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Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical

19(4): 233-238, Out-Dez, 1986.

EFEITO DA DESSECAÇÃO DAS FEZES DE TRIATOMÍNEOS NA


SOBREVIVÊNCIA DE FORMAS METACÍCLICAS DE TRYPANOSOMA CRUZI
V ân ia A. S o a re s 1 , Philip D. M a rs d e n 1 e C o lin J o h n s o n 2

E studou-se a taxa de dessecação das fe zes de triatom íneos ü temperatura


am biente e diferentes um idades relativas e à temperatura média da pele hum ana (33 °C).
O tempo necessário para evaporar a água contida nas fe ze s de barbeiro é inver­
sam ente proporcional ao déficit de saturação atm osférica e é acelerado a temperaturas
m ais altas.
Estudou-se a m otilidade dos flagelados feca is diretam ente ao microscópio e a
infectividade dos m esm os após introdução na cavidade peritoneal de camundongos.
A baixa um idade ambas, m otilidade e infectividade, fo ra m perdidas antes de 30
minutos. E m altas um idades esses parâm etros fo ra m preservados, em grau variado, por
m ais de 30 minutos. A 33 °C, 100% dos cam undongos fo ra m infectados depois de 15
minutos, m as som ente 3,3% após 30 m inutos de exposição.
A s condições am bientais no interior de um a casa em M a m b a i variaram acen-
tuadam ente no período de estudo. Entretanto, fo ra m geralm ente sim ilares àqueles
observados experim entalm ente em laboratório.

Palavras chaves: D essecação. Microclima de pele. D oença de Chagas.

Chagas3 afirmava que as fezes de triatomídeos, chos, com um mês de idade e ninfas de Dipetalogaster
quando expostas ao ambiente, sofreriam rápida des­ m a xim u s (Uhler, 1984), para obtenção das fezes e
secação com conseqüente morte das formas infectan- para o xenodiagnóstico (quando necessário comprovar
tes do Trypanosom a cruzi. M arsden5 ressalta entre a negatividade dos camundongos). Trabalhou-se com
outros fatores relacionados ao risco de infecção aquele a cepa Iuiu de T. cruzi, cuja amostra foi isolada
ligado ao microclima da pele humana. Realmente a de triatomíneo naturalmente infectado, capturado em
determinação da ocorrência ou não da infecção habitat doméstico na Baixada do Iuiu, Bahia em 1974,
chagásica com eça a ser estabelecida na interfase pele - que apresenta grande número de metacíclicos.
ambiente e a dessecação do material fecal, depositado Os experimentos foram realizados em duas
sobre o tegumento, determ inará o tempo que as formas etapas: 1) Em câm ara com umidade relativa controla­
infectantes do T. cruzi terão para encontrar uma porta da e à tem peratura ambiente; e 2) A temperatura
de entrada e estabelecer a infecção. Portanto, a média da pele hum ana7 (33°C ) e umidade relativa
dessecação é fator limitante para a sobrevivência de ambiental.
formas metacíclicas do T. cruzi. M as, apesar de E tapa 1 - N esta etapa utilizaram-se quatro câ­
importante não foi estabelecido, até o momento, a m aras com as seguintes umidades relativas: 90% ± 2,
sobrevivência e a viabilidade dessas formas em con­ 60% ± 2, 45% ± 5 e 25% ± 5. Para checagem e ca-
dições ambientais controladas. Portanto, os experi­ libração das câm aras nos níveis de umidade desejados
mentos aqui descritos abre um campo ainda inexplo­ utilizou-se psicrômetro miniaturizado constituído por
rado e importante na transm issão da doença de termopar; a umidade foi calculada pela Equação de
Chagas. Regnault6.
Esse trabalho tem como objetivo determinar, Primeiramente determinou-se a dessecação das
através de modelo experimental, o tempo de sobrevi­ fezes para cada umidade considerada.
vência e a viabilidade das formas de T. cruzi, prove­ As fezes foram obtidas de ninfas de 5.° estádio de
niente de fezes de triatomíneos em condições de D. m axim us; essas ninfas foram alimentadas em
umidade relativa e tem peratura controladas. camundongos normais. Após o repasto, introduziu-
M A T E R IA L E M É T O D O S se a metade posterior do corpo das ninfas em
frascos de vidro, imobilizando-as com fita crepe9. Os
N a realização dos experimentos utilizaram-se frascos com as ninfas foram, então, colocadas no
nos testes de infecção, camundongos albinos, ma­ interior de câm ara úmida e aguardou-se a defecação
espontânea. A urina eliminada com as fezes foi o
1. Núcleo de Medicina Tropical e Nutrição/Universidade de
Brasilia.
diluente. Após a coleta das fezes, 0,01 ml foi dis­
2. Departamento de Biologia Vegetal/Universidade de Bra­ tribuído, com auxílio de uma seringa micrométri-
silia. ca sobre uma área circular com 0,5 cm de diâ­
Recebido para publicação em 29/10/85. metro delimitada em confetes plásticos; pesou-se o

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material a fresco. U m lote de cinco confetes foi E tap a 2 - E ssa parte do experimento foi reali­
colocado em cada câm ara e a cada cinco minutos zada à tem peratura da pele humana, 33°C e à
foram retirados e pesados. O processo de exposição às umidade relativa ambiente. P ara regular a tem peratura
câm aras seguido de pesagem foi repetido sucessiva­ ao nível desejado utilizou-se um aparelho constituído
mente até a dessecação total do material, atingida por um suporte de m adeira que sustentava uma placa
quando não se observa alteração entre as passagens de de alumínio pintada de preto (absorve mais calor)
dois ciclos consecutivos. Fez-se, então, o teste de onde acoplou-se um term ostato eletrônico. A fonte de
motilidade das formas de T. cruzi. O processo foi radiação foi um a lâm pada de 100 watts, a tem peratura
semelhante ao anterior sendo que 15 confetes, conten­ foi medida por um term ômetro eletrônico de Gossen.
do o mesmo volume de fezes com formas móveis de T. Com o na etapa anterior, a dessecação foi avaliada pela
cruzi, foram colocados em cada câm ara e, então, alteração do peso do m aterial fecal com o tempo.
observou-se ao microscópio a presença de formas Primeiramente, construíram-se as curvas de desseca­
móveis. Q uando não se encontrava, retirava-se outro ção de modo semelhante ao descrito anteriormente, o
confete, só se considerando todas as formas mortas mesmo volume de fezes foi depositado sobre dez
quando todos os confetes fossem negativos. Após esse confetes plásticos, que foram, então, distribuídos
teste, partiu-se para os testes de infecção. Recolhidas sobre a placa a 33°C. A cada cinco minutos pesava-se
as fezes, como acima descrito estimou-se o número de os confetes repetindo-se o procedimento até a desse­
metacíclicos na am ostra2. As fezes com número cação total do material. Fez-se, também , o teste de
conhecido de metacíclicos foram distribuídas nos motilidade das formas, como na etapa anterior,
mesmos confetes plásticos de modo a preencher a área expondo o confete à placa e a cada cinco minutos
delimitada nos mesmos. O s confetes foram, então, observava-se a presença de formas móveis na amostra.
colocados nas câm aras, aí permanecendo por 30 Baseado nos resultados do teste de motilidade e
minutos. Findo esse tem po os confetes foram introdu­ na curva de dessecação a tem peratura controlada,
zidos na cavidade abdom inal de camundongos aneste­ estipulou-se o tempo de 15 e 30 minutos de exposição
siados, por incisão feita previamente que, então, foi das fezes às condições acim a descritas para a realiza­
suturada com pontos metálicos especiais (Michel ção dos testes de infecção. Portanto, após cada
clips). Cuidava-se para não atingir as vísceras dos período de exposição confetes eram introduzidos no
animais. interior da cavidade abdom inal dos camundongos,
sendo 30 animais em cada lote e mais 15 controles, que
N o total foram utilizados 119 animais, sendo 25 receberam inóculo de 0,1 ml do mesmo conteúdo fecal,
para os materiais mantidos a 25% e 25 a 45% de intraperitonealmente. Os exames para observação da
umidade relativa, 30 para os mantidos a 60% e 39 parasitem ia foram realizados seguindo padrão já des­
para os mantidos a 90% de umidade relativa. Os crito.
animais foram examinados diariamente para verifica­ P ara análise estatística dos resultados utilizou-
ção de reação inflamatória no local da incisão. Além se o Teste de diferença entre duas proporções para
dos animais do grupo de teste, dois grupos-controles cx: = 0,05 e considerou-se somente os animais vivos
foram utilizados: um deles com 21 animais recebeu quando do primeiro exame.
inóculo intraperitoneal de 0,1 ml do mesmo conteúdo Além dos experimentos de laboratório, medidas
fecal utilizado nos testes e outro com 18 animais de umidade relativa e tem peratura m áxim a e mínima
recebeu um confete livre de material infectante na diárias foram registradas durante 16 meses no
cavidade abdominal. Os camundongos que receberam interior de uma habitação típica de área endêmica da
inóculo intraperitoneal de fezes foram examinados aos doença de Chagas, situada em M ambaí - G óias (14°
14,21 e 28 dias. D e acordo com Alvarenga e M arsden1 28’ 4 8 ” de latitude sul e 46° 0 6 ’ 0 0 ” de longitude
95% dos animais manifestam infecção nesse período. oeste) a 332 km de Brasília, com a finalidade de
Além do exame direto procedeu-se o xenodiagnóstico conhecer a variação dessas medidas, que quando
nos animais que não apresentaram parasitem ia pa­ com plem entadas com os testes de laboratório contri­
tente e o teste do desafio naqueles que continuaram buíram para esclarecer o processo de dessecação no
negativos pelo xenodiagnóstico. A técnica do desafio am biente natural da infecção.
consta de inóculo de formas sangüíneas de cepa N a determ inação d a umidade relativa utili-
virulenta de T. cruzi em doses que são normalmente zou-se psicrômetro não ventilado. As medidas foram
letais para camundongos normais. A sobrevivência tom adas às 7:00, 13:00 e 19:00 horas diariamente, de
dos animais sugeriria que eles teriam se tom ado setem bro de 1980 a dezem bro de 1981, registrando-se
imunes, graças a infecção não patente produzida também as tem peraturas máxima e mínima diárias.
pelo primeiro inóculo1. P ara esse teste utilizou-se cepa
RESULTADOS
Y de T. cruzi em inóculo intraperitoneal; um grupo
controle foi também inoculado. O exame desses A variação da taxa do peso relativo das fezes de
animais foi realizado aos 7 ,1 4 e 21 dias após o desafio. triatomíneos em relação ao tempo é diferente para

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cada nível de umidade relativa considerada, como


pode ser observada na Figura 1. A inclinação da curva
é menos acentuada para altos níveis da mesma, já que a
água presente nas fezes é mais rapidamente evaporada
a níveis de umidade mais baixos e à mesma temperatu­
ra.

Fig. 3 - Curva de dessecação à temperatura d e 3 3 ° C


e um idade relativa am biental (73% ).
A Figura 3 corresponde à curva de dessecação
para tem peratura de 33° e umidade de 73% e mostra a
variação do peso relativo com o tempo.
A Tabela 1 m ostra os resultados comparativos
Fig. 1 - Curvas de dessecação para câm aras com dos testes de infecção, motilidade e tempo necessário
um idade relativa controlada e à temperatura
ambiente.
T abela 1 -R e s u lta d o s de dessecação, m otilidade e
infecção em am bientes com um idade rela­
A Figura 2 m ostra o período necessário para que
tiva controlada e à temperatura da pele e
95% de água presente nas fezes evapore, que é inversa­
73% de um idade relativa.
mente proporcional ao déficit de vapor d’água no ar (5 e).
Quanto m aior for esse déficit maior o efeito da
UR S e Tem po p /sec ar M otilidade Infecção n.° % de posi-
dessecação sobre as formas metacíclicas do T. cruzi (% ) (K pa) a 5 % do peso tem po m áxi­ positivo/ tivos
expostas ao ambiente, portanto menor a sobrevida do inicial (m in.) mo (min.) total
flagelado. 25 2,1 16 20 0/2 5 0
45 1,5 21 25 0/2 5 0
60 1,1 30 45 1 7 /3 0 * 9 4,0
90 0,3 45 60 25/39* 100

Controle 14/21 * 100

33°C e 73% 30 35 15 min 3 0 /3 0 100


de U R 30 min 1/30 3,3

C ontrole 15/15 100

* C álculos estatísticos realizados sobre o número de animais vivos no primeiro exame.

para as fezes atingirem 5% do peso inicial em duas


condições, primeiro para 30 minutos de exposição à
câm ara com umidade relativa controlada e a tempe­
ratura ambiente e, segundo, para 15 e 30 minutos de
exposição à tem peratura de 33°C e umidade relativa
ambiente (73% ).
N ão se observou diferença significante
(P l = ? 2 ) nas taxas de infecção dos materiais man­
tidos a 60 a 90% de U R por 30 minutos. Q uanto
ao material mantido a 33°C (UR: 73% ), observou-se
diferença significante nas taxas de infecção dos ani­
Fig. 2 - Período para seca ra 5 % o m aterial fe c a l em mais que receberam fezes mantidas por 15 e 30
fu n çã o ao déficit de saturação (8 e). minutos sob essas condições.
Q uanto aos índices de umidade relativa no
• Ponto referente a 33°C e U R de 73%. interior da habitação estudada, baseada em médias

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quinzenais, apresentaram padrão característico, sendo P ara se ter idéia mais concreta do risco da
seis meses de seca e seis meses chuvosos e variaram infecção no interior de um a habitação típica de área
acentuadamente tanto durante o ano quanto durante o endêmica tomou-se medidas de umidade relativa e
decorrer de um mesmo dia. O s níveis mais altos de U R tem peratura m áxima e mínima diárias, observou-se
foram observados nos meses de novembro, dezembro, que a U R é bastante variável tanto ao longo do dia
janeiro e fevereiro, correspondendo à média de 85% e quanto nos diversos meses do ano, devido, talvez, ao
os meses mais secos foram julho, agosto e setembro, m aterial usado na construção ser muito higrofílico
sendo que os períodos que apresentaram valores mais (R Mossé: com unicação pessoal) ou ainda pelo fato
altos correspondiam àqueles da manhã (7:00 h) e os das casas serem construídas diretamente sobre o solo e
mais baixos à tarde (13:00 h). raramente possuir assoalho; aliada à má ventilação
Q uanto às médias de tem peraturas máximas, dessas habitações improvisadas, deve-se considerar,
atingiram valores mais altos na segunda quinzena de ainda, o hábito das pessoas residentes de molhar o
outubro de 1980, sendo igual a 31,6°C e o valor mais chão devido a poeira, contribuindo, assim, para a
baixo em junho do mesmo ano foi 24°C. Em relação variação de um idade observada.
à média das tem peraturas mínimas, foram mais altas A tem peratura no interior da habitação não
na primeira quinzena de março de 1981, sendo 25°C a variou tão acentuadamente quanto a U R, isso possi­
mais baixa na segunda quinzena de julho e foi de 16°C . velmente devido a capacidade de isolamento térm ico
A amplitude térm ica foi m aior na segunda quinzena de do material de construção.
outubro de 1980 e nos meses de maio e setembro de A o considerar-se os dados de campo e compará-
1981, correspondendo à época mais seca. los com os resultados obtidos experimentalm ente em
laboratório, observa-se que há meses (novembro,
dezembro, janeiro e março) em que a umidade relativa
D IS C U S SÃ O atinge níveis altos (70-90% ) e resultados experimen­
tais revelam que para valores elevados de U R a
A avaliação da dessecação através da redução dessecação ocorre mais lentamente; possivelmente,
do peso do material fecal com o tempo, mostrou-se nessa época o risco de infecção seja maior. Além disso
eficiente, podendo contribuir como primeira indicação sabe-se que na região a população de T. infestans
do problema de infecção pelo parasito, relacionando-o (ninfas de III, IV e, V e adultos) atinge o pico máximo,
com condições do ambiente do hospedeiro. E ssa também na época chuvosa, o que aum entaria mais
eficiência é com provada quando se observa a Tabela ainda o risco de infecção8. Trabalho publicado na
1. A s divergências observadas podem ser explicadas década de 504, relata a ocorrência de cerca de 300
pela deformação na escala da curva, já que as estima­ casos agudos da doença de C hagas na região de Bambuí,
tivas do período para que 95% da água evaporasse observou-se que 70% dos casos ocorreram entre os
foram retiradas diretamente das curvas de dessecação. meses de outubro e março correspondente à época das
A escolha desse período deveu-se ao fato de que o peso chuvas e temperatura elevada. N o entanto, uma análise
do material fecal seco corresponde a aproximada­ de 76 casos de Chagas agudos observados em São
mente 5,5% do peso do material fresco, além das Felipe, Bahia, não mostrou uma alta prevalência da
pequenas variações acrescentadas pelas repetições do fase aguda na época chuvosa (V Macêdo: comunica­
experimento. ção pessoal). M as, ocorre que, em São Felipe a
Q uando se observa as curvas de dessecação a umidade relativa é alta durante o ano inteiro e não
cada nível de U R considerado, nota-se que dois somente na época chuvosa, o que não permite con­
fenômenos distintos parecem ocorrer. (Fig. 1). No clusões definitivas.
início do período de exposição (até ± 15 min ) as curvas U m a observação da sazonalidade de casos
são aproximadamente lineares. Após um ponto crítico, agudos em M ambaí antes do controle em 1980 não foi
diferente para cada umidade, o padrão se modifica possível porque poucos casos foram detectados no
talvez devido a formação de um a crosta na superfície período de 1974-1980. D ados sobre 34 casos de
da gota de fezes, que alteraria o fluxo de evaporação. Chagas agudo observados no Hospital Presidente
Q uando se considera a temperatura de 33°C, Médici nos últimos cinco anos, também não mos­
observa-se que a motilidade é perdida rapidamente, traram nenhuma sazonalidade (C Castro; comunica­
quanto a dessecação é mais lenta do que se esperaria ção pessoal). E sses dados também são pouco conclu­
para o déficit de saturação considerado (2,8 Kpa) sivos porque os pacientes atendidos provêm de diver­
como se observa na Figura 2 e T abela 1. Seria sas regiões, o que não nos permite um controle
necessário aperfeiçoar o modelo no sentido de poder climatológico adequado.
estudar o efeito da dessecação a vários níveis de E sta falha, relativa, de ligar época de chuva com
umidade relativa e a tem peratura da pele o que se ocorrência de Chagas agudo não surpreende muito
aproximaria mais da realidade. porque, como já foi discutido anteriorm ente5, a desse-

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