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O Espaço pode ser definido como o resultado de uma interação permanente entre, de um lado, o trabalho

acumulado, na forma de infraestrutura e máquinas que se superpõe à natureza e, de outro lado, o trabalho
presente, distribuído sobre essas formas provenientes do passado. O trabalho morto, sobre o qual se exerce o
trabalho vivo, é a configuração geográfica e os dois, juntos, constituem exatamente, o espaço geográfico.

Quanto mais territórios são cortados por estradas, tanto mais a produção e os homens se concentram em poucos
lugares. A cidade é um grande meio de produção material e imaterial, lugar de consumo, nó de comunicação. Por
isso, o entendimento do processo global de produção não se contenta com a mera economia política, nem se basta
com a Economia Política da Urbanização, exigindo uma Economia Política da Cidade.

A economia política da urbanização leva em conta uma divisão social do trabalho, que dá, com a divisão territorial do
trabalho, a repartição dos instrumentos de trabalho, do emprego e dos homens na superfície de um país. A
economia política da cidade seria a forma como a cidade, ela própria, se organiza, em face da produção e como os
diversos atores da vida urbana encontram seu lugar, em cada momento, dentro da cidade.

A verdade é que a economia política da urbanização e a economia política das cidades, são inseparáveis, porque a
urbanização não é apenas um fenômeno social, ou econômico, ou político, mas também um fenômeno espacial.
Como toda e qualquer outra forma de repartição no espaço, é dependente da maneira como os instrumentos de
trabalho e os fatores de produção se distribuem. Há, portanto, uma relação de causa e efeito recíprocos entre a
cidade, como ela se organiza materialmente, e a urbanização, como ela se faz.

O espaço produtivo propriamente dito é cada vez mais a cidade, onde também as populações humanas se
concentram mais. A cidade se torna ainda o meio de trabalho para a maior parte da população ativa e o meio de
existência para a maior parte das pessoas.

Da mesma forma que a concentração industrial resulta em uma produção sempre crescente de bens, a concentração
urbana resulta no aparecimento ilimitado de necessidades. Ora, se os dois tipos de concentração são
contemporâneos, eles têm sua dinâmica própria e não coincidem em seus resultados. A concentração urbana dá-se
mais depressa que a produtividade.

Na grande cidade moderna acentua-se o fato de que nela não é possível encontrar um único homem que satisfaça
por si mesmo todas as suas necessidades, sem ter que contar com a ajuda alheia. O que ocorre é que vivem numa
estreita dependência; trabalham uns para os outros.

A concentração reduz o custo dos investimentos em infraestrutura, gera economias externas e de escala e diminui os
custos de transporte e comunicações, tudo isso permitindo ampliar a escala do mercado.

A cidade constitui uma forma de socialização capitalista das forças produtivas. Ela mesma é o resultado da divisão
social do trabalho e é uma forma desenvolvida de cooperação entre as unidades de produção.

As condições preexistentes, que incluem o espaço construído, heranças de situações passadas, são formas, isto é,
resultam de divisões do trabalho pretéritas. As novas divisões do trabalho, vão, sucessivamente, redistribuindo
funções de toda ordem sobre o território, mudando as combinações que caracterizam cada lugar e exigindo um
novo arranjo espacial.

O princípio de diferenciação entre os lugares, dentro de uma mesma formação social, é dado, sobretudo, pela força
de inércia representada pelas heranças do passado, a começar pelo espaço construído, que acaba por ser um dado
local, e pelos elementos de transformação, representados por uma divisão do trabalho que transcende os limites
locais.

A cidade constitui o lugar de um processo de valorização seletivo. Sua materialidade é formada pela justaposição de
áreas diferentemente equipadas, desde as realizações mais recentes, aptas aos usos mais eficazes de atividades
modernas, até o que resta do passado mais remoto, onde se instalam usos menos rentáveis, portadores de técnicas
e de capitais menos exigentes.

Cada nova divisão do trabalho corresponderá a uma nova funcionalização das atividades e dos lugares, com a
disfuncionalização de alguns lugares e atividades. Quanto mais intensas e mais rápidas as mudanças (tecnológicas,
organizacionais etc.), maiores os riscos de disfuncionamento O processo de internacionalização das cidades ora em
marcha acelera essa evolução, já que a vocação mundial das cidades as envolve num movimento cujo ritmo não é
dado apenas pela própria cidade, ou seu próprio país, mas pelas exigências de uma competitividade cuja escala é
planetária.

A competição em escala mundial introduz uma lógica internacional que exige um esforço maior de produtividade.
Esse esforço exige adequação ainda mais clara do espaço às necessidades das firmas dominantes. Como as grandes
firmas baseiam sua atividade na previsão, a necessidade de planejar para atender aos seus reclamos torna-se
imperativa, o planejamento urbano sendo chamado a participar dessa tarefa.

Em nome da estabilidade, do equilíbrio da balança comercial e de pagamentos, do crescimento e da


competitividade, o planejador é, cada dia, convidado a encontrar os meios e as formas de transformar o Espaço
Urbano, de modo a permitir que as firmas mais poderosas possam melhor utilizá-lo em seu próprio proveito.

O planejamento tem sido uma atividade a reboque, quando utilizado para buscar uma solução minuciosa para as
dificuldades do capital. Assim, se configura um enriquecimento planejado pelos que enriquecem e também um
empobrecimento planejado pelos que planejam.

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