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PRODUÇÃO

Sistema Toyota de Produção: Mais do Que


Simplesmente Just-in-Time

Paulo Ghinato
Mestre em Engenharia de Produção PPGEPIUFRGS
Division of Systems Science - Graduate School of Science and Technology
Kobe University
Rokkodai-cho, Nada-Ku, Kobe 657, Japan

Palavras Chave: Sistema Toyota de Produção (STP), autonomação, just in time (J1T),
controle da qualidade zero defeitos (QCZD), Engenharia de Produção

Key words: Toyota Production System (TPS); autonomation; just-in-time (JIT); zero
defect quality control (ZDQC); production engineering.

RESUMO

As interpretações acerca do Sistema Toyota de Produção (STP), apontando o Just-ln-Time e o Kanban como
sua essência, demostram um entendimento limitado de sua verdadeira abrangência e potencialidade. O STP está
estruturado sobre a base da completa eliminação das perdas, tendo o JIT e a autonomação como seus dois pilares
de sustentação. O Controle da Qualidade Zero Defeitos (CQZD) aparece, também, como elemento essencial para
a operacionalização da autonomação e funcionalidade de todo o sistema. Neste artigo, pretende-se apresentar um
modelo que represente esta interpretação. Com este propósito, o modelo apresentado por Monden é adotado como
ponto de partida, introduzindo-lhe, no entanto, significativas mudanças. Neste artigo, discute-se cada uma das
relações mantidas pela autonomação e pelo CQZD com os diversos componentes do sistema.

ABSTRACT

The interpretations ofthe Toyota Production System (TPS) which point out to Just-In- Time (JIT) and Kanban
as its essence are evidence ofrestrictive understanding ofits real reach and strength. The TPS has the "complete
elimination ofwastes "as its grounds and JlT and autonomation (loS its two pillars. Zero Defect Quality Control
(ZDQC) appears as essential support to the operation of autonomation and Systems working. In this paper it is
proposed a model which may portray the above interpretation ofTPS. On this purpose, the model proposed by
Monden was taken up as a starting point. Nevertheless, it was necessary to introduce significant changes. It is
also discussed the nature o@flink-s among autonomation, ZDCQ and all Systems components.

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Introdução de uma abordagem focalizando


especificamente o JIT ou qualquer outro
componente do STP, é necessário conduzir
Mais de 20 anos se passaram desde a
uma avaliação do ponto de vista sistêmico.
primeira crise do petróleo. Aquele foi um
ponto de inflexão negativa na curva de
É obviamente importante o conhecimento
detalhado de cada componente mas é
expansão dos mercados e crescimento
sobretudo essencial entender onde e como
industrial do qual até hoje sente-se reflexos.
se encruxam.
O impacto destruiu com a capacidade
competitiva das companhias industriais
Neste artigo, apresenta-se um modelo
estruturadas segundo o modelo de produção
destinado a representar o STP com a
em massa. Precisava-se urgentemente
máxima abrangência possível a partir das
encontrar um modelo alternativo capaz de
idéias de Ohno e Shingo. Sob esta ótica o
lidar como as novas condições de contorno.
STP está estruturado sobre a base da
Neste cenário conturbado, A Toyota Motor
"completa eliminação das perdas", com o
Co., líder japonesa na fabricação de
JIT e a autonomação atuando como seus
automóveis, despontou com um
dois pilares de sustentação. Para a
desempenho inigualável. Todas as atenções
apresentação desta versão é necessário,
se voltaram então ao Japão, na tentativa de
antes, algumas observações a respeito do
identificar os fatores responsáveis pelos
JIT, da autonomação e do Controle da
resultados assombrosos. Revelou-se aí, a
Qualidade Zero Defeitos (CQZD).
utilização de elementos inovadores que
rompiam com algumas das mais básicas
premissas do gerenciamento convencional.
O "Just-in-Time" (JIT) e o "Kanban" foram Just-in-Time (JIT)
imediatamente identificados como os
elementos-chave da eficácia e sucesso do Não há elemento da moderna
Sistema Toyota de Produção (STP). No administração industrial mais discutido e
entanto, começou-se a perceber que os estudado do que o "Just-in-Time"(JIT).
resultados alcançados pela Toyota Motor "Uma verdadeira revolução" e "mudança
Co. não POdÜUll ser atribuídos a aplicação de paradigma" são expressões comumente
de um punhado de métodos ou a alguma associadas ao JIT, que traduzem o impacto
tecnologia em particular. O sucesso da exercido sobre as práticas gerenciais.
Toyota advém da construção de algo que Operacionalmente, basta dizer que JIT
reúne todos os seus princípios, métodos e significa que cada processo deve ser
técnicas e da aplicação concatenada deste suprido com os itens e quantidades certas,
. 1 no tempo e lugar certo. Contudo, apesar da
conjunto;
profusão de obras tratando a respeito do
Qualquer InICIatlva de adaptação e assunto, o que se percebe é que os conceitos
aplicação do STP demanda um perfeito e definições de JIT são muito distintos e, às
entendimento de sua natureza. Ao contrário vezes, contraditórios. Em função disso,

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PRODUÇÃO

definir m com o rigor que um trabalho "kanban". "Estas caracterizações [do STP
científico exige, apresenta-se como uma como sendo JIT] são altamente superficiais
tarefa extremamente delicada. e indicam a falta de entendimento do
observador quanto a verdadeira essência do
Numa tentativa de "redefinição e Sistema Toyota de Produção.,,5
conciliação metodológica", Motta analisa
diversas publicações e encontra o JIT É fundamental que se entenda que o JIT
definido como filosofia, estratégia, sistema, é somente um "meio" de alcançar o
projeto, abordagem, técnica e programa, verdadeiro objetivo do STP que é o de
entre outras, como prova concreta da aumentar os lucros através da completa
grande dificuldade de conceituar JIT. 2 ·· - d e perd as. 6
e Illlunaçao

o que Motta conclui, contra diversas


definições apresentadas e por ele A Autonomação ("Jidoka")
analisadas, é que:
O "Just-ln-Time não é uma Ciência,
A ,!utonomação ('jidoka") consiste em
uma vez que não tem por objetivo
facultar ao operador ou à máquina a
estabelecer hipóteses, teorias ou leis sobre
autonomia de parar o processamento
a realidade organizacional. { .. ] o JfT se
sempre que for detectada qualquer
coloca no campo do Conhecimento
anormalidade no processamento. Este
Técnico, cujo objetivo é a transformação da
conceito surgiu na Toyota a partir dos
realidade mediante uma relação de caráter
esforços de Oh no para que um trabalhador
normativo com os fenômenos que a
pudesse operar simultaneamente mais de
compoem".3
uma máquina, aumentando com isso a
eficiência da produção? Na verdade, a
Seguindo esta linha de raciocínio, Motta
palavra "jidoka" significa simplesmente
sentencia que:
automação. "Ninben no tsuita jidoka" ou
"o Just-in-Time é, única e
"Ninben no aru jidoka" expressam o
exclusivamente, uma ticnica que se utiliza
verdadeiro significado do conceito, ou seja,
de várias normas e regras para modificar
que a máquina é dotada de inteligência e
o ambiente produtivo, isto é, uma técnica
toque humano. 8 A utonomaçao - e mUltas.
de gerenciamento, podendo ser aplicada
vezes expressa como simplesmente
tanto na área de produção como em outras
, da empresa. 4 "automação com toque humano" e a palavra
areas
"jidoka" também é usada,
Tão grave quanto os desencontros em simplificadamente, com este mesmo
relação à definição precisa do JIT, e até significado.
como decorrência disso, são as confusões
cometidas por alguns autores entre o Shingo prefere o termo
Sistema Toyota de Produção (STP) e o JIT, "pré-automação" para definir a máquina
envolvendo freqüentemente, também, o com capacidade de parar automaticamente

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PRODUÇÃO

quando a quantidade requerida foi atingida


ou quando al~o anormal acontece no
o Controle da Qualidade
processamento. Zero Defeitos (CQZD)
Embora a autonomação esteja No Sistema Toyota de Produção a
freqüentemente associada à automação, ela expressão "Zero Defeitos" tem um
não é um conceito restrito às máquinas. 10 É significado completamente diferente do
importante notar que o conceito de que foi consagrado no ocidente. O
autonomação tem muito mais identidade "Controle da Qualidade Zero Defeitos"
com a idéia de autonomia do que com (CQZD) na Toyota não é um programa,
automação. Enquanto a autonomia para a mas um método racional e científico
interrupção da linha é condição capaz de eliminar a ocorrência de
fundamental, a automação desempenha um defeitos através da identificação e
papel secundário, nem sempre presente. controle das causas.
No STP a autonomação e ampliada para a
aplicação em linhas de produção operadas São quatro os pontos fundamentais para
manualmente. Neste caso, qualquer a sustentação do CQZD: 13
operador da linha pode parar a produção
quando alguma anormalidade for l.Utilização da inspeção na fonte. Este
detectada. II método de inspeção tem caráter preventivo,
capaz de eliminar completamente a
A idéia central é impedir a geração e ocorrência de defeitos pois a função
propagação de defeitos e eliminar qualquer controle é aplicada na origem e não sobre
anormalidade no processamento e fluxo de os resultados.
produção. Quando a máquina interrompe o 2.Utilização de inspeção 100% ao invés
processamento ou o operador pára a linha de inspeção por amostragem.
de produção, imediatamente o problema 3.Redução do tempo decorrido entre a
detecç~o do erro e a aplicação da ação
toma-se visível ao próprio operador, aos
seus colegas e a sua supervisão. Isto corretiva.
desencadeia um esforço conjunto para 4.Reconhecimento de que os
identificar a causa fundamental e trabalhadores não são infalíveis. Aplicação
eliminá-la, evitando a reincidência do de dispositivos à prova-de-falhas
problema e conseqüentemente reduzindo as ("Poka- Y oke") cumprindo a função
paradas da linha. controle junto à execução.

A paralisação da máquina ou da linha, Como não existe qualquer sentido na


com a imediata pesquisa para levantamento aplicação de dispositivos poka-yoke que
e correção das causas, é o procedimento não seja em regime de inspeção 100%, os
chave na obtenção dos índices de qualidade pontos fundamentais resumem-se em:
superiores das fábricas da Toyota em inspeção na fonte; poka-yoke; feed-back e
relação às outras montadoras de veÍCulos. 12 ação imediata.

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PRODUÇÃO

A meta do CQZD é "garantir" qne um Monden publicou um artigo onde


sistema seja capaz de produzir apresentava uma primeira versão da
"consistentemente" produtos livres de estrutura do STP (ver fig.l). Em 1983, este
defeitos. Este conceito, na Toyota, é autor apresentou uma segunda e mais bem.
aplicado a todas as operações e processos elaborada estrutura para o STP (ver figo
de forma que cada operação e cada processo 2).14
seja planejado considerando todas as
possibilidades de falha. Esta postura A partir da leitura das obras de Ohno e
preventiva evita a execução sob condições Shingo percebe-se que, apesar de
anormais (erros) que gerariam o defeito. extremamente racional e conveniente para
o estudo do STP, a estrutura proposta por
Existe uma relação muito forte de causa Monden não apresenta elementos
e efeito entre erros e defeitos. fundamentais para o equilíbrio do sistema e
Normalmente os defeitos são o efeito da di versas relações importantes entre os
utilização incorreta de algum (ou vários) elementos também não estão presentes.
dos fatores de produção. Foi
aproveitando-se desta idéia que a inspeção A idéia central desta pesquisa é que,
na fonte estruturou-se, ou seja, através da incorporação destes elementos e
identificando e mantendo sob controle os relações ausentes na estrutura proposta por
erros antes que se tomem efetivamente Monden, seja possível a construção de uma
defeitos. Portanto, a utilização eficaz da estrutura mais consistente e abrangente do
inspeção na fonte depende do STP (fig. 3). Como decorrência disto,
reconhecimento da existência da relação espera-se proporcionar uma idéia mais clara
de causa-e-efeito entre erros e defeitos, a respeito do STP para fins de pesquisa
da identificação dos tipos de erros acadêmica, servindo também como um
possíveis e da aplicação de técnicas instrumento de orientação às iniciativas de
capazes de neutralizá-los. implantação do sistema.

o CQZD é a base operacional essencial As diferenças entre a estrutura proposta


para a prática da autonomação. por Monden (fig. 2) e a estrutura proposta
por esta pesquisa (fig. 3) evidenciam-se
através de uma simples comparação entre
Uma Nova Proposta de as duas. No entanto, é fundamental
Estrutura para o Sistema perceber que a raiz destas diferenças reside
na ampliação das relações da
Toyota de Produção "autonomação" ("jidoka") dentro do
sistema, levando-a a ocupar a posição de
Monden foi um dos primeiros autores a verdadeiro pilar de sustentação do STP e I}a
tentar representar o modelo de introdução do "controle da qualidade ,zero
gerenciamento da Toyota. Em 1981, defeitos" (CQZD) como sua base essencial.

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PRODUÇÃO

Elõ.inaçio do que não é necatário (despetdrciol):


eQltlCiabente imenllÍlio [aloquei)

Jlnl·ln- Ti.e
(produzir as unidades nec" ..ãõu
MO quanlidade e no '''.po _úoo)

Figura 1: Primeira Versão da Estrutura do Sistema Toyota de


Produção Segundo Monden (1981, p.38)

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PRODUÇÃO

IAuIIento da receita I cre.cino


1 Alarmlo de lucro .011
....o ecanGJnicD ..... 0
I I

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da Quelidade 1
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1
IReduçaa de clUla_ pll. IlliriruoçlD dor p.dacl

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IEÚlÍftIIOlt! de inYent.6rio_1 IR.~" da .lo-de-obr.1

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IRespeito 6 condiçlo I Controle cI.I quantid.... de produçla
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.daptado lia yariaç6el de
Jexibiiclade
Mio-.......br•daI
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,-J....no-In-Ti' .-. """'DI
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IProducla ancronizade I
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1 IP_IOlel
de produçla I,
_ P'Dduçla unit.wie
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IAdrainitbaçãol
funcional
1
IReduçãa do ~ol
de pr"Par açSa oper~Çõn,IIL de b _
11padrONlIIdat ...ut"''-°1 ~ .úItipIa.
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l Atividade_ de .... horiaa por pe_noa grupo.


I
Figura 2: Estrutura do Sistema Toyota de Produção Segundo Monden (1984, p.2)

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PRODUÇÃO

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("Jidoka,
I
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Zero Defeito,
funcional
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'_lo na lontal i
: I"P..u,-yo......
:. . . . . . . +. . . . . . .:1
Ad.idado. de _oria. ",0CII0Vida. por _ _ gru_ (APIi',1

Tutal
Conbole d. QUiJlidade (TQq
I
Figura 3: Estrutura do Sistema Toyota de Produção Proposta pela Pesquisa

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PRODUÇÃO

Cinco outros elementos são qualidade assegurada, ao mesmo tempo em


introduzidos: "estratégia de marketing", que mantém uma relação direta com o
"nagara;~ 15 "manutenção produtiva total" aumento da receita.
(MPT) , "quebra zero" e os "5 S's".
N a figura 3, o TQC aparece dando
Embora não se pretenda, nesta pesquisa, suporte ou desdobrando-se nas atividades
abordar as relações do STP em nível de pequenos grupos, na administração
externo, envolvendo clientes e funcional, na MPT, na estratégia de
fornecedores, é inevitável propor a "marketing" e resultando num aumento da
introdução da estratégia de "marketing" moral dos trabalhadores.
como um dos elementos do sistema. Seria
possível apontar uma série de argumentos Esta proposta de mudança de posição do
em favor desta proposta. No entanto, é TQC procura estar sintonizada com a
suficiente recordar que Kotler e outros interpretação de Shingo, que coloca o TQC
consideram a estratégia de "marketing" na base das atividades dos CCQ's (ver
como a mola-mestra do avanço da Toyota · 4) 18 E sta 1·19açao
f 19.. - e, extremamente
19
no mercado mundial. Estes autores importante na promoção do CQZD. É
apresentam evidências que indicam que a interessante notar que a ligação direta entre
aplicação da estratégia de "marketing" o TQC e as APG' s não aparece representada
agressiva é sustentada pela estrutura interna na estrutura proposta por Monden (ver figo
do STP. 17 2).

o "nagara" surge como decorrência da


ampliação das relações da autonomação,
enquanto que o MPT e a quebra zero ,A
lllspeçao
aparecem como uma conseqüência da na Fonte
introdução do CQZD e de sua aplicação às
máquinas, equipamentos e instalações
fabris. Os 5 S' s são incorporados à
estrutura como um pré-requisito essencial
para a implementação da MPT. CQZO

Embora as modificações introduzidas CCQ" S


na estrutura que Monden propõe estejam
centradas na autonomação e CQZD, é
impossível deixar de se surpreender com a TQC
posição discreta que Monden reserva ao
TQC.

No modelo deste autor (fig. 2), o TQC Figura 4: A Base do CQZD


é sustentado pela administração funcional e Fonte: Shingo (1986, p. 13)

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PRODUÇÃO

Ratificando esta relação direta entre o pela auto-inspeção de todas as unidades no


TQC e as APG's, Shingo afirma que a interesse de reduções futuras de unidades
palavra "total" do TQC significa ampliar o defeituosas. Este conceito é denominado
raciocínio e as práticas do controle da de "Jidoka" ou autonomação para o
qualidade para todas as áreas da empresa. 20 Controle de Qualidade. ,,24
O que é obtido através da organização de
atividades de CCQ's em todas as áreas e A essência da autonomação não é a
setores. redução do número de operários, embora
isto seja um dos resultados obtidos. A
Outra alteração fundamental que esta essência é, isto sim, facultar ao operador ou
pesquisa propõe é a ampliação das à máquina a autonomia para a paralisação
condições sob as quais o aumento da da operação sob a presença de qualquer
lucratividade pode ser praticado. A julgar anormalidade.
pela capacidade da Toyota no atendimento
a pedidos quase personalizados, não é Nota-se também que Monden faz
exagerado afirmar que o STP está apto a ser confusão entre o conceito de autonomação
aplicado também em mercados em e o conceito de auto inspeção em regime de
expansão com demanda por produtos 100%. A autonoma-ção pode estar
variados e diferenciados. associada a esta modalidade de inspeção
com o objetivo de "eliminação" dos
Voltando ao foco central da proposta defeitos, mas continuará a ser um conceito
desta pesquisa, observa-se que Monden completamente distinto.
reconhece a autonomação como um dos
pilares do STP,21 mas na estrutura que ele Os sistemas Poka-Yoke são tratados por
Monden como "sistemas à prova-de-tolos
propõe (fig. 2), e mesmo no texto de seu
("foolproof system") para a paralisação da
livro, a autonomação parece muito menos
linha".25 O autor chega a afirmar que os
importante do que o nT e o "Kanban", por
sistemas à prova-de-tolos são usados para
exemplo.
eliminar os defeitos que podem ocorrer
devido ao descuido [erro?] por parte do
Do texto de Monden se extrai trabalhador [.... ]".26 27 Contudo, sem
evidências de distorções do conceito de reconhecer a existência da inspeção na
autonomação: fonte como o único método de inspeção
capaz de atender ao objetivo de eliminação
"Autonomação ou "Jidoka" é completa dos defeitos, a utilização dos
essencialmenti 2 as melhorias efetuadas sistemas "foolproof' pode, no máximo,
no equipamento que servem rara reduzir O reduzir o número de defeitos. Realmente,
número de trabalhadores. ,,2 parece que Monden não percebeu a
"[... ] I métodos mais tradicionais de preocupação da Toyota em eliminar os
controle da qualidade foram substituídos defeitos através da detecção dos erros.

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PRODUÇÃO

A Relação entre a As Outras Relações da


Autonomação ("Jidoka") e o Autonomação e do Controle da
Controle da Qualidade Zero Qualidade Zero Defeitos
Defeitos (CQZD)
Dentro da nova estrutura (fig. 3) do
A detecção de anormalidades e a STP, a autonomação aparece em posição
subseqüente paralisação da linha ou que realmente a consolida como um dos
operação para a aplicação de imediata ação pilares de sustentação do sistema.
corretiva é a principal função da
autonomação. A autonomação mantém relação direta
com outros oito elementos além da relação
Um sistema de inspeção eficaz, com o·CQZD, anteriormente discutida. É
incorporado à operação, é essencial para curioso notar que nesta proposta a
que a autonomação cumpra a sua função de autonomação e o elemento detentor do
controle. O CQZD, através da aplicação de maior número (nove) de relações diretas
dispositivos "poka-yoke" em regime de com outros elementos. Destas nove, três
inspeção 100%, é capaz de operacionalizar são relações das quais a autonomação
a função controle necessária à depende para seu funcionamento e seis são
autonomação. relações com elementos sustentados pela
autonomação.
O objetivo da Toyota com a interrupção
das operações sob condições anormais é
O CQZD, por sua vez, aparece na
identificar o problema, eliminando-o
estrutura do STP (fig. 3) sustentado pelas
completamente. Quando esta anormalidade '
Atividades de Melhorias (promovidas) por
pode se manifestar como um defeito no
Pequenos Grupos (APG's), conforme se
produto, o objetivo passa a ser o de evitar a
poderá discutir a seguir.
sua ocorrência através de uma ação
preventiva, isto é, a identificação de suas
origens (erros) e a detecção das A Autonomação e a Redução de
anormalidades ainda nesta fase. A inspeção Custo pela Eliminação de Perdas
na fonte (detecção de erros), elemento
fundamental do CQZD, garante o A autonomação é capaz de atacar direta
atingimento deste objetivo (zero defeitos). e efetivamente 3 das 7 perdas 28 a saber:
Assim, o exercício da autonomação na perda por superprodução; perda por espera
Toyota procura estar sempre vinculado ao e perda por fabricação de produtos
compromisso de evitar a ocorrência dos defeituosos. Além de eliminar perdas
defeitos através da detecção dos erros e sua secundárias associadas a estas 3 perdas
correção. primárias.

179
PRODUÇÃO

Perda por superprodução quantitativa: pesquisa (fig. 3) também é reconhecida por


na medida em que a máquina está equipada Monden(fig. 2)?9 Portanto, as observações
com um dispositivo capaz de interromper o a respeito deste vínculo podem se restringir
processamento no momento em que a ao estritamente necessário para ratificar as
quantidade de produção planejada tenha suas conclusões. 30
sido atingida, não haverá excesso de
produção e. portanto, a perda por Esta relação parece ser mantida
superprodução quantitativa será basicamente de duas maneiras: através da
completamente eliminada. Este foi o participação dos trabalhadores no estudo
primeiro tipo de perda eliminado no dos processos e operações para
Sistema Toyota de Produção. Hoje, quando identificação da natureza das
se fala em perda por superprodução na anormalidades e projeto do sistema
Toyota, entende-se imediatamente como adequado de controle (detecção e chamada
perda por produzir antecipadamente. para açao- corretiva
. 31) e atraves , da
participação no esforço de solucionar os
Perda por espera: o equipamento dotado problemas detectados. As APG' s são a
da capacidade de detectar a ocorrência de base essencial para a ampliação das
qualquer anormalidade dispensa a presença oportunidades de aplicação da
do operador observando todo o autonomação na Toyota e de sua
processamento. Ou seja, a função controle, manutenção.
antes atribuição do operador, está
incorporada ao próprio processamento. Segundo Monden, as melhorias
oriundas das APG's utilizam dois canais
Perda por fabricação de produtos distintos: o conhecido Círculo de Controle
defeituosos: com a autonomação, o de Qualidade (CCQ)32 e o Sistema de
processamento é interrompido ao primeiro Sugestões 33 também bastante difundido no
34
sinal de anormalidade. A máquina não ocidente.
executa o processamento sob condições de
risco de ereção de produtos defeituosos. É A Autonomação e a Administração
necessário que o operador ou a equipe Funcional
responsável atue sobre o processo de forma
a eliminar a causa do problema (corrigir o A administração funcional ou
processamento) para que a produção administração com funções cruzadas foi
retome o curso. desenvolvida por Ishikawa em 1960, sendo
logo depois adaptada e incorporada ~e1a
A Autonomação e as Atividades de Toyota Motor Co. com muito sucesso. 5
Melhorias por Pequenos Grupos
(APG's) De -acordo com a definição de Monden:
"Grupos Funcionais não agem como
A relação entre a autonomação e as equipes de projeto ou força-tarefa. Mais
APG' s na estrutura proposta por esta precisamente, são unidades formalmente

180
PRODUÇÃO

constituídas, tomadoras de decisão, cujo perda de reflexos significativos no custo de


poder atravessa linhas e controle fabricação: a perda por espera do
departamentais para amplas funções de trabalhador.
cooperação. Consistindo tipicamente de
gerentes de departamento de todas as Com as máquinas habilitadas para se
partes da empresa [ .... J" .36 "auto-supervisionarem", ou seja, parar ao
menor sinal de anormalidade no
Os grupos funcionais são a base da processamento, os trabalhadores podem ser
administração ou gerenciamento funcional, treinados para operar outras máquinas
constituindo-se em importante instrumento durante o processamento do produto na
de negociação para a introdução de primeira máquina.
mudanças que envolvam diversas áreas ou
departamentos. Existem duas modalidades de
multifuncionalidade: o sistema de operação
A administração funcional na Toyota, de múltiplas máquinas e o sistema de
trabalha segundo duas linhas distintas de - de mu'1·
operaçao tlp Ios processos. 38
atuação, chamadas funções-propósito ou
funções objetivo: a garantia da qualidade e No sistema de operação de múltiplas
.. - de custos. 37
a ad rrulllstraçao máquinas o trabalhador opera diversas
máquinas simultaneamente, por exemplo,
A interação entre a administração cinco furadeiras ou cinco tomos ou mesmo
funcional e a autonomação pode ser cinco mandriladas dispostas em layout
percebida pelos esforços para a garantia da conveniente. Já no sistema de múltiplos
qualidade, empreendidos pelos grupos processos, o trabalhador opera diversas
funcionais. máquinas seguindo o fluxo de fabricação do
produto, isto é, o sistema de operação de
A garantia da qualidade procura múltiplas máquinas é aplicado em
assegurar satisfação, contabilidade e diferentes processos ao longo do fluxo de
economia para o consumidor através da produção de um produto em particular.
oferta de produtos de alto padrão de
qualidade. Para que este objetivo seja A multifuncionalidade permite o
alcançado, cada departamento se preocupa desenvolvimento de um outro elemento do
com a garantia da qualidade em todas as STP : o " nagara,
,,39 que no sentl· od · do
estrIto
suas atividades e, em seguida, como termo, é a execução simultânea de
decorrência desta mobilização, são operações secundárias ou selecionadas e a
especificados todos os meios necessários. operação principal, 40 utilizando-se os
tempos de folga existentes.
Autonomaçãoe Multifuncionalidade
Embora a definição acima encerre a
A introdução da autonomação permitiu principal característica do "nagara"
ao STP a redução ou eliminação de uma (utilização dos tempos de folga), Shingo

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PRODUÇÃO

chama a atenção para o fato de que muitas regras" para a aplicação exitosa do
empresas empenhadas em aplicar o STP "kanban". A terceira regra alerta que os
estão apenas preocupadas com a utilização produtos defeituosos não devem ser
efetiva dos tempos de folga, perdendo a enviados ao processo ulterior sob pena de
grande potencialidade do "nagara", que é a ocasionar uma auto-destruição do sistema
capacidade de imprimir um fluxo contínuo "kanban", já que não existem estoques
e unitário à produção através da destinados a compensar as perdas por
sincronização de trabalho e da quebra da fabricação de produtos defeituosos.
. - do Iayout por processo. 41
orgamzaçao
A qualidade assegurada desempenha
A Autonomação e a Qualidade um importante papel na manutenção do
Assegurada Controle da Qualidade Total (TQC) porque
uma vez que a qualidade do produto esteja
A qualidade assegurada, dentro do garantida através da aplicação do Controle
contexto do STP, pode ser definida como a da Qualidade Zero Defeitos (CQZD) e da
garantia de um fluxo contínuo de produtos Autonomação, as atividades e os esforços
livres de defeitos em todas as etapas do TQC podem ser dirigidos para a
(processos) de fabricação, ou seja, a melhoria da qualidade do trabalho em si44
garantia da eliminação total de qualquer (a verdadeira essência do TQC), atingindo
perda por fabricação de produtos resultados muito mais amplos do que seria
defeituosos. Ora, este é o resultado direto e possível com o foco dirigido às melhorias
mais significativo da aplicação da da qualidade do produto.
autonomação, uma vez que os operários e
as máquinas estão preparados para a A Autonomação e o "Just-in-Time"
interrupção do processamento ao primeiro (JIT)
sinal de anormalidade.
O TIT precisa de um mecanismo que
garanta que cada processo fabrique
A Toyota tem como um de seus
somente a quantidade necessária de
objetivos a satisfação do cliente com a
produtos, livres de qualquer defeito que
qualidade do produt042 . Portanto, a
possa impedir a sua utilização quando
qualidade assegurada é um elemento que
necessarlOS. Em outras palavras, o TIT
sustenta este compromisso com o mercado
necessita do suporte de um elemento capaz
e ao mesmo tempo atua como uma alavanca
de eliminar por completo as perdas por
de ampliação da participação da Toyota no
superprodução quantitativa e por
mercado mundial.
fabricação de produtos defeituosos.
Na estrutura do STP (fig. 3) percebe-se Foi discutido anteriormente a
que a qualidade assegurada é um elemento capacidade da autonomação em combater
fundamental para o funcionamento do estas duas perdas, portanto ela se constitui
"kanban". Monden, assim como diversos como uma base essencial para a
outros autores, enuncia um conjunto de 5 operacionalização do TIT.

182
PRODUÇÃO

o CQZD é um ~ré-requisito para a A Autonomação e a Manutenção


aplicação do JlT. 4 Ora, o CQZD é Produtiva Total (MPT)
implementado pelo STP através da
associação com a autonomação, portanto "Se ocorrem problemas na operação
pode-se afIrmar que o objetivo do "zero manual ou com a máquina, eles param a
defeitos", essencial para o JlT, é perseguido - , . ,,47
operaçao ou a maquma .
e alcançado através da aplicação da
autonomação em todos os processos de
Este procedimento, característico da
fabricação.
autonomação, e aplicado não só para a
A Autonomação, o Aumento da detecção e correção de anormalidades no
Moral dos Trabalhadores e o Respeito à produtb, mas também para identifIcar e
Condição Humana eliminar problemas que possam afetar o
desempenho e a vida útil das máquinas e
A delegação de autonomia para equipamentos. A utilização da
paralisação de uma linha ou operação é uma autonomação com este objetivo pode ser
forma de reconhecer a capacidade dos uma solução muito sensata. 8 A eliminação
trabalhadores do chão-de-fábrica em completa das quebras das máquinas é
identifIcar e agir sobre as anormalidades. alcançada através da aplicação de
Este reconhecimento proporciona um alto mecanismos que permitam a detecção do
nível de motivação e moral, atuando como problema e a interrupção imediata do
propulsor das iniciativas dos trabalhadores processamento, de forma a implementar
em introduzir melhorias. soluções que ataquem a origem das
quebras. 49
Além disso, a aplicação da O STP não poderia deixar de dispensar
autonomação dispensa que o trabalhador se uma atenção especial à manutenção das
mantenha em estado de alerta total no máquinas, pois os estoques mínimos entre
controle das operações, pois a ocorrência de processos não são suficientes para absorver
qualquer anormalidade é detectada por paradas por quebras que afetariam a
dispositi vos acopladas ao sincronização da produção. Além disso, o
46 funcionamento de uma máquina ou
processamento.
equipamento sob condições precárias
A autonomação apresenta, também, a aumentaria o risco de geração de produtos
defeituosos, o que também afetaria o fluxo
vantagem de poder ser aplicada em
de produção.
operações que envolvam grandes riscos à
integridade física dos trabalhadores, de Na figura 3, a quebra zero,50 elemento
forma que eles são mantidos à distância essencial tanto para a sincronização da
dessas operações, sendo chamados a produção como para a qualidade
intervir somente nos casos de ocorrência de assegurada, é alcançada e sustentada pela
problemas. Manutenção Produtiva Total (MPT).

183
,..

PRODUÇÃO

A MPT pode ser definida como "uma Capacitar os operadores para a


abordagem de parceria entre todas as manutenção de suas próprias máquinas gera
funções organizacionais, mas um aumento de sua autoconfiança e a
particularmente entre a produção e a valorização da sua capacidade de contribuir
manutenção, para a melhoria contínua da para a otimização do sistema produtivo. Os
qualidade do produto, eficiência da operadores sentem-se motivados a
operação, garantia da capacidade e apresentar e acolher sugestões do seu grupo
segurança,,,5T ad equan d o-se peneltamente

de trabalho, pois percebem, entre outros
às exigências de disponibilidade integral beneficies, a melhoria do seu ambiente e
das máquinas nos sistemas de produção sem condições de trabalho.
estoques. 52
o Controle da Qualidade Zero
As atividades de melhorias Defeitos (CQZD) e as Atividades de
desenvolvidas pelos grupos de trabalho Pequenos Grupos (APG's)
buscam identificar a verdadeira causa das
quebras através da aplicação de O maior canal de manifestação das
instrumentos de análise normalmente atividades de melhorias promovidas por
simples, como é o caso do "Por quê 5 pequeflos grupos é, sem dúvida, os Círculos
Vezes".53 Estes grupos têm autonomia para de Controle de Qualidade (CCQ's).
implementar as mudanças necessárias nos
equipamentos e instalações mas mantêm-se Shingo enfatiza a necessidade das
orientados pela hierarquia, com sua conduta atividades em grupo para a promoção do
sintonizada com as diretrizes da alta controle da qualidade, chegando a
administração. reconhecer, especificamente, a importante
contribuição das atividades dos CCQ's na
o papel dos pequenos grupos de sustentação do CQZD. 55
trabalho (APG's) estende-se também à
preparação e preservação de um ambiente A "Union of Japanese Scientists and
propício para as atividades de manutenção Engineers" (JUSE), principal órgão de
propriamente ditas. Este ambiente depende orientação e fomento às atividades dos
de cinco fatores fundamentais; organização CCQ' s no Japão, define a qualidade
("seiri"), arrumação ("seiton"), limpeza assegurada como um dos objetivos dos
("seiso"), padronização ("seiketsu") e CCQ's, ao mesmo tempo em que
disciplina ("shitsuke"), abordados de forma recomenda que as ações para atingir este
sistemática através de uma técnica objetivo se desenvolvam no sentido de
gerencial denominada 5 S' s54. O eliminar reparos, in~eção e seleção junto à
cumprimento de cada um destes requisitos linha de produção. 5
(fatores) é exercitado essencialmente pelo
pessoal diretamente envolvido com as Os CCQ's têm no CQZD o melhor e
atividades operacionais, conforme pode ser mais eficaz instrumento para viabilizar a
observado na figura 3. fabrica·ção com qualidade assegurada. A

184
PRODUÇÃO

interação entre o CQZD e as APG' s se interação que este elemento é capaz de


materializa da mesma forma como acontece desenvolver dentro do sistema. Os
entre a autonomação e as APG's, ou seja, resultados positivos da aplicação do STP
através de identificação das oportunidades decorrem muito mais da sinergia entre os
de implantação de controles eficazes e nas diversos elementos do que do somatório das
intervenções para a eliminação das contribuições isoladas de cada um.
anormalidades detectadas. A idealização
de sistemas "poka-yoke", por exemplo, é Abordando especificamente a questão
uma atividade compatível com os objetivos do redimensionamento da autonomação e a
e as atribuições dos grupos de CCQ. introdução do CQZD na estrutura do STP,
é contundente a conclusão de que, a
Conclusões essência da função controle desempenhada
no STP, não é perfeitamente entendida por
o Sistema Toyota de Produção (STP) Monden. Ajulgar pela análise das diversas
tem sido unanimemente apontado como o obras consultadas ao longo desta pesquisa,
mais eficaz modelo de gerenciamento é possível que esta conclusão seja ampliada,
industrial e tem se mostrado flexível quanto aplicando-se, também, para diversos outros
às transferências para outros ambientes. A autores que têm estudado e/ou publicado
implantação de fábricas japonesas nos EUA artigos e livros abordando o STP. É
tem servido como exemplo incontestável perfeitamente possível afirmar que a grande
desta possibilidade. maioria dos estudos a respeito do STP não
Es ta pesquisa proporcionou uma tem captado uma faceta essencial ao
exploração sobre aspectos fundamentais do funcionamento do sistema: "A completa
STP, permitindo perceber que a eliminação dos defeitos através da
autonomação e o controle da qualidade zero identificação, detecção e ação imediata
defeitos (CQZD) são elementos essenciais, sobre os erros fundamentais".
sem os quais talvez o STP não aparecesse
como modelo. A partir de uma abordagem sistêmica,
fortemente vinculada ao princípio de
Esta pesquisa serviu, também, para redução de custos pela eliminação de
mostrar que a atenção e o estudo para o perdas, a Toyota Motor Co. foi capaz de
entendimento do modelo japonês não pode operacionalizar a função controle na
ser dirigida para um elemento em detecção das causas fundamentais dos
particular, como tem se verificado em defeitos. O resultado disto é a aplicação do
diversas interpretações do modelo, CQZD associado à autonomação nos
centradas no JIT. processos de fabricação.

É imprescindível a visão e interpretação Finalizando, é importante ter presente


sistêmica. Tão ou mais importante do que que a proposta desta pesquisa é a
a própria eficiência na aplicação de um construção de um "modelo teórico" que
conceito ou mecanismo em particular, é a proporcione uma interpretação mais

185
PRODUÇÃO

proxlma do que é o STP na prática. retro alimentação ("feedback") entre muitos


Contudo, é impossível reduzir a zero a elementos.
distância existente entre o "teórico" e o Portanto, as interações e a dinâmica das
"prático". relações entre os elementos do sistema,
levam a crer que as discussões e estudos
Sabe-se da existência de diversas outras sempre serão capazes de proporcionar a
relações que não foram representadas, ampliação das interpretações e a introdução
como por exemplo, relações de de modificações na estrutura.

Notas

1. "É preciso cautela para não adotar apenas algumas partes [do STP]. Na medida em
que elas são interdependentes, devem ser introduzidas simultaneamente." (Ferro, citado
por Humphrey, em Hirata, 1993, p. 242-3).
2. Motta, Paulo César D., 1993, p. 55
3. ibidem, p. 55
4. ibidem, p. 56
5. Shingo, Shigeo, 1988, p. 388
6. ibidem, p. 412
7. ibidem
8. Monden, Yasuhiro, 1983; Productivity Press, 1986
9. Shingo, Shigeo, 1981; 1988
10. Monden, Yasuhiro, 1983
11. Olmo, Taiichi, 1988
12.Ver Womack, James P. et ai., 1992, p. 73
13. Shingo, Shigeo, 1986
14. Monden, Yasuhiro, 1984, p. 2
15. Execução simultânea de operações secundárias ou selecionadas e a operação
principal utilizando-se dos tempos de folga associados à operação principal de forma a
imprimir um fluxo contínuo a cada peça fabricada.
16. É uma abordagem de parceria entre todas as funções organizacionais, mas
particularmente entre a produção e a manutenção, de forma a implementar o aprimoramento
contínuo da qualidade do produto, da eficiência operacional, da garantia da capacidade
produtiva e da segurança.
17. Kotler, Philip et ai., 1986, p. 27-31
18. Shingo, Shigeo, 1986, p. xiii
19. Shingo, Shigeo, 1986, p. xv
20. Shingo, Shigeo, 1988, p. 205
21. Monden, Yasuhiro, 1984, p. I

186
PRODUÇÃO

22. A essência da autonomação é responder ao princípio fundamental da completa


eliminação de perdas. Á redução no número de trabalhadores é uma decorrência planejada
da eliminação das perdas por espera (grifo nosso).
23. Monden, Yasuhiro, 1983, p. 123-4
24. ibidem, p. 140
25. ibidem, p. 145
26. ibidem, p. 145
27. Monden parece não ter reconhecido a existência de uma relação de causa-e-efeito
entre erros e defeitos. Para ele, a função controle é exercida somente através da detecção
de defeitos.
28. As 7 classes perdas propostas por Olmo e Shingo são as seguintes: I perda por
superprodução (quantitativa e por antecipação); 2 perda por espera; 3 perda por fabricação
de produtos defeituosos; 4 perda por transporte; 5 perda por movimentação; 6 perda no
processamento em si; 7 perda por estoque. Existem, obviamente, outras classes de perdas.
Estas 7, no entanto, abrangem a quase totalidade das perdas presentes num ambiente
industrial. (Ghinato, 1994, p.62)
29.Monden, Yasuhiro, 1984, p. 2
30.ibidem, p. 6, 69-80
31. A chamada para ação corretiva pode ser realizada através de mecanismos de
paralisação da operação e/ou de simples sinalização (alarme) sonoro ou visual.
32. Em 1987 a Toyota mantinha 6650 CCQ's em atividade, com um total de 25 mil
trabalhos implantados no ano. (Toyota Motor Corp., 1989, p. 28)
33. Em 1986 a Toyota recebeu 2,65 milhões de sugestões de seus colaboradores, com
uma média de 48 sugestões/funcionário (ibid., p. 27)
34. Monden, Yasuhiro, 1984, p. 74-7
35.lshikawa, Kaoru, 1993, p. 117
36. Monden, Yasuhiro, 1984, p. 93
37. ibidem, p. 933 95
38. Shingo, Shigeo, 1981, p. 239; Olmo, Taiichi, 1988, p. 125
39. Nagara é um termo japonês que significa "a realização simultânea de duas ou mais
atividades". Como acontece para diversos outros termos, a palavra "Nagara" não tem
sinônimo adequado em inglês ou português e portanto será mantida no decorrer deste
trabalho.
40. Shingo, Shigeo, 1981, p. 147
41. ibidem, p.21O-2
42. Monden, Yasuhiro, 1984, p. 81

187
PRODUÇÃO

43. As 5 Regras do Kanban: Regra I: O processo subseqüente deve retirar, no processo


precedente, os produtos necessários, nas quantidades necessárias e no ponto necessário em
tempo; Regra 2: O processo precedente deve produzir seus produtos nas quantidades
requisitadas pelo processo subseqüente; Regra 3: Produtos com defeitos não devem ser
enviados ao processo subseqüente; Regra 4: O número de Kanbans deve ser minimizado;
Regra 5: Kanban é usado para adaptar pequenas flutuações na demanda. (Monden, 1984,
p.13)
44. O foco na melhoria da qualidade do trabalho em si na verdade pode resultar,
também, em melhoria da qualidade do produto.
45. Shingo, Shigeo, 1988, p. 413
46. As anormalidades podem ser detectadas nas demais operações (transporte,
movimentação, espera, ... )
47. Shingo, Shigeo, 1981. p. 187
48. ibidem, p. 44
49. ibidem, p. 309
50. Segundo Takasan, Kosei (1992, p. 38-9), quebra pode ser entendida como a perda
da função previamente definida que pode se manifestar através de parada de funcionamento
ou queda do desempenho.
51. Maggard, Bill N. e Rhyne, David M., 1992.
52. ibidem
53. O "Porquê 5 vezes" ("Why flve times") é um método que consiste em perguntar
sistematicamente "Porquê?" até a identificação da causa fundamental (origem) de um
problema.
54.5 S's : Seiri, Seiton, Seiso, Seiketsu e Shitsuke; Osada, Takashi, 1992, p. 34-5
55. Shingo, Shigeo, 1986, p. xiv, xv Seiketsu e Shitsuke; Osada, Takashi, 1992, p. 34-5
56. União Brasileira dos 9 Círculos de Controle de Qualidade - UBCCQ, 19859 p. 30

Referências Bibliográficas
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Autonomação e Zero Defeitos. Dissert. ISHIKAW A, K. Controle de qualidade
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qualidade. São Paulo, Guteplan, 1985.
Agradecimentos:

Gostaria de registrar os meus agradecimentos aos Professores Dr. Syoji Katsuo do


Departamento de Mecatrônica e Engenharia de Precisão da Universidade de Tohoku e
Dr. Fujii Susumu do Departamento de Engenharia de Sistemas e Computação da
Universidade de Kobe pelo apoio prestado durante o desenvolvimento deste trabalho.
Este autor contou, também, com o suporte essencial do Ministério da Educação e
Cultura do Japão (Monbusho).

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