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MUNICÍPIO DE SÃO FILIPE

ILHA DO FOGO

PLANO DIRECTOR MUNICIPAL

CARACTERIZAÇÃO,
DIAGNÓSTICO E ANÁLISE
SWOT

Junho de 2011
Plano Director Municipal de São Filipe -

Índice
Introdução .......................................................................................................................................... 6

1.CONDICIONANTES SÓCIO-ECONÓMICAS ..................................................................... 9

1.1 Processo Histórico de Ocupação ........................................................................................ 9

1.2. Enquadramento do Município ........................................................................................... 12

1.3. Aspectos Demográficos ...................................................................................................... 13

Grupos Funcionais e Índices Resumo ................................................................................................... 19


 Projecção e Evolução da População
1.4 Educação.................................................................................................................................. 28

1.5 Saúde ......................................................................................................................................... 34

1.6 Meios e Subsistência e Acesso aos Bens e Serviços ................................................ 39

1.7 Emprego e Desemprego ...................................................................................................... 40

1.8 Actividades Economicas ...................................................................................................... 43

1.8.1Pesca ....................................................................................................................................... 48

1.8.2 Agricultura ............................................................................................................................. 50

1.8.3 Pecuária ................................................................................................................................. 58

1.8.4 Silvicultura ............................................................................................................................. 59

1.8.4 Comércio e Serviços .......................................................................................................... 61

1.8.5 Agro-Indústria....................................................................................................................... 62

1.8.6 Turismo .................................................................................................................................. 63

1.9 Aspectos Culturais ................................................................................................................. 74

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Caracterização e Diagnóstico
Plano Director Municipal de São Filipe -

2. FÍSICO-TERRITORIAIS
2.1 Aspectos Gerais da Morfologia Urbana........................................................................... 79

 Uso do Solo............................................................................................................................ 82

 Património Histórico–Arquitectónico ......................................................................... 85

Questões Estruturais ................................................................................................................................... 87


Questões Sectoriais
Abastecimento de Água............................................................................................................... 91

Saneamento .................................................................................................................................... 93

Resíduos Sólidos ........................................................................................................................... 94

Lixo ..................................................................................................................................................... 96

Energia .............................................................................................................................................. 99

Recursos Paisagísticos.............................................................................................................. 101

Habitação ....................................................................................................................................... 103

Desporto, Lazer e Áreas Verdes............................................................................................. 105

Abastecimento Alimentar .......................................................................................................... 106

Segurança...................................................................................................................................... 107

Indústria .......................................................................................................................................... 108

Transporte colectivo.................................................................................................................... 109

Turismo ........................................................................................................................................... 110

3. FÍSICO-AMBIENTAIS
3.1 Aspectos Geográficos, Geomorfológicos e Geotectónicos ..................................... 111

Declividade do Terreno no Concelho de São Filipe ................................................... 118

3.2 Vocação Territorial ............................................................................................................... 120


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Caracterização e Diagnóstico
Plano Director Municipal de São Filipe -

3.3 Flora e Fauna ........................................................................................................................ 122

3.5 Clima ........................................................................................................................................ 129

7 – Bibliografias consultadas
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Índice dos Quadros
QUADRO 1- EVOLUÇÃO DA POPULAÇÃO RESIDENTE, CABO VERDE E S. FILIPE ...................................................................... 14
QUADRO 2 - EVOLUÇÃO DA POPULAÇÃO DE S. FILIPE (1970-2010) ................................................................................. 14
QUADRO 3 - TAXAS MÉDIAS (%) DE CRESCIMENTO DEMOGRÁFICO NO CONCELHO DE S. FILIPE (1970 – 2010) ........................ 15
QUADRO 4 - EVOLUÇÃO DA POPULAÇÃO RESIDENTE EM CABO VERDE, ILHA DO FOGO E NO CONCELHO DOS S. FILIPE (1940 –
2010) ......................................................................................................................................................... 15
QUADRO 5 - DISTRIBUIÇÃO DA POPULAÇÃO POR LUGARES DE RESIDÊNCIA EM 2000............................................................ 16
QUADRO 6 - EVOLUÇÃO DA POPULAÇÃO DO MUNICÍPIO SEGUNDO AS PRINCIPAIS LOCALIDADES-1970-2000 ........................... 17
QUADRO 7 - DISTRIBUIÇÃO DA POPULAÇÃO RESIDENTE POR SEXO E GRUPO ETÁRIO EM 2000 ............................................... 17
QUADRO 8 – GRUPOS FUNCIONAIS NO MUNICÍPIO DE S. FILIPE ........................................................................................ 21
QUADRO 9 – ÍNDICES DE DEPENDÊNCIAS NO MUNICÍPIO DE SÃO FILIPE .............................................................................. 23
QUADRO 10 – ÍNDICES DA DINÂMICA POPULACIONAL ..................................................................................................... 24
QUADRO 11 - 1º CENÁRIO - CRESCIMENTO LENTO (0.8%.A.A) ........................................................................................ 26
QUADRO 12 - 2-º CENÁRIO - CRESCIMENTO MÉDIO (PROJECÇÃO DO INE E CÁLCULOS) ........................................................ 26
QUADRO 13 - 3º CENÁRIO - CRESCIMENTO RÁPIDO ( 2,5% AO ANO) ................................................................................ 27
QUADRO 14 - INDICADORES DA EDUCAÇÃO NO CONCELHO DE S. FILIPE ............................................................................. 28
QUADRO 15 - NÚMERO DE JARDINS E EFECTIVOS 2008/2009 ........................................................................................ 29
QUADRO 16 - DISTRIBUIÇÃO DOS ALUNOS E TURMAS DO ENSINO BÁSICO INTEGRADO (ANO LECTIVO 2008/2009) .................. 30
QUADRO 17 - DISTRIBUIÇÃO DOS ALUNOS E TURMAS DO ENSINO SECUNDÁRIO (ANO LECTIVO 2008/2009) ........................... 30
QUADRO 18 - DISTRIBUIÇÃO DOS INSCRITOS PARA A FORMAÇÃO PROFISSIONAL, POR CONCELHO EM 2008 .............................. 31
QUADRO 19 - DISTRIBUIÇÃO DOS INSCRITOS PARA A FORMAÇÃO PROFISSIONAL, POR FREQUESIA EM 2008 .............................. 31
QUADRO 23 - PESSOAL DO HOSPITAL REGIONAL, 2009)................................................................................................. 36
QUADRO 24 - INFRA-ESTRUTURAS DE SAÚDE ................................................................................................................ 37
QUADRO 26 - TAXA DE ACTIVIDADE NO CONCELHO DE S. FILIPE....................................................................................... 41
QUADRO 27 - TAXA DE DESEMPREGO NO CONCELHO DE S. FILIPE..................................................................................... 41
QUADRO 28 - TAXA DE DESEMPREGO NO CONCELHO D E S. FILIPE POR GRUPO ETÁRIO ......................................................... 41
QUADRO 29 - TAXA DE DESEMPREGO POR GRUPOS ETÁRIOS E SEXO CONCELHO DE S. FILIPE ................................................. 42
QUADRO 32 - S. FILIPE. EFECTIVOS DE BOTES, MOTORES E RECURSOS HUMANOS DA PESCA ARTESANAL EM 2005 ..................... 49
QUADRO 34 - POPULAÇÃO AGRÍCOLA POR SEXO ............................................................................................................ 53
QUADRO 35 - RELAÇÃO DAS ÁREAS IRRIGADAS NO CONCELHO DE S. FILIPE ......................................................................... 53
QUADRO 36 - PARCELAS POR REGIME AGRÍCOLA ........................................................................................................... 56
QUADRO 37 – ÁREA CULTIVÁVEL EM SEQUEIRO SEGUNDO A CLASSE DE ÁREA ...................................................................... 56
QUADRO 38 - ÁREA CULTIVÁVEL EM REGADIO SEGUNDO A CLASSE DE ÁREA ........................................................................ 57
QUADRO 39 - EXPLORAÇÃO AGRÍCOLA SEGUNDO MEIO URBANO E RURAL........................................................................... 57
QUADRO 40 -EVOLUÇÃO DA PARTICIPAÇÃO DO TURISMO NO PIB EM %. .......................................................................... 64
QUADRO 42 - PROCURA TURÍSTICA ............................................................................................................................ 67
QUADRO 45 - NECESSIDADE ENERGÉTICA PARA O MUNICÍPIO ......................................................................................... 100
QUADRO 46 - Nº MÍNIMO DE EFECTIVOS DA POLICIA NECESSÁRIA ................................................................................... 107
QUADRO 47 - ÁREAS DISCRIMINADAS EM FUNÇÃO DO DECLIVE ...................................................................................... 118
QUADRO 48 – ÁREAS COM POTENCIAL PARA EDIFICAÇÃO NO CONCELHO DE S. FILIPE ........................................................ 120

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Caracterização e Diagnóstico
Plano Director Municipal de São Filipe -

Índice das Figuras


FIGURA 1-LOCALIZAÇÃO DA ILHA DO FOGO E DO MUNICÍPIO DE SÃO FILIPE (DELIMITADO A VERMELHO) .................................. 13
FIGURA 2 - PIRÂMIDE DE IDADES (FREGUESIA DE SÃO LOURENÇO) FIGURA 3 - PIRÂMIDE DE IDADES (FREGUESIA DE N.S.
CONCEIÇÃO) ................................................................................................................................................. 18
FIGURA 4 - PIRÂMIDE DE IDADES (CONCELHO DE SÃO FILIPE) ........................................................................................... 18
FIGURA 5 - RELAÇÃO DE MASCULINIDADE (N.S. CONCEIÇÃO) FIGURA 6 - RELAÇÃO DE MASCULINIDADE (SÃO LOURENÇO) .... 19
FIGURA 7 - RELAÇÃO DE MASCULINIDADE (CONCELHO SÃO FILIPE).................................................................................... 19
FIGURA 9 – ASPECTOS GEOMORFOLÓGICOS DA ILHA DO FOGO ....................................................................................... 114

Índice das Fotos


FOTO 1 - UMA ZONAS PERIFÉRICA ( TERRA BATIDA) FOTO 2 - UMA BOA ORGANIZAÇÃO DA MALHA URBANA....................... 79
FOTO 3 - UMA RUA COM PASSEIO ESTREITO FOTO 4 - UMA RUA SEM PASSEIO ..................................................... 80
FOTO 5 - TIPOLOGIA ANTIGA DO CASCO HISTÓRICO ........................................................................................................ 80
FOTO 6 - TENDENCIA TIPOLÓGICA ACTUAL .................................................................................................................... 81
FOTO 7 - UMA CONSTRUÇÃO EM ALTURA ..................................................................................................................... 82
FOTO 8 - OCUPAÇÃO URBANA - CONCELHO DE SÃO FILIPE .............................................................................................. 83
FOTO 9 -CAIS DO VALE DOS CAVALEIROS FOTO 10 - UMA ATERRAGEM NO AEROPORTO DE S. FILIPE ......................... 83
FOTO 11 - PISTA DE AVIAÇÃO SÃO FILIPE..................................................................................................................... 84
FOTO 12 - MANCHA DE PROSOPIS JULIFLORA FOTO 13 – AGRICULTURA DE SEQUEIRO ..................................................... 84
FOTO 14 - AGRICULTURA NO ANDAR SUB-HÚMIDO ........................................................................................................ 85
FOTO 15 - QUEDA DE MATERIAIS DE ENCOSTA (CAMINHO DE RRA. FILIPE) .......................................................................... 88
FOTO 16 - CAIS DO VALE DOS CAVALEIROS FOTO 17 - EDIFICIO DE ATENDIMENTO DOS PASSAGEIROS .......................... 89
FOTO 18 - ANIMAIS SOLTOS (ZONA RURAL) FOTO 19 - ANIMAIS SOLTOS (PARQUE DO AEROPORTO) ...................... 94
FOTO 20 - LIXEIRA MUNICIPAL ................................................................................................................................... 95
FOTO 21 - ACUMULAÇÃO DO LIXO NUM DOS CONTENTORES ............................................................................................ 97
FOTO 22 - ENTULHOS NA RIBEIRA E NA BERMA DE ESTRADA ............................................................................................. 97
FOTO 23 - UM ASPECTO DA PAISAGEM DA PRAIA DE SALINAS ........................................................................................ 101
FOTO 24 - EXEMPLO DE ALGUNS PONTOS NOTÁVEIS DA PAISAGEM.................................................................................. 102
FOTO 25 - PRAÇA PÚBLICA FOTO 26 - ORNAMENTO E ENQUADRAMENTO DAS VIAS ............................. 106
FOTO 27 - UM ASPECTO DO CONTORNO LITORAL ......................................................................................................... 112
FOTO 28 - CONES VULCÂNICOS NA REGIÃO NW .......................................................................................................... 113
FOTO 29 - VALES ENCAIXADOS NO SECTOR NORTE DE SÃO FILIPE .................................................................................... 115
FIGURA 10 - CARTA DE DECLIVES .............................................................................................................................. 116
FIGURA 11 - CARTA DE BACIAS HIDROGRÁFICAS ........................................................................................................... 117
FIGURA 13 - CARTA NEGATIVA À EDIFICAÇÃO A) FIGURA 14 - CARTA NEGATIVA À EDIFICAÇÃO B) ................................. 121

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Caracterização e Diagnóstico
Plano Director Municipal de São Filipe -

NOTA:

O presente trabalho foi feito com base em consultas


documentais, visitas de campo, reuniões com a força
viva e serviços sedeados na ilhado Fogo e na Cidade
da Praia.

A sua principal limitação tem a ver com a


disponibilização de dados em tempo real.

A Cape Verde Connetions agradece a todos que


ajudaram na realização do mesmo.

Equipa Técnica:
Doutor Alberto Mota Gomes
Doutor Claudio Furtado
Doutora Andreia Moassab
Dr. Geraldo Almeida
Dr Hamilton Fernandes
Dr Romualdo Correia
Dr Luís Filipe Tavares
Dr Jaime Ferreira
Arqtº Francisco Duarte
Arqtº Helder Almeida
Engº Hermínio Ferreira

O Coordenador da Equipa,

Francisco Duarte

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Caracterização e Diagnóstico
Plano Director Municipal de São Filipe -

Introdução
De acordo com o Decreto-Legislativo nº 1/2006 de 13 de Fevereiro, o Plano
Director Municipal é o instrumento de planeamento que rege a organização
espacial e que tem como missão principal identificar os interesses públicos que se
propõe proteger e dispõe, em especial, sobre:
a) A delimitação das áreas urbanas e peri-urbanas;
b) A qualificação das áreas não urbanizáveis;
c) O traçado esquemático da rede viária e das redes de infra-estruturas
urbanísticas;
d) A localização dos principais equipamentos públicos;
e) A delimitação das áreas a abranger por plano de desenvolvimento urbano
e por plano detalhado e ditará as regras de crescimento urbano, a
localização de distintas zonas: turísticas, económicas, de reserva natural,
etc.

Trata-se de um instrumento que permite uma gestão clara e transparente do


território.

É parte integrante dos chamados Planos Urbanísticos sendo hierarquicamente


superior aos Planos de Desenvolvimento Urbano e Planos Detalhados. O seu
âmbito é municipal e aplica-se à totalidade da área do município.

Actualmente, o município de São Filipe tem em curso a elaboração do seu Plano


Estratégico de Desenvolvimento cujo objectivo central é “o reforço da posição de S.
Filipe no actual sistema regional Fogo-Brava, melhorando as acessibilidades à
capital do País e ao Mundo, promovendo a qualidade de vida, dinamizando a
actividade económica, e respeitando o ambiente, a História, a Cultura e a
identidade São Filipense”.

É dentro deste objectivo central que se insere como necessidade fulcral a


realização do Plano Director Municipal (PDM), um instrumento que permite a
institucionalização de um processo permanente de planeamento num município,
propiciando o desenvolvimento e definindo os instrumentos em função de suas

6
Caracterização e Diagnóstico
Plano Director Municipal de São Filipe -

“vocações” económicas e de suas características sociais, urbanas e ambientais. O


PDM deve induzir o crescimento integrado e sustentável e indicar tanto as
prioridades de investimentos como os de regulação urbanística, assegurando o
suprimento das necessidades em infra-estruturas e serviços, e a melhoria
permanente da qualidade de vida da população.

Importa ressaltar que a elaboração do Plano Director Municipal está prevista no


terceiro eixo estratégico do Plano Estratégico, bem como a sua realização sob um
modelo participativo está indicado no quinto eixo estratégico do referido plano.

Do ponto de vista ambiental, o Plano Ambiental Municipal, com horizonte de 2004 a


2013, contempla, numa das suas metas, a realização do plano de ordenamento do
território que ora se propõe.

No aspecto Macro-Territorial, o Esquema Regional de Ordenamento do Território


(EROT) do Fogo, na fase de conclusão pelo MDHOT, recomenda, de entre outros,
os seguintes aspectos:

 Desenvolver e consolidar uma rede nacional de cidades, na qual São Filipe


está incluída;

 Qualificar os espaços urbanos.

Direccionado por estes princípios o município de São Filipe deverá continuar


centralizando as funções de Administração Pública do Estado, de centro turístico e
de centro logístico. Neste caso, uma atenção especial deverá ser dada ao
Aeroporto e ao Porto do Vale dos Cavaleiros. Além disso, em matéria sectorial, São
Filipe, em relação aos demais municípios da ilha, deverá sedear os principais
serviços desconcentrados da administração central.

Para o fortalecimento da rede de cidades, o EROT propõe que seja incentivada a


concentração da população e de actividades económicas ligadas ao terciário, à
indústria e à logística, bem como dos equipamentos colectivos com maiores níveis
de serviços diferenciados (i.e. centralidade) e maior capacidade de atracção das

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Caracterização e Diagnóstico
Plano Director Municipal de São Filipe -

populações, promovendo, deste modo, a consolidação em detrimento de expansão


descontrolada.

Assim, tendo em vista as orientações dos demais dispositivos legais e planos já


realizados, como o EROT, o PAM e o Plano Estratégico, os objetivos básicos deste
Plano Director Municipal são:

 Ordenar a ocupação do território e a mobilidade urbana;

 Orientar a promoção da sustentabilidade do património ambiental e cultural


do município;

 Promover o desenvolvimento integrado das funções económicas e sociais;

 Fortalecer a base institucional de planeamento;

 Propiciar a continuidade das ações de desenvolvimento;

 Favorecer a participação da sociedade na gestão pública;

 Disponibilizar informações essenciais para fundamentar as decisões


pertinentes ao desenvolvimento municipal.

Porém, sendo o planeamento e o ordenamento um processo, a elaboração deste


Plano Director Municipal comportará fundamentalmente duas etapas distintas de
trabalho: diagnóstico e ordenamento. O presente documento diz respeito à primeira
fase e que corresponde à fase de diagnóstico, na qual está incluída a análuse
SWOT, ou seja onde são levantados e analisados os pontos fortes e fracos bem
como as ameaças e oportunidades do município.

Nos capítulos subsequentes, serão apresentados os resultados dos levantamentos


iniciais, já avaliados e sistematizados, inclusive em mapas, bem como identificação
das necessidades de informações complementares capazes de fundamentar as
propostas de ordenamento espacial. A produção de informações inclui não só os
aspectos técnicos, mas também a visão da sociedade local sobre os problemas e
as perspectivas para o desenvolvimento do município.

Em suma, o diagnóstico aborda os aspectos socioeconómicos, sectoriais e


estruturais, tanto a nível do município em geral como a nível de particularidades

8
Caracterização e Diagnóstico
Plano Director Municipal de São Filipe -

relativamente às áreas urbanas, definindo as projeções e necessidades da


população. Sendo um diagnóstico, ele reflecte a situação do Município num dado
momento, não permitindo, pois, captar a dinâmica, ainda que a partir dele possam
–e efectivamente são- ser construídos cenários de desenvolvimento. Significa,
essencialmente, que os dados reportados no documenta são aqueles
disponibilizados e disponíveis no momento de sua elaboração.

Este diagnóstico deverá ser ajustado após o parecer e contribuições do comité de


seguimento.

1.CONDICIONANTES SÓCIO-ECONÓMICAS

1.1 Processo Histórico de Ocupação

De acordo com dados do Plano Estratégico Municipal, o algodão terá sido


introduzido nos primeiros anos do século XVI, seguido da vinha, da cana-de-
açúcar, do tabaco e do café, já no século XIX, sem mencionar o milho, feijão de
diversos tipos, legumes e frutas diversificados. Outras culturas de natureza
industrial e com peso na economia da ilha foram a purgueira, o rícino, o amendoim
e o “carapate”.

Em termos económicos a pecuária teve, desde longos tempos, um papel de


destaque, pois a ilha chegou a exportar animais vivos, couro e peles de cabras.

Nos dias de hoje, apresentam relevância económica, de entre outros produtos, a


vinha e o café que, apesar da baixa produção, são produtos apreciados em todo o
mercado nacional.

A forte pressão secular sobre os recursos do solo acarretou um profundo declínio


da actividade agro-pecuária, especialmente com o aceleramento do fenómeno da
desertificação.

O diploma legal número 2 de 12 de Julho, publicado no Boletim Oficial número 28


de 1922, aprovado pelo Conselho Legislativo Colonial, aponta um conjunto de
razões para a elevação de S. Filipe à categoria de Cidade.
9
Caracterização e Diagnóstico
Plano Director Municipal de São Filipe -

As nobilíssimas tradições que a história regista como o gesto sublime de grandeza


e patriotismo, pela sua atitude altiva contra o domínio de Espanha, perante o qual
não se curvou ou submeteu; a avultada riqueza comercial e agrícola que a coloca
numa situação preponderante; os importantes melhoramentos e notórias
modificações, por que tem passado, atestam na fisionomia social da sua população
o louvável desejo de engrandecer e progredir; um apreciável grau de instrução da
população, sendo insignificante o número de analfabetos; o rendimento com que
concorre para os cofres da província, são as principais razões que ditaram a
elevação da Vila (Bila) de São Filipe, à categoria de Cidade.

“Depois de ter jazido longos anos no mais censurável esquecimento, tem sido
contemplado nestes últimos tempos com algumas obras”, lê-se no documento, que
acrescenta que “é natural que essa dinâmica tenha ganho um certo ritmo, pois, só
assim se compreende que algumas poucas dezenas de anos depois, a Vila tenha
sido elevada a Cidade, dado o lugar que ocupava entre as restantes Vilas da
província”.

A Ilha do Fogo “ foi a segunda Ilha de Cabo Verde a ser povoada. O seu
povoamento foi motivado pelas necessidades agrícolas (de aumentar as áreas de
cultivo), principalmente, e de criação de gado da Ilha de Santiago, com vista a
servir o comercio internacional. A Ilha foi povoada essencialmente com pessoas
oriundas de Santiago”1.

O documento mais antigo que se conhece referente à ilha do Fogo é a carta régia
de 13 de Dezembro de 1460, doando ao infante D. Fernando as ilhas do Atlântico
até então identificadas. Entre outras, aponta: “ Sam Jacobo e Felipe y da ylha
dellas mayas e da ylha de Sam Christovam e de ylha Lana…”

O primeiro centro urbano terá sido o de São de Filipe, por ter acesso ao mar, e os
restantes terão situado nos terrenos favoráveis à agro-pecuária, portanto a uma
cota elevada, já que o litoral da ilha sempre foi árido.

1
Plano de desenvolvimento urbano de São Filipe

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Caracterização e Diagnóstico
Plano Director Municipal de São Filipe -

A Cidade de São Filipe, capital do Município, constitui o aglomerado populacional


mais antigo de Cabo Verde depois das ruínas da Ribeira Grande, actual Cidade
Velha na ilha de Santiago. A sua fundação e povoamento ocorreram um quarto de
século após o descobrimento de Cabo Verde pelos Portugueses em 1460/62.

Em relação ao seu povoamento, este ter-se-ia verificado ainda antes de 1493, pois
a relação de entrega de alguns objectos de culto divino a essa ilha deixa pressupor
isso, na medida em que existia uma Igreja2. Esta tese é defendida por vários
autores que subscrevem a ideia de que já nas primeiras décadas dos anos
quinhentos ela tinha sido habitada, uma vez que, segundo Fontoura da Costa, por
volta de 1504 as cartas de arrendamentos faziam alusão tanto às recolhidas na
ilha de Santiago como na vizinha ilha do Fogo.

No mesmo documento o Padre António Brásio confidencia que “ no mesmo ano de


1462, inicia-se também a colonização da ilha de S. Filipe, pouco depois chamada
de Fogo - pelos criados de D. Fernando, Dinis Eanes, Aires Tinoco e outros.
Fernão Gomes foi o seu primeiro capitão/donatário”. Essa informação obriga a
pensar que a sua ocupação é contemporânea à da ilha de Santiago.

Segundo Sena Barcelos, em 1533, a ocupação humana do Fogo com escravos


negros era bastante pronunciada, o que não custa aceitar, já que o cultivo
extensivo do algodão, antes introduzido, deveria exigir a utilização de muita mão-
de-obra escrava.

Porém, por volta de 1572, S. Filipe tinha cerca de 200 fogos, e S. Lourenço à volta
de 90 fogos, contabilizando um total de 2600 almas, tomando em conta que em
cada um dos fogos ou agregado familiar podiam existir em média 9 pessoas.

As donatarias, com os seus capitães/donatários, foram a primeira forma politico-


administrativa introduzida em Cabo Verde desde os primórdios da sua ocupação.
Afirma-se que, neste contexto, a ilha do Fogo foi doada, a 20 de Abril de 1528, a D.
João de Menezes e Vasconcelos, conde de Penela, incluindo todas as rendas,
direitos, foros e tributos, assim como as funções administrativas da justiça, no civil

2
Brasio, Pe António – Monummenta, Vol. I, Doc 90 pp. 675-76

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Caracterização e Diagnóstico
Plano Director Municipal de São Filipe -

e no crime, liberdade e privilégios. Este relato é contestado pelo Padre António


Brásio, afirmando que o primeiro capitão/donatário da ilha do Fogo foi Fernão
Gomes, embora lhe falte o respectivo documento comprovativo

O algodão terá sido introduzido nos primeiros anos do século XVI, portanto o
primeiro e principal produto agrícola destinado à exportação, ao qual se juntaram a
vinha, cana-de-açúcar, tabaco e café, para além de muito milho, feijão de diversos
tipos, legumes vários e frutas diversificadas.

O café foi introduzido a partir do século XIX. Outras culturas de natureza industrial
e com peso na economia da ilha foram a “purgueira”, o rícino, o amendoim e o
“carapate”. A “purgueira” dominava toda a zona desde o nível do mar até 1500 m
de altitude, e o óleo dela extraído era exportado e usado na iluminação da cidade
de Lisboa ou no fabrico do sabão de terra muito utilizado no consumo local e
exportado para a Guiné.

A pecuária também foi uma actividade de destaque, pois a ilha chegou a exportar
animais vivos, muito couro e peles de cabras.

O declínio da actividade agro-pecuária ora observado deriva da pressão secular


sobre os recursos do solo através dessas mesmas actividades.

Como resposta ao fenómeno da desertificação iniciou-se, a partir dos anos de


1940, a reflorestação das zonas altas. Após a independência do país em 1975,
essa actividade alastrou-se para todas as zonas bio-climáticas do Município e
continua nos dias de hoje.

1.2. Enquadramento do Município

O Município de São Filipe situa-se na parte sul da ilha do Fogo, a 14º 51' de
Latitude Norte e 24º 31' de Longitude Oeste. Fogo faz parte do grupo das ilhas de
Sotavento conjuntamente com as ilhas de Santiago, Maio e Brava (Fig 1).

12
Caracterização e Diagnóstico
Plano Director Municipal de São Filipe -

O município de São Filipe tem uma área aproximada de 224.9 Km2, com um
perímetro estimado de 73.158 km o que corresponde a quase 50% dos 476 Km2
da área total da Ilha. Situa-se a 60 milhas marítimas da Cidade da Praia, o que
corresponde a 25 minutos de vôo e a 9 milhas da Ilha Brava, equivalentes a 60
minutos de barco. Foi elevado à categoria de cidade em 12 de Julho de 1922.
Contou na altura com influência política do cidadão Abílio de Macedo, figura esta
que tem passado despercebida de todos. Actualmente, o concelho está dividido
em duas Freguesias: São Lourenço a Norte de Ilha e Nossa Senhora da Conceição
a Centro.

O município de S. Filipe criado em 1991, quando o antigo Concelho do Fogo foi


dividido em dois, passando a parte sudoeste a ser chamada Concelho de São
Filipe, e a parte nordeste a ser chamada Concelho dos Mosteiros. Em 2005, uma
nova configuração administrativa dos municípios viria a fazer com que uma
freguesia a leste fosse separada de S. Filipe para dar origem ao Concelho de
Santa Catarina do Fogo.

Figura 1-Localização da Ilha do Fogo e do Município de São Filipe (delimitado a vermelho)

1.3. Aspectos Demográficos

A análise demográfica, feita com base na informação estatística disponível, permite


verificar que a evolução da população cabo-verdiana, entre os anos 40 e 90, foi
marcada por crescimentos sistematicamente positivos com excepção da década de

13
Caracterização e Diagnóstico
Plano Director Municipal de São Filipe -

cinquenta. A ilha do Fogo, em geral, e o município de S. Filipe, em particular,


conheceu dois momentos de queda de sua população: na década de cinquenta e
que resulta das fomes e da mortandade a elas associada dos finais dos anos
quarenta e durante os anos noventa decorrente do fluxo emigratório ocorrido nos
anos oitenta.
Quadro 1- Evolução da população residente, Cabo Verde e S. Filipe 3

2
Concelho 1940 1950 1960 1970 1980 1990 2000
2010

Cabo Verde 181740 149984 199902 270999 295703 341491 434625 491.575
S. Filipe 23022 17582 25615 29412 30978 33902 23.127 22.228
Fonte: INE: Censos Demográfico de 1970,1980, 90, 2000 e 2010

Os dados do quadro1 mostram que a população de S. Filipe tem conhecido um


crescimento continuado desde os anos setenta, malgrado o fluxo migratório seja
para o exterior seja para outras ilhas. A diminuição verificada em 2000 se prende
com o desmembramento da freguesia de Nossa Senhora de Ajuda que deu lugar
ao surgimento do Concelho dos Mosteiros. A tendência para a diminuição da
população de S. Filipe continua na década seguinte. Com efeito, dados do Censo
de 2010, mostram uma queda de 0,4% comparativamente ao ano 2000.

Aliás, quando as projecções demográficas de 2005 e 2010 apontavam a para a


existência de um crescimento demográfico negativo e que se deve, por um lado, à
criação do Município de Santa Catarina em 2005, reduzindo a população do
Município de S. Filipe e, por outro, a fenômenos estritamente demográficos como
as migrações ( particularmente a emigração) e a diminuição da taxa de
fecundidade.

Quadro 2 - Evolução da população de S. Filipe (1970-2010)


Anos
1970 1980 % 1990 % 2000 % 2005 % 2010 %
Total 29412 30978 5 33902 8.6 27886 -21.6 23294 -19.7 23153 -
0.6
Homens 13717 14161 3.1 15863 10.7 13410 -18.3 11143 -20.3 11043 -

3
Os dados demográficos disponíveis até o ano 1990 referem-se a toda a ilha do Fogo, uma vez que apenas
existia um único municpio. O Censo de 2000 apresenta dados desagregados para os Municipios de S. Filipe e
Mosteiros, tendo em conta a criação desse último. Significa que os dados de 2000 englobam informações
demográficas para os actuais municípios de S. Filipe e Santa Catarina.

14
Caracterização e Diagnóstico
Plano Director Municipal de São Filipe -

0.9
Mulheres 15695 16817 6.7 18039 6.7 14476 -24.6 12151 -19.1 12110 -
0.3
Fonte: INE: Censos Demográfico de 1980, 90, 2000 e 2010 e projecção demográfica

Quadro 3 - Taxas médias (%) de crescimento demográfico no Concelho de S. Filipe (1970 – 2010)
Anos
Concelho 1970/80 1980/90 1990/2000 2000/2010
S. Filipe 5 8.6 -21.6 -20.4
Cabo Verde 0.9 1.5 2.4 15.6
Fonte: Recenseamentos gerais da população (1940 – 2010 e projecções demográficas)

Da análise do quadro 3, verifica-se que, em termos percentuais, o crescimento


médio anual da população teve uma taxa negativa entre 1990- 2010, sendo de
21,6% negativos em 2000 e 20,4% em 2010 e que resultam, como referido
anteriormente, da criação dos municípios dos Mosteiros (1991) e Santa Catarina
(2005).

Quando se analisa a população de S. Filipe tendo em conta apenas as populações


das duas freguesias que actualmente a compõem (S. Lourenço e Nossa Senhora
da Conceição) constata-se que, desde os anos setenta do século passado, a
população do município tem vindo a conhecer um crescimento contínuo, sendo de
3,4% em 1980, 5,9% em 1990 e 8,6% em 2000.

Quadro 4 - Evolução da população residente em Cabo Verde, Ilha do Fogo e no Concelho dos S. Filipe
(1940 – 2010)
Anos
1940 1950 1960 1970 1980 1990 2000 2010
S. Filipe - - - 19172* 19844* 21090* 23090 22.228
Fogo 23022 17582 25615 29412 30978 33902 37421 37.051
C. Verde 181740 148331 199902 270999 295703 341491 434625 491.575
Fonte: INE: Censos 1980, 90, 2000 e 2010 * Excluindo dados referentes às freguesias de Nossa Senhora da Ajuda e Santa
Catarina e que deram origem aos Municípios de Mosteiros e Santa Catarina do Fogo respectivamente nos anos 1991 e
2005.

Uma análise mais detalhada da distribuição espacial da população do Município


permite conhecer e perceber quais são as principais zonas e, por conseguinte,
avaliar a importância demográfica das mesmas no contexto concelhio (Quadro 5).

15
Caracterização e Diagnóstico
Plano Director Municipal de São Filipe -

Quadro 5 - Distribuição da População por Lugares de Residência em 2000

Localidades População Residente Número de agregados


S. Filipe (cidade) 7861 1692
Ponta Verde 1184 221
Patim 1179 218
Lomba 1065 189
Galinheiro 866 152
Achada Mentirosa 885 155
S. Domingos 792 156
Campanas de Baixo 761 154
Ribeira Filipe 749 121
Curral Grande 703 140
Inhuco 685 137
S. Jorge 677 126
Monte Grande 665 125
Luzia Nunes 656 125
Santo António 566 114
Lagariça 544 112
Campanas de Cima 534 109
TOTAL 27886 4578
Fonte: Censo 2000

Com efeito, de um total de 22 zonas que compõem o Município, 17 deles agrupam


cerca de 73,1% da população total de S. Filipe. A cidade de S. Filipe concentrava,
em 2000, cerca de 28,2% da população total do concelho, o que significa uma
acentuada e progressiva urbanização da população.

Aliás, uma análise do crescimento demográfico da cidade de S. Filipe nas últimas


três décadas mostra uma dinâmica crescente, de longe superior à taxa de
crescimento natural, o que permite inferir que as migrações internas,
particularmente o êxodo rural tem sido o principal factor explicativo do aumento da
população. Entre 1970 e 2000, a população da cidade mais do que quintuplicou.

16
Caracterização e Diagnóstico
Plano Director Municipal de São Filipe -

Quadro 6 - Evolução da população do município segundo as principais localidades-1970-2000


1970 1980 % 1990 % 2000 %
S. Filipe (cidade) 1387 2459 43.6 5616 56.4 7861 28.6
Ponta Verde 662 1079 38.6 1328 18.8 1184 -12.2
Patim 521 626 16.8 1031 39.3 1179 12.6
Lomba 604 604 0 1000 39.6 1065 6.1
Galinheiro 522 632 17.4 831 23.9 866 4.0
Achada Mentirosa 899 119 - 968 - 885 -9.4
S. Domingos 80 128 37.5 784 83.7 792 1.0
Fonte: INE( Censos de 70, 80, 90 e 2000)

Aliás, quando se compara com os outros núcleos populacionais mais importantes,


nota-se que algumas delas conheceram um decréscimo da população ou então um
crescimento tímido o que indicia uma acentuada mobilidade da população dessas
zonas para outras do município, do país ou do exterior. Ponta Verde e Achada
Mentirosa são as zonas que mais perderam população em 2000, enquanto que S.
Domingos teve um crescimento tímido (1%).

Segundo o INE (Censo 2000), a população do Concelho de S. Filipe é muito jovem.


Com efeito, 86,4% da população tem menos de quarenta e quatros anos, 46% tem
menos de quinze anos e 71,7% tem menos de trinta anos. Tal facto significa que
qualquer planificação deve levar em consideração as necessidades básicas das
pessoas dessas faixas etárias, através de criação de cenários que garantam o
aumento do parque habitacional, de equipamentos escolares e hospitalares, para
além da necessidade de aumentar a oferta de eemprego e diminuir a taxa de
desemprego.

Quadro 7 - Distribuição da população residente por Sexo e Grupo Etário em 2000


Grupo Etário População Residente
Feminina % Masculina % Total %
0-4 anos 1776 48.7 1869 51.3 3645 13.6
5-9 anos 2053 48.5 2180 51.5 4233 15.7
10-14 anos 2203 49.0 2293 51.0 4496 16.7
15-19 anos 1708 49.2 1763 50.8 3471 12.9
20-24 anos 1082 51.2 1032 48.8 2114 7.9
25-29 anos 676 51.8 629 48.2 1305 4.9
30-34 anos 707 53.8 607 46.2 1314 4.9
35-39 anos 718 54.9 589 45.1 1307 4.9
40-44 anos 779 57.6 574 42.4 1353 5.0
TOTAL 14476 53.8 13476 46.2 26886 -
Fonte: Censo 2000

17
Caracterização e Diagnóstico
Plano Director Municipal de São Filipe -

Resulta ainda da análise demográfica de S. Filipe que a população feminina é


superior à masculina, correspondendo a 53,8% do total, sendo a relação de
masculinidade de 93/100, ou seja, 93 homens por cada 100 mulheres.

Dos gráficos de pirâmides de idades (figuras 2, 3, e 4) obtidos a partir dos dados


censitários de 2000, nota-se que as duas freguesias que compõem o concelho de
São Filipe apresentam uma estrutura populacional idêntica como era de se esperar.
Ambos os gráficos são típicos dos países em transição demográfica com uma
grande predominância de população jovem na base da pirâmide e uma fraca
proporção de pessoas idosas no topo o que pressupõe uma elevada taxa de
natalidade e uma taxa de mortalidade em queda.

Figura 2 - Pirâmide de Idades (Freguesia de São Lourenço) Figura 3 - Pirâmide de Idades (Freguesia de N.S. Conceição)

Figura 4 - Pirâmide de Idades (Concelho de são Filipe)

18
Caracterização e Diagnóstico
Plano Director Municipal de São Filipe -

Grupos Funcionais e Índices Resumo

As Relações de masculinidade

Em regra nascem mais rapazes do que raparigas (por cada 100 raparigas nascem
105 rapazes), tese esta que se confirma para o município e freguesia de Nossa
Senhora da Conceição mas que não se verifica na freguesia de São Lourenço onde
existe uma igualdade (Fig. 5, 6 e 7), partindo do censo de 2000.

Por outro lado é também regra que a mortalidade é mais precoce no sexo
masculino do que no feminino. No entretanto, outros factores como as migrações
(normalmente com incidências em determinados grupos etários contribuem para o
desequilíbrio entre os dois sexos tanto a nível do município como a nível das
freguesias.

Figura 5 - Relação de masculinidade (N.S. Conceição) Figura 6 - Relação de masculinidade (São Lourenço)

Figura 7 - Relação de masculinidade (Concelho São Filipe)

19
Caracterização e Diagnóstico
Plano Director Municipal de São Filipe -

No caso da Freguesia da Nossa Senhora da Conceição, o gráfico de índices de


masculinidade (figura 5) permite tirar as seguintes conclusões:

Até a faixa dos 19 anos houve um decréscimo da população do sexo masculino e


que pode ser explicado não só pela maior incidência da mortalidade masculina mas
também pela migração para outros centros urbanos para efeitos de estudos. Nota-
se tembém uma ligeira subida na faixa dos 20 a 24 anos que deve ser devido ao
regresso daqueles que estiveram fora a estudar. A partir desta faixa assiste-se a
uma queda acentuada da curva até a faixa dos 54 anos, que pode ser explicada
pela emigração e migração para outras ilhas. A partir daqui e até aos 59 anos a
curva cresce rapidamente o que pode significar o regresso dos emigrantes
reformados. Deste ponto e até ao limite dos 69 anos a curva volta a decrescer e
provavelmente devido mortalidade mais precoce de homens mas também devido
ao regresso ao país de emigrantes dado a não adaptação às condições locais.
Depois assiste-se a uma nova subida que poderá ser um regresso definitivo ao
país mais explicado pela vontade de terminar a vida no próprio país.

Na freguesia de São Lourenço, curiosamente e ao contrário da freguesia de Nssa.


Sra. da Conceição, predomina a população masculina até afaixa dos 24 anos muito
provavelmente ligado à necessidade de mão-de-obra para a agricultura. Pelo
contrário, na faixa dos 25 a 60 verifica-se um acelerado decréscimo da população
masculina podendo ser explicado pela emigração dos rapazes. Depois verifica-se
um período de crescimento que pode ser entendido por retorno definitivo dos
emigrantes à terra e mais tarde na faixa etária a partir dos 70 anos volta a haver
um decréscimo que pode ser justificado pela mortalidade mais precoce de homens.

Em termos conclusivos, pode-se dizer que, no concelho de São Filipe, a população


masculina é sempre inferior à população feminina com flutuações marcantes ao
longo das sucessivas gerações. Isto é, diminui a um ritmo relativamente acelerado
até ao limite dos 54 anos, situação que encontra uma possivel explicação na
emigação e migração da população masculina. Na faixa dos 55 a 59 anos há uma
ligeira subida da curva provavelmente influenciada pelo regresso dos emigrantes
20
Caracterização e Diagnóstico
Plano Director Municipal de São Filipe -

na reforma. A curva volta a conhecer uma nova descida para a faixa de 60 a 64


anos que poderá ser explicada pela mortalidade mais precoce de homens e pelo
regresso ao país de emigração dado a não adaptação às condições locais. A partir
dos 65 anos e até os 74 anos a curva cresce novamente talvez devido ao regresso
definitivo dos emigrantes. Depois assiste-se a uma descida da curva explicada pela
mortalidade mais precoce da população masculina.

Ainda, a análise dos dados do censo 2000 permitiram-nos determinar os seguintes


grupos funcionais e índices que se encontram resumidos nos Quadros 8, 9 e 10.

Percentagem de Jovens
Para além de medir a importância da juventude é também um indicador do
envelhecimento na base da pirâmide de idades. Na freguesia de Nssa. Sra da
Conceição a juventude representa 41.4 % contra os 46.9% na freguesia de São
Lourenço. Para o município estima-se que cerca de 44% da população é jovem.

Percentagem de Activos Potenciais Jovens


Dá o potencial demográfico dos activos. No caso presente é de 51.4% para Nossa
Senhora da Conceição, 45.5% para São Lourenço e de 43.7% para todo o
município de São Filipe.

Percentagem de Idosos
Mede a importância dos idosos e o envelhecimento no topo da pirâmide de idades.
No caso presente é de 7.0% para Nossa Senhora da Conceição, 7.5% para São
Lourenço e de 7.2% para todo o município de São Filipe.

Quadro 8 – Grupos funcionais no município de S. Filipe


Percentagem Percentagem de Percentagem
de Jovens potencialmente activos de Idosos
São Filipe 43,7 48,9 7,2
São Lourenço 46,9 45,5 7,5
Nssa Sra
Conceição 41,4 51,4 7,0

21
Caracterização e Diagnóstico
Plano Director Municipal de São Filipe -

Índice de Juventude
Compara a população jovem com a idosa. Também dá ideia acerca do
envelhecimento da população. Para o caso de estudo, o que se pode concluir é
que a população juvenil no município de São Filipe é aproximadamente seis vezes
superior à população idosa. Isto é, em cada 100 idosos tem-se 610 jovens.

Índice de Envelhecimento (Vitalidade)


Tem o papel inverso do índice anterior. No município de São Filipe a população
idosa é aproximadamente seis vezes inferior à população juvenil. Isto é, em cada
100 jovens tem-se 16 idosos

Índice de Dependência Juvenil


Compara o peso dos jovens com a população activa potencial. No município de
São Filipe esta taxa é de 89.4 %. sendo 119.5 % para a freguesia de São Lourenço
e 94.2 % para a freguesia de Nssa. Sra. Da Conceição. Ou seja, para cada 100
pessoas potencialmente activas em São Filipe, tem-se 89.4 jovens.

Índice de Dependência dos Idosos


Compara o peso dos idosos com a população activa potencial. No município de
São Filipe esta taxa é de 14.7 %. sendo 16.4 % para a freguesia de São Lourenço
e 13.5 % para a freguesia de Nssa. Sra. Da Conceição Ou seja, para cada 100
pessoas potencialmente activas, tem-se 15 idosos.

Índice de Dependência Total


Compara o peso total dos idosos e dos jovens com a população activa potencial.
No município de São Filipe esta taxa é de 104.1 % sendo 119.5 % para a freguesia
de São Lourenço e 94.2 % para a freguesia de Nssa. Sra. Da Conceição. Ou seja,
para cada 100 pessoas potencialmente activas, tem-se 104 idosos e jovens.

22
Caracterização e Diagnóstico
Plano Director Municipal de São Filipe -

Quadro 9 – Índices de dependências no município de São Filipe


Indice de Indice de Indice de Indice de
Indice de
envelhecimento dependencia dependencia dependencia
juventude
ou de Vitalidade dos jovens dos idosos total
São Filipe 610,3 16,4 89,4 14,7 104,1
São
629,0 15,9 103,1 16,4 119,5
Lourenço
Nssa Sra
595,7 16,8 80,6 13,5 94,2
Conceição

Índice de Longevidade
Como medida de envelhecimento demográfico e pelo valor obtido leva-nos a
concluir que São Filipe tem um índice de envelhecimento de 48.7%, valor mais ou
menos representativo para as duas freguesias.

Índice de Juventude da População Activa


Mede o grau de envelhecimento da população potencialmente activa. Neste estudo
conclui-se que para o município de São Filipe esta taxa é de 484,0% sendo 223,9%
para a freguesia de São Lourenço e 258,5% para a freguesia de Nssa. Sra. Da
Conceição. O que quer dizer que em São Filipe há cerca de 4,9 vezes mais
população activa jovem (pelo menos a 50 % do tempo de reforma) do que
População activa mais velha (no máximo a 50 % do tempo de reforma). Este valor
pode ser útil para a política de atracção de investidores uma vez que em tese
garante a produtividade.

Índice de Renovação da População activa


Relaciona o potencial da população activa a entrar no mercado do trabalho com o
potencial a deixar este mercado. Em São Filipe esta taxa é de 412,5% sendo
342,0% para a freguesia de São Lourenço e 464,7% para a freguesia de Nssa. Sra.
Da Conceição. Este indicador dá uma garantia folgada de substituição dos
trabalhadores ao mesmo tempo que coloca uma preocupação aos responsáveis na
criação de novas oportunidades de emprego.

23
Caracterização e Diagnóstico
Plano Director Municipal de São Filipe -

Índice de Maternidade
Este indicador, na ausência de outros dados como nascimentos, é útil para aferir a
evolução da fecundidade. Para São Filipe, em cada 100 mulheres em período de
reprodução cerca de 54 estão reproduzindo (54.2%). A supremacia vai para a
Freguesia de São Lourenço com 62.3% contra os 49.1 da freguesia de Nssa.Sra.
da Conceição.

Índice de Tendência
Mede a dinâmica demográfica. No caso do município de São Filipe, tem-se o valor
de 84.5 %. Pode-se concluir que está iniciando um processo de declínio de
natalidade e de envelhecimento.

Índice de Potencialidade
Compara as duas metades da população em idade reprodutiva. O resultado obtido
mostra que existe uma ligeira vantagem para as mulheres reprodutoras na primeira
metade do período de reprodução do que na outra segunda metade ou seja 1.12
vezes mais. Comparando as duas freguesias verifica-se que na freguesia de São
Lourenço existem mais mulheres reprodutoras na segunda metade do período de
reprodução o que poderá indiciar a existência de fuga das jovens raparigas para os
centros mais urbanos.

Quadro 10 – Índices da dinâmica populacional


Indice de
Indice de
renovação
Indice de juventude da Indice de Indice de Indice de
da
longevidade população maternidade tendencia potencialidade
população
activa
activa
São Filipe 48,7 484,0 412,5 54,2 84,5 111,8
São Lourenço 49,7 223,9 342,0 62,3 83,6 96,1
Nssa Sra Conceição 48,0 258,48 464,7 49,1 85,2 123,1

24
Caracterização e Diagnóstico
Plano Director Municipal de São Filipe -

 Projecção e Evolução da População


Tendo em consideração a dinâmica da população do Concelho de S. Filipe e da
ilha do Fogo de um modo geral nos últimos trinta anos, podemos perspectivar o
crescimento demográfico desse município, segundo três cenários e tomando como
base explicativa as fundamentações do Instituto Nacional de Estatísticas.

No primeiro cenário, considerando de crescimento demográfico lento, estimamos


um crescimento anual de 0,8%. Tal estimativa tem em conta a taxa actual de
crescimento da população das comunidades rurais do Município, transpondo esta
taxa para os centros urbanos do Concelho.

No segundo cenário, médio, retomamos integralmente as projecções oficiais feitas


pelo INE, ou seja de um crescimento anual médio de 1,8% a.a.

Para o terceiro cenário, de crescimento rápido, retivemos uma taxa de crescimento


anual de 2,5%. Esta taxa de crescimento prevê uma forte migração interna, fruto da
continuação dos investimentos privados no município e do aumento do fluxo
turístico. Para este cenário, em 2015, o Município teria uma população residente de
33.715, de 38.146 em 2020 e, em 2022, de 40.078.

Como se pode ver pela leitura dos quadros 11, 12 e 13, nos cenários 1 e 2, a
população do município chegaria, em 2022, a 27.738 e 28.708 respectivamente.

De referir, desde logo, que o primeiro cenário parece ser pouco factível tendo em
conta, por um lado, o crescimento natural que, em termos médios, baixando a taxa
de fecundidade mas também a de mortalidade, conhecerá uma queda, mas fluxos
populacionais internos, resultados designadamente dos investimentos públicos e
privados farão com que o Município seja recipiendário de populações de outros
municípios.

A dinâmica do desenvolvimento económico da ilha do Fogo e da região Fogo e


Brava previsível com os investimentos públicos e privados em curso e/ou em
carteira, a evolução crescente da demanda por parte de turistas e o efeito de
arrastamento que pode ter no desenvolvimento de vários sectores de actividade
económica deixam antever que toda a ilha, e de forma particular, o Município de S.

25
Caracterização e Diagnóstico
Plano Director Municipal de São Filipe -

Filipe, venha a conhecer um crescimento demográfico significativo. Neste sentido,


e para efeitos de planeamento e ordenamento parece adequado pensar-se num
crescimento médio anual de cerca de 2,5%, ainda que o Recenseamento da
População a realizar-se durante 2010 possa vir a permitir um ajuste em termos de
projecção no horizonte da validade legal do PDM.

Quadro 11 - 1º Cenário - Crescimento lento (0.8%.a.a)


Ano Total Homem Mulher
2000 23279 11134 12145
2010 25208 12058 13150
2011 25410 12154 13256
2012 25613 12251 13362
2013 25818 12349 13469
2014 26025 12448 13577
2015 26233 12548 13685
2016 25443 12648 13795
2017 26655 12749 13906
2018 26868 12851 14017
2019 27083 12954 14129
2020 27300 13058 14242
2021 27518 13162 14356
2022 27738 13267 14471

Quadro 12 - 2-º Cenário - Crescimento Médio (Projecção do INE e cálculos)


Ano Total Homem Mulher
2000 23279 11134 12145
2010 23153 11043 12110
2011 23579 11230 12349
2012 24011 11424 12587
2013 24443 11630 12813
2014 24883 11839 13044
2015 25331 12052 13279
2016 25787 12269 13518
2017 26251 12490 13761
2018 26724 12715 14009
2019 27205 12944 14261
2020 27695 13177 14518
2021 28194 13414 14780
2022 28701 13655 15046

26
Caracterização e Diagnóstico
Plano Director Municipal de São Filipe -

Quadro 13 - 3º Cenário - Crescimento rápido ( 2,5% ao ano)


Ano Total Homem Mulher
2000 23279 11134 12145
2010 29799 14252 15547
2011 30544 14608 15936
2012 31308 14973 16335
2013 32091 15338 16753
2014 32893 15721 17172
2015 33715 16114 17601
2016 34558 16517 18041
2017 35422 16930 18492
2018 36308 17353 18955
2019 37216 17787 19429
2020 38146 18232 19914
2021 39100 18688 20412
2022 40078 19155 20923

Com efeito, como referido na elaboração das primeiras versões do relatório


diagnóstico, dados do Censo 2010 mostram que a população de S. Filipe cresceu a
um ritmo menor do que o previsto na construção dos cenários demográficos. Aliás,
a população de S. Filipe manteve a tendência verifica na década anterior, ou seja
de queda da população. Neste sentido, para efeitos do PDM, sugere-se trabalhar
como o primeiro cenário, isto é de crescimento demográfico lento. Como não se
encontra disponíveis todos elementos necessários à construção de uma nova base
de elaboração de projecções demográfica, e até que o Instuto Nacional de
Estatística, o venha produzir, esta é a sugestão que parece ser a mais adequada.

Análise SWOT da população

Pontos fortes:

 Significativa quantidade de população jovem;


 Diminuição da taxa de mortalidade infantil e da mortalidade geral
 Aumento da esperança de vida.
 Nível de escolaridade obrigatória (até 6ª classe);

Pontos fracos:

 Baixa formação técnica da população para actividades de indústria, serviços


e turismo;
 Forte desejo de emigração para o exterior;
 Mudança de expectativas da população mais jovem em relação a
perspectivas de desenvolvimento e de projectos de vida;
27
Caracterização e Diagnóstico
Plano Director Municipal de São Filipe -

Ameaças:

 Emigração para o estrangeiro da população jovem activa;


 Mobilidade da população do meio rural para os centros urbanos do
município e do país.

Oportunindade:

 Surgimento de duas escolas de formação profissional;

1.4 Educação

A análise de alguns indicadores da educação no Concelho dos S. Filipe permite,


por um lado, avaliar o nível de escolaridade da sua população e, por outro,
conhecer a sua posição no contexto da ilha e do país.

Quadro 14 - Indicadores da Educação no Concelho de S. Filipe


1- Nível de Instrução da População %
Pré- escolar 4.0
Alfabetização 3.9
Básico 62.4
Secundário 28.4
Médio 0.4
Superior 0.9
2- Taxa de Alfabetização Juvenil (15 – 24 anos) 96.0
 Feminina 95.7
 Masculina 96.3
3-Taxa de Alfabetização de Adultos (15 – 49 75.2
anos)
 Feminina 84.6
 Masculina 66.3
4- Taxa Global de Analfabetismo 20.4
5-TaxaINE
Fonte: Global CV – 2007)
de Analfabetismo
(QUIBB 26,8

Da análise do quadro, verifica-se que o Concelho de S. Filipe apresenta


indicadores da educação que aproximam-se dos da maioria dos municípios melhor
posicionados. De acordo com os dados do QUIBB 2007, cerca de 62,4% da

28
Caracterização e Diagnóstico
Plano Director Municipal de São Filipe -

população possuem o ensino básico e 28,4% o secundário. No entanto, a formação


média e superior é relativamente baixa, com 0,4% e 0,9%

Constata-se, ainda, uma forte taxa de alfabetização. Com efeito, 96% da população
com idade compreendida entre os 15 e 24 anos são alfabetizados e 75% entre os
15 e os 49 anos.

De realçar que apesar da melhoria da taxa de alfabetização, a taxa global de


analfabetismo (20.4%), é ligeiramente inferior à média nacional (21%).

No domínio do pré-escolar, o quadro seguinte ilustra a situação em termos de


oferta, e da procura no ano lectivo 200/2009.

Quadro 15 - Número de jardins e efectivos 2008/2009



Crianças inscritas Profissionais de Infância
Jardins Nº
Concelho
de Salas
M F MF Educadores Monitores Orientadores Total
Infância
Fogo 862 927 1789 51 93 0 35 64 99
S. Filipe 517 583 1.100 27 58 0 27 34 61
Mosteiros 228 234 462 13 18 0 0 22 22
Santa
117 110 227 11 17 0 8 8 16
Catarina
Fonte: MEES

Da análise do quadro 15, constata-se que no ano lectivo 2008/2009 funcionaram


um total de 27 jardins infantis no Município de S. Filipe, acolhendo 1.100 crianças
dos 3 aos 5 anos de idade que se encontravam sob a orientação de 27 monitores e
34 orientadores.

Quanto ao Ensino Básico Integrado, dados consolidados de 2009/2009 (quadro 16)


mostram que o Concelho de S. Filipe tinha um total de 4029 alunos matriculados,
sendo 56,7% do sexo masculino e 43,3% do sexo feminino. Esta diferença entre os
sexos exige uma análise mais atenta considerando que a diferença entre o peso
demográfico de rapazes e raparigas nesta faixa etária não apresenta esta diferença
percentual de cerca de treze pontos.

29
Caracterização e Diagnóstico
Plano Director Municipal de São Filipe -

Quadro 16 - Distribuição dos alunos e turmas do Ensino Básico Integrado (Ano lectivo 2008/2009)
Efectivos Turmas
Ano de Estudo Feminino Masculino Total Simples Composta
Total
Fogo 30132 3598 3730 288 87 301
S. Filipe 1825 2204 4029 174 60 180
Santa Catarina 497 545 1042 45 6 51
Mosteiros 810 849 1659 69 1 70

Fonte: GEP-MEES

Os alunos de S, Filipe estavam distribuídos por 180 turmas, sendo 174 simples e 6
compostas.

Em relação ao Ensino Secundário, o Concelho dos S. Filipe contava no ano lectivo


2005/6 com um total de 2.678 alunos (quadro 17) distribuídos por 64 turmas do 7º
ao 12º Anos de escolaridade.

Quadro 17 - Distribuição dos alunos e turmas do Ensino Secundário (Ano lectivo 2008/2009)
Efectivos Turmas
Ano de estudo Feminino Masculino Total
Fogo 1820 1762 3582 103
Santa Catarina 191 164 355 12
Mosteiros 434 408 842 22
S. Filipe 1195 2270 2385 69
Fonte: GEP- MEES

No domínio da formação profissional, as actividades têm sido desenvolvidas ainda


de uma forma não integrada e coordenada, havendo contudo acções de formação
organizadas por várias instituições e organizações.

A criação do Centro de Emprego e Formação Profissional para a região Fogo e


Brava veio a dinamizar o mercado de formação profissional na ilha do Fogo e, de
forma particular, em S. Filipe.

30
Caracterização e Diagnóstico
Plano Director Municipal de São Filipe -

Não se deve, no entanto, deixar de referir as acções de formação profissional


desenvolvidas, há já vários anos, pelo Centro Concelhio de Alfabetização bem
como por algumas ONG, designadamente a OMCV, VERDEFAM, ABC, etc.

Neste momento, existem, no Município de S. Filipe, alguns Centros de Formação


Profissional, a saber, o Centro de Formação Profissional da ONG Águas para Viver
situado na localidade de Ponta Verde. De igual modo, a ONG ABC do Patim tem
desenvolvido acções de formação profissional. O centro de formação profissional
do IEFP está em construção na cidade de S. Filipe em fase avançada.

No quadro do programa de luta contra a pobreza no meio rural, algumas


associações de desenvolvimento local dispõem de centros de prestação de
serviços, nomeadamente no domínio da carpintaria e marcenaria e que fornecem
estágios e pequenas acções de formação profissional. Contudo, não estão
certificados pela entidade responsável pela certificação (IEFP).

Um elemento importante a registar tem a ver com o aumento da demanda da


formação e que decorre, em essencial, da instalação na ilha do Fogo, do Centro de
Emprego e Formação Profissional. De acordo com os dados deste serviço (quadro
18) em 2008 cerca de 150 pessoas se inscreveram para futuras acções de
formação, como se pode depreender do quadro.

Quadro 18 - Distribuição dos inscritos para a formação profissional, por concelho em 2008

Concelhos Quantidade de inscritos


São Filipe 109
Mosteiros 29
Santa Catarina 4
Brava 8
Total 150
Fonte: Centro de Emprego e Formação Profissional da Região Fogo e Brava

Quadro 19 - Distribuição dos inscritos para a formação profissional, por frequesia em 2008
Freguesias Quantidade de inscritos
São Lourenço 20
N.S da Conceição 89
Total 109
Fonte: Centro de Emprego e Formação Profissional da Região Fogo e Brava

31
Caracterização e Diagnóstico
Plano Director Municipal de São Filipe -

Como se pode constatar, o Municipio de S. Filipe é o que apresenta a maior


demanda (89) o que se deve ao facto de ser o mais populoso mas também por
albergar a sede do Centro de Emprego e Formação Profissional, o que facilita as
inscrições. Aliás, isto pode ser corroborado com os dados desagregados ao nivel
de freguesias. Com efeito, o maior número de inscritos provém da freguesia de
Nossa Senhora da Conceição, onde se encontra a cidade de S. Filipe.

Segundo dados do Centro de Emprego e Formação Profissional dos candidatos à


formação são, na sua grande maioria, solteiros representando, cerca de 96% do
total.

De registar ainda que, por um lado, cerca de 48,6% dos inscritos possuem o 12º
ano de escolaridade e que, por dificuldades de aceder ao ensino superior,
procuram alternativas locais em termos de formação profissional e, por outro,
15,3% e 12% respectivamente possuem o 8º e o 10º ano de escolaridade,
significando que não tiveram condições de prosseguir os estudos secundários,
aparecendo, aqui também, a formação profissional como alternativa de formação e
de mais fácil acesso ao mercado de trabalho.

Em termos de estruturação física do sector educacional, há uma previsão do


número de salas de aula e correspondentes mobiliários no Plano Estratégico
Municipal. No entanto, o referido plano carece de numeros mais precisos, o que
deverá ser estabelecido pelo atual PDM.

A previsão da construção de uma nova Escola Secundária em Ponta Verde trará


enormes benefícios para a população jovem do Norte de S. Filipe e da Ilha. De
referir ainda a existência de um pólo do ensino secundário em Curral Grande, na
dependência da Escola Secundária de S. Filipe, constituindo não apenas uma
forma de diminuição da pressão sobre esta bem como permitir aos estudantes das
zonas límitrofes a Curral Grande um acesso mais facilitado e mais próximo de um
estabelecimento do ensino secundário.

Está em construção, conforme previsto no PEM, uma nova Escola de Formação


Profissional que irá servir a Região de Fogo e Brava. Havia a previsão de

32
Caracterização e Diagnóstico
Plano Director Municipal de São Filipe -

construção também de uma biblioteca municipal, a qual deverá encontrar neste


PDM indicação precisa do seu local / zona de implantação.

Apesar do PEM debater a necessidade de um estabelecimento de Ensino Superior


na Ilha, dada as condições econômicas e geográficas do país, é pouco provável a
curto prazo, investimentos neste sentido. Contudo, o município poderá investir no
equipamento de salas para o ensino à distância, uma opção cada vez mais
alinhada aos desígnios contemporâneos e ao perfil arquipelágico do país.

De ressaltar que o Município de S. Filie dispunha de um projecto de construção de


uma Biblioteca Municipal que não pode ainda ser concretizado, constituindo , no
entanto, uma necessidade e que poderá ser equacionada no âmbito da elaboração
e implementação do PDM.

Análise Swot de equipamentos Colectivos no Ensino:

Pontos fortes:

 Existência de Ensino Secundário, (até à 12ª classe);


 Existência de ensino privado;
 Existência do ensino técnico;
 Boa taxa cobertura da rede dos equipamentos escolares e razoável
qualidade desses equipamentos.

Pontos fracos:

 Equipamentos escolares com carência de algumas valências,


nomeadamentesalas, sanitários, água e deficiência de equipamento
desportivo complementar (no local de ensino);
 Inexistência de um programa de Tempos Livres (ATL);
 Alguma insuficiência no domínio da acção social escolar;
 Concepção física dos espaços pouco atractivos e funcionais (excesso
padronização);
 Fraca utilização de novas tecnologias de informação;
 Fraco desenvolvimento do ensino privado;
 Inexistência de escolas profissionais no sector agro-pecuário;
 Degradação dos edifícios e instalações escolares;
 Falta de espaço e estruturas adequadas as práticas de ensino superior,
técnicas e actividades complementares;

Ameaça:

 Diminuição da taxa de fecundidade;


 Falta de perspectiva dos jovens que terminam o ensino secundário.

33
Caracterização e Diagnóstico
Plano Director Municipal de São Filipe -

Oportunidade:

 Surgimento da Universidade Pública e de Universidades Privadas no


País.
 Existência de políticas públicas de cursos profissionais estruturadas e
em curso no país

Dinâmica actual:

 Diminuição da taxa de analfabetismo;


 Implementação dos níveis de ensino técnico e superior;
 Reforma do ensino em curso.

Perspectivas de evolução:

 Elevação da taxa de escolarização;


 Melhoria da qualidade de ensino e do rendimento escolar;
 Aumento da procura dos restantes níveis de Ensino Secundário, técnico e
superior;
 Promoção do ensino privado;
 Alargamento da rede escolar;
 Criação de uma escola profissional agro-pecuária;
 Plano de formação a nível de professores;
 Alargamento do ensino obrigatório.

1.5 Saúde

Os indicadores de saúde a nível nacional têm evoluído favoravelmente, o que


traduz a melhoria das condições de acesso e de vida das pessoas. Este facto é
corroborado pelo nível de satisfação dos utentes do sistema nacional de saúde.

Com efeito, dados do QUIBB 2007 mostram que 83,7% dos utentes estão
satisfeitos com os serviços de saúde, situando-se, por conseguinte, a insatisfação
em cerca de 16,3%.

Dados sobre a mortalidade geral no concelho de S. Filipe (quadro 19) mostram que
ela era de 5,4‰ em 2007, ligeiramente superior à média nacional, estimada na
altura em 5,3‰.

34
Caracterização e Diagnóstico
Plano Director Municipal de São Filipe -

Quadro 20 - Taxa de mortalidade geral, por concelho e género, 2007


Concelhos Total Masculino Feminino
Óbitos Taxa Óbitos Taxa Óbitos Taxa
Cabo Verde 2608 5.3 1456 6.1 1.1152 4.5
Mosteiros 42 4.3 26 5.6 16 3.1
S. Filipe 126 5.4 68 6.1 58 4.8
Sta Catarina 32 6.6 23 9.6 9 3.7
Fonte: Sistema de Informação Estatística/Gabinete de Estudos, Planeamento e Cooperação/MS

No que diz respeito aos óbitos infantis (quadro 20), constata-se que em S. Filipe, o
número representou cerca de 4,1% dos óbitos nacionais, sendo quase triplo em
relação a Mosteiros e quase seis vezes de Santa Catarina do Fogo. Esta diferença,
no entanto, deve ser relativizada tendo em conta, por um lado, a população de S.
Filipe em relação aos outros concelho da ilha e uma eventual distorção estatística
se se considerar que é na cidade de S. Filipe que se encontra o Hospital Regional,
centro de referência para a região Fogo-Brava, podendo os óbitos ser registados
como sendo deste municipio quando as crianças são naturais e residentes em
outros municipios.

Quadro 20 - Nº de óbitos infantis e suas componentes, 2007


Concelho Óbitos
Óbitos Óbitos
Óbitos Infantis Neonatal
Neonal tardia Pós- Neonatal
precoce
Cabo Verde 268 145 16 107
Mosteiros 4 2 0 2
S. Filipe 11 6 0 5
Santa Catarina 2 0 0 2
Fonte: Sistema de Informação Estatística/Gabinete de Estudos, Planeamento e Cooperação/MS

Como se pode constatar, na ilha do Fogo em geral, e no concelho de S. Filipe em


particular os óbitos infantis verificados foram neo-natais precoces ou pós-neo-
natais, não tendo havido casos de óbitos neo-natais tardias. Uma eventual
ausência de equipamentos, nomeadamente uma Unidade de Tratamentos
Intensivos Neo-natais nos Hospitais pode constituir uma razão explicativa.

Quadro nº 22. Nº de óbitos infantis e suas componentes, 2009


Concelho Óbitos
Óbitos Óbitos
Óbitos Infantis Neonatal
Neonal tardia Pós- Neonatal
precoce
Cabo Verde 262 146 33 83
S. Filipe 7 3 1 3
Fonte: Sistema de Informação Estatística/Gabinete de Estudos, Planeamento e Cooperação/MS

35
Caracterização e Diagnóstico
Plano Director Municipal de São Filipe -

A leitura do quadro nº 22 mostra que a situação em termos de mortalidade infantil e


neonatal a situação melhor em S. Filipe com uma queda significativa.

Em termos de recursos humanos (quadro 22) no sistema de saúde, e excluindo os


serviços privados e particulares de saúde, o Município de S. Filipe contava em
2007 com 8 médicos, sendo seis clínicos gerais e dois especialistas, 23
enfermeiros.

O rácio médico/habitante (1/10.000) era de 2,2 em 2007, bem inferior à média


nacional estimada em 4,7 médicos por cada 10.000 habitantes. Contudo, segundo
dados do GEP do Ministério da Saúde, em 2009, S. Filipe contava 8 médicos,
significando 1,8/10.000. No que diz respeito à rácio enfermeiro/habitante (1/10.000)
ele era de 9,0, ligeiramente inferior à média nacional que, na altura era de 9,7
enfermeiros por cada 10.000 habitantes. No que diz respeito ao número de
enfermeiros as estatísticas de saúde publicadas em 2010 pelo Ministério da Saúde
apontam a existência de 22 enfermeiros, ou seja 9,5/10.000, o que significa uma
melhoria relativamente a 2007.

Quadro 21 - Pessoal do Hospital regional, 2009)


Recursos Humanos S. Filipe
Clínico Geral 6
Ginecologista 1
Pediatra 1
Cirugião 1
Psicólogo 1
Enfermeiro 22
Enfermeiro obstetra 1
Técnico-adjunto de Farmácia 1
Técnico-auxiliar de farmácia 1
Técnico-adjunto de Laboratório 1
Técnico-auxiliar de laboratório 1
Técnico-adjunto de Radiologia 2
Escriturario-dactilógrafo 1
Agente Sanitário 8
Ficheiro 2
Condutor 3
Ajudantes de serviços gerais 24
Cozinheira 2
Porteiro 1
Total 82
Fonte: Sistema de Informação Estatística/Gabinete de Estudos, Planeamento e Cooperação/MS

36
Caracterização e Diagnóstico
Plano Director Municipal de São Filipe -

No que diz respeito às infra-estruturas de saúde (quadro 23), o concelho de S.


Filipe, dispõem de dois hospitais, sendo um público e outro privado, dois postos
sanitários e 4 unidades sanitárias de base. De igual modo, dispõe de um
laboratório privado de análises clínicas e uma farmácia

O hospital público possui 51 camas e a taxa de ocupação, em 2009 ronda os 44%.

Quadro 22 - Infra-estruturas de Saúde


Publico Privado
Hospital Regional do Fogo Hospital S. Francisco de Assis
- 51 Camas
Postos de Saúde 2 Consultórios Privados
- Ponta Verde
- Curral Grande
Unidades Sanitárias de Base 1 Laboratório de Análises Clíinicas
- Campanas de Baixo
- Patim
-Monte Grande
- Campanas de Cima
Fonte: Sistema de Informação Estatística/Gabinete de Estudos, Planeamento e Cooperação/MS

Em termos de infra-estrutura de saúde o Município parece estar bem servido com


dois centros hospitalares, um público e o outro privado (Hospital S. Francisco de
Assis). Contudo, o hospital público, por ser uma edificação antiga, apresenta-se
desajustado aos tempos de hoje e com graves problemas de circulação e
transporte interno de pacientes.

Os postos de saúde localizados nos demais povoados têm cumprido suas funções
no que concerne à infra-estrutura instalada. No entanto, a população tem criticado
os horários de atendimento, extremamente restritos.

O PEM previa em termos construtivos para a infra-estrutura da saúde, a construção


de um novo hospital com valência de maternidade, agregando ambas funções.
Este PDM deverá indicar o melhor local / zona para este equipamento.

Da análise do quadro 25, conclui-se que de ponto de vista quantitativo, não se


mostre preocupante a construção de novos hospitais nem de centros de saúde.
Pelo contrário, mostra-se que é urgente programar novos postos sanitários e
unidades sanitárias de base

37
Caracterização e Diagnóstico
Plano Director Municipal de São Filipe -

Quadro 23 – Necessidades em Infra-estruturas e técnicos de saúde


População em 2022
População
taxa crescimento
Saúde em 2000
0.8 1.8 2.5
23090 27738 28701 40078
Populaçao
Base Nº Agregado 4578 5547,6 5740,2 8015,6
25000 Nº Hospital nec. 1 1 1 2
2500 nº médico nec. 9 11 11 16
1500 nº enfermeiro nec. 15 4 4 5
2500 Posto Sanitário nec. 9 11 11 16
500 nº USB nec. 46 55 57 80

Análise Swot no sector da Saúde:

Pontos fortes:

 Cobertura geográfica satisfatória dos cuidados primários de saúde;


 Existência de um hospital público em São Filipe;
 Existência de uma farmácia privada;
 Existência de um hospital privado e clínicas privadas.

Pontos fracos:

 Quadros especialistas e outros profissionais de saúde insuficientes;


 Deficientes condições de acesso às estruturas de saúde, nomeadamente
devido à dispersão dos povoados e à precariedade da rede viária existente;
 Estado físico dos equipamentos de saúde e em número insuficiente;

 Inexistência de um serviço de apoio domiciliário;
 Hospital público perto do limite da capacidade de atendimento.

Ameaça:

 Existência de vector da dengue e a possibilidade de endemias;


 Possibilidades de catástrofes naturais, em especial de actividade vulcânica;
 .

Dinâmica actual:

 Expansão da rede de Serviço Nacional de Saúde;.


 Decréscimo da taxa de mortalidade infantil;
 Maior cobertura de serviços prestados à população, designadamente nas
áreas geográfica e socialmente desfavorecidas;
 Aumento das actividades das Unidades Sanitárias de Base.

38
Caracterização e Diagnóstico
Plano Director Municipal de São Filipe -

1.6 Meios e Subsistência e Acesso aos Bens e Serviços

À semelhança dos restantes concelhos do país, o Município dos S. Filipe apresenta


pouca diversidade em termos de actividades económicas sendo a agricultura de
sequeiro, a pesca tradicional, a criação de gado, o comércio, a construção civil e os
trabalhos públicos, os mais importantes meios de subsistência da sua população.
O carácter sazonal de determinadas actividades económicas, nomeadamente a
agricultura de sequeiro coloca uma percentagem relativamente elevada da sua
população em situação de permanente vulnerabilidade.

A agricultura de regadio, embora constitua uma potencialidade, ainda tem uma


representatividade reduzida. Come efeito, são os perímetros agrícolas de Achada
Malva e de Monte Genebra, este último foi no passado um importante espaço de
produção agrícola, os mais importantes. Encontram-se, ainda, pequenas parcelas
irrigadas nas zonas com acesso à rede pública de água.

De acordo com os dados do QUIBB 2007, cerca de 49% dos agregados familiares
do concelho possuem terras cultiváveis.

Analisando os principais indicadores sociais, nota-se as taxas de alfabetização no


Município são relativamente elevadas (76,4%). Relativamente às condições de
habitabilidade, uma percentagem relativamente elevada de população com casa
própria (71,3%).

No que diz respeito ao acesso aos serviços de saúde, 64,6% têm acesso a um
serviço a uma distância de menos de 30 minutos e a taxa de satisfação rondava,
em, 2007, na ordem dos 90.1%.

Porém, em relação aos outros indicadores sociais, nomeadamente a taxa de


desemprego ronda os 16,6%, menor do que a média nacional (21,6%) em cerca de
cinco pontos percentuais. A taxa de pobreza na ilha de Fogo (42,1%), a taxa de
cobertura eléctrica (58,5%), são dados que revelam dificuldades de acesso a
determinados bens e serviços.

39
Caracterização e Diagnóstico
Plano Director Municipal de São Filipe -

O nível de desigualdades sociais na Ilha do Fogo, e no Município de São. Filipe


continua sendo não negligenciável, ainda que esteja a um nível inferior à média
nacional. Com efeito, o Índice de Gini é de 0,433 para a ilha do Fogo e de 0,445
para o Município de S. Filipe, sendo que a média nacional situa-se em 0,525.
Embora menor do que a média nacional, o coeficiente de Gini de S. Filipe é o maior
entre os municípios da Ilha, situando-se, por conseguinte, acima da média da ilha.

Também, cerca de 74,5% da população do município tem acesso a água potável, e


destes cerca de 45,9% têm acesso á rede pública de distribuição de água,
percentagem que é superior à média nacional (39%).

Em relação ao saneamento básico, 30,0 % dos agregados familiares, de acordo


com dados do QUIBB, têm acesso a fossa séptica para a evacuação de águas
usadas, não havendo no município uma rede esgotos. Ainda de acordo com a
mesma fonte, 49,4% dos agregados familiares evacuam as águas residuais ao
redor da casa e 20,6% na natureza

Em termos de comunicação telefónica cerca de 67,7 % da população tem acesso


ao telemóvel e/ou telefone fixo, 45,8% ao telefone e 46,0% ao telemóvel.

Em termos de acesso à informação, 57,1% e 51,3 % têm acesso a rádio e televisão


respectivamente.

1.7 Emprego e Desemprego

A taxa de actividade no município de S. Filipe (quadro 26), de acordo com os dados


do QUIBB, era de 59% em 2007, sendo mais acentuada entre os homens. A
diferença de actividade entre homens e mulheres é de cerca de dezassete pontos
percentuais. Este facto pode ser explicado, em parte, pela quantidade de mulheres
que são domésticas e que, para efeitos estatísticos, não são ainda consideradas
como sendo activas.

40
Caracterização e Diagnóstico
Plano Director Municipal de São Filipe -

Como referido anteriormente, dados do Censo de 2000 mostram que o Município


tinha uma taxa de desemprego de 14,6%, ou seja cerca de três pontos percentuais
abaixo da média nacional.

Com efeito, se em 2000 a taxa de desemprego a nível nacional era de 14,9%


(quadro 27), em 2007, de acordo com os dados do QUIBB, ela subiu para 16,6%ou
ou seja, cerca de dois pontos percentuais. Mais ainda, se em 2000 o desemprego
estava abaixo da média nacional, em 2007 continua a situar-se abaixo da média
nacional estimada em 21,6%.

Quadro 24 - Taxa de Actividade no Concelho de S. Filipe


Taxa de actividade por sexo %
Taxa de actividade 59.0
Masculino 67.7
Feminino 50.8

Quadro 25 - Taxa de desemprego no Concelho de S. Filipe


Taxa de Desemprego por sexo %
Taxa de desemprego total 16.6
Masculino 12.2
Feminino 22.2
Fonte: INE, QUIBB, 2007

A taxa de desemprego atinge particularmente as mulheres. A taxa de desemprego


entre as mulheres do município é quase o dobro da dos homens. A menor
competitividade das mulheres no mercado do trabalho e que se deve, em parte, à
sua menor qualificação técnica e profissional (quadro 27).

Quadro 26 - Taxa de desemprego no Concelho d e S. Filipe por Grupo etário


Grupo Etário %
15-24 anos 32.7
25-64 anos 11.3
65 anos e mais 11.8
Fonte: INE, QUIBB 2007

Apercebe-se igualmente pelo quadro 28, que o desemprego atinge de forma


particular os jovens. Cerca de 32,7% dos jovens com idades compreendidas entre
os 15 e os 24 anos estão desempregados, considerando que muitas vezes a oferta
disponibilizada pelo mercado de trabalho não satisfaz as pretensões dos jovens

41
Caracterização e Diagnóstico
Plano Director Municipal de São Filipe -

que preferem o desemprego, em vez de um emprego pouco atractivo, socialmente


pouco valorizado e mal remunerado.

Já, entre 25-64 anos, a incidência do desemprego cai para 11,3%, significando
uma diferença de vinte e dois pontos percentuais. Aqui também, o facto de os
jovens não possuírem uma formação técnica e profissional e ao facto de não
poderem apresentar no mercado de trabalho, cada vez mais competitivo e
segmentado, trunfos que resultam de experiências profissionais anteriores
permitem compreender a forte incidência do desemprego, a que se acresce o facto
da economia cabo-verdiana ter vindo a criar empregos num ritmo significativamente
inferior á quantidade de força de trabalho que, anualmente demanda o mercado de
trabalho.

Quadro 27 - Taxa de desemprego por grupos etários e sexo Concelho de S. Filipe


Total Masculino Feminino
15-24 anos 49.2 61.0 40.9
25-49 anos 42.1 33.0 48.5
50 anos e mais 8.7 6.0 10.6
Fonte: INE, QUIBB 2007

Retomando a análise da situação do desemprego em termos de grupos etários e


de género, verifica-se, desde logo, que o grupo etário dos 15 aos 24 anos e 25-49
anos são particularmente afectados pelo desemprego, com maior incidência nas
mulheres. Os factores explicativos são aqueles que foram referidos anteriormente.
Neste sentido, jovens e mulheres constituem dois grupos demográficos e sociais
particularmente tocados pela precariedade em termos económicos e sociais e que
menos participações têm no aproveitamento dos produtos, bens e serviços
produzidos em S. Filipe, no Fogo e no país, o que demanda políticas públicas
específicas, centradas nestes grupos.

A limitação às possibilidades de uma maior competitividade no mercado de


trabalho para os jovens do município prende-se com o facto de que a grande
maioria das pessoas ocupadas tem baixo nível de instrução.

42
Caracterização e Diagnóstico
Plano Director Municipal de São Filipe -

1.8 Actividades Economicas

Segundo o Censo 2000, na ilha do Fogo cerca de 78% da população vive no


campo, com uma economia frágil, dependendo essencialmente das actividades
agro-pecuárias de subsistência, das frentes de alta intensidade de mão-de-obra,
(FAIMO) e da remessa dos emigrantes.

A população rural encontra-se concentrada em cerca de 305 localidades rurais


dispersas, agrupadas em 45 zonas.

Em 2006, o Produto Interno Bruto da ilha atingiu cerca de 5.983 contos, ou seja,
uma contribuição de 5.6% para a formação da riqueza nacional.

O aspecto mais marcante da economia do Fogo é o peso relativamente elevado do


sector primário – agricultura, silvicultura e pecuária.

A Cidade de São Filipe constitui, contudo, um pólo muito diferenciado e de


centralidade muito mais elevada do que qualquer aglomerado urbano da Ilha do
Fogo. O ritmo de crescimento da população determina a existência de problemas
de desemprego.

As oportunidades de trabalho concentram-se no sector primário, que absorve cerca


de 50% da população activa.

A solução para o crescimento da população activa tem sido emigração, a qual, nas
situações de retorno, algumas vezes, tem também constituído um problema social.

Como se sabe na ilha do Fogo e no Concelho de S. Filipe em particular, há um


grande fluxo migratório para os Estados Unidos da América, (grande parte da
população activa) e em consequência, normalmente, os emigrantes ajudam sempre
os familiares com remessas de dólares.

O quadro 30 ilustra os valores das remessas durante os últimos 8 anos. De realçar


que em 2002, a ilha do Fogo recebeu cerca de 1.012,31 milhões de escudos, o que
representou 13% do total das remessas recebidas.

43
Caracterização e Diagnóstico
Plano Director Municipal de São Filipe -

Devido à crise financeira internacional o volume das remessas para a ilha tem
diminuído mas continua a ter um peso significativo.

Quadro 30 - Remessas de Emigrantes por Concelhos Em milhões de escudos


ANO FOGO TOTAL NACIONAL %
2001 785,65 8.851,80 9%
2002 1.012,31 8.010,03 13%
2003 894,65 7.928,47 11%
2004 687,93 8.450,76 8%
2005 837,55 11.001,98 8%
2006 757,38 10.827,55 7%
2007 660,44 10.159,02 7%
2008 600,04 10.424,32 6%
Fonte: BCV

A pobreza, também, constitui ainda um fenómeno preocupante para a ilha,


atingindo cerca de 42,1% da população.

A população rural, destacando as mulheres chefes de família e as famílias


numerosas são as mais atingidas por este fenómeno. A elevada taxa da pobreza
associada à fragilidade do tecido económico no meio rural e a deficiente cobertura
de alguns serviços básicos, designadamente o abastecimento de água e o
saneamento básico constituem prioridades emergentes, as quais devem merecer
uma particular atenção no conjunto dos programas de intervenção que integram as
grandes opções de desenvolvimento nacional.

Os maiores constrangimentos de Cabo Verde, e a Ilha do Fogo não foge à regra,


são, por um lado, a falta de água potável para o consumo humano e para a
agricultura e, por outro, a dependência energética que além do elevado custo, o
seu fornecimento é ainda deficiente quer à população quer às actividades
económicas. Em termos energéticos e segundo dados recentes da Empresa
Electra, o potencial de energia eléctrica instalada na Ilha do Fogo é 3.064 Kva
repartida da seguinte forma:

Concelho de São Filipe – 2.320 Kva, Santa Catarina – 588 Kva e Concelho dos
Mosteiro – 156 Kva.

44
Caracterização e Diagnóstico
Plano Director Municipal de São Filipe -

A situação do abastecimento de água na Ilha do Fogo, apresenta como uma das


mais difíceis, caracterizando-se pela fraca disponibilidade de água potável, por uma
orografia que torna oneroso o custo de exploração e pela utilização obsoleta de
bombagem da água dos furos e sua distribuição, que tem provocado perdas
consideráveis na rede de distribuição. Poucas são as zonas que possuem água
canalizada: a maioria das zonas possuem cisternas comunitárias abastecidas por
água das chuvas e estas são geridas não da melhor forma pela população, ficando
vazias em poucos meses, passando, a partir daí, o abastecimento a fazer-se por
camião-tanque.

Não existem redes de esgotos. As águas residuais domésticas são actualmente


lançadas em fossas sépticas. Em muitas zonas rurais, bem como nas zonas peri-
urbanas são lançadas ao ar livre, nas vias públicas e perto das habitações, criando
um evidente problema de saúde pública.

A situação sanitária da Ilha do Fogo relativamente ao Sistema de Recolha e


tratamento de resíduos sólidos é caracterizada pela falta de infra-estruturas básicas
de saneamento, existindo perto de São Filipe uma lixeira a céu aberto. Muito
recentemente foi instalado uma incineradora de lixo, cuja capacidade permite
resolver o problema dos residuos sólidos, porém ainda precisa de tempo para se
revelar ser a alternativa ideal, embora pelas suas caracterísitcas tais condições
existem, incluindo a potêncialidade de produzir energia (bio-gás).

Esta situação tem sido agravada pelo crescimento da população na área urbana,
decorrente do êxodo rural, pelo aumento dos estabelecimentos comerciais, pelo
uso de matérias não biodegradáveis, pela criação de animais nos centros urbanos
e nas povoações e pela fraca capacidade de resposta dos serviços de
saneamento.

Quanto a infra-estruturas, salienta-se que a principal infra-estrutura de transportes


inter-ilhas é o aeroporto de S. Filipe. A sua importância reveste-se de interesse
estratégico para a região Fogo e Brava, dado que, tanto o Aeroporto de
Esparadiinha na Ilha da Brava, como o Aeroporto dos Mosteiros, no Concelho dos

45
Caracterização e Diagnóstico
Plano Director Municipal de São Filipe -

Mosteiros, se encontram inactivos por falta de condições operacionais, desde há


vários anos.

O sector terciário tem crescido nos últimos anos e constitui um sector de


crescimento e emprego. De facto, é no sector terciário que se conjugam as
vantagens comparativas com a propensão para a criação de emprego, com
destaque para o turismo.

Como se pode verificar pelo Quadro 31, 187 empresas estão ligadas ao comércio a
retalho de produtos alimentares, materiais de construções onde encontramos, com
um volume de vendas na ordem dos 651.607 contos, o qual emprega um total de
375 pessoas, seguido de bares e discotecas com um número de 52, com um
volume de vendas na ordem dos 39.556 contos, empregando 94 pessoas, mais as
pequenas indústrias de fabricação de mobiliário de madeira e outras actividades
como restaurantes, salões de belezas, estabelecimentos hoteleiros, panificação e
pastelaria etc.

O total de empresas é de 377, empregando 716 pessoas e um volume de venda na


ordem dos 839.930 contos, representando assim 59% de empresas da Ilha.

46
Caracterização e Diagnóstico
Plano Director Municipal de São Filipe -

Quadro 31 - Empresas activas por sectores de actividade


2007
SECTOR ACTIVIDADE Nº
EMPRESAS NPS VVN
Comércio a retalho em estabelecimentos não
especializados, com predominância de produtos
alimentares, bebidas ou tabaco 187 375 651.607
Estabelecimentos de bebidas 52 94 39.556
Fabricação de mobiliário de madeira 17 28 12.690
Outro comércio a retalho de produtos novos em
estabelecimentos especializados 15 22 2.765
Actividades de salões de cabeleireiro e institutos de beleza 14 23 5.130
Restaurantes 9 35 25.793
Estabelecimentos hoteleiros 8 56 42.705
Manutenção e reparação de veículos automóveis 6 16 9.260
Panificação e pastelaria, fabricação de bolachas, biscoitos e
pastelaria de conservação 5 16 10.644
Fabricação de obras de carpintaria para a construção 4 7 2.200
Comércio a retalho de ferragens, tintas, vidros,
equipamento sanitário, ladrilhos e similares, em
estabelecimentos especializados 3 7 13.240
Comércio a retalho de livros, jornais e artigos de papelaria,
em estabelecimentos especializados 3 6 3.272
Comércio a retalho de vestuário, calçado e artigos de
couro, em estabelecimentos especializados 3 4 8.448
Actividades dos operadores turísticos 3 13 7.608
Outros sectores de actividade 48 14 5.013
TOTAL S.FILIPE 377 716 839.930
TOTAL FOGO 608 1.556 1.422.340
TOTAL CABO VERDE 7.228 44.953 186.839.203
Fonte: BCV

Análise Swot Estrutura Empresarial e do Emprego

Pontos fortes:

 Aumento significativo do número de empresas recenseadas;


 Elevado número de jovens ( população activa);
 Aumento da qualificação técnica e profissional;
 Existência de Centro de Emprego e Formação Profissional e de escolas de
formação profissional.

Pontos fracos:

 Tecido empresarial constituído essencialmente por micro empresas sem


sistema de gestão e organização adequados;
 Reduzida capacidade de financiamento por parte das micro-empresas
 Mercado de consumo reduzido;
 Fraca capacidade das empresas na absorção da mão-de-obra
desempregada.

47
Caracterização e Diagnóstico
Plano Director Municipal de São Filipe -

Ameaças:

 Desenvolvimento desequilibrado do país e da ilha;


 Emigração da população jovem;
 Despovoamento do campo.

Dinâmica actual:

 Estagnação de investimento do sector privado;

Perspectivas de evolução:

 Redução do papel do Estado, tanto como agente económico directo do


sistema produtivo como no sector financeiro;
 Incremento na utilização dos sistemas de incentivo ao investimento;
 Surgimento cada vez maior de novas empresas;
 Dinamização das empresas do sector do turismo e agro-pecuário;
 Aproveitamento de espaço turístico – montanhas, vulcão, praias e percurso
histórico-cultural;
 Reforço do poder e intervenção municipal.

1.8.1Pesca

O desenvolvimento de qualquer sector de actividade primária em Cabo Verde,


como é o caso da pesca artesanal, em que os meios são escassos, as condições
naturais requerem conhecimentos minuciosos para a sua compreensão. Assim,
para a ilha do Fogo, exige-se uma abordagem e integração multidisciplinar para
que se possa assegurar a necessária sincronia e sinergia entre os vários factores
potenciadores do desenvolvimento económico e social.
Estima-se que cerca de 6% da população activa de Cabo Verde depende de
actividades directa ou indirectamente ligadas à pesca. Esta percentagem atinge
mesmo os 20% nos concelhos mais desprovidos de outros recursos para além dos
pesqueiros.

A contribuição da pesca artesanal é preponderante no abastecimento das cidades


e das zonas rurais. O peixe fresco constitui a principal fonte de proteína animal
consumida pela população. O consumo per capita varia, nas diferentes ilhas, entre
12 a 30 Kg por habitante. Em S. Filipe até finais de 2000 era de aproximadamente
10 Kgs.

48
Caracterização e Diagnóstico
Plano Director Municipal de São Filipe -

Em S. Filipe, não existia anteriormente- e ainda não existe- uma estrutura de


comercialização que cobrisse todo o Concelho de forma auto-suficiente. A
comercialização do pescado era assegurada exclusivamente pelos pescadores à
excepção de algumas localidades, excluindo assim a possibilidade de obtenção de
margem de lucro a terceiros. O abastecimento às localidades mais próximas das
praias era feita de forma regular, mantendo-se as zonas mais afastadas,
principalmente as do interior, impossibilitadas de adquirir o pescado, com reflexos
negativos para a dieta alimentar da população em geral.

As vantagens socioeconómicas que essa actividade traz para as mulheres são


notáveis, pois para além de maximização das receitas reduz o tempo de trabalho,
permitindo-lhes dedicar à educação dos filhos e à execução de outras tarefas.

A falta de meios infra-estruturais adequados à conservação e manutenção dos


factores de produção constituiu um estrangulamento grave, reflectindo na redução
do esforço efectivo da pesca com consequências na rentabilidade das unidades.
Por outro lado, as condições pouco favoráveis ao tratamento e conservação do
pescado não permitiram a elevação do nível de qualidade do produto com a
consequente elevação dos preços no mercado.

Quadro 28 - S. Filipe. Efectivos de Botes, motores e recursos humanos da pesca artesanal em 2005

Total Total de Total de Número


Taxa
Concelho Porto/Comunidade de Botes Botes de
Motorização
Botes C/Motor S/Motor Pescador
Fonte Vila 1 1 3
Lajeta 2 1 1 100% 6
Pesqueiro 4 4 12
S. Filipe
Salinas 20 9 11 81% 60
S. Filipe 26 14 12 85% 78
Vale dos Cavaleiro 3 2 1 50% 9
Total S. Filipe 56 26 30 168

Total Cabo
Verde 1029 765 264 74% 3087
Fonte: Divisão de Estatística do INDP/Set/06

49
Caracterização e Diagnóstico
Plano Director Municipal de São Filipe -

O sector da pesca no concelho de S. Filipe apresenta um impacto relativamente


baixo na economia local. É caracterizado por um sistema de pesca artesanal. O
pescado tem como destino, na sua maior parte, o mercado interno sendo uma
pequena parte destinada a outros mercados fora do município.

Apesar de ser um sector que apresenta muitas possibilidades, no município


contínua ainda a enfrentar constrangimentos significativos, destacando-se a
estrutura e o estado da frota, deficiente infra-estruturação, baixa de preparação
técnica dos pescadores, deficiente escoamento da captura e os incipientes
sistemas de armazenamento e de produção de frio para além do problema do
acesso.

Análise Swot no sector da Pesca

Pontos fortes:

 Qualidade do pescado;
 Existência diversificada do pescado;
 Importante fonte de criação de empregos;
 Potencialidade da pesca desportiva e da pesca submarina.

Pontos fracos:

 Inexistência de pesca de alto mar;


 Diminuição da produtividade da pesca artesanal;
 Insuficiência dos sistemas de produção, conservação e distribuição do
pescado;
 Infra-estruturas praticamente inexistentes.

Dinâmica actual:

 Manutenção do nível da produtividade da pesca artesanal.

Perspectiva de evolução:

 Introdução de novas tecnologias de pesca no domínio de aquacultura;


 Necessidade de melhorar os sistemas de produção, conservação e
distribuição do pescado;
 Construção de infra-estruturas de apoio.

1.8.2 Agricultura

50
Caracterização e Diagnóstico
Plano Director Municipal de São Filipe -

Das 5.726 explorações agrícolas existentes na ilha, 88,9% estão ligadas às


actividades de sequeiro e 11,1% ao regadio. Cerca de 2.607 dessas explorações
são chefiadas por mulheres (45,6%). Quanto ao nível de instrução, cerca de 30,5%
dos chefes das explorações agrícolas são analfabetos e 41,8% tem idade superior
a 50 anos, demonstrando assim o grau de dificuldades subjacente em termos de
adopção de novas tecnologias agrícolas.
As actividades pecuárias têm uma importância particular na ilha, evidenciando que
cerca de 94,1% das explorações agrícolas dedicam a esta actividade, com uma
média de 7,1 animais por exploração entre os bovinos, caprinos e suínos, média
essa superior à média nacional que é de 3,8 animais.

A caprinicultura é a actividade pecuária mais importante, ocupando cerca de 75,4%


das explorações pecuárias, com uma média de 6,5 animais por exploração, valor
superior à média nacional que é de 5,8 animais

As potencialidades do município em termos de recursos hídricos, sob o ponto de


vista de águas subterrâneas, estão calculadas em cerca de 441. 000m3 (recurso
tecnicamente explorável em ano médio) sendo a superfície irrigada estimada em
202642 ha.

No tocante às infra-estruturas hidro-agrícolas, o município dispõe de uma rede


considerável de dispositivos, nomeadamente: diques de retenção e de captação
das águas, reservatórios e levadas que, aliados às obras de conservação de solos
e água (banquetas, muretes, caldeiras) constituem um agregado de protecção
ambiental, por todo o território municipal.

No domínio da fruticultura, os projectos permitiram paulatinamente aumentar as


áreas de produção com recurso à rega de compensação através do sistema de
micro - irrigação a partir dos reservatórios de armazenamento de água pluvial, bem
como em áreas associadas com a horticultura irrigada. Relativamente à fixação de
fruteiras em regime pluvial feita através de contratos assinados com associações
comunitárias tem-se deparado com um constrangimento, isto é a taxa de
pagamento tem ficado normalmente muito aquém do desejado. A produção e

51
Caracterização e Diagnóstico
Plano Director Municipal de São Filipe -

fixação de fruteiras têm constituído uma aposta forte nos últimos anos, registando-
se uma média de cerca de 47.000 plantas por ano (ver quadro 32).

Quadro 29 - Plantas fruteiras fixadas de 2001-2007


Anos 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 Média
Plantas fruteiras produzidas e
35.924 35.479 51.103 40.656 55.516 41.270 69.908 47.122
fixadas
Fonte: MAAP

A estratégia da promoção de uma fruticultura concentrada e irrigada com


introdução de variedades mais produtivas e de melhor qualidade, bem como uma
forte campanha de enxertia vem proporcionando resultados encorajadores quer
seja em termos de quantidade e qualidade, quer seja no que concerne aos
resultados económicos conseguidos. A viticultura e vinificação ganharam avanços
importantes, com o aumento considerável da produção vitivinícola, graças a
plantações massivas levadas a cabo e aos investimentos para a ampliação da
Adega de Chã das Caldeiras e para a construção e equipamento da Adega de
Achada Grande. Vários viticultores foram envolvidos, o que significa uma
contribuição importante para a melhoria do seu nível e condições de existência.

A ilha possui actualmente uma disponibilidade hídrica, através da exploração de 12


furos, de 2.650 m³/ dia, sendo 1.630 m³ destinados ao consumo doméstico e 1.020
m³ para rega. Esses valores apresentam oscilações consideráveis dependendo do
período do ano.

Nas áreas agrícolas predominam terras férteis de origem vulcânica, com presença
de microclimas e pluviosidade satisfatória no contexto nacional, representando
oportunidades ecológicas de particular valor para o aumento da produção de
determinados produtos típicos da ilha em regime pluvial ou irrigado (café, uva,
vinho, maçã, entre outras frutas diversas, feijões, hortícolas, etc). A pluviosidade é
muito variável de ano para ano e em regra as precipitações têm carácter torrencial,
sendo a média anual de 344 mm.

As temperaturas são amenas, não ultrapassando a média mensal máxima de 30ºC.

52
Caracterização e Diagnóstico
Plano Director Municipal de São Filipe -

A agricultura é considerada a principal actividade económica do município de S.


Filipe, relacionado com esta actividade, encontramos o fabrico de vinho e bebidas
fermentadas de frutas, em menor escala que o município de Santa Catarina, muito
embora os padres Capuchinhos têm um grande projecto neste domínio, no
município de S. Filipe. Para além disso temos a produção de derivados de leite e
doces típicos do município e da Ilha, em geral, com experiências bem sucedidas no
processo de engarrafamento dos produtos e sua exportação.

Quadro 30 - População agrícola por sexo


POPULAÇÃO AGRICOLA
ILHA /CONCELHO Nº TOTAL MASCULINO FEMENINO
Nº % Nº % Nº %
CABO VERDE 222254 100 106031 47 116223 52,3
FOGO 28691 100 13834 48,2 14857 51,8
S.FILIPE 14622 100 7111 48,6 7512 51,3
Fonte: RGA 2004/MAAP -GEP

De acordo com o Quadro 34, referente à população agrícola por sexo, no município
de S. Filipe o número de Homens que praticam agricultura representa 48,6%, valor
inferior ao número de mulheres que praticam a agricultura, com uma percentagem
na ordem dos 51,3%, de acordo com Recenseamento Geral de Agricultura/MAAP –
GEP.

Segundo o RGA 2004, a área cultivável do Fogo (quadro 34), totaliza cerca de
70.145 litros, correspondendo a 15,8% do total nacional e cerca de 14,7% da
superfície total da ilha. Os Concelhos de S. Filipe e Santa Catarina detêm cerca
82,6% da área cultivável do Fogo. Em relação ao estado do solo, cerca de 3,9%
encontra-se fortemente erodido e 31,19% é pedregoso. A área cultivável de
sequeiro e regadio corresponde a 69.857 litros e 278 litros, respectivamente.

Quadro 31 - Relação das áreas irrigadas no concelho de S. Filipe

Tipo
Nº de de
Ordem Agricultor Zona Concelho Sexo Agua Total
1 António dos Santos Jardim S. Filipe m A 3432
2 Domingos Lopes G. Gomes Patim S. Filipe m A 7401

53
Caracterização e Diagnóstico
Plano Director Municipal de São Filipe -

3 MADR-RM/ FOGO Xaguate S. Filipe C 163


4 Matilde S. Cardoso As-Hortas S. Filipe f A 1520
5 Pólo Educativo C. Figueira C. Figueira S. Filipe C 60
6 Luísa Lopes Alvito S. Filipe f C 220
7 Pedro Eduardo Monteiro Curral Grande S. Filipe m A 5917
8 Eclisângelo Barbosa As-Hortas S. Filipe m A 5902
9 Mário A. Pina Andrade Jardim S. Filipe m A 2009
10 Óscar Amilton F. Pina Cula Jardim S. Filipe m A 7390
11 José S. Baptista Julianes S. Filipe m A 665
12 Pólo Educativo Ponta Verde Ponta Verde S. Filipe m C 36
13 Hospital Cutelo de Açucar Cutelo Açucar S. Filipe m A 3425
14 Ildo Gomes Patim S. Filipe m A 2123
15 Alberto M. Barros Vicente Dias S. Filipe m A 2370
16 Igreja São Lourenço S. lourenço S. Filipe f A 932
17 Manuel Barros Silva Pedro Homem S. Filipe m A 1569
18 Eduardo Antonio Pina Salto S. Filipe m A 1112
19 Quintilhano Lopes Achada Malva S. Filipe m A 8766
20 José Ferreira Brandão S. Filipe m A 10425
21 Joana T. Cardoso Ponta Verde S. Filipe f C 306
22 Projecto Italiano Curral Grande S. Filipe CC 5792
23 Silas José Monteiro Luzia Nunes S. Filipe m A 576
24 Daniel Gonçalves Galinheiro S. Filipe m C 559
25 Florenço de Pina Ach. Mentirosa S. Filipe m A 440
26 Socorro A. Fonseca Roçadas S. Filipe m C 177
27 Manuel da Luz Gomes Penteada S. Filipe m A 1616
28 Nelson Fonseca Silva Luzia Nunes S. Filipe m C 500
29 Liceu São Filipe S. Filipe S. Filipe C 191
30 Paulo Jorge S. Lopes Congo S. Filipe m A 1600
31 José Oliveira Cutelo S. Filipe m C 1253
32 Eduardo A. Pereira Curral Grande S. Filipe m C 352
33 José A. Andrade Alves Forno S. Filipe m A 699
34 Jorge Antonio Barros São Pedro/Mont S. Filipe m A 3173
35 Eurico Gomes Andrade Luzia Nunes S. Filipe m A 4569
36 Agnelo de Pina Patim S. Filipe m C 270
37 Campanas S. Filipe m CC 2300
38 Campanas S. Filipe m CC 200
39 Campanas S. Filipe m CC 200
40 Antonio Oliveira Ribeira Filipe S. Filipe m CC 300
41 César Vieira Santo Antonio S. Filipe m C 720
42 Sebastião B. Silva Alvito S. Filipe m C 425
43 Augusto P. Andrade Jardim S. Filipe m A 4000
44 Jose Soares Piquinho S. Filipe m A 2642
45 Manuel Lopes Brandão Santa Marta S. Filipe m C 832
46 Manuel Antonio Andrade Pedro Homem S. Filipe m C 3100
47 José Centeio Araújo Brandão S. Filipe m A 1586
Carlos A. Monteiro (Tudo
48 Terreno) Pedro Homem S. Filipe m C 3300
49 Luis Alves Luzia Nunes S. Filipe m A 1311
50 Mateus R. da Silva Pedro Homem S. Filipe m A 395
51 Aníbal Alvaro Barbosa Brandão S. Filipe m A 1782

54
Caracterização e Diagnóstico
Plano Director Municipal de São Filipe -

52 Alberto de Pina M. Grande S. Filipe m CC 780


53 Camilo Fernandes Gonçalves M. Grande S. Filipe m CC 920
54 Associação Rª. Filipe Rª. Filipe S. Filipe CC 7854
55 Pólo Educativo Patim Patim S. Filipe C 110
56 Pólo Educativo Forno Forno S. Filipe C 50
57 Pólo Educativo Italiano Italiano S. Filipe C 611
58 Pólo Educativo Luzia Nunes Luzia Nunes S. Filipe C 30
Manuel Antonio Andrade
59 Gomes Patim S. Filipe m A 15000
60 Manuel A. Lopes de Pina Achada Malva S. Filipe m A 3015
61 Maria Inês Dias Oliveira Salto S. Filipe F C 500
62 Associação Ponta Verde Ponta Verde S. Filipe CC 8730
63 Carlitos Gomes de Pina Pé de Monte S. Filipe m C 946
64 Francisco da Silva Baptista Ponta Verde/cv S. Filipe m C 3342
65 Grupo Mulheres de Forno Forno S. Filipe F A 36054
66 Odmir Rodrigues Ponta Verde S. Filipe m C 1960
67 Lúcia Santos Piquinho S. Filipe f C 1800
Jose Domingos Lopes
68 (Vasco) Jardim S. Filipe m A 2007
69 Nilton Augusto Cardoso Ponta Verde S. Filipe m C 340
Maria Gorete Alves de P.
70 Souto Pico Lopes S. Filipe f C 1187
71 Alfredo Gomes dias Patim S. Filipe m C 646
72 Pólo Educativo São Jorge São Jorge S. Filipe m C 111
73 Lucelina Cardoso Gomes Piquinho S. Filipe f C 936
74 Moradia Agua Brava S. Filipe S. Filipe C 130
Alfredo Pina Centeio e
75 Familiares Curral Ochô S. Filipe m CC 2800
76 Baltazar Fidalgo A. Mentirosa S. Filipe m A 2180
Total 202642
Fonte: INE CO 2007

A (agua p/ agricultura)
C (agua p/ consumo)
CC (agua das chuvas para rega de compensação)

Das áreas irrigadas do Concelho de S. Filipe destacam-se os mais importante


como é o caso de Patim, Forno, Brandão, Achada Malva e Ribeira Filipe (Com
maiores áreas), que totalizam quase 50% das áreas irrigadas. O total das áreas
irrigadas nesse concelho, segundo o Censo de 2007, é de 202.642 ha.

No tocante às infra-estruturas hidroagrícolas, o município dispõe de uma rede


considerável de dispositivos, nomeadamente: diques de retenção e de captação
das águas, reservatórios e levadas que, aliados às obras de conservação de solos
e água (banquetas, muretes, caldeiras) constituem um agregado de protecção
ambiental, por todo o território municipal.

55
Caracterização e Diagnóstico
Plano Director Municipal de São Filipe -

Quadro 32 - Parcelas por regime agrícola


PARCELAS
ILHA CONCELHO Nº TOTAL SEQUEIRO REGADIO SEQUEIRO/REGADIO
Nº % Nº % Nº % Nº %
CABO VERDE 85671 100 73852 86,2 10612 1207 1,4
FOGO 12611 100 12517 99,3 93 0,7 1 0
S.FILIPE 5925 100 5875 99,2 50 0,8 1 0
RGA 2004/MAAP -GEP

Estima-se que as culturas de sequeiro no município de S. Filipe ocupem cerca de


5.875 ha de terreno, num total de 5.925 ha, o que corresponde a 99,2% das
parcelas agrícolas enquanto que a área de regadio ocupa cerca 50 ha de
superfície, num total de 5925 equivalente a 0,8% (Recenseamento 2004/MAAP -
GEP) – ver quadro 35.

Os constrangimentos, para a baixa produtividade na produção e rendimento do


sector agrícola, estruturam-se a vários níveis, destacando-se a não conservação
dos produtos, baixa fertilidade dos solos, deficiente gestão dos recursos hídricos e
irrigação, problemas fitossanitários, não assumpção das inovações tecnológicas
pelos agricultores, deficiente integração da produção agrícola e pecuária, incipiente
associativismo agrícola, mercado consumidor limitado e dificuldades no
escoamento dos produtos para centro populacionais com maior poder de compra.

Quadro 33 – Área cultivável em sequeiro segundo a classe de área

CLASSE DE AREA - LITROS


ILHA TOTAL
/CONCELHO <1 1-5 6 - 10 11 - 20 > 20
Nº % Nº % Nº % Nº % Nº % Nº %
CABO VERDE 402948 100 1862 0,5 142026 35,2 142675 35,4 73219 18,2 43166 10,7
FOGO 69857 100 428 0,6 22890 32,8 20142 28,2 15428 22,1 10971 15,7
S.FILIPE 40417 100 64 0,01 11094 27 12228 30 9983 24 7049 17
RGA 2004/MAAP –GEP

No Quadro 37 verifica-se que ainda dentro das áreas cultiváveis em sequeiro


segundo a classe de área por litros, em S. Filipe, maior incidência encontra-se na
56
Caracterização e Diagnóstico
Plano Director Municipal de São Filipe -

classe da área cultivável de 6 – 10 Litros com área de 142.675 Litros e uma


percentagem de 35,4, seguido da classe 1 – 5, com uma área de 142026 Litros e
uma percentagem de 35,2, sem esquecer que a área cultivável em sequeiro de 11
– 20 Litros tem uma forte expressão no Concelho com um valor de 43.166 litros e
uma percentagem na ordem dos 18,2.

Quadro 34 - Área cultivável em regadio segundo a classe de área

CLASSE DE AREA - LITROS


TOTAL
ILHA /CONCELHO <1 1-5 6 - 10 11 - 20 > 20
Nº % Nº % Nº % Nº % Nº % Nº %
CABO VERDE 34755 100 1177 3,4 15564 44,8 8483 24,4 5044 14,5 4487 12,9
FOGO 278 100 8 2,7 153 55,1 30 10,8 27 10,8 60 24
S.FILIPE 175 100 3 4,1 95 5,4 17 0,9 19 10,8 31 17,7
RGA 2004/MAAP - GEP

No Quadro 38, verifica-se que ainda dentro das áreas cultiváveis de regadio,
segundo a classe de áreas por litro, em S. Filipe, maior incidência encontra-se na
Classe de área cultivável de 1 – 5 litros, com uma área de 153 Litros
correspondendo a 55,1%, seguido da Classe de área de 6 -10 Litros com uma área
de 30 Litros representando 0.9%. De seguida vem a Classe da área de 11-20 Litros
com um valor 27 Litros ou seja 10.8%.

Quadro 35 - Exploração agrícola segundo meio urbano e rural


MEIO
Nº TOTAL
ILHA /CONCELHO URBANO RURAL
Nº % Nº % Nº %
CABO VERDE 44450 100 11302 25,4 33148 74,6
FOGO 5726 100 595 10,4 5131 89,6
S.FILIPE 2854 100 388 13,5 2465 86,3
Fonte: RGA 2004/MAAP -GEP

No município de S.Filipe, não discordando dos dados da Ilha do Fogo, verifica-se


um fenómeno muito interessante, porque apresentam uma característica de
exploração agrícola de natureza rural de acordo com o Quadro 39, (RGA 2004 /

57
Caracterização e Diagnóstico
Plano Director Municipal de São Filipe -

MAAP –GEP ) onde de um total 2.854 explorações agrícolas, somente 388,


correspondente a 13,5%, situam-se no meio urbano e 2.465 explorações agrícolas
situam-se no meio rural o correspondente a 86.3%.

1.8.3 Pecuária

As actividades pecuárias têm uma importância particular na ilha, evidenciando que


cerca de 94,1% das explorações agrícolas dedicam a esta actividade, com uma
média de 7,1 animais por exploração entre os bovinos, caprinos e suínos, média
essa superior à média nacional que é de 3,8 animais. A caprinicultura é a
actividade pecuária mais importante, ocupando cerca de 75,4% das explorações
pecuárias, com uma média de 6,5 animais por exploração, valor superior à média
nacional que é de 5,8 animais.

Os criadores são também na sua maioria agricultores. Dedicam-se à criação de


animais, utilizando como suporte recursos ambientais, designadamente, solos,
água e recursos forrageiros. Em função das condições naturais, condição
financeira e valores culturais, os criadores adoptam estratégias diferenciadas de
criação de animais. Neste sentido, encontram-se diferentes modalidades de
exploração pecuária, associadas a grupos de criadores com características
próprias a especificar.

Cerca de 73,1% da população vive no campo, com uma economia frágil,


dependendo essencialmente das actividades agro-pecuárias de subsistência, das
frentes de trabalhos públicos (FAIMO) e da remessa dos emigrantes.

Existem dois tipos de criadores no Município de S. Filipe:

 Criadores associados à exploração tradicional - dedicam-se à criação


essencialmente de caprinos e ovinos em regime semi-extensivo. Utilizam
raças locais e tecnologias tradicionais. Este sistema de exploração pecuária
caracteriza-se pela exploração de animais de raça local com elevada

58
Caracterização e Diagnóstico
Plano Director Municipal de São Filipe -

rusticidade e fraca produtividade. Normalmente os animais são conduzidos


aos campos de pastagem, permanecendo durante o dia nessas áreas,
sendo reconduzidos no fim do dia aos currais.

 Criadores associados à exploração melhorada - estes criadores dedicam-se


à criação de animais de raça local/melhorada, em regime semi-estabulado e
estabulado. Utilizam melhores tecnologias em termos de manejo,
alimentação e cuidados sanitários
Os criadores almejam o aumento sistemático da produção e da produtividade
pecuária, com recurso à introdução e fomento de animais de raça melhorada,
novas tecnologias de exploração animal e melhoramento na alimentação animal
através de um programa sustentável de melhoria da produção de pasto. Esperam
ainda o reforço do apoio institucional visando promover a melhoria da qualidade
das rações e a redução do seu preço.

A existência de áreas expressivas com vocação silvopastoril, nomeadamente a


vocação para a prática de actividades pecuárias, para o normal desenvolvimento
de espécies forrageiras, constitui, igualmente, potencialidades e oportunidades
para a modernização da pecuária e o desenvolvimento de certas fileiras
promissoras (caprina, lacticínios, etc.). Estas potencialidades permitem melhorar o
abastecimento do mercado local, nacional e turístico e criar novas oportunidades
económicas.

Constata-se que a criação de gados tem por objecto a melhoria da dieta alimentar
e a resolução de problemas socioeconómicas principalmente para as famílias
residentes no meio rural.

Os constrangimentos relativos a esta actividade, relacionam-se com a


comercialização dos produtos pecuários, transformação, fornecimentos de factores
de produção, assistência técnica, preservação do potencial genético das raças,
pastoreio livre, sanidade, a nutrição animal e a manutenção do efectivo.

1.8.4 Silvicultura

59
Caracterização e Diagnóstico
Plano Director Municipal de São Filipe -

A gestão durável dos recursos, com base no ordenamento das bacias


hidrográficas, o desenvolvimento dos sistemas agro-florestais e a gestão
participativa dos perímetros florestais, visa melhorar de forma significativa: (i) a
conservação dos solos e da água; (ii) a produção forrageira; (iii) a produção vegetal
sustentável; (iv) a disponibilidade energética.

Atenção particular deverá ser dispensada à prevenção contra os incêndios


florestais e à restauração dos ecossistemas degradados.

A silvicultura é claramente um potencial em certas zonas do Fogo, porque constitui


um caso exemplar no contexto dos resultados da política ambiental Cabo-verdiana,
em particular devido à existência do Parque Natural do Fogo (PNF) e ao eficaz
regime de protecção dos seus valores. Tem-se observado algumas melhorias do
estado geral das populações animais e vegetais que dependem da área territorial
abrangida pelo parque, para além da protecção das plantas e animais endémicas
existentes unicamente nessa região do mundo.

Análise Swot no sector da Agricultura e Pecuária

Pontos fortes:

 Existência de importantes explorações agrícolas nalguns dos principais


vales.
 Agricultura e pecuária como principais sectores de ocupação da população
activa do interior do município;
 Existência de linhas de crédito para novas tecnologias (Irrigação);
 Existência de serviços de apoio à agricultura;
 Existência de Associação de Agricultores e Criadores de gado;
 Existência de Plano Director de Pecuária e Irrigação;
 Existência de Serviços de Agricultura e Pecuária;
 Existência de cadastro pecuário;
 Existência de um efectivo pecuário considerável;
 Existência de importantes áreas silvopastoris.

Pontos fracos:

 Limitação dos recursos naturais, nomeadamente a irregularidade da


distribuição das chuvas associada à dificuldade de retenção dessa água no
solo;
 Inadequação dos sistemas de produção agrícola e pecuária, não permitindo
atingir os níveis de produtividade desejados;
 Alguma resistência dos agricultores e criadores às novas técnicas e
tecnologias;
 Inexistência de unidades privadas de comercialização de factores de

60
Caracterização e Diagnóstico
Plano Director Municipal de São Filipe -

produção;
 Gestão deficiente das áreas silvopastoris;
 Reduzida dimensão da equipa técnica;
 Reduzido número de unidades de transformação pecuária e agrícola;
 Insuficientes pontos de abeberamento de gado;

Dinâmica actual:

 Diminuição da participação da população activa, no sector agro-pecuário;


 Implementação de projectos na melhoria da rega;
 Projecto de Ordenamento de Bacias Hidrográficas em execução;
 Desenvolvimento de projectos em áreas silvo-pastorícias para aumento da
forragem.
 Desenvolvimento de projectos em áreas de protecção e conservação do
solo e da água.

1.8.4 Comércio e Serviços

A adesão de Cabo Verde a Organização Mundial do Comércio (OMC) vai obrigar o


Pais e, em particular ao Município de S. Filipe, um esforço na revisão nas
legislações com objectivo de adequar as regras de comércio interno.

O Município deverá fomentar a criação de um sector comercial moderno e


organizado, através de conveniente regulação e regulamentação do mercado e da
promoção de concorrência.

O Sector do comércio é de suma importância para o município. Actualmente, quase


todas as zonas do concelho encontram-se cobertas de pequenas unidades de
comercialização de bens, principalmente géneros de primeira necessidade.
Existem já no município de S. Filipe grandes casas comerciais de venda que
aglomeram toda a actividade comercial, desde produtos alimentares, passando por
materiais de construção, bebidas e outros. O fraco poder de compra da população
do município condiciona o volume de negócios, do sector, tornando baixa a rotação
de stocks no município.

Um grande constrangimento na actividade comercial é o problema dos transportes


marítimos, que por vezes entrava o desenvolvimento normal de toda a actividade
comercial de S. Filipe em particular e da Ilha em geral.

61
Caracterização e Diagnóstico
Plano Director Municipal de São Filipe -

1.8.5 Agro-Indústria

A produção de Vinhos e de Bebidas fermentadas a partir de frutas embora não seja


ainda uma importante actividade económica no Município de S. Filipe,
contrariamente ao que acontece no municipio de Santa Catarina, existe, contudo,
um importante projecto no domínio da viticultura desenvolvida pelos Padres
Capuchinhos, estimando-se a área cultivada em 25 ha.Aliás, segundo informações
recentes, estima-se, para 2011, uma produção de verca de 75.000 garrafas de
vinho a partir da exploração vínicola de S. Filipe.

Antes utilizava-se métodos tradicionais que ainda é utilizado por alguns produtores,
mas agora utiliza-se métodos sofisticados onde a rentabilidade é maior, com
melhor qualidade e é praticamente exportado na sua totalidade.

A indústria do leite e derivados verifica-se na maior parte do concelho e muitas


famílias ganham pão para sua sobrevivência. Aliado a estas indústrias agro-
alimentares temos também a produção de doces e licores em franca expansão.

Igualmente, o sector industrial é caracterizado por alguns constrangimentos de


entre os quais poderá ser destacado a organização deficiente das cooperativas e
empresas agro-pecuária, deficiente capacidade de comercialização dos produtos,
altos custos de produção, necessidade do mercado consumidor a ser muito bem
explorado no exterior, baixo poder de compra, deficiente acondicionamento e
embalagem dos produtos e carência de pessoal qualificado.

Análise Swot no sector do Comércio e Serviços

Pontos fortes:
 Existência de uma dinâmica comercial forte baseada em produtos diversos;
 Existência de várias agências bancárias;
 Aptidão da população para o comércio (espírito empreendedor);
 Nova unidade agro-industrial.

Pontos fracos:
 Reduzida dimensão do mercado principal;
 Fiscalização deficiente;
 Reduzido número de caixas automáticas no concelho;

62
Caracterização e Diagnóstico
Plano Director Municipal de São Filipe -

 Insuficientes pontos de pagamento electrónico (casas comerciais e


prestadores de serviço).
 Reduzida poupança interna;
 Inexistência de Gabinetes de Orientação Técnica e planeamento de
investimentos.

Ameaças:

 Aumento do número de vendedores ambulantes;


 Aumento da comunidade estrangeira comerciante;
 Fraca rede de escoamento dos produtos (intermunicipal e inter-ilhas).

Oportunidades:

 Existência de uma comunidade emigrante com algum poder de


investimentos e consumo;
 Sensibilidade da Comunidade Internacional em apoiar o desenvolvimento
local;

Perspectivas de evolução:

 Remodelação e ampliação do Mercado Municipal;


 Criação de novos mercados e áreas para feiras;
 Legislação mais favorável.

1.8.6 Turismo

A estratégia do desenvolvimento de Cabo Verde elege o Turismo como o motor da


economia nacional nas próximas décadas. Entende-se assim, que é esperado que
a expansão do sector turístico crie condições à dinamização da economia cabo-
verdiana e induza o desenvolvimento social e a melhoria do quadro de vida da
população, nomeadamente através do aumento e diversificação das oportunidades
de emprego indirecto.

63
Caracterização e Diagnóstico
Plano Director Municipal de São Filipe -

O sector turístico em Cabo Verde representava em 2008 13% do PIB de Cabo


Verde e empregava directamente cerca de 5.165 profissionais (ver Quadro 40).

Quadro 40 -Evolução da participação do turismo no PIB em %.

ANO 1991 1992 1994 1996 1997 1998 1999 2000 2003 2005 2006 2008

% turismo no PIB
1,4 1,5 2,2 2,2 3,25 3,4 3,55 3,86 5,6 10,2 11 13%
Fonte: Cabo Verde-Investimentos.

Fogo tem grandes potencialidades para o desenvolvimento do turismo,


representadas designadamente pelo seu vulcão, característica da ilha com grandes
montanhas até ao topo do vulcão e sua proximidade com a ilha brava que requer
automaticamente uma visita turística embora com deficiente regularidade dos
barcos, com destaque para um pequeno barco de pesca com capacidade para 20
pessoas.

O número dos ingressos turísticos no Fogo no período 2004 – 2007 se apresenta


com um forte crescimento e com uma taxa de desenvolvimento sensivelmente
superior à média nacional (Quadro 41). O nível de crescimento de entradas no
Fogo é muito forte em termos absoluto (+ 379,3% de 2004 a 2007) e 4,3 vezes
maior que a nível nacional. Em contrapartida, a estadia média tem diminuído de 2,3
dias em 2004 para 1,8 dias, daí a necessidade de enriquecer e diversificar a oferta
turística. A constante limitação do número médio de dias de permanência parece
típico de um turismo “ morder e fugir”, que independentemente dos benefícios da
actual taxa de crescimento, ao longo período poderia induzir efeitos de decadência
da “qualidade” da componente turística foguense.

A análise da caracterização do turismo na ilha do Fogo, bem como da sua evolução


recente apoia-se, neste momento, nos dados do INE desagregados por ilhas
referentes ao ano de 2004.

Verifica-se que peso do turismo no Fogo decresceu entre 2001 e 2004, não sendo
possível aferir da sua evolução no último ano. Em 2001 representava 8% do total

64
Caracterização e Diagnóstico
Plano Director Municipal de São Filipe -

dos estabelecimentos e 2,4% da capacidade de alojamento de Cabo Verde, e em


2004 os mesmos valores são de 6,5% e 1,9%.

Apesar do número de estabelecimentos e capacidade de alojamento não ter


variado entre 2001 e 2004, verificou-se um acentuado decréscimo nas entradas e
ainda mais nas dormidas, bem como na taxa de ocupação. O decréscimo foi mais
acentuado nos anos de 2002 e 2003, o que poderá estar relacionado com as obras
de remodelação do Hotel Xaguate em S. Filipe

No entanto, o ano 2008, Cabo Verde registou um aumento significativo de entrada


de turista (333.448), isto face ao último senso que data de 2005. De acordo com os
dados do Instituto Nacional de Estatística (INE)4, a Ilha do Sal continua a ser a
mais procurada acolhendo cerca de 57%, seguido pela Ilha de Santiago com 21%,
Boavista com 9%, Santo Antão com 3,5%, Fogo com 1,5%, São Nicolau 0,6%,
Maio com 0,3% e Brava com 0,1%.

Relativamente a ilha do Fogo, os dados anteriormente citados (1,5%), traduzem


algumas deficiências constatáveis em quase todas as ilhas: infra-estrutura e
serviços, da qual abordaremos mais a frente.

De acordo com os dados apurados pelo inquérito para “análise das características
do movimento turístico em Chã das Caldeiras”, revela um crescimento de demanda
turística na ilha do Fogo, face a media nacional, com um crescimento médio de
67%/ano. O vulcão continua a destacar-se como ex-libris da ilha, seguido pelo
conjunto histórico-patrimonial da Cidade de São Filipe.

4
www.ine.cv

65
Caracterização e Diagnóstico
Plano Director Municipal de São Filipe

Quadro 41 - EVOLUÇÃO HÓSPEDES/ENTRADAS E DORMIDAS 2004-2007: CV-FOGO

2007
Crescimento
2004 2005 2006
1º Semestre médio anual
Total (estimativa)

CV FOGO CV FOGO CV FOGO CV FOGO CV FOGO CV FOGO

ENTRADAS 184.738 1.824 233.548 3.408 280.582 4.038 156.215 3.934 347.144 8.742 29,3 126,4

DORMIDAS 865.125 4.127 935.505 6.880 1.368.018 7.510 660.516 7.315 1.402.369 15.531 20,7 92,1

ESTADIA
MEDIA 4,68 2,26 4,01 2,02 4,88 1,86 4,23 1,86 4,04 1,78
Fonte: INE censo 2007

66
Caracterização e Diagnóstico
Plano Director Municipal de São Filipe

No que respeita à oferta de alojamento existem em S. Filipe os seguintes


estabelecimentos:

 Hotel Xaguate – S.Filipe


 Hotel Savana- S. Filipe
 Pousada Belavista – Achada Pato;
 Pousada Sea Food – S. Filipe;
 Pensão Sea Food -Almada
 Casa Renato – Baixo de Igreja;
 Pensão Fátima;
 Pensão Las Vegas;
 Pensão Eliana Clarise
 Pensão Open Sky;
 Residencial Luanda
 Aparthotel Inácio
 Pensão Arco Iris

A oferta na Ilha é ainda incipiente, a todos os níveis, embora seja visível a atracção
que o Fogo exercerá sobre os investimentos externo nacional. Representava, em
2004, 6,5% dos estabelecimentos turístico e 1,9% da capacidade de alojamento do
arquipélago.

Verifica-se que o turismo em Cabo Verde cresceu, em termos de estabelecimentos


hoteleiros, pessoal ao serviço, entradas e dormidas, tanto no último ano, como
entre 2001 e 2004 (Quadro 42).

Quadro 36 - Procura Turística


2003 2004 2005
Portugal 19,0% 24,3% 25,4%
França 8,6% 7,2% 7,2%
Alemanha 12,1% 9,3% 10,7%
Holanda e Bélgica 6,5% 2,6% 2,6%
Itália 36,2% 34,9% 35,2%
Outros 17,7% 21,7% 18,9%
Fonte. INE cálculos Banco de Cabo Verde

67
Caracterização e Diagnóstico
Plano Director Municipal de São Filipe

Da análise da Procura e dos hóspedes por mercados, verifica-se que:

 Itália, Portugal e Alemanha continuam a constituir os principais mercados


emissores
 Em 2000 representavam 54% dos hóspedes, em 2002 – 55%, em 2004 –
58% e em 2005 – 75%;
 Em 2004 o Mercado Espanhol representava apenas 4,0% e o Francês 5,0%.

A dinâmica de crescimento de Cabo Verde (2004 – 2005) terá certamente


influenciado o comportamento do turismo na Ilha do Fogo no último ano, sendo
expectável que o turismo nesta ilha se consolide e aumente também nos próximos
anos.

Fogo, de acordo com a sensibilidade dos operadores turísticos, não tem um


turismo de massa, ao contrário da ilha do Sal e da ilha da Boavista.

As principais atracções da Ilha são obviamente a Caldeira do Vulcão e o núcleo


histórico de S. Filipe, que mantém ainda muito do traço colonial e se encontra
relativamente conservado. Este núcleo a par do Plateau na Cidade da Praia, do
núcleo histórico do Mindelo e da Vila de Ribeira Brava em S. Nicolau, é um dos
espaços urbanos mais interessantes das ilhas de Cabo Verde. No centro da cidade
encontram-se diversos restaurantes, alguns bares e pequenas unidades hoteleiras,
mas também recuperaram os sobrados tradicionais, conferindo animação a este
espaço urbano.

De entre os variadíssimos pontos turísticos, pode-se destacar os seguintes:


Excursão ao cume do Vulcão, Parque Natural com biodiversidades endémicas
reconhecido mundialmente, os lugares da produção de vinhos e bebidas
fermentadas a partir de frutos, e todo um ambiente característico de um vulcão
activo para além de visita guiada às diversidades de construção com pedras locais
que dão uma característica singular àquela zona. Para além destes, destacam-se
ainda as festas de romaria, a gastronomia, com pratos típicos do Fogo, artesanato

68
Caracterização e Diagnóstico
Plano Director Municipal de São Filipe

feitos com pedra do vulcão, músicas tradicionais, entre outras actividades, que
constituem um património cultural, catalisador do potencial turístico do município.

Quadro 37 - Estrutura da Oferta Turística do Fogo

Tipo de Estabelecimento
Hotéis Aldeamentos Residenc
Hotéis Pensões Pousada Total
Apartamentos Turísticos ial
Fogo 2 7 2 1 1 2 14
Cabo
42 53 8 12 9 48 172
Verde
Quarto
Fogo 54 40 22 14 6 12 148
Cabo
4.470 500 84 295 418 517 6.359
Verde
Camas
Fogo 99 56 45 24 12 24 260
Cabo
8.676 878 125 490 738 801 11.708
Verde
Fonte: INE cálculos Banco de Cabo Verde

De acordo com o Quadro 43, no Fogo ainda predominam as pensões (7), com 40
quartos, e um total de 56 camas, tendo na Ilha apenas (2) Hoteis, com 54 quartos,
um total de 99 camas; (2) Pousadas com 22 quartos, e um total de 24 camas e (1)
Aparthotel com 14 quartos e um total de 24 camas.

Genericamente a oferta da Ilha centra-se nas seguintes actividades:

 Passeios na Cidade de S. Filipe principalmente o Centro Histórico da


Cidade;
 Visitas ao Museu Casa da Memória, onde se pode constatar a história das
Famílias tradicionais do Fogo, seus hábitos e costumes, bem como os
utensílios utilizados desde os tempos primórdios;
 Visita ao Museu Municipal;
 Passeios ao Vulcão, mas também eventos e missões exploratórios
relacionados com a vulcanologia;
 Praia de Salinas;
 Excursão e volta à Ilha;
69
Caracterização e Diagnóstico
Plano Director Municipal de São Filipe

 Passeios ao Parque Natural de Monte Velha;


 Outros passeios de barco, a cavalo;
 Pesca ao alto mar;
 Tracking;
 As festas de romarias, sendo a festa de Nho S. Filipe a par da Bandeirona
os principais atractivos da ilha, os Festivais de Música, etc.

Os principais produtos turísticos são:

 Turismo Cultural;
 Turismo Cientifico – associado à vulcanologia – eventos, reuniões, e.t.c;
 Excursão (em relação às outras ilhas, principais destinos turístico);
 Turismo desportivo;
 Turismo rural;
 Eventos.

Outro dado significativo a reter nesse estudo é o facto do turismo cientifico e do


turismo cultural se afigurarem como principal segmento do mercado para a ilha,
com o principal destaque para o perfil do turista que visita a ilha, sendo na sua
maioria professores, formadores, pesquisadores e grupos de estudantes
universitários.

No domínio do turismo cultural devem ser ressaltados as tradicionais festas de


Bandeirona que acontecem anualmente na zona norte do municipio,
particularmente na localidade Campanas, bem as festas de Nhô. S.Filipe. São
actividades que já fazem parte do roteiro cultural nacional, bem como do roteiro
turistico disponibilizado pelas agências de turismo.

No que tange as ofertas turísticas é importante sublinhar que desde ponto de vista
conceptual a ilha do Fogo em geral, e o município de São Filipe em particular,
ainda não se consolidaram em um atractivo turístico, visto que carecem de infra-
estruturas e serviços que satisfazem os ensejos dos turísticas nacionais e
estrangeiros que visitam a ilha.
70
Caracterização e Diagnóstico
Plano Director Municipal de São Filipe

Possuidor de uma rica história, cujos vestígios patrimoniais o testemunham, e com


um legado imaterial cujos traços são marcadamente de uma sociedade afro-
europeu, onde podemos destacar; as festas de romaria, com maior realce para Nhô
Sanfilipe, a gastronomia, mitos e lendas locais. Todos esses recursos são
passíveis de serem transformados em atractivos turístico, dentro de um
determinado segmento de mercado – o turismo cultural.

Destaca-se também o ex – libris turístico da ilha, o vulcão. Proporcionando um


segmento de mercado turístico diferenciado em relação aos demais recursos que o
arquipélago oferece – Turismo Cientifico – ele tem tido um papel fundamental para
o desenvolvimento sócio – económico da ilha.

Na perspectiva de acolhimento de turistas será importante a reorganização das


ligações aéreas para a Ilha, a partir dos principais destinos turísticos – Sal,
Santiago e Boavista – os quais poderão constituir importantes geradores dos fluxos
de visitantes e de turistas para a ilha do Fogo, uma vez que não é previsível que
esta ilha, possa constituir a curto prazo, um destino de nível internacional.

O Aeroporto de S. Filipe é uma infra-estrutura estratégica para o desenvolvimento


turístico tanto da ilha do Fogo como da Brava.

O turismo baseado na natureza é entendido como uma das formas do ser humano
gozar, na natureza, os melhores momentos de lazer, sem contudo a perturbar e
contaminar. A Natureza é assim um espaço físico onde se pode estudar, desfrutar
e apreciar a paisagem e a vegetação natural, seguindo um processo de
conservação que pressuponha a minimização da degradação ambiental.

Os trabalhos de campo realizados pelo INIDA e por Leyens entre 1997 e 2002 e
recentemente em Novembro de 2006 demonstraram que existem na Ilha do Fogo,
zonas nomeadamente a área da antiga cratera, Montinho e Bordeira cobertas com
uma vegetação, em parte única para Cabo Verde. As encostas de lavas e jorras
vulcânicas, cobertas de verde da vegetação indígena constituem um quadro
paisagístico único não só para Cabo Verde como também para o Planeta. Esses
71
Caracterização e Diagnóstico
Plano Director Municipal de São Filipe

valores associadas à idade dos exemplares da espécie Echium vulcanorum (


Língua-de-vaca), com cerca de 300 anos de vida ( Rivas Martinez ) endemismo
exclusivo da ilha, fazem com que Fogo seja uma das ilhas mais procuradas pelos
turistas que anualmente visitam Cabo Verde.

A paisagem da cratera de Chã das Caldeiras com o vulcão Pico do Fogo faz
parte da mais impressionante aventura da natureza em Cabo Verde. Subir o Pico
exige certa condição e segurança de marcha e se deve ir acompanhado de um
guia.

Uma impressionante aventura totalmente diferente é o caminho de descida da


cratera para Mosteiros, dirigente por florestas de Pino e zonas húmidas da
vegetação da floresta do nevoeiro até o nível do mar. Neste lugar tem plantações
de café, banana e outros. Aqui se encontra a parte tropical da Ilha do Fogo.

Uma excursão para relaxar e banhar está a Ponta de Salinas perto da zona de
São Jorge. Directamente no mar se encontra grutas e rochas protegem da
rebentação do Atlântico. Esta praia durante os fins de semana é um dos preferidos
pontos de encontro da população.

O centro histórico de São Filipe – Bila Baxo – conserva o seu carácter através das
suas casas patrício – os sobrados – da era colonial portuguesa. Algumas destas
casas já se encontram renovadas, outras a borda de ruínas estão a esperar de ser
descobertas por um amante. Elas brilham um orgulho e uma dignidade que
também se pode encontrar nos habitantes de hoje.

72
Caracterização e Diagnóstico
Plano Director Municipal de São Filipe

Análise Swot no sector do Turismo

Pontos fortes:

 É um sector estratégico/prioritário para desenvolvimento da economia


municipal e nacional;
 Existência de unidades de hospedagem ainda que insuficientes em
determinadas ocasiões.
 Centro histórico e património arquitectónico;
 Expansão da cidade de S. Filipe a Sul com uma nova área de potencialidade
turística;

 Existência de uma vasta oferta de recursos turísticos: como o vulção,


turismo rural, turismo cultural, turismo científico e turismo náutico com
actividades a ela associadas (pesca submarina, pesca desportiva, mergulho
desportivo e ciêntífico, desportos náuticos, etc)

Pontos fracos:

 Inexistência de uma zona planificada para implantação de zonas de


actividade turística;
 Insuficientes números de agências de viagens e turismo;
 Insuficiência de sistemas de informação e de roteiro turísticos;
 Inexistência de formas ou práticas de animação cultural;
 Carência de formação no sector hoteleiro e turístico;
 Fraca rede pública de transportes (ligação aos pontos turísticos);
 Fraca acessibilidade aos recursos paisagísticos;
 Distribuição e produção decifitária de energia;
 Inexistencia de um centro de informações turísticas;
 Insuficiência de desdobráveis ou material específico com informações de
apoio ao turista (hoteis, restaurates, passeios, dados principais do
município);
 Inexistência de um Plano Ordenamento Turístico Municipal.
 Deficiente ligação marítima com outras ilhas do país e o exterior.

Ameaças:

 Falta de ligação regular nos transportes entre as ilhas e o exterior;


 Existência do vector transmissor da dengue (pode diminuir o interesse dos
turistas para o país e obviamente pela ilha - medo de contágio);
 Dispersão indiscriminada dos diferentes serviços e estruturas de apoio a
actividade turística;
 Ausência de um regular fluxo turístico na ilha do Fogo;
 Desconhecimento exaustivo por parte dos visitantes de todo o potencial
turístico da ilha;
 Utilização de mão-de-obra não qualificada nos vários serviços afectos as
actividades turísticas.

Oportunidade:

 Crescente procura de promotores turísticos para implantação de novas


unidades hoteleiras e serviços complementares;
73
Caracterização e Diagnóstico
Plano Director Municipal de São Filipe

 Procura de terrenos para a construção de uma segunda habitação em zonas


de interesse turístico;
 Grande ligação e sentido patriótico da comunidade emigrante;
 Possibilidade de entrada em roteiros turísticos temáticos (rota de escravo da
UNESCO, rota dos sobrados, rotas gastronómicos, etc);
 Desenvolvimento sustentável da população local baseada nas mais variadas
ofertas turísticos.

Perspectivas de evolução:

 Aumento do número de unidades hoteleiras, de restauração e serviços


complementares, com a necessária melhoria da prestação de serviços,
designadamente nos sectores de saneamento básico, transportes,
comunicações, saúde, segurança pública, agricultura e ambiente;
 Criação de áreas planificadas para o turismo interno – segunda residência
para os nacionais, contrapondo e gerando nova dinâmica;
 Expansão da cidade de São Filipe a sul como uma nova área de
potencialidade turística;
 Elaboração do Plano Ordenamento Turístico integrada aos outros
municípios.

1.9 Aspectos Culturais

O carácter heterogéneo e simbiótico intrínseco ao surgimento do homo cabo-


verdiano, proveniente da mestiçagem do africano e do europeu, traduziu-se no
aparecimento de uma cultura genuína e muito rica do ponto de vista etno-
antropologico. Diga-se de passagem, que esse valor foi notoriamente reconhecido
a nível internacional com a entrada da Cidade Velha na lista de património mundial,
onde o principal argumento foram sobretudo os aspecto da cultura imaterial,
nomeadamente a língua crioula cabo-verdiana, os hábitos e costumes, as crenças
cristãs e pagãs, e as manifestações culturais, que surgiram a partir do século XV
no arquipélago.

Não obstante do que foi mencionado no parágrafo anterior, é de salientar as


diferenças regionais internas, concernentes aos aspectos da cultura imaterial. O
primeiro refere-se a língua crioula cabo-verdiana, com as suas variantes de ilha
para ilha, as manifestações culturais como o caso da tabanka, banderona, batuco,
etc, e também salienta-se a gastronomia (cachupa, djagacida) todas elas herdadas
apôs 1462 com o efectivo povoamento das ilhas.

74
Caracterização e Diagnóstico
Plano Director Municipal de São Filipe

As músicas e as danças tradicionais, hoje, um marco referencial da nossa cultura,


(Cesária Évora, Ildo Lobo, Nha Nácia Gomi, Codé di Dona, António Denti d’Oro,
etc.)

A ilha do Fogo, tal como as outras ilhas do arquipélago, possui uma característica
própria, resultado das mobilidades sociais e culturais, inter e extra ilha,
características dos países insulares resultante da colonização europeia.
Mobilidades essas, que ao longo do tempo, contribuíram para a formação da
identidade cultural cabo-verdiana. Essa identidade é heterogénea e diversificada,
pois, cada ilha e cada aglomerado populacional possuem as suas características
próprias, algo que enriquece a cultura cabo-verdiana.

Sendo a segunda ilha a ser povoada, as características sócio-economicas


inerentes a esse facto, marcaram de forma profunda a sua herança cultural
imaterial. Entre esses aspectos podemos sublinhar as festas de romaria, que a
exemplo das outras ilhas surgiu no contexto cristão europeu do período colonial,
mas evidenciando algumas características gentílicas do culto pagão africano. A
título de exemplo, podemos citar as festas de Nho San Filipe, bem como as festas
de Bandeirona.

Elas se destacam como as mais populares e as mais tradicionais festas de romaria


de Cabo Verde. A primeira tem o seu início a partir de 24 de Abril e culmina no dia
1 de Maio e caracteriza-se por muito alegria, onde a música, os tambores e os
apitos convivem com a celebração das missas e procissões e também com
corridas de cavalo e muitas outras actividades. A segunda tem lugar sempre no
mês de Fevereiro, antecendo as festas de Carnaval. Normalmente tem a duração
de cerca três semanas e em comemoração a S. João.

A devoção religiosa intrínseca a qualquer sociedade com características idênticas a


foguense tem uma forte presensa e mesclada com profano, o que é identitário das
festas de romarias. Esse facto justifica a grande afluência à ilha durante o período
supra citado. Isto tanto no que diz respeito aos nacionais residentes no
arquipélago, mas acima de tudo na diáspora.
75
Caracterização e Diagnóstico
Plano Director Municipal de São Filipe

Em relação aos espaços culturais, a ilha do Fogo, particularmente a Cidade de São


Filipe é a única a nível nacional a possuir um Museu da Cidade. Desde a década
de 90 do século XX, que se tem recolhido espólios e artefactos para a criação do
“Museu do município de São Filipe”, projecto esse promovido pela câmara
municipal em parceria com outros actores públicos e privados, nacionais e
estrangeiros. Essa estrutura esta albergada num antigo sobrado, restaurado e
reabilitado pela edilidade local.

Também podemos destacar a existência no município de outros espaços de


salvaguarda da memória colectiva que estão intimamente ligadas ao homo
sanfilipense em particular e com os naturais da ilha do Fogo em geral, caso da
Casa da Memória e a Casa da Bandeira. A primeira caracteriza-se como sendo um
espaço de evocação às famílias tradicionais da ilha, representadss por diferentes
espólios de uso quotidiano, e o segundo é como o próprio nome indica, um sitio
dedicado ao mais popular festa de romaria da ilha, ou senão do país, como foi
anteriormente citado.

Ambos os espaços, assim como o museu municipal, se afiguram como um ex-libris


para o posicionamento da ilha do Fogo em geral, e da cidade de São Filipe em
particular como um importante mercado turístico, no segmento do turismo cultural.

É notório no município:

 Elevada envolvência por parte da comunidade sanfilipense nas


manifestações imateriais, sobretudo no tocante as festas de romaria.
 Elevado conhecimento e assunção por parte da comunidade dos hábitos e
costumes herdados e que constituem por si só um património imaterial
enraizado na forma de viver dos sanfilipenses.
 A ausência de um levantamento/inventariação exaustivo e criteriosa de
todas as manifestações culturais activas e não activas, tanto por parte das
autoridades centrais como locais.
 Falta de potenciação de outras festas tradicionais da ilha, ofuscadas pela
principal festa da ilha, como sendo a Bandeirona.
76
Caracterização e Diagnóstico
Plano Director Municipal de São Filipe

Análise Swot no sector do Património Histórico - Cultural

Pontos fortes:

 Rico património arquitectónico, caracterizado pelos sobrados seiscentistas;


 Clara delimitação do centro histórico-patrimonial da cidade e a sua inclusão
na lista indicativa da UNESCO (o que aumenta a sua possibilidade para
uma possível candidatura a património da humanidade);
 Referência nacional em matéria de património intangível, com especial
relevância para as festas de romaria (Nho San Filipe e Bandeirona);
 Enorme auto-estima da população face a sua identidade cultural local e
regional;
 Existência de múltiplos espaços culturais, nomeadamente museus e núcleos
museológicos, e outras infra-estruturas para a servidão cultural;
 Riqueza patrimonial existente nos diversos sectores, arquitectónico,
imaterial, natural, antrópica, paisagístico, etc.;
 Variedade de ecossistemas de grande valor natural (faunístico e florístico) e
paisagístico.

Pontos fracos:

 Carência de um inventário exaustivo relativamente ao património histórico-


cultural do concelho;
 Articulação deficitária entre o poder central e local em matéria de
conservação do património;
 Falta de um programa de sensibilização em matéria de património histórico-
cultural com a população local;
 Carência de uma política museológica para atracção da população local;
 Ausência de normativos e critérios de intervenção no que se refere ao
património arquitectónico do centro histórico de São Filipe.
 Paulatina descaracterização do património arquitectónico;
 Degradação do património natural e paisagístico na orla costeira com a
extracção de areia;
 Pouca atenção dispensada ao património imaterial e cultural;
 Fraca iluminação pública como um todo e sobretudo pouco valorativa do
património arquitectónico histórico.

Ameaças:

 Desconhecimento e/ou perda de todo o potencial patrimonial do concelho;


 Inexistência de um plano de conservação do património com envolvência de
todos os actores institucionais com competência na matéria;
 Afastamento da sociedade civil nas matérias de conservação e preservação
do rico legado patrimonial de ilha;
 Perda dos traços arquitectónicos dos sobrados, herdados do período
colonial;
 Descaracterização da cultura imaterial do município;
 Efeitos secundários da globalização;
 Pressão imobiliária que poderá levar a destruição do ecossistema;
 Descaracterização do conjunto urbano (excesso ocupação lote,
verticalização, construções inacabadas).

77
Caracterização e Diagnóstico
Plano Director Municipal de São Filipe

Dinâmica Actual:

 Projecto de restauração do mercado central;


 Festa da Bandeira;
 Possibilidade da classificação do centro histórico de São Filipe como
património nacional.

Análise Swot no sector da Cultura e Desporto


Pontos fortes:

 Existência de várias formas de manifestação cultural – Tambor, festas da


bandeira, romarias, corridas de cavalo, etc.
 Existência de várias associações desportivas;
 Existência de uma Biblioteca Municipal de leitura pública;
 Existência de Museu Municipal e Casa da Memória;
 Existência de Sobrados que se intercalam com a história de ocupação e
crescimento do município.

Pontos fracos:

 Carência de técnicos qualificados no âmbito do desporto;


 Falta de salas de espectáculo e alguma carência de polivalentes e infra-
estruturas de desporto;
 Insuficiência de equipamentos colectivos destinados a actividades lúdicas
em áreas rurais.
 Carência de equipamentos nos polidesportivos que os possam tornar
multifuncionais, capazes de receber a prática de outras modalidades que
não o futebol.
 Carência de praças e locais de convívio nas zonas afastadas do centro
histórico.

Ameaças:

 Alguma tendência para aumento, entre os jovens, de comportamentos


pouco saudáveis
 Comprometimento do desenvolvimento das potencialidades juvenis no
município (desporto, cultura, artes, etc).

Dinâmica actual:

 Organização da população ao nível do associativismo comunitário, nas


vertentes desportiva e cultural.

Oportunidade:

 Sector de pesca desportiva;


 Restauro de património histórico e sua candidatura a património nacional;
 Políticas públicas favoráveis á dinamização do turismo (atraves da cultura) e
do desporto;

78
Caracterização e Diagnóstico
Plano Director Municipal de São Filipe

2. FÍSICO-TERRITORIAIS

2.1 Aspectos Gerais da Morfologia Urbana


São Filipe está situado a sudoeste da Ilha do Fogo, a cerca de 40 metros sobre o
nível do mar. os limites frontais (rochas) estendem-se aproximadamente cinco
quilômetros ao longo da praia – fonte bila – com fina areia negra contornando a
cidade.

A sede municipal tem uma malha urbana regular na sua parte mais central (Bila
Baixo - centro histórico) e bastante irregular com algumas ruas em terra batida nas
zonas mais periféricas (Ver Fotos 1 e 2).

Foto 1 - Uma zonas periférica ( terra batida) Foto 2 - Uma boa organização da malha urbana

As ruas têm uma largura predominante de cerca de 7 metros, sendo as principais


de 12 metros. Na parte mais consolidada, o calçamento em pedras encontra-se em
bom estado, diferente das demais, com traçado pouco definido e pavimento em
terra batida.

De um modo geral, a faixa de rodagem se mistura com os passeios ou canteiros,


no caso das praças.

79
Caracterização e Diagnóstico
Plano Director Municipal de São Filipe

Os passeios são estreitos, quando existentes, obrigando os pedestres a circularem


pela faixa de rodagem, de modo arriscado e prejudicial ao trânsito (Fotos 3 e 4).

Foto 3 - Uma rua com passeio estreito Foto 4 - Uma rua sem passeio

O conjunto urbano, maioritariamente formado por casas de um piso alinhadas e


sobrados antigos, vem sendo substituído pela construção vertical sem, no entanto,
um aumento da dimensão dos lotes (Foto 6).

Morfologicamente, São Filipe tem alguns padrões homogêneos de ocupação (Fotos


5):

- casas de um único piso em fila com telhados de duas águas;

- sobrados;

- prédios compactos de dois a três andares.

Foto 5 - Tipologia antiga do casco histórico

80
Caracterização e Diagnóstico
Plano Director Municipal de São Filipe

Foto 6 - Tendencia tipológica actual


Há uma forte ocupação do lote (sem recuos por nenhum dos lados, Foto 4), tanto
das casas mais antigas quanto das construções recentes, de vários andares. O
resultado é um conjunto urbano compacto, com pouca ventilação e formação de
corredores de ventos nas vias.

Os lotes antigos ocupados com casas baixas, de fronte para ruas estreitas, vêm
sendo ocupados com casas de dois a três andares, sem qualquer aumento das
suas dimensões ou alargamento da via. Uma vez que as construções não
apresentam recuo frontal, não será possível a longo prazo prever uma
readequação do sistema viário.

Em poucos anos, com o aumento da densidade, a infra-estrutura urbana poderá


apresentar-se demasiada sobrecarregada, faltando vagas de estacionamento e as
vias não conseguirão escoar o fluxo de automóveis, sem mencionar a sobrecarga
no sistema de fornecimento de água e energia.

A inexistência de passeios públicos é uma preocupação, visto que poderá provocar


constrangimentos a curto prazo aos pedestres.

O ritmo construtivo acelerado e a alta taxa de ocupação do lote, levarão a um


aumento da impermeabilização do solo, o que poderá acarretar, na época das
chuvas, possíveis alagamentos e aumento da velocidade do escoamento
(enxurradas).

No que diz respeito ao conjunto edificado, nota-se que algumas edificações com
maior volumetria se encontram a jusante de outras de menor volumetria
interrompendo a circulação do ar e obstruindo a vista para o mar de enorme valor
paisagístico (Foto 7).

81
Caracterização e Diagnóstico
Plano Director Municipal de São Filipe

Foto 7 - Uma construção em altura

 Uso do Solo

O uso do solo é predominantemente misto, havendo um equilíbrio entre os usos


residenciais, institucionais e de comércio/serviços, sem a apresentação de conflitos
até o presente. Contudo, deve-se evitar a aproximação de indústrias poluentes da
malha urbana consolidada, bem como edificações de alta densidade que devem
ser localizadas em zonas periféricas ou de expansão, tendo em conta a habitual
sobrecarga da infra-estrutura urbana com estes gêneros de projectos.

Os usos do solo identificados no âmbito do EROT são actuais e distinguem-se nos


seguintes:

 Usos urbanos;
 Usos Silvo pastoril;
 Usos Agrícola;
 Usos industriais;
 Usos residenciais.

Em relação ao concelho de São Filipe, a utilização dos solos para fins urbanos
confina-se à região litoral, sector sul/oriental. A cidade, localizada na região litoral
árida, tende a expandir em todas as direcções, excepto para oeste que é limitada
pelo mar. Quanto ao padrão de usos do solo urbano não há um modelo com
zonamento bem definido. Verifica-se uma mistura de usos residencial, comercial,

82
Caracterização e Diagnóstico
Plano Director Municipal de São Filipe

serviços, hoteleiros, espaços verdes e de lazer. Contudo, constata-se que a


componente uso residencial é predominante em todo o espaço urbano.

Foto 8 - Ocupação urbana - Concelho de São Filipe


Fonte: Google earth
Destaca-se a ocupação do solo com equipamentos para prestação de serviços
aeroportuários e portuários nas proximidades da cidade da Cidade de São Filipe,
pela importância que revestem no contexto do desenvolvimento da ilha. Não
estando esses equipamentos no centro urbano propriamente dito, mas sim
acoplados ao núcleo urbano principal, asseguram a circulação de pessoas e
mercadorias dinamizando assim a vida da cidade.

Foto 9 -Cais do Vale dos Cavaleiros Foto 10 - Uma aterragem no Aeroporto de S. Filipe
83
Caracterização e Diagnóstico
Plano Director Municipal de São Filipe

Foto 11 - Pista de Aviação São Filipe

No espaço rural, o uso dos solos é maioritariamente para fins agrícolas. Nessa
categoria inclui tanto a utilização dos solos para a agricultura de sequeiro (uso
predominante), agricultura de regadio, que aparece pontualmente em alguns vales
nas regiões de baixa altitude situado perto do litoral-sul, junto às povoações.

A precipitação tem uma influência decisiva na utilização dos solos nas zonas rurais.
No estrato árido do concelho de São Filipe sobressaem a ocupação de solos com
Prosopis juliflora. Essa ocupação característica do sector sul/oriental destina-se
quer à protecção dos solos como também a diversos consumos.

Foto 12 - Mancha de Prosopis juliflora Foto 13 – Agricultura de sequeiro

Nesse andar pouco propício para a prática da agricultura de sequeiro, aparecem


alguns núcleos populacionais dispersos. Regista-se pontualmente a ocorrência de
agricultura de regadio no sector jusante de algumas ribeiras. O uso dos solos para

84
Caracterização e Diagnóstico
Plano Director Municipal de São Filipe

a prática da agricultura de sequeiro intensifica no andar semi-árido como ilustra a


Foto 13.

Com efeito, é notória a ocupação dos solos em regime de fruticultura associada


com a agricultura de sequeiro nas zonas de altas altitudes no sector Sul/Norte do
concelho de São Filipe (andar sub-húmido).

Foto 14 - Agricultura no andar sub-húmido

Em jeito de conclusão, assegura-se que, ao contrário do espaço urbano, nas zonas


rurais o povoamento é em regra disperso podendo contudo aparecer pequenos
núcleos concentrados. O uso de solos para fins residências está associado à
vocação agrícola dos solos e a posse de título dos mesmos.

 Património Histórico–Arquitectónico

A cidade de São Filipe é caracterizada pela sua imponente herança arquitectónica


do período colonial. Referida pelos historiadores5 como extensão da vila da Ribeira
Grande – ilha de Santiago, ela particularizou-se pelo seu povoamento inicial
maioritariamente branco/europeu, que eram proprietários e armadores, e que pelo
seu estatuto justificava a posse de grandiosas e majestosas casas senhoriais, que
ladeavam com as humildes habitações dos negros libertos.

5
CARREIRA António, Cabo Verde – «Formação e Extinção de uma Sociedade Escravocrata (1460-
1878)», 2ªed., Instituto Cabo-Verdiana do Livro, Lisboa, 1983.
85
Caracterização e Diagnóstico
Plano Director Municipal de São Filipe

Pese embora o conjunto histórico-patrimonial de São Filipe se afigure na Lista


Indicativa de Cabo Verde entregue à UNESCO em 2004/2006, constata-se alguma
descaracterização do seu centro histórico.

Essa transformação arquitectónica e urbana é sobejamente notória, uma vez que a


integridade e a própria autenticidade tanto dos edifícios em particular, como do
conjunto, do qual tomam parte tanto os edifícios civis (sobrados), religiosos (igreja
matriz, cemitérios) e administrativos (paços do concelho) sofreram alterações.

Relativamente aos espaços públicos – praças e miradouros - assinalado em


tempos idos como o centro da vida popular da vila de São Filipe, e palco de
grandes acontecimentos, como tomada de posse dos governadores locais e dos
terra-tenentes, sofreram drásticas transformações algumas com carácter
irreversível no que se refere ao traçado arquitectónico original.

A cidade de São Filipe apresenta actualmente alguma descaracterização a nível


arquitectónico e urbanístico motivado pelas seguintes razões:

 Uma acentuada e visível degradação estrutural do seu património imóvel,


em alguns casos apresentado um indesejável estado de conservação.

 Ausência de critérios inequivocos de intervenções construtivas tanto em


obras particulares como pública, segundo as exigências da ICOMOS, uma
vez que o conjunto histórico – patrimonial consta na lista indicativa
apresentada a UNESCO.

 Ausência de uma política evidente e virada para a salvaguarda do


Património Histórico e Arquitectónico por parte das autoridades, o que
impossibilita a preservação de todo o legado colonial herdado.

6
http://whc.unesco.org/en/tentativelists
86
Caracterização e Diagnóstico
Plano Director Municipal de São Filipe

 Falta de uma definição perceptível e consensual da área classificada como


sendo “conjunto histórico protegido” assim como da zona de amortização da
referida área, designada como zona tampão.

 Provável falta de articulação entre os serviços muncipais que zelam pela


preservação do património historico-cultural do município e os serviços
centrais que tutelam o património cultural em Cabo Verde.

 Especulação imobiliária, sobretudo no que toca aos Sobrados, dado o seu


valor patrimonial.

Questões Estruturais

São Filipe está a 25 minutos de vôo da Cidade da Praia, com uma frequência
diária, no horário da manhã e no final da tarde aos domingos. Neste momento, a
companhia marítima de navegação Cabo Verde Fast Ferry, possui uma linha
regular que cobre as cidades da Praia, S.Filipe ( Vale dos Cavaleiros) e o Porto de
Furna, melhorando significativamente a circulação de pessoas e bens. Com a Ilha
da Brava nesse momento a ligação é limitada. Todavia, existem pequenas
embarcações três vezes por semana, que minimizam o isolamento da Brava. As
ligações marítimas com a cidade da Praia e restantes ilhas do país são irregulares
e insuficientes para criar uma dinâmica económica e comercial, o que provoca
grandes estrangulamentos à produção agrícola e pecuária da ilha.

As estradas inter-municipais seguem o perfil topográfico da ilha, motivo pelo qual a


Ilha do Fogo, com o vulcão ao centro, é servido por estradas circulares, dominadas
por dois importantes anéis: o anel principal com cerca de 81 km e o anel superior
com cerca de 42 km. Vale destacar que as primeiras estradas de penetração ainda
existem e poderiam desencravar e ligar várias localidades caso sejam
reabilitadas.De ressaltar que a identificação dessa redes viárias e o fundamento da
proposta de sua reabilitação serão formuladas na proposta de ordenamento.

87
Caracterização e Diagnóstico
Plano Director Municipal de São Filipe

O trajecto até ao município dos Mosteiros faz-se por estradas pavimentadas com
paralelipípidos, distando as duas sedes municipais em cerca de uma hora de carro.
Com relação a Santa Catarina o trajecto é um pouco menor, cerca de 45 minutos
de carro. Ambos os trajectos estão em boas condições de trânsito. No entanto, são
necessárias manutenções pontuais em termos de piso, perfis e correcções de
traçado e protecção de encostas.

Foto 15 - Queda de materiais de encosta (caminho de Rra. Filipe)

Se, por um lado, a ligação com os demais municípios da ilha é satisfatória, a


interligação da sede municipal de São Filipe com as demais localidades de
vocação agro-pastoril é deficitária, sobretudo quanto à regularidade dos
transportes. As vias de penetração que carecem de melhorias e reabilitação serão
identificadas e fundamentadas na proposta de ordenamento.

No que tange ao transporte de mercadorias, um forte indicador económico, o


funcionamento do Porto de Vale de Cavaleiros é bastante problemático: tem
apenas 70 metros de cais, com 5,5 metros de profundidade, débeis equipamentos
de elevação.

88
Caracterização e Diagnóstico
Plano Director Municipal de São Filipe

Foto 16 - Cais do Vale dos Cavaleiros Foto 17 - Edificio de atendimento dos passageiros

O transporte marítmo de passageiros é irregular, sobretudo na ligação com a


cidade da Praia (principal Porto Comercial do País) e demais ilhas, tendo uma
ligação mais freqüente com a ilha da Brava.

A ligação aeroportuária é satisfatória, sendo a Ilha servida por duas companhias


nacionais: TACV e Halcyon Air, com vôos diários, acrescentando-se os voos
charters da Cabo Verde Express.

Análise Swot em Povoamento, Rede Urbana e Morfologia Urbana nos permite


concluir:

Pontos fortes:

 Evolução do povoamento e do ordenamento urbano na sede do município e


nas povoações;
 Situação topográfica favorável (ampla vista para o mar);
 Predominância de baixo gabarito das construções;
 Conjunto urbano harmonioso;
 Convivio saudável de usos compatíveis (residências, comércio e serviço).

Pontos fracos:

 Dispersão do povoamento;
 Fraca hierarquização da rede urbana;
 Fraca hierarquização da malha viária;
 Diminuição da população em alguns povoados;
 Inexistência de zonas urbanizadas destinadas à habitação social e de
tipologia tradicional;
 Baixo controlo no crescimento de alguns povoados e inexistência de
89
Caracterização e Diagnóstico
Plano Director Municipal de São Filipe

programas de habitação;
 Crescimento desorganizado em alguns povoados;
 Ocupação excessiva dos lotes (falta de recuos, avanço sobre passeios);
 Ausência de passeios;
 Falta de delimitação das ruas, passeios e lotes;
 Novas construções em desarmonia com o conjunto urbano (quebra de
gabarito; bloqueamento da paisagem);
 Aumento da densidade urbana desproporcional à infra-estrutura instalada;

Ameaça:

 Desertificação de alguns povoados com consequências no sector agro-


pecuário;
 Dinâmica e pressão de crescimento sem o acompanhamento de infra-
estruturas urbanas;
 Pressão imobiliária;
 Excesso de veículos (falta de estacionamento);
 Alteração da paisagem construída (ameaça ao valor do conjunto urbano);
 Verticalização excessiva em lotes pequenos;
 Projectos de grande porte na zona urbana consolidada (imobiliários,
turísticos e outros).

Oportunidades

 Aprovação do EROT;
 Aprovação de projectos e licenciamento para construção de moradias na
zona centro e áreas expansão;
 Grande procura de lotes para construção de habitação própria;
 Reordenamento de alguns povoados.

Perspectivas de evolução:

 Reorganização da área urbana de São Filipe acompanhada de um plano


desenvolvimento Urbano geral;
 Elaboração de planos de ordenamento (PD) de pequenas localidades;
 Aumento da capacidade de produção de lotes urbanizados;
 Melhoria de acompanhamento da ocupação de solo urbano;

90
Caracterização e Diagnóstico
Plano Director Municipal de São Filipe

Questões Sectoriais
Abastecimento de Água

Nos últimos anos alguns projectos de cooperações internacionais têm contribuído


para a melhoria no abastecimento de água em São Filipe em especial e na ilha em
geral.

A cooperação Alemã num projecto realizado entre 2003 e 2005 (PRODOC)


reabilitou os sistemas e contemplou a formação de pessoal. Por sua vez,
investimentos da cooperação Luxemburguesa, no período 2007-2010, tinha por
meta fornecer a ligação domiciliária de água a 90% da população das ilhas Fogo e
Brava até à cota dos 1.100 metros.

Existem estudos sobre a capacidade aquífera da Ilha do Fogo que afirmam ser
possível utilizá-la sem colocar em causa os níveis de carga dos lençóis. Nesse
momento a exploração está muito abaixo da capacidade da ilha. Contudo o maior
problema encontra-se na profundidade do furo para se alcançar o lençol.

O nível médio pluviométrico anual está entre 200 mm e os 500 mm, suficiente para
o abastecimento da população e para um desenvolvimento económico sustentado,
com a agricultura a utilizar as modernas técnicas de rega. A Ilha do Fogo apresenta
dos maiores índices de pluviosidade do país.

Apesar dos altos índices pluviométricos, o abastecimento de água na Ilha do Fogo


é dos mais difíceis do país, sobretudo devido a uma orografia que torna oneroso o
custo de exploração e pela utilização de equipamentos obsoletos de bombagem da
água dos furos e distribuição, com taxas elevadas de perdas na rede de
distribuição. Não obstante, o preço médio do metro cúbico (190 ECV) ainda é
excludente para boa parte da população, inclusivamente para aqueles que
dependem da actividade agrícola ou pecuária para seu sustento.

91
Caracterização e Diagnóstico
Plano Director Municipal de São Filipe

A maioria das zonas do município não possui água canalizada sendo abastecidas
por água das chuvas, insuficientes para o ano todo o que acarreta a necessidade
do abastecimento por camião auto-tanque.

De acordo com os dados do QUIBB 2007, 74,5% da população de S. Filipe tinha


acesso a uma fonte de água potável estando, contudo, quinze pontos abaixo da
média nacional estimada em 89,5%. Tal situação indicia, como referido,
anteriormente, a necessidade de melhoria de investimentos no sector do
abastecimento de água sobretudo em zonas altas onde a água para o consumo ou
é auto transportada ou então das cisternas.

Segundo os mesmos dados, 45,9% da população tem acesso à água canalizada


da rede pública e 22% abastecem-se nos chafarizes. No que diz respeito aos
agregados familiares, 49,4% possuem rede domiciliária de abastecimento de água,
ligeiramente mais baixo que a média nacional estimada na altura em 50,1%.

Análise Swot Recursos Hídricos


Pontos fortes:

 Existência de um aquífero de base;


 Condições geológicas (formações geológicas de natureza permeável) que
potenciam a recarga do aquífero de base;
 Tradição de construção de cisternas familiares e comunitárias para
conservação de águas pluviais;
 Existência de recursos hídricos subterrâneos

Pontos fracos:

 Reduzido número de
nascentes;
 Grande profundidade dos recursos hídricos subterrâneos;
 Reduzida percentagem de água infiltrada;
 Escassez de cursos de água no território;
 Ausência de infra-estruturas de drenagem e armazenamento das águas
pluviais;
 Inexistência de cursos de água permanente;
 Inexistência de um sistema de tratamento de águas residuais;
 Avultados custos de exploração.
Ameaças:

 Riscos de salinização dos aquíferos, consequência da sobre exploração;


 Poluição com efluentes domésticos dos leitos das ribeiras;

92
Caracterização e Diagnóstico
Plano Director Municipal de São Filipe

Perspectivas de evolução:

 Aumento da exploração do aquífero de base;


 Protecção dos aquíferos e vigilância da qualidade da água;
 Procura de formas alternativas de exploração dos recursos hídricos;
 Execução de uma rede de saneamento, e formas alternativas de recolha e
tratamento;
 Intensificação de alternativas de exploração das águas subterrâneas;
 Construção de barragens e demais infra-estruturas de retenção de águas
pluviais;

Saneamento

O saneamento básico constitui um dos aspectos de maior relevância na gestão de


um município. Está estritamente associado à questão da saúde pública, por
conseguinte com implicações directas no nível da qualidade de vida das
populações locais.

O município não é servido de uma rede de águas residuais domésticas, tampouco


de estação de tratamento. O mesmo sucede com relação à drenagem, recolha e
tratamento da esgoto sanitário.

De acordo com o QUIBB 2007, 30% da população de S. Filipe residia em


habitações com ligação à fossa séptica, situando-se cerca de quatro pontos
percentuais superior à média nacional ( 26,5%)

Cerca de 50,5% dos habitantes tinham como modo de evacuação das águas
residuais “ redor das casas”, bastante superior à média nacional estimada em
31,6%; Cerca de 26,6% dos habitantes jogavam as águas residuais na “natureza,
ligeiramente inferior à média nacional (27,3%).

Se é verdade que não existe uma rede pública de esgoto em numa localidade do
munípio, deve-se, contudo, registar que 65,6% dos agregados familiares estão
ligados à fossa séptica, sete pontos percentuais superior à média nacional (58%).

Ainda de com acordo com os dados do QUIBB 2007, cerca de 65,5% da população
do municipio tinha acesso a casa de banho com retrete, superior à média nacional
93
Caracterização e Diagnóstico
Plano Director Municipal de São Filipe

em cerca de nove pontos percentuais. Contudo, ainda é relativamente elevada a


percentagem da população (23,8%) que não tem acesso a casa de banho com ou
sem retrete ou mesmo a latrina. Ademais, a alta concentração do gado e outros
animais em zonas urbanas também oferece alto risco à saúde pública com a
disseminação de doenças como diarréia, verminoses e doenças de pele, para citar
algumas.

Foto 18 - Animais soltos (Zona Rural) Foto 19 - Animais soltos (Parque do Aeroporto)

A ilha do Fogo, particularmente o Concelho de São Filipe, foi uma das ilhas
afectadas pela epidemia da dengue, que assolou o país. Tratando-se de uma
doença que, para além de outros factores, se associa também à mobilidade das
pessoas torna-se difícil estabelecer uma correlação directa entre as condições de
salubridade do meio e o número de ocorrências. De todo o modo, a questão do
tratamento das águas residuais tem que ser devidamente acautelada, pois, pode
ser uma potencial fonte de propagação dos mosquitos vectores de algumas
doenças contagiosas.

Resíduos Sólidos

No Concelho de São Filipe a nível do espaço urbano há uma cobertura razoável


no concernente aos contentores, assim como uma rede de drenagem de águas
pluviais funcional. No tocante aos resíduos sólidos o centro da cidade São Filipe
goza de um padrão de limpeza muito aceitável quando comparada com os outros
centros urbanos do país. No entanto, a cidade depara com dois problemas que
94
Caracterização e Diagnóstico
Plano Director Municipal de São Filipe

carecem de solução imediata: a inexistência de uma rede de esgotos e a criação


de animais domésticos, o que representa uma séria ameaça para a saúde pública.

O vazamento de resíduos a céu aberto nos arredores de são Filipe constitui um dos
aspectos do saneamento que merece atenção especial.

Foto 20 - Lixeira municipal

Quadro 44. Principal modo de evacuação de resíduos sólidos


Cabo Verde S. Filipe
Contentores 47.7 36.8
Carros de Lixo 15.2 0.5
Enterrados/Queimados 7.8 14.9
Redor de casa 7.5 24.7
Natureza 21.5 23.1
Outro 0.4 0.0
Fonte: INE. QUIBB 2007

Como se pode ver pela leitura do quadro 44, a forma predominante de evacuação
dos resíduos sólidos em S. Filipe é o uso de contenttores, a que seguem a
colocação ao redor das casas (24,7%) e na natureza (23,1%). Esta situação coloca
como preocupação a questão ambiental e de saúde pública.

95
Caracterização e Diagnóstico
Plano Director Municipal de São Filipe

Recentemente a aquisição de uma incineradora criou novas perspectivas que


poderão vir a contribuir significativamente para uma melhoria da gestão dos
resíduos sólidos.

Nas zonas peri-urbanas, a situação do saneamento do meio tende a piorar, pois,


existe uma correlação entre o modo de vida da população e o saneamento básico
do meio.

Lixo
A questão do lixo, tanto no que diz respeito à colecta quanto à destinação final, é
prioritária em São Filipe.

Actualmente, a recolha é feita todos os dias da semana nos bairros e até


recentemente todo o lixo recolhido era depositado numa lixeira a céu aberto
próximo do centro urbano (a menos de um quilometro –Foto 20). Porém, esse
quadro tende a melhorar significativamente com o funcionamento em pleno da
incineradora recentemente adquirida e instalada na localidade de Genebra.

Não há no município a recolha selectiva de lixo, apesar de já despontar algum


artesanato com o uso de material reciclável.

De acordo com o PAM é possível identificar algumas das principais causas do


aumento do lixo no município: (1) aumento da população na área urbana, derivado
do êxodo rural; (2) aumento dos estabelecimentos comerciais; (3) aumento de uso
de materiais não biodegradáveis (garrafas, plásticos, latas, etc.); (4) aumento da
criação de animais nos centros urbanos e nas povoações; e (5) a fraca capacidade
de resposta do serviço de saneamento.

A grande quantidade de lixo produzida, aliada à falta de um incremento nas


atividades de recolha, tem levado à alta concentração de resíduos sólidos no
entorno dos contentores, jogados em ribeiras e nas bermas de estradas de pouco
uso.

96
Caracterização e Diagnóstico
Plano Director Municipal de São Filipe

Foto 21 - Acumulação do lixo num dos contentores

A principal consequência da falta de capacidade de eliminação do lixo produzido é


o aumento dos insectos e outros vectores de doenças, pondo em risco a saúde
pública.

Um outro tipo de resíduo cujo aumento tem sido observado nos últimos anos são
os entulhos gerados pela construção civil. Restos de materiais como blocos, betão,
pedaços de madeira, ferro e outros que são encontrados nas bermas das estradas
que dão acesso ao Vale dos Cavaleiros e à praia de Nossa Senhora, mas também
nas novas áreas de expansão nomeadamente, Alto Xaguate e Xaguate Cima. É de
se referir também a falta de sanitários públicos e de caixotes de lixos nas praias.

Foto 22 - Entulhos na ribeira e na berma de estrada

97
Caracterização e Diagnóstico
Plano Director Municipal de São Filipe

Análise Swot no sector das Infra-Estruturas de Água e Saneamento Básico


aponta-nos para:

Pontos fortes:

 Abundantes reservas de água no concelho;


 Abastecimento permanente de água às populações através de furos, poços
e fontenários (cidade São Filipe);
 Existência de galerias de drenagem de água;
 Topografia favorável à drenagem e instalação de infra-estruturas de
saneamento;
 Bom nível de saneamento (acima da média nacional);
 Existência de Incineradora de resíduos sólidos;
 Empenho e cooperação da população local.

Pontos fracos:

 Inexistência de rede pública de esgotos;


 Insuficiente número de casas ligadas à rede;
 Dificuldades de abastecimento nas zonas mais altas do município;
 Criação de animais nas proximidades das residências (no rural);
 Risco de propagação de doenças através dos agentes transmissores;
 Possibilidade de contaminação de lençóis freáticos;
 Alto índice de moradias sem casas de banho e retrete;
 Insuficiente cobertura na colecta de lixo;
 Falta de coleta selectiva de lixo.

Ameaças:

 Impacto ambiental irreversível;


 Risco de epidemias;
 Contaminaçao solos e lençol freático.

Oportunidades:

 Empenho do governo na estruturação de uma política nacional de


saneamento;
 Construção de Incineradora;
 Consciencialização da população na luta pelo saneamento comum;
 Implantaçao de programa de colecta selectiva de lixo (e reciclagem de
materiais).

98
Caracterização e Diagnóstico
Plano Director Municipal de São Filipe

Energia
Com relação ao consumo doméstico, principalmente aquele destinado à
alimentação, dados do QUIBB 2007 demostram que muitas famílias continuam a
utilizar a lenha, em detrimento do gás, para a confecção dos alimentos. O alto
preço do gás aliado ao alto índice de pobreza tem mantido a lenha como principal
combustível doméstico, o que implica, ademais, forte impacto ambiental com o
desmatamento de muitas áreas florestadas.

Com a nova localização dos geradores em São Filipe na estrada do porto de Vale
de Cavaleiros e com o aumento da potência para 4250 Kva, espera-se minimizar
os problemas actuais verificados na distribuição. Espera-se que as necessidades
venham a ser supridas no curto/médio prazo com a instalação de uma potência de
10.000 kva previsto para um prazo de 4/5 anos.

Segundo dados recolhidos junto do responsável local da Electra, a potência de


energia eléctrica instalada actualmente no município é 2395 kva repartida da
seguinte forma: Cidade de São Filipe – 2.200 kva e Cova Figueira – 195 kva. O
número de clientes totaliza os 2.300, ou seja, uma taxa de cobertura de 35%. Essa
taxa é inferior à média nacional. Importa-se referir que existe uma central autónoma
em Ponta Verde que abastece toda a freguesia de S. Lourenço e parte de S. Filipe
cobrindo mais de 12 mil habitantes e que brevemente será desactivada com a
entrada em funcionamento da central única da ilha.
Pelo quadro que se segue, considerando a média de consumo de 6KVA por fogo
(família), conclui-se que nem a potência actualmente instalada dá satisfação às
familias nem a potência projectada. A grande conclusão que se tira é de que a
situação tende a piorar seja qual for a taxa de crescimento que vier a se verificar. A
situação é muito mais grave pois que não estão contabilizdas outras necessidades
tais como o abastecimento industrial, hoteleiro e nem iluminação pública nem
tampouco o fornecimento aos outros municípios da ilha. Portanto, a questão da
energia eléctrica afigura-se como uma enorme preocupação para o
desenvolvimento do município de São Filipe.

99
Caracterização e Diagnóstico
Plano Director Municipal de São Filipe

Quadro 38 - Necessidade energética para o município


População em 2022
População
Taxa crescimento
Energia Electrica
2000 0.8 1.8 2.5
23090 27738 28701 40078
Nº Agregado 4578 5547,6 5740,2 8015,6
Necessidade (KVA) 27468 33285,6 34441,2 48093,6
Previão (KVA) 10000 10000 10000 10000
Balanço -17468 -23285,6 -24441,2 -38093,6
Deficit cobertura -0,63594 -0,69957 -0,70965 -0,79207

No sector da Energia foi possível constactar :

Pontos fortes:

 Condições de aproveitamento de energias renováveis, em especial a eólica,


geotérmica, solar e do mar;
 Período de funcionamento de 24 horas/dia da central eléctrica na cidade
São Filipe.

Pontos fracos:

 Perdas na rede instalada de transporte de electricidade;


 Utilização excessiva de lenha na confecção de alimentos;
 Fraco sistema de iluminação pública;
 Fraca potência eléctirca instalada condicionando o desenvolvimento de
indústrias.

Ameaças:
 Irregularidade de abastecimento de combustíveis para funcionamento das
centrais;
 Forte dependência aos combustíveis fósseis;

Oportunidades:

 Estudos sobre a potencialidade da ilha no domínio das energias renováveis;


 Ampliação da rede MT e BT para a alimentação de algumas localidades;
 Conjuntura internacional favorável a investimentos nas energias limpas.

100
Caracterização e Diagnóstico
Plano Director Municipal de São Filipe

Recursos Paisagísticos
O município de São Filipe conta com inúmeros recursos paisagísticos de potencial
turístico: a zona de Fonte Bila, Salinas, bem como o próprio património histórico
edificado. A flora e fauna típicos, juntamente com a população e a sua arquitectura
compõem um conjunto significativo de atracção turística a nível nacional e
internacional.

Na extensão costeira, as praias de areia preta (Fonte Bila e Nossa Senhora) e a


estância balneária de Salinas (com ponte e piscina natural), formam um segundo
conjunto paisagístico de relevância na região.

Foto 23 - Um aspecto da Paisagem da praia de Salinas

Merece destaque o centro histórico de São Filipe, cujo casario formado por
sobrados dá ao município condições de exploração de seus aspectos históricos.

Finalmente, mas não menos importante, a orografia do Município permite desfrutar


de uma vista deslumbrante do mar, os diversos cones vulcânicos que marcam a
paisagem, diferentes composições de vegetação, tendo como pano de fundo a Ilha
Brava, resultando numa agradável e singular paisagem que poderá ser o grande
atractivo de turismo residencial, ou dita segunda residência.

101
Caracterização e Diagnóstico
Plano Director Municipal de São Filipe

Foto 24 - Exemplo de alguns pontos notáveis da paisagem

Análise Swot neste sector Património Natural e Paisagístico:

Pontos fortes:

 Elevado valor cénico da paisagem, apresentando uma grande variedade de


formas de relevo, dominada por, arribas litorais, vales imponentes, etc;
 Enorme interesse turístico e potencialidades de desenvolvimento do sector
baseado no património natural e paisagístico;
 Inexistência de poluição ambiental;
 Existência de uma Lei Florestal;
 Existência de legislação e planos ambientais.

Pontos fracos:

 Grande vulnerabilidade dos ecossistemas, nomeadamente devido à aridez


climática, ao uso inadequado do solo e dos recursos naturais;
 Exploração desordenada de inertes com consequente impacto ambiental e
paisagístico;
 Reduzida capacidade institucional de seguimento do cumprimento do
quadro legal que regulamenta a protecção e exploração dos valores
naturais;
 Degradação do coberto vegetal em resultado da intervenção humana e de
um pastoreio intensivo e descontrolado;
 Empobrecimento da paisagem devido à erosão;

Ameaças:

 Mudança Climática;
 Turismo de massa.

Perspectivas de evolução:

 Implementação da legislação que regulamenta a protecção ambiental e


paisagística;
 Melhoria das condições ambientais, evitando a destruição de recursos não
renováveis;
 Implementação de programas de informação, sensibilização e formação dos
residentes e visitantes.
102
Caracterização e Diagnóstico
Plano Director Municipal de São Filipe

Habitação

Não há qualquer delimitação de zonas urbanas de interesse social, tampouco um


Plano Municipal de Habitação, existindo apenas acções pontuais e dispersas da
Câmara Municipal e outros agentes promotores de habitação social, como
organizações não-governamentais e organismos de cooperação internacional,
bilateral ou multilateral. Em termos de programas, o PEM sugere um loteamento
municipal para a auto-construção de moradias sociais; o apoio técnico-logístico à
auto-construção e a construção de Centros de Dia para a Terceira Idade.

Outra questão premente é a delimitação do perímetro urbano, com vistas a


direccionar a expansão da cidade e orientar os investidores (residentes e
emigrantes). É importante enfatizar que novos loteamentos dispersos pelo território
dificulta o acesso aos serviços básicos como água, luz e saneamento.

No panorama geral do município destacam-se inúmeras habitações inacabadas e


outras tantas fechadas, pressionando o crescimento da malha urbana para áreas
ainda não infra-estruturadas.

No meio rural, bem como nas zonas urbanas principais e secundárias e demais
aglomerados populacionais, há dificuldades na obtenção da casa própria, apesar
dos moradores possuírem os terrenos, sobretudo em conseqüência do baixo poder
económico.

Análise Swot no sector da Habitação:

Pontos fortes:

 Edifícios de importância histórica e cultural a preservar existentes na cidade


e nas áreas rurais;
 Parque habitacional quase exclusivamente unifamiliar;
 Elevado número de fogos cuja propriedade é do próprio habitante;
 Elevada taxa de crescimento do número de alojamentos;
 Forte presença de investimentos da emigração no parque habitacional.

Pontos fracos:

 Parte significativa das habitações não dispõe de todas as infra-estruturas

103
Caracterização e Diagnóstico
Plano Director Municipal de São Filipe

necessárias, designadamente da rede eléctrica, água, esgoto etc.


 Fiscalização deficitária por parte da Câmara Municipal em relação à
ocupação e implementação dos projectos no solo urbano;
 Elevada taxa de ocupação dos lotes, diminuindo áreas de permeabilidade e
de infiltração das águas da chuva;
 Pressão imobiliária sobre a Câmara Municipal, resultando em planos
urbanístico de expansão com excessiva preocupação comercial;
 Rede de acessos e infra-estruturação dos lotes deficitária;
 Excesso de construções inacabadas durante muitos anos (compromete o
conjunto paisagístico construído; força a expansão da malha urbana sem
uso da infra-estrutura instalada);
 Existência de vazios urbanos.
Ameaça:

 Qualidade de materiais primários de construção nomeadamente arreia das


praias;
 Interrupção de abastecimento frequente dos materais na ilha provocando
rotura de stocks;

Oportunidades:

 Elevada procura de lotes para construção de habitação unifamiliar;


 Grande procura por construção de segunda residência em zonas de
vocação turística;
 Planificação e urbanização de áreas de expansão urbana;
 Implementação de programas de reabilitação de habitações no meio rural;
 Implementação do Programa Casa para Todos e do plano nacional de
habitação em desenvolvimento pelo governo.

Perspectivas de evolução:

 Desenvolvimento do mercado a nível habitacional;


 Implementação de uma política municipal de habitação;
 Implementação de programas de promoção habitacional através de
protocolos de cooperação entre a Câmara Municipal e outras entidades de
habitação económica e social.

104
Caracterização e Diagnóstico
Plano Director Municipal de São Filipe

Desporto, Lazer e Áreas Verdes

Como infra-estrutura desportiva existente deve-se referir o Estádio 5 de Julho,


arrelvado e iluminado que recebe os jogos para o campeonato regional e nacional.
A nivel desconcentrado, o municipio dispõe, ainda, de campos de futebol em S.
Lourenço, Salto e o de Lém de Cima em fase de conclusão, ampliando as
possibiliades da prática de desportiva e de ocupação dos tempos livres. Deve-se,
ainda apontar a existência dos polidesportivos cobertos de S. Filipe e S. Lourenço
e das placas desportivas de Monte Largo, Patim, Luzia Nunes, Lacacã, Cabeça
Monte, Ribeira Filipe, Campanas de Cima, S. Jorge, Galinheiro e Snato António,
podendo-se dizer que existe uma adequada cobertura em termos de infra-
estruturas desportivas a nível do município, havendo a necessidade de uma
adequada manutenção ou de upgrade

Está em construção um complexo desportivo municipal, no bairro Congresso. O


complexo compreende um campo de futebol, pista de atletismo e pista para corrida
de cavalos, com arquibancadas para cerca de 1.600 pessoas.

Os demais equipamentos desportivos existentes consistem maioritariamente de


placas para futebol de salão e basquete, em bom estado de conservação e
aparentemente bem distribuídas pelo município, inclusive pelos povoamentos do
interior. Todavia, esses equipamentos, estão limitados à prática do futebol de salão
ou do basquetebol.

No concernente a áreas públicas de lazer/estar denominadas zonas verdes


(praças) o centro histórico está bem servido e as praças estão bem
conservadas.De ressaltar ainda a existência do Museu da Cidade e da Casa da
Memória, oferecendo sessões de cinema regularmente.

Contudo, os bairros afastados apresentam forte carência de espaços públicos de


lazer e recreação.

105
Caracterização e Diagnóstico
Plano Director Municipal de São Filipe

Foto 25 - Praça pública Foto 26 - Ornamento e enquadramento das Vias

Há falta de espaços públicos de convívio em São Filipe, especialmente fora do


centro histórico e nas demais localidades. Os principais locais de encontro e lazer
junto à natureza são as praças. O PEM propõe a criação dum grande Parque
Verde Urbano cuja pertinência e localização deverá ser prevista neste PDM.

Por sua vez, o Plano Ambiental Municipal acrescenta o aumento de outras áreas
verdes a serem detalhadas no PDM:

No que diz respeito ao lazer cultural, há uma única sala de projeção de filmes,
pouco utilizada pela população devido à baixa qualidade de oferta (exibição
frequente de filmes antigos e desinteressantes para o público local).

Abastecimento Alimentar

O abastecimento alimentar em São Filipe está centralizado no mercado municipal,


havendo, no entanto, a venda directa e informal complementar a este serviço, com
vista a atender principalmente restaurantes e pensões.

O mercado marca a paisagem municipal, para além do abastecimento, pela sua


importância cultural, dado ser hábito local a visita matinal à procura de produtos
frescos.

106
Caracterização e Diagnóstico
Plano Director Municipal de São Filipe

No meio rural o abastecimento é feito pela venda directa e em alguns casos


mediante trocas comerciais.

Segurança

Conforme as informações fornecidas pelo Comandante Regional da Polícia


Nacional, município conta com:

 uma esquadra policial localizada em Lém-Cima e que é o comando geral da


ilha do Fogo. Possui um total de 39 efectivos, responsáveis pela segurança
de todo o Concelho acrescidos de 03 homens no Comando Regional.

No concernente à infra-estrutura da segurança pública, o Plano Estratégico


Municipal aponta para a construção de novas instalações: dois postos, um no
centro da Zona Sul – Patim, e outro no centro da Zona Norte, em Ponta Verde.

A nível de de violência urbana a mesma fonte assegura que os crimes contra o


património vêm aumentando nos centros urbanos, zonas de maior aglomeração, e
que a situação complicou-se um pouco mais com os retornados.

Quadro 39 - Nº mínimo de efectivos da policia necessária


População em 2022
População
taxa crescimento
Agentes de Ordem pública
2000 0.8 1.8 2.5
23090 27738 28701 40078
Nº Agregado Populaçao Base 4578 5547,6 5740,2 8015,6
Agente 1 agente /400 pessoas 58 69 72 100

Pelo quadro acima, verifica-se que existe um déficit de elementos o que chama
atenção para o futuro.

A nível de trânsito praticamente não há registos de acidentes derivados do estado


das estradas mas sim registos de acidentes graves por negligência. Já a nível de
circulação e segurança dos pedestres a situação é considerada preocupante

107
Caracterização e Diagnóstico
Plano Director Municipal de São Filipe

devido à inexistência de passeios o que favorece a ocorrência de acidentes com


peões.

A falta de iluminação pública nocturna, sobretudo nos novos bairros é outro ponto
fraco que colabora para a insegurança da população.

Uma atenção especial deverá ser dada em relação à criação de quartel de


bombeiros numa razão de de 1 para cada 20000 habitantes.

Indústria

Perspectiva-se a criação de uma zona industrial, de perfil agro-alimentar, no PEM.


É requerido que este PDM confirme a necessidade e aponte a melhor localização.

Neste momento, a CMSF definiu uma zona industrial ( Xaguate -EMPA). Uma vez
que são planos e loteamentos antigos, anteriores à expansão da cidade em
direcção ao porto, essa zona parece estar um pouco desfasada da realidade.

As áreas de produção agro-pastoril carecem de infra-estruturas de apoio à


produção e transformação dos produtos.

No sector da Industria a Análise Swot permitiu sintetizar em:

Pontos fortes:

 Existência de matérias-primas nas diversas áreas tais como agricultura,


pecuária, pesca e inertes para construção civil;
 Existência de porto e aeroporto para escoamentos de produtos;
 Áreas para implantação de zonas industriais.

Pontos fracos:

 Inexistência de um parque industrial;


 Insuficiência de incentivos para fixação de indústrias;
 Deficiência na capacidade de fornecimento de energias;
 Baixa qualificação profissional dirigida aos sectores produtivos da indústria.

Ameaças:

 Importação de materiais manufacturados em todos os sectores.

108
Caracterização e Diagnóstico
Plano Director Municipal de São Filipe

Oportunidades:

 Entrada de Cabo Verde na OMC;


 Incentivos de exportação para os EUA no quadro da AGOA;
 Entrada em funcionamento da escola de formação profissional.

Transporte colectivo

O transporte entre os municípios da Ilha da Fogo e entre a zona urbana de São


Filipe e localidades no interior é realizado por privados do tipo Hiaces ou táxis. Os
horários não são regulares, o que prejudica as trocas comerciais e turísticas entre
as diversas localidades, sem mencionar as dificuldades de deslocamentos por
questões administrativas, escolares e de saúde.

O município carece de um Plano Municipal de Transportes, capaz de satisfazer as


necessidades dos munícipes e de responder aos desafios actuais de
desenvolvimento e competitividade económica.

Análise Swot no sector das Infra-estruturas de Transportes

Pontos fortes:

 Ampliação e modernização do aerodromo;


 Remodelação/construção do anel rodoviário da ilha;
 Ampliação e modernização do porto de Vale Cavaleiros;
 Irregularidades e insuficiência em termos de transporte público.

Pontos fracos:

 Reduzido tamanho da pista do aeródromo;


 Inexistência de condições para voos nocturnos;
 Terrenos muito irregulares;
 Irregularidade nos transportes públicos;
 Sinalização deficiente da rede viária.

Ameaças:

 Crise económica mundial;


 Alguma falta de capacidade e estímulo para/da a classe empresarial
privada.

109
Caracterização e Diagnóstico
Plano Director Municipal de São Filipe

Oportunidades:

 Construção de uma estrutura aeroportuária para aviões de grande porte;


 Ampliação do Cais de 75m x10 metros para 110 x 10 metros;
 Construção de um cais de pesca com 30 metros comprimentos e 3 de
profundidade;
 Novas ligações marítimas inter-ilhas por ferry-boat;
 Manutenção de actividades piscatórias nos portos existentes.

Perspectivas de evolução:

 Esforço de melhoria das acessibilidades às povoações mais afastadas das


estradas municipais;
 Elaboração de um Plano Rodoviário e sistema viário municipal;
 Abertura de novos acessos a aglomerados populacionais dispersos;
 Melhoria em alguns troços da acessibilidade existente a povoados do interior
do concelho.

Turismo

Tendo em vista ampliar a infra-estrutura turística em São Filipe, o PEM fez uma
série de sugestões a serem detalhadas neste PMD: (1) percursos pedonais de
interesse ecológico; (2) rede de miradouros; (3) parque de campismo.

Atualmente, o turismo é precário no município, à semelhança de toda a ilha. Há


pouca valorização do património arquitectónico edificado. No que tange à
gastronomia, apesar da sua diversidade e qualidade não há uma boa interligação
dos sectores de promoção da gastronomia com os sectores produtivos: agricultura,
pesca e pecuária.

Observa-se em São Filipe um forte potencial para o ecoturismo que ainda se


encontra pouco explorado.

A deficiência nos transportes e as estruturas de apoio ao sector turístico, têm


dificultado o turismo no município e na ilha.

110
Caracterização e Diagnóstico
Plano Director Municipal de São Filipe

3. FÍSICO-AMBIENTAIS

3.1 Aspectos Geográficos, Geomorfológicos e Geotectónicos


A ilha do Fogo com uma superfície de 476 Km2 é um cone vulcânico, de forma
aproximadamente circular, com o diâmetro na ordem dos 25 Km. A cota máxima
atinge 2829 m de altitude e localiza-se no flanco oriental da Caldeira.

Figura 8 - Ilha do Fogo com o concelho de São Filipe delimitado

No centro do vulcão formou-se uma enorme caldeira com 9 km de diâmetro


(Heleno, 2003), Figura 8 . Supõe-se que essa caldeira, designada localmente por
Chã das Caldeiras e situada a 1700 m de altitude, se deve ao afundamento do
tecto.

Do lado ocidental, onde se insere o município de São Filipe, há um desnível na


ordem dos 1000 m entre o fundo plano de Chã das Caldeiras e topo da bordeira,
configurando uma geomorfologia em forma de semi-arco, que se abre do lado
oriental. O cone vulcânico constituído essencialmente por lavas e escoadas de
piroclastos intercalados, apresenta declives mais acentuados do lado Este e NE
(extremo norte do concelho), sendo de referir a ausência de formas planas de
grandes dimensões o que influi no ordenamento do território.

111
Caracterização e Diagnóstico
Plano Director Municipal de São Filipe

Heleno (2003, apud Orlando Ribeiro, 1960) assegura que a parte inferior das
encostas da ilha é menos íngreme que a superior, situando-se a fronteira
morfológica nos 1200-1500 m de altitude. Abaixo deste nível, encontram-se lavas
basálticas bastante fluídas, alternando com raros piroclastos.

O contorno litoral é formado por arribas verticais de erosão marinha (Foto.27), com
excepção de três zonas correspondentes a plataformas de lavas (fajãs) no NE, SE
e NW da ilha, limitadas no interior por arribas fósseis (Ribeiro, 1960; Day et al.,
1999).

Foto 27 - Um aspecto do contorno litoral

Acima dos 1200-1500 m o declive acentua-se, em algumas zonas de forma brusca,


coincidindo com o aparecimento de espessas camadas de piroclastos intercalados
com escoadas de lava mais raras. Parece, portanto, que os materiais na base do
edifício correspondem à actividade efusiva, em que o derrame de lavas fluídas
produziu declives suaves. Os materiais das zonas superiores, cuja maior
viscosidade resultou em relevos mais íngremes, correspondem a actividade
predominantemente explosiva (Ribeiro, 1960).

É notória a ocorrência de cones de escórias, em geral com 50 a 100m de altura,


distribuídos de forma desigual nos flancos da ilha, sendo mais comuns na meia
encosta e na zona baixa e observando-se uma maior densidade numa faixa estreita
112
Caracterização e Diagnóstico
Plano Director Municipal de São Filipe

e radial na zona SE da ilha. No concelho de São Filipe, aparecem nas zonas SW e


NW (Machado e Assunção, 1965, citado em Heleno, 2003) Foto 28.

Foto 28 - Cones vulcânicos na região NW

A distribuição espacial desses cones e a morfologia dos mesmos sugere um


mecanismo de erupção ao longo de fissuras radiais, provavelmente anterior à
formação da caldeira dado o estado de erosão da maioria dos cones e o facto de
alguns se encontrarem rodeados de lavas emitidas por fontes removidas pela
formação da caldeira (Ribeiro, 1960; Day et al., 1999, citados em Heleno, 2003). A
observação da (fig. 9), e da Foto 28, sugerem uma maior concentração de cones
de escória na zona SE e, de uma forma menos densa, no sector W-NW da ilha.

113
Caracterização e Diagnóstico
Plano Director Municipal de São Filipe

Figura 9 – Aspectos geomorfológicos da ilha do Fogo


Fonte: Heleno, 2003

Em termos de morfologia pode-se, identificar 3 grandes unidades:


 Formas relativamente planas junto ao mar, designadas de plataforma de
lava ou fajã de pouca extensão nas regiões litorais com desnivelamento
abrupto que dão para o mar. Essas formas aparecem em sectores muito
localizados junto ao mar, como Salinas, no concelho de São Filipe. Essas
formas estão associadas às arribas litorais que na maior das vezes
terminam descambadas de forma abrupta no mar.
 A segunda unidade de realce tem a ver com a parte intermédia do cone
vulcânico com declives muito acentuados que se estende até à bordeira,
limite exterior. Os declives médios do edifício variam entre os 12º nas zonas
Sul e Oeste, (Bebiano, 1932; Ribeiro, 1960, citado em Heleno, 2003, p.24).

114
Caracterização e Diagnóstico
Plano Director Municipal de São Filipe

 E a terceira grande unidade, em termos morfológicos tem a ver com o cone


vulcânico principal que se ergue a partir de chã das caldeiras no seu flanco
oriental.
A modelação do relevo a nível da ilha se deve essencialmente às actividades
vulcânicas (Chã, cones adventícios) e à escorrência superficial. Aliás, o
ravinamento dos cones e o entalhe de sulcos e vales profundos em algumas bacias
hidrográficas são testemunhos da vivacidade da erosão hídrica que marca a
paisagem de forma muita acentuada. Com efeito, o cone principal apresenta vales
profundamente encaixados, de forma em «V» no sector mais a montante que tende
a alargar-se na base do cone vulcânico, apresentando, por vezes, fundo
relativamente alargado e de forma em «U». Esses vales são mais expressivos no
sector oriental/Norte no concelho de São Filipe.

Machado (1964, p.11) observa que: «não obstante a falta de precipitação » do lado
ocidental ocorrem linhas de água de grande dimensão que permite a mobilização
de grande volumes de água quando ocorre a precipitação. Esse aspecto deve ser
levado em devida atenção nos planos de ordenamento das bacias hidrográficas.

Foto 29 - Vales encaixados no sector norte de São Filipe

Do ponto de vista geoestrutural e geomorfológico, o concelho de São Filipe


apresenta contrastes significativos entre o sector norte/noroeste com declives
acentuados (a roxo na figura em baixo) e o sector sul que caracteriza-se por
apresentar formas mais suaves (cores claras) - Figura 10.

115
Caracterização e Diagnóstico
Plano Director Municipal de São Filipe

Figura 30 - Carta de declives

Os declives mais fortes estão relacionados não só com as encostas dos cones
vulcânicos, mas também com o entalhe da rede hidrográfica, comandada a partir
das linhas divisórias de águas dos pontos de maiores altitudes.

O sector mais a sul/oriental nas altitudes mais baixas apresenta, do ponto de vista
morfológico, declives menos acentuados, dominando as superfícies onduladas
entrecortadas pelos vales relativamente pouco profundos se comparadas aos vales
dos sector norte.

A marca das erupções vulcânicas e da escorrência superficial na modelação do


relevo actual é bem visível, em todo o concelho. A relativa densidade dos cones
116
Caracterização e Diagnóstico
Plano Director Municipal de São Filipe

vulcânicos sobretudo no sector norte/NW testemunham a manifestação de


erupções adventícias em épocas geológicas relativamente recentes.

A expressão morfológica dos vales profundos e encaixados, no flanco Noroeste,


constituem uma dificuldade acrescida na planificação das infra-estruturas
colectivas.

À morfologia da paisagem sobrepõe-se uma compartimentação hidrográfica que


reparte o concelho em várias bacias de distintas dimensões (Figura 11). Via de
regra, essas bacias confluem-se na parte intermédia do cone, onde os vales
apresentam-se profundos com tendência para se alargarem no sector terminal,
apresentando fundos mais alargados e relativamente planos.

Figura 31 - Carta de bacias hidrográficas

117
Caracterização e Diagnóstico
Plano Director Municipal de São Filipe

Declividade do Terreno no Concelho de São Filipe

Os limites das classes de declives constantes do quadro 47 e figura 12 em baixo,


foram estabelecidos tendo por base alguns limiares de referência considerados
para fins do ordenamento do território. Os declives fracos, inferiores a 3 %, ocupam
apenas 2,5 % da área total do concelho. Mesmo considerando o limiar de 5 %
como sendo áreas de fraco declives, tendo em conta que ilha é muita acidentada,
a área do concelho que apresenta esse valor não ultrapassa os 2,7 %. As áreas
com declives superiores a 16 %, com forte propensão para erosão hídrica ocupam
69,2% da área total do concelho. As classes de declives inferior a 3 % estão mais
bem representadas no sector Sul/Oeste do concelho. Enquanto as classes de
declives entre os 16 e 30 % estão representadas sobre no flanco Orietal/norte do
concelho.

Cerca de 37 % da área total do concelho apresenta declives muito fortes, por


conseguinte pouco aconselháveis para o estabelecimento humano e a construção
de infra-estruturas. Este agravamento das condições de declives ocorrem nos
sector norte/nordeste.

Quadro 40 - Áreas discriminadas em função do declive


Declive Nº
(%) Celula Area m2 % ha %
0-3 223988 5599700 2,49 559,97 2,49
3-5 21533 538325 0,24 53,8325 0,24
5-8 289967 7249175 3,22 724,9175 3,22
8-10 612039 15300975 6,80 1530,098 6,80
10-12 873395 21834875 9,71 2183,488 9,71
12-16 748913 18722825 8,33 1872,283 8,33
16-25 2120019 53000475 23,57 5300,048 23,57
25-30 794304 19857600 8,83 1985,76 8,83
> 30 3310856 82771400 36,81 8277,14 36,81
224875350 100,00 22487,54 100,00

118
Caracterização e Diagnóstico
Plano Director Municipal de São Filipe

Figura 10 - Áreas discriminadas em função do declive

Análise Swot sobre a Fisiografia: Relevo e recursos geológicos

Pontos fortes:
 Diversidade de formas de relevo: achadas, arribas litorais, ravinas e
desfiladeiros, cones, vulcânicos, etc;
 Património geológico e geomorfológico, resultante de formações eruptivas
de diferentes idades;
 Exploração dos recursos minerais, nomeadamente os de origem vulcânica,
para construção, calcetamento e cobertura de estradas;
 Recursos minerais de origem vulcânica

Pontos fracos:
 Rocha mãe acessível em quase todo o território, dada a aridez climática, a
falta de vegetação e a reduzida espessura dos solos;
 Extracção e exploração pouco disciplinada de areias, provocando profundas
alterações na paisagem e gerando problemas de desequilíbrio ecológico;
 Erosão generalizada e degradação das estruturas morfológicas existentes.

Dinâmica actual:
 Degradação das praias devido ao processo de extracção de inertes;
 Continuação do processo de erosão.

Perspectivas de evolução:
 Continuação de exploração de inertes;
 Necessidade de regulamentação relativa à exploração de inertes e estudos
sobre a sustentabilidade e localização de zonas para a sua exploração.

119
Caracterização e Diagnóstico
Plano Director Municipal de São Filipe

3.2 Vocação Territorial

Do cruzamento dos temas, declives, exposição, linhas de água e margem, áreas


agrícolas e área protegida do Parque Natural, conclui-se que a parte norte do
concelho de São Filipe caracterizada por fortes pendentes, exposta à norte e
portanto recebendo menor hora da luz solar, com ribeiras muito encaixadas e
bastante declivosas e com extensas áreas de agricultura, apresenta uma voção
agrária, facto que pode ser verificado pela extensa área a azul constante das
figuras 13 e 14. Já na parte sul verifica-se exactamente o contrário ou seja uma
vocação predominantemente urbana. O quadro 48 mostra que 50% do município
apresenta-se como áreas non aedificandi e os restantes 50 % com vocação para a
edificação se distribui de forma variável como se pode inferir do mesmo quadro.

Quadro 41 – Áreas com Potencial para Edificação no Concelho de S. Filipe


Qualificação área (m2) área (ha) %
Optima 3399175 339,92 1,71
muito boa 16271300 1627,13 8,17
Boa 30065800 3006,58 15,09
Razoável 17111150 1711,12 8,59
Má 32770875 3277,09 16,45
Sem Valor 99618300 9961,83 50,00
Total 199236600 19923,66 100,00

120
Caracterização e Diagnóstico
Plano Director Municipal de São Filipe

Figura 1332 - Carta Negativa à edificação a) Figura 1433 - Carta Negativa à edificação b)

Análise Swot sobre Uso dos Solos

Pontos fortes:

 Presença significativa de áreas naturais;


 Áreas agrícolas nas zonas a jusante das principais ribeiras;
 Novas áreas silvo-pastoris.

Pontos Fracos:

 Espessura reduzida dos solos agrícolas;


 Predomínio de áreas sujeitas a um pastoreio intensivo;
 Cultivo em declives acentuados;
 Existência de um número reduzido de furos.

Ameaças:

 Êxodo rural;
 Mudança de expectativas pessoais e profissionais da população jovem;
 Baixa capacidade de armazenamento e escoamento dos produtos

Dinâmica actual:

 Aumento da pressão urbanística na área envolvente da sede do município;


 Loteamento acentuado;
 Cultivo em declives acentuados.
121
Caracterização e Diagnóstico
Plano Director Municipal de São Filipe

 Especulação/açambarcamento fundiários;

Perspectivas de evolução:

 Florestação como medida de protecção e recuperação do solo;


 Implementação do Decreto-Legislativo nº 2/2007 que estabelece os
princípios e normas de utilização de solos, bem como a criação de
mecanismos de seguimento do seu cumprimento a nível municipal;
 Substituição do cultivo em áreas de declives acentuados por outras culturas
com melhor impacto ambiental.

3.3 Flora e Fauna

O trabalho de campo realizado no âmbito do PDM permite-nos corroborar os


estudos já realizados anteriormente (Castanheira Diniz, 1986; Jose Maria Semedo,
2002 e Teresa Leyens, 2002). Com efeito, é pouco provável que tenha havido
alterações substantivas em relação às informações concernentes à componente
biótica, recolhidas no âmbito da elaboração do EROT, que passamos a transcrever:

Zona Árida

Nesta zona encontramos espécies xerófitas constituídas basicamente por terrófitos


e hemicriptófitas e algumas caméfitas. São típicas das encostas da parte ocidental
e sul da ilha entre as cotas dos 0 a 500/600 metros. As espécies de maior porte
são raras e constituídas por Jatropha curcas, Nicotiana glauca, Calotropis procera,
Acácia farnesiana, Prosopis juliflora e Parkinsonia aculeata. Aliás, as especies das
comunidades da zona árida tem uma representação espacial mais expressiva no
sector Sul e Ocidental do concelho de São Filipe, onde tambem estende-se mais
em altitude.

122
Caracterização e Diagnóstico
Plano Director Municipal de São Filipe

Foto 30 - Especie característica das zonas áridas

A extensão dessa da zona árida em altitude vai-se reduzindo no sentido


Norte/ocidente, restringido se uma estreita faixa no sector Norte do concelho de
São Filipe.

Na parte litorânea, aparecem as seguintes espécies:

Zygophyllum simplex, Cleome brachycarpa, Kohautia aspera e lndigofera cordifolia,


acompanhadas por: Corchorus tridens, Heliotropium ramosissimum, Mollugo
nudicaulis, Amaranthus graecizans e Aerva javanica.

Na parte sublitorânea: aparecem as seguintes espécies:

Salvia aegyptiaca, Cleome viscosa, Polygala erioptera e Sida coutinhoi,


acompanhadas por: Corchorus olitorius, Melhania ovata, Ipomoea eriocarpa,
lndigofera parviflora var. occidentalis e Aristida cardosoi. Também ocorrem alguns
exemplares de Ziziphus mauritianus e Ficus sycomorus subsp. gnaphalocarpa,
acantonados nas encostas das ribeiras.

Zona Semi-Árida
Esta zona é parecida com a zona árida mas apresenta maior densidade de
cobertura e de espécies de portes maiores e menos xerófitas. Também é notória
uma maior ocupação em termos de superfície.

As espécies características são:

123
Caracterização e Diagnóstico
Plano Director Municipal de São Filipe

a) Bidens bipinnata, Alysicarpus ovalifolius, Blainvillea gayana var. bracteolata e


Tephrosia bracteolata. Estas espécies aparecem acompanhadas por: Aristida
adscencionis, Digitaria ciliaris, Asteriscus vogelii var. darwinii Heteropogon
contortus e Commelina benghalensis.

b) Lotus coronillifolius, Nanorrhinum dichondrifolium, Asteriscus vogelii var. darwinii


e Phyllanthus rotundifolius. Estas espécies aparecem acompanhadas por: Ipomoea
eriocarpa, Momordica charantia, Borreria verticillata, Launaea intybaceae e Cassia
bicapsularis.

d) Wissadula amplissima var. rostrata, Abutilon pannosum, Trichodesma africanum


e Stylosanthus fruticosa. Estas espécies aparecem acompanhadas por: Indigofera
colutea, Tephrosia uniflora subsp. uniflora, Sclerocarpus africanus, Melhania ovata
e Sida rhombifolia.

Com frequência aparecem espécies arbóreo-arbustivas, tais como: Tamarindus


indica, particularmente nas áreas de São Lourenço e São Domingos; de
Pithecelobium Dulce e de Anacardium occidentale, nas mesmas áreas e ainda em
Coxo e Pico Lopes. Ao longo das linhas de drenagem natural são abundantes
Jatropha curcas, Ziziphus mauritianus, Ficus sycomorus subsp. gnaphalocarpus,
Acacia nilotica e Acácia farnesiana. Nos mesmos locais assinalam-se ainda com
certa frequência Erythrina velutina e alguns exemplares de Adansonia digitata

124
Caracterização e Diagnóstico
Plano Director Municipal de São Filipe

Foto 31 - Exemplar de Adansónia digitata em São Lourenço

Entre Lapa Cavalo, Patim e Brandão, aparecem alguns exemplares isolados de


Acácia albida, que se mostra em extinção.

Zona Sub-húmida

Dispondo de maior humidade apresenta uma gama variada de espécies.


Observam-se grandes áreas de pastagens, e as melhores culturas de cereais e
leguminosas, nomeadamente do milho e do feijão congo. Nas maiores altitudes,
acompanhando a face externa do grande hemiciclo que é a Bordeira desenvolve-se
a «cintura do rícino», onde se encontra igualmente a maior parte dos endemismos
da ilha. As espécies características são:

125
Caracterização e Diagnóstico
Plano Director Municipal de São Filipe

a) Andropogon gayanus var. tridentatus, Campanula jacobaea var. jacobaea,


Tornabenea tenuissimum e Euphorbia tuckeyana. Estas espécies aparecem
acompanhadas por: Gnaphalium luteo-album, Evolvulus alsinoides, Eragrostis
barrelieri, Cenchrus ciliaris e Paspalum scrobiculatum

b) Papaver gorgoneum, Tolpis farinulosa, Urospermum picroides e Mitrocarpus


villosus, acompanhadas por: Tornabenea bischoffii, Campanula jacobaea var.
jacobaea, Euphorbia tuckeyana, Hyparrhenia hirta e Stachys arvensis.

c) Euphorbia tuckeyana, Pennisetum polystachyon, Pennisetum pedicellatum


subsp.Unispiculum e Lotus jacobaeus var. jacobaeus. Acompanhadas por:
Nicandra physalodes, Oldenlandia corymbosa var. corymbosa, Lantana câmara,
Rhynchosia minima var. mínima e Rhynchelytrum repens.

d) Helianthemum gorgoneum, Artemisia gorgonum, Diplotaxis gracilis e Phagnalon


melanoleucum. Acompanhadas por: Verbascum capitis-viridis, Paronychia
illecebroides var. illecebroides, Tornabenea tenuissimum, Lavandula rotundifolia
subsp. Subpinatifida e Desmodium scorpiurus.

e) Aristida funiculata, Wahlenbergia lobelioides, Synedrella nodiflora, Ipomoea


dichroa Acompanhadas por: Tephrosia purpurea subsp. leptostachya var.
pubescens, Chenopodium ambrosioides, Heteropogon contortus, Rhynchelytrum
repens e Bidens pilosa.

f) Echium vulcanorum, Erysimum caboverdeanum, Periploca chevalieri, Globularia


amygdalifolia. Acompanhadas por: Asphodelus fistulosus, Euphorbia tuckeyana
Withania somnifera, Conysa feae e Artemisia gorgonum

126
Caracterização e Diagnóstico
Plano Director Municipal de São Filipe

Zona Húmida / Sub-Húmida

É constituída por pequenas faixas ao longo de algumas ribeiras que fazem a


transição entre a zona sub-húmida e zona húmida. Basicamente dispõe das
mesmas espécies das zonas limítrofes. Circundam a zona húmida e prolongam-se
pelo oriente. Surge ainda manchas expressivas próximo de Cova Matinho e ao
longo de algumas ribeiras da parte norte, na região de Campanas de Baixo.

As espécies características são:

a) Furcraea gigantea, Euphorbia tuckeyana, Andropogon gayanus var. tridentatus e


Lantana camara acompanhadas por: Tornabenea tenuissimum, Rhynchelytrum
repens, Heteropogon melanocarpus, Euphorbia heterophylla e Cenchrus ciliaris.

b) Arthraxon lancifolius, Oplismenus burmannii, Rhynchelytrum gradiflorum,


Andropogon fastigiatus e Ipomoea cairica, acompanhadas por: Lavandula
rotundifolia subsp. Subpinatifida, Chloris pycnotrix, Euphorbia tuckeyana e
Desmodium tortuosum. Ao longo das ribeiras, para além das espécies citadas,
aparecem Furcraea gigantea e Lantana camara.

Em sintese, refere-se que no concelho de São Filipe ocorrem todos os andares já


consagrados na literatura com excepção da zona húmida.

Importa frisar que sobressaem no andar árido Prosopis juliflora, planta introduzida,
e gramíneas diversas. Na vertente Ocidental/norte de São Filipe, esse andar
termina junto da localidade de Santo António, enquanto que no sector Sul, o andar
árido atinge maiores altitudes.

No que diz respeito ao ordenamento do território, constitui situação de referência os


endemismos locais e algumas espécies indígenas quer pelo seus valores
paisagístico e científico, quer pela função ambiental que desempenham nos
ecossistemas locais.

As endémicas ocorrem com maior frequência a partir de 800 metros de altitude.


127
Caracterização e Diagnóstico
Plano Director Municipal de São Filipe

Em jeito de conclusão, importa referir que nas latitudes medianas a baixa ocorre a
vegetação introduzida, como sejam prosopis juliflora nas zonas áridas e semi-
áridas e fruteiras nas zonas sub-húmidas e húmidas.

Fauna

Os estudos já realizados assguram que a fauna caracteriza-se por ser pobre, quer
no concernente à diversidade, quer no que se refere à quantidade.

O livro, “a fauna de Cabo Verde”, editado em 1998, faz referência a 12 espécies


que ocorrem nos ecossistemas locais, sendo algumas delas endémicas.

Segundo Leyens (2002), 18 espécies de aves nidificam na ilha do Fogo e foram


observados cerca de 100 espécies de coleópteros na mesma ilha. Leyens (2002)
sustenta que pouco se sabe ainda sobre as espécies de lagartixa e osga, que
existem na zona.

Contudo, confirma existir 8 espécies dessas duas famílias no Fogo, das quais 6
são endémicas, 1 espécie de lagartixa, Mabuya fogoensis fogoensis tem a sua
existência limitada ao Fogo. Duas das espécies de lagartixa estão na Lista
Vermelha (SCHLEICH 1996). Dados mais exactos sobre o tamanho e a
propagação das populações não existem actualmente.

O local de ocorrência dos habitats do Mabuya fogoensis fogoensis, lagartixa, deve


merecer atenção tendo em perspectiva o incentivo do turismo científico.

128
Caracterização e Diagnóstico
Plano Director Municipal de São Filipe

3.5 Clima

Cabo Verde está inserido numa vasta zona de climas do tipo árido e semi-árido que
atravessa a África desde o Atlântico ao mar Vermelho e se prolonga pela Ásia
(Barbosa, 1958, p.19; Amaral, 1964, p. 24; Ferreira, 1987, p. 113).

A ilha de Fogo, situada na região sul do arquipélago, insere-se dentro dessa faixa
que se caracteriza por ter um clima de caracteristica semi-árida. Em função da
queda pluviométrica pode considerar-se a existência de duas estações bem
definidas, que se relacionam directamente com o movimento anual aparente do sol
entre os trópicos e a subsequente migração latitudinal da zona de convergência
inter-tropical (CIT).

Para o período de observação em análise (média de 30 anos), para distintas


estações meteorológicas no concelho em estudo, verifica-se que a variação intra-
anual dos valores da temperatura é bastante regular, contrastando, assim, com a
grande variabilidade dos valores da precipitação.

A temperatura média anual ronda os 25º C, e amplitude térmica anual é


relativamente baixa (inferior a 10º C).

A média anual dos valores da precipitação é de aproximadamente 130,9 mm na


região litoral ocidental/centro, São Filipe, 417 mm em Galinheiro sector Noroeste
de São Filipe, e pode ultrapassar os 500 mm a partir dos 1000m de altitude, se
tomarmos como estação de referencia Ribeira Ilhéu, situado mais a Norte, no
concelho dos Mosteiros.

De acordo com a série de dados referentes aos postos pluviométricos analisados,


no período em análise, é notória a grande variabilidade dos valores médios anuais
(coeficiente de variação de 44,8%, em Ponta Verde). Esta variação da precipitação
é característica do regime de precipitação das ilhas de Cabo Verde em geral, com
pequenas nuances, introduzidas pela influência dos factores relevo e da exposição
geográfica.

129
Caracterização e Diagnóstico
Plano Director Municipal de São Filipe

De Novembro a Junho decorre a estação seca. A queda da precipitação na ilha


está associada à dinâmica do sistema atmosférico na região inter tropical,
comandada pelos centros de altas pressões subtropicais e pelos mecanismos da
convergência intertropical.

Quando o Anticiclone dos Açores se associa às células das altas pressões


Sahelianas (Novembro a Maio), Cabo Verde em geral, e Fogo em particular é
afectado por um fluxo de ar quente e seco de direcção Norte/ Nordeste, designado
por Harmatão ou Lestada que provoca a diminuição significativa da humidade
relativa.

O período húmido concentra-se nos meses de Julho a Outubro que se designa de


estação das águas em Cabo Verde. Com efeito, no Verão, do hemisfério norte,
quando o anticiclone dos Açores se desloca para Norte, verifica-se a entrada dos
ventos de componente sul, emitidos pelas células das altas pressões do hemisfério
austral de Santa Helena – é o designado fluxo húmido de sudoeste.

Os factores altitude e a exposição do relevo explicam a desigual distribuição


espacial dos quantitativos da precipitação originando, desta forma, climas locais
com características contrastadas.

Sector norte/nordeste de São Filipe a mais de 1000 metros de altitude é a região


mais pluviosa da ilha, sendo o valor médio anual entre 1979 a 2008 superior 900
mm. A média mensal dos meses mais pluviosos, Agosto e Setembro, ultrapassa os
200 e 300 mm respectivamente. A precipitação aumenta com altitude até certo
limite, depois volta a diminuir, pois, chove menos em Chã das Caldeiras que se
encontra a maior altitude.

Os valores mais baixos ocorrem no litoral, como se verifica em São Filipe e Patim,
que, em média, no período em análise beneficiaram de menos de 150 mm por ano.

O concelho de São Filipe estende-se em altitude a partir do nível médio do mar


(Vale dos Cavaleiros) até aproximadamente 1700 m, por conseguinte, abrange
todas as zonas climáticas anteriormente focadas.
130
Caracterização e Diagnóstico
Plano Director Municipal de São Filipe

A extensão dessas zonas em altitude varia conforme a vertente da ilha, pois, na


parte oriental, a zona árida desenvolve- se mais em altitude e na ocidental é
menos extensa em altitude .

Análise Swot sobre o Clima

Pontos fortes:
 Elevados valores de insolação;
 Excelente micro-clima para agricultura em particular nas zonas altas;
 Boa captação de ventos alísios (vento carregado de humidade) por parte
das vertentes voltadas para norte;
 Presença de mancha de água (espelho do mar) contribuíndo para
manutenção e aumento da quantidade de humidade no ar;
 Aproveitamento do albedo (nas zonas baixas) em decorrência da presença
da extensão da água do mar;
 Existência de brisas de encosta, brisa do mar e brisa da terra;

Pontos fracos:
 Baixa precipitação em zonas de cota inferior;
 Alta variação climática, ou seja, amplitude térmica diurna (Chã das
Caldeiras) dada a sua localização mais elevada;
 Aquecimento por motivos da natureza de cobertura do solo por causa da cor
escura que potencia maior absorção das radiações solares em detrimento
da sua absorção solar.

Ameaça:

 Possíveis alterações climáticas decorrentes do aquecimento do planeta.

Por ultimo mas não menos importante a teve-se o cuidado de analisar como estava
estruturado o município administrativamente para melhor se compreender as
dinâmicas e dissonâncias do processo de desenvolvimento local.

A Análise Swot no sector da Administração

Pontos fortes:

 Existência de estrutura funcional da Câmara Municipal e presença dos


serviços desconcentrados;
 Delegações regionais do governo instalados na cidade de São Filipe;
 Entrega e comprometimento da equipa camarária no desenvolvimento do
município;
131
Caracterização e Diagnóstico
Plano Director Municipal de São Filipe

 Desenvolvimento alcançado com o apoio da cooperação internacional.

Pontos fracos:

 Ausência de uma política de descentralização;


 Instalações físicas deficitárias dos serviços camarários fora da sede do
município;
 Ausência de representação municipal nos núcleos secundários;

Dinâmica Actual:

 Elaboração do Plano de Desenvolvimento Estratégico do Município;


 Revisão do Código de Postura Municipal.

132
Caracterização e Diagnóstico
Plano Director Municipal de São Filipe

7 – Bibliografias consultadas

Almeida, Geraldo da Cruz, 2002 – Código da Terra – Livraria Saber


Castanheira Diniz e Cardoso de Matos, 1987 – Carta de zonagem agro- ecológica
de Cabo Verde, Ilha do Fogo, IICT Lisboa
CMSF, 2009 – Plano Estratégico de Desenvolvimento de São Filipe
CMSF, 1991 – Plano de Desenvolvimento Urbano
CMSF, - Plano Ambiental Municipal
DGA, 2009 – Plano de Gestão do Parque Natural do Fogo, vol I, II, III e IV
DGOTDU, 2002 - Normas para a programação e caracterização de equipamentos
colectivos – Lisboa
DGOTDU, 1996 - Indicadores e parâmetros urbanísticos – DGOTDU, Lisboa
DGOTDU, 1999 – Servidões e Restrições de Utilidade Pública – Lisboa, 3ª Edição
DGP, 2002, - Plano Nacional de Desenvolvimento 2002 – 2005 – MFPDR
DGOT, 1995 – Critérios comuns para o planeamento de equipamentos colectivos
em Cabo Verde – MIT, Cabo Verde
DGP, 2004, - Política Nacional de População de Cabo Verde 2004 – 2015 – MFP
INE, 2000 – Censo Geral da População e Habitação
INE, 2007 – QUIBB 2007
LORENO, Álvaro, 1952 – Dicionário Corográfico do Arquipélago de Cabo Verde –
Ministério do Ultramar
MENDES, Clara Mendes, 1990 – O Planeamento urbano na comunidade Europeia
– Don Quixote
MELLOR J. R., 1984 – Sociologia urbana – rés-Editora, lda, Lisboa
MFP, 2004 - Documento de Estratégia de Crescimento Económico e de Redução
da Pobreza – MFP, Praia
Ministério do Desenvolvimento rural, 1981 - Esquisse de Schema Directeur de
Development Rural des illes du Cap Vert.
NAZARETH, J. Manuel, 2004 – Demografia, a ciência da população ,– Editorial
Presença
OLIVEIRA, Gilberto, 1987 - Memória viva do Tarrafal – editora Avante

133
Caracterização e Diagnóstico
Plano Director Municipal de São Filipe

PARDAL, Sidónio at al., 2000 – Normas urbanísticas vol. Iv – DGOTDU


PINTO, Edgar C. a tal., 1997 – Cabo Verde 2020, Cenários e Estratégias de
Desenvolvimento – NLTPS
ROMAN, Dominique, 1983 – Manuel D’urbanisme pour les pays en Developpemet
– Ministere des Relations extérieures
SILVA j. a tal., 1996 - Guia para a elaboração de planos estratégicos de cidades
médias- DGOTDU

134
Caracterização e Diagnóstico
Plano Director Municipal de São Filipe

ANEXO

Enquadramento Geográfico, Geomorfológico, Geotectónico e Evolução


Magmática das ilhas da Republica de Cabo Verde

1.1 Contexto Geográfico

As ilhas de Cabo Verde elevam-se de um soco submarino, em forma de ferradura,


situado a uma profundidade da ordem de 3.000 m. Deste soco emergem três
pedestais bem distintos (Bebiano, 1932):
Um, a Norte, compreendendo as ilhas de Stº Antão, S. Vicente, Stª Luzia e
S. Nicolau e os ilhéus Boi, Pássaros, Branco e Raso.
Outro, a Leste e a Sul, com as ilhas do Sal, Boa Vista, Maio e Santiago e
os ilhéus Rabo de Junco, Curral de Dadó, Fragata, Chano, Baluarte e de
Santa Maria.
E outro, a Oeste, compreendendo as ilhas do Fogo e da Brava e os ilhéus
Grande, Luís Carneiro e de Cima. (Fig. 1.1.1. e Tab. 1.1.1. e 1.1.2.).
A formação das ilhas teria sido iniciada por uma actividade vulcânica
submarina central, mais tarde completada por uma rede físsural
manifestada nos afloramentos (Serralheiro, 1976 e Macedo et al., 1988,
adaptado por Mota Gomes et al., 2004).

A maior parte das ilhas é dominada por emissões de escoadas lávicas e de


materiais piroclásticos (escórias, bagacinas ou "lapilli" e cinzas) subaéreos,
predominantemente basálticas (Serralheiro, 1976 e Macedo et al., 1988, adaptado
por Mota Gomes et. al., 2004).

O Arquipélago de Cabo Verde fica localizado na margem oriental do Atlântico


Norte, a cerca de 450 km da Costa Ocidental Africana e a cerca de 1400 km a
SSW das Canárias, limitado pelos paralelos 17º13´ (Ponta Cais dos Fortes, ilha
de Stº Antão) e 14º48´ (Ponta de Nho Martinho, Ilha Brava), de latitude Norte, e

135
Caracterização e Diagnóstico
Plano Director Municipal de São Filipe

pelos meridianos de 22º42’ (ilhéu Baluarte, ilha da Boa Vista) e 25º22´ (Ponta Chã
de Mangrado, ilha de Stº Antão), de longitude Oeste de Greenwich.

Cabo Verde fica situado numa região elevada do actual fundo oceânico, que faz
parte da “Crista de Cabo Verde” (Cape Verde Rise), e que na vizinhança das ilhas
corresponde a um domo com cerca de 400 km de largura (Lancelot et al., 1977).
Presume-se que um domo daquelas dimensões representa um fenómeno
importante, possivelmente relacionado com descompressão e fusão parcial (Le
Bas, 1980) que forneceria a fonte dos magmas que originaram as ilhas (Stillman
et al., 1982). As ilhas se teriam implantado por um mecanismo do tipo hot-spot, de
acordo com alguns autores.

136
Caracterização e Diagnóstico
Plano Director Municipal de São Filipe

Fig.
1.1.1
– Mapa de Cabo Verde e distribuição das ilhas nos três pedestais
Fonte: A Geologia do Arquipélago de Cabo Verde, J. Bacelar Bebiano, 1932., Adaptado por Alberto
da Mota
Gomes, José Manuel Pereira, Jeremias Alves Cabral , Celestino Afonso, Bila Santos
(2010)

137
Caracterização e Diagnóstico
Plano Director Municipal de São Filipe

Tab. 1.1.1. – Agrupamento das ilhas e ilhéus que compõem a República de Cabo Verde.
Barlavento
Sotavento
Ilhas Ilhéus Ilhas Ilhéus
Santo Antão Boi Maio
S. Vicente Pássaros Santiago Santa Maria
Santa Luzia Branco Fogo
S. Nicolau Raso Brava Grande
Sal Rabo de Junco De Cima
Curral do Dadó Luís Carneiro
Fragata
Chano
Boavista Baluarte

Tab. 1.1.2 – Sinopse relativa à topologia das ilhas da República de Cabo Verde (adaptado de Bebiano, 1932).
Apenas a ilha de Santa Luzia não é habitada.

Comprimento Largura máxima Altitude máxima


Ilhas Superfície (km2)
máximo (m) (m) (m)
Santo Antão 42.750 23.970 779 1.979
São Vicente 24.250 16.250 227 744
Santa Luzia 12.370 5.320 35 395
São Nicolau 44.500 22.000 343 1.304
Sal 29.700 11.800 216 406
Boa Vista 28.900 30.800 620 390
Maio 24.100 16.300 269 436
Santiago 54.900 28.800 991 1.392
Fogo 26.300 23.900 476 2.829
Brava 10.500 9.310 64 976

De acordo com Bebiano (1932), a orientação e forma de algumas ilhas


situadas a Oeste da ilha do Sal, apontam para uma distribuição das mesmas, de
forma alinhada, obedecendo a direcção E-W. Esta posição é corroborada pela
orientação dos inúmeros diques e filões existentes na ilha de Santo Antão. O
138
Caracterização e Diagnóstico
Plano Director Municipal de São Filipe

relevo submarino das ilhas do grupo de Sotavento aponta também para uma
orientação semelhante. Tais observações permitem concluir que os fenómenos
vulcânicos responsáveis pela formação das ilhas, desencadearam-se ao longo de
uma fractura de orientação E-W. Contudo, Burri (1973), defende a existência de
três fracturas principais:

 uma fractura de direcção WNW – ESE, da qual resultaram as ilhas


de Santo Antão, S. Vicente, Santa Luzia, S. Nicolau e os ilhéus
Branco e Raso.

 outra, com direcção aproximada N-S que está na origem das ilhas
de Sal, Boa Vista e Maio,

 uma terceira, com orientação ENE-WSW- responsável pelas ilhas de


Santiago, Fogo e Brava, bem como pelos ilhéus Rombos.

Baseando-se em aspectos geomorfológicos, este autor sugere que as ilhas


que ficam sobre a fractura N-S são provavelmente as mais antigas do
Arquipélago.

Apesar de não existir unanimidade entre os vários autores, quanto a essa


questão, a ideia de Burri parece-nos mais compatível com aquilo que é o
posicionamento geográfico das diferentes ilhas.

Ainda de acordo com Bebiano, do ponto de vista genético e geotectónico, as


ilhas teriam sido formadas na sequência de várias erupções vulcânicas
submarinas sendo a primeira do tipo central, mais tarde complementada por uma
rede fissural.

139
Caracterização e Diagnóstico
Plano Director Municipal de São Filipe

Investigações mais recentes como as conduzidas por Davies et al., (1989),


Patriat e Labails (2006), entre outras, conduziram a resultados que permitem
explicar a origem do arquipélago cabo-verdiano a partir de plumas térmicas
originadas no manto. Essas investigações que se assentam, sobretudo, em
aspectos estratigráficos, petrográficos e geoquímicos revelaram resultados
semelhantes aos verificados nas outras ilhas Atlânticas, designadamente as ilhas
Canárias e as dos Açores. Tanto Cabo Verde, como Canárias e Açores, se
localizam em zonas intraplacas, a teoria formulada por Hess não conseguia
explicar o tipo de vulcanismo que ocorre nessas regiões. O mais provável é que
estes arquipélagos tenham tido uma origem a partir de plumas térmicas.
A maior parte das ilhas é dominada por emissões de escoadas lávicas e materiais
piroclásticos subaéreos (escórias, lapilli e cinzas), predominantemente de
natureza basáltica (Assunção, 1968).

140
Caracterização e Diagnóstico
Anexo

1.2 - Contexto Geomorfológico

A maioria das ilhas apresenta uma orografia cujas características


dominantes correspondem à existência de cadeias montanhosas, notáveis
aparelhos vulcânicos bem conservados, numerosos e extensos vales muito
encaixados e profundos; são as chamadas ilhas montanhosas. Pelo contrário, as
ilhas do Maio, Sal, Boa Vista e Santa Luzia, com grandes zonas aplanadas, são
conhecidas por ilhas rasas.

Algumas ilhas do arquipélago apresentam altitudes assinaláveis. Na ilha do


Fogo, a que apresenta a maior altitude do País, o Pico do Vulcão atinge os 2,829
m. Na ilha de Santo Antão, o Topo da Coroa possui 1.979 m, na ilha de Santiago, o
Pico da Antónia atinge os 1.392 m e, na ilha de São Nicolau, o Monte Gordo
alcança os 1.304 m.

Contrastando com estas ilhas, as orientais ou rasas (Sal, Boa Vista e Maio) e
a ilha de Santa Luzia, apresentam um relevo suave, com extensas áreas aplanadas
como são os casos da Terra Boa, na ilha do Sal, a Vila de Sal Rei, na Boa Vista e
as Terras Salgadas, na ilha do Maio. Na ilha do Maio, por exemplo, o ponto mais
elevado é o Monte Penoso, com a altitude de 436 m. No Sal e na Boa Vista são o
Monte Grande e o Monte Estância com 406 e 387 m, respectivamente e, em Santa
Luzia, a altitude máxima é de 395 m (Assunção, 1968).

O Arquipélago de Cabo Verde compõe-se de dez ilhas e ilhéus que, devido à


sua posição relativa aos ventos alísios dominantes que sopram de nordeste,
reúnem-se em dois grupos assim distribuídos:

Grupo de Barlavento: Formado pelas ilhas de St° Antão, S. Vicente, Stª


Luzia, S. Nicolau, Sal e Boa Vista e os ilhéus Boi, Pássaros, Branco, Raso, Rabo
de Junco, Curral do Dadó, Fragata, Chano e Baluarte.

Grupo de Sotavento: Formado pelas ilhas do Maio, Santiago, Fogo e Brava e


os ilhéus de Santa Maria, Grande, Luís Carneiro e de Cima.
141
Caracterização e Diagnóstico
Anexo

Caracterizam as ilhas de relevo acidentado, aquelas com altitude máxima acima


de 1.000 m, como são os seguintes exemplos:

 Pico do Vulcão (Fig. 1.2.1), na ilha do Fogo, com 2.829 m;


 Topo da Coroa, na ilha de St° Antão, com 1.979 m;
 Pico da Antónia, na ilha de Santiago, com 1.392 m;
 Monte Gordo , na ilha de S. Nicolau, com 1.304 m.

A ilha Brava, com a altitude máxima de 976 m, no Monte Fontaínhas, tendo em


consideração a sua área de 64 km2, poderá ser considerada, também, de relevo
acidentado.

Contrariamente, as chamadas ilhas orientais ou planas (Sal, Boa Vista e Maio)


apresentam um relevo bastante suave, podendo-se observar extensas zonas
aplanadas, como são exemplos a Terra Boa, na ilha do Sal, a Vila de Sal-Rei, na
ilha da Boa Vista e as Terras Salgadas, na ilha do Maio. As suas elevações
máximas são bem modestas, relativamente às ilhas acidentadas, o que se poderá
comprovar pelas suas altitudes máximas:

 Monte Penoso, na ilha do Maio, com 436 m;


 Monte Grande, na ilha do Sal, com 406 m;
 Monte Estância, na ilha da Boa Vista, com 387 m.

142
Caracterização e Diagnóstico
Anexo

Fig. 1.2.1. Pico do Vulcão, na ilha do Fogo, com 2.829 m.

1.3. Contexto Geotectónico

O arquipélago de Cabo Verde fica situado a cerca de 2000 km a Leste do “rift”


da Crista Média Atlântica, “a Oeste da Zona de Quietude Magnética” (Hayes e
Robinowitz, 1975) em pleno domínio de placa oceânica, entre as anomalias
magnéticas M16 e M2 (Hayes e Robinowitz, 1975; Olivet et al., 1984; Robertson,
1984; Klitgord e Schoueten, 1986) que correspondem às idades absolutas,
respectivamente, de 142 Ma e 115 Ma. Investigações levadas a cabo por Stiilman
et al. (1982); Robertson (1984), Pollitz (1991), entre outros, conduziram a
resultados que apontam para a localização do arquipélago numa região elevada do
actual fundo oceânico, fazendo parte da “Crista de Cabo Verde” (“Cape Verde
Rise” ou “Swell”). Esta elevação do fundo oceânico corresponde a um domo com
cerca de 400 km de largura (Lancelot et. al., 1977b). Para Stiilman et al. (1982), um
domo desta dimensão encontra-se possivelmente relacionado com a

143
Caracterização e Diagnóstico
Anexo

descompressão e fusão parcial fornecedoras dos magmas que estariam na origem


das ilhas.

Outros autores (Burke & Wilson, 1972) consideram ainda que a génese das
ilhas está associada a um mecanismo do tipo hotspot. Crough (1978) afirma “The
Cape Verde Rise (or Swell) ” é o resultado de um hotspot desenvolvido a partir de
plumas mantélicas. O mecanismo do hotspot surgiu da necessidade de se explicar
os fenómenos vulcânicos que ocorrem longe das fronteiras de placas tectónicas, ou
seja o vulcanismo intraplaca.

O mapa parcial do Atlântico Norte (Fig.1.3.1), com a posição de Cabo Verde,


Canárias, Madeira e Açores, em relação com a Costa Média Atlântica e Costa
Africana, mostra-nos que, do ponto de vista do enquadramento vulcano-tectónico, o
Arquipélago de Cabo Verde situa-se no interior da placa Africana, isto é, numa
posição intraplaca.

A figura 1.3.2 evidencia o enquadramento tectónico de Cabo Verde, Açores e


Canárias:

144
Caracterização e Diagnóstico
Anexo

Fig.1.3.1. – Mapa parcial do Atlântico Norte, mostrando a situação das ilhas atlântidas.

Fonte: Vulcanismo das ilhas de Cabo Verde e das outras ilhas Atlântidas, Frederico Machado, 1965.

145
Caracterização e Diagnóstico
Anexo

Fig. 1.3.2. – Enquadramento Tectónico dos Arquipélagos de Cabo Verde, Açores e Canárias.

Fonte: A erupção da Chã das Caldeiras (ilha do Fogo) de 2 de Abril de 1995, de António Brum da Silveira, António
Serralheiro, Ilídio Martins, José Cruz, José Madeira, José Munhá, José Pena, Luís Matias e Maria Luís Senos.

146
Caracterização e Diagnóstico
Anexo

1.4. Sequência Vulcano-Estratigráfica comparada das ilhas da República de Cabo


Verde
1.4.1 – Tabela Estratigráfica Comparada
A tabela (1.4.1.1), sintetiza de maneira bastante clara a sequência estratigráfica
comparada das Ilhas da República de Cabo Verde

147
Caracterização e Diagnóstico
Anexo

Tab. 1.4.1.1. Estratigrafia Comparada das Ilhas da República de Cabo Verde


Fonte : Alberto da Mota Gomes, José Manuel Pereira, Jeremias Alves Cabral, Celestino Afonso, Bila Santos (Janeiro,
de 2010)

148
Caracterização e Diagnóstico
Anexo

O esquema vulcano-sedimentar proposto pode-se resumir e caracterizar-se do


seguinte modo, partindo da formação mais antiga (1) para a mais recente (13).

1 – Sedimentos Jurássicos
2 – Sedimentos Cretácicos
3 – Sedimentos Paleogénicos
4 – Complexo Eruptivo Interno Antigo (Paleogénico/Miocénico)
5 – Sedimentos Miocénicos
6 – Derrames Submarinos Miocénicos
7 – Depósitos Conglomerático-Brechóides (Miocénicos)
8 – Formações Traquíticas Miocénicas
9 – Complexo Eruptivo Principal (Mio-Pliocénico)
10 – Derrames Pliocénicos
11 – Cones de Piroclastos e Escoadas (Pliocénico-Quaternário)
12 – Sedimentos Plistocénicos
13 – Sedimentos e Piroclastos (Holocénicos)

II - Ilha do Fogo
2.1 - A Geologia
Os trabalhos de cartografia geológica da ilha do Fogo foram realizados pelos
geólogos portugueses Frederico Machado e Torre de Assunção foram publicados
em 1965, tendo a sequência estratigráfica que se descreve, da mais antiga
(2.1.1.1) à mais recente ( 2.1.1.4).

2..1.1 Sequência vulcano estratigráfico (da mais antiga, para a mais recente)
2.1.1.1 – Complexo antigo e sistema filoniano associado …….
2.1.1.2 Lavas anteriores à formação da Caldeira
2.1.1.3 – Lavas recentes (Posteriores A formação das Caldieras)
2.1.1.4 –Areias de Praia e Depósitos Torrenciais ou de Vertentes

Todavia, a referida carta geológica necessita uma actualização.

149
Caracterização e Diagnóstico
Anexo

2.3. A Estrutura Tectónica e Vulcânica


2.3.1. A Estrutura Tectónica

De acordo com Silveira et al. (1997), a principal estrutura vulcânica da Ilha


do Fogo é a própria Ilha, isto é, um grande aparelho vulcânico, centrado, de forma
circular que se eleva desde o fundo oceânico até próximo dos 3.000 m de altitude.
Trata-se, portanto, de um edifício único com cerca de 7000 m de altura. É
constituído principalmente por derrames basálticos e por produtos piroclásticos em
menor proporção. No topo do vulcão existe uma caldeira com cerca de 8 km de
diâmetro máximo, a que falta o bordo oriental.
Silveira et al. (1997) consideram que não há evidências morfológicas de
uma grande escarpa de falha com direcção N-S, e propõem, entre outras
possibilidades, o mecanismo alternativo de colapso por escorregamento gravítico
para explicar a ausência da Bordeira a Leste. Segundo estes autores, este
escorregamento gravítico da parede Leste teria sido posterior aos episódios de
subsidência central, que formaram duas caldeiras circulares separadas pelo
Vulcão. A vertente escarpada do Espigão representaria a cicatriz de tal
escorregamento.
Descrevem-se os principais acidentes tectónicos identificados por Silveira
et al. (1997), (Fig.2.3..1.1):

1. Falha Sambango – Monte Vermelho (S-MV)

De direcção N-S, esta falha foi sugerida por Bebiano (1932) e Machado e
Assunção (1965). “Na região Norte da Ilha, a arriba fóssil apresenta uma
irregularidade no seu traçado, observando-se uma curvatura brusca na área de
Fajãzinha – Mosteiros, que sugere um deslocamento daquela vertente com
componente horizontal do tipo direito. Ainda nesta área, a arriba mostra um
ressalto na sequência vulcânica exposta, com abatimento relativo do bloco Leste. A
análise geomorfológica desta região revela um padrão de drenagem caracterizado
por um conjunto de linhas de água de traçado rectilíneo, sugerindo controlo
estrutural por uma zona de falha de direcção N-S. No mesmo local existe um cone
de piroclastos, cuja edificação poderá estar na dependência daquela estrutura.

150
Caracterização e Diagnóstico
Anexo

Fig. 2.3.1.1. – Esboço estrutural da ilha do Fogo (Brum da Silvira et al., 1997).

2. Estruturas tectónicas reconhecidas na Chã das Caldeiras envolvidas na


erupção de Abril/Maio de 1995.
a) Falha Monte Beco (MB)
“Esta falha está marcada no terreno pelo alinhamento de várias bocas
eruptivas segundo a direcção N25E a N30E (Fig. 2.3.1.1.1./MB), e reconheceram-
se, pelo menos, cinco conjuntos emissores da actividade eruptiva de 1995 neste
alinhamento.
O plano de falha principal terá sido observado na cratera das Bocas da
Estrada e reconheceu-se um plano de movimento bem conservado, de atitude
N35E, subvertical (80SE?), apresentando estrias de fricção (slickensides) com pitch
49S. Este facto leva a considerar a sua reactivação com ruptura superficial neste
evento eruptivo. A falha prolonga-se para SO, estando expressa na cratera do
151
Caracterização e Diagnóstico
Anexo

Monte Beco por um ressalto morfológico. Este degrau, voltado para SE e com
comando aproximado de 1,5 m, corresponde provavelmente, a uma escarpa de
falha directa relacionada com anteriores rupturas superficiais na falha do Monte
Beco.”

b) Falha Monte Saia – Cova Tina (MS-CT)


“Na cratera das Bocas da Estrada identificou-se outro plano de falha, com
direcção N60-65O e subvertical (Fig. 2.3.1.1.1./MS-CT) que apresenta em corte
uma geometria anastomosada (em duplex) e ramificada (em splay). De acordo com
a análise cinemática, esta falha teria sido reactivada pelo menos em três fases
distintas, com ruptura superficial e levantamento do bloco NE (Brum da Silveira et.
al., 1996). Observa-se que a inclinação do plano de falha se faz ora para NE, ora
para SO, tornando duvidoso o tipo de componente vertical do movimento; assim
dependendo da inclinação considerada, as referências geológicas tanto podem ter
sido deslocadas, respectivamente, em falha inversa como em falha normal. A
designação atribuída a esta estrutura resulta da localização dos cones vulcânicos
do Monte Saia e Cova Tina, no prolongamento para ONO e ESE do plano de falha
observado, sugerindo que possam ter a sua localização controlada por aquele
acidente.”

3. Falha Portela – Cova Figueira (P-CF)

“A análise geomorfológica e fotogeológica sugere a existência de uma zona


de falha orientada segundo a direcção NO-SE, no alinhamento Portela – Curral
d’Asno – Cova Figueira (Fig. 2.3.1.1.1/P-CF), que está materializada no terreno por
uma intensa fracturação, observável na Bordeira, nas zonas de Cova Tina e
Portela. O seu traçado é inferido a SE pelo alinhamento de cones na região de
Estância Roque – Cova Figueira, e a NO, pelo alinhamento de várias linhas de
água de traçado rectilíneo na região de Campanas – S. Jorge.”
A Falha Monte Saia Cova-Tina poderá ser considerada um acidente
secundário pertencente a zona de Falha Portela-Cova Figueira.

152
Caracterização e Diagnóstico
Anexo

4. Falhas do Espigão

“Num corte da estrada Cova Matinho – Cova Figueira, no sítio de Espigão,


observam-se vários planos de falha com movimentação normal, distribuídos por
duas estações que distam cerca de 20 m, designadas Espig.1 e Espig.2. Foram
designadas por Falhas do Espigão.”

2.3.2. A Estrutura Vulcânica


2.3.2.1 – A CALDEIRA DO FOGO

Os estudos realizados durante as duas missões efectuadas em Abril e Setembro


de 1995, levam-nos a considerar a “Caldeira do Fogo” como uma estrutura
composta por duas caldeiras embutidas e discentradas, sugerindo pelo menos,
dois episódios de colapso.
A caldeira setentrional tem cerca de 4,5 Km de diâmetro máximo, enquanto que a
caldeira meridional tem cerca de 5,5 Km.

2.3.2.2. - VULCÃO DO PICO

O vulcão do Pico está edificado numa zona onde se intersectam estruturas


de várias origens. Com efeito, o seu centro eruptivo localiza-se sobre o cruzamento
da Falha Sambamgo-Monte Vermelho (de direcção N-S), do traço circular da
fractura que define o bordo leste da caldeira meridional e do prolongamento, para
SE, do lineamento Ribeira de Campanas-Bangaeira (de direcção NW-SE).
Estes dados mostram que a instalação da conduta principal do vulcão do
Pico foi controlada estruturalmente, resultando da intersecção de várias
descontinuidades planares.

2.3.2.3. – CONES ADVENTÍCIOS

A distribuição dos cones adventícios apresenta um padrão que revela uma


relação directa com a fracturação radial do grande edifício do Fogo, identificável
quer em fotografia aérea quer em imagem de satélite.
153
Caracterização e Diagnóstico
Anexo

Observa-se também uma disposição concêntrica de alguns destes


aparelhos, mas neste caso, a sua associação com a fracturação circular
concêntrica não é tão evidente como no caso de distribuição radial.

Verifica-se a existência de uma maior densidade de centros emissores na


metade meridional da ilha. Este facto sugere que a localização do reservatório
magmático que alimentou estas erupções, poderá estar posicionado a SE do centro
da ilha.

2.3. As Erupções Históricas da Ilha do Fogo


2.3.1. Revisão e Actualização

1. Centro de Geologia do Instituto de Investigação Científica Tropical, Lisboa

2. Departamento de Geologia da Faculdade de Ciências da Universidade de


Lisboa

3. Instituto Superior de Educação de Cabo Verde, Cidade da Praia

A Ilha do Fogo é a única do Arquipélago de Cabo Verde em que se


registaram erupções em tempos históricos. O seu nome original S. Filipe, foi
rapidamente substituído pelo nome actual, tal a impressão causada aos primeiros
habitantes pelos fenómenos eruptivos que nela se sucederam. O registo
documental dessa actividade é incompleto e impreciso; para os primeiros três
séculos, as referências a erupções nesta ilha provêm de descrições registadas em
diários de bordo de navios que por ali passavam. Ainda assim existem notícias de
erupções em curso nos anos de 1500, 1564, 1596, 1604, 1664, 1675,1680,
1683(?), 1689, 1693, 1695, 1697, 1699, 1712(?), 1713, 1721 a 1725(?) e 1761. É
de se notar que os pequenos intervalos temporais entre as datas referidas (com
hiatos mais prolongados na primeira metade do séc. XVI e no segundo quartel do
séc. XVIII) sugere longos períodos de actividade contínua no vulcão do Pico; esta
suposição é reforçada por vários relatos que parecem indicar um estado de
erupção permanente na cratera do principal vulcão do Fogo (Torres,1 P. C.,

154
Caracterização e Diagnóstico
Anexo

Madeira1 J., Silva, L.1 C. Brum da Silveira,2 A., Serralheiro,2 A. & Mota Gomes,
A.3).

A partir da segunda metade do séc. XVIII os fenómenos eruptivos


transferem-se para cones adventícios do vulcão do Pico e ocorrem como episódios
bem individualizados. Para este período existe documentação referente a erupções
em 1761,1769 (e/ou 1774?), 1785, 1799, 1816, 1847, 1852 e 1857, a que se
juntam os dois episódios deste século em 1951 e 1995.
A maioria dos derrames lávicos produzidos por estes episódios correu para a
vertente Leste da Ilha devido à ausência da bordeira no lado oriental da caldeira do
Fogo, tendo muitas delas atingido o mar. (Fig. 2.3.1.1 das erupções históricas na
Ilha do Fogo).
Erupções Históricas Identificadas
1. Erupção de 1664

2. Erupção dce 1721 – 25

3. Erupção de 1769

4. Erupção de 1785

5. Erupção de 1799

6. Erupção de 1816

7. Erupção de 1847

8. Erupção de 1852

9. Erupção de 1857

10. Erupção de 1951

11. Erupção de 1995

155
Caracterização e Diagnóstico
Anexo

Depósitos Sedimentares Recentes


1. Depósitos de vertente

2. Depósitos aluviais

Após os episódios de colapso que deram origem à caldeira ocorreu


actividade eruptiva, essencialmente explosiva, que levou à edificação do vulcão do
Pico, um cone com mais de 1.000 m de altura. Durante esta fase, que se terá
prolongado até meados do séc. XVIII, formaram-se expessos depósitos
piroclásticos que terão coberto toda a Ilha e que actualmente podem ser
observados na parte superior das vertentes externas da caldeira e na base da
Bordeira (Fig. 2.3.7.1.1.).

Fig. 2.3.1.1 - Carta Geológica da Ilha do Fogo. Erupções Históricas e Formações Enquadrantes.
Fonte: Torres, P.C.; Madeira, J.; Silva, L.C.; Brum da Silveira, A.; Serralheiro. A. & Mota Gomes. A. Rede de Vigilância
Geofísica do Vulcão do Fogo.
.

156
Caracterização e Diagnóstico
Anexo

2.4. - Hidrogeologia e Recursos Hídricos


2.4.1 – Inventário de pontos de água

Sendo o inventário de pontos de água a informação básica para a pesquisa,


captação, exploração e gestão de águas subterrâneas, vejamos quais as
informações que nos forneceu a actualização do inventário de pontos de água
realizada:
1 – Perfil litológico da perfuração e a situação geológica da zona.
2 – Posição do nível piezométrico.
3 – Características químicas da água extraída.
4 – Volume de água utilizado por unidade de tempo.
5 – Evolução, com o tempo, dos dados 2, 3 e 4.
No ano de 1972, portanto ainda, sob a coordenação da empresa francesa
BURGÉAP, procedeu-se à realização do inventário de pontos de água, tendo-se
obtido os seguintes resultados:
- 40 Poços
- 20 Nascentes
- 22- Furos
Atingiu-se o total de oitenta e dois pontos de água inventariados.

No ano 2005 foi feita actualização do inventário de pontos de água tendo se


chegado a um total de 172 pontos inventariados, com a seguinte distribuição:
- 42 Poços
- 28 Nascentes
- 23 Furos
- 79 Fontenários

No ano 2009 foi feita a actualização do inventário de pontos de água tendo se


chegado aos seguintes números:

Folha 38
Poço com água ……………………………………. 1
Furos com água …………………………………….- 2
Nascente com água ……..…………………………. 3
157
Caracterização e Diagnóstico
Anexo

Nascente sem água ……………………..………… 6


Reservatório c/Espelho………………………….…. 5
Total 17

Folha 39
Furos com água ……………………………………. 9
Furo sem água …………………………………… 1
Poços com água …………………………………… 2
Nascentes com água …………………………..…. 3
Reservatório …………………………………………2
Total ………………………….17

Folha 41/42
Furos com água ………………………………….. 9
Furos sem água …………………………………...5
Nascente com água ………………………….….25
Nascente sem água ………………………..……. 3
Reservatório c/Espelho ,,,…………………….... 6
Reservatório ………………………………..…….. 2
Total ………………………50

Folha 43
Furo com água ………………………………….. 1
Furo sem água ………………………………….. 1
Reservatório c/Espelho ………………………… 3
Reservatório …………………………………….., 5
Total ………………..….10

Folha 46
Furos com água ……………………………….. 6
Nascente com água ………………………..….. 1
Poços com água ……………………………….. 2
Reservatório…………………………………….. 2
Total…………..……. 11
158
Caracterização e Diagnóstico
Anexo

Folha 47
Furo sem água ……………………………..…. 1
Reservatório c/ Espelho…………………………1
Total …………………2

Total Geral da Ilha = 107


Folha 38 17
Folha 39 17
Folha 41/42 50
Folha 43 10
Folha 46 11
Folha 47 2

159
Caracterização e Diagnóstico

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