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MANUAL DO CURSO DE LICENCIATURA EM ENSINO

DE

HISTÓRIA

2º Ano

Disciplina: História das Ideias Políticas II


Código: NUCLEAR-CFG
Total Horas/2o Semestre: 150
Créditos (SNATCA): 6
Número de Unidades: 14

INSTITUTO SUPER

INSTITUTO SUPERIOR DE CIÊNCIAS E EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA- ISCED


ISCED-CURSO: História 20 Ano - Disciplina/Módulo: História das Ideias Politicas II
1

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Agradecimentos

O Instituto Superior de Ciências e Educação a Distância (ISCED)


agradece a colaboração dos seguintes indivíduos e instituições na
elaboração deste manual:

Autor

Coordenação Direcção Académica do ISCED

Design Instituto Superior de Ciências e Educação a Distância (ISCED)

Financiamento e Logística Instituto Africano de Promoção da Educação a Distancia (IAPED)

Revisão Científica XXXXX

Revisão Linguística Lilamo Fatima Ribeiro de Matos pereira

Ano de Publicação ISCED – BEIRA

Local de Publicação XXXXX

Edição Beira

Tiragem XXXXX

Gráfica XXXXX
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Índice

Visão geral 10
Bem-vindo à Disciplina/Módulo de História das Ideias
Políticas II ............................................................................ 10
Objectivos do Módulo .......................................................... 10
Quem deveria estudar este módulo ...................................... 11
Como está estruturado este módulo ..................................... 11
Ícones de actividade ............................................................. 13
Habilidades de estudo ........................................................... 13
Precisa de apoio? .................................................................. 14
Tarefas (avaliação e auto-avaliação) .................................... 15
Avaliação .............................................................................. 15

1.1.1. Evolução das ideias políticas da Idade Média 20

1.1.2. Breve referência ao Cristianismo 20

1.1.3. Características 21

1.2. Santo Agostinho 22

1.3. O pensamento político de Santo Agostinho 22

1.4. As duas Cidades 22

1.5. Concepção sobre a natureza humana 23

1.6. Noção de Estado 23

1.8. A paz 24

1.9. As funções da autoridade 24

1.10.1 A Igreja e o Estado 24

1.10.2. S. Tomás de Aquino 25

1.10.3. O pensamento político de S. Tomás de Aquino 25

1.10.4. Visão geral do mundo e do homem. As leis 25


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1.10.5. O homem e a sociedade 25

1.10.6. O Estado e os seus fins 26

1.10.7. A pessoa e o Estado 26

1.1.0.8. A origem do poder 26

1.10.9. Regimes políticos 27

1.10.10. O pior regime: a tirania 28

1.10.1. Remédios contra a tirania 28

1.10.2. Os deveres do príncipe cristão 29

1.10.3. Estado e Igreja 29

1.10.4. Erasmo de Roterdão 29


Sumário ................................................................................ 30
Exercícios.............................................................................. 31
Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO ......................................... 31
Bibliografia........................................................................... 31

TEMA II: A IDADE MODERNA 32

Ideais Política Moderna: O Absolutismo 32

2. Positivismo 32

2.1. O espírito do Renascimento e a política 32

2.2. O poder liberto da moral: MAQUIAVEL 33

2.3. O pensamento político de MAQUIAVEL. Ideia geral 33

2.4. A noção de Estado 34


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2.5. Classificação dos regimes políticos. 34

2.6. A melhor forma de governo. 35

2.6.1. Montesquieu 35

2.6.2.Sociocracia de Augusto Comte 38

2.6.3. Do tradicionalismo ao positivismo 38

2.6.4. Espírito positivo 40

2.6.5. Influência política de Comte 40

2.7. Voltaire 42

2.8. Jean-Jacques Rousseau 43

2.9. Thomas More 44


Sumário ................................................................................ 46
Exercícios.............................................................................. 46
Exercicios de auto-avaliação ............................................... 46
Sumário ................................................................................ 46

TEMA XII: O Nacionalismo Totalitário: Mussolini 47


Introdução ............................................................................. 47

3.1. Estado nacional 47

3.2. Estado totalitário 48

3.3. Estado corporativo 49


Sumário ................................................................................ 50
Exercícios.............................................................................. 50
Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO ......................................... 50

TEMA IV: O NACIONALISMO TOTALITÁRIO 51

O Nacionalismo Totalitário: Hitler 51


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3.4. Estado nacional 51

3.5. Estado totalitário 52

3.6. Racismo hitleriano 53


Sumário ................................................................................ 54
Exercícios.............................................................................. 54
Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO ......................................... 55
Bibliografia básica ................................................................ 55

TEMA V: O NACIONALISMO PERSONALIZADO 56

O Nacionalismo personalizado: Charles de Gaule 56

3.8. Nacionalismos continuados 57

3.9. O poder personalizado 58

3.10. O Parlamento limitado e eliminado 58


Sumário ................................................................................ 59
Exercícios.............................................................................. 59
Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO ......................................... 60
Bibliografia básica ................................................................ 60

TEMA VI: O SOCIALISMO 61

Socialismo 61

6.1. Uma ideia política nova 61

3.12. Uma definição difícil 62


Sumário ................................................................................ 63
Exercícios.............................................................................. 63
Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO ......................................... 63

TEMA VII: SOCIALISMO SEM ESTADO 64

Socialismo sem Estado 64


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3.13. Pensamento politico de Saint Simon 64

3.14. Pensamento Político de Charles Fourier 65


Sumário ................................................................................ 66
Exercícios.............................................................................. 66
Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO ......................................... 66

TEMA VIII: SOCIALISMO CONTRA O ESTADO 67

Socialismo contra o Estado 67

3.15. Federalismo anarquista de Proudhon 67

3.16. Anarquismo libertário 68

3.17. Sindicalista anarquista 70

3.18. Marxismo 71
Sumário ................................................................................ 72
Exercícios.............................................................................. 73
Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO ......................................... 73

TEMA IX: SOCIALISMO NO ESTADO 74

Socialismo no Estado 74

3.19. O malogro de 1848 74

3.20. O pensamento de Ferdinand Lassale 76

3.21. O desmembramento do marxismo 78

3.22. Lenine e o marxismo 79

3.23. Staline e o marxismo 80


Sumário ................................................................................ 81
Exercícios.............................................................................. 81
Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO ......................................... 81
Bibliografia básica ................................................................ 81
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Crise do Socialismo 82

3.24. O espírito de Revolta 82

3.25. O comunismo utópico 83

3.26. A diversificação do comunismo 84

3.27. Socialismo chinês 85

3.28. Socialismo cubano 86


Sumário ................................................................................ 86
Exercícios.............................................................................. 87
Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO ......................................... 87
Bibliografia básica ................................................................ 87

TEMA XI: DEMOCRACIA LIBERAL 88

Democracia Liberal 88

3.29. Deficiência do liberalismo político 88

3.30. A democracia constitucional 89

3.31. O princípio maioritário 90

3.32. Relativismo democrático 91


Sumário ................................................................................ 92
Exercícios.............................................................................. 92
Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO ......................................... 92
Bibliografia básica ................................................................ 93

TEMA XII: DEMOCRACIA SOCIALISTA 94

Democracia Socialista 94

3.34. Léon Blum 95


Sumário ................................................................................ 96
Exercícios.............................................................................. 97
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Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO ......................................... 97


Bibliografia básica ................................................................ 97

TEMA XIII: DEMOCRACIA RADICAL 98

Democracia Radical 98

3.35. Pensamento político de: Charles Renouvier 98

13.4. Alfred Fouillé 99


Sumário .............................................................................. 100
Exercícios............................................................................ 101
Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO ....................................... 101
Bibliografia básica .............................................................. 101

TEMA XIV: DEMOCRACIA CRISTÃ 102

Democracia Cristã 102

3.36. Programa político da democracia cristã 102

3.37. A despolitização da democracia cristã 103

3.38. Democracia de inspiração cristã 104


Sumário .............................................................................. 105
Exercícios............................................................................ 105
Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO ....................................... 105
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Visão geral

Bem-vindo à Disciplina/Módulo de História das Ideias


Políticas II

Objectivos do Módulo

A história durante muito tempo foi concebida como o campo mais


apurado da retórica e pelo menos na primeira fase do humanismo
renascentista, nos princípios do séc. XV, não se fazia distinção entre
moralidade pública e privada. A filosofia moral era um guia de
comportamento para qualquer esfera da vida e cabia à história mostrar
como aplicar suas lições a situações específicas. A necessidade de tornar
a história uma fonte de instrução para os estadistas foi um factor
importante para a eximir da suserania da retórica.
O historiador humanista que documentava as incertezas dos assuntos do
Estado para o futuro príncipe, formulava injunções, exortando-o a seguir
as máximas incontroversas da moralidade privada. Os homens se sentiam
compelidos, se queriam compreender a condução da política, a ocupar-se
da investigação histórica.
A dependência do político em relação ao historiador torna-se completa. E
na conduta da política, tinha que aceitar os homens e as circunstâncias tal
como se lhe deparavam. Assim, enquanto os humanistas tradicionais se
contentavam em admirar a antiguidade, o que se tornava necessário para
as reflexões históricas adquirirem alguma utilidade política, era um
entendimento perfeito do modo como as instituições e as políticas se
reforçavam mutuamente, criando uma tendência bem arreigada entre os
cidadãos a favor da acção para o bem público.
Quando terminar o estudo de História das Ideias Políticas: da antiguidade
aos nossos dias, o estudante será capaz de:
Saber como a Política e suas instituições evoluíram desde a idade Antiga
até aos nossos dias respondendo aos seguintes objectivo específicos:

Ao completar esta unidade / lição, tu serás capaz de:

 Identificar os pontos de convergência e de divergência dos ideais se


Santo Agostinho e São Tomás de Aquino;
 Compreender a essência do pensamento político de Santo Agostinho e
Objectivos São Tomás de Aquino;
Específicos  Descrever a influência de Santo Agostinho e São Tomás de Aquino na
arena Política.
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Quem deveria estudar este módulo

Este Módulo foi concebido para estudantes do 2º ano do curso de


licenciatura em História do ISCED. Poderá ocorrer, contudo, que haja
leitores que queiram se actualizar e consolidar seus conhecimentos nessa
disciplina, esses serão bem-vindos, não sendo necessário para tal se
inscrever. Mas poderá adquirir o manual.

Como está estruturado este módulo

Este módulo de História das Ideias Políticas II, para estudantes do 2º ano
do curso de licenciatura em História, à semelhança dos restantes do
ISCED, está estruturado como se segue:

Páginas introdutórias

 Um índice completo.

 Uma visão geral detalhada dos conteúdos do módulo, resumindo os


aspectos-chave que você precisa conhecer para melhor estudar.
Recomendamos vivamente que leia esta secção com atenção antes de
começar o seu estudo, como componente de habilidades de estudos.
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Conteúdo desta Disciplina / Módulo

Este módulo está estruturado em Temas. Cada tema, por sua vez
comporta certo número de unidades temáticas ou simplesmente
unidades. Cada unidade temática se caracteriza por conter uma
introdução, objectivos, conteúdos. No final de cada unidade temática
ou do próprio tema, são incorporados antes o sumário, exercícios de auto-
avaliação, só depois é que aparecem os exercícios de avaliação. Os
exercícios de avaliação têm as seguintes características: Puros exercícios
teóricos/Práticos, Problemas não resolvidos e actividades práticas
algumas incluindo estudos de caso.

Outros recursos

A equipa dos académicos e pedagogos do ISCED, pensando em si, num


cantinho, recôndito deste nosso vasto Moçambique e cheio de dúvidas e
limitações no seu processo de aprendizagem, apresenta uma lista de
recursos didácticos adicionais ao seu módulo para você explorar. Para tal
o ISCED disponibiliza na biblioteca virtual mais material de estudos
relacionado com o seu curso como: Livros e/ou módulos, CD, CD-ROOM,
DVD. Para além deste material físico ou electrónico disponível na
biblioteca, pode ter acesso a Plataforma digital moodle para alargar mais
ainda as possibilidades dos seus estudos.

Auto-avaliação e Tarefas de avaliação

Tarefas de auto-avaliação para este módulo encontram-se no final de


cada unidade temática e de cada tema. As tarefas dos exercícios de auto-
avaliação apresentam duas características: primeiro apresentam
exercícios resolvidos com detalhes. Segundo, exercícios que mostram
apenas respostas.

Tarefas de avaliação devem ser semelhantes às de auto-avaliação mas


sem mostrar os passos e devem obedecer o grau crescente de
dificuldades do processo de aprendizagem, umas a seguir a outras. Parte
das tarefas de avaliação será objecto dos trabalhos de campo a serem
entregues aos tutores/docentes para efeitos de correcção e
subsequentemente nota. Também constará do exame do fim do módulo.
Pelo que, caro estudante, fazer todos os exercícios de avaliação é uma
grande vantagem.

Comentários e sugestões

Use este espaço para dar sugestões valiosas, sobre determinados


aspectos, quer de natureza científica, quer de natureza didáctico-
Pedagógica, etc, sobre como deveriam ser ou estar apresentadas. Pode
ser que graças as suas observações, o próximo módulo venha a ser
melhorado.
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Ícones de actividade

Ao longo deste manual irá encontrar uma série de ícones nas margens das
folhas. Estes ícones servem para identificar diferentes partes do processo
de aprendizagem. Podem indicar uma parcela específica de texto, uma
nova actividade ou tarefa, uma mudança de actividade, etc.

Habilidades de estudo

O principal objectivo deste campo é o de ensinar aprender a aprender.


Aprender aprende-se.

Durante a formação e desenvolvimento de competências, para facilitar a


aprendizagem e alcançar melhores resultados, implicará empenho,
dedicação e disciplina no estudo. Isto é, os bons resultados apenas se
conseguem com estratégias eficientes e eficazes. Por isso é importante
saber como, onde e quando estudar. Apresentamos algumas sugestões
com as quais esperamos que caro estudante possa rentabilizar o tempo
dedicado aos estudos, procedendo como se segue:

1º Praticar a leitura. Aprender a Distância exige alto domínio de leitura.

2º Fazer leitura diagonal aos conteúdos (leitura corrida).

3º Voltar a fazer leitura, desta vez para a compreensão e assimilação crítica


dos conteúdos (ESTUDAR).

4º Fazer seminário (debate em grupos), para comprovar se a sua


aprendizagem confere ou não com a dos colegas e com o padrão.

5º Fazer TC (Trabalho de Campo), algumas actividades práticas ou as de


estudo de caso existam.

IMPORTANTE: Em observância ao triângulo modo-espaço-tempo,


respectivamente como, onde e quando estudar, como foi referido no
início deste item, antes de organizar os seus momentos de estudo reflicta
sobre o ambiente de estudo que seria ideal para si: Estudo melhor em
casa/biblioteca/café/outro lugar? Estudo melhor à noite/de manhã/de
tarde/fins-de-semana/ao longo da semana? Estudo melhor com
música/num sítio sossegado/num sítio barulhento!? Preciso de intervalo
em cada 30 minutos, em cada hora, etc.

É impossível estudar numa noite tudo o que devia ter sido estudado
durante um determinado período de tempo; Deve estudar cada ponto da
matéria em profundidade e passar só ao seguinte quando achar que já
domina bem o anterior.

Privilegia-se saber bem (com profundidade) o pouco que puder ler e


estudar, que saber tudo superficialmente! Mas a melhor opção é juntar o
útil ao agradável: Saber com profundidade todos conteúdos de cada tema,
no módulo.
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Dica importante: não recomendamos estudar seguidamente por tempo


superior a uma hora. Estudar por tempo de uma hora intercalado por 10
(dez) a 15 (quinze) minutos de descanso (chama-se descanso à mudança
de actividades). Ou seja que durante o intervalo não se continuar a tratar
dos mesmos assuntos das actividades obrigatórias.

Uma longa exposição aos estudos ou ao trabalho intelectual obrigatório,


pode conduzir ao efeito contrário: baixar o rendimento da aprendizagem.
Por que o estudante acumula um elevado volume de trabalho, em termos
de estudos, em pouco tempo, criando interferência entre o conhecimento,
perde sequência lógica, por fim ao perceber que estuda tanto mas não
aprende, cai em insegurança, depressão e desespero, por se achar
injustamente incapaz!

Não estude na última da hora; quando se trate de fazer alguma avaliação.


Aprenda a ser estudante de facto (aquele que estuda sistematicamente),
não estudar apenas para responder a questões de alguma avaliação, mas
sim estude para a vida, sobre tudo, estude pensando na sua utilidade como
futuro profissional, na área em que está a se formar.

Organize na sua agenda um horário onde define a que horas e que


matérias deve estudar durante a semana; Face ao tempo livre que resta,
deve decidir como o utilizar produtivamente, decidindo quanto tempo
será dedicado ao estudo e a outras actividades.

É importante identificar as ideias principais de um texto, pois será uma


necessidade para o estudo das diversas matérias que compõem o curso:
A colocação de notas nas margens pode ajudar a estruturar a matéria de
modo que seja mais fácil identificar as partes que está a estudar e Pode
escrever conclusões, exemplos, vantagens, definições, datas, nomes,
pode também utilizar a margem para colocar comentários seus
relacionados com o que está a ler; a melhor altura para sublinhar é
imediatamente a seguir à compreensão do texto e não depois de uma
primeira leitura; Utilizar o dicionário sempre que surja um conceito cujo
significado não conhece ou não lhe é familiar;

Precisa de apoio?

Caro estudante, temos a certeza que por uma ou por outra razão, o
material de estudos impresso, lhe pode suscitar algumas dúvidas como
falta de clareza, alguns erros de concordância, prováveis erros
ortográficos, falta de clareza, fraca visibilidade, páginas trocadas ou
invertidas, etc). Nestes casos, contacte os serviços de atendimento e apoio
ao estudante do seu Centro de Recursos (CR), via telefone, SMS, E-mail, se
tiver tempo, escreva mesmo uma carta participando a preocupação.

Uma das atribuições dos Gestores dos CR e seus assistentes (Pedagógico e


Administrativo), é a de monitorar e garantir a sua aprendizagem com
qualidade e sucesso. Dai a relevância da comunicação no Ensino a
Distância (EAD), onde o recurso as TIC se torna incontornável: entre
estudantes, estudante – Tutor, estudante – CR, etc.
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As sessões presenciais são um momento em que você caro estudante, tem


a oportunidade de interagir fisicamente com staff do seu CR, com tutores
ou com parte da equipa central do ISCED indigitada para acompanhar as
sua sessões presenciais. Neste período pode apresentar dúvidas, tratar
assuntos de natureza pedagógica e/ou administrativa.

O estudo em grupo, que está estimado para ocupar cerca de 30% do


tempo de estudos a distância, é muita importância, na medida em que
permite lhe situar, em termos do grau de aprendizagem com relação aos
outros colegas. Desta maneira ficar a saber se precisa de apoio ou precisa
de apoiar aos colegas. Desenvolver hábito de debater assuntos
relacionados com os conteúdos programáticos, constantes nos diferentes
temas e unidade temática, no módulo.

Tarefas (avaliação e auto-avaliação)

O estudante deve realizar todas as tarefas (exercícios, actividades e


autoavaliação), contudo nem todas deverão ser entregues, mas é
importante que sejam realizadas. As tarefas devem ser entregues duas
semanas antes das sessões presenciais seguintes.

Para cada tarefa serão estabelecidos prazos de entrega, e o não


cumprimento dos prazos de entrega, implica a não classificação do
estudante. Tenha sempre presente que a nota dos trabalhos de campo
conta e é decisiva para ser admitido ao exame final da disciplina/módulo.

Os trabalhos devem ser entregues ao Centro de Recursos (CR) e os mesmos


devem ser dirigidos ao tutor/docente.

Podem ser utilizadas diferentes fontes e materiais de pesquisa, contudo os


mesmos devem ser devidamente referenciados, respeitando os direitos do
autor.

O plágio1 é uma violação do direito intelectual do(s) autor(es). Uma


transcrição à letra de mais de 8 (oito) palavras do texto de um autor, sem
o citar, é considerado plágio. A honestidade, humildade científica e o
respeito pelos direitos autorias devem caracterizar a realização dos
trabalhos e seu autor (estudante do ISCED).

Avaliação

Muitos perguntam: Com é possível avaliar estudantes à distância, estando


eles fisicamente separados e muito distantes do docente/tutor!? Nós
dissemos: Sim é muito possível, talvez seja uma avaliação mais fiável e
consistente.
Você será avaliado durante os estudos à distância que contam com um
mínimo de 90% do total de tempo que precisa de estudar os conteúdos do
seu módulo. Quando o tempo de contacto presencial conta com um

1
Plágio - copiar ou assinar parcial ou totalmente uma obra literária, propriedade
intelectual de outras pessoas, sem prévia autorização.
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máximo de 10%) do total de tempo do módulo. A avaliação do estudante


consta detalhada do regulamento de avaliação.
Os trabalhos de campo por si realizados, durante estudos e aprendizagem
no campo, pesam 25% e servem para a nota de frequência para ir aos
exames.
Os exames são realizados no final da cadeira disciplina ou modulo e
decorrem durante as sessões presenciais. Os exames pesam no mínimo
75%, o que adicionado aos 25% da média de frequência, determinam a
nota final com a qual o estudante conclui a cadeira.
A nota de 10 (dez) valores é a nota mínima de conclusão da cadeira.
Nesta cadeira o estudante deverá realizar pelo menos 2 (dois) trabalhos e
1 (um) (exame).
Algumas actividades práticas, relatórios e reflexões serão utilizados como
ferramentas de avaliação formativa.
Durante a realização das avaliações, os estudantes devem ter em
consideração a apresentação, a coerência textual, o grau de cientificidade,
a forma de conclusão dos assuntos, as recomendações, a identificação das
referências bibliográficas utilizadas, o respeito pelos direitos do autor,
entre outros.
Os objectivos e critérios de avaliação constam do Regulamento de
Avaliação.
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TEMA I - EVOLUÇÃO DAS IDEIAS POLÍTICAS DA IDADE MÉDIA

Introdução

Nesta unidade ira se abordar a história das instituições políticas, sobretudo na


idade média, a história humanista, tanto em teoria como na prática, era uma
deliberada imitação de métodos que prevaleceram num período considerado
representativo do apogeu da realização cultural. Os objectivos da história
tinham sido resumidos por Aristóteles (história como fonte de instrução
semelhante à poesia no seu interesse real pelos pormenores, mas de âmbito
mais restrito devido à sua preocupação com o que realmente acontecia) e por
Cícero (a ênfase colocada na dignidade da vida pública determinava o campo
próprio do historiador).

 Explicar a história da evolução das ideia politicas na idade media,

Objectivos  Mencionar os principais historiadores das ideias políticas na idade media

Específicos

A história era concebida como o campo mais apurado da retórica, inculcando as


máximas da filosofia moral de uma maneira que as tornava facilmente
assimiláveis. E pelo menos na primeira fase do humanismo renascentista, nos
princípios do séc. XV, não se fazia distinção entre moralidade pública e privada.
A filosofia moral era um guia de comportamento para qualquer esfera da vida e
cabia à história mostrar como aplicar suas lições a situações específicas. Muito
embora os humanistas partilhassem uma concepção dos valores eternos com os
pensadores da idade média, distinguiam-se pela sua visão do homem como
criador desses valores. Se bem que a moralidade fosse, em tempos, equacionada
como a ordem divinamente decretada por Deus, era agora considerada em
relação às instituições e práticas que os homens idealizavam a fim de levar uma
vida boa. O interesse pela história no séc. XV incentivou-se devido ao crescente
envolvimento de homens instruídos no governo das suas cidades em Itália. O
humanismo literário transformou-se num humanismo cívico mais amplo.

Em Florença, esperava-se que os mais altos funcionários da Chancelaria


escrevessem relatos históricos que fizessem a apologia das cidades e dos
princípios que ela representava. Cada um desses funcionários utilizava uma
concepção de liberdade derivada de Cícero, ao passo que nas estruturas das suas
histórias seguiam os grandes historiadores de Roma. Salústio e Tito Lívio, em
particular, eram tidos em grande apreço. Qualquer desvio em relação a seus
métodos era tido como prova de mau gosto. As únicas matérias julgadas dignas
de serem incluídas numa história eram as que diziam respeito a condução da
vida pública.

Em toda obra de História era dada mais importância, à interpretação de relatos


geralmente aceites, do que à documentação pormenorizada, pois o principal
interesse do historiador humanista era o de reforçar invariavelmente o vigor e a
virtude da sua própria politeia. Assim, o historiador adoptaria os pormenores de
uma crónica conceituada e passaria a contar de novo a história de acordo com
os princípios fundamentais seguidos pelo historiador romano que ele tivesse
privilegiado. Comparar-se-iam por vezes crónicas diferentes a fim de verificar
ISCED-CURSO: História 20 Ano - Disciplina/Módulo: História das Ideias Politicas II
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pormenores específicos; e alguns humanistas, verificariam os seus relatos,


sobretudo de acontecimentos recentes, cogitando-os com documentos
facilmente acessíveis. Mas nunca se tentou fazer uma descrição exaustiva das
vicissitudes de uma cidade. Apenas se versavam as grandes ocasiões da vida
pública para alimentar o patriotismo entre os cidadãos e a arraia-miúda.

A necessidade de tornar a história uma fonte de instrução para os estadista foi


um factor importante para a eximir da suserania da retórica. A história
humanista apresentava um relato tão idealizado como estilizado da condução
dos negócios públicos. O historiador humanista que documentava as incertezas
dos assuntos do Estado para o futuro príncipe, formulava injunções, exortando-
o a seguir as máximas incontroversas da moralidade privada. Uma
vezperturbado o equilíbrio da moralidade pública e privada, punha-se em dúvida
esta forma de narrativa histórica. As forças das circunstâncias favoreceram esta
reavaliação. A invasão da Itália pelos franceses em 1494, marcou uma linha de
separação na história da península. As cidades-estado italianas estavam
habituadas às ingerências de potências estrangeiras nos seus negócios mas até
então, estas tinham-se mostrado um incómodo temporário que não conseguia
transtornar o subtil equilíbrio da diplomacia renascentista. Nesse momento, a
Itália tornava-se um peão num jogo diplomático com origem externa.

Os homens ainda se sentiam compelidos, se queriam compreender a condução


da política, a ocupar-se da investigação histórica. Mas já não podiam seguir os
antigos padrões humanistas de decoro nas suas narrativas históricas. Em
especial, se a história quisesse manter o seu papel de ensinamento da filosofia
moral através de exemplos, tornava-se necessário um maior empenhamento no
pormenor e na exactidão. Os homens não eram os únicos árbitros do seu destino
e os estadistas não eram livres de adoptar uma política por esta corresponder
simplesmente aos seus ideais. Qualquer acção diplomática implicava uma inter-
relação de intenções, ambições, esperanças e receios que deixavam muito
pouco espaço à iniciativa individual. Mas isto não significava que os estadistas
nada pudessem fazer para melhorar as condições das suas politeias. Uma análise
histórica rigorosa, revela a tendência para o equilíbrio de poder; e um estadista
familiarizado com situações comparáveis do passado, avaliaria mais facilmente
as forças antagónicas que limitavam o âmbito da sua própria acção. A grande
lição que a história tinha para ensinar era que a acção estava sujeita a
constrangimentos circunstanciais. Os preceitos da filosofia moral ou política, não
podiam ser aprendidos e depois aplicados, porque a prudência na aplicação de
qualquer regra dependeria da concatenação das circunstâncias. Não se podia
determinar a correcção de uma certa forma de agir por referência a regras
morais. A avaliação do comportamento político só se podia fazer em termos
históricos, mas tratava-se de uma história moldada, mas de acordo com a prática
da arte de governar do que com os princípios da retórica ciceroniana.

O mais famoso representante deste novo estilo de reflexão histórica sobre a


prática política foi Maquiavel. Todos os seus trabalhos históricos e teóricos mais
importantes foram escritos depois de afastado das suas funções oficiais em
1512, a seguir a restauração dos medicis. E o realismo que o tornou famoso
inspirou-se fortemente na sua experiência diplomática e política. Considerava
que a actividade literária substituía o envolvimento prático em negócios de
estado. E os seus trabalhos estão imbuídos de uma paixão pela negociação e a
intriga e da convicção de que a reflexão disciplinada sobre as lições da história
podia instruir o estadista à medida que esse procurava prosseguir uma política
perante a oposição perigosa e imprevisível de inimigos internos e externos.
ISCED-CURSO: História 20 Ano - Disciplina/Módulo: História das Ideias Politicas II
19

A preocupação dominante de Maquiavel, era influenciar a condução dos


negócios públicos. Não se devia oferecer conselho político sem olhar à
considerações circunstanciais. Se as boas intenções de um príncipe resultassem
na ruína de seu país, às mãos de adversários sem escrúpulos, talvez fosse melhor
que o historiador determinado em instruir se concentrasse no código das
práticas realmente empregues em assuntos de estado e não num código apenas
admirado por palavras do que por feitos.

O historiador não devia alongar-se nas tradicionais virtudes ciceronianas ou


cristãs, mas devia apresentar as coisas como são na verdade real e não como são
imaginadas. Os humanistas e os padres da igreja eram igualmente culpados
como guias de comportamento político, pois tinham estruturado seus conselhos
sobre uma concepção da moralidade privada. Uma reflexão constrangida sobre
a prática política, revelara a Maquiavel um mundo amoral que parecia
governado por uma lógica própria. Dai resultava que sem impugnar as máximas
tradicionais da moralidade privada se podiam recomendar expedientes a um
príncipe que seriam justamente condenados se fossem postos em prática por
um vulgar cidadão. Em geral, na perspectiva de Maquiavel, qualquer teoria
histórica ou política que recomendasse formas de procedimento baseadas em
ideais abstractas era responsável pela confusão entre considerações de
moralidade e de utilidade prática.

A dependência do político em relação ao historiador torna-se completa. Na


conduta da política, tinha que aceitar os homens e as circunstâncias tal como se
lhe deparavam. Dado o carácter depravado da natureza humana, só podia
alimentar a esperança de induzir os homens a agir a favor da sua causa se os
tivesse persuadido de que o interesse individual deles coincidia com o seu
próprio. Os humanistas tradicionais tinham-se contentado em admirar a
antiguidade; o que se tornava necessário para as reflexões históricas adquirirem
alguma utilidade política, era um entendimento perfeito do modo como as
instituições e as políticas se reforçavam mutuamente, criando uma tendência
bem arreigada entre os cidadãos a favor da acção para o bem público. Esta
harmonia fora alcançada em Roma. E uma vez que a natureza humana se
mantinha a mesma, era uma possibilidade perpétua para qualquer politeia. O
comportamento humano na opinião de Maquiavel era regido por leis naturais
tanto, quanto os movimentos dos planetas.

Correspondentemente, se prestasse minúcia atenção à coerência das


instituições entre os romanos, descobrir-se-iam as leis da política. Mas,
Maquiavel, não foi único a discutir a utilidade da história para política. Francesco
Guicciardini, entra na discussão através das suas críticas ao Maquiavel. O
método de Maquiavel pressupunha que a Roma republicana constituía um
padrão político perene contra o qual a decadência da Itália contemporânea
poderia ser convenientemente avaliada. Todavia, na opinião de Guicciardini,
Roma florescera em circunstâncias tão diferentes que era utópico esperar uma
renovação política nos princípios do séc. XVI aplicando lições colhidas da
antiguidade. As situações históricas não podiam ser comparadas deste modo,
pois era insensato isolar preceitos do seu contexto. Nas reflexões históricas de
Maquiavel, um homem de estado defronta-se com alternativas de contornos
bem definidos; para Guicciardini, uma situação histórica consiste em elementos
tão diversos que somente uma descrição exaustiva do equilíbrio de forças podia
servir para tornar inteligível uma decisão e as suas consequências.
ISCED-CURSO: História 20 Ano - Disciplina/Módulo: História das Ideias Politicas II
20

Guicciardini, tinha-se desviado ainda dos seus predecessores humanistas no que


respeita ao método, assim como ao objectivo da sua história. Onde os
humanistas tinham baseado as suas narrativas nos pormenores de uma crónica
conceituada, Guicciardini fazia extensa referência a fontes de arquivo. Sabia
destrinçar quando recorria às autoridades contemporâneas, mostrando-se
especialmente cauteloso com a história, de Maquiavel, devido à sua incerta base
factual. E se a sua utilização das fontes se pode considerar primitiva, e selectiva
em comparação com os padrões da moderna historiografia, a maneira de
Guicciardini atacar o problema representou um progresso técnico em relação
aos métodos dos humanistas.

1.1.1. Evolução das ideias políticas da Idade Média

Introdução

Nesta temática, vais considerar basicamente duas ideias, as de Santo Agostinho


e as de São Tomás de Aquino. Santo Agostinho considera haver duas Cidades, a
cidade celeste ou, comunidade dos homens que vivem segundo o espírito e
buscam a Justiça; e a cidade terrena, conjunto dos homens que vivem segundo
a carne para satisfação dos seus prazeres. Uma é a cidade do bem, outra a cidade
do mal. E São Tomás, pelo contrário, afirma com optimismo que os efeitos do
pecado orginial não são destrutivos e que a graça divina, completando a
natureza humana, não vem agir sobre algo que seja totalmente mau.

Ao completar esta unidade / lição, tu serás capaz de:

 Identificar os pontos de convergência e de divergência dos ideais se


Santo Agostinho e São Tomás de Aquino;
 Compreender a essência do pensamento político de Santo Agostinho e
São Tomás de Aquino;
 Descrever a influência de Santo Agostinho e São Tomás de Aquino na
arena Política.

1.1.2. Breve referência ao Cristianismo

O Cristianismo começa muito antes de a Idade Média principiar: começa no


tempo do Império Romano. Jesus Cristo nasce sob o principado de César
Augusto.O Cristianismo é, como se sabe, essencialmente uma revolução
religiosa, massão inegáveis as suas implicações morais, sociais e políticas. À
dimensão vertical do Cristianismo – referente ao plano das relações do Homem
com deus – acresce uma outra dimensão, a chamada dimensão horizontal – que
incide no plano das relações dos homens uns com os outros.

No que respeita à dimensão vertical, o Cristianismo veio trazer uma nova


concepção da divindade, unitária e transcendente, contraposta à noção plural e
imanente dos deuses do paganismo; apresentou a ideia da incarnação humana
de Deus claramente diferenciada da visão puramente celeste da divindade no
judaísmo; e preconizou a substituição do dever de justiça pelo dever de
caridade, assente num mandamento considerado tão importante como o amor
a Deus – o do amor ao próximo. Dos principais aspectos inovadores do
Cristianismo: Em primeiro lugar, foi a noção de humanidade como noção nova,
equivalente à globalidade do género humano. Todos os homens são iguais,
ISCED-CURSO: História 20 Ano - Disciplina/Módulo: História das Ideias Politicas II
21

todos são filhos do mesmo Deus, nenhuma diferença de natureza existe entre
eles.

Em segundo lugar, e pela mesma ordem de razões, o Cristianismo veio


proclamar, com todas as suas forças, a natureza inviolável da pessoa humana,
princípio superior – como a condenação da escravatura, a liberdade e os direitos
do homem, a limitação do poder político, a garantia do direito à vida, etc. Em
terceiro lugar, surge com os primeiros doutrinadores cristãos uma concepção
inteiramente nova do poder político – a partir de agora entender-se-á que todo
o poder vem de Deus – quer quanto ao sentido do seu exercício – o poder
passará a ser visto não como um direito próprio dos governantes ou como pura
autoridade do Estado sobre os cidadãos, mas sobretudo como função posta ao
serviço do bem comum, da qual resultam para o seu titular mais deveres do que
direitos, e menos privilégios do que responsabilidades. Por último, a criação de
uma Igreja universal incumbida de defender e propagar a fé cristã, deu origem à
problemática das relações entre a Igreja e o Estado.

Com o Cristianismo os aspectos do familiar, do moral e do religioso passam para


a esfera de competência da Igreja, ficando para o Estado apenaso político. O
homem medieval é submetido a um dualismo de poderes e jurisdições – a Deus
o que é de Deus, a César o que é de César.

1.1.3. Características
Entre os numerosos cultos de origem oriental que se difundiram no seio do
império romano, a religião cristã impôs-se no final da antiguidade. Vinha na
sequência de uma tradição judaica, amplamente espalhado no império e cujas
comunidades actuaram como passadores no processo da sua difusão. Quer os
judeus quer os cristãos traziam de novo o princípio de um Deus único e revelado
e também de um conhecimento todo ele contido num única livro – A Bíblia a
base de toda a reflexão cristã da idade média, tanto no oriente como no
ocidente.

Os homens da idade média europeia viveram numa extrema familiaridade com


os actores desta história: as grandes personagens do antigo testamento – Adão
e Eva, Abrãao, Moisés, David, os profetas – e do novo testamento – o Cristo, a
virgem, os apóstolos, os evangelistas – e os santos que a continuaram.
Adquiriram também mecanismo específico de pensamento, a um tempo
submetido à autoridade dos textos sagrados e dos escritos dos padres e virados
para a minuciosa investigação do seu sentido sempre atentos aos significados
das palavras e dos conceitos que elas representavam.

Cumpre-nos todavia acentuar desde já os principais aspectos inovadores do


cristianismo que tiveram repercussão na esfera social e político: Primeiro: foi a
noção da humanidade como noção nova, equivalente a globalidade do género
humano. Todos os homens são iguais, todos são filho do mesmo Deus, nenhuma
diferença de natureza existe entre eles. Como expressivamente disse S. Paulo
“nesta renovação não há mais judeus nem gentios, circuncisos ou incircuncioso,
nem bárbaros, nem gregos, nem escravos nem homens livres” (Epistola de
S.Paulo aos Colossenses, 3,11); Segundo é pela mesma ordem de razões, o
cristianismo veio proclamar com todas as sua força a natureza inviolável na
pessoa humana, principio superior de que foram brotando ao longo dos séculos
números corolários da mais alta relevância política – a condenação da
escravatura, a liberdade e os direitos do homem, a limitação do poder politico,
ISCED-CURSO: História 20 Ano - Disciplina/Módulo: História das Ideias Politicas II
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a garantia à vida, etc; Terceiro: surgi com os primeiro doutrina dores cristãos,
uma concepção inteiramente nova do poder político quer quanto à sua origem
- a partir de agora entender-se-á que todo o poder vem de Deus (S.Paulo,
Epistola aos romanos, 13,1), - quer quanto ao sentido do seu exercício o poder
passara a ser visto não como um direito próprio dos governante ou como pura
autoridade do estado sobre os cidadãos, mas sobre tudo como função posta ao
serviço do bem comum da qual resultam para o seu titular mais deveres do que
direito e menos privilégios do que responsabilidade; Quarto: a criação de uma
igreja universal, incumbida de defender e propagar a fé cristã de origem a
problemática, até então desconhecida das relações entre a igreja e o estado.

1.2. Santo Agostinho

Nasce em Tagaste, na Numídia (Norte de África) e vive entre 354-430 (séc. IVe
V). A sua inspiração mais forte foi sem dúvida a de Platão: muitos o consideram,
mesmo, um neo-platónico.

1.3. O pensamento político de Santo Agostinho

Não haverá um nexo de causalidade evidente entre a generalização do


Cristianismo e a decadência do poderio de Roma? É neste pano de fundo que
Santo Agostinho se empenha em redigir uma das suas maiores obras, a De
Civitate Dei ou Cidade de Deus. Nesta obra, são tratados vários problemas de
relevo – a distinção entre as duas cidades, uma concepção particular sobre a
natureza humana, a noção de Estado, a sociedade e o poder, a paz, as funções
da autoridade e, enfim, as relações entre a Igreja e o Estado.

1.4. As duas Cidades

Santo Agostinho considera haver duas Cidades – a cidade celeste ou Civitas Dei,
comunidade dos homens que vivem segundo o espírito e buscam a Justiça; e a
cidade terrena, ou Civitas Diaboli, conjunto dos homens que vivem segundo a
carne a para satisfação dos seus prazeres. Uma é a cidade dobem, outra a cidade
do mal. Ambas estão em luta permanente, uma contra a outra, e ambas
disputam a posse do mundo. A vida presente é uma luta, um combate
quotidiano: só na vida futura haverá paz autêntica e duradoira. Daí que o Estado,
em si mesmo, não possa ser considerado a priori como bom ou mau: tudo vai
dos que o governam. Se o Estado é governado por homens que praticam o bem
e amam a Deus, é bom e trabalha para a cidade celeste; se o governam aqueles
que praticam o mal e ignoram ou hostilizam Deus, é mau e concorre para a
Cidade Terrena.

A cidade de Deus de que falamos é a mesma para a qual existe


testemunho naquela Escritura, a qual ultrapassa todos os
escritos de todas as nações por sua divina autoridade, e que tem
trazido sob a sua influência todos os tipos de mentes, não por
um movimento intelectual casual, mas evidentemente por um
arranjo expresso da Providência. (...) O Mediador [Jesus Cristo],
tendo dito o que Ele [Deus] julgou suficiente, primeiro pelos
profetas, então por seus próprios lábios, e depois por seus
apóstolos, produziu a Escritura dita canônica, a qual tem
autoridade suprema, e para a qual devemos olhar, em todas as
matérias em que não podemos ser ignorantes, mas que não
ISCED-CURSO: História 20 Ano - Disciplina/Módulo: História das Ideias Politicas II
23

podemos conhecer por conta própria. (AGOSTINHO, 1952: 322-


323).

Só na Cidade Celeste há verdadeira paz, verdadeira justiça, verdadeiro bem; na


Cidade Terrena, os homens esforçam-se por alcançar a paz mas, como não há
paz sem Deus, contram apenas uma aparência de paz; procuram alcançara
justiça mas, como não há justiça sem Deus, encontram apenas uma aparência
de justiça; e tentam alcançar o bem mas, como não há bem sem Deus,
encontram apenas a aparência de bem.

1.5. Concepção sobre a natureza humana

Santo Agostinho apresenta-nos uma visão profundamente pessimista acercada


natureza humana. Considera o bispo de Hipona (ou Santo Agostinho) que os
primeiros homens (Adão e Eva) foram criados como seres bons, perfeitos, com
todas as qualidades e sem defeitos. Mas pela desobediência (pecado original)
afastaram-se de Deus e foram punidos para sempre: tornaram-se infelizes e
cheios de defeitos: o Homem transformou-se num pecador. As suas
características principais passaram a ser o egoísmo, a arrogância, a vontade de
dominar os outros e a tendência para procurar o bem próprio com desprezo do
bem dos outros. O Homem é, assim, um ser irreversivelmente marcado pelo
pecado, é um pecador.

1.6. Noção de Estado

Da concepção pessimista acerca do Homem e da natureza humana, há-de


resultar como consequência lógica uma concepção repressiva do Estado: se o
Homem é mau para o seu semelhante, o Estado deve servir essencialmente para
prevenir e reprimir os erros, as injustiças, os crimes. O Estado – ao contrário do
que defendi Aristóteles – não deve procurar (porque é impossível) tornar os
homens bons e virtuosos: apenas deve tentar fazer reinar uma certa paz e
segurança exteriores nas relações sociais entre os homens. O Estado é pois uma
ordem exterior e coerciva (a paz e a segurança terrenas devem ser asseguradas
através da coacção e punição, através do sistema jurídica, o Direito), não tem a
ver com o Bem e com a Justiça, mas apenas com a paz e a segurança possíveis
na Cidade Terrena. A Cidade de Deus é uma ordem de amor; o Estado, no interior
da Cidade Terrena, é uma ordem de coacção.

1.7. O dever de obediência ao Poder político

Santo Agostinho entende que todo o poder vem de Deus e, por conseguinte,
considera que o Estado é um instrumento ordenado por Deus: é mesmo “um
dom de Deus aos homens”. Daí resultam 2 consequências: A primeira é que o
dever de obediência é absoluto: não há limitações ao Poder dos governantes,
não há espaço para justificação da desobediência ou para quaisquer formas de
resistência dos governados.

A segunda consiste em que os homens não podem distinguir entre bons e maus
governantes, entre formas de governo justas e injustas (como fazia Aristóteles):
a todos se deve, por igual, obediência. Numa palavra: o Estado deve ser duro e
repressivo; o cidadão deve aceitar passivamente a autoridade do Poder. E não
ISCED-CURSO: História 20 Ano - Disciplina/Módulo: História das Ideias Politicas II
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deve dar grande importância à possível existência de maus governantes, ou de


dirigentes tirânicos. Porque oque sobretudo interessa é a vida eterna, e não é
longo o tempo que se passa na vida terrena. O que interessa não é ser bem
governado, mas manter sempre a liberdade interior, que permite amar a Deus
sobre todas as coisas e preparar o ingresso futuro na Cidade de Deus.

1.8. A paz

A principal finalidade a prosseguir no uso do poder é, para Santo Agostinho, a


preservação da paz. Santo Agostinho considera então que “a paz é o supremo
bem da Cidade” e que existe uma “aspiração universal em direcção à paz”.

1.9. As funções da autoridade

Santo Agostinho analisa as 3 funções em que se desdobra a autoridade:


imperare (comandar), providere (prover) e consulare (aconselhar). São estesos
deveres do chefe, que traduzem 3 funções ou officia: o officium imperandi, o
officium providendi, e o officium consulendi.- O officium imperandi é o primeiro
de todos: consiste na função de comando e é o mais importante e o mais difícil
dos deveres do chefe. O poder não é uma propriedade pessoal, mas uma função,
um serviço.- O officium providendi é a segunda das funções do governante:
consiste em prever as necessidades do país e em prover à sua satisfação.- O
officium consulendi faz ressaltar a posição do chefe como conselheiro do seu
povo. O governante deve não apenas comandar e prover, mas também
aconselhar – e deve fazê-lo com espírito fraterno.

Possível existência de maus governantes, ou de dirigentes tirânicos. Porque


oque sobretudo interessa é a vida eterna, e não é longo o tempo que se passa
na vida terrena. O que interessa não é ser bem governado, mas manter sempre
a liberdade interior, que permite amar a Deus sobre todas as coisas e preparar
o ingresso futuro na Cidade de Deus.

1.10.1 A Igreja e o Estado

Santo Agostinho tinha ideias claras sobre a matéria: os poderes eclesiásticos e


civil são distintos e independentes. Cada um move-se na sua esfera própria de
jurisdição e actua por sua conta, só sendo responsável perante Deus. Toda e
qualquer ingerência de um nos domínios reservados do outro é inconveniente e
perigosa. Santo Agostinho manteve-se na posição tradicional do Cristianismo
primitivo. E especificava mesmo que a Igreja, por amor da concórdia civil, deve
aceitar o Estado tal como ele é, com os erros e insuficiências que
inevitavelmente o caracterizam, oferecendo-lhe, na pessoa dos seus fiéis,
cidadãos bons e virtuosos.

A Igreja devia ser, assim, uma verdadeira escola de civismo. Mas houve dois
factores que formariam o “agostinianismo político”, ou a doutrina da
supremacia da Igreja sobre o Estado:- O primeiro foi a doutrina de Santo
Agostinho favorável à intervenção do Estado contra as seitas heréticas, na
medida em que defender ser dever oEstado punir com as suas leis os hereger –
funcionando assim na prática como “braço secular” da Igreja, e aceitando as
definições da verdade religiosa dadas por esta -, não há dúvida de que contribuiu
poderosamente para acentuar a ideia de subordinação do Estado à Igreja.- O
segundo factor foi a própria concepção da Cidade de Deus, como algo de
ISCED-CURSO: História 20 Ano - Disciplina/Módulo: História das Ideias Politicas II
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intrinsecamente superior à Cidade Terrena. É certo que nem aquela


correspondia à Igreja, nem esta ao Estado.

Como elemento da Cidade Celeste, ia provocar o desvio de interpretação que


nela estava implícito. Nasceu assim o já referido “agostinianismo político”.

1.10.2. S. Tomás de Aquino

Nasceu em 1225 e morreu em 1274 (séc. XIII), em Nápoles.

1.10.3. O pensamento político de S. Tomás de Aquino

Santo Agostinho era pessimista sobre a natureza humana, e considerava que


toda a concepção acerca do homem, do mundo e da vida só podia assentar no
dogma do pecado original e dos efeitos deste sobre o ser humano, S. Tomás,
pelo contrário, afirmou com optimismo que os efeitos do pecado original não
são destrutivos e que a graça divina, completando a natureza humana, não vem
agir sobre algo que seja totalmente mau.

1.10.4. Visão geral do mundo e do homem. As leis

Para S. Tomás de Aquino, o mundo e o homem foram criados por Deus. Mas a
actuação não se esgotou nesse primeiro momento genético: continua todos os
dias a exercer-se, pois Deus governa o mundo. E o que são as leis? De acordo
com S. Tomás, “a lei é uma ordem de razão imposta para o bem comum e
promulgada por aquele que tem a seu cargo uma comunidade”. Para o
Aquinatense, há quatro espécies de leis – a lei eterna, a lei natural, alei humana
e a lei divina:- A lei eterna é a lei geral do universo estabelecida por Deus para
todos os seres por ele criados. Se a lei é uma ordem da razão emanada do
soberano que governa uma comunidade, então, como o mundo é governado
pela providência divina, toda a comunidade do universo se rege pela razão de
Deus.- A lei natural, por sua vez, é a participação dos seres criados na razão
estabelecida pela lei eterna.

Todos os seres têm em si impressa uma inclinação natural para os seus próprios
fins. Por isso o homem participa na razão eterna pela qual se inclina
naturalmente ao ordenamento dos seus actos para os seus fins. E tal
participação da criatura racional na lei eterna é oque se chama lei natural. Mas
a lei natural contém essencialmente um preceito fundamental: fazer o bem e
evitar o mal. Compete seguidamente aos homens, através da razão, extrair dela
todas as consequências.- Daí a necessidade da lei humana, que é imposto pela
razão para aplicar a regra essencial da lei natural, que manda fazer o bem e evitar
o mal.- Finalmente a lei divina é constituída pelas normas que Deus
expressamente formulou para orientar a lei humana sobre questões essenciais.

1.10.5. O homem e a sociedade


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Segundo S. Tomás de Aquino, e na esteira de Aristóteles, o homem é um animal


social e, mais do que isso, é um animal político. A vida em sociedade é própria
do homem porque ele não seria capaz de prover a tudo o que é necessária à vida
com os seus próprios meios. Por isso a sociedade política é a sociedade perfeita,
no sentido de que é a única capaz de proporcionar a satisfação de todas as
necessidades da vida. É preciso que alguém “comande o leme” e o mesmo
acontece com as sociedades políticas: daí a necessidade do governo dos povos
e, portanto, do poder político. Diferentemente de Santo Agostinho, S. Tomás de
Aquino não considera que a relação política entre governantes e governados
seja consequência do pecado original: pois, para ele, já no paraíso, no “estado
de inocência”, essa relação existia, embora não dotada de coacção. Em S. Tomás
de Aquino, a sociedade política, o Estado, tem uma origem natural: é um
produto da natureza e da razão. É uma consequência do carácter social e político
do homem, que exige uma autoridade que governe para se realizar o bem
comum. Segundo S. Tomás de Aquino, a sociedade, embora não tenha origem
contratual expressa, repousa num elemento voluntário, que é o consentimento
tácito comum dos seres humanos que pertencem a uma determinada
comunidade.

1.10.6. O Estado e os seus fins

Para S. Tomás de Aquino, só o Estado é a sociedade perfeita. Perfeita, não no


sentido de que disponha de uma perfeição absoluta igual à de Deus, mas no
sentido de que se basta a si própria, de que contém em si todas as virtualidades
para satisfazer as necessidades fundamentais do homem. Qual o fim do Estado?
O fim do Estado, segundo S. Tomás de Aquino é o bem comum. Para S. Tomás
de Aquino de uma forma muito clara, o fim do Estado não é apenas a obtenção
do bem comum no sentido colectivo da expressão: porque o bem comum tem
também uma dimensão e uma incidência individual.

O bem comum pressupõe e exige que todos e cada um dos homens possam não
apenas viver, mas viver bem. A ideia de felicidade individual, ou de bem-estar
individual tem origem em Aristóteles e é uma ideia fundamental no conceito de
bem comum de S. Tomás de Aquino.

1.10.7. A pessoa e o Estado

Para S. Tomás de Aquino, o homem não é só indivíduo; o homem é pessoa, tem


natureza racional, goza de liberdade, tem direitos próprios em função da sua
dignidade, por isso que foi criado à imagem e semelhança de Deus. É uma noção
fundamental que decorre da essência mesma do Cristianismo. Quer dizer: o
homem não é uma simples peça do mecanismo estadual, tem autonomia, goza
de independência, é um ser com fins próprios.

1.1.0.8. A origem do poder

S. Tomás de Aquino entende, como não podia deixar de ser, que todo o poder
vem de Deus. E explica: “ a sociedade é uma exigência da natureza; para viver
em sociedade é necessária uma autoridade que comande em ordem ao bem
comum; logo, a autoridade é uma exigência da natureza. Mas todas as exigências
da natureza procedem de Deus, seu autor; ora a autoridade é uma exigência da
natureza; logo, a autoridade procede de Deus”. Até aqui S. Tomás de Aquino
ISCED-CURSO: História 20 Ano - Disciplina/Módulo: História das Ideias Politicas II
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mantém-se na linha do ensinamento de S. Paulo, mas a partir daí vai introduzir


um elemento totalmente novo.

O Aquinatense vai, na verdade, ensinar que o poder, de origem divina, é


transmitido directamente ao povo, e do povo é que vai, se ele assim o
determinar, para os governantes. Esta doutrina – doutrina da ordem popular do
poder ou, como se dirá mais tarde, doutrina da soberania popular – conjugada
com o ensinamento pauliano da origem divina do poder, pode condensar-se na
fórmula “todo o poder vem de Deus através do povo”. Daqui resulta que Deus
concede o poder ao povo, e portanto o povo é que é o verdadeiro titular do
poder político.

O povo pode, pois, exercer directamenteo poder, ou delegar o seu exercício em


governantes: estes serão meros delegados do povo, actuando no lugar em vez
do povo. Era a negação do que se chamaria da doutrina do direito divino dos reis
– isto é, da ideia de que o poder vem directamente de Deus para os reis, sem
qualquer mediação popular.

1.10.9. Regimes políticos

Assim, S. Tomás de Aquino, repete que há 3 formas justas de governo: a


monarquia, a aristocracia e a república; e 3 formas desviadas ou injustas: a
tirania, a oligarquia e a democracia. Reconhece que qualquer das 3 primeiras
formas é legítima, porque em todas elas os governos actuam justamente, e
condena as outras 3, porque nelas os governos actuam injustamente – tudo
sempre em relação ao bem comum. Quanto ao regime ideal, S. Tomás de Aquino
distingue entre o regime melhor “em teória” e “na prática”: teoricamente, o
regime ideal é para ele a Monarquia; praticamente, porém, as suas preferências
vão para um regime misto. S. Tomás de Aquino prefere a monarquia por 4
ordens de razões: Do ponto de vista teológico, a monarquia é o regime que mais
se aproximado governo do mundo por Deus, que é também o governo de um só,
e da forma de governo que Cristo pretendeu para a sua Igreja- Do ponto de vista
filosófico, a arte de governar, como todas as artes, deve imitar a natureza: a
sociedade política deve seguir o modelo da natureza. Orana natureza tudo vem
da unidade e tudo regressa à unidade, o que é também um argumento no
sentido da monarquia.- Do ponto de vista prático, o governo de vários ou de
muitos nunca se torna eficaz senão quando, após as necessárias deliberações,
todos se põem de acordo e atingem a unidade. Portanto, é melhor o governo de
um só do que ode muitos, que primeiro têm de procurar entre si alcançar um
consenso.

Do ponto de vista histórico, enfim, o passado mostra que os países sem rei
sempre viveram na discórdia e sempre andaram à deriva, como designadamente
na história de Roma. Pelo contrário, as cidades e países governados por um rei
gozam de paz, florescem em justiça e vivem felizes na abundância das riquezas.

Mas, por razões práticas, acrescenta que o regime ideal não deve ser uma
monarquia pura. Para ele, é necessário associar à responsabilidade do governo
não só as elites, capazes de, pela sua inteligência, pelos seus conhecimentos,
pelos seus méritos, assegurar uma boa gestão dos negócios públicos, mas
também, no tocante às decisões fundamentais sobre a vida colectiva, toda a
população, todo o povo.
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Assim, o regime misto preconizado por S. Tomás de Aquino é uma monarquia


temperada por elementos de aristocracia e por elementos de república,
seguindo aqui bastante o pensamento de Aristóteles e de Cícero. Assim, as
monarquias garantirá a unidade e a eficácia do poder; a aristocracia permitirá
contribuir com a superioridade do mérito para a boa administração; e a
república assegurará a participação dos cidadãos no governo do país.

1.10.10. O pior regime: a tirania

Para S. Tomás de Aquino tal como o governo por um rei é o melhor regime,
assim também o governo por um tirano é a pior forma de governo: Primeiro, um
poder que seja unido é mais eficiente do que outro que seja dividido. Assim, da
mesma forma que é melhor um poder produtor de bem ser unido, é mais nocivo
que um poder produtor de mal seja unido do que dividido. Por isso, a tirania é
pior do que a oligarquia, e esta é pior do que a democracia. Segundo, o que torna
um regime injusto é o facto de serem prosseguidos os interesses pessoais do
governante em detrimento do bem-estar da comunidade. Ora, servindo a tirania
para satisfazer apenas os interesses de um homem só, é aí que se fica mais longe
(mais longe ainda do que naoligarquia) da satisfação dos interesses de todos.
Terceiro, é bom que um bom governo seja unido e forte, mas é mau que um mau
governo seja forte e unido. Por consequência, de todas as formas injustas de
governo, a democracia é a mais tolerável, e a tirania é a pior.- Quarto, a tirania
não há apenas satisfação de interesses pessoais do tirano em prejuízo dos
interesses do povo e do país: há também opressão dos súbditos. E tudo isso
acontece porque “não há lei” e portanto nada é seguro, tudo é incerto. Quinto,
o tirano semeia a discórdia entre os seus súbditos. Como vive permanentemente
no receio de uma revolta, o tirano divide para reinar. Sexto, a tirania gera o medo
dos cidadãos perante o poder. Ninguém se sente livre ou seguro. Sétimo, e em
consequência de tudo isto, o tirano não consegue normalmente assegurar uns
países forte perante os inimigos exteriores.

Em regra, o tirano é forte perante os seus súbditos, mas fraco perante os seus
inimigos. S. Tomás de Aquino conclui que o tirano, dominado cegamente pelas
paixões e incapaz de actuar segundo a razão, não difere em modo nenhum de
uma besta; nem é diferente ser sujeito a um tirano ou ser sujeito a um animal
selvagem.

1.10.1. Remédios contra a tirania

S. Tomás de Aquino não aconselha o tiranicídio, isto é, o assassinato do tirano.


Na verdade, pondera ele, seria perigoso que os induzidos a tomar a iniciativa
particular de atentar contra a vida dos governantes, mesmo tiranos. Por isso o
remédio contra os males da tirania deve assentar mais nas mãos da autoridade
pública do que no juízo privado dos indivíduos. S. Tomás de Aquino distingue
duas hipóteses: a de a comunidade ter o direito de escolher o seu rei, e a de esse
direito pertencer a uma autoridade superior.

No primeiro caso, S. Tomás conclui que a comunidade que tem o direito de


eleger o rei tem também o direito de o depor. No segundo caso, que é por
exemplo o de uma colónia dependente de um poder alheio, o remédio contra a
tirania consiste em apelar para o poder superior a fim de que este corrija ou
deponha o tirano. Esta concepção apregoa, basicamente, a resignação perante
a tirania, em vez do direito à desobediência e à insurreição. Trata-se, como se
ISCED-CURSO: História 20 Ano - Disciplina/Módulo: História das Ideias Politicas II
29

vê, de uma posição bastante tímida, em que prevalece a defesa conservadora da


autoridade, da ordem e da estabilidade sobre a visão mais liberal da garantia dos
direitos individuais. S. Tomás admite o direito de desobediência do povo cristão
em relação ao seu rei – é o de este ser declarado pela Igreja como herético,
cismático ou excomungado.

1.10.2. Os deveres do príncipe cristão

Como deve comportar-se um verdadeiro príncipe cristão? Tomás de Aquino


estabelece o paralelo entre o rei e Deus “pois o rei faz no seu reino o que Deus
faz no universo”.“ Governar é guiar aquilo que é governado para o seu fim”: ora
o fim das sociedades humanas é proporcionar uma “vida virtuosa” a todos os
indivíduos segundo a lei de Deus. Este é pois o principal dever dos príncipes
cristãos. Mas o bem-estar da comunidade política não é apenas espiritual, tem
de ser também material. Neste campo, os deveres do príncipe cristão são
múltiplos:- garantir a paz e a unidade do país;- prevenir os crimes, reprimir a
violência e fazer justiça;- defender o reino contra os seus inimigos;- prover os
lugares públicos;- proporcionar aos mais necessitados meios de subsistência, ou
“suficiência de bens corporais ”Deve o príncipe obediência às suas próprias leis?
S. Tomás distingue então, na lei humana, dois aspectos – a sua “força directiva”
e a sua “força coactiva”. E explica que, se o soberano não está sujeito à lei
humana no segundo aspecto, o da coacção – pois é o próprio soberano que
dispõe da força pública e esta não pode ser usada contra ele -, no entanto o
soberano está sujeito às leis no seu primeiro aspecto, ou seja, à sua força
directiva, aos seus comandos. S. Tomás de Aquino considerava a função
governativa tão difícil e pesada que nenhuma recompensa terrena – nem a
riqueza, nem a honra, nem a glória, poderia ser retribuição suficiente para os
príncipes deles incumbidos: só a vida eterna os poderá recompensar.

1.10.3. Estado e Igreja

Em meados estava-se no auge da supremacia do papado, segundo a doutrina do


sacerdotalismo e do “agostinianismo”: o poder espiritual predominavas obre o
poder temporal, pois os titulares deste, como cristãos, tinham de sesubmeter à
Igreja. Ora, S. Tomás vem dizer que tanto o poder espiritual como o poder
temporal são legítimos – e têm ambos origem divina. Segundo ele, a vida
sobrenatural é sem dúvida superior à vida terrena, e por isso S. Tomás de Aquino
reconhece, na esteira da tradição medieval, a primazia do poder espiritual sobre
o poder temporal. Mas acrescenta: essa primazia só se verifica naquilo que se
refira à salvação das almas. Ou seja, S. Tomás de Aquino procura fechar a porta
por onde tinham passado todos os abusos da doutrina da supremacia do poder
espiritual sobre o poder temporal. E acrescenta que o poder secular só está
subordinado ao espiritual enquanto tal subordinação for requerida por Deus,
que é como quem diz, enquanto for necessária para a salvação da alma,
baseando-se no Evangelho de S. Mateus“ dai a César o que é de César”.

1.10.4. Erasmo de Roterdão

À maneira dos autores medievais, Erasmo constrói idealmente um corpo cristão


cujo centro é Cristo. À volta dele estendem-se concentricamente três círculos,
dois pequenos e um grande. A primeira é ocupada pelos príncipes da Igreja e
pelos sacerdotes: é a zona interna. A zona externa contém a grande massa de
simples leigos, com os pés pesadamente presos à gleba e pertencentes ao corpo
ISCED-CURSO: História 20 Ano - Disciplina/Módulo: História das Ideias Politicas II
30

da Igreja. Entre as duas zonas (interna ou eclesiástica e externa ou laica), há uma


zona intermédia constituída pelos príncipes temporais. Quando estes governam
com justiça e proporcionam repouso aos seus povos, participam à sua maneira
da dignidade sacerdotal, situando-se assim muito acima dos que constituem a
zona externa do laicado.

No entanto, seria errado inferir neste esquema que Erasmo confere aos
príncipes uma situação privilegiada. Para ele não há dois cristianismos, um para
os príncipes e outro para o comum das pessoas. A religião de todos deve ser
conforme ao ideal evangélico. O príncipe, por estar situado mais acima, deve
superar os outros pelas suas virtudes, prudência e integridade. A lei do sacrifício
impõe-se-lhe como a todos os cristãos. Se tenciona seguir Cristo, deve carregar
a sua cruz. Não pode escapar à lei comum. Estamos assim longe de Maquiavel
que constrói uma moral especial para o príncipe e o coloca acima da moral
universal; e igualmente longe dos absolutistas, que fazem com que a conduta
dos poderosos escape a qualquer espécie de controlo terrestre.

Erasmo, embora reconheça direitos ao príncipe, limita-os fortemente. Apoiados


na primeira doutrina da Igreja nascente, os reis tendem a considerar que se lhes
deve obediência sem discussão, de acordo com o princípio estabelecido pelos
apóstolos. Mas esta fórmula de submissão referia-se aos imperadores romanos.
Assim, Erasmo quer que o príncipe seja escolhido em atenção aos seus méritos
autênticos.

O primeiro, a seu ver, consiste em ser pacífico. Ao passo que Maquiavel, e muitos
dos seus seguidores, glorificam o príncipe quando este se apodera de novas
terras para reinar sobre elas. Erasmo condena as conquistas em vários dos seus
adágios característicos. O evangelho é um evangelho de paz; por isso o primeiro
dever do príncipe é não fazer a guerra. Dirigida a Carlos V ou a Francisco I, esta
linguagem parece muito ingénua. No entanto, aos olhos de Erasmo, é sábia, pois
aumentar as possessões não constitui vantagem para um príncipe. Mais lhe
valeria restringi- las, pois ser-lhe-ia mais fácil fazer reinar a justiça e a paz num
território menos vasto. Proporcionaria ao seu povo maior prosperidade.

Sumário

Santo Agostinho tinha ideias claras sobre a matéria: os poderes eclesiásticos e


civil são distintos e independentes. Cada um move-se na sua esfera própria de
jurisdição e actua por sua conta, só sendo responsável perante Deus. Toda e
qualquer ingerência de um nos domínios reservados do outro é inconveniente e
perigosa. Santo Agostinho manteve-se na posição tradicional do Cristianismo
primitivo. E especificava mesmo que a Igreja, por amor da concórdia civil, deve
aceitar o Estado tal como ele é, com os erros e insuficiências que
inevitavelmente o caracterizam, oferecendo-lhe, na pessoa dos seus fiéis,
cidadãos bons e virtuosos.

Para S. Tomás de Aquino, só o Estado é a sociedade perfeita. Perfeita, não no


sentido de que disponha de uma perfeição absoluta igual à de Deus, mas no
sentido de que se basta a si própria, de que contém em si todas as virtualidades
para satisfazer as necessidades fundamentais do homem. O fim do Estado,
segundo S. Tomás de Aquino é o bem comum. Para S. Tomás de Aquino de uma
forma muito clara, o fim do Estado não é apenas a obtenção do bem comum no
sentido colectivo da expressão: porque o bem comum tem também uma
dimensão e uma incidência individual.
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31

O bem comum pressupõe e exige que todos e cada um dos homens possam não
apenas viver, mas viver bem. A ideia de felicidade individual, ou de bem-estar
individual tem origem em Aristóteles e é uma ideia fundamental no conceito de
bem comum de S. Tomás de Aquino.

Exercícios
1. Qual o fim do estado segundo o pensamento político de são Tomas de Aquino.

2. Faça uma do pensamento de Santo Agostinho e São Tomas de Aquino.

3. Descreva o contributo do pensamento de Aquino para a política.

Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO

Resolva os exercícios indicados.

Faça uma breve síntese da unidade em estudo.

Bibliografia

1. THIBAULT, Pierre, (1981) O período das ditaduras 1918-1947, Lisboa,


Publicações D. Quixote.

2. MOORE, Jr. Barrington (s/d) As origens sociais da ditadura e da


democracia – senhores e camponeses na construção do mundo
moderno, Lisboa, Edições Cosmos.

3. AMARAL, Diogo Freitas; História das ideias políticas, Vol II, Lisboa:
Editora Almedina, 2001.
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32

TEMA II: A IDADE MODERNA

Ideais Política Moderna: O Absolutismo

2. Positivismo
Introdução

A sociocracia de origem comtiana, permitiu estabelecer as bases para a coesão


social, garantindo a participação do indivíduo na decisão do grupo ou individual;
no concernente ao positivismo lei dos três estados que a humanidade percorre
sucessivamente. Ainda dá o seu contributo positivo no campo político.

Objectivos

 Conhecer a Sociocracia de Comte;


 Analisar o positivismo de Comte;
 Descrever a influência do positivismo de Comte na arena Política;
 Compreender a essência do pensamento de Maquiavel.

2.1. O espírito do Renascimento e a política

A partir de meados do século XV, entra-se numa nova fase da história da Europa
– a fase do Renascimento, que dá início á chamada Idade Moderna. Conhece-se
os seus aspectos fundamentais. Por um lado, dá-se uma atenuação muito forte
do espírito religioso global e envolvente que marcou a Idade Média, e uma clara
acentuação do humanismo e dos valores profanos, com um certo resvalar para
o paganismo, num quadro geral de restauração da cultura greco-romana e dos
traços característicos da Antiguidade Clássica, e da ruptura com a Idade Média.
Tudo o que é humano passa a ser mais importante do que o divino. Por outro
lado, assiste-se á afirmação da supremacia do poder civil sobre as autoridades
religiosas, e ao fortalecimento do poder real.

É, no plano político e administrativo, o fim do feudalismo: acaba a pulverização


dos poderes senhoriais, corporativos, eclesiásticos e municipais, dá-se a
centralização do poder real e a afirmação do Estado soberano. É neste período,
com efeito, que nascem as grandes Monarquias europeias: os Reis Católicos em
Espanha, os Tudors em Inglaterra e o absolutismo realem França. Começam a
afirmar-se as nacionalidades: passa-se da Cidade – Estado para o Estado –
Nação. E assiste-se á ascensão do absolutismo real: o monarca desliga-se cada
vez de vínculos de carácter religioso, para se guiar sobretudo por motivações
ISCED-CURSO: História 20 Ano - Disciplina/Módulo: História das Ideias Politicas II
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puramente politica, ou seja, pela “razão de Estado“. Em Portugal encarna


integralmente o reforço do poder real e o despreendimento de limites morais.

Noutro plano, dão-se os Descobrimentos, tarefa de cunho universal e planetário,


em que os portugueses desempenham papel primordial. E com os
Descobrimentos vem o progresso das técnicas e da mentalidade científica: a
cartografia, a ciência náutica, a astronomia, as ciências naturais, tudo vai
conhecer um surto enorme, com as maiores consequências do ponto de vista
cultural, económico e social. Uma delas será nada mais nada menos que o início
do capitalismo moderno. A generalização e abertura do comércio, que deixa de
ser puramente local e requer controle e proteção de âmbito nacional, também
contribui poderosamente para acentuar a necessidade do reforço de um poder
real centralizado.

Por último, cumpre chamar a atenção para que é durante esta fase - cerca de
um século depois do seu início – que se produz esse grande terramoto da história
europeia que é a Reforma protestante, seguida da Contra – reforma católica –
acontecimentos que dividem a Europa cristã em países católicos e protestantes,
com inevitáveis implicações políticas.

2.2. O poder liberto da moral: MAQUIAVEL

Vida e obra de MAQUIAVEL.

MAQUIAVEL nasceu em 1469 e morreu em1527, com 58 anos. Era natural de


Florença. É importante ter presente que ao tempo não existia a Itália como país
unificado: existiam várias cidades independentes, parecidas com as diferentes
polis da Grécia antiga. MAQUIAVEL, pertencia á classe média: era filho de um
licenciado em Direito. Em 1498 foi nomeado Secretário da segunda chancelaria
de Florença, cargo que ocupou até 1512. Mas a dada altura caiu em desgraça,
retirando-se da vida pública para uma modesta casa de campo em San Casciano.
Foi então que redigiu a sua obra mais conhecida e mais célebre - «OPríncipe»,
escrita em 1513 – 1514, mas publicada apenas em 1531, quatro anos a pós a sua
morte. Este livro foi oferecido a LORENZO DE MEDICIS, ou Lourenço O Magnifico,
de quem o autor queria obter o favor de um emprego. A sua obra foi
efectivamente bastante contestada, designadamente pela Igreja Católica, em
cujo Índex dos livros proibidos esteve colocado «O Príncipe» de 1559 até 1850.

2.3. O pensamento político de MAQUIAVEL. Ideia geral

Caído em desgraça, saudoso das proximidades do poder, pretendendo


reconquistar um cargo público pela mercê do monarca, o Secretário Florentino
dedica-se á redacção de «O Príncipe». E confessa expressamente que o seu
objectivo é «obter o favor de um príncipe». Resolve então oferecer a Lourenço
de Médicis, o Magnifico, aquilo que julga possuir de mais valioso: nem cavalos,
nem armas, nem panos de ouro, nem pedras preciosas, mas antes «o
conhecimento das acções dos grandes homens, adquirido numa longo
Experiencia das coisas modernas e numa continuado leitura das antigas.

O grande objectivo do livro é aconselhar o Príncipe e sobretudo aconselhá-lo


sobre o modo de adquirir o poder e sobre o modo de o conservar, quando
recentemente adquirido. Este é o único fim político que MAQUIAVEL toma em
conta e considera – conquistar e manter o poder. Tudo o resto para ele é
secundário.
ISCED-CURSO: História 20 Ano - Disciplina/Módulo: História das Ideias Politicas II
34

A originalidade de «O Príncipe» de MAQUIAVEL está em que ele quebra


completamente com a tradição do pensamento político que o procedeu: quebra
com a tradição de PLATÃO, de ARISTÓTELES, e de CÍCERO, e quebra com a
tradição medieval cristã. Quebra com a tradição greco-latina clássica, na medida
em que não situa o Estado perante o Mundo, nem perante o Cosmos, não se
preocupando minimamente com a existência de leis eternas e universais ou com
qualquer referência ao direito natural, e também na medida em que opta pelo
realismo politico contra o idealismo ético. E quebra com a tradição medieval
cristã, na medida em que, além de omitir referencias á lei natural, nunca fala em
Deus, ignora as limitações morais dos governantes, aconselha muitas vezes a
prática de actos imorais, e se esporadicamente fala na religião não é para lhe
subordinar a politica mas, bem ao contrário, para afirmar que a religião é útil ao
Estado porque ajuda a convencer os povos a obedecer às leis.

MAQUIAVEL é assim um inovador e, á sua maneira, um revolucionário ele é, sem


dúvida. «O primeiro analista moderno do poder» «O Príncipe» não é um livro
teórico, é um manual com recomendações sobre a arte e governar. O seu valor
na História das Ideias Politicas é imenso, pelos caminhos novos que abriu á
análise dos mecanismos do poder, e também pela desfaçatez com que ousou
revelar na sua crueza a maldade eu os homens usam uns para com os outros na
actividade politica.

2.4. A noção de Estado

MAQUIAVEL é o primeiro autor a utilizar a palavra «Estado» com o sentido que


ela assume actualmente. É a época do Renascimento, terminou a Idade Média,
extinguiu-se o feudalismo, nasceram os primeiros Estados nacionais, o poder
real conseguiu monopolizar o emprego da força pública ao serviço do bem
comum: nasceu o Estado moderno. Pois é justamente nesta época que
MAQUIAVEL utiliza pela primeira vez a palavra «Estado» no sentido actual de
comunidade política soberana na ordem interna e na ordem internacional. Os
gregos falavam antes em polis e os romanos em república. Mas, é claro, o Estado
no Renascimento é um conceito que ainda se não destacou dos próprios homens
que o governam. O Estado é, pois, o Estado monárquico: é o principado, é o
poder real, é o «absolutismo principesco».

2.5. Classificação dos regimes políticos.

MAQUIAVEL, apresenta pela primeira vez uma classificação bipartida e que, na


base do critério que ele adopta, nunca mais será abandonada até aos nossos
dias. É classificação em, «Repúblicas» e «Principados» ou, como hoje diríamos,
em «República» e «Monarquia»: a monarquia é governada pela vontade de um
só indivíduo (soberano singular), a república é dirigida por uma vontade
colectiva – seja de poucos, seja de muitos (soberano colectivo). Exemplos de
monarquias eram os reinos de Espanha, França ou Inglaterra; exemplos de
repúblicas eram as cidades de Florença, Génova ou Veneza.

Em «O Príncipe», ele vai tratar sobretudo das monarquias, ou principados,


afirmando claramente que o seu objectivo fundamental é determinar qual é a
essência dos principados, quantas espécies de principados existem, como se
adquirem, como se mantêm e porque se perdem. Um outro aspecto bastante
curioso da classificação de MAQUIAVEL é o de que, contrariamente a
ARISTÓTELES e a S. TOMÁS DE AQUINO, o Florentino não distingue entre formas
ISCED-CURSO: História 20 Ano - Disciplina/Módulo: História das Ideias Politicas II
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de governo boas e más, ou sãs e degeneradas. Para MAQUIAVEL todos os


regimes políticos são legítimos, não há formas de governo ilegítimo, o que há é
umas mais convenientes do que outras, conforme as circunstâncias.
MAQUIAVEL não faz juízos morais. Para ele não tem sentido distinguir entre rei
e tirano: o príncipe é bom ou mau, não em função de critérios éticos, mas em
função de êxito político. Bom é o príncipe capaz de conquistar o poder e de o
manter por muitos anos; é mau aquele que não chega a possuir o poder ou eu o
perde em pouco tempo. Para ele, não há políticos juízos éticos: o único critério
é o do êxito político. Não importa se os príncipes usam ou não a crueldade: o
que conta é se a crueldade foi bem usada e teve êxito, ou foi mal usada e
fracassou.

2.6. A melhor forma de governo.

Se é certo que MAQUIAVEL não distingue entre formas de governo sãs e


degeneradas. Isto não quer dizer, todavia, que ele não afirme as suas
preferências. Fá-lo, por critérios de conveniência política e não por critérios
morais.

Em princípio, e como regra geral, MAQUIAVEL prefere a República. Prefere-apor


se tratar de um «governo livre», isto é, do governo que melhor defende a
liberdade. E também porque, segundo ele, a Monarquia tem diversos
inconvenientes de peso: na verdade, a monarquia depressa se transforma de e
lectiva em hereditária e, nesta, surge com frequência o fenómeno dos filhos que
degeneram dos seus pais, e que se entregam ao luxo, ao egoísmo e a toda a
espécie de prazeres. Assim, os príncipes atraem sobre si o ódio geral. Do ódio
nasce o medo. E o medo mais cedo ou mais tarde, conduz sempre á tirania, a
qual se caracteriza pela instabilidade.

2.6.1. Montesquieu

A vida de Montesquieu transcorreu entre meados do século XVII d.C. e a


primeira metade do século XVIII d. C., período que abrange o apogeu do Ancient
Regime na França.

"A noção de monarquia clássica comanda o devir político dos países franceses
entre 1450 e 1789: ela corresponde a um Antigo Regime muito "alongado" que
se escoa, e depois se esborra, em paz ou furor, desde o fim das Guerras dos Cem
Anos até o declínio do reinado de Luís XVI.” Em termos históricos, o Absolutismo
Político se encontra vinculado à implantação de um estado centralizado
politicamente com a consequente implantação de uma "racionalização"
burocrática do aparelho administrativo dos Estados Nacionais europeus surgidos
a partir do século XIV d. C. Tais Estados Nacionais possuem como forma política
de governo a Monarquia, usualmente conhecida como Monarquia Absolutista.

Ante o exposto, e na esteira do magistério do professor Perry Anderson, a


expressão "absolutista" era um qualificativo impróprio para as Monarquias
existentes no Estados Nacionais da Época Moderna, eis que "nenhuma
monarquia ocidental gozara jamais de poder absoluto sobre seus súbitos, no
sentido de um despotismo sem entraves. Todas elas eram limitadas, mesmo no
máximo de suas prerrogativas, pelo complexo de concepções denominado
direito ‘divino’ ou ‘natural’.
ISCED-CURSO: História 20 Ano - Disciplina/Módulo: História das Ideias Politicas II
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A monarquia absoluta no Ocidente foi sempre, na verdade, duplamente


limitada: pela persistência, abaixo dela, de corpos políticos tradicionais, e pela
presença, sobre ela, de um direito natural abrangente.” Na Monarquia
Absolutista europeia da Era Moderna, o sistema de coerção política e social não
estava baseado num sistema de controlo centralizado nas mãos de uma única
pessoa, como poderia parecer a primeira vista, mas, conforme o país e a época,
era um sistema de coerção sociopolítico com diferentes níveis de coercibilidade
e, por via de consequência, com graus diversos de autonomia dos segmentos
sociais que integravam a Sociedade frente à pessoa do monarca. Por outro lado,
à guisa de conclusão deste tópico, ressalta que a partir de meados do século XVII
d. C, "cumprira-se uma mudança de orientação dos espíritos”.

O humanismo cristão do século XVII estava preocupado com o homem em si.


Via-se agora no Homem o ser social em suas relações não apenas com o sistema
da natureza e com Deus, mas igualmente com o seu meio e suas instituições.
Transformara-se de tal maneira que só aceitava o que fosse conhecido pela
observação e pela experiência. As instituições religiosas, políticas e sociais
deveriam ser submetidas à luz da razão.

O desenvolvimento da economia de troca, a ascensão da burguesia, a crítica


das instituições sociais provoca uma mudança de valores sociais. A sociedade de
ordens, praticamente desaparecida das cidades holandesas, encontra-se
arruinada na Inglaterra onde só existem alguns vestígios seus. Por sua vez, é
posta em discussão na França.

No Espírito das Leis Montesquieu se preocupa, essencialmente, em explicar e


distinguir, através de uma lógica inteligível, a génese e o desenvolvimento dos
sistemas legais in abstracto através das múltiplas diversidades desses sistemas
legais e das distintas formas de governo, conforme a época e o lugar, a partir das
condições históricas, geográficas, psicológicas, etc.

A partir de uma leitura atenta desta sua magnum opus, podemos concluir que
Montesquieu foi um dos precursores do método comparativo-indutivo
actualmente empregado tanto pela Ciência Política quanto pela História Política.
O Espírito das Leis inicia-se com uma teoria geral das leis, a qual constitui a base
da filosofia política de Montesquieu.

Na sequência, Montesquieu, com o intuito de fazer uma obra de ciência positiva,


remodela as classificações tradicionais dos regimes políticos. Distingue três
espécies de governo: republicano, monárquico e despótico. Em cada tipo de
regime, que observa aqui ou ali pelo mundo, ele estuda sucessivamente a
natureza, ou seja, as estruturas constitutivas que nele se podem notar, e o
princípio, ou seja, o mecanismo do seu funcionamento. Por fim, procura analisar
os meios e factores que, numa perspectiva jurídica-normativista e política,
eventualmente conduzem ao "bom governo".

A Teoria da Tripartição dos Poderes do Estado não é criação de Montesquieu.


John Locke, filósofo liberal inglês, cerca de um século antes de Montesquieu já
tinha formulado, ainda que implicitamente, a teoria em questão. Entretanto,
cabe a Montesquieu o inegável mérito de colocá-la num quadro mais amplo. A
teoria ora em comento "... Foi inspirada pelo sistema político constitucional,
conhecido quando de sua viagem à Inglaterra, em 1729. Ali encontrou um
regime cujo objectivo principal era a liberdade.” Ressalte-se que Montesquieu
não foi um liberal na acepção moderna do termo, ainda que sua Teoria de
Separação dos Poderes tenha servido como um dos alicerces para a construção
ISCED-CURSO: História 20 Ano - Disciplina/Módulo: História das Ideias Politicas II
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do Estado Democrático Liberal. Realmente, "Montesquieu crê na utilidade social


e moral dos corpos intermédios (da Sociedade), designadamente os
parlamentos e a nobreza."

Nesta mesma esteira de raciocínio Montesquieu "... Opta claramente pelos


interesses da nobreza, quando põe a aristocracia a salvo tanto do rei quanto da
burguesia. Do rei, quando a teoria da separação dos poderes impede o Executivo
de penetrar nas funções judiciárias; dos burgueses quando estabelece que os
nobres não podem ser julgados por magistrados populares.

Por outro lado, como autêntico aristocrata, desagrada-lhe a ideia de o povo todo
possuir poder. Por isso estabeleceu a necessidade de uma Câmara Alta no
Legislativo, composta por nobres.

A nobreza, além de contrabalançar o poder da burguesia (estamento social em


rápida ascensão social e económica na França dos séculos XVII e XVIII), era vista
por ele como capacitada, por sua superioridade natural, a ensinar ao povo que
as grandezas são respeitáveis e que monarquia moderada é o melhor regime
político.” Montesquieu, jurista oriundo da nobreza togada do Ancient Régime,
reconhece que, independentemente da espécie de governo ou regime político
de um dado país, a ordem social é, em si, heterogénea e sujeita a desigualdades
sociais as mais diversas. Se, por um lado, ele aceita, ainda que de forma implícita,
uma estrutura política e social pluralista, também é verdade que Montesquieu
entende que o povo é de todo incapaz de discernir sobre os reais problemas
políticos da Nação e, portanto, não deve e nem pode ser o titular da soberania.

Dentro dessa ordem de coisas, o objectivo último da ordem política, para


Montesquieu, é assegurar a moderação do poder mediante a "cooperação
harmónica" entre os Poderes do Estado funcionalmente constituídos
(legislativo, executivo e judiciário) com o escopo de assegurar uma eficácia
mínima de governo, bem como conferir uma legitimidade e racionalidade
administrativa à tais poderes estatais, eficácia e legitimidade essas que devem e
podem resultar num equilíbrio dos poderes sociais. "Desse ponto de vista,
Montesquieu é um representante da aristocracia, o qual luta contra o poder
monárquico, em nome de sua classe (a nobreza togada), que é uma classe
condenada. Vítima do ardil da história, ele se levanta contra o rei, pretendendo
agir em favor da nobreza, mas sua polémica só favorecerá de fato a causa do
povo.

A concepção de equilíbrio social, exposta em “L’Espirit des lois” está associada a


uma sociedade aristocrática; e no debate da sua época sobre a Constituição da
monarquia francesa, Montesquieu pertence ao partido aristocrático e não ao do
rei ou ao do povo.” Ante ao exposto, e por derradeiro, a Teoria da Tripartição
dos Poderes explicitada por Montesquieu adquire um cunho nitidamente
conservador, segundo os nossos padrões políticos e sociais actuais, mais foi uma
teoria nitidamente liberal frente à Sociedade e ao Estado da sua época. A sua
adopção por Montesquieu, em consonância com a sua opção clara por um
regime aristocrático, visava a realização não de um regime democrático
politicamente pluralista mais garantir uma dinâmica governamental mais
perfeita cuja principal finalidade é garantir o "bom andamento" - leia-se o
funcionamento racionalmente ordenado mediante normas jurídicas "justas" - do
próprio Estado.
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2.6.2.Sociocracia de Augusto Comte

Augusto Comte inventor que definiu a Sociocracia como um sistema de governo


que se baseia em decisões tomadas com o consentimento de indivíduos iguais e
numa estrutura organizacional que se assemelha a um organismo vivo. É
fundamental na sociocracia o princípio de auto organização, assentado nas
teorias sistémicas de inteligência colectiva. Comte detestava o laissez- faire do
liberalismo, estimulador, segundo ele, do egoísmo e da instabilidade, rejeitava
também a anarquia natural dos democratas pelo clima de desordem que
provocava. Idealizou para o devir uma sociocracia gerências por um Estado-
maior de sábios e tecnocratas, aliados aos industriais, que tratariam à política o
espaço das paixões humanas com as frias leis das ciências naturais.

Autor mais conhecido por suas elaborações filosóficas na área da ciência,


nascido Isidoro Augusto Maria Francisco Xavier Comte, em 1798 – pesquisou
extensamente em Sociologia, inclusive no que actualmente denominamos
Ciência Política.

Comte fora coerente ao repudiar os estadistas. Quem tentasse regredir ao


passado, resgatando uma religião ou uma instituição ultrapassada, atrasava a
chegada da era científica. A sociologia ocuparia no futuro o lugar mais
importante na hierarquia do conhecimento porque tratava do que era Humano.

Essa ciência se dedicaria a estudar o comportamento e o relacionamento social,


analisando seus factores estáticos e dinâmicos, conceitos que ele extraiu da
Mecânica, a fim de que possam ser inteligíveis e antevistos. A sociologia para
Comte seria tão precisa aos governantes futuros um alto grau de previsão nas
decisões a serem tomadas ou consideradas.

Comte viu nesses factores estáticos e dinâmicos uma oposição e uma


complementaridade, a estática era o desejo intrínseco de ordem que toda
sociedade civilizada deseja, a dinâmica era o progresso, o destino que ela deve
cumprir rumo às etapas superiores de organização e produção. Harmonizou-os
no lema: ordem e progresso.

Uma reorganização colectiva sem Deus e sem Rei, sob a preponderância


exclusiva do sentimento social, assistido pela razão positiva e da acção. Se a
transformação social deve-se à acção política consciente, o movimento
positivista tem como tarefa fundamental esclarecer as mentes ilustradas para
com sua obrigação de fazer emergir o mais rápido possível a Era Científica.

Daí Comte reservar a cada seu seguidor a função de apóstolo, de divulgador das
suas ideias, todos eles dedicados ao sacerdócio da humanidade. Formou-se ao
seu redor, a partir de então, uma pequena seita de excêntricos discípulos que
passaram a cultuá-lo como uma espécie de messias dos tempos científicos: um
Cristo da era da ciência.

2.6.3. Do tradicionalismo ao positivismo

O tradicionalismo conduz, no plano político, ao corporativismo, no plano


intelectual, leva ao sociologismo. Esta doutrina entende que a moral é o
conjunto de regras impostas pela sociedade, em determinada época, e que,
portanto, varia no tempo. O que é moralmente válido, para esta doutrina, é o
que diz ou o que faz a maioria. Ora, este pensamento afronta a moral cristã
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porque sabemos que, apesar da sociedade humana sofrer mudanças no


decorrer da história, os valores cristãos jamais deixam de ser válidos,
verdadeiros para todos os homens, de todos os tempos e de todas as culturas.

O estudo de Comte poderia ser a continuação de Saint-Simon, porque apesar de


terem cortado relações o pensamento do autor do catecismo dos industriais
exerceu considerável influência sobre o do autor do catecismo positivista.

Mas no plano político, seria negligenciar o essencial da concepção positivista,


pois as duas escolas se desenvolveram historicamente fora da universidade e em
oposição ao partido liberal, como também adoptam, quanto ao problema de
fundo, idêntica atitude de negação. São contra revolucionário no sentido
filosófico e rejeitando na ordem civil, económica e política.

Comte funda todo o seu sistema sobre a lei dos três estados que a humanidade
percorre sucessivamente. Ao estado teológico e guerreiro segue-se o estado
metafísico e jurídico, e depois o estado positivo e científico.

A primeira é o ponto de partida necessário da inteligência humana; a terceira,


seu estado fixo e definitivo; a segunda, unicamente destinada a servir de
transição.

No estado teológico, o espírito humano, dirigindo essencialmente suas


investigações para a natureza íntima dos seres, as causas primeiras e finais de
todos os efeitos que o tocam, numa palavra, para os conhecimentos absolutos,
apresenta os fenómenos corno produzidos pela acção directa e contínua de
agentes sobrenaturais mais ou menos numerosos, cuja intervenção arbitrária
explica todas as anomalias aparentes do universo.

No estado, metafísico, que no fundo nada mais é do que si modo geral do


primeiro, os agentes sobrenaturais são substituídos por forças abstractos,
verdadeiras entidades (‘abstracções personificadas) inerentes aos diversos seres
do mundo, e concebidas como capazes de engendrar por elas próprias todos os
fenómenos observados, cuja explicação consiste, então, em determinar para
cada um numa entidade correspondente.

Enfim, no estado positivo, o espírito humano, reconhecendo a impossibilidade


de obter noções absolutas, renuncia a procurar a origem e o destino do universo,
a conhecer as causas íntimas dos fenómenos, para preocupar-se unicamente em
descobrir, graças ao uso bem combinado do raciocínio e da observação, suas leis
efectivas, a saber, as relações invariáveis de sucessão e de similitude. A
explicação dos fatos, reduzidas então a seus lermos reais, se resume de agora
em diante na ligação estabelecida entre os diversos fenómenos particulares e
alguns factos gerais, cujo número o progresso da ciência tende cada vez mais a
diminuir.

O sistema teológico chegou à mais alta perfeição de que é susceptível quando


substituiu, pela acção providencial de um ser único, o jogo variado de numerosas
divindades independentes, que primitivamente tinham sido imaginadas. Do
mesmo modo, o último termo do sistema metafísico consiste em conceber, em
lugar de diferentes entidades particulares, uma única grande entidade geral, a
natureza, considerada como fonte exclusiva de todos os fenómenos.

Essas estruturas são consideradas definitivas e básicas em qualquer estágio do


desenvolvimento social, só ocorrendo, na passagem de um momento a outro,
aperfeiçoamentos em cada uma delas.
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Assim, mais uma vez, Comte subordina a dinâmica a uma estática, subordina o
progresso à ordem; o progresso é um mero deslocamento, um mero
aperfeiçoamento de estruturas que são perenes e imutáveis.

O século XIX já atingiu este estádio e Comte não é bastantes para essa doutrina
retrógrada que, na proposta ver altamente ridícula, preconiza hoje, como
solução possível para anarquia intelectual, a quimérica reinstalação social dos
mesmos são princípios cuja inevitável de cretude levou a esta anarquia”. O
espírito positivo que em dois séculos cresce mais do que ao longo de todo o seu
percurso anterior, já não permite outra unidade mental além da que resultaria
do seu ascendente universal.

2.6.4. Espírito positivo

O espírito positivo cuja aplicação sistemática e constante dá origem à doutrina


denominada positivismo que tem um sentido duplo: primeiro sentido, na ordem
lógica e cronológica, é também o mais simples, o positivismo opõe-se ao
negativo e traduz-se assim a reacção contra o espírito destrutivo do século XVIII.
Assinala a predilecção de Comte pela acção construtiva. É nesta acepção que
deve-se entender a expressão política construtiva; segundo sentido o
positivismo opõe-se ao conjectural e o hipotético, conceder-se-á positivo o que
se baseia em factos verificados e nas suas relações reconhecidas como
constantes.

As duas acepções encontram-se e aliam-se na afirmação fundamental do


positivismo, que é a da soberania da sociedade, considerada na sua unidade
humana. Comte não se detém nos elementos parciais que constituem o povo e
a nação. Vai até a humanidade na qual não vê apenas uma simples nação, mas
a realidade concreta por excelência. A humanidade torna-se génio supremo, o
vivo em si, o grande ser, pois o homem explica-se pela humanidade e não a
humanidade pelo homem.

Comte faz, também, uma distinção entre o indivíduo e o colectivo. Caracteriza o


homem como ser inteligente e dotado de sociabilidade (o que o diferencia dos
animais) e reivindica para o colectivo, para o grupo social, uma superioridade
perante o indivíduo. E dessa concepção que decorre sua noção de que os
homens, enquanto indivíduos numa sociedade, existem como substitutos
efémeros de outros indivíduos e que, como tal, têm importância, apenas, como
perpetuadores da espécie. Esta hipótese da sociedade humana origina em
Comte uma ciência da sociedade, a sociologia, uma teoria política da dominação
da sociedade, a sociocracia, e uma religião da sociedade, a sociolatria. O autor
do catecismo positivista limita-se a transpor os elementos da idade teocrática
onde, a teologia como dogma, correspondiam a teocracia como regime e a
teolatria como culto.

2.6.5. Influência política de Comte

No estado, o poder temporal, equivalente material da ordem espiritual


positivista, seria exercido pelos industriais. Porque, para Comte, era natural que
os ricos detivessem a autoridade econômica e social indispensável para o
conjunto da coletividade, uma vez que constituíam o topo na hierarquia das
capacidades.
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Segundo a perspectiva comtiana, a propriedade, que tinha raízes na constituição


biológica do homem, era inevitável, e, além disso, socialmente indispensável.
Pois, foi devido à sua virtude de concentração de capitais que a civilização
material se desenvolveu. Ou seja, foi porque os homens foram e são capazes de
gerar e acumular riquezas maiores do que as consumidas pela coletividade e de
as legarem à geração posterior, que a civilização progrediu materialmente.
Contudo, essa riqueza concentrada sob a forma de propriedade privada de
alguns foi construída por todos em conjunto, tendo origem social e devendo,
portanto, ser esta a sua destinação.

A autoridade e a concentração de riqueza por parte dos industriais na ordem


temporal tornavam-se ainda mais aceitáveis quando se compreende que, na
sociedade moderna positivista, existia uma outra ordem de realidade mundana,
que era a dos méritos morais. Esta contrabalançava o poder temporal,
regulando-o e moderando-o, fazendo com que a existência dos indivíduos não
fosse definida apenas pela posição econômica e social, mas, sobretudo, como
queria Comte, pela sua posição na ordem espiritual.

De acordo com Comte: O objetivo supremo de todos deve ser alcançar o


primeiro lugar, não na ordem do poder, mas na ordem dos méritos.

A questão social, levantada pelo embate entre as classes advinha do


desordenado movimento progressivo da sociedade industrial, que precisava
agora, uma vez estabelecido o positivismo e a sociologia caracteriza-se, então,
pela preocupação em descobrir que leis governam a sociedade e não pela
preocupação com a sua transformação física social orientadora da política
positiva, ser superado pela incorporação do proletariado à ordem científico-
industrial.

Isso seria possível, segundo Comte, à medida que o conjunto social, orientado
pelo poder espiritual positivista formasse um forte movimento de opinião
pública no sentido de mostrar aos detentores do capital a sua origem e o seu
objetivo social, não permitindo que a riqueza social fosse gestada em prejuízo
da massa proletária, cabendo a esta última limitar suas pretensões às
possibilidades econômicas de cada período.

Assim considerando, a incorporação do proletariado à ordem social dependia de


uma mudança profunda na concepção política e econômica que envolvia o cerne
da sociedade industrial, ou seja, a propriedade, a gestão do capital e o trabalho.
Essa modificação só poderia ser efetuada por uma doutrina que buscasse,
primeiro, atingir as representações sociais sobre o mundo e sua organização
para depois agir sobre suas instituições.

A sociedade pensada pelo positivismo teria então uma outra visão sobre o
mundo do trabalho. Pois, procurava torná-lo parte organicamente harmoniosa
de uma ordem na qual o poder e a riqueza se concentravam nos detentores do
capital, na classe contraditória à do trabalho.

Portanto, na interpretação dele a ordem supõe o amor e a síntese não pode se


realizar a não ser pela simpatia; a unidade teórica e a unidade prática são, pois,
impossíveis sem unidade moral.

Esse amor, necessário à ordem social, nascia na família, na qual o homem é


iniciado na educação moral e aprendia o devotamento aos seus. Pois, era
necessária a ligação entre a existência pessoal e a social, tendo em vista que o
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verdadeiro caráter da educação moral dependia da submissão do indivíduo à


sociedade. Era com o amor deste que a Humanidade renovaria a conduta
moral, e portanto, era através da moralidade, do sentimento, contido no
positivismo, que Comte pretendia regenerar a sociedade humana.

O Estado era fruto da própria sociedade em desenvolvimento que engendrava a


necessidade de uma função coordenadora totalizante que submetesse a si
todas as demais atividades. Sua autoridade nascia dessa mesma necessidade,
o que lhe permitia promover a direção universal do conjunto de atividades das
partes, pelas quais as malhas do social se distribuíam. Sendo assim, a
subordinação das partes à direção política totalizante do Estado era tão natural
quanto à dependência entre as funções sociais.

Ele se subordinava, assim como todo o corpo social, ao estado actual de


desenvolvimento intelectual e moral, ou, por outras palavras, ao estado cultural
da humanidade. Pois, como vimos, o que determinava a unidade social era o
conjunto de ideias, de representações e crenças que formavam a cultura da
sociedade, criada pelo homem vivendo em conjunto, mas determinado por leis.
Era sobre essa cultura que a ordem social se formava e se desenvolvia com o
progresso da natureza humana. E, portanto, “o estado de cultura é que
determina o restante do corpo social, e não o contrário”. O que leva a concluir
que cada estágio de desenvolvimento determinava um tipo diferente de Estado.

Na ordem industrial-científica, na qual o positivismo estabeleceu os princípios


fundamentais da unidade consensual, o Estado somente podia agir de acordo
com os ensinamentos deste, através da física social, que agora atingia o objetivo
prático de seus conhecimentos sobre as leis que regem a vida em sociedade,
qual seja, orientar positivamente a prática política.

Tratava-se, portanto, de um Estado intensamente intervencionista no sentido


de manter a ordem e conduzir, por meio da orientação que recebia, a sociedade
ao seu pleno desenvolvimento, realizando historicamente a natureza humana.
A posição central que ocupava no corpo social advinha-lhe da necessidade
originária de sua função reguladora dos movimentos de cada órgão, de modo
que nenhum se sobrepusesse aos demais. Assim, cabia-lhe ordenar a sociedade
em todo o seu aspecto material, o que punha em relevo a economia, de forma
que esta se desenvolvesse com base em um equilíbrio harmônico de forças
sociais.

O Estado intervinha como sábio ordenador, determinando sua ação pela


necessidade do conjunto social, colocando-se, portanto, em uma posição
supraclassista, uma vez que o interesse que defendia é os do organismo como
um todo e não os de partes determinadas. Ao impulsionar o progresso industrial
da sociedade, agia sobre o conjunto, provendo o interesse de todos no
desenvolvimento da riqueza.

2.7. Voltaire

O escritor e filósofo francês François Marie Arouet (1694-1778) pseudônimo


Voltaire, foi mais um defensor das liberdades civis do que um reformador
político. Viveu isolado por três anos na Inglaterra, onde foi influenciado pelas
ideias de John Locke e de Newton. Não reclamava a liberdade política, não
defendia os direitos do homem e do cidadão e nem se quer defendia a igualdade.
É reconhecida a frase de Voltaire: todos somos igualmente homens, mas não
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somos todos membros iguais da sociedade Considera que a hierarquia das


classes socias é benfazeja; é necessária a educação das classes populares, pois
não é os trabalhadores que se deve instruir, mas sim é o bom burguês, é o
habitante das cidades.

Ao regressar à França, publicou as cartas filosóficas (1734), Voltaire faz um


rasgado elogio da constituição inglesa, mas parece confiar cada vez mais num
regime forte: conta com a autoridade para fundar a liberdade. Quando ele fala
da liberdade, pensa geralmente na liberdade dos civis, mais do que liberdade
política, deseja uma magistratura submetida ao governo. Por ter convivido com
a liberdade inglesa, não acreditava que um governo e um Estado liberal,
tolerantes fossem utópicos. Não era um democrata, e acreditava que as pessoas
comuns estavam curvadas ao fanatismo e à superstição. Para ele, a sociedade
deveria ser reformada mediante o progresso da razão e o incentivo à ciência e
tecnologia.

Assim, Voltaire transformou-se num perseguidor ácido dos dogmas, sobretudo


os da Igreja Católica, que afirmava contradizer a ciência, no entanto, muitos dos
cientistas de seu tempo eram padres jesuítas. Voltaire foi um teórico
sistemático, mas um propagandista e polemista, que atacou com veemência
alguns abusos praticados pelo Antigo Regime: o obscurantismo medieval,
caracteriza-se, fundamentalmente, por dois fatos: acentuada religiosidade, com
dogmas e cultos, e um sistema de governo baseado na monarquia sobrenatural,
omnipotente, absolutista.

No espiritual ou filosófico, a Igreja católica é á base dos princípios em que o


Homem se desenvolve e, por conseguinte, a sociedade; O culto e o dogma são
os pilares da existência; O Homem não tem o direito a pensar conforme seu livre
arbítrio, não existe a razão; No terreno ou material, o Rei é um eleito de Deus, e
por isso, a sociedade deve viver, trabalhar e actuar em função dele, aquele rege
os destinos dos povos e dos homens. Tinha a visão de que não importava o
tamanho de um monarca, deveria, antes de punir um servo, passar por todos os
processos legais, e só então executar a pena, se assim consentido por lei.

Voltaire defendeu a redução dos privilégios da nobreza e do clero; Defendia as


liberdades civis (de expressão, religiosa e de associação); Criticou as instituições
políticas da monarquia, combatendo o absolutismo; Criticou o poder da Igreja
Católica e sua interferência no sistema político; Foi um defensor do livre
comércio, contra o controle do estado na economia. Numa monarquia
parlamentarista, o monarca exerce a chefia de Estado, cujos poderes são apenas
protocolares e suas funções de moderador político são determinados pela
Constituição, onde tem como função resolver impasses políticos, proteger a
Constituição.

Defendia a submissão ao domínio da lei, baseava-se em sua convicção de que o


poder devia ser exercido de maneira liberal e racional, sem levar em contra as
tradições.

2.8. Jean-Jacques Rousseau

O primeiro grande defensor, nos tempos modernos, da república como forma


de governo, ele faz um ataque violentíssimo a monarquia. Para ele só é legítimo
o governo que provém da vontade geral, tal como é expressa pelo povo em
eleições. Portanto, não é legítimo o governo monárquico, que não emana da
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soberania popular, mas da tradição, do costume da sucessão hereditária. Por


outro lado, se a soberania não pertence ao rei, nem se encontra personificada
nele ou encarnada por, mas é um direito um poder pertcente ao povo, então
segue-se dai que a soberania pode ser exercida contra o rei.

Enfim, a soberania é exercida pelo povo através da vontade geral. E esta não é
alienável. Por consequência a vontade geral pode a todo o tempo mudar de
governo. Os governantes são simples depositários, são comissários não são dono
do povo: são seus funcionários, por isso o povo pode destitui-los sempre que
quiserem. Quando a revolução francesa destitui o rei, o condena a morte e o
executa, não está senão a por em prática as ideias de Rousseau.

Finalmente ele afirma-se partidário de um sistema de governo aqui hoje


chamamos sistema convencional, um sistema de governo em que o povo elege
uma assembleia com os poderes limitados pela doutrina da democracia directa,
acima exposta e em que por sua vez essa assembleia elege uma comissão
delegada para exercer o poder executivo – mas em que o governo não é titular
de um poder próprio de um poder autónomo, do poder executivo, antes
funciona como simples delegado do legislativo da assembleia. É este modelo que
vai dar origem a experiência convenção na revolução francesa (1791) e em
consequência disso, ao chamado sistema de governo do tipo convencional, em
que todo o poder político se estrutura sob a forma de uma pirâmide de
assembleis delegads: assembleia legislativa é delegada do povo, o governo é
uma comissão delegada do legislativo, o chefe do estado é colegial, e assim
sucessivamente.

Esta ideia vem de Rousseau os órgão de poderes só tem competência de delegar,


e por isso os seus poderes podem ser lhe retirados de um momento para outro,
o povo delega no parlamento, parlamento delega no governo, o governo delega
na suas comissões aos delegados, e tudo volta de novo à origem, em qualquer
momento, porque não há poderes próprio, só há competências delegadas
permanentemente revogáveis.

A melhor constituição será, pois aquele em que o poder executivo estiver unido
ao legislativo: quem faz as leis sabe melhor que ninguém como elas deve ser
interpretados e executados.

2.9. Thomas More

É difícil distinguir as ideias políticas de T. More das que professava acerca da


família e da propriedade, embora entre estas se verifique uma curiosa ausência
de harmonia. Dá a impressão de ter sido atraído por Platão durante algum
tempo ao ponto de admitir a comunidade de mulheres. Em contrapartida, a
sociedade utópica assenta na família e numa moral muito tradicional que, no
fundo, nada tem de utópico. Um pouco a maneira de Bodin, mas num estilo
diferente a república ideal da utopia alicerça-se inteiramente sobre a célula
familiar e sobre uma concepção patriarcal. T. More toma como exemplo a sua
própria família. Mas, se em sua casa tudo se passa em perfeito acordo, ele
admite que em caso contrário cabe ao chefe de família um direito de correcção
doméstica sobre a mulher e os filhos. Alarga esta autoridade de maneira a que
tudo se regule e ordene no seio da família e que só se apele à justiça púbica
quando a enormidade do crime exigia o recurso ao Estado. Não condena
absolutamente o divórcio nem, ao que parece, o casamento dos padres. Em
ISCED-CURSO: História 20 Ano - Disciplina/Módulo: História das Ideias Politicas II
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contrapartida, é muito severo quanto ao adultério, o único crime privado que


deve ser punido com a morte.

A partir destas premissas familiares, seria muito fácil compreender que T. More
edificasse uma defesa da propriedade e procurasse tornar proprietários todos
os seus utópicos. Na história das ideias, família e propriedade estão o mais das
vezes ligadas. Aos olhos dos sociólogos, família e bem de família apresentam-se
como elementos que devem necessariamente coincidir e sustentar-se entre si.
A posição de T. More é completamente diferente. O povo da utopia é um povo
de amigos; ora, segundo a fórmula platónica, entre amigos tudo deve ser
comum. Aquilo que Platão considerava um ideal entre amigos deve sê-lo
também entre os cristãos. A fraternidade cristã deve levar à comunidade cristã.
Por esse motivo, T. More abandona a posição tradicional dos aristotélicos e dos
escolásticos, para quem a propriedade individual era um elemento capital da
liberdade, preferindo-lhe as teses de A República. Platão havia desdenhado fazer
leis para os povos que recusam a comunidade de bens. Aquele grande génio,
tinha previsto facilmente que o único meio para organizar a felicidade pública
era a aplicação do princípio de igualdade.

Ora, a igualdade é impossível num Estado onde a posse é solitária e absoluta,


pois, cada um arroga-se ai de diversos títulos e direitos para chamar a si o mais
que pode, e a riqueza nacional, por maior que seja, acaba por cair na posse de
um pequeno número de indivíduos que só deixam aos outros indigência e
miséria... o único meio de distribuir os bens com igualdade e justiça, e de
constituir a felicidade do género humano, é a abolição da propriedade. De modo
a satisfazer o seu ideal de amizade e fraternidade, T. More imagina então um
sistema comunitário em que todos trabalham e cada um trabalha pouco. Só
ficam isentas da obrigação do trabalho quinhentas pessoas que, após selecção
se entregam a metafísica.

Naturalmente, a partir d momento que existe comunidade de bens, a vida tem


de ser severamente regulamentada, a fim de evitar abusos. Sobre a cidade da
utopia, onde a regulamentação da vida atinge especial rigor, e onde reaparecem
os escravos, na forma de condenados ou prisioneiros de guerra, exerce-se uma
autoridade que pode ser classificada de democrática, apesar de ser amplamente
electiva. As famílias, em grupo de trinta, elegem anualmente um chefe
designado por filarco ou sifogrante. Dez sifograntes, tendo sob a sua alçada 300
famílias, designam anualmente um protofilarco ou traníboro. Os 200 traníboros
constituem o senado. Trata-se pois, de um sistema escalonado: chefes de
família, chefes de grupo e seus representantes, estes constituem o senado que,
de uma lista de quatro cidadãos apresentada pelo povo, escolhe um Adamo ou
príncipe dos utopianos. Para evitar que os filarcos se constituam em oligarquias,
podem ser renovados todos anos, embora, T. More pense que no geral se
comportam bem o suficiente para serem reeleitos.

Este conjunto que forma um regime piramidal, é de estrutura democrática,


embora atenuada pela existência de um poder espiritual. Há sacerdotes eleitos
que presidem às coisas divinas, mas tratam também de coisas humanas, zelam
pelos bons costumes e podem excluir um utopiano da comunidade religiosa, o
que constitui a maior desgraça. Os sacerdotes, tal como os traníboros e o adamo,
são escolhidos entre os letrados, que não constituem uma casta ou classe
propriamente dita, uma vez que o seu recrutamento é aberto e há sempre a
possibilidade de devolver à precedência aquele que anda a marcar passo na
metafísica.
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Finalmente, uma aristocracia por selecção, serve de estufa às funções religiosas


e públicas. De democracia o regime torna-se aristocrático, devido à exigência de
recrutamento no quadro dos letrados. A eleição é livre, sem manobras e sem
candidatura. Enfim, as leis são simples, fáceis de compreender e de aplicar. De
resto, diz T. More, na utopia todo são doctores em direito, pois as leis são em
muito pequeno número e a sua interpretação mais tosca e mais natural é aceite
como a mais razoável e justa.

Sumário
Comte idealizou para o devir uma sociocracia gerências por um Estado-maior de
sábios e tecnocratas, aliados aos industriais, que tratariam à política o espaço
das paixões humanas com as frias leis das ciências naturais. A sociologia ocuparia
no futuro o lugar mais importante na hierarquia do conhecimento. Comte faz,
também, uma distinção entre o indivíduo e o colectivo.

Caracteriza o homem como ser inteligente e dotado de sociabilidade (o que o


diferencia dos animais) e reivindica para o colectivo, para o grupo social, uma
superioridade perante o indivíduo.

Exercícios
1. Explique positivismo de Comte referenciando a lei dos três estados que a

Humanidade percorre sucessivamente.

2. Faça uma análise do espírito positivo de Comte.

3. Descreva o contributo do positivismo de Comte para a política

Exercicios de auto-avaliação
Resolva os exercícios indicados.

Faça uma breve síntese da unidade em estudo.

Sumário

1. ANDERSON, P. Passagens da Antigüidade ao Feudalismo. São Paulo,


Brasiliense,1987.

2. ARRUDA, José Jobson de Arruda. História: Antiga e Medieval. São Paulo,


Ática. 1981.

3. ANGOLD, Michael. Bizâncio. A ponte da Antiguidade para a Idade Média.


Rio de Janeiro, Imago, 2002.
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TEMA III: O NACIONALISMO TOTALITÁRIO: MUSSOLINI

Introdução

Mediante os problemas económico, as guerras e a ameaça comunista, a classe


burguesa e proletária exauste destes males vai apoiar o fascismo, que procurou
reorganizar a economia e restabelecer o nacionalismo italiano. Mussolini
chegando ao poder tornou -se ditador e na sua direcção a Itália atingiu certo
desenvolvimento.

Ao completar esta unidade / lição, tu serás capaz de:

Objectivos

 Caracterizar o estado nacional fascista;


 Descrever o totalitarismo no estado fascista;
 Analisar o corporativismo durante o fascismo.

3.1. Estado nacional


Os problemas económicos, os partidos de esquerda, comunistas e socialistas,
bem como os anarquistas, ganhavam cada vez mais adeptos entre os italianos,
o que preocupava a elite capitalista; o tratado de Versalhes, a crise
socioeconómica; todos estes acontecimentos fizeram com que surgisse o
movimento fascista.

A Marcha sobre Roma foi uma vasta manifestação fascista, com característica de
golpe de estado, ocorrida em 28 de Outubro de 1922 na capital da Itália,
com o afluxo na cidade de dezenas de milhares de militantes fascistas que
reivindicavam o poder político no reino. Este evento representou a ascensão ao
poder do Partido Nacional Fascista (PNF) e o fim da democracia liberal, pela
nomeação de Benito Mussolini como chefe de governo pelo Rei Vítor Emanuel
III.

Em 1928 proibiram-se todos os partidos, excepto o PNF, funda-se as milícias


das camisas negras criando um clima de Terror.

O fascismo se apropriou do símbolo de poder dos magistrados da Roma Antiga,


o feixe de varas, que representava a união do povo em torno da justiça do
Estado. O objectivo era evidente: retomar a história do povo italiano, sugerindo
que a Itália poderia voltar a ser o Império Romano da Antiguidade.

Esse movimento, fundado em Milão, em Março de 1919, não tinha ainda o


perfil políticoideológico que iria assumir anos depois. Nas palavras do
próprio Mussolini: "Não temos uma doutrina pronta; nossa doutrina é a
acção.
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Em Junho de 1919 foi publicado o programa oficial do movimento, e


algumas de suas reivindicações eram: jornada de trabalho de 8 horas;
sufrágio universal extensivo às mulheres; representação proporcional no
Parlamento; abolição do Senado do Reino; formação de uma milícia que
actuasse paralelamente ao Estado; e maior actuação da Itália no cenário
internacional.

Desse programa inicial, somente as duas últimas propostas seriam levadas a


cabo durante o período em que os fascistas controlaram a Itália, pois o Fascismo
de Combate era, na realidade, um grupo de pessoas que tinham formações
políticas e opiniões diferentes sobre o futuro da Itália, mas que se uniram no
calor da hora, em função da grande crise do pós-guerra.

O fascismo perpétua-se com uma Nação submissa, sem espíritos críticos, sem
vontades individuais, mas com “uma alma colectiva”. Os ideais fascistas, eram
inculcados, primeiramente, nos jovens, pois considera-se que as crianças, antes
de pertencerem às famílias, pertenciam ao Estado.

Na Itália, a partir dos 4 anos, as crianças ingressavam nos “Filhos da Loba” e


usavam já uniforme; dos 8 aos 14 faziam parte dos “balillas”, aos 14 eram
vanguardistas e aos 18 entravam nas Juventudes Fascistas. As raparigas eram
inseridas em organizações e específicas, como a das “Jovens Italianas”

A educação fascista era, obviamente, complementada pela escola, através de


professores profundamente subservientes ao regime, ao qual prestavam
juramento, e de manuais escolares impregnados dos princípios totalitários
fascistas. Uma vez adultos, continuava a regimentação de Italianos, dos quais se
procurava obter a total adesão.

As bases de apoio social do fascismo foram, com efeito, heterogéneas e nelas


podemos encontrar:

 As classes médias dos pequenos comerciantes e industriais, arruinados


pela Concentração capitalista, e dos funcionários e detentores de
rendimentos fixos, proletarizados pela inflação;
 Os quadros dirigentes da economia, grandes agrários e grandes
industriais (do Ruhr e da Lombardia) aos quais o fascismo se alia desde
que chega ao poder, do exército, da Igreja e da cultura, que aceitam o
regime em troca da sua estabilização conservadora e da garantia dos
seus privilégios de classe;
 As próprias classes laboriosas, cujo bem -estar e dignidade se
procurava promoverem, através da absorção do desemprego e da
integração em associações de tempos livres.
 Grandes programas de obras públicas e de militarização foram
então, responsáveis pela diminuição do desemprego na Itália.

3.2. Estado totalitário


O estado totalitário fascista vai se apresentar estruturada d seguinte maneira:

 A filiação no partido único (Nacional Fascista). Todos os funcionários,


oficiais e professores eram recrutados no Partido, pelo que se fala da
classe média como de uma nova elite fascista;
 A inscrição obrigatória dos trabalhadores na Frente do Trabalho
NacionalSocialista e nos sindicatos fascistas e corporações mistas, após
a extinção dos sindicatos livres;
ISCED-CURSO: História 20 Ano - Disciplina/Módulo: História das Ideias Politicas II
49

 O Partido Fascista (único) cria a sua própria formação paramilitar: a


Milícia Voluntária para a Segurança Nacional, Outro órgão de repressão
contra os antifascistas, era a Polícia política apelidada de Organização
de Vigilância e Repressão do Antifascismo (O.V.R.A.). A censura foi
ampliada: a educação, as artes, os desportos, as rádios, o cinema e,
até mesmo, o lazer da população seguiam as orientações fascistas.
Foi criado o Tribunal Especial de Defesa do Estado, responsável pelo
julgamento de "crimes" políticos;
 Centralização do estado: A economia passou a ser firmemente
controlada pelo Estado, com o apoio dos capitalistas italianos. O povo é
o corpo do Estado, e o Estado é o espírito do povo. Na doutrina fascista,
o povo é o Estado e o Estado é o povo: Tudo no Estado, nada contra o
Estado, nada fosse do Estado
 O culto do Chefe; encenação e propaganda - Mussolini, dizia que a
força do Estado fascista exigia aos italianos: “Acreditar, obedecer,
combater”.
Consagrador de dogmas, avesso à crítica e à contestação, o totalitarismo fascista
repudiava o legado racionalista da cu ltura ocidental. Pelo contrário, exaltava
ofanatismo e o sentimento excessivo. Não só para com o Estado e a Nação, que
idolatrava, mas também para com o Chefe (duce), símbolo do Estado
omnipotente, encarnação da Nação e guia dos seus destinos, é o homem
excepcional, o super-homem, a quem se deve prestar uma obediência cega
e seguir sem hesitações, tornando-se o duce com poder absoluto eis o
lema do nacional-socialismo: “Um Povo, um Império, um Chefe”,

 Expansionismo e militarismo: Uma das primeiras atitudes


expansionistas do Estado italiano foi incentivar a fundação de
Fascismos em países ondeimigrantes italianos tinham se instalado,
propagando o ideal do partido pelo mundo. Além disso, o serviço
secreto italiano auxiliava grupos simpáticos ao fascismo em várias
partes da Europa.

3.3. Estado corporativo


O fascismo italiano desenvolveu, em especial, a teoria do regime corporativo, ou
corporativismo.

Corporativismo era uma doutrina que vinha de século anteriores, mas que no
final do século XIX tinha sido recuperada pela doutrina social da igreja.
Mussolini vai lançar mão dessa doutrina, depurada de alguns dos elementos
acentuados pelo pensamento católico, e faz dela a doutrina oficial do Estado
italiano. Tratado de Latrão (1929) As relações políticas entre a Igreja Romana e
o Estado Italiano não foram fáceis desde o processo de unificação da Itália
no século 19, principalmente por que o papado não aceitava perder o
poder político sobre os antigos Estados Pontifícios.

Na perspectiva de resolver tal dilema e, ao mesmo tempo, ganhar o apoio


dos católicos, Mussolini assinou com o papa Pio 11 três acordos, que
ficaram conhecidos como Tratado de Latrão: A Santa Sé teria sua soberania
política dentro do Estado do Vaticano, ao mesmo tempo que reconheceria o
Estado Italiano; A Itália indemnizaria o Vaticano pelos danos causados
durante as guerras de unificação; A religião católica seria a religião oficial do
Estado Italiano, sendo ensinada obrigatoriamente em todas as escolas.
ISCED-CURSO: História 20 Ano - Disciplina/Módulo: História das Ideias Politicas II
50

De acordo com estas doutrinas, todas as forças económicas e sociais devem


ser organizadas oficialmente em associações. Assim o faz, agrupando-os em
22 corporações, cada uma dirigida por um conselho formado por patrões e
trabalhadores.

Em 1929, Mussolini discreta a abolição da câmara dos reptados e põe nos seu
lugar a Câmara dos Fascistas e das corporações: era a abolida o sufrágio
individual, muito criticado por ser o sufrágio típico da democracia parlamentar,
e que agora ficava substituído pelo sufrágio corporativo ou institucional.

Mas, ao contrário da tradição medieval e da doutrina da igreja, o corporativismo


do estado fascista não é um corporativismo de associação, é um corporativismo
de Estado. Não representa a auto – direcção da economia, mas sim o controlo
total da economia pelo poder político.

Sumário
Fascismo como uma ideologia política social tinha como objectivo, livrar a Itália
dos problemas que se vivia naquela comunidade, nisto, os grupos sócias
apoiaram o partido fascista, este chegado ao poder tornou-se totalitário,
eliminando todos os partidos, sob a direcção de único partido criou um estado
nacional fascista. Criou bases de apoio para garantir a execução do programa do
partido. Um dos aspectos particulares fora o corporativismo, que eliminou os
sindicatos.

Exercícios
1. Explique em que contexto emerge o regime fascista na Itália?

2. Qual era a base de apoio do regime fascista? Justifique a sua resposta.

3. Descreva o nacionalismo fascista.

4. Apresente os principais traços do totalitarismo fascista.

5. Em que consistia o corporativismo no estado fascista

Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO
Resolva os exercícios indicados.

Faça uma breve síntese da unidade em estudo.


ISCED-CURSO: História 20 Ano - Disciplina/Módulo: História das Ideias Politicas II
51

TEMA IV: O NACIONALISMO TOTALITÁRIO

O Nacionalismo Totalitário: Hitler


Introdução

Foi no contexto das crises económica, tratado de Versalhes, medo ao


comunismo que o nazismo teve campo na Alemanha, na direcção de Adolfo
Hitler. Este chegado ao poder introduziu o partido único, a política totalitária,
racista e expansionista. Na direção dos nazis os problemas económico foram
remediados, permitindo a afirmação da Alemanha como uma potência
económica e militar no século XX.

Ao completar esta unidade / lição, tu serás capaz de:

Objectivos

 Caracterizar o estado nacional nazista;


 Descrever o totalitarismo no estado nazista;
 Analisar a política racial durante o nazismo.

3.4. Estado nacional


Factores como o início da Grande Depressão (1929), desemprego maciço, as
humilhações do Tratado de Versalhes (1919), o descontentamento social com
o regime democrático ineficaz, o apoio do povo alemão aos partidos socialistas
e o temor de uma revolução socialista, levou a alta burguesia alemã,
empresários e o clero a apoiaram a extrema-direita do aspecto político,
optando por extremistas de partidos como o Partido Nazista.

As eleições de Julho de 1932, os nazistas tornaram-se o maior partido no


Reichstag, com 230 lugares. Porém o Partido Nazista não conseguiu uma maioria
parlamentar até a nomeação de Hitler como chanceler.

Assim em 30 de Janeiro de 1933 Adolf Hitler foi nomeado chanceler da


Alemanha por Hindenburg o gabinete ministerial em seguida dissolvido por
Hitler.

Porém, para triunfar, o nazismo precisava combater seu principal concorrente


ideológico, o socialismo revolucionário ou comunismo, com o qual teria de
disputar a adesão popular. Igualmente totalitário, o comunismo também se
arvorava a construir uma sociedade perfeita, não só na Alemanha, mas no
mundo. Durante o mesmo ano de 1933, o Partido Nazista eliminara toda a
oposição.
ISCED-CURSO: História 20 Ano - Disciplina/Módulo: História das Ideias Politicas II
52

Inúmeros ministérios deixaram de se reunir no regime nazista — embora


continuassem existindo na teoria — como o Conselho Secreto do Gabinete e o
Conselho de Defesa do Reich, cujas funções passaram a ser executadas por
Hitler.

A Alemanha, por fim, transformou-se em um estado nacionalista, onde não-


arianos e oponentes do nazismo eram excluídos da administração, e o sistema
judiciário tornou-se subserviente ao nazismo. Campos de concentração foram
criados para receber prisioneiros políticos, judeus, ciganos e eslavos. A Bandeira
da República de Weimar foi substituída pela bandeira da suástica do partido
nazista no dia 15 de Setembro de 1935.

Em 22 de Setembro de 1933 foi criada a Câmara de Cultura do Reich, com a


intenção de “nazificar” a cultura: A fim de levar a cabo uma política de cultura
alemã, é preciso unir os artistas de todas as esferas numa organização coesa sob
a direcção do Reich. O Reich deve não somente determinar as linhas do
progresso mental e espiritual, mas também orientar e organizar as profissões.

As subcâmaras foram criadas para orientar e controlar toda a cultura: imprensa,


belas-artes, literatura, música, cinema e rádio. Todos os profissionais dessas
áreas foram obrigados a associarse às câmaras, que podiam expulsar ou recusar
pessoas por “falta de confiança política.

Toda a juventude alemã do Reich está organizada nos quadros da Juventude


Hitlerista. A juventude alemã, além de ser educada na família e nas escolas, será
forjada física, intelectual e moralmente no espírito do nacional-socialismo por
intermédio da Juventude Hitlerista. Aos 14 anos o rapaz entrava na Juventude
Hitlerista propriamente dita, ficando nela até os 18 anos, quando era transferido
para a Cooperação pelo Trabalho e o exército. Na Juventude Hitlerista os rapazes
recebiam treinamento em doutrinas nazistas, artes militares. O principal papel
das mulheres era gerarem filhos sadios, propagando a "raça ariana". Aos 18 anos
as moças prestavam um ano de serviço nas fazendas, equivalente à Cooperação
do Trabalho dos rapazes.

Na Alemanha nazista foram extintos os sindicatos, contratos colectivos e o


direito de greve. Os sindicatos foram substituídos pela Frente Alemã do
Trabalho, chefiada, que admitia assalariados e empregados e também patrões e
membros de profissões liberais, tornando-se a maior organização partidária.
Grandes programas de obras públicas e de militarização foram então,
responsáveis pela diminuição do desemprego na Alemanha.

3.5. Estado totalitário


O estado totalitário organizar-se da seguinte maneira:

 A filiação no partido único (na Alemanha, respectivamente). Cargos


de responsabilidade foram confiados aos membros do Partido, cujos
efectivos passam de 3 milhões, em 1934, para 9 milhões em 1939.
 O culto do chefe: Hitler era venerado como um Deus, para isso
concentrou todo o poder (executivo, legislativo e judicial) tornando-
se o chefe absoluto da Alemanha, era chefe do exército.
 Expansionismo e militarismo: Consagrando todos os seus esforços à
conservação dos seus melhores elementos, o nacional-socialismo
teria forçosamente que proceder à incorporação de todos os alemães
numa só Pátria, numa só Nação, num só Povo.
ISCED-CURSO: História 20 Ano - Disciplina/Módulo: História das Ideias Politicas II
53

O Programa do Partido Nazi (1920) exigia a reunião de todos os alemães numa


Grande Alemanha, o que equivalia ao empreendimento de uma política
belicista desrespeitadora de tratados e de fronteiras por eles traçados, Hitler
anunciou aos colaboradores a sua vontade de acrescentar ao Reich as
minorias alemãs da Europa central, ao que se seguiria o alargamento do
espaço vital alemão.

Em 1935, o Estado nacional-socialista restabeleceu o serviço militar


obrigatório, numa clara infracção ao Tratado de Versalhes, e iniciou o programa
de rearmamento no país.

Em 1938, procedeu-se à anexação da Áustria; um ano depois, a Checoslováquia.


A 1 de Setembro de 1939, Forças Armadas iniciava a expansão do Reich para o
Leste com a invasão da Polónia.

A repressão policial a construção de um Estado policial atingiu a máxima


perfeição. Quer as Secções de Segurança do Partido (S.S.), Secções de Assalto
(SA) quer a Gestapo (polícia política) se encarregavam da vigilância da população
e da opinião pública, envolvendo-as numa atmosfera de suspeita e de delação
generalizadas, e da eliminação da oposição, enviada, desde 1933, para campos
de concentração.

A propaganda que, apoiada nas então modernas técnicas audiovisuais, promovia


o culto do chefe e normalizava a cultura segundo padrões nacionalistas e até
racistas.

Por sua vez, na Alemanha, o Ministério da Cultura e da Propaganda exerceu


uma verdadeira ditadura intelectual. Por um lado, suprimiu jornais, organizou
autos de fé onde se queimavam as obras dos autores proibidos (Voltaire, Marx,
Freud, Proust…), perseguiu os intelectuais judeus. A rádio e o cinema armas
indiscutíveis para o totalitarismo nazi. Em 1938, estava instalados 10 milhões de
aparelhos radiofónicos, através dos quais, e com o apoio de altifalantes nas ruas,
nas escolas e nas fábricas, toda a Alemanha escutava o Fuhrer. Quanto ao
cinema, competia-lhe contribuir para o culto dos heróis nacionais, como
Bismarck, e para a denúncia dos inimigos do Reich: judeus, britânicos e
bolchevistas.

O artista separou-se do povo e, desse modo, perdeu a sua fecundidade.


Desde aí, sobreveio na Alemanha uma crise mortal da cultura. A cultura é a
expressão superior das forças criadoras de um povo. O artista é o intérprete
inspirado dessa cultura. Seria insensato da parte dele supor que a sua missão
divina se poderia cumprir fora do povo. Ela só existe em função do povo. Se um
artista abandona o terreno sólido que o Povo lhe oferece então encontra-se
rasgada a via para os inimigos da civilização, sob cujos golpes o artista acabará
também por cair.

O Racismo: que estipulava que a raça ariana é a superior - Um Povo, um Império,


uma Guia.

3.6. Racismo hitleriano


Na Alemanha acentua-se, sobretudo, o racismo, que se concretiza de um
modo particularmente violento contra os judeus, dando origem a um anti-
semitismo militante.
ISCED-CURSO: História 20 Ano - Disciplina/Módulo: História das Ideias Politicas II
54

O racismo assenta, como se sabe, na ideia de uma profunda desigualdade entre


as raças, julgando que há uma raça superior a todas as outras, a raça ariana,
cujo missão e estabelecer a sua superioridade e o seu domínio por todo o
mundo. Dai que o estado deva ser posto ao serviço desta concepção: o Estado
deve, pois, velar pela pureza da raça e pela sua expansão em todo o Mundo.

É dentro desta ideia que Hitler escreve o seu livro Mein Kampf, que
surpreendentemente constitui um grande sucesso de livraria na Alemanha,
chegando a ter uma tiragem de 6 milhões de exemplares.

Escreve ele nesse livro a dada altura: Os povos que renunciam a manter
a pureza da raça renunciam, ao mesmo tempo, à unidade da sua alma. A
perda da pureza do sangue destrói a felicidade interior, abaixa o homem
para sempre, e as respectivas consequências, corporais e morais. Daqui
retirava Hitler a consequência de que os homens de um mesmo sangue
devem pertencer ao mesmo Reich. E acrescentava: a minha missão e fazer
triunfar, contra todas as leis falsas e artificias, uma lei natural e sagrada: a da
comunidade do sangue.

Desta tese decorriam dois corolários:

 Os não arianos que vivem na Alemanha, particularmente os judeus,


devem ser controlados, condicionados e em último termo,
exterminados;
 Os arianos que vivem fora da Alemanha devem poder passar a
pertencer a grande Nação alemã, para o que os países onde eles existem
devem ser anexos pela Alemanha.

Fonte: Resende (Adaptado).

O primeiro corolário levou, como se sabe, as câmaras de gás e ao Holocausto; o


segundo levou a II Guerra Mundial. Um e outro custaram a Europa, pelo menos
60 milhões de mortos.

Sumário
Hitler perseguiu todos seus opositores através da polícia política, desenvolveu a
indústria de armamento, que empregou muita gente, implantou uma educação
ao jovem no molde ideológico nazi, considerou a raça mais pura seria a do ariano
que deveria impor-se sobre as restantes. Nota-se que a exaltação do
nacionalismo alemão.

Exercícios
1. Explique em que contexto emerge o regime nazista na Alemanha?
ISCED-CURSO: História 20 Ano - Disciplina/Módulo: História das Ideias Politicas II
55

2. Descreva o nacionalismo nazi.

3. Apresente os principais traços do totalitarismo nazi.

4. Em que consistia o racismo no estado nazista

Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO
Resolva os exercícios indicados.

Faça uma breve síntese da unidade em estudo.

Bibliografia básica
RECAMA, Dionísio Calisto. História de Moçambique, África e Universal. Maputo:
Faculdade de direito-UEM, 2006.

REZENDE, António Paulo e DIDIER, Maria Thereza. Rumo da História Geral e do


Brasil. Actual Editora. Lisboa. 2001.
ISCED-CURSO: História 20 Ano - Disciplina/Módulo: História das Ideias Politicas II
56

TEMA V: O NACIONALISMO PERSONALIZADO

O Nacionalismo personalizado: Charles de Gaule

Introdução

Charles Gaule projecta um nacionalismo personalizado, onde procurou


consolidar o nacionalismo francês, uma vez sido do poder o seu nacionalismo
continuou a ser seguido na França, após a sua morte. Estabeleceu que o
parlamento devia ser limitado e eliminado.

Ao completar esta unidade / lição, tu serás capaz de:

 Analisar o nacionalismo combatido de Charles de Gaule;


 Comentar o nacionalismo continuado de Charles de Gaule;
 Caracterizar o poder personalizado proferido por Charles de Gaul;
 Analisar os ideais do Parlamento limitado e eliminado Charles de Gaul.
Objectivos
específicos

3.7. Nacionalismo combatidos


Ao nacionalismo totalitário de Hitler e de Mussolini, ao nacionalismo
contrarrevolucionário de Charles Gaulle opõe uma recusa directa que se traduz,
de facto, por uma luta armada contra os primeiros e por uma repressão penal
que atingi as realizações do segundo.

Eleito novamente presidente, em 1959, de Gaulle iniciou um governo forte,


nacionalista e conservador, promulgou uma Constituição que reforçava os
poderes presidenciais. Ele sabia da importância de um governo forte,
nacionalista e conservador para reconquistar o prestígio e o poder da França
no exterior.

Em 1966, Gaulle anunciou sua decisão de retirar as forças francesas da


Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) e de remover do país os
quartéis-generais da OTAN. Da mesma forma De Gaulle recusara a integração
política da França numa Europa construída sob um modelo supranacional. Para
ele esse modelo significaria o desaparecimento do nacionalismo de cada
Estado e, consequentemente, o da França. Isso beneficiário a hegemonia
americana, a qual De Gaulle combatia, por querer levar a França a um nível de
potência mundial.

Em se tratando da OTAN e da força de dissuasão, o que De Gaulle fez foi tentar


neutralizar os efeitos nefastos de Yalta. A construção da Europa seria
também um meio de estabelecer a grandeza da França, seu poder e seu papel
de liderança. E quanto ao Mercado Comum Europeu, De Gaulle resistia a
entrada da Inglaterra, por ver nela uma espécie de Cavalo de Tróia da
América.
ISCED-CURSO: História 20 Ano - Disciplina/Módulo: História das Ideias Politicas II
57

As decisões de De Gaulle referentes à política internacional, à OTAN e à


sua oposição à Inglaterra, tinham como principal objectivo o
restabelecimento da França a uma situação preponderante na Europa,
defendendo ao mesmo tempo sua independência nacional, exageradamente
subordinada, em sua maneira de pensar, à hegemonia americana. De Gaulle
procura se aproximar da União Soviética, mas esta relação se mantém fria. Entre
os anos de 1965 e 1969 De Gaulle demonstra uma política mais inclinada
para a União Soviética, sendo que durante esses anos se opôs ao conflito no
Vietnã.

As revoltas de Maio de 68 (lideradas por Daniel Cohn-Bendit), no entanto,


prejudicaram profundamente seu governo. Embora o movimento estudantil
tenha sido vencido pela polícia de Gaulle e um milhão de pessoas tenham
cantado a "Marselhesa" em apoio ao presidente, ele teve que ceder muito às
reivindicações do proletariado e do sistema de ensino, advindas do movimento.

Seu conservadorismo não se adaptava mais ao novo panorama francês de


sindicatos e greves. A economia enfrentava problemas de inflação e circulação,
mas Gaulle conservava o apoio popular. Porém, em Abril de 1969, suas
propostas de mudanças constitucionais foram derrotadas num e ele
renunciou, deixando uma França em transição, mas que voltara à
supremacia europeia.

3.8. Nacionalismos continuados


Charles De Gaulle tornou-se um símbolo da França para os franceses e para os
povos de outras partes do mundo. Charles de Gaulle continua a ser o herói
preferido dos franceses, cerca de 30 anos depois do seu desaparecimento. Há,
efectivamente, um consenso muito favorável em relação ao militar que se
revoltou porque não quis ser vencido em 1940. Também se lhe gabam os
méritos de ter fundado a V República em 1958 e que ainda vigora. Foi um
homem muito lúcido e algo contraditório que conseguiu imprimir uma política
bastante hábil, contra ventos e marés.

Mas, como é evidente, não morreram as ideias gaullistas que continuam a


inspirar os políticos mais à direita e até mesmo certos sectores da esquerda.
O ministro do Interior, Jean Pierre Chevnement, não esconde uma certa
veneração pelo general, em termos de independência nacional e de "sentido
do estado". Também o antigo esquerdista Régis Debray, filósofo, se tem fartado
de louvar De Gaulle. Diziam que este era um monarca, mas o certo é que
mandou instalar, nos seus aposentos do Eliseu, contadores de água e de
electricidade, porque entendia que essas despesas não deviam ser pagas pelo
erário público.

Trinta anos depois de ter morrido, Charles de Gaulle é "o personagem mais
célebre da História da França", seguido por Napoleão e por Luís XIV.

O pluralismo gaullista repousa na aceitação das diversidades das famílias


espirituais e no reconhecimento das suas originalidades. Por outro lado,
ressaltam numerosa coincidência entre a imagem da república plebiscitária. De
Gaulle é o chefe de guerra, estende a mão para os filhos que lutam para a libertar
e embala-os no seu coração dilacerado.
ISCED-CURSO: História 20 Ano - Disciplina/Módulo: História das Ideias Politicas II
58

3.9. O poder personalizado


Cabe esta direcção a um chefe de estado que não é a emanação de forças
localizadas ideologicamente. O povo reunido necessariamente ao poder
personalizado, o exercício da autoridade implica uma presença e uma
vontade. Estas devem ser, em primeiro lugar, uma evidência física. Chefe do
governo, chefe do estado.

A aclamação popular corresponde, juridicamente a designação popular. Depois


de ter aceitado que esta se exerce-se indirectamente, de Gaulle na sequência de
atentado do Petite- Clamart, pensa que ela devia tomar a forma de eleição por
sufrágio universal.

No que toca a este assunto, a concepção gaullista esta mais próxima da doutrina
socialista do que da concepção revolucionaria. A designação pelo conjunto
do corpo eleitoral tem carácter instrumental. Para ser valida deve
corresponder ao bem comum do povo. Há portanto uma legitimidade
anterior à eleição e superior a esta, porque legalidade e legitimidade podem
estar sociologicamente dissociada.

Em Junho de 1940, o governo de Vichy é legal, mas como é desprovido de


liberdade, é ilegítimo. Charles de Gaulle assumi a legitimidade a falta de
sucessores, até que o povo se possa exprimir e rectificar ou não auto-
entronização.

Reunidas nem por isso legitimidade e legalidade se confundem. Sem a


legitimidade a legalidade prevalece, mas não é valida. Sem a legalidade a
legitimidade será inútil. Mas aqui tudo se torna mais subtil, incluindo o mal
entendido entre os Charles Gaulle e eleitores. Ao ser considerado inútil, a
legitimidade não deixa por isso de continuar a ser o valor supremo. Legalidade
deixa-lhe o caminho livre, mas não a institui, porque a legitimidade, donde
provém, precede na ordem ritual do estado.

Depois de 1962, tendo sido introduzida a eleição por sufrágio universal, o


general de Gaulle declara que o espírito das novas constituições consiste,
mantendo-se um parlamento legislativo, em fazer com que o poder deixe de ser
uma questão partidária e provenha directamente do povo.

O parlamento é assim designado como um lugar de expressão dos partidos: a


sua intervenção é legítima, mas partidária, e também parcial, uma vez que
o presidente eleito directamente pelo conjunto do povo é detentor global e a
fonte do poder.

Princípio e fonte podem agir discricionariamente. Não há nenhuma autoridade,


nem ministerial, nem civil, nem militar, nem judicial que não sejam conferidas e
mantidas por ele.

3.10. O Parlamento limitado e eliminado


Não há pois, comparação possível entre o poder nacional do presidente e
autoridade localizada dos eleitos. As eleições são simples competições locais.
Também não há medidas comum entre o domínio supremo que lhe é próprio, e
o domínio secundário cuja gestão delega noutro.

No entanto, Charles de Gaulle parecia encarar só uma limitação e ao uma


eliminação do parlamento. Em 1946 invoca a separação dos poderes e o
bicameralismo.
ISCED-CURSO: História 20 Ano - Disciplina/Módulo: História das Ideias Politicas II
59

No discurso de Bayeu, expôs perfeitamente o seu pensamento de então: todos


os princípios e todas as experiências exigem que os poderes públicos –
legislativo, executivo e judiciários sejam claramente separados e fortemente
equilibrados. A sua separação implica que o poder executivo não possa provir
do parlamento, sob pena de se chegar a uma confusão de poderes em que, em
pouco tempo o governo acabaria por não ser mais do que um conjunto de
delegações.

Em contra partida é certo e sábio que o voto definitivo das leis e dos orçamentos
deve regressar a uma assembleia eleita por sufrágio universal e directo. É preciso
também atribuir a uma segunda assembleia, e com uma composição
diferente, a função de examinar publicamente o que a primeira apreciou,
formular emendas, propor projectos. Tudo aponta para instituições de uma
segunda câmara, cujos membros serão, no essencial eleito pelos conselhos
gerais e municipais, ao mesmo tempo que a base será alargada pela
introdução de representantes das organizações económicas, familiares, e
intelectuais, para que se faça ouvir, dentro do próprio estado, a voz da grande
actividade do país.

Em 1969 o projecto referendário, sob a capa de uma dupla reforma regional e


senatorial, reduz praticamente o parlamento a câmara, ela própria ameaçada
nas suas atribuições. o autor do texto, Jean-Marcel, numa interpretação
imprevista do artigo 3 em que declara ver nele uma síntese do regime
representativo e da democracia directa, anuncia a reforma de um sistema onde
passariam a coexistir dois modos paralelo de legislar, que o chefe de estado
usaria ad libitum (vontade).

Contraria ao direito positivo não há duvida que esta exegese anunciava uma
inversão da dados, tornando-se o processo referendário a regra para os
assuntos importantes, e só conservando o poder legislativo uma actividade
residual.

De Gaulle tinha pedido a cada cidadão para participar na acção política,


exprimindo directamentea sua vontade, antes de lhe reconhecer vocação para
eleger o chefe de estado, o que era perante o poder dos notáveis – que são
apenas representantes do povo, um elemento da democracia directa, a única
verdadeira, a única pura.

Assim se satisfaria a que parece ter sido a última aspiração de Charles de Gaulle:
antes de mais nada, é como o próprio povo que o seu mandatário e guia devem
manter-se em contacto directo. É assim com efeito, que a nação pode
conhecer em pessoas o homem que exacta em sua frente, discernir os laços
que a unem a ele, estar a par das suas ideias, dos seus actos, dos seus projectos,
das suas preocupações e esperança.

Sumário
As decisões de De Gaulle referentes à política internacional, à OTAN e à
sua oposição à Inglaterra, tinham como principal objectivo o
restabelecimento da França a uma situação preponderante na Europa,
defendendo ao mesmo tempo sua independência nacional, exageradamente
subordinada, em sua maneira de pensar, à hegemonia americana.

Exercícios
1. Descreva o nacionalismo combatido de Charles de Gaule.
ISCED-CURSO: História 20 Ano - Disciplina/Módulo: História das Ideias Politicas II
60

2. Caracterizar o poder personalizado proferido por Charles de Gaule.

3. Qual é a percepção de Charles de Gaule Parlamento limitado e eliminado?

Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO
Resolva os exercícios indicados.

Bibliografia básica
MOORE, Jr. Barrington (s/d) As origens sociais da ditadura e da democracia –
senhores e camponeses na construção do mundo moderno, Lisboa, Edições
Cosmos.
ISCED-CURSO: História 20 Ano - Disciplina/Módulo: História das Ideias Politicas II
61

TEMA VI: O SOCIALISMO

Socialismo
Introdução

O socialismo teve maior proeminência mais precisamente no século XIX,


mediante a oposição ao sistema capitalista, que havia degradado as relações
humanas no sentido de ver os males da sociedade remediadas, surgem neste
contextos ideias difundidas pelos grandes pensadores como Marx e Engels.

Ao completar esta unidade / lição, tu serás capaz de:

 Conhecer o embrionário do socialismo;


Objectivos  Explicar as ideias explícitas no socialismo;
específicos  Analisar a conceitualização do socialismo.

3.11. Uma palavra nova


A palavra socialismo surge pela primeira vez em Inglaterra, em 1822, e logo a
seguir, em França, em 1831, vários filósofos ingleses e franceses, com a intenção
de coibir a continuidade da política exploradora capitalista, passaram a ser
chamados de socialistas.

Esse termo designava anarquistas, comunistas, anarco-sindicalista; mesmo


havendo ideias bens diferentes dentre esses grupos. Isso porque tinha uma
crença em comum: a existência de uma economia que não beneficiasse
somente algumas classes, mas sim todas as pessoas.Quando falamos aqui em
socialismo estamos a pensar, sobretudo, naquilo a que melhor se chamaria
o socialismo europeu do século XIX, bem diferente, sob muitos aspectos,
chamados socialismo do terceiro Mundo do século XX. Ambos são formas de
socialismo – como diferença de que a primeira surgiu como tentativa de
resolver a questão social decorrente da industrialização, ao passo que a
segunda surgiu como tentativa de resolver a questão nacional decorrente
da descolonização.

A primeira visou um fim de justiça social; a segunda visou um objectivo


de desenvolvimento económico. A primeira foi causada pela miséria operária
em sociedades industriais; a segunda, pela miséria camponesa em sociedades
agrárias. A primeira procura corrigir, ou combater, o capitalismo; a segunda
procurou suprir a sua falta.

6.1. Uma ideia política nova

Foi no século XIX que surgiram as primeiras ideias socialistas dos tempos
modernos, embora não possamos esquecer que houve, muito antes,
importantes precursores do socialismo moderno, tais como Platão ou Thomas
Morus. Mas o socialismo moderno nasce na Europa do século XIX,
ISCED-CURSO: História 20 Ano - Disciplina/Módulo: História das Ideias Politicas II
62

sobretudo, como reacção a um conjunto de realidades económica e sociais


muito negativas: as crises económicas frequentem; as perturbações sociais
consequentes do progresso técnico, da industrialização e do capitalismo; a
situação miserável do operariado; etc.

O país onde se verificaram em maior número diversas causas que determinaram


como reacção o aparecimento das ideias socialistas foi a Inglaterra,
designadamente por forças do estado da indústria mineiras na Inglaterra e no
país de Gales. Mas, curiosamente, os principais pensadores socialistas do século
XIX foram alemães.

Devemos igualmente ter presente que a eclosão das ideias socialistas não foi
apenas determinada por conjunto de factos e situações da vida real: também se
inseriu, logicamente, na evolução do movimento de ideias que caracterizou a
Europa primeira metade do século XIX. Este movimento foi marcado pela
transição do racionalismo para o romantismo, do culto da natureza para o culto
da ciência, do iluminismo para o positivismo; do fixismo tradicional para o
evolucionismo darwinista, do racionalismo intelectual para o socialismo
científico do catolicismo conservador ou liberal para o catolicismo social. O
socialismo inscreve-se, naturalmente, neste clima intelectual de mudança.

Alias, como acentua Andre Piettre, não deve esquecer – se que uma grande
parte dos temas do socialismo europeu do século XIX já se encontravam nas
ideias e nos actos da revolução Francesa: esta, embora burguesa em
grandes medidas, endeusaria a razão e o progresso, considerara as leis como
instrumento da felicidade humana, combater as classes privilegiada e
proclamara-las além da liberdade – os valores de igualdade e da fraternidade.

O socialismo francês, e mesmo o socialismo de Marx, foram beber em grande


parte nas fontes de Rousseau, Robespierre e Sant- Just.

Engels viria a classificar duas modalidades de socialismo entre elas


socialismo científico e socialismo utópico, querendo com isso significar que
só o marxismo era científico e que todas outras formas de socialismo não
passavam de meras utopias.

Entretanto, aqueles não eram os únicos tipos de socialismo, há que distinguir


cinco modalidades socialismo: utópico, idealista, associacionista, anarquistas e
marxista.

3.12. Uma definição difícil


Para alguns, socialismo é o mesmo que liberdade e falam em ”socialismo
liberal”, o que é uma contradição que não faz qualquer sentido.

Para outros, socialismo é sinónimo de democracia e afirmam que não há


democracia sem socialismo, nem socialismo sem democracia – o que
constitui uma mistura pouco rigorosa de noções bem distintas, além de não
ser histórica e actualmente correcto (os EUA são uma democracia não
socialista; Cubas e um pais socialista não democrático).

Para outros ainda, o socialismo identifica-se com justiça social - o que não
passa de uma aproximação grosseira, porque o socialismo e apenas uma das
formas possíveis de procura atingir a justiça social, havendo outras igualmente
legítimas (por ex., a social-democracia, a democracia cristã, o neoliberalismo,
etc.).
ISCED-CURSO: História 20 Ano - Disciplina/Módulo: História das Ideias Politicas II
63

Para outros, enfim, socialismo é toda a doutrina intervencionista que afirma


a necessidade da acção do Estados na economia para promover o
desenvolvimento, o bem-estar, a igualdade entre os homens – o que revela
grande confusão de conceito, pois intervencionismo económico dos poderes
públicos surgiu, precisamente, como forma de superar as deficiências do
liberalismo sem cair no campo do socialismo.

Sumário
Socialismo termo novo do século XIX, que apareceu para opor ao capitalismo,
usado neste século pelos filósofos ingleses, franceses entre outros, criticando
veementemente o sistema capitalista.

Ao longo o seu surgimento várias definições apareceram para identifica-lo,


tendo sido definido como sendo a intervenção o estado na economia com
objectivo de garantir a justiça social e igualdade.

Exercícios
1. Explique o contexto da origem do socialismo.

2. Explique a contextualização das ideias socialista.

3. Defina o socialismo.

Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO

Resolva os exercícios indicados.

Faça uma breve síntese da unidade em estudo.


ISCED-CURSO: História 20 Ano - Disciplina/Módulo: História das Ideias Politicas II
64

TEMA VII: SOCIALISMO SEM ESTADO

Socialismo sem Estado


Introdução

Saint Simon e Charles Fourier são apologista dum socialismo sem estado,
que desenvolva em direcção da felicidade colectiva humana, pois são utópicos,
estabelecendo um socialismo em que o estado não existiu. Enquanto Simon
aborda a sociedade constituída por varias fábricas, estando na direcção, os
directores e trabalhadores os que executam o projecto, Fourier e prevê
uma sociedade constituída por falanstério.

Ao completar esta unidade / lição, tu serás capaz de:

 Explicar o pensamento político de Saint Simon em relação ao socialismo sem


estado;
 Descrever os ideais de Charles Fourier sobre a sociedade capitalista sem estado.
Objectivos
específicos

3.13. Pensamento politico de Saint Simon


Para o Saint-Simon, o avanço da ciência determinava a mudança político-social,
além da moral e da religião. É considerado o precursor do Socialismo, pois,
no futuro, a sociedade seria basicamente formada por cientistas e industriais.

Em um dos seus primeiros livros, cartas de um residente em Genebra e seus


contemporâneos,publicado em 1803, ele propõe que os cientistas tomem o
lugar dos padres para conduzir a era Moderna. A violência da guerra
napoleónica leva-o a se abrigar no Cristianismo, e de uma base Cristã construir
as bases para uma sociedade socialista. Previu a industrialização da Europa
e sugere uma união entre as nações para acabar com as guerras.

Quando Saint-Simon falou sobre a nova sociedade, imaginou uma imensa


fábrica, na qual substituiria a exploração do homem pelo homem para uma
administração colectiva. Assim, a propriedade privada não caberia mais nesse
novo sistema industrial. Vale notar que existiria uma pequena desigualdade e a
sociedade seria perfeita depois de reformar o Cristianismo. Ainda disse que o
homem não é apenas algo passivo na História, pois sempre procura alterar o
meio social no qual esta inserido. Essas alterações são importantes para que
a sociedade seja desmembrada, quando esta sociedade funciona dentro das
normas que a ela correspondam, pois não é possível

colocar uma regra de uma sociedade em outra.

A regra deve combinar com a estrutura para que a sociedade industrial se


desenvolva. SaintSimon ainda mantém a ideia de uma sociedade
hierarquizada, por isso a desigualdade, pois no topo estariam os directores
da indústria e de produção, engenheiros, artistas e os cientistas; na parte
ISCED-CURSO: História 20 Ano - Disciplina/Módulo: História das Ideias Politicas II
65

de baixo estariam os trabalhadores responsáveis pela execução dos


projectos feitos pelos inventores e directores. Com isso, acaba prevendo o
grau máximo da capacidade de produção.

Este foi o primeiro a perceber que o conflito de classes estava relacionado com
a economia e que seria nas mãos dos trabalhadores que o futuro seria
construído, mas guiados por alguém.

Pode-se perceber que Saint-Simon estava adquirindo uma concepção anti-


igualitária e antidemocrática, em se tratando do seu aspecto religioso, pois
falava que todos os homens deveriam ter os mesmos princípios. Por isso,
o novo Cristianismo substituiria o "cristianismo degenerado", e teria como
imperativo a justiça social, pois o núcleo deveria se consolidar no que seria a
fraternidade do homem, resultando num mundo de homens livres.

Saint-Simon é considerado um dos fundadores da Sociologia, que estaria


sendo sustentada por duas forças opostas: orgânicas (estáveis) e críticas
(mudam a história). Só a sociedade industrial poderia acabar com a crise que a
França passava. Este autor ainda marca a ruptura com o Antigo Regime. Para
Saint-Simon, a Política era agora a ciência da produção, porém a Política vê seu
fim com a justiça social.

A obra principal de Saint-Simon é New Christianity (1825), nele declara que a


Religião tendia a melhorar a condição de vida dos mais necessitados. Em
três anos seus seguidores tinham desenvolvido o que podemos chamar de
um culto quase religioso baseado na interpretação das suas ideias, e
difundiram as suas ideias através da Europa e América do Norte,
influenciando socialistas e outros românticos do início do século XIX, como
Sainte-Beuve, Victor Hugo e George Sand.

3.14. Pensamento Político de Charles Fourier


Fourier, crítica aquilo que ele mesmo denominou como sendo a civilização,
etapa da vida humana representada pelo modo de produção capitalista, no
qual, segundo Fourier, estavam expostas as maiores repressões contra a
liberdade dos indivíduos e das comunidades.

O carácter essencial e explícito da civilização capitalista era sua artificialidade,


seu visível desvio em relação a tudo que fora promessa nos desdobramentos
que desencadearam e firmaram historicamente a Revolução Francesa. No lugar
da liberdade, da fraternidade e da igualdade tão propaladas, o que de fato se
fixou foram maciças formas de opressão aos desejos e sentimentos humanos, os
quais, para Fourier, eram a própria substância da vida, aquilo a que chamou
paixões.

O total desencanto de Fourier pela Revolução Francesa e pela constituição das


estruturas sociais da chamada civilização, levaram-no a acreditar que a
revolução não se daria pela força nem pela tomada do poder. O que levaria a
uma consubstancial transformação da sociedade, um modelo de vida
comunitária que incentivasse as paixões e permitisse aos homens criar um
modelo original e fraterno de sociedade, esignado como organização societária,
era o exemplo, a boa conduta, o bom combate. Uma organização societária
em que homens e mulheres pudessem, pois,

desenvolver formas de vida mais justas e racionais, deveria partir do


combate às moralidades burguesas e aos princípios modernos extremamente
ISCED-CURSO: História 20 Ano - Disciplina/Módulo: História das Ideias Politicas II
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equivocados de progresso, tudo isso estaria levando a sociedade a auto -


enganos e a desvios que poderiam ser incorrigíveis para a verdadeira felicidade,
na qual os protagonistas deveriam ser os desejos, o ímpeto sexual liberto
e a solidariedade em todas as suas possíveis e impossíveis dimensões.

O grande exemplo elaborado por Fourier para que servisse de semente


para o ingresso da humanidade numa Nova Era, suplantando de vez a
civilização artificial e opressora do modo de produção capitalista, foi o
falanstério. Essa comunidade ideal seria composta de um número bastante
restrito de pessoas, equilibrando-se entre o número de habitantes dos géneros
masculino e feminino, idosos e crianças, com tarefas distribuídas de modo
equitativo e com uma estrutura de tomada de decisões e reservas de apelo
moral que não inibisse de modo algum as paixões humanas. O sucesso dos
falanstérios – seriam milhares espalhados mundo afora – acabaria sendo
exemplo para que toda a humanidade os adoptassem como forma de
organização societária mais elevada.

Fourier – em um de seus claros exercícios de devaneio e excentricidade –


chegou a delimitar o Falanstério era a denominação das comunidades
intencionais idealizadas pelo filósofo francêsCharles Fourier. Consistiam em
grandes construções comunais que reflectiriam uma organização harmónica e
descentralizada onde cada um trabalharia nos conformes de suas paixões e
vocações número real de habitantes que deveria ter cada falanstério: 1620,
totalizados por 415 homens adultos, 395 mulheres adultas, 810 crianças. A
distribuição da riqueza socialmente produzida, para Fourier, também deveria
obedecer a alguns critérios estabelecidos previamente: o capital investido
(4/12), as tarefas práticas realizadas (5/12) e o talento e os conhecimentos
demonstrados e comprovados pelo grupo (3/12). Já o dinheiro, este
circularia livremente ensinando o bom desenvolvimento de toda essa
estrutura económica e de divisão social do trabalho.

Sumário
Para Simon só a sociedade industrial poderia acabar com a crise que a sociedade
passava. Este autor ainda marca a ruptura com o Antigo Regime. Para Saint-
Simon, a Política era agora a ciência da produção, porém a Política vê seu fim
com a justiça social.

Fourier adopta falanstério, comunidade ideal composta de um número bastante


restrito de pessoas, equilibrando-se entre o número de habitantes dos géneros
masculino e feminino, idosos e crianças, com tarefas distribuídas de modo
equitativo e com uma estrutura de tomada de decisões e reservas apelo moral
que não inibisse de modo algum as paixões humanas.

Exercícios
1. Quais são os ideais do socialismo sem estado de Saint Simon?

2. Descreva o pensamento político de Fourier sobre o socialismo sem estado.

Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO
Resolva os exercícios indicados.

Faça uma breve síntese da unidade em estudo.


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67

TEMA VIII: SOCIALISMO CONTRA O ESTADO

Socialismo contra o Estado

Introdução

O socialismo utópico luta contra todas as formas de estado, no entanto constrói


uma sociedade onde não exista classes sociais, onde todos participam na
vida colectiva de forma livre, fazem parte deste pensamento político o
Proudhon, anarquista libertário, sindicalista anarquista, Mas é com Marx que
o socialismo vai passar da transição do utópico para científico, pois Marx
estabelece as bases da sociedade na fase comunista.

Ao completar esta unidade / lição, tu serás capaz de:

 Caracterizar o federalismo anarquista de Proudhon;


 Descrever os ideais do anarquismo libertário;
 Analisar a concepção ideológica do Sindicalista anarquista;
 Explicar o socialismo marxista sobre abolição do estado.
Objectivos
Específicos

3.15. Federalismo anarquista de Proudhon


Prodhon pronuncia-se por uma condenação geral dos governos, porque
reprova a existência do Estado em si. Enquanto sistema de ordem do poder, o
estado vai buscar a família o seu princípio de autoridade. De um dado
necessário, quando no lugar devido, faz um sistema artificial, variável segundo
os séculos e os climas, considerados de ordem natural e necessário a
humanidade.

O sistema estatal é intrinsecamente mau e não pode ser corrigido. Que procura
combater os seus abusos, agrava-os ainda mais.

Proudhon é especialmente crítico com os democratas, porque escondem esta


realidade profunda: o erro ou a astúcia dos nossos países foi fazer o povo
soberano a imagem do homem. E pensar que a entre nós democratas que
acham que o governo tem algo de bom. Socialista que, em nome da
liberdade, da igualdade e da fraternidade, defendem esta ignominia. Proletários
que apresentam a sua candidatura a presidente da republica; Não há meias
medidas, com efeito, e o sistema democrático não deve escapar ao processo
instaurado contra a autoridade porque, directa ou indirectamente, o governo
do povo será sempre o escamoteamento do povo, a fórmula revolucionária
é: mais governo.

Da crítica da democracia decorre a do sufrágio universal, «instituição excelente


para levar o povo a dizer, não o que pensa, mas o que querem deles». O seu
balanço histórico é rapidamente traçado da maneira como tem procedido
todas as constituições posteriores, o sufrágio universal é o estrangulamento
ISCED-CURSO: História 20 Ano - Disciplina/Módulo: História das Ideias Politicas II
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da consciência pública, o suicídio da soberania do povo, a apostasia da


Revolução». Visto que é incapaz de reproduzir uma ideia, deve concluir-se
que o meio seguro deve levar um povo a mentir é a instituição do sufrágio
universal.

O sufrágio universal é uma espécie de teoria atomística em virtude da qual o


legislador, incapaz, de fazer falar o povo na unidade da sua essência, convida os
cidadãos a exprimir a opinião por cabeça, viritim, exactamente como o filósofo
epicuriano explica o pensamento, a vontade e a inteligência por combinação
de átomos. Como se da soma de uma qualquer quantidade de sufrágios
pudesse alguma vez resultar a ideia do povo.

Proudhon vê claramente o vazio causado pela sua condenação: «o que!


Não querem a constituição? querem abolir o governo? Então quem é que
manterá a ordem na sociedade?

A sociedade é o movimento perpétuo, não precisa que a fortifiquem, nem


que lhe marquem o compasso. Contém em si a sua mola, sempre tensa, e o
seu pêndulo.

Quanto ao Estado, não tem que intervir. Não aparece em lado nenhum.
Numa sociedade bem organizada, deve limitar-se, pouco a pouco, a só se
representar a si próprio, a nada. Criadas estas condições, o princípio de
autoridade tende a desaparecer. O Estado, a coisa pública, república, assenta na
base para sempre inabalável do direito e das liberdades locais corpo rativas e
individuais, cujos mecanismos resulta a liberdade nacional. O governo, para
dizer a verdade, já não existe.

No entanto, proudhon prevê uma assembleia nacional de deputados das


unidades federais e admite a existência, no intervalo das reuniões, de uma
comissão executiva central, escolhidas pelos deputados, mas não distinta
deles, nem superior a eles. Os interesses gerais resultam entre uns e outros, da
sua mútua transacção.

3.16. Anarquismo libertário


Movimento político que defende uma organização social baseada em consensos
e na cooperação de indivíduos livres e autónomos, mas onde à partida sejam
abolidas entre eles todas as formas de poder. A Anarquia seria assim uma
sociedade sem poder, dado que os indivíduos de uma dada sociedade, se auto-
organizariam de tal forma que garantiriam que todos teriam em todas as
circunstâncias a mesma capacidade de decisão. Esta sociedade, objecto de
inúmeras configurações, apresenta-se como uma "Utopia" (algo sem tempo ou
espaço determinado). É um ideal a atingir.

As origens do anarquismo, entroncam directamente na concepção


individualista dos direitos naturais defendida por John Locke. A sociedade para
este filósofo inglês era o resultado de um contrato voluntário acordado entre
individuos iguais em direito e em deveres. No entanto foi só a partir do final
do século XVIII que o anarquismo se veio a estruturar como uma corrente
política autónoma, com seguidores em toda a parte do mundo. Entre os
seus teóricos contam-se pensadores tão diversos como William Godwin
(1773-1836), P.J.Proudhon (1809-1865), Bakunine (1814-1870), Kropotkin
(1842-1921) ou o português Silva Mendes.
ISCED-CURSO: História 20 Ano - Disciplina/Módulo: História das Ideias Politicas II
69

A principal ideia que rege o anarquismo é de que o governo formal é totalmente


desnecessário, violento e nocivo, tendo em vista que toda a população
pode, voluntariamente, se organizar e sobreviver em paz e harmonia
(anarquismo político).

A proposta dos anarquistas é contraditória ao sistema capitalista, mas não


deve ser confundida com o individualismo, pois está fundamentada na
cooperação e aceitação da realidade por parte da comunidade. De acordo com
os maiores pensadores anarquistas, o homem é um ser que por natureza
é capaz de viver em paz com seus semelhantes, mas órgãos governamentais
acabam inibindo esta tendência humana de cooperar com o resto da
sociedade. A organização na sociedade anarquista não é descontrolada, ela
depende da autodisciplina e cooperação voluntária, está baseada no instinto
natural do homem; não é uma decisão hierárquica como acontece nas
sociedades convencionais.

A intervenção política dos anarquistas, pouco inclinados à constituição de


grandes organizações, embora muito dispersa tem historicamente se centrado
a sua luta na defesa de seis ideias:

1. Direitos Fundamentais dos Indivíduos - Os anarquistas, como os liberais


foram os primeiros retirar das ideias de John Locke profundas implicações
políticas. Em primeiro lugar a ideia da primazia do indivíduo face à sociedade.
Em segundo, a ideia de que todo o indivíduo é único e possui um conjunto
de direitos naturais que não podem ser posto em causa por nenhum tipo de
sociedade que exista ou venha a ser criada;

2. Acção Directa - Recusando por princípio o sistema de representação, os


anarquistas afirmam o valor da acção directa do indivíduo na realidade social.
Este conceito foi interpretado no final do século XIX princípios do século XX, por
alguns anarquistas, como uma forma de actuação política, cometendo
assassinatos de figuras políticas que diziam simbolizarem tudo aquilo que
reprovavam;

3. Crítica dos Preconceitos Ideológicos e Morais - Uma das suas facetas mais
conhecidas pela sua crítica irreverente à sociedade. Com a sua crítica demolidora
dos preconceitos sociais pretendem destruir todas as condicionantes mentais
que possam impedir o indivíduo de ser livre e de se assumir como tal;

4. Educação Libertária - Os anarquistas viram na educação um processo


de emancipação dos indivíduos, acreditando que por esta via podiam lançar as
bases de uma nova sociedade;

5. Auto- organização - Embora recusem qualquer forma de poder, a maioria


dos anarquistas não recusa a constituição de organizações. Estas devem
contudo ser o resultado de uma acção consciente e voluntária dos seus
membros, mantendo entre eles uma total igualdade de forma a impedir a
formação de relações de poder (dirigentes/dirigidos,
representantes/representados, etc.).

É por esta razão que tendem desconfiar ou combater, as grandes


organizações porque nelas a maioria dos indivíduos tendem a ser afastados
dos processos de decisão. Os anarquistas estão desde o século XIX ligados
à criação de sociedades mutualistas, cooperativas, associações de
trabalhadores (sindicatos e confederações, etc.), ateneus, colónias e
ISCED-CURSO: História 20 Ano - Disciplina/Módulo: História das Ideias Politicas II
70

experiências auto-gestionárias. Em todas estas formas de organização procuram


em pequena ou grande escala ensaiar a sociedade que preconizam;

6. Sociedade Global - Um dos seus grandes ideais foi sempre a constituição


de uma sociedade planetária que permitisse a livre circulação de pessoas ou o
fim das guerras entre países. É neste sentido que alguns anarquistas, como P.
Kropotkin, viram no desenvolvimento das tecnologias de comunicação e
informação um meio que poderia conduzir ao advento da Anarquia.

A defesa destas ideias tem caracterizado o movimento anarquista internacional,


ao longo dos seus duzentos anos de existência.

Os anarquistas pretendem abolir o Estado e todo o seu aparelho orgânico


da natureza administrativa e policial, com vista à construção de uma
sociedade de onde tenha desaparecido toda a espécie de coacção e autoridade.
Por definição, os anarquistas são avessos à própria ideia de autoridade, seja ela
no seio da família, no Estado ou em qualquer outra instituição.

Naturalmente, tratando-se de uma doutrina socialista, preconiza também a


abolição da propriedade privada, que deverá ser substituída pela comunhão
integral dos bens, tanto de produção como de consumo.

Nessa sociedade de onde tenha desaparecido a propriedade privada, a Igreja, o


Estado, o Direito e toda e qualquer noção de autoridade -, os homens poderão,
finalmente, viver em paz e liberdades totais, no âmbito daquilo que os
anarquistas vagamente descrevem como uma federação espontânea de
associações e municípios livres. A entrada ou saída de cada cidadão destas
organizações dependerá, obviamente, apenas da sua vontade. Trata-se, como
se vê, de um certo socialismo utópico.

Porém, o facto de os anarquistas visarem, como meta, uma sociedade beatifica


de paz e liberdade completa não os impede beatifica de paz e liberdade
completas não os impede de e mostrarem partidários do uso da violência
como forma de destruição de ordem social existente. Os anarquistas são
apóstolos da destruição universal. E não são apenas adeptos da ideia de
violência: praticam-na de facto na vida real.

3.17. Sindicalista anarquista


O anarquismo é sindicalista desde o berço. O pensamento de Bakunin,
Varlin, Lorenzo e seus seguidores sobre o papel e o futuro das associações de
resistência, quanto mais anarquista, mais sindicalista.

Na arena Internacional e das associações internacionais Bakunin foi o


principal inspirador, fundindo e vivificando as ideias marxistas com o
pensamento de Proudhon e dos socialistas franceses.

Para fazer a revolução não se deve esperar que todos os operários estejam
organizados. Isso seria impossível, dadas às condições do proletariado; e
felizmente não é necessário. Mas é preciso que ao menos haja os núcleos, em
torno dos quais possam rapidamente agrupar-se as massas, apenas se libertem
do peso que as oprime.

Que, se é utopia querer fazer a revolução quando todos estiverem de


acordo, e prontos, maior utopia é querer fazê-la com coisa nenhuma e com
ninguém. Há uma medida em tudo. Entretanto, trabalhemos para que cresçam
ISCED-CURSO: História 20 Ano - Disciplina/Módulo: História das Ideias Politicas II
71

o mais possível às forças conscientes e organizadas do proletariado. O resto virá


por si.

O sindicalismo operário, encontra no meio dos anarquistas seu primeiro


pessoal dirigente, o fundador Fernand Pelloutier. Quer por inspiração directa,
como fundador das bolsas do trabalho, Pelloutier quer por influência difusas, no
caso de outros, todos insistem na ideia proudhoniana de organização autónomo
e federal da economia, independentemente da política que devera substituir,
com a associação dos produtores a de estado, fazer as vezes de oficina
em vê de governo.

O anarquismo sindicalista é um movimento autêntico da classe operária em luta


contra a miséria. A hostilidade ao estado não se preocupa com o regime político,
a democracia é considerado um processo, mais recente e mais hipócrita,
utilizado pela burguesia para conservar os seus privilégios, procura seduzir a
classe operária, fazendo do inimigo de classe um amigo eleitoral. O sindicato não
aceita a democracia, tal como não aceita apoiar nenhum partido político.
Mesmo que estivesse animado das melhores intenções, os governos não
poderiam conter ou evitar iniquidade social.

O sindicalismo repousa inteiramente na crença na acção do grupo sindical


como elemento renovador da vida, não só social e económico, mas também
político. O sindicato é ao mesmo tempo o instrumento e objectivo dessas
transformações. Prepara o aparecimento de uma sociedade que já não será um
estado, no sentido das soberanias territoriais existentes, mas uma federação
mais ou menos flexível e, mais ou menos de grupos sociais. Entretanto o
sindicato é um grupo de luta integral que tem por função estilhaçar a legalid ade
que nos sufoca para gerar o direito novo que queremos ver sair dos nossos
combates. Com esse objectivo organiza a acção directa.

A instituição operaria graças ao seu serviços de recrutamento, de


propaganda, de educação, de mutualidade e de resistência, permite ao
trabalhador a paragem concertada do trabalho nas empresas, nas profissões,
e finalmente na nação, através da greve geral.

Objectivo da transformação, o sindicato é, desde já, a célula - base da sociedade


futura, estando cada profissão organizada em sindicato, cada sindicato
nomeara o seu conselho; os sindicatos serão por sua vez, federados por
ramo, nacional e internacional. A rede paralela de bolsas de trabalho
estabelecera a estatística das necessidades e dos produtos e manter-se-ão
ligaçõesconstantes com os sindicatos. Assim se fundara uma sociedade sem
estado nem autoridade.

Como diz A. Keufer, os sindicalistas antiparlamentarismo estão decididos a


suprimir o estado como organismo social e a fazer desaparecer qualquer
governo de pessoas, para confiar aos sindicatos, as federações e as bolsas de
trabalho o governo das coisas a produção, a distribuição e a troca.

3.18. Marxismo
O contraste explosivo provocado pelo confronto entre a burguesia, cada vez
mais rica e reduzida, e o proletariado, cada vez mais pobre e mais numeroso,
irá explodir por força da luta de classe, quando suar aquilo a que Marx chama a
hora da liquidação social: é a tese catastrófica que prevê e preconiza a fatalidade
histórica da destruição do capitalismo.
ISCED-CURSO: História 20 Ano - Disciplina/Módulo: História das Ideias Politicas II
72

Para Marx, a revolução socialista não se desenvolve de um só maneira, num


único momento ou uma única etapa. Para ele há duas fases distintas no processo
de implantação do socialismo: a fase inferior, a que é a da ditadura do
proletariado e a fase superior, que a do comunismo propriamente dito.

A ditadura do proletariado é a fase (provisória) em que a classe proletária se


apossa, ela violência do estado e do seu aparelho repressivo, ocupando a
posição chave na administração público, na economia e na sociedade, de
modo a fazer com que estado opere a extinção da burguesia e o
desmantelamento do capitalismo, através das mais variadas formas –
designadamente, a prisão dos principais dirigentes económicos e políticos da
burguesia, e a nacionalizações das principais empresas industriais, comerciais
e transportes.

Nesta fase – reconhece Marx – o estado tem de subsistir, já não para


manter a exploração do proletariado pela burguesia, mas sim para extinguir
esta, para consolidar as posições tomadas pelo proletariado, e para promover
uma economia florescente e abundante sem a qual não será possível passar a
fase seguinte.

Nesta primeira fase a economia será organizada de acordo com o princípio a


cada um segundo o seu trabalho, abolindo-se os lucros e mais-valia. Quando
estarem criadas todas as suas condições políticas e económicas para isso, advirá
então a sociedade comunista. A sociedade comunista será uma sociedade
profundamente igualitária e justa em que todos serão livre e iguais e em que não
haverá classes sociais, é a sociedade sem classes.

Marx desenha sociedade onde realizar-se-ão todos os anseios e aspirações


humanas, de carácter económico, social e cultural, mas que para atingir esta
meta passa pela ditadura do proletariado, nesta ‘ultima fase o estado dissolver-
se -á. Não existindo classes, isto é, não havendo oposição e lutas de classe,
também não há necessidades de repressão e, logo o estado não será
abolido: extinguir-se -á, apagar-se -á.

O comunismo preconizado por Marx é comunismo total, abrangendo não


apenas os bens de produção, mas também os bens de consumo. Ninguém
terá nada a que possa chamar seu: o comunismo abolirá o egoísmo.

Sumário
Proudhon refere que o Estado, não tem que intervir. Não aparece em lado
nenhum. Numa sociedade bem organizada, deve limitar-se, pouco a pouco, a só
se representar a si próprio, a nada.

A intervenção política dos anarquistas, pouco inclinados à constituição de


grandes organizações, embora muito dispersa tem historicamente se centrado
a sua luta na defesa de seis ideias: Direitos Fundamentais dos Indivíduos, acção
directa, crítica dos Preconceitos Ideológicos e Morais Educação Libertária
Auto-organização.

Os sindicalistas antiparlamentarismo estão decididos a suprimir o estado como


organismo social e a fazer desaparecer qualquer governo de pessoas, para
confiar aos sindicatos, as federações e as bolsas de trabalho o governo das coisas
a produção, a distribuição e a troca.Marx desenha sociedade onde realizar-se-
ISCED-CURSO: História 20 Ano - Disciplina/Módulo: História das Ideias Politicas II
73

ão todos os anseios e aspirações humanas, não havendo oposição e lutas de


classe, também não há necessidades de repressão.

Exercícios
1. Proudhon afirma que sociedade é o movimento perpétuo, não precisa
que a fortifiquem, nem que lhe marquem o compasso. Contém em si a sua mola,
sempre tensa, e o seu pêndulo.

a) Faça comentário em relação a afirmação acima.

2. Quais são as principais ideias dos anarquistas libertário?

3. Mencione o papel e o objectivo último dos sindicatos anarquista.

4. Para Marx, a revolução socialista não se desenvolve de um só jacto, num único


momento ou uma única etapa.

a) Faça comentário sobre a afirmação acima.

Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO
Resolva os exercícios indicados.

Faça uma breve síntese da unidade em estudo.


ISCED-CURSO: História 20 Ano - Disciplina/Módulo: História das Ideias Politicas II
74

TEMA IX: SOCIALISMO NO ESTADO

Socialismo no Estado
Introdução

Após a revolução de 1848 ter falhado na Europa, permitiu a que o marxismo


estivesse em peso com o manifesto socialista. Mais tarde a teoria socialista vai
ganhando maior expressão no mundo, tendo os seguidores Fernand Lessale,
Lenine e Staline que advogavam o socialismo no estado.

Ao completar esta unidade / lição, tu serás capaz de:

 Descrever a revolução de 1848 na Europa;


 Analisar os ideais de Fernand Lessale sobre o socialismo no estado.
 Explicar o desmembramento do socialismo na concepção marxista.
 Comentar sobre o socialismo de Lenine e Stalin na concepção.
Objectivos
Específicos

3.19. O malogro de 1848


Dá-se o nome de Revoluções de 1848 à série de revoluções na Europa
central e oriental que eclodiram em função de regimes governamentais
autocráticos, de crises económicas, de falta de representação política das classes
médias e do nacionalismo despertado nas minorias da Europa central e
oriental, que abalaram as monarquias da Europa, onde tinham fracassado as
tentativas de reformas políticas e económicas. Também chamada de
Primavera dos Povos, este conjunto de revoluções, de carácter liberal,
democrático e nacionalista, foi iniciado por membros da burguesia e da nobreza
que exigiam governos constitucionais, e por trabalhadores e camponeses
que se rebelaram contra os excessos e a difusão das práticas capitalistas.

A partir de 1845, a situação política francesa foi profundamente agravada


pela eclosão de uma crise do capitalismo. Essa crise acabaria se estendendo por
todo o continente e estaria na origem das revoluções liberais que abalaram a
Europa Centro -ocidental, no ano de 1848. Os anos de 1845 e 1846 foram de
péssimas colheitas, desencadeando uma crise agrícola em todo o continente. A
crise agrícola iniciou-se em Flandres e na Irlanda, com as péssimas colheitas
de batatas. Na Europa ocidental, a má colheita de trigo desencadeou em 1846
uma série de revoltas camponesas. Essa crise desencadeou uma alta
vertiginosa do custo de vida, atirou à miséria grandes sectores da população
rural e reduziu drasticamente a sua capacidade de consumo de produtos
manufacturados. A crise se agravou atingindo a indústria e as finanças.

A crise, naturalmente, não teve carácter uniforme e atingiu de forma diferente


cada região. Foi predominantemente industrial na Inglaterra e na França, mas
sobretudo agrícola na Irlanda e na Itália. De qualquer modo, atingiu
duramente a massa popular, que se tornou, por isso mes mo, extremamente
ISCED-CURSO: História 20 Ano - Disciplina/Módulo: História das Ideias Politicas II
75

sensível aos apelos revolucionários difundidos pelos socialistas, que, em


1848, conquistaram grande nitidez no cenário europeu.

A colaboração entre Marx e Engels que se inicia está longe de ser apenas
um projecto de formulação teórica. Os dois fundadores do comunismo
moderno procuram, de imediato, um terreno prático onde materializar as
concepções que estão elaborando. Com esse intuito, vinculamse a uma
organização revolucionária alemã socialista conhecida como a Liga dos Justos,
nome que indica a influência da revolução francesa de 1789 e os movimentos
revolucionários burgueses de então, mas vinculada à nascente classe
operária alemã. No primeiro congresso da Liga realizado em Londres (Junho
de 1847), Engels advogou sua transformação em Liga Comunista.

Marx e Engels, convenceram o 2º Congresso Comunista em Londres a adoptar


suas posições. A Liga adopta a divisa “Trabalhadores de todo o mundo uni-
vos”, em substituição ao dístico idealista e burguês de “todos os homens são
iguais” e um programa fundado na teoria da luta de classes.

Os dois foram indicados a elaborar uma declaração política e de princípios do


comunismo, que surgiria em 1848 como o Manifesto do Partido Comunista,
cujas definições foram articuladas por Engels no seu Princípios do Comunismo
(1847), mas cuja redacção final coube fundamentalmente a Marx, o que se o
transformou em uma verdadeira obra-prima literária, de forma alguma reduz o
carácter de obra conjunta dos dois grandes revolucionários.

O Manifesto é um dos mais impressionantes, senão o mais, dos documentos


políticos de toda a história da humanidade. Em poucas páginas seus autores
reduzem a pó os fundamentos idealistas da compreensão da história da
humanidade, explicando com uma clareza que o transforma em grandiosa
obra literária que “a história da humanidade até os nossos dias é a história da
luta de classes”, descrevendo em parágrafos magistrais a evolução das classes e
suas lutas, passando em seguida a uma análise até hoje não superada das
características profundamente revolucionárias da sociedade industrial criada
pelo capitalismo onde “tudo o que é sólido desmancha no ar”, evidenciando
como o capitalismo transforma em cruas relações mercantis os fetiches
morais, religiosos e políticos do passado.

Após explicar a relação do comunismo e do movimento operário com


extraordinária precisão e demolir em parágrafos extremamente contundentes
as variantes de socialismo idealista o Manifesto prognóstica a futura revolução
proletária como resultado das revoluções de 1848 que estão para começar,
terminando com a famosa e electrizante conclusão: “os comunistas não se
rebaixam a ocultar suas opiniões e os seus propósitos. Declaram
abertamente que os seus objectivos só podem ser alcançados pela derrubada
violenta de toda a ordem social existente. Que as classes dominantes tremam
à ideia de uma revolução comunista, os proletários nada têm a perder a
não ser os seus grilhões. Têm um mundo a ganhar.

Com o fracasso da revolução de 1848 e as tentativas revolucionárias


posteriores a Europa é tomada pela reacção em todos os lugares, com os
revolucionários sendo colocados na cadeia aos milhares, por outro lado
imaturidade política da classe operária, Marx e Engels dedicar-se-ão a
desenvolver a formulação teórica do socialismo científico, cujo maior resultado
será justamente O Capital.
ISCED-CURSO: História 20 Ano - Disciplina/Módulo: História das Ideias Politicas II
76

Reuniram-se em Londres, onde reorganizaram a Liga Comunista e esboçaram


directrizes tácticas para os comunistas acreditando que outra revolução se
seguiria esquematizadas na famosa Circular do Comité Central à Liga dos
Comunistas de 1850, onde pela primeira vez é utilizada a expressão “revolução
permanente.

A este período corresponde também uma intensa actividade jornalística, ditada


em certa medida por necessidades económicas, mas cujo resultado será os
principais escritos políticos de ambos: As lutas de classes em França (1872)
e o Brumário de Luís Bonaparte (1852); Guerras Camponesas na Alemanha
(1850), Revolução e contra-revolução na Alemanha (1851), A questão militar
na Prússia e o Partido Operário Alemão (1865), e A questão da habitação
(1873) de Engels, além de uma infinidade de artigos menores. Durante o período
em que Engels viveu em Manchester (1851 a 1869) os dois colaboradores
trocaram mais de mil cartas em uma correspondência com importantes
formulações esclarecedoras dos problemas que procuravam resolver em
comum.

Em 1864 será fundada a Associação Internacional dos Trabalhadores, conhecida


posteriormente como a I internacional. Marx e Engels participarão da criação
da nova organização, onde procurarão levar adiante um trabalho de
estruturação do movimento operário internacional o qual, a derrota da vaga
revolucionária na Europa após 1848 adquire um novo impulso através da guerra
da secessão norte-americana e das lutas económicas em alguns países como a
Inglaterra.

Após a morte de Marx (1883), Engels dará continuidade ao trabalho político que,
juntamente com Marx havia impulsionado. Neste período, acompanhava sete
jornais diários e 22 semanários em mais de 10 línguas. O resultado será a
fundação da II Internacional em 1889, onde os marxistas predominarão sobre
os socialistas. Neste momento, Engels será a maior autoridade política do
movimento operário. No entanto, fará questão, como no próprio discurso no I
Congresso da nova internacional de se colocar apenas como um colaborador de
Marx, a quem atribuiu, com enorme modéstia, a quase totalidade do papel
criador nesta admirável associação intelectual e política.

Marx e Engels foram os primeiros a demonstrar que a classe operária e suas


reivindicações são um produto necessário do regime económico actual, que,
juntamente com a burguesia, cria e organiza inevitavelmente o proletariado;
demonstraram que não são as tentativas bem-intencionadas dos homens de
coração generoso que libertarão a humanidade dos males que hoje a esmagam,
mas a luta de classe do proletariado organizado.

Marx e Engels foram os primeiros a explicar, nas suas obras científicas, que o
socialismo não é uma invenção de sonhadores, mas o objectivo final e o
resultado necessário do desenvolvimento das forças produtivas da sociedade
actual.

3.20. O pensamento de Ferdinand Lassale


Lassalle representou uma vertente do movimento socialista do século XIX,
bastante fecunda no seu país de origem: a Alemanha. No geral suas ideias
eram claramente opostas aos princípios defendidos por Marx e Engels. Uma
das principais divergências que marcaram os conflitos entre essas duas
correntes políticas - filosóficas, girou em torno das dimensões do socialismo.
ISCED-CURSO: História 20 Ano - Disciplina/Módulo: História das Ideias Politicas II
77

Diferentemente de Max e Engels, Lassalle argumentava a favor do socialismo


restrito ao terreno nacional. Para ele, o que realmente interessava para o
proletariado da Alemanha, condizia com as leis internas do Estado alemão.
Portanto, toda sua organização deveria possuir como horizonte de luta, apenas
os marcos territoriais de seu país, contrariando, desta forma, todo o
internacionalismo proletário defendido por Marx e Engels.

Um facto importante a ser notado é que na época de Lassalle, o espaço territorial


alemão ainda não obtinha a unidade que era defendido por ele, tinha como
origem filosófica as ideias do grande pensador alemão Fichte.

Este filósofo defendia um socialismo moral, carregado de misticismo. Para


Fichte, o homem era inteiramente livre, plena e divinamente livre. No entanto,
em sua opinião o homem isoladamente não poderia concretamente ser livre,
permanecendo assim escravo da natureza. A não ser que possuísse uma
certa propriedade, quer dizer, um determinado campo de acção e isso somente
o socialismo poderia criar, instaurando assim a dignidade humana.

A figura do Estado também era central nas ideias desse alemão. A função
social que o poder estatal deveria desempenhar, convergia para a
centralização e o controle das relações entre os indivíduos. Segundo dizia, o
Estado deveria determinar a qualidade e o preço dos produtos, do que se deduz
que o Estado supervisiona constantemente a produção e que os cidadãos,
em parte patrões, estão igualmente em parte a serviço da administração
pública.

Aqui o Estado surge como uma entidade reguladora dos conflitos e das
contradições, sem, todavia, representar nenhuma classe social. Portanto, ele
assume um carácter de neutralidade diante da sociedade, pronto a satisfazer
as necessidades de todos. Um outro ponto importante, é que, o sistema
impulsionador da emancipação dos indivíduos deveria conter-se em âmbitos
nacionais, ou seja, o internacionalismo não possui maior significado em sua
obra.

Todos esses aspectos, de algum modo, foram incorporados por Lassalle.


Este absorveu amplamente os pressupostos teóricos do mestre do socialismo
moral. Lassalle espera que o Estado fixe a medida do valor dos preços; Tanto um
quanto o outro estavam preocupados, antes de tudo, com a realidade alemã.

Para Lassalle (1969), uma das principais reivindicações que se colocava para
o movimento progressista da Alemanha, referia-se a implantação de uma
Constituição Democrática. Durante o período das revoluções europeias das
décadas de 1830 e 40, em especial, no caso alemão, boa parte das
insurreições possuía como meta prioritária a instalação de uma Constituição
que contemplasse a maioria dos cidadãos, ou melhor dizendo, o sufrágio
universal.

Em seu texto Que é uma constituição? Lassalle (1969) além de tentar explicar
conceitualmente o significado desse conjunto de leis e normas de uma
determinada nação, busca também demonstrar que ela é uma importante
maneira do Estado resolver e pacificar os problemas sociais de uma realidade
nacional, revelando assim suas consequências para a vida prática dos
homens. Além disso, o autor propõe que a Constituição não se funda
somente sob uma simples formulação jurídica, pois na verdade a sua
ISCED-CURSO: História 20 Ano - Disciplina/Módulo: História das Ideias Politicas II
78

existência também emerge das relações de poder, ou como o próprio diz,


dos "factores reais de poder.

Segundo afirmava, essas relações de poder possuem como matriz a existência e,


ao mesmo tempo, o choque de diferentes classes sociais. Por isso, ele
acreditava ser a Constituição um meio fundamental para a harmonia de uma
nação: a Constituição não é uma lei como as outras, é uma lei fundamental da
Nação.

A luta de classes, portanto, no pensamento desse autor não adquire uma


perspectiva de fim, pois ao que tudo indica a disputa pelo poder sempre
existirá. Por isso, o Estado, a Constituição e o sufrágio universal, são tão
importantes para os trabalhadores. No entanto, o ponto decisivo da
constituição democrática na Alemanha, correspondia ao fato de que ela
provocava o poder centralizador, fundamental para a unificação dos seus
Estados autónomos.

Como já frisamos anteriormente, a unificação alemã se caracterizou como


sendo um dos problemas centrais para o movimento socialista liderado por
Lassalle. Mesmo possuindo uma

burguesia em certa medida desenvolvida, os andamentos da economia e da


política ainda sofriam amplos obstáculos devido aos resquícios feudais
presentes no território alemão. Sob suas ideias, o proletariado alemão
acreditava na via pacífica para a conquista do Estado, quer dizer, por meio da
maioria dos votos.

Como até agora foi possível perceber, o caminho seguido pelo movimento
socialista alemão de tendência lassalleana defendia além de uma actuação
política, também um socialismo, limitados ao espaço territorial da Alemanha.

3.21. O desmembramento do marxismo


Ao por em relevo o processo de concentração capitalista, Marx mostra
como a expropriações atinge a generalidade das populações. Paralelamente a
teoria da proletarização e da pauperização crescente, a propaganda política
conquistará praticamente a unanimidade da população. Ser-lhe-á teoricamente
fácil, pois basta dar aos indivíduos a consciência de classe que lhes falta.

Desde que o sufrágio estenda as grandes massas populares, a evolução


apresentam carácter matemático. Visto que a sociedade capitalista cria um
número sempre crescente de proletários, cria automaticamente um sempre
crescente de eleitores socialistas. “A vossa legalidade chega-nos, poderão dizer
os líderes socialistas”.

A manutenção e o alargamento da democracia, graças a aliança com a esquerda


burguesa, levam ao triunfo inevitável do socialismo. Em consequência, este
produzir-se-á primeiro nos meios económicos muito evoluídos de alta
concentração industrial, meios também politicamente democratizados. Por
isso, nada é perigoso e, no fim de contas, mais nefasto do que precipitar, por
meio políticos, um acontecimento que deve amadurecer naturalmente.

Tal é a tese social-democrática que foi considerada, no seu tempo, a mais


próxima do pensamento de Marx e do ponto de vista de Engels nos seus
últimos escritos: "Nos, os revolucionários, os agitadores, prosperamos muito
melhor por meios legais do que por meios ilegais de raízes. "
ISCED-CURSO: História 20 Ano - Disciplina/Módulo: História das Ideias Politicas II
79

Depois da morte de Marx e Engels, o teórico do partido alemão Eduard


Bernstein pública, em 1899, os "postulados dos socialistas ", traduzidos de
francês. O seu inventário crítico da doutrina marxista, que pretende
simplesmente rever" para fazer progredir, leva-o a refutar o materialismo
dialéctico e o materialismo histórico.

Este ultimo parece-lhe muito limitado, na medida em que considera as ideias


simples reflexos e faz dos factores materiais "os poderes omnipotentes da
evolução, não se deve subestimar as concepções da moral e dos direitos,
as crenças religiosas e as teorias cientificas. Isso leva-o a contestar a tese
dita "catastrófica" da luta de classes. Por outro lado, teoria da concentração
capitalista crescente não lhe parece verificar-se nos factos, as classes medias não
desapareceram, a própria pauperização é travada pela acção operaria.

Segundo Bernstein, o socialismo impor-se-á gradualmente e sem convulsões


inúteis, deve, pois, aderir-se aos mecanismos democráticos para assegurar
no seio de um Estado neutro a representação de todas as classes. Assim se
abandona, simultaneamente, a ditadura do proletariado e o progressivo
enfraquecimento do Estado.

Karl kautsky depois de condenarem as teses revisionistas, os dirigentes da


social-democracia alemã abandonam, por sua vez, a ortodoxia marxista.
Depois de Bebel, aquele que tinha sido encarregado de instruir "o processo"
de Bernstein, karl kautsky 1854-1938, vai optar por uma passagem gradual
do capitalismo ao socialismo pelas vias eleitorais e parlamentares, atitude que
Philippe scheidemann justifica assim: "depois do resultado das eleições no
Reichstag, era certo que, num futuro relativamente próximo, a grande maioria
do povo alemão Seria conquistado para

a social-democraciaPara Kaustky, antigo secretário de Engels, o socialismo


só podia nascer depois da completa maturação do capitalismo, nos países
industriais mais avançados. Esta via "oportunista" levou o seu defensor, logo
seguido pelos "outros -marxistas", a propor, em "A revolução proletária e o seu
programa", a substituição da ditadura do proletariado por um "governo de
coligação ".

Fundador, em 1917, de um "partido social-democrata independente", e


adepto convicto do ministerialismo, Kautsky leva ao extremo o que havia no
marxismo de determinista e mecanicista.

3.22. Lenine e o marxismo


Lenine não se afasta substancialmente de Marx quanto a natureza, função
e destino do estado. Mas trás um contributo decisivo para a teoria do
estado, não tanto pela sua obra escrita tanto quanto pela sua acção
enquanto líder do partido, principal inspirador da revolução e chefe do
primeiro governo comunista russo: ele será, de facto, o grande construtor do
estado soviético. O estado soviético é um modelo de estado que se
contrapõe ao estado pluralista (ou, em linguagem marxista, ao estado
burguês) – seja na forma de monarquia parlamentar, seja na de república
presidencialista.

Com Lenine surge um tipo de estado com seguintes características:

 O estado deve ser governado, não por quem ganha eleições, mas
por quem merece governá-lo e por quem quer governá-lo. O
ISCED-CURSO: História 20 Ano - Disciplina/Módulo: História das Ideias Politicas II
80

proletariado, enquanto representado e conduzido pela sua vanguarda


que é o partido comunista, merece e quer exercer o poder político e
assumir a direcção do estado;
 O estado não reconhece a oposição e só aceita um partido – é a teoria
do partido único. Até 1917 Lenine nunca o dissera, mas a guerra
civil, a defesa das conquistas da revolução e luta para manter o
poder político, vão obriga-lo a isso;
 A sede do poder politico não é o estado, mas o partido. É o partido
comunista que dirige a política do país, e os órgãos do estado
devem obedecer às directrizes do partido. Este é guia e orientador do
estado e da sociedade;
 O sufrágio para a designação dos governantes não é de base indivídual,
mas de base institucional, por comissões ou conselho, isto é, por
sovietes formados espontaneamente a partir das bases.
 O estado não reconhece o princípio de separação dos poderes,
antes pelo contrário, considera que a concentração do poder, a
unidade, a unicidade são essenciais para se poder conduzir uma acção
revolucionária eficaz;
 O estado não reconhece a liberdade de consciência religiosa, de criação
cultural, de opinião filosófica. Pelo contrário o estado promove o
ateísmo oficial, dirige a criação cultural, e escolhe a orientação filosófica
mais adequada para o país;
 O estado assumi para si a economia: primeiro porque transfere das
mãos dos particulares para a titularidade pública a exploração das
principais actividades económicas (nacionalizações e reformas agrárias);
segundo porque controla estreitamente, o pouco que resta no sector
privado (controle operário); terceiro porque vai dirigir e planear de
forma rígida e a partir do governo o conjunto de economias
(planeamento imperativo, economia de direcção central total).

Com todas estas funções, o estado cresce para proporções nunca dantes vista
em nenhum país do mundo, e em uma poderosa vasta máquina burocrática é
implantada no país.

Lenine idealiza um estado aberto a livre expressão e opinião das bases, dos
operários e camponeses, dos soldados e marinheiros, dos trabalhadores, dos
proletários.

3.23. Staline e o marxismo


Staline é o autor da fórmula “o socialismo em só país”, que representa,
obviamente, uma alteração do Lenine, que ainda acreditava, como vimos, na
possibilidade de um revolução em todo mundo. Escreve história do partido
comunista, em 1938, considera que em matéria de filosofia a dialéctica é mais
importante do que qualquer outro aspecto, mas omite nas leis da dialéctica
a lei da negação, por razões política óbvia. É o teorizador da revolução feita de
cima para baixo, apoiada de baixo para cima.

Entende que, para atingir o comunismo, é necessário reforçar o estado e sua


ditadura e sustenta, portanto, que o estado mesmo na fase do comunismo, tem
de continuar, enquanto não for liquidado o cerco do capitalismo e não
desaparecer o perigo de ataque militar do ocidente à União Soviética.
ISCED-CURSO: História 20 Ano - Disciplina/Módulo: História das Ideias Politicas II
81

Staline reconhece também que as classes sociais na sociedade continuam,


embora já não tenham interesses antagónicos; mas opina que por vezes
ressurgem as lutas de classes e é necessário que o proletariado saia sempre
triunfante dessas lutas. Isto vai ter consequências práticas na luta do
proletariado industrial contra os camponeses, que ele encabeçará. Um outro
aspecto teórico importante é a afirmação de que a correcção das doutrinas
marxista é limitada ao período em que foram expressas. Se aparecem entre
autores marxistas fórmulas diferentes, elas não são necessariamente
incorrectas, nem são necessariamente incompatíveis: cada um é verdadeiro
para a sua própria época.

Finalmente, Staline apoia uma nova concepção do direito apresentada por


Vischinsky, seu ministro dos negócios estrangeiros – segundo o qual o
comunismo é a doutrina do estado soviético e os interesses do estado
soviético são superiores a quaisquer outros interesses, e mesmo em relação
aos direitos individuais de cada um.

Sumário
O fracasso da revolução de 1848, permitiu a que o manifesto marxista
ganhasse campo entre a classe operária, onde apelava que os operário de tudo
mundo a unir-se, Marx e Engels começam por construir o socialismo científico,
que aborda a ditadura do proletariado na passagem do capitalismo ao
socialismo.Com a morte de Marx, karl kautsky vai optar por uma passagem
gradual do capitalismo ao socialismo pelas vias eleitorais e parlamentares,
criticando a ditadura marxista.

Lassalle argumentava a favor do socialismo restrito ao terreno nacional. Para


ele, o que realmente interessava para o proletariado da Alemanha, condizia com
as leis internas do Estado alemão.

Lenine apologista do socialismo no estado, mas que defende que para a


consolidação do socialismo era necessário primeiro no mundo para depois ser
dentro do seu país.

Staline é o autor da fórmula o socialismo em só país, que representa,


obviamente, uma alteração do Lenine, que ainda acreditava, como vimos, na
possibilidade de um revolução em todo mundo.

Exercícios
1. Descreva o decurso e a importância da revolução de 1848 na Europa.

2. Qual é a concepção de Fernand Lessalle sobre o estado no socialismo?

3. Explique a derrocada dos ideais marxista.

4. Apresente semelhanças e diferenças entre o socialismo de Lenine e Staline.

Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO
Resolva os exercícios indicados.

Bibliografia básica
AMARAL. Diogo Freitas, História das ideias políticas, vol II, Porto: editora
Livrara Almeia:, 1997.
ISCED-CURSO: História 20 Ano - Disciplina/Módulo: História das Ideias Politicas II
82

TEMA X: CRISE DO SOCIALISMO

Crise do Socialismo

Introdução

A revolta política implica numa atitude de suspeita permanente e rejeição para


com as soluções simplistas de salvação da humanidade presentes nos
discursos políticos e ideológicos de inspiração revolucionária. O comunismo
contestário é utópico, num derradeiro sentido, talvez mais profundo, por
ser marcado pelo sinal comum a todas as utopias. Contudo destacaram-se
correntes que defendem as teses utópicas. Mas, desaparecido o modelo
único, passa-se progressivamente a uma clivagem essencial, em função do nível
de desenvolvimento económico.

Ao completar esta unidade / lição, tu serás capaz de:

 Analisar o fenómeno de revolta como uma reacção em busca de uma política


adequada;
 Descrever os ideais das correntes utópicas;
 Conhecer os diversos socialismos.
Objectivos
Específicos

3.24. O espírito de Revolta


Do ponto de vista histórico e existencial, diante das injustiças dos homens
e das tragédias do mundo, os movimentos político-sociais se dividem entre
duas atitudes de lutas: a revolta e a revolução.

Por definição, a revolta se constitui um estado de espírito que é mais individual


e subjectivo do que colectivo. Ela é um conjunto perpétuo do homem e da sua
própria obscuridade. A revolta é uma filosofia de vida e uma exigência estética,
que toma consciência do absurdo e diz não. Já a revolução - que chegou a
formar uma cultura revolucionária, especialmente a marxista-
leninistaguevarista -, se constitui numa ruptura necessariamente explosiva
com vistas ao projecto de transformação radical da organização da sociedade.

Para o revolucionário de esquerda todas as injustiças e desigualdades têm


como causa única as contradições concretas da sociedade capitalista, que
precisam sofrer uma ruptura pela acção dos homens, dentro do processo
histórico.

O existencialismo de Albert Camus concebe um tipo de revoltado que entende


a própria realidade como absurda. A sua linha de pensamento primeiramente
toma como fonte inspiradora Prometeu e Sísifo, porque são exemplos clássicos
de estilos arquetípicos de revolta do homem contra as imposições de uma
realidade vivida existencialmente como injusta e absurda.

Assim, no pensamento existencialista de Camus a revolta tem dois significados:


o primeiro encara tal atitude como reacção natural diante da experiência do
ISCED-CURSO: História 20 Ano - Disciplina/Módulo: História das Ideias Politicas II
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absurdo da vida. Trata-se de uma revolta metafísica do homem contra a sua


condição e toda a criação. Esta revolta implica tanto num gesto de repulsa contra
o criador quanto num cepticismo diante das soluções demasiadamente
humanas. O segundo sentido é a revolta política ou histórica, por exemplo, do
escravo que aspira sair da sua condição precária e submetida de mera
sobrevivência. A revolta política implica numa atitude de suspeita permanente
e rejeição para com as soluções simplistas de salvação da humanidade
presentes nos discursos políticos e ideológicos de inspiração revolucionária.

A revolta camusiana nasce não apenas do oprimido, enquanto indivíduo ou


classe social, mas de qualquer ser humano que vive uma condição de
humilhação e de sofrimento imposto por outrem. Enquanto que o
revolucionário apenas reconhece a revolta de uma classe – proletária – o
revoltado camusiano reconhece a revolta do sujeito consciente visto como
impedido de viver uma vida digna e feliz.

Portanto, a atitude permanente de revolta proposta por Camus é a alternativa


para o simplismo e mesmo o fanatismo de algumas tendências pró revolução
político - ideológica, porque “a revolta é em última análise o protesto contra
a injustiça e incompreensível condição humana, que continuará se
reproduzindo depois de uma eventual revolução redentora, que uma vez no
poder jamais se propões fazer uma nova revolução sobre si própria.

A história tem comprovado que, os revolucionários – de esquerda ou de


direita –, uma vez no governo, suspendem seu compromisso e coragem de
fazer autocrítica e sufocam todos aqueles que ousam criticar o novo sistema.

Assim como toda revolução tende a ser um acontecimento trágico onde a


própria revolução devora os próprios revolucionários, também a revolta pode
ser tomada pela loucura e fanatismo.

Porém, a revolta como concebe Camus, ela se torna positiva quando o revoltado
toma consciência da profundidade da sua afirmação ao dizer ‘não. A revolta
camusiana é positiva porque não nega a vida, mas sim, clama por uma existência
plena, digna e feliz.

Enquanto o revolucionário projecta sua causa num movimento social,


calculando uma ruptura drástica e explosiva, e projectando um tempo futuro
de transformação radical da sociedade onde todas as questões políticas e sociais
seriam totalmente resolvidas; já o sujeito revoltado, no seu cepticismo, entende
que as pessoas não melhoram sua subjectividade e nem se tornam virtuosas
depois de uma revolução, ainda que esta consiga efectivar uma
transformação radical na sociedade.

Portanto, a tragédia das revoluções, por um lado, consiste na incapacidade


de dar sentido a existência humana e de manter vivo o espírito revoltado;
também elas não conseguem evitar que os próprios revolucionários sejam
devorados pela marcha ensandecida do pós revolução.

3.25. O comunismo utópico


A obra de Herbert Marcuse, apesar da sua riqueza, representa, porém,
para o comunismo estabelecido, um novo avatar do esquerdismo.

São esquerdinos todos os que querem determinar a sua política conforme os


desejos e opiniões, segundo o grau de consciência e de preparação para a
ISCED-CURSO: História 20 Ano - Disciplina/Módulo: História das Ideias Politicas II
84

luta de um único grupo ou de u único partido, em completo


desconhecimento do conjunto de todas as forças, grupos, partidos ou
classes, das massas que actuam no país.

A utopia manifesta-se, em primeiro lugar, pela incerteza dos objectivos. Sendo


as novas formas da sociedade impostas pelas condições do momento, não
há no plano das ideias um projecto revolucionário" esquerdista.

O comunismo utópico é, assim, simultaneamente arcaico e exótico. Entretanto


algumas correntes do comunismo utópico foram:

O fourierismo - O comunismo utópico também regressa naturalmente às


"utopias de Fourier, revista por uma elaboração psicanalista a concepção de
instinto e de Eros " . Procura, com efeito, a grande lei, segundo a qual qualquer
sociedade deve ser organizada para se ajustar à harmonia do mundo, cuja
descoberta deve revolucionar as concepções da política e da moral. A
atracção universal que rege o mundo planetário deve exercer a sua forca no
mundo social; apresenta-se no homem sob a forma de paixão dominante,
felizmente, o legislador esforçou-se por travar o livre desenvolvimento das
paixões no homem, quando é necessário utilizá-las para permitir ao
indivíduo expandir-se numa sociedade feliz.

Os moralistas quiseram mudar o homem para o adaptar ao meio social,


quando este é obra do homem e é possível modificá-lo no sentido de o
adoptar às paixões, que são todas boas. Tudo pode servir: amor à desordem
e o amor propriamente dito.

Carles Fourier, para quem "o homem é feito para a felicidade e o mundo seria
incompreensível se a felicidade do homem não devesse realizar-se um dia" ,
pensa que o comunismo utópico assinala uma enorme desinibição erótica. A
Sorbonne de Maio leva uma vida de falanstério. "Todos os c idadão vivem em
comum num palácio cujos edifícios se agrupam em estrelas em voltado centro
Corredores abrigados e galeria de venda são as ruas desta estranha cidade.

O proudhónismo - através das suas reacção aos sistemas sociais com


pretensões cientificas, mas cuja exactidão não é confirmada pelos factos.

3.26. A diversificação do comunismo


Ao tornar-se uma nova testemunha da crise do socialismo, o comunismo
não deixou, de ser revolucionário aos olhos do esquerdismo. Continua a sê-lo,
no entanto, talvez mais por hábito e por estratégia politica do que por
verdadeira convicção, em relação as democracias constitucionais, que não
deixara, até a sua queda, de classificação de “capitalistas” e “imperialista”.
Mas perdeu a sua unidade, e os que continuam a reclama-la depois do
desabamento soviético vão esforçar-se por salvar as suas lições a partir de uma
diversidade contestada desde as origens.

Ao opor-se as posições de Kausty, Lenine tinha, com efeito, imposto a


instauração do comunismo numa economia atrasada. A partir desta base,
bastante afastada do marxismo inicial, uma nova ramificação vai a operar-se
rapidamente.

A URSS começou por querer ser o modelo: impunha a disciplina e endurecia as


suas teses. Mas, por não conseguir eternizar o concretamente, o
ISCED-CURSO: História 20 Ano - Disciplina/Módulo: História das Ideias Politicas II
85

reconhecimento da pluralidade de modelo, vias e formação de passagem ao


socialismo, resulta de três factores, alias, conexões e interdependente:

 As tradições históricas nacionais, politicas e espirituais, de cada povo;


 A presente estrutura, económica e social de cada país;
 A conjunta interna e externa no momento em que se efectua a
passagem.
Pode verificar-se ao mesmo tempo a “unicidade do marxismo, uma vez que o
mesmo método e os mesmos conceitos são aplicados em toda a parte, e a
pluralidade marxismo, pois os países que elaboraram as diversas práticas de
edificação do socialismo, teorizam-mas em doutrina igualmente diversificada”.

Mas, desaparecido o modelo único, passa-se progressivamente a uma


clivagem essencial, em função do nível de desenvolvimento económico.

3.27. Socialismo chinês


Mão tse-tung (18934-1976) teve sempre grande cuidado em não identificar a
sua causa com a do comunismo soviético.”Certamente, não lutamos pela
emancipação da China para entregar país o Moscovo”.

Este professor primário, filho, segundo a sua própria definição, “uma


mistura curiosa de liberalismo, reformismo democrático e socialismo
utópico”. O comunismo chinês, descende em linha recta do bolchevismo
como discípulo de Estaline, que proclama “fiel amigo da nação chinesa e do
povo da China na sua luta pela libertação. Tal como ao seu inspirador, a ditadura
não preocupa, uma vez pode recair sobre os laços do imperialismo, ou a
classe dos proprietários agrícolas ou capital burocrático, a fim de os esmagar
e só lhes permitir agir dentro de certos

limites, sem os ultrapassar por acções ou palavras.

O sistema democrático fica reservado ao povo, que beneficia da “liberdade de


palavra, de reunião e de organização. O direito de voto só e concedido ao povo
e não aos reaccionários”. Pois são “estes dois aspectos, democracia para o povo
e ditadura para os reaccionários, que constituem as ditaduras da democracia
popular”.

A vida chinesa, resumida em slogans no pequeno livro vermelho, apresenta


uma tripla particularidade: ao contrário das outras revoluções comunistas,
começa no campo para alcançar as cidades; aceita com entusiasmo os maiores
sacrifícios, se este apressar as mudanças desejadas; acha que a revolução não
deve parar e estabilizar, mas ser constantemente posta em causa, tanto no que
respeita aos seus dirigentes como nos seus resultados, devendo prosseguir a luta
de classe, mesmo em pleno socialismo, até se atingir a fase do comunismo.

Mas Tsé-tung acha, pelo contrário, que revolução cultural precede a


revolução económica.”A causa fundamental do desenvolvimento das coisas
e do fenómeno não e externa mas interna; encontra-se nas contradições
interna das coisas e dos próprios fenómenos”.

O socialismo de Tsé-tung é um esforço de educação, que depende


essencialmente do próprio povo, ao qual se pode para agir segundo a nova
moral, o que justifica a critica quotidiana de Confúcio. A revolução segundo
Mao Tsé-tung é um estado de espírito.
ISCED-CURSO: História 20 Ano - Disciplina/Módulo: História das Ideias Politicas II
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3.28. Socialismo cubano


Pelas origens e por muito dos seus traços, o catrismo liga aos movimentos
agrários que sacudiram a América hispânica, nomeadamente as revoltas
mexicanas de Pancho Villa e de Zapata.

Em 1960, Jean-Paulo Sartre, durante uma viagem a Cuba, considera a revolução


em curso como uma “revolução camponesa”de tipo Chinês. Num país onde
metade da população vive no campo, o núcleo revolucionário formou-se com
revoltados da classe médias (profissões liberais, intelectuais, estudante, etc),
possuidores de fé e coragem, mas de escassa formação ideológica.

Será este núcleo a cumprir, com o apoio dos camponeses, a primeira etapa
revolucionária: a da democracia contra a tirania de Baptista, que se opunha a
todas as reformas.

Fidel Castro começa por afirmar não somos comunistas … acreditamos que
o povo precisa de liberdade, de garantias individuais, de liberdade de empresa,
em fim, de todo os outros direitos do homem, mas que antes de mais tem
direitos a viver, a trabalhar e a comer decentemente …somos democratas
sinceros.

O verdadeiro revolucionário, escreve, não espera que a coincidência popular


esteja amadurecida para a revolução …A luta deve chegar primeiro, porque iria
criar a consequência revolucionária.

A revolução cubana, segundo chefe Che Guevara, não será jamais um satélite de
ninguém. Jamais poderia autorizar; pois foi a partir da sua própria experiência e
através de uma vias original que os revolucionário sul-americano aderiram ao
marxismo.

No esquema de Marx, o período de transição era concebido como o resultado


da transformação explosiva do sistema capitalista, dilacerado pelas suas
condições; mais tarde, fenómeno previsto por Lenine, deveriam destacar-se da
árvore imperialista os países que constituíam os ramos frágeis.

Os movimentos revolucionários só devem contar com ele próprio e adaptar-


se as condições particulares de cada país. É preciso, diz Fidel Castro,
“pensarmos pela própria cabeça em vez nos enganarmos com a cabeça alheia.
Mas e a própria esperança que se desvanece para o castrismo, que, depois de
ter tentado em vão evitar a instauração de uma ditadura de partido único,
se resignou a sua implantação efectiva.

Sumário
Para os revolucionários de esquerda todas as injustiças e desigualdades têm
como causa única as contradições concretas da sociedade capitalista, que
precisam sofrer uma ruptura pela acção dos homens, dentro do processo
histórico. Dentre as correntes utópic as fourismo Procura, com efeito,

a grande lei, segundo a qual qualquer sociedade deve ser organizada para se
ajustar à harmonia do mundo, cuja descoberta deve revolucionar as
concepções da política e da moral. Enquanto proudhonismo, a utopia
comunista fórmulas: fazer desaparecer, reabsorver, reduzir a nada, usar, incluir,
excluir o estado.
ISCED-CURSO: História 20 Ano - Disciplina/Módulo: História das Ideias Politicas II
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Mas, desaparecido o modelo único, a China apresenta uma tripla


particularidade: ao contrário das outras revoluções comunistas, começa no
campo para alcançar as cidades; em Cuba O verdadeiro revolucionário, escreve,
não espera que a coincidência popular esteja amadurecida para a revolução
…A luta deve chegar primeiro, porque iria criar a consequência revolucionária.

Exercícios
1. Qual é o significado que tem a revolta no pensamento existencialista de
Camus?

2. Qual é a visão da historia em relação ao espírito de revolta?

3. Faça comentário sobre os ideais das correntes utópicas.

4. Descreva aspectos fundamentais do socialismo que aprendeste.

Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO
Resolva os exercícios indicados.

Faça uma breve síntese da unidade em estudo.

Bibliografia básica
THIBAULT, Pierre, (1981) O período das ditaduras 1918-1947, Lisboa,
Publicações D. Quixote.
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TEMA XI: DEMOCRACIA LIBERAL

Democracia Liberal

Introdução

A democracia constituí necesariamente um despotismo, pois estabelece um


poder executivo contrário à vontade geral. Ser possível para todos decidir
contra um cuja opinião possa diferir, a vontade de todos, não é de todos, o
que é contraditório e oposto à liberdade.

Ao completar esta unidade / lição, tu serás capaz de:

Objectivos

 Caracterizar a essência da democracia constitucional;


 Analisar o princípio maioritário como aspecto fundamental da
democracia liberal;
 Explicar o princípio do estado constitucional tendo em conta o
relativismo democrático.

3.29. Deficiência do liberalismo político


O Liberalismo Político ganhou força no século XVIII, embora o início da formação
de suas ideias centrais remonte à transição do feudalismo para o capitalismo. O
chamado Estado Liberal começa a se formar devido a um contínuo e progressivo
desgaste do poder real e, por consequência, do modelo político absolutista.

Entende-se por Liberalismo Político o pressuposto filosófico de que os seres


humanos têm por natureza certos direitos fundamentais, como o direito à
vida, à liberdade e à felicidade. Cabe ao Estado respeitar, e não invadir esses
direitos. Ou seja, o liberalismo é uma doutrina que limita tanto os poderes
quanto as funções do Estado; os Estados teriam os poderes públicos regulados
por normas gerais e seriam subordinados às leis.

Foi uma perturbação económica que veio revelar esta crise do liberalismo, por
isso ela assumiu a princípio a aparência de um debate de especialistas que
confrontam as suas ideias acerca dos meios de remediar uma depressão
económica.

Os neoliberais afirmam que os princípios do liberalismo permanecem


absolutamente valido, mas que nunca foram aplicados de maneira satisfatória.
Basta pois, para vencer a crise que é acima de tudo económico, regressar ao
princípio do individualismo e da livre concorrência. Todo o mal vem das
intervenções do estado, que se mete onde não é chamado.

Defende desta forma a sociedade livre: Uma sociedade livre é aquela em que as
desigualdades da condição dos homens, das suas retribuições e das suas
posições sociais se não devem a causas extrínsecas e artificiais, a violência
física, a privilégio legais, a prerrogativas particulares, a fraude, a abusos e a
exploração. Lippmann contenta-se com afirmar que existe uma lei suprema,
superior presente em todos os povos civilizados. É graças a esta nova forma de
ISCED-CURSO: História 20 Ano - Disciplina/Módulo: História das Ideias Politicas II
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lei natural que poderá ser criada uma associação fraternal entre homens
livrem e iguais. Trata-se no fundo de saber se os

homens serão tratados como pessoas invioláveis ou como simples coisa das
quais se pode dispor

“.

3.30. A democracia constitucional


A democracia constitui necessariamente um despotismo, pois estabelece
um poder executivocontrário à vontade geral. Ser possível para todos
decidam contra um cuja opinião possa diferir, avontade de todos, não é de
todos, o que é contraditório e oposto à liberdade.

O termo democracia é, aparentemente, todos os conhecidos. Etimologicamente,


democracia significa poder popular, mas do ponto de vista filosófico de que a
democracia é o poder do povo, éum sistema sócio-político e econômico de
livres e iguais, não somente livres e iguais perante a lei, mas relações sociais na
vida cotidiana.

Considera-se a democracia não apenas como uma estrutura jurídica e do


regime político, mascomo um modo de vida fundado na constante
económica, social e cultural as pessoas ... a palavrademocracia , como é de
origem grega e significa literalmente" Estado, ou a dominação do povo.

Claramente, as pessoas não podem governar a si próprio, necessita sempre


de uma pessoa ou umpequeno número de pessoas que ditam as leis e
aplicá-las. O que se entende é que essa pessoa oupessoas que não são
proprietários, mas os representantes e servidores do povo, respeitar a
liberdade ea personalidade de cada um e todos os governados e se
esforçam para dar oportunidades iguais para cumprir sua vocação e
desenvolver sem obstáculos capacidades, enquanto eles estão dentro das leis
aceites por todos.

O princípio fundamental de que a soberania reside no povo. A forma como


isso se traduz no sistema político é o fato de que o povo elege seus
governantes, ao invés de ser de tais impostos sem consultar a sua vontade.

Por seu turno, a democracia liberal assenta em duas ideias fundamentais: a


igualdade de direitos e deveres, privilégios ou eliminar qualquer grupo de
censura, e de absentismo ou de trabalho para a expressão de idéias. Isso
trouxe dois problemas: o desaparecimento das pequenas comunidades para
formar a nação uma comunidade, eleitorais e de formar partidos políticos,
os eleitores sabem muito pouco sobre, mas o nome do eleito, e depois votação
para as partes mais que os homens; demodo que quando um programa de
jogo pode ser muito bom, não pode ser o eleito. Estedistanciamento entre
o eleitorado e a decisão é ainda mais agravada pelas populações enormes
dosestados modernos.

O segundo problema é que a liberdade total de expressão permite propaganda


desonesta e condice demagogia fácil, por outro lado, inteligente e organizada
de um grupo pode tomar a liberdade para convencer os eleitores que votam,
para depois estabelecer um regime não democrático, é uma forma de
ditaduras, e também aquele que abraçou o comunismo.
ISCED-CURSO: História 20 Ano - Disciplina/Módulo: História das Ideias Politicas II
90

Os países onde o comunismo tenha sido imposta chamar-se "democracias


populares". Como este é um pouco contraditório, porque, de acordo com
sua teoria, o primeiro período do comunismo é a "ditadura do proletariado",
que, por definição, não pode haver democracia. Quais são democráticos,
em termos de como é o procedimento de escolha, o princípio é muito
inteligente, como resolvido em uma parte dos problemas descritos acima:
as pequenas comunidades elegem um representante, o eleito e escolhido
para transformar um eles, e assim por diante, desta forma, as escolhas são
feitas sucessivas entre um pequeno número de indivíduos que se conhecem
uns aos outros. Somente os candidatos pertencem a um partido aceite pela
lei: a comunista. Em última análise, aqueles que dirigem o país são os líderes
do partido, e que o povo elege os indivíduos que são considerados mais capazes
de executar a parte que comanda absolutamente, cercear a liberdade de
expressão ou a ação fora esse programa.

No entanto, e como tem direito a este artigo de opinião, o "Estado


Democrático de Direito" é um termo cunhado por autores como Karl
Friedrich Krause e Karl Loewenstein, que usou para se referir a essas
democracias que são baseados em uma Constituição com a conteúdo
específico, substancial, isto é motivado pela razão que a palavra democracia
é usada pelos setores mais política oposta, de modo que criou certa confusão
quanto ao seu significado, por isso, é necessário clarificar o sentido e alcance.

Democracia Constitucional, tem as seguintes características ou elementos:

 A participação política;
 Os direitos fundamentais;
 O pluralismo político;
 Princípio da maioria;
 Organizacional separação de funções, e
 A representação política.
A participação política em uma democracia representativa , é expressa em
sufrágio universal, a possibilidade de ser eleito para um cargo público e de
acesso aos partidos políticos. Na democracia semi-direta é expresso nas
instituições deste sistema, como o referendo, plebiscito, ou revogação. A
democracia também implica a existência de liberdades e igualdades, é
necessário reconhecer, regular e garantir um conjunto de direitos
fundamentais ou essenciais e inerentes aos seres humanos.

O pluralismo é o resultado natural da liberdade humana, sendo capaz de


expressar seu pensamento por qualquer meio e agir como lhe aprouver para
a sua conclusão e pleno desenvolvimento, sem afetar a legalidade ou o
direito dos outros, o seu âmbito não é apenas individual, mas também
social. O princípio da maioria, a suposição de igualdade das vontades, que vale
mais que qualquer outro, e respeitar o que eles decidem a maioria dos
votos. A separação das funções organizacionais, tem a ver com a divisão
de poderes e da representação política, é através dos nossos representantes
eleitos.

3.31. O princípio maioritário


Em um plano de utopia, poderia imaginar-se que todas as decisões tomar-se-ão
por unanimidade, se dando lugar deste modo a uma identificação da vontade
estatal e dos governados. Mas de facto, na sociedade contemporânea, e com
liberdade real, a unanimidade é praticamente impossível, e como é necessário
ISCED-CURSO: História 20 Ano - Disciplina/Módulo: História das Ideias Politicas II
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que o debate das opiniões tenha termo, pois é preciso adoptar decisões e fazer
possível a função de governar, é imperativo ir ao que se denomina
Aceitação do princípio maioritário. Que se adopte como decisão e valha
como vontade estatal, a que reúna o maior

número de sufrágios.

Este princípio parte do suposto da igualdade das vontades das pessoas, de que
nenhuma tem um valor superior a outra. E sua fundamentação racional reside
em que este princípio permite reduzir ao mínimo a quantidade de pessoas que
possam discrepar da vontade estatal.

O conceito da maioria implica a existência de uma minoria. A maioria é


legítima, porque é resultado de um processo prévio de livre discussão das
ideias, e no que a minoria teve todas oportunidades para expor seus
planeamentos. Para a minoria a decisão da maioria não lhe resulta, já que a
impugnou no debate, e é esse debate, essa livre discussão, que tem devido
necessariamente ter um termo pelo imperativo de governar, o que faz
respeitável a decisão maioritária.

Mas a demais se legítima o princípio maioritário pela circunstância que a


democracia constitucional assegura à minoria sua existência livre, e a segurança
de que lhe debate só tem tido uma decisão provisória. Reabrir-se -á
sucessivamente depois da cada decisão, e em forma indefinida, de modo
que a minoria pode transformar-se em maioria e aceder ao governo se recebe a
confiança do eleitorado, configurando-se uma nova minoria que será oposição
do novo governo.

Por tanto, o princípio maioritário não é um valor em si, senão um procedimento


técnico, que se legítima mediante os limites indicados. A maioria pode ser
simples ou relativa, quando na pluralidade de votos é aquela que tem a
cifra mais alta. Atende-se só à pluralidade de votos expressados em favor
das diferentes opções, não ao total de votos emitidos.

3.32. Relativismo democrático


Graças ao mecanismo constitucional, a opinião soberana pode impor os pontos
de vista acerca do bem público. Mas não pode defini-lo apriori. Tem de partir
da sua descoberta, e a sua definição, uma vez adquirida, pode ser posta em
causa.

Surge então uma das críticas mais serias à democracia: o seu formalismo.
Nicolas Berdiaeff declara-a indiferente a direcção e a essência da vontade do
povo a quem, conhecendo-lhe apenas o princípio formal, põe acima de tudo e
não quer subordinar a nada.

O poder popular, é desprovido de objectivo, não este ordenado para


nenhuma finalidade. A democracia, acrescenta ainda, permanece indiferente
ao bem e ao mal. É o produto céptico de um século céptico.

O governo de opinião postula, a par da liberdade de opiniões e de igualdade na


sua expressão, um liberalismo para coma as pessoas que, no entanto, não
implica um reconhecimento de igual valor a todas as opiniões. Não põe em pé
de igualdade o erro e a verdade, por incapacidade de distinguir esta ou por gosto
mórbido de a confundir com aquele.
ISCED-CURSO: História 20 Ano - Disciplina/Módulo: História das Ideias Politicas II
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Muito pelo contrário, verifica que se a dignidade do homem reside


essencialmente na conformidade entre os seus actos e as suas crenças,
deve ser-lhe dada a possibilidade de uma opção para a qual, na realidade,
só dispõe da própria razão e da própria consciência. Escolha deveras ilusória,
se a liberdade jurídica não permitisse a rivalidade de opiniões. Logo, da
existência esta concorrência não se deve concluir que o governo
democrático assenta no relativismo filosófico, nem que desdenha os problemas
supremos e se mantém patologicamente indiferente ao bem e ao mal. Até se
pode acreditar que, elevando-se contra todo o absolutismo doutrinal, contra
todas as crenças abstractamente imposta ao indivíduo por autoridade
política, cuja tarefa e preocupação são inteiramente diferentes, o relativismo
democrático acaba por servir a busca pessoal da verdade moral e religiosa. Os
antigos filósofos gregos ensinaram-nos além disso que o bem comum é servido
precisamente através da influência de pessoas dotadas de clara visão moral e
de coragem. Desta forma, a acção política purifica-se dos interesses egoístas
ou das pressões.

Sumário
O princípio fundamental de que a soberania reside no povo. A forma como isso
se traduz nosistema político é o fato de que o povo elege seus governantes,
ao invés de ser de tais impostossem consultar a sua vontade. Graças ao
mecanismo constitucional, a opinião soberana pode impor os pontos de vista
acerca do bem público; Aceitação do princípio maioritário em democracia, faz
com que se adopte como decisão e valha como vontade estatal, a que reúna o
maior número de sufrágios. Este princípio parte do suposto da igualdade das
vontades das pessoas, de que nenhuma tem um valor superior a outra.

O governo de opinião postula, a par da liberdade de opiniões e de igualdade na


sua expressão, um liberalismo para coma as pessoas que, no entanto, não
implica um reconhecimento de igual valor a todas as opiniões.

Exercícios
1. Analise as dificuldades que emanam no liberalismo.

2. Caracterize a democracia constitucional.

3. A democracia liberal elimina qualquer grupo de censura, e de absentismo


ou de

trabalho para a expressão de idéias. Comente a afirmação

4. Qual deve ser o fundamento do estado mediante o relativismo democrático?

É claro que a Filosofia não trabalha com imposições. Uma máxima muito válida
na Filosofia é a de que o filósofo só aceita “a força do argumento, e não o
argumento da força”.

Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO
Resolva os exercícios indicados.
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Faça uma breve síntese da unidade em estudo.

Bibliografia básica
TOUCHARD, Jean (2003). História das ideias políticas. Vol I (Da Grécia ao fim da
idade média); vol II (Do renascimento ao iluminismo), vol III (Da revolução
americana ao Marxismo); Vol IV (Do liberalismo aos nossos dias); 3a edição,
Portugal: Europa - América.

PRÉLOT, Marcel e Lescuyer, Georges (2000). História das ideias políticas, Vol I
(Mundo antigo ao absolutismo; Vol II (Do liberalismo ao constitucionalismo
democrático), Lisboa: Editorial Presença
ISCED-CURSO: História 20 Ano - Disciplina/Módulo: História das Ideias Politicas II
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TEMA XII: DEMOCRACIA SOCIALISTA

Democracia Socialista

Introdução

Os dois pensadores da democracia numa sociedade socialista serão Jen


Jaurès e Léon Blum, manifestam que neste tipo de sociedade a democracia faz
parte a classe proletária, que se unem em função do bem comum de forma livre
para atingirem metas colectivas, movendo-se todos em direcção ao abandono
paulatino do sistema capitalista através da ditadura do proletariado.

Ao completar esta unidade / lição, tu serás capaz de:

 Descrever o contributo de Jean Jaurès para democracia socialista;


 Analisar a crítica de Jean Jauràs em relação ao Marx;
 Conhecer o pensamento político de Léon Blum face a democracia
Objectivos
Específicos

3.33. Pensamento político de: Jean Jaurés


Tendo estreado na política no centro esquerda, para em seguida passar ao
socialismo por idealismo, Jaurés nunca foi marxista. Ele não esta de acordo com
Marx sobre a necessidade e a implacabilidade da luta de classes. Declara
achar impossível que a certa altura, maiores capitalistas, os mais
colossalmente ricos… não fiquem assustados com a desproporção que
aenormidade da sua riqueza cria entre eles e os outros homens. É impossível
que o paradoxo destas fortunas desmesuradas…, ainda que não lhes
incomode a consciência, por vezes lhes não assombre a razão.

As grandes forças sociais, burguesia capitalista e proletariado, não podem


propagar a sua acção através deste meio turvo, complexo e desigual, só
podem um efeito de conjunto sobre a democracia e pela democracia se,
de algum modo, se adaptarem a situação das outras forças, opostas ou
insuficientemente favoráveis. Assim, necessariamente, pela força das coisas,
uma grande acção democrática é sempre uma transacção, ainda que no ponto
de origem do movimento para verificar-se intransigências das classes
antagónicas.

Entretanto, a ideia socialista do proletário age, pela sua sublimidade e pela sua
compreensão de uma democracia incerta, contra um capitalismo terrível, mas
enredado em inúmeras contradições. Graças a ela, o proletário transformado,
erguido ao papel da grande classe humana, ganha direitos sobre a democracia.

Afirma ainda que o estado, numa democracia não é exclusivamente um estado


de classe a sê-lo cada vez menos: o estado não exprime uma classe, exprime a
relação entre as classes, a relação de forças entre elas. Logo tem por função
manter, proteger as garantias de ordem e de civilização comuns a ambas as
ISCED-CURSO: História 20 Ano - Disciplina/Módulo: História das Ideias Politicas II
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classes, tornar eficaz o primado da classe que domina através da propriedade,


da luzes e da organização, e abrir a classe ascendente vias proporcionais ao seu
poder real, a forçae a amplitude do seu movimento de ascensão.

A democracia dá garantias as duas classes, ao mesmo tempo que se presta a


acção do proletariado num sentido de uma ordem nova. No grande conflito
social, é uma força moderadora.

A medida que o regime de uma nação vai sendo mais democrático, tornam-se
mais difícil o golpe de mão e as revoluções imprevisíveis e ocasionais. Em
primeiro lugar, o recurso a força para ser menos desculpável a consciência
comum quando todos podem exprimir livremente os seus agravos e
contribuir em pé de igualdade para o andamento dos assuntos públicos.
Depois as classes com posses estão informadas da amplitude do
descontentamento do povo, e as classes proletárias medem forças das
resistências e amplitudes dos obstáculos. Assim, a burguesia é

obrigada a concessões oportunas e o proletariado é desviado de revoltas


furiosas e vãs.

Por fim, convêm por tónica na organização do partido: com uma


argumentação e objectivos opostos, Jaures vai ao encontro de Lenine. Mas,
para agir em democracia parlamentar, é preciso integrar a representação
socialista numa maioria democrática, o que suscita o problema do
reagrupamento das tendências dispersas.

O partido unificado é, pois, a instituição adequada, graças a qual o socialismo


pode conservar-se, concentrar-se e expandir-se até conquistar a nação inteira.

3.34. Léon Blum


Léon Blum, que em 1919 sucede a Jean Jaures na direcção do partido socialista
unificado, declara ter recebido dele tudo o que pensa e é. Mas ao mesmo
tempo, perante a tribuna, confessa-se oprimido por algo mais forte que a
emoção pelo peso da admiração e da dadiva que nele era natural.

Léon Blum não recusa a priori a ideia de ditadura do proletariado, isto é, o livre
poder de um ou vários homens tomarem todas medidas exigidas por uma
situação concreta – mas pretender decidir antecipadamente da sua forma é
pura contradição.

No entanto, é possível fixar-lhe as duas características essências:

 Ditadura exercida: por um partido assente na vontade e na liberdade


populares, na vontade das massas, trata-se de uma ditadura
impessoal e não de uma ditadura exercida por um partido
centralizado, onde toda a autoridade aumenta de degrau em degrau e
acaba por se concentrar nas mãos de um comité, visível ou oculto.
Ditadura de um partido, sim, ditadura de um partido, sim, ditadura de
uma classe, ditadura de alguns indivíduos, conhecidos e desconhecidos.
 Ditadura provisória: admitimos a ditadura se conquista dos poderes
público, não for levada a cabo como um fim em si, independente das
circunstâncias de toda a espécie que permitiriam, num espaço de
tempo a transformação revolucionária. Mas se pelo contrario, a
conquista do poder for encarada como um fim imediato se
contrariamente a toda a concepção marxista da historia, se entender
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que é único procedimento capaz de preparar essa transformação, sobre


a qual nem a evolução capitalista, nem o nosso trabalho de
propaganda teria efeito, e se por conseguinte, há necessidade de uma
distancia demasiada grande e de um lapso de tempo quase infinito entre
a tomada do poder, condição, e a transformação revolucionaria, fim,
então não estamos de acordo. Moscovo conta com a ditadura do
proletariado para trazer as transformações revolucionárias através
de uma espécie de maturação forçada, independentemente da
anterior evolução económica do país.

A ditadura do proletariado já não é aquele expediente fatal a que todos


os movimentos revolucionários recorrem necessariamente a seguir a vitória.
É um sistema de governo criado de uma vez para sempre.

Tendo recusado a solução soviética, Leon Blum insiste nas duas possibilidades
tradicionalmente discutidas pelo socialismo francês: a hipótese da conquista
total do poder e a táctica reformista da participação ministerial.

A conquista do poder é a revolução política propriamente dita. Põe nas mãos da


classe operária a maquinaria do estado, com vista a transformação social.
Exige para ser eficaz e duradoira, a capacidade do proletariado e o carácter
revolucionário da situação.

Pode situar-se por meios violentos, mas de preferência por meios legais.
Em qualquer caso, implica uma ruptura com a ordem anterior e uma fase
da transição ditadura do proletariado no sentido restrito que Leon Blum dá a
expressão ou simplesmente férias da legalidade. A participação no poder
consiste, pelo contrário na detenção consentida e controlada pelo partido, de
uma ou várias pastas num ministério burguês. Ora em 1925-26 Leon Blum e
a maioria dos partidos consideram que não estão preenchidas as condições
para a conquista e que nos tempos mais próximos, há poucas hipóteses de que
isso aconteça.

O erro do partido comunista é de acreditar na possibilidade imediata e na


eficácia actual da conquista do poder. Por outro lado, a participação tem
contra si a moção de Amesterdão, e na sequência do caso Millerand, toda a
tradição socialista francesa. Caiu em descrédito por causa das experiências
ministeriais da guerra, que constituíram um dos factores mais importante
da deslocação do partido. Independentemente das dificuldades resultantes
do carácter da acção socialista, a participação no estado actual do partido e no
conjunto de circunstâncias política, só poderia lesar os interesses dos
trabalhadores e do próprio socialismo, sem por outro lado facilitar em caso
algum e em medida alguma tarefa de um governo democrático.

Leon introduz uma distinção capital que se tornara clássica no partido, mas que
no exterior não foi bem compreendida. Ao lado da conquista do poder, que seria
o fim do regime capitalista distingui em exercício de poder, no qual o partido
assume a direcção do governo dentro do capitalismo.

Sumário
Jaurès numa a transformação progressiva, em plena democracia e graças a
democracia, do regime capitalista em regime socialista ou seja, uma sociedade
ISCED-CURSO: História 20 Ano - Disciplina/Módulo: História das Ideias Politicas II
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onde o trabalho será soberano, onde não haverá opressão, nem exploração,
onde os esforços de todos serão livremente harmonizados, onde a propriedade
social será a base e a garantia do desenvolvimento individual.

Léon Blum afirma que o livre poder de um ou vários homens tomarem todas
medidas exigidas por uma situação concreta, por um partido assente na
vontade e na liberdade populares, na vontade das massas, trata-se de uma
ditadura impessoal e não de uma ditadura exercida por um partido
centralizado.

Exercícios
1. Jaurés nunca foi marxista. Ele não estava de acordo com Marx sobre a
necessidade e a implacabilidade da luta de classes. Justifica a afirmação.

2. Léon Blum não recusa a ideia de ditadura do proletariado, mas pretender


decidir antecipadamente da sua forma é pura contradição. Comente a
afirmação.

Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO
Resolva os exercícios indicados.

Faça uma breve síntese da unidade em estudo.

Bibliografia básica
TOUCHARD, Jean (2003). História das ideias políticas. Vol I (Da Grécia ao fim da
idade média); vol II (Do renascimento ao iluminismo), vol III (Da revolução
americana ao Marxismo); Vol IV (Do liberalismo aos nossos dias); 3a edição,
Portugal: Europa - América.
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TEMA XIII: DEMOCRACIA RADICAL

Democracia Radical

Introdução

A democracia radical teve como precursores Renouvier e Léon Bourgeois, que


comungam o ideal da liberdade do homem na sociedade, uma vez que a
sociedade é feita de regras e dentro da regra social a liberdade é imprescindível
para a pessoa humana, pois o homem já nasce livre, esta concepção deve ser
mantida nas relações políticas sociais.

Ao completar esta unidade / lição tu serás capaz de:

 Explicar o pensamento de Charles Renouvier em relação a liberdade do homem;


 Identificar os elementos fundamentais de Léon Bourgeois no meio social humano.
Objectivos
Específicos

3.35. Pensamento político de: Charles Renouvier


Renouvier foi o primeiro francês a formular um sistema completo de idealistas,
e teve uma grande influência sobre o desenvolvimento do pensamento francês.
Seu sistema é baseado em Immanuel Kant, como seus escolhidos termo neo-
criticismo indica, mas é uma transformação ao invés de uma continuação do
kantismo, lança bases a um pensamento político que deveria, a princípio,

contemplar o indivíduo como valor máximo, sem excluir, contudo, o sentido de


sociedade como valor necessitante, ou melhor, indivíduo e sociedade não
são pensados como constituições antagónicas ente si, mas que revelam
nessa associação o plano social como pano de fundo de realização do
indivíduo, obviamente orientado pelo dever como um valor a ser perseguido
no combate ao atomismo individualista.

A insistência sobre a validade da experiência pessoal Renouvier leva a uma


divergência ainda mais importante a partir de Kant em seu tratamento da
volição. Liberdade, diz ele, em um sentido muito mais amplo do que Kant, é
característica fundamental do homem. A liberdade humana actua na
fenomenal, não em uma esfera imaginária. A crença não é meramente
intelectual, mas é determinado por um acto de vontade, afirmando o que temos
de ser moralmente bom.

A liberdade é o ponto essencial que faz do homem um ser cultural. A


liberdade permite que o homem consiga aquilo que os demais animais
ISCED-CURSO: História 20 Ano - Disciplina/Módulo: História das Ideias Politicas II
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conseguem mediante aos instintos. Ao contrário dos animais, o homem não


nasce quase pronto para instintivamente sobreviver. Nele, isso de
desenvolve gradual e livremente. "Na liberdade confluem as melhores
energias do homem, que são o conhecimento e a vontade. O acto livre não é
um acto cego, instintivo, todavia, é um acto da vontade iluminada pela razão.

No seu ponto de vista religioso sustenta que estamos racionalmente


justificados em afirmar imortalidade humana e à existência de um Deus
finito, que é para ser um governante constitucional, mas não um déspota,
sobre as almas dos homens. Ele, no entanto, refere o ateísmo como preferível
a uma crença numa divindade infinita.

Desagrado Renouvier do incognoscível também o levou a pegar em armas contra


a noção de um infinito real. Ele acreditava que uma soma infinita deve ser um
nome de algo incompleto. Se alguém começa a contar, "um, dois, três..."
Nunca há um momento em que um tem o direito de gritar "infinito"! Infinito é
um projecto, nunca um fato, na opinião neocritical.

Personalismo, é um neologismo formado pelo filósofo Charles Renouvier e que


é um conjunto de doutrinas morais e políticas que fazem da pessoa o mais
alto de todos os valores. São os seus principais representantes: Max Scheler,
Martin Buber, Emmanuel Mounier e Paul Ricoeur.

O personalismo, assenta sobre um certo número de postulados: A pessoa é a


origem de todos os valores; A comunidade (ou pessoa comum) é tão originária
como a pessoa: a reciprocidade das consciências é primeira em relação ao
sentimento da individualidade; O respeito e a valorização da pessoa constituem
o melhor escudo contra qualquer irracionalismo mortífero e contra qualquer
tentação totalitária.

A princípio, a ideia de uma pessoa individualizada oferece certo status de


superioridade, de liberdade e de segurança. O capitalismo favorece essa ideia
demonstrando que o indivíduo. Desse modo, perde-se até mesmo o real sentido
da vida. A sociedade entra em grande contradição, principalmente quando
indica os direitos humanos como sendo invioláveis, e ao mesmo tempo
desvalorizando a vida e outros valores que são fundamentais para a pessoa
humana.

13.4. Alfred Fouillé

Fouillé propõe – se harmonizar as contradições entre o liberalismo e o


socialismo no interior do sue próprio partido e conciliar as duas grande forças
contemporâneas, o método cientifico e a ideia moral, subordinando a segunda
as forças económica analisadas pela primeira.

Na sociedade, todo o povo tira proveito da civilização e goza do património


comum. Esta situação, obriga os participantes beneficiário a contribuir para
o pagamento dos encargos colectivos, a participar na troca de serviços, a dar
o seu contributo para o progresso. Destes simples factos, facilmente
observáveis, extrai o socialismo uma obrigação jurídico -moral.

O facto social gera um crédito social. Cada membro da sociedade, tirando


proveito da civilização e gozando do património comum, é ao mesmo tempo um
participante beneficiário e um associado, obrigado ao pagamento da parte que
lhes cabe nas dívidas.
ISCED-CURSO: História 20 Ano - Disciplina/Módulo: História das Ideias Politicas II
100

Sublinhar que o estado de sociedade é involuntário. O autor mostra que nem


todas obrigações são contratuais. Algumas nascem da natureza, como diziam os
romanos. Apesar disso, vinculam tanto como se resultam de um contrato. Por
isso se lhe dá o nome de quase - contracto. É esse o carácter da relação entre o
indivíduo e a totalidade dos membros reunidos em sociedade e também com
aqueles – chefes eleitos, tradicionais ou mesmo usurpadores, que tem encargo
de governar.

Os governos que gerem, com ou sem mandato, a empresa social por conta da
colectividade não só tem um direito moral ao reconhecimento e ao respeito,
mas possuem também um verdadeiro crédito, exigível em nome da
sociedade, por força de uma obrigação natural que faz com que todos
devam concorrer para os encargo s da associação e para assegurar a sua
continuidade.

A ideia de contrato social de Rousseau, hipótese racional e não verificação


histórica, é substituídapela noção de um quase contrato social, muito mais
plausível, pois que existe sem convenção prévia. É, em si, o equivalente do
acordo que se teria estabelecido previamente entre os homens se estes
tivessem podido ser igual e livremente consultados. A dívida social nasce do
quase contrato

de associação como de um contrato retroactivo consentido. Poderá e


devera ser legitimamente sancionado.

Deste modo, é possível conservar o pressuposto individualista de 1789 e levar


muito mais longe o liberalismo. Reconhece-se que a liberdade é tão
necessária ao desenvolvimento da sociedade como ao progresso do
indivíduo, o único limite que se lhe impõe é o direito de outrem, mas
verifica-se que em virtude de só existir graças ao meio social e a civilização, o
seu gozo não pode ser gratuito. Uma obrigação natural nasce para cada um do
quase – contrato de sociedade que obriga reciprocamente os associados. O
pagamento da divida quase contratual tem fundamento jurídico, pelo que é
susceptível de ser sancionado.

Sumário
Charles Renouvier afirma que a liberdade permite que o homem consiga aquilo
que os demais animais conseguem mediante aos instintos, na liberdade
confluem as melhores energias do homem, que são o conhecimento e a
vontade. O acto livre não é um acto cego, instintivo, todavia, é um acto da
vontade iluminada pela razão.

Alfred Fouillé reconhece que a liberdade é tão necessária ao desenvolvimento


da sociedade como ao progresso do indivíduo, o único limite que se lhe impõe é
o direito de outrem, mas verifica-se que em virtude de só existir graças ao meio
social.
ISCED-CURSO: História 20 Ano - Disciplina/Módulo: História das Ideias Politicas II
101

Exercícios
1. Caracterizar o pensamento de Charles Renouvier tendo em conta a
inserção social do homem na sociedade.

2. Debruce nos ideais de Renouvier sobre o personalismo.

3. Alfred Fouillé sublinha que o estado de sociedade é involuntário, mostra que


nem todas obrigações são contratuais. Faça comentário

Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO
Resolva os exercícios indicados.

Faça uma breve síntese da unidade em estudo.

Bibliografia básica
TOUCHARD, Jean (2003). História das ideias políticas. Vol I (Da Grécia ao fim da
idade média); vol II (Do renascimento ao iluminismo), vol III (Da revolução
americana ao Marxismo); Vol IV (Do liberalismo aos nossos dias); 3a edição,
Portugal: Europa - América.

16. PRÉLOT, Marcel e Lescuyer, Georges (2000). História das ideias políticas, Vol
I (Mundo antigo ao absolutismo; Vol II (Do liberalismo ao constitucionalismo
democrático), Lisboa: Editorial Presença
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TEMA XIV: DEMOCRACIA CRISTÃ

Democracia Cristã

Introdução

Durante a idade média a religião vai dominar todas as áreas cultura,


política, e ate economia, durante a idade moderna esta vai reduzir o seu
domínio.

A democracia remonta desde a antiguidade grega, no que compreende a


democracia cristã, começa pouca mais se usar o temo a partir do século XVIII,
existindo a primeira e segunda democracia cristã, que preocuparam-se com
a integridade da religião e a integridade humana na sociedade.

Ao completar esta unidade / lição, tu serás capaz de:

 Conhecer o programa da democracia cristã;


 Diferenciar a primeira democracia cristã da segunda democracia cristã;
 Explicar a despolitização da democracia cristã;
 Descrever a democracia de inspiração cristã
Objectivos
Específicos

3.36. Programa político da democracia cristã


No âmbito da democracia cristã, evidenciou-se duas democracias, tendo a
primeira democracia compreendido no seu programa a luta pela liberdade
religiosa e pela liberdade de ensino, ou noutros casos a luta contra o
protestantismo.

Os ataques dos movimentos reformadores e as novas condições da vida


política faziam insuficientes as formas tradicionais de defesa dos interesses e da
liberdade da Igreja.

A encíclica "Rerum Novarum" do Papá Leão XIII (1891), que pretendia


constituir uma resposta cristã para a questão social, fez com que se
concretizasse a adesão a democracia e ao liberalismo político, nascendo assim a
segunda democracia cristã.

Na democracia cristã afirma-se que o verdadeiro regime democrático é o


do governo do povo organizado, no plano político este exige:

 Representação nacional e proporcional dos interesses profissionais;


 A descentralização com liberdade das comuns na gestão do
orçamento, na administração da escola, dos serviços de beneficência,
dos hospícios e hospitais e da assistência medica;
 A autonomia das províncias da unidade governamental;
ISCED-CURSO: História 20 Ano - Disciplina/Módulo: História das Ideias Politicas II
103

 Representação económica: regional de agricultura, de comércio, do


trabalho e das profissões liberais;
 A organização profissional: sindicatos profissionais em todos os
sectores do trabalho, grande indústria, oficiam, agricultura, etc.
Personalidade civil completa: direito de posse imobiliária para os
sindicatos. Federação local, regional e nacional dos sindicatos.
 Os sindicatos têm por objectivo todas as questões profissionais, e em
especial:
 A fixação do concreto de trabalho e a determinação de todas as
condições do contrato que digam respeito ao capital e ao trabalho
(taxa salário, duração e condições do trabalho, admissão e
despedimento dos operários, aprendizagem e instrução profissional,
regulamentação da produção), criação de instituições económicas e
profissionais, caixas de reforma, de segurança e de credito mutuo
geridas pelos sindicatos, conselhos de fabricas e comissões
permanentes de arbitragem compostas por delegados dos patrões e
dos operários.
 A legislação social completa a acção sindical: salário mínimo,
descanso domínio, horário máximo, supressão do trabalho nocturno,
excepto nas fábricas em elaboração contínua, proibição da presença de
mães de família nas oficinas industriais e limitações do trabalho das
raparigas, seguro obrigatório, legislação internacional do trabalho,
desenvolvimento das cooperativas de consumo e de produção,
participação nos lucros, cessação da liberdade ilimitada do comércio.
No fundo, este programa realiza a conjugação das instituições da democracia
constitucional com organizações social que mais tarde caracterizara o populismo
democrático.

3.37. A despolitização da democracia cristã


O leão XIII inquieta-se com o desenvolvimento que o espírito de classe começa
a ter. já em 1897, num discurso aos operários franceses, o papa tinha fixado
como base para a sua aprovação, não só a justificação de facto de epíteto cristã
aposto a democracia, mas também o reconhecimento, como justa e necessária
da diversidade de classes e de situação.

Entretanto o emprego de terra “a democracia” para designar o sistema de


organização política excede as intenções do papa. Depois do catolicismo se
desligar das formas monárquicas e das concepções autoritárias, o papa, está
fora da intenção do papa levá-lo a contrair novas alianças não menos
contingentes. Daí a pouco, convida os católicos a só falar da democracia
cristã, para designar obras especificamente sociais que exerçam uma acção
cristã de beneficência junto do povo. Assim a encíclica de Communi (18 de
Janeiro de 1901) vai retirar a excepção política à noção de democracia cristã,
por um espaço de mais de 40 anos.

A própria expressão cai em desuso, é substituída por acção popular (subtendida


como cristã), que serve de insígnia ao centro de estudo e propaganda. Mas
há quem lhe prefira a designação catolicismo social que passa a ter aplicação
mais corrente.

A expressão perde o significado revolucionário para abarcar, num vasto


conjunto politico, uma pequena fracção da direita anárquica, distinta da acção
francesa, Neste contexto o Movimento Social Cristão ou Movimento Cristão
Social, teve o seu início em meados do Século XIX, nas obras de vários
ISCED-CURSO: História 20 Ano - Disciplina/Módulo: História das Ideias Politicas II
104

doutrinários cristãos (ex: Henri de Saint Simon, Lamennais, Albert de Mun,


Frederick Denison Maurice, Charles Kingsley , Thomas Hughes, Frederick
James Furnivall, Adin Ballou e Francis Bellamy).

Estes escritores propunham um socialismo novo, baseado nos ideais do


cristianismo, oposto à luta de classes e ao ateísmo, mas preocupado com as
reivindicações das classes pobres e trabalhadoras, propondo um governo mais
justo e uma sociedade mais equilibrada. Este novo socialismo, afastado do
materialismo marxista, defende as organizações sindicais, as lutas dos
trabalhadores em prol de melhores condições de trabalho e de vida e a justiça
social.

3.38. Democracia de inspiração cristã


O grupo, Lacordaire Ozanam, que se dá o nome de primeira democracia cristã,
expressão esta que, alias tinha sido usada pela primeira vez logo em 1791 pelo
bispo de Lyon, mas que foi consagrada e oficialmente lançada por Ozanam.

O que caracterizava as ideais deste grupo: primeiro a não exigência da separação


entre a igreja e o estado, pelo contrário preconizavam o entendimento cordial
entre o poder civil e o poder espiritual, para a manutenção pacifica d
regime do contracto; segundo a expressão sincera da democracia e do
liberalismo político; terceiro uma grande prioridade a situação dos pobres e a
melhoria do seu bem-estar e das suas melhores condições de vida.

É significativa a expressão publicada na ere nouvelle toda gente vê que a


França duas forças o povo de Jesus Cristo, se elas se dividirem estamos
perdidos: se se entendem estamos salvos. Estas forças podem entender-se se a
igreja respeitar as vontades gerais da nação e se nação respeitar as leis
tradicionais da igreja, se a igreja trabalhar para o bem da nação e se a nação
consentir o bem da igreja.

No entanto a segunda democracia cristã vai albergar numerosos católicos


sociais, intelectuais e sindicalistas que até então não se haviam empenhado
na vida política, mas que lamentava os limites fatais de uma acção puramente
social.

A democracia cristã, procurou adoptar o popular, pois tinha a vantagem


de ligar a construção societária da democracia constitucional à noção
comunitária de um povo organizado.

Como qualquer democracia autêntica, o populismo reconhece o primado


da pessoa humana, a respeitar as suas escolhas através das numerosas
encíclicas e pronunciamentos dos Papas, a Doutrina Social da Igreja aborda
vários temas fundamentais, como a pessoa humana, sua dignidade, seus
direitos e suas liberdades; a família, sua vocação e seus direitos; inserção
e participação responsável de cada homem na vida social";

O personalismo democrático afirma progressivamente a sua originalidade,


transformando-se em individualismo. O individualismo do estado liberal dirige-
se a uma população encarada como um meio social, o corpo social resulta da
agregação dos indivíduos por consentimento unânime. A base do estado
popular é muito pelo contrário, a pessoa viva no seio de um povo, unidade
préformada, nação natural composta por famílias, associações, profissões,
comunidades espirituais e intelectuais.
ISCED-CURSO: História 20 Ano - Disciplina/Módulo: História das Ideias Politicas II
105

Não deve o estado interferir no corpo social e na sociedade civil além do


necessário. Por outro lado deve o estado exercer actividade supletiva quando o
corpo social, por si, não consegue ou não tem meios de promover determinada
actividade, como também deve o estado intervir para evitar situações de
desequilíbrio e de injustiça social.

Os Sindicatos devem ser instrumentos de solidariedade entre os


trabalhadores e são um factor construtivo da ordem social. A acção sindical
deve ser voltada para o bem comum. Não se admite o ódio de classes e luta para
a eliminação de outrem. Trabalho e Capital são indispensáveis para o processo
de produção. A doutrina social não pensa que os sindicatos sejam somente o
reflexo de uma estrutura de classe da sociedade, como não pensa que eles
sejam o expoente de uma luta de classe, que inevitavelmente governe a vida
social.

Exigência inseparável da dignidade da pessoa humana, sobretudo em matéria


moral e religiosa.

Este direito deve ser reconhecido civilmente e protegido nos limites do bem
comum e da ordem pública. O exercício da liberdade não implica o direito de
dizer e fazer tudo. É falso pretender que o homem, sujeito da liberdade, se
baste a si mesmo tendo por fim a satisfação de seu próprio interesse no
gozo dos bens terrenos.

Contudo, segunda democracia aceita a democracia no sentido escolástico, a qual


constitui um tipo de governo político classicamente reconhecido como legítimo,
um regime misto é segundo Tomás de Aquino o melhor regime político, que as
condições históricas actuais reclamam.

Sumário
A primeira democracia cristã surge com o grupo Lacordaire Ozanam, que
reivindicavam a não exigência da separação entre a igreja e o estado, pelo
contrário preconizavam o entendimento cordial entre o poder civil e o poder
espiritual, para a manutenção pacífica d regime do contracto; enquanto a
segunda democracia cristã esta adquiriu um carácter político preconizando
mais o aspecto da sociedade, apelando o papel do estado no apoio ao indivíduo,
o sindicato como o bem para melhorar a comunidade laboral.

Exercícios
1. Explique o processo de transição da democracia cristã, no que diz respeito
a primeira e a segunda democracia cristã?

2. Explique as razões da despolitizar a democracia cristã

3. Qual é o papel da democracia de inspiração cristã na arena social e politica?

4. Faça análise da religião, olhando para a sociedade onde vives no tocante


aos aspectos ou contributo da moral.

Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO
Resolva os exercícios indicados.

Faça uma breve síntese da unidade em estudo.


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Referências Bibliográficas
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5. CARPINTIER. Jean e LEBRUN. François; História da Europa, 3ª ediçao, Lisboa: editora Estampa,
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6. KI-ZERBO, Joseph. História da África Negra Vol II. 3ª ed. Publicações Europa - América, 1972.
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camponeses na construção do mundo moderno, Lisboa, Edições Cosmos.
9. PRELOT, M.; Lescuyer G. História das Ideias Políticas. Vol.II. Lisboa: Editorial Presença, 2001
11. READER, John. África Biografia de um Continente. Mira Sintra – EuropaAmérica, 1997.
12. RECAMA, Dionísio Calisto. História de Moçambique, África e Universal . Maputo: Faculdade
de direito - UEM, 2006.
13. REZENDE, António Paulo e DIDIER, Maria Thereza. Rumo da História Geral e do Brasil. Actual
Editora. Lisboa. 2001
14. THIBAULT, Pierre, (1981) O período das ditaduras 1918-1947, Lisboa, Publicações D. Quixote.
15. TOUCHARD, Jean (2003). História das ideias políticas. Vol I (Da Grécia ao fim da idade média); vol
II (Do renascimento ao iluminismo), vol III (Da revolução americana ao Marxismo); Vol IV (Do
liberalismo aos nossos dias); 3a edição, Portugal: Europa - América.
16. PRÉLOT, Marcel e Lescuyer, Georges (2000). História das ideias políticas, Vol I (Mundo antigo ao
absolutismo; Vol II (Do liberalismo ao constitucionalismo democrático), Lisboa: Editorial Presença.

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