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Valdirene Leite[1]
RESUMO
Nesse texto buscamos um outro olhar não-convencional, sobre o texto A Revolução dos
Bichos. Partimos do pressuposto de que George Orwell não apresenta uma narrativa objetiva
sobre a União Soviética ao utilizar essa narrativa histórica como base para sua fábula. Nossa
hipótese é que a fábula é trotsquista e anticomunista. E assim ela foi utilizada durante a Guerra
Fria. Apesar disso, mesmo a esquerda continua a prestigiar o texto e não o aborda em termos
mais críticos. Ao analisar que narrativa histórica é essa que Revolução dos Bichos aborda,
notamos que é preciso repensar o seu uso em sala de aula, utilizando uma bibliografia a
respeito da União Soviética e buscando ser mais objetivo, em especial sobre as dicotomias
pobres entre Trotsky e Stálin que o texto A Revolução dos Bichos traz.
1 INTRODUÇÃO
O livro A Revolução dos Bichos, de autoria de Eric Arthur Blair (mais conhecido pelo
pseudônimo de George Orwell) (1903-190), apresenta, através de uma fábula onde os animais
falam, uma crítica política totalizante a respeito da revolução russa, supomos, desde 1917 até
1943. O texto, publicado em 1945 no Reino Unido sob o nome de Animal Farm, foca
principalmente o governo de Stálin, adotando a hipótese (de origem trotsquista) de que foi
durante esse governo que a revolução se perverteu e se burocratizou.
Nossa hipótese é que a fábula de Orwell apresenta as posições antissoviéticas de
Trotsky de forma ilustrada (e vai mais além). Por exemplo: a coletivização de 1933-34 é
representa pela situação do moinho de vento. O entusiamo de Bola de Neve pela construção
do moinho de vento e a oposição de Napoleão representaria a situação e a discussão na União
Soviética na altura de 1926, quando os trotsquistas propuseram a coletivização e ela foi
rejeitada.
Assim, esse artigo buscará lançar um outro olhar sobre a obra de Orwell, considerando
que o objetivo de Revolução dos Bichos, de George Orwell, foi traçar paralelos entre o governo
do porco Napoleão e o de Stálin, na União Soviética. O objetivo aqui será entender e criticar
esses paralelos, assim como entender quais eram, historicamente, as posições de Trotsky e de
Stálin, representadas, na fábula, por Bola de Neve e Napoleão, respectivamente. A
contraposição entre os dois será objeto de debate nesse artigo. O livro não é isento: tende a
defender Bola de Neve, que era Trotsky. Pesquisando sobre história e ligando aos
acontecimentos do livro, pode-se dizer que Bola de Neve é Trotsky, Napoleão é Stálin, o
animalismo é o comunismo.
2 Ficção e história em A Revolução dos Bichos
A narrativa histórica aqui visada é a coletivização da agricultura russa nos anos 30. O
problema era o seguinte: embora depois da revolução russa houvesse o fim do latifúndio,
continuaram existindo uma classe de fazendeiros ricos (os kulaks) e pequenos proprietários
empobrecidos. A solução sugerida por Lênin era a criação de fazendas de produção coletiva. A
partir da recusa dos kulaks em vender grãos ao governo soviético, a coletivização começou,
em 1926, ainda incipiente.
No entanto, de forma inconseqüente os trotsquistas sugeriram que a coletivização
fosse adotada rapidamente. O verdadeiro objetivo da oposição de esquerda era infringir uma
derrota ao poder soviético; a coletivização naquelas circunstâncias, quando ainda estava
apenas em seu início, provocaria novos e mais violentos boicotes por parte dos kulaks e
poderia ser derrotada por eles, pois provocaria desabastecimento e fome. A idéia foi recusada,
mas entre 1933-34, depois de uma grande fome na Ucrânia, quando a coletivização já estava
adiantada, ela foi posta em prática. Os fazendeiros ricos foram, então, derrotados. A forma
como a história aparece em A Revolução dos Bichos dá a entender que Stálin (“Napoleão”) era
uma criatura maldosa que apenas roubou as ideias de Trotsky (“Bola de Neve”). As seguntes
palavras serviram para finalizar a questão do moinho de vento (que refigura o fato histórico da
coletivização):
Garganta explicou aos outros bichos, em particular, que Napoleão nunca fora contra a
construção do moinho de vento (...). Aí estava a esperteza do camarada Napoleão (...). Ele
fingira ser contra o moinho de vento, apenas como manobra para livrar-se de Bola de Neve,
que era um péssimo caráter e uma influência perniciosa (ORWELL, 2007, p. 51).
Assim, uma versão histórica do livro de Orwell que oculta que os trotsquistas, em 1926,
quiseram colocar, prematuramente, o poder soviético contra os kulaks, o que causaria sua
derrota. A conclusão que se tira é exatamente a contrária: a coletivização foi uma idéia de
Trotsky roubada por Stálin. Outro indício da tomada de partido é como a polêmica entre a
revolução permanente (Trotsky) e a revolução em um só país (Lênin e Stálin) é apresentada:
Além da disputa sobre o moinho de vento, havia o problema da defesa da granja. Eles bem que
sabiam que (...) segundo Napoleão, o que os animais deveriam fazer era conseguir armas de
fogo e instruir-se em seu emprego. Bola de Neve achava que deveriam enviar mais e mais
pombos e provocar a rebelião entre os bichos das outras granjas (ORWELL, 2007, p. 45).
Napoleão bem sabia dos maus resultados que poderiam advir, caso a verdadeira situação
alimentar da granja fosse conhecida, e resolveu utilizar o Sr. Whymper para divulgar uma
impressão contrária (ORWELL, 2007, p. 64).
O que ocorreu não foi uma tentativa do governo da URSS de esconder o fato da fome e
sim a ampla divulgação da fome por nazistas alemães e reacionários da Polônia e da própria
Ucrânia como sendo causada intencionalmente pelo governo da União Soviética como forma
de exterminar o povo ucraniano, o chamado “holodomor” (em ucraniano, morte por fome). O
pesquisador e historiador Mark Tauger, de West Virginia, estudou recentemente a questão e
concluiu que a fome não foi causada pelo governo e sim por fatores naturais. Antes da
coletivização, sucediam-se ondas de fome em razão das más colheitas na Ucrânia. Tal fato, no
entanto, foi abundantemente usado para fazer propaganda antissoviética. Mais adiante, surge,
na Revolução dos Bichos, uma passagem que se referem às conspirações zinovievistas-
trotsquistas:
Durante a última década, muita evidência documental emergiu dos arquivos formais soviéticos
para contradizer o ponto de vista canônico desde o tempo de Kruschev de que os réus, nos
Processos de Moscou e na conspiração militar do “Caso Tukachevsky”, foram vítimas
inocentes forçadas a fazer confissões falsas. Nós publicamos e escrevemos um grande número
de trabalhos ou, ao pesquisar para publicar, podemos dizer que agora temos forte evidência de
que as confissões não eram falsas e que réus dos Processos de Moscou pareciam ter sido
verdadeiros em confessar as conspirações contra o governo soviético (FURR, 2010, p. 7).
--Alerto a todos os animais desta fazenda para que mantenham os olhos bem abertos. Temos
motivos para pensar que alguns agentes secretos de Bola de Neve estão ocultos entre nós
neste momento (ORWELL, 2000, p. 71).
A partir daí são descritas imagens de execuções que seriam, no entanto, imotivadas e
sem nenhum sentido a não ser perverterem os ideiais e a utopia, reforçando a autoridade
tirânica de Napoleão (“Stálin”). Pela natureza da relação entre os porcos e Napoleão, pode-se
dizer que eles representam Bukharin, Zinoviev e Kamenev:
[Os animais]eram os mesmos que haviam protestado quando Napoleão abolira as reuniões
dominicais. Sem mais demora, confessaram ter realizado contatos secretos com Bola-de-Neve
desde o dia de sua expulsão e haver colaborado com ele na destruição do moinho de vento
(...). Ao fim da confissão, os cachorros estraçalharam-lhes as gargantas e Napoleão, com voz
terrível, perguntou se algum outro animal tinha qualquer coisa a confessar. As três galinhas que
haviam liderado a tentativa de reação sobre os ovos aproximaram-se e declararam que Bola-
de-Neve lhes aparecera em sonho, instigando-as a desobedecer às ordens de Napoleão.
Também foram degoladas (...). E assim prosseguiu a sesão de confissões e execuções, até
haver um montão de cadáveres aos pés de Napoleão e um pesado cheiro de sangue no ar,
coisa que não sucedia desde a expulsão de Jones (ORWELL, 2007, p. 73).
Assim, reforça-se a tese de que o marxismo-leninismo é idealismo ingênuo e que,
quando praticado, leva a uma terrível tirania. Acima, pode-se notar a leitura dos expurgos dos
anos 30 e dos Julgamentos de Moscou como o fuzilamento dos verdadeiros revolucionários.
A teoria que Orwell apresenta, resumidamente ao final do texto, é que as teses
“stalinistas” destruíram as idéias de Marx. Essa mensagem é comentada quando a narrativa
trata das distorções nos pensamentos do personagem Major. O cavalo Sansão, por exemplo,
pode ser associado ao Bukhárin, ou seja, era um velho companheiro de Stálin. Por fim, o fato
final é a Conferência de Teerã, onde debatiam Roosevelt, Churchill e Stálin. A narrativa de
Orwell iguala soviéticos e as potências capitalistas nessa conferência. No entanto, nessa época
o nazismo ainda não tinha sido vencido. Parece-nos, inclusive, que mesmo que o nazismo
esteja representado nessa fábula por Frederik, da Granja Pich Field, pode-se dizer que faltou a
Orwell uma melhor compreensão da ameaça que representava o nazismo, em sua pressa de
criticar a União Soviética.
Na Inglaterra atual, assim como no Brasil, é muito comum a presença da obra de
George Orwell nas escolas, onde ele é elogiado como um gênio literário, assim como é
celebrado como um escritor na linhagem de Swift e outros. A fábula costuma ser lida como
sobre “o totalitarismo em geral”.
No entanto, estudos como os de Stephen Spender e Jodi Bar analisam que aquilo que
é de fato avaliado em provas (quando o livro é cobrado na Inglaterra) é a habilidade de
regurgitar clichês da Guerra Fria. Para que a narrativa de A Revolução dos Bichos funcione, é
preciso concordar com a assertiva de que, embora os governantes de hoje sejam ruins,
expulse-os e teremos uma nova tirania ainda pior. Esse é, de fato, o pressuposto desse texto.
Embora hoje seja tido como crítica ao totalitarismo em geral, o texto de fato tem sido utilizado
como propaganda contra Stálin e a União Soviética.
Um leitor, ao ler Revolução dos Bichos, passa a pontificar a respeito da história da
União Soviética, embora na prática não esteja tendo acesso a uma versão preocupada com a
realidade objetiva. Na prática, está apenas repetindo a versão de Trotsky dos acontecimentos
da revolução de outubro e do período Stálin (mas sem saber que a narrativa é partidária). E a
versão de Trotsky é a adotada, em geral com ainda mais exageros negativos, pelo chamado
paradigma histórico da Guerra Fria, ou seja, o paradigma adotado pelas universidades norte-
americanas nos anos 40 e 50, tendo em vista combater ideologicamente os seus inimigos no
campo das democracias populares e socialistas.
E porque o texto seria ainda tão popular e tão recomendado, se a Guerra Fria, na qual
ele foi largamente incentivado, tendo sido até objeto de uma adaptação para desenho animado
patrocinada pela CIA, terminou em 1989? O fato é que o comunismo ainda é uma ameaça para
a sociedade burguesa, com ou sem Guerra Fria. É preciso refutar as calúnias nos livros de
Orwell e orientar a juventude a buscar uma visão mais objetiva, distante dos clichês da Guerra
Fria, a respeito do que se passou na União Soviética.
Os textos que foi possível encontrar na bibliografia brasileira respeito de A Revolução
dos Bichos (Teoria e suas implicações: compreensão da utilização doAnimalismo na
Revolução dos Bichos e do marxismo na URSS de Stálin, de autoria de Felipe Fontana, Olgário
Vogt) não buscam questionar o paradigma histórico da Guerra Fria, pelo contrário, o confirmam
e o acentuam. Em geral, o tom de celebração em torno de Orwell, o mito, é geral. Fontana se
baseia em Marilena Chauí, Simone Weil e José Paulo Netto (Chauí e Netto tendem bastante ao
trotsquismo) para concluir que o marxismo, no Leste Europeu, tornou-se uma ideologia (no
sentido de produzir falsa consciência). Tanto Fontana quanto Vogt não buscam novas
pesquisas históricas nem suspeitam da mensagem claramente partidária que é transmitida
em Revolução dos Bichos.
Olgário Vogt vai no mesmo sentido, supondo que Orwell está criticando “o totalitarismo
em geral”. Mais precavido do que Fontana, diante das evidências do uso da obra de Orwell na
Guerra Fria, Olgário insiste em afirma que Orwell era um esquerdista e o defende, afirmando
que ele desejava um socialismo “independente”.
Orwell é apresentado, nos livros didáticos ingleses, como um “herói”, um jornalista
“independente”, “objetivo”, “imparcial”, assim como é visto como exemplo de intelectual
engajado em causas sociais. Nos últimos anos, no entanto, têm sido fortes os questionamentos
acadêmicos a respeito do antissemitismo, homofobia e racismo presentes em seu texto. Como
escreve a respeito Alberto Escusa:
De todos os traços que tinha Orwell, teria que acrescentar alguns que não se comentam e que
tiveram grande peso em suas atitudes políticas, como sua fobia contra os homossexuais, seu
extremo conservadorismo e seu racismo escondido. Toda a combinação de experiências
vividas e concepções sociais nebulosas e abstratas, junto de suas fobias, foram levando
rapidamente Orwell a posições marcadamente direitistas, ainda que seguisse formalmente
sendo um escritor esquerdista. Um dos traços mais desconhecidos do escritor foram suas
manias de perseguição. Segundo Isaac Deutscher, que o conheceu pessoalmente, Orwell vivia
em um estado de angústia (...). Essa atitude, junto de sua incapacidade de perceber de
maneira científica e realista as questões sociais e políticas, o empurraram a converter-se em
um colaborador direto do imperialismo inglês.Até o final de sua vida, em 1949, decidiu
colaborar com pleno conhecimento de causa com os serviços britânicos de inteligência,
o Foreign Office, ou concretamente com o departamento de investigação de informação (IRD)
ao qual lhe entregou uma lista de 135 pessoas suspeitas de serem simpatizantes ou
companheiros de viagem dos comunistas. Nesta lista, ao lado dos nomes, anotou os principais
defeitos de cada um, revelando a natureza racista e homofóbica de Orwell, que tinha interesse
em mostrar traços pessoais dos acusados (ESCUSA, 2012, p. 22).
Se vossas senhorias têm problemas com vossos animais inferiores, nós os temos com as
nossas classes inferiores (...). Doze vozes gritavam, cheia de ódio, e eram todas iguais. Não
havia dúvidas, agora, quanto ao que sucedera à fisionomia dos porcos. As criaturas de fora
olhavam de um porco para um homem, de um homem para um porco e de um porco para um
homem outra vez; mas já era impossível distinguir quem era homem, quem era
porco (ORWELL, 2007, p. 118).
Orwell age como se estivesse criticando uma esquerda oficial apoiada pela União
Soviética e que, junto aos capitalistas e igual a eles, estivesse repartindo o mundo. No entanto,
qual era o contexto histórico no ano de 1943 em que Orwell terminou Revolução dos Bichos e
tentou publicar esse escrito antissoviético? Os nazistas haviam invadido a União Soviética e
matado milhões de russos, arrasando o país. Já havia acontecido a maior batalha da guerra,
Stalingrado, mas não se sabia quem venceria o conflito, se a Alemanha nazista ou os
soviéticos. Mas o que queria Orwell com seu Revolução dos Bichos? Ele ambicionava acabar
com o “mito” da União Soviética como estado socialista. Mas a quem beneficiava, em 1943,
essa postura de Orwell? É curioso como se esquece tão facilmente no Ocidente como a vitória
foi obtida com enormes sacrifícios pelo povo soviético e pelo exército vermelho.
Se em 1943 ainda havia atitudes reticentes quanto à posição de Orwell, a ofensiva
contra o socialismo em 1945 as desfez e o mundo ocidental passou a ter uma postura favorável
com relação a ele, chegando até ao ponto de mistificá-lo. Os espiões de guerra nazistas foram
aproveitados por serviços de guerra norte-americanos, como por exemplo, o general alemão
das SS Reinhard Genhlen, cuja rede de espionagem passou inteiramente aos norte-
americanos e passou a agir no Leste da Europa. Essa rede foi uma das responsáveis pela
rebelião antissoviética em Berlim em 1953 e na Hungria em 1956.
Em A Revolução dos Bichos, o porco Napoleão é caracterizado como grande, feio, com
expressão agressiva e descrito como tirânico, rude, hipócrita, vaidoso, ou seja, (“Stálin”). Bola
de Neve é mostrado como jovem, bonito, com expressão inteligente e os seguintes atributos:
articulado, inovador, brihante, estrategista, modernizador, idealista (“Trotsky”). Não seria a hora
de questionar esse tipo de dicotomia pobre que termina sendo passado como aula de literatura
e história? Não chegou a hora de quebrar com esse corporativismo trotsquista que tem
protegido Orwell de ser criticado nesses últimos cinqüenta anos?
Nossa hipótese, portanto, foi de que A Revolução dos Bichos é libelo antissoviético e
trotsquista, utilizado largamente como propaganda anticomunista, ao ponto mesmo de servir de
base para desenhos animados patrocinados pela CIA. George Orwell, ao escrevê-lo em 1948,
estava claramente obcecado por seus escritos antissoviéticos.
CONCLUSÃO
Embora seja muito estudada e lida em sala de aula e na escola, A Revolução dos
Bichos é um livro que ainda pede uma releitura crítica. A narrativa histórica na qual ele se
baseia é uma narrativa fortemente partidária do anticomunismo, baseada principalmente em
Trotsky, embora ele não a apresente assim. Ele é lido como narrativa neutra que é capaz de
engajar e de politizar a juventude. Isso precisa ser questionado e uma visão mais objetiva, que
não repita, meramente, os clichês da Guerra Fria sobre o período Stálin precisa ser abordada
em sala de aula. No Brasil, os trabalhos disponíveis sobre Revolução dos Bichos, com os
textos de Felipe Fontana e Olgário Vogt, fixam-se totalmente no mito Orwell, celebrando sem
maiores críticas o “clássico”, repetindo elogios a respeito de sua biografia e vida, mas sem
aprofundar-se em sua obra. No entanto, na Inglaterra, novos estudos sobre Orwell o fazem
aparecer sob uma outra luz: antissemita, homofóbico, anticomunista que chegou a trabalhar
como informante do estado em plena Guerra Fria e delatar outros escritores. Igualmente,
historiadores como Grover Furr, Arch Getty, Yuri Zhukov e outros estão repensando a narrativa
do tempo da Guerra Fria. Como a narrativa sobre a coletização russa dos anos 30 está sendo
repensada, é importante verificar como ela foi apresentada em A Revolução dos Bichos. E ela
foi apresentada do ponto de vista trotsquista e antissoviético. O texto constrói uma dicotomia
pobre entre Stálin (“Napoleão”) e Trotsky (“Bola de Neve”). Não há dúvidas de que o texto
tomou claro partido por Trotsky e o anticomunismo. No entanto, os estudiosos brasileiros nunca
mostram isso, pelo contrário, dão à hipótese da neutralidade da narrativa o caráter de verdade
inquestionável. Nesse trabalho, adotamos a hipótese maoísta, ou seja, de que o abandono do
marxismo-leninismo pela União Soviética aconteceu em 1956.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Los mitos orwellianos: de la Guerra Civil española al holocausto soviético. Disponível em: .
Acesso em 13 de outubro de 2012.
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