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Rio (# Janeiro, 1980.

Cr$ 200,00. maiores del8anos da esciuina


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Centro de Documentação
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Prof. Dr. Luiz Mott GRU PODIGN IDADE

ENTREVISTA

Manuel P nig fala oo


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1 T'j:
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O namoro entre LAMPIÃO e Manuel Puig problemas meus; atrases deis eu creio 'er PuIg'-'1nfànci'a... como iam entender o Molina sem squelas notas?
é antigo, e já teve ate uma especie de rompi- mais coragem, mais salui- pala analisar estes Frauucisu'o - Eu me lembro o de todos esa João Carneiro - Pra mias você ~w* em
monto quando alguém foi dizer a ele, em Nova problemas. que diretamente, na vida. Então, "San,guedePantera"., - lIvro não .penas sobre o homossexualismo, mas
beque, que a goste diaba lançado rimagbnemn meus protagonistas sâç5 sempre possibilidades %I& - Este e;u suse tvim "A morta Vis' também aches • sexualidade; o que se discute no
uma edição pirata do seu livro O Beijo da minhas. Por isso um torturador 11:50 poderia também. 'Sm i,j 1 ;4re de Amor" é que ca só em livro é a questão sexual. Eu acho multo lia.
Mulher Aranha — . Na verdade. alguns Iam- ser protagonista de uma das minhas novelas; usei a primeirá z>-*; a segunda era tão ruim que poriante Saia saída tio guo...
pin4cou se empenharam pesso.Imenle em ver o I)er1.5 estar lã, talvez corno um elemento im- a rovscre'i. quer dizer, Molina reescreveu. O da Itdg - Ah, sim. eu me preocupo muito com
livro publicado no Brasil, acompanhando de portante para a ação: mas como eu não coni-
alerp é inventado. essa questão do gueto, principalmente por causa
perto as neoclaçies com • Editora Civilização preendo cale personagem, não posso desenvol- .. Francisco — Masnjoé"Ojudeu Errante"? do tempo que vivi em Nova lorque. Lá são criados
Brasileira, primeiro, e com a Livraria Cultura, v-1,,. Puig - Não: é inuIiçã) minha. Mas veja verdadeiros guetos. e eu não creio que esta seseja
depois, até que Jaguarette tio Pasquim entrou Alcesie - Mas você reconhece, enlijUe bem, estes filmes ILCSãOOs meus mitos, e sim, de uma salda correta para o problema. Isso já aacon-
na dança e na direitos de publicação foram tenS coisas de Molina e de Valentbni.. Molina Meu cinema preferido é aquele dos teceesta forma limitada de sexualidade que
comprados pela Codecri. Puig -- F pscovel. . prilneiris anos da década de 30, quando os gê- a hetercasexual jade: os heterossexuais têm seus
A entrevista foi marcada para uma segun- Ak:esie - Mais do Molina, n.%o é? E o que neros cinematográficos ainda não estavam com- próprios lugares, por exemplo, e eu acho loucura
da-leira de agosto, com os entrevistadores seriam essas coisas? pletamente estabelecidos, apareciam misturados pensar que este é um padrão a seguir, quer dizer,
(Francisco Blitene-ouri, Lelia Mk-coils, João Pug - Bom. eu escr,,-s1 e-.te romance porque
nu' mesmo filme. Sternherg. Lubisich, etc. que os homossexuais também criem seus próprios
('arneiro, Alceste Pinheiro, Antônio Certos i iiccessidade de um personseer que defiro-
Agtuinaldo - No Brasil, a gente já pode dizer lugares e se isolem neles.
Moreira, Marcelo Llherali e eu; Adão Acosta desse o papel da mulher submetida iouirS peussi
que há uma tradição de novelas homossexuais, ou João Carneiro - De qualquer modo me
chegou depolsf lembrando, preocupadue uma Puig desiste do portunhol e anunciei — Vai tudo
que abordam o tema. Você sabe de alguma coisa parece que você articula a cela. no lIvro, como u
das coisas que se costuma dizer sobre o es- em espanhol mesmo, está bem?" Leiia e Aguinal-
parecida na Argentina? Por exemples tem uma duplo guetom o guo de urna sexualidade alie-
crilot argentinm 'Pulg é uma pessoa muito do se olham significativamente: um dos dois lera,
novela de Júlio Cortasse, "Los Prêmios", que tem nada, e O gosto de unta milltância política
difícil." Ele chegou quinre minutos depois da depois, que copiar a fila gravada...). Eu não es-
um personagem homossexual. alienada. E ai é que. pra mim, pintou uma coa.
hora marcada, de boLsa e guarda-chuva ilá uiva, naquele momento, decidido a trabalhar com
Puig - Bom, eu não sou a melhor fonte pra tradição: você acaba liberando multo mais o
fora estava se armando um temporal, e boa um protagonista homossexual. Tinha postergado
falar sobre isso, porque minhas leituras são muito militante poãticodoqueohosnoaaezual... Mola.
parte , da entrevista teve como trilha sonora o isto sempre, por uma razão muito clara: e que os
[imitadas. Não tenho vergonha de dizer isso, por- termina, no livro, quase tão alienado quanto
ribombar dom trovões); e depois de dar alguns leitores heterossexuais tinham taL) posicas intor-
que minha formação foi outra, foi cinemato- começou ele apenas serve de Instrumento para a
autogralos ("O Beijo da Mulher Aranha já é mações sobre oque era a homossexualidade, que
gráfica, eu tenho muita dificuldade de me com- liberação de Valentia.
hest-sclier" ame em nossa redação), sentou no me parecia difícil falar sobre o assunto. Afinal, é
centrar na leitura, trabalho o dia inteiro, e à Puig - Bom, esse tipo de homossexual, comi a
local indicado pela fotografa C yntla Martins, sempre com a cumplicidade do leitor que se
noite, se resolver ler um lisTo de ficção, me dá idade de Molina, já tem certos valores estabe-
pronto para o bate-papo. fabrica um personagem. não é? Então, eu con-
vontade de reescrevó-lo; assim, prefiro ler bi- o - Iccidos, uma certa formação da qual ele não pode
Não, Manuel Pulg não é a pessoa dihdr' tava com ledores que tinham poucas informações
grafias, ensaia, etc. Ficção. nunca. (Nesse ponto se livrar. O terrivel da sexualidade, me parece, é
que nos haviam impingido. Na verdade, 101 a sobre o assunto, e assim, direto, eu preferia não
da entrevista, • meia-dúzia de escritores presentes que, a partir de certa idade, eta cristaliza certas
entreist* mais divertida que LAMPIÃO já fez, abordá-lo. Mas o que me interessava por em dis-
murcha de deepção; quem pretendia oferecer um formas eróticas, certos moldes eróticos dos quais
com o entrevistado usando e abusando de uma cussão era o papel da mulher submetida; e só me
dos seus lisTou i Puig desistiu na hora). Leitura, dificilmente se pode sair.
mimlca que Incluía Imaginários grampos de ocorreu um personagem que poderia representa-
pra mim, só se não tiver estilo, porque se tiver, Alceste - Neste ponto o seu livro é perfeitos
cabelo, pentes, leques de plumas, sombra, lo: era um hornuasexual coro fixação feminina! Is-
W. me dá um troço na hora, eu pego a caneca e você descreve Molina com cnraoteflsticas bens
baton e rouge. todo um estoque de gessos de,- so me levou, também, a incluir no livro aquelas
conheço a consertar. conservadoras. Por exemplo, tens um momento
contraídos com os quais ele procurava frisar as notas de pé de página; para que o leitor pudesse
se colocar melhor ante a personagem Melurua. Aguinaldo - Pois é, você se preparou pra em que ele está falando do prçon, do seu
coisas importantes que dizia. 's&o se falou de
fazer cinema. E conto é que veio parar na lit.- namorado. V.lentlns lhe pergunta: ' casado?"
Argentina, mas isso não foi uma falha; o que Sim, porque há muitas questões sexuais que ain-
satura? Ele respondes "Sim; é um homem normal."
Manuel Puig 1cm a dizer sobre o seu país já da não estão claras: e uma, sem dúvida, e a ques-
Pu - Bom, na verdade, eu estava escreveis- Pulg - Pois é: ele não tem dúvidas sobre os
eIIÓ nos seus livros, principalmente neste "O tão da homossexualidade; até poucos anos não se
do um roteiro: o momento em que este roteiro se seus mitos. Ele acredita no macho, é um macho
Beijo da Mulher Aranha', que tem tanto a ver sabia nada sobre ele; só de uns der anos para cá e
que começaram a aparecer livros, pesquisas, mais transformou em novela (' ' Boquinhas PIntadas" s que ele quer.
com todos nos. (Agulnaido Silva)
informações. Outra questão: quem sabe alguma foi o primeiro livro de Pulg) eu nã osei bem corno Leda - Seus lIvros sempre lotam multo bem
coisa sobre a sexualidade da mulher depois da foi, porque foi uma coisa que aconteceu sozinha recebidos pci. critica. Mas eu noto, em relação
Agtiin:sldo - Eu II duas criticas brasileiras nlenusausa':' Quem sabe exatamente o que acon- Acho que foi porque, pela primeira ser, estava "0 Beijo da Mulher Aranha", uma certa seve-
sobre o meu livro, e nelas os criticou diziam que tece com ela? O prazer sexual diminui, aumenta, trabalhando com material autobiográfico. Antes. ridade. A que você atribui isso?
o personagem Molina, de O Beijo da Mulher hem? Mistério! nos meda roteiros, eu fazia cópias de filmes an- Puig - Bom, eu encontrei muitas dificuul-
Aranha," é PuIg. Voes falou Isso pr. alguém? Leila - Você já pensou em escrever um livro tigos; o que me excitava era copiar, e não-criar. dado -para publicar este hisro, Na Espanha, não,
Puig - Não, e ai fiquei zangado com isso: sobre essa questão? Mas quando resolvi escrever um roteiro a partir porque eu vendo muito lá. e editor sabia que ia
desse nisxlo, estão querendo dizer que eu sou Puig - Não sei; nunca havia pensado nisso de um, tema aotobiográf icei, precisei de muito ganhar dinheiro com o livro. Porém na Itália, por
homossexual, com fixação feminina e corruptor antes, mais espaço. e assim surgiu urna novela. exemplo: lá o meu editor era Fel(rineii, que é a
de menores, Agtuinaldo - Mas então "O Beijo da Mulher Alceste - Foi urna questão de contodidade, editora mais à esquerda: ele rejeitou o livro.
Aiceste - Por estas razões, é que você não .Venha" não é um livro de Manuel Puig sobre o então? Aguinaldo - O livro chegou a ser vendido na
Resta de ser comparado ao personagem Mo- homossexualismo. Você acha que fica devendo Pulg - Não; de exigência do tema; de me Argentina?
una' este livro aos seus leitores? pediu um tratamento analítico. e não sintético; Puig - Não, esta proibido. Eu já tinha saldo
Pulg - Eu não sou o Molina! Temos Puig - Bom, embora não tenha sido esta a isso só seria possível numa novela. d lá há sete anca, quando "0 Brio da Mulher
muitas coisas em comum, mas eu não sou ele! intenção inicial, acho que o lisTo acabou se tor- JCd) Carneiro - Voltando, eia. história de Aranha" foi lançado na Espanha. Saí logo de
Aguinaldo - Como também não é o per- nands' uma discussão sobre a homossexualidade. você não gostar de leis como é, então, que você fez livro) meu, "The Buenos
que proibiram outro livro)
sonagem Valentim... Agi.'ra o meu prõximo proicio è um livro sobre um aquela pesquisa sobre homossexualismo Incluída Aires Affair", ai começaram os problemas. Isso
Pulg - Muito menos Valenlum' (risadas Re- bofe brasileiro... (Risadas gerais. Alguém, não nas notas de pé de página de "O Beijo da Mulher foi mc toserno de Peron mas depois a junta mili t a,
rale, e uma pausa para situar quem ainda não identificado, proclamou: "Esse personagem, PuIg, Aranha"? do General Videla renovou a proibição. Ah, vol-
leu o livres Molina é uma bichinha; Valentim é a gente conhece muito bem. Pelo; - Bom, aquilo não me custou nada, tando s dificuldades; a Gallimard. na França.
um esquerdista monoiiticoç os dois estão presos porque não era ficção; meu problema é apenas também rejeitou o livro. Quanto aos críticos,
na mesma cela de um comete argentino. Francisco - Eu discordo de Aguinaldo, acho com a leitura de ficção. batiam na mesma tecla; diziam que ele
Sacaram o drama, queridinhas? que "O Beijo da Mulher Aranha" é um livro Alceiutc - Mia qual foi sua Intenção, ao era sentimental demais, etc.. Mas r um livro comi
Francisco - Mas cada usa deles tem um iobre o homossexualismo, sim. E não há ninguém colocar no livro aquelas notas? ara-te, porque as pessoas o lêem: para o leitor
pouco de você.., mais homossexual que este Molina, que eu diria, Puig - Já disse; foi explicar melhor o per- médio, ele funciona.
Puig - Bom, sempre os meus protagonistas inclusive, que é autobiográfico. Por exemples sonagem Mofina. Veja. eu pensei particularmente Aguinaldui - Vendei tanto quanto os outros
são uma piasibilidade minha: as mulheres e os aqueles filmes que ele conta, e que eu *1 iodos... na Espanha de Franco: naqueles jovens de livros seus?
homens. Eu não poderia ter um protagonista Puig - Não são os meus mitos! provinda, que estavam saindo de toda aquela PuIg - Vendeu mais.
torturador, por exemplo. Eu uso cada per- Francisco - . Eu sei que não são. Aqueles repressão. que nunca tinham lido sesiuer Freud.,,
maneira
sona em cswnn IImLl rfl,in,'---
-.-- dede
-- enfrentar filmes você viu na adolescência . não é? Eles não sabiam nada sobre a homossexualidade: .

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[ENTREVISTAI
Aieeste - Além dessa mensagem para a es.
querda, que você colocou no personagem Valeis-
tIm, eu sinto que em seu livro também há um
recado para os católicos, atrases de lodos aqueles
valores tosniaisa que o mesmo Valentim carrega
dentro de si. Por exemplo, quando os dois dis-
cutem o que é ser homem, ele diz que ser homem
é não humilhar o próximo, é respeitá-lo elc. ai
Molina comentas "Isso não e ser homem; é ser
ianlo'.
PvIg - Bom, isso eu tirei de ura pessoa real.
&lceste - Quer dizer que Valentím xisiiu?
Pulg - Em parte. Eu não tinha neishtmn
contato com a guerrilha argentino. Mas em
maio de 73, quando libertaram alguns presos,
um amigo meu me levou ' eles, e então fiz
uma pesquisa, já com a intenção de escrever
o livro. Na verdade, peni cm 1 az-lo no final
de 1972, dedicado especialmete a um amigo
meu. Porque meus livros também têm essa in-
tenção eu os escrevo porque desejo mostrar a
alguém que ele está equivocado nm deter-
minado assunto. Foi assim com "A Traição de
Rita layworth". Um amigo meu, companheiro
de sissicitudes no cinema italiano me diria,
"ah, que coisa, nvs com nossa formação de c%-,
pectadores infantis, dominados por uma mãe
que nos arruinou a vida... "E eu lhe respon-
dia: "Foi teu pai quem te arruinou a vida"
Sim, porque todos os que tinham prohtt
culpavam as mães superprotetoras, enqua
os pais indiferentes ficavam liv'-es de toda a
culpa. Então, eu me ergui, e disse," basta'., è
preciso defender as saistas!". E como o tal
sujeito era mudo inteligente, tinha uma dia-
Letica arrasadora, eu me enchi de raiva e es-
crevi o livro. No caso de "O Beijo da Mulher
Aranha," ele Foi escrito para uma pessoa que
me disse uma vez: "E vocé sabe lá o que é um
homem": era um mcxiano... iPulg é multo
enfático em toda esse trecho da entrevista; am-
para as palavras numa mímica riquíssima, e
transforma os enlreslstadorcs em platéia, A partir da esquerda Aguhialdo, Fraduco, Akeste e oesitreiktado
provocando neles a reação que lhe parece mala tofalamos que eu acabei fazeisdoa adaptação: ela Marcelo - Mas o Molina, dentro da tragi- siacada, unir-se para se defender melhor,
conveniente. Nesse trecho, todos riemi. Bom, o já está pronta. e a própria Dma vai produzi-la e [idade dele, da alienação, ele consegue dar o seu Iincétri não pensar que este é o ponto final.
tato é que eu tenho o raciocinio lento: muitas dirigi-ta. recado. Porque assumi mis heterossexuais também es-
vezes escuto uma coisa dessas e não sei Como Alcesse - E depois, esse tipo de homossexual tariam certos ao defender suas posiçóes fe»
responder na hora. O resultado é que, depois, Leila - Voltando ao começo: você disse que
em "O Beijo..." queria falar da questão da existe mesmo... cl:amLms.
o ressentimento cresce de tal Forma que ex- Francisco - E é comovente em sua lr*gIlI. João Carneiro - Você disse que um grupo
plode num Livro... mulher submetida. Pronta a obra, você acha que
essa intenção ainda ficou de pé, mi acabou dl. dade.. homossexual norte-americano não gostou da
Alcesir - E quanto ao tal livro sobre o Agusnaldo - Não acho que meja frágil; acho fragilidade de MolIna; queriam um homos-
bole brasileiro? É pra responder a quem? luída num projeto mais amplo? Houve alguma
reação de Iemnistax, por exemplo, em relação ao que ele é paciente... sexual limrle. PÁs aqui no Rio, seu livro tem
Pulg - Não dá pra dizer. IA resposta " Pulg - Mas um grupo de liberação hornos- sido muito discutido usos grupos, e eu noto
evasiva é acompanhada de uma mlmka es- livro?
PuIg - Não, eu creio que essa intenção per- sesual norte-americano me col"rou uni verso' unia solidariedade multo grande das pessoas
pedal: ele tinge pôr alguni grampos no cabelol nagem forte... em relação aquele personagem. Me parece que
Francisco - (irnico)Ah, então é Isso, não niaiieceu em primeiro plano, porque as mulheres
são as pi incipais defensoras dessa novela. Pci- Aguinaldo - Acho que este tipo de homo. o mais Importante do seu livro, nesse aspecto,
é? sexual ativista, monolítico, é que é frágil; ele é que ele deixa bim claro que é Inevitável um
Pulg - Mas antes de escrevê-lo eu já tinha meiro eu gostaria de lhe dizer qual o meu conceito
de feminino: pra mim, ele se resume a três coisas: acaba sendo Igual ao Vakntlm,.. dialogo entre homossexuais e heterossexuais.
outro livro pronto: "Maldição Eterna a Quem Leda - Você viveu onde? Você poderia falar sobre Isso?
Leia Estas Páginas". E um que foi publicado sensibilidade, reflexão e insegurança. esla última,
também, como uma virtude. Mais precisamente, Pulg - Antes, estudei cinema na Itália, Puig - O problema com os norte-
depois de "O Beijo". O titulo é "Pubis t.n- Depois, nesta fase de exílio, vivi no México, nos :tmcric:s, ' a eStá numa valorização talvez incon-
gelical". meu último livro. "Pubis Angelical", é uma dis-
cussão feminista: é a histôria de uma jovem que Estados Unidos e na Espanha. sejente do masculino. Para mim trata-se de um
Francisco - Você está morando no Brasil, se encontra com a revolução sexual, e que reage Leita - Nestes países você manteve cnn- cqLIIsis'o. pois o que é preciso é reivindicar o
não é? E está trabalhando numa versão teatral da como pode, não comoquer. Nos dois casos, eu es- talos com grupos homossexuais'! Como é que aspo'I o positivo do feminino. Porque de
"O Beijo,.." D* pra Falar sobre Isso? colhi protagonistas fracos. Molina é fraco: há você vê estes movimentos? niadi.is..,
PuIg - Bom, o Brasil sempre me fascinou. homossexuais bem mais fortes que ele. mais Puig - Sempre de niods, muito positiso, Agiiinaldtm - ...A gente já está de saco
Quando ainda estava na Argentina, sempre que lúcidos, etc. A mulher de "Pubis Angelical" iam- Apenas, nos Estados flnidsis, há essa tcndémida cheio!
viajava para a Europa, os Estados Unidos, dava bém não e a mais inteligente das mulheres, para a separação, para o guemo. Creu ' que não Puig - ('Uro, já temos ciii demasia estes
um jeito de parar no Bral: tem uma coisa Minha intenção, com isso, é fazer com que o ' se deve perder de vista o fim último da ti- ilitiii!mii'cs, suas hipocrisias!
brasileira que sempre me fascinou: a possibi- leitor perceba o problema dos personagens e reaja heraçâsi, que é a sexualidade total, Está bem. Alie-ti' - Eu sempre achei essa fixação doa
lidade de ser espontâneo, coisa que para os ar- em relação a ele, vamos defender uma posição de minoria guck norte-americanos imo masculino uma coisa
gentilisss lhes Custa muito. multo à direita; não sei se você concorda.
Francisco - A você não custa tanto assim; Puig - Totalmente. Pra mim, isso é fascis-
10(1.
você é muito espontâneo.
Aguinado - Mas lei só por Isso que você veio Alce-te .- inclusive os ditadores assumem
morar no Brasil? essa mesma postura: são todos "muy machos"
Pulg—Ahn... Uhn... não é?
Mccat - Alguma história de amor? Puig - e que para os americanos, também,
Puig - Abri... Uhn... Bom, gente bonita há é muito difícil elaborar a questão do feminino,
em outros países também. Mas aqui há uma com-
binação muito especial. Além disso, meus pro-
Receba pelos correios plirqili,' eles téni elementos muito fortes de
imiairmarcailo. Mno nossos países, não: a mulher
sempre esteve ao lado dos perdedores.
blemas de saúde: tenho'que fazer exercicios, ir à
praia todo dia, e é muito difícil pra mim viver
uma - A mulher é um mistério tanto no
numa cidade pequena. O Rio é a única cidade Indo heterussesual, como no lado homossexual,
grande que eu conheço com praias. (A explicação
não convence todos proestans; alguém dia que
Puig esta fugindo do assunto; Alcexie não podia
Mala enorme Lida - E. Nos dois lados ela continua
oprimida por uma mentalidade pairlarcal que faz
com que ela seja oprimida em qualquer lado que
sei' mais explícito; pergunta, com seu vozeirão:
"Foi por causa de um l)Oie?". Pulg: "Ahn.,, O pacotao de números atrasados esteja.
Agmiiiialdo - Mistério mesmo. Um dia desses
ii hn,.,." eu eslava conversando ecos unta pessoa heteros-
Agiiinaldo - E essa mudança Interferiu de de LAMPIÃO sexual sobre o órgão genital feminino. AI eu lem.
alguma mineira em seu trabalho? brel um detalhe que eledesconheda. Então eu lhe
Pulg - Pelo contrário, lenho trabalhado
bastante. Tanto que pretendia escrever alguma
Cada exemplar custa Cr $ 50, perguntei, "mas como, você nunca procurou ver
como e que é?" E eles "Não, eu como, mas nem
coisa sobre a Argentina, mas ai um personagem Peça pelo reembolso postal d olho..."
se atravessou no meio do meu trabalho. Lei] - Que horror!
Leita — O tal bole,,, Esquina—Editora de Livros, Agumimaldmi - Quer dizer, o cara vive apre-

1
Pulg —Ahn... Uhn.., Quantoã versão ir-atrai goando que gosta de sota; na verdade, ele teia é
de "O Beijo da Mulher Aranha" quem me Jornais e Revistas Ltda. po sor!
procurou, aqui os Brasil. foi Dma Sfat. Na; Itália Leila - Você sai viajar agora, não é? -
já tinham feito uma, que fez muito sucesso. Caixa Postal 41031. CEP 20.400, Puig - Sim, para os Estados Unidos. Tenho
Quando Diria me procurou, aqui no Brasil, seu unia oficina literária na Universidade de Colum-
entusiasmo em relação ao trabalho acabou me Rio de Janeiro—RJ bia.
contagiando; começamos a falar sobre eles, e lan- Alce-te - Já que está nos seus planos um livro

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NTREVIST
após a entrevista, pretende Ir ao Cine Orl y , na
Cindândi., ver 'República dos Assassinos"
Alceste lhe diz que no Orly as pessoas nunca vêem
os illmes, luzem outras coisas. Pulg sorri, Idiz.
Alguém lhe pergunta se ele viu um filme
hrissileko,ecenie, de grande sucesso. Ele diz que
sim; ante outra pergunta - "O que você achou?"
-, dc pede, antes de responder, que desliguem o
gravadort
João Carneiro— Já se falou nisso, aqui, de
outra forma, mas eu gostaria de insistir: me
parece que em sua obra existe uma mensagem
cristã; voei leve uma formação crisma?
PuIg - Bom, me interessa, da mensagem de
Cristo, o resgate do feminino. Cristo assumiu
muitoeste lado feminino, de dura, de
suavidade, mas a Igreja nunca encanas este iates
Quanto à fiirniação cristã, não sei,
Aguinaldo— Você tem sido procurado por
estudantes brasileiros interessados em sua obra?
Como têm sido os seus contatos com eles?
Pulg - Oh. estes contatos apenas começam.
Estou int eressado mesmo é em contactar o
pessoal de cinema. Tem um filme cujoroleiro eu
sobre o ial hoje brasileiro, eu pergunto- o que e escrevi: liii filmado no Méxicoen protagonista é
que soei acha do homem brasileiro? um lravcstj; ganhou prêmios em festivais
internacionais, etc...
Agui ntildo - lnduslve Ilsicmenie?
Alceste - Claro! Adão - Este filme eslava pra ser lançado
Pulg—Ahn... (Ihn,. aqui; era da Pelmes. A cooperativa, que comprou
Leili - Você chegou aqui no carnaval, não oRkamar, prometeu fazer uma prensÍre. mas Pulg fala, LdIa Mlccdli ão&
foi? Você pulou niulio? depois ninguém falou mais no assunto porque esteve durante menos séculos expsssto a
Leda - -Nião acredIto... Bom, a fita esta quase
Agiu soldo - Alô, alô, pesoI da uma cultura repressisa.
cooperailsa: que tal iauwar o tal filme? A gente acabando`, nrnal. como você sabe, é dirigido às
Pulg - Na- 0 meu saniba leni uma cii- Alente - Engraçado, todos os estrangeiros
garunleosucesso,.. :u;a, Puig, quantas horas minotuis; ha alguma colaa que voeis queira dizer
reogra tia ni ii ii influenciada por H ii lywi se.! ('ar- chegam aqui e encontram essa tal alegria de
você trabalha por dia? cspuialmenie? Alguma coisa dirigida às mu-
mcm Miraniliu. ele. Aqui me olham com grande lheres, aos negros... viver...
Pulg - Ah, odia inteiro. Porque tenho
despreiti quando eu começo a Lançar... Puig - Mas islu, me parece que é uma coisa,
muitas iraduçics. muitas res1s'ass, muita
Aguiiiakbu - Você ainda sal multo ao cl. Puig - Vtxê disse negros. Bom, quando sur- unia contribuição da raça negra: eia representa
ci irrespi iiisléiiciii.
mina? giu aquele assunto. "porque eu escolhi o Brasil unia sabedoria ancestral. Era sobre isso que eu
para morar", etc.: bom, suponho que esta di- queria falar, por ultimo. Agira. repetindo ,i que
Puig - Sim. Mas acho que o realismo acahte.t Agtitiutildo - Mas se você iraba; s anti- ferença que há aqui em relação à Argentina, essa noi, dissemos sobre o fascinio do, homossexuais
cuanocinema. Filmes como LaLuna cAil camemui todo o dia, quando é que faz a nutras poSsibtildaLie de ser esporilâncis eu diria mesmo norte-americanos em relação tio elemento mas-
1hat Jai' me fazem chegar à conclusão que o "as? ate uma certa alegria de siser. tèm que ser com... eu tini, e honi i ermi n tsr diiendo q ite de mochos..
cinema pode ser a última lorma de tortura...
Puig - Eu creio que trabalho tanti, r.s Francisco - La sangre negra.,. Aguiii.tkli - A genue Já está de saco cheio!
1 Aqui começa uma longa discussão sobre dusema; não tenho muita facilidade para consegwi as Puig - Sim, porque suponho que oincons- (Um coro alegre encerra a e trurrista. Todo.
fala-se de dusema brasileiro; Pulg informa que, outras ccsa,c.. ciente colei is o Lia raça negra é mais sa ud;i seI. juntou "É Isso iii

Livros novos na Biblioteca Universal Guei, .


Estes livros falam de você: suas paixões e
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ALONGA ESPERA DO PASSADO BLIJEJEANS MULHERES DA VIDA SEXO & PODER
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"The City and the FilIar', um clássico da li- As venturas e desventuras dc cinco rapazes, Norma Bengucil. LdIa Micolis, Isabel ican-Claude Bernardet, Aguinaldo Silve,
teratura norte-americana: o primeiro romancei todos michês. Umesuudoem negrosobres Clima=, Socorro Trindad e outras mulheres Maria Rita Kchl, Guido Mantega e Flávio
abordar abertamente o tema da homosan' prostituição masculina, escrito a partir de qurnilsaimas mostram neste livro. nova poesia Aguiar e muitos outros discutem as relações a-
atualidade naquele pata. Urna histófla de amor depoimentos recolhidos pelos autores nos das mulheres que não se ccrsformam com a tre sexo e podo-. Deis debates. um sobre
entre dois homens que atravessam i inm- locais de "pegaçào" , da Galeria Aiaska à pressão machista e tenta inventar sua própria mcaacxualidade e repressão, com o grupo
preenaiea e ata anca. "um livro emackas.nte. esquina de Ipiranga com SãoJoão, da linguagem. A poesia feita nos bares, calçadas, SOMOS/SP.
que comoverá a todos os seus leitores" • disse o Cinelãndia ao Largo do Arouche. bmbus, boates, prisões, manunioa e bordéis.
New York Herald Tnbuiie. Do mesmo autor de INTERNATO O CRIME ANTES DA FESTA S1IIRLEY
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e lIvrarias as obras .n*1cai eróticas, senas- Ciedade. Um libelo contra o machismo e a de". Dois seres humano.. coluificadou pela
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que cscandaliwu a pacata lntdhigentsia na-
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ama bd.ds, k$aats siá, tim-
dado ou 6hlanos exemplares. caia dizer comobmem e coimoamante. é. EXTBAJLA MPIÀO at 1.

* —ii^
Centro de DocumentaÇaão-
APPAD i
da parada da diversidade
Profil, Dr. Luiz Mott GRUPODIGNIDADE
ENTREVISTA

Na última entrevista de
Jean=Paul Sartre, um Único tema:
os homossexuais
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"A sociedade heteros-


sexual domina o hcanoe- 1.
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sexual e o omduz mais ou
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uma execução capital."

A brilhante publicaç5o homossexual francesa "Minha paixão é compreender os homens", diz feminilidade. Essa feminilidade lhe parece Im- de vista erótico, não tem originalmente nada de
"€ai Pld" fez com o filósofo Jean-Paul Sartre a ele. Estamos perfeitamente de acordo. Esta é uma portante, essencial mesmo, para compreendê-los? sexual. E a preferência pela conversação das
última entrevista exclusiva do grande autor. E es- pedra a mais que trazemos para o reconhecimen- Sem essa parte de feminilidade teria existido um mulheres.
se documento de suma impoi1ncia que Lampião to deste homem entre os homens.." (fean li Baudelalre, um Flaubeti, um Mallarmé? "Escrever E um Ato Solitário"
passa agora aos seus leitores, com a devida licen- Bitouz). - Mallarmé, em todo caso, tem uma fe- - Osenhor vê em Genet uma .6 salda paria
ça dos companheiros de "Gai PIed". A tradução minilidade de um gênero diferente. Digamos an- seu destino Indecente, que aliás ele assumi
pata o português foi feita por Francisco Bitten- tes qlie lhe falta absolutamente o machismo do plenamente: escrever. Pode fazer um paralelo en-
court. Esta é a nota original que abre a entrevista: "Minha feminilidade" homán. Quanto a Flaubert e a Baudalaire, é pos- tre o escrever que salva Genet de sua condição e o
"Estamos contentes de poder publicar a en- - Certos personagens masculinos de sua sível e mesmo muito provável que tenham tido ex- seu escrever que, de acordo com "As Paiaveas", o
trevista que nos foi concedida por Jean-Paul Sar- obra,cmno Mathieu em "Os Caminhos da Liber- periências homossexuais. Isso parece certo em jerta salvado de sus infinda?
tre a 28 de fevereiro passado, Enquanto Claude dade", Roquetin em "A Náusea", alio estio relação a Baudalaire, e durante longos anca - Não tinha pensado nisso. Digamos que o
fazia esboços do homem ilustre (que festejava multo persuadidos de sua virilidade e se ques- Flaubert esteve apaixonado por seu amigo desenraizamento foi mais duro e mais benéfico
naquele mês seu 75? aniversário), GuIes e eu ten- tiosam seta cessar sobre as relações que mantêm Maxime. Existiu portanto, qualquer coisa de para Genet; Genet, criança abandonada, en-
távamos com nossas perguntas elucidar um mis- com as mulheres e os homens. Por qul? feminino tanto num como no outro. tregue a camponeses e depois preso por roubo.
tério. Sim, porque notávamos depois de muito - Porque isso corresponde mais ou menos ao - No seu "Baudelalre" parece que o senhor Essa é verdadeiramente uma infãncia trágica
tempo que havia um fio negro secreto no longo de que eu sou, ao que eu me pergunto de mim mes- afirma que o escritor adquire ama certa "fe. para um menino sem pais e que tem de passar
sua obra romanesca, de suas peças teatrais e de mo. mlnlildade" porque ele aio ganha a vida entre os pela prisão. E no entanto ele gostava dos cam-
seus estudos biográficos: a problemática homos- — Poder4e-la dizer, repetindo Flaubert coo. homens. Será o ato de escrever antes de tudo um poneses como quem morava, era bastante feliz.
sexual. Ela está lá, serpenteante ou radiosa, seu "Madame Bovary sou eu", que Roquetin de ato feminino? Mas, enfim, foi uma infância trágica. Eu não tive
como em "Saint Genet", que Sartre considera seu "A Náusea" e outros personagense seus roman- - Não, não antes de tudo. Mas constato que uma infãncia trágica. E me arranquei de fato da
livro melhor acabado. Mas nada entretanto levara ces aio de alguma maneira mulheres travestidas ele se torna cada vez mais feminino. minha infãncia porque ela era demasiado cô-
a crer na exegese de sua obra, que aliás já é enor- de homens? - Será que o componente feminino do es- moda, demasiado protegida. O ato de escrever é
me. - Mio, seria exagerado chegar a esse ponto. critor (1) é o que o faz preferir a companhia das de uma grande solidão. Mas há, apesar de tudo,
"Achamos que não nos enganamos: Sartre, MAo, são homens que têm relações sexuais com mulheres à doa homens, que o senhor dedarosi na maneira de escrever de um e de outro uma
como se verá abaixo, tinha muita coisa a dizer mulheres, mas que não estão persuadidos de sua achar aborrecida? relação, ainda que o que foi escrito e as circuns-
sobre o assunto. E ficou claro que ele estava coto virilidade, que não pensam que ser viril é a seus - É passível, porque eu não gosto de falar da tãncias de que provêm sejam muito diferentes.
vontade de escapar de certas fórmulas, de certos olhos uma qualidade essencial. minha profissão, que aliás é apenas uma profis- - Quando se é levado a escrever é porque se
comentários que já pretendem normalizar sua - Nos seus estudos sobre Flaubert e Bau. são. E gosto de falarde assuntos mais livres, mais pressente um destino do qual tentamos aos de-
obra. Foi por isso que ele nos deu esta entrevista, delatre o senhor insiste nas dificuldades deles gratuitos, talvez. E bem possível que essa seja sembaraçar? No momento em que se sente am
sozinho e em casa. Entrea, aliás, sem igual para se situar sexualmente. O senhor chega a ver uma certa maneira de feminilidade, que me faz perigo, começamos a escrever?
no gênero, porque pela primeira vez homosse- mesmo'na letra de }laubert ou no aspecto de dia- preferir as mulheres, porque essa preferência,
xuais o interrogaram sobre o homossexualismo. di de um Baudelalre uma parte dolorosa de sua embora eu também goste das mulheres do ponto .4

*• Centro de Documentação
APPAD i(
da 1)IrIda tia divrridad,
Prof. Dr. Luiz Mott GRUPODIGNIDADE
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LE,NTREVISTA1
Talveziesde que dentes de que não se armadilha, estava nas mãos de meninos e era sua "O Muro", pile em cena Luclen Fteurler que,
saiba qual é o perigo. Tenta-se fugir de al'uma vitima; a menos que ele tenha querido, para se graçado - Lucien sai-ri com amarlura — podia-
como "O Conformista" de Moraaia, recuas-se a se perguntar por dias inteiros: sosainteligente,es.
coisa, sem saber de que. É uma espécie de estado libertar, ser justamente a vitima. Ele desejava sê- ser homossexual se refugiando na ordem fascista.
vago. ]o, Como explica mais tarde que há outras pe- Sarei risc enganando,sem jamais chegar à uma
O senhor pensa que esse é o caso de muitos ho- conclusão? E ao.lado disso havia as etiquetas que
- Em "Saint Gtnet" o senhor disse que "es- derastias além da passiva. Então ele se entregou mossexuais em busca de sólidas referências
crever é um meto erótico". Com Isso o senhor quis para tornar.seo menino que deseja ser apanhado, você se pregava um belo dia e era depois obrigado
hierárquicas? a levá-las pelo resto da vida: por exemplo, Lucien
dizer que o ato de escrever está orientado pra a aquele que se torna um dos componentes essen- — Não sei. O caso de Lucien Fleurier indica
sedução. JÁ que é também uma usina de fantas- ciais de sua personalidade. . . Transformou assim era alto e loiro, lembrava o pai, era filho único e,
mas? que aquilo a que ele se recusou foi mais a desor- desde ontem, era um pederasta. Diriam dele: "É
uma espécie de derrota - uma captura - em dem. Ele sentia o homossexual não como a or-
— Sim, escrever pode ser isso, pode estar vitória, que passa a desejar. o Fleurier, aquele altão loiro que gosta de ho-
dem, mas como a desordem. E com efeito Lujeri mem. " E as pessoas responderiam: "Sei, sim.
relacionado com a sedução e com o lado erótico - E quando não se é homossexual é por falta Fleurier não é um homossexual. Ele tem uma ten-
em geral daquele que escreve. E assim que é de drcunsinclas? Aquela bichona g randalhoa7 Sei muito bem
tação, mas é essencialmente heterossexual, ainda quem é." 1. — O termo pederasta é para Sartre,
criado o aspecto erótico de gesto de escrever. — Não, porque se pode ser poeta sem passar que tenha tendências homossexuais. Em todo
— O senhor também se Interessou por obras pela homossexualidade, Pode-se não ser, depende como para os de sua geração, empregado mais
caso, o desejo de ordem não parece lhe provir do seguidamente em lugar de homossexual. (La
nas quais notou bem cedo "o poder negro e das circunstâncias, Por exemplo, penso que a homossexualismo; ele o tem há muito tempo.
mágico": Fiaubert, Sade, Maliarmé e em Ultimo única salda para Genet era a de tornar-se homos- Mur, 1937, Gailimard e Poche, páginas 206 a
208).
lugar Genet. Por que tal interesse, quando em sexual. Mas pode-se imaginar circunstâncias "Vocês n*o devem Aceitar Essa Sociedade Pu-
resumo sua obra parece ter uma preocupação igualmente constrangedoras que não tem essa dibunda" "Temendo ser visto, Baudelsjre se impõe aos
permnenle de convencer pelo raciocínio sólido, solução, essa saída sexual. olhares. Espantam-se as pessoas de que ele tenha
pela dialética? - De Genet o senhor também disse: "Ad- às vezes o aspecto de uma mulher e se procura
— Em seus romances, certos personagens
— Penso de fato que me interesse pela lite- miro essa criança que se quis assim." Por que fazem da sodomia o ato dominador por excelên- nele os traços de uma homossexualidade que
ratura secreta, e inevitavelmente essa literatura é uma tal fascinação por essa escolha precoce da cia, que permite a um homem de subjugar um nunca se manifestou, Mas é preciso que se diga
no essencial erótica, salvo em perlodos de opres- marginalidade? outro. Franiz em "Os Seqüestrados de Aliona" que a "feminilidade" resulta da condição, não do
são social, quando há uma literatura política, — Porque escolha, e escolha precoce Era sexo. ( ... ) Quando ele sai, fantasiado como se fos-
declara: "Quando há dois chefes eles têm de se
igualmente escondida. Mas, vendo bem, as gran- preciso evidentemente uma escolha de um menino matar, ou então um deles tem se transformar na se uma caça, trata-se de uma verdadeira ceri-
des obras secretas são eróticas. E acho que não se de der anos, que s pode ser — se ele é profundo mulher do outo." Por que ver na sodomia lias- mônia; é preciso proteger suas roupas, saltitar
pode compreender a literatura se não conhecemos — a marginalidade. Ele não pode seguir o ca- alva uma execuçãocapltal? entre os charcos d'água: ( ... ) enquanto grave-
tais obras, se essa metade obscura não estão aces- minho dos outros porque ii não seria uma es- - isso é um pouco o resultado das impressões mente realiza os mil pequenos atos impotentes de
sisei Aqueles que conhecem apenas Pascal, colha, mas a .imposição da força dos outros. E seu sacerdócio, ele se sente penetrado, possuído
que tive' e amadureci depois das discussões com
Suou Sirnon e Boilean im uma visão minto in- conseqüentemente essa escolha pessoal, profunda Genet. Quando escrevi o livro sobre ele tinha pos- Pelos outros. G..) Mas um homem-mulher não é
completa da literatura. e rigorosamente individual, com um único fim, é sibilidade de lhe falar, criava minhas hipóteses e necessariamente ttm homossexual. A passividade -
— Mas Rlmbaud ou Maliarmé tinham urna de tato uns ato de vontade formidável da parte de as submetia a ele. Às vezes, apesar de suas ob- de objeto sob os olhares, que ele tenta compensar
preocupação de precisão dialética? uma criança. jeções. eu mantinha hipóteses, mas de tempos em com uma composição cuidadosa de seus gestos e
— Eles tinham um sentido de precisão, que é "Essa Profundidade que os Heterossexusls não tempos era ele quem tinha razão. E depois, eu via de sua maneira de vestir, lhe dá um prazer que
muito importante. A precisão para a metade têni" talvez ele tenha transformado de vez em quando,
a coisa assim. Nunca pretendi que em qualquer
sombria da literatura é tão ou mesmo mais essen- - Pó um paralelo constante na sua obra co- circunstância era assim. que era preciso vê-[o, mas em seus sonhos, numa outra passividade: a de seu
cial que para a literatura ao sol. Há uma precisão ire o fascínio da ordem militar, a recusa da na situação de Frantz, jogado no exército pelos corpo sob um desejo masculino. Daí, sem duvida,
rios poemas de Baudelaire que é muito particular, vIolêncW e o homossexual em buscas muito sim- alemãés - seus Chefes —. Eu via isso como uma as eternas e mentirosas acusações de pederastia
rri sensível, há uma precisão quando Genet se bhlicas. Por exemplo, o homossexual Daniel em que ele carrega contra si mesmo."
execução. Ele durante todo o tempo submetido a (Bsudeiaire, 1946, Gailimard e col. Poche/ldées.
conta através dos mitos que ele inventa, todas as "O Caminhos da liberdade" aplaude a entrada uma execução, e finalmente era a uma execução
Iiiagensa que forja, nas idéias que expressa e a das tropas alemãs em Paris. Esta adesão á ordem capital que o submetiam. Digo-lhes que vejo ai Páginas 193 95.)
literatura é certamente para ele, como para tantos masculina é encontrada em C.enet. O homos- uni destino possível do homossexual: a sociedade .,É preciso que o pederasta permaneça um ob-
outros, como para mim, uma construção precisa sexual na política seria um traidor virtual? heterossexual o domina e o conduz mais ou menos .1cm, flor. inseto, habitante da antiga Sodoma ou
que pode ter tudo de vago e de longiqilo, todo o - Ë possível, Não o disse porque em um seis- sorrateiramente para uma execução capital. da longinqua Urano, autômato que salta á luz
rande do sublime, mas que é constantemente tido isso cessou de me interessar. Como eu não — O senhor não acha que falta uma análise do palco, tudo o que quisermos exceto meu
precisa e tenta definir uma situação. Foi isso que era homossexual, não poderia dize-lo. Poderia Importante sobre o homossexualismo disfarçado próximo, exceto minha imagem, exceto eu mes-
eu encontrei em Sade e nos escritores negros do tentar pensar sobre o assunto, ou pensar alguma que existe na tortura, no esporte e em todas mo. Porque é preciso escolher: se todo o homem é
século XIX, ainda que com variações: uma es- coisa equivalente se eu fosse homossexual. E acho hstituiçOes "masculinas"? o homem, é preciso que esse transviado seja
pécie de racionalidade negra. de fato que um homossexual é um traidor em — Acredito sim que o fato existe e que cer- apenas um seixo, ou então ele seja eu . . . " (Páginas
"I'omossexualismo: Um. Escolha Existen- potência. Mas é preciso compreender muito bem tamente deve ser analisado. 648a649)
cial". o que isso quer dizer. O traidor é o aspecto negro — Esse tabu geral que atinge o hoinouse. "Lendo Genet ficamos tentados de nos per-
— Nos seus "Escritas" há uma passagem da coisa mas o aspecto branco, dourado ê o do xuaiismo não terá por única origem o terror da guntar: Um pederasta existe? Pensa? Julga, nos
Inédita (2) de "Saint Genet" onde o senhor diz: homossexual tentar ser uma realidade profunda, sodomia passiva? julga, nos Vê? Se ele existe, tudo muda: se a
"a literatura, canso a pederastia, representa uma muito profunda. Ele tenta encontrar uma profun- - Sim, é possível, é mesmo provável. pederastia é a escolha de uma consciéncia, ela
salda virtual que se Inventa em certas sftuações e didade que os heterossexuais não possuem: mas .— O Homossexual passivo se oferece e se dá. torna-se uma possibilidade humana. O Homem és
que, em outras, não é sequer pensada, porque cri- Isso também, essa profundidade que ele tenta ob- Para os outros ele então perde toda a dignidade; pederasia, ladrão e traidor. Quem negar issopo!
dão não seria de nenhum auxilio". Por que faz tal ter com simplicidade, com clareza, pois bem. o seria, como o senhor escreveu, "uma mulher lm- de renunciar aos seus mais belos louros: foi por-
comparação? lado negro se aposssa. Existe no homossexual um ginárla que tem seu prazer coas a ausência de que você gostou de furar a barreira do som com
- É a propósito de Genet, claro. E depois, eu aspecto negro que o define, que se faz presente prazer". Por que uma tal desconsideração que aquele aviador, e com ele. Você fez recuar os
achava que a maneira pela qual Genet assumiu para ele e não necessariamente para os outros. parece atingir e englobar tanto o homossexual limites das possibilidades humanas e, quando ele
seu estado quando era prisioneiro, para praticar — F! itier mandou massacrar os SA em 1934 passivo como qualquer mulher que lenha relações
aparece, Você se aciama a si próprio. Não seio
realmente o homossexualismo, parece o estado de dizendo que o homossexualismo era perigoso pura heteroasexuaja? nada de mal:; toda a aventura humana, por mais
um homem sem saida, completamente confuso, a ordem social. Sialin tinha acabado de realizar — Leiam Genet: é ele quem dá essa impres- singular que possa parecer, compromete a hu-
perdido diante dos outros e que inventa a lite- chacinas semelhantes. Será o homossexual o es- são. É ele quem diz que não tem prazer; ele o manidade inteira."
ratura, isto é, que inventa escrever para encontrar pantalho necessário que é erguido toda vez que procura mas não encontra. E quando se transfere "O cume é a feminilidade secreta dos homens,
uma saída. Em suma, a vontade de pederastia em um regime quem consolidar seu poder? a esse papel artificial do homossexual ativo, passa sua passividade." (Página 508)
Genet, a vontade de tornar-se inteiramente — Toda vez, não sei. Em todo ocaso éum es- a desprezar um pouco os homossexuais passivos, "Genet se entrega.. . a crises catâr'.icas que
Pederasta, de aceitar a violência a que era sub- pantalho que se ergue. Um regime fascista é em embora considere a homossexualidade passiva reproduzem e elevam ao sublime o primeiro en-
metido de vez em quando pelos companheiros de geral contra os homossexuais. Só que vocês não como a verdadeira homossexualidade. Para ele, é cantamento: o ciúme, a execução capital, a
Metray, e ele queria que a violência fosse aceita, devem esquecer que no regime hitierista havia poesia, o orgasmo, o homossexualismo," (Página
ela que conta: a outra, é uma homossexualidade á
pedida: assim ela deixava de ser violência. Um es- também o inverso: os Hiltiem Jugend eram muitas que se chega, onde o homossexual fica ativo 12)
critor tenta pensar em liberdade sobre as relações vezes homossexuais ou, em todo caso, se orien- depois de ter sido realmente homossexual passivo. (Saint Genet - Comédien et Martyr —, Galll-
das pessoas entre si e sobre a violência que se tavam em direção ao homossexualismo. Havia os E nisso eu me fio em Genet, pois era dele que es- mard, reeditado em 1978)
fazem. nega-se a uma espécie de gratuidade, de dois aspectos. Tal ambiguidade existe em todos os tava falando. "Gasi: Como os homossexuais ainda são uma
aceitação e de vontade, exemplos de fascismo, cada vez que existem mas- - O senhor acredita realmente que toda minoria, ninguém os toca. Por isso quero saber o
- Em "Saint Genet" encontramos esta frase: sas retidas, unificadas ou em exercido militar. De sodomia passiva cria uma ausência de prazer? que pensas disso. — Sartre: A tua pergunta é
"Não se nasce homossexual ou normal, cada um qualquer forma há uma tendência ao homos- — Não hU razão para isso. Mas é certo que difícil, porque o movimento homossexual não é
Sorna-se uma coisa ou outra com as acidentes de sexualismo porque os homens estão sempre jun- Genet não parece ter tido grande prazer. popular. Se fizermos no jornal artigos sobre o
sua história e sua própria reação a esses aciden- tos, vivem juntos, têm relacionamento mais ou — Em 1980, como o senhor vê o status social homossexualismo, receberemos muitas cartas de
tes". O senhor afirma também: "É uma salda que menos Intimo. Há portanto uma ameaça do dos homossexuais: essa minoria pode ser absor- leitores que são completamente contra. Não
uma criança encontra no momento de sufocar". homossexualismo; digo "ameaça" porque os vida pela hipócrita liberalização de costumes? temos como tirar um denominador comum.
Dizendo Isso o senhor não faz do homossexual o chefes fascistas sabem que há a homossexuali- — Não. Penso que no momento ela tem de Quando tivermos 25 ou 30 cartas de leitores que
melhor exemplo de sua tese existencialista? dade que nasce com o fascismo e, eles querendo ficar bastante isolada, de permanecer um grupo nos dirão: o homossexualismo é horrível, ele é
— Certamente, porque quando tomei a de- ao mesmo temj.o ser machistas, são contra essa dentro da sociedade pudibiinda, um grupo se- contra a luta de classes, e do outro lado urna.
cisão de fazer um prefácio para Genet tomei o homossexualidade, t a prova que há os dois as- parado que não pode se fundir com essa sc'cie- ou duas do FHAR, de que forma fundir as duas
homossexual que era Genes como o próprio tipo pectos e isso cria a contradição profunda de um dade, que ela não deve aceitar mas, ao contrário, opiniões? E nota que, de um certo ponto de vista,
do homem que se faz numa situação... Finalmen- regime fascista, digamos ditatorial. de certo modo, odiar. Os homossexuais não os que dirão que são contra a luta de classes não
te, Genes é homossexual porque é órfão e ladrão, — Mas esse foi também o caso de Sialin. devem aceitá-la, mas a única coisa que podem es- estarão totalmente errados. Esse era o caso até
porque ele é feito de roubos. Então, o homos- —Sim. perar, em certos Estados, é uma espécie de espaço agora, atualmente a coisa mudou, mas... ( ... )
sexualismo é uma espécie de retomada de todo is- — Por que não há uma palavra em seus es- livre onde lhe seja permitido se reunirem, como Não se trata de sair gritando "Viva os homos-
soe ele tornou-se, como diz, o Ladrão. O Ladrão critos políticos sobre o extermínio de homosse- nos Estados Unidos, por exemplo. sexuais". Pessoalmente eu não posso fazer isso, já
é ao mesmo tempo o pederasta, ou antes, o ho- xuais por Stalin e hitler? Entrevista feito por Jean La Hitouk e Guies que não sou homossexual. Trata-se de mostrar
mossexual. — Porque eu não sabia exatamente de que Barbedette em Paris, em 28.2.90. Desenho de aos leitores do jornal que os homossexuais têm o
— Porquê? tipo eram esses massacres. Não sabia se eram sis- Onude Lochu. Todos direitos de reprodução direito de viver e de serem respeitados como qual-
- Eu já expliquei em "Saint Genet". Gerset, temáticos, quantas pessoas tinham atingido; não reservados ao "Cal Pird". quer outra pessoa."
naturalmente, é um cso particular; não se pode estava certo. Eu podia então reprovar muita coisa 1. "Sempre acreditei que há em mim uma es- (Ou a raison de se révolter, 1974. Debate para
dizer o mesmo de qualquer homossexual, nem
que todo homossexual é ladrão: isso não quereria
dizer nada. Mas esse é ocaso de Genei; quando se
nesses ditadores, mas essas justamente eu não
podia por nãosaber.
— A que o senhor atribui o fato de não ter
pécie de mulher", entre--lota com Simone de
Beauvolr ("Sltuaflosts X", Gallimard, 1975). 2.
in "Les Ecrits de Sartre", por M. Contat e Rybal-
a fundação do diário Libération. Páginas 115 a
J.,l7. Gallimard, col. La France Suavage). •
deu conta, ele era ladrão, maltratado pelos adul- conhecimento desses casos históricos? ka (Gailimard, 1976).
tos, jogado numa prisão e enfim encomrou
meninos que eram como ele, ladrões, e que o
— Os historiadores falam pouco a respeito. O
jornal de vocês é feito para denunciar casos desse
"Eu sou um pederasta, se diz e sente-se des
mcxonar com isso. — Levanta, Lucien, grita-lhe a
LAMPIÃO
trataram sexualmente como vsima. Ele não podia
mais escapar dessa situação. Tinha caldo numa
gênero. Façam análises de tempos em tempos-
- O seu conto "A Infinda de um Qtefe", em
mãe pela porta fechada, tens escola hoje. — Sim,
mamãe, responde Lucien docilmente ( ... ) Era en- Assine imom

Centro de Documentação
APPAD *
associaçc par.ItsaeIlsr
da parada da div,'r',idadc
Prof. Dr. Luiz Mott, GRUPODIGNIDADE
Fï*ü iiiA
Anistia apóia homossexuais convencionais, porque, em matéria de suas presas. A decisão da AI pode
Durante o 12? Conselho Inter- fisicamente de qualquer modo por ajudar a quebrar essa Indiferença. In-
nacional da Anistia Internacional, razão de suas crenças políticas, re- sexo, admitem que este pode ser
praticado tendo em vista o prazer e felizmente, não nos foi possível ouvir
realizado em Louvaln,Bd&LCa, com a ligiosas ou outras, ou por razãc' de sua pessoas credenciadas sobre o assunto
presença de representantes de 44 zx'igem étnica, sexo, cor ou lingua, aio apenas a reproduçso. A questão
dos homossexuais Interessa mala de - todos os que costumam falar em
países (O Brasil estava lá, é claro), a desde que não tenha usado ou ad- nome desses movimentos se deslo-
vogado a violência".
perto a nós que circulamos em torno
AI finalmente decidiu adotar uma caram para Salvador, quando está-
posição quanto à repressão aos ho- Para nós, homossexuais e bra- de LAMPIÃO, mas não é a mais Im-
portante nesta luta. é claro; para que vamos fechando este número de
mossexuais. Eis o uue diz sobre o as- dielros, isto significa basicamente o LAMPIÃO; lá, pirtielparlam de um
sunto o Amnesty International New- seguinte: cada vez que os camburões se tenha uma Idéia: enquanto os vários
movimentos brasileiros pela anistia se congresso sobre a anistia deles, para
sletter, órgão oficial daquela entidade: da polkia carioca, por exemplo, es- iuie tio restrita quanto a que o gover-
acionam diante do cinema liii e articulavam numa campanha des-
"Sobre a questão da atitude que a tinada a arrancar das prisões um no lhes concedeu.
prendem Indiscriminadamente todos Anistia realmente ampla, geral e
organiza ção deve t omar em rela ção a os homossexuais que saem de lá, o que grupo de membros de classe média,
pessoas presas por serem homosse- dezenas de pessoas marginalizadas irresti'ita: não aquela destinada a
está ocorrendo, aos olhos da Anistia beneficiar apenas os døetos filhos da
xuais, o Conselho decidiu que qual- continuavam a ser executadas, todas
internacional, é a figura da prisão classe média, mas a que arranque dos
quer um feito prisioneiro por advogar as semanas, pelos vários grtços de es-
a causa homossexual deve ser con- potisica "nos casos em que a ho- cárceres os negros da Baixada e evite
mossexualidade venha a ser tomada terminlo da Baixada fluminense -
siderado como um prisioneiro de em - cuja (unção é matar pessoas pobres e mortes como a de Robsou em São
ciência. Nos casos em que a homos- como um pretexto para prender Pes- Paulo, ou a de Aézlo no Rio; a que
soas...", etc... negras -, sem que Isso provocasse
sexualidade venha a ser tomada como qualquer tipo de reação nos parti- resgate dos desvios escuros da Rua
um pretexto para prender pessoas por Esta decisão da anistia vem em cipantes daqueles movimentos. Rego Freitas, em São Paulo, ou da
suas cresças, a Anistia Internacional Rua do Lavradio, no Rio, pessoas
boa hora: a meio de uma campanha,
poderá adotá-las como prisioneiros de iniciada por pessoas progressistas em A questão é: que atitude costu- ricas de humanidade como os travestis
consciência". nosso pais, com o objetivo de tornar mam adotar os vários movimentos flóvia e Tatiana, de quem vocês lerão,
realmente ampla a luta pela anistia, brasileiros pela anistia diante das nas páginas que se seguem, tocantes
E o que são prisioneiros de cons- confissões. As senhoras e senhores da
ciênciai O mesmo boletim da AI tem- levando-a a englobar os presos prisões indiscriminadas de homos-
anônimos do sistema - os que são en- sexuais? Parece-nos que nenhuma - anistia à brasileira que se preparem:
báu apresenta uma definição: multo mais que do Governo, é deles
"O Conselho definiu o "prisioneiro carcerados porque são pobres, lelos, a tendência é passar diante do cinema
negros, porque adotam cosnpoita- fria e achar muito natural que lá es- que Iremos cobrar essa amplitu-
de consciência" como qualquer um.
iiientos que se afastam dos padrões tejam os "camburões" à espera de de. (Aguinaldo Silva)
aprisionado, detido ou restringido

Ç.lauco - Você disse que tem 22 anos,cão á? deixou um tempo em casa. Então, eu procurei um

Dois travestis, Eu vim pra São Paulo, do interior, emprego, fui trabalhar. Era num hospital. eu
Flávia -

em 1973. Minha família não me aceitava mais em trabalhava como oUke-boy. Mas ai eu vi que não
casa. Estava uma bichinha assim. meio-carnaval, dava nuesmo; peguei minhas trouxas e vim pra
entende? Dai, minha mãe não podia mais comigc São Paulo. Aqui, fiz umas amizades, arrumei
e me levou pra Itatiba. um internato: me deixou emprego numa casa de família Eu era doméstica

uma advogada: num hospital psiquiátrico, de recuperação, pra


ver se eu tirava isso da minha cabeça. se eu vi-
rava, homem. Eles me davam drogas, choque,
medicação, cal eu fiquei pirada.
- quer dizer, doméstico, né? Meu cabelo já es-
tava grande. mas eles me aceitaram assim mes-
mo.
A]an - Você luzia o que? Limpeza?
Trevisan - Mas que hospital era esse?
Flávia - O Américo Barreto. conhece? Muitc
Flávia - Limpava, lavava prato e cozinhava.
De noite, dava minhas voltinhas. Até que uma

três depoimentos bom... Tanto que eufiquei pior depois que entrei
lá. Eu tomava impregnação, era uma inj eç ão pra
me castigar, sei lá - cada vez que eu tomava
queria morrer. Ficava num estado assim. meie
noite, eu entrei em cana, entende? Tinha es-
quecido a carteira p rofissional em casa - eu
tinha a carteira assinada -, e eles me levaram.
Fiquei três, quatro dias preso, e ai saiu meu
sonolento. E o eletrochoque era pra eu perder a retrato no "Noticias Populares", com a foto e
meu nome certinho, assim - "Flávia, o travesti-

vivos sobre vontade de ser travesti. Só que com aquilo eu


ficava ainda mais amedrontada, quer dizer, mais
mulher.
ladrão, se virando na Avenida Bandeirantes".
Era tudo mentira, mas minha patroa ficou
apavorada e me mandou embora. Dai, eu me

-em I -., uM - 1_-I- E=


Jorge - E os médicos tentavam lhe convences
amadar? joguei de vez na viração.

ci s
á
Fl via - Tentavam. Botavam uma menina na (A história do travesti Flávia drhou tensa e
minha frente, ela ficava ali nua fazendo poses, e emocionada a platála que a ouviu no indo da en-
eu não sentia nada; ai eles me davam mais ele- da, aqui para a
trevista; serve de prv&mbulo, ou como
trochoque na cab eç a, Fiquei lá um bom tempo. uma esp ieéc de deixa introdução da Alice
Soares, a advogada que, se as coincidên a tives-
Rua Rego Freitas, São Paulo, oito da noite. Flávia, também convidada(o) é um belo De dois em dois meses eu fugia, mas voltava pra
casa, e minha família me levava de novo pra lá. sem ajudado, certamente teria conseguido arran-
Flávia e Tatiana na calçada. batalhando. O travesti de 22 anos, que faz viração desde os 17.
Dai, minha mãe viu que não adiantava, e me cá- lo do xadrez).
movimento está fraco, mas de repente vem se Acaba de colocar seios de silicone ("número
aproximando lentamente um Corcel. Flávia faz pequeno, porque não sou exagerada como as
um disfarçado sinal para Tatiana: —vem cá. outras"). Pretende fazer seu pé de meia enquanto
menina, esse itt tem cara de quem gosta de su- é jovem e acha que o homem é atraso na vida da
ruba. "E Tatiarta. olhando para o carro como se gente. Tatiana, a outra convidado (a) tem olhes
nada notasse, cochicha de volta 'nossa, pelo safados e 28 anos, batalhando desde os 22
jeito deve ser cachê de mil, ­ Ambas se aproxi- ("comecei tarde porque tinha medo"), é român-
mam do carro com um andar falsamente incerto. tica ('vivo cada momento como se fosse o últi'

.
Darcv Penteado pôr a caris para fora e explica m(;'), não tem silicone mas toma hormônio de vez

j
sem rodeios que gostaria de entrevistá-las para o em quando ("peito pra os caras não funciona, eles
LAMPIÀO. Aigu., , ninut.'s mais tarde, Darcy querem é pinto mesmo"),
abre a p 'o.: dc para os dois 1: avestis en- Não demorou muito, já estávamos entrosados
travem. Etc,. ,U.i: sem conseguir di ifaçar o a ponto de disputar a palavra Alice protestava
deslurnbcament" ' isfltC dos quadros e luzes. Eu. porque era chamada de senhora. Flávia mostrava

!
Alice Soares, (%lauci1 Jorge Schwartz orgulhosamente os selos ("ficou durinho, não
olhamos para eles, cá '. ' menos Ócs)urnbradce. desce"). E Tatiana, com um risinho de escárnio,
Noss.a mundos parecem estar a quilómetros de cantava entusiasmada: "eu não sou barrado como
distância. travesti. Com essa cara, faço mais o gênero

0
Alice Suares, uma das corvidisdas a ser en- mulher-macho '. No final, as duas carsõezinhos
trevistada. e uma advogada criminal que orienta de Alice Soares, porque assim têm onde recorrer
o Departamento Jurtdic' do Centro Acadêmico nos momentos de apuro. Quando p eç o um en-
Xl de Agosto. da Faculdade de Direito do Largo dero para contato posterior, quase em unts-
São Francisco. Desde 1 '2 acompanha os es- sono eles me respondem: "precisando é só ir lá
tagiários em audiências, sempre na área criminal, mesmo, na Rego Freitas. A gente tá sempre
e junto com eles agüenta a barra da clientela batalhando." (JooSUvérloTrevsau) er
carente da periféria de São Paulo - operários, Jorge - Como á que você cheg ou a faz A partir da esquerda: Trevisan, Darcy, Glauco, Alice e
negros, travestis, prisioneiros anxiimos - que ~o, FIávl*? Sess ê c pudesse comerumpouco
'e. Tatiana e Flávia estão atrás de A/ice.
solicitam seus serviços gratuitos ou quase. da suahistória..

A PPADiação paranaense
da parada da diversidade
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yk^^1 :
NTRE VISTA

Fiaria --.- Uns três dias, depende. Agora. -. '•' "'. - . dele, alicate, arame, etc.; eles tinham dado até
agressão, só se a gente gritar, né? Mas a gente :': . ... ji". uma lista de apreensão, olhe a sorte dele: com
não chega lê dando escândalo. - aquele material apreendido, nós provamos
Tirana - Sabe de uma coisa que aconteceu i: t .- - . ele estava ali trabalhando: o juiz o absolveu,
com uma amiga nossa? Ela deu escândalo e ' , _______________ !:aç até IC ele passou 30 dias na Casa de Dets-
jogaram uma bomba dentro da cela; arrebentou ",.
tudo, ela saiu até no jornal! _____ _______ Jorge - Meu Dcvii Trinta dias na Case de
Alice - Na época do Erasmo Dias a par- ' Detenção?
scguição era bem maior; inclusive, uma vez, ,
Alice - Até correr o processo; às vezes a gente
levaram uma turma de travestir que quebrou . __________________ consegue relaxar o flagrante, mas isso não sono-
tudo... . . tece sempre, pois tem juiz que acha que assim a
Flávia - Eu estava lá. As do babado, elas .. . pessoa vai embora, e depois, se de der uma multa
ficaram revoltadas. As do babado são as que se ou uma pena minima, a pessoa não estará ali pra
cortam, dão escândalo, apanham, chegam na ________ assinar. Na pior das hipóteses fica-se 30 dias
policia e já viram a máquina do delegado. Ë, tem preso. Já vi isso acontecer com vários travestis.
travesti que é assim; quando são presos eles se , Inclusive, um deles chegou e disse ao juiz que
revoltam e pegam o delegado, batem nele. Dai, o faturava uns seis mil cruzeiros por mês. Então, na
delegado leva eles pro xadrez. Naquele dia, eles sentença o juiz absolveu, dizendo que uma pensou
tiraram toda a roupa e tocaram fogo. Foi aquele com esse faturamcnto não pode ser considerada
Treisan - Bons, Micm me omite mala ou fumacê na cela, todo o mundo gritando. E ai vadia (risadas).
menos o que você fax lá no Centros é só urna falaram: vamos se cortar todos juntos. Uma dava - Agora veja bem nossa posição lá no De-
aprcaentaçiozlnha. a gilete para a outra... Já fazia quatro dias que Alice Soares, a advogada. partamento Jurídico. Quando eles estão pretos a
Alice - O meu trabalho no Departamento estavam lá; então. se cortavam pra ver se levavam gente vai imediatamente, quando é o DEIC, a
Jurídico do Castro Acadêmico XI de Agosto é eles pro hospital, porque lá o pessoal tem medo gente conversa. Outro dia a gente ia chegando e
jsstamente como orientadora criminal: eu orien- do escândalo e solta elas. um investigador olhou pra gente e foi logo falan-
to os estágiários, acompanho as audiências... Alice - Naquela ocasião. o Erasmo (n. da r.t do: "é assaltante ou travesti?" Porque eles já nos
São os estagiários do quarto c quinto ano que Erasmo Dias, ex-aecretuilo de Segurança de São conhecem. Nesse dia, como já estava tudo resol-
vão fazer estágios e, naturalmente, atendem, Paulo, bole deputado federal pela Arena) estava sido. ele disse que iam soltar todos. AI abriram
corno aprendizado a uma clientela mais caren- lá. inclusive tevou uns tapas dos meninos (ris,- aqueles portões e saiu a turma toda, até o menino
te, da periferia. Essa clientela é formada por dia). que a gente estava procurando. chamado Mie--
pessoas muito pobres: você sabe, hoje em dia Tatlsaa - Tinha travesti que encarava o thes; saiu todo mundo correndo, e a gente gritan-
para se arranjar um advogado fica multo caro; Erasmo cara a cara, xingava de tudo o que tinha do, "Mirth&. Mirthes!". mas naquela hora,
então. eles recorrem à justiça gratuita; pagam de xingar. tá entendendo? E a agressão dele quem é que parava a Mirthes? Desapareceu na
uma taxa de 150 cruzeiros e. quando não podem dobrava mais ainda pra cima de nós. Ele aumen- primeira esquina. As duas amigas dela que nos
pagar, arranjam um atestado de pobreza na tava a pressão, colocava mais cana em cima, levaram lá ficaram zangadas: "Imagina,Imagina. nós
delegacia, e nos os atendemos. O departamento cachorro, nulhei', colocava toda a policia fe- trouxemos até advogado pra ela, e ela nem dá
existe há mais de 20 anos, e hoje em dia todo o minina em cana da gente. bola. sai correndo sem nem olhar pra gente' . Eu
mundo manda gente pra lá: é o delegado de Trevisan Foi de quem Inventou aquela his- disse, "não, ela quer é desaparecei', é isso mci-
policia, o juiz, o promotor. os padres de todas as tória de colocar um homem, uma mulher e um mo".
paróquias... cachorro atrás de vocês? Trevisan - No caso de um travistl, me dá um
- Agora eu quero deixar bem claro o se- Fiaria - Foi ele. Tinha travesti que ficava exemplo de flagrante.
guinte: o Departamento Jurídico não recebe ver- revoltado, batia no homem e na menina; até no Alice - Por exemplo, quando eles pegam scan
ba de ninguém. Isso para nós é átimo, pois per- cachorro batiam. O pior tempo que teve para os dxumentos os que já são conhecidos ou já as-
manecemos independentes justamente para travestis foi aquele do Erasmo. Agora no 49 dis- Flávia, a ....' objetiva. sinaram uma ficha. Pode ser que façam o fla-
atender a esses casos de arbitrariedades desta- trito, aqui na Consolação, já é mais liberado. grante e deixem o travesti preso três dias ou mais.
manas, venham de onde vier, sem a preocupação sabe? Eles não podem mesmo com os travestis, Isso é quando eles querem demonstrar mais
de estar ofendendo este ou aquele. Então isto é então. a gente só chega, eles vêem o documento e trabalho, porque os delegados têm uma cota de
ótimo, nós atendemos todos que lá compare- a gente já vai embora. O pior distrito é oDEIC, o trabalho a apresentar.
cem, tanto no cível como no criminal, na área 39 Distrito. Lá são todos uns homens revoltados. Tresisan - Quer dizer que enquanto não
trabalhista e principalmente na de familia, que não entendem a gente. preencheram a cota deles, não param de prender.
são justamente 60% dt-a casos que lá compa- Tadana - Teve uns caso que aconteceu há Tatlan.. - Eu posso contar o caso de um
recem. uma semana, é muito importante; eu ia descendo, flagrante que aconteceu comigo, por suborno,
Treinsan - (aos travestis) Bona, voos. Iam e vinham dois caras, um deles passou a mão em urna coisa que eu nem sabia da existência. Eu só
báus querem se apresentar? mim: eu quis ratear com ele, mas os dois man- sei que cheguei na delegacia e assinei ppd,
Tatiana - Eu gostaria de perguntar porque ) papel, papel...
daram a gaste ficar quieta. Pareciam dois malan-
ela está se dedicando aos problemas dos traves- dros mesmo, não tinham senso de nada. Eu fiz o Fiaria _ É que naquele tempo eles pagavam a
tia. que eles mandaram, mas ai me entrosei com gente na avenida e a gente dava 50 cruzeiros, 100
Alice - Porque eu. particularmente e em minhas amigas, e uma delas falou: "E, vamos dar cruzeiros e ia embora pra casa. né?
nome do Departamento Jurídico. nós estamos lã um pau nesses caras, que eles tão muito folga- Tatiana _ Estava eu e uma amiga, demos 50
justamente para atender a estes grupos opri- dos". A gente partiu pra cima deles, mas ai um cada uma, e sabe onde a gente foi parar? Na Casa
midos; acho que vocês no momento estão sendo deles puxou um revólver e deu um tiro na gente. de Detenção. Fiquei passada! Só ai eu fiquei
perseguidos. oprimidos. Como também aten- Todo o mundo correu, menos eu, que fiquei lá, sabendo que existia uma coisa chamada " ' suborno
demos ao movimentc, negro; somos uma espécie incrementando com eles, chamando eles de à autoridade'; porque normalmente a gente dá
de ponta-de-lança contra as injustiças, Então. malandros, e tal. Dali a pouco veio a Garra (is. da dinheiro, mas eles acham pouco, então vira
fazemos questão de atender e acompanhar r.i uma corporação da polida civil paulista); uma flagrante.
vocês, quando são pretos. Svão para o DEIC, amiga minha foi lá e falou pra eles. "olha, esses Ta t'ana, a mais mmártt;.-.t Flávia - Uma vez me pegaram na Avenida
nós vamos lá e fazemos to. entramos com dois caras estão com um revólver, atiraram na Tatiana - Pois eu já conheci muito travesti República do Líbano, tiraram 50 cruzeiros e me
habeas corpus. batemos uiàpapo com o dele-- gente". Pois os dois voaram em cima dela e que mesmo trabalhando, com carteira assinada e soltaram lá em Moeda. A Garra faz isso. Além de
gado ou o investigador, procurando um meio de bateram tanto que a pobre até hoje está no hos- tudo, fica 15. 20 dias de molho na prisão. Perde tirar o dinheiro, leva agente e solta.
libertar o prisioneiro o mais depressa possível. pitpam da policia, também! emprego e tudo. Alice - E, dificilmente quem tem dinheiro
Tresisan - Eles são presos e vocês são Alice - Eu queria perguntar uma coisa; eles Alice - E. geralmente eles identificam o vai parar na delegacia.
clamados, ou vão lá regularmente? tiram dinheiro de vocês? travesti com o ladrão, o viciado, o assaltante... - Jorge - Depois do Erasaso-dlmlnula a per-
Alice - Geralmente são os amigos que vão lá Flávia - Lógico que tiram! Darcy - O "Notidas Populares" há pouom seguição?
no departamento para tirar os outros. Tatiana - Olha, eu só sei de ouvir falar. Eu dias publicou uma noticia sob o titulo "travessia Tattana - Olha, ultimamente, sim, diminuiu
Darcy - Em geral a razão da prisão á a nunca tive problemas com eles, porque estou prelos"; puseram uma fotografia de Vera muito, está devagar. Eles não estão dando aquela
prática da prostituição? Na maioria dai vexes as sempre limpando a minha barra; qualquer Abelha, entre outros travestis, na primeira pá- pressão direta, com a finalidade de pegar. Se es-
prisões são arbitrárias? coisinha. pintou cana, eu tou indo embora. Já en- gina, como chamada. Num caso como esse, eu tiver de bobeira, ai sim, eles levam mesmo.
Alisa - geralmente. a policia quando passa trei em cana por vadiagem, essas coisas, mas não quero saber se Vera Abelha pode mover urna ação Darcy - Eles teriam um prêmio pelo numero
na rua - (aos travestis) isso eles já sabem, têm posso me queixar. Agora tem travesti que dá contra o jornal, de prisões?
mais e;periência - já tem uslia implicância com carro pra eles, que vende tudo pra se livrar deles; Alice - Pode, inclusive, exigir uma retifi- Alice - Ah, sim. No tempo de Erasmo sala
eles. se entram num flagrante de maconha, de alguma cação. Já vi pessoas que tomaram essa atitude. assim:: "o distrito tal foi o campeão neste mês..."
F1ás4, - Quando a gente sai de casa em droga. tens muito o que fazer, é lógico... Inclusive, pela Lei de Imprensa, pode-se fazer al- Jorge - Quer dizer que quando não tem
o pleno dia, eu pego uma sacola para dar uma dis- Alice - AI então entra o problema jurldico, go. Você. Trevisan. tinha me perguntado qual era travesti pra prender ely devam até Inventar.
farçada, senão eles levam. Finjo que vou lazer que, lógico, a prostituição não é prevista no a definição de vadiagem; bom, é a pessoa de- TR.ttana - Exato! Tinha um tira que vinha
compras. código. nem a masculina nem a feminina. Nem socupada permanentemente. Primeiro, eles até de aleijado, ele se disfarçava: a gente podia
Jorge - Vocês já lotam presos? O que acon- homossexualismo é proibido, a não ser no código fazem a pessoa assinar a sindicância, dando um subir nas paredes. entrar nos bueirca, e ele vinha
teceu? penal militar. Mas geralmente eles prendem as prazo de 30 dias para arranjar emprego: se ela é atrás e pegava. Triste, sabe? Vinha de qualquer
Flávia - Eu. já! Eles não querem nem pessoas e incluem cm vadiagem, instauram a sin- detida novamente e ainda está sem trabalho, ai a jeito; na ambulância, empurrando carrinho de
saber: pegam a gente e mandam pro camburão. dicância quando é a primeira vez. E depois, se a encaixam como vadio. vender café, como sorveteiro... Às vezes a gaste
Jogam dentro do carro. São todos mal educados, pessoa é presa novamente, cai no artigo 59 da lei Trevisan - Num pala de desempregados, estava patado esperando ônibus; a porta do
pegam em vez de levar a gente. Eu tenho do- das contravenções penais: vadiagem. De modo como é possível provar que alguém é vadio pelo ônubus se abria e quem descia? Ele! E muito
comento, de ator; mesmo assim eles levam. que fazem o flagrante, levam para a Casa de fato de não ter trabalho? No meu caso, eu não conhecido esse policial, já saiu no jornal e tudo, o
Mesmo tendo carteira de trabalho; eu tenho. Detenção até o julgamento, que leva um mês. tenho carteira de trabalho aulnads, porque sou nome dele é Careca. Agora ele está no Tático
Tresisan - Elesalegam o que? Que motivo Trevisan - Eu só queria saber a definição de autônomo. Então sou vadio, de acordo com a Móvel; teve um travesti que jogou o carro au
do dão? vadiagem, por Id, )urldlcamente, se existe al- definição dela. cima dele.
Flávia - 1h, eles nem querem saber; nau guma. Alice - Você está sujeito a ser encaixado nes- Darcy - Alice, uma pessoa conhecida minh a
querem ver se está tudo certo nos documentos. Alice - Bom, eles acham que são as pessoas que fel
fointem,acphduolega
te artigo. Tem o caso de um blpplc que nós defen-
Uma vez eu estava com INPS, tudo certinho, e sem uma ocupação. demos; ele estava sentado na Avenida São João e roubada, à 3P delegacia- E lá notou violências 1n4
mesmo assim fui. foi preso e encaixado como vadiagem. Chegou lá críveis centra pessoas que estavam chegando -
Glauco - E quanto tampo liceus na cadela? Trevisan Trevisan no Foro, disse que tinham apreendido a tesoura

** Centro de Documentação
APPAD
i
da parada da cliversidadt'
Prof. Dr. Luiz Mott GRUPODIGNIDADE
1 ENTREVISTA 1

p~ etc.t eu pmad que coas ioda mia nada


que se jaz em somo da moralização da polida dei
Jorge - A gente chaga à condusão que a
marginalidade, para sobreviver, pana a sustentai
completo. Dai, a gente pede 300. 40) cruzeiros
Agora tem muito travesti que faz a linha "va
mas acho que o mais importante é a gente -viver.
sabe? Eu vivo cada momento como se kis.se'o ut-
os próprios ôrgioe repressores, não 7 rejão" : 1€10. 150 cruzeiros. Lá na Major Sertório i tiniu. Eu gostaria de ter um caso definitivo. Ese
eitiveueas inala uldadosos mia cola pessoa viu
Trevisan: Es a marginalidade sustenta . tudo varejão... cara com quem eu namorei, a gente se gosta sin-
agrmalo mesmo por lá. Eu perguntaria o .iguln- Flávia - Por 100. 150 cruzeiros é aquelt
repressão. da, sai, passeia, vai pre hotel. mas a gente briga,
ia Isto á uma .spide de coalrontaçio de forças, programa bem rapidinho: chegou. tirou a roupa Jorge - Tem entre soda alguma que já tenhi
talvez. porque se uma parte demonstrar fraqueza Glauco - Eu queria voltar Ulrálti que dai já vai...
a outra domina? Vocá acha como pessoa que detalbanem um posion mais o que acontece
pensadorna sindicato, alguma coisa legal?
Jorge - Vrx predians de muita assIstêncIa Tatiana - Não. ainda não deu tempo lira
conhece o setor, que Inc pode ser resolvido da quando sãoprasos Se sofrem mana-tratos... médica?
uma maneira civilizada? Jorge - Corre uma lama de que travesti está
pensar nessas coisas,
AIk'z - Eu acho é que as pessoas podem flóvia - Não. Olha, eu deposito o dinheirc Alice - Vocês não têm uma especie de se-
sempre carregando gilete. canivete.. todo que eu ganho. Estou fazendo meu pé dt
moralizar, enfim mudar tudo isso ai, simples- gurança? Assim como uma avisar pra outra
Flávia - Maus4raica só quando a pessoa é es meia. meu bens, enquanto sou nova. Eu quero tei quando pinta ii policia. essas coisas?
mente não fazem nada, não investigam. O jutz
caudalosa; ai, já chega lá levando pancadas. o meu futuro. E quando eu tier 30 anos? De qus Tatiana - Bom, ti gente da um toque quando
corregedor, Renato Laércio Taili, é pessoa de
Olha, eu vou ser sincera: tem certos travestis que adianta ser fina e nu ter dinheiro no banco? Et eles estão no pedaço. né?
muito boa vontade, mas ele é um só. Os outros
colocam peruca só para roubar.., não, eu penso. Quero ter minha casa, entende? Jorge - Altos, há quanto tempo você está no
juizes sàu muito acomodados. Os promotores.
Tatians - Tem certos travestis que são unia r)arcv - Escuta. você me disse que mora ni Xl de Agosto?
idem. Eu faço mesmo uma denuncia contra os
calamidade pública, que deixam a gente resvil- Santa Efbqênla... Alice - Olha. de 68 a 70 eu lui estagiaria.
promotores, que estão ganhando do povo para
fiscalizar a policia e não fazem; são muito boa
tada porque está ali, mas não tem nada de Fbàsi, - E. eu MOTO num quarto de um apis' Fiquei seis anos na faculdade porque ideiti
travesti.,, tanuento. eu e mais outra. Pago 2500 cruzeiro- Dirt'it,, Comercial e me bombardearam em
vida, sabe? Mesmo os delegados; eles poderiam
Finita - ...Nem homossexuais são. Mas Iam- pra morar. Eu moro sozinha, ela também. Direito Comercial, Então, até que foi bom, por-
lazer alguma coisa - afinal, são bacharéis. Mas
bém é culpa da policia. por causa da revolta que Darc - Você tesa alguém que lhe explora? que fiquei mais um ano nu J tirfdiv'ci. E de 72 pra
não. deixam tudo nas mãos dos investigadores. y

essas pessoas sentem, por causa da cadeia. Eu Flávia - Não. Tive um caro por oito meses, cá estou CtSflu orientadora.
Então, o que vemos. geralmente. são casos de
não tenho de que me queixar: quando é cana é mas ele me ensinou a viver. Eu sou um solitário, Jorge - Nesses anos todos, cai relação a
pessoas que morrem de tanto apanhar nas de-
leiacias: o caso do Robson - estamos até coas cana, quando tem que dar pinote, eu corro. Já fui não posso ter homem. emende? Russo curtir, as- airiveitbs e homossexuais, tem assim uma grande
atropelada, mas tudo numa boa; já me levaram sim, mas não pra ficar comigo: só sou por di' vitória sua em termos legais?
assistentes da Promotoria. pelo Movimento
Negro: eles deviam investigar, descobrir os res- dinheiro, já aconteceu de fazer um acordo com nheiro, Fiquei revoltado. Você sabe quando um Alice - Eu acho que sim: foi como habeas
eles pra dar dinheiro e nunca mais ver a cara cara passa vcoê pra irás? Ele tirava muito di- corpuspreventivi. Vários travestis já possuem is-
ponsáveis pela sua morte na delegada, mas não,
deles... Já aconteceu muita coisa Comigo, mas nheiro, mesmo. Eu saía seis, sete horas da noite, 50. Saiu até uma na Manchete - era unia ja-
simplesmente mudam o delegado, o investigador,
e pronto. tudo bem. depois do trabalho na casa de família; voltava à ponesa, a Yr.ko. Com aquele documento, dado
- Quer dizer, a Corregedoria de Policia tam- Tresisan - Quantas vazes vocês foram meia-noite e entregava o dinheiro todo. uns bOO por uni juiz. eles podem andar livremente na rua,
bém é muito mole. Fica tudo em família, eles se presos? cruzeiros limpinhos pra ele. a política não pode molestá-los. Agora eu sei de
Fiaria - Ah, não dá pra contar assim - acho . Jorge - E Isso á comum entre ou travestis? policiais que pegamo habeas CorpoS e rasgam.
sentem acobertados. E depois, essa arbitrarie-
dade que nós tivemos ai de IS anca, esses atos de que duas vezes. Eu fiquei lá no presidio do Hi- Flávia - Não é não, mas tem algumas que Mas geralmente os travestis andam com unia
violência, isso de certa maneira incentivou. Veja, pódromo (n. da r.: este presidio, após um motim dão. sim. Eu não dou. porque aprendi a viver com xerox,
quando havia um Fleury lá no DEIC, do Es- no dia 12.11, foi desativado devido às sua, pai- esse cara. Homem é atraso na sida da gente. Tailana - E. isso funcionava. Mas a verdade
quadrão da Morte, prestigiado pelas forças ar- sbus condições). Jorge - Pinta muito homem casado? é que Yi.'ko não arriscava muito: qualquer coisa,
Tuilana - Eu também fui presa poucas vezes: Fiaste 'T Pinta demais. e novinhos também, aba entrava dentrodi, carro dela, ta?
madas, os policiais iam fazer o quê? Se o subal-
umas dez. (Risadas) que todos eles são mais homossexuais que a gen- Alice - Num sistema onde ,' Direito fosse res-
terno percebe que o chefe é adepto da violência,
Trevisan - E você acha pouco? te. Tem uns que chegam e ali mesmo. na hora. peitado, teria que funcionar, mas aqui.,,
ele também se torna violento: se até o diretor do
DEIC pertence ao Esquadrão da Morte, por que Tatiana - Em vista das outras, que vão todo querem saber se o pinto levanta, senão eles não Trevisan - Aparecem muitos travestis li no
eu também não posso?" dia... Tem bicha que já foi presa mais de cera querem; porque tem travesti que não levanta. Departamento em busca de ajuda?
vezes! Tatlans - A gente tanto é homem como Alice - As vezes aparece mais. Na época de
Darcy - Você acha que pode bisar uma
Flávia - M. eu conheço o 49 distrito, o 3 , o lirismo, por exemplo. ia muito. Agora decresceu
solução digamos • longo prazo? mulher: as duas coisas.
0

Alice - Acho que sim. Depende de se cobrar 279. tantos... Jorge - Agora, acontece mesmo de homem um pouco. Mas quando um deles fica preso mais
mais dessa turma. Eu diria que a sociedade civil. Darcy - Dentro das delegadas e depois, nas que acha que vocês aio mulheres, que não pai tempo. entãualguém sempre se lembra: ".h, tem
que durante esses IS anos viveu coro a boca prlsães, vocês achem ataques sexuala? Dou presoo cabe? aqueles advogados.— ­ A gente entra com o
calada, agora está tomando uma posição. - ou doa polidali? Flávia - Ah. tem Muitas vezes a gente sai haheas'corpus, que nem sempre funciona. E
Flávia - as vezes o policial exige que a gente pra fazer um chupetinha, uma assim bem ra- muito bonito, mas...
Trevisan - Mas depois do Julgamento de um
Doce Street, que não é gialamente um Fleur, faça sexo pra soltar a gente. Coou a poltcia, com o pidinha: os canis pensam que é mulher. Se per- Ftista - Não funciona porque eles dão su-
carcereiro, com o... O carcereiro é quem solta, miço na gente pra arrancar dinhru. larcr chan-
não há como fazer uma pressão direta. cebem. na hora que podou a mão, dão um pulo.
Alice - Nós estamos falando de uma violên- então eu tive que fazer muito programa pra ele jogam a gente pra (tira do carro... lagem.
me soltar. Aliás, não foi programa, foi assim um Tatlana - Olha. pra mim, todo o mundo Alice - Não funciona porque t,'nu 'O dele-
cia instilucionalizada.
meio-programa, um meio termo de sexo. (Ri- sabe que é travesti. Todo o mundo, não tem essa. gacias e elas informam ao juiz que o preso não es-
Trevisan - Mos o que eu quero dizer é que a
Justiça está no mesmo nl,d dessa violência, ela "das). Moitas vezes, lesion a gente pi-as E mentira tudo o que eles dixem, talam como se tá lá, Agora se o juiz fosse mais peitudo, diria:
esta hsatliudomdltsndo a violênda de um Doca, • quebradas, e depois soltam. Não só eu: várias estivessem assustados. "ah, pensei que vocè fosse "Não. vocês têm que me entregar, tem que estar
amigas vão juntas. E tem quatro policiais, geral- mulher" , mas o pinto não baixa não fritadas). aí . Também neste sentido eu culpo muito o juiz
por exemplo. ­

mente. Eles escolhem quatro travestis, soltam as Quando ele quer mulher. quer mulher, não sai e o promotor. Culpo mesmo, sabe?
Alice - Aí é a própria organização jurídica.
Existe o tribunal do júri e os jurados decidiram outras, fazem a festa e tchau. Às veles, a gente com travesti- Qualquer homem sabe que e um Darc - Vocês aio assediados por vendedores
y

daquela maneira. E a própria organização que está preso na cela, e ai vem um deles pra ver o de tóxicos? Eles procuram soe-és, pelo fato de
travesti.
permite um troço desses. AI . itra também o tamanho do... - Darcy - Uma pergunta de ordem tecolcai serem marginalizados pela sociedade. persa-
poderio econômico, quem tem dinheiro para con- Alan - De que? Do selo? Do sexo? Flávia me disse que colocou silicone por uma guldoa paIs polida e tudo? Eles acham que vocês
tratar um advogado como o Evandro, E então Flávia -Não, do pinto... questão profissional. são campo fácil?
você vê o que acontece, Glauco - Agora Isso de você ficarem presas e Flávia - E. pra ganhar mais dinheiro. 'numa - Não. Quem transa maconha,
Glauco - Bom, então voltemos ao caso dos serem obrigadas • trabalhar na cadeia, lavarem Darcy - Flivia teso ,elos de silicone, 'ratina txicos, 0i sabe ti lugar onde sai buscar. Eles não
travestis que não têm condições. privadas, mia. colas.... não tens. Você acha que Isso ajuda? vêm multo. Podem vir assim, pra dar uma
Jorge - Há uma dilerença de tratamento ao- Jorge - As celas são coletivas? Quantas pes Tailana - Olha, eu acho que e uma boa ter presença, fazer a cabaça curtir unia: nias darem
Ira prostitutas e travestis? Quer dizer, há mala -soa.'tem? busto, apesar de que todos os homens sabeai que cima da gente só porque Somos iras'rslis. não. Lá
perseguição, no caso, pelo rato de ser travesti? Flávia - Ah. eles pm bastante, até cem é silicone: tudo o que acontece com o travesti eles na Rego Freitas tem muito, mas. -
Flávia - Lógico! pior com o travesti. Eles
P juntas. E uma cela pequena. Lá no Hipódromo eu sabem: que a xoxcaa de operação não é igual àda Alice - Mas há o perigo de os isoliciais querer
vêm e pegam a gente, porque o travesti é mar- fiquei com um menino e mais três travestis. O mulher... Ninguém é otário; claro que às vezes enrolar visês com
ginalizado. E um marginal: —Ela rouba, vamos menino deu umi de bicha pra ficar com a gente: pinta aquele baianão bobo, e tal. Mas prum cara Fiada - Ali, isso tem. sim,
pegar da". Mulher, não: é mais liberada, anda pra se proteger, porque tinha uns carinhas a fim entendido, o peitci não funciona para o que ele es- - Tatiana - Uma antiga m inha caiu nessa com
assim à vontade, enquanto agente... de pegar ele pra comer, e ele tinha medo. tá procurando. Tanto que se eles sabem que a um lira do DEIC; eta leve que dar nove mil
Tatiana - O certo é que a gente corre, en- Glauco - Que Idade tinha o menino? gente está cheio de hormônios, não pegam a gen- cruzeiros pra ele.
quanto a mulher não precisa correr... flís4a - Dezessete anos. Bonitinho mesmo, te, porque sabem que o hormônio tira a nossa Glauco - Tailana disse que os malandros são
perdoável.
Jorge - ... O Isto de ser mulher é tipo bcyz.inho. sabe? Eles adoram boyzinhos, os potência. mala cavalheiresca. respeitam mala. Você adia
Eventualmente, arrisca até uma r&açio. presta. 'Glauco - Eu gostaria que T.tlana que o malandro e melhor que o policial?
Glauco - Não tem nenhum lugar aio São Darcy - E depois de se relacionou sexual- também cxmtaiae sua história. Tatlana - Lógico! Eles tratam a gente como
Paulo onde vocês possam Rcar tranqõflou? mente coas vocês? Tatiana - Eu não comecei cedo, não. Tinha mulher!
Tatuas - E jantando, é andando, isso de- - Flávia Nossa! Cada dia com uma... No 39 muito medo, foi só depois doa 20 anos. Apesar de Fiada - Você acha. é? Pois eu ácho que às
pende da sorte e do santo pra proteger. distrito jogam a gente com malandros, e os nunca ter tido atração por mulher, de jeito ne- vezes sim, às vezes não..,
Alice - Eles não têm horário. Outro its eu malandros chegam lá e se aproveitam da gente. nhum. Tinha assim algumas meninas que vinham
estava descendo a Rego Freitas, e tinha um carrc Claro, tem travesti que é touca, adora malandro e na onda de gostar de mim, mas não dava pé, não: ATENÇÃO BICHAS, LÊSBICAS,
da Garra que penava, dava a volta, subia e tudo. Mas a gente tem que entrar lá quietinha, viravam logo amigas. TRAVESTIS, NEGROS, OPE-
novamente- Garra é Grupo Armado de Repressãc porque eles pegam e falam: "Vem cá, é você mes- Jorge - Eu acho que você deve sei mala RÁRIOS, PRISIONEIROS E
a Roubos e Assaltos: foi uma criação do Erasmc mo: você vai ser minha mulher esta noite." E a roinmntk* que a Flávia.
Dias para assaltos a bancos; não sei por quteJ gente tem que fazer tudo, n? TODO MUNDO QUE ESTIVER
Tatlana - E. eu sou de Peixes, né? A Flavia e
estão agora na repressão aos travestis. Taibana - Olha, eu estive na Detenção, e lá pula mesmo. Eu sou mais quieta. NA PIOR: precis ando de advogado
fláv'la - A Garra, ali na Rego Freitas, geral- não tive contato com ninguém. Fiquei uns IS Jorge - Você também acha que homem só é é só Ir ao
mente não pega a gente; quem faz isso é a Ve- dias, numa cela separada. Quer dizer, numa cela boas quando paga? 'DEPARTAMENTO JURI-
raneio amarela, do DEIC. de travestis, tinha uns cinco ou seis, agente se en- Tatiana - Não, a gente precisa de uma com-
controu lá. DICO DO CENTRO ACADÊ-
Tatiana - Mas o certo mesmo é a Seccional, panhia. Ali, eu não sei, eu tive um namorado.
que pega a gente em tudo o que é lugar; ela tam- Glauco— Vocês se mantêm só coso . viração? durou quatro anos. Eu gosto de casa, de comida,
MICO XI DE AGOSTO
bém é do DEIC. Mas o pior é o 39 Distrito. Eles Trevisan - Dá pra falar mala ou menos já parto pra outra, não gosto de ser pula, pula, Praça João Mendes, 62,17? an-
estão pegando muito dinheiro, ultimamente... quanto vocês faturam? pula. Eu ganho só O suficiente pra me manter. dar Sio Paulo ,SP
Alice - Eles sempre pegaram dinheiro. Nun- Flávia —'Eu vivo só de viração. Tem dia que
gente ganha bem, tem dia que ganha mal. Esta
sabe? telefones:
ca se transferiram porque inclusive, aqueles Jorge - Você aio acha que economicamente
predica, ali perto. são de prostituição, de alta 'semana ficou ruim. 257.5360/239.0186135.3305
tem mais riscos que Flávia, que sendo mais cal-
rotatividade. Eoque eles ganham com isso... T.tb*na - Geralmente a gente leva um papo culista tem asahi abanem na sociedade em que a Alcaide das 9,30 b às 17,00, todos
Trevisan - Mas onde é mesmo o 39 Distrito? "Quanto é o programa?" E tanto. "O que voei gente vive? os dias e eceo shadex', e feriados.
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Alice - Na Rua Aurora. Em plena boca. faz?" Ah. tudo o que você quiser eu faço. Sot Tatiana - Olha, eu penso em tudo isso, sim,

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** Centro de Documentação
APPAD
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da parada da diversidade
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Prof. Dr. Luiz Mott GRU PODIGN IDADE
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ENTREVISTA

AYAYAJA 61movimento
Louco=Leosbico da Fran
(01E* BICHA COM BICHA NÃO DÁ LAGARTIXA)
Conheci Pairick através de uma amiga dona provocação. Neste primeiro ano, descíamos o coisa kã mais rnp! porc elas não uu'ãm
de livraria, que vende freneticamente toda a nova Cours Mir'beau de mãos dadas, de vestido es- aspas, claro. Resquícios do FIlAR, apesar de
negar por muito tempo que tínhamos um Inimigo tudo.
literatura sexual publicada na França. E através panhol, muitos paetês. você está entendendo? comum, a falocracla. Foram levadas a ser to-
de Pairick, encontrei todos os poucos integrantes Coisas que mesmo hoje a gente não faz mais, por LAMPIÃO - Depois do FHAR surgiu o Sex-
lerantes, e nos aceitar. pai?
desta Mouvence Folle-Lesbienne, criada em Aix- exemplo. Foi uma época multo esquerdista. Então, a partir do ano seguinte todas as
en-Provence há coisa de um ano. A Mouvance Mas não era só isto. Agíamos bastante na manifestações de NJÚCIÓ de Maio a gente fazia
FolIe-Lesbienne (Movimento Louco-Lésbico? Não Patrick - Foi, No FilAR não havia mais n i n-
faculdade. certa época promovíamos encontros em companhia dos grnpvs fenrinistaa, que eram
sei se é a melhor tr'adução) apresenta-se comt guém. Eu, na época, era bissexual (Suspiros,
semanais e alguns siands também, com literatura quem, na verdade, nos protegiam do CGT (Cen-
"um grupo de homossexuais masculinos que não comentários; "queiles horreur", disse uso). Eu
homossexual, alguns livros, e sobretudo com os tral Geral de Trabalhadores), cujo pessoal queria
gostam dos homens", mas é, na verdade, o ponto queria amar todo mundo. Reunimo-nos para
jornais que surgiram, corno o Fléau Sc,cüil. Les nos quebrar a cara. Mas Aix é uma cidade um
a que chegaram atualmente os homossexuais criar o Sexpol, com base na ideologia reichiana, a
appor;s contra Ia norpnoJit, que é o livro de pouco diferente: pequena, tradicional mas li-
franceses que, há urna década, vêm tentando en- sexualidade política. E o pessoal do FHAR dizia,
base, :'ublicado pela FHAR de Paris. E capa- beral, intelectual, uma cidade de universitários, e
contrar a maneira ideal, ou a palavra certa, de se "enfim, por que não? Depois de tudo, porque no
lhávarios panfletos. cartazes bem provocadores. nós aproveitamos esse aspecto para agir e nos
manifestar numa sociedade lalocrata e impoten- estado em que já chegamos, até que sena interes-
no gè'iero "LT ltrabite, a vaselina com sabor sei- desenvolver. Porque cri Marselha, por exemplo.
te, como disse um cicies. vage1 1 " . Não sei se você conhece o dentrificio Ul- sante analisar as bichas eru-ustidas, por exemplo,
os homossexuais se manifestaram pela primeira
Os rapazes do grupo chegaram de outros que poderiam partir para uma outra organização
trabte que tinha, na época, um slogan que dizia vez no ano passado, enquanto aqui em Aix a gen-
movimentos falidos e aportaram em Ali-co- mais especificamente homossexual". Então
"Utrabite. o dentrificio com sabor selvagem" (n, te nem se manifesta mais. Há um desequilibrio
Proveoce vindos de pontos diferentes da França. começamos a discutir com os heterossexuais, com
bite é o palavrão francês para pênis). Tinha muito grande, porque na maioria das cidades
as moças, com os rapazes. Chegamos a publicar
Mas esta cidade é realmente um grande centro de mhém um texto de Sacie que reproduzámos francesas os homossexuais começam a encarar
atração: pequena. rica, intelectual, e a dois pas- um manifesto, E havia também um Grupo de
-.obre os muros da cidade, Um texto onde ele jus- uma possibilidade de grupo, enquanto que em
sos da fciota e desdenhosa Côte d'Azur. £ o Liberação Homossexual e com ele fizemos a ú1-
tifica a sodomia pela forma do ânua e do sexo Aix, uma cidade pequena, isto não se faz mais. O
cenário perfeito para qualquer imaginação mais rima manifestação do Primeiro de Maio com a
masculino, alegando que um troço redondo é nor- Primeiro de Maio já não nos interessa.
fértil: com seus 140 mil habitantes, há dois Bandeira Sexpol-GLH. Ainda era uma época
mal que receba um objeto redondo e que uma LAMPIÃO - E você, Henri, é o único da
grupos homossexuais masculinos, dois grupos de muito radical e não especificamente homosse-
vagina, que não é redonda, não tem nada a ver. Mouance que vem do FfL4R?
lésbicas, outros grupos feministas e. 'leiam sé xual. Surgiu dai uma revista, publicada até hoje,
Enfim, coisas bem provocadoras e, efetivamente, Ilenri - Sim, o único. chamada Sexpol, de Paris.
como é a vida, uma tentativa de se formar uns fizemos muito escândalo. Usavainos spray para Parrick - Não, eu também fiz parte, mas
arupo ma.çeulin isso, por assim dizer, para tiscutir escrever nas paredes. LAMPIÃO - O nome "Sexpoi" me desa-
bem no finzinho.
a sexualidade masculina.
Pairick - O que acabou dando em proces- LAMPIÃO - loucas onde estão? grada, parque só me faz pensar em policia. Em
Mas nem por isto é primavera. Pelo contrário, Henri - As loucas eram completamente uniforme, é isto, "SerpoI' me faz pensar em
os grupos franceses já não temam nem querem Uniforme.
Henri - Exato. Eu e um amigo tivemos um nihilistas, terroristas, contra toda forma de or-
esconder a desilusão. A política, o engajamento;o
processo judicial por escreve nas paredes. Fomos ganização mas, por outro lado, eram incapazes de Patrick - E depois, Reich não é exatamente
humanitarismo são visão enganosa dos problemas
do mundo ou então são coisade pais subdesenvol-
pegos justo quando escrevíamos "Viver Livre", P ropor qualquer outra coisa. Havia, enfim, a pró-homossexual. Coisa importante foi a gre'e da
assinado FHAR. Fomos condenados com sursis. Suruba das Belas Artes; as reuniões finais do
vido mesmo. O filme Coração de Vidro, de Her- faculdade de economia da universidade de Ais.
Pegamos uma espécie de multa de quinhentos FHAR eram na Escola de Belas Artes e, com o
zog, explica isso muito bem: uma vez perdida a Descobrimos que servíamos mais à liberação
francos, pouca coisa. Tínhamos um pistolão, tempo, tornaram-se a maior suruba da França. E
fórmula secreta, os povos entram em transe hip- heterossexual que à liberação homossexual
como se diz, e por isso a coisa não engrossou tudo terminou.
nótico e não dão conta de enxergar um palmo à propriamente dita. Muitos heterossexuais vinham
LAMPIÃO -- E. passada a época esquerdis- Pairick - E Les Mirabiles Girls, este grupo
frente do nariz. Ficam rodando em circulo e des- nos ver para se dizer não-falocratas, e os homos-
ta, o FHAR acabou? de espetáculos aqui de Ais, passou todo ele pelo
prezam o que, mesmo por pouco tempo, tenha sexuais que chegavam isco embora logo em se-
Henri - Sim, dissolveu-se pouco a pouco, FHAR. Criaram o grupo de travestis que se
lhes dado prazer e razão de ser. guida, com medo de tudo aquilo. Após a greve
mas, de qualquer forma, foi aqui que ele mais apresenta por toda a França.
Nessa entrevista, que durou uma tarde inteira evacuamos os heterossexuais do grupo, havíamos
durou, em toda a França. Porque.em Paris, houve LAMPIÃO - (Vítima de incontrolável ar-
regada a chá, mas que resultou em pouca fita, decidido que éramos definitivamente homos-
uma divisão entre as loucas, as gasolinas, com- roubo nacionalista) Eles são um pouco como o
falaram principalmente Hnri Amouric, o se- sexuais e que viveríamos entre homossexuais, o
pletamente histéricas, e os homossexuais militan- Dxi Croquetres, não são?
cretário-geral do grupo, e Patrick-femme-sans- que não ficou muito claro porque há um bocado
tes tradicionais, de esquerda, ou então que vi- Patrick - Menos conhecidos que os Dxi
visage, unia espécie de mentor intelectual. Mas de bichas que paquera heterossexuais; eu mesmo
nham de organizações esquerdistas, que falavam Croquettes, Os Dzi Croquettes são menos po- paquero. -
estavans todos presentes: Christian, os dois
das bases operárias, da luta comum com o liticos, fazem mais espetáculos, enquanto que as !'Ienri - O importante nesta greve foi que nós
Gregoire e Valdo. Além do LAMPIÃO, por mim
proletariado, da convergência de luta com as Mis-abeiles fazem política no palco. Política entre
representado (Alexandre Ribopid,) pela primcira vez pudemos chegar perto do poder
feministas, Tivemos muita dificuldade com as or-
Patrjck— Bom, estamos escutando a Rádio ganizações de esquerda, a propósito. Você nem
Brasil.., perguntou, mas eu digo. E tivemos dificuldades
com as organizações feministas. Com os esquer-
LAMPIÃO - Tem uma coisa que eu gostaria
distas porque ouvíamos muito o seguinte discur-
que vocés me explicassem: isso de serem ho-
so: vocês são anormais, produtos da burguesia -ç
movexuais que não gostam de homens.
decadente.
Patrick - Os homens são pesados, são re-
LAMPIÃO - sle refrão é &'m conhecido,,.
primidos. são... isso está me saindo grosseiro. Por
que a gente não começa de outra maneira? Henri - Para eles não há homossexuais no
Vamos começar pela história do movimento proletariado, com exceção do proletário perver-
homossexual cm Aix. tido, cLaro. E as fem'instas soltavam o seguinte
Henri - Tem o FHAR (Frente Homossexual discurso: "O homossexualjsmo é anormal, vão se
de Ação Revolucionária). Em 1972, um anarquis-
ta homossexual, que não se dizia homossexual,
curar[ " No inicio era bem isso. Ou "não se deve
confundir feminismo com homossexualismo, são
T.
aliás, mais duas bichas, um da esquerda tradi- duas coisas bem diferentes, não confundam alhos
cional. decidiram criar em Aix-en-Provence um com bugalhos". Eram discursos morais, que nos
grupo local à imagem do que já sido feito em rejeitavam, tanto dos esquerdistas quanto das
Paris meses antes.. Devia funcionar como em feministas. Tivemos muitas discussões com a es-
Paris, algo bem informal e teoricamente não es- querda e, fazendo uma análise, foi esta a grande
truturado. funcionando apenas em assembléias realização do FIlAR: fazer os esquerdistas mudar
gerais. Mas não era um grupo oficialmente de- de posição. Todos os grupos de extrema esquerda
clarado em Aix-en-Provence. Em Paris o FHAR foram obrigados a mudar de posição e esta é a
era declarado como Frente Anti-Racista, porque Q
proselitismo homossexual cai sempre nas malhas
obra do FHAR. Houve uma época em que a gente
quase saiu no pau mesmo.E como havia homos-
-/
da lei francesa: é proi1ido fazer propaganda em sexuais entre eles, a gente usava isso para sacudir
favor dos homossexuais, oficialmente. Na época, suas bases.
cotão, a 1'. cru mais severa, de forma que o E também quanto a isto de que não há ho-
FHAR tinha uma razão social artificial e, na mossexuais entre os proletários, citávamos as es-
realidade, era uma outra coisa. tatísticas do Ministério do Interior francês, que
Em Aix a coisa deu certo bem depressa, com indica uma maioria de operários e camponeses
um modelo parisiense bem terrorista, terrorista
entre aspas, claro, a gente não jogava coquetel
entre as pessoas que têm processos p ' atentado à
moral e aos bons costumes - homossexuais, cri-
- HOMEM COM HOMEM! ME DIGA UMA COISA, QUÉRIDA:
Molotov nas pess s mas era bem anti- fim. E pouco a pouco eles foram obrigados a ONDE É QUE ESSE MUNDO VAI PARAR?
hcterosscxual, de certa forma, fazíamos muita mudar de posição. E as feministas, bom, ai a

* 1%,

Centro de Documentação
APPADit'
da parada da diversidade
Prof. Dr. Luiz Mott GRUPODIGNIDADE
1 ENTREVISTA 1
LAMPIÃO - Você quer ser a louca de um Christian - E eu em curso de licença. Deveria

6[JAAU?AMOS
9 UMA OQUEMURO VEZ
homem, e não o homem de um homem. E isto?
ACIMi -
louca.
Não: quero sér a louca de uma
Csiar servindo agora.
LAMPIÃO - E um homossexual não é
chamado para o serviço militar?
Henrj - Ah, se o homossexualismo engendra
MEMÓRIA GUEI
LAMPIÃO - Em tudo isto sobra espaço para
tio outras lutas, outras reivindicações? -
uma neurose, estamos dispensados. Mas o ho-
mossexualismo já deixou de ser um motivo de De alguns anos para cá, a Im-
QSPAEZO, SOBROU Patrick - Eu não gosto de ser obrigado a ser
esquerdista. Isto é muito humanit&rio,não tem
reforma. Antes era sistemático - os homosse- prensa Brasileira tem dado um cer-
MURO PODE- nada de homossexual nestas lutas.
xuais eram recusados. Agora,, se você é homos.
sexual "e se sente bem é ntn1al, como o nosso
to destaque a Questão Homossexual.
SEJQ. FOMOS CO- LAMPIÃO - Bem, é passível ser homos- amigo aqui, o Valdo, você pode servir.
Ensaios, entrevistas, matérias,
LOCADOS sexual e pessoa como qualquer outra. Parriclr - Daí uma das vantagens de ser pio- reportagens e contos, têm sido
Pai rick --- Não, não, eu não sou uma pessoa, tosa, publicados freqüentemente em jor-
M UM PEDES TAL eu não sou um povo, eu sou homossexual. E Henri - Sejam pintosas e escapem tio serviço nais e revistas de norte a sul do pais.
NOS TORNAMOS
COM-
P4ETAMENTE INACES-
louca.
LAMPIÃO — E no entanto, você fala francês,
você é francês até fisicamente, alto e louro, você
militar.
LAMPIÃO - Agora eu gostaria de saber
como vocês chegaram a esse ponto de detestar os
Para que Iodo ense material não se
perca no tempq e no espaço, o Jornal
Lampião resolveu organizar uma
não sabe nada dos outros países, pelo menos não homens, porque isso me espanta um pouco e me
tanto quanto você conhece as coisas francesas. deixa muito curioso? Memória de tudo que tenha si do
VI$. A SITUAÇÃO Então, você não pode negar que é um povo. Chrisia'an - Ë preciso considerar a distância publicado sobre homossexualismo e
entre a teoria e a prática. Se você pega individual- as ditas minorias. Para isto, pedimos
TORNOU-SE INSU Patrick'— Sim, mas daí a lutar ao lado dos mente cada uma destas pessoas... elas amam os a colaboração dos leitores, que eu-
PORTÁVEL homens por razões humanitárias, você é obri-
gado a pôr. uma cargaça de homem.
homens, sim.
Pa:rick - Eu desejo os homens. E diferente.
viem-nos recortes (original ou xerox)
LAMPIÃO - Mas você não precisa pôr de Mas realmente, nosso quotidiano é um quoti- desse material com a Indicação da
muna instituição como a Faculdade. Durante três
semanas ficamos lá dentro. Foi importante. lado sua condição de homossexual. Aliás, não diano de louca, mas os desejos genitais caem sem- fonte e data de publicação
Putrick - Formamos uma pequena comissão pode deixar que esqueçam, em momento algum, pre sobre os rapazes. Porque é como um super-
que se chamava Educação e Repressão Sexual, que você é um homossexual. Mas enfim, vocês mercado...
que foi a que reuniu mais estudantes. Editamos acabaram, no momento, não me respondendo o Chrisrian - O que existe, então, é a possi- LAMPIÃO da Esquina: Caixa
urna carta. Foi um sucesso. porquê do ódio contra os homens. Ah, não, vocês bilidade de ser reconhecido como louca, o que Postal 41.031, Rio de Janeiro, Ri -
p ficar, - E o que aconteceu de curioso foi que
as alavras que saíam de nossos lábios tornaram-
se realmente a bíblia, a nova bíblia, mas na ver-
já responderam sim.
Henri - Respondemos sim. F quanto a isto,
quero acrescentar que eu procuro dizer não às
não me impede de assumir um papel ativo, se for
para o prazer do companheiro...
(tP 20.400..

dade servíamos para consertar casais heteros- minhas fantasias sexuais porque eu sei que estas
sexuais, para separar os que não podiam viver
juntos, para dar argumentos àj damas que
queriam abandonar os maridos. Acabamos de
Pela
fantasias nãome pertencem. Foram Fabricadas
sociedade e impostas a mim. Por isso tente
me livrar delas, Estas fantasias me mantêm
99 "EU, POR EXEMPLO,
saco cheio. Porque, veja, uma vez que derru- prisioneiro de um certo desejo, ou mesmo da
noção deste desejo, e. pelo menos do ponto de
bamos o muro do desprezo, sobrou o muro do
desejo. Fomos colocados em um pedestal e nos vista teórico e também na nossa vida quotidiana NÃO ENTRO NESTA DE -
tornamos completamente inacessíveis. O que era no máximo, tentamos nos desembaraçar destas SER MULHER DE UM
a melhor maneira de nos rejeitar, pensando bem. fantasias, dg imagem social do homem. Ten-
tamos esquecer que o falo está em todos os
HOMEM. QUERO SER LAMPIÃO
A situação tornou-se insuportável, então. Mas
serviu para que nós déssemos conta de que nada lugares e também em nossas cabeças, portanto, LOUCA, ENÃO MULHER",/ apresenta:
a concepção louca nos tornaria capazes de des-
havia mudado, apesar de todo um trabalho bas-
tante militante, tradicional mesmo. virilizar o universo inteiro. "VOCÊ QUER SER
Parrick - E o que podemos dizer de tudo Pairick - isto: procuramos uma expressão A LOUCA DE UM HOMEM, 'Histórias de Amor"
agora é que esta experiência nos levou a querer
viver entre homossexuais. Eu pelo menos senti as•
política da louca, que tenta viver sem homem,
sem o bofe. E sabemos que é a primeira vez que
NÃO Um livro Jamais publicado,
sim, porque eu não era nem especialmente co- Setenta isso.
LAMPIÃO - Vocês fizeram serviço militar?
"NÃO: EU QUERO SER reunindo 4 contos belissimos do
munista nem especialmente situacionista. Preferi
desfilar junto com os anarquistas nas manifea. Pwr:ck - Eu. sim: por quatro dias... A LOUCA DE amor do não. Você vai rir, diorar,
viver e sonhar com Aguhialdo SUva.,
tações de Primeiro de Maio, com cartazes que
gritava, "Viva a Preguiça" e coisas do gênero.
licor: - O Patrjck não era nem situacionista
nem comunista, era marciano...
!-ienri - Eu. dispensado,
Valdu - Eu começo a semana que vem. UMA LOUCA" aa Darcy Penteado, Gasparino Daniata
elojo Silvérlo Tre4san.

LAMPIÃO - Nesta cova que estamos abrin-


do o situacionismo também morreu, s&, é? No
coe
se fala mais insto, enquanto em 1975 tinha até
uns filmes situacionistas bem engraçados,
"Escola de L ibertin agem
Pairick - E. não existe mais, se bem que ain- Nunca alguém foi tão audacioso e

DR I XW o JVI0RR0 f p
da existem uns indivíduos bem engraçados que
batem as pernas em nome do situacionismo. São romântico quanto Marques de Sade.,
sempre uns oito ou dez, grupos fechados. Enfim, _^ autor de Escola de Liberthiagemn,
eu acho que há uma ligação muito forte entre os
homossexuais e os situacionistas, porque houve )vt.LHQAR MINHA CONLfl(AO onde deparamos com as mais belas e
peca
minosas narrativas do amor car-
até urna revista, Fléau Social, de linha situa-
cionista.
LAMPIÃO - E a Mouvance? Existe desde EY DtSCRU"UW/\DOI )3TUD1 nal. Tradução de Aguinaldo Silva.

oco
quando'
Pairick - Tem coisa de um ano, acho. Olha, COMU IÇA Ç/ O ,F)z, AR)J
o que acóntece é o seguinte: nós nos separamos
dos heterossexuais e em seguida, com a Mouvan-
cc, vamos nos separar dos homossexuais sérios.
Henri -.É o perigo da especialização, que
DunTIQ) GO-fo, DO ÇO E dois Lançamentos
da Esquina Editora
acaba sem ter com o que lidar.
Patrick - Começamos durante as eleições rA\-O
municipais e lançamos uma carta anti-
heterossexual. A coisa no inicio era uma farsa, PKÃ O flN
Cons) ^, G01R UMA V1
mas depois vieram a televisão e o rádio, porque
estávamos provocando um escândalo. E foi então
que a gente disse: "E porque não? Já que tivemos Encontre um amigo
"
publicidade gratuita, vamos formar um novo
grupo . Em seguida, durante a primeira semana
de cinema homossexual em Paris nós expusemos
PO NTA D^ — Venha à
nossos pontos de vista, o que acabou provocando o
ft 1tft17\O
um encandalozinho lambem, porque as bichas da
capital também são esquerdistas.
Acontece, enfim, que muitos homossexuais
levam uma vida muito séria gostam de esporte,
esqui, estas coisas de homem forte. Bom, uma
análise mais fria pode me mostrar que isso é
apenas um outro modo de vida, claro, mas o que
vo ^)Ic A! rei

1
nós queremos dizer com o nosso nome Louca-
Lésbica é algo como "mulheres entre si", em
oposição ao "homens entre si" que seriam os
"homossexuais". Nossa luta não é essencialmente rÔ! sauna e
legal, apesar de já haver uma solidariedade sin-
dical. já que somos considerados homossexuais
massagem
também pela lei. Preferimos uma luta quoti-
diana.
Rua Jaguaribe, nP 484
• Hcnri - Eu, por exemplo, não entro nesta de Fone 66-7101
ser a mulher de uni homem. Quero ser louca, e São Paulo
não mulher.

*
Centro de Documentação
APPAD Prof. Dr. Luiz Mott
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da parada da lvs'rsid4ide
GRUPODIGNIDADE

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da lato Esqunia- vale- tudo sexual.

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RCiS5O - Dolores Rodrigasa e
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LAMPIÃO de E.qdoaé anis pablicaçio
de Esquina - Editora de Unos, Jornais e
.ai; Curitiba: 1. Chlguon. • Qa. lida.;
Vitdria: Angelo V. Za riol Campo.: R.S. Sua-
a.; Jtmdisl: L)IstrlHdk,ra PIuhIsta de lar-
nau, e Rsviotaa lida.; Campinsa: DIstri-
on
C aciffioE&torisl - Mio Meia,
Agualdo 91 ,M, Am610 ryi6itoo,
Gkmw de C.rvo (Fostatara); Mszandre
Ribuadi (Brasil.); Pcl0o Alvas (lobo P- Rs,ksu lida.; CGC (MF) 2520056/000I -
baldara Ca.plodra de laquei. • Rs,biei li-
de.; e DistrIbuidora Cosistaum de Jornal,.
soa); Franlib Jorge (Nd); Paulo Hear 30; hisorlçio Estidual, 81347.113. Revistes lida.; RibrAo Preto - Castro
QÓ,4a Marqu, Dq Pios oa Filho (Porto Migre); WI,ou. o (Caul- Acadkio de FDoeoila; Juiz de Fora: ooIe
Skt.ai, Gr.m4no IbuiMa i.an-Gaud. Endereço - Rua Joaqu11m Silve. li,
Iuardu, Ub SI,&k TTeIu tia); Edraldo Riào de Olvdoa (bael). 51707, Lapa, Rio Cor .upoadbodai Caixa Catuao 4 a. lida.; &aslia: Anazir .iáa
Postal M41031, CEP 20400, Senta Tara. de Silva Goiânia: Agrkio Br.ga & Cia. Li-
Coordenador de Edaçio - Aguloaldo Correspondentes - Fras Tornabane (San Rio de Ja.o-RJ. de.; Rife: Diplonista DIstribuIdora á.
'a FrancbÂI); Alba Youag (Nova York); Ar- PUI,IIC.Ç6a e Rig.esat açi.s Uda.; Por--
mando de Fdv (Durou..); Ricardo • Hw- GenpoMo e Iw*uNo na Gráfica • Editara taleza: Orbe.. - Organizaçio &.dra de
Cdabor.dcr - La M1k, Rab eta ter (Madel); Addy (Longfra); Cdanïo Jorual do Conimerdo S.A. - Rue do Li- Sarviçoslida.
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Pemaaa ke Faaado Basto., Hanlqu. Paulo); I)ImIti4 Ribeiro (Rio) e Arqiduo. As matérias nio solkltadu e elo
Nulra, Mfru GrZkh, lobo Cernulro e Ar. tbal; Selradori UnIa lã—m e4 Pio-
tMd.s Rodelgues (Rio); losi es Barroso rianópolis e Joinville: Amo, Riges..wtíç0. publicado não serio devolvidas. As
l'Ibo e C.des Albano 1de (NItadI)i Arte - Ansb Cedo. Moreira (Arte Olucriulçio de tinos. Parlódia,s lida.; matérias autuadas publicadas neste
Morlas Edward MacRes (Capks.); am em Final), Nibo. Somo (DIegra4o), Masi de Bato Horizonte: DIstrIbuIdora Rialo de kr- jornal aio de exduslvi responsa-
Maneio, Cul po CM, Edido Mosta, Paulo Sd (ca), Patrdo Ruo, Harter . lad. nela. RevIstas Ltda.; Porto Alegre: Coow.
bilidade dos seus autores.

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Prof. Dr. Luiz Motit GRUPODIGNIDADE

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