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História da
Música Brasileira:
Primeiros Séculos
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MÚSICA
SEMESTR
UNIVERSIDADE
Núcleo de Educação a Distância
Créditos e Copyright
Este curso foi concebido e produzido pela Unimes Virtual. Eventuais marcas aqui
publicadas são pertencentes aos seus respectivos proprietários.
A Unimes Virtual terá o direito de utilizar qualquer material publicado neste curso
oriunda da participação dos alunos, colaboradores, tutores e convidados, em
qualquer forma de expressão, em qualquer meio, seja ou não para fins didáticos.
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CURSO: Licenciatura em Música
COMPONENTE CURRICULAR: História da Música Brasileira: Primeiros Séculos
SEMESTRE: 5º
CARGA HORÁRIA TOTAL: 80 horas
EMENTA
Fundamentos da história da música brasileira abrangendo do período colonial até
tendências dos Séculos XX. Investigação e pesquisa em ritmos, elementos,
compositores, localidades, estilos, gêneros ou obras musicais selecionadas e seus
aspectos sociológicos.
OBJETIVO GERAL
Apresentar ao aluno um panorama histórico da música no Brasil, desde o
descobrimento até finais do século XIX e início do XX.
OBJETIVOS ESPECÍFICOS:
Unidade I
Transmissão, Recepção e Influência: Avaliar os processos de transmissão e
influências culturais distintas no desenvolvimento da música erudita e popular no
Brasil.
Unidade II
Música no Nordeste: Estudar a produção musical no nordeste brasileiro durante o
século dezoito.
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Unidade III
Musica Mineira e Paulista: O objetivo é analisar a recepção da música em estilo
galante/pré-clássico em Minas Gerais e São Paulo durante os séculos XVIII e XIX.
Unidade IV
A Corte no Brasil e o Classicismo: Estudar a produção musical no Rio de Janeiro
durante a presença da corte portuguesa e no período imperial.
Unidade V
O Nacionalismo no Brasil: Estudar os primeiros experiências musicais nacionalistas
durante o século XIX.
Unidade VI
Ópera no Brasil: Estudar a ópera no Brasil, desde o surgimento dos primeiros teatros
de Ópera até a música de Carlos Gomes.
CONTEÚDO PROGRAMÁTICO:
Unidade I
Música Brasileira: do descobrimento à Colônia; Música pré-cabraliana e indígena;
Música Européia nos trópicos; Os jesuítas e os primeiros séculos da música
brasileira; Modinha e Lundu; Estilo Antigo no Brasil; Italianização da música Luso-
Brasileira; Ensino musical no sec. XVIII; Música Religiosa no Brasil.
Unidade II
Música no Nordeste; Caetano de Melo de Jesus e a “Escola de Canto de Orgão”;
Luís Álvares Pinto.
Unidade III
A escola mineira no século XVIII; Música em São Paulo; André da Silva Gomes;
Jesuíno do Monte Carmelo.
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Unidade IV
A Corte no Brasil e o Classicismo; José Maurício Nunes Garcia; A música no
Império; Modinha no séc. XIX.
Unidade V
O Nacionalismo tupiniquim; Alberto Nepomuceno no Rio de Janeiro; As origens
sociais do choro no Brasil; Música como mediação cultural entre classes sociais ao
final do século XIX.
Unidade VI
A ópera no Brasil; A música de Carlos Gomes.
BIBLIOGRAFIA BÁSICA:
KIEFER, B. História da música brasileira; dos primórdios ao início do século
XX. 3 ed. Porto Alegre: Ed. Movimento, 1982. 140p.
MARIZ, V. História da Música no Brasil. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2005.
NOGUEIRA, M. P. Muito além do melodrama: Os prelúdios e sinfonias das
Óperas de Carlos Gomes. São Paulo: Editora Unesp, 2006.
BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR:
APPLEBY, David P. The Music of Brazil.Ed. Revisada. Estados Unidos:
Universityof Texas Press, 2014. (Disponível em: https://www.amazon.com.br/Music-
Brazil-David-P-Appleby-ebook/dp/B00KAHU8I2)
AZEVEDO, L. H. C. 150 Anos de Música no Brasil (1800-1950). Rio de Janeiro:
Livraria José Olimpio, 1956.
GROVE. Dicionário de música. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editora, 1994.
(Disponível [Inglês] em: http://www.oxfordmusiconline.com/public/)
MORAES, J. G. V.; SALIBA, E. T. História e Música no Brasil. São Paulo:
Alameda, 2010.
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METODOLOGIA:
A disciplina está dividida em unidades temáticas que serão desenvolvidas por meio
de recursos didáticos, como: material em formato de texto, vídeo aulas, fóruns e
atividades individuais. O trabalho educativo se dará por sugestão de leitura de
textos, indicação de pensadores, de sites, de atividades diversificadas, reflexivas,
envolvendo o universo da relação dos estudantes, do professor e do processo
ensino/aprendizagem.
AVALIAÇÃO:
A avaliação dos alunos é contínua, considerando-se o conteúdo desenvolvido e
apoiado nos trabalhos e exercícios práticos propostos ao longo do curso, como
forma de reflexão e aquisição de conhecimento dos conceitos trabalhados tanto na
parte teórica como na prática e habilidades. Prevê ainda a realização de atividades
em momentos específicos como fóruns, chats, tarefas, avaliações a distância e
Prova Presencial, de acordo com a Portaria de Avaliação vigente. A Avaliação
Presencial, está prevista para ser realizada nos polos de apoio presencial, no
entanto, poderá ser realizada em home seguindo as orientações das autoridades da
área da saúde e da educação e considerando a Pandemia COVID 19.
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Sumário
Créditos e Copyright...............................................................................................................................2
Aula 01_Música Brasileira: do descobrimento à Colônia.......................................................................8
Aula 02_Música pré-cabraliana e indígena...........................................................................................11
Aula 03_Música Européia nos trópicos................................................................................................13
Aula 04_os jesuítas e os primeiros séculos da música brasileira..........................................................22
Aula 5_Modinha e Lundu 1..................................................................................................................24
Aula 06_Modinha e lundu 2.................................................................................................................28
Aula 07_Estilo Antigo no Brasil.............................................................................................................32
Aula 08_Música no Nordeste I.............................................................................................................39
Aula 09_Música no Nordeste II............................................................................................................42
Aula 10_Italianização da música Luso-Brasileira..................................................................................46
Aula 11_ O ensino musical no século XVIII em Portugal e sua função na transmissão do estilo..........50
Aula 12_Caetano de Melo de Jesus e a “Escola de Canto de Orgão”...................................................57
Aula 13_Luís Álvares Pinto...................................................................................................................60
Aula 14_ Luís Álvares Pinto II................................................................................................................67
Aula 15_ A escola mineira no século XVIII............................................................................................74
Aula 16_ A Corte no Brasil e o Classicismo...........................................................................................76
Aula 17_ José Maurício Nunes Garcia (Obra Profana)..........................................................................79
Aula 18_A música no Império...............................................................................................................85
Aula 19_A ópera no Brasil....................................................................................................................87
Aula 20_ A música de Carlos Gomes - temática brasileira, estilo italiano............................................90
Aula 21_Música em São Paulo.............................................................................................................92
Aula 22_André da Silva Gomes 1..........................................................................................................94
Aula 23_André da Silva Gomes 2..........................................................................................................98
Aula 24_Jesuíno do Monte Carmelo: Músico, Pintor e Arquiteto......................................................103
Aula 25_Música Religiosa no Brasil: Agentes musicais nas igrejas coloniais......................................108
Aula 26: Modinha no Século XIX.........................................................................................................112
Aula 27_O Nacionalismo tupiniquim..................................................................................................116
Aula 28: Alberto Nepomuceno no Rio de Janeiro...............................................................................118
Aula 29_O Álbum Pitoresco Musical..................................................................................................122
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As pesquisas sobre música indígena no Brasil ainda tendem a caminhar para
um estágio mais avançado, possibilitando conhecermos um pouco mais da
participação e influência do homem indígena como agente influenciador nas aldeias,
seja em torno do estado de São Paulo ou nas missões encrustadas nas fronteiras do
Brasil. A dificuldade em reunir e conhecer essa documentação que fale da música e
a participação do músico indígena é algo que ainda está por ser feito em torno da
documentação histórica musical.
O professor e pesquisador Marcos Holler tem nos revelado através da sua
pesquisa em documentação de arquivos, informações sobre a prática musical nas
reduções jesuíticas da América Portuguesa em 1549. A primeira missão, liderada
pelo Padre Manuel da Nóbrega, aportou na Bahia nessa data. Os padres
perceberam pela primeira vez a atração que a música exercia sobre os gentios,
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Site
Referências
SOUZA, S. G., Tratado Descritivo do Brasil, Tip.João Ignácio da Silva, Rios.1879,
p.317.
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atuação musical dos jesuítas no Brasil foi de suma importância para moldar a cultura
brasileira.
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Na obra - A cidade em Portugal - José Ramos Tinhorão propõe demonstrar
como a passagem do feudalismo para o capitalismo favoreceu mudanças sociais e
culturais em Portugal, posteriormente transplantadas para o Brasil nos primeiros
duzentos anos de colonização.
Segundo o autor, a crescente monetarização da economia, a partir do
século XIV, estimulou a agricultura de exportação, transferindo o centro dos
interesses do campo para a cidade. A característica cultural desses indivíduos
colocados à margem da estrutura econômico-social - obrigados a aderir à
aventura das grandes navegações ou compor a arraia-miúda dos grandes centros
- será traduzida pelo individualismo. Na música, o alegre canto coletivo do homem
do campo será substituído pelo lamento individual do homem das cidades, pelo
canto solo acompanhado da viola, cuja difusão e vulgarização entre camadas
populares passará a simbolizar o distanciamento social.
Mas que músicas trouxeram os portugueses ao chegarem ao Brasil, a partir
de 1500?
Na esquadra que trouxe Pedro Álvares Cabral vieram também, como
seus auxiliares, Frei Pedro Neto, corista, e Frei Maffeo, organista e músico. Segundo
o documento de 1908 "A Música no Brasil”, eles impressionaram os índios com sua
arte na celebração da primeira missa no Brasil. A partir de 1549 chegaram os
primeiros jesuítas ao Brasil. Eles utilizaram a música europeia para se aproximar dos
índios e catequizá-los.
Além da música religiosa trazida pelos jesuítas, os desbravadores também
trouxeram a música profana europeia.
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O maracá era um instrumento muito apreciado pelos índios tupis da costa do Brasil (veja a
figura acima).
Um dos cantos dos tupis era dedicado a uma ave amarela, uma espécie de
arara, que eles chamavam "Canideioune” (ave amarela na língua tupi).
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Logo sonhei Que estava no paraíso, Onde nem era preciso Dormir para se
sonhar.
Instrumentos europeus
Flauta doce
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Violão
Instrumentos indígenas
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Flautas indígenas
Maracá (chocalho)
Instrumentos africanos
Berimbau
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Agogô
Atabaques
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jesuíta foi o padre Anchieta, criador de muitos "autos”, espécie de peças de teatro
didáticas, que tinham a função de ensinar a religião de uma forma criativa e
espetacular aos índios.
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negra à música erudita brasileira teria de esperar até o século XX para poder se
manifestar em toda sua riqueza.
É importante assinalar ainda a formação de irmandades de músicos a partir
do século XVII, algumas integradas somente por negros e mulatos, irmandades
estas que passariam a monopolizar a escrita e execução de música em boa parte do
Brasil.
Antes de falarmos da Escola Mineira na música no século XVIII,
conheceremos um pouco do que a maioria do povo apreciava nos guetos longe da
censura da igreja e o olhar da Realeza.
Um dos maiores expoentes da Escola Mineira José Joaquim Emérico Lobo de
Mesquita, compositor de Música Sacra no Brasil Colonial.
Referência
ANDRADE,Mário. Pequena História da Música. Belo Horizonte: Editora Itatiaia
Limitada, 1980.
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Modinha:
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Exemplo de modinha com acompanhamento de viola. Fonte: As Modinhas do Brasil, editada por
Edilson de Lima
https://www.youtube.com/watch?v=N7MSFuQ-Ymw
Referência
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Lundu:
“Se não tens mais quem te sirva
O teu moleque sou eu
Chegandinho do Brasil
Aqui está que todo é teu”
(Domingos Caldas Barbosa)
A chegada do lundu (Londu, Landu, Lundum, Londum, Landum) ao Brasil se
deu através dos negros de Angola, mas por duas vias: passando por Portugal ou
diretamente da Angola para o Brasil. Em Portugal agregou o uso dos instrumentos
de corda, mas acabou proibido pelo rei, Dom Manuel por ser contrário aos bons
costumes. Já a vinda direta de Angola para o Brasil recuperou o acento jocoso,
mordaz e sensual que incomodara a sociedade lisbonense. Aparece no Brasil no
século XVIII como uma dança sem canto e de natureza licenciosa, para os padrões
da época. Nos finais do século XVIII, presente tanto no Brasil como em Portugal, o
lundu evolui como uma forma de canção urbana, acompanhada de versos, na maior
parte das vezes de cunho humorístico e lascivo, tornando-se uma popular dança de
salão.
A notícia mais antiga do lundu-canção é encontrada na coletânea de versos
musicados por Domingos Caldas Barbosa, intitulada “Viola de Lereno”, sendo o
primeiro volume publicado em 1798. Até então, o lundu era referenciado somente
como uma forma de dança de origem africana e ritmo sincopado. Durante todo o
século XIX, o lundu é uma forma musical dominante, e o primeiro ritmo africano a
ser aceito pelos brancos. Seus versos satíricos, maliciosos, cantando amores
condenados, muitas vezes não eram assinados pelos autores que, com medo de
perseguições, preferiam o anonimato. Mas outros compositores assumiam suas
obras, certamente mais brandas e adequadas ao gosto da classe dominante, como
Francisco Manuel da Silva, que compôs o Lundu Da Marrequinha.
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5. Sensualidade;
9. Uso da sincopa;
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https://www.youtube.com/watch?v=amF2ruZMEzY
Domingos Caldas Barbosa:
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Referência
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Estilo Antigo na Música Brasileira do século XVIII
Estilo Antigo Estilo Moderno
Outras Prima Prattica, Estilo Polifônico,SecondaPrattica, Estilo
Definições: StylusAntiquus. Concertante, Estilo Napolitano.
Características Utilização das regras doInfluência da Música Profana,
Musicais: contraponto renascentista. como Ópera e Madrigais.
Declamação Uso de recursos operísticos,
predominantemente silábica,como árias, recitativos,
acentos rítmico-harmônicosintervenções corais.
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derivados da acentuação do
texto latino.
Tendência para a homofonia ePrivilégio da textura vertical,
movimentos rígidos daharmônica, sobre o
homofonia. contraponto.
Uso de sequencias musicais
Superposição de melodias em
terças e sextas.
Imitações motívicas limitadas,
normalmente ao início das
composições.
Utilização escolástica do
cantusfirmus
2. Estilo Antigo na Península Ibérica
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4. Extensão reduzida das partes vocais (normalmente até uma oitava), com
excessão do baixo;
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a) Textura homofônica
c) Textura contrapontística;
d) Imitação ou seqüenciamotívica
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Exemplos em Estilo Moderno
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Referência:
CASTAGNA, Paulo. O ‘estilo antigo’ no Brasil, nos séculos XVIII e XIX. I COLÓQUIO
INTERNACIONAL A MÚSICA NO BRASIL COLONIAL, Lisboa, 9-11 out. 2000.
Lisboa: Fundação CalousteGulbenkian, 2001. p.171-215. Disponível em:
https://archive.org/stream/OEstiloAntigoNoBrasilNosSculosXviiiEXix/2001-
EstiloAntigo#page/n0/mode/2up
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Nos primeiros séculos de colonização, com o enriquecimento devido ao ciclo
da cana de açúcar, o Nordeste Brasileiro passou por um período de
desenvolvimento cultural, procurando assimilar a prática musical portuguesa. A
prática musical foi centralizada principalmente nas maiores cidades da Bahia e
Pernambuco, como Salvador, Recife e Olinda, embora pudesse ser vista em outros
centros do Norte e Nordeste, como São Luís do Maranhão e Belém do Pará.
O Interesse pela música portuguesa criou um contato entre os músicos
portugueses e nordestinos, sendo que alguns dos últimos chegaram a viver por um
período em Portugal.
O primeiro que se tem notícia, foi Francisco Rodrigues Penteado,
pernambucano, que permaneceu por alguns anos em Portugal, até 1648, sendo que
posteriormente trabalhou no Rio de Janeiro e São Paulo, onde faleceu em 1673.
Compositores no Nordeste também levantaram interesse de autores e teóricos
portugueses, José Mazza, em seu Dicionário Biográfico, cita os seguintes músicos
do Nordeste: Caetano de Melo de Jesus (Bahia), Eusébio de Matos (Bahia), Manoel
da Cunha (Pernambuco), Inácio Ribeiro Noio (Pernambuco), Inácio Terra
(Pernambuco), Luís Álvares Pinto (Pernambuco) e o português Antão de Santo Elias
(trabalhou na Bahia).
A prática musical no Nordeste, na segunda metade do século XVII e durante
todo o século XVIII, assimilou rapidamente o gosto português, logo chegando ao
estilo barroco. A qualidade da música neste período era avaliada pela proximidade
com a cultural portuguesa, sendo que quanto mais “portuguesa”, melhor a música.
Bahia:
Segundo o pesquisador Paulo Castagna, uma das diferenças entre a prática
musical na Bahia e Pernambuco, foi uma presença maior da música profana na
Bahia. Salvador, capital da colônia até 1763, desenvolveu uma vida literária
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Pernambuco
Quase toda a produção musical foi perdida, mas as pesquisas de Diniz dão
uma perspectiva da vida musical pernambucana.
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COUTO, enquanto MAZZA cita sua ida a Lisboa para estudar “rabecão pequeno”
(violoncelo) com Frei Francisco, religioso carmelitano calçado.
“Na idade juvenil estudou a arte da música, e saiu famoso professor
desta harmônica faculdade. Ainda não contava catorze anos de
idade, e sabia especulativamente compor diversas obras, que lhe
conciliarão universal aplauso. Ordenado de presbítero mostrou pela
integridade de vida, e modéstia do semblante, ser digno de tão
sublime estado. Foi convidado para mestre da catedral de Olinda,
sendo insigne tangedor de todos os instrumentos, e dos mais
celebres professores de música de seu tempo” (COUTO, 1904: p.
374).
“Presbítero Douto em muitas faculdades, e na Música estupendo,
soube contraponto sem ter Mestre, e compôs excelentemente como
certificam as suas obras, foi Mestre da Capela da Sé de Olinda em
Pernambuco, veio a Lisboa aprender a tocar rabecão pequeno com o
padre Frei Francisco Religioso Carmelitano Calçado, retirou-se do
Mestrado para Porto Calvo, onde vive exercendo muitas virtudes.”
(MAZZA, 1944-45: p. 18).
Dentre os biógrafos de Antônio da Silva Alcântara, MAZZA é o único que
indica um possível destino para o final da vida do músico pernambucano, tendo ele
se retirado para Porto Calvo, vila que no século dezoito pertencia à Capitania de
Pernambuco, hoje no estado de Alagoas.
Quanto à obra perdida de Antônio da Silva Alcântara, COUTO lista uma série
de composições religiosas, para teatro e instrumentais. As obras religiosas são duas
Missas; uma Ladainha a quatro vozes com trompas, violinos e violoncelloobligato;
dois Te Deum’s, o primeiro a quatro coros, que foi cantado no Carmo do Recife; e o
segundo Te Deum a dois coros, cantado na Misericórdia, além de antífonas de
Santa Cecília.
As obras instrumentais são Tercetos; Sonatas com trompas e oboés; Sonatas
para rabecas, cravo e cítara. COUTO também menciona “Três sonos para as
comédias reais, e a solfa toda para as ditas comédias” representadas no terreiro do
Palácio do Governador de Pernambuco, Luis José Corrêa de Sá, em 1752 (1904: p.
374-5).
Das obras listadas acima, Felipe Neri Corrêa descreve a apresentação do Te
Deum a quatro coros e das três comédias reais durante os festejos de aclamação de
D. José I, nos anos de 1751 e 1752. CORRÊA também menciona uma Serenata de
Antônio da Silva Alcântara, não citada por COUTO.
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“Formados em batalha, passaram Suas Excelências para a Sé, aonde se
achava o mais nobre, e luzido auditório [...] Estava aquele grande Templo
magnificamente adornado, e curiosamente guarnecido das mais vistosas
sedas, e ricos paramentos que permitia o país; no meio do Cruzeiro se via um
como trono levantado coberto de singulares alcatifas, sobre o qual havia um
faldistório em que Sua Excelência Reverendíssima rompeu o ato com um
admirável a e doutíssimo Sermão [...] Concluiu ultimamente o discurso,
entoando o Te Deum laudamus, a que com suaves harmonias, e agradável
melodia respondeu (e foi continuando o Hino) a música, que estava dividida
em quatro bem concertados coros a quem regia, e fazia compasso o R.P.M.
António da Silva Alcântara, insigne compositor, e Mestre da Capela da mesma
Sé, aonde ajuntou para essa função os mais destros instrumentos, e as
melhores vozes que havia em todo este continente, além dos Músicos do
partido, sendo ele o mesmo que tinha composto aquela solfa, de que teve
(pelo bom gosto dela ) um geral, e bem merecido aplauso. (CORRÊA, 1753: p.
9-11).
É o proceloso Inverno tão ingrato nesta Costa, que não permitiu que se
fizessem as comédias se não no ano de 1752, a primeira, e que era lasiencia
de Reynar; representou-se na noite do dia 14 de Fevereiro, a segunda Cueba
y Castillo de amor na noite de 16, e a terceira e última laPiedraPhylosophal na
de 18 do dito mês de Fevereiro de 1752. Representaram-se finalmente com
geral aplauso, e admiração, desempenhando os curiosos que entrarão nelas,
o acerto da eleição. [...] A solfa das comédias, era composta pelo mesmo
Autor da do Te Deum, e tão admirável como sua. [...] Concluiu-se o festejo
com três sucessivas noites de fogo, e na ultima se despediu o R.P.M.
Alcântara de Sua Excelência com uma boa serenata. (CORRÊA, 1753: p. 19-
21).
Referência
CORRÊA, Felipe Neri. Relação das festas que se fizeram em Pernambuco pela feliz
aclamação do mui alto, e poderoso Rei de Portugal D. José I. Lisboa: Oficina de
Manoel Soares, 1753.
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Vista Panorâmica de Lisboa, gravura sobre papel - Friedrich Bernhard Werner (1690-1776)
O século dezoito foi caracterizado por uma música com forte influência
italiana em Portugal. Este processo de italianização se inicia com a ascensão de D.
João V ao trono português, no ano de 1707. Com o intuito de elevar a qualidade
musical de sua Capela Real, o monarca passa a contratar músicos de alto nível
especialmente vindos da Itália e, em pouco tempo, já em 1730 contava com vinte e
seis cantores italianos em sua Capela.
Outra forma de apoiar as mudanças realizadas na Capela Real foi fundando,
em 1713, o Seminário da Patriarcal, uma escola de música com base religiosa. Esta
instituição foi a mais importante na formação musical portuguesa até ser substituída
pelo atual Conservatório, em 1835, e tinha seu ensino focado especialmente na
música religiosa de estilo concertante. Também eram concedidas bolsas aos alunos
mais dotados para aprimorarem seus estudos na Itália, mais precisamente em
Roma, como, por exemplo, Antônio Teixeira (1707 – 1769), Joaquim do Vale
Mexelim, Rodrigues Esteves (1700-1751) e Francisco Antônio de Almeida (1702-
1755).
Um dos músicos que participou deste processo foi o compositor italiano
Domenico Scarlatti (1685-1757), que em 1719 foi nomeado Mestre da Capela Real
de Portugal, em 1728. O compositor dispunha de sete violinos, duas violas, dois
violoncelos e um contrabaixo (todos estrangeiros); trinta a quarenta cantores e um
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estudantes pagantes vinham, cada vez mais, de fora de Nápoles e ainda no início do
século dezoito alguns vinham de outros países como Espanha e Alemanha.
Alguns dos principais compositores napolitanos surgiram desses centros de
ensino, entre eles, Domenico Sarri (1679-1744), NícolloPorpora (1686-1768),
Leonardo Vinci (1690/6?-1730), Leonardo Leo (1694-1744), Giovanni Baptista
Pergolesi (1710-1736), David Perez e NiccolòJommelli.
A influência italiana não se manteve somente em Portugal, mas chegou ao
Brasil, não apenas por meio de cópias de obras dos autores já mencionados, mas
também com a vinda de compositores portugueses como André da Silva Gomes
(1752-1844), Mestre da Capela da Sé de São Paulo, no período de 1774 a 1823 e
autor de um dos mais importantes tratados de música brasileiros, a “Arte Explicada
de Contraponto”. Desta obra, originalmente escrita em três volumes, apenas um
deles sobreviveu aos anos. Gomes teve sua formação musical no Seminário da
Patriarcal em Lisboa, onde teve aulas com compositores como José Joaquim dos
Santos (1748?-1801), o qual é mencionado em seu tratado, na Lição No 16,
especificamente no parágrafo onde trata das fugas com dois motivos ou passos.
Também importante foi a atuação de compositores nascidos no Brasil e que
estudaram em Portugal, como o pernambucano Luiz Álvares Pinto (1719-1789) que
estudou em meados do século dezoito em Lisboa e chegou a tocar violoncelo na
Capela Real portuguesa.
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Referência
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A presente aula tem a função de apresentar a relação entre os métodos de
ensino musical no século XVIII, em Portugal e Brasil, e a transmissão do estilo
musical. Prática comum, vinda por influência dos conservatórios italianos, os
métodos de música não somente serviam como material para ensinar um
determinado conteúdo técnico (como solfejo, acompanhamento ou contraponto),
mas também eram utilizados como ferramenta de inicialização dos jovens
estudantes a características do estilo musical do período.
“Um jovem músico com a mente treinada para controlar um “tesouro
de frases memorizadas”, algumas delas aprendidas ao cantor e tocar
os solfeggi, poderia rapidamente aplicá-las às “oportunidades” em
um partimento.” (GJERDINGEN: 2007, p. 465)
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Luís Álvares Pinto: Músico e Moderno Sistema, Lições XX, XIX, XXII, XXIII e
XXIV (link do youtube)
É de se supor que, devido à importância dada ao repertório italiano, seus
métodos de ensino também tenham chegado a Portugal, junto com os músicos
contratados durante os reinados de D. João V e D. José I, e assim disseminados
pelo reino, como verifica TRILHA:
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Referência
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GJERDINGEN, Robert O. Music in the galant style. Nova Iorque: Oxford University
Press, 2007.
NERY, Rui Vieira; CASTRO, Paulo Ferreira. História da Música. Lisboa: Imprensa
Nacional-Casa da Moeda, 1991.
TRILHA, Mário. Os solfejos para uso de suas Altezas Reais. In: Marcos Portugal:
Uma reavaliação. David Cranmer (coord.). Lisboa: Edições Colibri/ CESEM, 2012. p.
419 a 430
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“Escola de Canto de Órgão” de Caetano de Melo de Jesus, 1759: Página de rosto, vol.1
Infelizmente, pouco se sabe sobre a vida e obra do teórico baiano Caetano
de Melo de Jesus, mas pelo que tudo indica, foi um Mestre de Capela Eminente e
considerado, em meados do século XVIII, em Salvador. As informações conhecidas
sobre sua vida são que ele nasceu no Arcebispado da Bahia, foi aluno de Nuno da
Costa e Oliveira (mestre de solfa da Misericórdia da Bahia, entre 1715 e 1717) e foi
ordenado sacerdote do hábito de São Pedro e exerceu o mestrado da capela da
catedral de São Salvador entre 1734 e 1760. Embora pouco conhecido, sua principal
obra, o tratado “Escola de Canto de Órgão”, faz com que o músico e teórico baiano
tenha importância única na história da música brasileira. Segundo as recentes
pesquisas da musicóloga portuguesa Mariana Portas de Freitas, a “Escola de Canto
de Órgão” é o “mais extensões um dos mais importantes tratados de Teoria Musical
escritos em língua portuguesa ao longo da história do período colonial.
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Vol III – Dos Solfejos, methodo para o ensino dos Discipulos (perdido)
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“os Franceses, introduzindo sobre as nossas seis outra Voz,
chamada Si, cantão com sette, e facilitam muito a Musica; por que
por beneficio desta 7.ª Voz evitam o embaraço, e trabalho das
Mudanças, que nós fazemos por falta de huã Voz mais em cada
Dedução: Logo não seis, senãosette, como os Signos, parece que
com mayorrazaõdeviaõ ser as Vozes, eque he melhor o uso dos
Franceses.” (Melo de Jesus, vol. I, p. 203)
“[...] para noticia, esta vos basta, se quizerdes seguir esta
doutrina; que eu se naõ a sigo, naõhe por naõ louvar della a
facilidade; mas por parecer-me a de Guido mais perfeyta, e em
seosproprios termos mais bem fundada.” (Melo de Jesus, vol. I, p.
255)
Referência
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Padre José Caetano. Prospecto da Vila do Recife, 1759. Fonte: Arquivo Histórico do Exército, Rio de
Janeiro (do site: http://bairrodorecife.blogspot.com.br/2014/01/a-cruz-do-patrao.html)
Luís Álvares Pinto, músico mulato, considerado um dos principais
compositores do Nordeste brasileiro no século dezoito, teve sua vida e obra descrita
por autores dos séculos dezoito, dezenove e início do século vinte em Portugal e
Brasil, como José Mazza (Lisboa, antes de 1797), Antônio Joaquim de Mello (Recife,
1854), Francisco Augusto Pereira da Costa (Recife, 1882), Ernesto Vieira (Lisboa,
1900) e Euclides Fonseca (Recife, 1925). Na segunda metade do século passado, o
principal musicólogo que se ocupou da vida de Luís Álvares Pinto foi o Padre Jaime
Diniz, que além de compilar os relatos biográficos existentes sobre a vida do autor,
almejou transcrever uma série de documentos, até o momento desconhecidos, que
possibilitaram ampliar o conhecimento sobre o compositor pernambucano,
especialmente a partir do ano de 1761.
O primeiro relato que se tem conhecimento sobre Álvares Pinto foi incluído
no Dicionário Biográfico de Músicos Portugueses, escrito por José Mazza e
impresso em Lisboa em 1794. Apesar do verbete conter somente um breve
parágrafo sobre o músico, é importante ressaltar que o texto é o único escrito sobre
a vida de Álvares Pinto do século dezoito:
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Antônio Joaquim de Mello, principal biógrafo de Luís Álvares Pinto do século
dezenove, publicou na edição de sete de março de 1854 do Diário de Pernambuco
um longo ensaio biográfico sobre o músico, que posteriormente se tornou uma das
principais referências acerca de Álvares Pinto, sendo base para a publicação
posterior de Augusto Pereira da Costa em 1882 e retomado por Jaime Diniz no
primeiro tomo do livro “Músicos Pernambucanos do Passado” de 1969. Mello é o
primeiro autor a fornecer dados mais específicos sobre os primeiros anos de vida do
compositor recifense, incluindo sua origem familiar, formação educacional e as
circunstâncias em que foi estudar em Portugal.
“Luís Álvares Pinto, Sargento-mór de Milicias, homem pardo, nasceu
na freguesia de Boa-Vista da Cidade do Recife da Província de
Pernambuco. Basílio Alves Pinto, e sua mulher Euzébia Maria de
Oliveira foram seus pais. Não se sabe o dia do seu nascimento, por
se não achar o assento do seu baptismo, nem outra alguma
lembrança. Traduzindo-lhe desde as primeiras letras grande
memoria, e talento, seus pais, bem que não fossem abastados,
empenharam-se a que aprendesse latim, retórica, e filosofia. Com
estes estudos foi juntamente o mancebo applicando-se á musica, em
cuja arte se lhe admiravam os prenúncios de um gênio luminoso [...].
Terminando o estudo destes preparatórios, alguns amigos, e
protetores seus, e de seu pai, especialmente João da Costa
Monteiro, se prestaram espontâneos a que fosse estudar a Portugal,
principalmente musica” (MELLO: 1854, p. 2)3
O local de nascimento indicado por Mello e posteriormente replicado por
Pereira da Costa, Freguesia da Boa Vista da cidade de Recife, foi corrigido por
Jaime Diniz, que em posse do manuscrito autógrafo da “Arte de Solfejar” de 1761,
pode confirmar o local de nascimento de Luís Álvares Pinto como sendo a Vila de
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A respeito da ida de Luís Álvares Pinto para Lisboa, que segundo o
musicólogo Jaime DINIZ5 deve ter ocorrido por volta de 1740, apesar de não ser
possível precisar a data (1969, p. 43-44), Antônio Joaquim de Mello acrescenta
novas informações que somam às previamente expostas por Mazza:
“[...] e chegando a Lisboa, deu-se primeiro Luís Álvares Pinto a
aprender as regras da composição, ou contraponto, de que fez
solene exame, com aprovação e louvores mui lisonjeiros. Mas os
suprimentos de Pernambuco começaram a escassear, e de todo lhe
faltaram, o que o obrigou a fazer vida de musico para ter o pão
quotidiano. Neste exercício, e trabalho tão conhecido, e bem-quisto
geralmente se fez por habilidade professional, porte grave, e
compassadas, e insinuantes maneiras, que foi recebido a ensinar em
algumas casas nobres. Não só tocando violoncelo, mas também
copiando, compondo alguma cousa, e mormente ensinando de sorte
lucrava, que pode permanecer naquela grande cidade (graças a
regularidade dos seus costumes!) sem ser pesado a ninguém, e de
suas economias tirou ainda os meios para poder regressar, quando
quis, a Pernambuco. Assevera-se, que foi um dos violoncelos da
Capela Real” (MELLO: 1854, p. 2)
Segundo Mello, Álvares Pinto, por necessidade da falta de recursos
provenientes de Pernambuco, teve uma vida profissional variada em Lisboa,
atuando como copista, compositor, dando aulas de música em “algumas casas
nobres” e mesmo tocando violoncelo na Capela Real. Apesar de Mazza também
mencionar a qualidade do músico como violoncelista, infelizmente não foram
encontrados até o momento qualquer documento que ateste a atividade profissional
ou mesmo a presença de Luís Álvares Pinto em Lisboa. Caso tenham existido,
possivelmente foram destruídos ou perdidos durante o terremoto que assolou Lisboa
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Não é possível ter certeza do ano de seu regresso ao Brasil, mas é seguro
que em 1761 já se encontrava em Recife, casado com Ana Maria da Costa, ano do
manuscrito de seu método “Arte de Solfejar” (DINIZ: 1969, p. 45 – 46). Logo que
retorna à sua cidade natal Luís Álvares Pinto se volta ao ensino de música e
primeiras letras (DINIZ: 1969, p. 46). Além de autor de dois métodos de solfejo, “Arte
de Solfejar” e “Músico e Moderno Sistema Para Solfejar sem Confusão”, o
compositor pernambucano publicou em 1784 um “Dicionário Pueril”, para ensino de
primeiras letras, impresso na oficina de Luiz Ameno, em Lisboa. Segundo Francisco
Augusto Pereira da Costa, o compositor, em 1781, foi nomeado, através de carta
régia, “para interinamente reger a cadeira de primeiras letras do bairro do Recife,
com os vencimentos anuais de 90$000, sendo em 1785 provido no lugar de
substituto, com 150$000” (apud OLIVEIRA: 2010, p. 8)6.
Após seu regresso a Pernambuco, a atuação junto das irmandades
religiosas de Recife e Olinda de Álvares Pinto foi objeto de pesquisa do musicólogo
Jaime Diniz, que logrou localizar uma série de documentos da Confraria de Nossa
Senhora do Livramento, da Irmandade de Nossa Senhora de Guadalupe de Olinda,
Irmandade de São Pedro dos Clérigos, Irmandade do Senhor Bom Jesus das Portas
e Irmandade de Santa Cecília. Todas irmandades onde Luís Álvares Pinto
conhecidamente trabalhou como encarregado pela música em festas religiosas.
É na Igreja de São Pedro dos Clérigos, em Recife, que teve sua construção
concluída no início de 1782 (DINIZ: 1969, p. 50), onde é possível verificar uma maior
atuação musical do compositor pernambucano. Francisco Pereira da COSTA, nos
Anais Pernambucanos, de 1954 e 1958, escreve que na referida igreja, após sua
inauguração, foi criado o cargo de Mestre de Capela, sendo Álvares Pinto nomeado
para o mesmo (apud DINIZ: 1969, p. 50). O musicólogo Jaime Diniz acredita que a
informação dada por Pereira da Costa pode não ser precisa, considerando-se que
não há documento que comprove a criação do cargo de Mestre de Capela para a
Igreja de São Pedro dos Clérigos no ano de 1782. O musicólogo aponta que antes e
após a edificação da igreja, Álvares Pinto trabalhou com a Irmandade de São Pedro
dos Clérigos, como músico, sendo que somente em 1787 um documento presente
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Em relação à ida de Álvares Pinto para estudar direito em Coimbra, em
pesquisa de campo realizada em 2014, não foi possível localizar uma referência
sobre o compositor pernambucano nos Livros de Matrículas da universidade de
Coimbra, indicando que, caso tenha sido esta a motivação de sua viagem, é pouco
provável que o mesmo tenha ido à Coimbra, se estabelecendo desde o início em
Lisboa. Apesar de não comprovada, a hipótese não pode ser totalmente descartada,
considerando a formação privilegiada que Álvares Pinto recebeu em sua juventude,
mencionada por mais de um de seus biógrafos. A escassez de recursos para se
manter, incluída anteriormente por Antônio Joaquim de Mello, volta a ser tratada
acima como uma das razões para o compositor começar sua atividade musical em
Portugal, como meio de se sustentar durante sua estadia.
O texto, escrito por Lopes Netto, menciona pela primeira vez o nome de um
possível mecenas de Álvares Pinto, sendo ele “Min.º de Estado Martinho de Mello”.
Esta notícia provavelmente se refere a Martinho de Melo e Castro (1716-1795), que
durante os reinados de D. João V e D. José I, ocupou importantes funções na corte,
sendo nomeado em 1739, por D. João V, como Cônego da Sé Patriarcal. Em 1751,
durante o reinado de D. José, Melo e Castro inicia sua carreira diplomática,
passando a representar Portugal na Holanda e em 1754 foi transferido para a Corte
de Londres, função que manteve até 1770, quando foi nomeado Secretário de
Estado da Marinha, e Domínios Ultramarinos, cargo que desempenhou até sua
morte em 1795 (VALADARES8: 2010, p. 37-41). Lopes Netto indica que Álvares
Pinto foi professor das filhas de Martinho de Melo e Castro e que o mesmo,
provavelmente na função de Cônego da Patriarcal o nomeou para “Mestre, ou coisa
que o valha, da Capela Real”. Estas informações são corroboradas por Antônio
Joaquim de Mello que menciona o músico brasileiro como professor de “algumas
casas nobres” e “que foi um dos violoncelos da Capela Real” (MELLO: 1854, p. 2).
Retornado a Recife, Lopes Netto indica a importância musical de Luís
Álvares Pinto, citando a composição das Exéquias para quatro Coros para o funeral
do rei D. José I, escrita possivelmente entre 1777 e 1778 (o rei D. José I de Portugal
faleceu em 24 de fevereiro de 1777), mencionadas também, já no século dezoito,
por José Mazza, como pode ser visto na citação presente no início da aula.
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Referência
1 MAZZA, José. Dicionário Biográfico de Músicos Portugueses. Lisboa: Editorial
Império, 1944/45
3 MELLO, José Joaquim de. Biographia de Luiz Alves Pinto. In: Diário de
Pernambuco. Pernambuco: 7 mar. 1854, p. 2-3.
7 Apud PINTO, Luís Álvares. Muzico e Moderno Systema para Solfejar sem
confuzão. Recife: 1776. Palácio Grão-Pará, Petrópolis. Manuscrito.
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“[...] embora fosse adepto do estilo italiano, florido, sensualista e
muito seguido por outros compositores de sua época, Luiz Alves
Pinto, em suas músicas, revelou inspiração fértil e por vezes original,
além de perfeito conhecimento dos recursos vocais e instrumentais
de sua arte.” (apud DINIZ: 1969, p. 68)
Segundo o musicólogo Jaime DINIZ, a descrição do estilo musical de
Álvares Pinto transcrita acima não pode ser aplicada ao “Te Deum Laudamus para
quatro vozes” localizado pelo pesquisador em 1967, no arquivo particular de Carlos
Diniz. A obra, com cerca de 550 compassos, não foi escrita em “estilo italiano”, a
ponto do crítico CALDEIRA FILHO apontar que, pelo “Te Deum”, Luís Álvares Pinto
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Te Deum
https://www.youtube.com/watch?v=znaNaRQYLAc
Além do “Te Deum”, a única obra musical, com autoria confirmada por Jaime
Diniz, é um “Salve Regina” para três vozes, dois violinos e baixo. DINIZ descreve a
obra como “simples, apesar de algumas incursões da técnica da imitação e de
possuir uma certa dose de sugestividade no revestimento melódico do texto” (1969,
p. 70).
Antônio Joaquim de Mello descreve outra obra de Luís Álvares Pinto
(infelizmente perdida), esta na área cênica, onde o compositor é autor tanto da
poesia quanto da música, a comédia “Amor mal correspondido”, composta em três
atos com os seguintes personagens: Clorinda; Florisbello, Principe do Epiro;
Celauro, Príncipe de Atenas; Lanceta, criada; e Estojo, criado de Celauro. MELLO
descreve a trama conforme abaixo:
“Florisbelo e Celauro, aliados de Clorinda, marcham contra Troante,
tirano da Grécia, com forças suas e de Albania, a vingarem esta das
correrias e devastações de Troante nas fronteiras. [decide-se a
batalha] pelo duelo singular de Florisbello e Troante, no qual este é
morto [...[. Tudo isto é só narrado. De volta os príncipes em Albânia,
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Referência
PINTO, Luís Álvares. Muzico e Moderno Systema para Solfejar sem confuzão.
Recife: 1776. Palácio Grão-Pará, Petrópolis. Manuscrito.
MELLO, José Joaquim de. Biographia de Luiz Alves Pinto. In: Diário de
Pernambuco. Pernambuco: 7 mar. 1854, p. 2-3.
AGUIAR, E. [Carta.] Petrópolis, 12 dez. 1988, [para] Jaime Diniz, Recife. 16 f. Carta
contendo transcrições dos “Divertimentos Harmônicos” e quatro solfejos de Luís
Álvares Pinto. Instituto Ricardo Brennand, Recife, sem código. Manuscrito.
Disponíveis em: <http://imslp.org/wiki/5_Divertimentos_harm%C3%B4nicos_
%28Pinto,_Lu%C3%ADs_%C3%81lvares%29> e
http://imslp.org/wiki/Muzico_e_moderno_systema_para_solfejar_sem_confuz
%C3%A3o_%28Pinto,_Lu%C3%ADs_%C3%81lvares%29
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Durante o século XVIII acontece uma rica atividade musical, intensa em todas
as partes do país e dotada de estrutura institucional e educacional mais ou menos
estabilizada, formando um público apreciador em todas as classes sociais.
Durante a segunda metade do século ocorre um grande florescimento musical
conhecido como Escola Mineira ou Barroco Mineiro aconteceu na Capitania das
Minas Gerais, especialmente na região de Vila Rica (atual Ouro Preto), de Mariana e
do Arraial do Tejuco (hoje, Diamantina), onde a extração de grandes quantidades de
ouro e diamantes destinados à metrópole portuguesa atraiu uma população
considerável que deu origem a uma próspera urbanização. A vida musical, tanto
pública como privada, religiosa ou secular, foi muito privilegiada, registrando-se a
importação de grandes órgãos para as igrejas (incluindo um fabricado por
ArpSchnitger, hoje na Catedral de Mariana) e de partituras de Luigi Boccherini e
Joseph Haydn pouco tempo após sua publicação na Europa. No Tejuco existiriam
dez regentes em atividade, o que implicava em um corpo de músicos profissionais
de pelo menos 120 pessoas; em Ouro Preto teriam atuado cerca de 250 músicos, e
mais de mil em toda a Capitania de Minas Gerais, além de contar os diletantes, que
deveriam compor uma legião adicional, uma quantidade maior do que a que existia
na metrópole portuguesa na mesma época.
Neste período surgiram os primeiros compositores importantes nascidos no
Brasil, muitos deles descendente de negros (mulatos), escrevendo em um estilo com
elementos do Rococó, mas principalmente derivado de uma matriz Clássica.
Considerado por muitos o compositor mais importante do Barroco Mineiro,
José Joaquim Emerico Lobo de Mesquita nasceu na Vila do Príncipe (atual Serro)
por volta de 1746. Lá iniciou sua formação musical e suas atividades profissionais
como organista e compositor. Por volta de 1776, transferiu-se para o Arraial do
Tejuco, o centro urbano de maior importância na região enquanto centro de controle
da mineração. Sua atuação certamente incluía todas as obrigações de um Mestre da
Capela: compor as obras para as festas contratadas, arregimentar cantores e
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Santa Cruz sendo afastado por Dom João VI em decorrência das intrigas do
compositor Marcos Portugal e dos castrati.
Nascido no Rio de Janeiro, o Mestre da Capela e multi-instrumentista Padre
José Maurício Nunes Garcia (1767- 1830) era filho de português com uma escrava,
e foi criado pela sua avó negra. Despertou para música muito novo e com apenas 16
anos de idade já havia composto “TotaPulchra” (Antífona) : uma pequena peça
religiosa, manifestando assim seu gosto e inclinação para a música. Além do solfejo
aprendido com o pardo de nome Salvador José, a sua educação nesta arte parece
ter sido inteiramente a de um autodidata.
Na história da música brasileira o Pe. José Maurício surge como o músico
mais importante do período colonial. Indivíduo de grande cultura, tendo em vista a
condição vigente na época, e sendo descendente de negros escravos. Foi um dos
fundadores da Irmandade de Santa Cecília no Rio de Janeiro, professor de muitos
alunos, Pregador Régio e Mestre da Capela Real da Sé de onde foi afastado
posteriormente para ser Mestre da Capela na Real Fazenda de Santa Cruz, onde
compôs para a Orquestra de Negros por ordem de Dom João VI.
Músico de singular importância para sua época, apesar de nunca ter saído do
Brasil, foi um grande precursor e fomentador do movimento musical em seu tempo.
Muito conhecido mesmo em vida, suas obras eram também noticiadas na Europa.
Após o regresso de D. João VI a Portugal, em 1821 o brilho da corte já não
era como antes e Pe. José Maurício não se sentiu mais estimulado, reduzindo a
quantidade de composições. A febre com que compunha provocou-lhe o
esgotamento cerebral relatado nos últimos tempos da sua vida.
Deixou uma extensa obra, de alta qualidade, em que se destacam a Missa
Pastoril, a Missa de Santa Cecília, o Ofício de 1816, e as intensamente expressivas
Matinas de Finados, para coro a Capella, além de alguma música instrumental e
obras teóricas.
(Os vídeos e áudios desta aula encontram-se no Ambiente Virtual de Aprendizagem)
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Referências
TAUNAY, Visconde de. Uma Grande Glória Brasileira: José Mauricio Nunes Garcia
(1767-1830), São Paulo: Melhoramentos, 1930.
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http://www.josemauricio.com.br/pdfs/cpm230_sinfonia_funebre.pdf
Youtube:
https://www.youtube.com/watch?v=2jrMbUrC2GE
Composta em 1803, a abertura “Zemira”, em uma fase mais madura da vida
de José Maurício Nunes Garcia, possui estrutura formal de um Allegro de Sonata,
com dois temas distintos, desenvolvimento e reexposição. Sobre esta obra há a
curiosidade que o
compositor e maestro Leopoldo Miguez diz que em partes musicais por ele
conhecidas e que utilizou para preparar a partitura (infelizmente estas partes
encontram-se perdidas) havia o seguinte título: “Ouverture ou Introdução que
expressa relâmpagos e trovoadas”
Link para a partitura:
http://www.josemauricio.com.br/pdfs/cpm231_zemira.pdf
Youtube:
https://www.youtube.com/watch?v=DpqXhjozG1o
Da “Abertura em Ré”, só se conhecem as cópias realizadas por Manuel José Gomes
(pai de Carlos Gomes), hoje conservadas no Museu Carlos Gomes em Campinas. O
esquema da obra é dividido em dois movimentos Larghetto – Allegrovivo. Sendo que
a segunda parte está em forma sonata, possuindo dois temas distintos e um início
de desenvolvimento.
Link para a partitura:
http://www.josemauricio.com.br/pdfs/cpm232_abertura_em_re.pdf
Youtube:
https://www.youtube.com/watch?v=G6ktBDBPB2Y
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Três obras para cena são conhecidas: Ulissea (1809), O triunfo da América
(1809) e um pequeno coro para um Entremês. As partituras autógrafas das duas
primeiras encontram-se no Arquivo do Palácio dos Duques de Bragança, em Vila
Viçosa (Portugal). A primeira traz o título no manuscrito de “Ulissea Drama
Eroicoposto em Muzica por Joze Mauricio Nunes Garcia em 1809 para o dia 24 de
junho A overturahe a da Trovoada Levantado logo o panno”. Possivelmente a
abertura que otítulo se refere é a “Zemira”, como indicado pela pesquisadora Cleofe
Person de Mattos, ou mesmo a “Sinfonia Tempestade”, perdida.
O texto da Ulissea relata, antecipadamente, a vitória dos portugueses sobre
as tropas francesas de Napoleão:
“Os dias de horros tornava a guerra
Já Lísia não afetam
Podem os ricos baixéis entrar no Tejo
E os lusos lavradores
Os campos cultivar a seu desejo”
O coro final canta:
“Trazei lindas capelas
De mil cheirosas flores
E vinde vencedores
Com elas coroar”
Youtube (Coro Final):
https://www.youtube.com/watch?v=vWXQ6zgEldk
O “Triunfo da América” se enquadra no gênero de um elogio dramático,
sendo uma obra laudatória ao Príncipe Regente D. João VI, com texto de D. Gastão
Fausto da Câmara Coutinho. O material compreende um solo de soprano seguido
de um alegrettograziosoe um coro (allegrovivo).
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Youtube (Coro):
https://www.youtube.com/watch?v=-GHw2ZF3dHY
No campo da música de cena, ainda se conhece do compositor carioca um
“Coro para o Entremês”, obra breve, composta para intercalar movimentos nos
intervalos de tragédias, dramas, farsas ou comédias. A peça em foi dedicada a
“Senhora Joaquina Lapinha”, cantora famosa nos palcos cariocas, cujo nome
completo era Joaquina Maria da Conceição.
3. Obras Menores
São conhecidas do compositor José Maurício Nunes Garcia, uma peça para
piano, um quarteto de cordas (se refere a um arranjo de trechos da Missa em Si
bemol de 1801) e 3 modinha (sendo que duas são de autoria duvidosa). A peça para
piano foi considerada pela pesquisadora Cleófe Person de Mattos como sendo de
Nunes Garcia pelas características próprias do estilo de escrita do compositor,
sendo que a única partitura segue em posse da família do Visconde de Taunay, que
segundo relatos, executava esta obra “de ouvido”. A peça não chega a 50
compassos e segundo a pesquisadora é singela e delicada.
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Referência
KIEFER, Bruno. A música profana de José Maurício. In: MURICY, José C. de A, et
alii. Estudos Mauricianos. Rio de Janeiro: Funarte, 1983, p. 65-74.
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única peça que se tornou célebre, a melodia do atual Hino Nacional Brasileiro,
considerado por muitos como um dos mais belos do mundo.
Ao contrário do seu grande prof. Pe. José Mauricio Nunes Garcia que faleceu pobre
e desemparado praticamente, Francisco Manuel da Silva veio a falecer com 70 anos
de idade, cercado da admiração e respeito. Seu corpo encontra-se sepultado no
Cemitério de São Francisco de Paula, no Catumbi, na cidade do Rio de Janeiro.
Aproximadamente no início do Segundo Reinado (1840-1860), o bel canto estava
em seu auge na Europa, e era apreciadíssimo no Brasil, especialmente no Rio de
Janeiro, mas também em Recife, São Paulo e Salvador. Há registro de inúmeras
representações. Em 1857 foi criada a Ópera Nacional, que logo passou a incorporar
ao repertório obras sérias brasileiras.
O efeito da ópera perduraria até meados do século XX e seria o motivo para a
construção de uma série de teatros importantes, como o Amazonas de Manaus, o
Municipal do Rio, o São Pedro em Porto Alegre, o da Paz em Belém e diversos
outros, todos de proporções majestosas e decorados com requintes de luxo. Neste
campo a maior figura foi sem dúvida Antonio Carlos Gomes, de quem falaremos
mais detalhadamente na próxima aula. Apesar da primazia da ópera, a música
instrumental também era praticada, sendo o piano o instrumento privilegiado.
Entre os meados do século XIX e o início do século XX tiveram um papel
importante através de sua produção com características progressistas alguns
compositores. Leopoldo Miguez, seguidor da escola wagneriana, será após o fim do
Império o autor da música do Hino à República, além de importante obra para piano.
Podemos destacar também Glauco Velásquez, de curta e brilhante aparição,
e Henrique Oswald, que empregava elementos do impressionismo musical francês.
(Os vídeos e áudios desta aula encontram-se no Ambiente Virtual de
Aprendizagem)
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A prática musical em São Paulo se desenvolveu lentamente, junto com o
progresso econômico da região. Até meados do século XVII são poucas as notícias
da prática musical religiosa, resumindo praticamente a missas em cantochão e
festas religiosas urbanas. A partir da metade do século XVII iniciou-se a
reorganização da música na igreja matriz da Vila de São Paulo, cujo primeiro Mestre
de Capela, Manuel Pais de Linhares, já atuava em 1649.
A prática do canto de órgão (polifônico) pode ser vista a partir de um
inventário de Pascoal Delgado, de 1650, onde três livros de polifonia são descritos
(infelizmente perdidos). Segundo o pesquisador Paulo Castagna, a partir de então
notícias sobre esta prática de música polifônica com acompanhamento de um ou
mais instrumentos tornam-se frequentes.
O estilo musical da primeira metade do século XVIII pode, em parte, ser
conhecido a partir de um conjunto de manuscritos conhecidos como “Grupo de Mogi
das Cruzes”, constituído por um conjunto de obras em estilo antigo, sendo que uma
delas, “Matais de Incêndios”, é escrita em português. As peças foram copiadas por
Faustino do Prado Xavier, Mestre de Capela da matriz de Mogi das Cruzes, Ângelo
Xavier do Prado, irmão do anterior, Timóteo Leme e outros copistas não
identificados.
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musical da Sé não teve a melhora esperada, o terceiro bispo da Sé, Dom Manuel da
Ressurreição, chegado em 1774, traz consigo seu próprio Mestre de Capela, o
experiente músico português André da Silva Gomes, do qual trataremos em aula
separada.
Outros músicos que tiveram destaque em cidades paulistas no século XVIII
e início do XIX foram Francisco de Paula Ferreira, nascido em Congonhas (MG),
mas transferiu-se para Guaratinguetá (SP) em 1777, onde atuou como Mestre de
Capela e professor de Gramática Latina e o Frei Jesuíno do Monte Carmelo (1764 –
1819), nascido em Santos, mudou-se para Itu, onde permaneceu até sua morte, do
qual também trataremos em aula separada.
Referência
CASTAGNA, Paulo A. Música na América Portuguesa. In: História e Música no
Brasil (Orgs. José Geraldo Vinci de Moraes e Elias Thomé Saliba). São Paulo:
Alameda, 2010. p. 35-76
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Antiga Catedral da Sé de São Paulo, demolida em 1911 para a construção da nova Catedral.
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Referência
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Antiga Catedral da Sé de São Paulo, demolida em 1911 para a construção da nova Catedral.
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exposição das fugas presentes na Missa a 5 vozes. Esta missa, apesar do título, foi
escrita a 4 vozes, tendo somente no Gloria um divise de sopranos, gerando a quinta
voz. As duas fugas escritas estão a quatro vozes.
As duas fugas da Missa a 5 vozes são duplas, com dois sujeitos, ou temas.
Na tradição musical italiana e portuguesa do século XVIII, os dois temas de uma
fuga dupla são expostos simultaneamente, com uma pequena defasagem de tempo
na entrada de cada um deles, formando uma textura de dueto polifônico. O segundo
tema costuma ter uma melodia contrastante em relação ao primeiro e costuma ser
introduzido pouco após, podendo a diferença ser de um ou dois compassos, ou
mesmo uma fração de tempo. No caso de fugas com os textos “Christeeleison” e
“Cum SanctoSpiritu”, era comum fragmentar o texto entre os dois temas, como
veremos abaixo.
Na Missa a 5 vozes, o “Christeeleison” inicia com o texto “Christe” no
primeiro tema, enquanto o segundo tema inicia com “eleison”, um compasso após o
primeiro, fragmentando o texto na exposição. Apesar de ambos os temas possuírem
no inicio notas de valores similares o primeiro tema se destaca pelos saltos iniciais,
primeiro quinta descendente seguido de oitava ascendente.
Os temas, divididos em duas partes, onde a primeira até o oitavo compasso,
se mantém na região da tônica, mi menor, a segunda parte caminha em direção à
subdominante, lá menor, sendo assim uma fuga com imitação na quarta e não
quinta. Característica principal de ambas as partes é a suspensão por ligadura da
sétima no primeiro tema resolvendo na sexta, com exceção do décimo compasso
onde a resolução da sétima é realizada na terça, recurso previsto por Gomes em
seu tratado de contraponto, onde, em uma suspensão de sétima, ela pode ser
resolvida em uma terça quando a voz superior desce meio tom ou tom inteiro e a voz
inferior salta uma quarta ascendente.
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conhecemos do primeiro tomo, com 150 páginas, foi copiado em 1830 por Jerônimo
Pinto Rodrigues (1790 - ?) e pertenceu a Elias Álvares Lobo (1834-1901), que foi
aluno do anterior. O tratado é dividido em 19 lições, sendo que as treze primeiras
introduzem o estudo das espécies do contraponto, incluindo as espécies
dissonantes e ligaduras; s lição 14 trata de cláusulas e cadências; as lições 15 a 17
sobre fugas; lição 18 sobre modulações e a lição 19 sobre cânone. O tratado de
contraponto, junto com os escritos de Caetano de Melo de Jesus e Luís Álvares
Pinto, é fundamental para a compreensão da teoria e prática musical no Brasil
Colônia n século XVIII.
Referência
ROHL, Alexandre C de O. A FUGA DUPLA LUSO-BRASILEIRA DURANTE
OSSÉCULOS XVIII E XIX. Dissertação de Mestrado. São Paulo: Instituto de Artes
daUnesp, 2010.
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Até os dias de hoje, a principal biografia sobre Jesuíno do Monte Carmelo foi
escrita por Mário de Andrade, publicada em 1945 pelo SPHAN (Serviço do
Patrimônio Histórico e Artístico Nacional).
Jesuíno Francisco de Paula Gusmão (nome original) nasceu em Santos, no
dia 25 de março de 1764, mulato, foi um importante artista de São Paulo. Devoto de
Nossa Senhora do Carmo, iniciou sua formação musical entre os religiosos
carmelitas do convento de Santos, dos quais também recebeu sua primeira
encomenda como pintor, aos 14 anos de idade, aproximadamente. Em 1781 é
convidado a acompanhar o novo presidente do Hospício do Carmo de Itu, mudando-
se para a cidade na qual passaria a maior parte de seus anos. Ao final do século
XVIII, a cidade de Itu passava por um período de crescimento econômico e
consequentemente, artístico. Neste momento, boa parte da cidade estava em
reforma, como a recém inaugurada Igreja Matriz (1780), que ainda precisava ser
decorada.
Em Itu, Jesuíno passa a trabalhar com o artista José Patrício da Silva
Manso. Apesar de Mário de Andrade indicar que a relação de Manso e Jesuíno
tenha sido de Mestre e Aprendiz, respectivamente, novas pesquisas indicam que é
possível que Manso o tenha contrato como auxiliar na decoração da Matriz de Itu.
Esta hipótese se baseia no fato que José Patrício da Silva Manso foi contratado para
trabalhar a partir de 1787, momento em que Jesuíno já se encontrava a alguns anos
na cidade de Itu, inclusive com família constituída. O contrato de Manso com a
Matriz de Itu também indicava que seria de responsabilidade do pintor qualquer
incidente que pudesse acarretar o atraso da obra, o que reforça a ideia que Manso
tenha contratado Jesuíno como auxiliar, considerando a dimensão das tarefas.
Depois de 1790, provavelmente durante a encomenda de pintar a Igreja do
Carmo de Itu, que Jesuíno faz o pedido de entrar como irmão na Ordem Terceira do
Carmo, Pedido que foi negado devido a sua cor e origem bastarda (foi batizado com
pai desconhecido). Segundo Mário de Andrade, um dos anjos mulatos pintados na
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Igreja do Carmo pode ter sido uma “vingança” de Jesuíno. Entre 1794 e 1795,
provavelmente, é convidado para decorar as Igrejas Carmelitanas de São Paulo,
capital, onde realiza as seguintes obras: 1) teto da igreja do convento do Carmo; 2)
quadros em caixotões para o forro da capela de Santa Teresa, para as freiras
carmelitas; 3) teto da nave e da capela-mor da Ordem Terceira.
Tendo uma vida conventual entre os carmelitas de São Paulo, Jesuíno
recebe as ordens menores em 13 de setembro de 1797 e em 23 de dezembro do
mesmo ano recebe a ordem de presbítero, quando abandona o nome de batismo e
passa a ser nomeado como Jesuíno do Monte Carmelo. Embora ordenado, em seu
registro como padre consta o termo “exdefectunatalium”, devido a sua origem. Seu
último trabalho em São Paulo, antes de retornar para Itu, foi o teto do coro da Igreja
da Ordem Terceira.
No início do século XIX, junto com o padre Diogo Antônio Feijó (1784-1843),
Jesuíno do Monte Carmelo funda a Congregação dos Padres do Patrocínio, sendo
responsável também pelo projeto e construção da Igreja de Nossa Senhora do
Patrocínio de Itu. A Igreja é inaugurada no dia 8 de novembro de 1820, um ano e
pouco depois do falecimento do padre Jesuíno do Monte Carmelo (falecimento: 1º
de julho de 1819). Em 1820, o botânico francês, Auguste de Saint Hilaire, diz que a
Igreja do Patrocínio é a mais bonita, cuidada e de bom gosto de Itu.
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Referência
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Uma grande parte das aulas desta disciplina são relacionadas à música
religiosa no Brasil Colonial, isto ocorre não somente pela importância dela, mas
também pelo fato de os principais arquivos de música do século XVIII serem
religiosos. Apesar de existirem relatos documentais sobre a música não religiosa
setecentista e anterior, infelizmente poucos exemplos de música profana são
conhecidos no repertório brasileiro deste período. Por esta razão é importante
conhecer e compreender a função dos atores presentes na música religiosa. Para
isto vamos utilizar como exemplo os “Estatutos do Cabido Metropolitano do Rio de
Janeiro”1, de 1736, estatutos que descrevem a estrutura e organização da Sé
Carioca.
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Referência
1
Estatutos do Cabido Metropolitano do Rio de Janeiro. 1736. Disponível em:
<http://www.acmerj.com.br/CMRJ_CRI_SD_Cx100_UD01.htm>
2
Breviário Romano e Missal Romano, são dois dos principais livros litúrgicos
da Igreja Católica, que também inclui: LiberUsualis, Kirial, Gradual, Antifonário.
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http://musicabrasilis.org.br/partituras/anonimo-obras-compiladas-por-mario-
de-andrade-acaso-sao-estes
http://musicabrasilis.org.br/partituras/anonimo-obras-compiladas-por-mario-
de-andrade-escuta-formosa-marcia
Referência
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Com o destaque alcançado pela música de Carlos Gomes, o mundo cultural
passou a prestar mais atenção ao que poderia constituir uma música genuinamente
brasileira. Neste aspecto o rico folclore nacional foi o material que estimulou os
compositores a utilizar estes temas para elaborações eruditas, embora ainda
seguidoras, em linhas gerais, de escolas estrangeiras. Basílio Itiberê da Cunha foi
um dos precursores desta corrente, com sua rapsódia para piano A Sertaneja,
escrita entre 1866 e 1869.
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Para esta aula, utilizaremos como material básico o artigo da professora doutora
Mônica Vermes intitulado: Alberto Nepomuceno e o Exercício Profissional da
Música. Neste artigo a professora e pesquisadora busca mostrar como Nepomuceno
exerceu sua atividade musical no Rio de Janeiro no final do século XX, mas ao
mesmo tempo a pesquisadora vai além, apresentando um resumo claro da realidade
profissional da música na capital carioca no final do século XIX e início do século
XX. O artigo da professora estará disponível para a leitura completa, que é
requisitada para esta aula.
Neste texto introdutório iremos dar um guia de leitura buscando direcionar o estudo
dos alunos, o artigo publicado pela professora, que está disponível online e na
plataforma do curso, é de leitura obrigatória.
Na breve introdução de seu artigo, VERMES, após uma resumida biografia de
Nepomuceno e apontando a pluralidade de atividades que o mesmo exercia e a
aparente queda de produtividade do compositor durante seus anos no Rio de
Janeiro, aponta uma série de questões pertinentes sobre quais eram as
possibilidades de sustento de um músico na capital carioca na virada dos séculos
XIX e XX. Após a introdução, a pesquisadora passa a listar os espaços musicais da
cidade e o repertório comum em cada um deles. No final a professora mostra como
Nepomuceno se relacionou com esta realidade.
1. Teatros e Repertórios:
1.1.Teatro Eden-Lavradio: Subgêneros operísticos mais ligeiros, como óperas
cômicas, óperas cômico-fantásticas, e revistas.
1.2.Teatro Apolo: óperas cômicas, operetas, revistas e comédias e seria o “preferido
das companhias portuguesas de revistas e operetas”.
1.3.Teatro São Pedro de Alcântara: Incluía espetáculos de clowns, musicais e
óperas, recebeu também concertos sinfônicos.
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2. Polca:
Ernesto Vieira descreve a Polca como sendo originária da Bohemia, em
compasso 2/4 e Allegretto, com caráter alegre, mas gracioso. Segundo o autor, a
partir de 1840, se torna comum na Europa. Mario de Andrade acrescenta que a
primeira Polca dançada no Rio de Janeiro foi no Carnaval de 1846, pela atriz Clara
del Mastro.
3.Valsa:
Segundo Ernesto Vieira, a Valsa Moderna, diferente das Valsas alemãs do
século XVIII, é “em andamento muito vivo” e “se dança freneticamente nos salões”,
“com os três tempos do compasso sempre acentuados por um acompanhamento tão
uniforme que se torna monótono”.
Rafael Coelho Machado, em seu Dicionário Musical, descreve em parte sua
coreografia: “dança que duas pessoas executam volteando sobre si, ao mesmo
tempo que descrevem um grande círculo no lugar onde dançam”.
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5. Schottisch:
Ernesto Vieira descreve como: “Dança de sala, contemporânea da Mazurka e
da Polca.... Assemelha-se à Polca, com a diferença de ter um andamento mais
vagaroso.
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6.Mazurka:
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Fig. 07 – Tresillo
Georges Bizet – Ópera Carmen, Habanera:
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Antes do advento do choro no Brasil, em meados do século XIX, diversos
grupos urbanos, como os barbeiros e as bandas militares ou municipais, tiveram por
função o fornecimento de música instrumental para festas públicas. A partir da
década de 1870, no Rio de Janeiro, entra em cena uma série de tocadores advindos
da baixa classe média, contemporâneos ao surto de desenvolvimento
proporcionado pela riqueza do café no Vale do Paraíba. Neste contexto, vemos
também os primeiros ensaios de industrialização e multiplicação de manufaturas do
Império. Com a intensa exportação do café, Dom Pedro II pôde iniciar uma série de
melhorias urbanas na capital. A multiplicação de obras e negócios, ao implicar na
divisão do trabalho, iria alterar a simplicidade do quadro social herdado da colônia.
Aparecem os operários e os pequenos funcionários de servições públicos e
empresas particulares das áreas de transporte, gás e iluminação.
É neste contexto que torna-se necessário a criação de formas próprias de
participação social. A camada mais ampla de pequenos burocratas passava a
cultivar a diversão familiar das reuniões e bailes nas salas de visita, ao som da
música mais comodamente posta a seu alcance: a dos tocadores de valsas, polcas,
schottisches e mazurcas à base de flauta, violão e cavaquinho. Como eram bailes
mais modestos, que a sociedade ‘elegante’ olhava com certo desdém, receberiam o
nome depreciativo de forrobodó, maxixe ou xinfrim. Surge esta prática musical de
uma classe média minimamente diversificada.
O choro começa não como um gênero musical, mas como uma forma de
tocar e de participar. A época de esplendor dos conjuntos de música de choro
vindos do século XIX se estendeu até ao período em que a atração das revistas de
teatro, em primeiro lugar, e o disco e o rádio, depois, vieram já no século XX
oferecer à gente da moderna classe média das cidades novas e mais variadas
formas de diversão. No plano estético, pode-se identificar um processo de
adaptação da polca europeia, mais marcial e metricamente comportada, para uma
polca mais relaxada e sincopada. Importante ver que esta síncopa não é
simplesmente uma excessão no modelo europeu, mas uma adaptação das heranças
africanas de ciclos rítmicos de tamanhos diferentes, gerados pela sobreposição de
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REFERÊNCIAS
MORAES, José Geraldo Vince de. (org). História e Música no Brasil. São Paulo:
Alameda, 2010.
TINHORÃO, José Ramos. História Social da Música Popular Brasileira. São Paulo:
Ed. 34, 1998.
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