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Amor de Perdição

Os elementos dramáticos e os elementos trágicos

Os elementos dramáticos mais importantes na intriga de Amor de Perdição são o ódio, o fatalismo e a
morte. Tais elementos conferem à intriga um clima de tragédia. Exemplos de algumas passagens da obra onde
se revelam estes elementos:

O Ódio
- “O magistrado e a sua família eram odiosos ao pai de teresa, por motivos de litígios, em que Domingos
Botelho lhes deu sentença contra.” (cap. II)
- “Não era sobressalto do coração apaixonado: era índole arrogante que lhe escaldava o sangue. Ir dali
a Castro Daire, e apunhalar o primo na sua própria casa, foi o primeiro conselho que lhe segredou a
fúria do seu ódio.” (cap. IV)

O fatalismo
- “Não sei o que me adivinha o coração a respeito de vossa senhoria. Alguma desgraça está para lhe
acontecer…” (cap. V)
- “Eu não sei o que se passa, mas há qualquer coisa misteriosa que eu não posso adivinhar.” (cap. VII)
- “O destino há de cumprir-se…”, “O meu destino é o convento. “ (cap. X)
- “… mas o meu fatal destino não quis largara vítima.” (cap. XI)

A morte
- “Foram simultâneas as explosões. A pontaria do ferrador fez logo um cadáver.” (cap. VI)
- “Baltasar Coutinho lançou-se de ímpeto a Simão (…) Baltasar tinha o alto do crânio aberto por uma
bala que lhe entrara na fronte.” (cap. X)
- “Mataram-me! …Mariana, não te vejo mais!...” (cap. XVII)
- “- Teresa!... Morreu?
- Morreu, além no mirante, donde ela estava acenando” (cap. XX)
- “ – Está morto! – disse ele.” (conclusão)

Sabendo-se que o drama é a oposição de carateres sem que se verifique a introdução de forças superiores
ao individuo e que a tragédia implica exatamente a introdução de forças superiores ao individuo, saliente-se o
clima de tragédia que paira ao longo da obra. Se o ódio e o amor brotam dos corações, o fatalismo é um fator
que está ligado a entidades superiores. E se o ódio e o amor foram pontos de partida, o fatalismo comandou
a intriga, como mandavam as leis da tragédia: o destino os uniu ou aproximou, o destino os separará e
destruirá.

A novela Amor de Perdição apresenta uma dimensão trágica, que se traduz na morte das personagens
principais, que lutam, até ao fim, pelo único motivo pelo qual, para elas, vale a pena estar vivo. Findas as
esperanças na vida terrena, sucumbem ou procuram na morte o seu único consolo.

Elementos trágicos em Amor de Perdição:


Marca a vida de Simão desde o seu nascimento (nasce em perigo de vida) e o seu destino
inexorável.
“Que destino o teu! Oxalá que tivesses morrido ao nascer!
Morto me disseram que tinhas nascido; mas o teu fatal destino não quis largar a vítima”
(cap. XI)
Simão e Teresa são vítimas do orgulho familiar, que se alimenta de ódios, preconceitos e
Fatalismo estereótipos comportamentais que caracterizam o espaço social onde não há lugar á
(Ananké) afirmação individual. Camilo critica aqui o «homem social», mesquinho e descontrolado
pela sua própria Razão.
Mariana, dada a sua condição social, está irremediavelmente condenada a amar sem ser
correspondida. Simão acaba por considerar Mariana e João da Cruz a sua família, mas a
sua incapacidade de amar Mariana (porque ama Teresa) aparece como um estigma que
marca as diferenças sociais; é esse o sentido da reflexão de João da Cruz, ao afirmar que
Mariana vale mais do que qualquer fidalga.
Resistência e desobediência completas de Simão e Teresa em relação à incompreensão e
opressão dos seus pais, não renunciando ao amor que têm um pelo outro.
“- E não será mais certo eu odiá-lo para sempre? Eu agora mesmo o abomino como nunca
Desafio
pensei que se pudesse abominar! Meu pai… - continuou ela, com as mãos erguidas, -
(Hybris)
mate-me; mas não me force a casar com meu primo. É escusada a violência, porque eu
não caso!” (cap. XI)
Mariana desafia a mentalidade da época ao apaixonar-se por Simão.
O desafio à autoridade paterna provoca de imediato a opressão que causa sofrimento e
faz crescer a mola do ódio entre as famílias, que impede qualquer aproximação.
Sofrimento Teresa e simão sofrem, também, o desespero causado pelo facto de adquirirem uma
(Pathos) consciência progressiva da incapacidade de realizar o seu amor (as cartas são o exemplo
mais concreto do sofrimento de Simão e Teresa).
Mariana sofre por ver Simão sofrer e pelo facto de compartilhar a sua dor.
O conflito está assente em três polos: Honra, Amor e sociedade.
Conflito O conflito é irresolúvel porque simão não cede aos valores sociais que condenam o seu
amor e o de Teresa.
O sofrimento aumenta gradualmente até ao desenlace, onde atinge o ponto culminante.
Clímax
Simão e teresa perdem a sua liberdade: Simão é preso e teresa é encarcerada no
Peripécia
convento.
Não se podendo dizer que de forma muito nítida este elemento próprio de tragédia esteja
bem marcado, não há dúvida que se pode situar sobretudo no capítulo XX, no momento
em que Simão tem consciência da morte de Teresa:
“- Quem senhor?
Anagnórise
- Teresa.
- Teresa!... morreu?
- Morreu, além no mirante, donde ela estava acenando.
- Acabou-se tudo!... – murmurou Simão. – Eis-me livre… para a morte…”
Desenlace A morte quase simultânea dos protagonistas e o suicídio de Mariana. (capítulo XX e
(Catástrofe) conclusão).
Terror e Estes dois sentimentos estão presentes por toda a parte: nas cartas, nos comentários do
compaixão narrador (por exemplo, cap. IX); nos comentários de Mariana (por exemplo, cap. V), que
(Fobós e Eleos) substituem o coro da tragédia grega.

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