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ESTUDAR A IMPROVISAÇÃO (PARTE 1) - TURI COLLURA

A improvisação pode ser definida como a arte de criar algo no momento


(composição extemporânea). A criação pode se manifestar de várias formas,
tendo diferentes pontos de partida:

1. Ligados ao aspecto temático/interpretativo (improvisar elementos de


embelezamento melódico; deslocar a rítmica de forma diferente; variar a altura de
algumas notas, interpor grupos de notas; etc..); 2. Criação de novas linhas
melódicas (baseadas na variação rítmico-melódica; que desenvolvem as células
temáticas da música; baseadas nos acordes -reescritura melódica; etc..); 3. Criação de
ritmos sobrepostos ao principal; 4. Criação/sobreposição de novas harmonias; 5.
Busca de novas sonoridades e suas combinações; 6. Personalização do timbre,
do tipo de som; 7. Criação coletiva.

Todas essas atividades, muitas das quais ligadas entre si, pressupõem, por
parte do músico, capacidades de natureza criativa, e também, o domínio dos
elementos gramaticais, estilísticos e de técnicas específicas. Aqui vamos falar
da criação de novas linhas melódicas.

DIFERENTES ABORDAGENS À IMPROVISAÇÃO


Aos fins didáticos, é possível evidenciar cinco abordagens, que remetem a
técnicas –e resultados- diferentes:

1) Variação do tema: Essa abordagens è, talvez, a mais fácil e a mais


importante de todas! Aprender a variar o tema è fundamental! A partir da
melodia origial, podemos mudar algumas notas, variar o deslocamento rítmico,
deslocar as frases na métrica da música, etc. Podemos começar variando
apenas um pouco o tema e, gradativamente, podemos levar a variação sempre
mais longe.

2) Improvisação Vertical: os acordes são o ponto de partida. Nessa abordagem,


o acorde é, a princípio, considerado de forma independente do contexto harmônico e de
sua funcionalidade tonal. As suas notas (os arpejos) são o centro ao redor do qual
construímos elaborações, usando as técnicas de abordagem diatônico-cromática.
O exemplo 1 mostra um trecho melódico baseado exclusivamente nos arpejos
da música Wave:

Exemplo 1: exemplo de improvisação vertical


Vantagens da Improvisação Vertical: é uma abordagem “segura”, em que as notas dos
acordes oferecem o máximo de coerência harmônica. É necessário prestar atenção
para não produzir melodias “mecânicas” ou que saltem demais, tornando a
improvisação pouco linear ou pouco interessante.

3) Improvisação Horizontal: a relação escala/acorde é o ponto de partida. Se


faz importante conhecer as escalas que cabem sobre cada acorde. O exemplo 2
mostra uma melodia baseada nas notas das escalas do mesmo trecho de Wave:

Exemplo 2: os acordes estão ligados através de escalas

Vantagens da improvisação horizontal: permite alcançar mais facilmente uma


continuidade diatônica, o que se traduz, às vezes, em uma maior facilidade de ligar os
acordes entre si. Cuidado: o efeito das escalas que sobem e descem pode cansar, além
de não gerar um discurso musical.

4) Improvisação Temática: o tema é o ponto de partida. Nessa abordagem, a


improvisação se constrói a partir de elementos da melodia original, os quais podem ser
elaborados de várias formas (expansão, variação, reelaboração, desenvolvimento de
uma célula melódica). O Exemplo 3 mostra o começo da melodia da música Wave (T.
Jobim), enquanto o Exemplo 4 desenvolve um solo a partir de uma célula do tema (três
notas):

Exemplo 3: começo da música Wave (a célula escolhida está evidenciada)

Exemplo 4: exemplo de desenvolvimento melódico a partir da célula isolada

Essa é apenas uma idéia de improvisação temática. As possibilidades dessa


abordagem são muitas. Desenvolver a capacidade de criar melodias a partir de algum
elemento temático é interessante, pois ajuda a construir melodias “coerentes” e que
remetem, de certa forma, ao tema original. Outra possibilidade é a de escolher uma
célula nova -que não pertença ao tema original- e desenvolvé-la.

5) Aprender frases: a imitação de solos realizados por outros músicos é um elemento


importante para aprender a improvisar. Afinal construir uma bagagem de frases é
essencial para nossas criações.

Obviamente um improvisador usa as várias abordagens de forma combinada, e


dificilmente separa uma da outra. Ás vezes é difícil até reconhecer qual das técnicas é
utilizada, em um determinado trecho musical.

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