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REITOR
Angelo Roberto Antoniolli
VICE-REITOR
Valter Joviniano de Santana Filho
CC BY NC SA
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fins não comerciais, desde que atribuam a você o devido crédito e que licenciem as novas
criações sob termos idênticos.
APRESENTAÇÃO 5
UM BECO DE MEMÓRIAS: UM ESTUDO ACERCA 13
DA HISTÓRIA DO BECO DOS COCOS
Elayne Messias Passos
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O patrimônio, por sua vez, situa-se no cruzamento entre os dois cam-
pos destacados – a cidade e a memória – e recebe grande atenção
dos antropólogos contemporâneos, constituindo área privilegiada
da pesquisa etnográfica nos últimos anos, o que talvez seja decor-
rente da grande proximidade entre as concepções antropológicas
de cultura e de patrimônio intangível. Não por acaso, é da Antropo-
logia que decorrem as principais orientações para a elaboração de
metodologias atuais de inventário de referências culturais. Também
se inicia com os antropólogos a discussão acerca dos riscos de reifi-
cação das práticas e de conhecimentos patrimonializáveis.
INTRODUÇÃO
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to de cocos no incipiente comércio central da cidade. No curso dos tem-
pos, o Beco transformou-se desse simples local de passagem de cargas
a um reduto boêmio, endereço de famosos cabarés, convertendo-se,
depois, também em uma das maiores zonas de tráfico de entorpecen-
tes da capital sergipana, até se tornar o que é hoje, estacionamento de
veículos ciclomotores e quase um banheiro a céu aberto.
Assim, nosso objeto é visto por muitos como um lugar escuro e peri-
goso, digno de ser evitado, uma espécie de anomalia, um apêndice
prestes a supurar. Ou seja, o beco, sob um prisma polarizado, repre-
sentaria a desordem perante os lugares “legitimados” que desejam,
hipoteticamente, ordenar-se. Essa representação foi e é calcificada
diariamente no imaginário popular. O ideal de cidade desinfetada
da sordidez e da degradação se alia à tão sonhada modernidade.
3 Antes, a capital sergipana era a cidade de São Cristóvão, localizada, atualmente, no que
se convencionou chamar de grande Aracaju.
4 O Morro do Bonfim era uma região composta por uma formação de dunas que circundava a
área mais habitada do centro, separando-a da parte mais a oeste da região, onde se verifica-
vam práticas escusas e renegadas, conforme registros do poeta sergipano Mario Cabral (2002).
Sua derrubada se deu na década de 1950 e representou um avanço considerável para o pla-
no urbanístico da cidade, já que no próprio espaço que correspondia ao Morro do Bonfim, foi
construída a primeira estação rodoviária da cidade, além de suas areias terem possibilitado o
aterramento de outras áreas de Aracaju, permitindo a criação de novas ruas e avenidas.
Quanto aos atores envolvidos em tal ambiente, muitos dos que de-
veriam restringir sua circulação ao reduto escuso do Beco, a exem-
plo das “mulheres da vida”, travestiam-se de “moralidade”, com
roupas e maquiagem inspiradas nos trajes usados pelas “pessoas
de bem”, para conviver, mesmo que apenas nas sessões de cine-
ma, igualitariamente, a ponto de não ser possível diferenciar as
prostitutas das madames.
Nesse período, meados dos anos 1940, o Beco dos Cocos passa a
reunir artistas, intelectuais e pessoas dos mais variados segmentos
da sociedade em busca de divertimento. Lá foi firmado um comple-
xo integrado de boates e prostíbulos. Os mais conhecidos da cidade,
além dos que já foram aqui mencionados, ficavam no próprio Beco
ou ao seu redor – o Miramar, o Night and Day, o Luz Vermelha e o
Fresca. Entre as motivações para frequentar as boates e os cafés do
CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
BARRETO, Luiz Antônio. O cotidiano do lazer nos bares, cinemas
e cabarés. Aracaju: Infonet, 2005. Disponível em: http://clientes.
infonet.com.br/serigysite/ler.asp?id=7&titulo=Aracaju150anos.
Acesso em: 25 abr. 2019.
CABRAL, Mário. Roteiro de Aracaju. 3. ed. Aracaju: Banese, 2002.
CAMPOS, Antônio Carlos. O Estado e o urbano: os programas de constru-
ção de conjuntos habitacionais em Aracaju. Revista do Instituto Histó-
rico e Geográfico de Sergipe, Aracaju, vol. 1, n. 34, p. 199-222, 2005.
HALLEY, Bruno Maia. Arruando pelo beco: um nome do passado evo-
cado no afeto e no desamor da gente da cidade. Revista de Geogra-
fia – PPGEO, Juiz de Fora, v. 2, n. 1, 2012.
MAYNARD, Andreza e MAYNARD, Dilton. Dias de luta: traços do cotidia-
no em Aracaju (1939-1945). OPSIS, Catalão, v. 9, n. 12. jan-jun 2009.
MELINS, Murilo. Aracaju romântica que vi e vivi. 3 ed. Aracaju: UNIT, 2007.
PESAVENTO, Sandra Jatahy. Lugares malditos: a cidade do “outro”
no Sul brasileiro (Porto Alegre, passagem do século XIX ao século
XX). Revista Brasileira de História, São Paulo, v.19, n.37, Sept. 1999.
PESAVENTO, Sandra Jatahy. Era uma vez o beco: origens de um mau
lugar. Maria Stella Bresciani (org.) In: Palavras da Cidade. Porto Ale-
gre: Editora da Universidade/UFRGS, 2001.
INTRODUÇÃO
2 Realizada entre os anos de 2014 e 2016 durante o mestrado em Antropologia Social pela
Universidade Federal de Sergipe.
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reurbanização e o crescimento da cidade. Perceber a dimensão das
relações e seus modos de ação consequentes da reestruturação ur-
bana demonstra as várias maneiras possíveis de novas formas de
organização social e estrutural da cidade. Assim, pretendemos con-
tribuir com a construção de conhecimentos não somente para área
acadêmica, mas também para a administração pública e para a co-
munidade em geral, pois ações como essas são respostas diárias à
maneira como a cidade vem sendo ordenada e às suas consequên-
cias na vida cotidiana de seus moradores.
PERCORRENDO A CIDADE
4 Relatório escrito por múltiplos autores para uma matéria de graduação em Geografia da
Universidade Federal de Sergipe. Disponível em http://cadernoestudante.blogspot.com.
EMBAIXO DA PONTE
9 Preferi usar a grafia “pixação” por possuir uma maior representatividade no movimento
de arte urbana brasileiro, que vai além do significado básico da palavra escrita corretamen-
te e encontrado nos dicionários, e possui características diferentes do Graffiti. Segundo o
dicionário Michaelis, Pichação: s.f. ato ou efeito de untar com piche; pichamento. A maneira
informal de escrever pichação vem do movimento do “Pixo” na cidade de São Paulo, que
consiste em aplicar escritas nos muros. Para melhor entender o movimento do Pixo em São
Paulo e no Brasil, recomenda-se assistir ao documentário “PIXO”. Disponível em: https://
www.youtube.com/watch?v=skGyFowTzew. Acesso em: 01 mai. 2019.
O espaço parece ser um lugar que traz liberdade para seus frequen-
tadores. Há uma concessão informal relativa aos horários e aos usos
pelos diferentes grupos de usuários. Pela manhã, logo cedo, ocorre
a atividade da Academia da Cidade; no início da tarde, as crianças
tomam conta do ambiente conjuntamente com alguns skatistas; no
final da tarde, quando as crianças começam a ir para casa e mais
uma turma da Academia da Cidade vem fazer aula de ginástica, che-
gam os adolescentes para fazer uso da maconha e conversar. Essas
práticas habituais se contrapõem frente ao dia a dia das obrigações
com a escola ou com o trabalho e proporcionam variadas formas de
lazer e de utilização do lugar.
Noutro dia, sentada no bar chamado Iemanjá, que fica bem no fim
da orla e no início do canteiro central embaixo da ponte, pude ver
o que acontecia embaixo dela, em um horário diferente do que eu
costumava passar. Nos primeiros dias, percebi que poucas pessoas
circulavam no espaço à noite – lembrava uma praça pouco ilumina-
da e quase sem movimento, só a luz da parte leste da ponte estava
ligada para clarear a avenida que dá seguimento à orla. A fraca lumi-
nosidade parecia intimidar mais ainda a ida ao lugar.
CONCLUSÃO
O crescimento das cidades vem causando uma separação espacial
entre seus habitantes e mudando o caráter das relações interpessoais
e dos indivíduos com as instituições sociais, gerando alterações de
comportamento na sociedade contemporânea. As juventudes vêm
desenvolvendo maneiras de acompanhar essas mudanças, criando
táticas de subversão e de interferência no cenário urbano de acordo
com as situações do dia a dia. A carência em vários setores da vida
social começa a produzir inquietações, necessidades de trocas de per-
cepções e dissolução de alguns paradigmas. Uma nova maneira de
estar e agir no mundo germina através de associações de sentimentos
e de práxis equivalentes com o desejo de alterar a ordem cotidiana.
REFERÊNCIAS
APRESENTAÇÃO
4 A noção de “região moral” repousa numa concepção que divide o espaço urbano em cír-
culos concêntricos: uma faixa residencial, outra industrial e o centro – que serve ao mesmo
tempo como ponto de concentração administrativa e comercial e como lugar de reunião
das populações ambulantes que “soltam” ali seus impulsos reprimidos pela civilização
(PERLONGHER, 1987, p. 69).
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Este trabalho pretende contribuir para o campo científico e social
através de estudos mais aprofundados sobre a categoria dos michês.
O interesse em pesquisar a prostituição masculina surgiu de inquie-
tações e observações cada vez mais explícitas em nosso cotidiano e
quase sempre relegadas a segundo plano pelas Ciências Sociais.
5 Ao longo de toda a pesquisa, não presenciei nem recebi informações que indicassem a
presença de mulheres nos lugares etnografados, exceto na praça Fausto Cardoso.
6 Informações cedidas por alguns frequentadores do local. Não constam, entretanto, bole-
tins de ocorrência em relação a agressões ou a assaltos a homossexuais, segundo dados da
Secretaria de Estado da Segurança Pública de Sergipe.
CAUSAS E MOTIVOS
9 Denominação dada pela sociedade em referência a indivíduos vindos de regiões populares e com
elevada densidade demográfica, onde quase sempre o poder público não tem grande atuação.
Nesta pesquisa, apesar do esforço para coletar dados que pudessem for-
necer mais elementos constituidores dessa prática de comércio sexual,
percebemos o quanto são inesgotáveis as possibilidades de leituras
desses grupos. Por isso, na evolução da Antropologia Urbana, ainda é
necessário um expressivo número de trabalhos, pois esses grupos espe-
cíficos de garotos de programa carecem de análises mais aprofundadas.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este trabalho de pesquisa objetivou investigar e compreender as
percepções acerca dos territórios de trabalho sexual masculino na
região central de Aracaju. Procuramos esclarecer as vivências pelas
quais esses garotos de programa passam enquanto protagonistas
de um comércio sexual existente e ainda bastante promissor.
REFERÊNCIAS
BECKER, Howard S. Uma teoria da ação coletiva. Rio de Janeiro:
Zahar, 2008.
GIDDENS, Anthony. A transformação da intimidade. São Paulo:
Editora UNES, 1993.
GOFFMAN, Erving. Estigma: Notas sobre a Manipulação da Identida-
de Deteriorada. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1982.
PERLONGHER, Nestor O. O negócio do michê: a prostituição viril
em São Paulo. 2ª edição. São Paulo: Editora Brasiliense, 1987.
RIGOLLETO, Ralmer. N. Prostituição masculina. 2001. Disponível em:
http://www.pontogls.com/psicologia2.html. Acesso em: 12 nov. 2016.
ROBERTS, Nickie. As prostitutas na história. Trad. De Magda Lopes.
Rio de Janeiro: Record; Rosa dos tempos, 1998.
VITIELLO. N. Prostituição masculina: uma introdução ao estudo.
2001. Disponível em: http://www.sosdoutor.com.br/sossexualida-
de/. Acesso em: 12 nov. 2016.
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Através de alguns conhecidos que nos informaram da apresentação
regular de músicos de forró no bar e restaurante Camarão do Baia-
no, procuramos visitar esse estabelecimento comercial. Chegamos
ao bar pela primeira vez numa sexta-feira e deparamo-nos com um
trio de forró pé de serra3 tocando sucessos de Luiz Gonzaga e de Flá-
vio José e também músicas contemporâneas de Wesley Safadão,
Aviões do Forró, dentre outras bandas. Depois dessa noite, nossa
observação se manteve de agosto de 2016 a janeiro de 2017; acom-
panhamos as apresentações dos trios às sextas ou aos sábados, das
21h até as 00h, quando o bar encerrava a apresentação do grupo
musical de forró.
3 Pé de serra é como são conhecidos os grupos de forró compostos por sanfona, triângulo e
zabumba; às vezes acompanhados de voz ou de outros instrumentos percussivos, sem a pre-
sença de instrumentos elétricos, entretanto, seu som pode ser amplificado eletronicamente.
4 Sandra Marrocos foi eleita vereadora pelo Partido Socialista Brasileiro (PSB) na Câmara
5 Música composta e interpretada por Rita de Cássia; é cantada por diversas bandas de
forró, como Mastruz com Leite, Calango Aceso, Catuaba com Amendoim.
Tendo em vista que uma paisagem sonora é composta por eventos es-
cutados (sem necessária relação com o visual) no Camarão do Baiano, a
paisagem dominada pelo forró contrasta e ao mesmo tempo se constrói
junto a outros elementos sonoros, como as conversas; risos; risadas; os
automóveis e seus motores; alarmes; buzinas; os sons dos copos de vidro
e das garrafas de cerveja sendo colocados e retirados das mesas; pessoas
chamando o garçom, pedindo “mais uma”, o tira-gosto e a conta.
7 Música gravada em 1946 (em 1.78 rpm) e em 1984 por Luiz Gonzaga no LP “Danado de
Bom”. Composta por Luiz Gonzaga e João Silva.
8 Sobre performance, Dawsey (2007, p. 530) afirma que: “O conceito de performance adqui-
re formas variadas, cambiantes e híbridas. Há algo de não resolvido nesse conceito que re-
siste às tentativas de definições conclusivas ou delimitações disciplinares. Aquém ou além
de uma disciplina, ou até mesmo de um campo interdisciplinar, os estudos de performance
se configuram como uma espécie de antidisciplina”. Os estudos de performance podem ser
vistos como espelho da experiência no mundo contemporâneo revelando a fragmentação
das relações, o inacabamento das coisas, a dificuldade de significar o mundo, sendo assim
uma “antropologia da experiência”.
Noutra vez, Thalita estava numa mesa com uma dezena de mulhe-
res que contagiavam o ambiente com a sua animação – estava cho-
vendo e o bar, menos frequentado. Elas cantavam, bebiam e brinca-
vam entre si, fazendo um expressivo coro quando tocou a música de
Aviões do Forró: “eu não vou mais chorar, eu não vou mais chorar,
sofro até te esquecer”, brindando aos seus relacionamentos amoro-
sos mal sucedidos. No decorrer da noite, elas interagiram com pes-
AS PERFORMANCES DE SUCESSO
REFERÊNCIAS
BAKHTIN, Mikhail. Estética da criação verbal. São Paulo: Mar-
tins Fontes, 1997.
BRITTO, Fabiana Dultra e JACQUES, Paola Berenstein. Corpo e cida-
de: coimplicações em processo. Ver. UFMG, Belo Horizonte, v. 19, n.
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BURKE, Peter. Cultura popular na idade moderna. São Paulo: Com-
panhia das Letras, 1989.
CHIANCA, Luciana. São João na Cidade: ensaios e improvisos sobre
a festa junina. João Pessoa: Editora da UFPB, 2013.
COOLEY, C Charles Horton. Human nature and the social order.
New York: Scribner’s, 1922.
DAWSEY, John C. Sismologia da performance. In: Revista de Antro-
pologia, v. 50 (2), p. 527-570, São Paulo, USP, 2007.
2 As principais referências aqui contidas sobre o Quebra de 1912 foram obtidas a partir de
pesquisas anteriormente realizadas por Ulisses Neves Rafael e publicadas no livro Xangô
rezado baixo: religião e política na Primeira República (2012).
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O segundo momento encontramos nos estudos de Théo Brandão e
Abelardo Duarte, de meados de 1950 até o fim dos anos 1970 e no
esforço do primeiro em recriar maracatus nos encontros de folclore
estaduais. Théo Brandão (1982), Abelardo Duarte (2010), Félix Lima
Júnior (2001), entre outros, ajudam a compor o cotidiano urbano
desse período, além de permitirem uma reconstituição histórica
dessa modalidade cultural no passado – reconstituição essa que
será objeto do primeiro tópico deste artigo.
3 O nome é uma homenagem a um jornalista alagoano, talvez um dos primeiros a ter en-
frentado a iminente oligarquia maltina. Em razão de conflitos com a polícia, o jornalista
fugiu de Alagoas e foi assassinado no Paraná, provavelmente, por seus inimigos políticos.
Essa foi a organização que dirigiu o ataque aos terreiros junto com
populares e oposicionistas de Euclides Malta durante seu afasta-
mento do poder no final de janeiro de 1912. Embora não tenha sido
sua única ação, foi, sem dúvida, a mais significativa após a sua fun-
dação, motivo pelo qual seus integrantes galgaram posições decisi-
4 Os jornais da época falam em “Catarina”, e Abelardo Duarte cita “Catirina” em seu texto
Folclore Negro das Alagoas (1974); é provável que sejam a mesma pessoa. João “Cata-
rina” foi um importante líder religioso de Maceió na época do Quebra de 1912, tinha um
terreiro com sede no bairro da Levada.
Por ocasião do Quebra, houve um desfile pela cidade com uma série
de objetos e imagens, muitos deles usados nos rituais religiosos, como
alfaias, adjás (chocalhos), agogôs e pandeiros, expostos na sede da
própria Liga, situada na rua do Sopapo. Os instrumentos presentes
nessa exposição representavam a vitória por parte da Liga em detri-
mento dos grupos de matriz africana que os utilizavam como elemen-
tos das cerimônias sagradas ou nas festas de rua. Os maracatus na
cidade tinham vida especificamente dentro do carnaval, coincidente-
6 Área de expansão da cidade de Maceió cujo acesso se dá pela ladeira da catedral. Na épo-
ca, era habitada por moradias de diversas camadas sociais. Hoje, é a área que vai entre a
ladeira da catedral e o Colégio Marista.
7 Leba, termo utilizado para atacar o governador Euclides Malta e seus correligionários, faz
referência a uma das principais entidades do Xangô alagoano, que corresponderia à figura
de Exu. O significado e a representação dessa figura no contexto político alagoano da épo-
ca em tela ainda será objeto de discussão adiante.
8 A expressão “sacudidos” foi obtida a partir de uma edição do Jornal de Alagoas publicada
em 1912 e é uma demonstração do modo como os grupos carnavalescos populares alago-
anos apareciam na crônica local.
Evoé!
REFERÊNCIAS
BRANDÃO, Théo. Folguedos natalinos. Coleção folclórica da UFAL.
Maceió: Museu Théo Brandão, Conselho Federal de Cultura, 1973.
BRANDÃO, Théo. Folclore de Alagoas II. Maceió: Museu Théo
Brandão, Edufal, 1982.
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Embora essa reflexão não seja objeto de observação empírica no
sentido lato, debruçamo-nos sobre exaustiva produção bibliográ-
fica de cunho histórico-antropológico, em torno da qual construi-
remos nossa análise das tensões sociais relativas ao segmento da
população formado por homens pobres e pretos e dos processos de
disciplinarização e controle exercidos pelo Estado à época. Quan-
to às tensões intelectuais envolvendo outro segmento denominado
de “boêmio”, utilizaremos o próprio registro de cronistas e literatos
brasileiros que assim se autodenominaram.
OS IMPACTOS DA “REGENERAÇÃO”
feuillton
feuillton. Entre nós, o folhetim começa a ser publicado a partir de 1839, período em que a
própria arte brasileira se reestruturava, concomitantemente às ideias de construção de um
Estado Nacional decorrente da Maioridade de D. Pedro II. Tanto na política quanto na arte,
a referência básica continuava sendo os modelos franceses de literatura e as maneiras eu-
ropeizantes, tendência essa que se estenderia para além do período monárquico, atingin-
do, também, a nossa escrita ficcional já na segunda metade do Século XIX (Cf. Nadaf, Y. J. O
romance-folhetim francês no Brasil: um percurso histórico. Letras, v. 39, p. 119-138, 2009).
4 Os chás eram “o pretexto, a intenção benevolente para a elegância das reuniões de esco-
la, da delícia da palestra surrada, em tête-à-tête, numa sala aromada de hortênsia, ilumina-
da a eletricidade, cheia de mulheres lindas” (FON-FON, 1911 apud BROCA, 1960).
Que se fez da população mais pobre, então? Ela aparecia, como dito
anteriormente, nas estatísticas e nos livros administrativos do Esta-
do; aparecia como composição de cenário ou como objeto de exotis-
CONCLUSÃO
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ávida por uma musicalidade que identificasse o Nordeste naquela
cidade de numerosa população migrante nordestina. A partir de gê-
neros e de instrumentos musicais que lhe eram familiares (como o
schottish/xote, o xaxado e o baião), Luiz Gonzaga elaborou o forró,
que agradou ao público, fez sucesso e institucionalizou-se como gê-
nero musical nacional.
4 Nas canções “Baldrama Macia”, “Creuza Morena”, “Dedo Mindinho”, “Amor que não cho-
ra”, “Aroeira”, “Rosinha” e “Só se rindo”.
É por essa razão que discordamos dos autores que insistem em si-
tuar Gonzaga em um registro ingênuo e pueril, que cantaria a vida
rural sertaneja, o trabalho e seu cotidiano, como afirma Jean Costa
(2012, p. 122), para quem seus temas musicais
Nas canções dos dois DVDs, a fase “curtir” é marcada pela dança e
pelas bebidas alcoólicas, totalizando 64% das músicas (respectiva-
mente, 29% e 25%). Sobre a presença do tema do álcool no forró
elétrico, podemos citar Oliveira (2011), que analisa quatro músicas
da banda Saia Rodada e constata apologia à bebida pela identifica-
ção do sujeito que bebe a um ser “esperto”, “independente” e extro-
vertido. Em consonância com Trotta (2009), que identifica o trinômio
festa-amor-sexo no forró eletrônico, Oliveira sugere acréscimo deste
elemento (o álcool) para formar um quadrinômio festa-álcool-amor-
-sexo. Na banda Garota Safada, o quadrinômio também se confirma,
sobretudo no DVD “Garota Vip”, em que o tema predominou.
PEGAR OU AMAR?
LARGAR OU VINGAR?
INTRODUÇÃO
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tro categorias pelas quais me pareceu que a transposição conceitual
se processa e que acredito serem definidoras da orientação antropo-
lógica que se vem procurando imprimir à constituição do patrimônio
imaterial: bem cultural, sistema, interação e reflexividade.
3 O dossiê que integra a instrução técnica do processo de Registro da Arte Kusiwa como
Patrimônio Cultural do Brasil pelo IPHAN foi elaborado pela Profa. Dra. Dominique Tilkin
Gallois, que desde a década de 1970 desenvolvia pesquisas junto aos Waiãpi do Amapá.
Embora dito que a arte Kusiwa “opera como um catalisador para a ex-
pressão de conhecimentos e de práticas que envolvem desde relações
sociais, crenças religiosas e tecnologias, até valores estéticos e morais”
(IPHAN, 2008, p. 87) o que define sua apreensão sistêmica não é a des-
crição do conjunto de traços culturais ou de aspectos do social que se
vinculam na ou através da prática de produção dos Kusiwarã para a de-
coração de corpos e objetos. A vinculação entre esses traços culturais e
aspectos do social é dada pela cosmologia a que os Waiãpi se reportam
para interpretar e agir sobre distintos domínios do universo.
4 A pesquisa foi realizada entre setembro de 2001 e abril de 2004, sob a supervisão da Dra.
Letícia Costa Rodrigues e tendo como pesquisadores os antropólogos Raul Giovanni Mot-
ta Lody e Elizabeth de Castro Mendonça. O dossiê que instruiu tecnicamente o pedido foi
publicado em 2007. O dossiê sobre o qual trabalho, publicado e disponibilizado no site do
Iphan, é constituído por uma compilação de artigos elaborados pelos pesquisadores ao
longo do processo de pesquisa.
5 O processo teve início com a proposição, em 1997, de uma pesquisa acadêmica pelo PACTA –
Populações, Agrobiodiversidade e Conhecimentos Tradicionais na Amazônia, um temático de
pesquisa realizado no contexto da Cooperação bilateral Brasil-França do CNPq, envolvendo a
Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e o Institut de Recherche pour le Développe-
ment– IRD. Da elaboração do dossiê, participaram os pesquisadores Esther Katz, Joana Cabral
de Oliveira, Laure Emperaire, Lúcia van Velthem, Manuela Carneiro da Cunha e Carla Dias.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
DELEUZE, Gilles & GUATTARI, Félix. Mil Platôs. Capitalismo e esqui-
zofrenia. Vol. 1. São Paulo: Editora 34, 1997.
GUADJAR, Eva. Entre tradições orais e registro da oralidade in-
dígena. Dissertação de mestrado – Faculdade de Filosofia, Letras e
Ciências Humanas da Universidade de São Paulo.São Paulo, 2008.
HANDLER, Richard. On having a culture: nationalism and the preser-
vation of the Quebec´s Patrimoine. In: STOCKING, George. Objects
and others: essays on museums and material culture.Madison: The
University of Wisconsin Press, 1985.
INTRODUÇÃO
193/208
A Feira de Campina Grande expressa a diversidade da cultura tradi-
cional e popular, mas, também, os empreendimentos da moderni-
zação; algumas expressões culturais deixaram de acontecer na Feira
em virtude das mudanças no cotidiano: urbanização, crescimento
dos supermercados, migrações etc. Entretanto, é possível encontrar
na Feira indivíduos e grupos detentores de saberes e fazeres her-
dados de seus antepassados e caracterizados por tradições de co-
nhecimento bem marcadas: repentistas, cordelistas, emboladores,
magaieiros, flandreleiros, cesteiros, fateiros, fazedores de cocho e
seleiros são algumas das atividades da Feira de Campina Grande.
CIDADE-FEIRA OU FEIRA-CIDADE
3 Muitos são os estudos sobre as feiras livres, cf. (MORAIS e ARAÚJO, 2006).
4 Hoje, as feiras de mangaio são raras. São feiras itinerantes que vendem uma diversidade
de produtos. As feiras de mangaio são identificadas nas grandes feiras como o local onde
se encontram produtos artesanais, manufaturados e feitos com matéria prima vegetal e
animal – são poucos os produtos industriais e de plástico.
5 Sobre a marca Patrimônio Cultural Brasileiro, lançada pelo IPHAN em agosto de 2017, cf.
http://portal.iphan.gov.br/ccpi/noticias/detalhes/4273/lancado-o-emblema-do-patrimo-
nio-cultural-brasileiro
Por outro lado, não há apenas a disputa entre uma elite e o povo, o
processo não é dual, ele se cruza com diversos elementos e dimen-
sões. O campo do patrimônio tangencia e mistura-se a outros cam-
pos: comércio, política, moral etc. Por exemplo, percebe-se dentro
do grupo dos feirantes uma variação de concentração de capital
financeiro. Há quem possua mais de um ponto de venda e alugue
seus pontos para outros feirantes, há quem possua nível superior
completo e capital financeiro para bancar a universidade particular
dos filhos (PEREGRINO, 2018) e/ou, ainda, capital cultural para pre-
sidir a Associação dos Feirantes.
7 O trabalho desenvolvido pelo IPHAN é replicado nos níveis estaduais e municipais, nos
limites de seus orçamentos, competências e, mais importante, de interesses.
ISBN: 978-65-86195-16-3