeu-a o seu ilustre autor, a quem solicitei novo
esforço para que se pudesse cum prir a Resolução n.° 097/79.

3
Pudemos, assim, finalm ente, dar a lume o trabalho que ora
se oferece aos que se interessam pelos fatos que em olduram a ação
da OAB, T ia sua fecunda existência d e m eio centenário. Ver-se-á
que m u ita coisa se fez, que a posição de destaque que a OAB
passou a exercer na sociedade civil não se deveu a meras cir~
cu n stàn das do acaso, mas foi fruto da efetiva liderança que se
amoldou na atuação in tim orata de seus dirigentes, que sempre
tiveram a apoiá-los os advogados, como classe unida em to m o
dos mesmos ideais de respeito ao D ireito e de estrita aplicação da
Lei, m as sobretudo de elaboradores de fórmulas de aprtmoramen-
to das instituições.
Tudo foi possível, t io elenco de providências adotadas para
0 registro histórico da Ordem dos Advogados., ao trabalho exaus­
tivo, m as altam ente produtivo, adem ais preciso e detalhista, do
Dr. Alberto Venando Filho, a favor de quem é preciso registrar
os agradecimentos da corporação, pela sua inestim ável colabora­
ção que lhe presta na afirmação d a ‘'existência, fins e p r e s tig e
da Ordem’*, tendo, por isso e pela alta qualidade de sua obra,
prestado relevante serviço à classe, que certam ente frvirá da lei­
tu ra deste livro que a D iretoria do Conselho Federal tem a honra
de apresentar.

M á r io S é r g io D u a r t e G a r c ia
Presidente

4
INTRODUÇÃO

O presente trabalho foi preparado em cum prim ento à Reso­


lução n ° 097/79, de 11.12.1979, do Dr. Eduardo Seabra Fagundes,
entãx) Presidente do Conselho Federal da Ordem dos Advogados
d-o Brasil, incum bindo ao autor a tarefa de coordenar a elaboração
de Memória Histórica que registrasse os princivais acontecimen^
tos da Ordem dos Advogados do Brasil no período de 1930 a 1980.
Do program a algo amldcioso de elaboração de um a Memória
Histórica, o transcurso do trabalho levou à concZtísâo de que seria
mais exeqüível, inicialm ente, a preparação de uima N otícia Histó­
rica que arrolasse os principais feitos da nossa corporação. Desse
trabalho, é o autor único e exclusivo responsável, devendo-lhe ser
im putadas todas as faltas pelas omissões, erros e equívocos nele
apresentados.
É dever da mais elem eniar ju stiça registrar aqui a infatigável
coíaboraçõo que o Dr. Eduardo SeaJyra Fagim ães deu em todas as
fases do trabalho, sendo o responsável pela iniciativa. Ao autor
jam ais faltou o apoio de que necessitou para que o trabalho fosse
levado a cabo.
N um preito de saudade, deve ser relembrada a memória de
D. Lyda Monteiro da Silva, dedicada funcionária do Conselho Fe­
deral por Tnais de quarenta anos. Desde o m om ento em que tom ou
conhecim ento da iniciativa, pôs-se à inteira disposição do autor,
fom ecendo-lhe dados, elem entos e informações que foram extre­
m am ente im portantes, e m uito mais o seriam se ela tivesse podido
acom panhar até o finai sua preparação. Ainda na a n te v é s ^ a de
sua trágica m orte, na m esa de reuniões da sala d a P r e s iá ê ^ a , ela
nos forneceu os últim os elem entos extrem am ente im portantes.
Ao funcionalism o do Conselho Federal o m eu reconhecimento
pela coixLhoração sem reservas que prestou na coleta de dados e
obtenção de informações.
Finalm ente, ao Prof, Marcos Luiz E retas da Fonseca, licen­
ciado em História e pesquisador do Arquivo Nacional e do Centro
de Pesquisa e Docum entação d e História Contem porânea do Brasil
(CPDOC) da Fundação G etúlio Vargas, con tratado para o levanta-

5
m ento do m aterial existente no Conselho, os meus agradecimentos
pela cooperação excepcional, pelo zelo e cuidado que deu ao traba­
lho, na certeza de que, sem a sua colaboração, esse trabalho não
poderia ser realizado.
O trabalho é basicam ente um arrolam ento dos fatos ocorridos
durante os cinqüenta anos d a Ordem. O Conselho Federal possui
bem organizado o conjunto de livros de atas, que, desde a prim eira
sessão em 1933 até os nxissos dias, relata os acontecim entos da
instituição, com exceção do volum e correspondente ao ano de 1949,
que se encontra extraviado. Mas excettiada essa docum entação
básica, é extrem am ente lacunoso quanto aos demais aspectos da
instituição. Por exemplo, todo o m aterial sobre a elaboração e
discussão dos trabalhos da Comissão que elaborou o anteprojeto
de lei, convertido na Lei 4.215, não foi localizado.
Este trabalho é adem ais um relato do trabalho da Ordem
como um todo e de seu Conselho Federal. Possam os vários Conse­
lhos Seccionais, inspirando-se nele, em preender obras semelhantes,
a fim de que tenham os uma visão nacional das atividades da
Ordem nesses cinqüenta anos de funcionamento.
Desse relato um a convicção se fortalece: A Ordem dos Advo­
gados do Brasü, nos seus prim eiros cinqüenta anos, de Levi Fer­
nandes Carneiro a Eduardo Seabra Fagundes, se m anteve digna
dos ideais que inspiraram a suxi criação, e se m anteve vigüante na
defesa de u m ordenam ento jurídico ju sto para o povo brasileiro.

Alberto Venancio Filho

27 de abril de 1982
19.0 aniversário da promulgação do Estatuto
da Ordem dos Advogados do Brasil.

6
SUMÁRIO

Apresentação ........................................................................................ 5

Capítulo I — Os Antecedentes da O rd em ................................ 11

Capítulo II — A Criação da Ordem — Os Primeiros anos —


A Presidência Levi C a rn eiro ................................................... 21

Capítulo n i — A Ordem no Estado Novo — Sobral Pinto e a


Defesa dos Presos Políticos — A Luta pela Redemocrati-
zação — A Redemocratização — A Campanha pela Auto­
nom ia da Ordem — Os Vinte Anos .................................... 55

Capítulo IV — A Década dos 50 — A Campanha pelo Novo


Estatuto — A Lei n.° 4 .2 1 5 ..................................................... 88

Capítulo V — A Ordem e o Regime Autoritário de 1964 — A


Im plantação da Lei n.° 4.215 — O Exame de Ordem e o
Estágio — A Defesa das Liberdades Públicas e dos Direi­
tas Humanos — Novamente a Luta pela Autonomia da
Instituição — O Combate pela Anistia e pelo Restabeleci­
m ento do Estado de Direito — O Brutal Atentado — O
C inqüentenário............................................................................. 131

7
LE SIÈCLE EST AUX AVOCATS

STENDHAL
Capítulo I

OS ANTECEDENTES DA ORDEM

As origens remotas da Ordem dos Advogados do Brasil se en­


laçam com 0 próprio m ovim ento que resultou na Independência
do Brasil. Logo a p ^ o 7 de setembro de 1822, iniciaram -se os
debates na Assembléia C onstituinte e, a seguir, na Assembléia Le-
^ slativa, no sentido da fundação de universidades e de cursos
jurídicos; afinal a lei de 11 de agosto de 1827 criava dois cursos
jurídicos, um em São Paulo, outro em Olinda. ^ Eln 1838 era fun­
dado o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, a fim de regis­
trar os grandes feitos da história brasileira.^
Na m esm a época, foi se robustecendo no m eio dos advogados
a idéia de organizar um a entidade que reunisse a classe, a qufll
embora não m uito numerosa, já era expressiva nas quadros diri­
gentes do novo país. Em 16 de m aio de 1843 a G azeta ãos Tribu­
nais, organizada por Alberto Teixeira de Aragão, futuro Conse­
lheiro, membro do Supremo Tribunal de Justiça e ex-intendente
de polícia, publicava os estatutos da Associação dos Advogados de
Lisboa.^ Essa publicação teria sido a m otivação im ediata da reu^
niâo em casa de Aragão, então sediada à Rua dos Barbonos (hoje
Evaristo da Veiga) n.° 66 (onde hoje é o Quartel da Polícia Mili­
tar) de alguns advogados, que discutiriam e organizariam os
1 V. Alberto Venancio Filho — Das Arcadas ao Bacharelismo. São Paulo,
1977, Perspectiva, pp. 13-28.
2 V. Virgílio Corrêa Filho — Como se fundou o In stitu to Histórico,
Revista do in stitu to Histórico e Geográfico Brasileiro — Vol. 297,
out./dez. 72, pp. 3-50.
8 G raças aos bons ofícios do Embaixador Afonso Arinos de Mello Franco
Pilho, 0 advogado lisboeta Fernando de Abranches Ferrão fez chegar
às nossas maos exem plar dos E statutos da Associação dos Advogados
de Lisboa, aprovados por portaria de 23 de março de 1838, e comple­
m entados por um Regim ento In terno datado de 26 de novembro de
1856. A sem elhança da Ordem brasileira, a de Portugal só seria criada
em 1930, tendo como um de seus próceres Antonio de Abranches
Ferrão, pai de Fernando de Abranches Ferrão.

11
I
estatutos de um a nova associação.^ Foi designada, em. data que
não se pode m ais precisar, a Comissão encarregada de preparar
os estatutos, da qual participaram os Drs. Caetano Alberto Soaxes,
Luiz Fortunato de Brito e Abreu Souza Menezes, José Maria Fre­
derico de Souza Pinto, Augusto Teixeira de Freitas, Antonio Pe­
reira Pinto, Josino Nascim ento Silva e José Thomaz de Aquino.
Submetido à aprovação do Governo Imperial, o Aviso de 7 de
agosto de 1843 concede a aprovação, nos seguintes termos:

“Sua Majestade o Imperador, deferindo benigna­


m ente o que lhe foi apresentado por diversos advogados
desta Corte, m anda pela Secretaria do Estado dos Negó­
cios da Justiça aprovar os Estatutos do Instituto dos
Advogados Brasileiros, que os Suplicantes fizeram subir
à sua Augusta presença, e que com este baixam, assi­
nado pelo Conselheiro Oficial Maior da mesma Secreta­
ria de Estado; com a cláusula, porém, de que será
também submetida à Im perial Aprovação o regula­
m ento interno de que tratam os referidos estatutos.
Palácio do Rio de Janeiro, em 7 de agosto de 1843.
Honorio Hermeto Carneiro Leão.”

A 21 de agosto de 1843, reúnem-se vinte e seis advogados,


convocados pelos fundadores através dos Jornais, em casa de Ara-
gão, às quatro horas da tarde, e aí foram aclamados presidente
e secretário da assembléia, respectivamente, o Dr. Francisco Gê
Acaiaba de Montezuma e o Dr. Josino Nascim ento Silva, tendo
como escrutinadores os Drs. Caetano Alberto Soares e José Pedro
da Fonseca. Foi eleita por m aioria a primeira direção do Instituto,
composta de Montezuma, presidente, e Josino, secretário, Nicolau
Rodrigues dos Santos França Leite, tesoureiro, e para o Conselho
Diretor Luiz Fortunato de Brito e Abreu de Souza Menezes, Fran­
cisco Inácio de Carvalho Moreira, Francisco Thomaz de Figueiredo
Neves, José Maria Figueiredo de Souza Pinto, Augusto Teixeira de
Freitas, Caetano Alberto Soares, José de Siqueira Queiroz, Dias da
Mota, Luiz Antonio da Silva Nazareth e Fausto Augusto de Aguiar.
Deliberou ainda a assem bléia fazer a instalação solene do Insti­
tuto no dia 7 de setembro, e conferir a Aragão o títu lo de presi­
dente honorário.

4 P ara a criação e desenvolvimento do In stitu to dos Advogados Brasi­


leiros, V. Alfredo B altazar da Silveira — Memória Histórica de sua
Fundação e de sua Vida — Os seus 25 Presidentes. Rio de Janeiro,
1944, 249 pp. Arm ando Vldal — O In stituto da Ordem dos Advogados
Brasileiros. In Livro do Centenário dos Cursos Jurídicos (1827-1927).
Vol. I. Rio de Janeiro, 1928, pp. 375-430. A análise deste trabalho sobre
a fundação do In stitu to dos Advogados Brasileiros baseia-se nos dois
estudos acima referenciados.

12
A instalação solene do Institu to realizou-se no Colégio Pedro
n , cedido pelo Gtoverno Imperial pelo Aviso de 31 de agosto de
1843 do M inistro do Império. Estavam presentes o M inistro da
Justiça, Conselheiro Honorio H enneto Carneiro Leão, o M inistro
dos Estrangeiros, Paulino José Soares de Souza, o M inistro da
Marinha, Conselheiro Joaquim José Rodrigues Torres, o Conse­
lheiro Aragão, membros do corpo diplom ático, do corpo legislativo
e da m agistratura. O Presidente Montezuma proferiu discurso
brilhante que, segundo Armando Vidal, "em oitenta e quatro anos
de existência só é excedido pelo discurso proferido pelo Conselhei­
ro Rui Barbosa, ao tom ar posse, como membro efetivo a 8 de maio
de 1911”.'^
O discurso de Montezuma é um a análise com pleta da profissão
do advogado desde a antigüidade, e se inicia com solenes agrade­
cim entos ao jovem Imperador que “tem se dignado favorecer a
Ordem, que vai ser organizada em proveito geral do Estado e da
Ciência da Jurisprudência. Ela, Senhores, não só saberá zelar o
subido valor que acaba de receber do Imperante, m as desvelar-se-á
por tom ar-se digna, em todas as épocas de sua existência, da m ais
plena e imperial confiança”.
Em seguida, trata, m inudentem ente, do exercício da advocacia
em vários países, para em seguida, referindo-se ao Brasil, afirmar:

“Senhores, se é preciso algum a prova m ais da u tili­


dade do Institu to que hoje instalam os, que se atente
para o estado de confusão em que se acha toda nossa
legislação, civil, crim inal, m ercantil e adm inistrativa, e
sobretudo a Praxe do nosso Foro, n a qual se tem intro­
duzido m il abusos, que o tom am disforme. Oriundo o
nosso IMreito Pátrio da Nação de quem n os separamos,
e obrigados a fazer nele as alterações que a ocasião tem
reclamado, sem a conveniente oportunidade para o
rever inteiram ente, e formar dele um corpo de legisla­
ção consoante em todas as suas Partes, e digno das luzes
do século em que vivemos, e de acordo com os melhora­
m entos hoje adotados pelas Nações m ais adiantadas na
escala da civilização; o país, Senhores, pode dizer-se
que não tem legislação própria, tudo está por fazer.
Ainda nos rege, como vós sabeis, o antigo Direito Lusi­
tano. Em si mesmo despido de unidade, pelo que respei­
ta à doutrina, e de uniformidade relativam ente aos
diversos pontos do Império Português, cumpre por amor
do objeto que m e proponho, distingui-lo em tantas
quantas são as idades históricas deste Povo célebre.”

Armando Vidal — op. cit., p. 397.

13
E adiante ressalta a im portância da Ordem dos Advogados :

“De quanto vos tenho exposto, Senhores, resulta:


1 ° Que a Ordem dos Advogados, tão antiga como o
m undo civilizado, foi sempre, em todos os Países, eno­
brecida pelas m ais distintas honras, e preem inências
em conseqüência de serviços que prestou sempre à So­
ciedade; 2.° Que su a posição é m ais influente, e ilustre,
onde as Instituições políticas se apartam do Regime
absoluto, e são conformes com o Governo Representa­
tivo; que nos Países em que o Povo não tem direitos
políticos, e é só contribuinte; 3.® Que em todas as Na­
ções o Legislador tem regulado as funções do Advogado,
não só pelo que respeita a nobreza, e direitos a ela
inerentes, e de que deve gozar esta Profissão; como
também dos deveres, que dela exige o bem-estar da
Sociedade; 4.® Que nos Países m ais civilizados, os Ad­
vogados constituem um a Ordem independente, susten­
tada e protegida pelos poderes políticos do Estado: E
n a verdade, não pode deixar de ser altam ente estim ada,
e investida de honras, e distintos privilégios, um a Pro­
fissão, cujo tim bre está sublim em ente enunciado na
Epígrafe adotada por Mr. Dupin, no seu Discurso de
Abertura das Conferências, como Presidente: “Tout
droit blessé trouverá parmi nous des défenseurs.”

Dispunham os dois artigos iniciais do estatuto da nova ins­


tituição:
“Art. 1 ° — Haverá n a capital do Império um Instituto com o
título — Instituto dos Advogados Brasileiros — do qual serão
membros todos os bacharéis de direito que se m atricularem dentro
do prazo marcado no regim ento interno, onde igualm ente se
determinarão o número e qualificação dos membros efetivos,
honorários e supranumerários residentes na Corte e nas províncias.
Art. 2.° — O fim do Institu to é organizar a Ordem dos Advo­
gados, em proveito geral da ciência da jurisprudência”.
Não faltaram logo as iniciativas para estabelecer o desiderato
fixado no art. 2.° dos estatutos da instituição.
Nas palavras de Aurelino Leal “em 1848, o Instituto delibera
recorrer à Câmara dos Deputados, para que lhe satisfaça o intuito
estatutário. Em 1850 o assunto é tratado com carinho, e Monte-
Q o discurso de Montezuma está transcrito no volume n.° l — Ano I —
Tomo I — da Revista do Instituto da Ordem dos Advogados Brasi­
leiros, pp. 67-116, e que foi reeditado em edição fac-sim iJar no núm ero
especial — Ano X I — 1977 —, da Revista do in stitu to dos Advogados
Brasileiros, adm inistração do Dr. Eduardo Seabra Fagundes e sob a
coordenação do Dr. José M otta Maia.

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zuma pronuncia um erudito discurso, justificando a criação. Em
1851 os horizontes se m ostram promissores, com o projeto apre­
sentado e aprovado no Senado, m as detido em sua marcha, na
Câmara dos Deputados. Km 1852, Caetano Alberto tom a a agitar
a questão, que se discute até 1853; ainda em 1857 discursa a pro­
pósito diante do M inistro da Justiça. Em 1865, o Instituto repre­
senta ao Governo; o Conselho de Estado apóia a petição, e, no
entanto, nada se consegue. Mais curioso ainda se revelará esse
fato, se se puser em destaque que o Instituto esteve sempre em
condições de influir nas decisões do governo. Para não falar nos
seus membros que passaram só pelo Senado e pela Câmara impe­
riais, basta aludir aos que foram M inistros de Estado” ."
As atas das sessões do Instituto dos Advogados de 17 de março,
7,18, 25 e 28 de abril e 9 de m aio de 1853, docum entam a discussão
de projeto de lei relativo à organização da Ordem dos Advogados
do Império, do qual era relator da comissão nomeada para revê-
lo Perdigão Malheiros.®
Em 1866, no gabinete liberal do Marquês de Olinda, sendo
José Thomaz Nabuco de Araujo M inistro da Justiça, a idéia vol­
tava à discussão. “Ao m esm o tem po que o m inistério público,
propunha Nabuco a criação da Ordem dos Advogados, como pro­
vidência conexa, por m eio de institutos nas cidades onde existis­
se Relação. Nem a m agistratura se podia reformar sem a reforma
da profissão irmã, que a inspira, e de algum modo a dirige, e
que participa do seu caráter. Sem a criação da Ordem “que se
governe a si m esm a por m eio de seus m andatários e possa pela
inspeção, pela disciplina, pela em ulação, m anter a ordem, a glória,
as tradições da profissão”, vivendo os advogados isolados, a pro­
fissão não teria independência em relação à autoridade. O In sti­
tuto dos Advogados Brasileiros pedia a criação da Ordem, como
£e vencera no Senado em 1851, e apresentara um projeto. Na
capital existia esse Institu to desde 1843, m as não tin h a caráter,
não era a organização da classe, nem exercia autoridade algum a
sobre ela. O Instituto, porém, nunca prosperara e era apenas uma
tradição incentivada pelo zelo e dedicação de alguns de seus fun­
cionários, que se vangloriavam do títu lo de advogado." ^
Na sessão legislativa de 20 de agosto de 1880 Saldanha Ma­
rinho apresentava projeto de lei, subscrito tam bém por Batista
Pereira, visando à criação da Ordem. Pedindo a palavra, declara
■Discurso de Aurelino Leal como orador oficial do Institu to dos Advo­
gados cm 7 de setem bro de 1915, publicado no Jo rn al do CommçrciQ
de 8 de setembro de 1915, apud Arm ando Vldal, op. cit., p. 285.
8 Revista ãa Ordem dos Advogados Brasileiros, ano II, Tomo II, n.° 2,
abril/m aio 1853, pp. 123 e seguintes. Edição fac-sim ilar editada como
núm ero da Revista do In stitu to dos Advogados Brasileiros, n.° espe­
cial, ano XI, 1977.
9 Joaquim Nabuco — Um Estadista do Império. Volume único. Rio,
Aguilar, 1975, p. 557.

15
que oferece projeto relativo à organização do Institu to da Ordem
dos Advogados e elaborado pelo mesmo Instituto, projeto que, na
qualidade de representante da nação, apresenta, com o Presidente
daquela associação. Observa que as idéias contidas no projeto são
absolutam ente aceitáveis, embora possam ser modificáveis por
parecer à Câmara. Em todo caso, cumpre que algum a providência
£eja tomada nesse sentido. Embora não tivesse esperanças de ser
o projeto adotado ou m esm o discutido, supunha que iria avolumar
ainda m ais as pastas das comissões, onde o projeto de casam ento
civil, e tantos outros que contêm im portantíssim as idéias de ele­
vado alcance social até hoje não mereceram atenção, nem das
ilustres com issões, nem do governo imperial.
O projeto declarava que as profissões de advogado e solicita­
dor constituíam m únus público que só poderia ser exercido por
cidadãos brasileiros, eram profissões distintas e não poderiam ser
exercidas cum ulativam ente. Tratava das incom patibilidades e dos
impedimentos, do regim e de inscrição no livro de m atrícula, e
declarava que haveria no distrito de cada relação um Instituto
com o títu lo de Institu to da Ordem dos Advogadas, com assento
n a capital onde estivesse colocada a relação. Seriam membros
do Instituto todos que nos respectivos distritos exercessem legal
e efetivam ente a advocacia.
Em cada um a das referidas capitais seria organizado um
Conselho com o títu lo Conselho Adm inistrativo D isciplinar da
Ordem dos Advogados, o qual seria composto de um presidente,
um secretário, um tesoureiro e vogais na proporção seguinte:
vinte n a Corte, nove nas capitais com m ais de trinta advogados
e cinco nas outras.
O Conselho nom earia em cada comarca, dentre os advogados
a li residentes, um delegado para coadjuvá-lo no desempenho de
suas atribuições. Dispunha, ainda, que ao Institu to com petia pro­
mover por todos os m eios ao seu alcance o estudo da jurispru­
dência, eleger o Conselho Adm inistrativo Disciplinar, deliberar
sobre contribuições extraordinárias e tom ar contas anualm ente
ao Conselho Adm inistrativo da gestão econômica. Competia ao
Conselho fazer a m atrícula dos advogados, remeter anualm ente
ao governo e às autoridades judiciais e policiais um a lista dos
advogados m atriculados e exercer a vigilância que a honra e os
interesses da Ordem reclamarem, representando, e pedindo aos
Conselhos com petentes providências a bem dela. Tratava, afinal,
o projeto detalhadam ente do regim e disciplinar da classe, poden­
do o Conselho impor as penas de m ulta, advertência, censura,
suspensão do exercício por tempo não excedente a um ano e can­
celam ento da matrícula.^®
10 V. Anais da Câmara dos Deputados — sessão de 20-08-1880, pp. 334 e
seguintes.

16
o projeto não teve andamento. O Império se extinguida,
assim , sem que vingasse a criação da Ordem dos Advogados.
Com a República, fazem-se novas ten tativas: em 1&04, Franklin
Doria, Barão de Loreto, apresentava ao Instituto dos Advoga­
dos um “Esboço de Projeto de Lei sobre o exercício das profissões
de advogado e solicitador perante a Justiça do D istrito Federal e
a Justiça Federal da República”.
O projeto estabelecia no art. 1 ° que o exercício das profissões
de advogado e solicitador perante a Justiça do D istrito Federal e
a Justiça Federal da República seria r e ^ la d o ^ la s disposições
da presente lei, considerava as duas profissões distintas m as po­
dendo ser exercidas cum ulativam ente; dispunha sobre as condi­
ções para a inscrição no quadro de advogados, as incom patibili­
dades para as profissões de advogado e solicitador, deveres de um
e outro e a respeito da criação da Ordem, que seria constituída
por todos os advogados inscritos no quadro, gozando de persona­
lidade jurídica, como Assembléia Geral da Ordem, o Ooniselho
composto de nove membros, inclusive o Presidente, o primeiro
Secretário, Tesoureiro, e, ainda sobre condições do processo de
Inscrição nos quadros.^^
Coube ao Deputado Celso Bayma, em 14 de setembro de 1911,
apresentar à Câmara dos Deputados projeto de lei, criando a
Ordem dos Advogados Brasileiros, constituída por todos os advo­
gados inscritos no quadro, e com a finalidade de discutir e resolver
todas as questões concernentes à doutrina e prática do direito, e
especialm ente ao exercício da advocacia. Incum bia-lhe estudar
todos os assuntos que dissessem respeito ao seu objeto e responder
às consultas do Governo e das autoridades constituídas.
A adm inistração da Ordem ficava a cargo de um presidente,
de um vice-presidente, e de um secretário-geral, de um 1.® secre­
tário, de um 2.° secretário e de um tesoureiro, um orador e um a
comissão g^ral com posta de cinco membros. Comporiam o Con­
selho Administrativo da Ordem o presidente, o secretário-geral,
0 tesoureiro e os cinco membros dà Comissão Geral, cabendo a
este Conselho gerir o patrim ônio da Ordem e resolver sobre todos
os assuntos que entendam com a adm inistração e econom ia da
corporação.
Haveria uma Assembléia Geral, composta de todos os mem­
bros da Ordem, a quem com petia eleger anualm ente o presidente
e dem ais membros da adm inistração e do Conselho, organizar o
regim ento interno e autorizar a aquisição e alienação de bens.
Para a adm issão ao quadro da Ordem dos Advogados era
necessário ser cidadão brasileiro, estar isento de culpa e pena, ter
A síntese do projeto está em Armando Vidal — A Ordem dos Advo­
gados do Brasil. Rio de Janeiro, Revista dos Tribunais, p. 249. O livro
de Armando Vidal é excelente repositório de informações sobre os
antecedentes da Ordem.

17
o curso de direito em qualquer das faculdades da República ou
ser graduado por universidade estrangeira, oficialm ente reconhe­
cida, e ter exercido a advocacia consecutivam ente por espaço não
inferior a dois anos.
O projeto previa, ainda, a concessão de títu lo de membro,?
honorários a advogados ou magistrados de notória reputação cien­
tífica, e a adm issão de membros correspondentes.
Novo esforço sem êxito, a justificar o com entário de Aure-
iino Leal, falando como orador oficial do Instituto dos Advogados
Brasileiros em 7 de setembro de 1915: “Entretanto, Senhores, não
deixa de ser profundam ente curioso que após setenta e dois anos
de erdstência, não sejamos aquilo que já h á m uito deveríamos ter
5ido.
Ora, isto quer dizer que estam os, infelizm ente, n as mesmas
condições em que nos achávamos naquele ano já distante (1843).
A Ordem ainda não existe, isto é, o Institu to ainda não realizou
o seu fim principal. Eu poderia dizer que o fato depõe das nossas
energias e revela que não tem os sido constantes até o ponto preciso
para a conquista do ideal almejado. Seria porém precipitado
julgam ento”.
E lembrava o número de membros do Instituto que passaram
pelo Senado e pela Câmara Imperial e pelos M inistérios do Impé­
rio, para concluir: “No Império, como n a República, confrades
nossos saíram daqui do Parlam ento investidos da dignidade de
Ministros de Estado, revelaram dedicação pelo Instituto, cobriram
de favores, m as não deram solução à velha questão da Ordem dos
Advogados".
A partir de 1914, novas tentativas se realizaram no sentido da
criação da Ordem. Pode-se especular que a origem desse movimen­
to esteja ligada aos efeitos da Lei Orgânica do Ensino Superior
de Rivadávia Corrêa que, retomando a idéia do en ino livre de
Leoncio de Carvalho, possibilitara a criação de faculdades por
toda parte e a diplomação de grande número de indivíduos, sem
0 necessário preparo profissional.
Alfredo Pinto, em pronunciam ento no dia 16 de abril de 1914,
no Instituto da Ordem dos Advogados Brasileiros, m anifestava-se
favoravelm ente à Ordem; para ele “n o dia em que conseguirmos
conquistar legalm ente as nossas prerrogativas, e organizar o qua­
dro de advogados e seus naturais auxiliares — os solicitadores —
teremos prestado maior serviço à m agistratura do que a nós
mesmos”.^*
Apud Armando Vidal —. op. cit., p. 233.
13 Aurellno Leal, apud, Idem, Ibidem., p. 385.
14 Alfredo Pinto — A Ordem dos Advogados. Rio de Janeiro, Jornal do
Commercio, 1914, Apud Armando Vidal — Idem, ibidem.

18
No Instituto da Ordem dos Advogados Brasileiros é apresen­
tado em 6 de m aio de 1914 projeto, tendo como relator Aurelino
Leal, e como colaboradores João Marques, J. Canuto de Figueiredo
e Esmeraldino Bandeira. A Comissão de Justiça e Legislação da­
quele órgão apresenta em seguida novo projeto, sendo relator
Alfredo Pinto, e membros da Comissão: João Marques, Canuto
Figueiredo, Esmeraldino Bandeira e Teodoro de Magalhães. Esta
Comissão tom a a liberdade de propor ao Instituto “que tais pro­
jetos e emendas sejam reunidos em síntese em um novo projeto,
composto de poucos artigos; de modo que, aceitas pelo Congresso
Nacional as idéias capitais sobre a criação da Ordem dos Advo­
gados, fique esta então habilitada a propor ao Governo o seu
Estatuto, no qual serão condensadas todas as disposições de cará­
ter puram ente regulam entar como eram efetivam ente m uitas das
em endas oferecidas pelos doutos colegas.
Se o Instituto abandonando esse alvitre quiser elaborar um
projeto com pleto e que deva abranger a estrutura geral do In sti­
tuto a criar — é claro que obterá um resultado negativo pela
possibilidade de uma Intérmina discussão em tom o dos pontos
secundários.” "
Armando Vidal preparou, para esse projeto, um substitutivo,
reunindo depois os docum entos sobre a m atéria em volum e in ti­
tulado A Ordem dos Advogados do Brasil.
Os projetos enfrentavam inicialm ente os aspectos constitucio­
nais do problema, que constituíram um dos óbices enfrentados
por todos os projetos, qual seja, se seria possível a criação da
Ordem, em face do princípio de liberdade de profissão estabele­
cido na Oonstituição Federal, e o fundam ento teórico de origem
positivista que constituía liua base.
Armando Vidal exam ina no seu trabalho com toda atenção
os aspectos da advocacia, para estabelecer seu caráter de profissão
liberal, sendo lícito ao Congresso Nacional fixar os requisitos
necessários ao exercício da profissão; pois se alegava que, em face
da com petência dos Estados para a organização judiciária, a lei
federal só poderia cuidar da criação do órgão que tratasse do
exercício da profissão perante a Justiça Federal na capital da
República e do D istrito Federal. O projeto Armando Vidal dá
solução adequada a esta questão, prevendo a criação da Ordem
dos Advogados do Rio de Janeiro ta l qual seria constituída por
todos os advogados inscritos nos respectivos quadros, e as Ordens
dos Advogados dos diferentes Estados que seriam organizadas nos
termos da respectiva legislação.
A personalidade jurídica da Ordem é outro ponto sobre o qual
insiste Armando Vidal, mostrando que há total necessidade de
que a Ordem goze dessa personalidade, pois que “não visa à reali-
lij Armando Vidal — Idem, Ibidem, p. 228.

19
zação de objeto de ordem privada. Exerce atribuições que a lei
desloca da órbita do Poder Judiciário para a sua. Não se pode ver
na Ordem um a pessoa privada, nem basta considerá-la como um
órgão de utilidade publica”.
Conclui afirmando que “pareceu-nos necessário e ú til acen­
tuar a personalidade jurídica da Ordem. Ê preciso ter-se em vista
sempre o caráter público desta pessoa jurídica, para que se não
a considerem um tribunal de fam ília, e se lh e reconheçam as
funções judiciárias de que necessariam ente terá de ser inves-
t i d a ” .i«
Em face de todos esses projetos, indagava Aurelino Leal:
“Estaremos à véspera de sucesso ou de m ais um a decepção?”
E em 1928 respondia Armando Vidal: “A decepção que
receava Aurelino Leal se confirmou. Os esforços de Alfredo Pinto,
M inistro da Justiça, não conseguiram vencer a resistência passiva
do Senado, ao qual levara o Senador Mendes de Almeida, em
1916, o projeto aprovado pelo Instituto, em 1915, e do qual fora
relator Alfredo P in t o " ,p o is nenhum dos projetos teve anda­
mento.
E, assim , tam bém a República Velha se extínguiria sem que
vingasse a criação da Ordem dos Advogados.

Armando Vidal — Idem, Ibidem, p. 228.


IT Apud — Idem, O In s titu to . . . , p. 386.
Capítulo II

A CRIAÇÃO DA ORDEM — OS PRIMEIROS ANOS —


A PRESIDÊNCIA LEVI CARNEIRO

Apenas vitoriosa, a Revolução de 1930, e instalado o Govemo


Provisório, quase como “um verdadeiro m ilagre”, seria criada a
Ordem dos Advogados do Brasil.
Na sessão do Institu to dos Advogados Brasileiros, presidida por
Levi Carneiro e realizada em 13 de novembro d&_iaáíX. Edmundo
de Miranda Jordão "expôs suas idéias sobre a lei que cria a Ordem
dos Advogados, apre^íitando projeíò por ele assinado, conjunta­
m ente com Gualter Ferreira, Edgard Ribas Carneiro e Ricardo
Rego:
Art. 1.® — Fica instituída a Ordem dos Advogados
Brasileiros.
Art. 2.° — São membros da Ordem todos os Douto­
res e Bacharéis em Direito, cujos títu los expedidos pelas
Faculdades oficiais ou reconhecidas legalm ente pelo
Governo Federal se acharem devidam ente registrados
nas Secretarias da Corte de Apelação no D istrito Fe­
deral e dos Tribunais de segunda instância dos Estados
e do Território do Acre.
Art. 3.° — Som ente os membros da Ordem poderão
exercer a representação em Juízo, contencioso ou ad­
m inistrativo, cível ou crim inal, com respeito à petição
inicial, artigos, apelações, recursos e julgam entos pe­
rante qualquer autoridade judiciária do país.
Art. 4.° — Nos m unicípios, em os quais não existam
membros da Ordem, ou por im pedim ento comprovado
não possam funcionar, serão adm itidos a advogar as
pessoas provlsionadas pelos Tribunais Superiores dos
respectivos Estados.

21
Art. 5.° — A presente lei vigorará, independente­
m ente de regulam ento, o qual, no entanto, deverá ser
expedido por Decreto Governamental, dentro de três
m eses a contar da publicação desta lei, estabelecendo
as penas disciplinares e outras providências que se tor­
narem necessárias à boa adm inistração da Justiça, de­
vendo aquele regulam ento ser elaborado pelo Instituto
da Ordem dos Advogados Brasileiros e submetido à
apreciação do Governo Federal, que o modificará ou
aprovará como entender conveniente aos interesses da
coletividade.
Sala das Sessões, 13 de novembro de 1930. Edmundo
de Miranda Jordão, Gualter Ferreira, EJdgard Ribas
Carneiro, lücardo Rego.’’

Nessa mesma sessão Astolfo de Rezende propôs um voto de


aplausos pelo decreto que suprim iu os julgam entos secretos.' Ora,
este decreto era exatam ente o Decreto de novembro
de 1930.que organiza a Corte de Apelação e que tem como con­
siderandos:
“Atendendo à necessidade de prover ao m elhor fun­
cionam ento da justiça local do Distrito Federal, fazendo
equitativa distribuição dos feitos, normalizando o de­
sem penho dos cargos judiciais, diminuindo os ônus dos
litigantes, em busca do ideal da justiça gratuita, presti­
giando a classe dos advogados, e enquanto não se faz a
definitiva reorganização da Justiça”,

e que dispõe como artigo 17:


“Fica criada a Ordem dos Advogados Brasileiros,
órgão de disciplina e seleção dos advogados, que se rege­
rá pelos estatutos que forem votados pelo Instituto dos
Advogados Brasileiros, com a colaboração dos Institutos
dos Estados, e aprovados pelo Governo.”

O debate sobre um dos tópicos do decreto — a supressão dos


julgam entos secretos — leva à conclusão de que, por certo, eram
conhecidos alguns dos tópicos principais da reforma que se pre­
tendia empreender n a Justiça do D istrito Federal. Por outro lado,
reconheceu Levi Carneiro que nem houvera tem po do M inistro da
Justiça receber o ofício encam inhando o projeto encabeçado por
Miranda Jordão, e já era editado o Decreto 19.408.
A origem do dispositivo é de outra fonte. De fato, coubera a
André de Faria Pereira, então Procurador do D istrito Federal,
1 Boletim ão Instituto dos Advogados Brasileiros.

22
contando com o apoio de Oswaldo Aranha, M inistro da Justiça,
a idéia da iniciativa. André de Faria Pereira, pelo m enos duas
vezes, veio a público, restabelecendo a verdade dos fatos, em
documentos que merecem ser transcritos na íntegra. A primeira
vez, por ocasião da sessão comemorativa do 2 0 ° aniversário de
criação da Ordem, em carta dirigida ao presidente da instituição,
Haroldo Valladão:

“Rio de Janeiro, 21 de novembro de 1950.

Exmo. Sr.
Professor Haroldo Valladão
M. D. Presidente do
Conselho Federal da
Ordem dos Advogados do Brasil
Nesta

Saudações atenciosas.

D istinguido por V. Excia., como convidado de honra,


para assistir à sessão comemorativa do 20.° aniversário
de criação da Ordem dos Advogados do Brasil, tive a
grande satisfação de comparecer a essa solenidade,
prestigiada pela presença de representantes dos altos
Poderes da República e pelos expoentes máxim os da
M agistratura e da Advocacia. Os eloqüentes discursos
proferidos, salientando o prestígio conquistado pela
Ordem, nesses vinte anos de profícua existência, fixa­
ram os traços fundam entais de sua história e os nomes
dos benem éritos advogados que, durante longos anos,
lutaram pela sua criação. Notei, entretanto, uma certa
imprecisão dos oradores na fixação da verdadeira origem
do artif^o 17 do Decreto n.° 19.408, de 18 de novembro
de 1930, que criou a Ordem dos Advogados e, melhor
esclarecendo, julguei do m eu dever trazer o m eu teste­
m unho pessoal, para que a história traduza a verdade
inteira dos fatos. Surpreendido com a m inha reintegra­
ção, por decreto da Junta Governativa de 30 de outubro
de 1930, no cargo de Procurador-Geral do Distrito Fe­
deral, de que fora ilegalm ente exonerado pelo Presidente
W ashington Luiz, sugeri a Oswaldo Aranha, logo que
ele assum iu o cargo de M inistro da Justiça, do Governo
Provisório, a necessidade de se modificar a organização
da então Corte de Apelação, visando normalizar os seus
serviços e aum entar a produtividade de seus julgam en­
tos, Concordando com a idéia, pediu-m e o M inistro que
organizasse um projeto de decreto e eu, conhecendo bem,

23
como antigo sócio do Instituto dos Advogados, a velha
aspiração dos advogados e as baldadas tentativas para
sua realização, bem como, impressionado com o despres­
tígio a Que descera a classe, preparei o projeto e incluí
n ele o dispositivo do art. 17, criando a C ^ em dos Advo­
gados, e o subm eti à crítica de um único colega, hoje
respeitado M inistro do Supremo Tribunal Federal —
Edgard Costa, que sugeriu algum as medidas, que foram
adotadas, entre elas, a de supressão do julgam ento se­
creto, na Corte de Apelação, antes intix^duzáda na
legislação.
Levei o projeto a Oswaldo Aranha, que lhe fez uma
única restrição, exatam ente no artigo 17, que criava a
Ordem dos Advogados, dizendo não dever a Revolução
conceder privilégios, ao que ponderei que a instituição
da Ordem traria, ao contrário, restrição aos direitos dos
advogados e que, se privilégio houvesse, seria o da dig­
nidade e da cultura.
Discutíam os, o M inistro e eu, esse ponto, do projeto,
quando chegou Solano Carneiro da Cunha, como eu,
depositário da amizade e confiança de Oswaldo Aranha,
que, felicitando-m e pela oportunidade da idéia, reforçou
m eus argum entos, aceitando o Ministro, integralm ente,
o projeto, levando-o, na m esm a tarde, ao Chefe do Go­
verno Provisório, que o assinou, im ediatam ente, sem
modificação de um a vírgula. Trazendo m eu testem unho
a respeito daquele dispositivo, que criou a Ordem dos
Advogados do Brasil, não viso reivindicar glórias para
m eu nome, desde que a m inha intervenção resultou de
mero acidente na m inha vida profissional, isto é, encon­
trar-se n a pasta da Justiça — ao voltar eu ao cargo de
que fora esbulhado e cuja reintegração estava pleiteando
em Juízo — Oswaldo Aranha, a quem m e ligavam laços
de fam ília e velha amizade, e a cujo espírito público e
inteligência se deve a assinatura daquele decreto com o
dispositivo criando a Ordem dos Advogados do Brasil.
Os serviços que a Ordem tem prestado — saneando,
disciplinando e defendendo a classe dos advogados e
punindo seus membros faltosos •— são notáveis e já
proclamados pela consciência coletiva, e o seu crescente
prestígio constitui m otivo de orgulho para todos que
trabalharam para sua criação e colaboram na realiza­
ção de seus patrióticos objetivos.
Queira V. Excia. receber a segurança do alto apreço
e distinta consideração do colega, que se orgulha de
pertencer à classe dos advogados brasileiros, depois de
haver ocupado elevados cargos da M agistratura e do
M inistério Público.” ^

A segunda, por ocasião do 25.® aniversário, em exposição en­


cam inhada ao Conselho Federal em 1955:

“Exmo. Sr. Presidente do Conselho Federal da Or­


dem dos Advogados.®

Senhores Conselheiros:

Ao completar a Ordem dos Advogados do Brasil um


quarto de século de sua existência, a 18 do corrente,
recebi do nosso preclaro Presidente a incum bência de
proferir algum as palavras em comemoração a essa glo­
riosa efeméride e, não se tendo realizado, naquele dia,
por motivos óbvios, um a sessão especial comemorativa,
desempenho-me hoje desse grato dever.
Indagando de m im m esm o que m otivos teriam le­
vado o nosso em inente bastonário a essa preferência,
que a outros m elhor credenciados deveria caber, só en­
contrei, como justificativa, os m eus precedentes ligados
à criação da nossa Instituição e a m inha devoção à
nobre m issão social do advogado e à s prerrogativas e
ideais da classe, a que m e incorporei, ao deixar os
bancos acadêmicos, já lá vão quarenta e oito anos, e
n a qual m e reintegrei, já ao fim da jornada, depois
de ocupar destacadas posições na M agistratura e no
M inistério Público.
Dando desem penho hoje àquele m andato, que cons­
titu i, para m im , legítim o títu lo de honra, suponho cor­
responder aos seus objetivos procurando esclarecer o
m arco inicial da nossa organização legal, embora, para
tanto, tenha que violentar os sentim entos de invencível
m odéstia, que sempre orientaram m inha vida. Não viso,
focalizando atos que pratiquei, exaltar o próprio méri­
to, nem ostentar vaidade, que seria legítim a, mas
afastar dúvidas a respeito da criação da Ordem dos
Advogados e restabelecer a verdade histórica em assun­
to de tam anha m agnitude para nossa classe. A idéia
da criação da Ordem, nascida com a fundação do cen­
tenário do Instituto dos Advogados Brasileiros, perma­
neceu m ais ou m enos estática até que tom ou vulto, já
no regim e republicano, com a atuação de dois grandes

2 Arquivo do Conselho Federal da OAB.


3 Miguel Seabra Fagundes.

25
advogados, de saudosa memória, Alfredo Pinto e Aure-
lino Leal, e do Senador Fernando Mendes de Almeida,
que apresentou na Câmara Alta um projeto a respeito,
logo impugnado sob o fundam ento de ser contrário à
Constituição, por isso que, segundo se alegava, conferia
privilégio à classe dos advogados.
Coube, então, ao saudoso Moitinho Dória, campeão
m agnífico da idéia em marcha, defendendo o projeto,
perante a Comissão de Legislação e Justiça do Senado,
a que foi admitido, demonstrar a sua perfeita constitu-
cionalidade. Arquivado o projeto xiâs pastas das Q)mis-
sões legislativas, não se cuidou m ais do assunto até que,
poucos dias após a vitória da revolução de 1930, foi
criada a Ordem dos Advogados pelo art. 17 do Decreto
19.408, de 18.11.1930. Aí a m inha intervenção decisiva,
ainda hoje ignorada pela maioria da nossa classe.
Ainda agora, repetindo o equívoco, a douta Comis­
são nomeada por este colendo Conselho para consolidar
a legislação reguladora da Ordem dos Advogados do
Brasil, constituída pelos em inentes Conselheiros Nehe-
mias Gueiros, Themistocles Marconde'? Ferreira e Alber­
to Barreto de Melo, apresentando seu bem elaborado
anteprojeto, que está recebendo gerais aplausos, de:1a-
rou, na sua exposição de motivos, que — o projeto de
lei primitivo para criação da Ordem dos Advogados do
Brasil foi oriundo do Instituto dos Advogadas Brasilei­
ros, de que foi relator Edmundo de Miranda Jordão —
e registrou, em primeiro lugar, entre os maiores criado­
res da gratidão da classe, por esse memorável feito, o
nome de Levi Carneiro, seu primeiro Presidente.
A douta Comissão traduziu, certam ente, nessa de­
claração, um a impressão generalizada nos meios jurídi­
cos desde a criação da Ordem, m as o próprio Levi
Carneiro a contestou, quando, ao proferir o discurso
comemorativo do 20.° aniversário da Ordem dos Advo­
gados, em 18 de novembro de 1950, referindo-se ao
citado Decreto n.° 19.408, explicou que Edmundo de
Miranda Jordão, com apoio em outros colegas, lhe apre­
sentara, em Í3 de novembro de 1930, um anteprojeto,
com cinco artigos, sugerindo a criação da Ordem dos
Advogados do Brasil e declarou que — antes mesmo de
chegar às mãos do Ministro da Justiça, Oswaldo Aranha,
o ofício com que lh e apresentava a indicação aprovada
pelo Instituto, fora expedido o decreto reorganizando a
Corte de Apelação, um dos primeiros emanados da re­
volução triunfante, em cujo art. 17 fora criada a Ordem
dos Advogados do Brasil.
Afastou, assim, Levi Carneiro, a autoria do Institu­
to dos Advogados, surpreendido, como foi, com a criação
da Ordem, antes mesmo de chegar seu ofício às mãos
do Ministro do Governo Provisório.
D iante da injustificável om issão de referência ao
verdadeiro criador da Ordem e da estranheza causada
nos meios forenses pela afirmação do orador oficial, —
Levi Carneiro — duplam ente credenciado, por ter sido
àquela época, Presidente do Instituto e, depois, eleito
1.® Presidente da Ordem — de que o providencial pre­
ceito do art. 17 fora ato espontâneo do governo revo­
lucionário, e, ainda, à vista das vagas referências dos
outros oradores da solenidade, Jair Tovar e Décio Mi­
randa, atribuindo-me uma intervenção passiva de sim ­
ples apoio à iniciativa do Ministro, resolvi quebrar o
silêncio, em que me mantivera durante vinte anos, e
m andei ao então Presidente da Ordem, Professor Ha-
roldo Valladão, uma carta restabelecendo a verdade, a
qual, em sessão deste egrégio Conselho, de 5.12.1950,
foi mandada transcrever em ata, ficando, assim, oficia­
lizada a verdadeira história da criação da Ordem dos
Advogados.
Anteriormente, na sessão do Conselho local de 28
de Junho de 1939, o seu em inente Presidente, Justo
Mendes de Morais, mandara transcrever em ata o seu
dissurso em que declarou — graças à ação benfazeja
do Desembargador André de Faria Pereira, que pleiteou
triunfantem ente a nossa criação pelo art. 17 do Decreto
n.® 19.408, de 18.11.1930 — afirmação essa repetida
pelo em inente Desembargador Vicente Piragibe, então
Presidente do Tribunal de Apelação, que falou em nome
da Magistratura.
Ninguém, melhor que eu, Sr. Presidente, sentira a
necessidade de moralização da classe dos advogados,
notadam ente quando exerci, pela primeira vez, o cargo
de Prccurador-Geral do Distrito Federal, na luta tre­
menda que travei contra os maus elem entos da Justiça,
da Polícia e da classe dos advogados. Aquele tempo, não
havia egresso das penitenciárias ou com erciante falido
que não se julgasse com o direito de sobraçar um a pasta
e afrontar o pretório no exercício da m ais degradante
rabulice. A consciência coletiva repelia os intrusos, mas
seus m alefícios desmoralizavam o ambiente a tal ponto
que a função de advogado era suspeitada como de trafi­
cantes irresponsáveis. Os advogahos dignos sofriam a
concorrência dos aventureiros ousados e não havia
meios de evitar a intoxicação causada no meio social

27
pelos elem entos claudicantes, que prosperavam à som­
bra de generalizada irresponsabilidade. Sentindo a ver­
gonha de um a tão degradante situação, com as respon­
sabilidades do cargo de Chefe do Ministério Público, e,
conhecendo os anseios da classe em criar sua Ordem,
como as frustradas tentativas objetivando-a, tive a
fortuna de ser reintegrado no m eu cargo, pela Junta
Revolucionária, assumindo, logo após, o cargo de Minis­
tro da Justiça, o ilustre Oswaldo Aranha, a quem me
prendiam laços de velha amizade e confiança irrestrita.
Aproveitando essa situação, que o destino m e reservou,
e a circunstância de acolher o Ministro m inha sugestão
de reformar os serviços da Corte de Apelação, então
desorganizados, resolvi incluir no decreto, sem insinua­
ção de ninguém , o preceito do art. 17, único que sofreu
im pugnação do Ministro, sob o fundam ento de que a
revolução não concedia privilégios, m as o idealismo e
espírito público de Oswaldo Aranha cederam à m inha
argum entação, reforçada pela oportuna e eficiente in ­
tervenção do autorizado Solano Carneiro da Cunha, que
deu a nota final ao assunto. Tive, assim, a fortuna de
transformar em realidade o sonho quase secular da
classe, praticando o ato de que m ais m e orgulho na
m inha longa vida profissional
A criação da Ordem dos Advogados, naquele mo­
m ento histórico, constituiu um verdadeiro milagre, em
que hoje eu mesmo custo a acreditar. Em verdade, ao
m esmo tem po em que a derrocada das Instituições ras­
gava, pela revolução vitoriosa, a Constituição e as leis
e concentrava nas m ãos do ditador os três poderes cons­
titucionais da República, ferindo o próprio Poder Judi­
ciário, no momento em que a insânia do poder pessoal
se instalava no País, com todas as agravantes do arbL-
trio e da violência, foram subtraídas à centralização
dom inante e entregues a órgãos da própria classe a
disciplina e seleção de seus membros.
Foram, assim, a autonom ia e federalização da classe
dos advogados um galardão precioso para consolidação
da sua independência e dignidade profissional.
De como se houve a Ordem dos Advogados, nestes
vinte e cinco anos vividos, especialm ente no regime
ditatorial, reagindo contra violências, defendendo pro­
fissionais perseguidos, exi»ndo-se a riscos de toda a
natureza em defesa do direito e da liberdade, dão teste­
m unho 0 prestígio conquistado no m eio social e acata­
m ento pelos poderes constituídos, especialmente o Poder

28
Judiciário, remanso e tranqüilo dos anseios populares
€ asilo inviolável da liberdade e da lei.
O trabalho realizado pela Ordem dos Advogados, no
aperfeiçoamento da disciplina da classe e elevação do
seu nível moral e cultural já perm ite que o profissional
invoque com orgulho um título de alta honra, dizendo
— sou advogado!
Não devem este colendo Conselho e os Conselhos
locais permanecer estáticos, embriagados pela glória
dos louros colhidos, m as precisam, m ais que nunca,
prosseguir na cam panha pela elevação do nível moral
e cultural, pela disciplina e independência da classe dos
advogados. A indisciplina e sentim ento de irresponsabi­
lidade reinantes em todos os setores da vida nacional,
a onda crescente de corrupção, causando impressionan­
te desagregação dos valores morais; o desprezo a dogmas
de tradicionais virtudes cívicas dos estadistas, que cons­
truíram a nacionalidade e nos transm itiram o prodi­
gioso legado da nossa unidade territorial e política; as
ameaças de um a mentalidade demagógica, perturbadora
do equilíbrio social e político, estão a reclamar dos
cultores do direito a formação de uma verdadeira cru­
zada cívica em defesa dos bons costumes e dos postula­
dos da ordem pública e s ã moral.
A Ordem dos Advogados, entidade estatal reconhe­
cida pela Constituição como parte com ponente do órgão
encarregado de selecionar candidatos ao ingresso na
M agistiutura e fornecer membros de seus quadros para
formação dos tribunais, se constitui parte integrante do
Poder Judiciário e é colocada, assim, à m esm a altura
do nível m oral e intelectual que caracteriza os Magis­
trados.
A colaboração dos advogados, sempre solicitada
para o trabalho de elaboração das leis, não se pode fazer
esperada, neste m omento, em que a consciência coletiva
reclam a urgente reforma dos institutos de habeas
corpus, recurso extraordinário e mandado de seguran­
ça, que, sendo criados para garantia dos direitos, se
transformou, pelo abuso, em fonte perm anente de ne­
gação de justiça.
Restaurando a verdade histórica da criação da
Ordem dos Advogados, devemos render hom enagem
especial aos advogados que lutaram pela realização
desse nobre ideal da classe, entre os quais devem ser
lembrados, além dos pioneiros da idéia, desde épocas
remotas, o seu nrimeiro bastonário Levi Carneiro, que
dirigiu os trabalhos de regulam entação do texto criador
29
da Ordem, Armando Vidal, autor do projeto do regula­
m ento e seu relator, Edmundo Miranda Jordão, que
formulara gugestão para sua criação, e os que m ais se
destacaram n a elaboração do regulam ento — Justo de
Morais, M oitinho Dória, Arnoldo Medeiros, Augusto
Pinto lim a e Edgard Ribas Carneiro.
Perdoem os nobres colegas se fui forçado a focali­
zar m eus próprios atos, mas, para assim proceder, colo­
quei acim a de natural constrangim ento, o interesse da
verdade histórica da nossa Instituição de classe.
A forma m ais eloqüente para comemorarmos con-
dignam ente um quarto de século de existência da Ordem
dos Advogados do Brasil é firmarmos, Sr. Presidente,
todos os profissionais da classe, sob os auspícios de V.
Excia., .seu digno e autorizado bastonário, um pacto de
honra para defesa das prerrogativas e prestígio do
Poder Judiciário, poder sem armas, que tem resistido,
com o só escudo da sua força moral, a todos os venda-
vais, que têm sacudido as nossas instituições democrá­
ticas, e cuja autoridade cresce na confiança pública em
proporção da dignidade e cultura de seus sacerdotes;
para o aperfeiçoamento das normas de disciplina e se­
leção da nossa classe; para segurança da proteção da
honra, liberdade e propriedade dos cidadãos, entregues
ao nosso patrocínio; para garantia da legalidade e dos
dogmas do regime democrático, contra as ditaduras,
contra o arbítrio e a tirania; para defesa do inestim ável
patrimônio, que nos legaram nossos ancestrais — a
unidade do Brasil — ameaçada no m om ento sombrio,
que estam os vivendo, pelos desvarios das ambições polí­
ticas e incompreensão dos homens; pelo culto aos dog­
m as eternos da verdade, da moral e da Justiça.” *

O Decreto n.° 19.408 de 18.11.1930 determinara, no art. 17,


que a Ordem dos Advogados Brasileiros se regeria pelos estatutos
que fossem votados pelo Instituto da Ordem dos Advogados Brasi­
leiros com a colaboração dos Institutos dos Estados e aprovados
pelo Governo. Assim, tão logo editado o decreto, o Presidente do
Instituto, Levi Carneiro, nomeou uma comissão, composta de A.
Moitinho Dória, Presidente, Armando Vidal, Relator, Edmundo
Miranda Jordão, Antonio Pereira Braga, Edgard Ribas Carneiro,
Gabriel Bem ardes e Gualter Ferreira.® O relator Armando Vidàl
4 Arquivo do Conselho Federal da OAB.
5 O iivro de Levi Carneiro — 0 Livro de um Advogado, Rio, Coelho
Branco, 1943, 478 pp., é um repositório precioso de informações sobre
as tarefas de organização da Ordem e sua brilhante gestão como
primeiro presidente da instituição até 1938.

30
se ocupara com a criação da Ordem e sua regulam entação desde
1915 e assim em poucos dias pôde apresentar projeto, contendo
cinqüenta e dois artigos, que se tom ou praticamente o regula­
m ento então aprovado.^
Apresentado o projeto, a comissão especial reuniu-se quase
diariamente, sugerindo alterações e acréscimos que não afetaram
a orientação e a estrutura do projeto. O relator, encarregado de
redigir o relatório da comissão e o projeto, apresentou-o ao Insti­
tuto a 4.12.1931.
No relatório, a comissão comenta que, sendo a Ordem o órgão
de seleção e disciplina dos advogados e solicitadores do pais, “a
seleção consiste na indicação dos requisitos essenciais para postu­
lar em juízo, isto é, exercer o mandato judicial, matéria essencial­
m ente de direito civil. O Código Civil, no art. 1.325, declara
permitida a procuradoria judicial a “todos os legalm ente habili­
tados” que não proibidos de exercê-la e. nos números I a IV, indica
os que na época considerou proibidos”. O projeto define os requi­
sites para a habilitação legal e os casos de proibição e de impedi­
mentos; proibidos são aqueles que de modo absoluto, por circuns­
tâncias intrínsecas e outras funções que exerçam, não podem
advogar: juizes, serventuários de justiça, corretores, leiloeiros e
outros auxiliares do comércio, etc.; impedidos os que, pela super-
veniência de certos fatos com relação a certas causas ou pessoas,
não podem praticar a procuradoria judicial. O projeto não incluiu
os funcionários públicos civis de modo geral entre os proibidos,
deixando a m atéria para a interdição que seja estatuída pelas leis
de organização administrativa.
Os adv<^ados com requisitos legais e não proibidos serão
todos membros da Ordem, sem qualquer privilégio ou restrição.
Na organização da Ordem foi adotado o critério federativo; o
projeto estaW ece a lei constitucional da Ordem, firmando-lhe os
princípios basilares. Em cada unidade da Federação e no Territó­
rio do Acre, haverá um a seção com absoluta autonom ia quanto à
:ua organização e administração.
Os órgãos da Ordem consistiam n a Assembléia Geral com
funções eletivas e n o Conselho da Ordem dirigido pelo Presidente,
o Conselho sendo órgão de administração, competindo-lhe a orga­
nização do quadro (seleção) e a aplicação das penas (disciplina).
Foi assegurada ampla defesa aos interessados nas questões de
seleção e de disciplina.
O projeto incluiu a realiziação de uma reunião anual dos
Conselhos ou delegados para troca de sugestões e conhecim ento
recíproco das ocorrências anuais. “A Ordem não terá atribuições
de natureza doutrinária; seus fins são a seleção e disciplina dos
® Armando Vídal — A Ordem dos Advogados — Vinte anos de Existência
— Jornal do Commercio — 14-11-50.

31
-que advogam.” E prossegue o relatório da comissão: “O projeto é
um trabalho ponderado, exam inado atentam ente em várias reu­
niões da comissão. Esta evitou qualquer excesso n a seleção. Não
incluiu qualquer prerrogativa para a nossa classe. Atendeu ao
âmbito da ação da justiça. Teve em vista a liberdade e a organi­
zação da Ordem nos Estados. Usou de moderação e ampOas ga­
rantias na aplicação de penas”.
Apresentado o projeto a 4 de dezembro, foi convocada uma
sessão extraordinária no Instituto para 9 de dezembro, iniciando-
se a discussão do projeto e encerrando-a no mesmo dia. Na
discussão tomaram parte Pinto Lima, Levi Carneiro, Letacio
Jansen, Oscar Saraiva e Amoldo Medeiros e os membros da Co­
missão, Ribas Carneiro, Gabriel Bernardes e Miranda Jordão.
Todos esses advogados, salvo Pinto Lima, apresentaram emendas,
assim como os membros da Comissão, e também Costa Lima.
Entre as emendas apresentadas cumpre destacar a de Levi
Carneiro que, quanto ao Conselho da Ordem, o qual se compunha
de dez vogais, m andava incluir como um dos vogais o Presidente
do Instituto da Ordem dos Advogados Brasileiros, ou do Instituto
que venha a ser filiado ao existente no Estado; outros cinco
seriam eleitos dentre seus membros pelo Conselho do Instituto
da Ordem dos Advogados Brasileiros no Distrito Federal, e nos
Estados em que o haja pelo mesmo Conselho do Instituto daquele
filiado. Se algum desses vogais fosse eleito pela Assembléia para
cargo do Conselho, outro vogal seria indicado pelo respectivo
Instituto.
Amoldo Medeiros proporia a criação de um Conselho Supre­
mo da Ordem dos Advogados Brasileiros, constituído pelos que
exerçam ou tenham exercido a presidência ou vice-presidência do
Instituto da Ordem dos Advogados Brasileiros, e pelos presidentes
atuais e futuros dos Institutos estaduais a estes filiados, compe­
tindo representar aos poderes públicos sobre assunto de interesse
geral da Ordem, no intervalo das reuniões anuais do Conselho, e
das sessões, e deliberar, em grau de recurso do Conselho de qual­
quer seção, sobre adm issão ou exclusão de membros do quadro
da Ordem, ou sobre aplicação aos mesmos da pena de suspensão,
se houver diversidade de deliberação a tal respeito pelos Conselhos
Seccionais. Propunha ademais a criação junto ao Conselho Seccio­
nal da capital da República de um a Secretaria permanente da
Ordem na capital federal, para os serviços gerais de informação e
organização do registro nacional dos advogados e solicitadores.
Na sessão de 18 de dezembro o relator Armando Vidal apre­
sentou ao In stitu to o parecer redigido sobre as em endas iniciais,
e m ais as que foram posteriormente encam inhadas à mesa por
Sérgio Teixeira de MacWo e Gualter Ferreira.
T Boletim do Instituto dos Advogados Brasileiros — 1931, p. 278.

32
o parecer grupou as em endas em três séries, as emendas
aceitas, as emendas prejudicadas e as emendas rejeitadas, apre­
sentando ainda a comissão uma quarta série, a de emendas da
própria comissão. Depois de publicado o parecer sobre as emendas,
o Clube dos Advogados apresentou cinqüenta e seis emendas, que
por liberalidade foram encaminhadas à Comissão Especial. O
relator exam inou todas as emendas e sugeriu à Comissão sete
emendas, algum as inspiradas por sugestão do Clube dos Advoga­
dos. Essas emendas foram também assinadas por Francisco Sales
Malheiros e Aurélio Silva, sócios do Clube, o que pretendia signi­
ficar o apoio do Clube ao parecer sobre as emendas.
Na discussão, em segunda sessão extraordinária, o relator
requereu que se votasse primeiro o projeto, ressalvadas as emen­
das, e depois englobadamente as emendas da comissão e as com
parecer favorável, por fim as com parecer contrário e a conside­
radas prejudicadas.
Falaram encam inhando a votação Letacio Jansen, Cândido
Mendes de Almeida, Gabriel Bernardes e sobre as emendas com
parecer contrário Moitinho Dória, que se deteve sobre a questão
do estágio, sobre a qual a comissão não se manife^stara. Pelo
estágio se inclinaram Cândido Mendes, Sergio Macedo, Miranda
Jordão e Letacio Jansen e, em sentido contrário, c s Drs. Gualter
Ferreira e Armando Vidal. O Presidente Levi Carneiro, passando
a presidência ao Dr. Moitinho Dória, manifestou-se contra o
estágio, falando no mesmo sentido o Dr. Murgel de Rezende, e a
favor Haroldo Valladão. A votação de vinte contra dezenove rejei­
tava a adoção da classe de estagiários.
Nessa ocasião, apresentou declaração de voto o Dr. Eurico de
Sá Pereira, * manifestando-se contra o projeto que institui uma
corporação de ofício discipUnadora e selecionadora e declarando
que “por uma questão de princípio; por ser uma instituição de
natureza anti-republicana, de caráter exclusivista, tanto m ais re­
voltante quando atinge um a profissão denominada liberal”. Ci­
tando um longo trecho de A. de Souza Pinto, jurista e sociòlc^o,
que fora membro da Casa, para m anifestar a sua divergência, e
verificando a total incompatibilidade entre as corporações de
ofício e o novo órgão a ser criado, ele apresenta som ente duaa
emendas, a que proíbe ao não advogado advogar no foro criminal,
mesmo em causa própria, e a que estende essa proibição para todo
o foro aos delegados de polícia que sempre advogaram. Termina
dizendo que não se devia imitar a União de Estivadores, na sua
atitude odiosa de impor a seu associado o preço de salário a todo
ele que necessite do serviço de estiva entre nós. A redação final
foi organizada em caráter de urgência e publicada no Jornal ão
Commercio a 9 de janeiro de 1931.
8 Ib id , p. 328.

33
Mas não term inara aí a tarefa do Instituto. O anteprojeto
havia sido remetido ao Instituto dos Advogados dos Estados. A
rapidez dos trabalhos do Instituto não permitiu que os Institutos
estaduais enviassem, a tempo, as sugestões e emendas sobre o
anteprojeto. Contudo, a Comissão ainda examinou e o relator
redi^u parecer sobre as sugestões dos Institutos do Rio Grande
do Sul, Paraná e do Capitão João Faustino da Silva. Posterior­
m ente, Atilio Vivacqua apresentou as sugestões do Espírito Santo,
as quais, com o trabalhe do Instituto de São Paulo, foram enca­
m inhadas ao Ministério da Justiça. O Instituto de São Paulo
constituiu comissão especial composta de Vicente Rao, Cardoso de
Melo e Antonio Moraes Barros, sendo apresentadas valiosas obser­
vações. Remeteu também parecer o Instituto da Bahia, sendo
Presidente Joaquim Marques dos Reis, que declarara que os esta­
tutos como se achavam n a redação final “merecem o franco apoio
0 aceitação do Instituto da Bahia”. A Comissão não deu parecer
Eobre as sugestões do Espírito Santo, São Paulo e Bahia.
Coub3 a Levi Carneiro, em 15 de novembro de 1931, como
! Consultor-Geral da República, emitir parecer sobre o projeto de
regulamento da Ordem dos Advogadas. ^ Depois de historiar os
antecedentes de criação da Ordem, afirmava que: “A Revolução
- deu-lhe, assim, um alto significado, consagrou a relevância. En­
quadrou-a entre as reformas que devem remodelar a nacionalidade.
E não terá errado. Porque a Ordem dos Advogados é um a das
criações necessárias para a moralização da vida pública nacional,
que todos sentim os urgente empreender. Ela será um dos vínculos
poderosos em que se há de iniciar e firmar o sentim ento da uni­
dade nacional, em vez da centralização opressiva, sob a autoridade
absorvente do Chefe da Nação, adequada antes a provocar o esfa­
celam ento da República e os surtos do regionalismo estreito.
Porque ela há de tornar, para uma grande elite de hom ens de
cultura, capazes de benéfica influência na vida pública, uma escola
de ação social e política, desinteressada e fecunda, e de prática
da solidariedade associativa. Porque, enfim, ela poderá ser um
fator de elevação da nossa cultura jurídica.
O zelo da liberdade profissional, proclamada desde os primei­
ros dias da República de 89, despertara por vezes, na vigência da
Constituição de 91, impugnações ao projeto dessa criação. Mas,
em verdade, foi gradativamente perdendo certos exageros o con­
ceito daquela liberdade. Amoldou-se à nossa tradição. Conformou-
se com a exigência dos títulos da habilitação profissional”.
E depois de examinar a experiência de países estrangeiros,
declarava: “Assim, a velha instituição da “Ordem dos Advogados”
ressurgiu, revitalizou-se, com um a destinação política que não
tivera nos dias remotos do seu aparecimento.
9 Apud Livro de um Advogado, pp. 240 e ss.

M
Não é, pois, a obsoleta Ordo advocatorum que evidentemente
não poderia sobreviver através dos séculos, imutável, em meio do
avanço das idéias liberais. Adaptou-se a essas idéias. Corresponde
a um momento diverso da evolução jurídica em que o Direito se
tornou muito m ais difícil e a missão do advogado muito mais
complexa e delicada.
A Ordem não é órgão de interesses privados, de privilégios
odiendos. Não é corporação fechada. 'Ê um órgão como tantos
outros que formam o complexo do estado moderno, um desses
m últiplos entes para statali. Uma criação da idade em que domina
o sindicalismo profissional — que as atividades privadas se coor­
denam e disciplinam sob a orientação dos interesses coletivos,
com preocupações de ordem moral, que o Estado, por si mesmo,
não sabe impor, m as cuja realização se empenha em conseguir de
ta l sorte.
Em nosso caso particular, a Ordem virá dar à classe dos
advogadas um prestígio moral, que os privilégios a ela conferidos,
tornam imprescindível; evitará numerosíssimos e freqüenites
abusos da boa-fé alheia, cometidos por falsos advogados ou por
alguns raros advogados de verdade, indignos de o serem; forta­
lecerá 0 espírito de solidariedade dos hom ens de advocacia, con­
vocando-os ao desempenho de árduos deveres no interesse da
moralidade e da autoridade da sua classe e do país; pennitirá a
ação coletiva para reprimir práticas condenáveis de profissionais
inescrupulosos; formará através de todo o Brasil um a grande
cadeia de hom ens de espírito e de coração, dominados pelos senti­
m entos dos deveres morais da sua profissão; permitirá a organi­
zação de um serviço de Assistência Judiciária completa e eficiente;
assegurará, conforme dispositivo que a mim mesmo ocorreu trans­
ladar da lei búlgara de 1925, a prática do voto secreto obrigatório
nas eleições do Conselho da Ordem, Ela h á de tirar ao nosso foro
a. feição de domesticidade, que, há oitenta anos, o egrégio Monte­
zum a lhe argüia, deixando-o penetrar-se dos altos interesses
sociais que constituem a verdadeira finalidade da ciência jurídica
e das suas aplicações”.
Passando aos pontos específicos, Levi Carneiro analisava as
relações entre a Ordem e o Instituto dos Advogados, mostrando
como elas eram compatíveis e até se completavam, ficando com
a Ordem os aspectos de seleção e defesa da profissão e com o
Instituto os aspectos puram ente culturais e doutrinários. Mostra­
va como essa vinculação se fazia através de proposta sua no
sentido de a escolha de alguns membros do Conselho Superior
da Ordem ser feita pelo Instituto dos Advogados.
Menciona as objeções feitas à Ordem, especialm ente do Dr.
Eurico Sá Pereira, e desfaz os equívocos da argum entação apre­
sentada; analisa as dúvidas de maior procedência que seriam
contra a com petência do legislador federal para estabelecer as

35
regras necessárias à eficiência da Ordem. Considera porém que
essas dúvidas não têm fundam ento e já o perdera na vigência da
Constituição de 24 de fevereiro pela interpretação centrípeta
dom inante, pois o projeto foi zeloso da autonom ia dos Estados.
Regulando sistem aticam ente o exercício da advocacia em todo o
país, seguiu a orientação já traçada pelas leis do ensino superior
e pelo Código Civil.
Por sugestão do Clube dos Advogados do Rio de Janeiro foi
acolhida a sugestão de chamar-se a instituição Ordem dos Advo­
gados do Brasil e não Ordem dos Advogados Brasileiros.
Mostrou Levi Carneiro, rebatendo algum as criticas, como em
relação aos atos da Ordem que decidissem sobre matérias de
direitos individuais como a suspensão e exclusão de advogados,
estaria assegurado o controle judicial.
A classificação jurídica da Ordem é outro aspecto analisado
no parecer. Considera que não seria possível exarar em texto legal
a sua classificação como incluída no quadro do direito público ou
do direito privado, m as conclui dizendo que “há de resultar evi­
dente que a Ordem, formação de índole privada, transcende pelos
altos objetos de sua criação do círculo estrito das relações da
ordem meramente civir’.
Em relação à organização da Ordem, m enciona a criação em
cada Conselho das Diretorias, mostrando que nos Conselhos Esta­
duais, com exceção do Distrito Federal, estes seriam compostos
dos presidentes das subseções. Alude à obrigatoriedade do voto
das assembléias gerais, dispositivo extraído da lei búlgara, bem
como das normas sobre o exercício da advocacia.
Em matéria de estágio, expõe a controvérsia sobre o assunto,
mostrando que ainda não parece aconselhável a sua adoção entre
nós; discute o exercício da advocacia por estrangeiros e examina
o problema dos advogados provisionados e solicitadores, para
afinal tratar da matéria das penas, acentuando que o anteprojeto
se apresentara com cinqüenta e oito artigos, ao passo que o pro­
jeto, por ele formulado, encerra quase o dobro, isto é, cento e oito.
Em 14 dp flAwmhro de 193L o Gtovemo P r Q v js ó r io _ b aiyfl.va. o
Decreto 20.784, que aprovava o regulam ento da Ordem dos Advo­
gados Brasileiros. Esse decreto com modificações posteriores e a
sua consolidação pelo Decreto 22.478, de 20 de fevereiro de 1933,
constituiu o ordenamento jurídico que regulou as atividades da
corporação durante m ais de trinta e dois anos, até a promulgação
da Lei 4.215 em 1963. Os estatutos previstos no artigo 17 do De­
creto 19.408 passavam a ser, assim, o regulamento aprovado por
decreto do Governo Provisório.
O artigo 1.® repetia o disposto no artigo 17 do Decreto-lei
19.408, que a Ordem dos Advogados Brasileiros era o órgão de
seleção, defesa e disciplina da classe dos advogados em toda a
República.

36
o artigo 2 ° continha a definição da maior importância, pois
declarava que a Ordem constituía serviço público federal, ficando
por isso seus bens e serviços e o exercício de seus cargos isentos
de todo e qualquer imposto ou contribuição.
A estrutura federativa da instituição era definida como com­
preendendo um a seção central, com sede no Distrito Federal, e
uma seção em cada Estado e no Território do Acre com sede na
capital respectiva, declarando-se que cada seção teria personali­
dade jurídica própria, com inteira autonom ia quanto à sua orga­
nização e administração, sob as normas do regulam ento então
editado. As seções desdobrar-se-iam em subseções nas várias
comarcas do seu território. O Decreto 22.039 de 11 de novembro
de 1932 retirara aquela expressão seção central, e mencionaria
seção do Distrito Federal, de cada Elstado e no Território do Acre.
O artigo 4 ° declarava que a Ordem exerceria suas atribuições
em todo o território nacional, pelo Conselho Federal e pelo presi­
dente e secretário-geral, e em cada seção pela Assembléia Geral,
pelo Conselho e pela Diretoria, e em cada subseção pela Diretoria
e pela Assembléia Geral.
Caberia aos governos federal e estaduais prover a instalação
condigna da Ordem e seus arquivos, sempre de preferência no
Palácio da Justiça, Foro ou' no edifício do Tribunal Superior.
As condições do patrimônio de cada seção eram determinadas
pelas taxas anuais e de inscrição, pelas m ultas ou contribuições
impostas por bens e valores adquiridos por subvenções oficiais,
por legados ou doações e por quaisquer valores adventícios. Pre-
via-se em cada seção a formação de um fundo de assistência pela
quarta parte da renda líquida apurada, a fim de auxiliar os
membros necessitados, quando inválidos ou enfermos. Ademais,
uma oitava parte da renda líquida de cada seção seria normal­
m ente entregue no Rio de Jaiieiro ao Instituto da Ordem dos
Advogados Brasileiros e nos Estados ao Instituto existente na
localidade, a fim de ser aplicada em prêmios por estudos jurídicos.
O capítulo segundo estabelecia as proibições e impedimentos
para postular em juízo, e o capítulo terceiro tratava da admissão
à Ordem, com todas as condições para o acesso e para o exercício
da advocacia. Eram m inudentem ente regulados os direitos e de-
veres dos advogados profissionais e solicitadores, e tratava-se
adiante das penalidades e sua aplicação.
A organização da Ordem era baseada na constituição da
Assembléia Geral, composta de todos os advogados inscritos na
seção e na subseção, em pleno gozo dos direitos, a quem competia
eleger bianualm ente por escrutínio secreto e voto pessoal obriga­
tório os membros do Conselho da Ordem, autorizar alienação de
imóveis, modificar o regim ento interno, deliberar sobre as ques­
tões e consultas subm etidas à sua decisão, revogar por voto

37
expresso da maioria absoluta dos seus membros o mandato de
qualquer membro do Conselho e da Diretoria.
O Conselho localizado no Distrito Federal era composto de
vinte e um membros, que entre si escolheriam e elegeriam durante
o mandato a diretoria composta de presidente, vice-presidente,
primeiro e segundo secretários, tesoureiro, assim como as comissões
de sindicância e disciplina, cada uma com três membros.
Nos Estados e no Território do Acre, o Conselho se comporia
de três membros, quando a seção tivesse até quinze advogados
inscritos, de cinco até cinqüenta inscritos, de dez até cento e
cinqüenta inscritos e de vinte e um, quando excedido esse número.
O Conselho de cada seção seria formado pelo presidente da sub­
seção da capital e do presidente das demais subseções em ordem
de antigüidade. Esgotada a lista dos presidentes das subseções,
comporiam o Conselho os membros da diretoria da seção da capi­
tal, em ordem de antigüidade, e se ainda assim não fosse formado
o Conselho, seria reduzido o número de seus membros a três, cinco
ou dez, em vez de cinco, dez ou vinte, respectivamente.
A diretoria de cada subseção seria composta do presidente,
vice-presidente, 1.° e 2.° secretários e tesoureiro, podendo ser su­
primidos 08 cargos de vice-presidente e de 1.° e 2 ° secretários
onde o quadro abranger menos de vinte advogados. No Distrito
Federal, dos vinte e um membros do Conselho, dez seriam eleitos
pela Assembléia Geral e os restantes pelo Conselho Superior do
Instituto da Ordem dos Advogados Brasileiros.
No Estado em que houvesse Instituto dos Advogados filiado
ao Instituto da Ordem dos Advogados Brasileiros, competia ao
respectivo Conselho Superior, ou em caso de não haver, à Diretoria,
eleger tantos membros da diretoria da subseção da Ordem na
capital quantos correspondessem à proporção estabelecida para o
Distrito Federal.
Previa o regulam ento que anualm ente, em data previamente
fixada, os Conselhos de todas as Seções reunir-se-iam em Con?elho
Federal, no Distrito Federal, para apresentação do relatório das
principais ocorrências do ano em cada seção, e deliberação sobre
providência a tomar, ou medidas a sugerir aos poderes públicos.
03 Conselhos compareceriam incorporados, ou por delegações
compostas por um ou mais membros do próprio Conselho, ou de
qualquer seção da Ordem, cabendo a cada seção um voto nas
deliberações.
Era atribuição do Conselho Federal eleger o Presidente e o
Secretário-Geral da Ordem, deliberar em grau de recurso sobre
a admissão dos membros, aplicação de pena de suspensão ou can­
celamento de penalidade im posta a qualquer membro, votar e
alterar o código de ética profissional, adotar o modelo das vestes
talares, promover quaisquer diligências ou verificações relativa­
m ente ao funcionam ento da Ordem em qualquer Estado, e adotar

38
as medidas convenientes a bem da sua eficiência e regularidade,
inclusive a designação da diretoria provisória, quando necessário,
organizar o seu regulam ento interno, cassar ou revogar qualquer
legislação de qualquer das seções cu subseções contrária ao regu­
lamento, resolver os casos omissos.
O Conselho Federal seria presidido pelo Presidente da Ordem,
tendo como Secretário o Secretário-Geral, podendo o Secretário-
Geral ter como auxiliares um ou mais membros da Ordem. O
Presidente da Ordem dos Advogados do Brasil e como o Secre­
tário-Geral seriam eleitos pelo Conselho Federal dentre os seus
membros, cabendo ao Presidente representar a Ordem nas soleni-
dades externas e internas, perante os poderes públicos, e em juízo,
e em todas relações com terceiros, ativa e passivamente; velar pela
conservação do decoro e da independência da Ordem e pelo livre
exercício legal dos direitos dos seus membros; convocar e presidir
o Conselho Federal; promover a organização das seções e sub­
seções; adquirir bens móveis e imóveis e alienar bens móveis com
autorização da Assembléia Geral e administrar os bens da Ordem;
superintender todo o serviço da Ordem, nomear e demitir livre­
m ente os empregados da Ordem; promover nas seções da Ordem
a organização do Instituto dos Advogados que visem a fins sem e­
lhantes aos do Instituto da Ordem dos Advogados Brasileiros.
Cuidava, ainda, o decreto da organização da Assistência Judi­
ciária no Distrito Federal, nos Estados e no Território do Acre
sob a jurisdição exclusiva da Ordem,
Dispunha o regulam ento nas disposições transitórias que o
Conselho da Seção do Distrito Federal exerceria as atribuições do
Conselho Federal, e o Presidente do Conselho Federal as do Presi­
dente da Ordem, até que se instalasse o Conselho Federal. Previa
ainda que nos A tad o s e nas comarcas em que até noventa dias
antes da data determinada para início da vigência do regula­
m ento — 1.° de maio de 1932 — não ,se tivesse organizado a
Ordem dos Advogados, o juiz togado da m ais alta hierarquia e
m ais antigo, com dois outros imediatos em antigüidade, assumi­
ria as atribuições previstas no regulamento, organizando o quadro
da Ordem, m antendo as necessárias comunicações com a Secre­
taria permanente e com o Conselho Estadual, e exercendo todos
03 deveres e prerrogativas constantes do regulamento até que se
realizasse a constituição regular da Ordem na localidade.
Previa, ainda, o Decreto 20.781 que enquanto não fosse votado
o Código de Ética Profissional, prevaleceria em cada Seção as
praxes reconhecidas pelo Conselho Federal.
As dificuldades enormes que se apresentaram para a implan­
tação da Ordem em todo o território nacional, levariam ao
adiamento da data prevista, de 1.® de maio de 1932, para entrada
em vigor do Regulamento, sendo baixado então o Decreto 21.296 de
16 de abril de 1932, que a transferiu para 11 de agosto de 1932.
39
Mais tarde, em 1 ° de agosto de 1932, o Decreto 21.689 prorroga
por no :enta dias, a partir de 11 de agosto, o prazo para entrada
em vigor, e, afinal, o Decreto 22.266 prorroga para 31 de março
de 19133 o início da execução do Regulam ento aprovado pelo De­
creto n.® 20.784.
No interregno, o Decreto 21.529 de 1.° de julho de 1932 ampliou
a inscrição no quadro da Ordem dos Advogados Brasileiros, admi­
tindo os bacharéis e doutores em direito, formados por faculdades
sob a fiscalização do governo federal ao tempo da formatura ou
ulteriormente. Previa ainda que os advogados provisionados e
solicitadores que não fossem bacharéis em direito também seriam
admitidos nos quadros da Ordem, expedindo-se a carteira prevista
no regulam ento apenas para o exercício da profissão no território
do Estado respectivo. A situação dos profissionais solicitadores
seria objeto de uma legislação casuística, de modo a atender a
situações específicas, e que tem seus reflexos ainda nos dias de
hoje.
O Decreto 20.784 de 14.12.1931 atribuiu competência ao
Conselho Federal, no art. 84, inciso III, para votar e alterar o
Código de Ética Profissional, ouvidos os Conselhos das Seções e
diretorias das Subseções, determinando ainda no artigo 107 que
enquanto não se votar o Código de Êtica Profissional, prevalece­
rão em cada Seção as praxes reconhecidas pelo Conselho local.
Também o artigo 27 incluía entre as faltas no exercício da profis­
são por advogados, provisionados ooi solicitadores, a infração de
qualquer preceito do Código de Ética Profissional. Esses disposi­
tivos permaneceram na consolidação aprovada pelo Decreto
22.478 de 20.2.1933.
A existência de um Código de Ética Profissional constituía
aspiração já antiga dos advogados; em 1924, no Instituto do,s
Advogados Brasileiras, o então advogado, e depois magistrado,
Magarinos Torres, propunha a nomeação de comissão de cinco
membros, para, dentro de quinze dias, apresentar projeto de códi­
go que servisse de base de discussão. Fizeram parte dessa comissão,
além do proponente. Cândido Mendes, Pereira Braga, Bartolomeu
Portela e Levi Carneiro.
Já anteriormente, o Instituto dos Advogados de São Paulo
aprovara, na sessão de 4 de agosto de 1921, após longos debates,
um Código de Ética Profissional, elaborado por Francisco Morato,
então presidente da instituição, correspondendo a documento de
grande importância. Esse Código foi integralm ente adotado em
1926 pelo Instituto dos Advogados do Rio Grande do Sul.
No Instituto dos Advogados Brasileiros, em 1926, alguns ora­
dores discutiram o assunto, apresentando dois substitutivos, um
de Eduardo Otto Theiler e outro de Pinto Lima, tendo o Instituto
deliberado a elaboração de novo projeto, o que não ocorreu.
40
Em 1930, também no Instituto, Pam philo de Assunção apre­
sentou novo projeto, e tomando por base o código aprovado pelo
Instituto de São Paulo. O Conselho Diretor aprovou, com parecer
de Henrique Castrioto, Presidente do Instituto do Estado do Rio,
um projeto definitivo, remetido ao Conselho Federal da Ordem.
O Conselho Federal tomou conhecim ento desse projeto e nomeou
relator João Mattos.
Na sessão de 30 de maio de 1933 inicia-se a discussão do
projeto, que se prolonga por várias sessões, tendo na ocasião Levi
Carneiro feito longa exposição sobre a matéria, inclusive apresen­
tando numerosas emendas. Participaria ativam ente de toda a
discussão, fazendo constante remissão às regras do Código de
Ética adotado em 1909 pela Associação dos Advogados do Estado
de Nova York.
Afinal, na sessão de 25 de julho de 1934 o Código foi aprova­
do, para entrar em vigor em 15 de novembro do mesmo ano e
permanecendo como tal até os nossos dias, sendo subscrito pelos
seguintes advogados: Levi Carneiro, Presidente; Atilio Vivacqua,
secretário-gerai; Joaquim Ignacio de Almeida Amazonas, presi­
dente da Seção de Pernambuco; Nereu Ramos, presidente da
Seção de Santa Catarina; Francisco Barbosa de Rezende; Targino
Ribeiro, Philadelpho Azevedo, delegação da Seção do Distrito Fe­
deral; Carlos de Moraes Andrade, São Paulo; Leopoldo T. da Cunha
Mello, Amazonas; Dem osthenes Madureira de Pinho, Bahia; Sa-
nelva de Rohan, Alagoas; Eurico Valle, Pará e Acre; Alarico de
Freitas, Espírito Santo; Alberto Roselli, Rio Grande do Norte;
João Villasboas, Mato Grosso; Haroldo Valladão, Paraná; João
Pedro dos Santos, Sergipe; Arnaldo Tavares, Estado do Rio; Pedro
Aleixo, Minas Gerais; J. J. Pontes Vieira, Ceará.
Em 19 de abril de 1932 o Consuitor-Geral da República Raul
Fernandes era chamado a opinar, a pedido do Ministro da Justiça,
sobre várias representações relativas ao Decreto 20.784, de 14 de
dezembro de 1931, e que entraria em vigor no dia 1.° de maio
daquele ano.
Em primeiro lugar, o Clube dos Advogados reclamava contra
o modo pelo qual o Conselho Provisório da Ordem dos Advogados
Brasileiros providenciava sobre a organização dos quadros de
advogados do foro do Distrito Federal, assinando praztos para
apresentação da carta do títu lo registrado na Secretaria do Tri­
bunal, e para apresentação de reclamações. Considerou o Consul-
tor-Geral da República que o prazo assinado era expediente que o
regulamento não cogitava, m as cuja adoção era lícita e necessária
para o desempenho do encargo cometido ao Conselho, e entrava,
virtualm ente, nas atribuições adm inistrativas daquele órgão.
A matéria m ais im portante era aquela, entretanto, de
advogados goianos titulados pelas escolas locais reconhecidas,
41
fiscalizadas, subvencionadas e oficializadas pelo Estado de Goiás,
que protestavam contra a perda dos direitos inerentes a seus
títulos, decorrentes do artigo 21 do Decreto 7.284, pois fazia de­
pender a inscrição dos advogados no quadro da Ordem da exibição
do título de bacharel ou doutor por faculdade reconhecida pelas
leis da República. Raul Fernandes examinou detidam ente o
assunto e, discutindo a matéria no plano constitucional, declarou
que ela caberia aos Estados, sugerindo que a matéria fosse resol­
vida no âmbito de cada Estado e que o interventor federal em
Goiás baixasse decreto, conferindo aos advogados provisão espe­
cial para exercer a advocacia em todo o Estado.
Com a eleição do Primeiro Conselho do Distrito Federal, na
sessão de 18 de maio de 1932, foi constituída Comissão composta
de A. Pinto Lima, Francisco Sales e Armando Vidal para orga­
nizar o Regimento Interno da Ordem, sendo relator Armando
Vidal. A necessidade de aguardar a expedição do Decreto 22.039
de 1.0 de novembro de 1932 retardou a organização do Regimento
Interno, afinal aprovado na sessão do Conselho de 13 de março de
1933. Nessa tarefa, empenhou-se Levi Carneiro, sendo de sua auto­
ria os modelos de livros, carteiras e relação de livros de secretaria^
etc. De São Lourenço, onde se achava, escrevia em 18 de janeiro
de 1933 ao Dr. Armando Vidal sobre o projeto que este lhe enviara,
com o conjunto das emendas e acréscimos: “Peço que Você veja
tudo, converse com os outros companheiros e dê, por fim, tudo ao
Cid para que ele mande fazer as cópias no er-critório”. "
Na sessão de 14 de dezembro de 1932 do Conselho do Distrito
Federal, declarava Levi Carneiro que há um ano fora promulgado
o decreto que regulamentara a Ordem dos Advogados do Brasil,
sendo assim “a data da verdadeira criação desse Instituto e deve­
mos comemorá-la jubilosam ente”. Fazia referência às dificuldades
para a instalação da Ordem, a prorrogação do prazo de obrigato­
riedade do decreto de 14 de dezembro de 1931, m as se revelava
bastante otimista.
Depois de mencionar as dificuldades encontradas em todo o
país, declarava:

“Dizia-vos eu que todas as dificuldades eram de


prever. Eu as previ. Não previ que as superássemos com
tan ta facilidade, relativamente.' Não previ que conquis­
tássemos tão rapidamente alguns novos espíritos, infen-
sos à Ordem por mal cabido zelo liberal. Não previ o
êxito m agnífico das eleições do Conselho nesta capital
— que, pela concorrência de cerca de mil e duasntos
30 Raul Fernandes — Pareceres ão Consultor-Geral da República (feve­
reiro a novembro de 1932). Rio de Janeiro, 1953, p. 41.
Apud Armando Vidal, ibidem.

42
advogados e pelos resultados obtidos, constituiu uma
verdadeira consagração feita pelo foro principal do país.
O tempo decorrido basta para mostrar que a Ordem
não é um a organização efêmera, e será um a realidade
duradoura. Se, um ano após a decretação do regulamen­
to, ainda não está instalada a Ordem — o trabalho
realizado nesse tempo (do qual se deve descontar três
ou quatro meses de grande agitação revolucionária) e
a continuação mesma dos trabalhos iniciados, apresen­
ta-se aos m eus olhos como sintom as seguros para um
prognóstico otim ista.
Não ocorreu um a deserção. Ao contrário, m ultipli­
caram-se as adesões. E todos estam os trabalhando com
o mesmo afinco, a mesma dedicação, a mesma espe­
rança.”

Rebatia a acusação daqueles que diziam ter a Ordem sofrido


várias golpes com a legislação casuística que visara atender a
situação de advogados provisionados ou formados por faculdades
estaduais. Mostrava como essa legislação fora submetida previa­
m ente à Ordem, e que representava uma contingência inelutável,
em face de situações emergentes às quais era necesi^árlo atender. ■-
A 4 de março de 1933 realizou na sede do Instituto dos Advo­
gados o Conselho Federal a 1.® sessão preparatória, presentes Levi
Carneiro, Presidente do Conselho do Distrito Federal, e que a
preside, Gabriel Bernardes, Edmundo Miranda Jordão e Pinto
Lima pelo Distrito Federal, Azevedo Marques por São Paulo, Este-
vam Pinto por Minas Gerais, Leopoldo Cunha Melo pelo Amazo­
nas, e secretário da seção, e João de Mattos pelo Maranhão. Na
segunda sessão preparatória, foram realizadas as eleições, sendo
eleito Levi Carneiro com 8 votos, recebendo Azevedo Marques
1 voto. Para Secretário-Geral foi eleito Atilio Vivacqua com 7
votos, recebendo Amoldo Medeiros e Luiz Gallotti, respectivamen­
te, 1 voto. Na sessão discursaram Levi Carneiro, Ribas Carneiro
e Arnoldo Medeiros, hom enageando os presidentes do Instituto.
Levi Carneiro referiu-se à instalação do Conselho Federal que
ora era realizada, como completando a aparelhagem da Ordem
das Advogados do Brasil, e a exigência de, no últim o dia daquele
mês, fazer-se a observância rigorosa e integral dos dispositivos
regulamentares da Ordem. Examinou os problemas da burla do
título acadêmico, asnectos do ensino jurídico e sua influência
sobre o Poder Judiciário, para, afinal, fazer um rápido exame
de como organizara a Ordem. Mencionou que “os trabalhos de
organização das seções estaduais, das subseções e dos quadros
duraram cerca de um ano — um longo ano que, a alguns, pareceu
um sintom a de fracasso da instituição, e, para os que o consumi­
12 L ev i C arn eiro, Ib id em , p. 270.

43
m os nessa criação, foi a melhor prova de vitalidade e do êxito
dela. Esse trabalho, obscuro e penoso, de adaptação às condições
diverslssimas do pais, e concatenação dos elem entos díspares, dis­
tante, ignorados, indiferentes, senão hostis — esse trabalho atraiu,
empolgou, reuniu m uitos dos hom ens em inentes da nossa classe.
Fizemo-lo, aqui — e por toda a parte, foi, mais ou menos, assim,
como com as nossas próprias mãos, com os nossos próprios recur­
sos, sem pesar nos cofres públicos. À Presidência do Conselho
coube em cada EJstado — e ninguém lam enta, m ais do que eu
não poder dizer o m esmo em relação ao Distrito Federal (e aí
referia-se a ele próprio) — a um dos advogados m ais provectos,
de m ais longo e brilhante tirocínio, de m ais comprovado espírito
público; e em tom o de cada um se agremiou um pugilo de advo­
gados prestigiosos e dignos.”
E tratando do significado do alcance da Ordem, aditava:

“A Ordem dos Advogados, que surge, que funcio­


nará de 31 do mês corrente em diante, é, assim, criação,
obra de todos nós. Não é uma improvisação, já o disse;
nem a transplantação servil de criações similares, obso­
letas ou estranhas. É um a imposição dos nossos dias,
dos nossos ideais, do nosso patrimônio. É órgão de sele­
ção e disciplina, de cultura, de aperfeiçoamento moral.
Não nos proporciona regalias ou favores, cria-nos um
regime de árduos d everes... ”
“Não é um a corporação fechada — é um a corpora­
ção aberta — não só para receber como para excluir,
para eliminar os que a deslustrem.
E, obra nossa, ela é afinal um a demonstrarão con-
soladora e auspiciosa do nosso idealismo; um sinal pro­
missor do rumo de nossas aspirações; um sintom a de
nossa capacidade criadora. É a afirmação de um propó­
sito, de uma força que se inspiraram nos m ais altos
interesses nacionais.
Somos hoje no seio da Ordem, unidos sob a mesma
regra — quase dois m il advogados e solicitadores nesta
capital, m ais de m il em São Paulo, cerca de seis m il
em todo o Brasil.
Constituímos, podemos constituir, devemos consti­
tuir, em todo o país um a elite, capaz de influir, pelo
exemplo e pela ação direta, na realização da democracia
liberal. E, principalmente, capaz de formar, através de
todo o País, um desses vínculos morais preciosíssimos
que garantem as nacionalidades duradouras.”

13 Ib id em , p. 274.

44
Ao instalar a primeira sessão ordinária do Conselho Federal
em 11 de agosto de 1933, mencionava Levi Carneiro a “nova
etapa” que então vencia a instituição para declarar:

“Há apenas quatro meses e meio, ainda incomple­


tos, se acha em execução o Regulamento da Ordem.
Foucos dias antes do em que teve início essa execução,
aqui se instalava o Conselho Federal, que agora realiza
a sua primeira reunião ordinária. Na data aprazada,
a grande estrutura da Ordem entrava em função, suave,
serena, regularmente, em todo o Pais. Pela primeira vez,
os homens de uma profissão, todos os hom ens de uma
profissão — e que profissão! se reuniram, em todo o
Brasil, submetendo-se a uma regra rigorosa, a um regi­
me de severa moralidade, sob a direção dos seus pró­
prios colegas nor eles mesmos escolhidcs.”

Apontaria para o contraste que se defrontava entre o regime


anterior e o da vigência do Regulamento:

“Na véspera, sob a aparência do suposto privilégio


acadêmico, fraudado desassombradamente, floresciam
as concessões de leizinhas estaduais, as condescendên-
cias pessoais, as tolerâncias camarárias. No dia ime­
diato, a lei federal instituía um regime uniforme, com
certas adaptações a condições locais especiais, que torna
a advocacia outra coisa muito mais nobre, muito m ais
elevada, m uito mais dignificante do que vinha sendo e
do que ameaçava tornar-se.”
Para concluir:
“Não direi que tudo se tenha transmudado por um
golpe de mágica. Mas algum a coisa já mudou, e todos
sentimos que um novo espírito se está formando, e de­
senvolvendo, no seio dos advogados.”
A Presidência Levi Carneiro corresponde aos primeiros anos
de funcionam ento da Ordem, e concentra-se, primordialmente, na
organização das seções estaduais, nos problemas de interpretação
do novo Estatuto e nas tarefas de consolidação da instituição.
A representação do órgão na próxima Assembléia Nacional
Constituinte é objeto de debate na sessão de 17 de maio de 1933.
P ara a m atéria, Ibidem, pp. 293 e ss.
!■' Ibidem, p. 282. No relatório apresentado pelo Secretário-G eral Atílio
Vivacqua, na reunião do Conselho Federal, em agosto de 1934. estavam
inscritos na Ordem 8.161 advogados, 540 solicitadores e 340 provi-
sionados.

45
Ao discutir-se o Decreto n.° 22.696 de 11 de maio de 1933, que
dispõe sobre a representação das associações profissionais, decide-
se que a Ordem não é associação, m as, por força de lei, o órgão
m ais representativo da classe dos advogados. Seria irrecusável, ao
menos, considerar a OAB como associação profissional para os
efeitos dos mesmos Decretos 22.653 e 22.696; examinando-se sobre
quantos delegados a Ordem deveria nomear, chega-se à conclusão
de que deveria ser assegurado ao menos um representante da
classe, escolhido pela Ordem pelo processo por ela determinado.
Na sessão de 12 de agosto de 1933 decide-se criar a Solenida­
de da Seção Judiciária, a ser celebrada em cada Seção no dia 31
de março, data da vigência do Regulam ento da Ordem. Decide-se
também adotar a designação de “Presidente da Ordem da Seção
d e. . . " para os Presidentes dos Conselhos locais.
O problema do funcionam ento das seções estaduais seria uma
píeocupação constante; na sessão de 30 de agosto de 1935, discute-
se a matéria, sendo dirigidas solicitações aos governadores do
Paraná, Espírito Santo e Bahia no sentido de que sejam forne­
cidas as melhores condições às respectivas seções.
Na sessão de 14 de agosto, discute-se a futura Lei de
Organização Judiciária, e decide-se representar aos poderes gover­
nam entais, no sentido de que a futura lei de organização judiciá­
ria, em se tratando do exercício da advocacia, se lim ite a declarar
que ele se subordinará aos preceitos das leis de organização da
Ordem e suas modificações eventuais, mantendo assim o primado
da lei de organização da classe sobre qualquer outra legislação
especial.
Em 15 de agosto é autorizada a publicação do Boletim dos
trabalhos do Conselho.
Na primeira sessão do ano de 1934 — 9 de janeiro — dirigida
pelo Presidente interino Zeferino de Faria, discute-se a questão
dos mandatos dos membros do Conselho da Seção do Distrito Fe­
deral, que foram eleitos por dois anos em 31 de dezembro de 1931.
O Conselho da Seção entendeu, porém nos termos do art. 109 da
Consolidação das Disposições Regulamentares, que o prazo do
mandato se contaria a partir da data em que o Regulamento da
Ordem teve início de obrigatoriedade, ou seja, 31 de março de
1933. O Instituto entendeu o inverso, determinando a realização
de eleições que ainda não tinham sido realizadas. Do debate che­
gou-se à conclusão de que caberia ao Conselho Federal resolver.
O Governo provisório cuja intervenção foi solicitada pelo Presi­
dente do Instituto declarou que aguardaria a decisão do Conselho.
Na sessão de 11 de janeiro de 1934, é lido parecer de Raul Fernan­
des, que defende a data do início do m andato em 31 de março
de 1933, o que é aprovado.
Na sessão de 23 de abril de 1934, tendo em vista já o funcio­
nam ento da Assembléia Nacional Constituinte, o Conselho Federal

46
decide que os deputados da Assembléia Nacional Constituinte, que
sejam advogados, estão impedidos de exercer a advocacia contra
a Fazenda Pública.
Já na sessão de 11 de julho de 1934 o Conselho aplaude dois
decretos do Governo Provisório:
a) 0 que faculta a inscrição dos membros da Ordem como
sócios do Instituto Nacional de Previdência; e
b) o que altera o Regulamento, segundo sugestão do Conselho.
Na abertura da sessão ordinária do ano de 1934, na segunda
sessão de 13.8.1934, realizam-se eleições para a presidência do
Conselho, sendo eleito Levi Carneiro com 12 votos, recebendo
Estevam Pinto um voto. Para Secretário-Greral é eleito Atílio Vi-
vacqua, também com doze 'votos, recebendo Haroldo Valladão
um voto.
Na s ^ ã o de 17 de agosto de 1934 discute-se sobre o exercício
da presidência do Conselho Federal da Ordem, sendo decidido que
só pode ser eleito Presidente da Ordem quem for Presidente de
Seção; em caso de afastam ento desse cargo no exercício do pri­
meiro, não poderá tentar a reeleição.
É examinado na sessão de 9 de novembro de 1934 o projeto
de lei apresentado à Câmara dos Deputados, instituindo o man­
dado de segurança e regulando o seu exercício. Decide-se que deve
ser garantida exclusividade à intervenção dos advogados.
Em agosto de 1935, o ofício do Presidente do Conselho Fe­
deral, solicitando a colaboração das seções no Plano de Divulgação
da ODnstituição Federal aprovado pelo governo da República,
recebe a contradita da Seccional do Rio Grande do Norte, que
declara não poder concorrer para o referido plano de propaganda,
isto porque no Rio Grande do Norte desde o início da promulgação
da Constituição Federal tem sido ostensivam ente desrespeitada a
referida Constituição, apesar dos protestos que tem feito esse
Conselho do Instituto dos Advogados da Ordem dos Advogados
do Estado,
O Presidente Levi Carneiro, em sua resposta de 7 de agosto
de 1935, aproveita a oportunidade para desenvolver os princípios
que regem a Ordem:
“Nunca, podemos dizê-lo em honra de nossos cole­
gas, e como prova de elevada aplicação dos nossos
preceitos regulam entares e da exata compreensão das
finalidades da Ordem dos Advogados, teve ela qualquer
16 Ibidem, p. 359. O Conselho Federal até a m udança para Brasília da
Capital em 1960, e salvo, naturalm ente, o período do Estado Novo,
seria constituído com grande participação de parlam entares. No início
da reunião ordinária do Conselho dos vinte e sete Conselheiros, dezoito
eram parlam entares, sendo três deputados classistas inclusive Levi
Carneiro; no início da reunião ordinária de 1937, dos trin ta e um
Conselheiros, treze eram parlam entares.

47
m anifestação de apoio, ou úe condenação, a qualquer
govemo, ou autoridade política. Nem a pode ter, no meu
conceito, por isso mesmo que constitui um serviço
públi3o federal, uma entidade de Direito Público. Nem
só por isso — ainda sem apreciar os termos veementes
do ofício de Vossas Excelências, publicado aqui pela
imprensa, antes de me chegar às mãos — nem só por
isso — lam ento, entretanto, a atitude insólita assumida
por esse venerando Conselho; também porque envolve
a recusa de cooperar em obra de alto alcance educativo,
determinado imperativamente pela própria Constituição
Federal de que ele mesmo se mostra apaixonadamente
cioso.
O artigo 25 das Disposições Transitórias da Consti­
tuição Federal, que se trata de cumprir, realizando
cursos e conferências de divulgação dessa grande lei,
provém de emenda por mim apresentada na Assembléia
Nacional Constituinte.
Por outro lado, o plano, adotado para esse fim, e
que, por cópia, enviei a Vossas Eixfcelências, prevê a
colaboração da Ordem dos Advogados em virtude de su­
gestão do consagrado e brilhante jurista, nosso devotado
companheiro Sr. Haroldo Valladão, já as comunicou
oportunamente ao próprio Conselho Federal.”

E concluía:
“Empenhado, sempre, em manter a Ordem dos Ad­
vogados alheia a qualquer atitude política ou partidária,
tenho plena certeza de que, nem por um momento, ou
por um só ato, ainda em meio da intensa agitação que
temos atravessado, faltei a esse dever do meu cargo, e,
confiando na benevolência pessoal de Vossas Excelên­
cias, animo a reiterar apelo feito, desejoso de que Vossas
Excelências o acolham com os mais nobres sentim entos
de patriotismo, e empreendam, como todos os nossos
colegas desse Estado, a campanha de pura doutrinação
cívica que vamos realizar em todo o país.”
O Conselho pronunciar-se-á na sessão de 22 de agosto de 1935,
scbre modificações do Estatuto, decidindo que as resoluções de
caráter geral sobre os casos om issos ou sobre aplicação e inter­
pretação do Regulamento e Regimento, adotadas pelo Conselho
Federal, só podem ser modificadas m ediante proposta ou aprova­
ção de qualquer Conselho ou de membro do Conselho Federal, e
pelo voto da maioria absoluta dos Conselhos, por seus represen­
17 Ib id em , p. 359.

48
tantes, incluída a matéria na ordem do dia da seísão, com c nco
dias, pelo menas, de antecedência.
Na sessão de 29 de agosto de 1935 a discussão concentra-se
sobre a nomeação para a Corte ds Apelação da Bahia de Juizes
contrariando o artigo 104, § 6 .° da Constituição Federal referente
ao quinto. O Conselho aprova resolução no sentido da Seção agir
judicialmente.
O tem a principal na ses.são de 30 de agosto é mais uma vez
0 da deficiência de instalações, desta vez no Espírito Santo, na
Bahia e no Paraná.
Na sessão de 10 de setembro de 1935, decide o Conselho ser
obrigatória a criação do Tribunal de Ética Profissional.
O Conselho debate na sessão de 13 de setembro de 1935 o
problema das subseções e decide;
a) a diretoria da subseccional da capital não é de confundir-
se com o Conselho Seccional do Estado, e pode compor-se de
número menor de membros;
b) com a composição da diretoria ou do Conselho, isto é,
logo apÓ3 a eleição dos seus componentes, qualquer vaga que se
verifique será suprida mediante eleição feita pelo próprio Con­
selho;
c) quando o número de subseções for maior do que o de
membros do Conselho, e por i?so a composição deste depende da
aceitação ou não dos conselheiros ex-lege, isto é, do,3 presidentes
das subseccionais, promoverá o presidente da subseção da capital
com a po:SÍvel brevidade a declaração dos demais de que aceitam
ou não o lugar no Conselho, ou serão convocados logo para reu­
niões que os constituam em mora de que fala o art. 71 do Regu­
lam ento e a seguir faça preencher as vagas na forma do art. 65
§ 1.° e provimentos.
Na sessão de 17 de novembro de 1935, a principal discussão
é a respeito da proporção de membros do Conselho Federal a
serem eleitos pelos Institutos e pela Assembléia dos Advogados.
Receia-se que os Institutos se sintam melindradcs; a decisão é
adiada e na sessão seguinte 0 aum ento do número de eleitos pelos
advogados pela Assembléia tornando-os majoritários é aprovado.
Na se.?são de 21 de maio de 1936, o Conselho Federal decida
oficiar aos Institutos, mostrando a conveniência de retirar a pala­
vra Ordem de sua denominação.
Em 11 de agosto de 1936, in í 2ia-se a quinta reunião ordinária,
com a primeira sessão, decidindo-se, inicialm ente, que o Presi­
dente da Ordem, como Presidente do Conselho Federal, assim
como o Secretárío-Geral, são membros permanentes do Conselho
Federal, podendo ser reeleitos. Procedeu-se à votação da nova Di­
retoria, sendo eleito Presidente Levi Carneiro com 12 votos, com
1 voto para Targino Ribairo, e para Secretário-Geral Atilio
49
Vivacqua com 11 votos, tendo Carlos Morais Andrade e Paulo
Póvoa recebido, respectivamente, um voto.
Na sessão de 15 de agosto de 1936, é debatida a questão de
filiação da Ordem à TJmon Intem acionale ães AvocaU, por suges­
tão do Prof. Cândido Mendes de Almeida. É aprovado parecer do
Prof. Waldemar Ferreira, sustentando ficar a cargo das associa­
ções de classe como o Instituto essa participação, uma vez que a
Ordem é um serviço público federal.
Na sessão de 31 de m aio de 1937, é designada comissão para
estudar projeto referente ao pagamento de honorários pelas partes
vencidas, constituída de Carvalho Guimarães, Didimo da Veiga e
Arthur Rocha. Também se resolve organizar em entário das deci­
sões do Conselho, para serem publicados pela G azeta de Notícias.
Em 4 de junho de 1937, Philadelpho Azevedo é designado re­
presentante da Ordem na Semana Internacional do Direito que
se realizará em Paris.
Ao instalar-se em 4 de maio de 1938 a décima-segunda reunião
do Conselho Federal e a sua centésima-quarta reunião, Levi Car­
neiro renuncia à Presidência. Começa seu discurso, dizendo:

“Sou dos poucos que restam do primeiro grupo de


obreiros. Há m ais de sete anos, sirvo continuadamente
esta obra. Tenho-a visto crescer ante os m eus olhos
maravilhados.
Presidente do Instituto dos Advogados quando o
Governo Provisório, logo nos seus primeiros dias, em
novembro de 1930, criou a Ordem dos Advogados, tive
a honra de colaborar no projeto de Regulamento que a
nossa tradicional associação de classe organizou. Tive,
depois, como Consultor-Geral da República, de conside­
rar esse projeto, e outros, oferecidos pelos vários Insti­
tutos dos Estados, e fundindo-os, organizando o Regu­
lam ento que veio a ser decretado. Eleito Presidente da
Seção do Distrito Federal, logo que instalada, participei
dos primeiros e difíceis trabalhos de o rg ^ lza çã o dos
quadros, do Regimento Interno, das eleições para o
Conselho, que atraíram logo m ais de m il advogados...
Eleito Presidente deste Conselho Federal, quando se
instalou, também aqui participei de todos os trabalhos
da primeira organização — para orientar, coordenar,
ajustar, animar os esforços que se desenvolveram em
todos os Estados do Brasil para formação das várias
seções da Ordem. Mantive-me, sim ultaneam ente, no
exercício desses dois cargos até junho de 1935. Deixei,
então, a presidência da Seção do Distrito Federal, em
que m e substituiu com vantagem o Sr. Targino Ribeiro.
Aguardava-se o térm ino do mandato de Presidente do

50
Conselho Federal para encerrar o desempenho dessa
outra função. Parecia-me até que o Regulam ento veda­
va a m inha reeleição. Mas, assim não entendestes. Vos­
sos sufrágios retiveram-me neste cargo — enquanto
meu voto recaía — desejo recordá-lo — no Sr. Targino
Ribeiro, que tanto merecia já, pelos seus serviços à
Ordem, e pela sua condição de advogado brilhantíssimo,
a investidura no m ais alto posto de nossa classe. Con­
tinuei, portanto, até agora.
Agora, porém, estou em que tenho direito — e até
0 dever — de retirar-me. Recordei o que fiz, não por
jatância, o que seria imperdoável, m as para mostrar
que, não tendo podido fazer quanto desejava, fiz tudo
qufi podia, nas circunstâncias em que m e encontrei e
no lim ite restrito de m inha capacidade. Isso porque
som ente nessa condição permite a nossa lei orgânica
que o membro da Ordem decline do encargo que lhe foi
cometido. Entendi que deveria retribuir à m inha classe,
aos hom ens da m inha profissão — tudo que esta me
proporcionara, todos os bens, todas as alegrias, todas
as honras da vida — que tudo proveio dela, tudo me
deu ela em muito mais larga escala do que eu merecia
e do que almejava — servindo-a devotadamente, coope­
rando, apaixonadamente, na organização que, a meu
ver, dará maior prestígio e a habilitará a exercer, em
toda a plenitude, a ação social que compete.
Esse era o m eu dever, o compromisso de honra que
comigo tom ei e dele m e julgo desobrigado. Não recuei
das dificuldades que enfrentam os — e foram grandes.
Não regateei o m eu esforço. Coloquei esse dever acima
de tudo.”

E comentava adiante:

“Apesar dessas omissões, e de outras que não pude


preencher, sen ti dia a dia o fortalecim ento da Ordem.
Vi-a aprofundar raízes. Nenhuma prova melhor do seu
avigoramento que a das nossas reuniões. A vossa pre­
sença nesse pobre e acanhado recinto — alguns de nós
vindos dos próprios Estados, especialm ente para tal
fim, no interesse da Ordem, o espírito de justiça que
animaram sempre os vossos debates e as vossas decisões
— trouxeram-me, periodicamente, demonstrações ine­
quívocas do êxito da Ordem dos Advogados. Mas, a
Ordem dos Advogados poderia ser o sonho, ou o capri­
cho de um pequeno grupo de profissionais, se os seus
servidores fossem sempre os mesmos. Nesse sentido, as

51
vossas reuniões encerram outra demonstração irrecusá­
vel — pela renovação parcial dos que a compõem. O
espírito de nossa instituição transmite-se a novos ser­
vidores; difunde-se o sentim ento que a anima. Temos,
assim, asseg:urado a sua continuidade, o seu desenvol­
vim ento continuado.
Ora também esse cargo supremo a que a vossa ge­
nerosidade m e levou deve ter outro ocupante. Não só
porque nada de mim lhes poderei dar. Também porque
outro merece ocupá-lo. E para mostrar o que a Ordem
tem de impessoal e de eterno.”
É nomeada uma comissão para convencer a Levi Carneiro a
reconsiderar o seu ato. Também renuncia o Secretário-Geral e há
protestos e apelos para que ambos retornem. Na sessão de 6 de
maio de 1938, Levi Carneiro acede e volta à presidência da Ordem.
Na sessão de 18 de agosto de 1938, são realizadas eleições
para Presidente do Conselho Federal e Secretário-Geral, L'vi
Carneiro é eleito com 15 votos, e Atilio Vivacqua eleito Secre­
tário-Geral com idêntica votação.
Na sessão de 25 de agosto de 1938, Levi Carneiro recusa a
sua reeleição, pronunciando significativo discurso. Dspois de
referir as datas de sua passagem pelo Conselho Seccional e Con­
selho Federal, declara:

“Recordo essas datas, para justificar a renúncia —


que, em maio último, vos apresentei. Recusada, então
por vossa deliberação insistente — a ela me submeti,
comprometendo-me a preencher o meu mandato até o
termo regulamentar. Agora se tom a, pois, inadiável a
m inha substituição nesse alto cargo. E por ela permito-
me que insista, menos por motivo de comodidade pes­
soal, que pelo interesse da própria Ordem dos Advo­
gados.
Uma instituição como esta, não se pode identificar
com qualquer personalidade, nem com grupo ou com
uma camarilha. Ela é impessoal, abrange toda uma
classe, uma multidão de quatorze m il homens de elite;
é aoentuadamente nacional. O rotativismo nos seus
cargos de direção há de acentuar esses traços de sua
índole.
Ibidem, p. 283.
lA Levi Carneiro era líder inconteste da classe e perm aneceria como
Presidente por mais tempo se assim o desejasse. Em face da renúncia,
o representante da Paraíba, Oswaido Tigueiro, sugere a Mario Ca-
sassanta, representante de Minas Gerais, o nome de Fernando de
Melo Viana (depoimento de Oswaldo Trigueiro ao autor em 23 de
fevereiro de 1981).

52
Mais que em relação a outra qualquer, quanto ao
de Presidente, pela sua própria permanência e pela pre­
ponderância que pode assumir, Impõe a substituição
periódica.
Circunstâncias felizes e ofcasionais, criadas pelo
favor divino, deram o melhor prêmio de devotamente à
m inha profissão, proporcionando-me larga oportunidade
de servir à organização da Ordem."

E acentuava m ais adiante:

“O prestígio atual da Ordem dos Advogados precisa


crescer m ais e m ais, consolidar-se em longos e longos
anos. Nem nos iludamos: deles podem se querer valer,
em seu próprio interesse, os que conspurcavam a nossa
profissão. Precisaremos ser cada vez menos transigentes,
m ais rigorosos e severos.
B e mim vos digo que nunca im aginei, sequer, a
Ordem dos Advogados ccmo fonte de vantagem, de be­
nefícios e de comodidades. Tanto somos acusados, os
advogados, pela feição egoísta e interesseira, que assu­
me, aparentemente, grande parte de nossas atividades
— que havemos de nos orgulhar de haver criado a
Ordem como uma restrição, uma norma de disciplina e
de ética, de habilitação profissional, um esforço para
elevar o nível cultural e moral da advocacia. Ela nunca
visou o patrocínio de interesses, ou de interesses indi­
viduais — senão e apenas o prestígio de toda a nossa
classe e de noissa profissão. Por isso mesmo se caracte­
riza como um órgão de direito público, um a entidade
paraestatal.
E 0 sentim ento dessa função é que nos tem dado,
e há de dar sempre, a autoridade necessária para julgar
0 procedimento de colegas nossos, decidir sobre a legiti­
midade do exercício da advocacia.
Todos tem os sentido no que recai sobre nós, neste
recinto, o peso de uma verdadieira m agistratura, tão
alta, que exige o sacrifício dos nossos próprios senti­
m entos pessoais de perfeição e de camaradagem. O
prêmio desse esforço só recebe, cada um de nós, quando
encerra sua tarefa. Sempre me pareceu verdadeira a
observação do Visconde de Taunay: “O que mais impor­
ta é acabar bem.”

Fez referência às expressões insignes que comandavam as


seções estaduais, como Azevedo Marques de São Paulo, Estevam
Pinto em Minas Gerais, Joaquim Amazonas em Pernambuco, Hen­

53
rique Castrioto no Rio de janeiro, e os que já as tinham deixado,
oomo E m esto Sá da Bahia, Ubaldo Ramalhete do Espírito Santo,
Pamphllo de Assunção do Paraná, e Leonardo Macedonia do Rio
Grande do Sul.
E com agradecimentos gerais à classe, terminava emocionado:
"Terei, de hoje em diante, a fortuna de observar a nossa institui­
ção, pelo lado de fora. É o aspecto que ainda não conheço. OB
que passaram por aqui hão de vê-la sempre, com bons olhos, e
com melhor compreensão do que fazeis. Eu a verei ainda com
profundo, indiscutível sentim ento de gratidão”.
Procede-se n a sessão de 30 de agosto de 1938 à eleição do
novo Presidente, recaindo a escolha em Fernando de Melo Viana,
com 13 votos, sendo ainda votados Astolfo de Rezende com
5 votos, Targino Ribeiro e Mendes Pim entel, ambos com 1 voto.
Com a transmissão do cargo a Fernando Melo Viana, pode-se dizer
que a Ordem dos Advogados term inava a sua fase de implantação.
No curso da sua história, outros ilustres advogados iam ocupar a
Presidência, m as a m arca do seui primeiro Presidente, Levi Car-
neirQ, estaria sempre presente nas atividades da instituição.
Com os acontecim entos políticos de 1985, a atividade de re­
pressão aos adversários políticos, que se acentuará com a instau­
ração do Estado Novo, em 10 de novembro de 1937, irá conduzir
a Ordem a um a posição de defesa dos direitos humanos, que se
m anterá um a constante em todos os períodos de arbítrio e
violência.

20 Ibidem, p. 28.

54
Capítulo i n

A ORDEM NO ESTADO NOVO — SOBRAL PINTO E A DEFESA


DOS PRESOS POLÍTICOS

A LUTA PELA REDEMOCRATIZAÇÃO

A REDEUOCRATIZAÇAO — A CAMPANHA PELA


AUTONOMIA DA ORDEM

OS VINTE ANOS

O sucessor de Levi Carneiro m anteria a lista de “notáveis”


entre os Presidentes da Ordem. Mineiro de Sabará, estudara no
Colégio do Caraça e tivera atuação intensa em seu Estado como
advogado, político, subprocurador-geral em Minas Gerais no
Governo de Arthur Bem ardes de 1918 a 1922, exercendo a partir
de 1922 o cargo de Secretário do Interior do Governo Raul Soares.
Com a morte deste, foi eleito para sucedê-lo no gdvem o do seu
i^tado; em 1926 foi companheiro de chapa do Presidente
W ashington Luiz, como Vice-Presidente da República. A Revo­
lução de 1930 leva-o ao exílio durante dois anos, e ele só voltará
às atividades políticas em 1945, eleito Senador por Minas Gerais
e, posteriormente, Presidente da Assembléia Constituinte. ^
Ao tomar posse do cargo em 8 de setembiro de 1938, diria
Fernando de Melo Viana:

“Meu espírito vacilou em aceitar a investidura de


Presidente deste Conselho, mas acabou rendendo-se ao
imperativo da deliberação, porque não me subordinar
à mesma se me afigurou uma deserção e um a des­
cortesia.
Motivos de sobejo impulsionavam essa dúvida.
1 Joâo Gualberto de Oliveira — História dos órgãos ãa Classe dos Ad­
vogados — Lex, São Paulo, pág. 353.

55
Era chamado a suceder ao ilustre e digno colega
Dr. Levi Carneiro, protótipo de bondade e fidalguia no
trato conosco, disfarçando, sempre, a energia serena
com que orientava os nossos trabalhos com aquele sor­
riso amável, tão peculiar aos espíritos de eleição. Seus
serviços à Ordem, na sua fase mais delicada e melin­
drosa, são notáveis e palavras não serão, aqui, pronun­
ciadas em demasia, para proclamar a gratidão dos
advogados brasileiros.”
E prosseguia:
“Largos anos exerci a advocacia no meu querido
Estado natal e, por vezes, nesta capital, até que ingres­
sei na m agistratura vitalícia mineira, de que me afastei
com saudade, ao apelo de dois dignos arnigos, um dos
quais furtado ao serviço do Brasil pela mão inexorável
da morte: o Dr. Raul Soares, nobre caráter^ talento
fulgurante, figura moral imaculada.
O destino na sua fatalidade irremovível levou-me à
política e me proporcionou a oportunidade de pretender
fazer algum a coisa de utilidade ao impulsionamento do
progresso de Minas Gerais.
Na Vice-Presidência da República, tive a honra de
presidir o Senado brasileiro, e o freqüentei sem brilho
m as com assíduo devotamento e independência.
Afastado da política, retornei ao ritmo de minha
vida profissional a que devo tudo que fui e o pouco que
tenho e que sou.
Vivo feliz, absorvido no encantam ento do estudo do
direito e devotado aos serviços cuja defesa me foram
entregues pela generosidade e confiança.
Sempre, sempre e cada vez mais, seduzido pelo
fanatism o pelo direito, confiante na justiça de Deus, e,
por que não dizê-lo, sem azedume ou laivo de pessimismo,
na dos hom ens também, impus-me a norma de traba­
lhar sem cessar, nem desfalecer, certo de vencer.
É o que pretendo aqui fazer, ajudado pelos Conse­
lhos de m eus ilustrados e bondosos companheiros, fiel
executor de suas deliberações, seguro da colaboração
dedicada e inteligente do ilustre secretário-geral e dos
dignos funcionárias desta Casa, nutridos sempre da mais
constante obediência e observância das leis da Ordem
para que passamos realizar a grandiosa seleção, defesa
e disciplina da fam ília unida dos advogados em toda a
República.” ^
2 Boletim do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil.

56
Assumindo a Presidência, Fernando de Melo Viana encontra
já a instituição organizada, e voltada mais para as suas ativida­
des específicas. Ela não deserta entretanto no período do Estado
Novo n a defesa das liberdades democráticas e sobretudo na defesa
dos presos políticos, episódio que remonta a um pouco antes pois
provém das primeiras medidas da execução do estado de sítio e da
execução da Lei de Segurança Nacional, com a prisão dos envol­
vidos no movimento de novembro de 1935."
Neste episódio, se sobreleva com excepcional importância a
figura de Heraclito Fontoura Sobral Pinto, defensor de Luiz Carlos
Prestes e Harry Berger, os principais líderes com unistas envol­
vidos nesses movimentos, e com uma atuação desassombrada,
corajosa e firme, o que o coloca como um dos grandes advogados
brasileiros/
Indicado para a defesa ex officio de Luiz Carlos Prestes e de
Arthur Ewert, que usava o nome de guerra de Harry Berger, pela
Ordem e nomeado pelo Juiz Raul Machado, do Tribunal de Segu­
rança Nacional, Sobral Pinto iria exercer nos nove anos seguintes,
uma luta sem tréguas contra a violência e contra a prepotência.
3 Dos depoimentos e informações colhidas, parece que as discussões de
caráter político no período do Estado Novo e, sobretudo no seu final,
n a cam panha contra a ditadura, se concentraram m uito mais no
Instituto dos Advogados que n a própria Ordem (depoimento do Rrnistro
Oswaldo Trigueiro ao auto r em 27.2.1981). Por outro lado, as atas
do Conselho Federal, que eram publicadas no Jornal ão Commercio,
passaram , a p artir de certo momento, a sofrer censura, razão pela
qual se decidiu inform alm ente que o Conselho não divulgaria nas
atas — que têm sido o principal objeto de pesquisa desse período —
qualquer m anifestação de caráter político (depoimento de D. Lyda
Monteiro da Silva ao auto r em 25.8.80).
4 A atuação de Sobral Pinto está re tra ta d a nos livros de sua autoria
Lições de Liberdade, Belo Horizonte, Editora Comunicação, 1977, p.
253 e Porque Defendo os Comunistas, Comunicação, 1974, Belo Hori­
zonte, p. 238. Cf. tb., Araken Távora, Advogado da Liberdade, Rio
Editora do R epórter s.d. Cf. ainda Victor Nunes Leal, Sobral Pinto,
Ribeiro da Costa e umas lembranças do Supremo Tribunal na RevO'
lução. Rio, 1981, pp. 23 e 44. Diria Victor Nunes Leal de Sobral Pinto,
que “acim a de tudo Isso é Sobral Pinto “o advogado”, o advogado
em si, que combate do primeiro ao último instante, pela causa que
tem por justa, seja fraco ou forte aquele a quem defenda, especial­
m ente se é vítim a do poder, da prepotência, da arrogância, da maldade,
d a m á-fé, da mistifícaçao, da ignorância presunçosa.
Como advogado, só tem paralelo no grande paladino das causas
públicas, das liberdades, da democracia. Rui Barbosa”.
Seria, entretanto, um falseam ento da verdade não registrar que
enquanto Sobral Pinto e numerosos advogados tom avam um a atitude
corajosa e desassombrada, alguns advogados se recusavam a patro ­
cinar a defesa de presos políticos.
Os arquivos do Conselho Seccional d a Ordem contém os ofícios
em que os motivos mais variados — excesso de trabalho, surmenage,
doença n a família, eleição p ara Vereador, viagens freqüentes a São
Paulo — eram referidos gomo motivos de escusa.

57
De início, a primeira dificuldade a vencer era a própria reação
dos novos constituintes. Presos em condições de inteiro isolam en­
to, submetidos a torturas morais, e em relação a Harry Berger,
físicas as m ais fortes, e com os preconceitos que poderiam ter de
um advogado de classe burguesa e de formação católica, não foi
fácil a Sobral Pinto vencer essas resistências, que se agravaram
no caso de Berger pelas dificuldades da língua. Luiz Carlos Pres­
tes, aos poucos, foi ganhando confiança e a partir daí as relações
entre a d vog^ o e cliente se processaram num clim a do maior
respeito e confiança, só tendo o constituinte em relação ao advo­
gado as palavras de maior elogio e aplauso.
Respondendo ao ofício de Targino Ribeiro, Presidente do
Conselho da Ordem do Distrito Federal, em 12 de janeiro de 1937,
dizia Sobtral Pinto que “o que me falta em capacidade, sobra-me,
porém, em boa-vontade para me submeter às imposições do Con­
selho da Ordem; e em compreensão hum ana, para, fiel aos impul­
sos do meu coração cristão, situar no meio da anarquia contem­
porânea, a atitude desses dois sem elhantes, criados, como eu e
todos nós, à im agem de Deus.
Quaisquer que sejam as m inhas divergências do comunismo
m aterialista — e elas são profundas — não me esquecerei, nesta
delicada investidura que o Conselho da Ordem impõe, que simbo­
lizo, em face da coletividade brasileira exaltada e alarmada, A
DEFESA.5
Relata Sobral Pinto a singularidade da sua conduta em rela­
ção aos presos políticos:

“Mas aí os advogados faziam a m ím ica do dever.


O comum era fazerem a m ím ica do dever: compareciam
ao julgam ento, sem examinar o processo, sem fazer de
fato nem defesa. Chamado pelo Juiz pela primeira vez,
disse a e le : Sr. Juiz, eu não posso funcionar porque não
conheço o processo. Eu peço a V. Excia. que adie o jul­
gamento para daqui a dois ou três dias, para que eu
possa levar os autos, examiná-los e fazer realmente a
defesa,
O Juiz im ediatam ente atendeu ao m eu pedido. Pe­
guei os autos, examinei-os e, como as palavras voam e
os escritos ficam, compareci com a minha defesa escrita.
Os juizes começaram a solicitar a m inha intervenção.
E isso ficou m ais ou m enos conhecido no Foro do Rio,
que à época era muito menor, havendo apenas seis
juizes criminais. Piquei sendo um advogado com a
noção do que é a advocacia, que não é a m ím ica do

5 Porque Defendo os ComunUtas, p. 40.

58
dever. Obtive êxito, m uitas vezes obtive a solução. E
mais, passei a funcionar desde o sumário”.®

No caso específico em carta de 27 de abril de 1937 à irmã de


Harry Berger, dizia Sobral Pinto:

“Devo, outrossim, informar-lhe, m inha senhora, de


que o seu irmão não confia na m inha lealdade e no meu
interesse. Completamente segregado de tudo, sem ter a
m ais leve comunicação com o mundo exterior, ele não
cessa de me crivar de ironias sempre que procuro com
ele m e avistar, pois diz não poder compreender que um
advogado se interesse por quem quer que seja, sem a
menor remuneração, como vem acontecendo comigo.
Inutilm ente lhe tenho explicado que, no Brasil, é ques­
tão de honra para o advogado reservar um a parte da
sua atividade para trabalhar pelos pobres e pelos
desamparados. Ele continua a duvidar da m inha since­
ridade.” ^

E, em outro passo:

“Não tenho estado ultim am ente com Arthur Ewert


ou Harry Berger porque ele passou a acolher m inhas
visitas com gestos de profundo desprezo, e olhares
inundados de ódio e de injúria.’"®

Os clientes continuaram vivendo em condições miseráveis,


desprovidos de tudo, sem nenhum contato com o m undo exterior^
E para eles então Sobral Pinto, em petição de 2 de março de 1937,
remete-se à lei de proteção aos animais, a fim de assegurar aos
seus clientes as m esm as condições daquela legislação.
Sobral Pinto bate em todas as portas. O próprio Conselho
Seccional vem em seu auxílio, oficiando ao Presidente do Tribimal
de S e g u r ^ ç a Nacional e ao Ministro da Justiça, m as as autori­
dades judiciárias se m antêm temerosas diante dos chefes políticos.
E a sua lu ta não cessa. Ainda em 30 de abril de 1942, ele se
dirige ao Presidente do Tribunal de Segurança Nacional, para
declarar que as mesmas restrições continuam:

“Impedido (Prestes) de falar com seu advogado


estava, impedido de falar com seu advogado continuou.
Proibido de trabalhar estava, proibido de trabalhar con­
tinuou. Privado de quaisquer distrações estava, privado
8 Idem, p. 23.
7 Idem, p. 128.
8 Idem, p. 130

59
de quaisquer distrações continuou. E assim entregue dia
e noite ao seu próprio pensamento, vive o Suplicante
cercado por quatro paredes frias, fundas e imóveis.
Conceber-se-á prisão mais dura, mais penosa e mais
degumana? Dir-íe-ia, ao Sr. Ministro Presidente, que
ninguém se preocupa com os destinos da saúde m ental
do Suplicante, circunstância esta que não é de se admi­
tir, porque foi um isolam ento des^a espécie que levou
Harry Berger a mergulhar para sempre sem remédio
nas trevas sombrias e trágicas da sua demência de­
finitiva.
Não se compreende, Sr. Ministro Presidente, que o
Suplicante seja m antido durante o cumprimento de sua
pena nesse regime da mais absoluta e rigorosa incomu-
nicabilidade que dura m ais de seis anos; não se com­
preende, Sr. Ministro Presidente, que ponham o Supli­
cante, praticamente, com o que está acontecendo, sob
a fiscalização direta de um a sentinela à vista; não se
compreende, Sr. Ministro Presidente, que não se dê, sis­
tem aticam ente, ao Suplicante a possibilidade sequer de
se entender com uma pessoa que possa levar às autori­
dades adm inistrativas superiores da República ou aos
Juizes executores da sua pena a sua reclamação com os
repetidos atos de arbítrios com que se vê ferido na prisão
em que se encontra.” ^

E esse estado de coisas, contra o qual o advogado não cetsou


de clamar, só terminaria com a liberdade alcancada com a anistia
em 1945.10
No âmbito das atividades internas, a questão do controle do
exercício da profissão está presente também nas deliberações do
Conselho; na sessão de 25 de outubro de 1938, por proposta do
Conselheiro Nilo Vasconcelos, com aditivo do Conselheiro Arnoldo
Medeiros, recomenda-se aos Conselhos Seccionais que, tomando
conhecimento de irregularidades por pessoas inscritas na Ordem,
tomem im ediatam ente as providências que entenderem aconselhá­
veis por intermédio das Comissões de Disciplina.
Discute-se na sessão de 20 de junho de 1939 o problema de
buscas em escritórios de advogados, e é trazido à colação o Esta­
tuto Jurídico português que proíbe tais buscas, salvo em caso de
9 Idem, p. 222.
1® Em 1964 0 papel de Sobral Pinto haveria de se destacar desde logo,
contra a prisão Inteiram ente ilegal e arb itrária de representantes
comerciais da República Popular da China que se encontravam em
visita oficial ao Brasil. Defensor de inúm eros presos políticos ele
mesmo iria sofrer as dores do cativeiro, quando da promulgação do
Ato Institucional n.® 5. Encontrando-se em Goiás, foi preso e depois
transferido p ara Brasília.

60
crime, e com assistência de membros da Ordem, propondo-se que
seja encaminhada às autoridades sugestão idêntica.
Os acontecim entos da Guerra Européia repercutem entre nós;
na sessão de 19 de setembro de 1939, o Conselheiro Nilo Carneiro
Leão de Vasconcelos propõe um voto de apoio à Ordem dos Advo-
vados Franceses, que continuava em Paris, a despeito do perigo
dos bombardeios, e destacando que os advogados afrontavam os
perigos na defesa da liberdade, assim como os soldados em suas
trincheiras.
O processo eleitoral na instituição é examinado nas sessões
seguintes, determinando o Conselho que se façam novas eleições
no Rio Grande do Norte, o mesmo ocorrendo em relação às sessões
do Pará e Sergipe e designando o Secretário-Geral para elaborar
projeto de consolidação de instruções sobre o processo eleitoral
das Seções, Na sessão de 28 de novembro de 1939 são consideradas
insubsistentes as eleições do Piauí e do Rio de Janeiro, e anuladas
as eleições de Santa Catarina.
O transcurso dos anos não traz solução para a situação finan­
ceira da instituição. Na sessão de 18 de junho de 1940, o Secretário-
Geral Atilio Vivacqua queixa-se da m á situação financeira do
Conselho, à m íngua de recursos, e declara que se fica no aguardo
de uma subvenção federal.
A situação dos provisionados é discutida na sessão de 23 de
abril de 1940, sendo aprovado parecer do Conselheiro Amoldo
Medeiros, referente ao Artigo 1.050 do Código de Processo Civil.
Sugere-se a proibição de prorrogação das provisões com a altera­
ção do referido artigo, revigorando-se a legislação anterior e
m antida a proibição, exceto quanto aos quartanistas de direito.
Em 12 de agosto de 1940, realizam-se as eleições para a Dire­
toria do Conselho Federal. Fernando Melo Viana e Atilio Vivacqua
são reeleitos, respectivamente, Vice-Presidente e Secretário-Geral
com 17 votos.
Na sessão de 12 de novembro de 1940, é lido telegrama da
Frente Socialista do México, pedindo a intervenção da Ordem,
para prestar assistência a Luiz Carlos Prestes. Já na sessão de
26 de novembro de 1940, são indicados representantes da romaria
cívica aos túm ulos dos brasileiros mortos em 1935.
Na sessão de 8 de março de 1941, Nestor Massena oferece um
exemplar da publicação do Departamento de Imprensa e Propa­
ganda: O Brasil ãe Ontem, de Hoje e de Amanhã, número de
janeiro com o tópico A Ordem dos Advogo(k>s e o Estado Novo.^^
Na sessão de 20 de maio de 1941, discute-se a situação da
Seccional do Distrito Federal, em face da renúncia da maioria
dos seus membros. A matéria é debatida nas sessões seguintes,
Não foi encontrado exem plar da referida publicação nem nos arquivos
da Ordem nem n a Biblioteca Nacional.

61
ficando decidido a indicação da nova diretoria com advogados
m ais antigos da Seção.
A interpretação do antigo Regulamento sempre deu margem
a dúvidas e na sessão de 7 de outubro de 1941, pronunciando um
voto, diria Martins de Almeida:

“Se bem que o nosso regulam ento seja uma obra-


prima de obscuridade, despistando quase que sempre o
intérprete do sentido de suas posições.”

O ataque japonês às bases norte-americanas de Pearl Harbour


iria também ecoar no Conselho Federal, e na sessão de 16 de de­
zembro de 1941 foi aprovado por aclam ação um voto de inteiro
apoio ao Governo da República por sua decisiva atitude de solida­
riedade aos Estados Unidos, em face da agressão sofrida por
aquela Nação, e conseqüentem ente da ameaça que pesa sobre a se­
gurança e integridade continentais.
O Conselho debate em 30 de dezembro de 1941 sugestão sobre
a concessão de habeas corpus em face de motivos de ordem e se­
gurança pública. São aprovadas as propostas do relator Fausto
Freitas de Castro:

1.® — Tornar obrigatória a comunicação ao Tribu­


nal de Segurança das prisões efetuadas em virtude do
estado de em ergência ou de guerra.
2.° — Fixar prazo dentro do qual seja o projeto
apresentado ao mesmo Tribunal, com o poder discricio­
nário para conceder a prorrogação desse prazo ou
mandar soltar o preso se a prorrogação não se jus­
tificar.
3.® — Dar ainda a esse Tribunal a competência
para permitir a permanência em prisão, embora não
apurada a criminalidade, desde que a autoridade de­
m onstre esta conveniência em relatório escrito ou m es­
mo verbalmente, quando assim julgar m ais conveniente.
A m atéria foi adiada e não chegou a ser objeto de
deliberação.

Na sessão de 11 de agosto de 1942, Fernando Melo Viana é


reeleito Presidente com 18 votos, sendo um voto dado a Mendes
Pim entel e um voto em branco. E para Secretário A tilio Vivacqua
recebe 17 votos, com um voto a Oswaldo Trigueiro, um voto a
Francisco Gonçalves e um voto em branco.
No relatório lido nessa sessão pelo Secretário-Geral, há a
informação de que havia inscritos na Ordem, em todo o país,
m ais de 13 m il advogados.

62
A declaração de guerra aos países do Eixo repercute no Con­
selho Federal que m anifesta o seu apoio ao Governo Federal, na
sessão de 18 de agosto, com a seguinte moção subscrita pela tota­
lidade do Conselho;

“O CONSELHO FEDERAL DA ORDEM DOS AD^


VOGADOS, solidário com o profundo sentim ento de re­
volta da NAÇÃO diante do novo e gravíssimo ultraje,
praticado contra o Brasil, confia nas m ais enérgicas
providências do Governo para o pleno desagravo da
honra, bandeira e independência nacionais.
O CONSELHO FEDERAL DA ORDEM DOS ADVO­
GADOS, certo de representar o pensamento unânim e
dos advogados do Brasil, vem testem unhar a Vossa Ex­
celência, como chefe supremo da Nação, o seu caloroso
apoio à atitude do Governo da República desagravando
a honra e a soberania nacionais, quando feridas pela
brutal, inopinada, injustificável agressão das nações
entregues à cegueira, ao vandalismo e ao ódio.
Esperam os advogados do Brasil que seja concedido
o privilégio de formarem entre os primeiros a servir a
Pátria, onde quer que sejam necessários o seu entusias­
mo, a sua dedicação, o seu sacrifício.”

Nas sessões de 17 e 22 de dezembro de 1942, discute-se o pro­


blema das inscrições na Ordem dos “Súditos do Eixo”. A conclu­
são é de que estas inscrições devem ser mantidas, exceto em caso
concreto de atentado à segurança nacional, acrescentando, entre­
tanto, 0 Conselheiro Leopoldo Cunha Mello que não será compre­
ensível que os brasileiros utilizem esses advogados.
A sessão de 1943 é instalada em 3 de maio, e nela é discutida
a lei de organização judiciária do Distrito Federal. Aplaude-se o
decreto que cria a Caixa dos Advogados, e a promessa do Presi­
dente Getúlio Vargas de conceder um terreno para instalação do
Instituto e da Casa do Advogado.
Para partiicipar do Congresso Jurídico Nacional, comemora­
tivo do primeiro centenário do Instituto dos Advogados Brasilei­
ros, são designados na sessão de 11 de maio os Conselheiros Do­
m ingos Souza Leão, Demosthenes Madureira de Pinho, Onofre
Mendes Júnior, Augusto Pinto Lima, Arthur Ferreira da Costa e o
Presidente Fernando de Melo Viana.'^
^2 A Delegação de Minas Gerais e do Distrito Federal se retiraram, do
Conselho, em virtude da interferência do Governo tolhendo as deli­
berações, e tal episódio se enfileira entre os antecedentes da elabo­
ração do M anifesto dos Mineiros. V. Carolina Nabuco — A Vida de
Virgílio Mello Franco. Rio, José Olímpio, 1662, pp. 132 a 153. Cf. tb.
M aria Victoria de M esquita Benevides: A VDN e o Udenismo: Arríbi-

63
Na sessão de 19 de outubro de 1943, volta à baila a difícil
situação financeira da Instituição, não há dinheiro nem verbas
para o pagamento do ordenado m ensal de dois funcionários da
Secretaria. Na sessão seguinte, é nomeada Comissão para estudar
a situação financeira, composta dos Oonselheiros Them istocles
Marcondes Ferreira, Aristeu Aguiar e Arthur Ferreira da Costa
e decide-se pela elevação da taxa de contribuição dos advogados.
Na sessão de 25 de abril de 1944, discute-se as violências
sofridas pelo advogado Jader de Carvalho, Vice-Presidente da
Seção do Estado do Ceará.
A partir dessa época acentuam -se as m anifestações contra o
Estado Novo e a posição da Ordem em face da situação política
com o protesto contra as medidas repressivas, na sessão de 6 de
junho de 1944. Augusto Pinto Lima, que terá um a atuação desta­
cada no período, vê aprovada por aclamação, moção sobre o
desembarque das tropas aliadas na Europa:

"Em nome da LIBERDADE, do DIREITO, da JUS­


TIÇA e da PAZ proponho^ no entusiasm o da m inha
alm a sonhadora, um voto de GRAÇAS A DEUS, por
ter dado forças e alento às heróicas NAÇÕES ALIA­
DAS E UNIDAS, para o esforço hérculo de atacar, nas
suas fundações, a tirania hitlerista, que domina a Eu­
ropa martirizada. O mundo inteiro vibra nas cordas
m ais sensíveis, pela libertação dos povos escravizados,
pela vil ambição de um vesânico que se guindou ao
poder supremo, apoiado na voz brutal dos canhões, a
serviço dos m ais baixos sentim entos animais. Glória a
CHURCHILL, a ROOSEVELT, a EISENHOWER, os con­
dutores admiráveis e constantes da grande jornada da
VITÓRIA. Sala das Sessões do Conselho Federal que se
rejubila com o Brasil, pela data de 6 de junho de 1944.”

O Conselheiro Adolfo Bergamini com unicava na m esma sessão


ao Conselho, que tendo ido realizar um a conferência no Instituto
dos Advogados da Bahia, sofrerá violências por parte da polícia
baiana, assim como o Presidente daquele Instituto. Usou então a
palavra o Conselheiro Dario de Almeida Magalhães para ressaltar
que o agravo de que fora vítim a o representante do Conselho do
D istrito Federal não envolvia apenas a sua pessoa, m as toda a
classe dos advogados, porque realizar trabalhos de caráter doutri­
nário fazia parte da função do advogado, tal como regido pelo

güidades do Liberalismo Brasileiro — 1945 — 1965, Rio, Paz e Terra,


p. 25. O Presidente Vargas, em discurso logo após a divulgação do
m anifesto, e em n ítid a alusão a seus autores, falaria dos “pruridos
demagógicos de alguns leguleios em férias”.

«4
Regulamento da Ordem e pelo Código de Êtica Profissional, de
forma que o constrangim ento e vexame de que fora alvo represen­
tava um a violência ao próprio desempenho dos deveres que in ­
cumbe à classe dos advogados. E prosseguia Dario de Almeida
M agalhães:

“Recordo outros atentados que têm se registrado


entre nós do direito de crítica e debate doutrinário de
questões e problemas de ordem jurídica focalizando o
caso do Congresso Jurídico Nacional, reunido no ano
passado; o caso do Dr. Sobral Pinto, impedido de conti­
nuar a publicar no Jornal do Commercio os folhetins
nos quais versava assuntos de natureza jurídica, e o
caso do Dr. Pedro Aleixo, membro da Ordem dos Advo­
gados de Minas Gerais, o qual, convidado a realizar um a
conferência na Faculdade de Direito de São Paulo, foi
notificado pela polícia que não poderia proferir a pa­
lestra já anunciada. Relembrando esses episódios, acen­
tuou que são essas faltas apenas aspectos de conflito
inevitável entre o arbítrio e o direito, entre os regimes
de força e ordem legal, da qual os advogadfcjs são a
expressão e os defensores naturais.”

De modo que, em conclusão, propunha a proposta aprovada


unanim em ente:

“1.° — Que 0 Conselho Federal consigne um enér­


gico protesto contra a violência de que foi vítim a o Dr.
Adolfo Bergamini; 2.° — Dê ciência dessa sua delibe­
ração ao Chefe do Governo Federal, ao Ministro da
Justiça, ao Governo do Estado da Bahia e a todos os
Conselhos Seccionais; 3.° — Finalm ente, que o Conse­
lho Federal como afirmação de princípio, proclame a
sua não conformidade com todos os atentados e cons­
trangim entos que se oponham ao exercício do direito de
crítica e debate doutrinário de todas as questões e
problemas de ordem jurídica.”

Na sessão de 27 de junho de 1944, é solicitada a revogação do


Decreto-Lei n.° 5 de 13.11.1937, que estabeleceu medidas contra
os devedores da Fazenda Nacional e do de n.° 42, de 6.12.1937.
Também exam ina o Conselho a situação criada pela proibi­
ção do Conselheiro Sobral Pinto de colaborar no Jornal do
Cowmerck), e desaprova o ato que impede o livre exam e das
questões jurídicas. Sobre a matéría o Conselheiro Dario de Al­
meida Magalhães profere substancioso parecer, inicialm ente reba­
tendo o argumento de se tratar de questão política:

6&
"O relator dá a sua desvaliosa, mas inteira adesão
ao ponto-de-vista dos que sustentam que a Ordem dos
Advogados, em resguai^o do seu prestígio e da autori­
dade, deve pairar acima de todas as efervescências e
agitações políticas e conservar-se sobremaneira às ques­
tões de natureza ou de interesse pessoais. Mas, por outro
lado, ousa pensar que este altíssim o sodalício profissio­
nal não pode, por nenhum a razão, desinteressar-se de
problemas fundam entais Intimamente ligados à ordem
jurídica, aos interesses superiores de um a luta honesta
e segura distribuição de justiça.”

E após examinar, amplamente, a questão, conclui:


“Reivindicando os direitos do espirito, propugnando
pelo seu primado, o Sr. Sobral Pinto, na qualidade de
advogado e de jurista, cumpre um árduo e extraordiná­
rio dever e presta um em inentíssim o serviço à com uni­
dade em geral e especialm ente à classe dos advogados
e juristas. Não podemos, por isso, segundo o m eu modo
de entender, ser insensíveis ao seu apelo e a su a reivin­
dicação. Assim, pelas razões expostas, proponho que o
Conselho Federal da Ordem dos Advogados, no resguar­
do da dignidade do espírito e dos direitos do advogado
e do jurista, fazendo abstração de todos os aspectos de
ordem doutrinária ou pessoal que o caso em exame
apresente:
1. m anifeste a sua desaprovação ao ato que impe­
diu o livre exame doutrinário de um a questão de ordem
jurídica e de Direito Público, de interesse fundamental;
2. signifique o seu pesar por ver o Jornal do
Commercio privado das crônicas do Sr. Sobral Pinto,
com prejuízo da cultura e do aperfeiçoamento das letras
jurídicas do país;
3. dê ciência destas suas deliberações à direção do
Jornal do Commercio, formulando votas para que se
possa restabelecer a referida colaboração, com a plena
segurança do livre exame e discussão doutrinária nas
suas colunas, e nas de todos os jornais, e n as tribunas
do país, dos tem as e problemas jurídicos de qualquer
natureza.”

Na sessão de 18 de julho de 1944, é debatido a censura às


atas do Oonselho Federal. Na sessão de primeiro de agosto de
1944 é aprovado um voto de congratulações pela chegada da
Força Expedicionária Brasileira na cidade de N á ^ le s na Itália.
Darío de AJmeida M agalhães — Páginas Avulsas, 1957, p. 55.

66
Em 11 de agosto de 1944, encerrado o biênio realizam-se elei­
ções para a Diretoria do Conselho Federal. O resultado foi o
seguinte: Raul Fernandes para Presidente, com 10 votos e Melo
Viana 12 votos. Para Secretário-Geral Oswaldo Trigueiro 12 votos,
Atilio Vivacqua 9 votos e Manoel Gonçalves 2 votos. A nova dire­
toria tom a posse na sessão de 15 de agosto de 1944.
Na sessão de 22 de agosto de 1944, é votada moção do Con­
selheiro Nelson Carneiro, de júbilo pelo aniversário da entrada
do Brasil na guerra, reafirmando a confiança na vitória do regime
democrático.
Na sessão de 3 de outubro, discute-se violências sofridas pelo
advogado pernambucano Nehemias Gueiros, que depois se destaca­
ria como Conselheiro e Presidente do Conselho Federal.
Nas sessões de 31 de outubro de 1944 e 14 de novembro de
1944, se exam ina a condenação do Vice-Presidente da Seção do
Ceará, Jader de Carvalho, a vinte anos de prisão pelo Tribunal de
Segurança Nacional, formulando-se os agradecimentos a Nelson
Carneiro pela colaboração n a defesa.
Na sessão de 5 de dezembro de 1944 é lida a carta do Conse­
lheiro Sobral Pinto denunciando pressões do governo de Minas
Gerais em favor de chapa concorrente ao Conselho Federal. A
ditadura tom ava tão m arcante e violenta a pressão, a fim de
tentar tirar a Ordem da posição de independência e autonomia
em que se situava. A carta enviada pelo Presidente Substituto da
Seção de Minas Gerais, Milton Soares Campos, em 9 de dezembro
de 1944, aos Conselheiros federais representantes da Seção, Dario
de Almeida Magalhães, Odilon de Andrade e Alcino de Paula Sa­
lazar, é documento altivo e desassombrado:

“Belo Horizonte, 9 de dezembro de 1944

Ilmos. Srs. Drs.


Dario de Almeida Magalhães
Odilon de Andrade e
Alcino de Paula Salazar
Nessa eleição, estabeleceu a Ordem o princípio de não reeleição de
seu Presidente, a fim de evitar um novo m andato p ara Melo Viana
e pensou-se num grande nome da classe, embora sem vinculação com
a Ordem: Raul Fernandes. Coube a Targino Ribeiro form ular o con­
vite, que foi aceito (depoimento do M inistro Oswaldo Trigueiro ao
au tor em 25 de fevereiro de 1981-: “Ele (Melo Viana) um extrovertido,
que não dom inava os nervos quando arrebatado pela emoção, pre­
vendo a sua derrota, fez n a últim a sessão que presidiu patético dis­
curso, evocando com lágrim as a figura inesquecível do Desembargador
R afael de Almeida M agalhães, pai de Dario Magalhães, o articulador
da candidatura Raul F ernandes”. A Gontijo de Carvalho — Raul
Fernandes, Um Servidor do Brasil, Agir, 1955, p. 306. Cf. tb., Oswaldo
Trigueiro — Raul Fernandes: Revista do Instituto dos Advogados
Brasileiros, n.°s 52/53. 1.° e 2.° semestres de 1977, pp. 154-155.

67
Como Presidente Substituto do Conselho da Ordem
dos Advogados do Brasil, na Seção de Minas Gerais, sin­
to-m e no dever de, por vosso intermédio, levar ao conhe­
cim ento do egrégio Conselho Federal as graves ocorrên­
cias verificadas em Minas, por ocasião das eleições de
1.0 de dezembro. O Governador do Estado planejou e
realizou a m ais franca e rude intervenção nesse pleito.
Pessoalmente, organizou a lista de seus candidatos e por
eles cabalou, dirigindo-se aos advogados eleitores, a
m uitos dos quais cham ou a Palácio para lhes pedir o
voto. Pôs em campo os auxiliares da administração. Mo­
bilizou banqueiros ligados ao Governo.
No interior, agiu por intermédio dos prefeitos e
outros representantes da autoridade pública. Até juizes
de direito foram solicitados para a campanha, e muitos
deles se prestaram à triste missão. Além disso, em issá­
rios percorriam o Estado, utilizando, quando necessário,
transporte aéreo, para chegar a tempo. E, por último,
foram convocados os antigos elem entos políticos do Es­
tado, que atuaram desembaraçadamente junto aos advo­
gados como se se tratasse de uma eleição comum em
que lh e fosse solícita a cabala. As notícias, que vêm
chegando das várias subseções deste Estado, acentuam
cada vez m ais as cores desse doloroso quadro, confirman­
do integralm ente os termos do protesto formulado pelo
Conselheiro Pedro Aleixo na reunião do Conselho do
Instituto da Ordem dos Advogados e da comunicação
feita ao egrégio Conselho Federal pelo Conselheiro He-
raclito da Fontoura Sobral Pinto. D iante disso, entendi
que faltaria ao m eu dever de Presidente Substituto do
Conselho Seccional de Minas Gerais se não levasse ofi­
cialm ente esses fatos ao conhecimento do egrégio Con­
selho Federal Ao fazê-lo acentuo que os resultados do
pleito, já conhecidos, bastam para resguardar as tradi­
ções de bravura e altivez dos advogados mineiros, pela
resistência que revelaram aos abusos do poder, m as o
que importa, no momento, é a gravíssima irregularidade
da intervenção do Governo, em assunto tão exclusiva­
m ente do interesse e da com petência dos advogados.
Pode o Governo pretender transformar as eleições para
o Conselho da Ordem em demonstração de prestígio
político? Se o dever do Governo é a neutralidade nas
próprias lu tas eleitorais, lícito lhe será servir-se de um
pleito privativo dos advogados para combater e perseguir
os hom ens a quem hostiliza? É esse problema, e seu
simples enunciado mostra bem que ele transcende o
âmbito regional em que se m anifestou para afetar as

68
prerrogativas e a existência da própria Ordem dos Ad­
vogados do Brasil, como nobre instituição de um a grande
classe. O que está em jogo é a condição de advogado,
com um a tradição de independência e de inacessibilidade
às investidas do poder. Aproveito a oportunidade para
apresentar-vos os m eus melhores protestos de considera­
ção e estima, (a) Milton Soares Campos, Presidente
Substituto”.

Na sessão de 26 de dezembro de 1944, é comunicado ao Con­


selho a prisão de Dario de Almeida Magalhães, Adauto Lucío
Cardoso, Virgílio de Mello Franco, Austregesüo de Athayde e Ra­
fael Corrêa de Oliveira. O Conselho Federal fica em sessão perma­
nente e im petra um habeas corpus.
Na sessão de 26 de março de 1945 é aprovada moção do
Conselheiro Augusto Pinto Lima:

“O Conselho Federal da Ordem dos Advogados do


Brasil na sua sessão extraordinária após a libertação
política do país, que se verificou no glorioso dia 22 de fe­
vereiro último, reafirma os sentim entos liberais e demo­
cráticos, apoiando a moção das Faculdades Superiores,
do Instituto dos Advogados, e, especialm ente, do Conse­
lho da Seção do Distrito Federal, acompanhando com
entusiasm o a ressurreição da alm a jurídica em tom o do
vasto território nacional, como sempre foi o intérprete
máximo dos eternas princípios do direito, da justiça e
da liberdade”.

As eleições do Conselho Seccional de Minas Gerais voltam


novam ente à Ordem, e como tivessem sido anuladas pelo Conselho
Seccional, decide-se nomear os sete membros eleitos pelo Insti­
tuto, como diretoria provisória, até que se realizem novas eleições.
Na sessão de 17 de abril de 1945, aprova-se um voto de pesar
pelo falecimento de Franklin Delano Roosevelt, Presidente dos
Estados Unidos da América, e recebe-se ofício de Dario de Almeida
Magalhães, Adauto Lucío Cardoso, Austregesilo de Athayde, Virgí­
lio de Mello Franco e Rafael Còrrêa de Oliveira agradecendo a ação
do Conselho enquanto estiveram presos.
Na sessão de 11 de maio de 1945 é com unicada a libertação
de Jader de Carvalho, bem como se delibera sobre voto de regozijo
pelo fim da guerra na Europa e congratulações à atuação da
Força Expedicionária Brasileira.
cópia dessa carta, bem como as das atas do Conselho Seccional que
trata m do episódio, me foram gentilm ente fornecidas pelo Presidente
do Conselho Seccional de Minas Aristóteles Athenien.se.

69
Na sessão de 26 de maio de 1945 Augusto Pinto Lima e Sobral
Pinto m anifestam -se contra o Decreto-lei n.° 7.666, a famosa “Lei
Malaia”, que dispõe sobre os atos nocivos à economia nacional,
sendo também apresentada m anifestação contrária do Conselho
Seccional de São Paulo.
Os estertores da ditadura provocam momentos de violência
contra advogados. Na sessão de 4 de setembro de 1945, repercutem
as exercidas contra o Presidente da Seção de Alagoas, a prisão
do advogado Paulo Costa, de Sergipe, e o protesto genérico contra
o poder público, praticando violência contra intelectuais e jorna­
listas por atitudes ideológicas, Na sessão seguinte de 11 de setem ­
bro são comunicadas as medidas tom adas sobre a prisão do Pre­
sidente da Seção de Alagoas.
Na sessão de 18 de setembro de 1945, é apresentada uma
moção por Augusto Pinto Lima contra a posição do governo
Vargas e um documento aditivo de Sobral Pinto, solicitando que
fossem comunicados aos Chefes Militares, ao Clero e às classes
operárias. A moção final seria divulgada pela imprensa, dirigida
às classes sociais especialmente às Forças Armadas.
Na sessão de 16 de outubro de 1945, Augusto Pinto Lima tem
aprovada mioção contra o Decreto-lei n.° 8.063, de 10 de outubro,
que dispõe sobre as eleições para Governadores e Assembléias Le­
gislativas.

“O Conselho Federal da Ordem dos Advogados do


Brasil, cumprindo, ainda uma vez, o mais alto dos de-
veres que lhe incumbe e que, além de provir da própria
origem da instituição, se acha inscrito dentre os m an­
damentos fundam entais do Código de Ética Profissional
(Seção 1.®, Inciso I ), m anifesta de novo seus pontos-
de-vista em defesa da restauração da ordem jurídica
democrática no Brasil.
Deplora o Conselho que, contrariando os pronun­
ciam entos de órgãos que exprimem, com autenticidade
e insuspeição, a opinião pública do país, se tenham
comprometido, com a injustificada promulgação do
Decreto-lei n.° 8.063, de 10 de outubro corrente, as
possibilidades de um legítim o, incontestável e pacífico
restabelecimento da ordem jurídica constitucional.
Na moção que teve, a 18 de setembro últim o, o
apoio da unanimidade das delegações estaduais, oolo-
cou-se o Conselho contra a subversão do processo eleito­
ral vigente, a qual visava objetivos partidários incom­
patíveis com um a sincera orientação dem ocrática.
Contra o interesse público, propugnava-se naquele con­
turbado período, o adiam ento das eleições para a
suprema investidura de Presidente da República, redu­

70
zindo-se a restauração da ordem Jurídica à sim ples e
supérflua convocação de uma assembléia constituinte,
já prevista com a eleição também de um Parlamentb,,
no dia 2 de dezembro próximo futuro. A coalizão das
foi^ças preservadoras do direito e da ordem jurídica,
bem superiores às meras fórmulas e aparências da
legalidade, impediu porém que esse subversivo propó­
sito fosse então atingido.
Considera agora o Conselho que a expedição do
Decreto-lei n.° 8.063, já referido, cuja feitura não pro­
cedeu da iniciativa do Tribunal Superior Eleitoral, órgão
incumbido de superintender o processo de reconstrução
política da Nação, e que não se inspirou nas recomenda­
ções da opinião pública, pelos seus órgãos responsáveis
e qualificados, vem lançar a anarquia e o tum ulto sobre
a obra de restauração das instituições democráticas do
Brasil. M anifesta ainda o Conselho que essa repentina
e infundada intervenção do poder na situação jurídica
criada pela vontade da Nação equivaleu a uma nítida
alteração dos termos em que se sedim entara a legislação
política que se consubstanciou na chamada Lei Consti­
tucional n.° 9 e nas leis eleitorais, promulgadas todas
m ediante audiência do Tribunal competente para suge­
ri-las e, com isso, conferir-lhes insuspeição e autoridade.
Cumpre pois o Conselho Federal o seu dever de de­
nunciar à opinião pública e às classes responsáveis essa
transgressão dos compromissos assumidos pelo Governo,
esperando que, hoje como ontem, o patriotismo, a deci­
são e a serenidade daqueles que custodiam os destinos
da Nação intervenham para restabelecer a ordem jurí­
dica violada, e restaurar a comprometida segurança de
honestidade e liberdade na reintegração democrática do
Brasil.”
Embora a Ordem dos Advogados não pudesse assum ir posições
partidárias, as medidas pelo restabelecimento do regime democrá­
tico praticamente se confundiam com a cam panha do Brigadeiro
Eduardo Gomes. Assim, ainda que sem a participação ostensiva da
Ordem, os advogados cariocas promovem uma hom enagem ao can­
didato oposicionista no dia 19 de outubro no Teatro M unicipal do
Rio de Janeiro, entregando-lhe um m anifesto com m ais de 1.500
assinaturas; falam na ocasião Adauto Lucio Cardoso pelos advo­
gados cariocas; Milton Soares Campos, representado por Monteiro
de Castro, pelos advogados mineiros e Plinio Barreto, representado
por Targino Ribeiro, pelos advogados paulistas.^*^
Com punham a Comissão Organizadora os advogados Adauto Lucio
Cardoso, Augusto P into Lima, Bruno Almeida Magalhães, Dario Al-

71
Afinal, em 29 de outubro de 1945 cai a ditadura, com a depo­
sição de Getúlio Vargas. No dia seguinte, o Conselho Federal se
reúne e aprova a seguinte moção:

“A Ordem dos Advogados saúda com profunda emo­


ção a entrega do Poder Executivo ao Presidente do
Supremo Tribunal Federal, ocorrida esta noite.
É um primeiro passo para a reentrada do Brasil na
ordem e na legalidade; m as este primeiro passo foi dado
com tal firmeza, com tanto decoro, sob a inspiração tão
patente do m ais puro e desinteressado devotamento aos
interesses nacionais, que justifica a m ais confiante segu­
rança de que outros hão de seguir para recompor a
verdadeira fisionom ia de nossa Pátria, grosseiramente
deformada pelo regime execrado sob o qual tem os vivido,
oprimidos e humilhados, desde o golpe soturno de 10 de
novembro de 1937.
m eida Magalhães, Francisco Serrano Neves, Sobral Pinto, Jorge Dyott
Fontenelle, Justo Mendes de Morais, Odilon Braga e Targino Ribeiro.
Na sessão do Conselho Federal de 23 de outubro. P in to Lima fez a
seguinte declaração:
“Congratulo-me com a Ordem pela brilhante m anifestação dos
Advogados Cariocas ao ilustre M ajor-Brigadeiro Eduardo Gomes,
no Teatro Municipal, gentilm ente cedido à comissão organi­
zadora, pelo Prefeito do Distrito Federal n a tard e de sexta-
feira, 19 do corrente mês, a fim de ser entregue ao candidato
nacional ã Presidência da República m anifesto n a nobre classe
subscrito por mais de 1.500 cultores do direito, m ilitando no foro
local. Foi ofertante o Dr. Adauto Lucio Cardoso, cuja oração
cívica foi um hino entusiástico à restauração da ordem jurídica
tão contrária à d itad ura reinante, infelizmente, nas terras livres
do Brasil.
Ouviu-se nesse cenáculo onde se não sabia o que mais
adm irar, se a eloqüência dos oradores, a justeza dos conceitos,
a elevação dos princípios, se a eletrizante atm osfera de aplau­
sos de um a assistência tão seleta como num erosa a palavra
oracular do Eduardo Gomes, que se vem revelando o m aior
auscultador da alm a brasileira em assombrosos discursos, que
vem pronunciando, n a Cam panha memorável de sua predes­
tin ad a candidatura, que é o combate do bem contra o mal, da
lei contra o arbítrio, da h o n ra contra o opróbrio. Foi, senhores
um a tarde m agnífica, a formidável vitória da verdade, levando
a fé viva dos crentes ao organismo depauperado de um a nação
que se ergue heroicam ente, para a liberdade, após longos
quinze anos duríssimos de cativeiro imerecido.
G raças sejam dadas àqueles que b atalh aram pelo Brasil
livre, conquistaram a golpes de talento, de erudição, de de-
sassombro ã ordem jurídica, restltulndo à p átria brasileira o
seu antigo esplendor de civilização e de cu ltu ra dem ocrática
no Império e n a República.
Peço, pois, que se consigne n a a ta da sessão de hoje o
nosso júbilo, por tão faustoso sucesso e os nossos aplausos aos

72
Honra às Forças Armadas que, ainda uma vez, no
curso da história se mostraram compartes do nosso des­
tino e servidoras da comunidade. A Ordem dos Advoga­
dos se associa ao júbilo nacional, consciente de não haver
faltado aos seus deveres durante os anos atormentados
do regime ditatorial, e exprime os m ais ardentes votos à
Divina Providência para que, sob a égide da lei, a paz
e a fraternidade reinem sobre os brasileiros.”

A designação do Presidente Raul Fernandes para participar


da delegação brasileira à Conferência de Paz em Paris merece
apoio do Conselho na sessão de 16 de abril de 1946. Na m esma
sessão é aprovado um voto de regozijo pela instalação do Poder
Legislativo.
Na sessão de 28 de m aio de 1946 é votada um a m oção em
face de atentados e violências, no seguinte sentido:

“O Conselho Federal da Ordem dos Advogados do


Brasil, tendo em vista os recentes acontecim entos que
tanto abalaram a opinião pública, exprime confiança em

advogados cariocas, aos promotores d a jo rn ad a cívica, e, espe­


cialm ente aos oradores da m anifestação, — Srs. Plínio Barreto,
n a pessoa de Targino Ribeiro, M ilton Campos, representado
por M onteiro de Castro e Adauto Lucio Cardoso, todos inexce-
díveís n a elevação do pensam ento e n a elegância do verbo,
insuperáveis n a nobreza das atitudes tom adas, em defesa de
um a causa, agora, a causa nacional do direito, da justiça e
d a liberdade.”

E prosseguiu:

“Ao mesmo tem po íoi com grande emoção que assisti às m a­


nifestações feitas, de form a rara, en tre aplausos repetidos ao
nosso grande Presidente Raul F ernandes e ao b rilhante advo­
gado Sobral Pinto, que m ereceram especial convite, sob um a
estrondosa salva d e palm as, p ara to m ar assento n a m esa que
dirigia a distinta e seleta assembléia.”
Cumpre acen tu ar que P into Lima foi um dos oradores da sessão de
fundação da União Democrática Nacional, em 7 de abril de 1945,
no Auditório d a Associação Brasileira de Im prensa, tendo verberado
no discurso a Constituição de 37 e negado eficácia ao movimento
dirigido por Getúlio Vargas, e auxiliado por Agamemnon Magalhães,
“um bandoleiro do direito”. Apud. Benevides, op. cit.
15a Nessa mesma sessão é comunicado ao plenário 0 convite recebido
p ara a posse n a Presidência da República do M inistro José Linhares.
Segundo relato de Sobral Pinto, só tiveram acesso à solenidade de
posse os M inistros do STF e os Conselheiros do Conselho Federal da
OAB, estes últimos em hom enagem à lu ta desenvolvida pela instituição
co n tra o Estado Novo”. H erm ann Assis B aeta — OAB e a Defesa da
Liberdade — Anais da V II Conjerência Nacional de Advogados —
Manaus, 1980, pág. 438.

73
que os poderes públicos, agindo dentro da lei, defenda
intransigentem ente a ordem jurídica e as liberdades
democráticas.”

Na sessão de 16 de julho de 1946, o Presidente Raul Fernandes


se despede do Conselho, um a vez que embarca para Paris, a fim
de desempenhar a missão que o Governo Brasileiro lhe confiara.
Em 12 de agosto de 1946 realizam-se novas eleições para o
Conselho Federal, sendo reeleita a diretoria então em exercício,
Raul Fernandes e Oswaldo Trigueiro, ambas com 18 votos, apesar
de estar o presidente ainda no exterior.
Na sessão de 3 de setembro de 1946, diante de novas evidências
de violências, é votada a moção de José Augusto:

“Lançamos daqui o nosso veem ente protesto contra


a brutalidade policial, que atingiu, através de colegas
eminentes, a própria dignidade da classe, e indicamos
que o Sr. Presidente leve às altas autoridades da Repú­
blica a expressão da sua indignação, reclamando provi­
dências que conduzam, com a punição dos criminosos,
a desagravar os advogados brasileiros.”

Tratava-se da agressão sofrida por Adauto Lucio Cardoso e


outros colegas, tendo este, em sessão, acusado como responsável
pelas ofensas físicas e morais o Delegado Martins Ferreira, com a
conivência do Chefe de Polícia. Na sessão seguinte, vários conse­
lheiros apóiam a defesa de Adauto Lucio Cardoso e Helio Walcacer.
Na sessão de 24 de setembro de 1946, é indicado o Conselheiro
Arthur Rocha para estudar a legislação da Ordem, em face da
nova Constituição, indicando as alterações que devam ser propos­
tas. Em 29 de outubro de 1946, o Conselheiro Soares de Pinho con­
gratulava-se com o aniversário do início da restauração democrá­
tica. E na sessão seguinte de 3 de dezembro de 1946 são designados
para o Conselho do Patrimônio da União como representantes da
Ordem, segundo a nova legislação vigente, Jair Tovar, efetivo e
W ashington de Almeida, suplente.
Na sessão de 10 de dezembro de 1946, em face da nomeação
de Raul Fernandes para Ministro das Relações Exteriores, o Con­
selho resolve enviar um telegrama de congratulações ao Presidente
da República, na sessão seguinte nomeia Comissão para estudar
a renúncia e a incompatibilidade do Presidente, composta dos
Conselheiros Themistocles Marcondes Ferreira, Edson Oliveira Ri­
beiro e Alcino Salazar: decidiu-se que o Presidente fica licenciado,
enquanto exercer o cargo de Ministro de Estado.
Com a renúncia do Secretário Oswaldo Trigueiro, eleito Gover­
nador da Paraíba, é realizada eleição para o cargo em 22 de abril

74
de 1947, sendo escolhido Secretário J. N. Mader Gonçalves com 14
votos.
A partir desta época, com a reconstitucionalização e o funcio­
nam ento normal do Poder Legislativo, parte ponderável das ativi­
dades do Conselho Federal passa a ser o exame e a análise de
projetos em curso no Congresso.
Na sessão de 26 de agosto de 1947 discute-se o substitutivo de
Gilberto Valente na Câmara dos Deputados, sobre a alteração do
artigo 101 do Regulam ento da Ordem. É aprovado peloi Conselho
outro substitutivo, de autoria de Nelson Carneiro, declarando que

“O bacharel ou doutor em direito, inscrito n o quadro


da OAB, poderá livremente exercer sua profissão em
qualquer parte do país, m ediante a simples apresentação
de sua carteira de identidade de advogado ou presidente
da Seção ou Subseção da Ordem, ou juiz do feito, ob­
servadas as restrições constantes da mesma carteira.”

Na sessão de 21 de outubro de 1947 é nomeada comissão en­


carregada de estudar a reforma do Regulamento, composta dos
Conselheiros Alberto Monteiro da Silva, F. Martins de Almeida e
Manoel Gonçalves.
Na sessão de 28 de outubro de 1947 é aprovado por proposta
do Conselheiro Tertuliano M itchel um voto de aplauso ao Governo
pelo rompimento de relações com a União Soviética, e voto de
desagravo pela situação vexatória que o governo soviético impôs
à Delegação brasileira m antida como refém no H otel Nacional.
Na sessão de 2 de dezembro de 1947 é aprovada Indicação do
Conselheiro José Telles da Cruz, propondo a apresentação de proje­
to de lei que conte como tempo de serviço para aposentadoria e
demais vantagens o exercício no Conselho da Ordem.
Na sessão de 27 de abril de 1948 é feita a leitura de telegrama
do advogado Aristides Saldanha, comunicando haver sido seqües­
trado pela polícia de Alagoas, quando na defesa de parlamentares
com unistas acusados de assalto à cadeia da cidade de São Luís de
Quitundes; foi abandonado no litoral pernambucano e afirma ter
provas responsabilizando o Governo de Alagoas. O Conselho decide
prestar solidariedade a Aristides Saldanha, solicitando providências
ao Ministro da Justiça. Na m esma sessão, Pinto Lima propõe mo­
ção de apoio a Carlos Lacerda que sofrerá agressões; é aprovado
substitutivo de Nelson Carneiro, sem a indicação de nomes.
Na sessão de 18 de maio de 1948 é proposto voto de louvor a
Fernando Sales Malheiros grande benemérito da classe, que deixa­
va a presidência da Caixa dos Advogados. Será ele recebido na
sessão de 25 de maio, e fala sobre a Caixa e a Casa dos Advogados.
Na sessão de 11 de agosto de 1948 processam-se novas eleições
para o Conselho, sendo eleito Presidente Augusto Pinto Lima com

75
14 votos, contra 7 votos dados a Odilon de Andrade e 1 voto em
branco, para Secretário-Geral, J. J. Marques Filho obtém 15 votos
contra 7 vetos a J. N. Mader Gonçalves,
Augusto Pinto Lima era advogado m ilitante, e com gran­
de atuação junto aos órgãos de classe, tanto o Instituto como
a Ordem. Era Presidente do Conselho do Distrito Federal, m as seu
mandato no Conselho Federal será extremamente curto, term inan­
do em circunstâncias trágicas.
Na sessão de 17 de agosto de 1948 é votada a indicação no
sentido da criação do cargo de Vice-Presidente da Ordem, sendo
nomeada comissão composta de Anuar Farat, Nelson Carneiro,
relator, Oswaldo Vergara, Elizabeto de Carvalho, Francisco Pereira
da Silva e Eurico Salles para exam inar a matéria.
Na sessão de 31 de agosto de 1948 ocorre um fato dramático:
a morte em plena sessão do Presidente Pinto Lima. Discutia-se a
questão relativa à m anutenção do mandato de Augusto Pinto Lima
como Presidente do Conselho do Distrito Federal, em face da sua
eleição como Presidente do Conselho Federal. Os ânimos estão
exaltados; Pinto Lima pede a palavra e quando pronunciava as
palavras “defendendo e lutando pela nossa classe, pelos nossos di­
reitos, pela nossa liberdade e con tin u arei.. . ” morreu vítim a de
uma síncope.

10 João G ualberto de Oliveira comete o lapso de in d icar a Presidência


Pinto Lima em 1944 e não em 1948. João G ualberto de Oliveira, op.
cit., p. 351.
17 Alberto B arreto de Melo, recém -indicado membro do Conselho Federal,
estava presente n a sessão e tem viva a lem brança do trágico episódio,
ainda n a velha sala do Conselho, no prédio do antigo Foro, “velho e
acanhado recinto” no dizer de Levi Carneiro (depoimento de Alberto
B arreto de Mello ao auto r em 3-6-1981).
No dia 25 de agosto de 1980, n a antevéspera da m orte de D. Lyda
Monteiro d a Silva, o au to r solicitou a ela que m andasse transcrever
o texto da placa existente em hom enagem a Augusto Pinto Lima no
Conselho Federal. Meia h ora depois ela apresentava de sua datilo­
grafia, 0 texto que é transcrito abaixo:
"últim as palavras pronunciadas pelo Presidente Augusto
Pinto Lima em sessão realizada pelo Conselho Federal da
Ordem dos Advogados do Brasil, em 31 de agosto de 1948.
P laca de Bronze:
O CONSELHO FEDERAL DA ORDEM DOS ADVOGADOS
DO BRASIL ao seu inolvidável Presidente Augusto P into Lima
falecido em plena sessão ao pronunciar estas palavras:
“Apesar dos meus 73 anos de idade, nenhum colega me
viu desertar da lu ta pela Liberdade, pela Justiça e pelo Direito:
n un ca deixei de exercer, diariam ente, aqui, as duas funções
que me confíastes, atendendo, defendendo e lutando pela
nossa Classe, pelos nossos direitos, pela nossa liberdade e
continuarei” . ..
A transcrição textu al dessas palavras, só foi possível por­
que o Conselheiro José M aria Mac Dowell da Costa, conhecedor

76
Na sessão de 14 de setembro de 1948 é feita eleição para Pre­
sidente, sendo eleito com 21 votos Odilon de Andrade, represen­
tante, há vários anos, da Seção de Minas Gerais, professor e espe­
cialista em processo civil, com várias obrais publicadas, além de
ter sido parlamentar estadual e federal.
Na sessão de 12 de outubro de 1948 examina-se o problema da
Vice-Presidência, ficando decidido pleitear-se emenda, criando-se a
Vice-Presidência, e proibindo a reeleição do Presidente e do Vice-
Presidente, inclusive dos Conselhos Seccionais.
Na sessão de 20 de abril de 1950 é comunicado o recebimento
de oficio do Tribunal de Contas considerando a Ordem como autar­
quia e como tal sujeita a prestação de contas. Sobre o assunto é
nomeado relator o Conselheiro Arnoldo Medeiros da Fonseca. Já
na sessão de 2 de maio de 1950, o Conselheiro Dario de Almeida
Magalhães profere memorável parecer sobre a natureza jurídica
da Ordem dos Advogados.
O parezer de Dario de Almeida Magalhães, aprovado, examina
m inudentem ente a matéria e tem a seguinte ementa:

“Ordem dos Advogados do Brasil, sua natureza jurí­


dica, seus poderes, funções e encargos — conceito de
autarquia em face da doutrina e da lei — prestação de
contas ao Tribunal de Contas.
A Ordem dos Advogados do Brasil, entidade jurídica
sui generis, não se inclui entre as autarquias adminis-

de taquigrafia, foi passando para um papel as palavras do


ilustre morto.
A p laca de bronze foi feita com a doação em dinheiro de
advogados m ilitantes do foro do Rio de Janeiro, desde o mais
pobre até ao mais afortunado, incluindo solicitadores e pro-
visionados. Dr. AUGUSTO PINTO LIMA foi um a pessoa sin­
gular. H um anitário, sensível e extrem am ente envolvente. Foi,
n a sua época, estimadíssimo. Todos o adm iravam e estimavam.
Destemido no mais alto grau, enfrentava qualquer obstáculo
p ara re tira r d a cadeia qualquer advogado preso, no regime
da ditadura. Foi unicam ente advogado em toda a sua vida.
Viveu p ara a advocacia e m orreu pobre. 25-8-80.”
is Alberto B arreto de Mello traç a um interessante perfil do Conselho
d a época, cham ando-o de “Conselho de parlam entares” assim como
de desembargadores aposentados, sobretudo no do Norte e Nordeste,
os quais, atingindo a inatividade, se tran sferiam p ara o Rio.
O processo eleitoral e ra geralm ente com andado pelo Secretário-
Geral, em busca de um consenso, n a escolha do Conselheiro mais
atu ante. O Nordeste tin h a m aioria no Conselho Federal e o Norte
era o fiel d a balança, ambos se contrapunham à influência do Distrito
Federal, tradicionalm ente de grande ascendência no Conselho FederaL
Depoimento ao au to r em 3-6-81.
19 Não foi encontrado no Arquivo do Conselho Federal, o livro de Atas
referentes a 1949, motivo pelo qual são escassas as referências a
esse ano.

77
trativas sujeitas à prestação de contas perante o Tribu­
nal de Contas.
À Ordem dos Advogados não foi atribuída gestão de
qualquer parcela do patrimônio público, que se houvesse
destacado do patrimônio geral da União. Não recebe
qualquer ajuda, auxílio ou subvenção do Tesouro Nacio­
nal; custeia os seus serviços exclusivam ente com m odesta
contribuição pecuniária dos inscritos em seus quadros.
Todos os seus órgãos de direção são eleitos pelos advo­
gados; e os seus com ponentes desempenham os seus
deveres sem remuneração de qualquer espécie. Não tem
a Ordem nenhum objetivo econômico; executa apenas
tarefa de natureza ética, cultural e profissional, como a
de zelar pelo exercício probo e eficiente da advocacia.”

O parecer inicia exam inando a natureza jurídica da Ordem


dos Advogados, e como classificá-la entre os entes morais que
povoam o mundo jurídico. Declara que:

“A Ordem é uma associação ou corporação profissio­


nal, que reúne todos os que exercem o ofício de advo­
gado. Não é uma corporação voluntariam ente constituí­
da: criou a lei, atendendo à velha aspiração da própria
classe que a compõe. E pertencer a seus quadros é con­
dição imprescindível para o exercício da advocacia,
tornando privilégio dos que cumprem a exigência da
lei, preenchendo os requisitos necessários à habilitação
profissional (Arts. 13 e 14 do Regulam ento).
A Ordem, por outro lado, é um órgão auxiliar e
complementar dos órgãos judiciários. E n a realização de
sua tarefa e no exercício dos seus poderes, a Ordem não
está subordinada senão à lei. Não se colocou na depen­
dência hierárquica de qualquer outro órgão ou entidade.
Não conhece ela qualquer outra forma de “controle”,
senão o jurisdicional, que pertence à justiça ordinária
na sua missão de preservar o inviolável “rule of law”
asegurado num a amplitude pela Constituição (Art. 41
§ 4 .°).
De outro lado, garantindo-lhe plena independência
e íntegro autogovem o todos os órgãos de direção da
Ordem são eleitos pelos membros da corporação (Art.
65, § 1.®, 83, parágrafo único, 84 e 88 do R egulam ento).”

Menciona ainda o parecer as outras prerrogativas de que goza


a Ordem: a do seu Conselho Federal, constituído de delegados de
todos os Conselhos Seccionais, competir votar e alterar o Código de

78
Ética profissional e o poder impositivo de caráter financeiro, o de
lançar sobre os inscritos uma contribuição anual fixada pela As­
sembléia Geral.
E prossegue:

“A lei 0 declarou explicitam ente: a Ordem constitui


serviço público federal” . .. (Art. 2.° do Regulam ento).
Que houvesse, porém, om itido a caracterização; esta re­
sultaria das funções que lhe atribuiu e das prerrogativas
que lhe concedeu e cuja substância define, de maneira
inequívoca, a natureza da instituição criada.”

Mostrando o conjunto de prerrogativas que dispõe a Ordem,


indagava então o parecer se:

“A Ordem se há de classificar, ipso facto entre as


autarquias, que, pelo art. 72 n.° 2 da Constituição são
obrigadas a prestar contas no Tribunal de Contas.”

Mostrando a ausência de um conceito uniforme da doutrina


do que seja autarquia administrativa, exam ina os vários conceitos
dos tratadistas, sobretudo a doutrina italiana em Lentini, Presutti
e Alessio, para chegar aos conceitos do Desembargador Seabra Fa­
gundes, membro então do Cbnselho, e concluir da seguinte forma:

“Entre nós, as autarquias existentes têm finalidade


acentuadam ente econômica; destinam-se, salvo raras
exceções, ao desempenho de serviço de natureza indus­
trial ou comercial ou atender à previdência social, atra­
vés de organismos que operam também como verdadeiros
bancos de investimentos.
O patrimônio delas é um patrimônio público; os
seus serviços são mantidos pelo menos parcialmente com
recursos fornecidos pelo Tesouro Público, os membros
de sua Diretoria, senão todos, os que nela têm maior
autoridade, são nomeados pelo Poder Executivo.
Nada disso se verifica com a Ordem. Não lh e foi atri­
buída gestão de qualquer parcela do patrimônio público
que se houvesse destacado do patrimônio geral da União.
Não recebe qualquer ajuda, auxílio ou subvenção do Te­
souro Nacional, custeia os seus serviços exclusivam ente
com modesta contribuição pecuniária dos inscritos nos
seus quadros. Todos os seus órgãos de direção são eleitos
pelos advogados; os seus componentes desempenham os
seus deveres sem remuneração de qualquer espécie. Não
tem a Ordem nenhum objetivo econômico; executa ape­
nas tarefas de natureza ética, cultural e profissional,

79
como a de zelar pelo exercício probo e eficiente da ad­
vocacia.
Qual a razão pois, qual a vantagem de se enquadrar
a nossa corporação (a que sem dúvida atribuíram largos
poderes) a fim de que cabalmente se desincumba de seus
encargos, na mesma chave ou esquema das autarquias
administrativas, para subm eter ao mesmo regime co­
mum, entidades tão diversas, sob m últiplos aspectos?”

E m anifesta que nenhum a razão justifica a exigência de pres­


tação de contas pela Ordem ao Tribunal de Contas, acrescentando
que ao Tribunal de Contas compete julgar as contas dos responsá­
veis por dinheiro ou outros bens públicos ou jurisdição sobre os res­
ponsáveis por dinheiro ou valores ou m aterial pertencentes à Nação.
A situação da Ordem é, porém, diversa. Não tem patrimônio pú­
blico que lhe fosse confiado pela União; nem se sustenta com
dinheiros públicos. Nem como tributo se poderia conceituar a
contribuição especial que a Ordem percebe dos seus associados
para o próprio sustento.
E concluía:

“A posição da Ordem, o papel que lhe foi destinado,


a autoridade de que se reveste, as responsabilidades que
lhe incumbem, não se coadunam porém com qualquer
forma de tutela administrativa.
A sua independência lhe é essencial, não só à digni­
dade da instituição como a própria eficiência de sua
atividade peculiar. A independência da Ordem protege
a independência do advogado; e sem esta a profissão
decai de sua grandeza e de sua utilidade social.
Acatamos a lei porque o nosso destino não é outro
senão de pugnar para que ela seja fielm ente obedecida.
Toca-nos porém a obrigação de preservar a instituição
que servimos, n a plenitude da independência como foi
criada, com que tem vivido, nobremente. O receio de
que a menor restrição a essa independência sem que
nenhum a razão de ordem superior a justifique poderá
ser um estím ulo a novas e m ais sensíveis restrições. E
esta mesma independência é o nosso verdadeiro patri­
mônio, aquele que nos é m ais precioso e necessário.
Se o Tribunal de Contas não se rendeu às nossas
razões, também não logrou convencer-nos no acerto do
ponto-de-vista em que se obstina. A posição que assum i­
m os se apóia em valioso fundam ento da ordem jurídica
e do interesse público.

80
Em tais circunstâncias, resta-nos provocar a decisão
soberana d a justiça para pôr termo a controvérsia que se
suscitou.”
Nessa mesma sessão, o parecer foi discutido, recebendo os
maiores encômios, havendo som ente um a divergência do Conse­
lheiro Martins de Almeida que, embora ressalvando o mérito do
trabalho, divergia por entender que a Ordem é um a autarquia,
sujeita portanto à exigência do Tribunal de Oontas. Falou também
o Conselheiro Seabra Fagundes, que se sentiu no dever de parti­
cipar do debate, uma vez que foi chamado à colação, para concluir
reconhecendo que, mesmo aceitando ser a Ordém um a autarquia
no sentido lato da expressão, seria ela de tipo especial, não sujeita
a prestação de contas, eis que não estava subordinada ao controle
estatal, nem dispunha de direitos públicos.
O Presidente, em exercício, Alcino Salazar, encerrando a dis­
cussão declarou que o parecer “constitui um a contribuirão decisiva
no deslindar a controvérsia e que os novos subsídios trazidos a
debate, notadam ente a invocação da própria lei orgânica do Tribu­
nal de Contas, faziam com que modificasse sua opinião, exter­
nada em sessões anteriores, para aderir ao ponto-de-vista do
relator”.
Tendo o Conselho decidido recorrer à Justiça, foram escolhidos
por proposta os Conselheiros Martins de Almeida e Oswaldo de
Souza Valle, sob aclamação, os Conselheiros Dario de Almeida Ma­
galhães e Miguel Seabra Fagundes para patrocínio da Ordem no
procedimento judicial a ser intentado.
O mandado de segurança foi requerido, a fim de reconhecer
que a Ordem dos Advogados do Brasil não está compreendida entre
as entidades a que se refere o Artigo 77 n.° II da Constituição
Federal, esclarecido pelo disposto na Lei n.° 1.830 de 23 de setem­
bro de 1949, e que seja resguardado, pelo pronunciam ento judicial,
o seu direito líquido e certo de não atender a exigência legal do
Tribunal de Contas enunciada no seu ofício de 29 de março deste
ano, considerando-se em conseqüência a im petrante isenta de
qualquer das penalidades previstas na mencionada lei, pelo fato
de não prestar contas dentro do praao de sessenta dias estipulado
no aludido ofício daquele Tribunal.
A Inicial arrolava dezessete pontos, de fato e de direito, em
que se fundara para repelir a pretensão de prestação de contas, a
saber:
2i> o parecer de Dario de Almeida M agalhães está publicado n a Revista
de Direito Administrativo, Vol. 20, pp. 34 e seguintes, e tam bém
no volume da Ordem dos Advogados do Brasil, As Razões da Autonomia
da Ordem dos Advogados do Brasil, Rio de Janeiro, 1975, pp. 27 e
seguintes.
-I V. Revista de Direito Administrativo, Vol. 29, julho/setem bro, 1952,
p. 124.

81
a) — que a Ordem é uma corporação, destinada à seleção,
defesa e disciplina da classe dos Advogados, a que devem obrigato­
riamente pertencer todos que exercem a advocacia; b) — que a
Ordem é um órgão auxiliar e complementar dos próprios órgãos
judiciários, na sua missão própria de zelar pelo exercício regular
e correto da advocacia; c) — que a Ordem desempenha um serviço
público federal, gozando de largos poderes, para se desincumbir
eficientem ente da tarefa que lhe foi cometida pela lei; d) — que
a Ordem não está sujeita ao controle ou à subordinação hierár­
quica de qualquer outro órgão ou entidade, senão ao controle juris-
dicional que pertence à justiça ordinária, na verificação da legali­
dade dos atos que praticar; e) — que à Ordem foram assegurados
plena independência e íntegro autogovem o, sendo todos os com­
ponentes de seus órgãos de direção eleitos pelos próprios membros
da corporação; f) — que para o eficaz desempenho dos encargos
que lhe foram atribuídos à Ordem foram conferidas prerro^tivas
que lhe caracterizam a natureza de pessoa jurídica de direito pú­
blico investida de poderes estatais; g) — que pelo só fato de dispor
de tais poderes e prerrogativas, não deve ser a Ordem classificada
sob a denominação genérica de autarquia administrativa, — quan­
do oferece na sua estrutura, composição e finalidade, caracteres
peculiares e fisionom ia sui generis qtie reclamam que se lhe dê
um a qualificação adequada à sua natureza de corporação, dispondo
de poderes latos, acordes com a m issão específica que lhe foi con­
ferida; h) — que o conceito de autarquia adm inistrativa tanto na
doutrina como na legislação, é impreciso e cambiante, fenômeno
explicável pelas circunstâncias de ser relativam ente recente, entre
nós, o emprego dessa técnica de descentralização e personalização
<ie serviços públicos e de apresentarem os diversos descentralizados,
os característicos e aspectos m ais variados, consoante a finalidade
a que se destinam e a natureza das tarefas que devem desempe­
nhar; i) — que entre nós as autarquias adm inistrativas têm cará­
ter acentuadam ente econômico; o seu patrimônio é um patrimônio
público, os seus serviços são mantidos, pelo menos parcialmente,
com recursos fornecidos pelo Tesouro Público e os administradores,
senão todos, aqueles que têm maior autoridade, são nomeados pelo
Poder Executivo; j) que à Ordem não foi atribuída a gestão de
qualquer parcela do patrimônio público que se houvesse destacado
do patrimônio da União; k) — que a Ordem não recebe qualquer
ajuda, auxílio ou subvenção do Tesouro Nacional, pois custeia os
seus serviços exclusivam ente com a reduzida contribuição paga
pelos inscritos nos seus quadros; 1) — que todos os órgãos de di­
reção da Ordem são eleitos pelos advogados e os seus com ponentes
desempenham os seus deveres, como — m unus publicum, — sem
remuneraição de qualquer espécie; m) — que a Ordem não tem
qualquer objetivo econômico, executando tarefa, apenas, de n atu ­

«2
reza ética, disciplinar e cultural, qual a de zelar pelo exelrcício
probo e eficiente da advocacia; n) — no que o problema de classi­
ficação das Ordens profissionais, também foi objeto de exame
recente na França, na doutrina e na jurisprudência do Conselho
de Estado, segundo informa Waline, afastando-se a sua qualifica­
ção como estabelecim ento público (equivalente a autarquia, na
técnica do nosso direito administrativo) para se concluir que tais
ordens profissionais, pelo seu caráter peculiar, pertencem a uma
categcwia inominada de pessoas de direito público; o) — que a
Ordem presta contas dos poucos recursos recebidos de seus mem­
bros, aos próprios contribuintes, reunidos em assembléia geral
anual, para apreciar a aplicação do produto das contribuições com
que cada um concorre, isto é, a prestação de contas se f a í há longos
anos, da forma m ais democrática, pontual, proba e fie l pc^ívej;
p) — que a. Ordem não m aneja dinheiro público, nem administra
patrimônio da Nação, nem podendo ser conceituado como tributo
a contribuição que recebe dos inscritos nos seus quadros, contri­
buição da mesma natureza da que pagam os membros dos sindica­
tos profissionais; q) — que a prestação de contas ao Tribunal de
Contas terá como corolário e conseqüência um a subordinação e
um controle sobre a Ordem, que não se coadunam com a plena
independência que lhe deve ser assegurada para bem desempenhar
a sua nobre missão, pois essa íntegra independência com que foi
criada e sob que tem nobremente vivido, é o seu verdadeiro pa­
trimônio.
A sentença de primeira instância negou a segurança, decla­
rando que “a inicial, em que a erudição fornecia o m aterial à mão
estilista”, exam ina profundamente o conceito das autarquias, para
declarar que “a meu ver, a im petrante é um dos entes autárquicos
a que se refere a norma constitucional e a legislação esptícífica
do sodalício suplicado.’*
A lei que governa a im petrante é expressa ao dizer que a
m esma constitui serviço público federal e não vejo como um “ser­
viço público federal não caiba, ao menos, na figura de entidade
autárquica, já que não entra, pela sua originalidade, nos quadros
normais da administração”. Debate ainda os argum entos de que a
Ordem não recebia subsídios do erário, e também de que ela
própria escolhe os seus representantes, vendo nesse últim o caso
o exemplo de um a descentralização perfeita.
A Ordem recorreu ao Tribunal Federal de Recursos e o Recurso
em Mandado de Segurança n.° 797 foi julgado favoravelmente no
dia 25 de setembro de 1951, sendo Presidente o Ministro Abner
Vasconcelos, relator o Ministro Cândido Lobo, e participando no
feito os Ministros Arthur Marinho, João José de Queiroz, Cunha
Vasconcelos e Alfredo Bernardes.
A em enta do acórdão tem a seguinte redação:
83
“A Ordem dos Advogados não está obrigada a pres­
tar contas ao Tribunal de Contas da União; não recebe
ela tributos nem gira com dinheiros ou bens públicos”.

O relator levantou inicialm ente a preliminar da tempesti-


vidade, por ter sido o w rit interposto depois de cento e vinte
dias, m as a preliminar não foi acolhida, pois disse o relator que
para caracterizar a prestação de contas ao Tribunal de Contas
da União, é preciso que se trate de um a autarquia, e que ela seja
responsável por dinheiros e outros bens públicos. Mostra como a
Ordem dos Advogados do Brasil não é responsável por dinheiros
ou outros bens públicos, e que nãx> se configura como autarquia,
estando “como que num a zona fronteiriça, entre os serviços para-
estatais e os demais, m as por isso mesm o que fronteiriça, não
vou ao ponto de alcançar a outra margem na conceituação dessaa
idéias para o fim de enquadrar a Ordem como verdadeira autar­
quia e obrigá-la a prestar contas de ridículas importâncias, que
jam ais são dinheiros públicos ou bens públicos, su^itando ainda
os seus dirigentes a penalidades im postas por lei, àqueles que
estão sob seu controle e fiscalização, com o o Tribunal de Contas
da União Federal que é, sendo nenhum a como é nenhum a a intro­
m issão da União na vida da referida instituição por qualquer
aspecto que se queira apreciar.
Sair desse quadrado é atribuir competência ao Tribunal de
Contas para tomar contas aos particulares. E o caso mostra afinal
como a contribuição paga pelos advogados anualm ente em hipó­
tese algum a pode ser equiparada ao tributo, e acentua como a
posição da Ordem em m uito difere de um a verdadeira autarquia”.
Acompanham o voto do relator os Ministros Elmano Cruz,
João José Queiroa e Mourão Russel; foram votos vencidos os Mi­
nistros Arthur Marinho, Cunha Vasconcelos e Alfredo Bernardes.
O Ministro Arthur Marinho iniciou o voto, m anifestando
“respeito afetuoso pela nobre classe dos advogados e por sua Or­
dem, a quie pertenci com o conselheiro seccional nos primeiros
tempos de m inha atividade forense, quando fu i advogado. Rendo
pois m inhas hom enagens à Ordem im petrante, a que servi de­
votadamente”.
Examinou o problema das autarquias considerando que,
tratando-se de zona fronteiriça, deveríamos ficar na regra geral
e não procurar criar um a regra de exceção. No campo econômico,
declara que as contribuições individuais destinando-se a alim entar
a atividade da Ordem, tomam-ise como que dinheiros públicos,
devido a sua finalidade, argumentos que foram acompanhados
pelos demais votos vencidos.
Da decisão couberam embargos, julgados pelo Tribunal em
22 de setembro de 1952, sendo presidente o M inistro Sampaio
Costa e relator o Ministro João José Queiroz. O relator considerou

84
que a m atéria tinha sido am plam ente desenvolvida por ocasião
do julgam ento embargado, e que o im portante seria fixar os
pontas da doutrina que deveriam ser dados como certos. Citou
o problema da real natureza da Ordem dos Advogados do Brasil,
para declarar que “a Ordem não é nenhum a autarquia. É histó­
rica e realm ente um a corporação: a corporação dos advogados”.
Alegou ademais que a Ordem não faz p ^ e da administração
pública, embora seja pessoa jurídica de direito público. Afirmou
categoricamente: “Tão-somente administra um patrimônio, o
patrimônio moral da própria classe dos advogados”, frisando que
tomara de empréstimo essas palavras proferidas pelo patrono da
Ordem no Tribunal.
Quanto aos pretendidos dinheiros públicos que a Ordem ad­
ministrava, não 0 são nem pela origem, nem pela natureza da
arrecadação, nem pelo destino que tem. Terminou por rejeitar
embargos, no que foi acompanhado pelos Ministros Elmano Cruz
e Mourão Russel. Foram votos vencidos os Ministros Cunha Vas­
concelos e Alfredo Bemardes, o primeiro declarando que o con­
ceito de corporação não excluía a natureza autárquica e o segundo
mantendo o voto que proferira anteriorm ente no julgam ento do
recurso.^2
Enquanto a Ordem travava a batalha, afinal vitoriosa, pela
sua autonomia, prosseguia em suas atividades de rotina.
Em 11 de agosto de 1950, realizam-se novas eleições para a
Diretoria da Ordem, sendo eleito Presidente Haroldo Teixeira
Valladão oom 18 votos contra 4 votos dados a Am oldo Ivfedei-
ros da Fonseca, e Secretário-Geral Macario Picanço com 20 votos
contra 1 voto dado a Edson Oliveira Ribeiro. Áiisim, a Odilon
de Andrade sucedia Haroldo Teixeira Valladão; participara ele
da discussão do projeto do Regulam ento da Ordem, ajinda
no Instituto dos Advogados Brasileiros, tendo sido vencido por
desempate do Presidente Levi Carneiro contra a obrigatorie­
dade do estágio. Ingressou no Conselho Federal em 1934, ten­
do tomado parte nos trabalhos da respectiva discussão, e afinal
assinado o Código de Ética Profissional; representou por muitos
anos o Conselho Seccional do Paraná e posteriormente de São
Paulo, tendo se afastado, quando impedido, por ter sido eleito
para o Conselho do D istrito Federal, ou quando foi Presidente
do Instituto dos Advogados Brasileiros e Consultor-Geral da
República.
Declarava assim , no discurso que “sinto-m e pois, no meu
meio e na m inha classe e posso afirmar que o meu amor à nobilís-
sim a profissão de advogado determinou recusar-me a altos cargos
incom patíveis com o seu exercício ou que me afastassem de seus
ideais”.
22 V. As R a zõ es . . . p. 47.

85
Na sessão de 18 de agosto é nomeada Comissão para elaborar
projeto de regim ento interno, com posta dos Conselheiros Themis-
tocles Marcondes Ferreira, Edgard Toledo e Alberto Barreto de
Melo.
Na sessão de 22 de agosto de 1950 é nomeada comissão para
cuidar das comemorações do vigésim o aniversário da Ordem,
composta dos Conselheiros Olimpio de Carvalho, Jair Tovar e
Arthur Rocha.
Nesta mesma sessão recebe o Conselho Federal a presença do
Ministro da Justiça, Dr. Bias Fortes, que foi introduzido no re­
cinto da sessão pela comissão composta dos Conselheiros Sanelva
de líohan, Mac Dowell da Costa e Francisco Gonçalves. O Pre­
sidente saudou 0 Ministro da Justiça, um digno e ilustre colega,
que vinha, individualmente e em nom e do Governo da República,
homenagear a classe que se acha na vanguarda da defesa da
liberdade e da justiça. Usou da palavra então o Dr. Bias Fortes,
que se referiu ao alto papel desempenhado pela Ordem dos Advo­
gados do Brasil, à função do advogado no m om ento e fazendo
referêiKíias aos problemas da sede condigna para a Ordem, já
iniciada com a pedra fundam ental da Casa do Advogado, e o da
regulam entação no EIstatuto da Ordem. Declara afinal:
“Como Ministro da Justiça do Governo do Excelen­
tíssimo Senhor General Eurico Gaspar Dutra, eu me
ponho à vossa disposição para colaborar convosco dentro
de m inhas atribuições para a consecução desses e outros
objetivos. Se me derdes essa oportunidade, alegrar-me-eis
0 coração, pois, lado a lado com a Ordem dos Advogados,
estarei servindo ao Brasil."
O Presidente Haroldo Valladão agradeceu essas m anifestações
e as palavras pronunciadas sobre a advocacia e a Ordem, declaran­
do-lhe que era “o Ministro de um Governo que tem para com a lei
um respeito religioso”, e de que “a nobre classe a que tenho a
honra de pertencer constitui hoje um dos maiores e vigorosos
esteios de um Governo democrático”. E concluiu asseverando que
a Ordem dos Advogados continuaria na primeira linha do combate,
pela lei, pelo direito e pela liberdade.
Em sua gestão comemora-se o vigésimo aniversário da Ordem,
com sessão solene realizada a 20 de novembro de 1950. Também os
Conselhos Seccionais realizaram sessões, em que ilustres colegas
disseram da finalidade e das atividades da Ordem nos primeiros
quatro lustros de sua existência.
Assim se pronunciou Haroldo Valladão:
“Vigésimo aniversário da Ordem dos Advogados. —
É bem um alto em nossa vida institucional, destaquemos
e examinemos, sobranceiros, a longa tarefa realizada.
É que nessa hora de exame de consciência podemos
proclamar o cumprimento de nosso dever para com a
Advocacia, a Justiça e a Pátria.
Não faltarem os, assim àquele ideal de nossos maio­
res, dos grandes advogados brasileiros que fundaram
especialm ente uma associação, hoje secular e gloriosa, o
Instituto dos Advogados Brasileiros.”

V. carta de Haroldo Valladão ao au to r em 20.1.81. O discurso de


Haroldo Valladão está publicado no livro Paz, Direito e Técnica, Rio,
1959. P. 109.

87
C a p ítu lo IV

A DÉCADA DOS 50 — A CAMPANHA PELO NOVO ESTATUTO


— A LEI 4.215

Ao comemorar seus vinte anos de existência, a Ordem parece


ter se dado conta da necessidade de reorganizar-se e ganhar uma
nova estrutura interna, m ais consentânea com a expansão de suas
atividades e o aumento de seus quadros. Essa passaria a ser a
grande preocupação, até culm inar com a promulgação da Lei n.°
4.215 em 27 de abril de 1963.
Na vigésim a-segunda sessão ordinária que se iniciou em 11 de
agosto de 1951 e se encerrou em 26 de dezembro do mesmo ano,
a principal atividade do Conselho Federal foi a discussão e votação
do Regimento Interno.
O novo Regimento incorporou a seu texto os diversos provi­
m entos em suas linhas mestras, com um a adequação das regras
internas do Conselho em sua dinâm ica atual; visou especialmente
a preencher lacunas em questões torm entosas, disciplinando as
relações entre o Conselho Federal e as seções locais; tom ou mais
célere a tramitação dos processos, através de julgam ento mais
expedito e com a fixação de prazos fatais improrrogáveis; restrin­
giu o cabimento dos recursos de embargos e suprimiu os pedidos
de reconsideração, então admitidos por força de mandam ento
regimental.
A partir dessa data, o Conselho Federal, que se reunia em regi­
me de convenção anual, passou a constituir-se praticam ente como
órgão permanente, funcionando quase que o ano inteiro.
No período o Supremo Tribunal Federal julgou a Represen­
tação n.° 145 do Sr. Carlos de Freitas que pleiteava a decretação
da inconstitucionalidade do Artigo 13 n.° IV do Regulam ento em
que se exigia para a inscrição nos quadros da Ordem prova de
não condenação por sentença em crimes ali especificados; o Tri­
bunal indeferiu unanim em ente tal pretensão.
O Presidente Haroldo Valladão usou da palavra na sessão de
despedida no Supremo Tribunal Federal do Ministro Laudo Ferrei-

88
ra de Camargo em 10 de abril de 1951. Pela Ordem, em compro­
missos no exterior, pronunciou-se em Lisboa no dia 29 de outubro
de 1951, no jubileu da Ordem dos Advogados de Portugal, mostran­
do a correspondência e a união dos advogados das duas pátrias,
através da criação da Associação dos Advogados de Lisboa em 1836
e da fundação do Instituto dos Advogados Brasileiros em 1843.
Discursou ainda em Lima, Peru, no jubileu da Universidade Maior
de São Marcos e no Congresso Internacional de Juristas, também
em Lima, em dezembro de 1951.
Na sessão de 3 de junho de 1952, é apresentado o anteprojeto
de Regulamento de autoria do Conselheiro Dem osthenes Madureira
de Pinho, que é comunicado às Seções para recebimento de em en­
das. Em agosto de 1952, eram eleitos Presidente AtiUo Vivacqua,
com 16 votos, e Secretário-Geral Alberto Barreto de Melo, com 14
votos, recebendo Edson de Oliveira Ribeiro 2 votos para este último
cargo.
Ao deixar a Presidência da Ordem em 11 de agosto de 1952,
declarou Haroldo Valladão, transm itindo o cargo a Atilio Vivacqua,
estarem prontos dois projetos de reforma, um do Regulamento da
Ordem e outro do Regimento Interno do Conselho Federal. E
acrescentava:
“Quero destacar o espírito de compreensão e de fiel
cooperação que reinou nas relações da Ordem e do Con­
selho Federal com as Poderes do Estado, Judiciário,
Executivo e, particularmente, o Legislativo, que solicita­
ram nosso modo de ver e colaboração em assuntos ati-
nentes ao exercício da profissão ou ao serviço da justiça
e acataram o nosso ponto-de-vista.”
E diria mais:
“Graças a Deus posso dizer que dei à classe dos ad­
vogados, nesses dois anos (1950/1952) de presidência da
Ordem dos Advogados do Brasil, qual o íizera antes
(1944/1946) na presidência dos Institutos dos Advoga­
dos Brasileiros, uma grande parcela da m inha vida,
consagrando-lhe, com amor e dedicação, dias, meses,
anos da m inha existência.
Marchei assim na estrada verdadeira — prossegui
na boa via que sempre me tracei e da qual não me afas­
tarei, na norma augusta de servir sempre à m inha classe,
à justiça, à causa pública, ao Brasil norteado pelos mais
puros princípios espirituais.” ’
1 Agradeço ao Professor Haroldo Valladão ca rta de 20 de janeiro de 1981,
relatando alguns dos principais fatos de sua gestão, bem como o
m aterial que a acom panhava relativo a ta l período. Cf. tb. Haroldo
Valladão — Paz, Direito e Técnica. Rio, 1959.

89
o Conselheiro Carvalho Neto, de Sergipe, isaudou o novo Presi­
dente fazendo referência à posição dupla de Atílio Vivacqua como
político e advogado, c o m p ^ n d o -o com seus antecessores, pois
dizia ele, três desses Presidentes, ao que me constam , foram,
apenas, advogados, exclusivam ente advogados, tomados d ^ u e le
feitiço sedutor, daquele ciúme em polgante, que nos proporciona o
exercício da advocacia em toda a sua amplitude. E prosseguia:

“Três outros, porém, foram mais do que isto, foram


ainda políticas m ilitantes e n esta qualidade, tocados
dessa vocação absorvente que é a política. Ora, advoga­
do e político também é Àtilio Vivacqua, Senador da
República. E ele, como os três outros, picado da morde­
dura da paixão política, sem entretanto se deixar enve­
nenar dos seus malefícios. Foram e serão advogados
como os que melhor o sejam, mantendo na Ordem a con­
tinuidade ininterrupta desse espírito superior de digni­
dade funcional, de probidade intemerata, de independên­
cia e altivez que dela fazem, sem paralelo, o paradigma
das instituições de classe no Brasil.” ^

Tomando posse no cargo o Presidente Atílio Vivacqua teceu


considerações sobre a transformação do direito e disse:

“Não poderia, hoje, senão formular o compromisso


de zelar por uma herança opulenta e sagrada — a tra­
dição da Ordem — e de batalhar por todas as aspirações,
estas e aquelas entrelaçadas com as do Instituto dos
Advogados do Brasil, com o patrimônio comum da cultu­
ra, da dignidade, do patriotism o e do humanism o da
nossa classe.
Nosso programa de trabalho confunde-se com os
deveres e responsabilidades do m inistério da advocacia,
sócia inseparável, como disse Rui Barbosa, das reivindi­
cações liberais, em todos os países civilizados.
A nossa história poderia ser escrita nos seus resplan­
decentes capítulos, plenos de grandeza cívica e moral,
através da biografia dos bacharéis em direito, paladinos
da independência, da repressão do tráfico negro, da
abolição, da República, das liberdades democráticas e,
em nossos dias, das heróicas e gloriosas cam panhas
contra os regimes totalitários, contra a opressão e a
tirania.”
2 Essas palavras de Carvalho Neto parecem ser um a resposta às objeções
que foram levantadas a candidatura de Atílio Vivacqua, pelo fato de
ser ele, então, presidente do Partido Republicano. V. Depoimento de
Miguel Seabra Fagundes ao autor em 4 de fevereiro de 1981.

90
Na sessão de 23 de setembro de 1952, inicia-se a discussão das
emendas ao Regimento, e comunica-se a aprovação na Câmara do
parecer do Deputado Ulisses Guimarães sobre o Projeto n.° 1.093
do Senado, estabelecendo normas de colaboração da Ordem com
os tribunais nos concursos para juiz.
Na sessão de 21 de outubro de 1952, é solicitada verba federal
para a instalação do Conselho, no sexto andar do edifício da Caixa,
em fase final de construção.
Na sessão de 12 de m aio de 1953, dá-se conta da publicação
na imprensa de voto do Ministro Silvestre Pericles de Góis Montei­
ro, no Tribunal de Contas da União, colocando o Conselho Federal
da Ordem dos Advogados do Brasil entre os órgãos que não presta­
ram contas daquele Tribunal. Decide-se distribuir nota à imprensa,
declarando que tal m anifestação não seria necessária, po’s o Tri­
bunal Federal de Recursos, pelo agravo de petição no Mandado de
Segurança n.° 798, julgou em 19 de setembro de 1952 não estar
sujeita a Ordem a essa prestação.
Na sessão de 29 de setembro de 1953, é aprovado voto de
aplauso do Conselheiro Mac Dowell da Costa ao Presidente do
Tribunal de Justiça do Distrito Federal que passou as cancelas
para detrás do local destinado aos advogados, de acordo com a lei.
Na sessão de 18 de m aio de 1954, realizada já na nova sede do
prédio da Casa dos Advogados, é votada moção dirigida ao Minis­
tro da Justiça nos seguintes termos:

“O Conselho Federal da Ordem dos Advogados do


Brasil, ao ensejo de novos atentados à dignidade da pes­
soa humana, cometidos por autoridades policiais des­
mandadas em vários pontas do país e principalm ente na
Capital da República, m anifesta a Vossa Excelência o
seu m ais enérgico protesto contra as violências e arbitra­
riedades que tem verificado e formula esperanças de
que Vossa Excelência, responsável pelos problemas de
segurança pública do país, dentro das determinações
constitucionais, há de concorrer com ^ua autoridade j^ra
exemplar punição dos culpados para o saneam ento das
corporações policiais.”

Na sessão de 15 de junho de 1954, é apresentado novo ante­


projeto de Regulam ento elaborado pelo Conselheiro Evandro Lins
e Silva.
Na sessão de 3 de agosto de 1954, realizam-se eleições para o
Conselho Federal sendo eleito Presidente M iguel Seabra Fagundes
com 23 votos, Secretário-Geral Alberto Barreto de Melo, também
com 23 votos.
Ao transm itir a Miguel Seabra Fagundes o cargo em 11 de
agosto de 1954, Atilio Vivacqua diria:

91
“Assim, a culm inância de nossa classe, com o peso
de uma dívida que não saberia como amortizar, e já
agora, n a hora da prestação de contas, ao invés do res­
gate, não venho, senão com o encargo maior de gratidão,
devolver-vos o patrimônio em que vós próprios enrique-
cestes com vossa inteligência, com vossa operosidade,
com o vosso devotam ento à nossa instituição.
De permeio, quase invisíveis emoções que me domina­
vam naquela memorável cerimônia de investidura, medi­
tava, como se fosse destinatário de um a advertência
sobre este conceito de batônnier Pognard: “O bastonário
dirige a Ordem; m as é a Ordem que comanda. Ninguém
jam ais se exim e do imperativo de suas leis. Ela vos inves­
te da m agistratura suprema, m as com o desígnio de vos
fazer o primeiro de seus servidores”.
Não fui senão, entre vós, um modesto colaborador
que contava com a antecipada indulgência por suas
falhas e lacunas, eis que, além do mais, quisestes elegê-lo,
já o sabendo sobrecarregado das tarefas e responsabili­
dades da vida pública, que dessa forma julgastes digna e
consoante com as nossas honrosas tradições de com pati­
bilidade cívica, defesa das liberdades e dedicação aos
interesses coletivas e ao bem da pátria.”

Traçava ainda um sum ário preciso da^s atividades realizadas:


0 interesse manifestado pelo Projeto de Lei apresentado pelo Depu­
tado Lucio Bittencourt a respeito da aposentadoria dos advogados,
sobre o qual apresentou parecer o Conselheiro Letacio Jansen,
tendo recebido várias outras colaborações; a elaboração de novo
Regimento com base no trabalho do Conselheiro Edgard de Tole­
do; 0 problema da sindicalização de advogados m ediante atribuição
à Ordem das prerrogativas sindicais, preconizadas pelo Conselho
Seccional de São Paulo, e já constantes de projeto de lei oferecido
à Câmara dos Deputados pelo Deputado Cunha Bueno; o projeto
de reforma do Regulamento da Ordem relatado pelo Conselheiro
Evandro Lins e Silva; o estudo do Dr. Edgard Toledo sobre as in i­
ciativas de reforma da Constituição, objetivando o aum ento do
número de Ministros do Supremo Tribunal Federal, e do Inciso
III do Artigo 101 da Constituição para normalização do julgam en­
to dos feitos. No biênio, passara a integrar a Ordem dos Advogados
a Seção do Território do Amapá, tendo cabido ao Conselheiro
Alberto Monteiro da Silva a missão de promover a instalação da
nova sede.
Saudando o Presidente que deixava o cargo, usou da palavra
pelo Conselho Federal o Conselheiro José Maria Mac Dowell da
Costa que assim se expressou:

92
“Secretário-Geral nos primórdios da Ordem dos Ad­
vogados do Brasil, da Presidência Levi Carneiro e do
saudoso Fernando de Melo Viana, foi durante onze anos,
a “Irmã Paula” da nascente instituição, provendo do seu
bolso particular as imperiosas necessidades do nascente
organismo, criando, organizando e disciplinando mode-
larm ente suaviter in modo facienãi fortiter in re os ser­
viços da Secretaria-Geral.”

Traçou um perfil das principais atividades no campo da advo­


cacia, da política e da administração do ex-presidente; menciona­
ria as suas atividades em defesa das vítim as da perseguição política
após 1930, tendo sido o requerente de famoso habeas corpiis em
favor da m agistratura ameaçada em suas garantias vitais, que foi
concedido.
Usou da palavra em seguida o Presidente M iguel Seabra Fa^
gundes, que fez referência à posição da Ordem e ao papel do
advogado, assinalando especialm ente a posição do profissional na
defesa dos m enos favorecidos, e como artífices da lu ta pelo direito
do futuro. Referindo-se à carreira de advogado, disse:

“Advogado fui, logo que egresso da Faculdade, na


obstinação de usar profissionalm ente o título, conquista­
do a tantos sacrifícios daquele que agora evoco do üitim o
do coração, e não havê-lo com um sim ples galardão ex­
terior. Porque advogado cheguei ao Tribunal de m eu Es­
tado natal, e advogado, e som ente advogado, volvi a ser,
num a retomada de posição a que as circunstâncias da
vida me induziram.
Mas não aspirava encontrar na situação profissional
m ais do que a satisfação de inclinação do sentim ento de
uma ou outra aptidão do espírito. A em inência com que
m e vi deles distinguir, culminando n a bondade acolhe­
dora, que aqui encontrei desde o primeiro instante, há
anos passados, quando do m eu ingresso no Conselho, é,
por conseguinte, m ais do que podia esperar, e m e cala
fundo no coração.”

Terminava por afirmar que caberia reconhecer que num a cor­


poração do nível do Conselho Federal o Presidente é sobretudo um
coordenador de vozes altam ente qualificadas.
A agitada conjuntura política do país no final da Presidência
Vargas repercute também na Ordem, e na sessão de 10 de agosto
de 1954 o Conselheiro Mayr Oerqueira protesta contra os aconte­
cim entos que culminaram n a morte do Major Rubens Vaz. Na
sessão de 18 de agosto de 1954, é aprovado um voto de pesar, pro­
posto pela Delegação da Bahia, solidário à arma da Aeronáutica.

93
Na sessão de 31 de agosto de 1954, é aprovado voto de pesar
pelo falecim ento de GetúÜo Vargas; é levada ao conhecim ento do
pdenário a licença do Presidente Miguel Seabra Fagundes, uma
vez que fora nomeado Ministro da Justiça do novo governo empos­
sado e chefiado por João Café Filho.®
Na sessão de 16 de outubro de 1954, é aprovada a indicação da
Comissão para estudar as emendas ao anteprojeto do regulamento,
composta de Nehemias Gueiros, Themlstocles Marcondes Ferreira,
Edgard Toledo e Alberto Barreto de Melo.
Na sessão de 14 de julho de 1955, debate-se a lei que regula­
m enta a atuação de advogados em julgam ento, sendo nomeada
comissão composta de Nehemias Gueiros, Presidente, Nelson Car­
neiro, Oswaldo Murgel de Rezende, O. Lima Pereira e Edgard de
Toledo.
Na sessão de 9 de agosto de 1955 discute-se a questão de pro­
priedade do sexto andar da Casa do Advogado, e é nomeada com is­
são para estudar a matéria composta de Letacio Jansen, Aragão
Bozano e Nehemias Gueiros.
O Poder Judiciário veio a se pronunciar na ocasião sobre a
obrigação do pagam ento de anuidade à Ordem, cuja constituciona-
lidade foi confirmada no Mandado de Segurança n.° 2.615, do
antigo Distrito Federal, sendo im petrante Tancredo Guanabara.
A m atéria foi decidida em primeira instância pelo Juiz Aguiar
Dias, que denegou o pedido, um a vez que o im petrante tivera
suspenso o exercício de sua profissão por falta de pagamento, por
considerá-lo constitucional. Ao denegar a segurança, afirmou o
Juiz que a anuidade é contribuição do advogado, da qual vive a
instituição e que a sanção imposta, de caráter disciplinar, é um
ato administrativo, sendo direito certo e incontestável da institui­
ção. Em segunda instância, o Tribunal Federal de Recursos confir­
mou essa sentença, que foi exam inada em recurso extraordinário
pelo Supremo Tribunal Federal, em 11 de setembro de 1954, sendo
relator o Ministro Orosimbo Nonato. Mostrou o relator que o pre­
ceito constitucional que fala do livre exercício da profissão, obser­
vadas as condições de capacidade estabelecidas pela lei, não se
contrapunha a que “a inscrição na Ordem exigível se tom a para
o exercício da profissão e permanência do direito do inscrito,>
depende do pagam ento das anuidades que são seus alim entos, e
sem os quais a Ordem não poderia preencher suas altas finalidades
e nem subsistir”. Aditou a esse voto o Ministro Luiz Gallotti, mos­
trando que a m atéria deveria ser exam inada também em face do
Art. 161 da Constituição, segundo o qual a lei regulará o exercício
3 O Conselheiro Edgard de Toledo foi o único Conselheiro que se m a­
nifestou pela renúncia do Presidente nomeado p ara o cargo de Ministro
d a Justiça; m as o precedente de R aul F ernandes foi invocado e a
m atéria foi resolvida pela licença. Depoimento de Miguel Seabra
Fagundes ao au to r em 4 de fevereiro de 1981.

94
das profissões liberais, preceito m ais amplo e que poderia cogitar
de outras condições.^
A publicação do a r ti^ do Senador Assis Chateaubriand sobre
importação de automóveis e com acusações à classe e à magistra­
tura, provoca grande repercussão. Na sessão de 8 de m aio de 1956,
tom a-se conhecim ento da retratação do Senador em relação às
acusações feitas a membros do Conselho. Na sessão seguinte, de
15 de maio de 1956, é lido ofício do Procurador-Geral da Justiça
do Distrito Federal, Victor Nunes Leal, ao Senador Assis Chateau­
briand, solicitando que aponte os juizes que, segundo ele, esta-
riam envolvidos nas acusações feitas, para que fossem abertos os
processos competentes.
Em 1 ° de maio de 1956, a comissão composta de Nehem ias
Gueiros, relator, Them istocles Marcondes Ferreira, Alberto Barreto
de Melo, C. B. Aragão Bozano, J. M. Mac Dowell da Costa e C. A.
Dunshee de Abranches apresentava seu relatório acompanhado do
anteprojeto do Estatuto da Ordem dos Advogados do Brasil.®
Declarava inicialm ente que:

“Constituindo um aglomerado caótico pela sua frag­


m entação em numerosos textas que a tom avam de con­
sulta impraticável, continuava, essa legislação (referente
à ordem dos Advogados do B rasil), a sofrer, como ainda
hoje, as chagas e reformas em cada sessão legislativa do
Congresso Nacional, sem outro sentim ento senão o de
atender a razões e reivindicações de circunstâncias, a
que sempre faltam o método e o plano de unidade indis­
pensáveis à boa obra legislativa.
Desde a sua primeira elaboração, em 1931, padeceu
ela, a despeito da incontestável proficiência dos seus emi­
nentes autores, do influxo da pressa com que teve que
ser elaborado, constituindo, entretanto, uma contribui­
ção para a dignidade e o prestígio da profissão.”

Rememorando méritos dos autores do projeto inicial e de suas


modificações, declarava, em seguida:
“O tempo e as solicitações dos diversos setores de ati­
vidades em que a advocacia tem vindo acompanhando o
o acórdão do Supremo Tribunal Federal está publicado na Revista
dos Tribunais. Vol. 260 — jun h o de 1957 — pp. 688-631.
3 A Exposição de Motivos está publicada no livro de Nehemias Gueiros
— A advocacia e o seu Estatuto. Rio, F reitas Bastos, 1964, pp. 227-248.
Infelizm ente não foi encontrada nos arquivos do Conselho Federal a
docum entação referente à discussão do anteprojeto. O presente tr a ­
balho teve de se socorrer dos elementos existentes no livro de Nehe­
m ias Gueiros, de depoimentos pessoais e de subsídios hauridos de
outras fontes.

95
surto de desenvolvimento do país, encarregam-se de
demonstrar a necessidade de reforma fundam ental dessa
legislação, sobretudo depois de m ais de vinte anos de
alterações cominutivas, feitas sem respeito à técnica a
que deve presidir a elaboração legislativa.
Pode-se, por isso, dizer, sem o receio de incidir em
exagero, que o elenco de leis sobre a Ordem dos Advoga­
dos do Brasil tom ou-se um dos m ais defeituosos da
legislação brasileira, impondo-se, só por esta razão, além
da imperiosa necessidade de adaptá-los às exigências
atuais, a sua revisão vertical”.

A Comissão fez referência aos anteprojetos Demosthenes Madu-


reira de Pinho de 1951 e Evandro Lins e Silva de 1954, e aos substi­
tutivos a eles apresentados por C. A. Dunshee de Abranches e J.
M. Mac Dowell da Costa em 1955, e deu conta ainda dos trabalhos
iniciados através da Comissão nomeada em 1954, composta dos
Conselheiros Edgard de Toledo, Them istocles Marcondes Ferreira,
Alberto Barreto de Melo e Nehemias Gueiros. Edgard Toledo
abandonou os trabalhos na fase de coordenação, um a vez que en­
tendia que se deveria transformar a Ordem em associação profis­
sional de ingresso facultativo, nos termos do Artigo 159, da
Constituição e não criada m ediante organização de estatuto im ­
posto por lei. Declarou-se por isso incompatibilizado com o critério
da maioria, que m anteve a categoria jurídica tradicional da insti­
tuição, como entidade paraestatal de natureza corporativa.
O anteprojeto da Comissão foi distribuído em impresso a todas
as delegações do Conselho Federal e a cada um dos Conselhos
Seccionais da Ordem. Concedeu-se um prazo de apresentação das
emendas até 3 de novembro de 1955, prorrogado sucessivam ente
até 28 de fevereiro de 1956, admitido ao exame da Comissão com
todas as emendas recebidas. Submetido ao Conselho Federal em
diversas sessões extraordinárias, a demora natural da discussão em
plenário levou à resolução do deferimento a um a nova comissão,
integrada com os membros da primeira, a qual elaborou o ante­
projeto, a fim de que, reexaminado em face das referidas emendas,
fosse afinal aprovado ou rejeitado, em bloco, pelo Conselho Federal.

"Trabalhando com intensidade e desvelo durante


trê meses, a nova comissão procedeu a um exame m e­
ticuloso de todas as sugestões recebidas e empreendeu a
revisão do anteprojeto em numerosas emendas, sucessi­
vas e aditivas, a maior parte delas de sua própria inicia­
tiva, com a experiência do trabalho inicial, todas feitas
no propósito de apresentar um a contribuição à altura
da confiança com que foram honrados os seus com­
ponentes.

96
Conduzimos para este trabalho todo o espírito pú­
blico de que nos poderíamos forrar e não tivem os outro
intuito, todos 08 membros da Comissão, senão o de coope­
rar para a elaboração de um a lei que possa assegurar o
alto nível moral e cultural à profissão, estim ulando a
criação de um a consciência profissional da advocacia,
oposição ao amadorismo e fortalecendo o poder com que
a Ordem deve n a delegação que recebe do Estado de
realizar efetivam ente a seleção e disciplina da classe,
sem esquecer o ^eu objetivo de defesa corporativa.” ®

Procedendo a um a revisão geral e sistem ática da legislação


existente e procurando dar ordenação lógica às m atérias antes
desordenadas, o anteprojeto ficou dividido em três títulos, o pri­
meiro consagrado à Ordem dos Advogados, dividido em dez capí­
tulos, o segundo tratando do exercício da advocacia, também
dividido em dez capítulos, e o últim o das disposições transitórias,
com dois capítulos.
À antiga denominação de regulamento, proveniente da influên­
cia francesa, em que a matéria é realm ente objeto do regulam ento
do Poder Executivo, sob o controle do Estado, preferiu a Comissão
a denominação de Estatuto da Ordem dos Advogados do Brasil,
porque se tratava inequivocamente de uma lei, e como lei foi
editada desde a primitiva formulação.
Fazendo o destaque das contribuições principais, cumpre res­
saltar em matéria de categoria jurídica e funções da Ordem, que
se acrescentava à função representativa quanto aos interesses
gerais da classe, os individuais relacionados especificam ente com
a atividade profissional, o que, sem texto expresso, constituiria
prerrogativa das associações sindicais. E no capítulo das disposi­
ções gerais, fixou a categoria jurídica tradicional da instituição
que empresta a doutrina e jurisprudência, como corporação pro­
fissional paraestatal.
No que se refere a representação no Conselho Federal, respei­
tou-se a pluralidade das delegações dos Conselhos Seccionais,
fixando, porém, no máximo, em três representantes. Em matéria
de estágio profissional e Exame de Ordem, estabeleceu o estágio
profissional, requisito para inscrição no quadro dos advogados
facultado a partir do quarto ano do curso jurídico, de modo a
assegurar a sua conclusão, sim ultaneam ente com a diplomação
G Alberto B arreto de Melo, membro da Comissão, transm ite um a evocação,
desse trabalho, de Nehemias Gueiros, “a grande figura intelectual
n a preparação do projeto de E statuto”. Recorda ele as sessões no
escritório de Nehemias, após o ja n ta r, Nehemias com a m áquina de
escrever ao lado, p ara a qual se dirigia im ediatam ente após qualquer
discussão, p ara redigir um a emenda, ou um novo artigo. Depoimento
do auto r em 3 de junh o de 1981.

97
universitária. O Exame de Ordem seria obrigatório, apenas, para os
candidatos à inscrição, que não tenham feito estágio profissional,
ou que não tenham comprovado satisfatoriam ente seu exercício e
resultado.
Procurou-se dar celeridade ao processo de inscrição, com pode­
res ao Presidente de deferi-la em cada Seccional, quando se tratasse
de candidato que não exercesse função pública e o pedido tivesse
parecer favorável da Comissão de Seleção e Prerrogativas. Foi
abolido 0 visto para o exercício da advocacia fora do território da
inscrição em caráter temporário.
Em m atéria de regulam entação do exercício da profissão,
foram introduzidas numerosas disposições para regular efetiva­
m ente o exercício profissional da advocacia.
O anteprojeto definiu que o advogado presta serviço público,
a despeito do seu m inistério privado, constituindo elem ento essen­
cial à administração da justiça sem hierarquia nem subordinação
ao juízo de qualquer instância; estabeleceu ainda o projeto a legi­
timação e os atos privativos.
Ratificando prática já em itida por lei, e o exemplo norte-
americano e o inglês então adotado na França, o anteprojeto re­
gula e disciplina as sociedades de advogados, criando o registro
próprio na Ordem, para lhe dar personalidade jurídica com o arqui­
vam ento dos atos societários, dando aos Conselhos Seccionais
função corregedora quanto aos atos da constituição. Foi proibido
0 registro de sociedade de advogados, que apresentassem caracte­
rísticas m ercantis, e que pudessem se prestar a confusões e impor­
tassem no desprestígio da advocacia.
Em matéria de incompatibilidade e impedimentos, sem chegar
ao rigor usual da França, em que o exercício da profissão é incom ­
patível com qualquer função pública, atividade comercial, indus­
trial ou sim plesm ente civil, o anteprojeto adotou o princípio de
que o exercício da advocacia é incom patível com qualquer ativi­
dade, função ou cargo público que reduza a independência do
profissional ou proporcione a captação de clientela, e enumerou
as funções públicas que podem determinar incompatibilidades ou
impedimentos e os casos de incompatibilidades radicais.
Com o intuito de tom ar mais rigorosa a m anutenção do alto
padrão de moralidade profissional, ampliou-se a enumeração dos
deveres que a legislação vigente resumia a quatro incisos, trazendo
para o corpo da lei vários preceitos antes considerados apenas como
regra ética. Em m atéria de férias, o anteprojeto aproveitou a subs­
tância do projeto apresentado ao Conselho Seccional do Distrito
Federal pelo advogado Aloisio Monteiro de Albuquerque, que regu­
lam entou em capítulo especial o direito de férias do adivogado, até
o prazo máximo de trinta dias por ano, m ediante sobrestamento
dos processos que acione, enumerando os casos em que a suspensão
do feito não poderia ser admitida, e disciplinando as hipóteses de


requerimento temerário com fim protelatôrio, para obviar a alican-
tina. Essa matéria entretanto foi rejeitada pelo Congresso Nacional
por emenda apresentada pelo Senador Aloysio de Carvalho Filho,
que alegou poder o apelo às férias “tom ar-se am anhã instrum ento
de protelação e chicana sobre criar fonte de aborrecimento e
desconfiança entre advogados”.
Em matéria de assistência judiciária, já existindo em funcio­
nam ento em algum as Seções serviços m antidos pelo governo, com
advogados de ofício, o anteprojeto lim itou-se a cometer à Ordem
a nomeação de advogados p ^ a os necessitados nas circunstâncias
em que não houvesse aquele serviço oficial.
Em matéria de fixação de honorários profissionais, o ante­
projeto disciplinou a m atéria que “tem constituído tormentosa
preocupação de várias Seções da Ordem, estabelecendo regras para
regular as hipóteses que não haja contrato escrito"'.
O poder jurisdicíonal da Ordem em matéria de infrações e
sanções disciplinares mereceu cuidado especial. Foi aum entado o
elenco de infrações disciplinares. considerando-se como faltas pu­
níveis várias práticas que antes escapavam à disciplina corporativa.
O anteprojeto sistem atizou a aplicação às penalidades constantes
em advertência, censura, m ultas, exclusão do recinto, suspensão
do exercício da profissão, e elim inação dos quadros da Ordem. A
m ulta deixou de constituir pena autônoma, passando a ser apli­
cada, sempre conjuntam ente com outra, a fim de evitar que trans­
gressões disciplinares pudessem ser resgatadas com dinheiro,
critério incom patível com o fundo ético da profissão.
Visando e:rtinguir a confusão anterior em matéria de recursos,
o anteprojeto incluiu um capítulo especial, enum erando as maté­
rias em que podem ser admitidos, disciplinando a matéria de
embargos infringentes e declaratórios, e uniformizando o prazo
para quaisquer recursos.
Reconhecendo a vocação universal à sindicalização de todas
as classes profissionais, a Comissão deixou em branco o problema
da coexistência da Ordem com os sindicatos profissionais de advo­
gados, embora tenha atribuído, àquela, função que completa seu
caráter corporativo. Com a instituição do estágio profissional e
conseqüente criação do quadro de estagiários, tornou-se inteira­
m ente inútil a profissão de solicitador que foi extinta pelo ante­
projeto.
A Comissão exam inou o problema da previdência social, entre
outros motivos, m as decidiu não incluí-la no projeto, pela comple­
xidade do assunto, e pela demora que acarretaria a sua tramitação
no Congresso Nacional.
E a Comissão encerra a sua exposição:

“A Comissão não teria a veleidade de adm itir que


fez obra isenta de falhas, em qualquer sentido. A tarefa

99
exigia m ais do que podiam as nossas forças, e a falha
dos vagares indispensáveis, além da natural deficiência
humana, impediria que o nosso esforço pudesse realizar
trabalho melhor.
O anteprojeto que ora submetemos à aprovação do
Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil
representa, porém, pela am plitude do debate a que íoi
previamente submetido, a média exata do pensamento
dos juristas e advogados, que fazem empenho em cercar
o exercício da atividade profissional da autoridade e da
independência, sem as quais ela se poderá afirmar como
instrum ento autêntico da boa administração da justiça
e da realização do direito.”

Na sessão de 8 de maio de 1956 é aprovado unanim em ente o


anteprojeto de Estatuto que será encam inhado por comissão ao
M inistro da Justiça, com a sugestão de que fosse remetido ao Con­
gresso como projeto governamental.
Na sessão de 19 de junho de 1956, é nom eada com issão para
estudar o projeto de lei sobre a oficializíação da Justiça, composta
dos Conselheiros Letacio Jansen, Alcino Salazar e Paulo Barreto de
Araujo.
Na sessão de 3 de julho de 1956 é comunicada a nomeação do
Conselheiro Claro Godoy para representar o Conselho n a Assessoria
Técnica da Comissão de Planejamento da COnstrução e Mudança
da Capital Federal.
Em 31 de julho de 1956, realizam-se eleições para a Diretoria,
sendo eleitos Presidente Nehemias Gueiros e Seoretário-Geral Al­
berto Barreto de Melo, ambos com 23 votos.
No dia 11 de agosto de 1956, realizou-se a transm issão do
cargo de Miguel Seabra Fagundes a Nehemias Gueiros com a pre­
sença, j^ la primeira vez, no recinto da Ordem, de um Presidente
da República, Juscelino Kubitschek de Oliveira, acompanhado do
Ministro da Justiça, Nereu Ramos, ocasião em que o Presidente
Juscelino K ubitschek assina m ensagem ao Congresso Nacional,
encaminhando como projeto do Governo, sem nenhum a alteração,
o anteprojeto aprovado pelo Conselho Federal.
Transmitindo o cargo, disse Miguel Seabra Fagundes:

“Dou graças a Deus hoje, por poder, liberto de temo­


res, restituir-vos sem haver enaltecido, m as também
segundo creio, sem haver deslustrado o posto de bâton-
nier. E levo como a m ais feliz das pagas dessa contri­
buição, para mim difícil, à nossa classe, a satisfação de
despedir-me de vós em m elo ao mesmo apreço e a mesm a
cordialidade recíprocas que marcaram a m inha investi­
dura em 11 de agosto de 1954.”

100
Apontaria como um a das principais realizações de sua gestão
a organizíação do anteprojeto de Estatuto da Ordem, que naquela
data era enviado como m ensagem do governo ao Congresso Nacio­
nal, 0 problema previdenciário do advogado, e do seguro de vida
em grupo. Dizia, ainda:

“Também se defende a classe pela seleção. Expungi-


la dos elem entos que deslustram é defendê-la, aprimo­
rando o seu quadro e ganhando cada vez m ais o apreço
público para o advogado. Nem h á por que ver no exercício
da função disciplinar que inspirou primordialmente a
criação da Ordem nada que a diminua. Para o exercício
dessa função foi que ela nasceu, depõem os responsáveis
pela sua criação, tan to se Impunham banir do foro os
que nele aventuravam, incom petentes e inidôneos. E
esse objetivo foi alcançado m agnificam ente para o pres­
tígio da classe e confiança dos que se valem dos seus
serviços.”

Referindo-se ao seu sucessor diria:

“Em Nehemias Gueiros, me sucede um colega de


turma da velha e inesquecível Faculdade do Recife e,
como eu, natural da mesma pequena província do Rio
Grande do Norte. Somam-se, entre nós, duas daquelas
afinidades que m ais tocam o sentim ento. A da terra
comum, sempre grata na rem iniscência de todos nós.
não pela estreiteza da exaltação ufanista, m as por devo-
tação sentim ental, a que nenhum hom em pode fugir,
das paisagens, dos caminhos, das emoções, das alegrias,
dos convívios, dos sofrimentos, das ilusões, do ambiente
que primeiro perlustrou. E a afinidade do convívio diu-
tum am ente nos agitados cinco anos acadêmicos, nos
quais nos separávamos em campos diferentes de in­
teresses.”

Em resposta Nehemias Gueiros falaria dos principais aspectos


do projeto, “feito com a paixão da causa pública”, com a elim ina­
ção do amadorismo e o estím ulo à criação de um a consblência
profissional. M encionaria o estágio profissional, a técnica contra
os vícios da indisciplina, e purificação da experiência, e a recupera­
ção do nível profissional. E concluiria dizendo:

“Resta-nos, agora, contar com a indispensável cola­


boração do Poder Legislativo no exam e e no debate do
projeto encaminhado, para que ele se venha a tom ar em
lei. Não tem os dúvidas que ela virá, e não precisamos

101
fazer exortações à capacidade e ao espírito público dos
em inentes congressistas para preservar a unidade lógica
e o sistem a do projeto, que é em substância, um a profis­
são de fé no poder judiciário e no seu mecanismo, e por
conseguinte, um a afirmação de confiança no funciona­
mento do regime.”

O projeto teve no Congresso tramitaJção demorada — cerca


de seis anos — e foi alvo de várias tentativas de desfigurá-lo e
deformá-lo. Nesse andamento, cumpre mencionar os pareceres do
Deputado Milton Campos, na Comissão de Constituição e Justiça
da Câmara dos Deputados, e dos Senadores Aloysio de Carvalho
ílilho e Afranio Lages no Senado Federal."^
O parecer do Deputado Milton Campos, proferido na Comissão
de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados em março de
1957, louva inicialm ente o trabalho sério, através do qual não só se
deu sistem a às regras vigentes, como se introduaem inovações de
maior relevância.
Exam ina inicialm ente o problema da constitucionalidade, que,
constituiria embaraço à criação da Ordem durante a vigência da
Constituição de 91, para declarar que “na instituição da Ordem
dos Advogados não há, pois, inconstitucionalidade em princípio”.
Analisa, posteriormente, a natureza jurídica da Ordem rebelando-
se contra a indicação existente do anteprojeto, que afinal foi reti­
rada — a natureza corporativa e a peculiaridade de suas funições.
Discute o problema da compatibilidade entre a Ordem e os sindi­
catos, mostrando como eles apresentavam certo grau de compa­
tibilidade.
Examina oomo “relevante inovação do projeto” a criação do
estágio profissional e do Exame da Ordem, levantando então algu­
m as dúvidas sobre a exeqüibilidade de um e de outro e, que, na
verdade, se revelaram procedentes. Nesse ponto, mostra como era
em relação ao problema do ensino jurídico que deveria se câfrar
todo esforço na melhoria da formação profissional.
Parte substancial do parecer é dedicada às relações entre
advogados e juizes, depreendendo-se do relator a experiência de
profissional consumado, com larga experiência, inclusive com
passagem por comarcas do interior do pais. Trata-se aliás esse títu-
■ o parecer do Deputado Milton Campos está publicado no Diário do
Congresso Nacional de 13 de novembro de 1958, pp. 6.899-6.902. O
parecer do Senador Aloysio de Carvalho Filho está publicado no Diário
do Congresso Nacional de 8 de julho de 1962, p, 1.346-13.
Tam bém assinala Alberto B arreto de Melo que Nehemias Gueiros
realizou im portante trabalho de acom panham ento do projeto no Con­
gresso Nacional, evitando que fosse desvirtuado ou deformado. E ntre­
tanto, houve necessidade de transações e conclui Alberto B arreto de
Melo: “O Estatuto tem m uito compromisso político”. Depoimento ao
autor em 3 de junho de 1981.

102
lo de um a bela página sobre ética profissional, que mereceria ser
transcrita e divulgada.
Terminando a part« conceituai, o relatório passa a examinar
0 problema das “fontes de atrito”, examinando os vários disposi­
tivos que poderiam dar margem a mal-entendidos e que deveriam
ser removidos sem maior prejuízo.
Em matéria de honorários de advogados, sugere a elim inação
na Lei da fixação de tabelas que poderiam ser estabelecidas através
do critério de seções locais, assim como o dispositivo que tratava
da revisão do contrato de honorários que tenha se tornado por
demais oneroso para o advogado.
Em conclusão, declara o parecer:

“Estão assim examinados os aspectos m ais relevan­


tes do projeto e as críticas m ais profundas apresentadas
e trazidas ao nosso conhecimento. A própria Comissão
do Egrégio Conselho Federal da Ordem, à qual nos diri­
gimos, reconheceu a justiça de m uitas observações feitas,
num a louvável revisão, a que procedeu com a nossa pre­
sença, de seu excelente trabalho. Daí resultaram as
emendas que a seguir apresentamos à consideração da
Egrégia Comissão de Justiça. Algumas decorrem de ob­
servações aqui feitas. Outras de caráter m enos funda­
m ental foram sugeridas pela leitura do projeto ou vieram
de interessados e de colaboradores espontâneos, cuja co­
laboração agradecemos.
Opinamos, enfim, pela aprovação do projeto com as
modificações constantes da emenda adiante.”

O Senador Aloysio de Carvalho Filho apresentou em 1.° de


junho de 1962 parecer na Oomissão de Constituição e Jutsiça do
Senado sobre o projeto. O parecer do Senador da Bahia não con­
tinha nenhum a justificação de caráter geral, e fazia apenas uma
indicação sucinta sobre os principals aspectos do projeto, que
convinha emendar, com as propostas de emenda.
Em relação aos requisitos para membros do Conselho Federal
da Ordem dos Advogados, aceitava a emenda de Gil Soares, Dele­
gado da Seção do Rio Grande do Norte ao Conselho Federal, pro­
pondo também como requisitos a ausência de com inação por in ­
fração discáplinar, e de não ocupar o escolhido cargo público que
seja dem issível ad nutum , acrescentando a necessidade de excluir
a exigência do exercício ininterrupto da profissão por m ais de um
qüinqüênio. Apontava pequenas impropriedades do texto, e referia-
se a aspectos específicos como a procuração sob caução, no caso
do advogado não comparecer munido de procuração, dando ao Juiz
poderes para determinação de prazo. Em relação aos atos privati­
vos do advogado, discutia o problema da postulação perante a

103
adm inistração pública, e sugeria o estabelecim ento de emenda,
declarando que a interposição de recursos nessa via deveria ser ato
privativo do advogado. Quanto às Incompatibilidades e impedimen­
tos, sugeria o estabelecim ento de emenda, estabelecendo que os
servidores públicos de entidades autárquicas, paraestatais e socie­
dades de economia m ista ficassem impedidas de advogar contra
qualquer pessoa de direito público e não apenas a pessoa a que
estivesse vinculado.
Em matéria do sistem a disciplinar do projeto, o relator fez
exam e rigoroso da matéria, sugerindo inúmeras modificações,
visando a escoimar o projeto de algum as falhas. Em relação ao
exercício ilegal da profissão, sugeria acrescentar ao artigo que
tornava passível das penas da lei de contravençoes penais do
exercício ilegal da profissão, inciso que previa explicitam ente os
mesmos efeitos punitivos à modalidade freqüente de oferecer ser­
viços de advocacia no estrangeiro, na qualidade de representantes
ou agente,s de escritórios ali existentes, e ordinariamente para so­
luções que o direito nacional desconhece quando não repele.
O relator exam ina ademais o problema das inscrições na
Ordem de provisionados e solicitadores, o prazo para exigência de
estágio e exam e de ordem; exam ina com m inúcia o problema no
tribunal de ética profissional, admitindo a sua existência.
Na sessão de 14 de agosto de 1956, o Presidente Nlehemias
Gueiros declara que não vai exercer como Presidente o direito de
voto pessoal e justifica a sua posição, reservando-se o voto de
qualidade.
Na sessão de 20 de agosto de 1956, vota-se provimento de
caráter geral, impedindo-se os inspetores de trabalho de advogar
perante a Justiça do Trabalho, além dos impedimentos do Artigo
11 do Regulamento.
Em sessão de 9 de abril de 1957, Nehemias Guedros deu conhe­
cim ento de apelos que recebera, durante o m ês de janeiro por
ocasião do recesso do Conselho, com relação ao descumprimento
de ordens judiciais por autoridades públicas, e dos pedidos feitos
por numerosos colegas, no sentido de que a Ordem se m anifestasse
a respeito. O que fez através de nota divulgada em 31 de janeiro
de 1957, sobre o assunto, formulando protesto contra o descumpri­
m ento de ordens judiciárias ou o retardamento de sua execução,
formulando apelo a todos “juizes e advogados no sentido de serem
inflexíveis no reclamar o rigoroso respeito à Ordem e as decisões
judiciais, como único meio de preservar, pela harm onia e indepen­
dência dos poderes, o regime da legalidade constitucional”. Nehe­
m ias Gueiros distinguiu as funções que exercia com o Presidente
da Ordem dos Advogados, segundo o Art. 88 do Decreto n.® 22.478,
das de Presidente do Conselho Federal da Ordem dos Advogados,
segundo o Art. 89 do Inciso i n , esta função conseqüência daquela,
declarando que agiu como Presidente da Ordem e não como Pre-
104
sidente do Conselho. A matéria provocou grande discussão, ha­
vendo alguns que achavam que o ato precisava ser ratificado pelo
Oonselho, declarando o Presidente que o ato só poderia ser ratifi­
cado, se houvesse sido praticado sem com petência para fazê-lo, O
Conselheiro Luiz Mendes de Moraes Neto, do Conselho do Distrito
Federal, fea um protesto contra o fato de o Presidente haver lan­
çado sozinho o manófesto, entendendo que agira fora de sua com­
petência, pois na ausência ou falta do Conselho Federal, as atribui­
ções deste poderiam ser em urgência em certos casos pelo Presidente
do Conselho da Seção do Distrito Federal. Esta m atéria foi tam ­
bém discutida, verificando-se que não se aplicava inteiram ente ao
caso, e ao final, em votação, foi aprovada a atitude do Presidente.
Em 20 de m aio de 1957, Nehemias Gueiros apresentou uma
indicação ao Conselho Federal, no sentido de que se instituísse o
prêmio “Medalha de Ouro Rui Barbosa” por serviços notáveis à
causa do direito e da justiça. Foi designado como relator o Conse­
lheiro José Maria Mac Dowell da Costa que, examinando a matéria,
foi de parecer que se aprovasse a indicação, com a nomeação pelo
Presidente de uma Comissão para redigir o respectivo Regulamento,
e em seguida submetê-lo à apreciação do Conselho e, que fosse
oportunamente solicitado ao Governo Federal o reconhecimento
oficial dessa Medalha.
Nehemias Gueiros dava ainda conhecim ento ao Conselho da
nota que seria publicada pela imprensa, em virtude de ter o Minis­
tro da Fazenda, José Maria Alkmin, em discurso pronunciado na
Câmara dos Deputados, afirmado:

“Na m anhã que precedeu este julgam ento, ch ^ o u -


se a pretender mobilizar contra m im, atoarda de escân­
dalos, com notícias pelo rádio, o Conselho Federal da
Ordem dos Advogados do Brasil. Mas, coisa estranha: O
Presidente desse respeitável sodalício, advogado Nehe­
m ias Gueiros, autor de frustrada convocação do Conse­
lho, aparece logo depois, por singular coincidência, como
o patrono ostensivo dessa causa de duzentos e tantos
automóveis que valem perto de 200 m ilhões.”

O Presidente Nehemias Gueiros rebateu em nota violenta­


m ente esta acusação infundada, declarando que as providências
tomadas por ele o foram em 31 de janeiro de 1957, e som ente
vários dias depois, em 18 de fevereiro, é que foi convidado para
colaborar com o Dr. Dario de Almeida Magalhães na ação executó-
tria do mandado de segurança concedido a vários membros da
Marinha de Guerra brasileira pelo Tribunal Federal de Recursos.
Afirmava ainda m ais que o fato de ter lançado protesto de apelo
não o incom patibilizara para esta medida, declarando ao final:

105
“O m anifesto contendo protesto e apelo que fiz, na
qualidade de Presidente da Ordem dos Advogados do
Brasil, e comunicado às autoridades do Poder Executivo,
do Poder Judiciário e à própria cla&se dos advogados, em
caráter absolutamente impessoal e com incensurável ele­
vação de linguagem, teve ampla repercussão e receptivi­
dade em todo o paia, manifestada através de ofícios das
m ais altas autoridades do Poder Executivo e do Poder
Judiciário, e foi por unanimidade de voto inserida em
ata de trabalhos do Conselho Federal da Ordem dos
Advogados em sua sessão de 9 de abril do corrente. Esses
fato,3 por si sós destroem um equívoco ou a m alícia de
informações que porventura inspiraram a nota de início
referida.”

Na sessão de 3 de setembro de 1957, é nomeada uma Comissão


para estudar a questão do salário m ínim o dos advogados (Projeto
de Lei 246/57) composta dos Conselheiros Maurício Furtado, Nehe-
m ias Gueiros, Alberto Barreto de Melo, Them istocles Marcondes
Ferreira, Carlos Alberto Dunshee de Abranches, J. M. Mac Dowell
da Casta e Carlos Bernardino Aragão Bozano.
Na sessão de 24 de setembro de 1^57, é feita a distribuição
da edição dio primeiro número do Boletim composta de dez páginas.
Na sessão de 11 de outubro de 1957 é aprovada a realização da
Conferência da OAB no ano seguinte.
Na sessão de 30 de julho de 1957, discute-se o Projeto de Le^
n.° 2.445/57 do Deputado Oliveira Franco que permite o solicitador
com dez anos de serviços como advogado advogar em todo o terri­
tório nacional. Para apreciar a m atéria um a Comissão é nomeada,
composta dos Conselheiros Mac Dowell da Costa, Oswaldo Murgel
de Rezende, Mayr Cerqueira e Them istocles Marcondes Ferreira.
Na sessão de 19 de novembro de 1957, o Conselho decide Inter­
vir na Seção do Amapá. Na sessão de 29 de novembro de 1957, é
lido o ofício do Chefe do Estado-Maior do Exército, convidando
um representante do Conselho Federal para realizar o Curso da
Escola Superior de Guerra, sendo indicado o Presidente para reali­
zar o curso.
Na sessão de 15 de abril de 1958, é nomeada Comissão para
elaborar o Regimento da 1.® Conferência, composta de Nehemias
Gueiros, Alberto Barreto de Melo, Carlos Povina Cavalcanti, relator,
Alcino Salazar, Carlos B. Aragão Bozano e Oswaldo Murgel de
Rezende.
Na sessão de 29 de abril de 1958, compareceram ao Concelho
Federal os Deputados Milton Campos e Aliomar Baleeiro para
discutir o projeto Lucio Bittencourt, do qual são relatores, optan­
do pela previdência através da Caixa de Assâstência aos advogados.
106
Na sesíãa de 27 de maio de 1958, é apresentado o temário e
relatores da 1.® Conferência Nacional da Ordem dos Advogados do
Brasil; são conferidos poderes ao Presidente para angariar fundos
onde aprouver, dadas as dificuldades financeiras por que passa o
Conselho. Na sessão seguinte o Conselheiro Aragão Bozano se
dem ite da Comissão discordando da orientação imprimida aos
trabalhos.
Na sessão de 29 de julho de 1958, é eleita a nova Diretoria
composta do Presidente Alcino Salazar e Secretário-Geral Alberto
Barreto de Melo, ambos eleitos com 19 votos.
A Conferência Nacâonal da Ordem dos Advogados do Brasil
realizou-se no Rio de Janeiro de 4 a 11 de agosto de 1958, graças
sobretudo ao esforço de Nehem ias Gueiros. Abrindo a 1.® Confe­
rência, declararia ele que “ela tem por objetivo a aproximação e
com unicação dos advogados de todo o país, para estudo e debate
das questões e problemas vinculados ao interesse cultural e profis­
sional da classe”.
Mostrava como “o Conselho Federal constituía apenas um a
Assembléia Geral das Seções estaduais, de reunião episódica, em
que os membros do Conselho Federal, pela sua fixação n a capital
e pela atuação profissional m ilitante que nela passam a exercer,
terminavam por se vincular às reações e repercussões im ediatas
que os problemas vão provocando no ambiente das seções que
representam.”
Assim, prosseguia:

“Foi tomando conhecim ento desse grave problema


— que poderia criar no Conselho Federal um a m entali­
dade excessivam ente centralizadora, em oposição ao sen­
tido federalista com que a Ordem foi instituída, e com­
prometer a própria autonomia adm inistrativa das Seções
— e sentindo as dificuldades de uma comunicação mais
estreita do Conselho Federal com os Conselhos Seccio­
nais, fora da rotina da fria e protocolar correspondência
oficial, que tivemos a idéia de estabelecer, através das
convenções nacionais, o contato direto de todas as Seções
da Ordem, a fim de que os advogados das m ais diversas
regiões do país possam se comunicar em linguagem co­
mum e no mesmo plano, discutindo e debatendo os tem as
e assuntos que interessam à sua atuação profissional e
à ordem jurídiica. Um novo ciclo na história das relações
oficiais da classe, aproximando as Seções e o Conselho
Federal num a verdadeira assembléia, sem distinções nem
graus de jurisdição ou hierarquia, dando à Ordem como
Federação um sentido de com unicação e solidariedade,
capaz de revitalizar a compreensão recíproca e de manter
a unidade orgânica, sem prejuízo das distinções específi­

107
cas impostas pela natureza dos problemas e peculiari­
dades regionais”.

O temário foi voltado basicam ente para os problemas de orga­


nização da classe, compreendendo os seguintes tem as e respectivos
relatores:

1 — A Advocacia e o Poder Legislativo

Tema I — A Advocacia e o Poder Legislativo. Assessoria a


parlamentares e comissões técnicas. "Lobbying". Relator: Nehe-
mias Gufiiros.
Tema II — Comissões parlam entares de inquérito. Interven­
ção dios advogados e normas de procedimento. Relator: Dario de
Almeida Magalhães.

n — A Advocajcia e o Poder Judiciário

Tema I — A advocacia e a organização judiciária. Posição do


advogado no aparelho da Justiça. Relações com os Juizes. Relator:
M. Seabra Fagundes.
Tema H — A cham ada crise do Supremo Tribunal Federal.
Congestionamento das pautas e soluções para o problema. Relator:
F. C. de Santiago Dantas.
Tema III — Participação efetiva dos advogados no recruta­
m ento dos juíaes. Sua interação na Conüssão dos Tribunais do
Trabalho. Relator; João da Rocha Moreira.

III — A Advocacia e o Poder Executivo

Tema I — A Advocacia e o Poder Executivo. Im posições e


Limitações Étioas. Relator: Francisco da Rosa Leite e Oiticica
Filho.
Tema H — Prática profissional perante a administração. Legi­
tim idade do seu exercício. Advocacia adm inistrativa e tráfico de
influência. Relator: Justo de Morais.
Tema III — Execução das decisões judiciais. Resistência e
desrespeito ao cumprimento dos julgados. Solução legislativa do
problema. Relator: Mayr Cerqueira.

IV — N ível Profissional da Advocacia — A Advocacia e o Ensino


Juridico

Tema I — O problema da m ultiplicação das Faculdades de


Direito. Requisitos para o acesso aos cursos jurídicos e a sua re­
percussão n o nível profissional. Relator: Ruy Azevedo Sodré.

108
Tema II — Reestruturação do curso jurídico em função da
realidade contemporânea no país. Criação da cadeira de Deontolo»
gia e ensino prático do Direito. Relator: Orlando Gomes.

V — A Arte de Advogar

Tema I — A advocacia como arte. Consciência profissional e


amadorismo. Relator: J. Guimarães Menegale.
Tema II — Linguagem e estilo forense. Argumentos de autori­
dade e eruditismo. Comunicação dialética do advogado com o juiz.
Relator: Waldemar Ferreira.
Tema III — Estágio profissional. Sua necessidade para melhor
aproveitamento das vocações e elevação do nível profissional. Re­
lator: J. Telles da Cruz.

VI — A Advocacia e a Ética Profissional

Tema I — Sociedade para o exercício de advocacia e ética pro­


fissional. Disciplina e responsabilidade individual dos advogados.
Relator: Cândido de Oliveira Neto.
Tema II — Jurisdição disciplinar e poder corregedor da Ordem.
Decisões cogentes de ordem pública, e direitos adquiridos. Relator;
Alcino Salazar.
Tema III — Direito e dever de advogar. Defesa de interesses.
Im unidade de reputação profissional ante o mau conceito, o cará­
ter e o caso pessoal do cliente. Relator: Nioé Azevedo.

VII — E xercido da Advocacia

Tema I — Oralidade e celeridade do processo. Experiência do


sistem a processual vigente. Vícios e sestros do foro. Relator: Mario
Guimarães de Souza.
Tema II — Proibição e impedimentos ao exercido da advoca­
cia. Posição dos membros do Ministério Público, das polícias civil
e m ilitar, das forças armadas, e dos funcionários fiscais. Relator:
Paula Malta Ferraz.

VIII — Defesa da Advocacia

Tema I — Instituições do regim e da previdência ao advogado.


Caixas de assistência e seu aproveitamento no seguro so cia l Re­
lator: C. A. Dunshee de Abranches.
Tema H — A ssistência judiciária. Remuneração dos advogados
dativos pelo poder público. Concorrência profissional ilícita. Rela^
tor: Teotônio Negrão.
Tema m — Honorários de advogado. Condenação obrigatória
nos pleitos judiciais. Relator: Alcy Denüllecamps.

109
IX — órgãos e Associações de Classe
Tema I — Relações entre a Ordem dos Advogados e as d.emals
associações de classe. Interligação com os Institutos dos Advogados.
Sindicaiização profissional. Relator: José Barbosa de Almeida.
Tema II — Direitos e deveres do advogado em relação à Or­
dem. Medos eficazes para a realização dos fins desta. Aimiento das
contribuições obrigatórias. Relator: Alberto Barreto de Melo.
Vê-se assim a im portância que tinham adquirido os novos
aspectos de organização da classe e, especialm ente, com vistas ao
futuro estatuto da Ordem. Cabe ressaltar com especial destaque a
discussão do problema de sociedades de advogados, de cujo rela­
tório foi incumbido Cândido de Oliveira Neto, tendo a leitura sido
feita pelo próprio Nehemias Gueiros, provocando acalorados deba­
tes em plenário.
Encerrando a 1.® Conferência, diria Nehemias Gueiros:
“Esta 1.® Conferência Nacional da Ordem dos Advo­
gados assinala-se por m arcos fundam entais de uma nova
era da advocacia entre nós:
a. constituiu o início da prática do exame e debate
dos problemas e aspirações da classe, em termos de as­
sembléia nacional, promovida pelo seu órgão máximo;
b. realizou um a verdadeira tom ada de consciência
em relação ao caráter profissional da advocacia, como
um m unus público, como dever antes que direito, em
oposição ao amadorismo diletante;
c. demonstrou o alto nível moral e cultural a que
já chegou a advocacia no Brasil, pela inspiração dos m ais
elevados padrões éticos e pela compreensão da necessida­
de de renovação dos processos, segundo os técnicas atra­
vés dos quais ela se exerce;
d. revelou a unidade e solidariedade da classe em
relação às reivindicações indispensáveis ao exercício
pleno da advocacia nos novos e m ais amplos setores em
que a advocacia passou a se praticar.” ^

Na ocasião, transm itia Nehemias Gueircs a Presidência do


Conselho Federal a Alcino Salazar de quem fazia o elogio, dizendo:
“Ele se impôs à Presidência da Ordem dos Advogados
do Brasil para merecer a consagração dos sufrágios das
delegações de todo o país, através de um a carreira bri-
® Os Anais d a 1.® Conferência não chegaram a ser publicados, dada a
difícil situação financeira que a Ordem atravessava, e que só corri
extrem o esforço se conseguiu realizar a Conferência. Os discursos de
Nehemias Gueiros estão publicados em A A dvocacia..., pp. 63-81.

110
lhante que lh e deu projeção nacional, txansfundindo no
advogado as virtudes do mestre de direito, e dando a este
a experiência do advogado no trato das hipóteses para
ilustrar as teses do m agistério onde doutrina e ponti­
fica.”

Na sessão de 19 de agosto de 1958, visita a Ordem Victor


Nunes Leal, Chefe da Casa Civil da Presidência da República, que
leva as congratulações do Presidente da República à nova direto­
ria da Ordem dos Advogados, bem como o apoio do Chefe da
Nação à entidade.
Nesta mesma sessão, é nomeada Comissão para estudar a crise
do Supremo Tribunal Federal, composta do Presidente Nehemias
Gueiras, Secretário-Geral Alberto Barreto de Melo, Miguel Ssabra
Fagundes, Carlos Aragão Bozano e Alcy Demillecamps.
Na sessão de 10 de abril de 1959 discute-ise a transferência da
capital, sendo aprovado parecer do Presidente Alcino Salazar con­
trário à transferência.
Na sessão de 15 de abril é discutida a declaração de voto do
Presidente na Legião Brasileira de Assistência. A m atéria corres­
pondia a um fato singular na atividade da entidade; em virtude
da lei de 1942, que criara a Legião Brasileira de Assistência, o
Presidente da Ordem era um dos integrantes do Conselho Deli­
berativo da LBA, composto de representantes de instituições do
país (Banco do Brasil, Confederação do Comércio, Confederação
da Indústria, etc.). A LBA tinha por finalidade a assistência aos
menores e seu órgão executivo compunha-se de um Presidente, sem
atribuições deliberativas, que eram todas do Conselho. Embora o
Conselho se reunisse periodicamente e decidisse sobre o orçamento,
na prática o Presidente dispunha sobre todos os assuntos, inclusive
a aplicação de recursos, não havendo exame de contas, que eram
vultosas, tudo se resumindo a atas de sim ples aprovação genérica.
Enquanto isso, cresciam excessivam ente as despesas com pessoal,
com um funcionalism o excessivo e in ú til e chegavam à sede da
LBA reclamações quanto ao recebimento de verbas dadas como
remetidas.
O Presidente Aloino Salazar, constatando desde o seu primeiro
comparecimento às reuniões do Conselho Deliberativo essas irregu­
laridades, absteve-se inicialm ente de subscrever as atas, passando
depois a im pugnar as contas apresentadas ao exame do Conselho.
Outros membros do Conselho passaram a acompanhar seus
votos, até que, em determinado momento, a maioria se pronunciou
no mesmo sentido. Foi então criada por deliberação do mesmo
Conselho uma com issão de sindicância para apurar as con­
tas do últim o ano. A Comissão, composta de Alcino Salazar,
Rodrigo Octavio Filho, que na LBA representava a fundadora D.
Darci Vargas, e o Dr. Pedro Magalhães Correia representando a

111
Confederação Nacional do Comércio, comprovou as irregularidades,
èspèaifícando-as em relatório aprovado pela quase totalidade dos
membros do Conselho, acabando por propor a destituição do Pre­
sidente, e a instauração de processo criminal para apuração das
responsabilidades e punição dos culpados. Tais acontecim entos
tiveram larga repercussão na imprensa e no Congresso e como
0 Presidente da LBA era o Ministro da Saúde, acabou este sendo
demitido do Ministério. O episódio teve entretanto final m elan­
cólico e frustrante: reformou-se a legislação sobre a LBA, excluin-
do-se o Presidente da Ordem na composição do Conselho Delibe­
rativo. ^
Quando exercia a Presidência do Conselho Seccional do então
Distrito Federal Alcino de Paula Salazar, surgiu um a divergência
entre esse Conselho e o Tribunal de Justiça do Distrito Fedferal, a
respeito da aplicação do dispositivo da Constituição de 1946 que
exigia para ingresso na m agistratura vitalícia dos Estados, con­
cursos de provas, organizado pelo Tribunal de Justiça com a cola­
boração do Conselho Seccional da Ordem dos Advogados do Brasil
(Art. 124, III).
O regulam ento expedido, elaborado por duas Comissões, uma
de inscrição e outra de provas, e pelo Tribunal de Justiça, estabe­
lecia que a Comissão de concursos seria composta, cada uma, de
cinco membros, sendo quatro desembargadores e um advogado
escolhido pelo próprio Tribunal. Por decisão unânim e de seu ple­
nário, o Conselho recusou a participação no concurso, visto que a
colaboração prevista constitucionalm ente ficava inexpressiva, além
de considerar que a indicação do representante da Ordem deveria
caber a esta.
Com o impasse, um dos candidatos ao concurso propôs ação
junto à Vara da Fazenda Pública, cujo juiz determinou que os
advogados escolhidos pelo Tribunal participassem da Comissão do
concurso, sob pena de sanção por desobediência à ordem judicial.
Esses advogados recorreram para o Tribunal Federal de Recursos,
que por decisão unânim e cassou a decisão de primeira instância
e reconheceu a legitim idade da recusa.
Obstada a realização do concurso, sobreveio a lei federal por
iniciativa da Ordem, estabelecendo no Distrito Federal e nos Es­
tados que 05 Conselhos Seccionais designassem seus representantes
no concui^o, para funcionarem desde a elaboração das respectivas
bases, e que cada Comissão seria constituída de três desembarga­
dores e dois representantes da Ordem, indicados por esta. Daí por
diante, os concursos passaram a se realizar na conformidade desses
preceitos legais, que constituíram reivindicações da Ordem.

# y . discurso do deputado Adauto Lucio Cardoso publicado no Diário


do Coftgresso Nacional de 26 de agosto de 1960, p. 5.805.
Na sessão de 12 de m aio de 1959 é aprovado anteprojeto de lei
dos Conselheiros Dunshee de Abranches e Aragão Bozano sobre a
reserva do quinto para advogados nos Tribunais Regionais do
Trabalho.
Na sessão de 2 de junho de 1959 são os trabalhos legislativos
que merecem as atenções. Informa-se que o projeto do Estatuto
está na ordem do dia; o projeto de aposentadoria aguarda novo
relator na Còmissão de Legislação Social, sendo indicado o Depu­
tado Aarão Steinbruch; o projeto do salário m ínim o e o de ins­
crição provisória estão desarquivados.
Na sessão de 16 de junho de 1959 é solicitada ao Presidente da
Comissão de Educação e Cultura da Câmara a participação da
Ordem dos Advogados do Brasil no Conselho Nacional de Educa­
ção, onde se encontra o projeto de Lei de Diretrizes e Bases.
O Conselho se reúne em sessão extraordinária no dia 28 de
agosto de 1959, para julgar os casos de inscrição de m ilitares, que
foram todos negados; posteriormente, o Aviso 721 de 24 de setem ­
bro de 1959 do M inistro da Guerra esclarece que os m ilitares da
ativa são proibidos de advogar.
Na sessão de 10 de novembro com unica-se que foi apresentado
o substitutivo Aarão Steinbruch ao projeto da aposentadoria, cal­
cado no anteprojeto do Conselho preparado por Comissão, embora
não tivesse sido votado em sessão, nem na 1.® Conferência.
Na sessão de 24 de novembro de 1959 é lida a carta do Depu­
tado Pedro Aleixo, comunicando ter apresentado parecer sobre o
ífetatuto da Ordem dos Advogados na Comissão de Constituição e
Justiça da Câmara, lim itando-se a apreciar as em endas, tendo
aceito apenas um a do Deputado Paulo de Tarso, levantando a in­
compatibilidade dos servià>res de entidades assistenciais, sindicais
e de aprendizagem m antidas por empresas, e quanto aos membros
dos tribunais administrativos.
Na sessão de 1.° de novembro de 1959 o Presidente Alcino
Salazar renuncia ao cargo de Presidente em virtude de aprovação
de indicação sobre a transferência da capital, m as na sessão se­
guinte, de 15 de novembro, volta ao cargo.
Na sessão de 5 de abril de 1960 discute-se a transferência do
Poder Judiciário para Brasília, e vota-se a moção W aldemar de
Almeida dirigida ao Supremo Tribunal Federal, destacando-se os
riscos da transferência apressada para Brasília.
Na sessão de 8 de abril de 1960 é criada, a partir de 21 de
abril de 1960, a Seção do D istrito Federal em Brasília, com a
nomeação de Diretoria Provisória: Presidente Nehem ias Gueiros,
Vice-Presidente Colemar Natal e Silva, l.o Secretário Leopoldo
Cesar de Miranda Lima, 2.° Secretário Jaime Landim, 3 ° Secre­
tário Renato Ribeiro.
Na sessão de 12 de abril de 1960 é Mdo relatório do Conselheiro
Aragão Bozano sobre a transferência da capital para Brasília, e

113
deoide-se aguardar a existência de condições m ínim as para trans­
ferência do Conselho, envidando-se esforços para fazê-lo o m ais
cedo passível. Na sessão de 19 de abril de 1960, é votado protesto
redigido pelo Presidente contra a m udança do Supremo Tribunal
Federal e do Tribunal Federal de Recursos para Brasília. Na sessão
die 26 de abril de 1960, o Conselheiro D unshee de Abranches faz
um a comunicação sobre a situação em Brasília, e a possível ocupa­
ção de um andar cedido pelo Tribunal Superior Eleitoral para as
instalações do Conselho Federal. É aprovado um voto de congratu­
lações ao Tribunal Superior do Trabalho que decidiu não efetivar
a mudança, enquanto for impossível fazê-la sem entrar em recesso.
O Presidente baixa as instruções para funcionam ento da Diretoria
provisória da Seção do Distrito Federal.
Na sessão de 3 de maio de 1960 é nom eada Comiasão para
organizar a 2.® Conferência, composta de Miguel Seabra Fagundes,
Them istocles Marcondes Ferreira e Corintho de Arruda Falcão. Na
sessão de 31 de m aio de 1960 é comunicada a instalação da Seção
do Distrito Federal.
Na sessão de 7 de junho de 1960 são discutidas emendas ao
Regim ento da Conferência da Ordem dos Advogados do Brasil,
discutindo-se novamente, na sessão de 5 de julho de 1960, o fun­
cionam ento dos tribunais superiores em Brasília.
Na sessão de 26 de julho de 1960 processam-se as eleições,
sendo eleito Presidente José Eduardo do Prado K elly com 20 votos,
e para Secretário Alberto Barreto de Melo com 20 votos, sendo um
voto em branco.
A 2.® Conferência Nacional da Ordem dos Advogados do Brasil
realizou-se n a cidade de São Paulo, de 5 a 11 de agosto de 1960,
tendo sido precedida de Encontro dos Presidentes dos Conselhos
Seccionais.
Na sessão plenária inaugural, à qual estiveram presentes o
Dr. Ávila Diniz Junqueira, Secretário da Justiça, representando o
Governador do Estado, o Dr. Pedro Chaves, Presidente do Tribunal
de Justiça, o representante do Cardeal Arcebispo, e o Professor
Gama e Silva, Diretor da Faculdade de Direito, u&ou da palavra
o Presidente do Conselho Seccional, Dr. Noé de Azevedo, que tratou
basicam ente do problema do funcionam ento da Justiça, discutindo
a organização da Justiça Federal e do Tribunal Federal de Recursos.
No discurso de agradecim ento falou o Professor Abgar Soriano
de Oliveira, da Delegação de Pernambuco, destacando os problemas
da estruturação do Poder Judiciário encarado como poder autôno­
mo. Usou também da palavra o Presidente do Conselho Federal
A lcino Salaaar, voltando-se também para o problema da crise do
Poder Judiciário e declarando;

“Tudo isso encarece a conveniência dessas sucessivas


e freqüentes reuniões dos advogados do país para que

114
eles, ao lado da advocacia comum, ao lado da represen­
tação da defesa dos direitas m dividuais de seus clientes,
se congreguem e façam um a advocacia coletiva em de­
fesa de um a outra causa, qual seja a causa do aperfei­
çoam ento da ordem jurídica, do regular funcionam ento
das nossas instituições, para que tenham os leis adequa­
das, desde que atendam aos anseios e aos fatos sociais
da época, e para que tenham os um a justiça que possa
dar ao cidadão tranqüilidade e segurança nos seus
direitos.”

Foram debatidas na Conferência as seguintes teses:

Missão do advogado contemporâneo — Miguel Reale.


A colaboração dos órgãos de classe na feitura das leis — Otto
Gil.
Dimensão da Advocacia — Advocacia Extrajudicial — Alberto
Barreto d.e Melo.
A participação do advogado em todos os tribunais judiciários
e adm inistrativos e as m edidas legislativas que essa participa­
ção impõe — M Seabra Fagundes.
Juizado de instruções no crim e — Noé Azevedo.
A regulam entação e disciplina d.o exercício profissional nos
Tribunais Superiores e de Segunda Instância — Bartolomeu
Bueno de Miranda.
O advogado no inquérito policial — Basileu F. Garcia.
A advocacia nos processos de natureza adm inistrativa — Paulo
Barreto de Araujo.
Pagam ento de honorários ao patrono e ao advogado dativo,
pelo pc^er público — José Osório de Oliveira Azevedo.
A Comissão de prerrogativas e a defesa do exercício profissio­
nal — Manoel Pedro Pim entel
Sanções penais para coibir o exercício ilegal da advocacia —
Francisco Emygdio Pereira Neto.
Ingresso na advocacia de Magistrados, Promotores, Delegados
e de Polícia quando aposentadas ou, em disponibilidade — Teó-
filo de Azeredo Santos.
Honorários de advogados no Código de Processo Civil — Roger
de Carvalho Mange.
A Previdência Social dos advogados — Aguinaldo Miranda
Simões.
A instituição do estágio e o problema de sua regulam entação
— Ruy Azevedo Sodré.
Do julgam ento sem recurso, em instância única — Theotonio
Negrão.
O julgam ento colegíado em primeira instância, para desafogo
dos Tribunais Superiores — José Barbosa de Almeida.
115
— Medidas destinadas a facilitar o exercício da advocacia nos Tri­
bunais Superiores — José M otta Maia.
— A crise do Supremo Tribunal Federal — Nehemias Gueiros.
A crise do Tribunal Federal de Recursos — C. A. D unshee de
Abranches.
Sugestão para o aperfeiçoam ento do sistem a de recursos no
Código de Processo Civil — Thomaz Pará Filho.
— Sugestões para a maior celeridade do prose&so judicial — Nel­
son Carneiro.
— Ampliação do objeto do despacho saneador — Alfredo Buzaid.

No dia 11 de agosto de 1960, em comemoração do centésimo-


trigésimo-terceiro aniversário da instalação dos cursos jurídicos,
Miguel Reale pronunciou conferência sobre as faculdades de direito
n a história do Brasil, destacando a im portância dos cursos jurí­
dicos na formação da nacionalidade, e a im portância de que essas
faculdades m antivessem ainda esse alto padrão.
A sessão plenária de encerramento coincidiu com a posse da
nova Diretoria do Conselho Federal. Inicialm ente, falou José Mira­
mar da Ponte, da Delegação do Ceará, em nom e das delegações
dos Conselhos Seccionais, destacando a relevância dos trabalhos e
as conclusões apresentadas à 2.® Conferência. Alcino Salazar, ao
passar a Presidência a José Eduardo Prado Kelly, declarou que
“está escrito m ais um capítulo na história da cultura jurídica
brasileira”; referindo-se ao êxito da 2.® Conferência, destacou o
problema da im portância da posição que o Supremo Tribunal Fe­
deral e Tribunal de Recursos deveriam ocupar, o papel da Ordem
dos Advogados, e fazendo votos para que o novo Presidente exer­
cesse o seu m andato com a proficiência que lhe era habitual.
Ao tomar posse, ao final da 2.® Conferência Nacional dos Ad­
vogados, diria José Eduardo Prado Kelly:

“A m ilícia da Justiça somos nós que a constituím os,


como procuradores das partes, substituindio-as nos atos
processuais do começo ao fim das demandas, à exceção
dos atos raríssim os em que sua presença se tom a indis­
pensável. Somos para os juizes o que, na tragédia grega,
era o coro, sím bolo do povo em face do soberano, encar­
nação do poder. Seremos, às vezes, intérpretes de inte­
resses, m as a nossa m issão é a de instrum entos da
verdade. Por isso, desde as épocas m ais remotas os advo­
gados aprenderam a falar aos potentados como nunca
os fracos e desprotegidos ousariam falar-lhes. E é este o
apanágio da nossa corporação, ainda antes de se organi-
10 V. Anais da II Conferência Nacional da Ordem dos Advogados do
Brasil, realizada de 5 a 11 de agosto de 1960 — São Paulo (Teses
Aprovadas — Discursos Proferidos — Conclusões Adotadas — p. 360).

116
zar na idade moderna, com a autonom ia e as prerrogati­
vas que as leis lhes reconhecem. São direitos universais,
declarados em pactos solenes, o acesso à justiça territorial
de todas as criaturas, inclusive os estrangeiros, apátri-
das e a plenitude da defesa, quer n a jurisdição criminal,
quer na jurisdição civil”.

E acrescentava:
“Sentim os m ais fundam ental que quaisquer outros
legisladores ou juizes, a repercussão em nossa atividade
d ^ crises crônicas ou acidentais do direito; causas par­
ticulares somam-se constantem ente às causas gerais que
enchem de apreensão os especialistas e os estudiosos. Em
um m undo dividido por idéias antagônicas — as da filo­
sofia cristã e as do m aterialism o dialético — a crise do
direito é a crise do Estado. O regim e político tom ou-se
a medàda dos institutos jurídicos e n ão há m eio de flo­
rescerem e se aperfeiçoarem esses in stitu tos em uma
ordenação do poder que amesquinhe ou anule a li­
berdade”. "

Na sessão de 25 de outubro de 1960 discute-se o parecer do


Deputado Pedro Aleixo ao projeto do E statuto da Ordem, declaran­
do o Conselheiro Dunshee de Abranches que ocorreram inovações
substanciais no tocante aos atos privativos dos advogados. O Con­
selho decidiu oficiar à Câmara e a partidos, p leit^ jid o a apro­
vação n a forma original; os Conselheiros DunAiee de Abranches,
Alcino Salazar e Aragão Bozano são encarregados de elaborar a
justificativa do projeto na forma original. Na sessão de 29 de no­
vembro de 1960, com unica-se que a Câmara votou o Projeto de
Estatuto, devendo ser remetido ao Senado.
Na sessão de 18 de abril de 1961 é enviada a representação ao
presidente da República, pedindo a revisão da lei e m aior fiscali­
zação no reconhecim ento das faculdades de direito.
Por proposta do Conselheiro Gil Soares de Araújo é pedida na
sessão de 2 de m aio de 1961 dispensa de preparo de recuiso ao
Supremo Tribunal Federal com a aprovação urgente do Processo
1.988/60 do Deputado Paulo de Tarso.
Na sessão de 1.° de agosto de 1961 com unica-se que foi votado
pelo Senado o projeto de aposentadoria dos advogados.
Na sessão de 29 de agoisto de 1961 o Conselho aprovou, por
unanimidade, moção proposta pelo Presidente Prado K elly tendo
em vista a crise política d efla ^ a d a pela renúncia do Presidente
Jânio Quadros,
11 o discurso de P rado Kelly está publicado no livro A Missão de Um
Advogado. Rio, Forense, 197, pp. 36-38.

117
“O CONSELHO FEDERAL DA ORDEM DOS ADVO­
GADOS DO BRASIL, em face dos gravíssimos aconteci­
m entos que a Nação testem unha, reafirma, ainda um a
vez, sc a fidelidade aos verdadeiros princípios da demo­
cracia, inscritos na Constituição, contra os extrem ism os
da esquerda ou da direita, e apela para as autoridades e
para a& forças armadas, na esperança de que m ante­
nham a ordem material, indispensável à segurança dos
cidadãos, e a ordem jurídica, essencial às liberdades
públicas."

Na sessão de 26 de setembro de 1961 renuncia o Conselheiro


Claro Augusto Godoy, devido a uma n ota ameaçadora da Seção de
Goiás exigindo a m udança do Conselho Federal para Brasília. A
Seção se retrata por telegram a em 10.10.1966, m as o Conselho
recusa a retratação, considerada insatisfatória, e o Conselho Fe­
deral nom eia Comissão para apurar o comportamento da Seção.
Na sessão de 24 de abril de 1962 é lido ofício da Seção do
Paraná e3q>Ucando que não poderá acolher a sede da terceira con­
ferência; na sessãio seguinte, de 8 de m aio de 1962, sugere-se Poços
de Caldas para .sede da conferência, e conferem -se poderes ao Pre­
sidente para entender-se com o Presidente da Seição de Minas Ge­
rais, Darcy Bessone.
Na sessão de 5 de junho de 1962 é votada moção de aplauso,
pela aprovação do projeto da aposentadoria para advogados, espe­
rando-se a sanção pelo Executivo. Os Conselheiros Letaczo Jansen
e Aragão Bozano n a sessão de 12 de setembro de 1962 expressam
temores de um veto parcial ao projeto de aposentadoria, m as a
OoHtselheira Maria Rita Soares de Andrade com unica inform ação
do Procurador-Geral da República Evandro Lins e Silva de que
não haveria veto.
Na sessão de 26 de junho de 1962 é lida a carta do Embaixador
Francisco Negrão de Lima com unicando a concessão de asilo ao
Vice-Presidente da Ordem dos Advogados de Portugal, mas que o
mesmo, em vista das autoridiades haverem declarado nada ter
contra ele, desistiu do asilo.
Na sessão de 3 de julho de 1962 é realizada eleição para o
Conselho Federal, sendo eleitos unanim em ente Carlos Povina Ca­
valcanti, Presidente, e Alberto Barreto de Melo, Secretário, com
22 votos.
Na sessão de 17 de julho de 1962 o Conselho do Distrito Fe­
deral solicita a inform ação pedida pelo Corregedor da República
sobre o espaço necessário no Palácio da Justiça, em projeto, para
o Conselho Federal.
Os Conselheiros W. Regalado Costa e Gaston Luiz do Rego,
na sessão de 24 de julho de 1962, solicitam que o Conselho m ani­

118
feste sua preocupação com a infiltração com unista no país; o
assunto foi adáado para nova discussão.
Na sessão de 7 de agosto de 1962 a Casa tom a conhecim ento
da aprovação da Lei 4.103-A sobre a aposentadoria dos advogados.
Ao tom ar posse em 11 de agosto de 1962 Povina Cavalcanti,
depois de fazer o elogio ao seu antecessor Prado Kelly, referia-se
aos difíceis problemas que o país atrave^ a para dizer que “não
tem sentido vazio a denom inação liberal, que se dá à nossa profis­
são. Liberal, sim — porque am a e sofre à liberdade; liberal no
espírito e no cem e da nossa missão. E porque liberal, o advogado
tem a sensibilidade de um radar cívico.”
Remetendo-se ao exem plo do “barreau” francês, diria:
“A crônica do bastonário francês está cheia de
exemplos. Nunca o t>atônnier nas conjunturas m ais di­
fíceis da França se om itiu ou dem itiu dos seus altíssim os
deveres. E nunca se viu um bastonário francês, ainda
que amordaçadas todas as bocas, faltar com os seus de­
veres para com os seus colegas, a ordem jurídâca e a
liberdade. Proclamou oerta vez o batônnier Chenu: “Nós,
os advogados, criamos a liberdade”.”
E declarava ao final:
“Deixei para o fim o dever de proclamar que a
classe dos advogados no Brasil sofre, no seu espírito e
na sua carne, a m aior crise de sua história: a círiise da
sua proletarização, a qual necessitam os combater com
todas as energias que somos capazes. O advogado, nas
capitais como no interior, salvo exceções, luta desespe­
radamente. Precisamos levar-lhe o nosso apoio e a nossa
solidariedade. Proletários, sim , com o brilho do colarinho
engom ado se apagando no plenário dos tribunais e na
audiência do juiz singular, o advogado é a maior vítim a
dessa inflação galopante que nos am eaça a todos.”

Transmitindo o cargo, José Eduardo Prado K elly já revelava


as preocupações que o m om ento político apresentava:
“Contra “O Estado de direito”, modelado na civili­
zação do Ocidente, convergem contraditoriam ente os
ataq'ues dos sectários de duas políticas extremadas,
disputando o poder às democracias e combatendo-se en­
tre si, a partir da Primeira Guerra Mundial. Ambas se
apoiaram na regim entação classista — dos trabalhado­
res unicam ente, ou de categorias sociais unitárias com
0 artifício de conciliá-las — a fim de pedir a divisão
espontânea da coletividade nacional em núcleos de opi­

119
nião cívica, independente dos laços profissionais, e des­
truindo 0 “Estado de Partidos”, baseado na coexistência
harm ônica dessas forças deliberantes, capazes de alter­
nar-se do poder sem derrocar os fundamentos.
Por diversos caminhos, as correntes, rivais n a apa­
rência, deságuam no estuário monstruoso do Estado
Nação, do Estado Totalitário, do M notauro, do Leviatã.”

E prosseguia:

“Quem indagar, em Nação sadia e próspera, a idade


de sua Constituição, verá que dura tanto m ais quanto
menos se lhe vareja o texto, à cata de receitas expeditas
para m oléstias crônicas. A função dos códigos políticos
lim ita-se a ordenar os poderes (na base da vontade po­
pular) e a declarar os direitos e garantias que resguar­
dam os cidadãos contra os arbítrios dos poderosos. Por
isso, hão de ter um m ínim o de estabilidade, para distin-
guir^e das leis ordinárias, votadas por m aiorias relati­
vas ou ocasionais nas assembléias. O que opõe as Consti­
tuições rígidas ou flexíveis é apenas ã circunstância de
que as últim as não existem do ponto-de-vista formal,
pods nada as diferencia das modificações legislativas, e
as primeiras reclamam, para revisão, órgãos ou processos
especiais.”

E depois, tratando da realidade brasileira:

“Objeta-se e é adm issível que ao povo não consul­


tado, desagrade o parlamentarismo. Pois está à vista o
modo de comprová-lof B asta que o povo eleja em outu­
bro deputados e senadores que traduzam as preferên­
cias por um ou outro regime. Funcionará destarte em
sua íntegra o sistem a representativo. Os novos manda­
tários virão investidos, oomo os antecessores, do poder
constituinte derivado e poderão de uma assentada, se
lograrem o quorum exigido, restaurar o presidencialismo.
Sendo outras as inclinações eleitorais, aperfeiçoem então
a form aulação claudicante ou om issa de 1961. Ser-lhes-á
dado redigirem com sabedoria as futuras disposições em
um ou outro sentido, acomodando cada modelo às ne­
cessidades reais que passam despercebidas aos eleitores
com uns, chamados a opinar m ais aobre a idéia concreta
do que sobre as normas abstratas.”

Na sessão de 4 de setembro de 1962 é aprovado o voto da


Comissão designada para exam inar o salário m ínim o do advogado,

120
com a ressaiva do Conselheiro Aragão Bozano de que só deveria
ser obrigatório para os advogados com relação de emprego com
empresas.
Na sessão de 18 de setembro de 1962 o Presidente solicita e
obtém permissão para convocar sessão extraordinária, a íim de
discutir a evolução dos acontecim entos nacionais.
É comunicado, n a sessão de 16 de outubro de 1962, que ficara
pronto o anteprojeto de regulam ento da Lei n.° 4.103-A.
Na sessão de 6 de novembro de 1962 é apresentado o antepro­
jeto de regulam ento da Lei n.° 4.103-A que recebe duas emendas,
sendo que o Conselheiro Aragão Bozano faz declaração sobre “o
m onstrengo que é a Lei 4.103-A”.
Discute-se n a sessão de 18 de dezembro de 1962 a desconside­
ração que teria sofrido o Presidente da Ordem, na sessão de aber­
tura do Congresso da Comissão Internacional de Juristas, com
troca de cartas entre o Presidente Povina Cavalcanti e o Presidente
do Congresso Levi Carneiro. É com unicada também a aprovação
pelo Senado do projeto de criação da Cbmissao de D efesa dos
Direitos da Pessoa Humana e o apoio da Ordem para Instalação
da Comissão o m ais breve possível.
Na sessão de 21 de abril de 1963 é designada Comissão para
estudar os efeitos do novo E statuto em vias de aprovação, sobre
a estrutura e funcionam ento do Conselho, com posta do Presidente
Povina Cavalcanti, do Secretário-Geral Alberto Barreto de Melo,
e do.s Conselheiros Nehemias Gueiros, Them istocles Marcondes
Ferreira, Aragão Bozano e Jorge Lafayette Guimarães.
O Conselho tom a conhecim ento na sessão de 30 de abril de
1963, da sanção da lei do novo Estatuto da Ordem. Na sessão de
11 de junho de 1963 é comemorada a entrada em vigor do novo
Estatuto, pronunciando discurso Nehem ias Gueiros. Inicia ele a
alozução dizendo:

“Eis que tem os um estatuto novo para a Ordem e,


afinal, o E statuto do Advogado. Na verdade, não se pode­
ria dizer do nosso antigo regulam ento — impróprio até
na denom inação, pois era de lei que se tratava e não de
regulam ento — que ele fosse, nos seus quatro únicos
artigos alusivos à profissão, um a disciplina do estatuto
da advocacia. Antes, era e som ente, um a tábua de regras
à jurisdição disciplinar contra o advogado faltoso e ao
funcionam ento do colégio que por delegação do poder
público, exercia e ainda continua a exercer o poder de
polícia aplicada aos seus membros. Agora tem os, com

1- P a ra a exegese da lel, V., en tre outros, os excelentes Comentários ao


Estatuto da OAB e às Regras de Profissão do Advogado de Eugenio
R. Haddock Lobo e Francisco Costa Neto. Rio, 1978, p. 795.

121
o Estatuto da Ordem, pela primeira vez, a lei que regula
o exercício da profissão.”

Depois de prestar um preito aos colaboradores e pioneiros que


trabalharam na elaboração da obra, trata da Ordem como figura
svi generis de coirporação, e faz um resumo dos principais aspectos
do novo Eistatuto, dizendo:
“Sim, a advocacia é um ofício, um a profissão, mas
é também uma arte, pela técnica e pelo instrum ental
da palavra escrita e falada.”

Mostra como a arte da advocacia é sobretudo a arte da pala­


vra para concluir:

“Sim, é o culto da palavra que está em crise, é a


retórica que entrou em decadência, é o estilo que desa­
parece, é a eloqüência que se degrada, são as boas m a­
neiras que entram em subversão. É a morte da cultura
clássica, decretada em m andam ento legal, pretendendo
lançar definitivam ente em sarcófago as letras latinas, e
é a improvisação da rotina im posta pelo tum ulto dos
dias que correm, que retiram às novas gerações o amor
ao lazer fecundo de abeberar-se na fonte pura do classi-
cismo, aos quais nenhum espírito irridente, nenhum a
vocação revolucionária — ainda que por amor à renova­
ção indispensável ao espírito humano — poderá des­
denhar.”
Trata então do campo da advocacia como padrão da sinderese
profissional, dos direitos e privilégios do advc^ado e do advogado
compondo o poder juir:sdicionaI e conclui:
“Mas acim a do seu evangelho e da sua lei, põe o
advogado, como juiz, a sua consciência. Ela impera sobre
a rigidez dos textos e sobre a frieza das regras, e tempera,
com o padrão moral, insubm isso a contextos, a dinâm ica
do direito, que precisa ser hum ano para ser direito.
A ninguém m ais do que ao advogado cabe a tarefa
de humanizá-lo. É sobretudo esta, a nossa grande m is­
são: a de bater e de combater, a de postular e de in*sistir,
a de pedir e de repedir. E de tanto clamar, pedindo, fazer
com que a justiça venha por m esse ou por conquista,
dando ao advogado a recompensa de sentir-se como ins­
trum ento de humanidade, e ao juiz o privilégio de haver
podido traduzür em calor hum ano aquilo que era, na
tese petrificada da lei, regra sem alma, corpo sem movi­
m ento, antítese da própria vida.
122
Vige, a partir desta data, o nosso catecismo. Que ele
soe e ressoe nos nossos ouvidos e na nossa intelecção,
como um ritornelo que, de tanto se repetir, se impregne
sublim inarm ente em nossa personalidade profissional,
para agirmos com a responsabilidade perm anente da
função pública que agora praticam os.”
O Presidente da República vetou o Artigo 149 do Projeto
1.751/56 sobre o direito dos advogados inscritos anteriorm ente
exercerem a profissão pela lei antiga por considerá-lo contrário
aos interesses nacionais, declarando que a supressão do artigo se
justificava para que não se tivesse sob regim e jurídico diferente
uma m esm a categoria profissional, acrescentando que os motivos
que inspiraram o referido Artigo 149 teriam visado a garantir aos
servidores públicos suposto direito adquirido a advogar perante os
tribunais contra a Fazenda Nacional. Sugeria que n a m atéria fosse
m antido um critério uniform e em relação aos antigas e aos novos
profissionais da advocacia, um a vez que todos de ora em diante
teriam a sua atividade profissional regulam entada pela le i origina­
da do projeto.
Nehemias Gueiros, relator da Comissão de Im plem entação do
Estatuto, ofereceu ao Presidente da Ordem Povina Cavalcanti su­
gestão para que a Ordem se m anifestasse contra a m anutenção do
veto, um a vez que constituía “medida de política legislativa desti­
nada, não apenas a encarecer o direito adquirido dos advogados
inscritos sob a incidência do direito anterior, como a de possibilitar
a adaptação do novo regim e à sua realidade existente, sem a tira­
nia do “sum m us jus sum m a injuria”.” O Congresso Nacional, com
larga maioria de votos, rejeitou o veto.’^
Disoute-se na sessão de 9 de julho de 1963 o número de repre­
sentantes de cada Conselho Seccional que, de acordo com o novo
Estatuto, deve ser fixado em três. Sugere-se na sessão de 16 de
junho de 1963 a criação do D ia do Advogado em 11 de agosto.
Na sessão de 7 de agosto de 1963 é iniciada a votação do Regi­
m ento que prossegue em sessões posteriores.
A entrada em vigor do novo E statuto desperta desde logo o
problema de interpretação de algum as disposições legais, sendo
que m uitos deles vêm à consideração do Conselho Federal.
Diecute-se n a sessão de 1.® de outubro de 1963 as conclusões
da reunião de V&tória, com o apoio da Seccional daquele Eistadb
Apucí Nehemias Gueiros, A A dvocacia... p. 6S.
Exerceu papel de relevo n a rejeição do veto, contribuindo, nas palavras
de Nehemias Gueiros, “decisivamente p a ra essa rejeição o lobbying
desenvolvido pessoalm ente pelo Presidente do Conselho Seccional da
Ordem de Pernam buco, o Dr. José Cavalcanti Neves, ju n to aos membros
do Congresso Nacional, aos quais distribuiu um sucinto e judicioso
mem orial intitulado “Um Veto Inconstitucional e Discriminatório"
— apud Nehemias Gueiros, op. cit., p. 286.

123
eta. prol da suplemeritação dos vencim entos dos juizes esitaduais da
Fazenda Nacional. O Conselho Federal tem parecer contrário, e o
Presidente decide estudar o assm ito, resolvendo n a sessão seguinte
comunicar a posição do Conselho a todas as secções, de acordo com
requerimento do Conselheiro Aragão Bozano.
Na sessão de 15 de outubro de 1963 são procedidas eleições
para o C on^lho Federal, para os novos cargos criadios pelo Esta­
tuto, sendo eleito Vice-Presidente Them istocles Marcondes Ferrei­
ra com 20 votos, ccmtra 1 voto dado ao Conselheiro Aragão
Bozano, Subsecretário Agenor T. de M agalhães com 15 votos e
5 votos ao Conselheiro Raul de Souza Silveira, e Tesoureiro o
Conselheiro Corintho de Arruda Falcão com 19 votos.
Na sessão de 22 de outubro de 1963 é lido ofício db Ooroínel
André Fernandes de Souza com unicando que as organizações m ili­
tares estão sendo instruídas sobre o novo Estatuto, para evitar
conflitos entre m ilitares e advogados. Na m esm a sessão, é desig­
nada comissão para exam inar a questão da previdência social do
a d vo^ d a composta do Presidente, dos Conselheiros Oto Gil, Carlos
Medeiros Silva, Evandro Gueiros Leite e Jacinto T. Aber.
Nesse pasiso conviria um a síntese, ainda que resumida, dos
planos para im plantar a previdência social do advogado.
O Regulam ento da Ordem dos Advogados do Brasil (Decreto
n.o 22.478 de 20 de fevereiro de 1933) esboça um a ten tativa de
enfrentar o problema da previdência dos advogados, prevendo no
Art. 7.° § 1.0 que “em cada Seção da Ordem será formado um fundo
de assistência pela quarta parte da renda líquida apurada, a fim
de auxiliar seus membros necessitados, quando inválidos ou
enfermos"’.
Era o despertar de um sentim ento de solidariedade humana,
o que entretanto já fora im plantado no Brasil, no início da Repú­
blica, por Rui Barbosa com a criação do Montepio dos Empregados
da Fazenda (Decreto n.° 942-A de 30.10.1890 do Governo Provisó­
rio de Deodoro da F onseca), tendo Riui elaborado um primoroso
regulam ento para as condições da época. Posteriorm ente a Lei
Eloy Chaves criou a Caixa de Aposentadoria e Pensão dos Ferro­
viários (Lei 4.682 de 24 de janeiro de 1923) e através de uma
am pla evolução, a partir da Revolução de 1930, se constituíram os
institutos e as caixas de previdência.
Um ano após o início de funcionam ento da Ordem, o Decreto
n.° 24.563 de 3 de junho de 1934, que reorganáziou sob novos moldes
o então Instituto de Previdência dos Funcionários Públicas da
União, dando-lhe a denom inação de Institu to Nacional de Pi^vi-
dência, adm itia como contribuintes facultativos, além dos sócios
da Associação Brasileira de Im prensa e suas afiliadas, os membros
13 Agradeço ao advogado Letacio Jansen Jr. os im portantes subsídios que
pôs à m in h a disposição referentes ao trabalho de seu p ai n a luta
incessante pela conquista d a previdência social dos advogados.

124
da Ordem dos Advogados do Brasil. O decreto estabelecia que para
fixação do m áxim o dos pecúlios sobre pensões relativos aos advo­
gados e seus beneficiados, o critério-base seria o da declaração do
imposto sobre a renda, ou outro elem ento hábil de prova, dispondo
afinal no Regim ento Interno que seriam fixadas as regras para a
inscrição e cobrança dos prêmios e consignações devidos pelos con­
tribuintes facultativos, de acordo com a natureza das corporações
a que pertencerem. l i n face da natureza eventual da renda da
maioria dos advogados m ilitantes e da dificuldade de fixação desse
critério-base, o dispositivo tom ou-se letra morta, e não há notícias
de que a faculdade outorgada aos advogados tenha despertado
qualquer interesse na classe, ou que a regulam entação dessa ins­
crição facultativa tenha sido viável para o profissional trabalhador
autônomo.
Em 1935 João Arruda, Plinio Barreto, Aureliano Duarte, Pela-
gio Lobo e m ais tarde Waldemar Teixeira de Carvalho, propugna-
ram junto ao Conselho da OAB de São Paulo pela criação da
Caixa de Assistência dos Advogados de São Paulo. Afinal em sessão
de 23 de março de 1936 foi o regulam ento aprovado, passando
ela im ediatam ente a funcionar com o objetivo de “prestar auxílio
aos membros da Ordem necessitados, em caso de invalidez, enfer­
midade ou penúria” e de “conceder em caso de falecim ento um
auxílio à sua fam ília, além de constituir um fundo especial para
a criação da Casa dos Advogados”.
Na sessão de 27 de agosto de 1937, o Conselho Federal da
OAB aprovou a organização da Caixa de São Paulo, recom en d ad o
que as seções da Ordem promovessem organizações sim ilares à da
Caixa de Assistência que a Seção do Estado de São Paulo instalara,
sem prejuízo da criação por lei federal da Caixa Geral de Pensões
e Aposentadorias para advogados, provisionados e solicitadores,
A ressalva do Conselho Federal resultava do fato de se encon­
trar a classe dos advogados do Rio de Janeiro cuidando, como a
de São Paulo, da organização de um a Caixa de Aposentadoria e
Pensões, com o objetivo definido de seguro social contra o cham ado
risco de assistência, fora do sim ples quadro dos auxílios por enfer­
midade, invalidez ou penúria. De fato, o advogado Ary Coelho
Barbosa elaborou o anteprojeto do Instibuito de Aposentadoria e
Pensão para os Advogados, encam inhado ao Clube dos Advogados
do Rio de Janeiro por Francisco Sales Malheiros. Aquela institui­
ção remeteu-o ao então Deputado Professor Ferreira de Souza, que,
com base nesse trabalho, apresentou à Câmara Federal o Projeto
n.° 206 de 1937. A instituição do “Estado Novo” sepultou-o defini­
tivam ente. Antes disso porém o Conselho Federal havia nomeado
para cuidar do assunto Comissão composta dos advogados Oscar
Saraiva, Moraes Andrade e Clementino Lisboa, que apresentou em
26 de junho de 1937 o substitutivo àquele projeto, criando o Insti­
tuto de Aposentadoria e Pensão dos Auxiliares de Justiça, do qual

125
seriam associados obrigatórios os advogados, provisionados e solici­
tadores, e tam bém serventuários da Justiça e dos Cartórios de
Notas e Registros Públicos, os empregados do próprio Instituto,
da OAB, do Instituto dos Advogados e de outras instituições de
classe do Sindicato dos Advogados.
Em 1941 o Instituto dos Advogados debateu a m atéria e por
proposta de Francisco Sales Malheiros, dirigiu em 1.® de março de
1941 ao Presidente da República um a solicitação no sentido da
criação da Caixa, isoladam ente ou em conjunto com todos os
trabalhadores intelectuais e membros das profissões liberais. Re­
m etido o expediente ao M inistro do Trabalho, nom eou este por
Portaria de 28 de m aio de 1941 uma Comissão Especial para estu­
dar a organização daquela instituição de previdência, assim
composta: Presidente Oscar Saraiva, então Consultor Jurídico
daquele M inistério, e um dos autores do substitutivo do Conselho
Federal de 1937; vogais o engenheiro Gastão Quartin Pinto de
Moura, Diretor da Divisão Atuarial do Departam ento da Previ­
dência Social do Conselho Nacional do Trabalho, José Caetano de
Oliveira, representante do Ministério da Fazenda, e João Gonçalves
Macedo Neto.
A grande discussão no seio da Comissão se fez entre duas
correntes divergentes: uma, que concluía pela conveniência de
organização de caixas, tendo em vista as profundas peculiaridades
de cada ramo profissional e outra pleiteando a instituição de in sti­
tuto que a todos abrangesse, considerando que a previdência é
problema de caráter geral, que se sobrepõe a caracteiisticas profis­
sionais. Assim, o M inistro do Trabalho Marcondes Pilho, em agosto
de 1942, encam inhou ao Presidente da República exposição de
m otivos da qual decorreu o Decreto-lei n.® 4.563 de 11 de agosto
de 1942, que autorizou a OAB a in stitu ir Caixa de Assistência aos
Advogados, por deliberação de qualquer de suas seções, com dire­
toria e conselho fiscal eleita pelos Conselhos respectivos, iniciativa
que não foi levada avante.
Mais tarde, em 1949 a Comissão composta de Letacio Jansen,
Francisco Sales Malheiros, Haryberto Miranda Jordão, Julio Melo,
Fernandes Couto, Alfredo Baltazar da Silveira, Oswaldo Murgel de
Rezende, Luiz Henrique Alves e Fernando Bastos de Oliveira, apre­
sentou como resultado dos trabalhos empreendidos por deliberação
do Instituto dos Advogados em 1949, novo anteprojeto para criação
do Instituto de Aposentadoria e Pensão dos Advogados, fruto da
adaptação do antigo projeto Ary Coelho Barbosa ao regulam ento
criado pelo Decreto n.® 288 de 23 de feverdro de 1968.
Em 11 de junho de 1953, o jurista e advogado Lucio B itten­
court apresentou à Câmara o projeto, criando a previdência dos
advogados com a aposentadoria feita pelo Tesouro Nacional, e
criando como receita um selo judiciário. Declarava ele na justifi­
cação que:

126
“A m agistratura vive de todas as garantias e de
todos os privilégios. O Ministério Público está em situa­
ção m agnífica, inteiram ente coberta contra as incertezas
do futuro. Os serventuários da Justiça, m esm o os que
não percebem vencim entos dos cofres públicos, têm a
sua aposentadoria garantida desde o Decreto-lei n.° 2.035
de 27 de fevereiro de 1940. Em toda m áquina judiciária
portanto, som ente o advogado, vivendo sem salário fixo,
gasto pelas emoções quotidianas, não conta com o menor
amparo por parte do Estado. O presente projeto visa pôr
termo a tal situação, garantindo aos advogados, tal como
a juizes, membros do Ministério Público e serventuários
da Justiça, um a aposentadoria por conta dos cofres
federais.”

A falta de unidade da classe levou a que se estabelecesse certa


confusão no Congresso Nacional, em relação a diversas pretensões
referentes à m atéria. O Conselho Federal da OAB transm itiu à
Comissão de Constituição e Justiça, parecer da Comissão nomeada
para examiná-lo, o qual concluía por apoiar sem restrições o pro­
jeto, considerando que ele vinha “atender, satisfatoriam ente, as
aspirações e as necessidades de uma classe até agora esquecida
pelo sistem a previdencial vigente no país”. Enviou também àquela
Comissão o exem plar do anteprojeto do Conselheiro Carlos Alber­
to Dunshee de Abranches, em viitude do qual surgiu na Câmara
dos Deputados o Projeto n.° 4.616 de 1954, do Deputado Adroaldo
Mesquita da Costa. Esse adotava o anteprojeto elaborado pelo
Conselheiro Dunshee de Abranches, o qual por sua vez aproveitava
tanto quanto possível a organização e a experiência das Caixas de
A ssistência aos Advogados, já perfeitam ente entrosados no meca­
nism o da Ordem dos Advogados.
No curso do andam ento desse projeto na Câmara dos Depu­
tados o Conselho Federal passou a cuidar da elaboração do
anteprojeto do E statuto dos Advogados, chegando à conclusão
de que a m atéria da previdência social, tecnicam ente complexa,
já em tram itação no Congresso, não deveria ser incluída no projeto
de Estatuto, um a vez que viria a dificultar a tram itação deste
quando fosse remetido ao Congresso.
Em 7 de janeiro de 1959 o Governador do Estado de São Paulo,
sancionou a Lei n.° 5.744, depois de longa tram itação legislativa
com a participação dos membros da Ordem, criando no Instituto
de Previdência do Estado a Carteira de Previdência dos Advogados
de São Paulo, hoje em pleno funcionam ento.
Na primeira Conferência da Ordem dos A dvo^dos em 1958,
o Conselheiro D unshee de Abranches relatou a m atéria, atualizan­
do a exposição de motivos do projeto, incluindo o plano de aprovei­
tam ento das Caixas de Assistência para instituição do seguro aos

127
Advogados. A m atéria foi am plam ente debatida, definindo-se a
classe por larga maioria através da aprovação do pm jeto Lucio
Bittencourt, com as em endas aprovadas apresentadas pelo Depu­
tado Aliomar Baleeiro.
Em 1959 o Projeto Lucio Bittencourt era distribuído na Co­
m issão de Legislação e Justiça Social, tendo como relator o Depu­
tado Aarão Steinbruch. Em contato com elem entos da classe o
Deputado Aarão Steinbruch apresentou o substitutivo, calcado no
anteprojeto D unshee de Abranches.
Na s ^ ã o extraordinária do Conselho de 27 de novembro de
1959 0 Conselheiro Aragão Bozano estudou a m atéria constituída
do Processo n.° 541, de 1956, apresentando exaustivo parecer pelo
qual conclui que o Conselho deveria adotar o projeto Lucio Bitten­
court com as em endas Aliomar Baleeiro; “confirmando ponto-de-
vista m anifestado à Comissão Especial que integrei e da qual me
despedi precisamente por não concordar com o anteprojeto Dun­
sh ee de Abranches, me proponho de acordo com a m anifestação da
primeira Conferência da Ordem dos Advogados do Brasil”.
Em 26 de agosto de 1960 é editada a Lei Orgânica da Previ­
dência Social (Lei n.® 3.807) fixando os conceitos de trabalhador
autônomo, definido este como “quem exerce habitualm ente por
conta própria atividade profissional remunerada”, abrangendo
assim as funções liberais e com estas os advogados. E no seu Artigo
5.0 declarou obrigatoriamente segurados, entre outros, “os traba-
Ihaaores avulsos e os autônom os”.
O regulam ento baixado em tempo recorde (Decreto n.°
48.959-A de 19 de setembro de 1960) dispôs no Art. 371 sobre
classificação das atividades econômicas a serem distribuídas pelos
diversos institutos, que seria a constante do quadro de classifica­
ção das atividades vinculadas à Previdência Social e indicando no
elenco do Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Comerciários
profissionais liberais e também “trabalhadores autônom os de ativi­
dades não compreendidas no regime de outros institutos”.
Dúvidas passaram a surgir sobre enquadramento dos advoga­
dos no Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Comerdários. O
Conselho Seccional do Rio Grande do Sul, em 4 de agosto de 1961,
dirigiu consulta ao Conselho a respeito dessa vinculação obriga­
tória e o relator. Conselheiro Dunshee de Abranches, considerava
que seria necessário conhecer decisão da adm inistração central a
fim de que se fizesse um pronunciam ento definitivo. Tomava-se
conhecim ento pouco depois de que a Delegacia do lAPC no Estado
da Guanabara assinara term o de acordo em 22 de fevereiro de
1962 com o Sindicato dos Advogados deste Estado, para regular a
contribuição obrigatória dos advogados da Seção, quando a m atéria
deveria ser tratada nos termos do Art. 241 do Regulam ento Geral
em âm bito n acion al

128
D iscutindo a m atéria, preferiu o Conselho Federal aguardar a
sanção do projeto de lei em andam ento na Câmara dos Deputados»
mas já não m ais o substitutivo Aarão Steinbruch, e sim novo subs­
titutivo do Senador Venancio Igrejas, calcado, por intervenção do
órgão de classe de São Paulo, das linhas m estras da lei paulista
5.174, de 7 de janeiro de 1959, regulam entada pelo decreto estadual
n.° 34.641, de 30 de janeiro de 1959.
Um mês depais do substitutivo Venancio Igrejas, era promul­
gada a Lei n.° 4.103-A de 21 de julho de 1962, com a seguinte
em enta: “Dispõe sobre a Caixa de Assistência aos Advogados”. A
despeito do prazo de 60 (sessenta) dias assinalado no Art. 28, a
lei foi regulam entada decorrido m ais de um ano.
Em 4 de setem bro de 1962 o Presidente do IPASE baixava
um a portaria, constituindo o grupo de trabalho encarregado de
elaborar o anteprojeto de regulam ento e solicitou à Ordem a indi­
cação de representantes da classe, tendo como Presidente Povina
Cavalcanti, indicado para integrá-lo a advogada Maria R ita Soares
de Andrade. O grupo de trabalho ficou assim composto: Paulo
Simões Machado, Técnico de Seguro Social — Presidente; Samuel
Nachpiz, Atuário — Relator; Maria Rita Soares de Andrade,
representante da OAB; Carlos Alberto Bocayuva, Procurador do
IPASE, Sonia Goldstein, Técnica em Orçamento e Hedbertc Pinela
da Silva, Estatístico e Técnico de Pessoal.
Em 16 de outubro de 1962 a Conselheira Maria Rita Soares
de Andrade deu ciência ao Conselho Federal de que o anteprojeto
de regulam ento se encontrava pronto, apresentando cópia do mes­
mo para exam e daquele órgão supremo. E em sessão de 16 de
novembro de 1962 fazem longa exposição do projeto à qual apresen­
taram em enda os Conselheiros Aragão Bozano e Gaston do Rego,
ambas aprovadas pelo plenário.
Em 9 de novembro de 1962 o Deputado Anisio Rocha apresen­
tou o Projeto n.° 416 em endando o Art. 7.° da Alínea a da Lei n.°
4.103-A, de 21 de jiuJho de 1962, que pa^ou a ter a seguinte reda­
ção: “a) uma parte fixa equivalente a cinco vezes o salário m ínim o
regional vigente ao tempo da concessão”. A argum entação do
Deputado Anisio Rocha era a de que a Lei n.° 4.103-A tinha repre­
sentado uma decepção e que era portanto necessário mudar a
referida lei.
Examinando a m atéria nesse m om ento considerava Nehemias
Gueiros, em sín tese sobre a matéria, que a divergência de trata­
m ento da Lei n.° 4.103-A e da Lei Orgânica da Previdência Social,
recomendava que a Ordem dos Advogados insistisse pela aplicação
unicam ente da Lei Orgânica da Previdência Social e de seu regula­
m ento geral, e que a Ordem dos Advogados do Brasil fiaesse valer
até através do Poder Judiciário a sua autoridade e a sua compe­
tência exclusiva de âm bito nacional, quase por todos os profissio­
nais obrigatoriam ente inscritos no seu quadro, para fixação do
salário base, que se considerava parâmetro de todas as contribui­
ções do Instituto.^®
O ano de 1963 marcaria o térm ino de um a etapa na vida da
Ordem. Os acontecim entos políticos que desembocariam no movi­
m ento de 31 de março de 1964, com o início de um a nova noite de
arbítrio e violência, trariam a Ordem para uma posição de pri­
meiro plano no cenário nacional, lutan&), ainda e um a vez m ais,
com noaior denodo pelo restabelecim ento do Estado de Direito e
pelos direitos e garantias individuais.

10 o presente resumo está baseado no estudo apresentado por Nehemias


Gueiros n a sessão do Conselho Federal de 1963 à Comissão Especial
com posta dos Conselheiros Aben A tar Neto, Evandro Gueiros Leite,
Carlos Medeiros Silva e Otto de Andrade Gil, nom eada pelo Presidente
Povina Cavalcanti p a ra acom panhar os trabalhos de regulam entação
d a Lei 4.10&-A de 21 de julho de 1962. O trabalho está publicado em
Nehemias Gueiros, A A dvocacia... pp. 77 a 226.

130
C a p ítu lo V

A ORDEM E O REGIME AVTORITÁRIO DE 1964 — A IMPLAN­


TAÇÃO DA LEI N ° 4.215 — O EXAME DE ORDEM E O ESTAGIO
— A DEFESA DAS LIBERDADES PÚBLICAS E DOS DIREITOS
HUMANOS — NOVAMENTE A LUTA PELA AUTONOMIA DA
INSTITUIÇÃO — O COMBATE PELA ANISTIA E PELO RESTA­
BELECIMENTO DO ESTADO DE DIREITO — O BRUTAL
ATENTADO — O CINQÜENTENÁRIO.

Os encargos que a Lei n.° 4.215 impôs explicitam ente à Ordem


de defender a ordem jurídica e a Oonstituiçao da República, pug­
nar pela boa aplicação das leis e pela rápida adm inistração da
justiça e contribuir para o aperfeiçoam ento das instituições jurí­
dicas — iriam passar pelo crivo que o regim e instituído no país
em 1964 apresentaria. A Ordem ganha uma dim ensão nova, e se
impõe à opinião pública e à sociedade civil como um baluarte de
defesa das liberdades públicas, e dos direitos e garantias individuais.
O am biente inicial é vivido em expectativa e ansiedade.
A sessão de 20 de março de 1964 é convocada extraordinaria­
m ente pelo Presidente “como imposição dos últim os acontecim en­
tos que importaram em grave am eaça à ordem jurídica que cumpre
ao Conselho defender nos term os dos presentes estatutos”. O Pre­
sidente lê indicação de sua autoria, na qual propõe ao Oonselho
Federal adote m edidas em defesa da ordem jurídica. É designado
relator o Conselheiro Aragão Bozano que faz um relatório sobre
a indicação e se m anifesta favorável, reservando-se para m odifi­
cação de redação. A m atéria é debatida, ainda, pelos Conselheiros
Gaston Luiz do Rego, Oswaldo de Souza Valle, Renato Ribeiro,
W ilson do Egito Coelho, Jorge Botelho, Paulo Pim entel Belo, Fran­
cisco Elias da Rosa Oiticica e Carlos Alberto D unshee de Abran-
ches. Com apresentação de num erosas em endas, é, afinal, na forma
do parecer do relator, aprovada a seguinte moção:

“O CONSELHO FEDERAL DA ORDEM DOS ADVO­


GADOS DO BRASIL, órgão supremo da classe, constituí-

131
do por delegação dos Conselhos de cada Estado e Territó­
rio, e entidade do serviço público federal, que tem por
expressa atribuição legal “defender a ordem jurídica e
a Constituição da República, pugnar pela boa aplicação
das leis e pela rápida adm inistração da Justiça no país",
RESOLVE, em reunião extraordinária e diante da notó­
ria e grave crise por que passa, no momento, a ordem
jurídica no país: 1.°) Reconhecer e proclamar a neces­
sidade de preservar e garantir o livre funcionam ento dos
poderes constituídos da República, na órbita federal e
em cada unidade da Federação, o resguardo do princípio
da autoridade e de todos o s direitos, com o im ediato
objetivo de resguardar a tranqüilidade pública, pertur­
bada por movim ento de agitação, am eaças e atos contrá­
rios à Constituição e às leis; 2.°) Apelar para os poderes
constituídos, no sentido de, serenam ente, cumprirem e
fazerem cumprir a Constituição e as leis; 3.°) O Conse­
lho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil não é
insensível às reivindicações justas e legítim as, mas sem­
pre que afastem m eios de propaganda de soluções extra-
constitucionais. O regim e democrático estabelecido pela
Constituição Federal permite a realização de todas as
aspirações, dentro da lei e do respeito à ordem jurídica;
4.®) Comunicar esta Resolução ao Presidente da Repú­
blica, à Câmara dos Deputáios,^ ao Senado Federal, às
Assembléias Estaduais, ao Supremo Tribunal Federal, ao
Tribunal Federal de Recursos e aos demais Tribunais do
país, bem como aos Conselhos Seccionais da Ordem.”

Na sessão de 7 de abril de 1964 o Presidente Povina Cavalcanti


apresenta relatório sobre os últim os acontecim entos políticos, e o
Conselheiro G aston Luiz do Rego form ula um voto de regozijo pela
im plantação do novo regime.
Na sessão de 28 de abril de 1964 o Presidente com unica que
esteve com o M inistro do Trabalho e fez exposição sobre a Lei de
Previdência, defendendo um a nova lei e afirma que deverá haver
solução em sessenta dias.
O Presidente do Conselho participa da Comissão designada
pelo Presidente da República para verificar a integridade física dos
nove membros da Missão Comercial da República Popular da
China presos no quartel da Polícia do Exército.
Na sessão de 26 de m aio de 1964 é aprovada um a moção de
congratulações pela nomeação do Presidente Povina Cavalcanti
para a Comissão Geral de Investigações.
Na sessão de 23 de junho de 1964 decide-se que os advogados
com os direitos políticos suspensos não estão im p a d o s de exercer
sua profissão. É apresentada indicação pelo Conselheiro Gaston
Luiz do Rego, para que não se detenha advogado sem a audiência
de sua Seção.
O Conselheiro Gaston Luiz do Rego, na sessão de 30 de junho
de 1964, declara-se contra o direito de advogar dos punidos com
as medidas excepcionais do Ato Institucional n° 1, m as como estes
não têm aposentadoria, como funcionários públicos, civis e m ili­
tares, apoiou a conclusão favorável do relator.
O regime instituído no país leva, continuam ente, a Ordem a
ter de se pronunciar contra violências em geral, especialm ente
qjuando dirigidas a advogados. Tal é o debate na sessão de 15 de
outubro de 1964, em virtude de ofensas do Comandante do 11 °
Batalhão de Caçadores, D anilo Cunha Melo, ao Presidente do Con­
selho Seccional de Goiás, que tentava fazer cumprir o habeas
coryus concedido unanim em ente pelo Superior Tribunal M ilitar ao
advogado José B atista Zacarioti, preso naquela unidade; são pedi­
das providências ao M inistro da Guerra e da Justiça e ao Superior
Tribunal Militar. A m atéria repercute na sessão seguinte, quando
é enviado telegram a ao M inistro Chefe do Gabinete Civil, inform an­
do que 0 advogado José Zacarioti foi solto e novam ente detido por
estar envolvido em atos de espionagem com o polonês Pavel Outbro.
Efetuado o exame de corpo de delito, não se constatou se vicia ou
agressão.
Na sessão de 15 de dezembro de 1964 é apresentada indicação
em defesa de M inistros do Supremo Tribunal Federal que teriam
sido vítim as de ataque pela imprensa, assinada por â êz Conselhei­
ros. Apresentada no final da sessão, estabelece-se tum ulto e a
sessão é encerrada sem o exam e da questão.
A sessão de 24 de abril de 1965 foi convocada exclusivam ente
para hom enagear a figura do Conselheiro Carlos Bernardino de
Aragão Bozano, recentem ente falecido. O Vice-Presidente no uso
do exercício da presidência, Alberto Barreto de Melo, assim referiu-
se à figura do falecido Conselheiro:

“Polemizou, debateu, deblaterou, afirmou-se como


era: um homem autêntico, am ante do diálogo, que m ui­
tas vezes atingia os desbordamentos da aspereza. Mas
sempre, e invariavelm ente colocou as forças de su a dialé­
tica a serviço da verdade, ou daquilo que ele, de boa-fé,
considerava a causa da verdade. Foi um homem marcan­
te — aqui e em toda a parte onde atuou: ho foro, na
política, no jornalismo. E sobretudo foi o advogado, com
gosto do debate, o talento da controvérsia e a paixão da
causa.”

Usou da palavra em seguida a Conselheira Maria R ita Soares


de Andrade, fazendo elogios a Aragão com um relato de suas prin­
cipais atividades, e declarou:

133
“Neste Conselho, durante onze anos deu exem plo de
assiduidade, eficiência no trabalho e dedicação. Não tran­
sitou processo de repercussão nacional sem receber a
cooperação do seu espírito público. Na defesa dos prin­
cípios éticos, fundam entais, sua inflexibilidade não teve
lim ites. Os dois processos de m aior interesse da classe
— E statuto da Ordem e Previdência Social — ficaram
marcados pelo cunho de sua forte personalidade.”

Falou ainda o ex-Presidente Povina Cavalcanti, associando-se


às m anifestações do Conselho Federal e afirmando:

“Neste Conselho Federal com sua voz, por vezes


extrem ada, revelou o zelo com que sempre se identifi­
cou com as diretrizes do nobre colegiado e se, por im ­
pulso acidental, acontecia exceder-se, o seu cavalheirismo
repunha com equilíbrio e elegância a postura de autên­
tico gladiador.”

Na sessão de 30 de março de 1965 são realizadas eleições para


0 Conselho Federal, sendo eleitos Presidente Them istocles Marcon­
des Ferreira com 17 votos, contra 2 votos dados a Orosimbo No­
nato, e 2 votos a Jorge Lafayette Pinto Guimarães, e 1 voto a
Sobral Pinto; para Vice-Presidente Alberto Barreto de Melo com
20 votos, contra 2 votos dados a Them istocles Marcondes Ferrei­
ra; Secretário-Geral Agenor T. de M agalhães, com 21 votos contra
1 voto em branco; Subsecretário Raul Souza Silveira, com 20 vo­
tos e Tesoureiro Corinto de Araújo Falcão com 22 votos. Ao trans­
m itir o cargo, Povina Cavalcanti faria prestação de contas de sua
administração, para em seguida saudar a nova administração, e
dizer de seu sucessor, Them istocles Marcondes Ferreira, que:

“Sua presença nesta Casa é marco de tradição, signo


de inteligência e saber, de equilíbrio e ponderação, e
revela d ^ e logo o profundo sentim ento de identifica­
ção dos nobres Conselheiros com o espírito construtivo
e vigilante do Colegiado. Them istocles Marcondes Fer­
reira, com os seus vinte e sete anos de participação nos
trabalhos deste Egrégio Conselho, só i» r não ter querido,
deixou de ser eleito, noutras oportunidades, para a Pre­
sidência que, afinal, em term os imperativos, lhe foi
destinada. Creio mesmo que, se não fora a sua eleição
para a Vice-Presidência, no ano passado, quando Sua
Excelência se achava na Europa, onde o surpreendeu a
notícia, teria sido m ulto difícil vencer a sua relutância
e tê-lo, afinal, na Presidência, para a qual o recomen­
davam o passado de fecunda m ilitância forense e a

134
ininterrupta, tenaz, obsessiva preocupação de bem ser­
vir ao Conselho Federal, como delegado da Ordem dos
Advogados do Brasil.”

A passagem de Them istocles Marcondes Ferreira na Presidên­


cia, porém, foi curta, pois faleceu em 28 de maio, ficando em exer­
cício apenas 58 dias.
Na sessão de 8 de junho de 1965 é procedida eleição para a
Presidência, sendo eleito Alberto Barreto de Melo com 22 votos.
É aprovada a proposta do Conselheiro Joaquim Augusto Perilo,
do teor do term o de passe do Presidente da Ordem. Na sessão de
29 de junho de 1965, é eleito Vice-Presidente Luiz Lyra com 19
votos.
Em 15 de junho de 1965 tomava posse como Presidente, Alber­
to Barreto de Melo, que iniciou discurso afirmando:

“Em 15 de junho de 1948, faz hoje exatam ente de­


zessete anos, cheguei a este Conselho Federal da Ordem
dos Advogados do Brasil como representante do Estado
de Sergipe. Desde então não m ais me afastei do honroso
convívio desta Casa; e mercê da benem erência dos meus
ilustres colegas, fui seu subsecretário, secretário-geral,
vice-presidente e agora Presidente, na perm anente afir­
mação da confiança que tanto me desvanece. Volto neste
instante meu pensam ento para esses idos de 1948 e con­
siderando o tempo percorrido, recordando os com panhei­
ros de convívio amorável, m uitos deles ausentes da vida
m aterial, na perplexidade dessas recordações afetuosas,
a honra da investidura de m inhas m ais gratas e profun­
das emoções.”

Falando de seu antecessor, Them istocles Marcondes Ferreira,


diria:

“Colhido pela morte no lim iar do seu m andato de


bastonário, era ele um dos veteranos do nosso colégio
profissional, onde durante m ais de um quarto de século
permaneceu prestando o concurso do seu equilíbrio e de
sua operosidade à nossa corporação. Advogado da melhor
cepa, probo, discreto, tinha a paixão do trabalho e o
amor do serviço da classe. Realizou-se como profissional
na plenitude: postulou nas comarcas da nossa hinter-
lândia, granjeou vasta clientela em seus escritórios de
São Paulo e Rio; fez-se corporation lawyer de organiza­
ções com erciais e industriais, nas quais chegou por força
de suas aptidões às funções de Diretoria em que prevale­
cia a atitude de advogado.”
135
Traçou, depois, um panorama da profissão de advogado, re­
lembrando a evolução histórica e sobretudo referindo-se ao adven­
to da Lei n.® 4.215, destacando as novas atividades que se pretendia
dar aos advogados, diante da expansão do direito, da expansão dos
contratos e da autonom ia da vontade, e ressaltando os principais
aspectos do novo estatuto e da posição de advogado.
Na sessão de 10 de novembro de 1965 os acontecim entos polí­
ticos voltam a repercutir, e a Conselheira Maria Rita Soares de
Andrade, defendendo o Ato Institucional n.° 2, contesta o Conse­
lheiro Letacio Jansen.
Na sessão de 23 de novembro de 1965 é aprovado o Provimento
n.o 23 sobre sociedades de advogados. Decide-se também que votos
de ex-presidentes não podem ser com putados para o quorum,
embora possam participar da diretoria ou delegação do Conselho
Federal e não estão sujeitos a perda de mandato.
Na sessão de 13 de setembro de 1965 ocorre acontecim ento
singular: O Ministro das Relações Exteriores, Juracy Magalhães,
aparece inopinadam ente no plenário, trazido pela Conselheira
Maria Rita Soares de Andrade, e solicita colaboração da Ordem
para os esforços do Governo em favor da democracia.
Na sessão de 17 de dezembro de 1965 é aprovada indicação
do Conselheiro Sobral Pinto no sentido de se oficiar ao Presidente
da República, solicitando a instalação im ediata do Conselho de
Defesa dos Direitos da Pessoa Humana.
Na gestão de Alberto Barreto de Melo se realizou trabalho
adm inistrativo profícuo de adaptação das normas adm inistrativas
do Conselho ao novo Estatuto, e assim , na sestsâo de 12 de abril
de 1966, é aprovada a redação definitiva para os Provimentos de
números 1 a 24.
Na sessão de 11 de outubro de 1966 é apresentado requerimen­
to do advogado Raul Fernandes, que pede a intervenção do Conse­
lho Federal, para corrigir o preceito do Art. n.° 62 do Decreto n.°
48.959-A de 19 de setembro de 1960, regulam entando a Lei n.° 3.807
de 26 de abril de 1960, que exige cancelam ento da inscrição da
Ordem para recebimento da aposentadoria. É nom eada Comissão
para em itir parecer composta dos Conselheiros Nelio Reis, Ivo de
Aquino e Ivan Paixão França. A Oomissão resolve solijcitar ao
M inistro do Trabalho, decreto revogando do Art. n.® 62 a expressão
“afastam ento da atividade” um ilegal e contrário ao Art. n.° 32 da
Lei n.® 3.707, o que foi obtido.^
1 o requerim ento de B aul F ernandes é modelo de ironia e elegância,
a satirizar a interpretação rom buda e absurda do Regulamento. Dizia
ele; “O burocrata que redigiu o Regulam ento assimilou estouvadam ente
a aposentadoria do trabalhador autônom o à do trabalhador ligado
ao emprego por contrato tácito ou expresso. . . É imperiosa a neces­
sidade do aposentado continuar a trab alh ar, pois, mesmo não tendo ele
n en h u m dependente a su stentar, suas necessidades m ínim as com­
preendem tam bém as de cultura e recreio, não contem pladas em lei.

£36
Em outubro de 1966 m anifestou-se o Oonselho sobre o substi­
tutivo apresentado pela Comissão Especial designada pela Câmara
dos Deputados, relativo à Emenda Constitucional n.° 26 de 1961,
atinente à reestruturação do capítulo do Poder Judiciário da Cons­
tituição Brasileira. Fod relator da m atéria o Conselheiro Miguel
Seabra Fagundes, que exam inou as principais m atérias atinentes,
quais sejam a unificação do Poder Judiciário, que passava a ser
federal, su p rim in d o ^ as justiças estaduais; a alteração da com­
posição áas atribuições do Supremo Tribunal Federal; a adoção do
prejulgado nessa Suprema Corte; a criação de um Oonselho Supe­
rior e Conselhos Locais de M agistratura, e a elevação para três dos
tribunais de recursos.^
Na sessão de 19 de junho de 1967 o Presidente do Instituto
dos Advogados Brasileiros convida o Presidente do Conselho Fe­
deral para encontro inform al com o Marechal Costa e Silva, para
que este exponha os seus planos de governo. No dia 29 de julho,
0 Conselheiro Sobral Pinto apresenta declaração, explicando por
que aceitara o convite.
Na sessão de 13 de dezembro de 1966 é nom eada Oomissão
para estudar o anteprojeto da Constituição e acompanhar a sua
votação, com posta dos Conselheiros Samuel Duarte, Mario Guima­
rães e Carlos da Rocha Guimarães. Na sessão de 22 de abril são
apresentadas sugestões ao projeto de Constituição, embora o Con­
selheiro Letacio Jansen m anifeste a convicção da inutilidade do
trabalho.
Na sessão de 31 de março de 1967 são realizadas eleições para
o Conselho, sendo eleitos Presidente Samuel Duarte com 22 votos
contra 1 voto a Ivo de Aquino e 2 em branco; Secretário-Geral
Agenor Teixeira M agalhães com 23 votos, com 2 votos em branco;
Vice-Presidente Luiz Lyra com 22 votos, com 1 voto para Fran­
cisco Gonçalves e 2 votos em branco e Subsecretário Raul de Sou­
za Silveira com 23 votos e 2 votos em branco; e Tesoureiro Co-
rintho de Arruda Falcão com 23 votos e 2 votos em branco.
Ao transm itir o cargo, o Presidente Alberto Barreto de Melo
fez uma rápida síntese das principais atividades por ele empreen­
didas n a Presidência do Conselho Federal, com grande ênfase na
complementação da nova disciplina profissional resultante do novo

Seria um gracejo cruel pretender que o Regulam ento, em bora prive


o trab alh ad o r autônom o de exercer sua atividade h ab itu al por m o­
tivo de aposentadoria, não veda o exercício de o u tra atividade. Que
ou tra atividade poderá exercer um médico, um engenheiro autônomo,
envelhecidos no seu ofício?
O médico poderá ser agrim ensor? O advogado poderá v irar en ­
genheiro?
O carpinteiro poderá tra b a lh a r como p intor ou m otorista? (Cópia
existente no arquivo do Conselho Federal.)
2 Rev. OAB — n.o 1, p. 26, out./dez., 1966.

137
Estatuto e trataria das novas tarefas dos advogados num a socie­
dade em mudança, afirmando:

“Para dominar o tum ulto dos fatos e das leis desen­


cadeadas, o advogado dos nossos dias redobra os esforços
e reflexões. Não é m ais o dialeta que debate institutos
estratificados pelo tempo e a especulação dos pensadores
e juristas. É sob certo sentido o improvisador que tenta
interpretar as novas realidades e os angustiados e estro-
piados textos legais que as refletem; é o exegeta aligei-
rado de legislação atabalhoada e conflitnte. Sua missão
é hoje m ais áspera e penosa. Razão porque, na disciplina
do exercício da profissão novos Institutos foram criados,
visando o aperfeiçoam ento do causídico como o estágio
profissional, o Exame de Ordem e a organização e funcio­
nam ento da sociedade de advogados.”

O novo Presidente Samuel Duarte agradeceu a confiança que


lhe foi depositada e te:eu algum as comsiderações sobre a profissão
do advogado, dizendo:
"O quadro atual da Nação brasileira reclama, mais
que nunca, o esforço e a nossa compreensão. Não se
trata apenas de defender as prerrogativas e direitos da
profissão; trata-se de preservar os valores da ordem
jurídica, sempre que estejam expostos aos riscos e aos
assaltos de forças adversas. Sabemos que o exercício da
advocacia, como profissão e como munus publicum só
floresce num am biente de garantias dem ocráticas.”

Na sessão de 11 de abril de 1967 o novo Presidente Samuel


Duarte apresenta como programa de trabalho as seguintes propos­
tas: alterar o anteprojeto da Previdência Social dos Advogados;
colaborar m ais intim am ente com os poderes constituídos, em espe­
cial o Legislativo; organizar um Departam ento de Relações Públi­
cas e cuidar da m elhoria das instalações.
Na sessão de 2 de m aio de 1967 é alterado o Regim ento, para
reduzir o quorum de abertura das sessões; também o parecer Otto
Oil, na z2idicação Serrano Neves, solicitando a im ediata revogação
da Lei de Segurança Nacional, proferido no Conselho Seccional da
Guanabara, é transcrito.
Na sessão de 27 de jiunho de 1967 é lido expediente do Ministro
da Justiça, convidando o Presidente da Ordem dos Advogados do
Brasil para integrar a Comissão destinada a regulam entar a Lei
Complementar referente à Justiça Federal. Na mesma sessão deci­
de-se criar três comissões executivas de temário, de coordenação e
orçamento para preparar a III Conferência da Ordem dos Advoga­
dos do Brasil. Na sessão seguinte, de 25 de julho, Manaus se oferece
138
para sediar a III Conferência. Realiza-se no período de 24 de julho
a 31 de agosto a segunda reunião de presidentes.
Na sessão de 23 de setem bro de 1967 discute-se a regulam en­
tação da criação de subseções, decidindo-se pela sua desnecessi­
dade; em outras sessões é discutido o provimento sobre o estágio
e Exame de Ordem.
Na sessão de 29 de agosto as Seções do Maranhão e do Rio de
Janeiro declaram-se im possibilitadas de iniciar o estágio em prazo
fixado, sendo que o Presidente da Seção do Rio de Janeiro afirma
que o problema atinge diversas seções.
Na sessão de 12 de outubro de 1967 são discutidos os aconte­
cim entos que culm inaram com a prisão do Vice-Presidente da
Seção do Paraná, Vieira Neto, enquanto que na sessão de 28 de
novembro de 1967 o Presidente com unica que a OAB seria ouVida
pelo Congresso em qualquer emenda ao Estatuto da classe.
Em 2 de abril de 1968 é indicada a Comissão para combater
o projeto do aum ento de 8 para 16% das contribuições ao INPS
dos trabalhadores autônom os, que ficou composta dos Conselhei­
ros Sam uel Duarte, Edmundo de Almeida Rego Filho, Laudo de
Almeida Camargo e Arthur Porto Pires.
Na sefisão de 16 de abril de 1968 discute-se a organização da
III Conferência, ouvidos os relatórios da Comissão Coordenadora,
com a indicação dos membros da Comissão Executiva Coordena­
dora e escolhida a sede no Recife. E na sessão seguinte, de 28 de
maio, são reorganizadas as Comissões para a III Conferência.
Na sessão de 3 de junho de 1968 o Presidente com unica que
irá m anter contatos com o Consultor Jurídico do M inistério do
Trabalho a respeito do problema da vinculaçâo da Ordem dos
Advogados com aquele M inistério, e caso esses entendim entos não
tenham êxito, ingressará em juízo. É na m esm a sessão discutido o
Processo 1.116/68 de apoio ao Projeto n.° 69-A/67, que dispõe sobre
a remuneração m ínim a dos advogados com relação de emprego.
Na sessão de 25 de jiunho de 1968 é enviada m ensagem ao Pre­
sidente da República e ao Ministro da Justiça protestando contra
as violências nos recentes acontecim entos da Guanabara de choque
entre a polícia e estudantes.
Na sessão de 30 de julho de 1968 discute-se parecer do Conse­
lheiro Haroldo Valladão sobre a reforma do ensino jurídico.
O Conselho Federal discute o problema da instalação do Con­
selho da Defesa dos Direitos da Pessoa Humana; na sessão de 13
de agosto de 1968, o debate ocupa quase toda a sessão, decidindo-se
lutar pela sua im ediata instalação.
Na sessão de 27 de agosto de 1968 por proposta do Conselheiro
Dunshee de Abranches decide-se dedicar parte da sessão de 17 de
setembro à comemoração do Dia Mundial do Direito, tendo como

139
tem a o Ano Internacional dos Direitos Humanos, o que foi reali­
zado em 24 de setembro em sessão conjunta com o Instituto dos
Advogados Brasileiros.
Na sessão de 22 de outubro de 1968 é dada ciência do parecer
do Consultor-Geral da República considerando a Ordem des­
vinculada do Ministério do Trabalho, e também o veto presidencial
à lei regulando a contribuição dos advogados ao INPS, decidindo-se
lutar pela rejeição do veto. É também comunicado a instalação no
dia 24 de outubro do Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa
Humana.
Na sessão de 26 de novembro de 1968 discute-se o recurso de
uma das chapas na Seção do Rio Grande do Norte, que provocara
0 adiam ento da eleição. O Conselho Federal decidiu ser tal provi­
dência impossível e determ inou que se realizassem eleições no
prazo previsto.
A III Conferência Nacional de Advogadas realizou-se no Reci­
fe, de 7 a 13 de dezembro de 1968; a solenidade de instalaíção teve
lugar na Faculdade de Direito do Recife, sob a Presidência do
Professor Gama e Silva, M inistro da Justiça, representando o Sr.
Presidente da República, do Governador do Estado de Pernambuco,
Dr. Nilo Coelho, do Presidente da Ordem dos Advogados do Brasil,
Dr. Samuel Duarte, presentes ainda nas doutorais o Deputado
Paulo Rangel Moreira, Presidente da Assembléia Legislativa de
Pernambuco, e os Presidentes do Tribunal de Justiça do Estado,
do Tribunal Regional Eleitoral, do Tribunal Regional do Trabalho,
Secretários de Estado, o Reitor da Universidade de Pernambuco,
Professor Murilo Guimarães, e o Presidente do Conselho Seccional
de Pernambuco, Dr, José Cavalcanti Neves.
O Presidente Sam uel Duarte abriu os trabalhos, apontando
como “a eficácia das instituições jurídicas, posta em confronto com
um a instrum entação emperrada e onerosa”, era um dos tem as
principais a que se consagraria a conferência, destacando-se ainda
o problema da aceleração do processo tecnológico, obrigando à
a(6ptação do direito. Discursou dando as boas-vindas aos congres­
sistas o Presidente do Conselho Seccional de Pernambuco, Dr. José
Cavalcanti Neves, que destacou a im portância da conferência, de­
clarando:

“O exercicio da nossa profissão está vinculado à


sobrevivência dos ideais jurídicos, amadurecidos no curso
da história, do Estado C onstitucional de Direito e da
garantia dos direitos fundam entais da pessoa humana.
Tanto é assim que o reconhecim ento e o valor social do
advogado estão estritam ente condicionados à efetiva
atuação histórica desses dados fundam entais do ordena­
m ento jurídico positivo.”

140
Usou ainda da palavra em. nome dos convidados o Presidente
do Conselho Seccional do Estado da Guanabara, Luiz Men­
des de Morais Neto, e o Governador do Estado de Pernambuco,
Dr. Nilo Coelho. Encerrando a sessão, falou o M n istro Gama e
Silva, declarando que, como professor e como jurista, tinha grande
satisfação de encontrar-se na velha e tradicional Faculdade de
Direito do Recife, e em representar o Presidente da República na
abertura da IH Conferência Nacional da Ordem dos Advogados,
por cujo bom êxito form ulava o s m elhores votos e cujos resultados
práticos teriam m aior im portância e atualidade no esforço que
vem fazendo para adaptar a legislação e o direito positivo nacional
aos dados da nova realidade brasileira.
Foram os seguintes os tem as da conferência:

TEMA I — DIREITOS HUMANOS

TESE “A” — Da liberdade, suas m anifestações e


suas garantias.
SOBRAL PINTO

TESE “B” — Aperfeiçoamento da Proteção Jurisdi-


cional Interna.
HELENO FRAGOSO

tese “C” — A proteção Internacional dos Direitos


Humanos.
C. A. DUNSHEE DE ABRANCHES

TESE “D ” — Efetivação Compulsória dos Direitos


Humanos.
ADERBAL MEIRA MATTOS

TEMA II — DESENVOLVIMENTO E INTEGRAÇÃO NO BRA-


SIL E NA AMÉRICA LATINA

TESE “A” — Justiça Social, desenvolvim ento e in­


tegração: repercussões principais sobre o Direito
Brasileiro.
HAROLDO VALLADAO

TESE “B” — Problemas Jurídicos da Integração


Econômica.
NEHEMIAS GUEIROS

TESE “C” — O Desenvolvim ento do Nordeste e a


sua Repercussão n a Advocacia de Empresa.
MURILO DE BARROS GUIMARÃES

141
t e m a III — PROJEÇÕES DA CONSTITUIÇÃO DE 1967 SOBRE
O EXERCÍCIO DA ADVOCACIA

tese “A” — Justiça Federal (Criação de Novos


Tribunais Federais de Recursos; Juizes Federais de
Primeira Instân cia).
DANIEL COELHO DE SOUZA
tese “B ” — Nova Conceituaçâo de Recurso Ex­
traordinário.
ALFREDO BUZAID
TESE “C” — Suspensão de direitos políticos pelo
Supremo Tribunal Federal (Art. n.® 151 da Consti­
tuição do B rasil).
SAMUEL DUARTE

TEMA IV — CONTRIBUIÇÃO DOS ADVOGADOS PARA REVI­


SÃO DOS CÓDIGOS

TESE “A” — A Elaboração e Revisão dos Projetos


de Códigos.
ARNOLDO WALD
TESE “B ” — participação dos Institutos de Advo­
gados e da OAB na Elaboração dos Códigos.
THOMAZ LEONARDOS
tese “C” — Observações Sobre o Projeto de Códi­
go Civil.
JOSÉ PAULO CAVALCANTI

te m a V — ESTATUTO DA ORDEM DOS ADVOGADOS DO


MRASIL
TESE “A” — Proibições e Impedimentos (Regras
Genéricas dos Artigos 82 e 83).
PAULO BROSSARD DE SOUZA PINTO
TESE “B ” — Meios de Assegurar as Prerrogativas
Profissionais.
ORLANDO GOMES

TEMA VI — ASPECTOS ECONÔMICOS E SOCIAIS DA ATIVI­


DADE PROFISSIONAL
TESE “A” — Previdência e Assistência Social dos
Advogados.
NELIO PONTES DOS REIS
tese “B" — Normas sobre Arbitramento de Hono­
rários.
MARIO NEVES BATISTA
TESE “C” — Tabela de Honorários.
RUY AZEVEDO SODRÉ

TEMA VII — IMPERFEIÇÕES DA ESTRUTVRA E DA DINÂMI­


CA DAS INSTITUIÇÕES JUDICIÁRIAS

tese “A” — O Problema do Valor das Custai e


das Taxas Judiciárias.
JOSÉ CAVALCANTI NEVES
TESE "B" — As Imperfeições da Elaboração Legisla­
tiva e o Exercício da Advocacia.
M. SEABRA FAGUNDES
TESE "C" — O Sistem a de Recursos no Código de
Processo Civil (1.® Instância),
TORQUATO DE CASTRO
TESE “D ” — Uso da Arbitragem para Desafogo do
Judiciário.
CAIO MARIO DA SILVA PEREIRA
TESE “E” — Da Participação da Ordem dos Advt^a-
dos nos Departamentos e Serviços Auxiliares do Po­
der Judiciário.
JOÃO NASCIMENTO FRANCO

No dia 13 de dezembro de 1978 realizsou-se a solenidade de


encerramento da III Conferência Nacional que foi presidida pelo
Ministro Djaci Falcão, do Supremo Tribunal Federal. Inicialm ente
falou o Presidente Samuel Duarte, pronunciando algum as palavras
sobre o retrospecto dos trabalhos, salientando o esforço para ade­
quar o direito positivo à realidade social e econômica do país, e
passando a Presidência ao Ministro Djaci Falcão. Em seguida, o
Secretário-Geral da Comissão Executiva, advogado Agenor Teixeira
de Magalhães, leu o relatório geral da conferência elaborado pela
Secretaria Executiva, contendo o sum ário dos princípios formais
da conferência, todas as conclusões aprovadas pelas com issõ^ téc­
nicas, as moções e os votos aprovados. Após, o advogado Nehemias
Gueiros, ex-Presidente do Conselho Federal, pronunciou um a con­
ferência sobre “as novas dimensões à advocacia; direito com uni­
tário latino-americano, direito comunitário internacional”.
Em nom e das delegações que participaram da Conferência
falou o advogado Thomaz Leonardos, Presidente do Instituto dos

143
Advogados Brasileiros, apresentando os agradecimentos pela hospi­
talidade recebida e as despedidas dos que retornavam aos Estados.
Em rápidas palavras, o advogado Jordão Emerenciano falou em
nome do Conselho Seccional de Pernambuco, e agradeceu aos par­
ticipantes o privilégio deles recebido, ressaltou a contribuição do
advogado brasileiro e terminou com uma palavra de agradecimento
aos que tinham trazido a Pernambuco a sua experiência e a contri­
buição da sua cultura jurídica.
O Ministro Djaci Falcão encerrou a Conferência congratulan­
do-se com os resultados da mesma e terminou fazendo votos de
que fossem bem aproveitadas as idéias e proposições da Confe­
rência.^
Na sessão de 18 de março de 1969 o Conselheiro Luiz Lyra
solicita que o Secretário desm inta acusações maldosas sobre sua
candidatura à Presidência, e o Conselheiro Sobral Pinto agradece
o apoio do Conselho quando da sua prisão em Goiânia.
Na sessão de 1.° de abril de 1969 a Seção do Paraná comunica
que cassou da delegação os Conselheiras Alcy Demillecamps e Car­
los Alberto Lacombe, ao mesmo tempo que se tom a conhecimento
dos ofícios dos Conselheiros Carlos Alberto Lacombe e Alcy Demil­
lecamps, defendendo o direito de, como delegados, votarem livre­
mente. Enquanto os demissionários m anifestaram seu propósito de
votar em Luiz Lyra, o Conselho Seccional im punha o voto em
Laudo de Camargo. O Conselheiro Sobral Pinto também apresenta
a sua carta de renúncia. Realizam-se eleições para o Conselho
Federal, sendo eleito Presidente Laudo de Almeida Camargo com
19 votos, Luiz Lyra com 2 votos, 1 voto em branco, 1 voto nulo,
e para Vice-Presidente Joaquim Gomes Norões e Souza, com 14
votos, Ivo de Aquino 1 voto, Carlos Alberto Lacombe, 1 voto, 1 voto
em branco, e 1 voto nulo; para Secretário A]fio Ponzi com 19
votos, Agenor Magalhães 2 votos. Alei Amorim da Cruz 2 votos;
para Subsecretário Raul Souza Silveira com 22 votos com 1 voto
nulo, e para Tesoureiro Danilo Marcondes de Souza com 19 votos,
contra 2 votos para João Aaeredo Boiitos, 1 voto para Joaquim
Gomes de Almeida e 1 voto nulo.^
3 Os trabalhos da Conferência estão publicados nos Anais da III Con­
ferência Nacional dos Advogados. Ordem dos Advogados de P ernam ­
buco, 1970, 704 p.
A sessão de encerram ento da Conferência coincidiu com o dia de
edição do Ato Institucional n.° 5. Há vários depoimentos a respeito
do interesse com que foi acom panhada a votação n a C âm ara d a
licença para que fosse processado o deputado Mareio M oreira Alves,
0 entusiasm o com que foi recebida a decisão daquela Casa do Con­
gresso e, ao final da conferência, o desalento com que se tomou
conhecimento da edição do Al-5.
* A eleição de Laudo Camargo inicia um processo de m aior presença
dos Conselhos Seccionais nas eleições para a presidência do Conselho
Federal.
Comentando o assunto diria em 1980 Paulo Américo Maia, P re­
sidente do Conselho Seccional da P araíb a; “Nesse período (até 1963)
144
Na sessão de 8 de abril de 1969 é nomeada Oomi&são para
rever o Regimento, composta dos Conselheiros Ivo de Aquino,
Oscar Diaa Corrêa e Seabra Fagundes.
Discute-se na sessão de 24 de junho de 1969 as dificuldades
para o exercício da advocacia em Rondônia, sendo a Seção colo­
cada sob a jurisdição da Seção do Amazonas. Também na mesma
sessão discute-se o relatório do Conselheiro Povina Cavalcanti,
sobre a situação das punidos pelo AI-5, face aos prazos do Art. 86
do Estatuto e conclui-se não ser necessário cumpri-los.
Na sessão de 29 de julho de 1969 a Ordem hom enageia õ
Professor Marcelo Caetano, de Portugal; na sessão de 23 de se­
tembro de 1969, a Ordem recebe as agradecimentos do Einbaixador
Charles Burke Mbrick, dos Estados Unidos, pela solidariedade
recebida por ter sido seqüestrado por grupos de oposição armada
ao regime.
Na sessão de 30 de outubro de 1969 é aprovada a filiação da
Ordem à Union Intem acionale des Avocats e na sessão de 5 de
novembro de 1969, é comunicada a filiação da Ordem à Interam e-
rican Bar Association.
todavia, a Ordem dos Advogados ficou confinada praticam ente no
Rio de Janeiro. O Conselho Federal era então composto dos repre­
sentantes dos Estados, com pouca ou quase n enhum a convivência
com os advogados de quem receberam o m andato e as eleições para
os dirigentes daquele colegiado, p ara as íunções dirigentes m áxim as
da classe — não tin h am a participação das bases, isto é, das seções
dos Estados, o que representava um distanciam ento contrário aos
interesses da profissão n as seções estaduais que se m anifestaram
pelos grandes problem as da profissão e sua solução, dependendo das
resoluções do Conselho Federal, im punha um a modificação da situação.
Em 1970, realizou-se nesta cidade (Recife) a II I Conferência
Nacional dos Advogados. Ocupava a presidência do Conselho Fe­
deral, Sam uel Duarte, nosso representante e recentem ente falecido,
e a Presidência da Seção de Pernambuco, o advogado José Cavalcanti
Neves, grande líder da classe.
Nessa conferência, pela prim eira vez, por força da liderança de
José Neves, e com o apoio de Sam uel Duarte, as bases reagiram
co n tra a posição do ostracismo a que estavam relegadas. E surgiu,
com indicação d a m aioria dos conselhos Estaduais, a candidatura
Laudo Camargo, am plam ente vitoriosa nas eleições. A p a rtir daí, os
representantes dos Estados no Conselho Federal passaram a desem­
p en h ar 0 seu verdadeiro papel, de m andatários e cumpridores das
resoluções do Conselho e das seccionais que os indicariam .
Os presidentes seccionais passaram a reunir-se periodicamente.
De todas essas iniciativas dos novos dirigentes da Ordem, esta foi
sem dúvida algum a a m ais proveitosa. Os problemas que afligem cada
seção são os m ais diversos e exigem um a solução comum. E a expe­
riência tem dem onstrado que inúm eros problemas têm sido resolvidos
pois as sugestões do Colégio de Presidente, através dos respectivos
representantes no Conselho Federal, têm sido transform ados em re­
soluções e acórdãos que resultam de entendim ento comum”. In
Jornal da OAB — Seção de Pernambuco, Recife, m aio de 1980 —
pp. 6 e 7.

145
Em 9 de novembro de 1969 graves episódios ocorrem em cir­
cunstâncias vexatórias: a prisão dos advogados Heleno Fragoso,
Vice-Presidente da Seção da Guanabara, Augusto Sussekind de
Moraes Rego, representante do Paraná no Conselho Federal e Geor­
ge Tavares, que tinham se destacado como defensores de presos po­
líticas. O Presidente se dirigiu ao M inistro da Justiça, em expedien­
te assinado também pelo Presidente do Conselho Seccional da OAB
Edmundo de Almeida Rego Filho, e Miguel Seabra Fagundes,
Presidente do Instituto dos Advogados Brasileiros, verberãndo os
requintes de arbitrariedade que cercaram as intervenções e per­
m anência e exigindo apuração de responsabilidade dos culpados
para a ressalva da tranqüilidade geral e do próprio nom e do Brasil.
De 27 a 30 de novembro de 1969 realizou-se, em Belo Hori­
zonte, a n i Reunião dos Presidentes dos Conselhos Seccionais da
Ordem dos Advogados do Brasil, com sede na Faculdade de Direito
da Universidade de Minas Gerais. Foram discutidos, em sucessivas
reuniões, o problema do salário profissional dos ad vog^ os, e o
escalonam ento, até 30 salários mínimos, para as contribuições dos
advogados como trabalhadores autônomos perante o INPS, contrá­
ria ao do projeto em tram itação no Congresso Nacional. Foi reco­
m endado ao Conselho Federal que envidasse esforços no sentido de
serem reexaminados os provimentos de números 26 e 36. Discutiu-
se ainda a matéria de alteração do Art. n.° 64 do Código de Processo
Civil, sendo aprovado substitutivo, sugerindo-se que os honorários
dos advogados, segundo o princípio da sucumbência, fossem fixados
em 20% sobre o valor da causa. Outra proposição do Secretário-
Oeral, aprovada por unanimidade, ressaltou a necessidade de ser
computado pelo Estado, como de serviço público, o tem po de advo­
cacia a partir da inscrição n a Ordem, em favor dos funcionários
convocados para a m agistratura, ou nomeados para exercer funções
específicas de advogado que venham a impedir o livre exercício
da profissão.
A partir de 1970, este trabalho deixa o relato meramente crono­
lógico, apontando os fatos m ais im portantes ocorridos nas sessões
do Conselho Federal, para se concentrar em sín tese dos aconteci­
m entos m ais significativos ocorridos com a instituição, um a vez
<^ue, de outra forma, a notícia histórica tomaria proporções
extensas.
Em 3 de março de 1970, o Coni?elho Federal atendeu ao pedido
do Conselho Seccional do Paraná, e exam inou a Portaria 11-B
baixada pelo Ministro da Justiça, que tom ou obrigatória a censura
prévia da polícia federal na divulgação de livros e periódicos no
território nacional, de acordo com o que dispunha o Decreto-lei n.°
1.077 de 1977. Foi relator da m atéria o Conselheiro Ivan Paixão
França, que analisou as norm as contidas no Decreto-lei n.°
1.077/70 e na Portaria n.° 11-B, considerando-as inconstitucionais
por colidirem com o preceito inscrito no Art. n.° 153, § 8.° da Cons­

146
tituição, e violando ainda o m andam ento contido no Art. n.° 19
da Declaração de Direitos da Pessoa Humana. E acrescentava:

"Para coibir os atos atentatórios à moral e aos bons


costumes, já existe legislação específica. Na hipótese da
constatação da ineficiência da legislação, quer o governo
baixar novas normas m ais rigorosas e m ais eficientes.
Nunca porém violando os preceitos constitucionais. Não
é legítim o que os direitos fundam entais do homem, ins­
critos na legislação universal e nas normas constitucio­
nais, tenham as suas lim itações e restrições nas leis
ordinárias e nos atos adm inistrativos.” ®

Também m anifestou-se o Conselho sobre a emenda votada pelo


Supremo Tribunal Federal ao seu regimento para vigorar a partir
de 1.0 de janeiro de 1971 sobre interposição do recuiso extraordi­
nário, manifestando-se contrário às restrições à adm issão ao jul­
gam ento do recurso, bem como inconstitucional por discriminatória
a alçada estabelecida para o conhecim ento de recurso extraordiná­
rio, nas causas cujo benefício patrim onial não superasse determi­
nados valores m ínim os fixados na referida reforma, lim itação essa
que restringiu ao povo o acesso a instância suprema. E concluía
a deliberação:

“A Ordem sugere ao Supremo Tribunal Federal que


adie a vigência da referida emenda regim ental de modo
a possibilitar a sua revisão, visando preservar sempre e,
qualquer que seja o valor da causa, o conhecim ento e o
debate da questão federal controvertida, pois esse alvo é
que constitui a essência do recurso extraordinário que o
legitim a, integrando-o nas melhores tradições do sistem a
constitucional.”

Numa época de extremo autoritarismo o Conselho m anifestou-


se por diversas vezes contra os atentados à dignidade da pessoa
hum ana, envolvendo inclusive profissionais de advocacia. Nos casos
da prisão de José Rodrigues Neto por m ilitares da 5.® Região Mili­
tar (Paraná), contra o ato do Coronel Comandante do 6.° Batalhão
de Caçadores de Mato Grosso que não perm itiu contato dos advo­
gados com o colega preso por suspeita de subversão; na prisão
arbitrária pela Polícia Militar bandeirante dos advogados Alberti-
no de Souza Oliva, Mario Carvalho de Jeisus, Ruy Cesar do Espírito
Santo e as violências que atingiram o Professor Levy Raw de
Moura, em Belém do Pará, magistrado aposentado e alvo de maus-
tratos pela Polícia Federal da capital paraense. Foi denunciada
também a prisão arbitrária dos advogados Almir Passos no Paraná
0 Revista OAB, n.o 1, p. 55, out./nov. 69.

147
e W ilson Barbosa Martins, Nelson Edson de Barros e João Pereira
da Silva em Mato Grosso.
Discute-se na sessão de 28 de abril de 1970 a ilegalidade da
Portaria n.® 3.626 de 18.2.1970, exigindo a cobrança do imposto
sindical dos advogados, m as que não podia prevalecer sobre a lei,
que dispensava desse recolhimento os advogados que tivessem pago
a contribuição à Ordem. O Presidente entra em entendim entos
com o Ministro do Trabalho e afinal ela é revogada pela Portaria
n.® 8.574 de 2 de setembro de 1976.
Na sessão de 3 de junho de 1970 o Conselho se pronuncia
contra o Ato Institucional n.° 14, que instituiu a pena de morte.
Na sessão de 28 de julho de 1970, o Presidente Laudo Camargo
dá a notícia de sua entrevista com o Presidente da República no
dia 3 de julho, na com panhia dos Drs. Antônio Carlos Osórip e
Prado Rossi, convidando-o para presidir a sessão solente da IV
Conferência.
A Ordem dos Advogados e a Ordre des Avocats de Paris, repre­
sentadas respectivam ente pelos seus Presidentes Laudo de Almeida
Camargo e Jean Lemaire, assinam no dia 25 de agosto de 1970
convênio para intercâmbio técnico e científico entre advogados
franceses e brasileiros, inclusive estagiários de advocacia. Eram
objetivos do convênio: 1) instituir um a comissão permanente de
troca de informações, composta de advogados brasileiros e france­
ses; 2) o estudo por essa comissão das soluições adotadas nos dois
países para solução dos problemas econômicos e sociais, bem como
a distribuição de informações e intercâmbio entre advogados e
estagiários dos dois países.
A IV Conferência Nacional da Ordem dos Advogados do Brasü
realizou-se em São Paulo de 26 a 30 de outubro de 1970, tendo
como tem a geral o Ordenamento Jurídico do Desenvolvimento Na­
cional. Na sessão de abertura, realizada no salão nobre da Faculda­
de de Direito, usou inicialm ente da palavra o Presidente do
Conselho Federal, Dr. Laudo de Almeida Camargo, que depois de
fazer considerações gerais sobre o papel do advogado e a expressão
da conferência, declarou:

“Nos atuais parâmetros do universal desconceito,


que os fatos assegurem e garantam a m issão social dos
juristas brasileiros em prol do aperfeiçoamento do direi­
to, como força ingênita do desenvolvimento nacional. E
que a tensa atmosfera do nosso tempo, em todas as lati­
tudes e longitudes se desanuviem por decisivos e aper-
feiçoW os pronunciam entos que defendem e a preservem
em últim a e definitiva instância, com a suprema força
da análise da ordem, os sacrossantos, fundam entais e
inalienáveis direitos da pessoa humana, im agem e sem e­
lhança do criador.”

148
Falaram em seguida o Presidente da Seção de São Paulo,
João B atista Prado Rossi, e pelas delegações visitantes o Presidente
da Seccional de Pernambuco, José Cavalcanti Neves. E encer­
rando a sessão, o representante do Sr. Presidente da Repúbilica,
0 Ministro da Justiça, Alfredo Buzaid.

O temário da Conferência foi o seguinte:


N.° 1 O Ensino Jurídico e o Desenvolvimento Nacional.
Haroldo Valladão
N.° 2 Dimensões da Advocacia num País em Desenvolvimento.
Arnoldo Wald
N.° 3 Missão Ética do Advogado numa Sociedade em Desenvol­
vimento.
Alberto Gomes da Rocha Azevedo
N.° 4 Humanismo e Técnica do Advogado no Desenvolvimento
Brasileiro.
Antônio Carlos Elizalde Osório
N.° 5 A Defesa da Vida Humana nas Grandes Concentrações
Urbanas.
Adherbal Meira M attos
N.o 6 Proteção Jurisdicional dos Direitos num a Sociedade em
Desenvolvimento.
Lourival Vilanova
N.o 7 Implicações Jurídicas da Expansão dos Transportes e
Comunicações.
Orlando Gomes
N.° 8 Contribuição das Sociedades Plurinacionais para o Desen­
volvimento Econômico e sua Disciplina Jurídica.
João Pedro Gouvêa Vieira
N.o 9 Propriedade Industrial e Desenvolvimento.
Luiz Leonardos
N.° 10 Política Tributária e Desenvolvimento Nacional.
Antonio Roberto Sampaio Doria
N.® 11 Contribuição do Direito Agrário para o Desenvolvimento
Nacional.
José Motta Maia
N.° 12 A Política Habitacional e o Processo de Desenvolvimento
Econômico do Brasil.
Luiz Gonzaga do Nascimento e Silva
149
N.° 13 Proteção do Investidor no Mercado de Capitais.
Teófilo de Azeredo Santos
N.° 14 Relações Jurídicas e Correção Monetária.
Otto de Andrade Gil
N.° 15 Direito Social e Desenvolvimento Nacional.
Edgar Vargas Serra
N.o 16 A Livre Iniciativa e o Desenvolvimento Sócio-Econômico.
Modesto Souza Barros Carvalhosa
N.° 17 Aplicação da Cibernética ao Direito e à Administração da
Justiça.
Carlos Alberto Dunshee de Abranches

Na sessão solene de encerramento realizada em 30.10.1970,


falou inicialm ente o Sr. Presidente Laudo de Almeida Camargo
dando conta dos resultados alcançados pela Conferência, e o Dr.
Samuel Duarte, ex-Presidente, bem como o Governador Abreu
Sodré, Governador do Estado de São Paulo.®
Em 18 de novembro de 1970 realizou o Conselho Federal sessão
extraordinária para comemoração dos 40 anos de aniversário. Fa­
lou inicialm ente o Presidente Laudo Camargo realçando a signi­
ficação do acontecimento, informando que naquela data os Con­
selhos Seccionais estavam realizando sessões sem elhantes. Deu a
palavra ao orador oficial, Conselheiro Clovis Ramalhete, que his­
toriou a luta dos advogados para a criação de um órgão de disci­
plina e estando presente Levi Carneiro, primeiro Presidente do
Conselho Federal, ressaltou o seu papel e dos que o sucederam.
Agradecendo a homenagem, Levi Carneiro de improviso fez
um retrospecto das tarefas em que lhe foi dado atuar, enfrentando
resistências de toda ordem, para afinal conseguir a criação da
Ordem dos Advogados; rememorou alguns aspectos de sua carreira
pessoal e disse ao final:

“Antes como agora, quando se instituiu a Ordem,


quando se comemora os seus quatro decênios de existên­
cia útil, é de realçar que ela não foi e continua a não
ser uma improvisação e um a transplantação servil de
criações sim ilares, obsoletas e estranhas. A OAB não
criou regalias nem favores para a classe dos advogados.
Antes lhe impôs alguns deveres que servem os ideais de
aperfeiçoamento da ordem jurídica, além de ser um a de-

c Os Anais da IV Conferência foram publicados sob o tituJo Anais da


IV Conferência Nacional da Ordem dos Advogados do Brasil (26 e
30 de outubro de 1970) — São Paulo. 431 p.

150
moiLstração de nossa capacidade criadora, afirmação de
propósitos, uma força inspirada nos m ais altos interesses
constitucionais."

Outra matéria de relevância é tratada na sessão de 18 de no­


vembro de 1970, tendo como relator o Conselheiro Am oldo Wald.
Discutiu-se a renúncia ao mandato do Conselheiro ao Conselho
Federal provocado por decisão da Seção do Rio Grande do Sul, que
destituíra a delegação ao Conselho Federal, em virtude de ter pre­
tendido não votar no candidato à diretoria do Conselho indicado
pelo Conselho Seccional. A conclusão do relatório é a segu in te:
“A irrenimciabilidade proclamada pelo Conselho
Federal deve pois ser impedida, como impedida a renún­
cia a que não tenha motivo justificado.”

Na hipótese concreta, o Conselho teceu considerações a res­


peito e fez um apelo aos conselheiros para que retirassem o seu
pedido de renúncia, e solicitou que o Conselho Seccional do Rio
Grande do Sul não aceitasse a mesma. Infelizm ente os apelos não
surtiram os efeitos pretendidos. De fato, como prova a correspon­
dência trocada entre os delegados do Conselho local, ocorreu exis­
tência de invencível e insuperável incompatibilidade reconhecida
por ambas as partes.
Participou a Ordem dos Advogados nas atividades do Conselho
de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana, tendo sido seu Presi­
dente eleito para a Vice-Presidência do órgão e m anifestando sem ­
pre protesto em todas as arbitrariedades e pedindo em ofício de
25 de novembro de 1970 que o Conselho de Defesa da Pessoa Hu­
mana em cada unidade da Federação fosse assessorado por um
advogado designado pela respectiva Seccional, de modo que o
Conselho pudesse bem desempenhar as suas atribuições legais.
Na Presidência Laudo Camargo (quadragésima e quadragési-
ma-primeira reunião ordinária — 1970/1971) a Ordem desenvol­
veu também suas atividades no campo internacional. Participou
o Presidente da XVI Conferência da Federação Interam ericana de
Advogados (Interam erican Bar Association) efetuada em Caracas,
Venezuela, entre 1.° e 8 de novembro de 1969. Foi formalizada a
filiação àquela entidade, acolhida por aclamação.
Por indicação da presidência, o Conselheiro Carlos Alberto
Dunshee de Abranches (Processo n.° 1.251/69) objetivou a filiação
da Ordem dos Advogados do Brasil à Union Intem acionale des
Avocats (U.I.A.), tendo o Conselho Federal na reunião de 30 de
setembro de 1969, adotando o voto do Conselheiro Otto de Andrade
Gil, acordado que “reconhecer e proclamar que a filiação da OAB
à Union Intem acionale des Avocats é da maior conveniência, ca-
biendo assim ao Sr. Presidente da OAB, tal como dispõe o Art. 9.°
n.° XI da Lei n.° 4.215/63, promover o que necessário for para que

151
essa filiação se efetive e ainda para que se concretize a sugestão
de ser realizada no nosso país, no próximo ano de 1970, a reunião
de Bureau daquela associação, podendo Sua Excelência, se e quan­
do julgar conveniente, estudar essa filiação da OAB a outras
associações de adví^ados, como as referidas no relatório indicado
(International Bar Association, sediada em Nova York, e Federação
Interamericana de Advogados de W ashington)”.
Em maio de 1970 o Conselho Federal instituiu em caráter
definitivo a Medalha Rui Barbosa, que fora objeto de iniciativa
anterior por Nehem ias Gueiros em maio de 1957. Embora aprovada
então pelo plenário, foi reformulada em virtude do voto do Con­
selheiro Carlos Boaano, levantando questão de ordem, e contestan­
do a legitimidade da instituição da medalha, sob a alegação de ter
sido niSa a primitiva decisão do Conselho, em vista da violação
dos requisitos regim entais, quais sejam a de prestar hom enagem a
pessoas vivas e o fato de não constar do elenco de atribuições
especificadas do Estatuto então vigente a distribuição de prêmios.
Foi relator da matéria nessa ocasião o Conselheiro Ivan Paixão
França em virtud? de indicação do Conselheiro Carlos de Araujo
Lima. O parecer rebate as afirmações anteriormente feitas e consi­
dera que o prêmio de ouro Rui Barbosa deveria ser reinstalado e
restabelecido.
A 1.° de abril de 1971, tomava posse como Presidente da Ordem
José Cavalcanti Neves, advogado do Estado de Pernambuco, e que
durante 17 anos e 10 m eses ocupara a Presidência do Conselho
Seccional. No seu discurso de posse, dizia o novo Presidente:

“A m inha candidatura surgiu, sem dúvida, da reto­


mada da acentuação do princípio federativo que plasma
a nos.sa entidade, de uma consciente valorização das ba­
ses da organização, tomadas como critério de escolha.
Foram as Seções Estaduais, os quadros profissionais
atuantes desde as mais remotas regiões do país, foram
elas, antes de tudo, que quiseram a oportunidade de ter,
na Presidência do Oonselho Federal o companheiro de
lutas cotidianas, em condições de aduzir a contribuição
real de vida do sentido profissional comum e de colocar
no plano das preocupações da instância m ais alta a ex­
periência, os problemas e os anseios de advogados de
todo o país."

E se referindo ao papel da Ordem naquele momento, acres­


centava:
“À Ordem dos Advogadois do Brasil, diante das con­
tingências históricas, públicas e jurídicas que marcam
a vida nacional, só cabe um a atitude que é a de presença,
uma presença permanente e eficaz. Nessa presença, o

152
peso dos princípios e dos valores fundam entais que infor­
mam o nosso existir.
Cabe-nos, de certo, pugnar pela defesa da classe,
aperfeiçoar a sua disciplina e seleção, aprimorar o seu
nível cultural e disp utai a garantia do livre exercício da
profissão. Mas nada disso teria sentido e razão, se, assim,
além, não fizéssem os tem a de nossa corporação o que é o
tem a dos nossos pleitos como advogados, isto é, o res­
guardo dos direitos fundam entais do homem, as garan­
tias da liberdade, da igualdade de justiça. Se não estive­
rem asseguradas essas bases estruturais do estado de
direito, será vã a advocacia, será inócuo o órgão de classe
dos advogados.”
Ao ensejo de sua posse como Presidente da Ordem dos
Advogados José Cavalcanti Neves realizou em 2 de abril de 1971
uma reunião com os Presidentes das seções da Ordem então no
Rio de Janeiro. Além de outros assuntos versados na ocasião, os
Presidentes do Conselho Federal e dos Conselhos Seccionais deli­
beraram fo&se enviada ao Presidente da República, o General
Emilio Garrastazu Médici, exposição do Conselho sobre as violên­
cias praticadas contra os advogados no exercício da profissão, a
necessidade de restabelecim ento da garantia legal do haJjeas corpus
em sua plenitude, do funcionam ento do Conselho de Defesa dos
Direitos da Pessoa Humana e da revogação da pena de morte. Ao
ter conhecim ento dessas deliberações, o plenário do Conselho Fe­
deral deu-lhe unânim e aprovação, decidindo outrossim aditar dois
outros tem as a serem submetidos à apreciação do Presidente da
República, quais sejam o restabelecim ento das garantias do Poder
Judiciário e a observação de norma que impõe a comunicação de
qualquer prisão ao Poder Judiciário.
Em junho de 1971 o Conselho Federal pronunciou-se sobre
indicação referente ao problema constitucional suscitado pelo Su­
premo Tribunal Federal com a decisão que reconheceu ao Procura-
dor-Geral da República, em face ao disposto na Constituição,
da Lei n.° 4.337 de 1964, e no Regimento Interno do Supremo Tri­
bunal Federal, am pla liberdade para decidir acerca do encam inha­
mento da representação por constitucionalidade de lei ou ato
normativo federal ou estadual. O debate teve como relator para
acórdão o Conselheiro Raymundo Faoro, vencido o Conselheiro Caio
Mario da Silva Pereira, e pronunciando votos os Conselheiros Sea-
bra Fagundes, Arnoldo Wald, Ivo de Aquino e José Ribeiro de Castro
Filho. Para Caio Mario da Silva Pereira, era inconstitucional a
Lei n.o 4.337, pois facultava ao Procurador-Geral da República
arquivar a representação, impedindo que a questão constitucional
fosse apreciada pelo Supremo. Para o voto vencedor do Conselhei­
ro Raymundo Faoro, tal poder era legítim o, devendo-se disoutir
somente se sob o aspecto da conveniência, seria de maior alcance
153
franquear a participação dos partidos políticos e a parcela m i­
noritária do Còngresso. Para o Conselheiro Eduardo Seabra Fa­
gundes, poder-se-ia através da lei ordinária restringir os poderes
do Procurador-Geral da República, votando o Conselheiro Ivo de
Aquino no mesmo sentido de Raymundo Faoro, enquanto o Con­
selheiro José Olímpio de Castro Filho era no sentido da inteira
constitucionalidade da le i/
Em novembro de 1971 o Conselho Federal apreciou o processo
n.® 1.370/71, referente ao anteprojeto de Lei Orgânica das Profis­
sões Liberais elaborada pela Assessoria Técnica do M inistério do
Trabalho e Previdência Social. O parecer do Conselheiro Raymun­
do Faoro, unanim em ente aprovado, negou apoio à proposição, por
ferir a Constituição da República, o direito e a ordem jurídica, e
apontando as inúm eras incompatibilidades que um a suposta lei
uniforme poderia trazer para as profissões liberais, m uito especial­
m ente para a profissão jurídica, sempre regida por estatuto espe­
cial do qual não poderia abrir mão. Os Conselhdrc^ José OHimpio
de Castro Filho e Miguel Seabra Fagundes aditaram ainda outras
considerações no mesmo sentido.
A 5 de novembro de 1971 a Ordem concedia pela primeira vez
o Prêmio Medalha Rui Barbosa a Heraclito Fontoura Sobral Pinto.
A data era, ao mesmo tempo, do aniversário de Rui Barbosa, e do
agraciado; saudou-o em nom e do Conselho Federal e da classe dos
advogados o ex-Presidente Nehemias Gueiros, que, em brilhante
discurso, exaltou-lhe as qualidades. Citemos apenas alguns trechos:

“No caso de Sobral Pinto, creio que a sua carreira


estrepitosa e a sua incolumidade moral, a sua pobreza
de bens m ateriais e a sua riqueza na fazenda do espírito,
os vaivéns do seu convívio entre amigos e adversários,
e 0 longo tempo em que a sua m ilitância solitária o
prejulgou contra a suspeita da conspiração subversiva
ou da contestação pela frustração ideológica, deram-lhe
um encanto no “Hyde Park Corner" da nossa opinião
jurídica, onde ele tem direito de se insurgir até contra
a beleza da Rainha.
Por isso, Sobral Pinto não pede julgam ento, porque
é medida e baliza de si mesmo, escala e dimensão da
sua própria campanha de lidador, pauta e calendário
das suas oportunidades e conveniências, corisco e tro­
vão, chuva e tempestade, planície ou m ontanha, um céu
claro ou noite escura — tudo podendo acontecer de im­
previsto — tanto é ele o próprio de apelo de sua índole
independente, para quem a disciplina do direito é apenas
7 Revista OAB n.® 6, pp. 256 e ss. Cf. tb. a tese de Victor Nunes Leal
apresentada à VII Conferência Nacional dos Advogados (Curitiba —
7 a 12 de maio de 1978) e publicada nos Anais, pp. 479 e ss.

154
a garantia da liberdade no sentido de que esta que devia
ser 0 epicentro da vida.”

Ao agradecer, Sobral Pinto, após fazer o elogio a Rui Barbosa,


teceu algum as considerações sobre a advocacia, cabendo destacar
a seguinte referência:

“Todas estas qualidades (honestidade, independên­


cia e destemor) são belas e meritórias. Elas engrande­
cem o advogado que as cultiva. Cumpre assinalar
todavia que elas por si sós não bastam. Tom a-se preciso,
ainda com efeito, ao advogado fiel à sua vocação, adqui­
rir pelo estudo, pela observação, pela pesquisa, e pelo
trabalho ininterrupto, o conhecim ento certo e seguro do
direito, da jurisprudência e das leis, que são a substância
m esma da advocacia honesta, livre e corajosa, culta e
eficiente. Sem esse conhecimento, o advogado não pode
n as horas exatas acudir a quem para ele apela, aflito,
inquieto e confiante.”

Em 15 de dezembro de 1971 o projeto de Rui Santos converte-


se na Lei n.° 5.763, de 15 de dezembro de 1971, alterando a organi­
zação e funcionam ento do Conselho de Defesa dos Direit<S da
Pessoa Humana. As alterações principais tratavam da ampliação
do número de integrantes do Conselho, que de nove passou a treze,
acrescido de representantes do M inistério das Relações Exteriores,
do Conselho Federal de Cultura, do M inistério Público Federal e
de um professor catedrático de direito penal de uma das faculda­
des federais; de lim itação do número de sessões ordinárias a seis
por ano; e do sigilo das sessões, salvo decisão em contrário tomada
pela maioria dos seus membros.
A lei foi publicada na mesma data em que o Conselho Federal
entrava em recesso, o que impossibilitou à época o pronunciamen­
to, m as diversos conselhos seccionais se m anifestaram sobre a lei,
endereçando m anifestações ao Presidente. Tais m anifestações eram
evidentem ente contrárias à nova lei, mas tom ando-se ponto de
controvérsia se a Ordem deveria continuar comparecendo ao Con­
selho, ou retirando-se dele.
Na sessão de 23 de maio de 1972 o Presidente Cavalcanti
Neves fez uma exposição no Conselho Federal sobre o assunto e
concluindo que deveria a Ordem permanecer no Conselho, afir­
mando :
“Em suma, considero lam entável a aprovação da
Lei n.° 5.763/71 que alterou a composição e cerceou o
funcionam ento do CDDPH, sendo louvável a posição
contra a sua elaboração, assumida pela OAB, devendo
ser estim ada toda sugestão tendente a aperfeiçoar a

155
estrutura desse colegiado. Esta correta posição política
não deve ser extrapolada a ponto de invadir o terreno
em que a OAB se encontra jungida ao princípio da lega­
lidade. Não é possível aconselhar ou promover a desobe­
diência à lei, m as sim cumprir um cargo que nela se
impõe, por ser irrecusável. O desempenho dessa atribui­
ção, diga-se finalm ente, não destoa das altas responsa­
bilidades morais da OAB, m as representa a continuidade
de presença e de perm anente lu ta em favor do aperfei­
çoamento das instituições democráticas e das garantias
e direitos individuais.”

E em 30 de maio o Conselho Federal divulga nota oficial


esclarecendo a matéria.
Foi o seguinte o pronunciam ento do Conselho:

“1.° afirmar seu entendim ento em prol da perma­


nência do seu Presidente no referido CDDPH;
2.0 reiterar suas m anifestações contrárias à Lei n.°
5.763, de 15 de dezembro de 1971, que entre outros de­
méritos, modificou a estrutura e prejudicou o funciona­
m ento do CDDPH;
3.0 prosseguir em seus esforços para o aperfeiçoa­
m ento das normas que regem o aludido colegiado, prin­
cipalm ente no que concerne à extinção do sigilo das
sessões;
4.0 proclamar seu ponto-de-vista no sentido de que
o sigilo das sessões do m encionado Conselho não importa
em privar o Presidente da OAB de, a seu juízo, fazer
ao Conselho Federal comunicações atinentes às decisões
naquele proferidas;
5.0 ratificar seu apoio à atuação que, no desempe­
nho de suas funções, vem tendo o seu Presidente, Dr.
José Cavalcanti Neves.”

De 31 de maio a l.o de junho de 1972 realizou-se em Curitiba,


sob a Presidência do Dr. José Cavalcanti Neves, o I Encontro da
Diretoria do Conselho Federal com os Presidente dos Conselhos
Seccionais.» No discurso de abertura, declarava o Dr. José Caval­
canti Neves:

“Como Presidente que fui, de Conselho Seccional,


participante de encontros anteriores, não me restava,
como Presidente do Conselho Federal, outra atitude se­
não louvar e estim ular esta iniciativa da realização desse
encontro dos presidentes das seções estaduais com a
8 Revista da OAB — n.® 8 — jan ./ab ril 1972, pp. 11 e ss.

156
Diretoria do Conselho Federal da Ordem dos Advogados.
Sem afetar o âmbito das atividades específicas deste últi­
mo, nem invadir a sua ordem de com petência, o encontro
de Presidentes das Seccionais constitui um poderoso
fator de integração da classe, sob o prisma nacional,
facultando ou estim ulando o relacionam ento entre diri­
gentes no profícuo intercâmbio de suas idéias e expe­
riências.”

E concluía:

“Prezados Colegas, assim dissemos, agora dizemos


e ainda diremos, pois estam os convencidos de que sem
essas medidas e posições estará sempre periclitante o
alicerce sobre o que se levanta todo o edifício da cultura,
que é valor supremo do homem, e define todas as coisas
terrenas.”
O temário da reunião compreendia o processo disciplinar, o
estágio profissional e o Exame de Ordem. Em relação ao processo
disciplinar, foi formada Comissão constituída dos Presidentes dos
Conselhos Seccionais do Paraná, do Rio Grande do Norte, do Pará,
do Ceará, de Pernambuco e Rio Grande do Sul, para sistematizar
as sugestões apresentadas, sendo unânim e e pacífico o entendi­
m ento de que se impunham urgentes providências, visando-se a
sim plificar e acelerar os processos disciplinares, sendo apresenta­
das propostas no sentido de se aperfeiçoar o Provimento 33.
Como resultado da reunião, foi assinada em nota oficial, a
Declaração de Curitiba, firmada pelo Presidente do Conselho Fe­
deral e pelos seus presidentes e do teor seguinte:

“DECLARAÇÃO DE CURITIBA
O Presidente do Conselho Federal e os Presidentes
dos Conselhos Seccionais da Ordem dos Advogados do
Brasil, em sua 6.® Reunião, realizada em Curitiba, Esta­
do do Paraná, considerando que aos advogados compete
a defesa da ordem jurídica e da Constituição da Repú­
blica, entendem de seu dever reafirmar princípios e
reiterar posições, advogando a causa de maior importân­
cia para o nosso país, que é a causa do primado do
Direito.
Não se verifica a condição primordial para o exercí­
cio dos direitos individuais e o normal funcionam ento
das instituições democráticas, sem o restabelecim ento
das garantias do Poder Judiciário e da plenitude do
habeas corpus, sendo esta medida imprescindível à har­
monia entre a segurança do Estado e os direitos do indi­

157
víduo, na conformidade dos princípios superiores da
Justiça.
A repressão à crim inalidade — mesmo quando exer­
cida contra os inim igos políticos — deve fazer-se sob o
império da lei, com respeito à integridade física e moral
dos presos e com observância das regras essenciais do
direito de defesa, notadam ente a comunicação da prisão
à autoridade judiciária com petente, o cumprimento dos
prazos legais de incomunicabilidade e sem qualquer res*
trição ao livre exercício da atividade profissional do
advogado.
Não há a m ínim a razão em que se tenha como ne­
cessário o sacrifício dos princípios jurídicos no altar do
desenvolvimento, pois o legítim o progresso econômico c
social só se fará em consonância com os princípios do
Estado de Direito e o respeito aos direitos fundam entais
do homem. Se é verdade que para o desenvolvimento são
indispensáveis paz e segurança, não é menos verdade
que não existe tranqüilidade e paz quando não há liber­
dade e justiça.
Toda a dinâmica da vida nacional e o funcionam en­
to das instituições deve processar-se sob o crivo do res­
peito à pessoa hum ana, e, tanto nas leis como na con­
duta dos responsáveis, é imperativo que se tenham er^i
conta os princípios da Declaração Universal dos Direitos
do Homem, primado que os Estados Membros da Orga.
nizaçào das Nações Unidas, inclusive o Brasil, se com­
prometeram a observar, reconhecendo que “a dignidade
inerente a todos os membros da fam ília hum ana e de
seus direitos, iguais e inalienáveis, é o fundam ento da
Liberdade, da Justiça e da Paz no Mundo”. ^

Em 28 de agosto de 1973 o Conselheiro Carlos Araujo Lima


encam inhou proposição no sentido de que a Ordem dos Advogados
do Brasil se abstivesse de participar do Conselho de Defesa dos
Direitos da Pessoa Humana até que o pleno estado de direito, ideal
da revolução na palavra de seus representantes, fosse alcançado.
A matéria foi relatada pelo Conselheiro Danilo Marcondes de
Souza, que em longo pronunciamento exam inou o problema do
funcionam ento do Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Hu­
mana, a ineficiência das atitudes e a incapacidade de decidir sobre
os fatos m ais corriqueiras, inclusive em relação à prisão arbitrária
do Conselheiro Augusto Sussekind de Moraes Rego, do Conselho
Federal, Heleno Fragoso, da Seccional da Guanabara e George Ta-
» A im portância do documento não pôde ser bem avaliada n a época
em virtude da intensa censura em que vivia a im prensa no país, o
que impediu a sua divuigação.

158
vares. A m atéria foi votada em reunião de 28 de setembro, na qual
ficou decidido por maioria que (a) seu Presidente é membro nato
da Comissão de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana por força
de disposição legal; (b) que nessa condição cabe-lhe julgar da
conveniência de comparecer às sessões daquele órgão e adotar a
conduta m ais compatível com o exercício de suas funções.
Em abril de 1973 a sucessão do Dr. José Cavalcanti Neves
apresentou-se renhida, pois o próprio Presidente pleiteava a reelei­
ção, e José Ribeiro de Castro Filho, em oposição, à frente de
um grupo que se m anifestava contrário a essa reeleição. José
Ribeiro de Castro Filho foi vitorioso pela diferença de 1 voto,
sendo seus companheiros de diretoria Wilson do Egito Coelho,
como Vice-Presidente, Carlos Mauricio Martins Rodrigues, como
Subsecretário-Geral e Jurandir dos Santos Silva, como Tesoureiro.
Na Presidência Ribeiro de Castro, de 1973 a 1975, cumpre des­
tacar entre as iniciativas tomadas a aprovação, na sessão de 10
de m aio de 1974, do Fundo de Assistência ao Advogado. Nos consi­
derandos da resolução, declarou-se que nem todas as seções dispu­
nham de recursos que possam conduzir à instituição de caixas de
assistência aos advogados, e considerando que a assistência conce­
dida pelo Instituto Nacional de Previdência Social não atende às
necessidades que não raro se fazem presentes, autorizou a criação
de um Fundo de Assistência ao Advogado com a dotação inicial
de 300 m il cruzeiros, e que seria organizado por Comissão Es­
pecial, com a criação do cargo de delegado nas seções onde ine-
xistisse a caixa de advogados, elevação da contribuição de 15 para
20%, participação nas custas da justiça federal, e contratação de
atuário para estudo das condições de implem entação da assistência
a que se referia a resolução. O regulam ento foi aprovado em sessão
de 24 de setembro de 1964 e em sessão de 6 de novembro seguinte,
foi eleita a diretoria composta de Presidente Manoel Martins dos
Reis, tesoureiro José Danir Siqueira do Nascimento, vogais Edgard
Queiroz do Vale, Rubens Ferraz e Ronaldo José da Costa Lima.
Em m atéria de relacionam ento do Conselho Federal com as
seções da Ordem, propôs e foi aprovado na sessão de 25 de março
de 1975 um programa especial de auxílio às seções carentes. Dizia
a proposta da Diretoria:

“Estamos em que o Conselho Federal precisa encon­


trar uma forma através da qual possa colaborar com
essas Seções (as seções carentes de recursos), até que
as mesmas, pelo seu desenvolvimento natural^ adquiram
a m ínim a possibilidade de presença. Na busca de solu­
ções, tem os que a sim ples dispensa da remessa das cotas
esbarra no obstáculo legal, qual seja o preceito acima
referido (Lei n.® 4.215, Art. 141, § 3.°). Assim, esperando
o apoio desse Egrégio Conselho, propomos seja sua dire­

159
toria autorizada a conceder, até deliberação em sentido
contrário, um auxílio a seu critério em função dos re­
cursos disponíveis desta Casa, até o máximo de 20
m il cruzeiros anuais em favor de todas as seções, cuja
arrecadação anual global não exceda a casa dos 50 m il
cruzeiros.”
Tentou também promover na gestão a organização do colégio
de presidentes, institucionalizando as reuniões periódicas de pre­
sidentes das seções dos advogados. Para tal fim foi nomeada Co­
missão Especial integrada dos Conselheiros Clovis Ramalhete,
Rubens Ferraz e Danilo Marcondes de Souza. A unanimidade da
Comissão concluiu pela necessidade de expedição de provimento
regular da matéria. O processo, pela decisão do plenário, foi reme­
tido à Comissão Perm anente de Im plementação do Estatuto, tal
como exige o Art. 31, Inciso VII do Regimento Interno. Com pa­
recer contrário da Comi&são Permanente de Implementação, a pro­
posição foi derrotada em plenário, não tendo logrado aprovação.
Durante sua gestão, participou também o Presidente das reu­
niões do Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana,
embora ressalvando a sua posição pessoal de que a Ordem deveria
se abster. Durante o ano de 1974 o Conselho de Defesa não realizou
sessões, m as durante o ano de 1975, compareceu numerosas vezes,
denunciando a violência contra advogados no exercício da profis­
são, como foi o caso do seqüestro do advogado José Carlos Brandão
Monteiro, do Estado do Paraná.
No período, nomeou Comissão para examinar a vigente legis­
lação relativa aos ilícitos penais cometidos na circulação de
veículos, tendo presente o grave problema que constituem os
acidentes de trânsito em nosso país. Foram designados para inte­
grar a Comissão os Conselheiros Ivo de Aquino, Presidente; Carlos
de Araujo Lima, Francisco de Assis Serrano Neves, Antonio Eva-
risto de Morais Filho, Heleno Claudio Fragoso, este últim o como
relator. O trabalho, acompanhado de anteprojeto de lei, onde se
definem as infrações penais relativas à circulação de veículos e se
dispôs sobre o efetivo processo e julgam ento, foi entregue ao Con­
gresso Nacional pela própria Comissão.
A Ordem no período teve que enfrentar os problemas decor­
rentes da implementação da Lei Complementar n.® 20, de 1.° de
julho de 1974, que determinou a fuisão dos Betados do Rio de
Janeiro e da Guanabara. Em conseqüência, deveria surgir uma
nova Seção da Ordem, e impunha-se ao Conselho adotar as provi­
dências decorrentes ao surgim ento do novo Estado do Rio. Nessas
condições, foi baixada a Resolução n.° 17/75, de 10 de janeiro de
1975, que determinou que as seções da Ordem dos Advogados do
Brasil existentes nos então Estados da Guanabara e do Rio de
Janeiro passariam a constituir uma só seção, com jurisdição sobre
todo o território do novo Estado, ficando extintas por falta de

160
objeto, e pelo só evento da fusão, os m andatos de todos os conse­
lheiros eleitos para o biêitiio 75/76 das seções da Ordem dos Advo­
gados do Brasil nesses dois Estados. Ficou determinada a convo­
cação de Assembléia Geral dos Advogados inscritos das duas atuais
seções a realizar-e no dia 13 de março de 1975 para eleição do
Oonselíio da Seção do futuro Estado do Rio de Janeiro que se
comporia de 24 membros. Determinava a Resolução que seria no­
meada uma Comissão Especial constituída, sob critério paritário,
de oito dos conselheiras das seções dos atuais Estados do Rio de
Janeiro e da Guanabara para tomar as decisões necessárias a essa
organização. A Comissão ficou constituída dos conselheiros pelo
então Estado da Guanabara, Alvaro Leite Guimarães, Gelson Fon­
seca, Virgilio Luiz Donnici e Ivan Paixão França, pelo então Esta­
do do Rio de Janeiro os Conselheiros Waldemar Zweitzer, José
Darür Siqueira do Nascimento, Alei Guaiba Amorim da Cruz e
Helio Ermirio Figueira. Posteriormente, a Resolução n.° 19/75, de
9.2.1975, regulam entou as eleições para a composição do Conselho
do novo Estado que foi eleito e empossado no dia 17 de março e
o Conselho do novo Estado do Rio de Janeiro iniciou as suas
atividades sob a Presidência do Dr. Gelson Fonseca.
No dia 22 de abril de 1974 foram inauguradas as novas insta­
lações do plenário do Conselho Federal da OAB que serviam
também ao Conselho Seccional da Guanabara, contendo ele um
auditório moderno, aparelham ento de som e de ar condicionado,
com capacidade de lotação para os integrantes do Conselho e para
o público. Duas efígies de m etal, em baixo-relevo, compõem o
painel da m esa diretora dos trabalhos, a de Tiradentes, a de Rui
Barbosa. Na solenidade de inauguração tomaram parte ã mesa dos
trabalhos, além do Presidente do Conselho Federal, o Presidente
do Conselho Seccional da Guanabara, do Tribunal de Justiça do
Estado, do Instituto dos Advogados Brasileiros, representantes do
Governo do Estado da Guanabara e outras autoridades.
Abriu os trabalhos o Presidente do Conselho Federal que deu
a palavra ao orador oficial da solenidade, Oscar Dias Corrêa, in­
tegrante da Delegação de Minas Gerais no Conselho Federal da
OAB. Disse ele:

“A lição que nos legou Tiradentes, de perenidade


dos ideais de liberdade, justiça e dignidade, que consti­
tu i um cabedal onde se assenta a nossa Ordem — que
nos encarna — fizeram dele o nosso patrono imortal.
Advogado com o nenhum foi desses ideais, tanto e
tanto que pereceu por eles, para que eles sobrevivessem.
E advogado que não precisou investir-se do grau para
abraçar a causa, porque a inspiração do seu humanism o
lh e apontou ã razão o cam inho que os séculos marca­
riam com a luminosidade das estrelas.”

161
Durante a Presidência José Ribeiro de Castro Pilho, realizou*
se nos dias 22 a 25 de abril de 1974 um simpósio sobre o estágio
e Exame de Ordem; tratava-se de m atéria que h á m uito tempo
preocupava a instituição. Como já mencionado por ocasião da
organização do primeiro Estatuto da Ordem em 1930, a matéria
foi objeto de debates, e terminou empatada em sessão do Instituto
dos Advogados Brasileiros, sendo desempatada pelo Presidente Levi
Carneiro, alegando ser prematura ainda a instituição do estágio.
Já entretanto quando da discussão no selo do Conselho do ante­
projeto de Estatuto da Ordem que se converteu na Lei n.® 4.215
encontrou guarida no texto do anteprojeto. Assim se refere a Co­
missão elaboradora:

"A fim de tornar exeqüível o poder de seleção da


Ordem, meramente teórico até agora, assegurando a
m anutenção da consciência profissional e elevando ao
mesmo tempo o nível cultural da classe e sua eficiência
técnica, estabeleceu-se a exigência do estágio profissio­
nal como requisito para inscrição no quadro dos advoga­
dos. O estágio será permitido a partir do quarto ano do
curso jurídico, de modo a assegurar ao candidato a sua
conclusão sim ultaneam ente com a diplomação universi­
tária. O Exame de Ordem (“bar exam ination”) era obri­
gatório apenas para os candidatos à inscrição que não
tenham feito o estágio profissional ou para os que não
tenham comprovado o seu exercício e resultado.”

Assim, dispunha a Lei n.° 4.215 que para inscrição no quadro


de advogados, entre outros requisitos, era necessário certificado de
comprovação do exercício, resultado do estágio ou habilitação no
Exame de Ordem (Art. 48).
O estágio para a prática profissional seria realizado em curso
de orientação ministrado por Faculdade de Direito, m antida pela
União ou sob fiscalização do governo federal, ou com a admissão
como auxiliar de escritório de advocacia e assistente há m ais de
cinco anos num serviço de assistência judiciária e de departamentos
jurídicos oficiais ou de empresa idônea, a critério do Presidente da
Seção. O estágio teria a duração de dois anos, sendo o programa,
processo de verificação do seu exercício resultados regulados por
provimento do Conselho Federal.
O Exame de Ordem para os candidatos que não tivessem feito
estágio profissional ou não tivessem comprovado satisfatoriam ente
o exercício solicitado, seria efetuado m ediante prova de habilitação
profissional perante comissão composta de três advogados inscritos
há m ais de cinco anos, nomeados pelo presidente da seção, na
forma, e mediante programa regulado em movimento do Conselho
Federal.

162
Como disposição de caráter transitório, determinava o Art. 151
que durante cinco anos, a partir da vigência da lei, iseriam faculta­
tivos os requisitos de estágio profissional e o Exame de Ordem para
efeito de inscrição no quadro de advogados.
O Conselho Federal, no uso de suas atribuições legais, em 5
de agosto de 1975 nos Provimentos 18 e 19, ambos relatados por
Nehemias Gueiros, dispôs respectivam ente sobre o estágio profis­
sional de advocacia e sobre o Exame de Ordem.
A m atéria consistia em autêntica novidade, e, evidentemente,
contrariava interesses comerciais, vindos de alguns escalões do
ensino superior, especialm ente dos cursos de mais fácil realização
como eram os cursos de Direito.
Em 1977, o Instituto dos Advogados Brasileiros realizou um
sem inário sobre o ensino jurídico onde novam ente a m atéria foi
examinada, tendo sido relator da indicação sobre o estágio e o
ensino da prática forense o próprio Nehemias Gueiros. Dizia ele
na ocasião:
“Não se deve encarar o estágio como panacéia desti­
nada a curar todos os m ales do ensino jurídico no Brasil.
Esses m ales devem ser combatidos dentro dos próprios
cursos de graduação através de medidas propostas den­
tro dos dois primeiros tem as (sustação da criação de
novas escolas; cassação das autorizações dadas a deter­
minadas escolas; enriquecimento dos currículos; exten­
são do período diário de trabalho escolar; modificação
dos métodos de ensino, etc.).”

E em segm da propunha uma série de medidas cautelares a


fim de que a introdução do estágio ou do Exame de Ordem não
viessem redundar em fracasso ou em fraude.
Em conseqüência da pressão desses interesses, foi aprovada em
6 de dezembro de 1972 a Lei n.° 5.842, dispensando do Exame de
Ordem e do exercício do estágio profissional os bacharéis em Direi­
to que houvessem realizado junto às faculdades estágio e prática
forense e organização profissional. Suprimia-se assim, por via
indireta, o Exame de Ordem e o estágio profissional fazendo recair
sòbre a Faculdade de Direito a responsabilidade por m ais esses
encargos.
A Lei n.o 5.842 atribuiu ao Conselho Federal de Educação a
atribuição de regulam entar a prática forense e organização judi­
ciária, 0 que foi feito pela Resolução n.° 15 do Conselho Federal
de Educação de 2 de março de 1973. A Resolução não deu uma
definição do estágio caracterizado no Inciso III como versando
sobre “matéria essencialm ente prática, não abrangida pelo cur­
rículo m ínim o e visando propiciar aos alunos um adequado conhe­
cimento do exercício profissional, de seus problemas e responsabi­

163
lidades e especialm ente as de ordem ética”. E acrescentava que
“85 m atérias dos programas serão desenvolvidas através de aulas
práticas, assim como de visitas ou comparecimentos a cartórios,
audiências, secretarias, tribunais, além de pesquisa e jurisprudên­
cia e participação nos processos sim ulados”.
Anteriormente, a Lei n.° 5.960 de 10 de dezembro de 1973 pror­
rogara 0 prazo de adaptação à nova sistem ática previsto na Lei
n.° 4.215, dispensando os formandos até do exame de ordem e do
estágio.
Em 4 de outubro de 1967, pelos Provimentos 33 e 34, ambos
relatados por Nehem ias Queirós, foram revistas respectivamente
e consolidadas as normas sobre o estágio profissional dos advo­
gados e sobre o Exame de Ordem.
O Conselho Federal em 24 de junho de 1973 pelo Provimento
n.° 40 dispôs sobre a interpretação e aplicação da Lei n.® 5.842
de 6 de dezembro de 1972, que criou o estágio de prática forense
e organização judiciária, desde que m antidas ou fiscalizadas pela
União, também relatado por Nehemias Gueiros.
O seminário, incluindo representantes de todas as Seccionais
no Brasil, foi um a passagem em revista do problema, tendo che­
gado às seguintes conclusões:

“I — Quianto aos tem as examinados pela Primeira


Subcomissão:
1.® O sistem a dúplice e opcional do Estágio Pro­
fissional e do Exame de Ordem, instituído pela Lei n.°
4.215, de 2 7.4.63, continua vigente, mesmo depois do
advento das Leis n.°s 5.842, de 6.12.72, e 5.960, de
10.12.73.
2.® Sem ab-rogar a disciplina estatutária, as ú lti­
mas leis facultam aos bacharéis em Direito, que preten­
dam inscrição da Ordem dos Advogados do Brasil, uma
terceira modalidade de estágio, por elas denominado de
“Prática Forense e Organização Judiciária”, m ediante
cursos a serem m inistrados pelas respectivas Faculdades.
3.® Além da m encionada norma permanente sobre
essa nova e facultativa espécie de estágio, que o Egrégio
Conselho Federal de Educação já regulamentou, através
da Resolução n.° 15, de 2 .3 .7 3 , as leis posteriores ao
Estatuto da Ordem se lim itaram a editar regras de direi­
to transitório, a saber:
a. dispensa do Exame de Ordem e da comprovação
do resultado do Estágio Profissional, em relação aos
bacharéis que hajam satisfeito até o ano letivo de 1972,
as condições aludidas na Lei n.° 5.842/72;
b. isenção pura e simples, do Exame de Ordem e da
comprovação do resultado do Estágio Profissional, prodi-

164
galizada pela Leis n.° 5.960/73, a todos os bacharéis
graduados até o ano letivo de 1973, afastando ao mesmo
tempo, as divergências de interpretação em torno do
favor da primeira lei, que se refletiram até no Egrégio
Conselho Federal da Ordem, como comprovam os Provi­
m entos n.°s 39, de 2 4 .4 .7 3 , 3 e 40 de 24.7.73.
4.® Como corolário da primeira conclusão no senti­
do de plena vigência das normas estatutárias sobre o
Exame de Ordem e Estágio Profissional depois das Leis
n.®s 5.842/72 e 5.960/73, conservam, igualm ente, sua
eficácia normativa, nos respectivos âmbitos da validade,
a Resolução n.° 15, de 2 .3 .7 3 , do Egrégio Conselho Fe­
deral de Educação e o Provimento n.° 40, de 2 4 .7.73, do
Egrégio Conselho Federal da Ordem dos Advogados do
Brasil, nos quais se contém exaustiva regulam entação
de todas as disposições legais pertinentes à matéria.
5.® Como está expresso no Parecer n.° 225/73 da
Comissão de Legislação e Normas do Egrégio Conselho
Federal de Educação, o estágio de Prática Forense e Or-
ganiaação Judiciária, previsto n a Lei n.° 5.842/72 — e,
por extensão, também na Lei n.° 5.960/73 — não excluiu
o Estágio Profissional em escritório de advocacia exis­
tente desde m ais de cinco anos, em serviços de Assistên­
cia Judiciária e em Departam entos Jurídicos oficiais ou
de empresas idôneas (Lei n.° 4.215/63, Art. 5 0 IV).
6.® Havendo a Resolução n.° 15/73 do Egrégio Con­
selho Federal de Educação estabelecido a facultatividade
da m anutenção pelas Faculdades de Direito do estágio
de Prática Forense e Organização Judiciária, de que
tratam as Leis n.°s 5.842/72 e 5.960/73, podem as Seções
da Ordem, como reconheceu e proclamou o Provimento
n.° 40/73, continuar ministrando diretamente ou me­
diante convênios com faculdades interessadas, cursos de
orientação do Estágio, a que alude o Art. 50, Inciso III
do Estatuto, os quais deverão obedecer às regras dos
Provimentos Especiais existentes, salvo suigestões que a
ilustre n i Subcomissão haja por bem oferecer a respeito.
7.® A conclusão anterior também se tom a impe­
riosa em virtude de haver a citada Resolução n.° 15/ 73
do Egrégio Conselho Federal de Educação condicionado
a existência dos cursos escolares do estágio de Prática
Forense e Organização Judiciária ao reconhecimento
governam ental da faculdade, sendo certo que funcionam
no País numerosas escolas autorizadas, m as ainda não
reconhecidas pelo Governo, cujos alunos ficariam impos­
sibilitados de inscrição superior no quadro de advoga­
dos, em situação de desigualdade com os colegas das

Í65
escolas já reconhecidas, se não estagiassem em escritó­
rios, freqüentassem cursos das Seções, ou nâo viessem a
prestar Exame de Ordem.
8.® Por outro lado, a letra e o espírito das Leis n °s
5.842/72 e 5.960/73 estão a evidenciar que não vieram
elas para revogar o jus singulare de nossa corporação
profissional, mas apenas para facilitar a que n ela in­
gressem os bacharéis que não querem ou não podem
se submeter à moralidade disciplinar do Estágio Profis­
sional e Exame de Ordem, tal como consagrada no nosso
Estatuto e nas suas disposições regulamentares.
9.® Embora sem atribuir aos trabalhos preparató­
rios da lei valor exegético superior ao que lhe concede
a doutrina moderna, não é despiciendo referir que os
projetos e os substitutivos, dos quais resultou a Lei n.°
5.842/72 (tanto vale dizer, a Lei 5.960/73, que não
produziu modificação de m onta, senão no tem a de direi­
to intem poral), evoluíram da idéia de extinguir total­
m ente o Estágio Profissional e o Exame de Ordem, com­
batida pelos que propugnaram pela sim ples m anutenção
do regime estatutário, para a fórmula transacional de
m anter o sistem a anterior, e, ao lado dele, estabelecer
um mecanismo substitutivo, que abrisse aos candidatos
menos aptos, preparados ou esforçados, as portas da
advocacia, sem subordinação ao maior e indispensável
rigor seletivo da Lei n.° 4.215/63.
10.® Sendo as Leis n.°s 5.842/72 e 5.960/73 m al
disfarçadas tentativas de afastar a ingerência da Ordem
na orientação e verificação do aprendizado profissional
desse arremedo de esta^ ário por elas criado, as Seções
só poderão inscrever nos seus quadros de Estagiários, de
modo a habilitá-los para a prática dos atos a que se
refere o Art. 4.° do Provimento n.® 25, de 2 4 .5.66, os
acadêmicos ou bacharéis em Direito que pretendam
realizar o Estágio Profissional, segundo as modalidades
da Lei n.«> 4.215/63.
11.® Os Estagiários escolares, que as leis específicas
excluem dos poderes de seleção e disciplina da OAB,
não podem conseguir inscrição na categoria dos Estagiá­
rios da Lei n.® 4.215/63, nem dela carecem, para praticar
qualquer dos atos que a regulamentação do ensino lhes
exige, isto é, freqüência às aulas práticas e visitas ou
comparecimentos a cartórios, audiências, escritórios,
tribunais, além da pesquisa de jurisprudência e partici­
pação em processos sim ulados (Res. 15/73 do Conselho
Federal de Educação, Art. 1.®, Incisos III e IV ).

166
II — Quanto aos tem as examinados pela Segunda
Subcomissão:

1.® Os Conselhos Seccionais devem observar rigoro­


sam ente o Provimento n.° 40, de 24 de julho de 1973,
isto é, não deverão em hipótese algum a, admitir a ins­
crição no Quadro de Estagiários, de estudantes ou ba­
charéis que não estejam matriculados em estágios feitos
sob a sistem ática do Estatuto da Ordem dos Advogados
do Brasil, e quanto aos primeiros, caso não hajam cum ­
prido os créditos relativos aos períodos anteriores do
curso.
Não bosta, portanto, que o interessado se encontre
matriculado nos dois últim os anos da Faculdade de
Direito, ou mesmo, que curse o estágio da Lei n ° 5.842.
Para inscrever-se no Quadro de Estagiários, e receber a
respectiva carteira de identidade é preciso estar reali­
zando o estágio suipervisionado pelo Conselho Seccional,
em qualquer das modalidades previstas no Art. 53 do
Estatuto.
2.® Os Conselhos Seccionais devem estim ular o
sistem a de convênios com as faculdades, nisto se empe­
nhando, de modo que no interesse das próprias faculda­
des, dos alunos e do prestígio da advocacia, seja man­
tido, apenas o estágio da Lei n.° 4.215.
3.® A condição de “m ilitante da advocacia” exigida
para coordenador do estágio fieto na forma da Lei n.°
5.842 (Art. 1°, n.° VI, do Conselho Federal de Educação)
é a definição do Ektatuto da Ordem dos Advogados do
Brasil.
4.® Os Conselhos Seccionais zelarão para que a
comprovação do resultado do estágio nas faculdades
seja feita perante a Congregação ou colegiado equiva­
lente, regularm ente reunido.
5.® O representante da Ordem junto à Congrega­
ção, ou colegiado equivalente das faculdades só deverá
considerar satisfatório o resultado do estágio dos candi­
datos que houverem atendido às exigências formais do
curso especificadas no Art. 1.° n.°s IV e VIII da Reso­
lução n.o 15 do Conselho Federal de Educação (visitas a
cartórios, audiências, secretarias, tribunais, pesquisas de
jurisprudência, participação em processos simulados,
bem como tenham cumprido todas as normas traçadas
nos programas de estágios organizados pelas faculdades
e tenham , inclusive, satisfeito a quota m inima de fre­
qüência às aulas teóricas e práticas e demais atividades
do estágio).

167
6.® O bacharel, ou-jo resultado do estágio haja sido
considerado insatisfatório pelo representante da Ordem
junto à Congregação ou Colegiado equivalente das facul­
dades, em virtude do não atendim ento das exigências
formais, para inscrever-se no Quadro de Advogados, de­
verá isubmeter-se a Exame de Ordem.

III — Quanto aos tem as examinados pela Terceira


Subcomissão:
1.® Princípios básicos:
1) — O estágio e o Exame de Ordem constituem
instrum entos do processo de seleção da classe;
2) — Sendo a Ordem dos Advogados do Brasil “ór­
gão de seleção, disciplina e defesa da classe dos advoga­
dos em toda a República” (Art. 1.° da Lei n.*^ 4.215),
cabe a ela com exclusividade, por imperativo legal, pro­
mover a seleção da classe;
3) — É enganosa a tese de que a prática da advoca­
cia ]w&sa ser feita fera do am biente em que ela se
exercita;
4) — A prática forense deve ter caráter objetivo
e real.

2.® Reivindicações ííe /ereTwfa:

1) — Poderão inscrever-se no Quadro de Estagiárias


os bacharéis e os alunos matriculados nos dois últim os
anos do curso de Direito;
2) — Decorridos dois anos de inscrição, os estagiá­
rios poderão inscrever-se no Quadro de Advogados;
3) — Os estagiários que, por qualquer motivo, não
se inscreverem no Quadro de Advogados, vencido o prazo
de dois anos, terão canceladas sua inscrição;
4 ) — Optativamente, com um ano de inscrição re­
gular no respectivo Quadro, os estagiários poderão ins-
crever-se no Quadro de Advogados, desde que aprovados
no Exame de Ordem;
5) — Em qualquer hipótese, só será concedida ins­
crição no Quadro de Advogados aos estagiárias que
provarem o exercício e o resultado do estágio, perante o
Conselho Seccional da Ordem;
6) — Revogação da Lei n.° 5.842, de 1&72.

3.® Recomenda maior aplicação do Art. 91 do Es­


tatuto da Ordem dos Advogados do Brasil junto às
Seções da Ordem dos Advogados, para que os estagia-
rios possam participar da defesa judicial dos necessi­
tados.”

A V Conferência Nacional da Ordem dos Advogados do Brasil


realizou^e no RLo de Janeiro de 11 a 16 de agosto de 1974, tendo
como tem a fundam ental “O advogado e os direitos do homem”.
Na sessão de abertura, realizada com a presença do Presidente
do Supremo Tribunal Federal, Ministro Eloy José da Rocha, e
outras altas autoridades, abriu os trabalhos o Presidente do Con­
selho Federal, José Ribeiro de Castro Filho, que tecendo conside­
rações sobre o tem a principal do temário, declarou:

“A experiência recolhida através dos tempos, nos


leva à convicção, e essa é um a das nossas contribuições,
áe que se impõe, para efetivação dos direitos estruturais
da ^ s s o a humana, mais que a declaração, a presença e
a efetividade instrum ental, fixada a qualquer custo, que
assegure, n a realidade, esse reconhecimento. Para tanto
se faz m ister a presença, na estrutura orgânica do esta­
do, de um Judiciário autônom o.”

Usaram da palavra na m esm a sessão, o Presidente do Conse­


lho Seccional da Guanabara, Álvaro Leite Guimarães saudando as
delegações estaduais; em nome das delegações visitantes Octavio
Mendonça, da Seção do Pará, e encerrando o Ministro Eloy José
da Rocha que declararia:

“Certamente, se os técnicos e os cientistas de melhor


qualificação são im prescindíveis na era do desenvolvi­
m ento, são-no, não menos, os juristas, para a estrutura­
ção jurídica da nova sociedade em que ressalvem os
valores fundam entais da pessoa hum ana/'

O temário da Conferência foi o segu in te:


1. Os Direitos do Homem e sua Tutela Jurídica.
RELATOR: Heleno Claudio Fragoso
2. Direitos do Homem e Prerrogativas dos Advogados.
RELATOR: Nehemias Gueiros
3. Direitos do Homem, a Ordem Pública e a Segurança Nacional.
RELATOR: Miguel Seabra Fagundes
4. O Direito ao Trabalho.
RELATOR: Evaristo de Morais Filho
10 V. o volume Estágio e Exame de Ordem — Ordem dos Advogados do
Brasil — Conselho Federal, 1974, p. 76.

169
5. Os abusos do Poder Econômico e Garantias Individuais.
RELATOR: Miguel Reale
6. Direitos ao Bem-Estar Social.
RELATOR: Orlando Gomes
7. Problemas da Urbanização da Sociedade Brasileira.
RELATOR: Clovis Ramalhete
8. Direitos à M anifestação do Pensamento.
RELATOR: Haryberfco de Miranda Jordão
9. Proteção dos Direitos do Homem Diante da Organização Jur
diciária e da Administração Pública.
RELATOR: Jorge Fernando Loretti
10. Os Partidos Políticos e os Direitos de Participação Política do
Cidadão.
RELATOR: Josaphat Marinho
11. IMreito de Asilo.
RELATOR: Heraclito Fontoura Sobral Pinto
12. O Menor e os Direitos Humanos.
RELATORA: Esther de Figueiredo Ferraz
13. Liberdade de Asociação.
RELATOR: Paulo Brossard de Souza Pinto
14. Os Direitos do Homem Concernentes à Família.
RELATOR: Caio Mario da Silva Pereira
15. O Acesso à Cultura como Direito de Todos.
RELATOR: Pontes de Miranda
16. Limitações dos Direitos do Homem: Legitimidade e Alcance.
RELATOR: Gervasáo Leite
17. Direitos Humanos e a Tributação.
RELATOR: Otto de Andrade Gil
18 Direitos Humanos na Área Internacional.
RELATOR: Oscar Dias Corrêa
19. Da Inutilidade do Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa
Humana.
RELATOR: Nelson Carneiro
20. O Direito do Trabalho como Expressão dos Direitos do Homem.
RELATOR: Albino Lima
21 As Multas Fiscais e os Direitos do Homem.
RELATOR: Teodoro Nascimento
22 . Direito à Vida, o Primeiro dos Direitos Humanos.
RELATOR: J. Motta Maia
23. Ombudsman, Instrum ento de Defesa dos Direitos Humanos
nas Democracias Modernas.
RELATOR: João de Oliveira Filho
24. Os Direitos do Homem e a Organização Sindical Brasileira.
RELATOR: Eugenio Roberto Haddock Lobo
25. A Defesa dos Direitos Humanos e a Independência da Ordem.
RELATOR: Justino Vasconcellos

26. Criminalidade Comum e Segurança Nacional.


RELATOR: Carlos de Araujo Lima
27. Violação do Direito do Trabalho n a Reforma da Previdência
Social.
RELATOR: Nildo Martini
28. D ireito à Propriedade da Terra e a Reforma Agrária Como
Meio de Realizá-lo.
RELATOR: J. Paulo Bittencourt
29. Tribunais Nacionais e Remédios Efetivos, Para Atos Vincula­
dos à Economia Agrária do Brasil.
RELATOR: Octavio Mello Alvarenga
30. A Previdência Social em Sentido Lato: um dos Direitos Hu­
manos Fundamentais. O Exercício Desse Direito.
RELATORES: Oswaldo Astolfo Rezende e outros
31. O Im posto de Renda, Sobre Honorários de Advogado.
RELATOR: Antonio Carlos Nogueira Reis
32. Do Cabimento de Mandado de Segurança nos Casos de Crimes
Políticos Contra a Segurança Nacional.
RLATOR: Julio Fernandes Teixeira
33. Os Direitas do Homem Rural Diante de um Tribunal Admi­
nistrativo Agrário.
RELATOR: Ivo Frey
34. Direitos Humanos e a Prestação Jurisdicional.
RELATOR: Osmar Alves de Melo
35. Direito de Trânsito, Instrum ento de Defesa da Vida Humana.
RELATOR: Abrahim Tebet
171
36. O Advogado, os Direitos Humanos e a Crise da Justiça Cri­
minal.
RELATOR: Virgílio Luiz Donnici
37. Defesa do Homem, Direitos, Garantias Individuais e Sociais.
RELATORA; Yolanda Mendonça
38. O Sistem a Penitenciário e os Direitos do Homem.
RELATOR: Francisco Gil Castello Branco
39. Direitos do Bem-Estar Social
RELATOR: Sergio do Rego Macedo
40. A Defesa dos Direitos Fundam entais do Homem Como Dever
dos Advogados.
RELATOR: Fernando Andrade de Oliveira
De 27 a 28 de fevereiro de 1975, realizou-se m ais uma reunião
dos Presidentes dos Conselhos Seccionais da Ordem dos Advogados
sob a Presidência do Dr. José Ribeiro de Castro Filho. 0& traba­
lhos iniciais versaram sobre a autonom ia da Ordem dos Advo­
gados, sendo convidado a tomar assento à mesa o Professor Adroal-
do Mesquita da Costa, que examinou sua posição como Consultor-
Geral da República. Também discutiu o Presidente o problema
relativo ao Exame de Ordem, e do seu comparecimento à Comissão
de Justiça do Senado onde íaz ampla exposição sobre a matéria.
Em seguida, foram discutidos os problemas do colégio dos presiden­
tes e a colaboração do Conselho Federal com as Seições. A em enda
apresentada pela Seção de Sergipe propondo a eleição da Diretoria
da Ordem dos Advogados pelos Presidentes dos Conselhos Seccio­
nais foi aprovada, o Presidente prometendo subm etê-la ao Con­
selho Federal.
Em relação ao contato permanente do Conselho Federal com
os Conselhos Seccionais, mencionou o Presidente o projeto elabo­
rado pela Comissão Especial formada pelos Conselheiros Clovis
Ramalhete, Rubens Ferraz e Danilo Marcondes de Souza, sobre a
criação do corpo do colégio de presidentes, e aguardava o pronun­
ciam ento da Comissão Perm anente para Implementação do Es­
tatuto.
Nesse mesmo dia 27 de março de 1973, o Conselho Federal
lançava, em solenidade no Clube dos Advogados o livro As Razões
da Autonom ia da Ordem, com o subtítulo Missão Constitucional
— Seu enquadramento na estrutura do Estado de Direito e outras
atribuições. Os direitos do homem e seu defensor, tradição.^^ Nele
Os Anais da V Conferência foram publicados sob o título — Anais
da V Conferência Nacional da Ordem dos Advogados do Brasil (11 a
16 de agosto de 1974) — Rio de Janeiro, GB. 790 pp.
Rio de Janeiro, As Razões da Autonomia da O rd em ... — Conselhof
Federal da OAB — 1975 — 148 pp.

172
se continha a introdução do Presidente do Conselho Federal, Ri­
beiro de Castro; o memorial dirigido ao Presidente da República
e pareceres elaborados pelos juristas Pontes de Miranda, Darlo de
Almeida Magalhães, Adroaldo Mesquita da Costa, Orlando Gomes,
Paulo Alberto Pasqualini, Rui C im e lim a , J. E. Prado Kelly,
Caio Mario da Silva Pereira, M. Seabra Fagundes, Miguel Reale,
Alcino de Paula Salazar e Carlos Medeiros Silva; m anifesto dos
Conselhos Seccionais da OAB; protocolo firmado no Simpósio pelo
Instituto dos Advogados do Rio Grande do Sul, e finalm ente o
Manifesto de Bruxelas e o Relatório de Lausanne sobre a profissão
de advogado. Na reunião, falou inicialm ente o Presidente do Con­
selho Federal, Ribeiro de Castro Filho, que definiu a significação
especial daquela iniciativa: uma tarefa de esclarecim ento ao poder
público e de conscientização das advogados, e em seguida Dario de
Almeida Magalhães que pronunciou importante discurso, do qual
transcrevemos o seguinte trecho:

“Autarquia, corporação profissional, estabelecim en­


to público — pouco importa o rótulo com que se queira
qualificar a nossa instituição — que é em verdade, uma
entidade sui generis, pela forma de sua constituição e
manutenção, e, especialm ente, pelas suas finalidades
específicas. O problema de tecnicalidade jurídica hà de
ser posto em plano secundário. O que não podemos e
não queremos admitir, sob qualquer pretexto especioso,
é a menor restrição à independência que é ínsita e essen­
cial à nossa existência, como no exercício da profissão
que a Ordem disciplina, desincumbindo-se de maneira
cabal de suas atribuições.
O que causa espécie e reclama ser assinalado é que
não se consegue desvendar o misterioso m otivo de inte­
resse público que pudesse servir de razão de Estado ins-
piradora da nova tentativa de interferência na atividade
da Ordem, m ais de 20 anos depois da primeira, que malo­
grou. A União expande cada dia mais o seu poder, já
sufocante, cobrindo com a rede ciclópica de seus ór­
gãos, repartições, agências e uma multidão de socie­
dades e empresas, toda a vida do país, que dá sinais
sensíveis de entorpecimento e paralisia que essa elefan-
tíase burocrática inexoravelmente gera. E dispersando
tum ultuariam ente os seus esforços e recursos, os diri­
gentes parecem agora subitam ente alarmar-se com a
verificação de que os serviços essenciais em que o Estado
é insubstituível — os da justiça, polícia e saúde pública
— se apresentam calam itosam ente deficientes.
Não se entende, por isso, que se desvie a atenção dos
governantes, que deveria estar concentrada nesses seto-

173
res essenciais, para uma interferência na vida da nossa
Ordem — interferência im pertinente e insólita que nin­
guém reclamou, nem cuja utilidade se explica. A nossa
Ordem desempenha a sua tarefa de maneira plenamente
satisfatória. E se os seus dirigentes incorrerem porven­
tura em qualquer abuso ou desvio, aí estão os lesados e
seus patronos vigilantes para reclamarem e corrigirem,
levando o caso, se for necessário, à apreciação da Jus­
tiça, pois só com a autoridade da Justiça todos se encon­
tram e nós outros a aceitamos sem reservas.”

Em 1.0 de abril de 1975 é eleito Presidente o candidato único.


Caio Mario da Silva Pereira, tendo como companheiros de chapa
Heleno Claudio Fragoso, Vice-Presidente; Oswaldo Astolfo de
Rezende, Secretário-Geral; Raul Souza Silveira, Subsecretário e
Rubens Ferraz, Tesoureiro. Este últim o não tendo se empossado,
foi substituído em nova eleição por Ernesto Pereira Borges. Ao
tomar jwsse Caio Mario da Silva Pereira cuidava dos problemas
contemporâneos da profissão, especialm ente de predomínio dos
tecnocratas sobre os bacharéis e declarava;
“São todos esses aspectos atuais da projeção social
do advogado, exigindo que a Ordem seja apta a governar
as novas perspectivas, especialm ente atenta aos jovens
profissionais que empregam o seu talento e a sua vita­
lidade no terreno pouco sedimentado de orientar empre­
sários e do direito da empresa. Não pode pois a Ordem
dos Advogados permanecer estática no mundo cambian-
te. Há que estar alerta às novas exigências, exercendo
as suas atribuições legais e sociais nos três planos bási­
cos: seleção pela capacidade, contra a massa crescente
de bacharéis despreparados que as faculdades dispersam
pelo país inteiro, graduam todos os anos saturando o
mercado de trabalho; vigilância constante contra os des­
vios deontológicos, o que é uma resultante da ignorância
e da cobiça; a assistência aos profissionais a quem os
azares da vida negaram condições assistenciais m ínim as.”

E tratando da conjuntura nacional, declarava:


“Não negará (a Ordem) a sua participação no pro­
cesso de reeáficação das instituições republicanas; de­
fenderá o restabelecimento das garantias institucionais,
devidas aos m agistrados e aos cidadãos. Promoverá o que
estiver ao seu alcance para que se restabeleça o primado
do direito sem as transigências com a ordem pública.

13 Ib id ., p. 43.

174
Defenderá como tem feito o restabelecimento do habeas
corpus na sua plenitude. Denunciará, destemida e grave,
todo o abuso e toda violência pelo respeito às prerroga­
tivas individuais dos cidadãos e dos seres hum anos.”

E fazendo referência à sua eleição:

“A m inha eleição reveste-se de características muito


peculiares. Ela não resultou da vitória de um grupo
sobrepujando outro grupo. Ela exprime o apoio de toda
classe de todo o país. De todos os Estados. De todas as
Seções. Do Norte, do Nordeste. Do interior. Do litoral.
Dos centros industriais do Sul. Das m inhas queridas
m ontanhas, que no seu passado patriótico acreditaram,
e no seu presente afirmativo acreditam, no lem a impres­
so em monumento de bronze erigido em sua formosa
capital: m ontani sem per liberi.’*^^

Em 29 de outubro de 1975, o Presidente da Ordem Caio Mario


da Silva Pereira baixou a Resolução n.° 40 de 1975, proclamando
0 período de novembro de 1975 a dezembro de 1976 como o ano
XLV da Ordem dos Advogados do Brasil, para os fins de se promo­
verem comemorações que traduzissem a fidelidade e os princípios
que davam à instituição, e possibilitaram a sua existência sempre
devotadas aos m ais nobres interesses nacionais, ao mesmo tempo
que estim ulasse a consciência da alta missão reservada aos juristas
e a nossa confiança, na perenidade do direito e da justiça e no
constante aperfeiçoamento da ordem jurídica para o bem-estar dos
brasileiros e dem ais povos.
Em 25 de novembro de 1975, teve o Conselho Federal oportu­
nidade de se m anifestar sobre o projeto de lei de autoria do Depu­
tado Cantidio Sampaio que propunha alterações no Estatuto da
Ordem dos Advogados. Na discussão em plenário, sendo relator o
Conselheiro Josaphat Marinho, ficou ratificado m ais uma vez o
princípio que o Conselho Federal se m anifestava pela inconveniên­
cia da tramitação de qualquer projeto tendente a alterar o estatuto
da Ordem.
No dia 19 de dezembro de 1975 reuniu-se o Conselho Federal
para entrega do Prêmio Medalha Rui Barbosa ao advogado Dario
de Almeida Magalhães. Saudou o homenageado o Conselheiro
Sobral Pinto, que recebera anteriormente essa Medalha, traçando
um perfil do agraciado, e examinando os principais aspectos de
sua vida, no campo jornalístico, no campo político e mostrando
a sua posição como Conselheiro da Ordem, e os trabalhos prestados
Revista da OAB — n.o 13, p. 308, m aio/agosto de 1974.
Caio Mario da Silva P ereira — Reformulação da Ordem Jurídica e
outros temas. Rio, Revista Forense, pp. 32-34.

175
na defesa da liberdade do advogado. Lembrava a autoria da carta
de Timandro enviada em 1944 ao Ministro da Guerra em prol das
liberdades públicas, m ais especialm ente, o notável trabalho feito
como Conselheiro da Ordem em relação à autonomia da institui­
ção, bem como a defesa judiciai, plena de êxito, que empreendeu.
Ao agradecer, Dario de Almeida Magalhães traçou as considerações
sobre a personalidade de Sobral Pinto e em sua alocução traçou
um m agnífico perfil da profiSíSão de advogado, assinalando os
principais aspectos da vida do profissional e dos problemas que
tem a enfrentar.
Em sessão solene realizada no dia 1.° de abril de 1976 o Con­
selho Federal homenageou a memória do Dr. Odilon de Andrade,
Presidente do Conselho Seccional e ex-Presidente do Conselho Fe­
deral por ocasião do centenário de sua morte. Falou em nome da
instituição o Dr. José Ribeiro de Castro Filho traçando os princi­
pais aspectos da vida daquele em inente advogado.
No período de 8 a 11 de agosto de 1976 realizou-se em Forta­
leza, 0 I Congresso Norte-Nordeste dos Advogados, promovido pelo
Conselho Seccional da OAB do Ceará, como parte do programa de
comemorações do Ano XLV da Ordem dos Advogados do Brasil.
Falou na sessão de inauguração do primeiro conclave o Pro­
fessor Caio Mario da Silva Pereira, que se referiu aos três aconte­
cim entos marcantes na vida da Ordem do ano anterior; em novem­
bro de 1975 comemorou-se o transcurso do Ano XLV da instituição
da entidade máxima dos advogados, o segundo acontecim ento foi
a inauguração no Salão de Paz de Haia do busto de Rui Barbosa
e finalm ente no período que se inicia a 11 de agosto de 1976, o
ano do sesqüicentenário dos Cursos Jurídicos. Declarava que:

“O Brasil nasceu sob o signo da ordem jurídica e


por isso a solução dos nossos problemas políticos e sociais
tem guardado fidelidade aos postulados jurídicos. Assim,
sob o regime imperial e sob a República, não obstante
as instabilidad&s ocasionais ou temporárias.
Um (ponto) merece ser destacado no pórtico do
encontro seccional de advogados: o desenvolvimento
social. Muito falta entretanto para que se realize aquilo
que aconselhamos e desejamos como desenvolvimento
social.
O desenvolvimento social brasileiro deverá ser um a
realidade, não poderá ser obra de improvisação, pois que
as regras do jogo do desenvolvimento obedecem à fato-
ração calcada em dados inamovíveis.

18 Ordem dos Advogados do B rasil — Entrega da Medalha Rui Barbosa


ao advogado Dario de Almeida Magalhães em sessão solene realizada
em 19 de dezembro de 1975. (Separata da Revista da Ordem dos
Advogados do Brasil) 66 pp.

176
Os juristas não poderão conformar-se com margina-
lização em que as circunstâncias do desenvolvimento
social coloca a classe dos advogados e sua corporação.”

De 18 a 19 de setembro de 1975 reuniram-se na sede do Con­


selho Federal os Presidentes dos Conselhos Seccionais convocados
para exam e dos assuntos ligados à existência e autonom ia da
Ordem dos Advogados e ao exercício profissional, bem como aos
objetivos da entidade de classe dos advogados.
O tem ário constava dos seguintes tópicos: 1) desvinculação da
OAB do M inistério do Trabalho; 2) prestação de contas ao Tribu­
nal de Contas; 3) revogação do Provimento 27; 4) deliberação do
local da VI Conferência; 5) Exame de Ordem e estágio profissional.
Em relação ao problema dos itens 1 e 2 analisados englobadamente,
foi aprovada sugestão, por proposição do Presidente do Conselho
Seccional do Ceará, considerando Inconveniente do ponto-de-vista
político-constitucional qualquer medida que reduza ou suprima a
independência da Ordem e outorgando poderes ao Presidente do
Conselho Federal para que promova m anifestação de juristas sobre
08 aspectos constitucionais da prestação de contas do Tribunal de
Contas da União.
Foi decidida a realização da VI Conferência n a cidade de Sal­
vador e foi debatido, com exposição do Presidente do Conselho
Seccional de São Paulo, Cid Vieira de Souza, o problema do estágio,
sugerindo-se a revogação da Lei n.° 5.842, com volta à orientação
do Estatuto da Ordem dos Advogados.
A VI Conferência Nacional da Ordem dos Advogados realizou-
se em Salvador, de 17 a 22 de outubro de 1976 b ^ a d a em dois
grandes temas: a independência e autonom ia do advogado e a
reforma do direito positivo brasileiro.
Na sessão solene de instalação, no Teatro Castro Alves, usaria
inicialm ente da palavra o Presidente do Conselho Seccional da
Bahia, Antonio Teodoro do Nascimento, que assinalou:

“Somos todos ouvidos para escutar quantos venham


transm itir a palavra decisiva em tem as jurídicos discuti­
dos e polêmicos, ou até simples tentativas de solução,
fruto de amadurecida reflexão sobre os problemas que
afligem o cidadão desta era absorvente e opressiva na
qual os computadores substituem cada vez m ais a ima-
^ a ç ã o . Neste mundo conturbado por tantos conflitos,
conflitos de cultura, de raças, de religiões, de ideologias,
de credos e facções, conflitos de gerações, conflitos de
sistem as econômicos e de filosofia, neste mundo ator­
m entado em que as competições assum em a cada novo
dia formas inim agináveis, os congressos e as conferên­
cias realizam a missão de revelar formas de processo de

177
coexistência e tolerância para edificação de um inundo
melhor.”

Pelas delegações visitantes, falou o advogado J. B. Viana de


Morais, da delegação de São Paulo, que afirmaria:
“Não, m eus irmãos, o que se pretende, na verdade, é
mais uma vez, já ao longo de sua história o advogado
traaer o contingente de toda a sua operosidade, para
servir a estruturação política e jurídica do país. Pretende
assim, por via de conseqüência, m ais uma vez guiar
o seu povo no encontro e na busca da felicidade; pre­
tende, dessa forma, concorrer, com a sua inteligência e
com 0 seu trabalho, para que os grandes problemas na­
cionais encontrem a sua solução em paz, em ordem,
dentro da lei, com respeito à autoridade, para que se
possa projetar a nossa sociedade toda em um a orla de
tranqüilidade jurídica, de que tanto necessita.”

Encerrando a sessão, falaria o Presidente do Conselho Fe­


deral, Caio Mario da Silva Pereira, que traçaria um painel dos
grandes problemas que a Conferência iria examinar, detendo-se
especialm ente no campo da reforma judiciária, para afirmar:

“A m inha geração foi sacrificada no altar estadono-


vista. Quando atingiu a idade adulta, e chegou mesmo
a aparelhar-se para competir nos prélios políticos, as
liberdades políticas foram suprimidas e seu restabeleci­
m ento custou 0 inevitável garroteamento entre os anti­
gos que forcejavam por ficar e os m ais novos que chega­
ram depois e ambicionavam vencer. Por isso mesmo, eu
receio que a geração jovem, a daqueles que amadurecem
nessa década de 70, sofra a frustração do alijam ento, e
busca dos extremos para a satisfação dos seus anseios.
Por isso mesmo, é necessário quanto antes reestruturar
esta democracia brasileira com as experiências de um
passado e as lições realistas de um mundo contem ­
porâneo.”

0 temário da Conferência foi o seguinte:

1 — Independência e Autonomia da Ordem:

1. A Advocacia em Face do Poder Público.


Sobral Pinto
2. A Advocacia e a Reforma do Poder Judiciário.
Clovis Ramalhete

178
3. Advocacia, Igualdade e Desigualdade na Administração da
Justiça.
Heleno Claudio Fragoso
4. Advocacia e o Mercado de Trabalho.
Rubens Requião
5. Advocacia e Prerrogativas Constitucionais da Magistratura.
Orlando Gomes
6. Imunidades Profissionais e Defesa dos Direitos.
Serrano Neves
7. Advocacia e Previdência Social.
Celso Agrícola Barbi
8. Advocacia e Perspectiva de Reforma Constitucional.
Lourival Vilanova
9. Advocacia e Reforma Penal.
Raul Chaves
10. Advocacia, Ensino Jurídico e a Prática Profissional.
Ruy de Azevedo Sodré
11. Advocacia — o Direito de Recorrer à Justiça.
J. J. Calmon de Passos
12. Advocacia e Relacionamento com a M agistratura e o Minis­
tério Público.
Justino Vasconcellos
13. A Seguridade do Advogado.
João Custódio Rodrigues
14. Distorções no Mercado de Trabalho e Seleção para o E ^ rcício
Profissional.
João Adelino de Almeida Prado Neto
15. Participação do Advogado no Processo de Reforma Insti­
tucional.
Michel Temer e Nelson Schiesari
16. O Estado de Direito e as Garantias Constitucionais da Ma­
gistratura.
Euripedes Carvalho Pim enta
17. O Advogado e a Formação Jurídica.
Ada Pellegrini Grinover

18. A Inviolabilidade do Dom icílio do Advogado.


Dione Prado Stamato

179
19. O Advogado Perante o Princípio da Igualdade.
José Afonso da Silva
20. Dignidade da Advocacia e o Poder Público.
Thomaz Pará Filho
21. Instrum entos Legais de Seleção Profissional do Advogado.
Ruy Homem de Melo Lacerda

II — Temas gerais:

22. Pressupostos e Objetivos da Lei de Sociedades por AçÕes.


Alfredo Lamy Filho
23. Constituição, Democracia e Segurança do Estado.
Paulo Brossard

24. Problemas Atuais do Federalismo.


Josaphat Marinho
25. Variações na Quarta Corda do 1.8.8.
AUomar Baleeiro
26. As Empresas M ultinacionais e a Economia Nacional.
Nehem ias Oueiros
27. O Direito de Petição e o seu Exercício.
René Ariel Dotti
28. Justiça Agrária. Igualdade de Todos em Face da Lei.
J. Mòtta Mala

29. Ombudsman, Instrum ento de Defesa dos Direitos Humanos


nas Democracias Modernas.
João de Oliveira Filho

30. Isenções Fiscais Concedidas a Empresas Públicas Mediante


Lei do Congresso Nacional — A Incidência da Lei Tributária
e a Norma Instituidora de Isenção Subjetiva — Exegese do
Inciso VIII do Art. 3.° da Lei n.° 5.861 de 12.12.1972.
Thereza Helena S. Miranda Lima

31. O Júri e a Reforma do Poder Judiciário.


Ariosvaldo de Campos Pires.

Em relação ao problema da reforma do Poder Judiciário, duas


declarações importantes foram apresentadas: a primeira firmada
pelas delegações do Paraná. Sergipe, Rio de Janeiro, Santa Cata­
rina, Acre, Pará, Maranhão, Paraíba, Goiás, Mato Grosso, Espirito

180
Santo, Alagoas, Brasília, Pernambuco, Rondônia e Ceará, do se­
guinte teor:

“DECIiARAÇAO DE SALVADOR”

Os signatários, representando as diversas Seccionais


da OAB no País, tendo em vista a preconizada reforma
do Poder Judiciário, declaram:
A Nação carece, devido ao seu crescimento, de refor­
mulação substancial na m ecânica do Poder Judiciário,
assegurando^e o acesso presto e seguro dos cidadãos aos
cancelos legais.
À responsabilidade de Juizes e Advogados deve so­
mar-se a independência, em toda a sua perfeição, man­
tido também, o principio federativo.
É essencial à eficácia da reforma a devolução das
prerrogativas da m agistratura e o restabelecimento, em
toda a sua fdenitude, do habeas corpus.

Do m esm o modo, a Comissão designada pelo Presidente da


Ordem dos Advogados do Brasil para formular sugestão a respeito
deu a seguinte nota:

“A Comissão Especial designada pelo Sr. Presidente


da Ordem dos Advogados do Brasil, por deliberação do
seu Egrégio Conselho Federal, encarregada de acompa­
nhar os trâm ites de projeto da denominada Reforma
Judiciária e de coordenar as sugestões das Seccionais e
de outras entidades sobre o assunto, reunida ao ensejo
da 6.® Conferência Nacional da Ordem dos Advogados
do Brasil, com numerosos delegados, rep resen tan te das
Seccionais, e advogados, após debatidos diversos aspectos
da matéria, resolve proclamar o seguinte:
1. Não existirá Reforma Judiciária digna desse no­
me sem a plena restauração do Eistado de Direito, e
especialm ente o restabelecim ento das garantias consti­
tucionais da m agistratura e do habeas corpus;
2. As em endas constitucionais oficiosam ente co­
nhecidas não são suficientes para resolver os problemas
com que se defronta o Poder Judiciário, nem tem a pos­
tura, a profundidade e a perspectiva abrangente de uma
verdadeira Reforma Judiciária;
3. Embora formalmente condenando a metodolo­
gia tecnocrática adotada para a elaboração da Reforma
Judiciária, a Ordem dos Advogados do Brasil deve pros­
seguir examinando o anteprojeto e demais elementos
conhecidos no exercício de sua com petência legal de

181
pugnar pela boa aplicação das leis, pela rápida admi­
nistração da Justiça e pelo aperfeiçoamento das institui­
ções jurídicas;
4. Há inadiável necessidade do debate e do diálogo,
ouvidos os jurisdicionados e especialmente as diversas
classes diretam ente interessadas, particularmente os
advogados representados pela Ordem dos Advogados do
Brasil, sem o que a Reforma Judiciária não correspon­
derá aos anseios da Nação;
5. Os elevados propósitos dos advogados de servi­
rem ao País, com sua contribuição desinteressada, visan­
do o restabelecimento integral das garantias individuais,
o desenvolvimento social e a realização do bem comum,
envolvem irrefragavelmente sua participação no proces­
so da Reforma Judiciária.

Na sessão de encerramento no auditório da Universidade Fe­


deral da Bahia, sob a Presidência do Reitor Augusto da Silveira
Mascarenhas, falaram Paulo Barreto de Araújo, integrante da
delegação da Bahia, pronunciando discurso em que agradeceu o
apoio dispensado pela Universidade e pela Faculdade de Direito,
acolhendo em sua sede todos esses participantes. Em nom e da
Faculdade de Direito falou o Professor Nelson de Souza Sampaio
que salientou serem os debates da Conferência, um trabalho em
prol da ordem jurídica e da preservação e aperfeiçoamento das
instituições políticas necessárias à constituição de um a sociedade
democrática. O Reitor, Professor Augusto Mascarenhas, falando
da satisfação da Universidade de acoüier os advogados brasileiros
mencionou o júbilo pelas hom enagens a Teixeira de Freitas e Rui
Barbosa, filhos do Estado da Bahia que levaram ao m ais alto grau
a ciência jurídica e a m issão do advogado. Encerrando a soleni­
dade, Caio Mario da Silva Pereira m anifestou os agradecimentos
da Ordem dos Advogados às autoridades, especialm ente à Univer­
sidade e à Faculdade de Direito, exaltou a participação dos estu­
dantes na Conferência e concluiu dizendo de sua confiança que
daqueles encontros de juristas poderão se dar benefícios para o país
pela cooperação à reformulação das instituições jurídicas e à
constituição da ordem legal que atenda aos melhores interesses
do pais.
No dia 21 de novembro foi prestada homenagem a Rui Bar­
bosa em solenidade que teve a presença dos representantes do
Conselho Federal e do Conselho Seccional da Baiiia, Caio Mario
da Silva Pereira e Antonio Teodoro do Nascimento Filho, e de
grande número de participantes da Conferência e de autoridades
civis e militares. Na parte externa da cripta que guarda as cinzas
de Rui Barbosa no Fórum, que tem o seu nome, foi colocada uma
placa de bronze com a legenda: “Dos advogados brasileiros ao seu

182
patrono. Salvador, outubro de 1976, Ano 45 da OAB”. No ato pro­
nunciou discurso Francisco Lacerda, Presidente do Conselho Sec­
cional do Paraná.
No dia 23 o núcleo participante da Conferência, composto do
Presidente do Conselho Federal, do Presidente do Conselho Seccio­
nal da Bahia e o Professor Haroldo Valladão, além do grupo de
estudantes da Universidade Federal da Bahia, foi à cidade de
Cachoeira. No recinto do foro da cidade que foi a casa em que
nasceu Augusto Teixeira de Freitas, um dos consolidadores do
direito privado brasileiro, inaugurou-se um a placa de bronze com
as palavras do jurista argentino Guilherme Alende. Discursaram
no ato o Juiz de Direito da Comarca, José Joaquim de Carvalho
Filho, o Prefeito Edson Rubens Ivo de Santana, e o Professor
Haroldo Valladão, que destacou aspectos da vida e da obra de
Teixeira de Freitas.
Em 1976 a Ordem veio a se pronunciar sobre o projeto da Re­
forma do Poder Judiciário encam inhado ao Congresso pelo Exe­
cutivo. Os trabalhos realizados no âmbito desse Poder foram
inteiram ente sonegados ao conhecim ento da classe, motivo pelo
qual a Comissão Especial, indicada pelo Presidente Caio Mario
da Silva Pereira pela Resolução de n.° 501, constituída dos Con­
selheiros J. B. Viana de Morais e José Eduardo Santos Neves, se
pronunciou com veemência sobre a matéria:

“A ausência da participação do Povo, das escolas e


associações de classe, de magistrados, de membros do
Ministério Público, dos advogados, veio, necessariam ente
influir para que o projeto se constituísse em peça de
lim itadas proporções, sem possibilidade de alcançar os
pontos m ais sensíveis das deficiências do aparelho
judiciário.
Nenhuma solicitação foi dirigida à Ordem dos Advo­
gados, nenhum pedido foi formulado, nenhum a oportu­
nidade lhe foi oferecida para que pudesse o advogado
trazer o precioso contingente de sua experiência e de
seus conhecim entos.
Assim, o segredo que cercou a sua elaboração, a au­
sência de debates em relação às suas proposições, a falta
de publicidade e difusão de seu texto, impedindo a mani­
festação objetiva de todos aqueles que tinham autorida­
de para opinar, foram fatos que contribuíram para
transformá-lo num a peça de alcance lim itado, sem a
profundidade ou extensão desejável. Daí a compreensiva
decepção dos advogados.”
Os Anais da VI Conferência foram publicados sob o título de Anais
da VI Conferência Nacional da Ordem dos Advogados do Brasil —.
Salvador — Bahia, 17 a 22 de outubro de 1976, 526 pp.

183
Enviado o projeto para o Congresso no dia 16 de novembro de
1976, o prazo de apresentação de em endas vencia-se em 1 ° de
dezembro, prazo extrem am ente exíguo para o exam e detalhado do
projeto. Por isso, as sugestões da Ordem dos Advogados feitas com
celeridade, não puderam furtar-se dos ônus dessa pressa. Entre­
tanto, representaram contribuições muito válidas que infelizm ente
não foram levadas em consideração pelo Congresso Nacional.
As propostas consubstanciadas entre novas sugestões podem
ser assim resumidas:

“1 — Criação do Tribunal Superior de Justiça. 2 —


Possibilidade da criação de novos Tribunais Federais de
Recursos, com a transformação do atual em Tribunal
Superior de Justiça Federal. 3 — M anutenção dos Til-
bunais de Alçada com a organização e competência re­
gulada em lei e a possibilidade de seus desdobramentos
em tribunais regionais. 4 — Criação do Tribunal e Juízo
de Menores. 5 — Processo sumarísimo com julgam ento
oral nas causas de pequeno valor e nas contravenções e
crimes de pequena gravidade. 6 — Criação de juizes de
circuito. 7 — D ignificação das funções de magistrado,
inclusive com proventos com patíveis e alterações do sis­
tem a de suas responsabilidades. 8 — Proteção e tutela
do Supremo Tribunal Federal, através de recurso pró­
prio, quando ocorrer a violação dos direitos especificados
na Declaração Universal dos Direitos do Homem apro­
vado na Assembléia Geral das Nações Unidas.

Em 1977 0 Presidente Caio Mario da Silva Pereira promoveu


a inauguração realizada em 25 de janeiro no Palácio da Paz, em
Haia, onde se reúne a Corte Internacional de Justiça, do busto de
Rui Barbosa, colocado no saguão nobre daquela Casa entre os
maiores juristas e pacifistas do mundo. Constituiu-se então uma
Comissão composta do Presidente Caio Mario da Silva Pereira, do
Dr. Manuel Gonçalves Ferreira Filho, Vice-Governador do Estado
de São Paulo, e representante da Faculdade de Direito da Univer­
sidade de São Paulo, do Professor M anuel Franchini Neto, repre­
sentante da Faculdade de Direito da Universidade Federal do Rio
de Janeiro e do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, do Pro­
fessor Nehemias Gueiros, representante das Faculdades de Direito
do Recife, de Olinda e de Caruaru, do Dr. Gualter Godinho, Presi­
dente do Tribunal de Justiça Militar de São Paulo e representante
da Academia Paulista de Direito, do Instituto Genealógico Brasi­
leiro e do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo, do Pro-

o parecer da Comissão foi publicado n a plaquete Reforma do Poder


Judiciário — Sugestões. Conselho Federal da Ordem dos Advogados
do Brasil, s.d., 32 pp.

184
fessor Vandick Londres da Nobrega, Diretor do Ct>légio Pedro II e
professor da Faculdade de Direito da Universidade do Rio de Ja­
neiro, do Conselheiro Spinola de Andrade, Presidente e represen­
tante do Tribunal de Contas da Bahia, e Dr. Henrique Sergio
Gregori, Presidente da Xerox do Brasil, a quem coube a responsa­
bilidade de todas as providências executivas, tais como a confecção
do busto, sua remessa para Haia, e D. Maria Stela Rui Barbosa
Batista Pereira, neta de Rui Barbosa. Na cerimônia, o Presidente
da OAB pronunciou discurso salientando a atuação de Rui Barbo­
sa como advogado defensor dos direitos da pessoa hum ana e como
Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário do Brasil na II
Conferência Internacional de Haia (1907), ocasião em que susten­
tou o princípio da igualdade jurídica das nações.
Compareceram à solenidade todo o corpo diplomático latino-
americano convidado, o Elnbaixador do Brasil e membros da Em­
baixada, o bâtonnier da Ordem dos Advogados da Holanda, nume­
rosos advogados e professores, além do Juiz Manfred Lachts, ex-
Presidente da Corte Internacional de Justiça, na qualidade de
representante da mesma e o Embaixador Van Roijen, Presidente
do “Board of Directors da Carnegie Foundation” a que está subor­
dinado o Palácio da Paz.
Nos dias 14 e 15 de março de 1977 realizou-se na cidade do
Rio de Janeiro m ais um a reunião dos Presidentes dos Conselhos
Seccionais da Ordem dos Advogados. O tem ário constou do exame
dos seguintes temas: estágio e recíproco conhecim ento dos presi­
dentes das seccionais. Em relação ao problema do estágio do Exame
da Ordem, discutiu-se a reforma sofrida nos currículos das facul­
dades de Direito que deixaram quase todos de se reger pelo
sistem a seriado, passando para o sistem a de créditos. O Conselho
Federal, por unanimidade, aprovou voto do Conselheiro Oscar Dias
Corrêa, do seguinte teor:

1) a fixação dos períodos de prestação do estágio


que seriam: (a) dos dois últim os anos letivos do curso
de Direito em regime seriado; (b) os quatro últim os pe­
ríodos letivos sem estrais para os cursos que tenham ado­
tado o regime de crédito. 2) a obrigatoriedade de terem
já os alunos obtido 80% dos créditos, na hipótese da
letra & do item anterior; 3) terem cursado ou estarem
cursando quando em início de estágio Direito Processual
Civil e Penal.

Discute-se, em seguida, o problema das linhas gerais que os


regimentos das seções deveriam apresentar, a fim de não terem
1» o Conselho Federal editou um a plaquete Rui Barbosa — Dois Mo­
mentos na Haia — 1977 n a qual estão reunidos os elementos prin­
cipais d a ref€rida inauguração.

185
pontos de divergência como vem ocorrendo no momento. Após
amplo estudo da matéria, o Sr. Presidente declara que o que se
pretende é traçar normas m ínim as, entendendo que pelas m anifes­
tações do plenário havia acordo com a sugestão.
Em 1.0 de abril de 1977, realiziou-se eleição para a Diretoria
do Conselho Federal no biênio 1977/1979. Duas chapas se apresen­
taram, uma encabeçada por Raymundo Faoro e outra por Josaphat
Marinho. No primeiro escrutínio, ocorreu empate, sendo afinal no
segundo escrutínio eleita a chapa de Raymundo Faoro, com uma
diferença de dois votos, composta ainda de Vice-Presidente, Joa­
quim Gomes Norões e Souza, Secretário-Geral, Manoel Martins dos
Reis, Subsecretário-Geral Raul de Souza Silveira, Tesoureiro, Fer­
nando José Basadona de Almeida. Nesse mesmo dia, em sessão
solene, foi a nova diretoria investida do exercício do seu mandato,
pronunciando discursas Caio Mario da Silva Pereira e o novo Pre­
sidente Raymundo Faoro. Dando conta das principais atividades
do seu mandato e da situação brasileira, Caio Mario da Silva Pe­
reira assinalava a imparcialidade com que presidiu aquelas eleições
tão renhidas, reconhecida am plam ente aliás pelos dois candidatos,
e saudou o novo Presidente, declarando:

“Não é a ele, portanto que me dirijo com um apelo,


partindo do fundo do m eu coração, em que eu exprimo
com a lealdade que sempre foi o apanágio de m inha vida,
e com as preocupações pelo destino de nossa corporação
que m anifesto como cidadão e como advogado. Volto-me
para os advogados do Brasil inteiro, para os Presidentes
dos Conselhos Seccionais, para os membros do Conselho
Federal, concitando-os a enxergar no Presidente que
agora assum e a presidência, não o Presidente de uma
facção, não o Presidente de um grupo, não o Presidente
de um a parcela, m as como Presidente de toda a classe,
o Presidente de todos os advogados, o Presidente da
nossa querida Ordem dos Advogados”.

O novo Presidente Raymundo Faoro referiu-se às suas ativida­


des de advogado, declarando:

“O patrão — o patrono — é o advogado, pronto a


defender-se, como dever primeiro, da prepotência do seu
cliente ainda que qualificado como órgão da adminis­
tração pública.”

E acrescentaria:

“No advogado, em germe no bacharel, existe um


compromisso maior cujo cumprimento esta Casa não

186
teria por que sobreviver. No seu ponto de honra, junto ao
fam into de justiça e arbitrariamente ofendido, sua iden­
tidade não se qualifica no patrocínio de interesses pes­
soais. O advogado quando atua não o faz em nome
próprio, para seu proveito e prestígio: ele está a serviço
da ordem jurídica. A causa não é dele.”

E m ais adiante:

“A defesa da ordem jurídica, obrigatório encargo


de um advogado, não supõe o legalism o form al Ao re­
clamar a ordem jurídica, não se lim ita ele ao fetichismo
da ordem jurídica constituída: na defesa da lei está im ­
plícita a crítica à lei, na defesa da Constituição se com­
preende a crítica à Constituição. O estado de direito não
está todo, nem na sua substância, no conjunto das leis,
da Constituição, e das medidas do poder. A lei, a lei
ordinária, a lei m agna, valem porque são legítim as, por­
que respondem a vontade do povo na sua soberania
necessária. Para realizá-la, para que ela seja a verdade
de todas as horas, na atividade diária e nos prédios fo­
renses, só um caminho é possível, a estrada dp m il
bifurcações, de m il desvios, de m il enganos, a estrada
real da liberdade. Liberdade com todos os adjetivos, sem
nenhum adjetivo que a tolha, na palavra, no livro, e na
imprensa, no tribunal e no lar, para que a face viril do
homem se afirme, se eleve e se dignifique.”

Raymundo Faoro fez da defesa do retom o ao Estado de Direito


o ponto central da atuação jurídico-política da OAB em sua gestão,
dando continuidade ao combate ao arbítrio já desenvolvido por
seus predecessores.
As reivindicações da Ordem polarizaram-se em tom o da res­
tauração do habeas corpus, das garantias plenas da magistratura
e do respeito aos direitos hum anos. Para Raymundo Faoro, a
ênfase concedida à pregação j» lo Estado de Direito pressupunha
0 Estado de Direito Democrático, o qual significava a ampliação
substancial do conceito clássico do direito para real ampliação da
cidadania e da participação, incluindo a discussão de direitos polí­
ticos e sociais, como o direito de greve, de associação livre, a liber­
dade sndical, etc. Em pouco tempo a Ordem se transformou em
uma das instituições da sociedade civil m ais comprometidas com
0 processo de abertura iniciado pelo Presidente Geisel, sem entre­
tanto abdicar de sua independência e autonomia. Nesse sentido,
a participação do Presidente da OAB, como interlocutor privile­
giado do Senador Petrônio Portela (no que se convencionou cha­
mar de “Missão Portela”) , a partir de outubro de 1977, foi decisiva

187
para incluir as reivindicações dos advogados nas propostas libera-
lizantes do governo. 20
A discussão jurídico-política da OAB incluía 0 problema da
anistia ampla e irrestrita (já em inícios de 1978 Raymundo Faoro
se opõe às propostas de revisão dos processos) e a revogação da
Lei de Segurança Nacional (a exigência do habeas corpus impfli-
caria, necessariamente, em ampla revisão da L8N ). 21 Quanto ao
debate político nacional, o Presidente da OAB se m anifesta desde
0 início de sua gestão favorável à convocação de um a Assembléia
Nacional Constituinte, precedida da abolição do AI-5.
Do ponto-de-vista dos direitos hum anos,^2 ^ atuação da Ordem,
na gestão de Raymundo Faoro destacou-se na denúncia de maus-

20 Escrevendo sobre a missão Portela, diria Raym undo Faoro que “em
term os políticos, como articulação e como processo, esse resultado que
m arca a agonia do arbítrio, foi obtido pela “Missão P ortela”, nome
que se convencionou d a r ao diálogo do Presidente do Congresso com
alguns setores d a sociedade civil, entre setem bro de 77 e meados de
78, particularm ente com a OAB, a ABI e CNBB — advogados, jo rn a ­
listas e bispos, síntese, n a verdade, m utilada do povo brasileiro. A
fisionomia m ais duram ente au to ritária d a Revolução recebeu, nesse
momento, 0 prim eiro golpe do Ato Institucional n.° 5. Usto É, Depoi­
m ento 2-4-1980).
Nesse depoimento Raym undo Faoro descreve seus encontros com
0 Senador Petrônio Portela e a troca de ofícios com ele realizada.
No prim eiro encontro realizado em 3 de outubro de 1977 foi expedida
a seguinte n o ta;
“M antiveram encontro, n a tarde de hoje, 0 Senador Petrônio
Portela, presidente do Congresso Nacional, e o Sr. Raymundo
Faoro, presidente da Ordem dos Advogados do Brasil, por
iniciativa do prim eiro, acerca dos problem as institucionais do
País. O Senador Petrônio P ortela expôs as idéias gerais para
0 aperfeiçoam ento das instituições.
O Sr. Raym undo Faoro m anifestou sua confiança nesse
elevado objetivo, fixando os princípios d a OAB, definidos antes
de sua gestão n a presidência da entidade, que visam à ple­
nitude do Estado de Direito. Ficou acertado que haverá, no
futuro, troca de impressões, idéias e sugestões, p a ra a obra
comum de interesse do povo brasileiro.
Rio de Janeiro, 3 de outubro de 1977”.
21 Ao se divulgar em outubro de 1968 o novo projeto da Lei de Segurança
Nacional sobre ele se m anifestou o Presidente Raymundo Faoro, mos­
trando alguns dos seus pontos positivos, m as afirm ando que o projeto
não aproveitava as sugestões oferecidas pela Ordem (mesmo porque
visavam fundam entalm ente o próprio conceito de segurança n ac io n al).
22 Por ocasião da visita do Presidente Jim my C arter ao Brasil quis ele
reunir-se em 31 de m arço de 1968 no Rio de Janeiro com um grupo
de pessoas representativas da sociedade civil brasileira, sendo esco­
lhidas seis figuras, entre elas o Presidente Raymundo Faoro. A con­
versa em grande p arte concentrou-se no tem a dos direitos hum anos,
tendo o Presidente Raymundo Faoro m anifestado a m elhoria havida
ultim am ente no B rasil n a m atéria, m uito embora ainda persistissem
as m edidas excepcionais pelas quais qualquer cidadão estava à mercê
d a autoridade pública.

IRR
tratos aos presos políticos, devidam ente documentados através de
declarações de advogados; pela denúncia do caráter elitista no
acesso à Justiça, apontando a violência e o arbítrio da polícia
contra presos comuns ou apenas suspeitos, quando pertencentes
às camadas m ais desfavorecidas da população, e defendendo as
prerrogativas do Judiciário, inclusive na fase de instrução dos
inquéritos. O acompanham ento dos fatos pertinentes ao seqüestro
do casal de uruguaios, Universindo Dias e Lilian Celiberti em Porto
Alegre, foi feito pessoalm ente por Raymundo Faoro, em gestão
junto aos governos estaduais e federal, assim como ao Ministério
da Justiça (fins de 78, começo de 79).
Raymundo Faoro caracterizou sua gestão também pelo em pe­
nho em aproximar os advogados dos cientistas sociais; nesse senti­
do é expressiva a participação de sociólogos e cientistas políticos
nos debates da Conferência de Curitiba, especialm ente na discussão
da Mesa Redonda sobre Estado de Direito, com a presença dos
cientistas sociais.
Mal empossado o Presidente Raymundo Faoro, o país é sur­
preendido com as medidas excepcionais da decretação do recesso
do Congresso Nacional, e da edição das Emendas á n stitu c io n a is
n.°s 7 e 8 que alteraram a Constituição, com a introdução de novos
dispositivos. A m atéria foi submetida ao Conselho Federal sendo
aprovado parecer da Comissão composta dos Conselheiros Marcos
Heusi Neto — relator, e Sergio Bermudes, na sessão de 19 de
abril de 1977. Diz a nota da Comissão Especial:

“Impõe-se aos advogados brasileiros, por força da


lei, da natureza de sua missão social e das suas tradi­
ções, defender a ordem jurídica, a Constituição da Repú­
blica e as instituições democráticas.
No cumprimento desse dever, a Ordem dos Advo­
gados do Brasil tem, firmem ente denunciado à Nação a
crescente desfiguração do Estado de Direito através de
atos de força, que amesquinham as instituições na­
cionais.
Nenhum lim ite se auto-impôs ao chamado Poder
Revolucionário. Dispensa-se o Congresso Nacional da
função de legislar. Procede-se à reforma do Poder Judi­
ciário, sem se ouvirem os advogados, que a própria lei
reconhece indispensável à adm inistração da Justiça. As
decisões m ais graves são tom adas por pequeno grupo de
pessoas, ungidas pela confiança dos detentores do i»der.
Em busca de uma legitimidade, já agora inexistente, in­
vocam-se os altos interesses da Nação, exatam ente para
contrariá-los.
Não se definiram até hoje, decorrida m ais de uma
década, os lindes de atuação do Poder Revolucionário,

189
dimanando desse vazio institucional providências de puro
arbítrio, praticadas ao sabor de conveniências de
momento.
Tal realidade é m antida a partir de um arcabouço
puramente formal, arquitetado para conciliar o incon­
ciliável .
A Carta Política da Nação, que já nos foi outorgada
por uma Junta Militar, nos idos de 1969, permanece
obrigada a coexistir com atos de exceção de maior hie­
rarquia, com ela incompatíveis.
Não se pode acolher, no modelo político im posto à
Nação, o m ais leve traço de compromissos democráticos.
O Brasil vive, n a verdade, um período obscurantista
da sua história constitucional, caracterizado por uma
crescente distonia entre os atos do Governo e a vontade
da Nação, isolada na planície dos deserdados do poder.
Essa ruptura, típica dos regimes ditatoriais, com­
promete a própria legitim idade da ação governamental,
cujos atos se exprimem como m eras imposições de força.
E assim por entenderem, os advogados brasileiros
repudiam o recesso imposto ao Congresso Nacional e
protestam contra a outorga da reforma do Poder Judi­
ciário, recusada pelo povo brasileiro na livre m anifesta­
ção de seus representantes.
Conquanto reconheça a necessidade de reformar o
Judiciário, o Conselho Federal da Ordem dos Advogados
do Brasil já se havia pronunciado contrariamente ao pro­
jeto, que se converteu n a Emenda Constitucional n.° 7.
Entendem os advogados brasileiros que não se poderia
cogitar da reforma do Poder Judiciário, sem primeiro se
restituírem à m agistratura as garantias constitucionais
de que está privada e adm itir-se a concessão irrestrita de
habeas corpus.
Entendam ainda que já é tem po de se retomar o
cam inho da plenitude democrática, abandonando os
desvios da exceção, que inquietam e intranqüilizam o
país.
Ao reafirmarem a sua crença n a necessidade de
reimplantação do Estado de Direito, os advogados brasi­
leiros, conscientes de suas responsabilidades perante a
Nação, insistem na revogação im ediata do Ato Institu ­
cional n.o 5 e num a am pla reformulação constitucional,
a ser empreendida por assembléia constituinte, integra­
da de representantes especialm ente eleitos pelo voto
popular, direto e secreto.”

23 R evista da OAB, vol. 21, p. 146.

190
De 12 a 14 de junho de 1977 realizou-se mais um a reunião de
Presidentes dos Conselhos Seccionais da Ordem dos Advogados.
Do temário constavam as relações dos Conselhos Seccionais e do
Conselho Federal com diversos órgãos e autoridades, os direitos
humanos e o posicionamento da OAB; o censo dos advogados.
Inaugurando a sessão, declarou o Presidente Raymundo Faoro:

“Os Conselhos Seccionais exercem, em setores capi­


tais, atribuições territorialm ente circunscritas que com­
põem em expressão autônoma a vontade e o pensamento
da Ordem dos Advogados a que só o Conselho Fedéral
confere o seio da unidade — unidade que supera e aglu­
tina divergências e contradições locais. Os Conselhos
Seccionais devem, em todos os assuntos, expressar suas
opiniões, buscando fielm ente traduzir a palavra dos ad­
vogados, para qualificar a voz final do órgão supremo,
que, por via m aioritária e nem sempre unânim e, expres­
sará um ideário, o ideário da classe como um todo. Seria
grave divisionismo se, por extremado amor à autonomia,
alim entássem os o particularismo regional, as satrapias
em lugar das lideranças, sem que tangesse sobre as
dissenções, um só rumo, um cam inho sem atalhos, com
objetivos de alcance identificado. No debate do dissídio
há de buscar-se o consenso para que o dissídio e o debate
não se tum ultuem nas dissidências em regra apenas a
feira das vaidades do amor efêmero à publicidade.”

Referindo-se à Declaração de Curitiba, de cinco anos atrás,


declarava:

“Há um dado novo: nos dias que correm a plenitude


do habeas corpus será o meio único de restaurar o pres­
tígio e o respeito à autoridade pública, que, com a m e­
dida, espancará a falsa e nociva atmosfera de suspeição
que a envolve. Ela, a autoridade, na honradez de seus
agentes, quer emancipar-se de conjeturas que a depri­
mem, para exibir, ao sol da opinião pública, os altos
serviços que presta à comunidade sem as lendas e rumo­
res que toldam seu merecido bom nom e.”
E terminava:
“Para a empresa a que nos devemos propor, por im­
perativo de comando da nossa classe, a unidade da Or­
dem dos Advogados é requisito prévio. Há de haver,
vencidas as naturais divergências, um só pensamento,
um a só ação em todas as comarcas e em todas as
consciências.”

191
Como resultado final, foi então aprovada a Declaração de São
Paulo:

“O Presidente do Conselho Federal e os Presidentes


dos Conselhos Seccionais da Ordem dos Advogados do
Brasil, em deliberação unânim e na reunião realizada em
São Paulo, preocupados com a situação da ordem jurí­
dica do país, cujo aprimoramento lhes cabe promover,
reafirmaram sua histórica vocação democrática, que
reflete a identidade de propósitos dos advogados brasi­
leiros, Reiteram que a Declaração de Curitiba, de 1972,
fundam ental definição de princípios dos advogados,
ainda hoje constitui a irrealizada preocupação da cons­
ciência jurídica nacional. Volvidos cinco anos daquela
declaração, a consciência jurídica do país — que os
advogados encarnam — exige que novas reivindicações,
para salvaguarda das liberdades públicas, sejam formu­
ladas em benefício da dignidade do povo e do respeito
ao princípio da autoridade. Graças às parciais franquias
da imprensa hoje reinantes, tom ou-se possível a realiza­
ção de novas conquistas, sob a fiança dos advogados,
reconhecido que a maturidade do povo brasileiro dará
m ais uma prova, na paz e no repúdio aos radicalismos,
da sua histórica aptidão de viver dentro da ordem de­
mocrática, legitim am ente instaurada. Restabelecido o
habeas corpus em sua integridade, devolvidas ao Poder
Judiciário as garantias constitucionais, exauridos os
atos de exceção, haverá a indispensável condição para a
libertação do medo, como o único processo capaz de
assegurar, efetivam ente, o respeito aos direitos humanos.
Mediante essas inadiáveis conquistas, que a superior
dedicação dos dirigentes à causa pública há de reconhe­
cer, chegar-se-á ao estado de direito, por via de delibe­
ração livre, soberana e pacífica do povo tyasileiro. O
Estado há de reconciliar-se com a sociedade civil para o
destino de grandeza que todos os cidadãos se propõem
a realizar, no ordenamento de um país para o seu bem-
estar, felicidade e segurança, congregados sob um pacto
político, que lhes expresse a vontade e as aspirações e
lhes assegure a participação na vida pública.”

Por ocasião do sesquicentenárlo dos cursos jurídicos, em 11


de agosto de 1977 a Ordem dos Advogados do Brasil, o Instituto
dos Advogados Brasileiros e o Instituto Histórico e Geográfico Bra­
sileiro realizaram sessão solene conjunta, no auditório do Instituto
Histórico. A sessão foi presidida por Pedro Calmon, Presidente do
Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, com a presença de

192
Eduardo Seabra Fagundes, Presidente do lAB e Joaquim Gomes
Norões e Souza, representante do Conselho Federal da OAB, pois
o Presidente do Conselho Federal da OAB ausentara-se do Rio para
participar de comemorações no Rio Grande do Sul. Falou em pri­
meiro lugar Haroldo Valladão, antigo Presidente do lAB e da OAB,
em nome do Instituto Histórico e do Instituto dos Advogados, que
tratou da importância do feito e em seguida José Bernardo Cabral,
orador oficial do Instituto, que tratou das comemorações e da
crise no ensino jurídico com as implicações sobre a cultura
nacional.
Na sessão plenária de 30 de agosto de 1977 foi lançado o livro
do jurista Prado Kelly, antigo Presidente do Conselho Federal da
OAB, sob o título A Mi^&ão do Advogado. Abrindo a sessão o Pre­
sidente Raymundo Faoro destacou m ais uma contribuição valiosa
que Prado Kelly prestava à sua classe e em seguida deu a palavra
ao antigo Presidente Caio Mario da Silva Pereira, que saudou o
homenageado, expondo os principais traços da sua personalidade
e a importância do livro. Prado Kelly agradeceu a saudação, acen­
tuando que aquele era um dos momentos m ais felizes da sua vida,
visto como o restituía ao convívio de um a classe, a que sempre
se honrou de pertencer, e a que deu o melhor da sua contribuição
quando do exercício das funções honrosas que lhe foram atribuídas
pela confiança dos advogados. O livro em co-edição da Ordem dos
Advogadas e da Editora Forense, contém um a série de discursos
de Prado Kelly no desempenho das funções da direção da Ordem
dos Advogadas Brasileiros e do Instituto dos Advogados Brasileiros.
A Ordem comemorou em outubro de 1977 o centenário de Raul
Fernandes, seu ex-Presidente, realizando sessão no dia 24 de outu­
bro, na qual foi orador o ftofe&sor Haroldo Valladão. Declarou
o Professor Haroldo Valladão que Raul Fernandes, além de um
grande advogado, presidiu a Ordem dos Advogados num a época
trágica da vida nacional de 1944 a 1946, quando ia m ais acesa a
cam panha para derrubar o Estado Novo, cam panha centralizada
em verdade na OAB e no Instituto dos Advogados Brasileiros.
Antes de encerrar a sessão Raymundo Faoro comunicou ha­
ver instituído com a colaboração da Companhia Docas de Santos,
da qual o homenageado fora advogado, o Prêmio Raul Fernandes
para monografias colhidas em concurso versando o tem a “Rumos
Atuais do Direito Constitucional”.
De 12 a 14 de outubro de 1977 reuniu-se em Pernambuco a
IV Reunião dos Presidentes dos Conselhos Seccionais da Ordem dos
Advogados do Brasil para o exame dos tem as Estágio e Exame de
Ordem, previdência social dos advogados e reforma judiciária. Na
sessão inaugural foi entregue a Medalha Rui Barbosa a Miguel
Seabra Fagundes. A entrega se de a no Mosteiro de São Bento, em
Olinda, onde se inaugurou o curso jurídico de Olinda em 1828,
uma vez que a direção da Faculdade de Direito do Recife recusou-

193
se a ceder o local. Abriu os trabalhos o Presidente Raymundo
Faoro que disse referindo-se ao bacharel:
“Habilitado pela escolha, pela prática profissional
ao ajustam ento de extremados contrastes guardou-se do
cultivo de ressentim entos e rancores. Mal compreendido,
acoimado de auxiliar os seus clientes, desviados do curso
da lei, ou de comparsas dos agressores da ordem, tem a
sua galeria de vítim as ao longo do tempo. Inspirado pela
concórdia a que vota seu ofício, confiando no entendi­
mento, esqueceu as feridas novas e velhas, para, com
grandeza, trocar o passado pelo futuro, expondo-se,
ainda uma vez, a valorizar a paz na obra de construção
da democracia. Para o debate, traz o advogado idéias^ e
não reivindicações, princípios e não exigências, a razão
sem o passionalismo de ódios e de intransigências, osten­
sivas ou dissimuladas, certo de que o ódio alim enta a
labareda de ódios e a intransigência provoca intransi­
gências. Nada pede para si, para os seus interesses e
para a sua classe, sequer o reconhecimento dos serviços
que prestou, porque os prestou no estrito cumprimento
do dever legal.”

De Miguel Seabra Fagundes diria o Professor Nelson Saldanha,


da Universidade de Pernambuco:
“O nome Seabra Fagundes constituiu desde cedo
para com os m eus companheiros de faculdade um lum i­
noso marco de referência. Seu itinerário, um admirável
percurso de coerência e produtividade, assinala a elabo­
ração de livros e artigos, como desempenho de altos
misteres, incluindo a Presidência da Ordem dos Advoga­
dos do Brasil, a do Instituto dos Advogados e o Ministério
da Justiça. Assinale-se, todavia, que jamais se afastou
propriamente da profissão de ad vo^ d o, conseguindo
compaginá-la com os exercícios adm inistrativos os mais
absorventes e com uma atividade literária constante e
severa.”

Em resposta Miguel Seabra Fagundes, depois de relembrar as


suas ligações com Olinda e Recife e o papel de Rui Barbosa, teceu
comentários sobre a missão do advogado, dizendo:

“No advogado, pela sua preparação universitária,


— o estudo do Direito nos seus vários ramos e pela des-
tinação de sua atividade profissional — a reivindicação
da justiça pela aplicação do direito — associam-se num a
associação necessária, o profissional e o cidadão. Porque o

194
profissional quando atua no interesse do cliente, ainda
que atuando in casu está virtualmente- atuando na defe­
sa da ordem jurídica, que exam ina o interesse de todas
no reconhecim ento a cada um do que de cada um é,
pela conformação seja de particulares, seja dos agentes
do poder público, às lim itações indispensáveis ao equi­
líbrio no convívio social. E porque assim amplia seu
engajam ento, o advogado de vocação, é um profissional
voltado também para os reflexos da ação do Eístado sobre
a coletividade, pois que nessa ação se m anifestam o zelo
ou 0 desejo pela ordem jurídica, o que vai diaer, em con­
creto e em potencial pelos direitos dos jurisdicionados
do poder público.”

Na sessão de encerramento, foi aprovada pela unanimidade


dos Presidentes presentes a “Declaração de Recife”, do seguinte
teor:

“A Ordem dos Advogados do Brasil, pelos seus diri­


gentes, ora reunidos na cidade de Recife, reafirma, em
nome dos advogados brasileiros, os princípios que man­
tém sua unidade e coerência, definidos nas Declarações
de Curitiba e São Paulo. Em defesa da ordem jurícüca,
sustenta que só o Estado de Direito, que dignifique a
vontade dos cidadãos, livremente expressada por seus
representantes legais, assegura a paz e a estabilidade do
país. Consciente da realidade nacional, entende a Ordem
dos Advogados ser inadiável restituir à Nação as garan­
tias das liberdades públicas, fundadas no direito de
participação social e política, sob o amparo do habeas
corpxis, em sua plenitude e dos predicam entos constitu­
cionais da m agistratura, como primeiro passo ao aper­
feiçoam ento das instituições. Apelam os advogados,
sobretudo quando os dissídios põem em risco o convívio
social, para o consenso traduzido na união de todos em
tom o dos princípios democráticos, que fazem a grandeza
do Brasil. Sensíveis como sempre, ao entendim ento e ao
debate, m anifestam o urgente e profundo anseio de re­
formas, que ponham termo aos excepcionais e transitó­
rios instrum entos que consagram a supremacia das
providências da força sobre o direito, para que se esta­
beleça 0 primado da lei, votada e consentida pelo povo
brasileiro, fonte legítim a do poder.”

Em 14 de fevereiro de 1978, o Diário Oficial da TXnião public*


cava longo parecer do Consultor-Geral da República, Dr. Luiz
24 R evista da OAB, v ol. 23, p . 472.

195
Rafael Mayer, em itido em 9 de maio de 1975, e aprovado em 21
de junho de 1975 pelo Sr. Presidente da República, qiue punha
afinal, termo à longa controvérsia sobre a exata posição da Ordem
dos Advogados do Brasil. Luiz Rafael Mayer, ex-Conselheiro Fe­
deral da Ordem dos Advogados, como representante do Estado de
Pernambuco, e posteriormente elevado ètô funções de M inistro do
Supremo Tribunal Federal, examinou a questão com rara profi­
ciência, deslindando, afinal, todas as dúvidas que pudessem existir
com relação à matéria.
O parecer tem a seguinte em enta:

“O preceito constante do parágrafo único do Artigo


139 da Lei n.° 4.215 de 1963, excluindo a OAB da Inci­
dência das “disposições legais referentes às autarquias
ou entidades paraestatais”, de caráter especial, não foi
revogado, expressa ou im plicitam ente, pelas normas ge­
néricas posteriores, quer do Decreto-lei n.® 200 de 1967,
quer do Decreto-lei n.° 968 de 1969 (Art. 2 °, § 2.°, da Lei
de Introdução ao Código C ivil). Em vigor a norma legal
específica, mostra-se juridicamente insubsistente o De­
creto n.o 74.266/74, enquanto vincula a entidade ao Mi­
nistério do Trabalho para efeito da supervisão mi­
nisterial.”

O parecer inicia fazendo um rápido exame da questão, para


a seguir, transcrever os principais trechos dos pareceres dos con­
sultores jurídicos que se pronunciaram sobre a matéria. Em pri­
meiro lugar, o do Consultor do M inistério do Trabalho, Dr. Marcelo
Pim entel:

“5. Como se vê, a situação que se criou com o


Decreto-lei n.° 968/69 altera o statu s anterior da Ordem
dos Advogados do Brasil, que passa a ser supervisionada
pelo MTPS.
As disposições do Decreto-lei n.° 968/69 são de cará­
ter genérico, e, m uito embora a Ordem dos Advogados
tenha legislação própria que lhe assegurava autonomia,
conforme acentuam os no nosso Parecer n.® 157/68, está
ela agora abrangida pela disposição citada.
6. Enquadra-se a Ordem dos Advogados do Brasil
na conceituação de entidade criada por lei com atribui­
ções de fiscalização do exercício de profissão liberal.
Assim, está a partir da vigência do Decreto-lei n.° 968/69,
sujeita àquele controle e, “restrita a verificação da
efetiva realira^ão dos correspondentes objetivos legais de
interesse público”, por força do disposto no parágrafo
único do decreto-lei referido.”

196
Esse parecer finalizava pedindo o encam inham ento da questão
ao Consultor-Geral da República que se pronunciou em 10.3.1971,
nos seguintes termos:
“Reportando-me ao Ofício n.° 448, de 14 de julho do
ano passado, desse Gabinete Civil, capeando processo
MTPS n.® 150.495/67, versando sobre a vinculaçao da
Ordem dos Advogados do Brasil, tendo em vista o que
dispõe o Decreto-lei n.° 968/69 sobre a matéria, cumpre
informar de que ouvida a respeito aquela entidade,
através de Comissão constituída dos em inentes advo­
gados Samuel Duarte, Seabra Fagundes e Povina Caval­
canti, não contesta a aplicabilidade daquele decreto-lei,
in casu, havendo, entretanto, aspectos relativos à con­
veniência que justificariam a exclusão da Ordem da
incidência do citado diploma legal.
A providência — se adotada — dependerá de me­
dida legislativa, daí porque sugiro encam inham ento do
assunto ao Sr. Ministro da Justiça, dada a natureza da
m atéria e as naturais conotações com aquela pasta.”

O Dr. Alfredo Buzaid, professor de Direito, que então geria os


negócios da Justiça, assim se pronunciou:

“O Presidente do Conselho Federal da Ordem dos


Advogados do Brasil encam inhou ao EXmo. Sr. Consul­
tor-Geral da República o memorial demonstrando a
preocupação dos advogados brasileiros pelo destino da
entidade. Esse memorial, sem entrar no m érito da natu­
reza jurídica da Ordem dos Advogados do Brasil, entende
que tal supervisão afetaria “seriamente o papel e o des­
tino da entidade”, bem como sujeitaria a um a certa
coação que não se coadunaria com as atribuições de
fiscalização do exercício da profissão do advogado.
Em verdade. Sr. Presidente, tais ponderações não
resistiriam a um simples exam e superficial. Primeira­
mente, supervisão não significa subordinação. Supervi
são é a ação de supervisionar, isto é, orientair ou inspe­
cionar em plano superior. De tal forma, não vejo onde
se afetariam os destinos daquela entidade. Quanto à
coação, não há de se falar. A Ordem dos Advogados do
Brasil tem suas atribuições e com petência definidas em
lei (Estatuto da Ordem dos Advogados do Brasil — Lei
n.° 4.215 de 27 de abril de 1963).
Isto posto, e de conformidade com o douto parecer
do Sr. Consultor Jurídico do M inistério do Trabalho e
Previdência Social, opino que, a partir da vigência do
Decreto-lei n.° 968/69, a Ordem dos Advogados do Brasil

197
está sujeita àquele controle. Tendo em vista a inconve­
niência da exclojíão, pois a referida supervisão não lhe
comprometerá a independência, nem desmerecerá os
que a administrem, sou pelo arquivamento do presente
pedido.”

O parecer do Consultor-Geral da República prossegue com


uma análise de caráter histórico da criarão das várias entidades
de ordenação e a fiscalização do exercício das profissões liberais,
anteriores à edição do Decreto-lei n ° 200 de 25.12.67, para mostrar
que, via de regra, aquelas leis adicionais tornaram expresso que
05 Conselhos Federais e os Conselhos Regionais constituíam em
conjunto um a autarquia, enquanto que a Ordem dos Advogados
embora pudesse ter sem elhança com essa forma jurídica, foi ex­
pressamente excepcionada na sua lei institucional pelo parágrafo
único do Art. 139, que declarava que “não se aplicam à Ordem
as disposições legais referentes às autarquias, entidades para-
estatais.”
E assim conclui inicialm ente o parecerista:

“É irrecusável que o legislador, do arbítrio que lhe


cabe em dispor normativamente, discricionariedade que
só tem por linde a Constituição, poderia assim fazê-lo,
instituindo um direito singular, atendendo a razões que
houve por bem valorar. Assim, pela própria lei institu­
cional, se conferiu à OAB uma situação peculiar, excep­
cional, divergente da que se atribui às suas congêneres,
compreendidas no escalão comum.”

E analisa, posteriormente, como, por força da lei da Reforma


Administrativa (Decreto-lei n.® 200/67), as entidades da adminis­
tração indireta catalogadas no Artigo 4.° do mesmo diploma legal,
consideradas como “vinculadas ao M inistério em cuja área de com­
petência espera enquadrar a sua atividade principal”, ficaram
sujeitas à supervisão do Ministro de Estado do setor respectivo, e
como conseqüência essas autarquias, e inclusive as incumbidas da
fiscalização no exercício das profissões liberais, se submeteram
autom aticam ente ao novo regime do Decreto-lei n.^> 200/67. Assim,
o Decreto-lei n.® 60.900 de 26.6.67, incluiu virtualm ente na área
de com petência do Ministério do Trabalho e Previdência Social a
totalidade das autarquias profissionais então existentes, enume­
rando entre elas a Ordem dos Advogados do Brasil.
A inclusão da Ordem por esse decreto no elenco de entidades
sujeitas à supervisão do M inistério do Trabalho, tornou-se objeto
de controvérsia afinal dirimida com a aprovação presidencial ao
Parecer n.° OH 753 de 27 .9 .6 8 da Consultoria-Geral da Repú­

198
blica, tom ando-se conseqüentemente a sua proposição jurídica
norma para administração federal.
A tese do ilustrado parecer de autoria do Dr. Adroaldo Mes­
quita da Costa, assim conclui:

“13. De conseguinte, as opiniões dos doutos sobre o


assunto são divergentes. A Lei n.° 4.215 de 1963 que
dispôs sobre o Estatuto da Ordem dos Advogados, no
entanto, dirime as dúvidas, ao estabelecer, expressa e
taxativam ente, no seu § 1.° do Art. 139 in vertns: Não se
aplicam à Ordem as disposições legais referentes a au­
tarquias ou entidades paraestatais.
14. Não há pois o que discutir: considere-se ou não
a Ordem como autarquia, as disposições legais referentes
a estas não se lhe aplicam, di-lo o parágrafo primeiro
retrotranscrito. A discussão portanto a essa altura, se
reveste, apenas de interesse acadêmico.
15. Conseqüentemente, o Decreto n.° 60.900 de 1967,
ao vincular a Ordem dos Advogados ao M inistério do
Trabalho por força dos dispositivos da reforma adminis­
trativa (Decreto-lei n.° 200/67), aplicáveis às autarquias,
violou o disposto no parágrafo 1.° do Art. 139 da Lei n °
4.215 de 1963 (Estatuto da Ordem dos Advogados). As­
sim sendo, é ilegal e deve ser declarado nulo, no par­
ticular m ediante decreto a ser expedido pelo Poder
Executivo”.

A argum entação do Dr. Luiz Rafael Mayer é irrespondível:


“Se o Estatuto da Ordem corporifica no contexto
do Direito Administrativo um a lei especial, o dispositi­
vo em causa (Art. 139, § 1.°), versando sobre o próprio
relacionamento da entidade no conjunto da Administra­
ção, constitui um preceito, um direito excepcional, diver­
gente, que decorre, em seus próprios termos, de uma
colocação em contraposição ao sistema. Configura-se, aí,
tipicam ente, o jus singvlare que o jurisconsulto definiu
como quoad contra tenorem rationis propter aliquam
u tü itatem introductum est.

E em seguida:
“Ora, se o Decreto-lei n.° 200/67, lei geral posterior,
não regulou inteiram ente a m atéria disciplinada pela
Lei n.° 4.215/63, lei especial; se a esta não se referiu de
modo expresso nem se mostra definidam ente infenso a
preexistência da norma de exceção; então, não se h á de
deduzir incompatibilidade que iniba a plena vigência do

199
parágrafo único do Art. 139 da Lei n.® 4.215/63, e, de
conseguinte, sublinha-se a juridicidade e concludência
do Parecer H n.° 753, de 2 7 .9.68, ao haver estabelecido
a impossibilidade jurídica de submeter-se a OAB à super­
visão m inisterial por efeito de vinculação ao MTPS, à
época e nos termos do Decreto n.° 60.900/67.”

E analisando com lógica irretorquível:

“Se tais tendências se evidenciam, sem necessidade


de forçada exegese, da compreensão do texto do decreto-
lei em causa, incomportável pretender-se que tendo por
m eta instituir um regime m ais favorável a todas as enti­
dades profissionais no sentido de maior autonomia admi­
nistrativa, viesse a ser entendido em detrimento tão-
som ente, para menor, da autonom ia plena da Ordem dos
Advogados, já reconhecida no entanto, pela I^ei n.®
4.215/63 em grau em inente e com o suporte de inter­
pretação univoca, quer da administração quer do Poder
Judiciário."

E assim conclui o parecer:

“Lei nova, sem remissão expressa à OAB, não terá


por conseqüência revogar a norma singular da Lei n.°
4.215/63, que exclui a entidade dos advogados na inci­
dência de disciplina das autarquias, estas ou aquelas.
Incorrente a incompatibilidade entre uma e outra, ter-
se-á prevalência do preceito, em vigor, do Art. 2.° § 2.°
da Lei de Introdução ao Código Civil (Decreto-lei n.°
4.657/42); “a lei nova, que estabeleça disposições gerais
ou especiais a par das já existentes, não revoga nem
modifica a lei anterior”.
Logo, a igual do Decreto n.° 60.900/67, conforme
reconhecido ã época, é legalm ente, insubsistente o De­
creto n.® 74.296/64, no efeito de vincular a OAB ao Mi­
nistério do Trabalho e sujeitá-la à supervisão m inisterial
prevista no Decreto-lei n.® 968/69, combinado com os
Arts. 19 e 26 do Decreto-lei n.° 200/67, posto que em
contrariedade, a nível de regulamento ao preceituado no
parágrafo único do Art. 139 da Lei n.° 4.215/63.” "

De 7 a 12 de m aio de 1978, realiza-se a VII Conferência em


Curitiba com grande comparecimento de advogados e tendo uma

25 o parecer do Consultor-Geral d a República está publicado n a Revista


da OAB — Vol. 24, p. 7.

200
repercussão nacional extrem am ente importante, dada a projeção
que a Ordem alcançara naquele momento. O tem a geral dos deba­
tes foi o Estado de Direito.
Na sessão de abertura realizada no Teatro Guaíra, às 20 horas
do dia 7 de agosto, com o teatro inteiram ente lotado, sob a Presi­
dência do Governador do Estado do Paraná, Jayme Canet Jr. que
transm itiu a Presidência ao Dr. Raymundo Faoro, Presidente da
Ordem dos Advogados e presentes ainda o Dr. Luiz Rafael Mayer,
Ccnsultor-Geral da República e representante do Sr. Presidente da
República, General Ernesto G e is e l,S e n a d o r Petrônio Portela,
Presidente do Senado Federal, do Deputado Marco Antonio Maciel,
Presidente da Câmara dos Deputados, e de numerosas altas auto­
ridades civis.
Usaram da palavra o Governador Jaime Canet Jr. saudando os
convencionais, o Professor Haroldo Valladão discursando em ho­
menagem aos patronos Bueno Pim enta e Hugo Simas, o Presidente
da Seção do Estado do Paraná, Eduardo Rocha Vlrmond, pelas
delegações visitantes o Professor Raymundo Cândido, Presidente
da Seção de Minas Gerais e o Presidente do Conselho Federal,
Raymundo Faoro. Declarou Raymundo Faoro:

“Nosso debate durante uma sem ana de estudos e


necessárias divergências, voltar-se-á para a sociedade
política. Nascemos e vivemos envolvidos por forças que
fugiram à nossa vontade e ao nosso entendim ento, dela
nos alheamos, incapazes de conservá-las no convívio
imediato, para controlá-las e dominá-las. O Estado as
abriga com a tendência de sobrepô-las à sociedade, em
armadura de ferro, numa aliança distante de detentores
do poder se quebrado o conduto que os prende a seus
destinatários. Começaremos pelo reconhecimento de
duas proposições. O Estado não será, pelo fato de ser
Estado, inim igo da liberdade para que não se converta
em dogma a presunção válida em favor da liberdade dos
indivíduos. D e outro lado, acentuou-se que, na preocupa­
ção de fundir a sociedade política e a sociedade civil,
não enfrentam os desafio novo, mas realidade secular e
multissecular. A sociedade civil sempre foi no Brasil con­
trolada e sufocada pela sociedade política, no contexto

26 A presença do Dr. Luiz R afael Mayer como representante do Presidente


da República teve a m aior repercussão, pois fora ele que, como Consul-
tor-G eral da República, em itira parecer resolvendo, em definitivo, o
problema da autonom ia da Ordem. O Presidente Raym undo Faoro es-
tivera em Brasília pessoalmente p ara convidar o Presidente da Repúbli­
ca p ara a sessão de ab ertu ra e com ele teve conversa fran ca e aberta
sobre os problemas nacionais. Esse encontro provocou um reparo inopor­
tuno do Prof. Dalmo Daliari, professor da Faculdades de Direito da
Universidade de São Paulo, repelido com altivez por Raymundo Faoro.

201
instrum ental que lh e impede as m anifestações de classe,
a iniciativa particular, turvando-lhe pela rígida condu­
ção do alto a calculahilidade e a previsibilidade de suas
ações.”

Ainda m ais adiante:

“Nâo chegam os a esse passo da longa travessia, de


velha jornada, armados unicam ente com um corpo de
doutrinas, com a clara indicação de um roteiro, o Estado
de Direito, legitim ado pela soberania popular e qualifi­
cado na autoridade da lei. Dentro da névoa autoritária
acendemos a fogueira que reanima as vontades, esclarece
os espíritos. Estamos diante da transição inevitável e
estam os diante da luz de amanhã. Articulamos, filtra­
mos e criamos m ais que ideais de perspectivas tróricas,
bem m ais que as utopias e declamações da retórica fes­
tiva. Os advogados brasileiros estruturam um a consciên­
cia ativa, atualizando o m andato de histórica missão
com a unidade granítica da m ais numerosa das classes
brasileiras. Não há m ais entre nós consciências disponí­
veis, prontas às transigênicias, às seduções do poder,
cativas da ótica cooptadora. Nosso contingente de ho­
mens e idéias está, ainda um a vez e sempre, a serviço
do Brasil na vanguarda.”

E concluía:

“Onde quer que haja o advogado, onde quer que


esteja o bacharel, aí deve estar a consciência jurídica
do povo brasileiro na defesa do Estado de Direito. Em
seus pareceres, em seus votos, em seus arrazoados, nos
tribunais e nos escritórios, há de predominar o senso
de um a alta responsabilidade, o de contemporâneos da
história brasileira. Esperamos dos advogados que o con­
vívio fraterno de uma sem ana m ais os una no momento
em que o Brasil está atento à sua inteligência, ao seu
equilíbrio e à sua coragem. A condição que alcançarmo*?
não interessa a nós, m as ao país com o qual nos identifi­
camos nas suas aspirações m ais profundas. Ela permi­
tirá que com firmeza em um a só direção enfrentemos as
eventuais decepções im ediatas e as convertamos em estí­
mulos para o triunfo na mais urgente causa do povo
brasileiro: a causa da liberdade, a causa da democracia,
a causa do Estado de Direito.”

As teses foram as seguintes:


1. Direitos H um anos; Conceito Abstrato e Conceito Realista.
RELATOR: Caio Mario da Silva Pereira
2. As Garantias do Processo Penal no Estado de Direito.
RELATOR: Francisco de Assis Serrano Neves
3. Criminalidade e Estado de Direito.
RELATOR: Virgilio Luiz Donnici
4. Estado de Direito e Segurança Nacional.
RELATOR: Bernadette Pedrosa
5. Estado de Direito e Ordem Política.
RELATOR: Nelson Nogueira Saldanha
6. Estado de Direito e Direito de Petição.
RELATOR: Sergio Bermudes
7. O Estado de Sítio e as Outras Salvaguardas.
RELATOR: Gofredo da Silva Telles Júnior
8. A Formação Profissional e a M ilitância Advocatícia como
Garantia do Estado de Direito.
RELATOR: Alberto Gomes da Rocha Azevedo
9, As Limitações Constitucionais do Direito Econômico.
RELATOR: Ney Lopes de Souza
10 . Habeas-Corpus.
RELATOR: Pontes de Miranda
11, O Estado de Direito e a Segurança Nacional.
RELATOR: Alcides Munhoz Neto
12. O Estado de Direito e os Direitos da Personalidade.
RELATORES; José Lamartine Corrêa de Oliveira e Francisco
Ferreira Muniz
13 O Estado de Direito e o Direito de Ação (A Extensão do seu
Exercício).
RELATOR: Egas Dirceu Moniz de Aragão
14 A Função Social da Empresa no Estado de Direito.
RELATOR: Rubens Requião
15 O Direito ao Casamento e a sua Dissolução no Quadro das
Garantias Fundam entais.
RELATOR: Francisco Accioly Filho
Direito ao Trabalho no Estado de Direito.
RELATOR: Evaristo de Morais Filho

203
17. A Emergência Constitucional no Estado de Direito.
RELATOR: Oscar Dias Corrêa
RELATOR DESIGNADO: Humberto Jansen
18. Mandado de Segurança e Ação Popular no Elstado de Direito.
RELATOR: Amoldo Wald
19. Previdência Social do Advogado.
RELATOR: Moacyr Velloso Cardoso de Oliveira
20. Representação de Inconstitucionalidade Perante o Supremo
Tribunal Federal. Um Aspecto Inexplorado.
RELATOR: Victor Nunes Leal
21. Estado de Direito e Tecnocracia.
RELATOR: Miguel Reale Júnior
22. Conteúdo Social das Direitos Humanos e o Estado de Direito.
RELATORES: Darcy Paulilo dos Passos e Fernando Mendes
de Almeida
23. Estado de Direito: Essência e Circunstância.
RELATOR: Alcides Abreu
RELATOR DESIGNADO: Carlos Alberto Paulon
24. Reforma Estrutural do Poder Judiciário como Garantia dos
Direitos do Povo.
RELATOR: Evandro Lins e Silva
25. A Motivação das Decisões Judiciais como Garantia Inerente
ao Estado de Direito.
RELATOR: José Carlos Barbosa Moreira
26. O Estado de Direito como Estrutura Política — Seu Conceito
e Características,
RELATOR: Nelson de Souza Sampaio
27. O Poder Judiciário no Estado de Direito.
RELATOR: Balthazar Gama Barbosa
28. A Missão do Advogado nas Crises Institucionais.
RELATOR: Ruy de Souza
29. Limites Constitucionais do Decreto-Lei em Matéria Tributária.
RELATOR: Geraldo Ataliba
30. Estado de Direito e Política Fiscal.
RELATOR: Joaquim Correia de Carvalho Júnior
31. Indicações para um a Reforma Democrática do Poder Ju­
diciário.
RELATOR: Raphael de Almeida Magalhães

204
32. A Informação Cultural no Estado de Direito.
RELATOR: René Ariel Dotti
33. A Tutela Jurisdicional dos Interesses Difusos.
RELATORA: Ada Pellegrini Grinover
34. As Caixas de Assistência dos Advogados e a Nova Estrutura
da Previdência.
RELATOR: Edgard Moreira da Silva
35. Previdência Privada.
RELATOR: Fem andino Caldeira de Andrade
RELATOR DESIGNADO: Francisco Costa Netto
36. Assistência Médica e Convênios com o INPS.
RELATOR: Paulo Kreitschmann
37. A Previdência Social e as Caixas de Assistência dos Advogados.
RELATOR: Them istocles Américo Caldas Pinho

38. Proposição sobre a Criação de uma Federação das Caixas de


Assistência dos Advogados.
RELATOR: José Francisco das Chagas.
RELATOR DESIGNADO: Paulo Kreitschmann
39. R etom o do Recurso Ordinário no Processo do Mandado de
Segurança.
RELATOR*. Erasmo Barros de Figueiredo
40. As Prerrogativas do Advogado e o Estado de Direito.
RELATOR: Luiz Cruz de Vasconcelos
41. O Réu e o Estado de Direito.
RELATOR: Flavio Teixeira de Abreu
42. O Advogado e o Estado de Direito.
RELATORA: Mareia Maria Milanez
43. Estado de Direito — Direitos Humanos e a Necessidade de
Anistia.
RELATORA: Therezinha Godoy Zerbine
44. O Alcance da Ação Penal Face à Constituição.
RELATOR: Luciano S. Caseiro
45. O Ensino Jurídico, Instrum ento de Realização do Estado de
Direito.
RELATOR: Alberto Venancio Filho
46. Estado de Direito, Limitação que a Nação Impõe ao Estado.
RELATOR: J. Paulo Bittencourt

205
47. Proposição Sobre Anistia.
RELATOR: José Frejat
Como iniciativa pioneira realizou-se também um painel sobre
o Estado de Direito, reunindo advogados e cientistas sociais sob
a Presidência do Ministro Seabra Fagundes e composto do Profes­
sor Orlando Magalhães Carvalho, do Dr. Eduardo Virmond e dos
cientistas sociais Tercio Sampaio Ferraz, da Faculdade de Direito
da USP, Francisco Corrêa Weffort, Oliveiros, Ferreira, ambos tam ­
bém professores de Ciência Política da Universidade de São Paulo,
e Brasil Pinheiro Machado, Professor de História da Universidade
do Paraná.
Na sessão de encerramento foi aprovada a Declaração de
Curitiba:
“DECLARAÇAO DE CURITIBA
Os advogados brasileiros, presentes e representados
na v n Conferência Nacional da Ordem dos Advogados,
ao reiterarem sua unidade e coesão, trazem sua palavra
ao povo, ao qual pertencem e devem conta de suas
preocupações e de sua conduta política.
Armados da palavra e da razão, sentem -se creden­
ciados, ainda um a vez, dentro da sombra autoritária que
envolve o país, a expressar m ensagem de esperança e de
liberdade, clamando pelo Estado de Direito democrático.
O Estado democrático é a única ordem que pode propor­
cionar as condições indispensáveis à existência do ver­
dadeiro Estado de Direito, onde liberdade-autonomia
cede lugar à liberdade-participação que pressupõe prin­
cípios pertinentes ao núcleo das decisões políticas e a
sua legitimidade institucional. Para isso não basta o
voto consentido, pois só ele não constitui a essência da
democracia, ao contrário é a própria democracia que
dá conteúdo de participação ao direito de voto. Expres­
são de ato político e democrático, e vontade que este
representa, exige processo normativo integrado, desde a
organização pluripartidária — representativa das várias
correntes de opinião pública — às garantias da livre ma­
nifestação do pensamento, incluindo o direito de crítica
às instituições. As restrições à liberdade som ente se tor­
nam legítim as na medida em que visem à preservação
do interesse coletivo — respeitado o lim ite infranqueável
da dignidade da pessoa. O controle judicial, por tribu­
nais dotados das garantias da M agistratura, cuidará de
remediar qualquer lesão ou ameaça de lesão à liberdade,
síntese dos direitos humanos. Os direitos fundam entais
não podem sofrer agravo de grupos ou entidades priva-

206
das, e, com maior razão, não devem sofrer agravo ao
abrigo das agressões que decorram das autoridades cons­
tituídas, cujo dever primeiro será o de amparar o livre
desenvolvimento daqueles direitos. Se o contrário fosse
admissível, reconhecer-se-ia o absurdo da subversão da
ordem pelos seus próprios agentes. Essas agressões à
dignidade das pessoas não se justificam ; ainda quando
se dissim ulam debaixo do pretexto de segurança nacio­
nal. No Estado de Direito, a segurança nacional consti­
tui meio de garantir as liberdades públicas. Protege-se o
Estado, para que este possa garantir os direitos indivi­
duais. A legitimidade da incriminação de atentados à
segurança nacional repousa no princípio de que só pelos
meios jurídicos podem ser alteradas as instituições esta­
belecidas pelo povo, através de representantes livremen­
te escolhidos. Para que a segurança nacional se enquadre
no Estado de Direito, garantindo a inviolabilidade dos
direitos do homem, o crime só pode ser defendido me­
diante a tipicidade de fatos externos, ofensivos a bens
ou interesses jurídicos. O ilícito penal não compreende,
a título de ilícito político, restrições a Idéias dissidentes
do regime, nem ao mero exercício de meios para formá-
las. Não haverá o Estado de Direito nem segurança na­
cional democraticamente entendidos, sem a plenitude do
habeas corpos que assegure a primeira das liberdades e
base de todas as outras — a liberdade física — em regi­
m e que consagre a inviolaWlidade e a independência dos
juizes. O habeas corpus cuja substância está n a inteireza,
consagra cinco séculos de nossa herança luso-brasileira,
herança jurídica, política e moral, que devemos resguar­
dar e transm itir a outras gerações. No Estado de Direito
as garantias institucionais decorrem da partilha das
funções do Estado entre vários Poderes, de modo que
um não amesquinhe nem anule os outros, mas todos se
lim item m utuam ente em sistem a de fiscalização e con­
trole recíprocos. A vigência do AI-5 faz reinar no Brasil
uma situação de excepcionalidade, a mais longa da His­
tória brasileira, tradicionalm ente ferida de temporários
colapsos da liberdade. Declaramos, todavia, que a simples
revogação do AI-5 não restauraria, por si só, o Estado de
Direito, diante da realidade que a vigente Constituição
não forma estrutura política democrática. Não se negará,
dentro do Estado de Direito, a legitim idade de instru­
m entos que 0 defendam, ao tempo e n a justa medida
que defendam a liberdade dos cidadãos. No caso de grave
perturbação da ordem e na eventualidade de guerra
externa, dispõe a tradição do Direito brasileiro do insti­

207
tuto do estado de sítio, sem que na sua regulamentação
se insinue o arbítrio e a irresponsabilidade. A Nação se
resguarda pela ação conjunta dos três Poderes e, nunca,
pela usurpação de um às atribuições dos outros, em
velada suspeita da incapacidade destes. Essa a instância
m áxim a das restrições que possam ser impostas ao exer­
cício dos poderes e aos direitos fundam entais. Se o Go­
verno deve contar com meios fortes e eficazes para
debelar situações, serão os estritam ente necessários e
suficientes, respondendo pelos abusos ou excessos que
cometer, quer pela via política, adm inistrativa ou judi­
cial. No Estado de Direito, a defesa das instituições não
legitim a exclusões, ostensivas ou dissim uladas, da efetiva
participação política e social do povo. Cumpre, para
suprimir obstáculos arbitrariamente criados, rever a
le ^ la ç ã o trabalhista do país, de nítida inspiração auto­
ritária, ao ponto de alguns de seus dispositivos violarem
a Declaração Universal dos Direitos do Homem. Sem a
liberdade sindical não pode existir um verdadeiro e au­
têntico direito coletivo de trabalho, que encontra nos
sindicatos seus sujeitos de direito e seus agentes dinâm i­
cos. Sem liberdade sindical não há democracia possivel,
não h á Estado de Direito. Só o Estado de Direito reco­
nhece os conflitos, legitim a-os e os supera. Os direitos
políticos, longe de obstarem os direitos sociais, consti­
tuem a única via pacífica para a sua obtenção e o seu
exercício. Direitos sociais e direitos políticos são o con­
teúdo do Estado de Direito, que, por ser um Estado
ético, repele a idéia da injustiça, situada nas desigual­
dades decorrentes da excessiva riqueza de uns, da extre­
ma miséria da maioria. Uma política fiscal justa e
eficiente há de atenuar isenta do arbítrio, com a criação
de tributos, seu aum ento e discriminação por atos que
atenda ao consentim ento popular e às normas constitu­
cionais. Para sua honra, os advogados debatem e estu­
dam a realidade nacional, com a inteligência, o equilí­
brio e o senso de responsabilidade que historicam ente
lhes reconhecem os brasileiros, identificam no autorita­
rismo 0 principal desvio ao livre desenvolvimento da
vida jurídica, política e social do país. Situam na liber­
dade de participação a m aior preocupação dos seus
estudos, participação cuja am plitude exige a participa­
ção nacional, que lance o esquecim ento sobre os ódios
passados. A anistia, embora não leve, por si só, ao Estado
de Direito, clamor de consciência jurídica do país, não
é reivindicação exclusiva de classes ou grupos, mas
constitui o necessário pacto de convivência de todos os
brasileiros. As promessas governam entais, para que aten­
dam aos reclamos da opinião pública, devem converter-
se em ação, com brevidade em favor da paz e da con­
córdia de todos os brasileiros.”
Curitiba, 12 de maio de 1978.

As eleições para a sucessão de Raymundo Faoro realizaram-se


no dia 1.° de abril de 1979, sendo candidatos à Presidência, Eduar­
do Seabra Fagundes, vitorioso com 23 votos, e Raimundo Cân­
dido, Presidente da Seccional de Minas Gerais, com 2 votos. Pela
primeira vez, devido a emenda regim ental, foi possível a apresen­
tação de candidatos avulsos, sendo ainda eleito na chapa de
Eduardo Seabra Fagundes, Cid Vieira de Souza com 15 votos para
Vice-Presidente, contra 10 votos para José Paulo Sepulveda Per­
tence, José Danir Siqueira Nascimento para Tesoureiro, com 13
votos contra 12 votos dados a Hermann Assis Baeta e Raul da Sil­
veira eleito Subsecretário com 25 votos. Para Secretário-Geral foi
eleito como candidato avulso, José Bernardo Cabral, com 19 votos
contra 8 votos para o candidato Ciro Aurélio de Miranda da
chapa Eduardo Seabra Fagundes.
Ao assum ir a Presidência em 1.° de abril de 1979 declararia o
Presidente Eduardo Seabra Fagundes:

“As circunstâncias me conferem esta função em


mom ento particularmente difícil e delicado. A pregação
da Ordem pelo restabelecim ento das liberdades públicas
e pelo retorno do habeas corpus em sua plenitude, pela
restauração dos predicamentos da m agistratura, logrou
resultado positivo, m as os êxitos até agora alcançados
não bastam, pois m uito de substancial falta ainda à
plena restauração do Estado de Direito, ou seja, o dese­
jado aprimoramento da ordem jurídica, pelo reencontro
das instituições político-constitucionais na sua estrutura
e na sua prática, com a vocação democrática da Nação.
Considero, ainda, que a esse objetivo maior de luta
pelo Direito, legal e estatutariam ente conferidos à Or­
dem, devem se acrescer outros, dos quais permito desta­
car apenas dois: o embate pela reforma do Poder Judi­
ciário em termos objetivos, e pela reformulação do
ensino jurídico, de sorte a expungi-lo das deficiências
até hoje não superadas.”

Logo após a sua posse, convocava o Presidente Eduardo Seabra


Fagundes os Presidentes dos Conselhos Seccionais para um a reu-

27 Os trabalhos da VII Conferência estão publicados nos Anais da VII


Conferência Nacional da Ordem dos Advogados do Brasil — Curitiba
7 a 12 de maio de 1978. 893 pp.

209
nião que se realizou em Florianópolis de 30 de maio a 2 de junho
de 1979, tendo como temário os seguintes assuntos: a) atualidade
politico-institucional; b) Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa
Humana: resolução da OAB; c) comemoração do qüinqüagésimo
aniversário da OAB em 1980; d) Reforma do Judiciário; e) ensino
jurídico.
Como resultado da reunião doa Presidentes dos Conselhos
Seccionais, foi divulgada a Declaração de Florianópolis:

“Os Presidentes dos Conselhos Seccionais da Ordem


dos Advogados do Brasil, reunidos em Florianópolis com
o Presidente e a Diretoria do Conselho Federal, reafir­
mam a crença de que a pacificação da fam ília brasileira,
é preliminar indispensável à recomposição do pacto
social, e só será obtida m ediante a prévia decretação de
anistia ampla, geral e irrestrita e sem gradualismo, de
modo a abranger a totalidade dos punidos pela prática
de atos de natureza política.
Embora os advogados, por sua própria formação,
repilam quaisquer formas de violência, não vêem como
se possa invocá-la para justificar a discriminação entre
pessoas e situações, sem que essa diversidade de trata­
mento importe no arbítrio, que é, também, um a das
formas de violência.
Entendem que a normalidade democrática não foi
alcançada com a revogação do Ato Institucional n.® 5,
pois que subsistem instrum entos de exceção a prolongar
a tutela exercida sobre o povo.
Advertem que o sigilo imposto às reuniões do Con­
selho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana, e sua
composição atual, ameaçam frustrar seus altos objetivos.
Os advogados repudiam a anunciada reformulação
partidária que o Governo pretende impor ao país, inspi­
rada na insolvência eleitoral de seu próprio Partido, e
veem entemente reprovam qualquer prorrogação de m an­
datos, nova forma de m anutenção no poder, sem a
legitim idade do respaldo popular.
Proclamam, também, que a Lei Orgânica da Magis­
tratura, maculada, em sua origem, pelo autoritarismo,
afronta o princípio federativo e não atende às necessi­
dades de uma rápida e eficiente prestação jurisdicional.
Impõe-se, assim, ampla alteração na estrutura do
Poder Judiciário porquanto suas notórias deficiências
não foram corrigidas, pois que a reforma feita, o foi sem
consulta aos m ais diretamente envolvidos no processo
de distribuição da Justiça, tom ando-se imprescindível

210
novo ordenamento, inclusive de caráter institucional, a
permitir o restabelecim ento da harmonia dos Poderes,
em moldes que assegurem as liberdades públicas e a
proteção dos direitos individuais.
A convocação da Assembléia Constituinte, eleita pelo
voto secreto direto, é o cam inho para o desenvolvimento,
como justiça social, desde que asegure e restaure as
eleições diretas em todos os planos, a liberdade de orga­
nização partidária e sindical, e estabeleça justa distri­
buição de renda, mediante política tributária a medir
mais gravosamente sobre a acum ulação do capital, do
que sobre o consumidor final.” **

De 26 a 28 de junho de 1979 realizou-se em São Paulo o 1.°


Seminário sobre Direito, Cidadania e Participação, organizado pelo
Centro de Estudos de Cultura Contemporânea (CEDEIC) e pelo
Centro Brasileiro de Análise e Planejam ento (CEBRAP), sob o
patrocínio da Ordem dos Advogadas do Brasil. Na sessão de aber­
tura dos trabalhos, Raymundo Faoro, ex-Presidente da Ordem, e
que tomara a iniciativa de apoiar o conclave, diria:
“Os tem as tratados nesse seminário, basicam ente
decorrentes de um a preocupação prioritária com a defe­
sa dos direitos humanos e o restabelecim ento da demo­
cracia no país, refletem o desafio da conjugação da
liberdade como participação no reconhecimento de ques­
tões de interesse social e popular.”

Encerrando os trabalhos, o Presidente Eduardo Seabra Fagun­


des declarou:
I
“O objetivo genérico (luta pelo EStado de Direito)
que ganhou o apoio da sociedade civil, quer, entretanto,
a escolha de meios e alternativas, as m ais eficazes por
certo, mas cujas opções não se revestem de uma clareza
integral, sendo ao contrário extrem am ente complexas, e
m uitas vezes obscuras. Foi para a análise de alguns dos
aspectos mais importantes no âmbito de tem a tão amplo,
que se reuniram cientistas sociais e os advogados, junto
com jornalistas, professores universitários e pesquüado-
res, nesse propósito, de, através do debate do d iá lc ^
franco, propor idéias que em processo progressivo de
decantam ento alcancem o consenso da sociedade.”
28 Revista da OAB — Vol. 25 ja n ./ab ril 1980, p. 179.
29 Os trabalhos do Sem inário estão publicados no volume — Direito,
Cidadania e Participação — Bolivar Lamounier, Francisco W effort e
M aria Victoria Benevides (organizadores). São Paulo, T.A . Queiroz,
1981, 269 pp.

211
o Conselho Federal se pronunciaria em junho de 1979 sobre o
projeto de lei sobre a anistia enviado ao Congresso Nacional. Em
parecer substancioso o Conselheiro José Paulo Sepulveda Pertence
afirmaria inicialm ente:
“O exame global do projeto desvela de im ediato o
seu recado substancial: é a sua frontal incompatibilida­
de com um dado elem entar do próprio conceito de anis­
tia, ou seja, o seu caráter objetivo. Em outras palavras:
0 que 0 Governo está propondo, com o nom e de anistia,
tem antes um espirito de um indulto coletivo que uma
verdadeira anistia. Esta distorção básica está subjacente
dos pontos mais criticáveis do projeto.”
E depois de tecer considerações sobre os aspectos específicos
do projeto concluiria:
“Este momento de reflexão sobre a anistia induz a
realçar duas questões cuja solução são desafios imediatos
ao pensamento democrático. O primeiro é a subsistência,
malgrado a recente diminuição das penas cominadas,
que não atinge a substância do problema, de um a lei de
segurança nacional fundada em doutrina marcadamente
totalitária. A outra, no mesm o contexto, é a sobrevivên­
cia na administração pública da cham ada "comunidade
de inform ação”, em moldes de todo inconciliáveis com
a construção de um regime democrático.”
Na sessão de 28 de agosto de 1979, o Conselho Federal proce­
deu à eleição de seu Vice-Presidente, em virtude de vaga do Vice-
Presidente Cid Vieira de Souza que fora nomeado juiz do Tribunal
de Alçada de São Paulo. Foi eleito Vice-Presidente, José Paulo
Sepulveda Pertence, com 23 votos, sendo 1 voto dado a Corintho
de Arruda Falcão.
Em outubro de 1979, o Presidente Eduardo Seabra Fagundes
realizou nova conferência dos Presidentes dos Conselhos Seccionais
na cidade de Belém, Estado do Pará. Em conclusão, foi aprovada
a Declaração de Belém:
“O Presidente e a Diretoria do Conselho Federal, e
os Presidentes dos Conselhos Seccionais da Ordem dos
Advogados, reunidos em Belém, declaram:
I. Os advogados brasileiros, em coerente posiciona­
mento histórico, têm pugnado para que a soberania
nacional não se debilite pela ilegitim idade de governos.
E estão convictos de que, na medida em que ela se ro-
bustecer internam ente, mais respeitada será nas rela­
ções externas do Brasil.

212
Na Amazônia, pela sua extensão e potencialidade, as
ambições estrangeiras desafiam a soberania nacional,
que há de ser fortalecida m ediante efetiva ocupação
territorial, norteada pelas peculiaridades da região e,
de modo especial, pela necessidade de elim inar o acen­
tuado distanciam ento econômico que a separa das áreas
Centro-Sul do país.
Em reconhecimento dessas singularidades, soluções
jurídicas especiais, mesmo se inaplicáveis às demais
regiões do Brasil, deverão ser propiciadas sem tardança,
à Amazônia,
Impõe-se, portanto, com a participação de todos os
segm entos da sociedade amazônica, legitim am ente repre­
sentadas, que seja editado um complexo normativo espe­
cífico — o Estatuto Legal da Amazônia — disciplinando
e harmonizando as ações governam ental e privada, a
fim de proporcionar o desenvolvimento sócio-econômico
da área. Nele, o homem deverá ser núcleo e objetivo; o
acesso à terra, respeitada a posse dos que nela traba­
lham , há que ser assegurado aos que se proponham a
explorá-la produtivamente. A ocupação fundiária se fará
por brasileiros e por estrangeiros, som ente quando ca­
racterizar real benefício à economia do País. A partici­
pação estrangeira não é de admitir, se importar na
formação de enclaves econômicos ou sociais.
O aproveitamento racional dos recursos naturais se
há de pôr sob rígida orientação e fiscalização governa­
m entais, sem predações criminosas e atentados eco­
lógicos.
n. Reiteram, na oportunidade, a posição assumida
pelo Conselho Federal da Ordem desde abril de 1977,
ratificada pelo Encontro de Presidentes de Florianópolis,
em favor da convocação de uma Assembléia Constituin­
te. Só ela poderá marcar, com ênfase necessária, a reto­
mada pela Nação do comando do seu destino histórico,
depois de longo período de alienação a que foi submetida.
Revolvida nas suas raízes a estrutura constitucional, sob
a ação voluntariosa das forças que empolgaram o poder,
já é tem po de chamar todo o povo, através de represen­
tação especialm ente legitim ada, para construir um ver­
dadeiro Estado de Direito democrático. Este há de
corresponder não só à nossa vocação liberal, mas tam ­
bém à necessidade de erigir novos parâmetros à ordem
econômica e social do país, de forma a integrar nos
frutos do desenvolvimento a im ensa maioria m arginali­
zada de brasileiros mantidos em níveis desumanos de

213
educação e saúde, pela estrutura de privilégios que não
pode subsistir.
Essa, a m eta a atingir, m ediante a conquista pro­
gressiva de seus pressupostos indispensáveis. Fiel a esses
compromissos maiores com a Nação é que a OAB deve
acompanhar os episódios em que vem desdobrando o
processo político, após a elim inação dos atos in stitu ­
cionais. À luz dessa perspectiva, a Ordem se empenhou
contra o am esquinham ento da anistia. E agora se
preocupa gravemente com o influxo de motivações me­
nores, de caráter nitidam ente conjuntural, que vem
dominando a discussão sobre os passos iniciais da rees­
truturação do sistem a representativo. Não se percebem
nela inspirações condignas da seriedade exigível na con­
dução de tema tão decisivo. Somente a ampla liberdade
de organização política de todas as correntes de pensa­
m ento e de todos os setores da sociedade civil é o cami­
nho da construção de um a democracia verdadeira. Mas,
ao contrário, o prenúncio de intolerável prorrogação de
m andatos eletivos reforça a impressão de que tudo con­
tinua a girar em tom o da obsessão de permanência de
um sistem a de poder que tem e a Nação.”
De 23 a 25 de abril de 1980 o Conselho Federal realizou um
seminário sobre Criminalidade e Violência, criando no âmbito do
Conselho Federal um grupo de trabalho, pela Resolução n.° 112/80,
composto do Vice-Presidente José Paulo Sepulveda Pertence, Pre­
sidente, e dos Conselheiros Evandro Lins e Silva, Heleno Claudio
Fragoso, Miguel Reale Jr., Antonio Evaristo de Morais Filho,
Arthur Lavigne e Virgílio Luiz Donníci, este seu principal organi­
zador, visando a coligir com a participação de professores, cien­
tistas sociais e políticos, economistas, membros do Ministério
Público, médicos, urbanistas, elem entos sobre o importante
problema.
Na sessão de abertura, o Presidente Seabra Fagundes ausente
por motivo de força maior, teve o seu discurso lido pelo Vice-
Presidente Sepulveda Pertence, e declarava:
“Ao assumir a Presidência desta instituição, pare­
ceu-me que um dos problemas a que deveria devotar o
interesse da Ordem, era o da criminalidade violenta*
cuja extensão e intensidade se acentuaram nos últim os
anos, por força de circunstâncias de várias ordens, mas
em cujo exame nem sempre tem imperado o espírito de
objetividade metodológica, daí surgindo propostas de
soluções que só viriam a agravar o problema.
30 R evista ãa OAB — Vol. 25 j a n ./ a b r il d e 1980, p. 177.

214
Para uma matéria de tal importância, não bastaria
entretanto, apenas a contribuição dos advogados, mesmo
os m ais especializados, sejam eles penalistas, criminólo-
gos ou processualistas. A m atéria transcendia a uma
única especialização, e para seu exato e judicioso exame
haveria que socorrer-se da experiência de outras ciências
afins, como a sociologia, a antropologia, a ciência polí­
tica, a m edicina social, a comunicação, o urbanismo,
entre outras.
Por isso, para esse seminário, cuja informalidade
não prejudicará a profundidade e importância dos resul*
tados, foram convocados especialistas dessas várias áreas,
a fim de que de seu resultado, seja enfim alcançado um
consenso comum, que, sem dogmatismo nem sectarismo,
proponha aos círculos interessados e às autoridades pú­
blicas algum as das soluções que possam ao m enos mino­
rar a gravidade do problema.”

O Seminário teve o seguinte temário:

I. Criminalidade Violenta — Aspectos Sócio-Econômieos.

Relator Evaristo de Morais Filho


Debatedores Pedro Malan
Ramão Gomes Portão
Rosa Maria Fischer Ferreira
Eustachio Portela Nunes
Jorge W ilhelm

II. Criminalidade Violenta — Violência Institucional, Repressão


e Direitos Humanos.

Relator Heleno C. Fragoso e Juarez Cirino dos Santos


Debatedores Ricardo Andreucci
Antonio Evaristo de Morais Filho
José Carlos Dias
Lúcio Kovarick
Zahide Machado Neto

III. Criminalidade Violenta — Aspectos Político-Institiieionais.


Relator Francisco Corrêa Weffort
Debatedores Alberto Venancio Filho
Gilberto Velho
Roberto Lyra Filho

215
IV. A Política da Repressão e a Crise do Sistem a Policial — A
Polícia como Função Social, como Instituição Social e como
Profissão.
Relator Virgílio Luiz Donnici
Debatedores Paulo Sérgio Pinheiro
Hélio Bicudo
João Milanez da Cunha Lima
Luiz Chemln Guimarães
V. A Política da Repressão e a Crise do Sistem a Penal: o Judi­
ciário e o Ministério Público.
Relator Miguel Reale Júnior
Debatedores Paulo Sergio Pinheiro
Raul Chaves
Ekel Luiz Servio de Souza
Arthur Lavigne
VI. A Política da Repressão e a Crise do Sistema Processual Penal
0 da Execução Penal.

Relator Manoel Pedro Pim entel


Debatedores Jason Albergaria
Augusto Thompson
Antonio Acir Breda
Nilo Batista
Julita Lemgruber
O Presidente Eduardo Seabra Fagundes dedicou a maior aten­
ção no sentido do reaparelhamento m aterial das sedes dos Conse­
lhos Seccionais. Assim subm eteu ao Conselho Federal a deliberação
que constitui a Resolução n.° 98/79 de 17 de dezembro de 1979 que
dispõe sobre a distribuição do Fundo de Auxílio Financeiro às
Seções carentes de recursos.
A Resolução criou lim ites mínimos e máximos para os auxilia-
res de cada seção, ao mesmo tempo em que criava lim ites especiais
para as Seções de Roraima e Mato Grosso do Sul, seções recém-
criadas. Com esses auxílios, numerosas seções puderam construir
sedes novas, ou reformar e ampliar as sedes atuais.
Na gestão Eduardo Seabra Fagundes, a Ordem continuou na
sua posição de destaque na defesa dos direitos humanos, e na
denúncia dos abusos contra as garantias individuais. Reiniciados
os trabalhos do Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Huma-
31 Os trabalhos do Seminário estão publicados no volume Seminário
sobre Criminalidade Violenta (23 a 25 de abril de 1980). 421 pp.

216
na.. 0 Presidente Eduardo Seabra Fagundes teve nesse Conselho
uma atuação destacada, profligando sempre a inoperância das
decisões, lutando contra o sig^o que por força de lei rege tais
deliberações.
Em companhia do Presidente da Associação Brasileira de
Imprensa, Barbosa Lima Sobrinho, e do Presidente da Associação
Brasileira de Educação, Benjam in Albagli, Eduardo Seabra Fagun­
des trabalhou pelos direitos da pessoa humana. Com a posição
assumida pela Ordem e o reinicio dos trabalhos do Conselho,
afluíram para a Ordem dezenas e dezenas de pedidos, representan­
do a instituição como que um receptáculo das reivindicações de
indivíduos e familiares que não tinham outro meio para onde se
dirigir. Entre tais processos, cumpre destacar a tentativa de reaber­
tura do processo de desaparecimento do Deputado Rubens Paiva, a
investigação feita sobre as ossadas de presos políticos em Rio Verde,
em Goiânia, a cujas diligências esteve presente o Vice-Presidente
José Paulo Sepulveda Pertence, e acompanhamento dos trabalhos
de localização da casa em Petrópolis utilizada como local de refúgio
pelos órgãos de segurança.
Por força também de sua atuação o Presidente Eduardo Seabra
Fagundes recebeu várias convites para comparecer a reuniões
internacionais, tendo estado presente à reunião de Cbsta Rica
sobre Direitos Humanos na América, promovida pela Anistia In­
ternacional e participado de colóquio em Genebra, sobre Direitos
Humanos no Uruguai em fevereiro de 1981.
A VIII Conferência Nacional dos Advogados da Ordem dos Ad­
vogados do Brasil realiaou-se em Manaus, Estado do Amazonas, no
Hotel Tropical, de 18 a 22 de maio de 1980, no ano do cinqüente­
nário da Ordem e homenageando os primeiros Presidentes do
Conselho Federal e Conselho Seccional do Amazonas, respectiva­
m ente, Levi Fernandes Carneiro e Waldemar Pedrosa.
Na sessão de abertura, com a presença do Ministro Francisco
Manoel Xavier de Albuquerque, Vice-Presidente do Supremo Tribu­
nal Federal, e de Ibrahim Abi-Ackel, Ministro da Justiça e repre­
sentante do Presidente da República e de José Bernardino Llndoso,
Governador do Estado do Amazonas, usaram da f®,lavra, saudando
os convencionais, José Paiva de Souza Filho, Presidente do Con­
selho Seccional do Estado do Amazonas e em nom e das delegações
visitantes Justino de Vasconcelos, Presidente do Conselho Seccional
do Estado do Rio Grande do Sul. Eduardo Seabra Fagundes, Presi­
dente do Conselho Federal da Ordem dos Advogados, usou também
da palavra destacando a importância do conclave, o tem a principal
a que foi cometido, Liberdade, exam inando os aspectos da reali­
dade brasileira para afinal concluir:

“Nosso amor pela liberdade é indissociável de nossa


fé na democracia. Nos regimes mais ou menos totaJitá-

217
rios, a liberdade jamais floresce verdadeiramente. Neles
existe, quando m uito, o que se poderia denominar per­
missão, freqüentem ente revogada ou suspensa quando
os detentores do poder se sentem ameaçados ou moles­
tados pelas críticas e reivindicações.
A liberdade que viemos discutir nessa VIII Conferên­
cia não pode ser compreendida senão com produto final
que tem como componentes imprescindíveis vários direi­
tos e liberdades, entre os quais avultam a liberdade
sindical, o direito de greve, o direito de expressão do
pensamento, inclusive pelos meios de comunicação de
massa, o direito de participação ativa e o direito da for­
mação dos órgãos do Estado, a liberdade de organização
partidária e a liberdade de propaganda política.
Diante dos que descrêem da aptidão dos brasileiros
pelo jogo democrático respondemos com outro pensa­
mento de Bertrand Russel: “Quando ouço falar que o
povo não está bastantem ente preparado para a demo­
cracia, pergunto se haverá algum homem bastantem en­
te preparado para ser déspota”.
Os advogados permanecem unidos em todos os seus
ideais de Liberdade, Igualdade, Justiça e Democracia.”

As teses da Conferência foram as seguintes:

1. Liberdade e Direito de Asilo.


RELATOR: José Paulo Sepulveda Pertence
2. Liberdade e Estado de Direito.
RELATOR: Otávio Caruso da Rocha
3. A Liberdade e o Ensino Jurídico.
RELATOR: José Lamartine Corrêa de Oliveira
4. Direito de Informação.
RELATOR: Barbosa Lima Sobrinho

5. A Liberdade Sindical.
RELATOR: José M artins Catharino
6. Liberdade e Proteção do Meio-Ambiente.
RELATORES: Aurélio Wander Basto® e Nilo Batista
7. Liberdade e Cultura.
RELATOR: Evaristo de Morais Pilho
8. Liberdade e Abuso do Poder na Repressão à Criminalidade.
RELATOR: Teclo Lins e Silva

218
9. A. Liberdade e Segurajiça Nacional.
RELATOR: Miguel Reale Júnior
10. Liberdade e Direito à Terra.
(Controle do solo urbano. Solo criado. Direito de superfície).
RELATOR; Ricardo Pereira Lira
11. Liberdade e Mulher.
RELATOR: Dione Prado Stam ato
12. Liberdade e Assistência Gratuita.
RELATOR: Evilasio Caon
13. Liberdade, Desenvolvimento e Advocacia.
RELATOR: Victor Nunes Leal
14. As Imunidades Profissionais do Advogado e sua Garantia.
RELATOR: Ariosvaldo de Campos Pires
15. O Princípio da Liberdade na Prestação Jurisdicional.
RELATOR: José Ignacio Botelho de Mesquita
16. Liberdades Constitucionais e Processo Penal.
RELATOR: Antonio Acir Breda
17. O Poder Econômico do Estado e a Liberdade Individual
RELATOR: Octavio de Oliveira Lobo
18. A Ordem dos Advogados do Brasil e a Defesa da Liberdade.
RELATOR: Hermann Assis Baeta
19. A Liberdade e os Grupos de Pressão.
RELATOR: Alberto Venancio Filho
20. liberdade e Federação.
RELATOR: Djalma Marinho
21 Liberdade — Planificação — Tecnocracia.
RELATOR: Clovis Ferro Costa
22. As Liberdades Econômicas e o Princípio da Igualdade.
RELATOR: Arthur Lavigne
23. A Liberdade e o Direito à Intimidade.
RELATOR: René Ariel D otti
24. Liberdade e Justa Distribuição da Renda Nacional.
RELATOR: Joaquim Correia de Carvalho Jr.
25. Liberdade: Amazônia e Soberania Nacional.
RELATOR: Camillo Montenegro Duarte
219
26. A Liberdade Individual e o Princípio de Legalidade no Estado
de Direito.
RELATOR: Olimpio Costa Júnior
27. O Controle da Constituição das Leis como Instrum ento de
Preservação da Liberdade.
RELATOR: Paulo Brossard

28. Liberdade e Seguridade Social.


RELATOR: Sully Alves de Souza
29. O Modemo e o Antigo Conceito de Liberdade.
RELATOR: Celso Lafer
30. Liberdade e Poder Regulamentar.
RELATOR: Geraldo Ataliba

31. Liberdades Formais e Liberdades Reais.


RELATOR: Fabio Konder Comparato

32. Liberdade e Família.


RELATOR: João Baptista Villela

33. O Habeas Corpus


RELATOR: Evandro Lins e Silva
34. O Mandado de Segurança e a Liberdade.
(Deterioração, recuperação e aperfeiçoamento do in stitu to).
RELATOR: Miguel Seabra Fagundes
95. A Liberdade e o Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa
Humana.
RELATOR: Heraclito Fontoura Sobral Pinto

36. A Tutela Jurisdicional da Liberdade.


RELATOR: Sergio Bermudes

37. Perda da Liberdade.


(Os direitos dos presos)
RELATOR: Heleno C. Fragoso

TESES AVULSAS

O Direitos e Liberdades dos Trabalhadores.


RELATOR: Benedito Calheiros Bomfim

O Liberdade: Tortura e Confissão como Prova de Culpa.


RELATOR: Osmar Alves de Melo

220
o Liberdade Dentro da Constituição.
RELATORA: Maria Lucia d’Avila Pizzolante
O A Crise do Direito, o Submodelo Jurídico Brasileiro e Emergi-
m ento do Novo Direito Civil, em um Contexto de Liberdade.
RELATOR: João B atista Ericeira
O O Direito à Liberdade.
RELATOR: Lauro Farias
O Liberdade e Democracia Formal, o Estado Democrático Bra­
sileiro.
RELATOR: Ary Fausto Maia
O Liberdade, Proteção do Ambiente.
RELATOR: Roberto dos Santos Vieira
O Da Competência para o Julgam ento dos Crimes Previstos na
Lei de Segurança Nacional (Lei n.° 6.620/78) — Aspectos do
Direito à Liberdade.
RELATOR: Sidney F. Safe Silveira
O Subseção, Instrum ento da OAB na Defesa da Liberdade.
RELATORA: Maria Jovita Leite da Costa
O Liberdade, Segurança e Poder de Tributar.
RELATOR: Sacha Calmon Navarro Coelho
O A Ordem dos Advogados do Brasil e a Assembléia Nacional
Constituinte em Face das Liberdades Públicas e Civis.
RELATOR: Aloysio Tavares Picanço
TESES APRESENTADAS À COMISSÃO ESPECIAL
DE PREVIDÊNCIA
1.° Tema: O II Congresso Internacional de Seguridade Social
do Advogado e suas Recomendações.
RELATOR: Francisco Costa Netto
2.® Tema: A IV Conferência Nacional das Caixas e suas Re­
comendações.
RELATOR: Jayme Queiroz Lopes
3.° Tema: As Custas Devidas às Caixas e o Projeto de Lei
Complementar sobre a Oficialização das Serventias.
RELATOR: Francisco Costa Netto
4.® Tema: Uniformização Nacional do Custeio das Caixas de
Assistência e seu Procedimento Contábil.
RELATOR: José Freitas Lins

221
5.° Tema: Liberdade para o Exercício da Profissão: Meta das
Caixas de Assistência.
RELATOR: Saul Venancio de Quadros Filho
6.° Tema: A Seguridade Social dos Profissionais Liberais.
RELATOR: Adelmo Monteiro de Barros
7.° Tema: A Seguridade Social dos Profissionais Liberais e as
Distorções da Legislação Brasileira.
RELATOR: Francisco Costa Netto
8.° Tema: A Liberdade e o Princípio da Subsidiariedade na
Seguridade Social.
RELATOR: Ney Cordeiro de Mello
Na sessão de encerramento, foi aprovada a Declaração de
Manaus:

“Os advogados brasileiros, reunidos na VIII Confe­


rência Nacional da Ordem dos Advogados do Brasil, fiéis
à sua vocação e ao dever que lhes impõe a lei,^ de contri­
buir para o aprimoramento da ordem jurídica, expri­
mem, nesta declaração, as preocupações e anseios de
toda a classe.
O grande problema atual do poder é um problema
de legitimidade. Não há poder legítim o, sem consenti­
m ento do povo. Qs advogados brasileiros afirmam que
falta legitim idade ao poder institucionalizado em nosso
país.
O regime instaurado em 1964, decorridos m ais de 15
anos, insiste em desprezar a forma democrática de legi­
tim ação através do voto popular. A m assa do povo per­
manece marginalizada e indiferente, quando não hostil,
a esse sistem a de governo, que dispensa a aprovação dos
governados e repele a vontade eleitoral.
Ainda agora, pretextos e artifícios estão em marcha
para suprimir eleições e prorrogar mandatos, forma de
criar representantes sem representações, com a alterna­
tiva de intervenção em todos os m unicípios do Brasil.
Vai, assim a ilegitimidade, num crescendo, contaminar
0 exercício do poder em todos os planos da adm inistra­
ção e da vida pública do país. Os advogados brasileiros
não podem ficar insensíveis a esse atentado contra a
democracia e o vem denunciando à Nação.
Por outro lado, a aplicação sistem ática de uma dou­
trina autoritária de segurança nacional, carregada de
preconceitos, tem gerado apenas o reforço de autoridade,
à custa da crescente insegurança coletiva.

222
o anunciado abandono do regime de exceção não
conduziu à restauração da responsabilidade na esfera do
poder político, com a supressão do arbítrio e da violên­
cia institucionalizada como forma de governo.
Os advogados brasileiros assinalam ainda que o
sistem a político em vigor repudia o essencial princípio
democrático da alternância no poder.
Essa ilegitim idade de base criou a presente desor­
dem constitucional, agravada pelo AI-5 e pela Emenda
n ° 1, oriundos de poderes que a Nação não conferiu aos
seus signatários, ^ ^ im se explica a permanência de leis
incom patíveis com a vida democrática, como as que
regem a chamada segurança nacional, a greve e a sindi-
calização das profissões.
É geral a repulsa à legislação ditatorial que, arman­
do o governo de poder absoluto, atenta contra as garan­
tias dos cidadãos, frustra o direito de greve e cerceia a
liberdade sindical.
A política econômica, posta em prática nos últimos
anos, exacerbou as notórias desigualdades regionais, se­
toriais e de classe.
Essa política tem agravado a situação do povo, com
uma inflação aterradora, que não se detém, pela inade­
quação do modelo econômico adotado às necessidades
do País. Resultado ainda m ais nocivo dessa política é
que ela acarreta um a distribuição de renda gritante-
m ente injusta, em prejuízo de todos os assalariados.
O desenvolvimento econômico da Nação, que supõe
a harmônica valorização do homem — seu capital mais
precioso — não pode realizar-se através de um a vida de
constante sujeição ao poder mais forte. Não se admite
0 crescente endividamento externo do país sem a fiscali­
zação e o controle do povo, através de seus represen­
tantes no Congresso.
Fora das cidades, os conflitos pela posse da terra""e
pela preservação das culturas indígenas vem confirman­
do o desacerto de uma orientação que favorece o esma-
gam ento dos m ais fracos. Na Amazônia, o enorme custo
social da modernização econômica é ainda agravado pela
falta de controle da exploração das riquezas e pela
am eaça à soberania nacional. Aqui também, a incapa­
cidade do sistem a não encontrou soluções satisfatórias
para os m últiplos interesses em jogo.
Só em clima de liberdade, com a participação e o
consenso do povo, o problema da Amazônia poderá ser
equacionado e resolvido, sem prejuízo para a intangibili-

223
dade do nosso território sem riscos para o equilíbrio
ecológico.
Os advogados brasileiros são porta-vozes do clamor
nacional pela reformulação inadiável das bases consti­
tucionais da nossa ordem jurídica. A Constituição não
pode ser uma concessão governamental. Ela é o ato sole­
ne de criação, por todo o povo, do regime político de
sua preferência.
A03 advogados brasileiros repugna colaborar em
qualquer tentativa de remendo constitucional que ainda
se queira perpetrar. O poder constituinte há de retom ar
ao povo, seu único titular legítim o. Urge a convocação
de uma Assembléia Constituinte que, superando em sua
composição os vícios inveterados de nossa representação
popular, incorpore efetivam ente ao processo político a
maioria que nele tem sido ignorada.
O conjunto de teses, que a VIII Conferência Nacio­
nal da Ordem dos Advogados do Brasil acaba de aprovar
associa o fecundo princípio da liberdade aos m ais varia­
dos campos da convivência social. A fonte inspiradora
de nossos debates foi a idéia de recriar condições para
que a norma jurídica não seja mais um comando do
alto, porém instrum ento de emanação popular para a
formação de uma sociedade democrática.
Os advogados brasileiros estão conscientes da missão
que vêm exercendo, em defesa da democracia, junta­
m ente com outras instituições, como a Igreja, enraiza­
das n a alm a do povo.
“A liberdade”, disse Rui Barbosa, em lição perene,
“não entra no patrimônio particular, como as coisas que
estão no comércio, que se dão, trocam, vendem ou com­
pram; é um verdadeiro condomínio social; todos o des­
frutam, sem que ninguém o possa alienar; e, se o
indivíduo, degenerado, a repudia, a comunidade, vigi­
lante, a reivindica.”
Reivindicamos o regime de Liberdade, como a aspi­
ração maior do povo brasileiro.
Manaus — AM, 22 de maio de 1980.”

Em 26 de agosto de 1980 foi entregue em sessão solene, post


m ortem , a Medalha Rui Barbosa a Nehemias Gueiros, com a pre­
sença de representantes da Ordem dos Advogados de Pernambuco
e do Tribunal de Justiça do mesmo Bstado. Representou a fam ília

82 Os trabalhos da VIII Conferência estão publicados nos Anais da VIII


Conferência Nacional dos Advogados. Manaus, Amazonas, 18-5-1980.
1.023 pp.

224
de Nehemias Gueiros, o seu filho, o advogado Frederico José Leite
Gueiros, que pronunciou curtag palavras de agradesim ento. Coube
a Dario de Almeida Magalhães pronunciar o elogio em discurso
de grande expressão, que destacou os brilhantes feitos em sua
carreira como advogado, como professor, a sua m ilitância na vida
pública, as obras publicadas para assinalar:

“Em todo esse cursus honorum — a cuja opulência


pouquíssimos advogados ou juristas do Brasil podem
oferecer cotejo — Nehemias Gueiros se conservou fiel à
personalidade e à maneira de ser que se estruturara nos
estágios iniciais da sua vida profissional. Nenhum prê­
mio lhe veio por acaso, ou por favor: todos foram alcan­
çados par droit de conquête, com o trabalho estrênuo,
com aplicação incansável ao estudo, com grande senso
de responsabilidade e vigilante a consciência dos deveres,
e quase sempre enfrentando galhardam ente duras
batalhas.”

E acrescentava:

“Quem lê, ainda hoje, os arrazoados de Nehemias


sen te palpitar o vigor, o ímpeto que ele comunicava às
suas alegações, da mesma forma que guardam lembran­
ça do calor e da vibração das suas palavras os que tive­
mos o ensejo de ouvir-lhe as sustentações orais. Mas,
veemente, e às vezes mesmo agressivo, não perdia ele o
tom afável e cortês com que amortecia os efeitos das
cuteladas e dos golpes desferidos na altercatio.”

E tratando de sua formação profissional, acrescentaria:

“Nehemias não se confinou numa especialidade pro­


fissional. A amplitude dos seus estudos e versatilidade
dos processos a cujo patrocínio foi solicitado lhe permi­
tiram debater, com igual proficência, questões jurídicas
da m ais variada natureza. A sua preparação se lastreava
num a visão abrangente dos vários campos do Direito,
pelo seu grande conhecim ento dos princípios básicos,
que permitiam a improvisação segura e bem estruturada,
ao fazer face às questões novas que a complexidade da
vida econômica e social, faz desaguar no foro.
Ainda sob tal aspecto, era advogado típico, seguindo
os melhores modelos.”

Destacaria afinal a sua atuação na preparação do projeto de


lei do Estatuto da Ordem dos Advogados:

225
“Foi esse trabalho a que ele se entregou com o
maior entusiasm o, e que reflete, fielm ente, a nobre e alta
concepção que tinha do nosso ofício e a posição de in­
fluência e prestígio que, no seu idealismo, almejava para
a entidade em que nos abrigamos. Foi uma tarefa árdua,
resultante de amplos estudos, como se vê dos copiosos
subsídios que procurou reunir para a formulação, que
realizou no esjkço de três meses, entre “vigílias e pervi-
gílias”, como assinalou no seu relatório. Realizou um
esforço sério e meditado, como proclamou no seu pare­
cer, na Câmara, o então Deputado M ilton Campos,
empreendendo o que cham ou de um a “revisão vertical”
do repertório legislativo referente à Ordem — revisão
que se fazia urgente porque na sua justa observação “o
elenco de leis sobre a Ordem dos Advogados do Brasil
tom ou-se um dos mais defeituosos da legislação brasi­
leira”. E por isso a sua reformulação se im punha “não
apenas no interesse da classe dos advogados m as do
próprio funcionam ento do Poder Judiciário”. ”

E concluía:

“Está a nossa Ordem agora melhor armada para


■ cumprir, cabalmente, a alta m issão que lhe cabe, não só
ao que diz respeito ao exercício da profissão, m as além
disso — e 0 que m ais importa — para que alcancemos
uma ordem jurídica realm ente justa, estável e fecunda,
em que a Justiça se im ponha pela competência, pelo
senso de responsabilidade e pela dignidade dos seus ser­
vidores — ideal de que desgraçadamente, cada vez mais
nos tem os distanciado nes5/es últim os 12 anos. O instru­
mento de ação e de combate está em nossas mãos. É
sobretudo obra de Nehemias Gueiros. É usá-lo com de­
cisão, hoje e sempre, com bravura e pertinácia, honran­
do o legado que recebemos do nosso inesquecível ho­
m e n a g e io .”

No dia 27 de agosto de 1980, encontrava-se o Conselho Federal


no início da tarde, com seu funcionam ento normal. A Secretaria
da 1.® Câmara se preparava para os trabalhos da reunião m ensal,
que se realizaria a partir das 15 horas. Nada fazia prever que
aquele dia teria desfecho tão trágico. Inopinadamente ouve-se o
estrondo de uma explosão, o funcionário José Ramiro vai à sala
da secretária Lyda Monteiro da Silva e se depara com a terrível
cena. A sala da funcionária destruída e dos escombros via-se ape­
nas um corpo agonizante. Foram chamados os primeiros socorros
da Caixa de Assistência que funcionava no mesmo prédio. D. Lyda

226
foi removida para o Hospital Souza Aguiar m as falecia logo ao
entrar. O que teria motivado esse ato de brutalidade inimaginável
a uma dedicada funcionária de mais de 40 anos de Ordem?
Pouco a pouco, o andar do Conselho Federal foi se enchendo
de gente. Conselheiros chegavam para a reunião da 1.® Câmara,
outros Conselheiros eram convocados pelo telefone, o pessoal da
imprensa e da televisão, autoridades e pessoas que vinham trazer
a sua solidariedade. O Presidente Eduardn Seabra Fagundes logo
em seguida reunia em sessão extraordinária e a partir daí em
sessão permanente o Conselho Federal, para verberar ao abrir os
trabalhos de forma veem ente a brutalidade do atentado, e cobran­
do, im ediatam ente das autoridades, a apuração dos responsáveis.
As declarações formais do governo foram imediatas, m as as provi­
dências tardaram e só dois dias depois chegaram à Ordem os
primeiros agentes da Polícia Federal para as averipiações de praxe.
A Ordem tomou a providência de escolher um perito independente,
o Sr. Antonio Carlos Vilanova, para conduzir suas investigações e
acompanhar os resultados dos trabalhos da polícia federal.
Desde o primeiro instante, chegava-se à conclusão de que o
petardo originava-se de um envelope, que chegara como corres­
pondência destinada ao Presidente do Conselho Federal. Este o
alvo direto da ameaça que desenganadam ente foi atingir uma
das suas funcionárias. Os dias passaram, e a Ordem, marginalizada
do inquérito da polícia federal, jam ais teve acesso aos seus resul­
tados até que o processo foi encam inhado à Auditoria Militar coni
a incriminação de suposto responsável, o Sr. Ronald W atters,
elem ento de direita, já anteriormente envolvido em atividades
terroristas.
Na sessão desse mesmo dia, o Presidente Eduardo Seabra Fa­
gundes leu resolução recém-baixada (n.° 120/80) criando no Con­
selho Federal da Ordem, Comissão de 15 advogados, presidida pelo
Presidente do Conselho Federal, com a finalidade de assessorá-lo
em sua atuação como membro do Conselho de Defesa dos Direitos
da Pessoa Humana, receber denúncias de violação de direitos hu­
manos, procedendo sindicâncias, entrevistas com os interessados,
e qualquer outro procedimento necessário à elucidação das queixas.
Essa Comissão, através de subcomissões, realizou no período in­
tenso trabalho no recebimento e exame de queixas e denúncias.
As comemorações do cinqüentenário da Ordem não puderam
se realizar no tom festivo de que se cogitava em virtude do aten-

w o atentado contra a Ordem, resultando n a m orte de D. Lyda Monteiro


da Silva, teve am pla repercussão n a im prensa nacional e internacional.
O enterro de D. Lyda M onteiro d a Silva mobilizou a cidade do Rio
de Janeiro e constituiu um a vigorosa m anifestação pacífica contra
os atos terroristas. D esenganadam ente, a Justiça M ilitar absolveu o
Sr. Ronald W atters, por fa lta de provas, e até hoje (março de 1982)
continua im pune o ato terrorista.

227
tado que causara a morte de D. Lyda Monteiro da Silva. Realizou
0 Conselho Federal sessão extraordinária, em tom de sessão ordi­
nária, para a qual o Presidente Eduardo Seabra Fagundes convo­
cou todos 03 ex-Presidentes para prestarem um depoimento sobre
as atividades da entidade: foram ouvidos os ex-Presidentes, mesmo
aqueles que não puderam comparecer, como Haroldo Valladao que
se encontrava fora do país, e Alcino Salazar que se achava acama­
do. Também falaram os delegados de cada Seccional, um por cada
Seção. Coube a Haroldo Valladão, o mais antigo e|x-Presidente,
trazer a primeira mensagem, recordando as sessões do Instituto
dos Advogados Brasileiros em 1930, quando da organização do
primeiro estatuto da Ordem, e da qual participara, na discussão
e votação, como Segundo Secretário, ao lado do Presidente Levi
Carneiro e do Primeiro Secretário, Philadelpho de Azevedo, lem­
brando inclusive a proposta que apresentara a favor do estágio, e
derrotada por voto do Presidente. Mencionou ainda o seu pronun­
ciamento como Presidente da Ordem por ocasião do vigésimo ani­
versário declarando “a criação da Ordem dos Advogados do Brasil
foi a causa m agna pleiteda pelos advogados do Brasil”.
Miguel Seabra Fagundes se reportaria ao episódio final de sua
presidência, com o término da elaboração do anteprojeto de lei do
Estatuto da Ordem dos Advogados do Brasil, encaminhado ao Mi­
nistro da Justiça Nereu Ramas, e o convite a Juscelino Kubitschek,
então Presidente, para que na transm issão do cargo a Nehemias
Gueiros comparecesse à Ordem, para assinar a mensagem do
Governo ao Congresso, que foi sim plesm ente reprodução do texto
apresentado pela Ordem dos Advogados. Miguel Seabra Fagundes
fez referência à atitude de Juscelino Kubitschek e Nereu Ramos,
ambos aprovando integralm ente o documento provindo da entida­
de, sem a ele aditar ou acrescentar um a única linha.
Alcino Salazar enfatizaria o papel da autonomia da institui­
ção, exemplificando com o caso ocorrido por ocasião da realização
do primeiro concurso para magistrados após a Constituição de 46,
e a regulamentação do tribunal local, criando comissão de cinco
membros, dos quais um só deles seria advogado. Um dos candidatos
impetrou mandado de segurança, exigindo o comparecimento do
representante da Ordem, e esta recorrendo ao Tribunal de Recur­
sos, teve afinal reconhecida a autonom ia da corporação e a inde­
pendência dos advogados, votando o Congresso logo em seguida,
por iniciativa da Ordem, lei genérica assegurando a eficiente cola­
boração da entidade.
Prado Kelly iniciaria o seu pronunciam ento dizendo que “em
meio século, esse conselho, foi, por sua missão, uma atalaia da
liberdade". Em pronunciamento extrem am ente curto, fazendo re­
missão às suas duas orações ao tomar posse e ao transmitir o
cargo de Presidente da Ordem, diria que esses conceitos não
tinham se esmaecido, mas registraria que “no biênio de tais ser­

22a
viços 0 plenário deste Conselho pareceu a todos os colegas uma
orquestra sem dissonâncias nem regências”.
Alberto Barreto de Melo, com uma vivência de 32 anos con­
secutivos de Casa, como delegado do Conselho Seccional de seu
Estado natal, em Sergipe, a partir de 1948, e subseqüentemen­
te Subsecretário, Secretário-Geral, Vice-Presidente, Presidente e
membro nato, mencionaria as grandes transformações da profis­
são, perdendo o seu caráter de profissão liberal e falaria da
preparação do anteprojeto do Estatuto da Ordem dos Advogadas
do Brasil, de cuja Comissão Preparatória participou e depois, da
Comissão Revisora, apontando os seus principais méritos. E depois
de se refererir à Ordem como forum descompromissado, declararia:

“Destes 32 anos em que aqui convivo, dou o meu


testem unho de que esta Casa nunca se envileceu nas
horas de opróbrio, nem entoou loas aos poderosos do dia
em suas incursões pelo arbítrio, a prepotência e a ile­
galidade.”

Laudo de Almeida Camargo iniciaria com as palavras de seu


ilustre pai, o Juiz Laudo Camargo, ao receber ao ensejo da aposen­
tadoria compulsória, a inauguração do seu retrato no Conselho da
Ordem e teceu considerações gerais sobre a instituição e a Casa.
José Cavalcanti Neves se centraria aos aspectos pertinentes
à defesa da Ordem Jurídica e aos Direitos Humanos, esboçados
n o discurso de posse como Presidente e no ofício dirigido no dia
seguinte ao Sr. Presidente da República e ao Sr. Ministro da Jus­
tiça, pedindo a im ediata convocação das seções do Conselho de
Defesa do Direito da Pessoa Humana, que afinal veio a se reunir
a partir de 13 de junho de 1971. Destacou as atividades realizadas
naquele Conselho, para, afinal, reproduzir deliberação dos presi­
dentes seccionais reunidos em Curitiba em 12 de junho de 1972, e
chamada a Declaração de Curitiba.
José Ribeiro de Castro Filho falaria da V Conferência
Nacional sob o título; O Advogado e os Direitos Humanos, o tra­
balho da Ordem contra a tentativa de subm issão ao Poder Executi­
vo através da expedição do Decreto n.° 74.296 e a publicação
do livro sob o título Razões da Autonom ia da Ordem dos Advogados
do Brasil; o esforço, quando o Congresso Nacional retirou da Ordem
0 controle do estágio e do Exame de Ordem, a realização do sim­
pósio publicado em livro sob o título Estágio e Exame de Ordem,
o comparecimento e a presença nas sessões dos Conselhos de De­
fesa dos Direitos da Pessoa Humana, e o trabalho em defesa dos
advogados e presos políticos.
Caio Mario da Silva Pereira falaria das duas ameaças contra
a Ordem, a subordinação ao M inistério do Trabalho e a imposição
de prestação de contas ao Tribunal de Contas, e o trabalho reali-

229
zado nesse assunto no campo dos direitos humanos, sobre a refor­
ma do Poder Judiciário, a inauguração do busto de Rui Barbosa,
no Palácio da Paz em Haia, os contatos internacionais, a come­
moração dos 45 anos do aniversário da Ordem, e a instituição do
Prêmio Visconde de São Leopoldo, por ocasião do sesquicentenário
dos cursas jurídicos.
Raymundo Faoro iniciaria o seu pronunciamento declarando
que: “Cinqüenta anos de vida da Ordem dos Advogados do Brasil,
eu acredito, são 50 anos de m ilagres”. Falaria da posição de incon-
formismo e de denúncia, a sua im ediata convocação para a cam^
panha de restabelecimento de um regime de legitim idade e acres­
centou;

“Ela começou na luta e n a luta ela está até hoje.


Foi esse espaço, um trabalho de Sísifo, m as com um
infortúnio para nós. Nunca levamos a pedra até o topo
da montanha. Lutamos para mudar o país, m as não
conseguimos.”

M anifestava-se pela continuidade da instituição, e acres­


centaria:

“Nós exprimimos a vontade, a consciência de um


ideário, que é o ideário dos advogados brasileiros, cons­
tituído ainda na rocha liberal do Império e que a nós
coube, neste século e neste meio século, particularmente,
coordená-lo a uma inspiração ainda irrealizada — que
é um a inspiração democrática. Na verdade, essa inspi­
ração democrática e essa tradição liberal tem um funda­
mento que está im plícito, que é a base da nossa profissão.
Nófi não temos privilégios, nós tem os prerrogativas
que não são nossas. Essas prerrogativas são a favor de
outrem. Em últim a análise em favor do povo.”

E concluiria:

“A nossa atividade é por natureza e por substância,


uma atividade que é do povo brasileiro, da Nação e
creio que, nesse particular, tem os sido entendidos pelo
povo brasileiro e pela Nação da qual nunca nos desliga­
mos. Nossa vanguarda consiste unicam ente em manter
de pé o protesto, a denúncia e o inconformismo.”

Palavras eloqüentes seriam pronunciadas ao abrir os trabalhos


pelo Presidente Eduardo Seabra Fagundes, que rememoraria o
principal m omento daa atividades da Ordem, para concluir de
forma expressiva:

330
“Os cinqüenta anos que ora comemoramos com or­
gulho, embora ainda com o coração repassado de tristeza
pelo brutal atentado que sofremos, nos levam à convic­
ção de que o nosso trabalho terá de prosseguir ainda,
seja na defesa dos direitos da profissão, seja no combate
árduo e penoso pela defesa da ordem jurídica e da estru­
turação constitucional do País em term os democráticos.
O arbítrio não foi varrido de todo, e m uito ainda
h á que fazer pelo expurgo completo dos resquícios da
ordem jurídica autoritária no nosso regime legal. É esse
o compromisso que aqui, neste momento, devemos assu­
mir, em nome desta geração de advogados e dos que,
no futuro, terão o privilégio e o encargo de conduz/ir os
destinos desta Casa.” -^*

Todos os pronunciam entos n a sessão estão publicados no volume


OAB — 50 anos. 1930-1980 (Sessão com em orativa do Conselho Federal
18-11-1980, 77 pp.
INDICE ONOMÁSTICO

Abi-Ackel, Ibrahim — 217


Abranch«s, C. A. D unshee — 95, 96. 106, 109, 116, 117, 127, 128, 131, 139, 141,
150, 151
Abreu, Alcides — 204
Abreu, Flavio Teixeira de — 205
Accioly Filho, Francisco — 203
Aguiar, Fausto Augusto — 12
Albagli, B enjam in — 217
Albergaria, Jason — 216
Albuquerque, Aloisio M onteiro de — 98
Albuquerque, Francisco M anuel Xavier de — 217
Aleixo, Pedro — 41, 65, 68
Alende, G uilherm e, — 183
Alessio, R enato — 79
Alionin, José M aria — 105
Almeida, Fernando José B asadona de — 186
Almeida, J. B arbosa de — 110
Almeida, W ashington — 74
Almeida M agalhães, B runo de — 71
Almeida, M agalhães, Dario de — 64, 65, 66, 67, 71, 77, 105, 108, 173, 175, 176,
225, 226
Almeida M agalhães, R afael de — 67
Almeida M agalhães, R aphael H erm eto — 204
Alvarenga, Octavio Mello — 171
Alves, Lulz Henrique — 126
Alves, M arcio M oreira — 144
Amazonaa, Joaquim Ignacio de Almeida — 41
Andrade, Carlos de M oraes — 41, 125
Andrade, F em andino C aldeira de —' 205
Andrade, M aria R ita Soares de — 118, 133
Andrade, Odilon de — 67, 76, 77, 85, 176
Andrade, Spinola die — 185
Andreucci, R icardo — 215
Aquino, Ivo de — 136, 137, 144, 153, 160

233
Aquino, José Thom az de — 12
Aragão, Alberto Teixeira de — 11, 13
A ranha, Oswaldo — 23, 24, 26, 28
Araujo, Paulo B arreto de — 100, 115. 182
Araujo Lima, Caries de — 152, 158, 160, 171
Arruda, João — 125
Assunção, panvphilo — 41, 54
Ataliba, G-eraldo — 204
Atheniense, A ristóteles B rasil — @9
Athayde, Austregiesilo de — 69
Augusto (Bezerra de Medeiros) José — 74
Azevedo, Alberto Gomes da R ocha — 203
Azevedo, (José) PhUadelpho de B arros e — 41, 50, 228
Azevedo, Noé — 109, 114, 115
Azevedo Sodré, Ruy — 108, 115
B aeta, H erm ann Assis — 73, 209, 219
Baleeiro, Aliomar — 106, 128
B andeira, Esm eraldino — 19
Barbi, Celso Agrícola — 179
Barbosa, Ary Coelho — 126
Barbosa, Rui — 13, 90, 161, 176, 182, 194, 224
Barbosa, B althazar G am a — 204
B arreto, Plinio — 71, 125
Barros, Antonio de Moraes — 34
Bastos, Aurélio W ander — 218
Bastos, João Azeredo — 144
B atista, M ario Neves — 143
B atista, Nilo — 216, 218
B atista Pereira, M aria Stela Rui Barbosa — 185
Bayma, Celso — 17
Belo, Paulo Pim entel — 131
Benevides, M aria Victoria de M esquita — 63, 73, 211
Bergam ini, Adolfo — 64, 65
Berger, H arry — V. Bwert, A rthur
Bermudas, Sergio — 189, 203, 220
B em ardes, Alfi«do — 83, 85
B em ardes, A rth u r — 55
Bernardes, G abriel — 30, 32, 33
Bessone, jDarcy — 118
Bias Fortes, J. F. — 86
Bicudo, Hélio — 216
B ittencourt, C. A. Lucio — 92, 126, 128
B ittencourt, J. Paulo — 205
Bomfim, B enedito CalheirM — 220
Borges, Ernesto P ereira — 174
Botelho, Jorge — 131

234
Bozano, Carlos Axagão — 94, 95, 106, 107, 111, 117, 118, 124, 128, 133, 152
Braga, Antonio P ereira — 30, 40
Braga, Odilon — 72
B raune, Cid — 42
Breda, Antonio Acir — 216, 219
Brossard, Paulo — V. Pinto, Paulo B rossard d a Silva
Buzaid, Alfredo — 116, 142, 197
Cabral, José B ernardo — 193, 209
Caetano, M arcelo — 145
Café Filho, João — 94
Calmon (Moniz de B ittencourt) Pedro — 192
Camargo, Laudo de Almeida — 139, 144, 148, 150, 151, 229
Camargo, Laudo F erreira — 88, 229
Campos, M ilton Soares — 67, 69, 102, 226
Cândido, Raym undo — 201
C anet Jr., Jay me — 201
Caon, Evllasio — 219
Cardoso, Adauto Lucio —- 69, 71,72, 74, 112
Cardoso de Melo — 34
Carneiro, Levi — 6, 1, 21, 22, 26, 27, 29, 33, 34, 35, 36, 40, 41, 42, 43, 45, 47,
49, 50, 52, 54, 56, 76, 85, 93, 121, 150, 228
Cam eiro, Nelson — 67, 75, 76, 94, 116
carn eiro d a C unha, Solano — 24, 28
C am eiro Leão, Honorio H erm eto — 13
C arter, Jim m y — 188
Carvalho, A. G ontijo de — 67
Carvalho, Elizabeto de — 76
Carvalho, Ja d e r — 64, 67, 69
Carvalho, Orlando M agalhães — 206
Carvalho, W aldem ar Teixeira — 125
Carvalho Filho, Aloysio de — 99, 102
C arvalho Filho, José Joaqutai — 182
C arvalho Jú n io r — Joaquim Correia de — 204
C arvalho M oreira, Francisco Inácio — 12
C arvalho Neto — 90
Carvalhosa, Modesto de Souza B arros — 150
C asaasanta, M ario — 52
Caseiro, Luciano S. — 205
Gastello Branco, Francisco Gil — 172
Castrioto, Henrique — 41, 53
Castro, F austo F reitas de — 62
Castro, Torquato — 143
Castro Filho, José Olímpio — 154
C atharino, José M artins — 218
C avalcanti, Carlos Povina — 106, 118, 119, 130, 132, 134, 197
C avalcanti, José Paulo — 142

235
Celiberti, Lilian — 189
Cerqueíra, M ayr — 93, 106, 108
Chagas, João Francisco das — 205
C hateaubriand (Bandieira de Melo) Francisco de Assis — 95
Chaves, Pedro — 114
Chaves, Raul — 179, 216
C hurchill, W inston — 64
Coelho, Nilo — 140
Ccelho, Sacha Calm on N avarro — 221
Coelho, Wilson do Egito — 131, 159
Com para to, Fabio Konder — 220
Corrêa, Oscar Dias — 145, 161, 185
Corrêa Filho, Vir^ilio — 11
Correia, Pedro de M agalhães — 111
Costa, Adroaldo M esquita d a — 127, 172, 173, 199
Costa, A rthur F erreira d a — 63, 64
Costa, Clovis Ferro — 219
Costa, Edgard — 24
Costa, José M aria Mac Dowell da — 76, 86, 91, 92, 96, 105, 106
Costa, M aria Jovita Leite — 221
Costa, Paulo — 70
Costa, W. Regalado — 118
Costa Jr., Olímpio — 220
Costa Lim a — 32
Costa Netto, Francisco — 121, 221, 222
Cruz, Alei G uaíba Amorim da — 144, 161
Cnu 2, Elm ano — 85
Cruz, José Telles d a — 75, 109
C unha Bueno — 92
C unha Melo, Danilo — 133
C unha Mello, Leopoldo — 41, 63
D allari, Dalmo — 201
D antas, P. C. San Tiago — 188
Demillecamps, Alcy — 109, 111, 144
Dias, J. A guiar — 94
Dias, José Carlos — 215
Dias, Universindo — 189
Doria, F ranklin — 17
Donnlcl, Virgilio — 161, 172, 203, 214, 216
Dotti, René — 180, 205, 219
D uarte, Aureliano — 125
D uarte, Camillo M ontenegro — 219
D uarte, Sam uel — 137, 138, 139, 140, 142, 143, 145, 197
D upin — 14
D utra, Eurico G aspar — 86
Eisenhower, Dwight — 64

236
Elbrick, Charles B urke — 145
Em erenciano, Jordão — 144
Ericeira, João B atista — 221
Espírito Santo, Riiy C esar — 147
Ewert, A rth u r — 57, 58, 59
Falcão, Corintho de A rruda— 114, 124, 137, 212
Falcão, D jaci — 143, 144
Faoro, Raym undo — 153, 154, 186, 187, 188, 189, 191, 193, 194, 201, 211, 230
F arat, A nuar — 76
F aria, Zeferino de — 46
Farias, Lauro — 221
Fernandes, R aul — 41, 42, 67, 72, 73, 74. 136, 193
Ferrão, Antônio de A branches — 11
Ferrão, Fernando de A branches — 11
Ferraz, E sther de Figueiredo — 170
Ferraz, Paulo M alta — 109
Ferraz, R ubens — 159, 160, 172, 174
Ferraz, Tercio Sam paio — 206
Ferreira, G ualter — 21, 22, 30, 32, 33
Ferreira, Oliveiros — 206
F erreira, Rosa M aria Fischer — 215
Ferreira, Them istocles M arcondes — 26, 74, 86, 96, 106, 114, 121, 124, 134, 135
Ferreira, W aldem ar — 50, 109
F erreira Filho, M anuel Gonçalves — 184
Figueira, Helio Erm irio — 161
Figueiredo, Erasm o B arros de — 205
Figueiredo, J. c a n u to — 19
Fonseca, Gelson — 161
Fonseca, José Pedro — 12
Fonseca, Marcos Luiz B retas d a — 5
Fontenelle, Jorge D yott — 72
Fragoso, Heleno (Claudlo) — 141, 146, 158, 160, 169, 174, 214, 215, 220
França, Ivan Paixão — 136, 146, 152, 161
F ran ch in i Neto, M anuel — 184
Franco, João Nascimento — 143
Franco, Oliveira — 106
F reitas, Alaríco de — 41
F rejat, José — 206
Frey, Ivo — 171
F urtado, M aurício — 106
G allotti. Luiz — 43, 94
G arcia, Basileu P. — 115
G arcia, M ario Sérgio D uarte — 4
Gelsel, Ernesto — 187, 201
Gil, O tto de A ndrade — 115, 130, 138, 151, 170

237
Godoy, Claro Augusto de — 100, 118
Goldstein, Sonla — 129
Godlnho, G ualter — 184
Góis M onteiro, Silvestre Pericles — 91
Gomes, Brig. Eduardo — 71, 72
Gomes, Orlando —< 109, 142, 149, 173
Gonçalves, Francisco — 86
Gonçalves, J. N. M ader — 75, 76
Gonçalves, M anoel — 67, 75
Gouvêa Vieira, João Pedro — 149
Grinover, Ada Pellegrini — 179
Gueiros, Frederico José Leite — 225
Gueiros, Nehem ias — 26, 67, 94, 96, 97, 100, 101, 104, 105, 106, 107, 108, 110,
113, 116, 121, 123, 130, 141, 143, 154, 163, 164, 169, 184, 224, 225, 226
Guim arães, Álvaro Leite — 161
Guim arães, Carlos d a R ocha — 137
Guim arães, Carvalho — 50
Guim arães, Jorge L afayette P. — 121, 134
Greigori, Henrique Sergio — 185
Guim arães, Luia Chem in — 216
Guim arães, M ario — 137
Guim arães, M urilo (Hum berto de B arros) — 140, 141
G u im arã^, Ulisses — 91
Haddock Lobo, Eugenio Roberto — 121, 171
Heusi Neto, M arcos — 189
Igrejas, Venancio — 129
Jansen, Hum berto — 204
Jansen, Letacio — 32, 33, 92, 94
Jan sen Jr., Letacio — 324
Jesus, Mario C arvalho — 147
Junqueira, Ávila Diniz — 114
Kovarick, Lúcio — 215
K ubitschek de Oliveira, Juscelino — 100, 228
K reitschm an, Paulo — 205
Lacerda, Carlos — 75
Lacerda, Francisco — 183
Lacerda, Ruy Homem de Melo — 180
Lachts, M anfred — 185
Lacombe, Carlos Alberto — 144
Lafer, Celso — 220
Lagies, A franio — 102
Lam ounier, Bolivar — 211
Lamy Filho, Alfredo — 180
Landim, Jaim e — 113

238
Lavigne, A rth u r — 214, 216
Leal, Aurelino — 14, 15, 18, 19, 20, 26
Leal, Victor Nunes — 57, 95, 111, 154, 204, 219
Leite, Evandro Gueiros — 124, 130
Leite, Gervasio — 170
Leite. Nlcolau Rodrigues dos Santos F rança — 12
Lem aire, J«an — 148
Lem gruber, Ju lita — 216
L entini — 79
Leonardos, Luiz — 149
Leonardos, Thom az — 142, 143
Lima, Albino — 170
Lima, Francisco Negrão de — 118
Lima, João M ilanez C unha — 216
Lima, Ronaldo José d a Costa — 159
Lima, Rui Cirne — 173
Lim a Sobrinho, B arbosa — 217, 218
Lindoso, José B ernardino — 217
Linharfes, José — 73
Lins, José F reitas — 221
Lins e Silva, Evandro — 91, 92, 96, 204, 214, 220
Lins e Silva, Técio — 218
Lisboa, Clem entino de Almeida — 125
Lobo, Candido — 83, 84
Lobo, Octavio de Oliveira — 218
Lobo, Pelágio — 125
Lopas, Jaym e Queiroa — 221
Loretti, Jo i^e — 170
Luiz (Pereira de Souza) W ashington — 23, 55
I^ r a , Luiz — 135, 137, 144
Lyra Pilho, Roberto — 215
Macedo, Sérgio do Rego — 172
Macedo, Sergio Teixeira — 32, 33
Macedo Neto, João Gonçalves — 126
M acedonia, Leonardo — 54
Maciel, M arco — 201
M achado, Paulo Simões — 129
M achado, R aul — 57
M agalhães, Agamemnon — 73
M agalhães, Agenor T. — 124, 137
M agalhães, Juracy — 136
M agalhães, Teodoro de — 19
M agarinos Torres — 40
M aia, Ary Fausto — 221
Maia, José M otta — 14
M aia, Paulo Américo — 144

239
M alan, Pedro — 215
Malhieiros, Francisco Sales — 33, 42, 75, 125, 126
Mange, R o ^ r de C arvalho — 115
M arcondes Filho, Alexandre — 126
M arinho, Jo sap h a t — 175, 186
M arinho, A rth u r — 83, 84
M arinho, S aldanha — 15
M arques, Azevedo — 43, 53
Marques, João — 19
M arques Filho, J. J. — 76
M arques dos Reis, Joaquim .,— 34
M artini, Nildo — 171
M artins de Almeida — 62, 75, 81
M artins F erreira — 74
M artins Rodrigues, Carlos M auricio — 159
M ascarenhas, Augusto da Silva — 182
M assena, Nestor — 61
M attos, Aderbal M elra — 141
M attos, João — 41
M ayer, Luiz R afael — 195, 196, 199, 201
M edeiros (da Fonseca) Amoldo — 30, 32, 60, 77
Melo, Alberto B arreto de — 26, 76, 77, 86, 89, 91, 97, 100, 102, 106, 110, 111,
115, 118, 121, 133, 135, 137, 229
Melo Viana, Fernando — 52, 54, 55, 57, 61, 62, 63, 67
Melo, Julio — 126
Melo, O sm ar Alves — 220
Mello, Cordeiro — 222
Mello Franco Filho, Afonso Arinos — 11
Mello Franco, V ii^ilio — 69
Mendes de Almeida, C ândido — 33, 40, 50
M endes de Almeida (Fernando) — 20, 204
Mendes Ju nior, O nofre — 63
M endes Pim entel, Francisco — 54, 62
M endonça, Yolanda — 172
Menegale, J. G uim arâes — 109
Menezes, Luiz P ortunato de B rito e Abreu Souza — 12
M esquita, José Ig n a d o Botelho de — 219
M U an^, M areia M. — 205
M iranda, Bartolom eu Bueno de — 115
M iranda, Décio (Meirelles) de — 27
M iranda Jordão, Edm undo de — 21, 26, 30, 32, 33, 43
M iranda Jordão, H arytterto — 126
M iranda Lim a, Leopoldo C esar — 113
M iranda Lima, T herezinha S. — 180
M oitinho Dória, A. — 26, 30, 33
M onteiro de B arros, Adelmo — 222
Moniz de Aragão, % a s Dirceu — 203

240
Monteiro, José Carlos B randão — 160
M onteiro de caj?tro, José — 71, 73
M ontezuma, Francisco Gê Acaiaba de — 12, 13, 14,
Moraes Neto, Luiz M endes de — 105
M oraes Rego, Augusto Sussekinà — 146, 158
Morais, J. B. V iana de — 178, 183
Morais, Ju sto (Mendes) de — 30, 72, 108
M orais pilho, Antonio Evaristo de — 160, 214, 215
M orais Filho, Evariáfto de — 16Ô, 203, 215
M orato, Francisco — 40
Mioreira, João d a R ocha — 108
M oreira, José Carlos B arbosa — 204
M oreira, Paulo R angel — 140
Moura, G astão Q uartin P into de — 126
Moura, Levy Raw de — 147
M ota, Dias d a — 12
M unhoz Neto, Alcides — 203
Muniz, Francisco F erreira — 203
Nabuco, C arolina — 63
Nabuco, Joaquim — 15
Nabuco de Araújo, José Thom az — 15
Nachpiz, Sam uel — 129
Nascimiento, Antonio Teodoro — 171, 177, 182
Nascimento, José D anir Siqueira — 159, 161
Nascim ento Silva, Josino — 12
Nascimento e Silva, Luiz Gonzaga — 149
N azareth, Luiz Antonio d a Silva — 12
Negrão, Teotônio — 108
Neves, Francisco Serrano — 72, 138, 160, 203
Neves, Francisco Thom az de Figueiredo — 12
Neves, José C avalcanti — 123, 140, 143, 145, 152, 153, 155, 156, 159, 229
Neves, José E duardo dos Santos — 183
Nóbrega, W andick Londres d a — 185
Nonato (da Silva), Orosimbo — ’94
Nunes, Eustachio P ortela — 215
Octavio Filho, Rodrigo — 111
Oiticica, Francisco d a Rocha Leite e — 108, 131
Oliva, Albertino de Souza — 147
Oliveira, Abgar Soriano de — 114
Oliveira, Fernando A ndrade — 172
Oliveira, Fernando B astos de — 126
Oliveira, João G ualberto — 55, 76
Oliveira, José C aetano de — 126
Oliveira, José L am artine C orrêa d e — 203
Oliveira, Moacarr Velloso Cardoso — 204
Oliveira, R afael Corrêa — 69

241
Oliveira Filho, João — 171, 180
Oliveira Neto, Cândido — 109, 110
Osório, Antônio Carlos — 148, 149
Paiva, Rubens — 217
P ará Filho, Thomaz — 116
Pasqualini, Paulo Alberto — 173
Passos, Almir — 147
Passos, Darcy Paulilo dos — 204
Paulon, Carlos Alberto — 202
Pedrosa, B ernadette — 203
Pedrosa, W aldem ar — 217
Pereira, André de F aria — 23, 27
Pereira, B atista — 15
Pereira, Caio M ario da Silva — 143, 153, 173, 174, 175, 176, 178, 182, 183,
184, 186, 193, 203, 229
Pereira, O. Lim a — 94
P ereira Lira, Ricardo César — 219
P ereira Neto, Francisco Emygdio — 115
Perilo, Joaquim Augusto — 135
Pertence, José Paulo Sepulveda — 209, 212, 214, 218
Picanço, Aloysio Tavares — 221
Picanço, M acario — 85
Pim enta, Euripsdes Carvalho — 179
Pim enta, J. A. Bueno — 201
Pim entel, Manoel Pedro — 115, 215
Pim entel, M arcelo — 196
Pinheiro, Paulo Serglo — 216
Pinheiro M achado, B rasil — 206
Pinho, Dem osthenes M adureira de — 41, 96
Pinho, Soares de — 74
Pinho, Them istocles Américo Caldas — 205
Pinto, Alfredo — 18, 19, 20, 26
Pinto, Antonio P ereira — 12
Pinto, pstevam — 47, 53
Pinto, José M aria Frederico de Souza — 12
Pinto, Paulo B rossard de Souza — 142, 170, |220
P into Lima, Augusto — 30, 32, 40, 42, 63, 64, 70, 71, 72, 73, 75, 76, 77
Pires, Ariovaldo de Campos — 180, 219
Pires, A rthur Porto — 139
Piragibe, Vicente — 27
Pizeolante, M aria Lucia d’Avila — 221
Pognard — 92
Ponte, José M iram ar da — 116
Pontes de M iranda, Francisco C avalcanti — 170, 203
Ponzi, Alfio — 144
Pcrtão, Ram ão Gomes — 215
Portela, Bartolom eu — 40

242
Portela, Petrônio — 187, 188, 201
Póvoa, Paulo — 50
Prado Kelly, J. E. — 114, 116, 117, 119, 173, 193, 228
Prado Neto, João Adelino de Almeida — 179
Prestea, Luiz Carlos — 57, 58, 59, 61
Quadros, Jan lo — 117
Quadros Filho, Saul Venancio — 222
Queiroz, João José d e — 83, 84
Queiroz, José de Siqueira — 12
R am alhete, Clovis — 170, 172, 178
R am alhete, Ubaldo — 54
Ramiro, José — 226
Ramos, Nereu — 41, 100, 228
Rao, Vicente — 34
Reale, Miguel — 115, 116, 170, 173
Reale Jr., Miguel — 204, 216, 219
Rego Filho, Edmundo de Almeida — 139
Rego, G aston Luiz — 118, 129, 131, 132
Rego, Ricardo — 21, 22
Reis, Antonio Carlos Nogueira — 171
Reis, M anoel M artins dos —1 159. 186
R«is, Nelio — 136, 142
Requião, Rubens — 179, 203
Rezende, Astolfo — 22, 54
Rezende, Oswaldo Astolfo de — 171, 174
Rezende, Oswaldo M urgel de — 33, 94, 106, 126
Rezende, Francisco B arbosa de — 41
Ribas Carneiro, EÜgard — 21, 22, 30, 32, 43
Ribeiro, Edson de Oliveira — 74, 85, 89
Ribeiro, R enato — 113
Ribeiro, Targino — 41, 49, 50, 54, 58, 71, 72, 73
Ribeiro de C astro Filho, José — |15@, 162, 173, 176, 229
Ribeiro da Costa, A. M oitinho — 57
Rocha, Anisio — 129
Rocha, A rthur — 50, 74, 86
Rocha, Eloy José de — 169
Rocha, Otávio Caruso d a — 218
Rodrigues, João Custódio — 179
Rodrigues Neto, José — 147
Rohan, Sanelva de — 41, 86
Roosevelt, F ran k lin D. — 64, 69
Roselli, Alberto — 41
Rossi, J. B. Prado — 148
Russel, Alfredo M ourão — 84, 85
Sá, EmeSto — 54

243
Sá Pereira, Eurico de — 33, 35
Salazar, Alcino de Paula — 74, 81, 106, 109, 110, 111, 112, 113, 114, 116,
117, 173, 228
Saldanha, Aristides — 75
Saldanha, Nelson — 194, 203
Salles, Eurico — 76
Sampaio, Cantidio — 175
Sampaio, Nelson de Souza — 182
Sam paio Doria, Antonio Roberto — 149
S antana, Edson Rubens Ivo de — 183
Santos, Juarez Cirino dos — 215
Santos, Teófilo de Azeredo — 115
Saraiva, Oscar — 32, 125
Sciesari, Nelson — 179
Serra, Edgar Vargas — 150
Seabra Fagundes, Eduardo — 3, 5, 6, 14, 154, 193, 209, 211, 214, 216, 217,
227, 228, 230
Seabra Fagundes, Miguel — 25, 79, 90, 91, 93, 94, 100, 108, 114, 115, 137,
143, 145, 146, 153, 169, 173, 193, 194, 197, 206, 220, 228
Silva. Alberto M onteiro d a — 92
Silva, Aurélio — 33
Silva, Carlos Medeiros — 124, 130, 173
Silva, Colemar N atal e — 113
Silva, Edgar M oreira — 205
Silva, Fruncisco P ereira d a — 76
Silva, G am a e — 114
Silva, Hedberto P inela da — 129
Silva, João P austino d a — 34
Silva, José Afonso — 180
Silva, Ju ra n d ir S antos — 159
Silva, Lyda M onteiro d a — 5, 57, 76, 226, 227, 228
Silva Telles Jr., Gofredo — 203
Silveira, Alfredo B altazar — 12, 126
Silveira, R aul Souza — 124, 137, 144, 174, 186
Silveira, Sydney F. Safe — 221
Simas, Hugo — 201
Soares, Oil — 103
Soares, R aul — 55, 56
Soares, Caetano Alberto — 12, 15
Sobral Pinto, H eraclito F ontoura — 7, 57, 58, 59, 60, 65, 66, 67, 68, 70, 72,
73, 134, 136, 141, 144, 154, 155, 170, 175, 176, 178, 220
Sodré, Antonio Roberto de Abfeu — 150
Souza, André Fernandes de — 124
Souza, Cid Vieira de — 177
Souza, D aniel Coelho de — 142
Souza, Danilo M arcondes de — 144, 158, 160, 172
Souza, Ekel Luiz Servlo de — 216

244
Souza, J. F erreira de — 125
Souza, Joaquim Gomes Norões e — 144, 186, 193
Souza, Mário G uim arães de — 109
Souza, Ney Lopes — 203
Souza, Paulino José Soares — 13
Souza, Ruy — 204
Souza, guUy Alves de — 220
Souza Leão, Domingos — 63
Souza Filho, José P aiva — 217
Souza Pinto, A. de — 33
Stam ato, Dione Prado — 179, 219
Stelnbruch, A arão — 113, 129
Tarso (Santos), Paulo — 113
Taunay, Visconde de — 53
Tavares, Arnaldo — 41
Tavares, George — 146, 158
Távora, A raken — 57
Tebet, A brahim — 171
Tebceira, Julio Fernandes — 171
Teixeira de F reitas, Augusto — 12, 182
Temer, Michel — 179
Theiler, Eduardo O tto — 40
Thompson, Augusto — 216
Tiradentes, V. X avier, Joaquim José d a Silva — 161
Toledo, Edgard — 86, 92, 94, 96
Torres, José Joaquim Rodrigues — 13
Tovar, J a ir — 27, 74, 86
Trigueiro (de Albuquerque Melo) Oswaldo — 52, 57, 62, 67, 74
Vale, Edgard Queiroz — 159
Valente, G ilberto — 75
VaJladao, Haroldo — 23, 27, 33, 48, 85, 86. 87, 88, 89, 139» 141, 149, 183,
193, 228
Valle, Eurico — 41
Valle, Oswaldo de Souza — 81, 131
Van R oijen — 185
Vargas, D arci — i l l
Vargas, G etúlio — 63, 64, 72, 73
Vasconcelos, Abner — 83
Vasconcelos, C uüha — 83, 84, 85
Vasconcelos, Ju stino — 171, 217
Vasconcelos, Luiz Cruz — 205
Vasconcelos, Nilo (C arneiro Leão) — 60, 61
Vaz, R ubens — 93
Veiga, Didimo d a — 50
Velho, G ilberto Alves — 215
Venancio Filho, Alberto — 3, 4, 6, 11, 205, 215, 219

245
Vergara, Oswaldo — 76
Vidal (Leite Ribeiro), Arm ando — 12, 13, 15, 17, 18, 19, 20, 30, 31, 32, 33, 42
Vieira, J. J. Pontes — 41
Vieira, Roberto dos Santos — 221
Vieira Neto — ;139
Vilanova, Antonio Carlos — 227
Vilanova, Lourival — 149, 179
Villasboas, João — 41
Villela, João Baptti&ta — 220
Virmond, Eduardo R ocha — 201, 206
Vivacqua, Atilio — 34, 43, 45, 47, 49. 52, 61, 62, 67, 89, 90, 91
W alcacer, Hélio — 74
Wald, Amoldo — 142, 149, 151, 153
W aline, Maro5l — 83
W atters, Ronaldo — 227
W effort, Francisco Corrêa — 206, 211, 215
W ilhelm, Jorge — 215
Xavier, Joaquim José da Silva — 161
Zerbine, T herezinha — 205
Zacarioti, José — 133
Zweitzer, W aldem ar — 161

246
Composto e impresso nas oficinas da
FOLHA CARIOCA EDITORA LTDA.
Ruâ João Cardoso, 23, tel.: 283-0678
CBP 20220 - Rio de janeiro - RJ

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