Você está na página 1de 1

POLUÇÃO

Eu existo porque existe ir e vir e viver


Eu existo porque existe o ópio cópula dos vivos
Eu existo porque as coxas ancestrais abren1-se aos falos in1emoriais
Porque de ci.Jna dos lixos monturos os bodes espreitam o coito dos homens
E o menino pobre do trem da janela vê passarem pernas nuas

Eu existo porque a chuva lava o rastro dos ho1nens eretos


E outros ho1nens marcam o mes1no passo na lama deixada
E as mulheres secas dão frutos como não os dão os secos paus dos mulungus
E as n1etades incongn1entes transtnitem às criaturas o legado de nossa miséria
Enquanto são aliciadas as meninas para a n1asculina lubrificação

Eu existo porque sou esculpido escarrado pelo deus aleijado


Porque engulo o deus o pão o sol a cigarra o diabo o sal de Batista
Porque sou eu mesmo o menino da janela o bode do monturo
O auto o frade as flechas a chuva o berro o escarro

Porque sou a miséria a fauna a fome a fera


O sêmen as fezes o corpo a carne e a faca
O galo a manhã a secura e a cabralina tessitura

Eu existo habito o planeta pairando glauber sobre a terra e as águas


Que correm em transe lavando o verbo forjan�o ,ª �ame
Porque das sempre e mesmas vazias palavras 1nute1s
Sou eu próprio o inútil deus esvaziado.
José Teotonio - joseteo@alumni.usp.br

Você também pode gostar