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Serviço de Ginecologia e Obstetrícia

UAG da Mulher e da Criança


Hospital de S. João
Revisto em Maio 2008
(Protocolo elaborado por: Sandra Soares, Pedro Baptista, Anabela Melo, Vera Paiva, Alda Correia)

Carcinoma do Endométrio

1. INTRODUÇÃO
A nível mundial, o carcinoma do endométrio é o 2º tumor mais frequente do tracto genital feminino; nos países europeus e EUA ocupa o
primeiro lugar. Em Portugal a incidência é de 13,2 – 17,3 por 100.000 mulheres e a mortalidade é de 2,4 – 3,4 por ano por 100.000
mulheres. Afecta principalmente mulheres na pós-menopausa com um pico de incidência entre os 55-60 anos. Ao longo da sua vida, 2 a
3% das mulheres vêm a desenvolver esta neoplasia.

2. FACTORES DE RISCO
- Idade - Raça branca
- Nuliparidade - Menopausa tardia
- História de infertilidade - História familiar
- Síndrome do Ovário Poliquístico - Terapêutica com estrogénios
- Tumores funcionantes do ovário - Tamoxifeno
- Obesidade - História pessoal de cancro da mama
- Hiperplasia com atipia - Dieta hiperlipídica
- Diabetes mellitus - Hereditariedade (Síndrome de Lynch II,
- Hipertensão Síndrome de Cowden, Síndrome de Peutz-
- Hipotiroidismo Jeghers)

3. RASTREIO
Não há meios apropriados para o rastreio desta neoplasia, seja pelos custos, falta de sensibilidade ou invasibilidade. Poder-se-á
justificar o uso da ecografia transvaginal e da histeroscopia com biópsia em caso de:
- Mulheres submetidas a terapêutica hormonal apenas com estrogénios
- Mulheres submetidas a tratamento com tamoxifeno (>5 anos)
- História familiar de Síndrome de Lynch II
- Exame físico e ginecológico a cada 6-12 meses a partir dos 20-25 anos;
- Ecografia transvaginal e histeroscopia anual a partir dos 25 anos;
- Histerectomia total com anexectomia bilateral a partir dos 35 anos.

4. CLASSIFICAÇÃO HISTOLÓGICA (FIGO, IGCS 2003)

- Adenocarcinoma endometrióide (>80%): - Adenocarcinoma mucinoso (5%)


Tipo habitual - Adenocarcinoma papilar seroso (3-4%)
Variantes: - Adenocarcinoma de células claras (<5%)
Viloglandular - Carcinoma escamoso (raro)
Com metaplasia escamosa (adenoacantoma) - Carcinoma indiferenciado (10%)
Adenoescamoso (7%) - Carcinoma misto
Secretor (0,7-14%) - Sarcoma do estroma endometrial (ver protocolo próprio)

5. ESTADIAMENTO
O estadiamento do carcinoma do endométrio é cirúrgico (FIGO 1988). Execeptuam-se os casos em que haja envolvimento do
colo, paramétrios, invasão do recto e/ou bexiga ou metástases à distância; nestes casos o estadiamento deverá ser clínico (FIGO
1971).
O grau de diferenciação (G), importante factor prognóstico, é atribuído de acordo com a percentagem de tumor com padrão de
crescimento não-escamoso ou não-morular. A presença de atipia marcada aumenta um grau nos tumores G1 e G2; nos
adenocarcinomas papilar serosos, de células claras e carcinomas de células escamosas, o grau de diferenciação é definido pelas
alterações nucleares.

5.1. Estadiamento cirúrgico (FIGO 1988)


Estádio Ia (G1, G2, G3) – Tumor limitado ao endométrio
Estádio Ib (G1, G2, G3) – Invasão inferior a ½ do miométrio
Estádio Ic (G1, G2, G3) – Invasão igual ou superior a ½ do miométrio

Estádio IIa (G1, G2, G3) – Envolvimento glandular endocervical


Estádio IIb (G1, G2, G3) – Invasão do estroma cervical

Estádio IIIa (G1, G2, G3) – Tumor invade a serosa do corpo uterino e/ou os anexos e/ou citologia peritoneal positiva
Estádio IIIb (G1, G2, G3) – Metástases vaginais
Estádio IIIc (G1, G2, G3) – Metástases pélvicas e/ou lombo-aórticas

Estádio IVa – Invasão tumoral da bexiga e/ou do recto (comprovada histologicamente)


Estádio IVb – Metástases à distância, intra-abdominais e/ou gânglios inguinais

5.2. Estadiamento clínico (FIGO 1971)


Estádio Ia (G1, G2, G3) – Tumor limitado ao corpo uterino; cavidade <8cm
Estádio Ib (G1, G2, G3) – Tumor limitado ao corpo uterino; cavidade >8cm

Estádio II – Envolve corpo e colo, mas limitado ao útero

Estádio III – Extensão para além do útero, mas limitada à pequena bacia

Estádio IVa – Extensão para além da pequena bacia ou envolvimento da mucosa da bexiga e/ou recto
Estádio IVb – Extensão a órgãos distantes

6. AVALIAÇÃO PRÉ-TRATAMENTO
- História clínica
- Exame físico (especial atenção a massas abdominais e/ou pélvicas, cadeias ganglionares, exame ginecológico e
toque rectal)
- Exames laboratoriais de rotina (sangue e urina)
- ECG
- Pesquisa de sangue oculto nas fezes (?)
- Radiografia do tórax
- Ca 125
- TAC/RMN abdominopélvica (opcional)
- De acordo com a clínica:
- Cistoscopia / urografia intravenosa (opcional)
- Rectossigmoidoscopia /colonoscopia / clister opaco (opcional)
- Cintigrafia óssea (opcional)
- Se suspeita clínica de invasão do exocolo, deve confirmar-se com biópsia da lesão

7. TRATAMENTO
É cirúrgico (em 92 a 96% dos casos) excepto se: infiltração dos paramétrios, metástases vaginais extensas, invasão do bexiga e/ou
recto (confirmação histológica), contra-indicação médica ou metástases à distância.
As recorências locais devem ser tratadas, preferencialmente, por cirurgia ou radioterapia (eventualmente combinação de ambas).

8. FACTORES DE PROGNÓSTICO
• Idade, raça • Invasão dos espaços linfo-vasculares
• Tipo histológico • Dimensões do tumor e localização
• Grau de diferenciação histológica • Metástases anexiais
• Invasão miometrial • Citologia peritoneal
• Invasão do colo uterino • Metástases ganglionares
• Estádio • Ploidia do DNA

9. PROTOCOLO DE SEGUIMENTO APÓS TRATAMENTO


- Ia (G1,2); Ib (G1,2) e Ic (G1):
 Exame clínico e ginecológico: 1º ano de 6/6 meses, 2º ano e seguintes anualmente
 Exames complementares conforme as queixas
 Citologia anual da cúpula vaginal (todas, independentemente do estadiamento)
 Alta ao 5º ano
- Restantes:
 Exame clínico e ginecológico: 1º e 2º anos de 4/4 meses; 3º a 5º anos de 6/6 meses e após o 6º ano
anualmente.
 Exames complementares conforme as queixas e Ca 125 se aumentado pré-tratamento.

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