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100 Exercicios de Escrita Criat - Mario Falcao
100 Exercicios de Escrita Criat - Mario Falcao
São Paulo
2017
EDITORA STIEG
Este é um manual de exercícios para quem gosta de escrever e quer
melhorar a qualidade do texto com foco na ficção. Funciona como
uma oficina literária.
O “volume 1” é a versão para iniciantes, um ponto de partida
para quem quer melhorar o nível de redação, contar histórias,
escrever textos para blogues e, talvez, um dia se tornar um
profissional da escrita.
Os exercícios servem para desbloquear e soltar a imaginação,
melhorar a percepção sobre o que é descrito ou narrado, explorar a
criatividade, criar diálogos e experimentar a escrita literária.
Para chegar a um bom nível de qualidade é preciso ler e
escrever com frequência. A prática constante e a técnica desenvolvem
e aprimoram o talento. O ideal é ter disciplina para trabalhar seu
texto todos os dias, tal como um atleta que se prepara para disputar
uma competição.
A sugestão é que você termine este livro em 100 dias. Um
exercício de redação por dia.
Mostre seus textos para familiares, amigos e professores. Eles
serão os seus primeiros leitores e poderão contribuir para o seu
desenvolvimento.
Escrever bem pode parecer um mistério, mas é igual a tudo o
que a gente aprende na vida. À medida que avançamos, adquirimos
conhecimento, domínio e chegamos a resultados que costumam ser
recompensadores.
Os exercícios de escrita e os textos deste manual também ajudam
quem quer se tornar um leitor mais capaz de entender e apreciar as
obras da literatura do Brasil e do mundo.
Espero e desejo que você suba de nível e tenha muito mais
satisfação e prazer com a escrita criativa e com a leitura.
O Autor
SUMÁRIO
EXERCÍCIOS, 4
FRASES DE ABERTURA, 12
UM ENREDO EM 3 ATOS, 23
3 OPÇÕES DE NARRADOR, 33
TÓPICOS PARA CRIAR UM PERSONAGEM, 44
BIBLIOGRAFIA, 72
EXERCÍCIOS
1. O que torna um pôr do sol perfeito? Faça uma lista.
12. Conte como foi a viagem mais interessante e inesquecível que você já
fez.
13. Escreva uma carta para ser aberta daqui a 100 anos contando o que a
nossa geração fez com o planeta.
“Assim como alguns jovens passam de quatro a cinco horas por dia
estudando piano ou violino, eu vivia entre meus papéis e minhas canetas.”
Truman Capote
FRASE DE ABERTURA
A primeira frase de um conto ou de um romance é fundamental. Ela
tem a função de conquistar o leitor e colocá-lo dentro da narrativa. Moby
Dick, um clássico escrito por Herman Melville, começa com uma
simplicidade irresistível:
“Me chame de Ismael.”
A frase estabelece uma ligação imediata com quem está lendo e o convida a
seguir em frente.
“Da primeira vez em que pus os olhos em Terry Lennox ele estava bêbado,
num Rolls-Royce Silver Wraith, em frente ao terraço do The Dancers.”
Romance policial O longo adeus, de Raymond Chandler
“Às cinco daquela tarde de inverno tinha hora marcada com o dr. Bentsen,
outrora seu psicanalista e agora seu amante.”
Conto Mojave, de Truman Capote
“Ainda que viva cem, mil anos, não esquecerei aquele dia em que, deitado no
leito miserável da cela B 17, a porta se abriu e dois soldados empurraram um
corpo que logo se estatelou no chão de ladrilhos.”
Novela Romance sem palavras, de Carlos Heitor Cony
20. Cada povo tem o governo que merece? Escreva usando as técnicas de
dissertação que você conhece.
21. Por que algumas pessoas fazem sucesso e outras se dão mal?
27. Você foi eleito o prefeito de sua cidade. Descreva o seu primeiro dia
de trabalho.
28. O narrador compra um casaco antigo numa loja de roupas usadas. No
bolso há uma carta de amor. Quem escreveu a carta? Para quem?
Transcreva a carta.
“O mais importante: fica alerta o quanto puderes, cuida, sua, reescreve
pela quinta vez, corta etc.”
Anton Tchékhov
UM ENREDO EM 3 ATOS
O texto de um romance ou de uma novela, em geral, tem começo, meio
e fim. Poderíamos desdobrar a estrutura em três atos: 1) introdução e desafio;
2) peripécias e conflitos; 3) clímax e encerramento.
Veja um exemplo de trama para uma novela policial:
1. Introdução: abertura na cena do crime. Um corpo é encontrado na
biblioteca, mas não sabemos quem é o criminoso nem onde foi parar a arma.
Nós temos aí algo que quebra a rotina e precisa de uma solução. É um
desafio, o problema a ser resolvido. O detetive entra em cena. Os
personagens principais também;
2. Peripécias e conflitos. O detetive encarregado em desvendar o caso
será o nosso herói, o protagonista. Ele vai seguir pistas, investigar suspeitos e
montar o quebra-cabeças que vai levar à captura do verdadeiro criminoso. O
vilão é o antagonista, e faz de tudo para não ser pego. Nesse caminho há
conflitos, pistas falsas, reviravoltas, tiros, dramas e aventuras;
3. Chega o momento do clímax, a grande cena em que tudo pode
acontecer. O detetive sabe quem é o assassino e se lança ao desafio de
prendê-lo. É a batalha final. Felizmente, no mundo da ficção, o autor pode
fazer com que tudo dê certo e o mocinho prenda o bandido;
No encerramento, ficamos sabendo mais detalhes sobre o motivo do
crime e as circunstâncias em que tudo aconteceu. O culpado vai para a cadeia
ou foge. O detetive tem seu trabalho reconhecido e se houver uma mocinha
nessa história, eles podem ficar juntos.
Esse é um modelo que funciona, mas as possibilidades narrativas são
infinitas. Cada autor escolhe como quer criar a sua história, onde, em que
época, e se ela vai ter um herói ou não.
Um roteiro prévio com começo, pontos de virada, clímax e desfecho,
ajuda muito a tornar a história consistente. Alguns autores planejam cada
etapa do romance e já sabem, antes mesmo de começar a escrever, o que vai
acontecer em cada capítulo e como a história termina. Quem sabe aonde quer
chegar tem um percurso mais confortável do que àqueles que partem no
escuro, sem saber o que vai acontecer.
Mais uma sugestão: horário e disciplina para escrever. Dessa forma,
você mantém a história viva na sua cabeça e termina o livro. Eu escrevo
todos os dias, assim que acordo, durante duas horas e meia. Só depois vou
cuidar das minhas outras atividades e compromissos. As ideias que pipocam
durante o dia, anoto num Moleskine.
29. Feche os olhos e imagine você mesmo daqui a 10 anos. Conte como é
a sua vida lá.
30. Qual foi o maior susto da sua vida? Como a história terminou?
31. Você encontra 10 mil dólares numa sacola esquecida no banheiro de
um shopping. O que você faz? Como a história termina?
32. Escreva uma notícia para o jornal da sua cidade. O título é: “Chupa-
cabras ataca de novo”.
33. Comente a frase de Peter Ducker: “A melhor maneira de prever o
futuro é construi-lo.”
38. Agora, conte o mesmo caso de amor, mas nesta nova versão ele
termina mal.
39. Durante a noite, os bonecos de um parque de diversões ganham vida.
Escreva o diálogo entre eles.
“Flaubert tinha uma teoria sobre estilo: a do ‘mot juste’. A palavra certa
era aquela – única – capaz de expressar cabalmente uma ideia. A
obrigação do escritor era encontrá-la. Como saber que a encontrara? Seu
ouvido lhe dizia: a palavra era certa quando soava bem.”
Mario Vargas Llosa
40. Escreva a partir da seguinte introdução: “Era uma noite chuvosa de
sexta-feira. Um vulto sinistro pulou o muro e escapou do manicômio.
Era um homem. Ele caminhou em direção à... (continue)
41. Você entra na máquina do tempo e vai parar em 2118. Como é a vida
no futuro?
3 OPÇÕES DE NARRADOR
O escritor/autor é uma pessoa real. O narrador da história pode ser
alguém inventado. Explico: eu posso narrar como se fosse um velho contando
suas memórias ou um menino em seu primeiro dia de aula ou como se fosse
uma mulher descrevendo sua experiência no mundo dos negócios, entre
inúmeras outras possibilidades.
Há um ponto de vista a ser definido.
1) O narrador pode contar uma história que aconteceu com ele próprio.
Ele é um personagem. Nesse caso, o texto será escrito em primeira
pessoa (“Eu estava no prédio e ouvi a explosão”).
2) O narrador pode ser alguém que conhece a história. Ele conta, o que
viu e ouviu, em terceira pessoa (“Fulano estava no prédio e disse que
ouviu a explosão”).
3) O narrador pode ser alguém que conhece a história toda e sabe de
tudo, está em todos os lugares, lê todas as mentes, enfim, é um “deus”.
É o narrador onisciente. O texto é escrito em terceira pessoa (“Fulano
estava no prédio e ouviu a explosão. Ele teve medo, pensou em correr,
mas decidiu ficar e ajudar as vítimas”).
O autor também pode adotar o estilo livre e narrar uma parte da história
em primeira pessoa e outra parte em terceira pessoa. É o que faz o autor de
novelas policiais Harlan Coben no livro “Não conte a ninguém”. O
personagem principal, o doutor David Beck, narra sua própria história. Nas
cenas em que ele não aparece quem assume é o narrador onisciente.
45. Escreva uma história que termine com a frase de Machado de Assis:
“Não é em terra que se fazem os marinheiros, mas no oceano,
encarando a tempestade.”
46. Você acorda de manhã e percebe que se transformou num cachorro. O
que acontece? Conte o seu dia.
“De certo que eu amava a língua. Apenas, não a amo como a mãe severa,
mas como a bela amante e companheira.”
João Guimarães Rosa
47. Escreva um diálogo entre um gato e um peixe de aquário.
50. Descreva a padaria do seu bairro. Acabou de sair uma fornada de pão.
51. Você ganhou na Mega-Sena acumulada. O que você faz da sua vida?
52. Você está num hotel com fama de mal-assombrado e acorda com
barulhos que vem do corredor. Descreva a cena? Como a história
termina?
53. Você passa um dia trabalhando num depósito de lixo. Conte como foi
a experiência. O que aconteceu de mais interessante?
nome
idade
altura
peso
estado de saúde
aparência física
como se veste
profissão
estado civil
família
situação financeira
comidas preferidas
características de personalidade
o que ele quer mais do que qualquer outra coisa (motivação dentro da
história)
um segredo do passado
59. É o dia mais frio do ano e você sai de casa, a pé, às seis da manhã para
ir ao trabalho ou à escola. Descreva a situação.
60. Você acorda e a cidade está completamente deserta. A população
desapareceu. O que você faz?
61. Você conhece uma pessoa que tem pavor de peixe (não pode nem
ver). Conte o que acontece quando vocês entram, por engano, numa
peixaria.
62. Escreva um texto publicitário sobre o seu chocolate preferido. Por que
o consumidor deve comprá-lo?
68. Você olha pela janela e vê uma cena estranha numa das janelas do
apartamento do outro lado da rua. Parece um assassinato. Descreva a
cena. O que você faz?
69. Você está num museu e sua amiga quebra um valioso vaso chinês da
dinastia Ming. Ninguém viu. O que você faz? Descreva a cena
72. O personagem está num shopping e percebe que está sendo seguido. O
que ele faz?
73. O seu filho cometeu um crime. Você é a única testemunha. O que
você faz?
85. A escola de lousa e giz é adequada aos estudantes da era digital? Por
quê?
86. O namorado sai e esquece o Facebook aberto. A namorada resolve ler
as mensagens que ele anda teclando. O que ela descobre? O que
acontece quando ele volta?
87. Conte uma boa história de pescador. Inclua uma sereia, uma garrafa
de rum e um relógio de ouro.
88. O jogo de futebol está empatado e você se prepara para bater um
pênalti aos 45 minutos do segundo tempo. O que se passa pela sua
cabeça?
“Quando olho pedra e vejo pedra mesmo, só estou vendo a aparência.
Quando a pedra me põe confusa de estranhamento e beleza, eu a estou
vendo em sua realidade que nunca é apenas física. A aparência diz pouco.
Só a poesia mostra o real.”
Adélia Prado
89. Escreva um texto a partir da seguinte frase: “Ele passa o dia no
computador. A vida dele se resume a sites, seriados, mídias sociais e
games.”
96. Escreva uma história que comece com a frase: “Amanhã será outro
dia.”
97. Escreva um diálogo para uma peça de teatro. Um conde senil e uma
jovem faxineira atrevida discutem sobre um cachimbo.
“Toda obra científica deve ser uma espécie de thriller – o relato de uma
busca por algum Santo Graal.”
Umberto Eco
98. Escolha um trecho de algum romance em inglês e o traduza para o
português.
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