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DA
Maestro Marcello Amalfi
, DA
DO
um novo olhar sobre arelação criativa do compositor
Jean-Jacques Lemêtre com aencenadora
Ariane Mnouchkine no Théâtre du Soleil
-
Título Original
A macro-harm onia da música do teatro
15-03817 CDD-792
Amalfi, Marcello
A macro-harmonia da música do teatro
1". Ed. São Paulo: GIOSTRI, 2015
1. Lemêtre, Jean-Jacques
2. Macro-harmonia
3. Mnouchkine, Ariane
4. Música do teatro
5. Sonoplastia
6. Theatre du SoleiI
7. Trilha sonora I. Titulo.
1" Edição
Giostri Editora
facebook.com/giostrieditora
PRELÚDIO
Do primeiro espetáculo à pesquisa que virou livro 17
10 MOVIMENTO
Similaridades entre as origens do compositor e do encenador. 23
Apresentação do 10 movimento 24
o surgimento do maestro no séc. XVII : 24
Jean-Baptiste Lully 25
Os trabalhos de Lully com Beauchamp e Moliére 25
· ,. d a queb ra d o conceito
O micro .. ,.
m ímétíco .. 27
.
O compositor . I "emancipa
musica . d" o .28
A composição musical e a literatura 29
Hector Berlioz e a música programática 29
Franz Liszt e o poema sinfônico 29
A Óp era e o Drama em Richard Wagner .30
O início atuando no teatro, a música de Beethoven e a Ópera 30
Gesamtkunstwerk (a obra de arte completa) 30
A intersecção música e teatro no legado de Wagner 32
O surgimento do encenador moderno no final do séc. XIX .36
- Zola
A crítica de Emile 36
André Antoine e a encenação naturalista 38
Algumas similaridades nos surgimentos do encenador e do maestro .39
Algumas diferenças acentuadas pelo advento do encenador moderno .4ü
Na interpretação do texto musical e do texto teatral.. 4ü
A importância da visualidade na realização musical e na teatral .42
O surgimento do compositor de música do teatro no final do séc. XIX 42
As particularidades da composição musical no novo teatro do encenador .43
A efervescência cultural a partir do final do século XIX .45
OThéâtre d'Art e a encenação sim bolista .45
O ativismo artístico de Stéphane Mallarmé .45
Claude Debussy e a inauguração da música moderna .46
A libertação do texto na música moderna e no teatro simbolista...48
Adolphe Appia 48
O início com os estudos musicais .48
O contato com a obra de Richard Wagne r .49
Publicações, Encenações, Dalcroze, Word -tone drama 5ü
Edward Henry G ord on Craig .53
A parceria com o compositor Marti n Sh aw .53
O artigo O ator e a supermarionete .55
A celeb ra da montagem de Hamlet com Stanislavski 55
As (poucas) informações sobre a música do espetáculo .56
o compos itor, Ilya Sat 56
Encenadores enxergando a musicalidade na realização teatral.. 6ü
Meyerhold 61
Bertolt Brecht 61
Compositores enxergando a teatralidade na realização musical.. 67
A composição dramático-musical (ou música teatral, ou teatro de música) 67
Luciano Berio 68
Mauricio Kagel 69
John Cage 70
A composição dramático-musical e a visualidade da música na atualidade......71
2° MOVIMENTO
A relação criativa entre o compositor Jean -Jacques Lemêtre e a encenadora
Ariane Mnouchkine no Th éãtre Du Solei/ 72
Apresentação do 20 movimento 75
Sobre a trupe Théâtre Du Solei! 76
Sobre Jean-Jacques Lemêtre 78
A construção da relação compositor/encenadora no Théâtre Du Soleil 79
A primeira experiência criativa: o espetáculo Mephisto (1979) 79
O novo convite da encenadora e o pedido do compositor 83
A adição do compositor/intérprete no palco 84
A interação do compositor com a encenadora e atores a partir do palco 86
A elaboração dos espetáculos e alguns conceitos do Théâtre Du Soleil 88
A criação prévia de temas musicais para os ensaios 88
A Composição Musical Ativa 89
A encenação como ponto de partida/chegada da composição 90
A troca entre a música de Lemêtre e a encenação de Ariane 91
Música, o Tapis Volant (tapete voador) e o afastamento do realismo 92
Mystêre (mistério) 94
As etapas de construção do espetáculo no Théâtre Du Soleil.. 95
A Vision (visão) que origina o espetáculo 96
EÉchange Triangulaire (o Intercâmbio Triangular) 97
Concoctage 99
Lemêtre descreve seu processo composicional 101
Lemêtre descreve sua lutheria 102
Eimage Sonore (A imagem sonora), a fusão dos processos criativos 104
Iévidence (A evidência) 107
o ofício de compositor de música do teatro segundo Jean-Jacques Lemêtre llO
As obras produzidas por Jean-Jacques Lemêtre e Ariane Mnouchkine 115
Considerações sobre a relação criativa de Lemêtre e Ariane Mnouchkine 116
3° MOVIMENTO
A experiência pessoal como a base para o desenvolvimento do pensamento
m acro-harmônico 118
40 MOVIMENTO
A hipótese da macro-harmonia da música do teatro 186
BIBLIOGRAFIA 217
PREFÁCIO
por LAURO CÉSAR MUNIZ
Dramaturgo. roteirista de cinema e autor de telenovelas.
cantada por personagens. Como muito bem analisa este livro, autores impor-
tantes tiveram íntima colaboração de grandes compositores: Brecht trabalhou
muito com Kurt Weill na feitura de suas peças, compondo letras adequadas à
ação e aos seus métodos dí al étícos de alerta sobre situações político-sociais.
No teatro brasileiro, esse exemplo gerou produções importantes como "Arena
Conta Zumbi': de Gianfrancesco Guarn ieri e Augusto Boal com composições
de Edu Lobo, "Arena conta Tiradentes" dos mesmos autores, com músicas de
Gilberto Gil, Caetano Veloso, Sidney Miller. Um exemplo dos mais notáveis é
"A Opera do Malandro" com texto e músicas de Chico Buarque. No Terceiro
Movimento deste livro, o maestro detalha essa rica interação do seu trabalho
com vários encenadores como [airo Mattos e os "Catadores" Antônio Abu-
jamra e "Os Possessos': Bárbara Bruno e vários trabalhos de minha autoria.
Em minhas peças teatrais também criei, episodicamente, alguns personagens
cantantes. Em "O Santo Parto': meu trabalho mais recente, acompanhei a discussão
e troca de ideias da diretora Bárbara Bruno e do Maestro Amalfi e me entusiasmei
com o resultado obtido pelos dois. Destaco a brilhante observação do maestro sem
copiar suas palavras (que estão em vários parágrafos, compondo a ideia): o caráter
de todos os personagens, distintos entre si, levou o maestro a buscar em cada um o
seu "tecido" (*) próprio, pois cada personagem estava em uma época: um Cardeal
morto há quase 200 anos, convivia com outro que clonava Elvis Presley da década
de 1950, com um padre pecador, na atualidade. Variada tessitura que, para a acui-
dade do público espectador, resultou, ao final, a sensação de um "tecido comum"
ao harmonioso conjunto. O vocábulo "tecido': metáfora adotada no livro, exprime
todo o aparato que compõe o personagem: seu carátere aspecto humano-psicoló-
gico, seu tom de voz, seus trajes, seus adereços cênicos, sua postura física.
O Maestro Amalfi viveu em 2011 uma experiência riquíssima em estágio com o
elenco e criadores do Théâtre Du Soleíl, Ariane Mnouchkine e o seu parceiro Jean-
Jacques Lem être, compositor e músico da equipe. Depoimentos valiosos dos dois
grandes artistas envolvidos com a rotina (rotina para eles) da trupe são relatados
no livro. Experiência rara que traz a este livro ineditismo transformador: a história
do teatro e da música, é complementadapor uma explosiva visão contemporânea.
A linguagem do livro, apesar de alguma complexidade do tema, é pre-
cisa, adequada, mas busca o alcance do leigo do teatro ou música. Uma
análise que será, com certeza, muito útil não apenas aos profissionais e
estudantes, mas a qualquer leitor, introduzindo-o no maravilhoso mundo
da arte em geral. Para os músicos, o livro tem um presente: várias partitu-
ras, exemplos concretos dos muitos trabalhos de Amalfi...
Seu autor está na plateia, as partituras nas estantes, instrumentistas a
postos.... Música, Maestro!
São Paulo, janeiro de 2015.
14
APRESENTAÇÃO
por GIL JARDIM
Diretor Artístico e Regente Titular da Orquestra
de Câmara da Universidade de São Paulo (OCAM).
Para todos quese interessam por arte, A Macro Harmoniada Música de Teatro,
de Marcello Amalfi, se constitui numaoportunidade inédita de conhecer osprocessos
criativos que caracterizam o trabalho dos compositores e encenadores teatrais.
Trata-se de um livro de leitura envolvente, que tanto informa quanto
estimula a reflexão, já que foi gerado no terreno fértil da teoria e da prática do
fazer musical teatral. Dessa forma, o texto de Amalfi soa como fruto de suas
experiências pessoais e nos conduzem a uma visão contemporânea do tema,
desvelando a interatividade artística entre as linguagens musical e teatral.
Como o próprio autor diz, este trabalho não foi escrito com a finalidade
de propor uma pedagogia ou método, mas sim para revelar processos de
criação em contínuo desenvolvimento. Para tanto, busca, no trajeto secular
das linguagens artísticas, uma linha de leitura ampla e relevante como su-
porte para a reflexão almejada. Nesse caminho, escolhe com êxito autores
e diretores teatrais, compositores, pintores, escritores, criando uma grande
teia criativa que se move ao longo da história até os dias de hoje.
O proveitoso contato de Amalfi com o compositor Jean-Jacques Lernêtre, parcei-
ro delonga jornada da encenadora Ariane Mnouchkine, do Théâtre Du Soleíl, mere-
ceu as páginas deum capítulo especial, revelando-nos essa experiência decooperação
artística que tem produzido enorme encantamento em platéias por todos os cantos
do planeta. A seguir, quase como um making off Marcello Amalfi abre osbastidores
desuas próprias produções paramostrar o processo empírico de seu trabalho.
É no último capítulo queo autor desenvolve suaproposta parauma Macro Har-
monia da Música de Teatro. Amalfi é cuidadoso ao se apropriar do termo Harmo-
nia e, para tanto, trata de expandi-lo de forma oportuna Desenvolve suas ideias
como artista, muitas vezes buscando tocar algo intangível, e deixa claro o seu fascí-
nio pela transposição dos limites que a interatividade das linguagens artísticas ofe-
rece. Como resultado, essa suabusca nosestimula a investigar a relação de comple-
mentaridade inexoravelmente presente em dimensões aparentemente antagónicas,
comotradição - experimentação, rigor - flexibilidade, tempo - espaço, real - onírico,
som - silêncio, autor - intérprete, o som que se vê - a imagem que sefaz ouvir.
Este é um livro para um público amplo e traz a virtude de transformar a pes-
quisa acadêmica em conteúdo acessível aos mais variados leitores. Quanto aos mú-
sicos, compositores, atores, encenadores e toda a gente do palco, que utilizem esse
trabalho de forma transformadora
15
PRELÚDIO
17
solado' a música Smile, que Charlie Chaplin criou para seu filme Modern
Times (1936), e na minha primeira composição de música do teatro - um
minueto em dó maior que, curiosamente, ainda sei tocar de cor,'
. A partir daquela experiência, me envolvi irreversivelmente com o me-
tier teatral, tomando cada novo convite como uma oportunidade de apren-
dizado. No início, a relação com os encenad ores era predominantemente
uma p restação de serviços, em que eu compu nh a "no estilo de..:', como di-
ria Jean- Jacques Lemêtre; e tomava com o p arâmetro apenas as referências
musicais que os encenadores forneciam - usualmente gravações ou títulos
de obras específicas. Entretanto, com o passar do tempo pude observar que
surg iam eventuais in compatibilidades entre a música criada e a encenação,
e que na m aioria das vezes elas eram fruto de falhas na comunicação com-
positor/ encen ador. Se tornou patente o fato de que as referências musicais
fornecidas podiam promover uma intermediação, sem no entanto agenciar
plenamente um diálogo criativo.
Na busca por meios para aprimorar a comunicação com encenadores,
passei a angariar o maior número possível de informações à respeito de
tudo o que iria integrar a encen ação a qual minha música estaria associa-
da. Adotei uma nova postura durante os processos de montagens, dentro
de uma perspectiva global, o que afetou irreversivelmente minha compreen-
são sobre o que é um espetáculo. Comecei a assistir ao máximo de ensaios,
ler detalhadamente os textos, conhecer previamente os desenhos de cenários
e figurinos, anotar os mínimos detalhes das conversas (chegando muitas vezes
a grava-las em fitas magnéticas K7). Quando surgiu a possibilidade de filmar
ensaios, o registro dos esboços das cenas passou a ser uma constante.
Enquanto vivenciei as primeiras experiências no universo teatral, per-
o
2 Este termo eu aprendi durante as aulas com Paulinho Nogueira, a quem devo
boa parte de minha formação violonística. Ele é utilizado para identificar a prática de
se executar ao instrumento a melodia e o acompanhamento de uma música de forma
simultânea.
3 O encenador é Luiz Gustavo Alvez, e o espetáculo chamava-se Tiananmen, o
Massacre na praça da Paz Celestial, que ficou em cartaz no Teatro Paiol, em São Paulo,
em 1991. Na época eu tinha 18 anos de Idade.
18
a suspeitar que tal dicotomia poderia ter ligação com possíveis diferenças
apresentadas pela música em cada um dos universos, o que desencadeou
uma investigação a respeito da música no teatro. Essa investigação foi o
embrião do projeto com o qual, anos mais tarde, ingressei no mestrado da
Universidade de São Paulo.
Inicialmente, a pesquisa acadêmica permaneceu voltada para minha
suspeita de que toda música, ao ser associada a um espetáculo, passa a ser
constituída não apenas por fenômenos de natureza sonora, mas também
pelos demais elementos que integram a encenação, estabelecendo com eles
uma inter-relaçâo indissociável. No entanto, durante o percurso de sua rea-
lização, passou por um ajuste de foco central, especialmente em função de
três fatores determinantes:
O primeiro foi uma aproximação com o compositor francês Jean -
Jacques Lernêtre, que trabalha com a encenadora Ariane Mnouchk.ine há
mais de trinta e seis anos em uma das mais respeitadas companhias teatrais
do mundo, a trupe francesa Théâtre Du Soleil. Tal aproximação teve início
com a indicação da Professora Maria Lúcia Pupo para que eu realizasse a
monitoria de um curso que o músico francês ministrou no Departamento
de Artes Cênicas da ECA/USP em 20 11. Na ocasião, Jean -Jacques Lemêtre
me concedeu uma longa entrevista exclusiva, onde descreveu detalhada-
mente seu processo composicional, seu trabalho com atores, e a parceria
com a encenadora Ariane Mnouchkine. Devido sobretudo a generosidade
do compositor, que enxergou em mim um "aprendiz compositor", a convi-
vência se estendeu para além da esfera da universidade, incluindo jantares,
passeios, e visitas exclusivas aos camarins do Théâtre Du Soleil e ao seu
bureau' musical instalado no SESC Belenzinho por ocasião da tempora-
da do espetáculo Les Naufragés du FoZ Espoir (Aurores). Contou eventual-
mente com a ilustre presença da pesquisadora Béatrice Picon-Valin (que
igualmente ministrava cursos e palestras por ocasião de sua passagem no
Brasil), o que me proporcionou participar de conversas a três extrema-
mente edificantes, dada a grandeza dos interlocutores'. À partir de então,
o compositor e eu passamos a manter contato regular, não apenas durante
4 Bureau é o termo que Jean- Jacques utiliza para se referir ao espaço que ele e
seus instrumentos ocupam no palco durante a realização dos espetáculos.
5 Naturalmente, minha participação era essencialmente a de um ouvinte aten-
to, buscando aproveitar ao máximo a oportunidade de ouvi-los dialogar, me reservan-
do a fazer apenas curtas observações e responder o que me perguntavam.
19
as visitas que faz ao Brasil, mas também através do intercâmbio de textos,
links de internet, vídeos, arquivos de áudio com composições, etc. Isso tem
resultado em um aumento conside rável no meu acervo pessoal sobre Le-
m êt re, que conta, dentre outros itens, com material originalmente criado
para diversos espetáculos do Th éâtre Du Soleil, cinquenta e cinco horas
de registro em vídeo do seu trabalho com atores, coletadas durante mi-
nha monitoria de alguns cursos no Brasil, dentro e fora da USP, entre 2011
e 2015. A aproximação com o compositor francês produziu ainda frutos
inesperados, como o seu convite para visitar a sede do Théâtre Du Soleil
na França, a fim de acompanhar o trabalho in loco e explorar livremente
o famoso galpão de instrumentos com mais de três mil peças do mundo
inteiro, dentre elas, cerca de oitocentas criações originais de Jean-Jacques.
Outro fator determinante para o ajuste na pesquisa foi a contribuição da
banca durante o exame de qualificação, composta exclusivamente por pro-
fessores da ECA-USP: o maestro Gil Jardim (Depto. de Música), Antonio
Araújo", e meu orientador, José Batista DaI farra Martins (ambos do Depto.
de Artes Cênicas). A percepção que tiveram sobre a riqueza do material
que eu dispunha a respeito da relação de Jean-Jacques Lemêtre e Ariane
Mnouchkine, e a forma que ele fora obtido (diretamente com o músico,
permanecendo livre de interpretações intermediárias), os levou a sugerir a
mudança do foco do trabalho para o estudo da relação criativa compositor/
encenador.
Finalmente, o terceiro fator, que foi igualmente colocado pela banca de
doutores durante o exame de qualificação, é a relevância que minha expe-
riência de mais de vinte anos como compositor de música do teatro teria na
eventual mudança. Eles sugeriram dedicar-lhe um capítulo inteiro no texto
a ser elaborado, a fim de agregar à pesquisa uma visão interna do processo
que estavam sugerindo se tornar o foco central.
Desta forma, a pesquisa que em seu início esteve dedicada à música do
teatro voltou-se para a relação criativa entre o compositor e o encenador,
e deu origem a dissertação de mestrado que é a base deste livro. Todavia,
6 Antonio Araújo provavelmente tenha sido o docente com quem eu mais tive
cantata durante o mestrado (além, claro, do meu orientador). Ele foi meu professor
na pós-graduação por dois semestres (no primeiro, fui aluno ouvinte), e o responsável
pelo estágio em docência que realizei com os alunos da graduação do CAC na ECA
-USP por outros dois semestres. Além disso, foi um grande incentivador e colaborador
de meu trabalho de pesquisa durante todo o percurso.
1:
20
para sua leitura é essencial manter no horizonte a perspectiva de que ele é,
acima de outras coisas, uma reflexão sobre minha atividade de maestro no
universo teatral, e abrange o período que teve início há mais de vinte anos,
quando atuei pela primeira vez como compositor e músico de palco, e se
estendeu até a obtenção do título de Mestre pela Escola de Comunicações e
Artes na Universidade de São Paulo. Ele não pretende reunir ou condensar
todo o conhecimento disponível, e tão pouco sedimentar verdades univer-
sais e inabaláveis a respeito da música, do teatro, ou da música do teatro.
Além de megalomaníaco, isso seria "tentar reduzir a música do teatro",
como me disse Ariane Mnouchkine em uma de suas passagens pelo Brasil.
O que apresento aqui é uma visão pessoal a respeito de algumas questões
com as quais me deparei no exercício do ofício, e as soluções que encontrei
para lidar com elas.
. •.
21
APRESENTAÇAO DO 10 MOVIMENTO
• • ••• •• ••••• •• • ••• • • • • • •••• •• •• •• ••• • • • •••• •• •• ••••
24
como veículos para expressar anseios pessoais, não mais limitando-se a
••
reafirmação de práticas ligadas a costumes dogmáticos. Consequentemen-
te, a liderança que exerciam aos poucos deixou de apresentar uma natureza
predominantemente "t écnica" adquirindo uma natureza "artística".
• Jean-Baptiste Lully
25
a um a famíl ia de dançarinos, Pierre Beauchamp ingressou na corte do rei
Luis XIV em 1648. À ele é creditada a criação das cinco posições dos pés no
balé clássico, assim como uma notação para coreografias de dança.
Juntos, Lul1y, Beauchamp e Moliére foram responsáveis pela realização
de muitos espetáculos teatrais, como Les Fãcheux (1661) 9, Le Mariageforcé
(1664), La Princesse d'Élide (1664), LAmour médicin (1665), Le Misanthro -
pe (1666), George Dandin ou Le Mari confondu (1668), Monsieur de Pour-
ceaugnac (1 669), Les Bougeoisgentilhomme (1670), Les Amants magnifiques
(1670) e Psyché (1 671).
Posteriormente, Lul1y foi considerado o fundador do gênero musical
Ópera Francesa (Tragédie en musique ou Tragédie Lyrique), que tem como
marco inicial sua obra Cadmus et Hermione (1673).10
É preciso ponderar que, apesar de serem geniais realizações conjuntas,
as numerosas pe ças produzidas por Lul1y, Beauchamp e Moliére seguiram
os padrões de produção de seu tempo, e não foram pautadas pelo que
poderíamos identificar com o "diálogo criativo" completamente livre de
regras pré-estabelecidas, tal e qual observamos em certas empreitadas
de nossa atualidade. Estavam inseridas em uma conjuntura onde as
convenções e técnicas tradicionais tinham um peso muito grande dentro
do processo de elaboração artística. Em termos práticos, isto significava
que a música, o texto e a coreografia de um espetáculo seriam "melhores"
na medida em que se aproximassem dos padrões da época - neste caso
específico, os padrões ditados pelo gosto do Rei Luís XlV:
Sendo assim, a despeito de Moliére destacar-se entre seus contempo-
râneos e já esboçar características do que futuramente chamaríamos de
26
encenador moderno, devemos observar que seus dois companheiros eram
funcionários da corte, enquanto ele próprio era na época uma espécie de
"protegido real". Outros indícios claros sobre tal perspectiva são alguns
dos títulos e subtítulos de peças por eles desenvolvidas, como por exemplo
"para o rei", ou mesmo "para divertimento do rei':
Ademais, não obstante qualquer possível tomada de consciência do sig-
nificado estético da realização artística po r aqueles criadores, pesa o fato de
que naquela sociedade prevalecia ainda uma forte presença do chamado
"artista especialista': Ou seja, mesmo no eventual surgimento de algum es-
paço para a reflexão compartilhada durante as montagens, é pouco prová-
vel que os envolvidos o utilizassem para desenvolver alguma atividade cria-
tiva conjunta nos moldes que observamos em nossa contemporaneidade,
restringindo os possíveis aprimoramentos ao campo de atuação pessoal de
cada um deles.
27
mimese afirma-se como o determi nante primordial da estéti-
ca teatral. Considerando que o teatro e o pensam ento do tea-
tro não cessaram de se co nstruir e posicionar até o século XX
com relação à poética aristotélica, a arte dramática define-se
amplamente como uma prática em sua totalidade regida por
esta categoria. Mimêsis nos gregos, im itatio para os latinos,
mimese clássica (Bela Natureza) no séc ulo XVII, ilusão m i-
mética (Natureza Verdadeira) no séc ulo das Luzes, quaisquer
que sejam a termi nologia o u a evolução da noção, parece de
fato que conceito mimético atravessa de ponta a ponta a tra-
dição ocidental do teatro, antes de vir a ser questionado pela
modernidade. 11
28
processo que identifico como a "emancipação das obrigações estilísticas,
formais e estéticas", eles conduziram os sistemas e regras ao seus limites, o
que naturalmente intensificou o diálogo com outras formas de expressão, e
os colocou em uma posição decisiva para o aprimoramento do intercâmbio
entre os universos musical e teatral.
29
• A Ópera e o Drama em Richard Wagner
30
uma "síntese de todas as artes poéticas, visuais, musicais e dramáticas': Se-
gundo ele:
Apesar desta meta ideal já existir desde o intento da primeira ópera es-
crita por Iacopo Peri e Rinuccini em Florença no final do renascimento,
Dafne (1594), o alemão Richard Wagner certamente foi um dos composi-
tores que mais se empenharam na busca pela sua concretização. Contudo,
a "criação de um mundo místico" de suas óperas apresentou um grande
problema: a distância entre o alto nível de desenvolvimento e modernidade
alcançados pelos textos dramáticos e musicais frente às pinturas cenográfi-
cas utilizadas nas montagens em Bayreuth.
A despeito da supervisão intensiva do compositor sobre todos os de-
talhes das montagens de suas óperas, tal discrepância ocorria especifica -
mente em razão dos realizadores daquelas pinturas - Hoffrnann, [oukovski
e Brückner - permanecerem ligados a uma proposta de produção de ce-
nários realistas, empregando somente as práticas de pintura acadêmica e
romântica, nunca chegando a utilizar simbolismos.
13 WAGNER. ln TREITLER, 1998, p. 1112, apud DUDEQUE, 2009, p.3.
31
Essa dicotomia perturbou muito um jovem suíço, a ponto de levá-lo
futuramente a uma busca pela renovação da representação, o que o tornou
uma figura de destaque na história do teatro ocidental. Seu nome é Adol-
phe Appia.
32
um ponto de vista muito específico, esta centralização em Richard Wagner
apresenta algumas similaridades com uma função que em breve se desenvolve-
ria com o nome de encenador moderno no universo teatral. De fato, ele chegou
a prognosticar algo muito próximo de sua ideia central em seu ensaio Ober Das
Dirigiren (Sobre a Regência) de 1869, onde afirma que "o ato da regência se-
ria mais que um mero mecanismo de sincronia da orquestra, se configurando
como uma forma de reinterpretação do trabalho musical':
Indubitavelmente, devemos incluir no grupo de contribuições do
compositor alemão que apresentam a intersecção entre música e teatro o
Bayreuth Festspielhaus (Teatro do Festival de Bayreuth). Inaugurado em
1876 na cidade de Bayreuth, ao norte do estado da Baviera, no sudeste da
Alemanha, ele foi construído sob medida para as apresentações das ópe-
ras de Wagner, trazendo avanços importantes para a arquitetura do teatro
moderno. Muitos destes implementos estão relacionados.à plateia, que foi
disposta em forma semicircular e com diferentes níveis, para possibilitar
a todos os espectadores uma visão completa do palco. Além disso, pela
primeira vez um teatro de ópera não possuiu camarotes (especialmente
porque Wagner desejou não manter os frequentadores do teatro separa-
dos por castas sociais e em camarotes diferenciados, como era tradição até
então). O teatro recebeu ainda o aparato de iluminação mais moderno de
sua época, e foi ali que, pela primeira vez, a audiência permaneceu estra-
tegicamente no escuro durante a apresentação de um espetáculo. Também
foi construído no Bayreuth Festspielhaus o primeiro Mystischer Abgrund
(abismo místico), o fosso da orquestra. Ele é o local destinado à orquestra
durante a execução das óperas, e tem como função torna-la invisível ao
olhar de público. Situado abaixo do nível do palco, apresenta uma caracte-
rística arquitetônica que privilegia a projeção do som nele produzido em
direção à plateia. Sua criação foi motivada pela crença do compositor de
que a movimentação do condutor e dos músicos distraía de forma indese-
jada os espectadores, retirando assim o foco da encenação.
Outra das contribuições de Wagner que apresenta uma significante in-
tersecção entre música e teatro é o livro Opera and Drama (1851). Nele, a
ópera é proclamada como a forma que conglomera múltiplos fazeres, de
filosóficos à artísticos. A relação da música escrita com a sua representação
no palco é considerada orgânica, o que automaticamente a coloca como
um dos focos de discussão.
33
Mais uma contribuição wagneriana com a mesma caracte rística é o de -
senvolvimento em suas obras de um recurso musical que apresenta uma
mecânica que enten do ser de natureza teatral, o leitmotiv (motivo condu-
tor). Este pode ser resumido como: a utilização de elementos [temas mu-
sicais], que se repetem durante o espetác ulo [a ópera] para caracterizar e/
ou evocar personagens, lugares, ideias, objetos, passagens, etc... Tal recurso,
apesar de já ser conhecido anteriormente no universo musical, se configura
um artifício tão poderoso nas mãos do compositor, que ele o adota defini-
tivamente' passando a utiliza-lo em todas as suas óperas após Der Fliegende
H õllander (O Hol andês Voador). Uma utilização que não foi limitada ao
campo musical, como afirma Bablet:
34
"Construção do jogo sobre o princípio do leitmotiv. Esta re -
petição de um fragmento de jogo, de uma atitude, em diferen-
tes contextos, acompanhada ou não de música, jamais é como
em música uma simples repetição, mas aprofundamento do
tema. Assim, na comédia de N. Erdman O Mandato (1925),
o motivo pantomímico do medo compõe o leitmotiv do jogo
do personagem do pequeno-burguês, Pavel Guliatchkin, in-
terpretado por Eraste Garin. Depois da frase: "Silêncio! Sou
um homem do Partido:', com a qual ele acredita poder domi-
nar toda forma de resistência no apartamento comunitário
em que mora, Guliatchkin, que conseguiu amedrontar so-
bretudo a si mesmo, senta-se, busto inclinado, boca aberta,
pupilas dilatadas, cabelos revoltos: temos aí uma exposição
do medo, motor essencial desse personagem que navega en-
tre duas épocas, entre duas classes. No segundo ato, o mes-
mo motivo é retomado, mas desta vez em surdina, e o tema
é como que abafado por uma justificação exterior do medo.
No meio do terceiro ato, é a culminação: Guliatchkin, em pé
sobre a mesa, retoma a mesma pantomima agitando seu man-
dato misterioso e ameaçando enviar uma cópia dele ao cama-
rada Stálin, aterrorizado por sua ideia. No final do espetáculo,
desmascarado, com seu falso mandato, ele retoma a mesma
pantomima antes de desaparecer atrás de sua mãe em uma
posição que é o equivalente de uma morte c énica" 15
35
o SURGIMENTO DO ENCENADOR MODERNO
NO FINAL DO SÉC. XIX
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A crítica começou sendo feita tanto aos comediantes, escra-
vos de convenções ridículas, no que se referia a "essas entradas
e saídas solenes e grotescas, esses personagens que falam com o
rosto sempre virado em direção ao público': Os atores "represen-
tam para a sala': "como sobre um pedestal [...]. Se eles vivessem
as peças ao invés de representá-las, as coisas mudariam?': Porém
"os intérpretes não vivem a peça; eles a declamam"; "eles procu-
ram conquistar um sucesso pessoal, sem se preocupar o mínimo
possível com o conjunto': Não somente os atores não eram diri-
gidos em função do conjunto - como o desejaria a encenação,
como também não estavam mais integrados a um "cenário exato
[que] se impõe como o ambiente necessário da obrá'. 17
37
Média, o "maitre de jeu" co ordenava os elementos do drama
litúrgico. O capocomico d a com media dell'arte decidia sobre a
ordem d as seqüências e a cond uta geral do espetáculo. Mo -
liere foi autor, ator e, com o se vê pela forma certamente "ro-
m an ceada" do Improviso de Versalhes, responsável pela inter-
pretação, ou diretor de ato res, com o diríamos hoje. 19
38
época. Antoine foi o primeiro a colocar na encenação a chamada quarta parede
(conceito surgido no século XVIII, nas teorias de Diderot), com a qual fechou
a caixa teatral. Dessa maneira, o público observaria uma ação que se desenvol-
via independente da sua presença. Há relatos de que muitas das encenações
de Antoine foram ensaiadas em palcos com quatro paredes montadas, e que
somente depois do espetáculo estar pronto ele teria decido qual parede remo-
ver para entrar em cartaz. Abdicou das tradicionais luzes de ribalta, adotando
luzes elétricas, por serem mais realistas. Colocou a plateia do teatro no escuro
durante a apresentação do espetáculo, repetindo o que fizera o compositor ale-
mão Richard Wagner.
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análogo que viria a ocorrer com o coordenador do universo teatral no final
do XIX (o surgimento do encenador moderno) .
40
de eventos simultâneos, detalhadamente pré-estabelecidos dentro de uma
realização coletiva metrificada, e submetidos de forma inexorável a um
mesmo pulso temporal, coordenado pelo maestro e determinado pela prá-
tica musical vigente. A compreensão desse texto musical não se ancorava
apenas na interpretação dos diversos eventos sonoros de maneira indivi-
dual e isolada, mas também na percepção dos afetos e das relações har-
mõnicas da chamada melodia acompanhada, decodificada à luz do ainda
vigente sistema tonal, a partir de uma progressão estruturalmente coletiva
realizada sobre uma cronologia musical unitária.
Já na interpretação do texto teatral, a liberdade recém adquirida pelo
encenador permitia a ele especular livremente não apenas sobre os aspec-
tos globais da execução das palavras e diálogos (como o andamento da
encenação, a dinâmica da encenação, etc.), mas também de forma indepen-
dente sobre os aspectos e características individuais de cada personagem
(como o andamento individual, a métrica individual, o caráter, etc.), o que
era virtualmente inviável na execução orquestral daquele período.
Para entender melhor tal inviabilidade, tomemos o seguinte exemplo:
hipoteticamente, um maestro do final século XIX propõe para sua orques-
tra que durante a interpretação de um texto musical que prevê a execução
conjunta de todos, parte dos integrantes obedeça a um certo andamen-
to, e outra parte obedeça a um andamento diferente. A falta de sincronia
ocasionada por esta intervenção será capaz de alterar o caráter e a função
das notas escritas (de passagem, apogiaturas, resoluções melódicas, etc.) e
destituí-las de sua identidade musical original, mesmo sem promover qual-
quer alteração no texto escrito. Isso poderá, por exemplo, fazer com que
uma nota planejada para soar (fazer o papel) de uma quinta justa de um
acorde, ao ser deslocada temporalmente, venha a soar como uma sétima
maior de outro acorde, produzindo um resultado totalmente diferente do
planejado, tanto para si quanto para as demais notas executadas naquele
mesmo instante. Ao inviabilizar o planejamento original do autor para as
notas (os personagens) e as melodias (os diálogos), o maestro estará crian-
do uma nova obra, contando uma nova história, e não apenas interferindo
na execução da obra a que se propôs realizar inicialmente.
Por outro lado, se a mesma proposta de intervenção partisse de um en-
cenador daquele período, ela não ocasionaria uma descaracterização tão drás-
tica da obra original. Ocorre que a concomitância de diferentes andamentos
41
na realização do texto teatral não chega a transmutar um personagem e
o seu discurso em outro, como acontece na realização do texto musical.
Mesmo ao ocasionar o adiantamento, a sobreposição ou o atraso das falas,
tal multiplicidade não é capaz de, por exemplo, transferir uma fala do per-
sonagem Romeu para a personagem Julieta.
Ou seja, enquanto cada uma das palavras escritas em um texto dramá-
tico do fi nal do século XIX podia potencialmente ser executada de maneira
livre de acordo com a vontade do encenador, as notas no texto musical
não ofereciam tamanha flexibilidade. Ao maestro, a despeito de ser a figura
central da realização musical, era perm itido promover uma interferência
na execução do texto musical de maneira assaz limitada se comparada à
interferência que era permitida ao encenador na realização de um texto
teatral daquele mesmo período.
42
precisaram submeter-se a profundos processos de reciclagem) reavaliando
técnicas e ampliando capacidades. Especialmente porque a partir daquele
momento as suas atividades passaram a ser regidas pelos anseios dos ence-
nadores) e não mais pela reprodução de tradições conhecidas e já domina-
das. Essa configuração impulsionou o surgimento de novos ofícios dentro
da prática teatral.
Um destes ofícios é o do compositor de música do teatro. Similarmente
ao que ocorreu apenas algumas décadas antes) quando certos composito-
res buscaram ampliar o diálogo com outras artes trazendo para dentro do
universo musical a narrativa literária (o que resultou na Música Programá-
tica em 1830) e nos Poemas Sinfônicos em 1848)) com o florescimento da
arte do encenador) surgiram inúmeras iniciativas que objetivaram estabe-
lecer diálogo com a mais nova forma de fazer teatro. Todavia) o processo de
composição musical para ela apresentou muitas características próprias) o
que semeou nos compositores) incluindo naqueles que já atuavam no uni-
verso teatral, a necessidade de reinventarem a sua prática criativa.
43
por André Antoine seguiu uma trajetória distinta, paralela às práticas que
oco rriam conte mporaneame nte no universo musical. É muito provável
que as suas pri meiras incu rsões apresentasse m pouca ou nenhuma no-
vida de , tanto no que concerne ao processo de elaboração, quanto a sua
forma fin al. Tod avia, me smo que tenha se instaurado um quadro pou-
co renovador, certamente ele não perdurou, em razão da ampla liberdade
para a criação que as interações artísticas entre encenadores e compositores
gozava; e tamb ém em decorrência de um fenômeno que envolveu o público
do teatro daquela época:
44
de expressão artística, estabelecendo entre si superfícies de contato direto e
indireto, fazendo com que o contexto cultural assumisse grande importân -
cia já nas primeiras composições de música do teatro.
45
é reforçada não apenas pela perceptível influência da pintura de vanguarda no
trabalho do Théâtre de l'CEuvre, mas igualmente pela constatação de que o mes-
mo ideal simbolista que figura no teatro de Lugné- Poé existia como tendência
'artística havia tempos na pintura, assim como na literatura francesa.
Não por acaso, boa parte das intersecçõ es que perpassaram a produção
artística parisiense daquela época parece ter alguma relação com o ativis-
mo do poeta e crítico literário fran cês Stéphane Mallarmé (1842-1898),
considerado por Paul Valéry o maior poeta daquele país. Responsável di -
reto por uma importante renovação na poesia francesa, é considerado um
dos precursores da poesia concreta, além de ser aclamado como "um gran-
de estímulo" para a poesia simbolista francesa, e, posteriormente, para os
artistas e compositores impressionistas. Nas sessões de leitura e discussão
sobre arte e literatura que promovia em sua casa em Paris, reunia a elite
intelectual da época, como André Gide e Oscar Wilde.
. 46
Uma das principais características da música moderna, a
acepção não estritamente cronológica, é sua libertação do sis-
tema de tonalidades maior e menor que motivou e deu coe-
rência a quase toda a música ocidental desde o século XVII .
Neste sentido, o Prélude de Debussy incontestavelmente
anuncia a era moderna. Suavemente, ele se liberta das raíze s
da tonalidade diatônica (maior - menor), o que não significa
que seja atonaI, mas apenas que as velhas relações harmônicas
já não têm caráter imperativo. 23
47
limitando a uma reprodução mais ou menos exata da natu-
reza , mas ás misteriosas correspondênci as entre a Natureza
e a Im agin ação." No caso de Pr élude , há uma forte sugestão
ambien tal, de um bosque no preguiçoso calor da tarde, mas o
interesse principal de Debussy reside nas "correspondências"
(termo baudelairiano ) entre este ambiente e os pensamentos
do fauno na écloga de Stéphane Mallarmé em que se inspira a
música, serv indo-lhe de "prelúdio". Segundo Debussy, a obra
é uma sequência de "cenários sucessivos em que se projetam
os desejos e sonhos do fauno" 24
• Adolphe Appia
o inicio com os estudos musicais
24 Idem, 1998, p.9.
48
A influência ~imbolista está igualmente presente no trabalho de outro
importante artista, o cenógrafo, teórico e escritor suíço Adolphe Appia
(1862 - 1928). Desde muito jovem, ele desenvolveu um grande apreço pelo
teatro, surgido sobretudo a partir de leituras sobre o assunto na vasta bi-
blioteca de seu pai, o importante médico Louis Appía, cofundador do Co-
mité des Cinq, futuro Comitê Internacional da Cruz Vermelha. Tal paixão
sofreu forte oposição de sua família, que somente permitiu a Appia realizar
alguma preparação artística estudando música no conservatório da célebre
cidade de Leipzig na Alemanha (1882-1883), dando continuidade a estes
estudos em Dresden (1896-1890).
Appia assistiu pela primeira vez a uma representação somente no ano
187R, em um teatro de ópera de Leipzig, após ter argumentando com sua fa-
mília que aquela seria uma experiência muito importante para seus estudos
musicais. A obra apresentada foi Fausto, de Charles Gounod (1818-1893),
da qual não gostou especificamente da forma como havia sido encenada.
49
da minha visão cê nica me parece garantida: Eu vi primeiro
- dentro de mim, m as com uma nitidez perfeita - e então, e
somente então (este é o ponto chave), eu refleti teoricamente
sobre o valor e a ad equação do que eu vi. Pelo trabalho abs-
trato cheguei à co nvicção de que os meus dons encontrariam
sua aplicação natural na encenação, e qualquer outra especia-
lização seri a apenas uma expressão fragmentária de minha
visão com o artista","
L 50
práticas teatrais de seu tempo. Condenou o espaço cênico ita-
liano com sua oposição de dois mundos claramente distintos,
o do espectador e o do mundo fictício. Esta distinção entre
o mundo real e o imaginário levou Appia a propor a criação
de um mundo cênico que desse a ilusão de ser um mundo
real. Com a impossibilidade de imitar o mundo real no pal-
co, Appia propõe a cópia deste universo através da criação
de um mundo simbólico. Ele transforma a cenografia em um
conjunto de signos que fornecem ao espectador toda a infor-
mação demandada para sua localização histórica, geográfica,
social etc. [... ] A busca por uma cenografia simbolista ter-
minou com a incompatibilidade entre a cenografia e o ator,
a realidade do ator e a ficção da cenografia, onde os elemen-
tos deixaram de ser submissos à presença humana. [... ] Em
suma, Appia refuta a separação entre a cenografia e o ator
imposta pela ilusão criada pelo realismo e nega a concepção
wagneriana de uma ação comum entre as artes, desta maneira
se afastando da concepção original de Gesamtkunstwerk."
51
I
I
I
festival do Instituto Jacques-Da1croze, próximo a Dresden, na Alemanha. I
Apesar da afi nidade existente entre eles, ocorreram sérias discordâncias
durante estes processos. Na primeira apresentação Appia, apoiando-se em
suas ideias sobre um Teatro total, não quis estabelecer uma divisão visível
entre o espaço cênico do s atores (que eram os alunos do instituto Da1croze)
e o público, com a intenção de dar a este a sensação estar no mesmo local
que aqueles. Nem mesmo a iluminação, cujos equipamentos estavam
escondidos no teto sob um forro de linho, fazia tal separação. Apesar disso,
no ano segui nte Da1croze insistiu, contra a vontade de Appia, em "baixar
a cortiná' para ocultar uma mudança de cenário, o que Appia contestou
ferozmente. Outra séria discordância surgiu envolvendo a roupa que os atores
usariam em cena. Dalcroze estaria determinado pela utilização de figurinos
teatrais tradicionais, porém foi a vontade de Appia (para quem eles deviam
vestir seus uniformes regulares de aula) que prevaleceu neste ponto.
Em 1921, já com grande experiência prática, Appia publicou outro livro
muito importante, o Iceuvre d'art vivant (A obra de arte viva), onde descre-
ve conceitos e práticas teatrais, muitos do quais presentes até os dias atuais
na encenação contemporânea.
Durante sua carreira, Appia protagonizou grandes avanços da arte tea-
tral. Propôs a criação de espaços tridimensionais de encenação através da
utilização de grandes cortinas sobrepostas (ou qualquer outro elemento
que cumprisse esta função) , os quais seriam utilizados pelos atores para
adentrar e sair de cena. Desenvolveu a criação de atmosferas místicas e
espaços dinâmicos utilizando a predominância de linhas perpendiculares
verticais e horizontais, diagonais e oblíquas, plataformas e escadas (as quais
acreditava não apenas
. melhorarem a movimentação dos atores no palco,
mas potencializarem o uso da iluminação). Foi um dos pioneiros na arte
da manipulação da luz el étrica" no teatro, promovendo a exploração de
todas as nuances e possibilidades deste recurso, estabelecendo também o
uso consciente de cores e atmosferas místicas, e introduzindo a utilização
artística de sombras em cena para criar cenografias simbólicas.
Appia adotou a filosofia na qual a produção de cenários não devia ser
vista como uma arte autônoma, mas estar submissa a proposta central do
drama. Uma visão ligada ao ideal de "conjunção dos sons, luzes e movimentos,
27 É importante observar que este recurso se tornou disponível para o teatro
somente a partir daquele período, devido ao recente invento da lâmpada elétrica por
Thomas Edison em 1879.
52
através da interação perfeita entre os ritmos e atmosferas das músicas com
o corpo do ator, com a ação e com o texto", o qual ele denominou word-
tone drama, e que seria composto por dois tipos de elementos: os sons das
vozes dos atores e dos instrumentos da orquestra / os aspectos visuais da
encenaçao.
53
Em 1904 Craig viajou para a Alemanha, onde escreveu o ensaio The Art
of the Th éãtre, fi rst dialogue (1905). Naquele mesmo período conheceu a
dançarina americana Isadora Duncan (1877-1927), com quem teve uma
filha em 1906, que morreu ainda criança, em 1913, tragicamente afogada,
vítima de um acidente de carro, o qual caiu no rio Sena, em Paris.
54
figura viva, na qual as fraquezas e tremores da carne são tão
perceptíveis. O ator deve sair e em seu lugar surgir a figura
inanimada, a Supermarionete, podemos chamá-la assim , até
que tenha conquistado para si um nome melhor. 28
56
A menção carrega ainda uma dubiedade do ponto de vista musical. O
termo música clássica, apesar de indicar a música produzida no ociden-
te durante o período clássico da história da música (1750-1820) seguindo
seus padrões estilísticos, é frequentemente utilizado para designar qual-
quer música que não tenha um caráter "popular': e que tenha sido produ-
zida a partir do século IX.
A segunda menção à música do espetáculo é igualmente vaga:
carried out effectively. The entrance of the players was skillfully done. Accompanied by
classical rnusic, they appeared in a row with a gay air about them, some carrying cut-
out pieces of decorative trees, some holding wig boxes high above their heads, and some
bearing costume luggage on their shoulders"
32 Tradução minha a partir do original em inglês: Idem, p. 592. "When the
curtain was raised, the queen was discovered seated on the throne. ln front of the throne
twelve court ladies stood wearing similar costumes which had checkered patterns. (The
costumes were also similar to those of the dancers in the opera called Acis and Galatea
which Craig designed.) Four ofthe court ladies stood in a row on each side ofthe throne
from upstage to downstage. Two others stood outside of each row, forming a line which
stretched diagonally outward. Each of them held a music book in her hands and was
singing a song. Then mad Ophelia ran into the scene, as if she were trying to flee from
something, and hid herselfbehind the rows ofladies as though fearing somebody".
57
sendo o penúltimo item listado, antecedendo apenas o "peruqueiro" do es-
petáculo.
58
Sua curta carreira foi dedicada ao teatro, e seu uso do que
eram técnicas radicais em sua época refletia sua busca de no-
vos efeitos dramáticos. Ele teria experimentado quartos de
tom e música m icrotonal, incorporado o ruído am biente na
textura de suas partituras, e foi um dos primeiros a escrever
para o "piano preparado': no qual hastes de metal e outros ob-
jetos estranhos eram colocados no seus interior para alterar
o seu som . Nisto antecipou compositores europeus e nor-
te-americanos de vanguard a por décadas. Seu maior suces-
so foi a música incidental para a estreia mundial da peça de
Maurice Maeterlinck «o Pássaro Azul», enc enad a pelo Teatro
de Arte de Moscou, em 1908. IIya Aleksandrovich Sats nas-
ceu em Chernobyl, filho de um advogado judeu. Ele estudou
na Escola de Música de Kiev 1891 -1897 e no Conservatório
de Moscou 1897-1899. Entre seus professores está incluído
Sergei Taneyev. Em 1900 foi preso por simpatias pró-revo -
lucionárias e passou três anos em exílio na Sibéria, onde foi
pioneiro na coleta de música folclórica judaica russa. Em
seu regresso a Moscou, ele mergulharia na cena cultural da
cidade. De 1906 até sua morte, foi diretor musical do Tea-
tro de Arte de Moscou, enquanto também trabalhava com os
diretores Vsevolod Meyerhold e Vera Kommissarzhevskaya,
e no famoso cabaré "O espelho rachado". Quando Meyerhold
e o diretor do TAM Konstantin Stanislavski montaram ver-
sões rivais da peça de Leonid Andreyev l'A Vida do Homem"
em 1907, Sats forneceu a música para ambas. Ele também
compôs outras 13 peças e escreveu três óperas paródia cur-
tas e canções para cabaré. Sua última grande obra, o ballet
l'A Goatfooted" (1912), fez com que o público se revoltasse, e
renderia a ele um convite para trabalhar com o diretor Max
Reinhardt, em Berlim."
59
ENCENADORES ENXERGANDO A MUSICALIDADE NA
REALIZAÇAo TEATRAL
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eifects. He experimented with quarter tones and microtonal music, incorporated ambient
noise into the texture ofhis scores, and was one of thefirst to writefor "prepared piano",
in which metal rods and other foreign objects were placed inside the instrument to al-
ter its sound. ln this he anticipated European and American avant-garde composers by
decades. His greatest popular success was his incidental musicfor the world premiere of
Maurice Maeterlinck's play "The Blue Bird", staged by the Moscow Art Th éãtre in 1908.
llya Aleksandravich Sats was born in Chernobyl, the son ofa lewish attorney. He studied
at the Kiev School of Music f rom 1891 to 1897 and at the Moscow Conservatory from
1897 to 1899. His teachers included Sergei Taneyev. ln 1900 he was arrested for pro-rev-
olutionary sympathies and served three years in Siberian exile, where he pioneered in
collecting Russian lewish folk musico Upon his return to Moscow he plunged into the
city's cultural scene. From 1906 until his death he was music director of the Moscow Art
Th éãtre, while also working with directors Vsevolod Meyerhold and Vera Kommissar-
zhevskaya and at thefamous cabaret "The Cracked Mirrar". When Meyerhold and MAT
director Konstantin Stanisla vsky mounted rival versions of Leonid Andreyev's play "The
Life ofMan" in 1907, Sats supplied the musicfor both. He also scored 13 other plays and
wrote three short parody operas and songs for cabaret performance. His last major work,
the ballet "The Goatfooted" (1912), caused the audience to riot "The Blue Bird", staged
by the Moscow Art Th éãtre in 1908. Ilya Aleksandrovich Sats was bom in Chernobyl, the
son of a lewish attorney. He studied at the Kiev School of Music from 1891 to 1897 and
at the Moscow Conservatory from 1897 to 1899. His teachers included Sergei Taneyev. ln
1900 he was arrestedfor prorevolutionary sympathies and served three years in Siberian
exile, where he pioneered in collecting Russian lewish folk musico Upon his return to
Moscow he plunged into the city's cultural scene. From 1906 until his death he was music
director of the Moscow Art Th éãtre, while also working with directors Vsevolod Meyer-
hold and Vera Kommissarzhevskaya and at the famous cabaret "The Cracked Mirror".
When Meyerhold and MAT director Konstantin Stanislavsky mounted rival versions of
Leonid Andreyev's play "The Life of Man" in 1907, Sats supplied the musicfor both. He
also scored 13 other plays and wrote three short parody operas and songs for cabaret per-
formance. His last major work, the ballet "The Goatfooted" (1912), caused the audience
to riot and got him an invitation to work with director Max Reinhardt in Berlin".
60
a cada espetáculo elaborado. Isso, no entanto, não impediu a mú sica de
conquistar um lugar de destaque no trabalho de grandes ence nadores.
• Meyerhold
61
com o compositor Gness in, a elaboração conjunta do princí-
pio de leitura musical o testemunham . Em uma experiência
feita sobre os fragme ntos da Antígona de Sófocles, Gnessin
escreve para o coro e Ant ígona uma partitura com notas e
pausas acima de cada verso, de maneira que, sustentados por
um acompanhamento, os intérpretes tivessem as mesmas res-
trições e a mesma liberdade que os cantores. Associada a um
trabalho plástico, esta técnica de interpretação, apresentada
por Scriabin, produz nele um tal efeito que logo projeta uti-
lizá-la em um mistério a ser representado sobre as margens
do Ganges, no qual incluiria todos os membros do Estúdio
me yerholdiano. O processo de "musicalização" toca todos os
domínios do teatro. E logo de início o trabalho drarnat úrgi-
cooA composição dos scenarii de encenação de Meyerhold,
onde a música real tanto pode estar ausente quanto pode estar
presente, segue as leis da forma- sonata, uma parte lenta inter-
calada entre duas partes rápidas. O melhor exemplo deste tra-
balho é A Dama d as camélias cujos cinco atos são divididos
em episódios, todos design ados por um termo musical que
lhes dá o colorido, o ritmo, a velocidade. Um exemplo: lo ato,
2a parte. Capriccioso - Lento - Scherzando - Largo e maesto.
Meyerhold busca colocar na obra a representar uma drama-
turgia musical com introdução, exposição do tema principal,
aparição de temas secundários, desenvolvimento, repetição
do tema principal, culminação, final, com mudanças de rit-
mos, rallentandi geradores de tensões (neste exemplo, lento,
rallentando, scherzando, culm inação). Reencontramos este
processo ao nível do trabalho de encenação: "em música': diz
Meyerhold a seus estudantes, "há uma acumulação de acordes
de sétima que o compositor introduz conscientemente e que
por muito tempo, muito tempo, não se resolvem na tônica
(...). Há a alternância de momentos estáticos e de momentos
dinâmicos, seguida de equilíbrios e desequilíbrios... Estou a
ponto de dar a resolução de uma cena, mas, conscientemente,
não a resolvo, ponho mesmo obstáculos a esta resolução e de-
pois, no fim, a permito". 36
36 Idem.
62
• Bertolt Brecht
[...] fui eu mesmo o autor desta música. Cinco anos mais tar-
de, porém, quem escreveu a música para a reprise, em Berlim,
da comédia Os Homens São Homens, no Teatro Municipal, foi
63
Ku rt Weill. A música passava agora a ter qualidade artística
(valor próprio). A peça é de com icid ade fácil e Weill incluiu
nela um pequeno noturno (acom pan had o com projeções de
Caspar Neher) e, aind a, uma música marcial e uma canção
cujas estro fes eram cantadas enquanto se procedia à mudança
de cena, com o pano aberto. Mas já haviam sido formuladas
as primeiras teorias sob re a separação dos elementos. 38
38 Idem.
64
quem viver na prosperidade, mesmo que, por essa vida, tenha
de renunciar a muitas coisas "superiores". Num dueto amo-
roso, explicava-se que circunstân cias exteriores, como seja a
condição social da moça ou a sua situação econôm ica, de for-
ma alguma, deveriam influenciar o marido na escolha! Num
trio exprimia-se pesar pelo fato de a insegurança que reina
neste planet a não permitir ao homem ceder ao seu pendor
natural para o bem e para um comportamento honesto. Na
mais terna e íntima cantiga de amor da peça, descreve-se a
afeição inalterável e perpétua entre um proxeneta e sua noiva.
Não é sem emoção que os amantes celebram, em um canto,
seu pequeno "ninho': no bordel. A música colaborava, assim,
na revelação das ideologias burguesas, ao assumir precisa-
mente um tom puramente sentimental, não renunciando a
nenhuma das habituais seduções narcotizantes. O seu papel
era, a bem dizer, o de patentear toda a torpeza subjacente a
cada caso, o de provocar e de denunciar. Estas canções tive-
ram larga divulgação. [...] Este tipo de canç ão nasceu quan -
do pedi a Weill que compusesse uma nova música para meia
dúzia de canções já existentes, destinada à semana musical
de Baden-Baden de 1927, em que seriam apresentadas óperas
em um ato. A música que Weill escrevera até então era uma
música bastante complicada, de caráter essencialmente psi-
cológico; Weill, porém, ao admitir na composição textos de
canções mais ou menos banais, rompeu corajosamente com
um preconceito tenaz da grande maioria dos compositores
sérios. O resultado de se ter usado música moderna para a
parte cantada foi notável. 39
39 Idem, p.184-185.
65
ameaçadora para as cenas do Entru do do Galileu Galilei, para
o desfi le das corpo rações, música que revela como a plebe deu
às teorias astronô micas do sábio um novo teor revolucioná-
rio. Identicamente, no Círculo de Giz Caucasiano, o modo frio
e indiferente com que o cantor canta, aos descrever o salva-
mento da criança pela criada, apresentado no palco sob a for-
ma de pantomima, põe a nu todo o horror de uma época em
que a matern idade pode tran sformar-se em fraqueza suicida.
A música pode, assim, revestir-se de diversas formas, sem
perder a sua independência. Pode também adotar uma atitu-
de, a seu modo, em relação aos temas. Mas sua única preocu-
pação pode ser também a de tornar variada a diversão."
40 Idem, p.131-132.
41 Idem, p.189 -190.
66
Hoje em dia, continua a escrever música de "vanguarda" des-
tinada a salas de concerto. Mas basta um só olhar para os ou-
vintes desses concertos para verificarmos como é impossível
utilizar para fins políticos e filosóficos uma música que produz
tais efeitos. Vemos filas inteiras de pessoas, em característico
estado de transe, completamente passivas, ensimesmadas, e,
segundo todas as aparências, fortemente intoxicadas. Pelo seu
olhar fixo e embasbacado, verificamos que estão voluntária
e irremediavelmente abandonadas a uma agitação emocional
sem controle. Ataques de transpiração comprovam o esgota-
mento que as possui devido a tais excessos. Um filme de gân-
gsteres, mesmo dos piores, trata mais os seus expectadores
como seres pensantes. 42
67
Nos anos 50, os compositores haviam concentrado seus esfor-
ços em três di reções principais: extensão do serialismo, de-
senvolvime nto dos meios eletrônicos e introdução do acaso.
As prioridades eram a exploração do s materiais da música, a
elaboração de uma "linguagem" musical, a sistemática e a filo -
sofi a da composição. Em vista destes interesses objetivos, era
natural que os compositores se mostrassem pouco propensos
a abordar gêneros bastardos como ópera e balé , nos quais os
problemas puramente musicais necessariamente passam a se-
gundo plano. Os que efetivamente compuseram para o teatro
- Britten, Tippett e Hans Wern er Henze (1926), por exemplo
- não estavam entre os campeões da "vanguarda". Na década
seguinte, entretanto, inverteu -se a situação, a tal ponto, que
por volta de 1970 raros eram os compositores de vanguar-
da que não introduziam elementos teatrais em sua música.
Alguns podem ter visto na música de teatro a oportunidade
de estabelecer com o público uma relação mais estreita que a
existente nos anos 50, quando as declarações e ensaios teóri-
cos de muitos compositores, senão mesmo suas obras, pare-
ciam concebidos para desencorajar plateias. 44
Luciano Berio
Um dos músicos que primeiro ganhou destaque com esse tipo de com-
posição foi o italiano Luciano Berio (1925-2003). Apesar de estar associado
44 GRIFFITHS.1998. p.169.
68
....
Mauricio Kagel
45 Idem,p.I72-173.
69
A execução de suas obras requer técnicas insólitas, gritantes
deformações de interpretação, o uso de instrumentos inco-
muns e assim por diante, sempre visando efeitos não só mu-
sicais, mas visuais e dramáticos. Sur Sc êne é uma tresloucada
charada com fala, canto, mímica e música; Pas de Cinq limi-
ta-se a anotar movimentos de cinco atores num palco, sem
qualquer outro som ; Match é um jogo de tênis musical para
violoncelistas, com um percursionista no papel de juiz; e em
Unter Strom (Sob pressão) três solistas fazem música com
aparelhos domésticos. 46
John Cage
46 Idem, p.174.
70
.....
47 Idem, p.175.
71
e dos artistas. Contudo, é preciso observar que tal revalorização não per-
manece restrita à chamada industria da música pop. Ela atinge igualmente
gêneros musicais essencialmente teat rais como a ópera, o teatro musical e
seus congêneres. Se houve momentos on de ape nas os predicados musicais
de uma apresentação eram suficientes para aferir a qualidade e o sucesso de
uma mont agem , verificamos que cada vez mais o seu aspecto visual tam-
bém é determinante neste sentido.
As mudanças decorrentes da revalorização da visualidade e da teatra-
lidade no universo musical vêm contribuindo para que as fronteiras entre
a apresentação musical e a apresentação teatral se tornem cada vez mais
tênues. Consequentemente, ocasionando um aumento no trânsito de artis-
tas entre os dois universos (não apenas de cantores e atores, mas também
cenógrafos, figurinistas, ilum inadores, etc.), encurtando a distância entre
a música e o teatro. Natu ralmente, há compositores e encenadores que to-
mam parte neste fluxo, o que reflete, posteriormente, na sua capacidade em
dialogar dentro da linguagem do seu parceiro artístico durante a elabora-
ção dos espetáculos teatrais.
72
tt _
(Les Na uf ragés du Foi Espoir (Aurores). Jean-Jacques Lemêtre afinando um dos
instrumentos em seu Bureau para a apresentação que aconteceria dali algumas horas
- Sesc Belenzinho, outubro de 2011. Acervo pessoal Marcello Amalfi)
74
"No soleil, a ideia é de que não se vai a um espet áculo,
mas se vai ter uma experiência de vida"
I • •••••••••••••••
APRESENTAÇAo DO 2° MOVIMENTO
••••• • •••• • •• •• • •• • •••••••••• • • ••••
48 Frase proferida por Pícon-Vallin dia dezessete de outubro de 2011 durante o cur-
so que ministrou no Centro Cultural São Paulo, na cidade de São Paulo, intitulado Th éãtre
Du Soleil e Utopia. (origem: AMALFI, Marcello: anotação pessoal sobre o curso).
75
Tais mudanças fazem com que o di álogo criativo estabelecido entre o
compositor e o encenador se torne uma peça chave na artesania teatral.
Quanto melhor o seu desenvolvimento, maiores as chances de aproximação
entre as composições musicais e a proposta de encenação, ou seja, maior a
chance da coesão na estrutura do esp etáculo.
Entendo que a qualidade desse diálogo não está atrelada apenas à comu-
nicação de parâmetros técnicos entre seus interlocutores, mas também a
sua capacidade para compartilhar a visão que originará o espetáculo. Neste
sentido, a longevidade das parcerias pode ser um fator que contribui di -
retamente para o processo de criação da música do teatro. Será nas rela-
ções duradouras que encontraremos uma via de comunicação maturada
durante a elaboração de muitos espetáculos, fundamentada na experiência
conjunta de um aprendizado que passa a ser o alicerce da construção do
diálogo entre compositor e encenador.
Sendo assim, apresento um estudo sobre uma parceria artística que per-
manece prolífica há mais de trinta e seis anos, estabelecida entre o compo-
sitor Jean-Jacques Lemêtre e a encenadora Ariane Mnouchkine na trupe
francesa Théâtre Ou Soleil, um dos mais relevantes coletivos teatrais do
século xx.
76
...
77
há muito suor e trabalho. É necessário primeiro atravessar
alguns rios, desertos e algumas montanhas juntos. 51
,,
78
A CONSTRUçAO DA RELAÇAo COMPOSITOR/
ENCENADORA NO THÉÂTRE DU SOLEIL
••• • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • •
79
os dias o reen contro da música e do teatro. Faz 25 anos! Foi
um dos grandes enco ntros artísticos e afetivos para o Soleil e
para mim. 53
. 80
.....
81
Em Mephisto, eu provei a insatisfação quanto à escritura
que eu me propus, e me forcei a não cair mais no realismo.
Eu compreendi então que este espetáculo contemporâneo
que sonhei, eu talvez nunca realize: sem dúvida porque eu
não sou muito poetisa, também porque eu não consegui-
ria garantir a relação canto, música, palavra, de forma que
eu provei a vontade sem encontrar a resposta. Em seguida,
Jean-Jacques já estava presente, acompanhando o trabalho do
ator, mas é depois, com Shakespeare, que ele irá ocupar um
lugar específico. Desde então, os atores trabalharam como se
tivessem dois pulmões para respirar, o texto e a música, que
são sincronizados, mas não submetidos um ao outro. [...] Eu
conecto o trabalho da máscara com o trabalho da música.
Entre os primeiros pedidos que eu faço os atores, há aquele
de encontrar uma pequena música interior que correspon-
da à máscara em seus vários estados. A máscara atrai a voz:
quando o ator se deixa levar pela máscara, uma voz pode
nascer. Mas eu vou admitir, quando a música teve lugar, eu
não considerei que uma nova voz surgiria. No começo foi
agradável ter tambores onde você tinha que ter tambores-
foi lindo! - Mas nós não sabíamos muito bem o porquê. Ainda
era rítmico. Então percebemos que não somente a máscara,
mas a música também tornava totalmente impossível cair no
realismo ou no psicológico. Então, nós não estávamos mais
nos tablados do teatro, estávamos em uma plataforma curva,
no topo da terra. 55
82
tt-._ _
Em uma das muitas conversas que tivemos em 2011, Jean-Jacques Le-
mêtre me explicou que, do seu ponto de vista, aquela primeira experiência
criativa com a encenadora havia sido muito interessante, porém, limitada.
Não apenas porque a maior parte do processo de criação musical havia
ocorrido separadamente em seu estúdio, mas igualmente, por terem fica-
do exclusivamente a cargo da encenadora a escolha das músicas compos-
tas que fariam parte da encenação, e a forma como esta participação se daria.
Revelou ainda outro fato que o incomodou: a partir do momento em que o
espetáculo entrou em cartaz, a sua conexão com ele ficou restrita a algumas
informações que recebia através de ligações telefônicas de tempos em tempos.
attire la voix : quand l'acteur se laisse mener par le masque, une voix peut naitre. Mais,
je veux bien Iadmettre, lorsque la musique est intervenue, je n'ai pas pressenti qu'une
nouvelle voix allait se dégager. Au début, c'était bien agréable d'avoir des tambours là
ou ii fallait avoir des tambours - que c'était beau ! -, mais on ne savait pas três bien
pourquoi. C'était encore rythmique. Ensuite, nous avons compris que non seulement le
masque, mais la musique aussi rendaient totalement impossible la chute dans le réalisme
ou dans le psychologique. On n'était plus sur les planches du théãtre, on se trouvait sur un
plateau bombé, au sommet de la terre."
83
uns aos outros, ninguém trabalha sozinho no seu canto. É um
trabal ho de todos juntos. 56
84
E esse espaço tem algo a ver com o circo, o picadeiro, o anfi -
teatro: as orquestras ficavam sempre nestes lugares desde há
muito tempo. Uma espécie de tribuna deste tipo. Eu estava
lá no meu departamento, e depois ele teve que se adaptar. E,
simplesmente, ele me permite assistir, ver, porque para mim
é como um rio que flui abaixo com pequenos barcos que ten-
tam navegar. [...] Quando estou embaixo, eu não vejo bem as
entradas e saídas, enquanto lá, tudo está claro. Ele me permite
gerenciar o ritmo geral da peça: eu cruzo as músicas, eu fecho
uma cena, começamos outra, etc. Aqui, eu tenho uma posição
privilegiada para ser capaz de ver e ouvir tudo. 58
85
A interação do compositor com a encenadora e atores
a partir do palco
86
como complementar, como uma proposta a mais. Não tenho
que sublinhar, ilustrar o que o ator faz, minha conexão com
ele é estar ao lado dele, na mesma história, mas contando ou-
tras coisas. Num dado momento a música é o céu, em outro
o destino, em outro os deuses, em outro as estrelas, em outro
a paixão interior, em outro o sofrimento, em outro o solo que
vibra sob os pés porque um drama se prepara, enfim, imagens
bastante precisas do que a música quer contar, para além das
notas. Porque sem isso, há apenas notas. Se você toca essas
notas, precisa saber a que imagem sonora elas correspondem.
Sim, a imagem sonora transmitida. Por isso eu olho nos olhos
da Ariane o tempo todo: para perceber a reação ao que a
cena e os atores lhe enviam. Ela também me olha e isso me
basta para saber se esse é um bom caminho ou não, o que se
deve conservar e o que se deve jogar fora. O olhar serve para
perceber tudo isso. Então não precisamos nos falar. Tenho
carta branca total."
87
A ELABORAÇÃO DOS ESPETÁCULOS E ALG UNS CONCEITOS
DO THÉÂTRE DU SOLEIL
...................... ... ....... ...........,
• A criação prévia de temas musicais para os ensaios
88
Solei não funciona. [...] É por conhecimento que eu procuro
isso, não é para copiar e fazer no teatro. É simplesmente por-
que eu acabo fazendo a minha música com esses conheci-
mentos. O que permite que eu escreva uma peça em que haja
dois compassos onde você tenha impressão de que é um rock,
nos dois compassos seguintes parecendo uma música de Java
ou de Bali, e depoi s música chinesa, e depois música barroca,
e depois música de hoje. Podemos encontrar todas essa coisas
na minha música. Você pode encontrar uma música onde a
melodia é de inspiração turca, a harmonia é como Brahms,
por exemplo, e o ritmo por baixo é como a música indiana.
Então tudo é assim, a partir dos meus conhecimentos, mais
os sons dos instrumentos bizarros, estranhos - quando eu os
construo eles têm outro som, é outro trabalho. 63
89
A parte da criação continua a existir. O início do tema, por
exemplo, é o mesmo todas as noites. O atar o reconhece e sabe
que eu estou lá, com ele, e que eu não o engano. Mas para a
continuação, o trecho que se desenvolve adiante eu faço como
eu sinto, de acordo com a relação que eu tenho com o atar
aquela noite, na frente do público. Ele pode ser mais lento
ou mais rápido. O fim do trecho também varia a cada noi-
te. Não existe rotina. A rotina chega quando nos colocamos,
por exemplo, mecanicamente em quatro tempos e que dize-
mos "sobre o terceiro tempo, eu farei bum! " Lá, ao final de
quarenta vezes, nós vamos nos entediar e nos desconectar. 64
90
Durante as representações, Jean -Jacques Lem être permanece
em relação direta com a cena, com a ação, com a emoção
do ator, como o músico oriental que não deixa de seguir o
ator e por vezes se diverte com ele em um jogo de pergunta
e resposta: às vezes ele acelera o ritmo e o ator deve segui-lo,
às vezes o ator provoca uma ação e é o músico que de ve se
adaptar. Diferentemente dos músico s ocidentais de ópera, por
exemplo, Jean-Jacques Lemêt re nunca repousa os olhos em
uma partitura sobre uma escrivaninha, agarrando-se a um
regente. A partitura, o regente, são os ate res."
Acredito que o fato de possuir a encenação como base para os seus pro-
cessos de elaboração e execução contribui decisivamente para que a mú-
sica composta por Jean-Jacques Lemêtre venha a atuar naturalmente com
os demais elementos integrados à realização teatral dirigida por Ariane
Mnouchkine no Théâtre Du Soleil, chegando a estabelecer com eles uma
inter-relação muito íntima. Trata-se de uma espécie de simbiose teatral:
um fluxo harmônico de compartilhamento de parâmetros e características
entre os diversos elementos, que ocorre independentemente da natureza
ou localização dos elementos nele envolvidos (música, luz, figurino, texto,
movimentação, relações afetivas, realidades transpostas, etc.).
Ao meu ver, é através desse fluxo que a música composta por Jean-Ja-
cques Lemêtre fornece para as cenas dirigidas por Ariane Mnouchkine
parâmetros que estabelecem o seu caráter, a sua estrutura temporal, o seu
andamento, etc. E igualmente, no outro sentido, que as cenas fornecem à
música parâmetros para o estabelecimento de sua massa sonora, de sua
tessitura (baseada, também, na variação de atura das notas das vozes dos
atores em cena), dos momentos de entrada e saída, e assim por diante.
65 Tradução minha, a partir do original em francês: QUILET, 1999. p. 145. "Du -
rant les repr ésentations, Jean-Jacques Lemêtre reste en relation directe avec la sc êne, avec
Taction, avec l'émotion de Tacteur; comme le musicien oriental que ne cesse de suivre
l'acteur et s'amuse même parfois avec lui en un jeu de répons: tant õt ii acc élêr êle ryth-
me et l'acteur doit le suivre, tant õt l'acteur le provoque d'un geste et cesr au musicien de
s'adapter. A la dilférence des musiciens occidentaux dopéra, par exemple, Jean-Jacques
Lemêtre ne reste jamais les yeux rivés à une partition posée sur une purpitre, acrochés à
un chefd'orchestre. La partition, le chefdorchestre, cesr l'acteur."
91
Segundo o próprio Lemêtre: "H á um momento onde a música sai do ator
antes mesmo de sair da minha cabeça. É o que o ator me dá, ou o que a
diretora pede ao ator, que me permite poder tocar essa música" 66•
92
....
Desta forma, fica claro que o afastamento do realismo nas cenas cons-
truídas por Ariane Mnouchkine pode ocorrer "sobre um tapete" confeccio-
nado na medida de cada ator, como afirma o compositor: "Eu toco sobre o
corpo da atriz ou do ator, sobre seu ritmo. Isto é a improvisação controlada.
O início do tema do ator - o leitmotiv de sua personagem - é sempre o
mesmo, mas como no jazz, ele pode em seguida se modificar" 68.
Ao referir-se a este tapete como um Leitmotiv (recurso muito utili-
zado por Richard Wagner) que é gradativamente tecido através de uma
improvisação livre com base na observação da encenação em andamento (a
Composição Musical Ativa), Jean- Jacques Lemêtre nos revela um pouco da
lógica de construção da música no Théâtre Du Soleil, e também a pluralidade
de recursos que utiliza em suas composições. Uma conformação ampla,
onde ele não estabelece fronteiras de gêneros ou linguagens.
Esta abertura de possibilidades, que se estende para além das questões
práticas, englobando também a luteria, se torna uma ferramenta de trabalho
essencial na composição da música. Especialmente porque durante os pro-
cessos de elaboração teatral, a encenadora por vezes solicita ao composi-
tor/intérprete que a música adicione elementos às cenas, ou mesmo, que
destaque aspectos de elementos que por ventura já estejam em ação.
É interessante observar que ela não limita seus pedidos a elementos de
natureza musical, porque para ela os elementos nunca poderão ser realis-
tas, devendo sempre passar por uma transposição para serem incluídos nas
cenas do Théâtre Du Soleil. Desta maneira, a pesquisa musical de Jean- Jac-
ques Lemêtre nem sempre é pautada por parâmetros musicais tradicionais,
como relata o compositor/intérprete:
La musique n'est pas unfond sonore. Elle nepeut pa être réaliste. On doit créer nous aussi
de la magie. Quand j'entends un acteur entrer sur scêne et quej'entends le crissement de
ses pas, je sors. Ie sors, parce que je me dis que Tacteur n'entend même pas ses pieds! Ce
qui est beau, c'est lorsque les acteurs évoluent sur un tapis imaginaire. Et le tapis, c'est
la musique. alors, on n'entend plus leurs pieds. On na plus aucun repêre de réalisme, ni
visuel, ni auditif Ils sont comme sur des tapis volants."
68 Tradução minha, a partir do original em francês: LEM:f.TRE in LALUAS,
2003. "Ie joue sur le corps de r actrice ou de l'acteur, sur son rythme. C' est de l'impro-
visation contrôlée. Le début du thême de l'acteur - le leitmotiv de son personnage - est
toujours le même, mais comme dans le jazz, ii peut ensuite se modifier"
93
sentim ento. Portanto, ela conduz o ator. Às vezes ela é a noite
e as estrelas. Em outros momentos, ela é o vento, é o soprar,
estes são os Deuses que passam. Ela de ve transpor, porque
tudo é mágico sobre o palco. Após isso, é o trabalho. E depois,
há um a parte de mistério também, porque não controlamos
tudo. Há ainda uma grande parte de mistério. 69
• Mystê re (mistério)
Jean- Jacques Lern être, assim como Ariane Mnouchkine, utiliza o termo
Mystere (m istério) para descrever um importante elemento do trabalho
qu e realizam juntos: o " imp revisto", o que "não pode ser controlado", o
qual assume, de sde o primeiro momento, um papel crucial na constru-
ção das cenas.
Ele está presente, por exemplo, na imprevisibilidade que existe na
realização dos exercícios propostos pelos atores no início dos processos de
elaboração dos espetáculos, assim como na música que Jean-Jacques exe-
cuta sobre eles. Apesar de partirem de uma proposta pré-estabelecida em
muitos aspectos, o resultado prático dos exercícios somente são conhecidos
durante a sua realização. Questões como "Q ual será a concretização do
exercício no palco?': "Como ele se relacionará com a proposta de Ariane
Mnouckíne', ou mesmo "Como Jean -Jacques tocará a sua música" são
partes deste Mystêre que permeia a criação no Théâtre Du Soleil.
O elemento Mystê re se faz presente também na fase seguinte, quando a
encenadora passa a montar o espetáculo a partir de exercícios seleciona-
dos. Ele se destaca no diálogo criativo que a encenadora estabelece com o
compositor, especialmente em situações em que ela pede que a música leve
para a cena elementos que não são de natureza musicaL
94
.....
(Les Naufrag és du Foi Espoir (Aurores). Jean- Jaques Lemêtre e Marcello Amalfi. Uma
visita particular ao Bureau de Lemêtre - Sesc Belenzinho, outubro de 2011. Acervo
pessoal Marcello Amalfi)
95
artística com Ariane, o músico entende que o aprendizado permanece como
um processo constante, renovado a cada espetáculo, especialmente porque não
há.um único processo de elaboração teatral que seja igual ao outro.
Ao ser questionado sobre como funciona a rotina da trupe durante a
elaboração dos espetáculos, Jean-Jacques Lemêtre conta que há um ponto
em que ela não apresenta variação: a primeira atividade do dia no Thé âtre
Du Soleil é sempre uma reunião política com todos os integrantes da trupe.
Ela tem a função de iniciar as novas pessoas, franceses ou estrangeiros, na
política: "O que não está dando certo no mundo? O que não está funcio-
nando na França? O que, para nós, não está dando certo na Trupe?". Neste
momento também são tratadas as diferenças entre os integrantes. "Se vocês
quiserem se bater, é agora, mas o momento que nós entramos na sala é
sagrado", complementa.
96
....
97
De ntro dessa d in âm ica co le t iva o co m p osit or/ inté rp ret e já havia
ide ntificado, em uma entrevista de 2004 concedida à Béatrice Picon-Vallin,
o papel da encenadora com o de uma maestrina:
98
..
Concoctage
99
Nas palavras de Jean-Jacques Lemêtre, o processo de concoctage ocorre
da seguinte maneira:
100
....
101
conheço cada personagem e todos os atores que passaram por
esse personagem. Porque, por exemplo, se o personagem do
rei foi trabalhado por quinze atores e atrizes, isso quer d izer
que esse personagem foi alimentado por quinze pessoas. É
claro que há um momento em que fica evidente que é aquele
ator ou aquela atriz que vai fazer o papel. Mas eu, que estive
lá todo o tempo, eu sei como esse personagem foi construído,
eu sei de onde ele veio, conheço todas as suas facetas, seu lado
masculino e seu lado feminin o, seu lado terrível, seu lado
doce, seu lado pobre, seu lado rico, seu lado sujo... Então,
num dado momento, eu constato que a esse personagem
co rresponde esse tipo de timbre. Depois é preciso descobrir
se o instrumento que reproduz esse timbre existe, se existiu
algum di a ou se é preciso fabricá-lo. Então, ou eu pego o avião
e vo u buscar o instrumento ou o encomendo ou o fabrico ou
mando fabricá- lo. Eu gozo de um luxo terrível: abertura total
e ilimitada. O único comando que eu tenho é o de tentar não
me enganar m uito... Enfim, se eu preciso de tal instrumento
especificamente, não preciso dar muitas explicações. É claro
que não vou ped ir o grande órgã o da cated ral de São Paulo! 76
102
....
103
• L'image Sonore (A imagem sonora), a fusão dos processos criativos
104
reforçadas pela associação direta ou indireta que elas estabelecem com os
outros elementos da encenação capazes de "colocar" estas estrelas em cena.
Esse meu entendimento encontra uma fort e ressonância nas palavras do
compositor/intérprete:
lOS
Sobre como ocorre tal fusão, ou seja, com o as músicas inter-relacionam-
se tão profundamente com as cenas, Jean -Jacques Lemêtre explica:
1())
-------------------------------...
.........a
• L'évidence (A evidência)
[antasmes, ses images, etc. Ii fait son chemin. Moi j e dois découvrir tout ça et enri-
chir I'image qui est proposée. [e suis toujours parall êle, juste à cõté, en quelque sorte,
l' aura autour du personnage. Donc la situation, je dirai que je rn'en moque. Si le per-
sonnage est trernp é, nu, sous la pluie, c' est son probiême. Je ne vais pas jouer tremp é,
nu, sous la pluie avec la musique. D éjà parce que ça serait idiot, et ensuite parce que
je ne sais pas jouer trempé, nu, sous la pluie. le ne sais pas ce qu'on jou e. Je ne suis
jamais dans le bruitage cinématographique et je ne suis jamais dans ce rapport là.
Donc je ne m'em occupe pas. [e vois simplement la situation qui souvent a besoin d'un
coup de main pour être plus compréhensible, plus riche, plusfleurie. Mais je n'appuie pas
la situation, jamais. le suis plus destinal, je raconte le destin de ce personnage "
81 Tradução minha, a partir do original em francês: LEM~TRE in SINARD,
2009. "le suis à la merci des comédiens. le les ai conduit dans les improvisations comme
tapis volant, mais aprês, ce sont eux qui me conduisent: s'ils sautent des textes, qu'ils in-
versent des phrases ou des r épliques, ilfaut que je sois prêt à rebondir. le dois être comme
ça, toujours en alerte pour les improvisations. Et comme I'improvisatian est un mode de
travail pour moi, ça me gene pas, je trouve ça tout àfait normal. C'est à la fois comme de
la musique classique ; à un autre moment, c' est comme du jazz; et à un autre moment,
cest comme du rock. II y ades moments de partout, des moments d'universel."
107
Em uma entrevista concedida à pesquisadora romena Stefana Pop-Cur-
seu em 2011 , Jean -Jacques Lemêtre explicou o reflexo desta configuração
em sua relação com a encenadora Ariane Mnouchkine:
100
.....
100
o OFíCIO DE COMPOSITOR DE MÚSICA DO TEATRO
SEGUNDO JEAN-JACQUES LEM~TRE
•••• • • •••••••••• ••••••••••••••••••••••••••••••••• •
110
to soprando, pássaros cantando e, em seguida, continua). O
que eu faço se eu der uma ambiência? Tudo e nada, não im -
porta o que seja. Isto é uma tolice. Quando mais você está
em uma decoração tola, você tem a imp ressão de esta r em
uma opereta, ou uma coisa h iper-moderna de filme de fi cção
científica... para nós, pelo menos, não há a deco ração. O ator
é aquele que dá a sua decoração. Shakespe are: então você está
em uma taverna; então você tinha todos os caipiras que não
se conhecem, começaram a trazer cadeiras, mesas, coloque
o presunto... mas não, nos mostre você o presunto, nos mostre
você a mesa, nos faça ver as cadeiras! Como os atares asiáticos.
Você vê, há um adereço no palco, mas é mínimo. Você viu como
os atores japoneses do Kyogen bebem seu saquê. E você tem a
impressão que há toda uma taberna em volta, as pessoas qu e be-
bem, etc. E a música tem um sentido em tudo isso. É por isso
que eu tenho que me perguntar: o que eu estou fazendo aqui? A
que eu sirvo, o que eu digo naquela ocasião? 84
111
[...] E no teatro você pode fazer ouvir sons sem dar a ver a
imagem. Por exemplo, você pode fazer o som de sinos de
igreja, de um rebanho de vacas, de uma moto, do que você
quiser, mesmo que não haja a imagem real da coisa. No
cinema, isso já não é possível. Se você faz passar um carro,
tem que mostrar o carro ou então uma rua movimentada.
Senão vão te dizer: Por que você pôs o som de um carro se
não se vê nenhum carro passando? Muda tudo. Não se trata
da mesma poesia, da mesma magia. No teatro a gente admite
que as coisas sejam muito mais abertas, a gente trabalha mui-
to mais com o imaginário, o poético. E dissocia-se sempre a
trilha sonora dos ruídos da trilha musical. Menos Godard !
Godard tinha o melhor bruiteur (sonoplasta) do mundo, um
homem que compunha uma verdadeira partitura de ruídos
ainda mais complexa que a partitura musical: tudo estava
muito bem afinado, solidário do conjunto. Outra grande di-
ferença para mim são os andamentos. Podemos tocar muito
mais lentamente no teatro por exemplo. Já no cinema não,
porque no cinema você é dependente do ritmo da imagem,
de um enquadramento imposto. Já no teatro você pode olhar
para onde quiser, fazer seu próprio foco, seu próprio enqua-
dramento e depois voltar quando quiser ao plano geral. Isso
é impossível no cinema, você é dependente do pensamento
e do ponto de vista do montador ou da montadora. Existem
mil coisas diferentes nos dois contextos. No teatro a gente tem
muito mais tempo. O público de teatro trabalha muito mais,
enquanto que o público do cinema é mais passivo em relação
à imagem. É por isso que muitas vezes é preciso dinamizá-lo,
aumentar o ritmo para que ele se sinta menos passivo. Quantas
vezes eu saí do cinema ouvindo espectadores dizer «mas
como é lento esse filme, que tedioso». Por exemplo, quando
você vê um grupo de camelos atravessando lentamente a
imagem a partir da extrema esquerda do enquadramento, já
fica preocupado pensando em como vai ser tedioso se tiver
que assistir a toda a travessia em imagem fixa até a extrema
direita. Já no teatro, isso não é um problema. No cinema
112
....
você pensa: "não, eles não vão mostrar a travessia inteira dos
camelos, uma hora ou outra vão cortar e mudar de plano». No
teatro não há como "cortar". 85
113
quando não enxergam no s atores e atrizes os solistas da música do teatro.
Em suas palavras:
114
...
• 1979-1980 : Mephisto
• 1981-1984 : Cycle Shakespeare (Richard II; La Nuit des róis; Henry IV)
• 1985-1987 : I.:Histoire terrible mais inachevée de Norodom Sihanouk,
roi du Cambodge
• 1987-1988 : Elndiade ou l'Inde de leur rêve
• 1990-1994: Cycle des Atrides d'Eschyle (I.:Orestie d'Eschyle: Agamem-
nom, Les Choéphores, Les Euménides, Iphigénie à Aulis d'Euripide)
• 1994 : La Ville parjure ou le Réveil des Érynies
• 1995: Le Tartuffe de Moliêre
• 1997-1998 : Et soudain... des nuits d'éveil
• 1998 : Tambours sur la digue
88 Idem.
115
• 2003 : Le Dernier Caravansérail
• 2006 : Les Êphémêres, création collective
• 2010: Les Naufragés du Foi Espoir (Aurores)
• 2014 : Macbeth 89
116
(Jean-Jacques Lemêtre e Marcello Amalfi) Momentos antes de nos apresentarmos no
Teatro Paiol. Curitiba, 24/07/2012. Acervo pessoal Marcello Amalfi)
117
APRESENTAÇAO DO 3° MOVIMENTO
• • •• • • • • • • • • • • • • • • • • •• • • • • •• • • • • • •• • • • • • • • • • •• •••• •
119
SOBRE O MEU PROCESSO PESSOAL DE
COMPOSIÇAo DA MÚSICA DO TEATRO
•• ••••••••••••••••••••••••••• ••••• • • • • •• • • • • •• •• •• t ,
O SANTO PARTO
••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••• I
• Sobre o espetáculo
12D
(O Santo Parto, 2007. Flyer do espetáculo. Arte: Laerte Késsimos. Acervo pessoal
Marcello Amalfi).
121
A indicação de meu nome para a realização da composição musical
do espetáculo partiu do d iretor assistente, Ivam Cabral, com quem eu
já havia trabalhado anterio rmente em sua companh ia, Os Satyros. O
Santo Parto foi o primeiro de uma série de espetáculos que eu e Barbara
Bruno reali zamos juntos, predominantemente montagens teatrais dos
textos de Lauro César Muniz (A Pomba, 19 cm, Este ovo é um galo,
etc.), auto r qu e passou a ser um grande incentivador de meu trabalho
como co mpositor.
122
• As conversas iniciais sobre a música do espetáculo
123
também foi descartada. Após algumas possibilidades terem sido levantadas
e abandonadas, concluímos que a melhor opção era trabalharmos em
certos momentos com música gravada, e em outros com uma execução
ao vivo sobre uma base gravada (o que, durante a montagem, possibilitou
sobreposições muito interessantes, como no caso do "Réquiem do Cardeal':
"Rondó de Ogum" e "África Bachiana").
Ao final da primeira reunião com a encenadora, eu contava com um
conhecimento razoável sobre a proposta de encenação do espetáculo,
e também com uma série de referências para a composição da música.
Um material suficiente para iniciar imediatamente as pesquisas sono-
ras, e me preparar para a próxima etapa do trabalho: a participação nos
ensaios de cenas.
124
•
I
(O Santo Parto - foto de ensaio, janeiro de 2007. Teatro Satyros I. Acervo pessoal
Marcello Amalfi)
125
Ela possibilitou acompanhar a linha evolutiva de todos os elementos
e, ao mesmo tempo, o florescer de suas inter-relações indissociáveis. Esse
acompanhamento permitiu, entre outras coisas, decifrar simultaneamente
a tonalidade das vozes (do padre, do cardeal, etc.) e os aspectos rítmicos
de certos elementos das cenas (como o andamento geral da cena, os movi-
mentos de luz, etc.), que ao meu ver, possuíam um desenvolver musical e
estavam diretamente interligados aos personagens.
126
· o roteiro de música do espetáculo
Roteiro da T lil h,l Sonora Original
o SANTO PARTO
D~ Lauro César Muniz - direção Bárbara Bruno
Estr éia 04 de junho de 2007 - Espaço dos aryros I
127
• Análise do processo composicional de algumas músicas
do espetáculo
Entrada do público
128
da primeira composição, ela propõe a imagem sonora do encerramento da
missa, quando os fiéis, de saída, entoam um canto, e o padre retira-se da nave
central, entrando na sacristia (neste caso, o ator entrando no palco).
Os primeiros sons que ouvimos nessa música são três toques do sino da
igreja, que fazem o papel do terceiro sinal do teatro. Em seguida, o mesmo
órgão da música anterior, agora com um volume maior (devido a "h ipoté-
tica" abertura da porta da sacristia neste momento) e com o mesmo efeito
reverb, principia um acompanham ento para o canto do s fi éis que deixavam
a missa. Essa parte do canto do s fiéis, que foi previamente gravada, era re-
forçada ao vivo pelo elenco, à partir da coxia do teatro.
129
Colônia e o Brasil Império, adotei com o modelo seu maior expoente, o
Padre José Maurício Nu nes Garcia (1767-1830). Um fator que influenciou
essa escolha foi que José Maurício alcançou um êxito muito grande não
obstante ser mulato com ascendência escrava (o que era mal visto pela aris-
tocracia da ép oca) ao conquistar o apreço do Rei Dom João VI com sua
música litúrgica, o que definitivamente o aproximou do personagem Dom
Quirino, o qual durante o espetáculo tem um caso de amor com uma es-
crava revelado.
De acordo com a encenadora, a música do cardeal deveria ser impo-
nente, soturna, e refletir o peso da opressão que ele praticara durante sua
vida. Tais subsídios, somados a pesquisa histórica realizada, e ao momento
do espetáculo em que a música seria incluída, levaram à composição de
um Requiem nos moldes tradicionais do período em questão, cuja letra
utilizada é o texto original da liturgia católica, em latim. Sua realização no
espetáculo contou com uma base instrumental gravada com instrumentos
da época retratada: madeiras, o contínuo executado por um cravo, reforços
de cordas e um coro masculino, a qual deu suporte à melodia que foi canta-
da ao vivo pelo ator Walter Breda, e para a dobra do coro que foi realizada
também ao vivo pelo restante do elenco.
130
o SANTO PAR TO - Laura César Muniz Direç ão: Bárbara Bruno
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133
Rondó de Ogum
• Evocação (coro).
• Chegada (solo).
• Saudação (coro).
A riqueza com que Barbara explicara a sua proposta para esta cena faci-
litou muito a pesquisa de timbres e sonoridades. Logo que defini como ho-
rizonte a música popular brasileira, ela se desenvolveu especialmente foca-
da em composições que tratavam de temas ligados a religiões afro-brasileiras,
notadamente de artistas como Baden Powell, Clara Nunes, e também algumas
parcerias entre Vinícius de Moraes e Toquinho. Referenciar-me com tais mú-
sicas contribuiu não apenas para a escolha da instrumentação a ser utilizada
(violões e percussão - destacadamente atabaques e palmas), mas também com
a construção harmônica e melódica da composição. Contudo, a escolha da
configuração final do arranjo foi fortemente influenciada por uma obra em
especial, a "Suíte dos Pescadores': de Dorival Caymmi (1914-2008). Não obs-
tante abordar um tema diferente, a maneira através da qual narra a história dos
pescadores muito colaborou para que eu encontrasse a forma definitiva para
narrar a história de Ogum em minha composição. A realização do Rondó de
Ogum no espetáculo contou com uma base gravada com violões, contrabaixo,
coro e percussão afro. Sobre ela, o elenco realizou ao vivo as partes corais, o
solo (o ator Raoni Carneiro) e os atabaques. A partir desta composição a ence-
nadora construiu toda a cena, que também ganhou uma coreografia de Paulo
Goulart Filho.
134
o SANTO PARTO - Laura César Muniz Direção: Bárbara Bruno
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Po-vo de Cm - ban - da vem ver os ir-mãos teus. De • fu -ma c-!LSCS fi - Ihos nos ho-ras de Deus. O,
•gum é pai de tú., é Pai de tú é Rei Con - gá! OIhaO gum,_ Sl>I'ei a~ E·lc dá, c/c di olc dá... O-
•gum é pai de tú, é Pai de tú é Rei Con - gá! ().IhaO gurn, _ Sorci a! E·le dá, e-le dá e-le di...
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135
o SANTO PARTO - Lauro César Mun iz Direçã o: Bárbara Bruno
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vin - de, vin-de São Jor-ge no-sso pro-le • lar ! Ó vin - de, vin-de São Jor-ge n0-5SO pro -te • lar!
136
Àfrica bachiana
De acordo com a encenadora, a cena onde seria inserida essa música era
extremamente importante para o espet áculo, pois apresentava a revelação do
envolvimento amoroso do Cardeal Dom Quirino com uma escrava. Bárbara
Bruno pediu que a composição representasse musicalmente a história dos dois
amantes. Para tanto, a dividi da seguinte maneira:
• A chegada da escrava.
• O envolvimento dos dois.
• A escrava dominando o cardeal.
137
AFRIBACH
Maestro MarccUo Amalfi
(junho 2007)
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138
Uma vez solucionada a questão da sonoridade da escrava, encontrei
facilidade para seguir com a composição, na qual propus transpor musical-
mente um diálogo entre o cardeal (a música barroca) e a escrava (a música
africana), o que resultou em uma sobreposição e alternância de estilos, ca-
dências e melodias bem interessante.
Sua execução no espetáculo contou com uma base gravada (uma
orquestra barroca com o contínuo executado por um cravo, madeiras e
cordas - a sonoridade do cardeal), sobreposta por uma parte executada ao
vivo pelo elenco (coro em idioma africano - a sonoridade da escrava). A
cena recebeu ainda uma coreografia de Paulo Goulart Filho, além da sobre-
posição de alguns diálogos esparsos.
É importante observar que todas as frases melódicas eram por mim im-
provisadas naquele instante, partindo do que imaginava ter sido a musica-
lidade da oração no momento em que nascera, e propondo sua interpreta-
ção pelo padre no espetáculo. Ou seja, procurei realizar uma transposição,
e não uma recriação histórica. Nestes improvisos, comecei sempre com a
mesma nota e progredi sobre o modo menor, que eu busquei alterar de
forma a realizar intervalos sonoros que não existem na música ocidental,
mas que são característicos da música do oriente, como o quarto de tom e
o oitavo de tom.
139
o resultado final foi uma música executada a capella por uma única voz.
Na pós-produção da gravação, acrescentei-lhe uma certa quantidade de
efeito reverb, para produzir artificialmente a ambiência sonora de uma grande
caverna, o local onde imaginei que o tal "sopro divino" teria ocorrido.
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140
z
musicais" permearam toda a relação criativa que estabelecemos, pois esti-
veram naturalmente inseridas dentro do contexto da encenação que Bar-
bara propunha, e também em sua maneira de conduzir o processo de cons-
trução teatral. Tal musicalidade estabelece u uma ponte entre o trabalho da
encenadora e o meu trabalho de compositor, o que fez surgir a necessidade
do desenvolvimento de um vocabulário específico para nos comunicar-
mos. Algo que transitasse entre o idioma da encenação que ela falava e o da
música que eu conhecia.
A parceria artística com a encenadora Barbara Bruno durante a elabora-
ção de O Santo Parto transcorreu tão bem, que posteriormente voltamos a
trabalhar juntos em diversas montagens de textos de Lauro César Muniz, o
que foi tornando o nosso diálogo criativo mais ágil a cada nova experiência.
CATADORES
• • • • • • • • • • • • • • • • • • • •• • • • • • • • • • • • • • • • • • • •
• Sobre o espetáculo
141
,..
142
• Como o encenador/ator me transmitiu a sua vision (visão)
143
conhecidos no Brasil (provavelmente trazidos pelos artistas vindos da Eu-
ropa), e também sobre a presença de instrumentos criados nos circos a
partir de objetos inusitados, como latas, serrotes, etc.. Muitos desses con-
juntos valer-se-iam não apenas da formação instrumental, mas também
do repertório das bandas militares marciais, extremamente populares na
época, como referência principal. Assim, os ritmos mais frequentes nos
circos eram os ritmos brasileiros em voga, como lundu e maxixe. Também
era comum cantores de modinhas se apresentarem executando o próprio
acompanhamento. De fato, alguns palhaços cantores se tornaram muito
famosos naquele período em função de seus dotes musicais.
Direta ou indiretamente, todas as informações provenientes do estudo
sobre circo-teatro, incluindo aquelas que não tinham relação direta com o
universo musical, auxiliaram imensamente o diálogo criativo com o ence-
nador/ator. Especialmente porque em sua concepção cênica, fundamenta-
da na homenagem ao circo-teatro, ele adotou diversos elementos com os
quais eu tive o primeiro contato através da pesquisa.
144
q
do seu viés histórico e/ou cro nológico, mas tamb ém quanto ao seu papel
modificador nas cenas, e ainda como portador de signos e metáforas. Por
esta razão, passei a acreditar que o elemento tempo podia se tornar o eixo
comum entre o texto, as propostas e ideias do encenador/ator, e a música
que seria por mim composta.
Dentre as muitas formas disp on íveis para a navegação neste eixo, se-
lecionei a qualidade de sua repetição como chave para a composição da
música. Com essa chave, fui capaz de reforçar a questão da passagem do
tempo internamente em cada uma das composições, através da repetição
dos curtos temas nas músicas; e igualmente em seu aspecto global dentro
da encenação, através da utilização de uma mesma composição em diver-
sas cenas.
145
o terceiro personagem, o encenador/ator conseguiu não apenas viabilizar
outra solução para as intervenções de contra-regragem previstas pela auto-
ra, como também a execução ao vivo da música do espetáculo, uma forte
característica do circo-teatro que estava sendo homenageado.
[airo Mattos explicou que durante o espetáculo este terceiro persona-
gem, apesar de ocupar o palco, permaneceria invisível para os outros dois.
A despeito de três passagens preverem uma interação física e direta (o
desfile de abertura, o momento da canção A trova da tripa seca e a manipu-
lação do objeto de cena), ele utilizaria exclusivamente a sua música para in-
teragir com os demais. Além disso, seria caracterizado como a interessante
figura do homem-banda, que no espetáculo tocaria instru mentos musicais
de pequenas proporções, para incorporar a desproporção típica dos objetos
utilizados por palhaços.
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(Catadores, 2007. VEJA Recomenda. Marcello Amalfi, Paulo Gorgulho e Iaíro Mattos
em cena. Revista Veja, ed. Abril. Maio de 2007)
147
A construção da música juntamente com a construção da cena
148
..
149
A atribuição da aura mística abriu uma gama de possibilidades para
compreende-lo, que incluía desde imaginá-lo como um simples observador
até considera-lo o próprio destino. Ele podia ser também o protetor dos
catadores, seu titereiro, a vida, a morte, a amizade, um músico do circo
onde todos eles haviam trabalhado. Podia ser até mesmo um dos catadores,
imaginando o futuro ou relembrando o passado ao lado do amigo.
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151
minuciosa dos momentos que integravam a sequência, que identifiquei da
segu inte m aneira:
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VALSA PARA PESSOA Marcello Amalfi
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Música de trabalho
155
b) Uma vez que optei em utilizar na composição uma série diatônica e
não cromática, red uzi os números das letras até seu valor mínimo após
os valores múltiplos de sete:
T=6; R=4; A=l; B=2; A=l ; L=5; H=l; 0 =1
c) Igualei as notas musicais da escala maior natural a números:
DÓ =l ; RÉ=2; Mf=3; FÁ=4; SOL=5; LA=6; 51=7
d) Relacionei a sequê ncia numérica oriunda da palavra trabalho aos
números das notas, o que resultou a seguinte sequência melódica:
LÁ-FA- DO- RÉ-DO- SOL- DO- DO
e) A partir dela, compus a divisão rítmica:
~ -' L \.
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A
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156
b_-.:.....
...
Essa canção está prevista no texto, que além do título sugestivo, traz a le-
tra completa. Ela é o número musical que um dos personagens realiza para
relembrar a época em que cantava no circo. A orientação do encenador/ator
para a composição se fundamentou mais uma vez na descrição das marcações
da cena que ele pretendia realizar: um número de canto do palhaço interpre-
tado pelo personagem de Paulo Gorgulho, no qual seria utilizada uma ilumi-
nação especial. Além disso, iria contar como o homem-banda executando o
acompanhamento ao desfilar no fundo do palco. A partir das referencias e da
letra, a canção foi composta, apresentando duas seções distintas:
• Seção A:
Uma introdução, que procurei caracterizar como uma música trovado-
resca, com uma melodia diatônica executada em modo menor sobre a se-
guinte cadência:
V7 - 1m - V7 - Im - V7 - 1m - IVm - V7 - 1m
• Seção B:
Uma música de palhaço, em estilo muito próximo de uma marchinha
carnavalesca, com uma melodia alegre executada em uma tonalidade maior
homônima a tonalidade da primeira seção, sobre a seguinte cadência:
I - IV - I - 17 - IV - IVm - I - VI7 - Um - V7 - I
157
fi
em cartaz, a passagem da canção A trova da tripa seca foi uma das que mais se
destacaram, tendo sido aplaudida em cena aberta em muitas ocasiões.
158
q
ator Iairo Mattos e com Paulo Gorgulho, fizeram com que a execução da música
permanecesse "colada à cena" participando ativamente (e não passivamente) de
sua realização. Ser ao mesmo tempo o compositor do espetáculo e o personagem
homem -banda me possibilitou ainda ir além da mera execução das composições.
Eu cheguei ao ponto de promover em cena aberta, e de forma improvisada, mu-
danças profundas na música do espetáculo Caiadores, sobretudo durante a cena
final, cuja partitura de execução na guitarra infantil precisava estar sincronizada
com a execução das partituras de luz, do texto e da ação dos atores. Ao meu ver,
a possibilidade de manipulação da música em tempo real manteve o processo
composicional vivo e pulsante, assim como o diálogo criativo com o encenador/
ator Iairo Mattos, possibilitando o aprimoramento de aspectos musicais no de-
correr das temporadas, fazendo com que o andamento ideal e o volume ideal se
tomassem uma realidade cada vez mais próxima
Em uma análise geral, é possível observar que assim como ocorrera no
diálogo criativo com a encenadora Bárbara Bruno, o diálogo estabelecido com
o encenador/ator [airo Mattos não se pautou em questões de cunho musical,
apesar de envolver diretarnente a composição das músicas. Na montagem de
Catadores, as referências musicais muitas vezes estiveram inseridas dentro das
marcações das cenas que o encenador/ator propunha, de onde eram garimpa-
das para colaborar com a construção das músicas. Tal musicalidade estabele-
ceu uma ponte entre o trabalho do encenador/ator e o meu trabalho de com-
positor/intérprete, o que fez surgir a necessidade do desenvolvimento de um
vocabulário específico para nos comunicarmos. Algo que transitasse entre o
idioma das marcações de cena que ele destacava e o da música que eu conhecia.
OS POSSESSOS
. I' .•••••••••••••••••• •• •••• • • ••• • ••• • • • • •
• Sobre o espetáculo
159
• Ministério da Cultura . Funarte.
Commune eCentro de Aperfeiçoamento
Teatral. dentro do projeto
Geografia da Palavra. apresentam
a partir de 05/0712008
quinta asábado. 20h
domingo. 18h
entrada gratuita
Iretlrar ingresso 1hora antes)
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T"a.H.oo I
C· I J...... runarte
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161
resposta negativa, ele fazia questão de explicar do que se tratava, o porquê
aquele livro podia ser interessante para nossa montagem, e encerrava o as-
sunto com a frase "Leve, leia e somente traga de volta quando entender o
que ele está dizendo!"
95 Um fato marcou esta interação de forma especial. Uma vez que Antonio
Abujamra havia determinado que apenas os coordenadores das áreas iriam criar para
o espetáculo, Cyro e eu decidimos promover um contato mais intenso entre nossos
alunos, através da elaboração e produção de uma exposição de músicas compostas
pelos meus alunos para os estudos de cenário (na forma de maquetes) produzidos pe-
los alunos dele. Os resultados destas parcerias ficaram expostos no saguão de entrada
do teatro durante a temporada. Estiveram organizados em diversas estações contendo
uma maquete, um texto e um pequeno aparelho de som reproduzindo a música de
forma contínua. Além disso, Cyro DeI Nero chegou a realizar excursões com os alunos
ao Departamento de Artes Cênicas da ECA/USP, onde também era professor.
162.
D
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163
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A escuta ampliada, a elaboração e os testes dos rascunhos nas cenas
164
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165
IIIIIHA SONO RA OIIG INAI MAUlIIO MAIC W O AMAI "
U H l"C lIIO: (1; ") :) ~t" :C, I:JO>JC'~''':) ~ II TR AD. E ADAPI ' "" " ON IO ". ~ U .' ~ W! ~
DAI A" '.eRIII Jl l r-H '(; X'I~ l O CAL ' f lJw •.~ rr :;P' P "~)JFTO (:; r·:;:0 RM I/. 0 / . r-... . !.:, •.~. )
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• Uma visão geral da relação criativa compositor e
encenador/adaptador
• Sobre o espetáculo
174
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do SESC Vila Mariana, em São Paulo, dia 23 de julho de 2010. O elenco foi
formado por Helio Cícero, Daniela Duarte, Douglas Simon, Gabriela Flores,
Mariza Vírgolíno, Rafaella Puopolo, Marina Flores (criança). Participariam
da montagem Antônio Ianuzelli - [an ô (preparação de atores), Laura Carone
e Telumi Hellen (cenário e figurino), Domingos Quintiliano (iluminação) e
lzabel Hart (assistência de direção). Eu desempenhei a função de diretor mu-
sical, tendo composto a música original. Sobre o espetáculo, a página oficial da
"Companhia Teatral Arnesto nos Convidou" traz o seguinte texto:
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(As Folhas do Cedro, 2010. Flyer do espetáculo. Acervo pessoal Marcello Amalfi)
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177
Inverno, o barro rachava e cedia pouco a pouco, precisando ser
consertado. O dono da casa chamava seus vizinhos para se junta-
rem sobre a laje: segurando as mãos e formando uma fila batiam
com seu s pés sobre o teto de modo a reacomodar o barro. Com
o tempo, esse ritual de ajuda mútua se tornou conhecida como
Daloonah, uma forma improvisada de se cantar e dançar o dabke.
Além disso, instrumentos como o durbakke, nay e o mijwiz foram
incorporados a fim de estimular os homens expostos ao tempo
frio a produzir mais energia. Com o passar do tempo, o Dabke se
tornou uma das mais famosas tradições do Líbano,"
178
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como base seus aspectos históricos e psicológicos. Foram criados "eixos
de sonoridades" dos personagens Filha, Pai, índia e Mãe. Estes eixos foram
definidos por múltiplos elementos, como subsídios do texto, a colheita de
informações com os atores e com o encenador, cenário, luz, figurino, etc.
O momento seguinte foi marcado pelo início dos ensaios de cenas do es-
petáculo , quando finalmente puderam ser observadas concomitantemente
as trê s etapas do meu processo de composição musical: a escuta ampliada,
a elaboração dos rascunhos musicais, e o teste do material nas cenas.
129/06/2010)
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(As Folhas do Cedro, 2010. Roteiro de música. Acervo pessoal Marcello Amalfi)
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181
fundo da cena (o que resultaria de uma leitura rasa da música e da cena),
mas como a paisagem sonora da dimensão onde este Pai se encontra, po-
voada por lembranças de sua terra natal.
A chegada da mãe
101 Idem.
182
..
A dança mística
183
de uma realidade que se revela implacável. Tal expressão me impulsionou
a criar a música por conta própria, antes mesmo de saber se ela de fato iria
dialogar com a encenação que estava ainda no início de sua elaboração.
Posteriormente, já durante a etapa do s ensaios de cena, ao assistir aos
personagens Pai (Hélio Cícero) e Filha (Gabriela Flores) desenvolverem
uma ação em qu e a filha leva lentamente uma cadeira para o Pai, que depois
perman ece sentado enquanto ela sai de cena, eu reconheci nos olhos do
personagem Pai a mesma expressão que eu reconhecera tempos antes, no
estudo que aquele mesmo ator havia apresentado. Prontamente registrei a
cena em víde o, que levei para o estúdio e utilizei como base para finalizar o
rascunho até então inédito para o encenador.
Na composição resultante há apenas um piano, que eu utilizei para
transpor ao palco o sentimento do personagem Pai, e uma única nota que
ent ra como um pedal sobre o tema B, executada por um naipe de violinos,
que utilizei para transpor ao palco o sentimento da personagem Filha. A
música que o piano executa é, na verdade, a própria "música interna" do
personagem Pai, que à primeira vista parece firme, mas que no entanto ti-
tubeia, por vezes vacila, parece "perder o tempo". Já a música que o naipe de
violinos executa é a música interna do personagem Filha naquele momento
do espetáculo: uma única nota, firme, e também fria, imutável. Uma nota
(sentimento) que não progride e tão pouco regride em relação ao piano
(Pai) , mas que nunca deixa de ter uma relação direta com ele, quer seja de
consonância, quer seja de dissonância.
Após sua conclusão, apresentei a composição ao encenador/dramatur-
go e sugeri em qual cena testa-la. Com o resultado alcançado no teste, a
composição foi prontamente adotada para o espetáculo. Posteriormente,
ele comentaria que a cena havia se transformado em um momento muito
importante para o espetáculo, pois apresentava uma virada fundamental
para o desenvolvimento da história dos personagens, o que a música acom-
panhou muito bem.
184
•
185
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APRESENTAÇAO DO 4° MOVIMENTO
•• • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • •
187
Devemos também mant er em perspectiva o fato de que dois processos
de com pos ição musical po dem apresentar diferenças fundamentais entre si
em função do universo no qual ocorrem. Em um contexto como a criação
de um a peça sinfônica, orquestral ou de câmara, a música tradicionalmente
nasce em uma dinâmica que envolve um único criador, que elabora a com-
posição utilizando somente eleme ntos de natureza acústica, que se inter
-relacionarn de forma indissociável du rante a realização da obra. Por outro
lado, em um contexto como uma montagem teatral, a música pode nascer
em uma dinâm ica que envolve múltiplos criadores, dentre eles o composi-
tor que, neste caso, precisa elaborar a sua contribuição (a composição mu-
sical) considerando como matéria prima, além dos elementos de natureza
acústica, os outros elementos de diferentes naturezas, formatos e funções
que integram a encenação, uma vez que estes igualmente se inter-relacio-
nam de forma indissociável com os sons durante a realização da obra.
A observação desses fatos reforça a ideia de que constitui-se um erro
ponderar sobre uma música que foi composta nos moldes daquela criada
por Jean-Jacques Lemêtre no Théâtre du Soleil (ou seja, com o seu processo
de criação ligado umbilicalmente ao processo de criação da cena) da mes-
ma maneira que se pondera sobre uma música do teatro que foi composta
através de um processo criativo "em separado, como predominantemente
ocorria na prática de outrora': mesmo que ambas as músicas tenham sido
compostas na manhã de hoje.
Não desejo postular a existência de uma evolução (ou involução) no
processo de composição musical do teatro, tão pouco que uma dinâmica
é melhor ou pior que a outra. Estou colocando que, ao meu ver) esses pro-
cessos composicionais apresentam diferenças fundamentais entre si) que
surgem em função do paradigma 102 ao qual estão ligados.
Conforme demonstrado no primeiro estudo apresentado neste livro) o
paradigma onde a encenação é entendida como "a realização que envolve
uma série de eventos concomitantes" apresentou seus primeiros indícios
há muito tempo, podendo ser identificado no trabalho de autores impor-
tantes do passado, como por exemplo) no do compositor) diretor de teatro
e ensaísta alemão Richard Wagner. Responsável por todos os aspectos das
montagens de suas criações (denominadas por ele como drama em música),
188
...--
•
Wagner direcionou sua vida para a tentativa de produzir uma obra que
alcançasse o equilíbrio perfeito entre as formas de arte, a Gesamtkunstwerk,
um termo que é frequentemente traduzido com o "obra de arte total': "obra
de arte coletiva" ou "obra de arte comum". Em suas palavras, "No drama, o
objetivo de cada variedade artística individual é completamente alcançado
somente pelo entendimento mútuo e a cooperação inteligível de todas as
variedades art ístícas'"?' . De acordo com esse paradigma, metaforicamente
diríamos que:
Participar do jogo teatral é como observar uma imagem projetada através
de um caleidoscópio no qual o encenador inseriu "pedras", que foram colo-
ridas separadamente por diversos artistas (como, por exemplo, o compositor
musical, o cenógrafo, o iluminador, o dramaturgo). A cada giro do caleidos-
cópio, tais pedras (a música, o cenário, a luz, o texto) se organizam aos olhos
do espectador, todavia, sem se afetarem ao ponto de alterarem -se intimamen-
te (sua cor, sua anatomia, sua partitura individual), mantendo claramente
seus limites durante a projeção.
Entretanto, os processos de composição da música do teatro começa-
ram a se mover na direção de uma conjunção com os processos de criação
da encenação a partir do momento em que a "bus ca por um equilíbrio in -
teligível entre as formas artísticas", da qual Richard Wagner lançava mão no
século XIX, passou a dividir a atenção dos artistas criadores com a "busca
por uma inter-relação profunda" dessas formas. Caminhando no sentido
da "criação de uma liga" e não mais de uma "co-atuaçã o" claramente deli-
mitada, tal aproximação se tornou muito intensa, como aponta Fabio Cintra:
189
ação. Ambos consideram a música uma parte importante da
formação do ator, uma vez que tempo e ritmo são conteú-
dos específicos do aprendizado musical, e preconizam uma
atuação que se apoie na consciência do tempo e do ritmo como
elemento estruturador e organizador tanto do discurso cênico
do ator qu anto da própria encenaç ão.'?'
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2
191
música co ncreta. (na ocasião, tive meu primeiro contato com as obras de
Arnold Schoenberg, Edgard Varr ése, Charles Ives, Benjamin Britten, Mur-
ray Sch afer, Luciano Berio e [onh Cage) . A intensidade da vivência paralela
nos dois universos levou natu ralmente ao estabelecimento de uma ponte
entre o ap ren d izado music al e o incipiente trabalho que eu realizava como
co mp ositor de música do teatro, patrocinando inúmeras descobertas.
Dentre as primeiras descobertas que tal ponte propiciou, certamente a
mais transformadora foi compreender que as mudanças que percebia em
m inhas composições ocorriam porque, invariavelmente, toda música ao
tomar parte em um espet áculo, se inter-relaciona de maneira indissociável
com os demais elementos da encenação para "com eles" e "através deles"
construir significado e significantes. Podendo estar localizada durante a
realização da música, ou de forma expandida, na totalidade da encena-
ção, essa inter-relaç ão decore de uma surpreendente ampliação na capa-
cidade ilustrativa e na potencial portabilidade que a música apresenta no
instante que ela integra uma cena, quando passa a jogar com elementos
como a tonalidade das vozes, a sincronia com outros eventos, a trajetória
de construção dos personagens, o significado das falas e dos movimentos
para todo o drama, etc..
A percepção dessa ampliação desencadeou minha primeira investiga-
ção bi-lateral do elemento música nos dois contextos distintos, o musical
e o teatral. Observei que no contexto musical, recebeu numerosos estudos
que partiram de ponderações sobre o seu significado através dos tempos.
Uma das ideias mais influentes e ainda presente foi sintetizada por Arthur
Schopenhauer (1788-1860) ao escrever:
192
bn
•
193
situaçóes de Pl":! lJr1I1III/CC m usical para mostrar o quanto se
pode ver na mús ica dl' um modo indireto e que os compo -
nentes im ag, étic os da lin "-gu agem
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musical tnodern ser de irn-
po rtâ nc ia fund am enta no processo de compreensão do seu
pró p rio d iscurso. Para o auto r, música é algo notadarnente
corpóreo: "Justame nte porqul' o so m é ab strato, intangível e
et éreo [...] a experiência visual d e sua produção é algo crucial
para que, tanto os músicos quanto a audiência, possam
situar e comu nica r o lugar da música e do som musical
~
194
bn -d
percebido desde o primeiro trabalho no teatro as tais inter-relaç ões, so-
mente após as descobertas advindas da ponte entre teoria e prática passei a
considerar formalmente na estrutura das minhas composições não apenas
os elementos acústicos inerentes a música (como notas, instrumentação,
andamento, etc.) mas também os elementos extra-musicais pertencentes a
-
encenaçao.
Posteriormente, percebi que ao promover esta ampliação na escuta e na
produção da música do teatro eu havia estabelecido um novo paradigma
para minha prática pessoal como seu compositor, agora baseado na exis-
tência da recém compreendida inter-relação. Sob a luz desse novo paradig-
ma, a metáfora do caleidoscópio teatral aplicada a ela ficou assim:
Participar do jogo teatral é como observar uma imagem projetada através
de um caleidoscópio no qual o encenador inseriu "laminas de celofane", que
foram coloridas conjuntamente por diversos co-criadores (como, por exem-
plo, o compositor musical, o cenógrafo, o iluminador, o dramaturgo). A cada
giro do caleidoscópio, tais lâminas se inter-relacionam indissociavelmente aos
olhos do espectador mantendo sua individualidade (a música não deixa de
ser música, o cenário não deixa de ser cenário, a luz não deixa de ser luz, o
texto não deixa de ser texto), todavia, afetando umas as outras ao ponto de
alterarem-se intimamente (sua cor, sua anatomia, sua partitura individual),
eliminando seus limites durante a projeção.
A HARMONIA
• I •••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••
195
contarem com muita experiência ou conhecimento profundo no assun to
musical, o resultado de suas contribuições muitas vezes me impressionava
e, ao mesmo tempo, me deixava muito curioso. Afinal, de alguma maneira
a música havia sido criada" e estava cumprindo muito bem suas funções
no palco. Mas de que forma isso ocorrera? O próximo passo foi procurar
um sistema onde a música do teatro pudesse ser analisada estruturalmente.
Àquela altura, meus estudos já haviam demonstrado que a composição
e analise musical no ocidente é realizada, na maioria dos casos, com base
em sistemas lógicos (como por exemplo o sistema tonal, o serial, o polito-
nal, o dodecafônico, o contra-ponto palestriniano puro), e que cada um
desses sistemas constitu i um campo de estudos muito específico, com suas
próprias regras e particularidades. No entanto, ao examina-los detalhada-
mente sob a perspectiva da música do teatro, observei que uma caracte-
rística comum a grande ma.ioria é ter em seu escopo apenas componentes
de natureza acústica (altura., duração, dinâmica, intervalos, cadências, fre-
quências, texturas sonoras, etc.) e as relações entre eles estabelecidas. Ou
seja, uma característica que inviabiliza a sua aplicação na música criada no
uni verso teatral, uma vez que ela é, ao meu ver, o resultado da somatória de
elementos acústicos com elementos de naturezas distintas, como a ilumi-
nação, o gesto, o cenário, a "salada interna" do personagem, etc..
Apesar do resultado inicial ser pouco animador, com o progresso da
imersão, especificamente enquanto me debruçava sobre o conceito har-
monia, me deparei com urna característica que suspeitei ser a chave que
possibilitaria a sua transposição para o contexto teatral: a maneira que ele
administra relações . entre eventos simultâneos, as chamadas relações har-
m ôuicas' !", que aparentemente poderia ser aplicada de forma similar em
ambos os contextos - o musical e o teatral (trata-se do particípio synarmos-
th énta, como veremos adiante). Essa suspeita foi suficiente para patrocinar
um estudo mais profundo sobre tal conceito.
Descobri muito cedo que~ o termo harmonia, o qual vem sendo aplicado
por meio de um vasto espectro de possibilidades e interpretações desde
há muito, transcende barreiras geográficas e temporais, e figura como um
veículo para ideias e conceitos de variadas formas e naturezas. Todavia, ele
110 No universo musical uma relação entre elementos (no caso, os sons) pode
ser classificada, entre outras classificações, como melódica (quando é uma sucessão de
eventos, expressando uma horizontalidade) ou harm õnica (quando é uma simultanei-
dade de eventos, expressando uma verticalidade).
1%
ftt ...
não é tradicionalmente um po nto de consenso, como observa o musicólogo
e compositor francês Jacques Chailley:
111 "Quando nos referimos à palavra enquanto índice da ideia que ela representa
(ou seja: quandofalamos do sentido por trás da palavra escrita ou falada), estamos nos
referindo ao aspecto interno ou representação imaterial da palavra, e a este aspecto in-
terno, imaterial, damos o nome de termo': Napoleão Mendes de Almeida. Gramática
Metódica da Língua Portuguesa. 45. ed., São Paulo: Saraiva, 2005. Pág. 18. ISBN 978-
85-02-05430-1
197
"presilhas" ou "encaixes': 2) na poesia e/ou filosofia, Harmo-
nia/ harmonía era uma Deusa, personificação ou força, 3) na
terminologia musical, harmoníai eram as antigas "escalas" e, mais
tarde, o sistema de escalas. Esses significados se acumularam e,
após certo período, passaram a coexistir. (CORRÊA, 2008, p.7).
198
tnz
Embora o ressurgimento!" da escrita, e especialmente da prosa, es-
tarem frequentemente associados à origem da fil osofia na Grécia ant iga,
não sabemos com certeza em qual das formas muitos autores escreviam.
Mesmo com a prosa sendo estabelecida como a sua forma mais comum,
não é possível afirmarmos que ela foi o fator decisivo para o surgimento
da filosofia. É muito provável que na época, a escrita fosse ut ilizada não
para compor, mas para preservar textos compostos oralmente. Destaca-se
também o fato de que este reaparecimento da escrita está inserido em um
cenário mais amplo de mudanças ocorridas durante aquele período. Mu-
danças de âmbito social, político e religioso. Presume-se que naquela época
havia uma tendên cia para a inovação da forma do pe nsamento no sentido
do racional, secular e abstrato. Ou seja, um processo mais complexo do que
o simples abandono do mito e da personificação. Neste.cenário, Harmonia
assumiu uma multiplicidade de atribuições:
112 Após o fim da civilização micénica, entre 11 00 e 800 a.C; a civilização que
futuramente seria a grega viveu um período chamado Idade das Trevas, quando den -
tre outras mazelas, perdeu-se o conhecimento da escrita.
113 Poema épico do séc. VII aC., que narra a criação do mundo, a genealogia dos
Deuses gregos e a ascensão de Zeus ao poder, tradicionalm ente atribuído a Hesíodo, e
que tem o próprio autor como narrador.
114 Afrodite era casada com Hefesto.
199
Cadmo serviu ao deu s [Ze us] como escravo. Terminado o
"rito iniciático", Zeus lhe deu como esposa Harmonia, filha de
Ares e Afrod ite. Cadmo reinou longos anos em Tebas. De seu
casamento com Harmonia nasceram Ino (Leucotéia), Agave,
Sêmele e Polidoro. (BRAN DÃO, 1987. p,42)
200
Itt d
..
201
não entretenimento. Por sua vez, a função prim ária da poesia
tradicional, mesmo da chamada poesia "didática" era a de en-
treter. Os poem as eram recitados ou cantados com acompa-
nhamento m usic al, com ou sem dança, em reuniões menos
formais ou em festas religiosas e cívicas, e em competições
literá rias. Mais tarde, tornaram-se textos, estudados em sala
de aula, mas não foram originalmente compostos para este
fi m . (CO RRÊA 2008, p.19 )
115 Uma hipótese existente sobre o surgimento deste interesse específico pela
realização musical versa que ele foi suscitado pela ocorrência dos primeiros concertos
protagonizados por instrumentos de sopro. Precisamente porque os demais instru-
mentos daquele período - percussão e cordas - permitiam que o seu executor realizas-
se atividades musicais conjuntamente com outras atividades, como canto e/ou poesia,
sem necessitar de um acompanhante, enquanto que um artista com um instrumento
de sopro precisaria sempre de outro para recitar os poemas e/ou executar os cânticos.
202
..
pitagóricos e pelos harmonicistas. Todos esses fatores contri-
buíram para que a música se tornasse simplesmente a arte dos
sons independente da poesia e da dança. (Michaelides, 1978,
p. 213-2 16, apud ROCHA, 2009 p. 139)
203
uma organização particular dos intervalos, ela tinha também
altura, modulação, colorido, intensidade e timbre específicos.
A uma harmonia estava associado também um certo ritmo. ~
possível ainda que houvesse fórmulas melódicas que se repetiam
e identificavam cada harmonia. Isso nos é sugerido pela
equivalência existente em alguns poetas entre melos (melodia)
e harmonia. Como no fragmento de Laso de Hermíone citado
acima, os autores antigos costumavam qualificar uma harmonia
com adjetivos que indicavam uma origem geográfica e cultural.
Existiam as harmonias eólica, lídia, frigia, dórica e outras, cada
uma com seu conjunto de características. Platão, na República,
398e-399c, nos diz que as harmonias sintonolídia e mixolídia,
variações da harmonia Iídia, eram lamentosas. A jônica e a lídia
eram relaxadas e adequadas aos banquetes, enquanto a dórica
era viril e grave e a frígia era pacífica e persuasiva. Heráclides do
Ponto também fala das características de algumas harmonias. A
dórica seria viril, austera e de caráter forte, enquanto a eólica teria
uma solenidade imponente e a jônica seria nobre sem perder a
dureza das melodias mais antigas.(ROCHA, Roosevelt. pg.5ü
d
e estudo d as relações matemáticas ex iste ntes nos fenômenos
acústicos.
(c. 582 - 500 aC.) para estudo e cálculo das relações entrevibrações sonoras.Na Idade Média era
também usado para a afinação da voz e de outros instrumentos. (Novo Dicionário Aurélio da
Língua Portuguesa, org. Aurélio Buarque de Holanda Ferreira, Nova Fronteira, Rio de Janeiro,
z- ed. ISBN 85-209-0411-4)
205
Uma confirmação disso é o fato de encontrarmos basicamente dois tipos
de títulos nos escritos da Antiguidade (e também idade média): os tra-
tados, que se intitulam De Musica (como Plutarco, Filodemo, Iohannes
de Groccheo - este último autor do século XIV) , abordam a música em
um sent id o amplo, passando pelos aspectos específicos, assim como os
metafísicos, filosóficos, entre outros; em contrapartida, o Elementos har-
mônicos (Aristóxeno) e Le Instituitioni Harmoniche (Z. Zarlino, século
XVI) , que se atém quase que exclusivamente aos aspectos teóricos técni-
cos . (TOM ÁS, 2002, p. 43)
A HIPÓTESE DA MACRO-HARMONIA
• • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • I
..
de acordo com a "vibração coletiva" que naturalmente estabelecem entre
si, influenciando e sendo influenciados uns pelos outros (por exemplo, a
música em relação a encenação, a luz em relação a encenação, etc.). Poste-
riormente, quando fiz a conexão entre essa compreensão sobre o funcio -
namento de uma realização teatral, e o meu conhecimento prévio sobre o
funcionamento de um realização orquestral, passei a enxergar que elemen-
tos de uma encenação interagem como linhas melódicas, se contrapondo
individualmente em sua horizontalidade (como um violino que dialoga
com uma flauta em uma sinfonia) , ao mesmo tempo que desenvolvem har-
monicamente uma textura coletiva em sua verticalidade (como o conjunto
dos sons construindo a progressão de acordes e cadências da sinfonia).
Uma vez que, durante sua evolução histórica, o conceito de harmonia
musical manteve em sua natureza a questão das relações entre elementos
contrários (o particípio synarmosthénta), independentemente do sistema
onde figurou (diatônico, tonal, atonal, serial, microtônico, etc.), a ideia de
que a mudança em um elemento da encenação afeta todos os demais ser-
viu como uma ponte para que o conceito harmonia chegasse até a minha
produção musical no universo teatral. Porém, para atravessar tal ponte, ele
precisou cavalgar sobre uma mudança fundamental: a ampliação de seu es-
pectro de atuação a fim de abarcar, além dos fenômenos de natureza acús-
tica, todos os demais elementos da encenaç ão!" , o que paradoxalmente,
119 Antes de prosseguir com a construção desse pensamento, acredito ser im -
portante iluminar certos pontos. Naturalmente, o que estou afirmando aqui não é que
anteriormente ao surgimento da figura do encenador moderno, os processos composi-
cionais da música não levavam em consideração a iluminação, o cenário, o figurino, etc.
Tão pouco, que na realização das óperas e espetáculos teatrais frutos desses processos
não havia a ideia de uma interação entre a música e a encenação. Da mesma forma, não
estou especulando se este ou aquele pode ser melhor ou pior que o outro. A esta altura
do estudo, espero que já esteja claro ao leitor que estou fazendo aqui uma explanação
sobre minha prática pessoal, suas origens e implicações no meu pensar e atuar no uni-
verso teatral. Por esta razão, as ideias e propostas aqui colocadas se apresentam imbuídas
do meu olhar e experiência, se amparando em estudos e observações, e igualmente, na
reflexão de uma história pessoal de mais de vinte anos no ofício de compositor de música
do teatro, que pouco ou nada dialoga com a perspectiva de que "as artes se expressam no
palco de maneira concomitante porém independente, e somente a partir do equilíbrio
dessas diversas expressões individualizadas é possível chegar a uma obra de arte verda-
deira, total': Ou seja, com a publicação deste livro almejo, sobretudo, compartilhar uma
busca pessoal por acompanhar as transformações estruturais observadas em processos
criativos e na relação com outros criadores, e não estabelecer verdades ou postulados
para quem quer que seja. Deixemos isso para os verdadeiros gênios!
pode apontar para uma curva de retorno em direção à origem grega deste
conceito, especialmente para a forma como ele era entendido por Pitágoras
e Platão, entre outros:
c Am?
"'t""""""'"' ...'----1 dó ~r--.&..---1 dó
~--1 !M)1 ~~~-4 ~.....- - t wl
'--~ml -..;~:.....~ l---.J mi
dó - III
......... 1
Neste exemplo, a relação harmônica é estabelecida entre elementos si-
multâneos de natureza exclusivamente acústica (as diferentes notas mu-
sicais executadas por um grup o de instrumentos variados), e tem como
resultante o acorde Dó Maior (C) . Ap esar de promovermos a alteração em
apenas um do s elementos (a nota dó grave que foi alterada para nota lá no
exemplo lB), a relação harmônica estabelecida pelo conjunto de elemen-
tos passa a resultar no acorde Lá menor com sétima menor (Am7), o que
representa uma grande mudança do ponto de vista do conjunto sonoro, da
escala, e também do seu afeto'".
(exemplo 2A)
r - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - ~ - - - - - - • - - - - - - - •
parto
r - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -,
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MUSICA
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(exemplo 2B)
~---- -- ----------- ------------- ---- ----- .
A(;Ao I'" orto r '
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lI.'It'JSIC/\ (
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DI: CENA ( •
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:I ·• ~ o
~
o
210
d
Neste exemplo, assim como no anterior, uma alteração em apenas um
dos elementos foi responsável por uma mudança significativa em todo o
conjunto, não obstante estarmos agora em um contexto teatral e lidarmos
com um conjunto formado por elementos de diferentes naturezas. Ao
checarmos o que ocorreu com a música, verificamos que, apesar dela não
sofrer absolutamente qualquer alteração do ponto de vista sonoro ou da
escala, certamente teve alterado o seu afeto. Ou seja, o exemplo demonstra
que a alteração em um elemento da encenação teatral pode ser capaz de
mudar também a música que nela está inserida, mesmo que tal alteração
venha a ocorrer fora da estrutura sonora dessa música (sons, notas, etc.).
Não obstante os exemplos apresentados constituírem trechos isolados
e fora de contexto, eles conseguem evidenciar que o conceito harmonia
do universo musical pode ser igualmente aplicável à música do teatro em
razão do seu particípio synarmosthénta. Contudo, deixam claro também
que para que isso ocorra, devemos manter em perspectiva a ideia de que
a estrutura da música que participa de uma encenação extrapola os tradi-
cionais componentes acústicos (as notas, ruídos, etc.), e abarca também
os demais elementos aos quais ela é naturalmente associada em cena (os
gestos, a luz, o cenário, texto, a trama, a intenção do personagem, etc.),
fazendo com que haja uma real ampliação das relações harmônicas sobre
as quais está constituída.
Uma vez que a transposição do conceito harmonia para o meu processo
pessoal de composição de música do teatro teve como veículo principal
uma ampliação quanto à natureza dos componentes que ele passa a consi-
derar integrantes da estrutura da música que é parte de uma encenação, eu
adotei a nomenclatura macro-harmonia para o novo conceito que surgiu.
Reflexões posteriores sobre a origem e o desenvolvimento da macro
-harmonia levam a crer que ela se estabeleceu em minha prática como uma
nova e eficaz ferramenta no decorrer dos anos. Viabilizou a transposição e
aplicação de muitas ideias e procedimentos anteriormente ligados ao con-
texto do universo musical, como por exemplo, o acorde macro-harmõnico
(a construção de uma cena envolvendo o manejo consciente de elementos
com diferentes naturezas), a progressão ou cadência macro-harm ônica (um
sequencia planejada de acordes macro-harmônicos), o arranjo macro-har-
mônico (a atividade que envolve criadores de diferentes especialidades),
a poli macro-harmonia (encenação que apresenta uma multiplicidade de
211
cenas simultâneas, cada qual com um centro macro-harmônico próprio),
a análise macro-harm õnica, o mapeamento macro-harmônico de um espe-
t áculo, a percepção macro-harmônica (a escuta ampliada), etc.
Uma vez que pôde ser demonstrada como possibilidade para a analise
de uma música do teatro como aquela que Jean-Jacques Lemêtre compõe
no Théâtre Du Soleil, concluo que, no âmbito externo à minha prática pes-
soal, a macro-harmonia constitui-se como um admissível campo no qual o
compositor e o encenador podem estabelecer seu diálogo criativo durante
o processo de elaboração dos espetáculos.
212
d
••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••
Por fim, espero que este livro possa colaborar com a discussão sobre o
papel da música dentro da atividade teatral, e tamb ém com o estudo do
diálogo criativo entre o compositor e o encenador durante a elaboração
dos espetáculos. Que estimule o surgimento de outras hipóteses como a
macro-harmonia, e que elas possam sair da esfera teórica, serem aplicadas,
questionadas, confrontadas, aprimoradas nos palcos, nos tablados, no s pi -
cadeiros, nas ruas. Que inspire mais estudos, debates e reflexões em torno
dos assuntos levantados.
E finalmente,
espero que eu tenha feito jus ao esforço e ao talento daqueles sobre os
. . .
quaIs aqUI escrevi.
213
.,
GLOSSÁRIO DE TERMOS MUSICAIS
Acorde
É a interpretação de um conjunto organizado de sons simultâneos, que podem ou
não começar e/ou terminar ao mesmo tempo, sob a perspectiva do sistema tonal.
An damento
É o grau de velocidade de uma realização. Em música, há uma tabela que
relaciona as diferentes graduações a quantidades de pulsos por minuto, do
mais lento (larguíssimo) ao mais rápido (prestíssimo).
Campo harmônico
É o conjunto dos acordes formados a partir de cada um dos diversos graus
(notas musicais) de uma escala.
Centro tonal
No sistema diatônico tonal, é a nota de origem da escala onde ele está apoiado.
Cluster
Um aglomerado de notas.
Coda
É a seç ão que conclui uma composição musical.
Compasso
Com características específicas de duração, natureza e acento rítmico, cada com-
passo pode ser visto como uma espécie de tijolo utilizado na construção linear do
discurso musical. Seu tamanho corresponde a uma quantidade de pulsos precisa,
determinada pela formula de compasso, ou por eventuais alterações dessa.
Consonância
Qualidade atribuída a um som que é considerado estável dentro da conjuntura
sonora a que pertence.
214
c
(frequentemente o cravo ou o alaúde) saiba os acordes que devem ser utilizados
na realização.
Contracanto
Uma melodia que está sobreposta a outra.
Delay
Efeito aplicado sobre um som para criar a ilusão auditiva de sua repetição.
Dissonância
Qualidade atribuída a um som que é considerado instável dentro da conjuntu-
ra sonora a que pertence.
Escala Diatônica
Conjunto organizado de notas, cuja separação intervalar é baseada nas distân-
.«"((. ))
eras tom e semitom'.
Escala Cromática
Conjunto organizado de notas que apresenta todos os doze sons utilizados na
música ocidental: as sete notas naturais e os cinco sons que as intermediam
(notas alteradas).
Fundamental do acorde
Nota que serve de origem para a sua construção.
Glockenspiel
Instrumento de percussão constituído por uma série de tiras de metal, usual-
mente dispostas como o teclado de um piano. Possui um som muito agudo,
com um timbre similar ao de pequenos sinos.
Intervalo
Medida de distância entre notas musicais.
Instrumentação
Conjunto de instrumentos musicais que executa uma obra, ou o estudo desse
conjunto.
Inversão do acorde
Fenômeno que ocorre quando a nota mais grave de um acorde não é a funda-
mental, mas qualquer outra nota de sua estrutura.
Libreto
É a obra literária que o compositor musical utiliza como base textual para
compor a Opera, o Musical, etc.
215
Semitom cromático
Na música ocidental, é a distância de um semitom existente entre duas notas de
mesmo nome. Como por exemplo, DO/DO#, LÁ/LÁb, FÁ#/FÁ##, etc.
Modo menor
Sistema de construção musical que tem como base uma escala menor.
Movimento
Uma das seções que constituem uma composição.
Período romântico
Na música, é o período que teve início em 1815, e que perdurou até o início
do século XX, não obstante muitas obras posteriores ainda apresentarem seus
preceitos e valores estéticos.
Sensível
Dentro do sistema tonal, é a nota cuja sonoridade possui intrinsecamente uma
instabilidade que pode ser resolvida com um movimento de semitom ascen-
dente ou descendente.
Serialismo
Processo composicional que parte do estabelecimento de relações entre os nú-
meros e as notas musicais para utilizar series numéricas como matéria-prima
para a elaboração musical.
Rondó
Composição musical construída a partir de um tema principal que, ao ser re-
petido, é intercalado por temas secundários (geralmente dois ou três).
Pedal
Nota musical que tem sua realização prolongada enquanto ocorrem outros
eventos na composição musical.
216
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