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NOVAS CONFIGURAÇÕES FAMILIARES:

MITOS E VERDADES

Paulo Roberto Ceccarelli*

RESUMO

Este texto parte da hipótese segundo a qual o que, de fato, ameaça nas
chamadas novas organizações familiares é que elas questionam a noção de família
vigente na cultura ocidental, obrigando-nos a um trabalho de luto das antigas posições
libidinais. Para sustentar esta hipótese, o autor faz uma pequena digressão histórica
para mostrar que o ser humano sempre acolheu com suspeitas e medos qualquer
mudança, e que a humanidade sempre foi obrigada a produzir “reorganizações
simbólicas”, para adequar-se à nova leitura de mundo. Discute-se, em seguida, a noção
de família em outras culturas e a origem desta mesma noção na cultura ocidental. Para
o autor, o sistema representativo que chamamos “família” varia segundo a sociedade.
E o significante “família” é composto por fatores conscientes e/ou inconscientes, que
definem a maneira e engendram as categorias pelas quais o mundo social é organizado.
Além disso, qualquer modelo de família é tributário da ordem social que o produz. Posto
que o modelo de família tradicional nunca foi sinônimo de “normalidade”, o autor discute
o que é realmente necessário para que a inserção no simbólico ocorra, ou seja, para
a sobrevivência psíquica da criança, e isto independentemente dos protagonistas da
organização familiar que acolhe o recém-nascido quando de sua chegada no mundo.

Palavras-chave: Família. Novas organizações familiares. Inserção no simbólico.


Complexo de Édipo. Sobrevivência psíquica.

Embora todo mundo acredite saber o


que é uma família, é curioso constatar que por
*
Psicólogo; psicanalista; Doutor em Psi- mais vital, essencial e aparentemente univer-
copatologia Fundamental e Psicanálise
sal que a instituição família possa ser, não
pela Universidade de Paris VII; Membro
da Associação Universitária de Pesquisa
existe para ela, como é também o caso do
em Psicopatologia Fundamental; Sócio casamento, uma definição rigorosa.
de Círculo Psicanalítico de Minas Ge-
rais; Membro da Société de Psychanalyse Françoise Héritier
Freudienne, Paris, França; Professor
Adjunto III no Departamento de Psico-
logia da PUC-MG (graduação e pós-
graduação).

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Paulo Roberto Ceccarelli

Somos de tal forma impregnados mos, para onde vamos, o que nos cons-
pelas associações sintagmáticas que uti- titui como sujeitos...
lizamos para decompor o mundo e, em É por isso que não acredito, como
seguida, recompô-lo que, muitas vezes, o defendo em um artigo anterior (Ceccarelli,
novo é sentido como uma ameaça, pois 2006), que exista na atualidade uma crise
nos obriga a reavaliar as representações sem precedentes. A História nos mostra
que confortavam nossas angústias. É com que a humanidade está sempre em crise:
dificuldade que abrimos mão de valores e a luta, nos primeiros séculos de nossa era,
teorias que nos têm sido tão caras para ler para a implantação da ideologia cristã
o real. Ademais, qualquer mudança re- contra a pagã; as transformações do
quer um trabalho de luto no qual antigas mundo estanque do feudalismo pelas idéias
posições libidinais são abandonadas em liberais que, paulatinamente, foram sendo
prol de novos investimentos. E nunca introduzidas pela revolução burguesa; (na
abandonamos de bom grado um modo de Idade Média, é importante lembrar, quem
satisfação pulsional, ainda que um outro já ousasse questionar a participação de tudo
se nos acene (Freud, 1917/1976a). que é vivo — plantas, animais, seres
A necessidade de certezas e de humanos — na cadeia dos seres corria
imutabilidade pode ser tão forte, que só o risco de ter a língua arrancada, o corpo
nos damos conta de que nossas verda- torturado, queimado para que a ordem
des não passam de construções histori- natural e imutável fosse preservada: a
camente datadas quando elas são ques- que serviram os Tribunais da Inquisi-
tionadas. Um dos exemplos mais pun- ção?); o capitalismo incipiente, que fez do
gentes é o período da adolescência, sujeito não apenas produtor como no feu-
quando o jovem constrói sua própria dalismo mas, também e sobretudo, consu-
maneira de ler o mundo. Muitas vezes, midor; as mudanças trazidas pelo Renas-
suas verdades acham-se em completa cimento; as conseqüências da Revolução
oposição às de seus pais, o que pode Industrial no século XVIII; as duas Gran-
gerar uma crise entre eles. Para alguns, des Guerras e outras tantas.
aceitar a nova leitura de mundo trazido Tudo isso levou a mudanças sócio-
pelo jovem pode ser insuportável, pois político-econômicas que, apoiadas nos
os obriga a repensar, ou mesmo aban- movimentos feministas, acirraram o de-
donar, tudo aquilo que até então era tido bate, iniciado no século XIX, sobre o lugar
como “natural” e “imutável” e que ser- dos homens e o das mulheres nas rela-
via de referência para se locomoverem ções sociais, no trabalho, na reprodução,
no simbólico. Evidencia-se, assim, o nas questões demográficas, e assim por
caráter imaginário de toda verdade, diante. Umas das conseqüências deste
provocando o retorno dos eternos ques- reposicionamento social foi a emergência
tionamentos: quem somos, de onde vie- de um discurso, sem dúvida revolucioná-

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rio, a respeito do sexual, do qual um dos encantado, e para sempre perdido, de


expoentes é a psicanálise: os Três ensaios, nossa infância. O passado sempre exer-
considerado até hoje por certos segmen- ceu uma misteriosa atração. Cada vez
tos sociais como subversivo, pois subver- que a realidade nos parece insuportável,
te a ordem vigente denunciando que não recorremos às lembranças (encobrido-
há nada de natural na sexualidade huma- ras) do passado na esperança de reen-
na, constituem a primeira formulação sis- contrarmos a Idade de Ouro: “O encanta-
temática sobre o tema. mento de [nossa] infância, que [nos] é
Mais perto, a chamada “revolução apresentada por [nossa] memória não
sexual” dos anos 60, justamente com o imparcial como uma época de ininterrup-
aparecimento da pílula anticoncepcional, ta felicidade” (Freud, 1939/1975).
foi recebida com apreensão, pois prenun- Resumindo: a atualidade, apoiada
ciava o fim da família, dos costumes e da no imaginário cultural do momento sócio-
moral. Trabalhando fora, e levando con- histórico no qual estamos inseridos, nada
sigo a pílula, a mulher não resistiria à mais faz que reproduzir, pela repetição do
tentação de relações extraconjugais. (Não mesmo em cópias variadas, efeitos ilusó-
podemos deixar de ver, nessas posições, rios que através da clivagem do eu
toda a força do relato bíblico da Criação: (Ichspaltung) promovem a recusa
mais uma vez, a mulher é culpada pela (Verleugnung) do mal-estar (Unbe-
queda.) hagen) inerente à cultura.
O que se depreende de tudo isso, Pois bem, as novas configurações
como dizíamos, é que a humanidade está familiares, por trazerem o diferente, pro-
sempre em crise de referências simbóli- vocam estranhamento (o retorno do re-
cas, tendo, constantemente, que produzir calcado?), passando rapidamente a fazer
o que chamo de “reorganizações coleti- parte das ameaças da atualidade.
vas” para responder à nova leitura do Um dos grandes debates atuais
mundo. gira em torno das chamadas novas orga-
Nesta perspectiva, nossa tendên- nizações familiares — ou novas famíli-
cia a sentir as mudanças atuais como as, novos arranjos familiares —, for-
particularmente ameaçadoras deve-se a mas de ligação afetiva entre sujeitos onde
questões eminentemente narcísicas: existe, ou não, uma forma de exercício da
sentimo-nos ameaçados atualmente, pois parentalidade que foge aos padrões tradi-
vivemos hoje e não temos como avaliar a cionais: famílias monoparentais, homopa-
violência do passado. Além disso, toda rentais, adotivas, recompostas, concubi-
mudança corre o risco de ser experimen- nárias, temporárias, de produções inde-
tada como um ataque ao narcisismo. pendentes, e tantas outras. Temos, ainda,
Defendemo-nos, psiquicamente, com o as mudanças que afetam diretamente as
único recurso que possuímos: o mundo condições de procriação tais como: barri-

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ga de aluguel, embriões congelados, pro- — monopaternidade — ou a presença de


criação artificial com doador de esperma duas pessoas do mesmo sexo —
anônimo e, muito mais brevemente do que homopaternidade — trará desdobramen-
se pensa, a clonagem. tos significativos nos processos identifi-
Seguramente, muitos destes mo- catórios e, por conseguinte, na organiza-
dos de procriação e de filiação sempre ção psíquica do sujeito?
existiram. Entretanto, eles eram margi- Há os que alertam para as possí-
nais em relação aos padrões oficiais ou, veis derrapagens psíquicas dessas confi-
simplesmente, ignorados como se não gurações afetivas. Alguns temem que
estivessem ocorrendo ou, ainda, tratados crianças criadas por um genitor apenas
como uma fatalidade infeliz: crianças cri- — o pai, ou mãe, biológico não participa
adas por um só genitor — na grande concretamente dos processos identifica-
maioria dos casos a mãe. Mas, a partir do tórios da criança — ou aquelas expostas
momento em que os protagonistas desses a dois sujeitos do mesmo sexo teriam seus
arranjos passaram a exigir seus direitos processos psíquicos fundamentais com-
de cidadãos provocando visibilidade, co- prometidos, o que impediria o acesso ao
meçaram a surgir questões que interpe- simbólico e à lei. Para outros, as novas
lam todo o tecido social. Da perspectiva formas de procriação e adoção traduzem
psíquica algumas inquietações foram le- uma onipotência narcísica que coloca a
vantadas. Por exemplo: qual a diferença, criança no lugar de objeto-fetiche enco-
se existe, em termos de investimento bridor da castração. Outros ainda susten-
materno e/ou paterno no caso de uma tam que a presença do par homem/mu-
gravidez tradicional e no caso de uma lher na travessia edipiana é um imperativo
fecundação in vitro? A construção da irredutível. Existe, também, o temor de
psicossexualidade de uma criança gerada que os novos arranjos familiares desinte-
desta forma difere da de uma criança grariam a família, trazendo conseqüênci-
adotada? E quando a geração se dá por as catastróficas para a organização soci-
um processo biotécnico de inseminação al. Finalmente, deparamo-nos com posi-
artificial com, em alguns casos, doador ções religiosas que consideram as “filia-
anônimo? O que significa para um ho- ções artificiais” como contra-natureza.
mem acolher como filho uma criança Como não podemos negar os efeitos que
gerada pelo esperma que não o seu? Os as transformações contemporâneas pro-
processos de subjetivação de uma crian- duzem no universo simbólico da cultura,
ça criada por apenas um genitor (às vezes cabe-nos discutir as repercussões destas
o outro é totalmente inexistente concreta transformações no processo civilizatório.
ou psiquicamente), ou por um casal do As questões suscitadas pelas no-
mesmo sexo, terão alguma particularida- vas circulações afetivas submetem al-
de? Ou seja, a falta de um dos genitores guns elementos de nosso arsenal episte-

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mológico a duras provas e colocam à plo — da atualidade, tanto os novos mo-


psicanálise perguntas teórico-clínicas, com dos de circulação pulsional e de investi-
desdobramentos éticos incontornáveis, mentos de objeto, quanto a (nova) confi-
que nos levarão a separar aquilo que, de guração simbólica daí advinda.
fato, revela do domínio da psicanálise Dando continuidade ao trabalho de
daquilo que pertence ao imaginário. Como reflexão teórico-clínico que tenho feito
psicanalistas e cidadãos, inseridos na cul- sobre os chamados novos arranjos fa-
tura e atentos aos movimentos pulsionais, miliares (Ceccarelli, 2002, 2005, 2007),
interessa-nos entender a dinâmica pulsio- gostaria de refletir sobre os fundamentos
nal que sustenta as novas organizações que sustentam a noção de família, lem-
familiares e não prescrever, como vemos brando que a transformação dos genito-
com freqüência, como esta dinâmica deve res em pais não é atrelada ao fato físico
ocorrer. A psicanálise não é guardiã de que dá lugar ao nascimento de uma crian-
uma ordem simbólica suposta imutável, ça. Ou seja, nascer da união de um ho-
produtora de uma forma idealizada de mem com uma mulher não basta para ser
subjetivação baseada nas normas vigen- filho, ou filha, daquele homem e daquela
tes e com o poder de deliberar sobre o mulher. Ou ainda: colocar uma criança no
normal e o patológico. Não nos cabe ditar mundo não transforma os genitores em
os caminhos “normais” do desenvolvi- pais. O nascimento (fato físico) tem que
mento psíquico a partir dos modos tradici- ser transformado em filiação (fato social
onais de filiação, pois os pressupostos da e político), para que, inserida em uma
psicanálise — pulsões, desejos, complexo organização simbólica (fato psíquico), a
de Édipo, relações de objeto, identifica- criança se constitua como sujeito.
ções... — diferem dos da organização Esses três fatos — físico, social e
social. Valer-se da psicanálise para sus- psíquico — guardam cada vez menos
tentar que apenas um modo de subjetiva- relações de dependência entre eles. As
ção é gerador de “saúde psíquica” cor- técnicas atuais de reprodução assistida
responde a uma imaginarização do sim- desvincularam radicalmente as relações
bólico, o que é, no mínimo, perverso. entre nascimento e genitores. O fato so-
Outra possibilidade é a de seguir o cial, o reconhecimento de uma linhagem,
exemplo de vários psicanalistas, a come- de uma filiação, não tem, necessariamen-
çar pelo próprio Freud, e revisitar a teoria te, que ser exercido pelos genitores bioló-
a partir daquilo que a clínica e as mudan- gicos, como é o caso, por exemplo, de
ças sociais nos interpelam, para verificar uma criança adotiva. Quanto ao fato psí-
como alguns pressupostos psicanalíticos quico, a inserção do recém-nascido no
reagem aos arranjos contemporâneos. simbólico, interessa-nos saber quais os
Ou seja, tentar compreender, partindo elementos indispensáveis para que ele se
das mudanças sociais — em sentido am- realize. Se, no modelo de família tradicio-

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nal, os agentes promotores do fato psíqui- soberana, porque é nesta que, em primei-
co são um homem e uma mulher, os novos ro lugar, se plasma o rosto de um povo; é
modelos de família sugerem que outros nesta onde os seus membros adquirem os
modos de produção de subjetividade são ensinamentos fundamentais”. Quando
possíveis. isso não ocorre “é a sociedade no seu
No modelo dito “tradicional”, ho- conjunto que sofre violência e se torna,
mens e mulheres tinham lugares e fun- por sua vez, geradora de múltiplas violên-
ções bem definidas. O pai, que trabalhava cias”.
fora, dirigia o carro e passeava com a Ao mesmo tempo, a História da
família nos finais de semana — cabeça família (Burguière, Klapisch-Zuber,
da família —, era o provedor que detinha Segalen & Zonabend, Orgs., 1986) nos
um poder inquestionável. Os cuidados da informa da heterogeneidade dos arranjos
casa — a comida, a faxina, enfim, o familiares, os quais, cada um dentro de
necessário para que o bem-estar de todos seu próprio universo discursivo, atribuem
fosse o melhor possível — eram garanti- os lugares simbólicos de “pai” e “mãe”
dos pela rainha do lar. Neste arranjo, das mais variadas formas: “O parentesco
todos pareciam felizes e tudo concordava não é uma invariante, mas, sim, um fenô-
com uma ordem imutável. Unidos para meno histórico e contingente” (Aran &
sempre, “para o melhor e para o pior”, Correa, 2004, p. 332). Frente à grande
pelos laços sagrados do matrimônio, as diversidade dos modelos familiares, os
desavenças do casal não constituíam antropólogos não procuram mais classifi-
ameaças à estabilidade do lar. Até hoje car as sociedades em termos de civiliza-
este modelo é defendido por muitos como ção, mas, antes, tentam evidenciar as
o único capaz de sustentar a ordem social invariáveis a partir das quais as diversida-
e de produzir subjetivações sadias. Em des culturais são criadas (Fine, 2002). A
um documento publicado em 31 de julho referência invariável é a aliança matrimo-
de 2004 — Carta aos Bispos da Igreja nial, cuja definição varia segundo as cul-
Católica sobre a colaboração do ho- turas. Nessas, são inúmeros os arranjos
mem e da mulher na Igreja e no mundo que dissociam o sexo dos progenitores, de
— o atual Papa, quando era ainda o suas condições de pai e mãe, assim como
Cardeal Prefeito Ratzinger, presidente da a realidade biológica da concepção e da
Congregação da Doutrina e da Fé, novo filiação (Cadoret, 1999), como aqueles
nome dado ao antigo Tribunal da Inquisi- compostos por filhos de uniões anteriores
ção, defende esta posição. Ali, Ratzinger nos quais, sem guardar laços consangüí-
(Ratzinger, 2004) sustenta que as mulhe- neos, todos se sentem em família.
res devem estar “presentes, ativamente e Um exemplo, sem dúvida estranho
até com firmeza, na família, que é a à organização simbólica da cultura oci-
sociedade primordial e, em certo sentido, dental, acontece com os bavendas na

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África do Sul. A mulher filha única susci- das como ameaças à estabilidade social,
ta um problema de descendência, pois o o que evidencia o seu caráter imaginário:
sistema de parentesco desta sociedade é se fosse fixa, nada a ameaçaria e não
patrilinear. A solução encontrada é bas- haveria mudanças. Dito de outra forma,
tante peculiar: a mulher torna-se pai ca- as novas organizações familiares produ-
sando-se com outra mulher. Esta última zem um modo de circulação pulsional
terá filhos com os amantes oficialmente diferente daquele criado pelo modelo tra-
reconhecidos pelo grupo social. A “des- dicional.
cendência” assim produzida receberá o Foi a partir dos séculos XVI e
nome e a herança dos genitores da mu- XVII que o Estado começou a participar
lher-pai dando, desta forma, continuidade mais de perto na classificação e na desig-
ao sistema patrilinear. A mulher-pai, por nação das atividades dos indivíduos den-
sua vez, também poderá tornar-se mãe e tro da ordem política que ele queria man-
ter seus próprios filhos. Ocupando o lugar ter (Lenoir, 2003). O discurso ideológico
simbólico de pai, a mulher-pai mantém a então produzido apresentava a ordem
organização social (Parseval, 2004). familiar instituída como algo natural, logo,
Se os elementos que definem o inquestionável. Neste sentido pode-se di-
sistema representativo que chamamos zer que a família é uma coisa “estádica”,
“família” variam segundo a sociedade, ou seja, criada pelo Estado (Lenoir, 2003,
podemos concluir que o significante “fa- p. 483), pois, em grande medida, é o
mília” é representado, como todo signifi- Estado que controla a produção simbólica
cante, por fatores conscientes e/ou in- que determina a família. Através de crité-
conscientes, que definem a maneira e rios que ele mesmo estabelece, o Estado
engendram as categorias pelas quais o moderno está sempre “fabricando” a fa-
mundo social é organizado. Qualquer mília e produzindo dispositivos que garan-
modelo de família é tributário da ordem tam a sua estabilidade — regulamenta-
social que o produz. Ordem geradora do ções patrimoniais, de sucessão, de sobre-
discurso ideológico que apresenta a famí- nome — segundo uma moral rigorosa:
lia não como um construto social arbitrá- demarcação entre filhos legítimos e natu-
rio e convencional mas, antes, como algo rais, o lugar da concubina, etc. Esse mo-
natural, por vezes sagrado, universal e delo de família, centrado no poder patriar-
imutável (Sousa Filho, 2003). cal, foi amplamente apoiado pela Igreja,
Nessa perspectiva, interrogar-se pois entrava em ressonância com o mo-
sobre família implica outra questão bem delo Cristão de família (Vainfas, 1986/
mais profunda, que diz respeito aos fun- 1992). Ainda hoje, a moral cristã defende,
damentos que sustentam a ordem social. a sua maneira, estes valores — a
Não é sem razão, já o dissemos, que as indissolubilidade do casamento, a
novas organizações familiares são senti- monogamia, a fidelidade —, posicionan-

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do-se contra tudo que os ameaça: contra- tellung) pulsional no discurso social para
cepção, aborto, uniões livres, o uso de respaldar-se.
preservativo, homopaternidade, e outras Sabemos, no entanto, e para isso
organizações familiares. não foi necessário esperar pela psicaná-
Vemos que a família assim como o lise, que o modelo de família tradicional
casamento no Ocidente nem sempre fo- nunca foi sinônimo de “normalidade”. O
ram como são hoje, e as uniões de duas argumento segundo o qual a presença do
pessoas nem sempre tiveram o caráter par homem/mulher é indispensável para a
sagrado como o é para o cristianismo: os produção de “subjetividades sadias” não
primeiros séculos de nossa era foram se sustenta. A prática clínica, sobretudo a
marcados por intensas lutas político-eco- infantil, é rica em exemplos onde o proble-
nômicas entre a moral cristã incipiente e ma apresentado pela criança é um sinto-
as práticas ditas “pagãs”, de concubinato ma dos pais. E em situações nas quais se
e divórcio, tão comuns no mundo antigo. poderia esperar um desfecho preocupan-
A origem divina do matrimônio, entendida te, como, por exemplo, em famílias nas
como a união de Jesus com a Igreja, quais um dos pais, se não os dois, parece
baseia-se na interpretação agostiniana não participar de forma significativa do
das Escrituras (Vainfas, 1986/1992). Ao universo psíquico da criança, esta não
longo dos séculos, os valores da moral apresenta nenhum problema particular-
cristã transformaram-se nos ideais que mente dramático. Isto significa que não
sustentam o imaginário da cultura ociden- existe uma forma de organização familiar
tal. Tais ideais, que juntamente com a ideal que, inequivocamente, garantiria um
autoridade paterna fazem parte do supe- desenrolar mais sadio, ou mais patogêni-
rego, derivam do mundo externo, guar- co, para a constituição do sujeito: do ponto
dam as influências do passado e da tradi- de vista psíquico, as famílias são sempre
ção que, outrora, foram sentidas intensa- construídas e os filhos sempre adotivos,
mente (Freud, 1924/1976a). Entende-se, pois são os laços afetivos que, como todo
por um outro caminho, por que as novas investimento, vão organizar o significante
organizações familiares ameaçam a he- família. Não raro, a rivalidade entre os
gemonia do modelo de família tradicional membros, o ódio entre os irmãos, o res-
provocando reações tão truculentas: o sentimento para com os pais definem este
que está, no fundo, sendo ameaçado é a significante. (É interessante lembrar que
posição libidinal que sustenta a represen- a primeira família da qual se tem notícia
tação de família no imaginário judaico- foi marcada pelo fratricídio, devido ao
cristão, ou seja, os ideais culturais. Os ciúme, levando ao “rompimento da frater-
novos modelos de família, além das “ame- nidade” (Gn, 4, 8). Embora castigado de
aças” que provocam, não encontram (ain- maneira que em nada deixa a desejar aos
da) nenhuma representação (Vors- castigos infligidos pelo tirano da horda, é

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Caim quem dá continuidade à humanida- cas fizeram com que esta função venha
de (Gn, 4, 17). Além disso, não podemos sendo exercida por outras pessoas, como
nos esquecer que a maioria quase absolu- vimos na antropologia, ou outras instânci-
ta dos “desvios de conduta”: comporta- as sociais. Nessa perspectiva, o que está
mentos anti-sociais, delinqüência, margi- em declínio é o sistema patriarcal: uma
nalidade, sociopatias, drogadicção, enfim, forma de organização social onde o agen-
as mais diversas modalidades do sofri- te promotor de alteridade, o agente
mento psíquico, foram engendrados no castrador, é encarnado pelo pai. É este
seio do modelo tradicional, composto por lugar, evidentemente imaginário, que cen-
casais heterossexuais. No mínimo duas traliza o poder no pai dando continuidade
reflexões se impõem: o sexo de quem se ao pater potestas romano, que os novos
ocupa das crianças não traz, a priori, arranjos familiares desconstroem. A an-
nenhuma garantia; a heterossexualidade tropologia nos informa que não existe um
como produtora de “normalidade” é a modo único de separação da célula narcí-
idealização de uma posição libidinal. A sica mãe-filho (Parseval, 2004). Indepen-
questão que, de fato, releva da psicanálise dente da forma como ela se dá, o comple-
pode ser formulada assim: o que perma- xo de castração imporá à criança restri-
nece, o que há de fundamental, para que ções para a constituição de sua psicos-
a subjetivação ocorra e isso independen- sexualidade. O Édipo, por ser uma repre-
temente do arranjo familiar que acolhe o sentação fantasmática sustentada por um
sujeito no mundo? Como se darão a cons- relato mitológico, é, ao mesmo tempo,
trução do mito individual e a produção da universal e singular. Universal, pois mar-
verdade singular do sujeito nos novos ca o que é próprio e o que diferencia o
arranjos afetivos? humano: a interdição do incesto, presente
Para que haja inserção no simbóli- em toda e qualquer cultura que, via recal-
co — inserção esta que nunca é feita sem que, nos obriga a abandonar nossos pri-
dor como atesta o Mal-estar na cultura meiros objetos sexuais, “o que constitui,
— é necessário que alguém encarne o talvez, a mutilação mais drástica que a
Outro. Este Outro — que Freud chama vida erótica do homem em qualquer épo-
de pai, e Lacan de “função paterna” — é ca já experimentou” (Freud, 1930/1974,
o agente promotor de alteridade. Sua p. 124). Particular, pois o que determina a
função é a de propiciar o movimento circulação dos afetos é a ordem simbólica
psíquico, presente em toda cultura, que da cultura que acolhe o recém-nascido.
insere a criança na ordem simbólica pró- Ordem esta que define, também, as re-
pria ao humano ou, se preferimos, que vai presentações do masculino e do feminino.
socializá-la. Nos textos freudianos, esta Cada cultura tem as mais diversas varia-
função é atribuída ao pai da realidade. ções em torno do tema, pois a circulação
Entretanto, as mudanças socioeconômi- pulsional que o complexo de Édipo suscita

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é tributária da ordem social que organiza Outro, dar representações às pulsões, é


os elementos desse complexo. Porém, a uma expressão da violência primária.
interdição sempre ocorre. O Édipo discu- Renunciar ao gozo narcísico em favor dos
tido por Freud reflete a dinâmica pulsional valores culturalizados é uma expressão
do modelo familiar de sua época na qual da violência simbólica. A “saúde psíqui-
a figura detentora do falo — evidente- ca” seria, então, a capacidade de suportar
mente imaginário — era o pai. Mas outros o sofrimento que essas duas violências
textos de Freud (Freud, 1917/1976a, 1920/ impõem.
1976c) sugerem que mais importante que Para que isto aconteça são neces-
os protagonistas da cena edípica são os sários laços afetivos que, mitigando a
caminhos da pulsão e as escolhas de violência, garantam à criança um lugar no
objeto que levam à construção do Eu. simbólico. Para Freud (Freud, 1930/1974,
Podemos dizer que antes do sim- p. 123), isto só é possível graças à força
bólico o recém-nascido é um organismo de Eros:
pulsional não atravessado pela lingua-
gem, candidato potencial a constituir-se. O amor que fundou a família continua
Segundo minha hipótese, a inscrição do a operar na civilização, tanto em sua forma
bebê na cultura não depende de um arran- original, em que não renuncia à satisfação
jo familiar particular mas, sim, de como, sexual direta, quanto em sua forma modi-
ficada, como afeição inibida em sua finali-
na posição do Outro, uma determinada
dade. Em cada uma delas, continua a rea-
organização familiar, qualquer que sejam lizar sua função de reunir consideráveis
os protagonistas, sustentará o bebê na quantidades de pessoas, de um modo mais
travessia de duas “violências” incon- intensivo do que o que pode ser efetuado
tornáveis, fundamentais e fundantes, as- através do interesse pelo trabalho em co-
segurando-lhe a “sobrevivência psíqui- mum.
ca” (McDougall, 1997): a violência pri-
mária (Aulagnier, 1981) e a violência Amor e Necessidade [Eros e
simbólica (Bourdieu, 2002). Uma não é Ananke] são “os pais da civilização hu-
desvinculada da outra: a função de próte- mana” (Freud, 1930/1974, p. 121). São as
se (Aulagnier, 1981, p. 35) que a psique de exigências de sobrevivência, que se ma-
quem acolhe a criança no mundo cumpre nifestam como uma “compulsão para o
para preencher o vazio devido à trabalho” e pelo “poder do amor”, que deu
prematuração psíquica do bebê (Hilflo- origem à vida comunitária. Embora o
sigkeit), ou seja, a violência primária, amor objetal seja carregado de narcisis-
guarda estreitas relações com a ordem mo — amamos para não sofrer —, são as
simbólica na qual a criança será inserida, ligações de objeto que garantem o pro-
ou seja, com a violência simbólica. Res- cesso civilizatório. Graças ao poder do
ponder à função de prótese da psique do amor (Freud, 1930/1974) mantemos os

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Novas configurações familiares: mitos e verdades

nossos investimentos libidinais e não des- Byington, C. A. B. (2002). O martelo das


truímos o outro como, por exemplo, na feiticeiras: Malleus Maleficarum à
perversão onde o outro é transformado luz de uma teoria simbólica da histó-
em objeto. Não há acolhimento possível ria. In Kramer, H., & Sprenger, J., O
para a criança sem o equilíbrio das mo- martelo das feiticeiras (pp. 19-41).
ções pulsionais ambivalentes presentes Rio de Janeiro: Rosa dos Tempos.
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ou ódio em excesso são igualmente des- Cadoret, A. (1999). La filiation des
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SUMMARY

New family configurations: facts and myths

According to the main hypotheses of this paper the so-called new family
organizations are often felt as a threat because they put in question the traditional family
representation in the occidental culture, which leads us to a process of mourning
concerning past libidinal positions. To sustain this hypotheses the author follows a
historical digression to show that human beings have always regarded suspiciously and
fearfully any social changes, and that humanity has always been forced to produce
“symbolic reorganizations” to adapt to the new ways of understanding the world. The
author also discusses what other societies name “family”, as well as the construction
of the definition of family in our culture. According to the author the representative
system we call “family” varies from one society to another. Thus the signifier “family” is
composed of conscious and unconscious elements that determinate how the social
world is organized. Moreover, any family model can only be understood in the social
context in which is emerges. Taking as a stand point that the traditional family model
has never granted any “normality”, the author discuss what is basically necessary to
insert the baby into the symbolic world, that is, to guarantee his or her psychic survival,
independently of the protagonists of the family organization that receive the newborn
when he or she comes into existence.

Key words: Family. New family organizations. Inscription in the symbolic order.
Oedipus complex. Psychic survival.

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Paulo Roberto Ceccarelli

RESUMEN

Nuevas configuraciones familiares: mitos y verdades

Este texto parte de la hipótesis según la cual lo que constituye amenaza, de


hecho, en las llamadas nuevas organizaciones familiares, es que ellas cuestionan la
noción de familia vigente en la cultura occidental, obligándonos a un trabajo que se tiñe
de luto ante las antiguas posiciones libidinales. Para sustentar esta hipótesis, el autor
hace una pequeña digresión histórica para mostrar que el ser humano siempre acogió
con recelos y miedos todo cambio, y que la humanidad siempre fue obligada a producir
“reorganizaciones simbólicas”, para adecuarse a la nueva lectura de mundo. En
seguida, se discute la noción de familia en otras culturas y el origen de esta misma
noción en la cultura occidental. Para el autor, el sistema representativo que llamamos
de “familia” varía según la sociedad. Y el significante “familia” es compuesto por
factores conscientes y/o inconscientes que definen la manera como, y engendran las
categorías con las cuales, el mundo social es organizado. Además de esto, cualquier
modelo de familia es tributario del orden social que lo produce. Puesto que el modelo
de familia tradicional nunca fue sinónimo de “normalidad”, el autor discute lo que es
realmente necesario para que la inserción en lo simbólico ocurra, o sea, para la
sobrevivencia psíquica del niño, y esto independientemente de los protagonistas de la
organización familiar que acoge al recién nacido en el momento de su llegada al mundo.

Palabras-clave: Familia. Nuevas organizaciones familiares. Inserción en lo simbólico.


Complejo de Edipo. Sobrevivencia psíquica.

Paulo Roberto Ceccarelli


E-mail: pr@ceccarelli.psc.br
Homepage: www.ceccarelli.psc.br

Recebido em: 02/05/07


Aceito em: 28/05/07

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