Você está na página 1de 21

RIO

S ECRETO
M A NOE L DE A L M E I DA E SI LVA , M A RC I O ROI T E R E T HOM AS JON G L E Z

EDITORA JONGLEZ
castelo - praça xv

A CELA HISTÓRICA DE TIRADENTES 1


Hospital Militar da Ilha das Cobras
Centro
• Visita de segunda a sexta-feira das 9h às 13h
• Acesso: Ao final da Rua Primeiro de Março (à esquerda do túnel Rio 450),
entrar a pé na zona militar até a Ponte Arnaldo Luz. Tomar o elevador do
Hospital Central da Marinha. A entrada do hospital fica em frente à saída


do elevador

A cela de Tiradentes é provavelmente


um dos maiores segredos históricos
da cidade do Rio. Talvez porque nada,
absolutamente nada mostra que a mesma
ainda exista no Hospital Militar da Ilha das
dos sítios
mais importantes
Um

e mais
Cobras. desconhecidos
De segunda a sexta-feira de manhã, basta
se apresentar na entrada do hospital e pedir
do Brasil
para ver a cela de Tiradentes na qual o mesmo
ficou preso antes de ser transferido para
a Cadeia Velha, prisão da cidade, próxima ao atual edifício da Assembleia
Legislativa do Rio de Janeiro. Foi desta prisão, destruída em 1922, que
Tiradentes, nascido em 1746, saiu para ser executado em 21 de abril de 1792,
na esquina da Rua Senhor dos Passos com a Avenida Passos, não muito longe
da atual Praça Tiradentes (antigamente Campo da Lampadosa). Além de
enforcado, foi também esquartejado. A cabeça foi exposta numa coluna da
praça central de Vila Rica (atual Ouro Preto), e os restos mortais, espalhados
por Cebolas, Varginha do Lourenço, Barbacena e Queluz, cidades onde realizou
discursos chamando para a revolta.
Considerado um dos líderes da conjuração Mineira (ver pg. 87), Tiradentes
foi preso em 10 de maio de 1789 na Rua dos Latoeiros (hoje Gonçalves Dias)
enquanto divulgava a ideia revolucionária da Independência do Brasil.

A cela de outros membros da conjuração Mineira também pode ser


visitada. Está situada na fortaleza do Morro da Conceição (ver pg. 87) .

14 RIO SECRETO 15
castelo - praça xv castelo - praça xv

ESTÁTUA DE SANTA EMERENCIANA 9


Igreja da Ordem Terceira do Carmo
Rua Primeiro de Março, s/n
Centro
• Tel.: (21) 2242-4828
• Visitas: De segunda a sexta das 8h às 16h e aos sábados das 9h às
12h30


• Metrô: Carioca

Uma
raríssima
estátua
da bisavô
À direita de quem contempla o altar-
mor da Igreja da Ordem Terceira do
Carmo, uma estátua feita por um
artista português anônimo do século XVIII
representa uma raríssima imagem de Santa
de Jesus Emerenciana, bisavó de Jesus.
Em seu braço direito sustenta a filha
Santana e, no lado do coração, traz a neta
Maria que, por sua vez, tem em seu colo o menino Jesus. Curioso é que Santana
é ligeiramente maior que Maria, como forma de indicar justamente sua
antecedência e idade superior. Para indicar a origem nobre e sagrada, todas as
três gerações estão ricamente trajadas.

e avó de São João Batista.


Segundo essas várias fontes, Emerenciana nasceu no vilarejo de Séforis,
DE ONDE VÊM AS INFORMAÇÕES SOBRE SANTA EMERENCIANA? ao norte do Monte Carmelo, para onde a mesma costumava ir e encontrar
A maior parte das informações que se tem sobre Santa Emerenciana os discípulos dos Profetas Elias e Eliseu. É também no Monte Carmelo que
vem do livro A vida e a glória de Sant’Anna, tiradas de autores antigos e o Profeta Elias construiu um oratório dedicado à Virgem que deveria dar à
modernos. Publicado em 1917, o mesmo foi escrito por um Redentorista luz. Dentre os discípulos, um certo Arcos, com quem discutia regularmente
quebequense que continua anônimo. Os Redentoristas são membros da sobre os mistérios da fé, profetizou-lhe que a mesma ia casar-se e dar à luz
Congregação do Santíssimo Redentor, fundada em 1732 por Santo Afonso o Cristo. Ela casa-se aos 18 anos com um certo Estolão, de sangue real, que
de Lingório (1696-1787). Ele baseia-se em três fontes principais: as visões lhe dá uma filha a quem Emereciana chama de Ismariana. Aos 15 anos, a
místicas de Ana Catarina de Emmerick (1774-1824) e de Maria de Valtorta mesma casa-se com Eliude e tem uma filha, Elisabete, que se torna esposa
(1897-1961), e no livro Culto de Sant’Anna no Ocidente, de PaulVictor de Zacarias, chefe dos Sacerdotes, e mãe de São João Batista. Ismariana
Charland, publicado em 1920. Pode-se notar que Anna e Joaquim, pais deu também à luz uma segunda filha de nome Emina, que teve entre os
da Virgem Maria, também não são citados nos Evangelhos; só aparecem seus descendentes Santo Servais, primeiro bispo de Tingres.
pela primeira vez no “Protoevangelho de Jacó”, um evangelho apócrifo do Passaram-se anos até que, já bem idosos, Emereciana e Estolão viram
século II depois de Cristo. Santo Cirilo de Alexandria, no século V, retoma as realizar-se a profecia de Arcos. Em uma visão mística, eles enxergaram à
informações e, no século XIII, A Lenda Dourada, de Jacques de Voragine, beira de sua cama quatro letras de ouro que formavam o nome de Anna,
fala de uma irmã de Anna que se chamava Isméria e seria mãe de Elisabete nascida algum tempo depois.

30 RIO SECRETO RIO SECRETO 31


castelo - praça xv

O VITRAL DA LOJA AREZZO 15


Antiga Casa Daniel
Rua Gonçalves Dias, 13
• Metrô: Carioca

N o número 13 da Rua Gonçalves Dias,


na região do centro do Rio chamada
pelo escritor Machado de Assis de “a
via dolorosa dos maridos pobres” (ali ficavam

“ Uma joia
desconhecida
as melhores lojas da cidade, desde os tempos do Brasil ainda colônia, e que com
a chegada da família real portuguesa ganharam ainda mais destaque), uma
fachada de meados do século XIX, com balcões acrescentados no início do século
XX, abriga hoje uma loja de sapatos, bolsas e acessórios em couro, a Arezzo.
Inaugurada em 2012, comemorou, depois de cuidadoso restauro, o retorno às
particularidades da moda um imóvel que já tinha sido uma sorveteria no final do
século XIX, a Loja das Sedas nos anos 1930 (onde os tecidos eram apresentados
por modelos que desfilavam com vestidos a serem ainda confeccionados por
sua escadaria bipartida) e, entre a década de 1930 e 2010, a célebre Casa Daniel.
Especializada em presentes, foi por muitos anos uma das principais no gênero
no Rio. No inicio do século XX, o trajeto de organização das noivas para o
grande momento era muito simples: lista de presentes na Casa Daniel, vestido
na Casa Canadá e bufê para a recepção na Confeitaria Colombo, todas muito
próximas. Entretanto, quando o empresário Anderson Birman resolveu assumir
o estado decadente que a Casa Daniel tomara em seus últimos anos e restaurar o
imóvel, encontrou intacta toda a decoração que a Loja das Sedas havia projetado.
Além da escadaria “hollywoodiana”, móveis em pau-marfim muito elegantes,
uma claraboia em vidros fantasia e ferro forjado, e, sobretudo, um vitral de
excepcional qualidade criam uma atmosfera Art Déco. Representando o bicho
da seda, o grande vitral é atribuído ao principal artista gráfico nacional dedicado
ao Art Déco: J. Carlos. Durante a restauração, que durou dois anos, foram
encontrados vestígios das ocupações anteriores do imóvel, como os azulejos da
firma Villeroy-Boch do século XIX, que foram deixados à vista como um belo
detalhe de arqueologia urbana.

RIO SECRETO 41
castelo - praça xv castelo - praça xv

A ESCADA DO PALÁCIO DA FAZENDA 26


Museu da Fazenda Federal
Avenida Presidente Antônio Carlos, 375
Castelo
• Visitas guiadas (disponível só em português) de segunda a sexta-feira
das 9h às 16h (agendamento pelos telefones (21) 3805-2003 ou (21)
3805-2004)
• Grátis
• Metrô: Cinelândia

“ Uma
escada
espetacular
em forma
de hélice
A o entrar no hall dos elevadores do
Pa l ác io d a Fa z e nd a , lo go s e vê
imponentes escadas nas laterais que
“emolduram” o espaço. Dois grandes lustres
com 39 lâmpadas cada um parecem flutuar
sobre essas escadas amplas e de grande leveza,
apesar dos degraus em mármore e dos gradis
em ferro, com detalhes em metal dourado. Do mezzanino até o 15º e último
andar, elas passam a ser uma só, em espetacular forma de hélice, como se vê na
visita guiada. Acredita-se que os gradis sejam de Oreste Fabbri, que também
desenhou os portões de entrada e as grades decorativas dos guichês.

Inaugurado em 1943, o prédio foi sede do Ministério da Fazenda até


a capital mudar-se do Rio para Brasília, no início dos anos 1960. A
empreitada começou com polêmica. Wladimir Alves de Souza e Eneas
Silva, vencedores do concurso público de arquitetura, apresentaram um
projeto de linhas modernistas que não foi executado pois o Ministro da
Fazenda, Arthur de Souza Costa (1893-1957), preferia o estilo neoclássico.
Foi tal sua influência que, mesmo que os desenhos do edifício estivessem
prontos, o ministro mostrou à equipe responsável a foto de uma
construção neoclássica italiana e disse: “É assim que eu quero a fachada.”

Como parte da modernização do Rio de Janeiro no governo Getúlio Vargas


(ver pg.128), foram construídos na mesma época, em estilos antagônicos,
o Palácio da Fazenda, neoclássico (ainda que com elementos Art Déco), e
o Ministério da Educação e Saúde (Capanema - ver pg.51), um dos marcos Originalmente, o prédio do Ministério da Fazenda seria construído na
do modernismo brasileiro e mundial. Avenida Passos, próximo à Praça Tiradentes, e para isso foi demolido o
edifício da Academia Imperial de Belas Artes, projetado pelo arquiteto
francês Grandjean de Montigny e inaugurado em 1826. Da edificação,
O palácio da Fazenda possui também belíssimos painéis modernistas no conseguiu-se salvar o pórtico, que foi remontado no Jardim Botânico (ver
14º andar. Ver dupla página anterior. pg.120). No espaço do prédio demolido, existe hoje um estacionamento.

64 RIO SECRETO RIO SECRETO 65


lapa - centro - gamboa - saúde

FACHADA DA ANTIGA FÁBRICA DE PERFUMES 10


E SABONETES LAMBERT


Rua do Senado, 244-246
• Metrô : Central

E squecida na Rua do Senado, a fachada


azul e branca do número 244-246 da
rua, é uma das mais belas da cidade:
em muito bom estado, apresenta no primeiro
andar uma notável escultura de mulher.
extraordinária
Uma

fachada
esquecida
Esta segura na mão direita um martelo
repousado sobre uma bigorna e na mão esquerda um esquadro e um
compasso. Construído em 1920, o edifício antes abrigava a antiga fábrica de
perfumes e sabonetes Lambert, como indica Luiz Eugênio Teixeira Leite em
seu extraordinário livro O Rio que o Rio não vê. A bigorna e o martelo remetem
à antiga atividade industrial (no sentido de fabricação de bens de consumo) do
lugar. Já o esquadro e o compasso, que simbolizam à primeira vista o trabalho
do arquiteto, são igualmente símbolos maçons.
Na simbologia maçônica, o compasso é o símbolo do Espírito, e o esquadro,
o da matéria, indicando a “retidão na ação”. Quando as duas ferramentas
estão entrelaçadas, exprimem o equilíbrio das forças espirituais e materiais,
condições necessárias para alcançar a iluminação espiritual. Essa iluminação
está representada na hierarquia maçônica através do 3 grau de Mestre Maçon,
no qual o compasso está colocado sobre o esquadro (como representado aqui),
indicando através disso que a espiritualidade venceu a matéria.
Seria esse o sentido da coroa de louro (símbolo da vitória) que a mulher
carrega na cabeça?
Da mesma maneira, a grande concha esculpida sobre ela é frequentemente,
por sua forma, associada ao órgão sexual feminino. A sua presença passaria,
desse modo, a mesma ideia da vitória do espírito sobre os instintos sexuais
(materiais) que habitam o ser humano.

RIO SECRETO 99
lapa - centro - gamboa - saúde lapa - centro - gamboa - saúde

O QUE É A ROSA DE OURO ?


A ROSA DE OURO DO MUSEU ARQUIDIOCESANO 19 A Rosa de Ouro é um ornamento sagrado que
DE ARTE SACRA representava, na maioria das vezes, uma rosa
Museu Arquidiocesano de Arte Sacra (às vezes, uma roseira) forjada em ouro puro.
Catedral Metropolitana de São Sebastião
Avenida República do Chile, 245 - Centro Todos os anos, o papa oferecia um exemplar a um
• Quarta-feira das 9 as 12hs e das 13 as 16hs , sábado e domingo das 9 as soberano, a locais de culto ou de peregrinação
12hs • Em outros dias, visitas somente pré-agendada pelos telefones: ou a uma comunidade para glorificá-los. Muitos
(21) 2240-2269, (21) 2240-2869 ou (21) 2262-1797 (a catedral está desses objetos preciosos foram vendidos a fim
aberta à visitação grátis todos os dias das 8h às 17hs) • R$2
• www.catedral.com.br de recuperar o ouro, e hoje só restam alguns


• Metrô: Carioca exemplares raros, incluindo a do tesouro da basílica
de São Marcos (Veneza); a do museu Cluny, em
Paris; a do Palazzo Comunale de Siena (Toscana); as
duas da sala do tesouro da Hofburg (Viena – Áustria);

S
A rosa ituado no subsolo da catedral, o pouco a da catedral de Benevento (Itália); e a do Museu
visitado Museu Arquidiocesano de Arte Sagrado da Biblioteca do Vaticano. Recentemente,
de ouro os papas ofereceram também Rosas de Ouro a
Sacra do Rio de Janeiro, que reúne mais
da princesa de 5.000 peças de arte religiosa, possui uma Lourdes (João Paulo II), à basílica brasileira Nossa
obra muito particular. Senhora Aparecida (1967 e 2007) e ao santuário de
No fundo do museu, o visitante curioso Guadalupe no México. Apesar de a primeira citação
poderá ver uma rosa de ouro concedida à Princesa Isabel (1846-1921) pelo de uma Rosa de Ouro datar de 1049, na bula de Leão IX, a menção mais
papa Leão XIII (1810-1903). A rosa (na verdade, um buquê) é composta de antiga do dom de uma Rosa de Ouro por um papa data do final do século
uma haste com 45 cm de altura, 12 ramos, 24 espinhos, 12 botões e 124 folhas. XI: em 1098-1099, o Papa Urbano II a oferece ao Conde Foulques de Anjou
Está num vaso de prata dourada estilo neoclássico. depois de ter pregado a primeira Cruzada. Além do lado honorífico, a Rosa
Em 29 de maio de 1888, poucos dias após a princesa, então temporariamente de Ouro transmite também uma mensagem espiritual, como confirma a
regente do Império do Brasil, ter assinado, no dia 13 de maio, a Lei Áurea, que carta que sempre acompanha o presente: dado que a rosa é considerada
aboliu a escravatura no país (o Brasil foi o último país independente da como a mais bela e perfumada das flores, o seu presente significa que o
América a libertar escravos), Leão XIII assinou a carta de concessão da rosa papa deseja que o perfume divino da rosa impregne o espirito e o coração
de ouro, onde diz a Isabel: “não olhe para o preço do objeto e seu lavor, mas daquele ou daqueles que a recebem.
atenda aos mais sagrados mistérios por ele significados”. Ele ainda observa que
O BLOCO DE CONCRETO DA PISTA DO GALEÃO, BEIJADO PELO PAPA JOÃO
a flor representa a majestade de Cristo e que, em sua fragrância, está o símbolo
PAULO II
“que ao longe rescendem todos os que cuidadosamente imitam suas virtudes”.
No acervo do museu, duas outras peças chamam atenção: quando João
A rosa de ouro da Princesa Isabel foi conservada pela Família Imperial
Paulo II veio ao Rio pela primeira vez, ao descer na base aérea do Galeão no
Brasileira e oferecida à catedral metropolitana do Rio de Janeiro no centenário
dia 1° de julho de 1980, o papa, como era seu hábito, beijou o solo.
do nascimento da princesa.
O bloco de concreto da pista correspondendo ao local do beijo está hoje
no museu.
Próximo a essa peça, numa vitrine, está o “anel do Papa”. Naquela mesma
visita de 1980, João Paulo II, ao chegar ao Vidigal, tirou do dedo seu anel
de ouro e o doou à comunidade. Em 1982, a joia passou a fazer parte do
acervo do museu e a Arquidiocese fez uma réplica em prata que ficou
exposta na capela de São Francisco de Assis, construída pelos moradores
do Vidigal em dois meses, em regime de mutirão, justamente em função
da visita do Papa.
Após o anel ser roubado alguns anos depois, foi feita uma nova réplica
que, por segurança, passou a ser guardada, em regime de rodízio, por um
pequeno grupo de moradores. Em consequência do roubo, a capela, que
passou a ser conhecida como “Capela do Papa”, foi murada. Atualmente,
abre quinzenalmente para missas.
114 RIO SECRETO RIO SECRETO 115
botafogo - flamengo - laranjeiras - catete - gloria - sta teresa

CEMITÉRIO DOS ANJINHOS 11


Cemitério São João Batista
R. General Polidoro, s/n°
• Metrô Botafogo
• Aberto todos os dias, das 9h às 17h

O Cemitério dos Anjinhos, no interior


do Cemitério São João Batista, é um
dos lugares mais secretos, misteriosos,
estranhos e impressionantes da cidade do Rio
de Janeiro.
Ao passar pela entrada principal, da rua
General Polidoro, deve-se seguir a alameda
principal. Aproximadamente a meio caminho
“ dos lugares
mais secretos e
impressionantes
da cidade

da igreja do cemitério, deve-se tomar a alameda que vai para a esquerda,


em direção à pequena colina, não construída, que faz parte dos limites do
Um

cemitério e que ocupa o ângulo nordeste deste, ao longo da rua Álvaro Ramos.
Chegando ao pé da colina, uma escada de pedra leva ao topo, deixando
para trás a leve agitação dos raros visitantes do cemitério. O ambiente muda
rapidamente e, em alguns segundos, entra-se em uma floresta de aspecto
selvagem, onde a escada bem disposta dá lugar a um caminho de pedras tortas,
tomado pela vegetação. Em alguns metros, o ambiente muda mais uma vez:
antigas construções emergem em alguns lugares, o que faz lembrar a “cidade
perdida” da Colômbia. Após alguns minutos, chega-se, finalmente, ao fim
da subida, onde, no desvio da última curva, encontra-se um impressionante
terreno de cruzes fincadas no solo. A visão impõe, naturalmente, respeito, e, em
vez de atravessar o terreno, pode-se virar à esquerda e contornar a colina. Do
outro lado, chega-se atrás desse mesmo terreno. Existe, ainda, outro, também
com cruzes, acima, à esquerda.
Este lugar raro, único, emocionante e inquietante é o cemitério dos
Anjinhos. Contrariamente ao que se poderia pensar, ele não reúne, como em
certos países, os corpos das crianças mortas antes de serem batizadas. Ele
abriga os corpos das crianças mortas, com menos de sete anos, cujos pais não
tinham meios financeiros para pagar uma sepultura oficial. O lugar já não
aceita novos corpos desde 2008.

RIO SECRETO 151


botafogo - flamengo - laranjeiras - catete - gloria - sta teresa botafogo - flamengo - laranjeiras - catete - gloria - sta teresa

O JAZIGO DO MARQUÊS DE PARANÁ 12 dos mortos), personificação da suprema sabedoria assinalada na música que
Cemitério São João Batista expressa a harmonia universal.
Rua General Polidoro s/n, Botafogo Por cima do pórtico, na cornija, observa-se o uréus (ou uraeus), que é
• Tels.: (21) 2539-9449, (21) 2527-0648 e (21) 2539-6057 “olho de Hórus”, como deus de sabedoria divina e realeza espiritual, segundo
• E-mail: saojoaobatista@riopax.com.br indicam as serpentes reais (najas), com o Sol alado ao centro, transmissor do
• Visitas: aberto diariamente das 9h às 17h. Uma vez ao mês, oferece
visitas guiadas gratuitas. Para agendar: www.cemiteriosjb.com.br/ fluído vital, do sopro da vida, motivo pelo qual os antigos faraós ostentavam


agendamento/ uréus nas suas cabeças. Interpreta-se a presença das cobras reais com as
• Metrô: Botafogo cabeças erguidas como sendo aqueles seres que repelem todo o mal e,
consequentemente, protegem o monumento funerário e seus “moradores”. A
crença é reforçada pela presença de Hórus, filho de Osíris e Ísis (a trindade

A
O jazigo poucos metros à esquerda da igreja do egípcia), que combate eternamente as trevas para fazer vitoriosas as forças da
cemitério, uma figura feminina aponta luz; ou seja, para que a imortalidade suceda a morte.
esotérico egípcio Essa proteção é fortalecida pela presença da esfinge, em frente à figura
para uma frase escrita no alto da porta
de um maçom de entrada de um jazigo repleto de alegorias feminina, postada lateralmente à entrada do jazigo de modo a barrar a
carioca esotéricas egípcias: “Jazigo do Marquês e passagem de estranhos. Estando deitada em posição passiva, contempla o
do Barão de Paraná”. Político, diplomata e único ponto no horizonte onde nasce o Sol, e era considerada guardiã das
magistrado reconhecido por seus dotes conciliadores, Honório Hermeto entradas proibidas e das múmias reais. É a representação dos mistérios divinos
Carneiro Leão, que se tornou o Marquês de Paraná (1801-1856), foi, sobretudo, que sobrepassam a morte e sobrevivem aos acasos dos ciclos da existência
um maçom de alto grau do Grande Oriente do Brasil. Ainda quando estudante humana.
na Universidade de Coimbra, em Portugal, ele se filiou à sociedade secreta de
nome A Gruta, fundada por estudantes brasileiros que tinham a intenção de
transformar o Brasil em uma República.
A relação tradicional da Maçonaria com a Tradição Egípcia está ali exposta:
o jazigo, em estilo de templo egípcio com formato piramidal, é a evocação dos
mistérios iniciáticos, em que a pirâmide expressa a elevação da alma ao céu
sob a evocação das três luzes da Maçonaria – o compasso, o esquadro e o livro
sagrado.
O esquema de encaixão do cadáver do Marquês é semelhante ao antigo
sistema egípcio: o corpo embalsamado é posto em um caixão de zinco
que, depois de hermeticamente fechado, entra em um segundo caixão,
de cedro envernizado, que é colocado dentro de um terceiro, de grande
riqueza, oferecido pela Irmandade da Santa Casa da Misericórdia do Rio de
Janeiro. Três caixões para um só corpo, simbólicos dos três princípios vitais
animadores desse mesmo corpo: mente, psique e físico.
A figura feminina em frente ao jazigo, que aponta a frase identificadora dos
jacentes com os seus trajes de sacerdotisa egípcia, mais que a morte, representa
a imortalidade. A ideia é reforçada pelo Sol resplandecente sobre sua fronte,
símbolo do Deus Rá, indicativo de iluminação espiritual. E, ainda, pelas cruzes
ansatas gravadas nas vestes e ladeadas da letra A, inicial de Ankh (Vivente), o
que vive consciente na imortalidade graças à iniciação maçônica
Nos lados da frase “Jazigo do Marquês e do Barão de Paraná”, estão dois
falcões carregando, nos bicos, folhas de acácia (flor da maçonaria simbólica
da iniciação e da imortalidade), sendo que, essa ave expressa a “alma” alada
do iniciado, que volta ao oriente eterno absorvendo-se no grande arquiteto
do universo.
Nas ombreiras laterais, aparece a figura de duas mulheres tocando cítara.
Elas representam Nut, a deusa do céu e esposa de Keb (deus da terra, protetor

152 RIO SECRETO RIO SECRETO 153


copacabana

EDIFÍCIO ITAHY 9
Avenida Nossa Senhora de Copacabana, 252
• Metrô: Cardeal Arcoverde

S e existe um e dif ício no Rio que


simbolize o Art Déco Nativista, aquele
que representa a influência indígena no
Modernismo brasileiro, é o Itahy, na avenida
Nossa Senhora de Copacabana, 252.
“ O símbolo
do Art Déco
Nativista no Rio
Projetado por Arnaldo Gladosch, em 1932, um filho de imigrantes alemães,
arquiteto paulista de formação europeia, formou-se em 1926, na Escola
Superior Técnica da Saxônia. O edifício combina as referências de pórtico
encimado por uma espectacular ”índia-sereia-cariátide” Art Déco da nossa
Pindorama Modernista, com a vanguarda de uma arquitetura depurada, de
traços aerodinâmicos, presente no corpo do edifício.
Autor da decoração do pórtico e do hall, Pedro Correia de Araújo nasceu e
viveu em Paris até a década de 1920. Filho de nobres pernambucanos, antigos
e fiéis amigos do imperador D. Pedro II, que emigraram para Paris junto com
ele, depois do advento da República, Correia de Araújo conviveu, na Acadêmia
Ranson, e no ambiente parisiense, com Picasso, Léger e Matisse. Volta ao Brasil
com ideias nativistas, influenciado pelo artista tapeceiro Ivan da Silva Bruhns,
outro brasileiro radicado em Paris, que se torna um dos mais importantes
artistas na arte da tapeçaria. Ver o Brasil de longe significava entender o
quanto nossas origens poderiam criar um estilo próprio. Correia de Araújo
deixou sua assinatura no lado esquerdo da figura da índia, no alto do pórtico.
Fato que destrói qualquer reivindicação da família do artista português radicado
no Rio desde 1914, Fernando Correia Dias. As peças cilíndricas em cerâmica
que ladeiam a entrada do prédio foram influência do pavilhão do estúdio de
design do “Grand Magasin Au Printemps”, chamado “Primavera”, na Exposição
Internacional das Artes Decorativas Industriais e Modernas de Paris 1925. A
porta de entrada, em ferro batido, traz imagens de algas e tartarugas. No interior
do hall, um piso em mosaico elaborado reproduz ondas do mar. Nas paredes,
relevos com peixes e temas correlatos. O Edifício Itahy é também um herói
quanto à resistência na instalação de grades de proteção na entrada.

No vizinho bairro do Leme, na rua Gustavo Sampaio, o Edifício Manguaba


apresenta uma decoração feita pelo mesmo artista Pedro Correia de Araújo,
e arquitetura (de Chaves & Campelo, de 1936) semelhante, de fatura
moderna, aerodinâmica, evidenciando o casamento entre nativismo e
modernidade. Painéis em cerâmica desde a entrada, espelhos pintados por
trás, colunas em majólica: tudo lembra o Itahy.

182 RIO SECRETO 183


copacabana copacabana

EDIFÍCIO ITAÓCA 10
Rua Duvivier, 43
Copacabana
• Metrô : Cardeal Arcoverde

“ Um talismã
Art Déco?
U m dos primeiros edifícios de mais de
dez andares em Copacabana, o Itaóca,
na rua Duvivier 43, trouxe para o
bairro um caráter sofisticado, europeu, com
suas chambres de bonnes (quartos de empregadas) no último andar, uso
comercial e residencial nos apartamentos térreos (sede da Aliança Francesa).
Projetado em 1928 pelos arquitetos Anton Floderer e Robert Prentice,
construído pela empresa Christiani & Nielsen, relaciona sensibilidade
aerodinâmica no corpo do prédio, com suas linhas aerodinâmicas em volumes
salientes de cantos curvos e frisos horizontais, associados a uma entrada em
pórtico nativista, com poderosas colunas em majólica verde.
Nestas colunas, assim como no eixo da construção, temos elementos
que se referem aos talismãs amazônicos, os muiraquitãs (ver embaixo).
Possivelmente desenhadas por Fernando Correia Dias, as alegorias nativistas
do Itaóca ainda precisam ser pesquisadas. Não resta dúvida, porém, de que o
portal de entrada do prédio procede da mesma fábrica que executou aquele do
Edifício Itahy, prédio vizinho (ver p.183). Nos interiores, um piso que alterna
pastilhas verde-amarelas lembra o registro brasileiro.
Um grande pátio interno (inusitado nas dimensões de Copacabana)
garante ao edifício ventilação e iluminação. As áreas de serviço apresentam
grades baixas nessa área interna e a massa arquitetural do Edifício Itaóca OS MUIRAQUITÃS: OS TALISMÃS AMAZÔNICOS
impera como um talismã Art Déco. O muiraquitã é um talismã ao qual as tribos indígenas, sobretudo
amazônicas, atribuíam poderes mágicos, e que podiam ser em pedra,
argila, cerâmica ou até mesmo em madeira. 
Tomavam formas  de animais, como sapos (como no pórtico do Edifício
Itaóca) ou jacarés, mas também de seres humanos estilizados. No livro
de Mario de Andrade, considerado a epopeia nativista do Modernismo
brasileiro (Macunaíma -1928), o enredo se desenvolve na busca de um
muiraquitã perdido.
Em julho de 1925, com grande sucesso, estreou no Théâtre des Champs-
Elysées (Paris) o balé “Légendes, Croyances et Talismans des Indiens de
l’Amazone” adaptado por P. L. Duchartre sobre imagens desenhadas pelo
modernista brasileiro, Vicente do Rego Monteiro.
Durante quinze dias, quando a Exposição Internacional das Artes
Decorativas e Industriais Modernas (que consagrou o Art Déco) acontecia
na cidade, atraindo o mundo inteiro, o teatro Art Déco da Avenue Montaigne
ficou lotado.
No Brasil, o escultor Victor Brecheret inclui em diversos trabalhos, em
bronze, terracota e mármore, muiraquitãs amazônicos.

186 RIO SECRETO RIO SECRETO 187


urca

A ESCADA DO MUSEU DE CIÊNCIAS DA TERRA 16


Avenida Pasteur, 404, Urca
• Tel.: (21) 2295-7596
• E-mail: mcter@cprm.gov.br
• Visitas: de terça a domingo, das 10h às 16h
• Entrada franca

O Museu de Ciências da Terra é o último

da abertura dos portos em 1808 (ver as duas


páginas seguintes).

vestígio da Exposição Nacional de espetacular escada
1908, comemorativa do centenário

Apresenta uma rica coleção de minerais e algumas salas dedicadas à


Uma

esquecida

paleontologia e à geologia, em um ambiente antiquado, mas sedutor. O local


possui, sobretudo, uma escada excepcional que leva a belíssimos espaços
ocupados por escritórios (fechados a visitas). As três pinturas na escada –
representando o comércio, a indústria e a agricultura – são assinadas pelo
pintor Antônio Parreiras (1860-1937), que recebeu a medalha de ouro no Salão
Internacional de Sevilha, em 1929.
Projetado em 1880, pela engenheira Paula Freitas, para sediar a Faculdade
de Medicina da Universidade Pedro II, o edifício não foi terminado. Somente
por ocasião da Exposição Nacional de 1908 é que as obras foram retomadas e
concluídas. O prédio em estilo neoclássico, que abrigava o Palácio dos Estados,
era o principal pavilhão com 7.600m² e 91 salas. Foi ocupado, sucessivamente,
pelo Ministério da Agricultura, pela Escola de Veterinária e Agronomia, e pelo
Departamento Nacional de Produção Mineral.

Além da Exposição Nacional, as estátuas em frente ao Hotel Glória


representam outro vestígio da comemoração da Abertura dos Portos, em
1808 (ver p. 131).

198 RIO SECRETO 199


urca

INSTITUTO CULTURAL CRAVO ALBIN 17


Avenida São Sebastiao 2, Urca
• Tel.: (21) 2295-2532
• http://institutocravoalbin.com.br
• De segunda a sexta-feira das 11 as 18 horas (só visitas agendadas)
• Grátis
• Ônibus: 107, 511, 512 e 513 (integração com Metrô na estação


Botafogo)

Q uem chega ao modesto edifício no


início da avenida São Sebastião, não
imagina que depois de entrar num
pequeno elevador com capacidade para duas
pessoas e saltar no quarto andar, entrará num
Um lugar
de grande
charme
espaço de quase três mil metros quadrados, dividido em três pisos, com várias
pequenas salas, um terraço e um surpreendente jardim, abaixo do Pão de
Açúcar, com vista espetacular para a enseada de Botafogo.
Aí fica o pouco conhecido Instituto Cultural Cravo Albin, organização sem
fins lucrativos, criada em 2001 para promover a cultura brasileira, especialmente
a música. O Instituto tem uma coleção de 60 mil discos (longplays em vinil,
discos 78 rpm em goma laca e compactos), 2.000 fitas sonoras em rolo, 700 em
cassetee cerca de 5.000 CDs, além de vídeos com depoimentos e programas
musicais, partituras e fotografias. Em um ambiente que lembra o de uma casa
de família repleta de pertences de seus antepassados, há ainda uma espécie de
minimuseu, com instrumentos e peças de indumentárias de personalidades da
música brasileira, quadros e objetos de artesanato.
No quarto e quinto andares, além das salas do acervo musical, fica a
exposição permanente museológica. Uma minuciosa instalação, que reproduz
um estúdio de rádio dos anos 1930/40, inclui o microfone usado por Carmem
Miranda na rádio Mayrink Veiga. Aliás, uma das famosas sandálias de salto
da cantora também está lá. Entre outros objetos, a sanfona de Luiz Gonzaga, o
“Rei do Baião”, violão que foi de Cartola e chapéus de Tom Jobim e Pixinguinha
também podem ser vistos e tocados. Há também uma coleção de rádios de
várias épocas.
Do terraço do quinto andar há uma ampla vista da praia da Urca e do
prédio onde funcionou o icônico Cassino da Urca (que também foi a sede da
TV Tupi e, depois de anos de abandono, foi transformado no Instituto Europeu
do Design). Nos fundos, uma espécie de passarela e escada de cimento leva o
visitante a uma grande surpresa: um jardim, com mirante e pequena piscina
oval, incrustado na pedra do Morro da Urca. Lá, em meio a muitas plantas,
em um platô, há uma construção -usada para saraus e exposições temporárias
do Instituto, com fachada colonial, feita em 1962 com material de demolição.
A fachada é uma réplica da casa da mãe do bispo José Castelo Branco, Ana
Teodoro, que entre 1731 e 1805 morou numa casa, onde hoje é a Biblioteca
Nacional, na Cinelândia. O espaço diante da casa era conhecido como Largo da
Mãe do Bispo. É em homenagem a essa figura influente do Rio colonial, que
uma placa nomeia o platô “Largo da Mãe do Bispo”.
202 RIO SECRETO 203
ipanema - leblon - lagoa - gávea - jardim botânico - humaitá

CENTRO NYINGMA DE BUDISMO TIBETANO 13


Rua Casuarina, 297
• Aberto ao público para meditação aos domingos de manhã das 9h às
10h, as segundas as 20h, às terças-feiras as 19h0 e às quintas-feiras as
8h45. Recitação de mantras aos domingos das 10h às 11h.
Aberto outros dias ao público ocasionalmente. Consultar o site internet
do Centro


• Tel.: (21) 25279388
• instituto@nyingmario.org.br
• www.nyingmario.org.br

E scondido nos limites do Morro da


S audade, o C ent ro Ny ing ma de
Budismo Tibetano é um dos segredos
mais bem guardados da Lagoa. A partir da
Rua Fonte da Saudade, deve-se tomar a Rua
Uma
verdadeira
viagem
Bogari, que dá na Rua Casuarina. Exatamente
depois da barreira, uma porta de madeira abriga a entrada do templo à
esquerda. A entrada é o lugar mais espetacular: no fundo do pequeno pátio
interior, um stupa (construção budista tradicional que guardava originalmente
relíquias de Buda) recebe os visitantes com o Corcovado e o Cristo como
tela de fundo. Um belo símbolo, diga-se de passagem, de comunhão entre as
religiões...
Em razão da configuração do lugar, com exceção de dois edifícios situados
abaixo, a sensação de imersão na natureza quase virgem é real: emoldurado
pelos prédios do centro e pelas bandeiras de oração, a perspectiva do stupa, da
floresta, da rocha e do Cristo é um verdadeiro convite a se recolher durante um
momento em um banco na frente do stupa.
Várias vezes por semana, o Centro recebe visitantes para sessões de
meditação ou recitação de mantra. No momento da nossa visita, a recitação de
mantras nos proporcionou uma profunda sensação de bem-estar.

DE ONDE VEM O NOME “FONTE DA SAUDADE” ?


O bairro Fonte da Saudade deve seu nome a uma fonte que realmente
existiu: até o início do século XIX, mulheres iam lavar roupa lá, a alguns
passos da antiga praia da Piaçava.
É também neste lugar, em uma época em que não havia nenhuma estrada
ou caminho traçado na atual Rua Jardim Botânico, que o príncipe regente
D. João, chegando a Botafogo, tomava o barco para ir até o Jardim Botânico.
Segundo a lenda, a água da fonte possuía virtudes mágicas: qualquer
pessoa que dela bebesse jamais poderia esquecer-se da beleza do lugar.
A fonte foi destruída quando os terrenos da região alcançaram a lagoa
durante as obras executadas no governo do prefeito Carlos Sampaio (1920-
1922).
Uma reprodução da fonte foi construída no número 111 da rua.

232 RIO SECRETO 233


joatinga - são conrado - barra da tijuca - zona oeste joatinga - são conrado - barra da tijuca - zona oeste

O HANGAR DO ZEPPELIN 1 de 1937, em Nova York, os


voos foram cessados. Desse
Base Aérea de Santa Cruz
Rua do Império s/n modo, sem contar os voos
Santa Cruz anteriores à sua inauguração,
• Visitas agendadas através do telefone (21) 3078-0389 (o procedimento o gigantesco hangar só serviu
de autorização da visita leva cerca de 4 semanas) a nove viagens: quatro do LZ
• Entrada gratuita
• Trem: estação Santa Cruz 129 Hindenburg e cinco do
• Ônibus (BRT): estação Santa Cruz LZ 127 Zeppelin.


• Chegando a uma estação ou outra (são próximas), tomar ônibus 849 O local e as especificações
de construção do hangar
foram determinados por
engenheiros alemães, e as
O único
A tualmente o único hangar operacional obras, realizadas por empresa
hangar operacional para dirigíveis de grandes proporções brasileira. Foram construídas
existente no mundo, o hangar do também uma fábrica de
para dirigíveis de Zeppelin é o destaque histórico incontestável hidrogênio para abastecer os
grandes proporções da Base Aérea de Santa Cruz. dirigíveis e uma linha férrea,
existente no mundo Depois de entrar na base, se chega ao ligando o hangar à estação
hangar, a 800 metros do portão, onde fica Central do Brasil. Com o fim
também uma pequena réplica em alumínio do dirigível Zeppelin. Apesar das operações e o início da Segunda Guerra, em 1939, o governo brasileiro
das casas dos militares e algumas outras construções, a sensação durante o encampou o hangar, que, em 1942, tornou-se a Base Aérea de Santa Cruz. Parte
percurso é de amplidão; um grande espaço demarcado pela Serra do Mar ao do espaço é utilizada atualmente para a manutenção dos caças da Base.
longe, embalado pelo vento constante e pontuado pelos pousos e decolagens
dos aviões de caça da Base, na pista que fica ao lado do imponente hangar. PORTA PESA 80 TONELADAS
Com 270 metros de comprimento, 50 de largura e 60 de altura, com traços A instalação elétrica do hangar é revestida com blindagem especial para
Art Déco, o hangar é tombado como patrimônio nacional. Originalmente evitar fagulhas, que poderiam provocar incêndio nos dirigíveis.
chamado de Aeroporto Bartolomeu de Gusmão, em homenagem ao sacerdote O telhado, mesmo exposto a condições climáticas severas, ainda é o
luso-brasileiro que no início do século XVIII pesquisou transporte com original. O portão menor, de ventilação, servia para circulação da torre de
balões, o local foi construído para receber os enormes dirigíveis alemães Graf atracação.
Zeppelin e Hindenburg, que faziam a rota Frankfurt-Rio. Foi inaugurado Pelo portão principal entravam e saiam as aeronaves; cada uma de suas
em 26 de dezembro de 1936, mas, com o incêndio do Hindenburg em maio duas portas pesa 80 toneladas, e motores elétricos levam 6 minutos para
abri-las 60 graus. Da torre de comando, no topo do hangar, pode-se avistar
de Sepetiba até o Rio Guandu.

DOIS DIRIGÍVEIS E UMA BICICLETA


Na visita ao hangar, passa-se primeiro pela pequena, porém informativa
Sala Histórica, com fotos e dados sobre os dirigíveis, como: cada um tinha
45 tripulantes e levava 35 passageiros (Graf Zeppelin) ou 50 (Hindenburg)
confortavelmente; 200 homens, apelidados de aranhas, ficavam na pista
para ajudar na atracação dos dirigíveis.
Na sala há também uma insólita bicicleta. É uma homenagem a Seu
Mouzinho, que participou da construção do hangar e, sabendo como tudo
funcionava, permaneceu funcionário da Base até sua morte, em 1998.
Ele só circulava naquela bicicleta, e sua casa, no terreno da Base, virou um
pequeno museu, com os pertences de quem mais conhecia a história do
hangar, dos dirigíveis e da própria Base.

238 RIO SECRETO RIO SECRETO 239


joatinga - são conrado - barra da tijuca - zona oeste

CAPELA MAGDALENA 9
Estrada do Mato Alto, 6024, Guaratiba
• Tel.: (21) 2410-7183
• E-mail: contato_capelamagdalena@yahoo.com.br
• Visitas: somente agendadas
• Entrada: R$ 120 por pessoa, incluindo café da manhã ou jantar,


concerto e visita ao museu.

A cerca de uma hora do centro do


Rio, no final da Barra da Tijuca, a
capela Magdalena é um lugar único.
Construída pelo cravista Roberto de Regina,
o espaço reúne capela, lugar de concertos,
momento único
em um lugar único
Um

restaurante e pequeno museu particular com reproduções de miniaturas de


trens, aviões, barcos, castelos, igrejas e edifícios do mundo inteiro.
O ex-anestesista Roberto é um personagem surpreendente. Como ele
mesmo diz, passou uma boa parte da vida “adormecendo” as pessoas. Agora,
ele as “acorda” para a sensibilidade, a generosidade e a criatividade: Roberto,
na verdade, fez quase tudo sozinho: realizou pintura de afresco nas paredes da
capela, construiu o cravo com o qual toca nos concertos de música barroca e a
quase a totalidade dos 500 objetos de seu museu.
Apesar de ser possível (agendando) integrar um grupo já constituído,
é interessante formar o próprio grupo, de 10 a 12 pessoas (ou mais),
para aproveitar com
exclusividade. Como diz
o “maestro” Roberto, que
prefere os pequenos grupos,
a troca é muito maior na
intimidade.
Finalmente, para os que, a
priori, não são apaixonados
pela música da Renascença,
o entusiasmo do cravista e
a qualidade da música vão
proporcionar um excelente
momento.

Um programão é passar um dia inteiro por lá: tomar o café da manhã na


capela, depois ir à praia de Grumari ou as praias secretas de Guaratiba
(ver pg. 254) e jantar não muito longe dali (por exemplo, no excelente
restaurante do Bira). Ou, ao contrário: praia e café da manhã; à noite, jantar
na capela.
O famoso jardim de Burle Marx é outra ótima opção e relativamente
próxima.

252 RIO SECRETO 253


joatinga - são conrado - barra da tijuca - zona oeste joatinga - são conrado - barra da tijuca - zona oeste

PASSEIO PELA TRILHA TRANSCARIOCA NAS 10


PRAIAS SELVAGENS DE GRUMARI
Endereço: Rua Parlon Siqueira
• Tel.: (21) 2410-1382 (Parque Natural Municipal do Grumari)
• Distância: 8 km (somente ida no trajeto completo Guaratiba-Grumari)
• Duração: 4h (somente ida no trajeto completo Guaratiba-Grumari)
• Entrada gratuita

“ Praias
desertas
na metrópole Q uando a gente pensa em praias
desertas, o Caribe ou o Pacífico Sul vêm
logo à mente. Mas não é preciso ir tão
longe. No próprio município do Rio de Janeiro
há cinco praias desertas onde só é possível
chegar pela Trilha Transcarioca, cujo início
coincide com a entrada para essas praias.
O caminho para as praias dos Búzios, Perigoso, Meio, Funda e Inferno é
fácil e muito bem sinalizado com setas de madeira intercaladas com pegadas
amarelas pintadas em árvores e pedras. Devemos a sinalização e a limpeza das
praias ao esforço do administrador do Parque Natural Municipal do Grumari
e à ONG Trilhas RJ (Local), que adotou esse trecho da Trilha Transcarioca e
regularmente promove mutirões voluntários para a retirada de lixo do local.
Quando visitou o Rio, em 1833, o inglês Charles James Fox Bunbury
escreveu “As praias de perto do Rio são geralmente cingidas ao longo da
extremidade superior das areias por uma faixa de arbustos sempre verdes, o
mais comum é a pitanga...”. Passados quase duzentos anos, as praias selvagens
de Guaratiba ainda são assim.
A caminhada intercala trechos de mata fechada, áreas reflorestadas pela
Secretaria Municipal de Meio Ambiente na década de 1990, costões rochosos
e muitas praias de areia branca (não se esqueça de levar chapéu, protetor
solar e bastante água). Tem mais: antes de chegar ao primeiro trecho de areia,
vale fazer um desvio (pela trilha devidamente sinalizada) até o Mirante do
Telégrafo, de onde se descortina a mais improvável vista do Rio de Janeiro, na
qual a Restinga de Marambaia figura como incomparável protagonista.
Após a praia do Perigoso, você pode subir novamente e continuar em frente.
A trilha, que contorna o costão, vai levá-lo às praias do Meio, Funda e do UM TRECHO QUE TERMINA EM GRUMARI
Inferno. Em 15 minutos será possível avistar a praia do Meio, cujos 200 metros Esse trecho da Trilha Transcarioca, após cerca de 8 km, termina em
de areia contam com uma fonte de água doce. A partir daí, siga novamente por Grumari. Para voltar ao ponto inicial, é necessário retornar pelo mesmo
cima da ponta do Morro, no fim da praia. Em mais um quarto de hora você vai caminho ou então pegar um transporte rodoviário entre Grumari e Barra
chegar na Praia Funda, que costuma estar vazia. Da Praia Funda ao Inferno são de Guaratiba. Para quem preferir a segunda opção, vale levar dois carros,
apenas cinco minutos de caminhada sobre o costão que as separa. Terminada deixando um no final e outro no início da trilha, facilitando assim o resgate
a vista às praias, do Inferno para Grumari é só seguir as pegadas amarelas da do primeiro veículo.
Trilha Transcarioca. Conta-se que, quando precisava tomar decisões difíceis, o ex-Governador
Leonel Brizola ia até a praia do Inferno de helicóptero para meditar em paz.

254 RIO SECRETO RIO SECRETO 255


joatinga - são conrado - barra da tijuca - zona oeste joatinga - são conrado - barra da tijuca - zona oeste

A ESTÁTUA DE UM JOGADOR DE FUTEBOL 11


Rua Fonseca 240
• Trem Supervia na Central do Brasil, Estação Bangu

“ A primeira
partida de futebol
no Brasil À e s qu e rd a d a e nt r a d a pr i n c ip a l
do Shopping Bangu, junto ao
estacionamento, há uma estátua de um
homem sobre um globo terrestre circundada
por uma pequena fonte de água, com a
inscrição: “Neste local foi realizada a primeira
partida de futebol do Brasil”.
A estátua é uma homenagem ao escocês Thomas Donohoe, organizador
desse primeiro jogo no dia 9 de setembro de 1894. O campo de futebol foi
improvisado numa área livre, diante da Fábrica de Tecidos Bangu, com quatro
estacas fazendo as vezes das duas traves. Eram 12 jogadores - seis de cada
lado. O diminuto número de jogadores não foi um problema para Donohoe
e seus colegas, nem a falta de uniforme ou cronometragem. O importante era
se divertir e matar a fome de bola, como numa animada “pelada” dos dias de
hoje. Thomas Donohoe, operário têxtil em Glasgow, na Escócia, chegou ao Rio
de Janeiro em maio de 1894 para trabalhar na nova Fábrica de Tecidos Bangu,
inaugurada um ano antes. Chegando ao bairro depois de uma hora e meia de
viagem de trem do centro da cidade, viu que sua nova vizinhança só tinha
uma rua, com menos de mil habitantes. Também se deu conta de que não se
praticava nenhum esporte e que o futebol não era conhecido pelos brasileiros
- uma decepção para um esportista de 31 anos que fora ídolo de futebol em
sua terra natal.
A família (esposa e dois filhos pequenos) desembarcou no porto do Rio no
dia 5 de setembro de 1894 trazendo na bagagem uma encomenda especial de
Donohoe: uma bola de futebol. E ele não esperou para matar a saudade.
Ainda no trem, do centro da cidade para Bangu, Donohoe retirou de uma
mala o que para os outros passageiros pareceu um pedaço de couro com
costuras expostas nos gomos. Para espanto de todos, com a ajuda de uma
bomba de ar, o pedaço de couro transformou-se numa bola que Donohoe
começou a jogar ali mesmo, dentro do vagão.
“Seu Danau”, como era chamado pelos operários da fábrica, jogou para o Em consequência da improvisação e da falta de dados formais (uniformes,
Bangu Atlético Clube, que ajudou a fundar em 1904. Morreu em outubro de cronometragem, anotação dos gols, número de jogadores, dimensões do
1925. campo) sobre o jogo de setembro de 1894 em Bangu, há quem considere
A Fábrica Bangu, depois de décadas de grande impacto na vida econômica, que a primeira partida de futebol no país só se realizou em abril de 1895,
social e cultural da região e da cidade, deixou de existir em fevereiro de 2004. sete meses depois do jogo de Thomas Donohoe, organizado de acordo com
Três anos depois, o Shopping Bangu, preservando a fachada tombada do as regras, por Charles Miller, em São Paulo.
prédio, iniciou suas atividades.

256 RIO SECRETO RIO SECRETO 257


tijuca - são cristóvão - zona norte

BASILICA MENOR DO IMACULADO CORAÇÃO 10


DE MARIA
Rua Coração de Maria, nº 66, Méier
• Tel.: (21) 2501-3553
• Visitas: aberto de segunda à sexta-feira: das 6h30 às11h e das 18h30
às 20h. Sábados e domingos: das 6h30 às 20h
• Todo segundo sábado do mês, às 14h tem missa tridentina (em latim,
com o sacerdote de costas para os fiéis), no altar dedicado ao Sagrado
Coração de Jesus.
• Trem: estação Méier

A ferroviária do Méier, a Basílica Menor


do Imaculado Coração de Maria é o
único templo católico em estilo neomourisco
do Rio e um dos poucos de todo o Brasil.
Situada nesse tradicional bairro da Zona “
c i n c o m i nuto s à p é d a e st a ç ã o A única
igreja em estilo
neomourisco
na cidade
Norte, foi construída entre 1909 e 1917 por religiosos da Congregação dos
Missionários Filhos do Imaculado Coração de Maria. A torre, no entanto, só foi
concluída em 1924. Seu projeto é de autoria do renomado arquiteto espanhol
Adolfo Morales de Los Rios, responsável por alguns prédios marcantes na
história da cidade, como o do Museu Nacional de Belas Artes, construído no
início do século XX.
Duas portas em jacarandá entalhado – adornadas com vidros coloridos e
com uma aplicação em bronze, num precioso entalhe com motivos árabes –
dão boas vindas ao visitante que, antes mesmo de entrar, já pode observar
o baldaquino neogótico que cobre o altar principal dedicado ao Imaculado
Coração de Maria. A basílica comporta 900 pessoas sentadas e, por sua beleza,
é muito procurada para a realização de casamentos. Tombada pelo município
desde 2009, foi retratada na série de cartões-postais da coleção Olhos de Ver,
lançada em 2012 pelo Instituto Rio Patrimônio da Humanidade.

UMA DAS QUATRO BASILICAS MENORES CATÓLICAS DO RIO DE JANEIRO


A basílica do Méier é uma das quatro basílicas menores católicas do Rio
de Janeiro (as outras três são a da Imaculada Conceição, em Botafogo; a
de Nossa Senhora de Lourdes, em Vila Isabel; e a de Santa Teresinha do
Menino Jesus, na Tijuca).
Essa qualificação é atribuída pelo Papa à igreja, que se destaca como
centro de peregrinações e pelo zelo litúrgico, pela importância histórica
e beleza arquitetônica e artística. O papa João XXIII concedeu o título de
basílica menor à igreja em 1964.

RIO SECRETO 291


tijuca - são cristóvão - zona norte

VISITA GUIADA DO CASTELO MOURISCO 13


Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz)
Avenida Brasil, 4365
Manguinhos
• Tel.: (21) 2598-4242 • portal.fiocruz.br
• Visitas de terça a sexta-feira (das 9h às 16h30m), com agendamento
prévio pelo telefone 2590-6747 (os guias falam português). Aos sábados,
das 10h às 16h, não é necessário agendamento
• Grátis


• Ônibus: Várias linhas (como por exemplo 483, 292, 320, 300) servem
à Fiocruz. No entanto, considerando a localização, talvez seja melhor o
uso de táxi

Q uem passa pela Avenida Brasil, indo


ou vindo do Aeroporto Internacional
do Galeão, vê num nível mais alto que
a via expressa, como que surgindo do meio
Uma visita
deslumbrante

de um bosque, uma imponente construção: o Pavilhão Mourisco, sede da


Fundação Oswaldo Cruz, tombado pelo Patrimônio Histórico Nacional.
Construído entre 1905 e 1918, o maravilhoso pavilhão, mais conhecido
como Castelo, ao contrário do que muitos acreditam, está aberto a visitação.
Concebido pelo grande sanitarista Oswaldo Cruz, diretor do Instituto
Soroterápico Federal, criado em 1900, e que deu origem à Fundação, o castelo
é um dos poucos edifícios no Brasil em estilo neomourisco.
O deslumbrante prédio é uma combinação harmoniosa de materiais de
vários países: os tijolos, mosaicos e estuque são franceses; o mármore veio da
Itália; azulejos são portugueses; as luminárias
alemãs; a serralheira, destacando-se a bela
escada que une os pavimentos do edifício,
é inglesa; os vitrais são belgas e a madeira é
brasileira. Instalado em 1909, o elevador é o
mais antigo em operação no Rio.
Os banheiros de todos os andares estão
reunidos numa torre, integrada ao edifício,
mas não fazem parte do corpo do prédio de
maneira a evitar uma possível contaminação.

O castelo tem mistérios que alimentam a imaginação dos que lá trabalham


e de quem visita. Há relatos de passos e barulhos estranhos à noite, depois
que todos se foram, de portas que batem, mesmo estando fechadas,
e do livro que alguém buscava, saltar na frente da pessoa, como que
se apresentando. Isso sem falar na história do vigia noturno que, de
madrugada, em sua ronda, foi à biblioteca do terceiro andar e encontrou
sentado um homem de branco. O susto foi tamanho que o vigia caiu e em
seguida saiu correndo.

Toda a região do entorno era um enorme manguezal - atualmente aterrado -


e, por isso, o bairro é chamado de Manguinhos.

RIO SECRETO 299


tijuca - são cristóvão - zona norte

MONTE ESCADA DE JACÓ 15


Av. Monsenhor Félix, 512, Irajá
• Visitas: aberto 24 horas, todos os dias. Missa às segundas-feiras, às 9h
• Metrô: Irajá

N o coração da Zona Norte, a alguns


minutos a pé do metrô Irajá, o Monte
Escada de Jacó, em referência ao
episódio do Antigo Testamento da Bíblia, é
um dos lugares mais surpreendentes do Rio.
“ Um lugar
de forte energia
espiritual?
Até 2010, o lugar servia de zona de prostituição e também de área
(conhecida como “micro-ondas”), onde os traficantes das favelas da
vizinhança vinham “liquidar” os que incomodavam suas “atividades”.
Tudo mudou no dia 15 de maio de 2010, quando, segundo se conta,
Deus apareceu em sonho para o pastor Marcelo Flores, da Igreja Evangélica
Assembleia de Deus, ordenando-lhe transformar o morro em um espaço de
espiritualidade. Após o sonho, o pastor Marcelo abriu a Bíblia, aleatoriamente,
na passagem da Escada de Jacó (ver abaixo), de quem ele deu o nome ao
monte.
Com ajuda de alguns amigos, o padre Marcelo, que mora ao lado, limpou
o lugar, de propriedade do Exército, e começou a pintar as pedras de branco,
inscrevendo nas mesmas algumas passagens da Bíblia.
A partir de então, tornou-se um dos locais mais fervorosos de oração
e recolhimento do Rio de Janeiro. Em função do horário (o Monte é mais
frequentado às segundas-feiras, de manhã; sextas, à noite; sábados e domingos,
à tarde), pode-se encontrar pessoas orando sozinhas ou em grupo, ajoelhadas
de frente para a cidade, lendo tranquilamente a Bíblia. Há, também, aquelas
que conversam com os fiéis. Mesmo que lá se encontrem principalmente
evangélicos, todos os cristãos são bem-vindos.

O EPISÓDIO BÍBLICO DA ESCADA DE JACÓ


O sonho de Jacó é um episódio bíblico do Livro de Gênesis (28:11-19) que
começa assim: “E saiu Jacob de Beer-Shéba, e foi a Haran. E chegou ao
lugar ( Makom 13), e pernoitou ali, porque se havia posto o sol. E tomou das
pedras do lugar, e colocou-as à sua cabeceira, e deitou-se naquele lugar. E
sonhou, e eis que uma escada estava apoiada na terra, e seu topo chegava
aos céus: eis que anjos de Deus subiam e desciam por ela.”

304 RIO SECRETO 305

Você também pode gostar